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Livro Texto de Gramática Aplicada da Língua Portuguesa - Unidade II

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53
GRAMÁTICA APLICADA DA LÍNGUA PORTUGUESA
Unidade II
5 CONCEITO DE NORMA E GRAMÁTICA
A gramática tradicional tem, além dessa alcunha “tradicional”, uma outra que é “normativa”. Quando 
pensamos em gramática, pensamos em norma, ou seja, a relação entre ambos os conceitos está tão 
arraigada em nossa cultura, que não conseguimos dissociá-los. 
Nesse sentido, Bagno (2003) chama a atenção para o fato de, do substantivo “norma”, derivarem 
dois adjetivos, os quais o autor, com base em reflexões de outros estudiosos do assunto, assim distingue:
Norma
Normal Normativo
 
Uso corrente Preceitos
Real Ideal
Comportamento Reflexão consciente
Observação Elaboração
Situação objetiva Intenções subjetivas
Média estatística Conformidade
Frequência Juízos de valor
Tendência geral e habitual Finalidade designada
Figura 9 
Bagno observa que o conceito “norma” geralmente vem acompanhado do adjetivo “culta” e que para 
essa qualificação há vários critérios. O mais antigo, porém, e o que teve mais adeptos, é o que estabelece 
a relação entre culta e literária em termos de língua.
Esse critério de padrão da linguagem literária como referência remonta à Antiguidade e até fazia 
sentido naquela época, em que apenas os falantes pertencentes ao grupo social de prestígio tinham 
acesso ao texto escrito e, consequentemente, ao texto literário.
A partir do advento da imprensa, esse quadro mudou, uma vez que houve popularização da leitura. 
Hoje temos acesso a textos jornalísticos, que variam sua linguagem, apresentando desde o registro mais 
coloquial até o mais formal, de acordo com o gênero textual (e tudo que este implica).
54
Unidade II
No Brasil, devemos considerar que a influência de textos literários é ínfima se comparada à de outros 
textos, como o jornalístico. 
Todavia, ressaltamos que a gramática tradicional não estuda a variedade oral do português, e sim 
a variedade escrita, mais especificamente a dos textos literários clássicos. Daí o distanciamento entre a 
realidade e a prescrição da norma.
Exemplo de aplicação
Imagine que um estrangeiro queira aprender a língua portuguesa e passe a estudar a Nova gramática 
do português contemporâneo, de Celso Cunha e Lindley Cintra. No prefácio dessa gramática, os autores 
esclarecem que ela é
 
uma tentativa de descrição do português atual na sua forma culta, isto é, da 
língua como a têm utilizado os escritores portugueses, brasileiros e africanos 
do Romantismo para cá, dando naturalmente uma situação privilegiada aos 
autores dos nossos dias (CUNHA; CINTRA, 2017, p. XXIV). 
Esse estrangeiro será considerado bem formado e comunicativamente adequado pelos falantes da 
norma-padrão? 
Sua resposta precisa levar em conta os exemplos dados pelos gramáticos:
• “Mas aonde te vais agora/ Onde vais, esposo meu?”, Machado de Assis. (Exemplo de ocorrências 
de “onde” e “aonde”.)
• “Minha Teresa tem algo a me dizer, não é?”, Jorge Amado. (Exemplo de uso do indefinido “algo”.)
• “Botou a cinco cântaros o mel… e a dois lagares o azeite”, Aquilino Ribeiro. (Exemplo de uso de 
expressões quantitativas.)
Há gramáticos contemporâneos que adotam como linguagem-padrão a dos textos jornalísticos e 
técnicos. É o caso de Gramática descritiva do português, de Mário A. Perini. O autor assim justifica seu 
critério: “Existe uma linguagem-padrão utilizada em textos jornalísticos e técnicos […], linguagem essa 
que apresenta uma grande uniformidade gramatical, e mesmo estilística, em todo o Brasil” (PERINI, 
2005, p. 26). 
A concepção tradicional dos gramáticos em relação à norma culta isola a língua da sociedade, 
isto é, coloca-a em uma redoma de vidro, como se fosse um ser sobrenatural, ao qual apenas os 
“iluminados” têm acesso.
55
GRAMÁTICA APLICADA DA LÍNGUA PORTUGUESA
Essa visão da língua, e consequentemente da norma culta, torna-a uma língua ideal, um modelo 
abstrato, e leva a conceitos que qualificam as variantes linguísticas em certas vs. erradas, elegantes vs. 
grosseiras, cultas vs. ignorantes.
Nessa perspectiva, o português corresponde apenas a esse ideal abstrato de língua certa, que não aceita 
nenhuma outra realização verdadeira, autêntica, da fala dos nativos. Daí a crença de que não sabemos o 
português, mito oriundo dessa visão coercitiva da gramática.
 Saiba mais
Vários mitos foram criados em relação aos falantes e às línguas. Um deles 
foi o de que o falante nativo da língua portuguesa não sabe português! 
Para desmistificar essa e outras ideias esdrúxulas, recomendamos a leitura 
de um livro muito interessante:
BAGNO, M. Preconceito linguístico: o que é, como se faz. São Paulo: 
Loyola, 2007.
Atualmente, como dissemos, há outros critérios para estabelecer a “norma culta”, como os 
empregados pelos pesquisadores no projeto Norma Urbana Culta (Nurc). Trata-se de um grupo 
de linguistas que investiga, desde 1970, a linguagem efetivamente usada pelos falantes cultos de 
cinco grandes cidades brasileiras: Recife, Salvador, Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre. O critério 
de classificação falante culto está atrelado à escolaridade superior completa e à inserção no contexto 
cultural urbano da cidade investigada.
Desse ponto de vista, o conceito de norma culta passa a relacionar-se com algo concreto, que existe 
na realidade social. Com base nessa investigação, podem-se verificar mudanças no uso da língua, como 
a quase inexistência do pronome “cujo(a)” na língua falada pelos brasileiros considerados cultos.
Tendo em mente os dois conceitos de norma culta apresentados, um do ponto de vista prescritivo e 
outro do ponto de vista descritivo da língua, considere o seguinte quadro.
