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Currículo de artes visuais Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Identifi car os elementos que compõem o currículo de artes visuais no sistema escolar. Reconhecer a importância desse currículo no processo de construção do saber. Verifi car esse currículo no sistema de educação nacional. Introdução Neste texto, estudaremos sobre o currículo de artes visuais no Brasil, destacando as relações entre objetivos, conteúdos, orientações didáticas e avaliação. Elementos que compõem o currículo de artes visuais na escola Na criação de um currículo de artes, devemos primeiramente nos ater ao fato de que estamos lidando com um conteúdo disciplinar em constante mutação. Por isso, o arte-educador deverá estar atento às mudanças nas teorias e práticas educacionais e na própria arte. Os objetivos serão definidos de acordo com os motivos pelos quais se vai ensinar arte àqueles alunos, e – dependendo da natureza destes objetivos – os mesmos estarão ligados aos conteúdos específicos que corroborem para a aprendizagem do grupo. U N I D A D E 1 Metodologia do Ensino de Artes - book.indb 13 12/07/2019 13:34:27 Por sua vez, os conteúdos deverão estar ligados aos eixos básicos do en- sino da arte: fazer, apreciar e refletir, que não necessariamente precisarão ser aplicados juntos, dependendo dos objetivos e conteúdos escolhidos para serem reconhecidos pelos alunos. Os conteúdos, segundo a ótica do educador e filósofo catalão Zabala (1998), podem ser relacionados da seguinte forma: Conceitos, fatos e princípios aos aspectos cognitivos. Procedimentos a ordem dos resultados. Observação, valores e atitudes ao plano da subjetividade, afetividade, sensibilidade e das relações. Figura 1. Antoni Zabala. Fonte: Grupo A (c2016). A importância deste currículo no processo de construção do saber Antes de começar, veja os conceitos e exemplos no quadro a seguir: Currículo de artes visuais14 Metodologia do Ensino de Artes - book.indb 14 12/07/2019 13:34:27 Conceito: designa um conjunto de objetos e acontecimentos com algumas ca- racterísticas comuns. Exemplos: modernidade, abstração, cubismo. Princípio: descreve as mudanças que ocorrem em um objeto ou acontecimento. “Regra” ou “lei” são utilizados como sinônimos de princípio. Exemplos: princípio da perspectiva linear, deformação no expressionismo, estra- nhamento na arte contemporânea. Fato: designa coisa ou ação realizada. Exemplos: o quadro Abapuru foi pintado por Tarsila do Amaral; a I Bienal Interna- cional de Arte ocorreu em 1951, na cidade de São Paulo. Procedimento: conjunto de ações ordenadas e orientadas para a consecução de uma meta. Também podemos compreender tais ações como sinônimos de destreza, técnica, método, estratégia. Exemplos: procedimentos de gravura, de pesquisa com materiais orgânicos em arte. Valores e normas: regras de comportamento a serem respeitadas. Exemplo: respeito à diversidade cultural no trabalho artístico de distintos grupos humanos. Atitudes: tendência a comportar-se de forma consistente em relação a valores e normas como partilhar, ajudar, ordenar, respeitar. Exemplo: partilhar o direito à documentação e preservação do patrimônio artístico em âmbito local e global. Fonte: Iavelberg (2011). Conceitos Na construção dos conceitos, você deverá levar em consideração a evolu- ção gradativa do indivíduo neste quesito. Tentar fazer uma criança entender conceitos complexos de arte conceitual – simplesmente lhe ditando o que se encontra em um importante dicionário ou livro de história da arte, por exemplo – acabará em algo que passará por ela sem nenhum real signifi cado. Não se preocupar e/ou relacionar com os saberes do indivíduo pode tornar a experiência improdutiva. Permitir que a criança possa explicar sozinha o que sente ao observar uma obra irá ajudá-la no futuro a compreender com mais facilidade conceitos complexos no