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Terapia-Ocupacional-Berenice-Rosa-Francisco

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64014712-Terapia-Ocupacional-
Berenice-Rosa-Francisco
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BERENICE ROSA 
FRANCISCO
Terapia 
Ocupacional
AGRADECIMENTOS
Gostaria de expressar meus agradecimentos a 
todos que, direta ou indiretamente, permitiram que 
este estudo acontecesse.
Em primeiro lugar aos colegas do Departamento de 
Terapia Ocupacional pelo apoio e liberdade de 
pesquisa, sem os quais nenhum trabalho pode ser 
realmente frutífero. Sobretudo a Sandra Maria 
Galheigo e a Maria de Lourdes Feriotti a minha 
dívida de gratidão pelos debates radicais na busca 
dos fundamentos da terapia ocupacional. A Moacir 
Gadotti e Jeferson Ildefonso, pessoas queridas, 
educadores altamente interessados, que através 
de suas aulas e conversas de corredor muito 
contribuíram para a minha investida como 
educadora e terapeuta educacional.
A profissionais como Léa Beatriz Teixeira Soares, 
incessante batalhadora por uma terapia 
ocupacional engajada/crítica.
A PUCCAMP, onde o presente trabalho foi desen-
volvido proporcionando a oportunidade dessa 
experiência.
Finalmente, aos editores meus agradecimentos 
pela acolhida a este livro.
ÍNDICE
AOS LEITORES
PRIMEIRA PARTE:
• Terapia ocupacional: uma questão de conheci-
mento ..................................................... 
1. Considerações acerca dos mal-entendidos
2. Conceitos formais: verdade universal?
3. Terapia ocupacional: profissão nova?
SEGUNDA PARTE:
. Atividade humana x recurso terapêutico
1. Considerações gerais
2. Primeiros princípios
3. Atividade = exercício
4. Atividade — produção
5. Atividade = expressão
6. Atividade = criação, transformação
TERCEIRA PARTE:
• Concepção "ingênua" e concepção crítica da 
terapia ocupacional (modelos do processo)
1. Considerações gerais
2. Modelo do processo de terapia ocupacional 
humanista
3. Modelo do processo de terapia ocupacional 
positivista
4. Modelo do processo de terapia ocupacional 
materialista histórico
Terapia Ocupacional.....................................................2
AGRADECIMENTOS........................................................2
AOS LEITORES
Este é o primeiro livro que escrevo e como tudo o 
que é primeiro, as expectativas depositadas 
chegam a dar um friozinho na barriga. Por esse 
mesmo motivo, muitos foram os momentos de 
conflitos, bloqueios, medos, porém tudo isso foi 
vivido com muita vontade de chegar ao fim.
Este livro é parte do projeto de extensão que, du-
rante 1987, eu e Denise Mulati desenvolvemos 
como docentes do Departamento de Terapia 
Ocupacional do Curso de Graduação em Terapia 
Ocupacional da Faculdade de Ciências Médicas da 
PUCCAMP.
Nosso projeto: "Recriando e reescrevendo a terapia 
ocupacional" tem uma longa história que começa 
em 1986, quando eu e Sandra Maria Galheigo, 
também professora do departamento, o 
elaboramos para concorrer ao financiamento da 
pesquisa pelo Projeto Nova Universidade.
Nessa época o projeto não foi aceito, por não se 
enquadrar na área à qual vinculávamos nossa 
pesquisa, a editoração. Tal área dispunha-se 
apenas a editorar textos já prontos, e o nosso 
propósito era receber o financiamento para que 
pudéssemos elaborar, escrever o texto. Pois como 
professores horistas, precisaríamos, deixar, 
diminuir a carga horária de trabalho, para que 
pudéssemos dedicar-nos a tal pesquisa.
Com a não aceitação, o projeto ficou engavetado. 
Em fevereiro do ano seguinte, resolvi concorrer à 
entrada no regime "de carreira experimental" da 
Universidade e, como já existia esse projeto tão 
querido por nós, fui conversar com Sandra, até 
então parceira do projeto. Como esta já se 
encontrava em regime de carreira, desenvolvendo 
sua tese de mestrado, colocou-me à vontade para 
que o apresentasse para ingresso na carreira.
E aqui entra Denise, nova parceira, disposta tam-
bém a desenvolver um trabalho, com perspectivas 
de abrir caminhos onde os profissionais da área 
pudessem publicar suas experiências: uma revista 
de terapia ocupacional.
O projeto foi aceito e partimos então para nossa 
pesquisa. Com o transcorrer do primeiro semestre, 
entre as dificuldades de contatos, acesso a 
material bibliográfico da área e muitos outros 
imprevistos, a publicação da revista tornou-se 
inviável. O projeto sofreu então alterações em seu 
segundo momento, passando a englobar um livro 
texto básico de terapia ocupacional e um centro de 
consultoria bibliográfica em terapia ocupacional.
Como meu envolvimento com o livro já vinha cami-
nhando, continuei a me ocupar dele, e Denise 
assumiu o centro de consultoria. Chegamos ao final 
da pesquisa e aqui estamos com o livro.