Quadro 3 
Norma culta prescritiva (normativa) Norma culta descritiva (normal)
“Língua” prescrita nas gramáticas normativas, inspiradas na 
literatura “clássica”
Atividade linguística dos “falantes cultos”, com 
escolaridade superior completa e vivência urbana
Preconceito (baseia-se em mitos sem fundamentação na 
realidade da língua viva, inspirados em modelos arcaicos de 
organização social)
Conceito (termo técnico usado em investigações empíricas 
sobre a língua, correlacionadas com fatores sociais)
Doutrinária (compõe-se de enunciados categóricos, 
dogmáticos, que não admitem contestação)
Científica (baseia-se em hipóteses e teorias que devem ser 
testadas para, em seguida, ser validadas ou invalidadas)
Pretensamente homogênea Essencialmente heterogênea
56
Unidade II
Norma culta prescritiva (normativa) Norma culta descritiva (normal)
Elitista Socialmente variável
Presa à escrita literária, separa rigidamente a fala da escrita Manifesta-se tanto na fala quanto na escrita
Venerada como uma verdade eterna e imutável (cultuada) Sujeita a transformações ao longo do tempo
Fonte: Bagno (2003, p. 54).
A questão da norma culta, portanto, pode ser considerada destas duas perspectivas: uma que 
corresponde ao normativo, ou seja, a um caráter prescritivo da língua, e outra que corresponde ao 
normal, isto é, ao que é colocado em prática pelos falantes cultos, descrito pelos linguistas.
Poderíamos associar essas duas perspectivas do conceito de norma culta aos dois tipos de gramática 
apresentados anteriormente: gramática normativa e gramática descritiva. Lembremos que uma está 
ligada à outra. Para sabermos qual é a prescrição, qual é o normativo, primeiro temos de descrever o que 
é normal. Daí a relação entre normativo-prescritivo e normal-descritivo.
Desse modo, para identificarmos a norma de determinado grupo, temos de descrever a língua falada 
pelos seus integrantes. Foi assim que os linguistas observaram a variedade de uso da mesma língua, 
além da variedade de um mesmo indivíduo no uso da língua.
Devemos lembrar, entretanto, que há um ponto de vista pelo qual se distingue norma culta de 
norma popular. Trata-se geralmente de uma visão deturpada, em que o que é popular está ligado a uma 
desclassificação social, isto é, tudo que seja popular corresponde ao oposto do que seja culto, erudito. 
É uma forma negativa de avaliaro popular em relação ao culto, uma vez que deixa subentendido que o 
primeiro tem uma conotação pejorativa, depreciativa, ao passo que o segundo corresponde a tudo que 
é sofisticado e aceito por uma classe social privilegiada.
A fim de solucionar esse problema de rotulação do que é (e do que não é) culto, Bagno (2003, p. 63) 
propõe que reflitamos sobre a relação entre língua e sociedade no Brasil a partir de três pontos principais:
 
1. A primeira é a “norma culta” dos prescritivistas, ligada à tradição gramatical 
normativa, que tenta preservar um modelo de língua ideal, inspirado na 
grande literatura do passado.
2. A segunda é a “norma culta” dos pesquisadores, a língua realmente 
empregada no dia a dia pelos falantes que têm escolaridade superior 
completa, nasceram, cresceram e sempre viveram em ambiente urbano.
3. A terceira é a “norma popular”, expressão usada tanto pelos tradicionalistas 
quanto pelos pesquisadores para designar um conjunto de variedades 
linguísticas que apresentam determinadas características fonéticas, 
morfológicas, sintáticas, semânticas, lexicais etc., que nunca ou muito 
raramente aparecem na fala (e na escrita) dos falantes “cultos”. 
57
GRAMÁTICA APLICADA DA LÍNGUA PORTUGUESA
Essa noção de norma popular está ligada às classes sociais que não têm acesso à escolarização 
(as comunidades rurais, por exemplo) e também àquelas que são marginalizadas e se encontram nas 
periferias dos grandes centros urbanos.
Há diversos termos para classificar o que seja a língua “certa”, quer dizer, a que é instituída socialmente. 
Por exemplo, “língua-padrão”, “dialeto-padrão” e “variedade-padrão”.
Além dessa classificação, é preciso utilizar termos que diferenciem o que é do que não é padrão. Para 
tanto, Marcos Bagno propõe os termos “variedades de prestígio” e “variedades estigmatizadas”.
A primeira classificação corresponde à norma utilizada pelos grupos de prestígio e, portanto, 
pressupõe falantes que tiveram acesso à escolarização e que, naturalmente, do ponto de vista social, 
passaram pela seleção de pertencerem a um grupo privilegiado, que já cumpriu todas as etapas de 
formação escolar, critério, aliás, utilizado pelos linguistas para definir o falante culto.
Quanto à segunda classificação, abrange todos os grupos sociais desprestigiados do Brasil. Esse 
desprestígio, assim como o prestígio, não é determinado internamente por meio das estruturas 
linguísticas utilizadas; antes, está fundamentado em critérios socioeconômicos, em relações de poder.
Enfim, essa questão da norma de prestígio lembra-nos aquele dito popular: “Manda quem pode, 
obedece quem tem juízo”. Se buscamos aceitação na sociedade, temos de ter consciência de que, apesar 
da diversidade, há uma tendência à uniformização da nossa maneira de utilizar a língua, a qual muitas 
vezes acabamos acreditando não conhecer em virtude da estigmatização e do preconceito (algo não 
linguístico, mas social). 
Nesse sentido, de acordo com Lucchesi (1994 apud PERINI, 2000), há uma polaridade entre 
normas vernáculas e normas cultas. Aquelas corresponderiam ao uso da língua por falantes menos 
escolarizados, enquanto estas corresponderiam aos usos dos falantes mais escolarizados. 
Perini (2000) expõe as diferenças entre o que denomina vernáculo e português e questiona-se 
sobre a língua que falamos no Brasil.
Nessa distinção, o autor chama de vernáculo brasileiro a língua falada no Brasil, aquela que é 
utilizada no dia a dia, em situações rotineiras de comunicação. A outra língua, o português, ficaria mais 
restrita a situações formais, principalmente de uso da língua escrita, em que o falante tem de recorrer 
às normas prescritas pela gramática.
Portanto, o vernáculo corresponderia ao conceito de normal de acordo com a definição de norma 
culta da língua, ao passo que o português estaria ligado à norma culta de cunho prescritivo, isto é, 
normativo. Para cada situação comunicativa, o falante deve selecionar a norma a ser utilizada. 
Podemos dizer que conhecer a norma prescritiva de uma língua não significa dominar o uso dela. 
Um escritor, por exemplo, não tem necessidade de saber de cor todas as regras da gramática normativa. 
58
Unidade II
No entanto, deve ser capaz de utilizar a língua para expressar seus pensamentos e fazer-se compreender 
pelo leitor. É o que veremos no texto a seguir. 
O gigolô das palavras
Quatro ou cinco grupos diferentes de alunos do Farroupilha estiveram lá em casa 
numa mesma missão, designada por seu professor de português: saber se eu considerava o 
estudo da gramática indispensável para aprender e usar a nossa ou qualquer outra língua. 