campo das artes, da estética e da própria vida em sociedade. Nessas trocas, você também estará construindo um repertório para trabalhar 15Currículo de artes visuais Metodologia do Ensino de Artes - book.indb 15 12/07/2019 13:34:28 com outros alunos no futuro, independentemente de idade ou período escolar. É importante ressaltar que isso não impede de ser aplicado nenhum conceito de arte para um determinado aluno ou grupo. Nunca subestime a capacidade, tanto do indivíduo quanto sua, de efetuar trocas independentemente do con- teúdo que você está querendo trabalhar no campo das artes. Não esqueça que todas as ferramentas possíveis ao seu alcance devem ser usadas para acessar o aluno (imagens, vídeos, internet, objetos artísticos, celulares, materiais para o fazer da arte, etc.), facilitando seu processo de memorização, mas nunca esquecendo que o conteúdo de artes também deve estar conectado à rede de significação de diversos outros conteúdos, ligados ao campo artístico ou não. Saber, por exemplo, a época em que a fotografia foi inventada pode ser apenas mais um período para decorar e colocar como resposta em uma prova, mas pode facilitar também para o entendimento de outros movimentos artísticos e culturais que ocorreram no século XIX, além de auxiliar na compreensão de por que houve tantas mudanças na arte e na sociedade no século XX. Procedimentos Os procedimentos são muito importantes para o real entendimento de vários conteúdos de artes. Ao ensinar determinado conceito da história da arte, por exemplo – além de contemporizar –, associar a algum fazer ligado àquele conteúdo. No Cubismo Sintético, por exemplo, você pode trabalhar desenho geométrico e colagem para que os alunos percebam os desafi os que os artistas desse movimento tinham com os materiais e os procedimentos em si. É importante que o arte-educador se aproprie dos diversos fazeres dentro dos conteúdos da disciplina de artes para que possa dar o suporte necessário nas atividades proporcionadas aos alunos. Valores e atitudes Segundo a arte educadora Iavelberg (2011), “[...] os valores e as atitudes são aprendidos pela interação com os outros. Bons modelos favorecem a incorpora- ção de condutas e sentimentos de respeito mútuo, valorização da diversidade e reconhecimento das especifi cidades das culturas.”. Sendo assim, proporcionar aos alunos interações enquanto grupo social (turma, escola, comunidade) e com a diversidade cultural – com acesso cada vez mais amplo, pela globalização midiática digital – agrega valores que os ajudarão no seu crescimento, tanto Currículo de artes visuais16 Metodologia do Ensino de Artes - book.indb 16 12/07/2019 13:34:28 no conteúdo de artes quanto no âmbito relacional como ser da coletividade mundial atual. Avaliação A avaliação em arte é, na maioria das vezes, subjetiva. Nos outros saberes aprendidos na escola, normalmente é verifi cado se os conteúdos foram entendi- dos pelos alunos com provas escritas, textos ou cálculos escritos. Em artes, as avaliações podem ser oportunidades de fazeres que aumentarão o aprendizado e o reconhecimento, por parte do aluno, dos conceitos e procedimentos vistos anteriormente em aula. Você deve estar atento a escolher formas de verificar a evolução individual de determinado material que foi apreendido. Por exemplo, ao ensinar determi- nada técnica de desenho e solicitar que os alunos apliquem, dê a oportunidade, após algum determinado período de tempo (semanas ou meses), e dê prática de outros exercícios para que a turma possa efetuar outra atividade avaliativa e comparar com a anterior. É interessante, inclusive, estimular uma avaliação colaborativa e/ou autoavaliativa para que o entendimento do conteúdo seja divido e compartilhado pelo grupo de forma democrática. Lembre-se de que você não precisará fazer somente avaliações de cunho prático. A construção textual (tanto crítica quanto de leitura de imagem), a