A terapia ocupacional teve seu surgimento no 
Brasil na década de 50 e, no transcorrer desses 30 
anos, várias são as questões que vêm sendo 
arrastadas pelos terapeutas ocupacionais a duras 
penas. Dentre essas, a mais significativa é, a nosso 
ver, a falta de produção teórica e publicações na 
área.
Tal situação advém de, em nosso país, não existi-
rem cursos de pós-formação na área e das 
condições de trabalho oferecidas pelas escolas, o 
que prejudica o desenvolvimento da capacitação 
docente e, conseqüentemente, a produção e a 
publicação de material bibliográfico.
É neste contexto que os docentes de terapia 
ocupacional fazem altos malabarismos para levar a 
cabo seus trabalhos como educadores. Pois, de um 
lado, contam com uma dezena de livros publicados 
no país, dos quais alguns são edições antigas não 
reeditadas, tendo ainda a peculiaridade de ser 
relatos de experiências na área de saúde mental. 
De outro lado, no nível didático, as publicações 
utilizadas são em língua estrangeira e ou suas 
traduções em espanhol, que datam da década de 
60; são utilizados também artigos de jornais e 
revistas importados, os quais não refletem a 
realidade brasileira.
Sabemos as dificuldades que encontram os profis-
sionais para desenvolver seus trabalhos, hoje, no 
Brasil. O que provoca as mais variadas atitudes no 
meio dos terapeutas, desde profundo desânimo, 
passando por atitudes pragmáticas e chegando às 
vezes a um aceitar a luta e lançar-se a ela de 
maneira a conjugar todos os esforços para superá-
la.
Estamos aqui, em um primeiro momento da luta — 
o do desvelamento — e ainda à procura das saídas 
para a superação.
Quando pensamos em terapia ocupacional 
devemos nos reportar ao problema da 
interdisciplinaridade nela contida.
Dessa forma, optamos por uma discussão em torno 
dos pressupostos, fundamentos da terapia 
ocupacional, procurando mostrar o seu papel comoinstrumento mantenedor ou transformador da 
sociedade. É necessário, então, levarmos em conta 
como e para que este ou aquele modelo de terapia 
ocupacional é pensado e utilizado. Para tanto, 
utilizaremos a concepção materialista da história, a 
qual nos possibilitará uma compreensão melhor 
dos mecanismos pelos quais a prática terapêutica 
se apresenta.
Consideramos que a terapia ocupacional deva ser 
entendida como uma entre as demais práticas 
sociais, capazes de criar as condições necessárias 
para a realização da transformação social. Sendo 
fundamental para tal compreensão questionar 
como existe na sociedade e sob que condições é 
praticada: contra ou a favor de qual homem ou 
classe social.
Neste trabalho trazemos, num primeiro momento, 
breve discussão em torno da profissão, quanto às 
questões dos mal-entendidos, aos conceitos e à 
sua história, visto que observamos uma total e 
absoluta falta de conhecimento do que seja a 
terapia ocupacional, tanto por parte da população, 
como por parte dos próprios profissionais de 
saúde. Num segundo momento, nossa 
preocupação é com o instrumento, recurso de 
trabalho em terapia ocupacional: a atividade. 
Buscamos explicitar os diferentes entendimentos 
da atividade humana e sua forma de utilização em 
terapia ocupacional.
Por fim, apresentamos as diferentes formas (méto-
dos) de atendimento aos clientes em nossa 
profissão, apontando os princípios norteadores 
destes, abordando a proposta humanista, a 
positivista e a materialista histórica e quais as 
possibilidades existentes, nesta última, para que a 
terapia ocupacional transforme-se em real 
instrumento para a mudança social.
Primeira Parte
Terapia Ocupacional: Uma Questão de 
Conhecimento
1. CONSIDERAÇÕES ACERCA DOS MAL-
ENTENDIDOS
Antes de entrar na difícil tarefa de responder à cé-
lebre pergunta: o que é terapia ocupacional? Faz-
se necessário levantar outras, na busca de 
esclarecer certos mal-entendidos que o cotidiano e 
o senso comum nos lançam. Exemplos não faltam 
para ilustrar tal confusão.
É comum ouvir-se: "Fazer tricô é uma boa terapia, 
quando estou irritada!", ou "Minha terapia é mexer 
com terra, isso me descansa!", aí pode-se 
perguntar: qual será o significado dessas 
afirmações (expressões)? Ou, então, quando num 
comercial de TV o apresentador fala em tom de 
seriedade: "Faça a sua terapia ocupacional, 
confeccionando suas próprias roupas!". Ou ainda, 
quando uma revista infantil faz propaganda de 
álbum de figurinhas ou de jogos educativos: "Esta 
é uma terapia ocupacional para o seu filho!". Ou 
mesmo a grande confusão formada (criada) 
quando um terapeuta ocupacional ao falar da sua 
profissão depara-se com seu interlocutor 
preocupado em mostrar ter compreensão do 
assunto, afirmando: "Ah! você dá trabalhos para 
ocupar os loucos!" ou "Você brinca com as 
crianças!"