Cada grupo portava seu gravador cassete, certamente o instrumento vital da pedagogia 
moderna, e andava arrecadando opiniões. Suspeitei de saída que o tal professor lia esta 
coluna, se descabelava diariamente com suas afrontas às leis da língua, e aproveitava 
aquela oportunidade para me desmascarar. Já estava até preparando, às pressas, minha 
defesa (“Culpa da revisão! Culpa da revisão!”). Mas os alunos desfizeram o equívoco antes 
que ele se criasse. Eles mesmos tinham escolhido os nomes a serem entrevistados. Vocês 
têm certeza que não pegaram o Verissimo errado? Não. Então vamos em frente.
Respondi que a linguagem, qualquer linguagem, é um meio de comunicação e que deve 
ser julgada exclusivamente como tal. Respeitadas algumas regras básicas da gramática, 
para evitar os vexames mais gritantes, as outras são dispensáveis. A sintaxe é uma questão 
de uso, não de princípios. Escrever bem é escrever claro, não necessariamente certo. Por exemplo: 
dizer “escrever claro” não é certo mas é claro, certo? O importante é comunicar. (E quando 
possível surpreender, iluminar, divertir, mover… Mas aí entramos na área do talento, 
que também não tem nada a ver com gramática.) A gramática é o esqueleto da língua. 
Só predomina nas línguas mortas, e aí é de interesse restrito a necrólogos e professores de 
latim, gente em geral pouco comunicativa. Aquela sombria gravidade que a gente nota nas 
fotografias em grupo dos membros da Academia Brasileira de Letras é de reprovação pelo 
português ainda estar vivo. Eles só estão esperando, fardados, que o português morra para 
poderem carregar o caixão e escrever sua autópsia definitiva. É o esqueleto que nos traz de 
pé, certo, mas ele não informa nada, como a gramática é a estrutura da língua mas sozinha 
não diz nada, não tem futuro. As múmias conversam entre si em gramática pura.
Claro que eu não disse isso tudo para meus entrevistadores. E adverti que minha 
implicância com a gramática na certa se devia à minha pouca intimidade com ela. 
Sempre fui péssimo em português. Mas – isso eu disse – vejam vocês, a intimidade com 
a gramática é tão indispensável que eu ganho a vida escrevendo, apesar da minha total 
inocência na matéria. Sou um gigolô das palavras. Vivo às suas custas. E tenho com elas 
exemplar conduta de um cáften profissional. Abuso delas. Só uso as que eu conheço, as 
desconhecidas são perigosas e potencialmente traiçoeiras. Exijo submissão. Não raro, peço 
delas flexões inomináveis para satisfazer um gosto passageiro. Maltrato-as, sem dúvida. 
E jamais me deixo dominar por elas. Não me meto na sua vida particular. Não me interessa 
seu passado, suas origens, sua família nem o que outros já fizeram com elas. Se bem que 
não tenho o mínimo escrúpulo em roubá-las de outro, quando acho que vou ganhar com 
isto. As palavras, afinal, vivem na boca do povo. São faladíssimas. Algumas são de baixíssimo 
calão. Não merecem o mínimo respeito.
59
GRAMÁTICA APLICADA DA LÍNGUA PORTUGUESA
Um escritor que passasse a respeitar a intimidade gramatical das suas palavras seria tão 
ineficiente quanto um gigolô que se apaixonasse pelo seu plantel. Acabaria tratando-as 
com a deferência de um namorado ou a tediosa formalidade de um marido. A palavra seria 
a sua patroa! Com que cuidados, com que temores e obséquios ele consentiria em sair 
com elas em público, alvo da impiedosa atenção dos lexicógrafos,etimologistas e colegas. 
Acabaria impotente, incapaz de uma conjunção. A gramática precisa apanhar todos os dias 
pra saber quem é que manda. 
Fonte: Verissimo (2002, p. 77-78).
Afinal, perguntamo-nos, que norma devemos seguir?
O conceito de norma é visto ainda em sentido amplo e em sentido restrito por alguns 
estudiosos da língua.
O primeiro corresponde a um fator de coesão social, ou seja, à necessidade que o grupo social 
tem de manter a identidade de sua língua, a relativa uniformidade linguística de importância política 
para as nações.
Já o sentido restrito estabelece o padrão linguístico adotado por uma sociedade, ou seja, corresponde 
aos usos, atitudes e aspirações da classe social de prestígio de uma nação, em virtude de razões políticas, 
econômicas e culturais.
Tendo em vista o conceito de norma (ou padrão) que vigora nas gramáticas normativas utilizadas no 
ensino de língua, alguns preconceitos são gerados. Por exemplo:
• A norma culta da classe de prestígio é a única correta. 
Isso não é verdade, uma vez que todas as variedades da língua são eficazes. O que há são 
modalidades de prestígio e modalidades desprestigiadas (ou estigmatizadas, como já vimos) em 
função do grupo social que as utiliza. Portanto, não há certo ou errado em termos de língua. 
Todavia, o ideal é que o falante conheça todas as variedades para selecionar a que deve usar no 
momento da comunicação.
• O bom português é aquele praticado em determinada região.
Esse preconceito apenas desloca o caráter social para o caráter regional. No Brasil, pelo fato 
de termos vários centros de prestígio cultural, encontramos mais de uma norma culta válida, 
principalmente na língua falada.
• O bom português é aquele exemplificado nas chamadas épocas de ouro da literatura.
60
Unidade II
Essa crença limita o português culto à variedade escrita, ao passo que, de acordo com estudos 
realizados atualmente, temos o português culto falado nos grandes centros urbanos. Além disso, 
na escrita, há outras variedades do português, como a que é utilizada em textos jornalísticos e 
técnicos (revistas semanais, jornais, livros didáticos e científicos). Por fim, essa afirmação leva-nos 
a uma atitude conservadora e saudosista, de que o português culto é o de épocas passadas.
• Diante da variedade linguística existente, apenas uma é a correta, e todas as outras são erradas.
Se acreditarmos nessa afirmação, derrubaremos todos os conceitos de gramática desenvolvidos 
até aqui e voltaremos a acreditar que existe apenas uma norma a ser seguida, a prescritiva, que 
não admite nenhuma outra forma de expressão a não ser a determinada por ela como certa. 
Cabe lembrar, porém, que até o padrão culto varia de um grupo para outro, isto é, para cada 
norma culta, conforme a situação comunicativa, há várias formas consagradas por pessoas que 
pertencem a grupos prestigiados social, econômica e politicamente.
Mais uma vez, reforçamos que o falante ideal é aquele que sabe lidar com a diversidade e selecionar 
adequadamente o padrão a ser seguido, de acordo com cada situação comunicativa vivenciada por ele.