produção de diários de artista/bordo e até mesmo provasobjetivas e disser- tativas não limitarão o aprendizado do aluno; pelo contrário, se você souber como construir essas avaliações, o potencial criativo do aluno poderá contrastar com outras formas de expressão. A importância do conteúdo de artes no Brasil [...] saber história da arte no Brasil pode estimular uma postura crítica em face aos bens culturais da nossa convivência se comparados aos de outras localidades ou nações. Além disso, se quisermos participar crítica e reflexivamente do momento cultural e artístico (e estético) de nossa época, precisaremos detectar os traços do passado cultural e artístico nele conservados ou transformados. Pelo estudo da história da arte brasileira (documentos acessíveis, próximos e mais ligados às nossas experiências), podemos chegar a aprofundamentos dos conhecimentos artísticos e estéticos significativos para a nossa cidadania. (FERRAZ; FUSARI, 1992, p. 116-117). 17Currículo de artes visuais Metodologia do Ensino de Artes - book.indb 17 12/07/2019 13:34:28 Na citação acima, Ferraz e Fusari (1992) deixam clara a importância da história da arte nas escolas brasileiras como forma de crescimento cultural e entendimento maior, por comparação, de nossa própria cultura brasileira, tão plural quanto é nosso imenso território nacional. As possibilidades de fazeres, de nossas diversas identidades artísticas espalhadas pelo Brasil, aplicadas em sala de aula também dão aos alunos um maior entendimento de sua identidade, em construção, dentro da sociedade brasileira. Desde 1971, quando foi determinada a implantação do conteúdo de Educa- ção Artística nas escolas brasileiras, até hoje, muitas mudanças ocorreram em seu conteúdo, e sua importância na escola e na vida dos estudantes brasileiros cresceu, principalmente depois de definida como conteúdo obrigatório no ensino fundamental e médio pelas Leis de Diretrizes de Base da Educação, 1996. Cabe a você, arte-educador, construir junto com os alunos os aprenderes e fazeres tão necessários para o crescimento sensível e criativo desses futuros seres socioculturais brasileiros. E, como diria, Ferreira Gullar: “a Arte existe porque a vida não basta”. Figura 2. Ferreira Gullar. Fonte: Escola Educação (2016). Currículo de artes visuais18 Metodologia do Ensino de Artes - book.indb 18 12/07/2019 13:34:28 1. Numa estrutura curricular, cada objetivo orienta uma seleção de um conjunto diversificado de conteúdos. Assim, um objetivo para o ensino de artes visuais no ensino fundamental pode ser construído através de um percurso de criação pessoal cultivado ou alimentado pela produção cultural em arte. A cada objetivo estruturado, pode-se relacionar: a) o conhecimento a outras disciplinas e ou áreas de ensino. b) este objetivo à capacidade do indivíduo em produzir conhecimento isoladamente. c) este objetivo à dificuldade do indivíduo em produzir conhecimento frente à crise educacional brasileira. d) este objetivo ao grupo de alunos que se dedicam ao processo de aprendizagem. e) o objetivo a uma dificuldade dos professore em ganhar apoio dos diretores e coordenadores das escolas. 2. Iavelberg (2003, p. 24), explica que os conceitos e princípios, na perspectiva de Zabala, são conteúdos aprendidos através da interação e reconstrução por parte dos aprendizes. Portanto, cabe ao professor de arte, ao ensinar conceitos e princípios, criar múltiplas oportunidades de interação dos estudantes com esses conteúdos, variando as formas de apresentá -los, utilizando meios discursivos, narrativas, imagens, meios elétricos e eletrônicos, textos; enfim, o professor pode recorrer a todos os meios para informar sobre conceitos e princípios que deseja ensinar. Porém, mediante esse processo, pode-se afirmar que o aluno: a) não tem a opção de escolher o que vai aprender. b) é sujeito do processo e cabe a ele construir o conhecimento. c) é passivo quanto ao conteúdo lecionado, deixando a cargo do professor todo o processo de ensino. d) é ausente no processo de aprendizagem, legando à escola o currículo a ser empregado no ensino. e) é resistente quanto as mudanças no ensino de artes. 