 Observação
Como professores e especialistas na área da linguagem, precisamos 
tomar cuidado ao fazer referência ao uso da língua. Em vez de certo ou 
errado, ou seja, em vez de dizer se o falante fugiu ou não das normas 
gramaticais, empregamos adequado ou inadequado. Cada situação de 
uso da língua depende de um contexto. 
Somos atores representando papéis sociais o tempo todo. Para cada um, devemos saber o script. 
Assim, não correremos o risco de sermos excluídos socialmente, ao menos do ponto de vista linguístico, 
que acaba se tornando um meio democrático de interação social, se analisarmos por essa perspectiva.
Exemplo de aplicação
1. Na introdução de Gramática descritiva do português, Perini (2005, p. 22) afirma o seguinte:
 
A falta de adequação à realidade da língua aparece quando a gramática 
descreve (ou “recomenda”) verdadeiras ficções linguísticas: construções 
que caíram de moda há séculos, ou mesmo que jamais existiram. Um 
exemplo é a afirmação de que só se coloca um pronome clítico (oblíquo 
átono) entre um auxiliar e o verbo principal ligando-o ao auxiliar por 
ênclise, isto é, estou-me divorciando e não estou me divorciando. Ora, 
sabemos que, apesar da opinião dos gramáticos, a segunda forma é a mais 
comum na língua atual.
61
GRAMÁTICA APLICADA DA LÍNGUA PORTUGUESA
Essa afirmação mostra aos leitores que a obra de Perini não é uma gramática normativa. Por quê?
2. Marcos Bagno (2012) fez uma gramática impressionante, intitulada Gramática pedagógica do 
português brasileiro. Sua proposta é:
• considerar o português brasileiro uma língua plena e autônoma (e não uma “variedade” do 
português europeu), dentro de um grupo de línguas que ele chama de portugalego;
• assumir como válido, aceitável e correto todo e qualquer uso linguístico que já esteja plenamente 
incorporado ao vernáculo geral brasileiro, falado e escrito, conforme a vasta exemplificação da 
língua viva que o autor se esforçou por apresentar;
• assumir, graças ao conhecimento desse vernáculo geral, a existência de uma norma urbana culta 
real, radicalmente distinta da norma-padrão clássica, ideal, prescritiva e totalmente desvinculada 
dos usos autênticos do PB (português brasileiro);
• postular que o ensino de língua se faça com base nessa norma urbana culta real, de modo a 
facilitar sua aquisição por parte dos aprendizes provindos das camadas sociais usuárias de outras 
variedades sociolinguísticas; embora exista uma distância entre essas variedades e a norma 
urbana culta real, ela é muito menor do que a que existe entre essas variedades e a norma-padrão 
clássica, na qual nem mesmo os cidadãos urbanos mais letrados se reconhecem. 
Pensando nisso, responda: em que medida essa gramática de Bagno se aproxima da gramática 
tradicional (ou rompe com ela)? 
Ao fazer referência à norma urbana culta, o autor a compara com a norma-padrão clássica, 
dizendo que há muito distanciamento entre a norma culta real e a norma culta tratada nas gramáticas 
tradicionais. Acompanhe uma conversa entre dois falantes cultos e verifique até que ponto a variante 
culta desses falantes se aproxima ou se afasta da gramática normativa. 
Embora não seja nosso objeto específico de estudo, não podemos deixar de considerar a variedade 
na língua, tendo em vista os conceitos de norma e gramáticas, no plural, como vimos anteriormente.
6 NÍVEIS DA LINGUAGEM E REGISTROS
Afinal, qual é o português que devemos usar? Em que situação(ões)? Essas e outras questões 
surgem cada vez que nós, falantes da mesma língua – a portuguesa –, temos de utilizá-la nas mais 
variadas situações.
Para melhor compreendermos essas questões, precisamos ter conhecimento de alguns conceitos 
(e teorias) que dizem respeito às variedades linguísticas e às gramáticas do português, sobretudo 
do Brasil. 
62
Unidade II
A partir dos conceitos de gramática apresentados, podemos verificar que não há regra para o uso da 
língua, mas regras que variam conforme as situações comunicativas do falante. Essa variação decorre 
de diferenças entre grupos sociais escolarizados e não escolarizados, entre falantes de regiões distintas, 
de sexo oposto, de idade e/ou posição social diversa – enfim, de fatores que determinam as regras 
(no plural).
Do ponto de vista da gramática tradicional, existe apenas a variedade-padrão – a norma culta – em 
oposição à popular. A primeira corresponde à variedade que segue as regras instituídas pela gramática 
normativa/prescritiva da língua, enquanto a segunda diz respeito a toda e qualquer variedade que se 
oponha ao bem falar e ao bem escrever instituídos pelo padrão.
Todavia, temos de considerar a pluralidade linguística para desenvolvermos a competência 
comunicativa enquanto usuários da língua. Essa pluralidade está diretamente ligada às variedades 
linguísticas. Portanto, não podemos desconsiderar que o uso da língua varia, de região para região, entre 
faixasetárias, de um sexo para o outro etc. Grupos se diferenciam de acordo com o seu modo de falar.
Além das variedades já indicadas, há diversidade no uso da língua de acordo com a situação 
comunicativa em que o falante se encontra. Desse modo, a variação de uso da língua está ligada ainda 
ao grau de formalismo requerido pela situação.
AM
Amazônico
Indefinido
MT
TO
MG
SP
PR
SC
RS
RJ
ES
SE
AL
PE
CE
PI
RNMA
AC
PB
GO
MS
RO
PA
BA
Nordestino
Baiano
Sulista
Mineiro
Fluminense
 
Figura 10 – O português no Brasil
6.1 Variação dialetal
O primeiro tipo de variação, que alguns pesquisadores chamam de variação dialetal, compreende 
basicamente as diferenças regionais, de nível social, de idade, de sexo. Travaglia (1998) propõe seis 
dimensões de variação dialetal: territorial (ou geográfica), social, de idade, de sexo, de geração e de função.
63
GRAMÁTICA APLICADA DA LÍNGUA PORTUGUESA
Dialetos na dimensão territorial, geográfica ou regional
Variação entre pessoas de diferentes regiões em que se fala a mesma língua. 
Essa variação pode ocorrer por influência da formação cultural do povo ou pelo fato de os indivíduos 
pertencentes geograficamente à mesma comunidade apresentarem comportamento linguístico que os 
identifique. As diferenças podem estar no plano fonético, lexical ou sintático.
Brasil
Portugal
Cabo Verde
Guiné-Bissau
Guiné Equatorial
São Tomé e Príncipe
Moçambique
Angola
Macau
Timor Leste
Figura 11 – O português no mundo
É preciso considerar, então, que esse código chamado língua portuguesa, no Brasil (sem levar em 
conta outros países), apresenta diversidade de uso. Basta pensarmos, por exemplo, no falante que 
vive no sertão nordestino e no falante que vive numa metrópole como São Paulo. Do ponto de vista 
fonético (talvez a diversidade mais evidente entre os falantes), um indivíduo que viva na primeira região 
pronunciará o [r] de “porta” diferentemente do outro indivíduo. E haverá outras realizações do mesmo 
fonema (variantes) para indivíduos de outras regiões do país.
Vejamos as marcas da oralidade numa canção de Luiz Gonzaga, grande representante da música de 
raiz, pela qual tomamos conhecimento da cultura do povo sertanejo.
Asa branca
Quando oiei a terra ardendo
Qual fogueira de São João
Eu preguntei a Deus do céu, ai
Por que tamanha judiação?
Que braseiro, que fornaia
Nem um pé de prantação
Por farta d’água perdi meu gado
Morreu de sede meu alazão
64
Unidade II
Inté mesmo a asa branca
Bateu asas do sertão
Entonce eu disse adeus Rosinha
Guarda contigo meu coração
Hoje longe muitas léguas
Numa triste solidão
Espero a chuva cair de novo
Para mim vortá pro meu sertão
Quando o verde dos teus oio
Se espaiá na prantação
Eu te asseguro não chore não, viu
Que eu vortarei, viu
Meu coração
Fonte: Gonzaga e Teixeira (1971).
Nesse texto, podemos observar a troca do fonema /lh/ por /i/ em “oiei” e “fornaia”, assim como a 
troca do /l/ pelo /r/ em “farta”, fenômenos que marcam a fala do matuto do sertão, constituindo uma 
variante linguística no nível fonético.
 Saiba mais
Conheça melhor os sons do português brasileiro. Visite o site Fonética 
& Fonologia, da Universidade Federal de Minas Gerais. No link a seguir, 
procure, por exemplo, o Mapa de Dialetos do Português. Você poderá ouvir 
muitas variantes da língua e se divertir de uma maneira diferente. 
http://fonologia.org/ 
Há ainda variações morfológicas, cujas variantes podem opor o uso do morfema flexional de um 
verbo à sua ausência, como “vortá” vs. “voltar”. O “-r” constitui a marca do infinitivo do verbo, e o falante 
pode colocá-lo ou subtraí-lo no final do termo.
Vejamos um texto em que essas variantes são bem explícitas.
65
GRAMÁTICA APLICADA DA LÍNGUA PORTUGUESA
Receita casêra minêra di môi di repôi nu ai i ói 
Ingrediênti:
5 den di ai
3 cuié di ói
1 cabêss di repôi
1 cuié de mastumáti
Sá agosto
Módi fazê:
1. Casca u ai, pica u ai e soca o ai cum sá. 
2. Quenta o ói; foga o ai no ói quentim.
3. Pica o repôi bem finim, foga o repôi.
4. Poim a mastumati i mexi ca cuié pra fazê o môi.
Adaptado de: UFVJM (2013). 
Verificamos a construção de palavras como “mastumáti” (variante de “massa de tomate”), termo 
composto pela aglutinação de fonemas. A redução de palavras é uma marca da fala mineira, como “ai”, 
“ói” e “cabess”. 
Quando se trata de léxico, também podem ocorrer variantes. O que é “mandioca” para uns, é 
“macaxeira” ou “aipim” para outros. O “pivete” de São Paulo é o “guri” do Rio de Janeiro.
O emprego de pronomes pessoais é outro exemplo de variedade. Assim como determinados grupos, 
entre eles os gaúchos, são reconhecidos pelo uso de “tu”, os paulistas são identificados pelo uso de 
“você”, e os mineiros pelo uso de “ocê”. 
Podemos encontrar ainda variação sintática. É o caso, por exemplo, do emprego do pronome relativo 
nas seguintes sentenças:
• Este é o amigo em cuja casa estive ontem.
• Este é o amigo que eu estive na casa ontem.
• Este é o amigo que eu estive na casa dele ontem.
Verifiquemos que as três formas de uso do pronome relativo expressam o mesmo significado, todavia 
a construção sintática varia.
Essas e outras variedades caracterizam o português falado no Brasil, tendo em vista a nossa 
geografia e os falantes situados em toda a extensão territorial. De norte a sul, de leste a oeste, a 
língua portuguesa é o nosso idioma, mas sua diversidade de uso marca a nossa identidade.
66
Unidade II
Dialetos na dimensão social
Variações de acordo com a classe social a que pertencem os usuários da língua. 
São considerados variedades dialetais de natureza social os jargões profissionais ou de classes sociais 
bem definidas como grupos (artistas, médicos, professores, marginais, favelados, entre outros). Nesse 
contexto, a gíria é uma forma de dialeto social.
O uso do plural varia de um falante escolarizado para um que não o seja. O primeiro dirá 
“os meninos”, enquanto o segundo dirá “os menino”. A marcação do plural apenas em uma das palavras 
(normalmente o artigo ou outra palavra que acompanhe o substantivo) é característica da fala do indivíduo 
não escolarizado.
Entretanto, esse mesmo recurso pode ser utilizado por falante considerado culto (cujo critério de 
classificação é o nível universitário de escolaridade) em situação informal de comunicação.
Figura 12 – Dimensão social
Dialetos na dimensão da idade
Variações relativas ao modo de usar a língua por pessoas de idades diferentes, em faixas etárias 
diversas – crianças, jovens, adultos e idosos.
Figura 13 – Dimensão da idade
67
GRAMÁTICA APLICADA DA LÍNGUA PORTUGUESA
Dialetos na dimensão do sexo
Variações de acordo com o sexo de quem fala.
Um garoto, por exemplo, pode cumprimentar um amigo com “E aí, bro?” e uma amiga com “Tudo 
bem, gata?”. A forma de tratamento costuma variar segundo o contexto e as relações sociais. 
Figura 14 – Dimensão do sexo
Dialetos na dimensão da geração 
Variação histórica. Estágios no desenvolvimento da língua.
Figura 15 – Dimensão da geração
68
Unidade II
O escritor Carlos Drummond de Andrade mostra, de maneira divertida, a variação ocorrida entre 
gerações no texto apresentado a seguir. 