3. Rosa Iavelberg (2003, p. 25) afirma que os fatos são aprendidos, primordialmente, por repetição ou reiteração das informações neles contidas, pois sua assimilação está ligada à memorização. Entretanto, a autora chama a atenção sobre a memorização, uma vez que ela afirma que deve ser: a) constante, uma vez que o aluno tende a esquecer o conteúdo aprendido. b) exclusiva de um único conteúdo, evitando uma sobrecarga de conhecimentos. c) significativa ao aprendizado, relacionando os conteúdos estudados. 19Currículo de artes visuais Metodologia do Ensino de Artes - book.indb 19 12/07/2019 13:34:28 d) somente de conteúdos que sirvam para a vida escolar do aluno. e) direcionada à resolução de provas intermediárias e final do aluno. 4. A prática acadêmica é um emaranhado experimental de acertos e erros. Ela é dinâmica e interativa. Por isso, entre as atribuições e habilidades do professor, está o favorecimento da interação entre os alunos, colocando aqueles que têm “menos habilidade” com aqueles que têm mais. Para tanto, é necessário que o professor conheça diversos procedimentos em arte para poder ensiná -los. Diante disso, podemos afirmar que, ao colocar alunos com habilidades diferenciadas em sala de aula, o professor está: a) criando um constrangimento entre os alunos, onde os mais adiantados não aceitam se ‘misturar’ com os menos adiantados. b) fomentando a segregação em sala de aula. c) criando uma dificuldade para si no que tange em criar uma metodologia para abordar os dois grupos de alunos. d) promovendo o crescimento mútuo entre os alunos, ensinando a partilhar e a colaborar uns com os outros em sala de aula. e) ferindo as orientações do MEC sobre o respeito à diversidade entre os homens. 5. Avaliar envolve considerar o contexto das escolas e as ações do professor em todos os âmbitos da relação de ensino-aprendizagem, o que inclui o planejamento das tarefas, seus enunciados e uma relação de comunicação com os estudantes para mantê -los informados sobre para que, como e porque os alunos são avaliados. Diante disso, podemos afirmar que a avaliação deixa de ser um instrumento de controle ou sanção expiatória na mão do professor para ser: a) um instrumento de controle do Estado. b) o único meio de mensurar o conhecimento dos alunos. c) um instrumento confiável estatístico de apoio ao sistema nacional de educação. d) dispensável em sala de aula, uma vez que ela não tem mais valor para o aluno. e) uma oportunidade de testar o conhecimento do aluno. Currículo de artes visuais20 Metodologia do Ensino de Artes - book.indb 20 12/07/2019 13:34:29 ALVES, L. 15 poemas de Ferreira Gullar. Escola Educação, c2017. Disponível em: < http:// escolaeducacao.com.br/melhores-poemas-de-ferreira-gullar/>. Acesso em: 10 jul. 2017. GRUPO A. Sobre o autor: Antonio Zabala. c2016. Disponível em: < https://loja.grupoa. com.br/autor/antoni-zabala.aspx>. Acesso em: 03 jul. 2017. IAVELBERG, R. Para gostar de aprender arte: sala de aula e formação de professores. Porto Alegre: Artmed, 2011. ZABALA, A. A prática educativa: como ensinar. Porto Alegre: Artmed, 1998. Leituras recomendadas BARBOSA, A. M. Arte-educaç ã o no Brasil: das origens ao modernismo. Sã o Paulo: Perspectiva, 1978. DEWEY, J. El arte como experiencia. México: Fondo de Cultura Econó mica, 1949. HERNÁ NDES, F. Cultura visual: mudança educativa e projeto de trabalho. Porto Alegre: Artmed, 2000. 21Currículo de artes visuais Metodologia do Ensino de Artes - book.indb 21 12/07/2019 13:34:29 http://escolaeducacao.com.br/melhores-poemas-de-ferreira-gullar/ https://loja.grupoa.com.br/autor/antoni-zabala.aspx
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