Antigamente
Antigamente, as moças chamavam-se mademoiselles e eram todas mimosas e muito 
prendadas. Não faziam anos: completavam primaveras, em geral dezoito. Os janotas, mesmo 
não sendo rapagões, faziam-lhes pé de alferes, arrastando a asa, mas ficavam longos meses 
debaixo do balaio. E se levavam tábua, o remédio era tirar o cavalo da chuva e ir pregar em 
outra freguesia. As pessoas, quando corriam, antigamente, era para tirar o pai da forca, e 
não caíam de cavalo magro. Algumas jogavam verde para colher maduro, e sabiam com 
quantos paus se faz uma canoa. O que não impedia que, nesse entrementes, este ou aquele 
embarcasse em canoa furada. Encontravam alguém que lhes passava manta e azulava, 
dando às de vila-diogo.
Fonte: Andrade (2002). 
Dialetos na dimensão da função
Variações na língua decorrentes da função que o falante desempenha. Exemplo:plural majestático, 
em que governantes ou altas autoridades expressam seus desejos ou intenções com o pronome “nós”, 
que indica sua posição de representante do povo.
6.2 Variação de registro
O segundo tipo de variação é o das variações de registro, que são classificadas em três grupos por 
Travaglia (1998): grau de formalismo, modo e sintonia.
Grau de formalismo
Escala de formalidade, isto é, o uso dos recursos da língua variando o cuidado e o apuro de acordo 
com a situação. 
Com base em estudos realizados por outros pesquisadores, Travaglia (1998) propõe esta classificação 
do grau de formalismo:
• Oratório: elaborado, enfeitado, utilizado por especialistas, como advogados, sacerdotes e políticos. 
É sempre reconhecido como apropriado para uma situação muito formal. O equivalente escrito do 
oratório é o hiperformal.
• Deliberativo: quando se fala a grupos grandes ou médios, em que se excluem as respostas 
informais (conferências científicas normalmente são realizadas com esse nível de formalidade). O 
formal apresenta características semelhantes, numa forma de linguagem cuidada, na variedade 
culta e padrão, mas dentro do estilo escrito (bons jornais e revistas, por exemplo).
69
GRAMÁTICA APLICADA DA LÍNGUA PORTUGUESA
 Observação
O falante seleciona qual das modalidades deve usar no evento 
comunicativo. Se ele se encontrar em uma situação que exija muita 
formalidade, utilizará o modo oratório; caso contrário, escolherá o 
modo deliberativo.
• Coloquial: comumente utilizado no diálogo, em que os participantes interagem, sem planejamento 
prévio, mas continuamente controlado. Caracteriza-se por construções gramaticais soltas, 
repetições frequentes, frases bem curtas, conectivos simples e léxico mais comum. Na escrita, o 
semiformal corresponde ao coloquial, mas aquele apresenta mais formalidade que este.
• Casual (coloquial distenso): completa integração entre falante e ouvinte, em que pode aparecer, 
inclusive, o uso de gírias, indicador de relacionamento próprio de um grupo fechado. Exemplos 
desse nível são as conversações descontraídas entre amigos e colegas de trabalho. Quando 
esse nível corresponde à relação entre membros de uma família ou amigos íntimos, temos o 
grau informal.
• Familiar: inteiramente íntimo, particular. Aparecem, portanto, elementos da linguagem afetiva 
com função emotiva. Esse grau pode tornar-se pessoal quando escrevemos recados para pessoas 
de nosso círculo familiar, em bilhetes ou listas de compra, por exemplo.
A partir das definições dadas, podemos verificar que hierarquicamente temos, no topo, o oratório e 
o hiperformal como extremos de formalidade, seguidos do deliberativo e do formal. Em contrapartida, 
na base da escala, temos o familiar e o pessoal, e, um pouco acima, o casual (coloquial distenso) e 
o informal. 
Modo 
A língua falada em contraposição à língua escrita. Observe estes exemplos apresentados por Perini 
(2005, p. 23):
• A tarefa de lançar as bases da nova gramática é muito longa e complexa; devemos, portanto, 
deixá-la para a próxima semana.
• A nova gramática do português, ela vai ser muito difícil a gente escrever. Melhor a gente deixar 
ela pra semana que vem.
O primeiro exemplo está mais próximo do texto escrito, ao passo que o segundo parece ser a 
transcrição de uma fala espontânea, mais próximo, portanto, da oralidade.
70
Unidade II
 Lembrete
A língua varia devido ao próprio falante (sexo, idade, formação 
profissional etc.), à relação entre os falantes (familiaridade, relação de 
carinho ou animosidade, distanciamento profissional etc.), às diferenças 
geográficas etc. O registro formal é apenas mais uma maneira de 
variar a língua.
De acordo com Travaglia (1998), a língua falada tem à disposição recursos do nível fonológico 
que não podem ser usados na língua escrita (entonação, ênfase de termos ou sílabas, duração dos 
sons, entre outros). Além disso, na oralidade aparecem truncamentos (de palavras e frases), hesitações, 
repetições, retomadas e correções, que não aparecem no texto escrito. Na interação face a face, no texto 
oral, é possível
 
que o locutor observe as reações do interlocutor e formule explicações, 
repetições, reformulações, cortes da frase etc. Observar marcas de 
relação entre o falante e o ouvinte na conversação, como os marcadores 
conversacionais, tais como “uhm”, “certo?”. Sempre se valer de elementos do 
contexto imediato de situação e formular frases que seriam incompreensíveis 
na escrita sem a formulação de um prévio quadro de referência, o que não 
é necessário na língua falada (TRAVAGLIA, 1998, p. 52).
Este texto de Millôr Fernandes ilustra bem a questão.
A vaguidão específica
As mulheres têm uma maneira de falar
que eu chamo de vago-específica.
Richard Gehman
– Maria, ponha isso lá fora em qualquer parte.
– Junto com as outras?
– Não ponha junto com as outras, não. Senão pode vir alguém e querer fazer coisa com 
elas. Ponha no lugar do outro dia.
– Sim senhora. Olha, o homem está aí.
– Aquele de quando choveu?
71
GRAMÁTICA APLICADA DA LÍNGUA PORTUGUESA
– Não, o que a senhora foi lá e falou com ele no domingo.
– Que é que você disse a ele?
– Eu disse pra ele continuar.
– Ele já começou?
– Acho que já. Eu disse que podia principiar por onde quisesse.
– É bom?
– Mais ou menos. O outro parece mais capaz. 
– Você trouxe tudo pra cima?
– Não senhora, só trouxe as coisas. O resto não trouxe porque a senhora recomendou 
para deixar até a véspera.
– Mas traga, traga. Na ocasião nós descemos tudo de novo. É melhor, senão atravanca a 
entrada e ele reclama como na outra noite.
– Está bem, vou ver como.
Fonte: Fernandes (2001).
Observe o quadro a seguir.
Quadro 4 
Variações de modo
Va
ria
çõ
es
 d
e 
gr
au
de
 f
or
m
al
ism
o
Língua falada Língua escrita
Oratório
Formal (deliberativo)
Coloquial
Coloquial distenso
Familiar
Hiperformal
Formal
Semiformal
Informal
Pessoal
Fonte: Travaglia (1998, p. 54).
A língua escrita apresenta um conjunto de variedades de grau de formalismo, assim como a língua 
oral. Na escrita, há maior tendência à regularidade e à formalidade que na oralidade.
72
Unidade II
Não podemos, entretanto, relacionar formalidade e informalidade a texto escrito e oral, 
respectivamente. Há variação no grau de formalidade ou informalidade tanto na escrita quanto na 
oralidade. Podemos ter textos com grau extremo de formalidade na língua falada, bem como textos 
informais na língua escrita.
Além disso, há casos de variação no uso do mesmo código – em nosso caso, a língua portuguesa. 
Poderíamos dizer que, para cada um, há uma gramática própria, tendo em vista a adoção de uma norma 
pelos falantes de cada grupo. O que existe, portanto, são diferenças, variações de uso do mesmo código, 
não havendo melhor ou pior.
Como dito antes, para a gramática tradicional, há apenas a variedade-padrão – a norma culta – em 
oposição à popular. Todavia, temos de levar em conta a pluralidade linguística para desenvolvermos 
competência comunicativa enquanto usuários da língua. Essa pluralidade está diretamente ligada às 
variedades linguísticas.
Sintonia
Com relação à sintonia, há pelo menos quatro distinções feitas por Travaglia (1998):
• Status: um funcionário não fala da mesma forma com um colega de trabalho e com o 
chefe. Variações na forma, na pronúncia, no tom de voz denotam respeito especial à pessoa 
a quem nos dirigimos, com a finalidade de definir as posições relativas de cada falante. 
Um homem pode diferenciar sua linguagem para falar com o filho e para falar com a esposa, 
por exemplo.
• Tenacidade: variação que ocorre em função do volume de informações ou conhecimentos que 
o falante supõe ter o ouvinte sobre o assunto. Podemos observar esse tipo de variação entre 
um artigo de divulgação científica, que é dirigido para um público leigo, e um artigo científico, 
destinado a um público específico, o acadêmico-científico. 
• Cortesia: variação que ocorre de acordo com a dignidade que o falante considera apropriadaao(s) seu(s) interlocutor(es) e/ou à ocasião. Essa variação vai da blasfêmia/obscenidade 
ao eufemismo.
• Norma: ao se dirigir ao seu interlocutor, o falante considera o que este julga “bom” em termos de 
linguagem. Isto é, a variedade linguística a ser utilizada será selecionada conforme os participantes 
da atividade comunicativa – conforme critérios regionais, sociais, de maior ou menor formalidade, 
e assim por diante.
O que vimos sobre variação está sintetizado no quadro a seguir.
73
GRAMÁTICA APLICADA DA LÍNGUA PORTUGUESA
Quadro 5 
Variação dialetal Variação de registro
Territorial ou geográfica Grau de formalismo
Social Modo
De idade Sintonia
De sexo
De geração
De função
Enquanto falantes do português, devemos usar adequadamente a variação, seja ela dialetal ou de 
registro. Enquanto interlocutores (ouvintes ou leitores), devemos respeitar as diferenças, que não são 
erros, como vimos, apenas formas diferentes de realização do mesmo código: a língua portuguesa.
 Lembrete
Aprendemos a nossa língua desde bebês, quando passamos a treinar 
nosso aparelho fonador para sons mais fáceis (como as vogais e as bilabiais 
/b/, /p/ e /m/) e aos poucos criamos frases de acordo com as regras da 
língua aprendidas na convivência com os falantes ao nosso redor. Assim, 
com 3, 4 anos, já somos grandes dominadores da língua.
Convidamos o aluno/leitor a apreciar o texto que segue, cuja originalidade e beleza se encontram 
justamente na preservação das variantes linguísticas.
Malinculia
Malinculia, Patrão,
É um suspiro maguado 
Qui nace no coração!
É o grito safucado 
Duma sodade iscundida 
Qui nos fala do passado 
Sem se torná cunhicida! 
É aquilo qui se sente 
Sem se pudê ispricá!
Qui fala dentro da gente
Mas qui não diz onde istá!
Malinculia é tristeza 
Misturada cum paxão, 
Vibrando na furtaleza 
Das corda do coração! 
74
Unidade II
Malinculia é qui nem 
Um caminho bem diserto 
Onde não passa ninguém… 
Mas nem purisso, bem perto, 
Uma voz misteriosa
Relata munto baxinho
Umas história sodosa, 
Cheias de amô e carinho!
Seu moço, malinculia 
É a luz isbranquiçada 
Dos ano qui se passô… 
É ternura… é aligria… 
É uma frô prefumada 
Mudando sempre de cô! 
Às vez ela vem na prece 
Qui a gente reza sozinho. 
Outras vez ela aparece
No canto dum passarinho, 
Numa lembrança apagada, 
No rumance dum amô, 
Numa coisa já passada,
Num sonho qui se afindô! 
A tá da malinculia 
Não tem casa onde morá… 
Ela véve noite e dia 
Os coração a rondá!...
Não tem corpo, não tem arma, 
Não é home nem muié… 
E ninguém lhe bate parma
Pru caso de sê quem é!
Ela se isconde num bejo
Qui foi dado há muntos ano…
Malinculia é desejo,
É cinza de disingano,
Malinculia é amô
Pulo tempo sipurtado,
Malinculia é a dô
Qui o home sofre calado
Quando lhe vem à lembrança
Passages da sua vida...
Juras de amô… isperança…
Na mucidade culhida!
É tudo o que pode havê
Guardado num coração!
75
GRAMÁTICA APLICADA DA LÍNGUA PORTUGUESA
É uma histora que se lê
Sem forma de ispricação!
Pruquê inda vai nacê
O home, ou mermo a muié,
Capacitado a dizê
Malinculia o qui é!!!
Fonte: Sales (2006, p. 197).
Exemplo de aplicação
Em um enunciado de prova, texto mais formal, o autor da questão recorre a comandos expressos 
por verbos cujo significado é específico. Indique o que significa cada verbo no quadro a seguir quando 
aparece em questão discursiva. O que exatamente o aluno precisa fazer na resposta?
Depois, discuta sobre a relevância do emprego de termos com sentido mais específico e sobre 
como um termo com sentido muito amplo e geral poderia atrapalhar ao ser usado como norteador em 
questão de prova. 
Quadro 6
Relacionar ou enumerar
Organizar
Selecionar
Descrever
Analisar
Definir
Exemplificar
Explicar
Comparar
Sintetizar
Esquematizar
Interpretar
Criticar
76
Unidade II
Comentário
Reproduzimos o quadro com as explicações dadas por Haydt (1997).
Quadro 7 
Relacionar ou enumerar Exposição que exige apenas recordação, sendo uma forma simples de resposta livre
Organizar
Também exige lembrança de fatos, mas de acordo com determinado 
critério (cronológico, importância crescente, causa e efeito etc.), 
sendo mais complexo que o anterior. Neste caso, os elementos 
devem ser dispostos de forma a assumir uma estrutura
Selecionar
Supõe uma escolha fundamentada em normas de julgamento ou 
apreciação. A resposta exige avaliação, mas de natureza simples, de 
acordo com um critério preestabelecido
Descrever Solicita a exposição das características de um objeto, fato, processo ou fenômeno
Analisar
É mais que uma simples descrição, porque supõe uma análise 
em que o aluno expõe ideias, questiona, apresenta argumentos a 
favor e contra e estabelece o relacionamento entre fatos ou ideias. 
A resposta requer estruturação cuidadosa e propicia diferentes 
abordagens do problema
Definir
Consiste em enunciar os atributos essenciais e específicos de um 
objeto, fato, processo ou fenômeno, indicando as categorias a que 
estaria associado. O aluno não deve repetir as definições contidas 
nos livros-textos, mas usar as próprias palavras
Exemplificar
Consiste em confirmar uma regra ou demonstrar uma verdade. 
A questão exige aplicação do conhecimento aprendido. O aluno 
deve não apenas apresentar definições e enunciar leis e princípios, 
mas aplicar o conhecimento, dando uma contribuição pessoal
Explicar Consiste em elucidar a relação entre fatos ou ideias. A ênfase da questão deve recair na relação de causa e efeito
Comparar
Consiste numa análise simultânea de objetos, fatos, processos 
ou fenômenos, para determinar semelhanças e diferenças e 
indicar relações. A resposta exige planificação e organização de 
ideias. O item pode ser enunciado sem necessariamente usar o 
termo “comparar”, solicitando a apresentação de vantagens ou 
desvantagens, semelhanças ou diferenças
Sintetizar
Consiste em fazer um resumo, isto é, expor de forma concisa e 
abreviada uma ideia ou assunto, apresentando seus aspectos 
essenciais
Esquematizar
O esquema ou esboço é uma espécie de síntese, mas exige uma 
organização do assunto em tópicos e subtópicos, dando ênfase às 
funções e às relações entre os elementos
Interpretar
Consiste em analisar o significado de palavras, textos e ideias ou 
compreender as intenções de um autor. A influência da memória é 
praticamente nula, pois a resposta exige basicamente capacidade 
de compreender e realizar inferências
Criticar
Consiste em julgar e supõe análise crítica. O aluno deve avaliar 
ideias, textos, livros tendo por base padrões ou critérios para 
proceder a uma análise crítica
Fonte: Haydt (1997, p. 302-303).
77
GRAMÁTICA APLICADA DA LÍNGUA PORTUGUESA
 Resumo
Vimos que o conceito de norma pode ser associado ao adjetivo 
“normal” ou ao adjetivo “normativo”. O primeiro corresponde às normas 
de uso da língua, estabelecidas no interior das comunidades linguísticas, 
o que pode sofrer variação. Já o segundo corresponde à gramática que 
prescreve “o bem falar e o bem escrever”. Cada uma dessas normas pode 
ser vinculada ao termo “culta”, havendo, assim, a norma culta “normal” 
e a norma culta “normativa”.
A variação linguística pode ser abordada do ponto de vista dos dialetos 
(ou falares), os quais variam de uma região para outra, de uma classe social 
para outra, entre os sexos, as gerações, as faixas etárias e as funções sociais. 
A língua pode variar ainda enquanto registro, isto é, o mesmo falante pode 
variar o uso dela, tendo em vista o grau de formalismo, o modo e a sintonia.
 Exercícios
Questão 1. Leia a letra da música “Samba do Arnesto”, de autoria de Adoniran Barbosa.
O Arnesto nos convidou pra um samba, ele mora no Brás
Nós fumos, não encontremos ninguém
Nós vortemos com uma baita duma reiva
Da outra vez, nós num vai mais
Nós não semos tatu!
No outro dia encontremos com o Arnesto
Que pediu descurpa, mas nós não aceitemos
Isso não se faz, Arnesto, nós não se importa
Mas você devia ter ponhado um recado na porta
Disponível em: http://bit.ly/3a7Dmkt. Acesso em: 11 nov. 2020.
Combase na leitura e nos seus conhecimentos, avalie as afirmativas.
I – A letra da música vale-se do nível popular da linguagem, o que é errado e não deve ser usado em 
produções culturais.
II – A música retrata o modo de falar de alguém sem instrução, que não conhece a sintaxe da 
língua portuguesa.
III – O uso da linguagem popular na letra apresentada caracteriza o personagem e enriquece o relato 
do episódio.
78
Unidade II
É correto o que se afirma somente em:
A) I.
B) II.
C) III.
D) I e II.
E) II e III.
Resposta correta: alternativa C.
Análise da questão
O uso da linguagem popular é o que constrói o humor e a genialidade da letra. Esse uso revela 
alguém que não domina as regras da gramática normativa, mas isso não significa que ele desconheça 
a sintaxe da língua.
Questão 2. Leia os quadrinhos. 
Figura 16 
Disponível em: http://bit.ly/3tIkuQV. Acesso em: 12 nov. 2020.
Com base na leitura e nos seus conhecimentos, avalie as afirmativas.
I – As crianças nos quadrinhos desconhecem os nomes atribuídos à planta porque as diferentes 
nomeações correspondem a variações diacrônicas da língua portuguesa.
II – Os diferentes nomes revelam variações geográficas para a mesma planta.
III – As crianças não reconhecem a planta porque “macaxeira”, “aipim” e “mandioca” representam 
uma variação dialetal de idade, ou seja, são vocábulos arcaicos.
79
GRAMÁTICA APLICADA DA LÍNGUA PORTUGUESA
É correto o que se afirma somente em:
A) I.
B) II.
C) III.
D) I e III.
E) II e III.
Resposta correta: alternativa B.
Análise da questão
Trata-se de nomes regionais para a mesma planta, e não de variações diacrônicas. Não se trata de 
vocábulos arcaicos. As crianças apenas não associaram os nomes às folhas – possivelmente, por só 
conhecerem a mandioca no consumo.

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