Ora, e quando é que o trabalho, a brincadeira, a 
execução das atividades do cotidiano é fazer 
terapia ocupacional?
Será que, buscando o significado das palavras tera-
pia e ocupacional, conseguiremos fazer alguns 
reparos introdutórios em relação a tantos mal-
entendidos.
Vamos arriscar!
Ao consultar o Novo dicionário Aurélio, encontra-
mos no verbete terapêutica: "do grego 
Therapeutikê, pelo latim therapeutica — parte da 
medicina que estuda e põe em prática os meios 
adequados para aliviar ou curar doentes; Terapia. 
Terapêutica Ocupacional — psiq. Aquela que 
procura desenvolver e aproveitar o interesse do 
paciente por um determinado trabalho ou 
ocupação: Terapia Ocupacional, laborterapia, 
ergoterapia (nesta acep. C.F. praxiterapia)".
Conforme solicitação do autor, partimos então à 
procura do verbete praxiterapia e diz o seguinte: 
"(de praxis + terapia) técnica de tratamento usada, 
em geral, com doentes crônicos internados, e que 
consiste na utilização terapêutica do trabalho, 
distribuindo-se aos pacientes tarefas de 
complexidade crescente".
Mais uma caminhada à procura de ocupacional, 
porque o que buscamos é o significado das 
palavras e, por mais que no verbete Terapêutica 
tenhamos encontrado, para a surpresa de alguns, 
terapia ocupacional, deve-se lembrar que 
ocupacional encontra-se ainda subentendido.
Quanto a ocupacional, diz o autor: "referente a 
ocupação, trabalho, ofício". Vejamos agora 
ocupação: "do latim occupatione — ato de ocupar, 
ou de apoderar-se de algo — Ofício, trabalho, 
emprego, serviço...".
Após um vai-e-vem entre páginas, constata-se que 
a investida no estudo das raízes das palavras 
permite- nos compreender a terapia ocupacional 
como: técnica (parte da medicina que estuda e põe 
em prática) que utiliza o trabalho como recurso 
(meio adequado) para tratar (aliviar ou curar os 
doentes).
Bem, até aqui a definição advinda via etimologia 
das palavras terapia e ocupacional parece bastante 
simples, pois, uma vez que ela é apenas uma 
técnica de aplicar trabalho, ocupação, afazeres, 
para curar doentes e uma vez que todos os 
homens e cada homem em particular tem 
conhecimentos do trabalho humano, então basta 
trabalhar quando se está doente para curar a 
doença.
Aqui, porém, a "coisa" começa a se complicar. Com 
efeito, se a terapia ocupacional é realmente uma 
profissão técnica, ela não é, entretanto, a simples 
aplicação de técnicas. Ora, o que caracteriza a 
terapia ocupacional é precisamente o meio que se 
propõe para tratar. Entretanto, para que o uso de 
atividade, ação, trabalho, possa ser conceituado 
como terapia ocupacional, é preciso que se 
satisfaça uma série de exigências que se pode em 
princípio resumir nos quatro requisitos que 
seguem.
Em primeiro lugar, é necessário que a atividade 
humana seja entendida enquanto espaço para 
criar, recriar, produzir um mundo humano. Que 
esta seja repleta de simbolismo, isto é, que a ação 
não seja meramente um ato biológico, mas um ato 
cheio de intenções, vontades, desejos e 
necessidades.
Em segundo lugar, não basta fazer, fazer e fazer, 
acreditando que o simples curso das coisas com 
isso se modifique. O fazer deve acontecer através 
do processo de identificação das necessidades, 
problematização e superação do conflito.
Em terceiro lugar, não existem receitas mágicas 
(atividades mágicas) nem técnicas específicas que 
garantam que estamos realmente resolvendo o 
problema.
Em quarto e último lugar, é necessário um profis-
sional preparado, cuja tarefa é a de se dispor, 
também, como instrumento ou recurso terapêutico, 
de incomodar, de ativar e revelar o conflito para a 
sua superação.
A exposição acima, sumária e distinta de cada um 
dos itens descritos, não deve, entretanto, nos 
iludir. Pois não se tratam de partes isoladas, auto-
suficientes, que a uma simples somatória, como 
que por um efeito mágico de sua junção, efetivam 
o processo de terapia ocupacional. É essencial que 
se tenha uma visão do conjunto e de como estas 
partes se relacionam dialeticamente.
Partindo desta premissa, vamos então discutir o 
problema passo a passo.
2. CONCEITOS FORMAIS: VERDADE 
UNIVERSAL?
Existem inúmeras tentativas para conceituar for-
malmente a terapia ocupacional e para defini-la 
como prática de saúde engajada, compromissada 
com o social. Entretanto, geralmente, as definições 
formais caracterizam-na como prática "neutra" de 
saúde.
Dessa forma, adotar aqui as diversas, importadas 
— e já consagradas — definições parece ser um 
compromisso ideológico que, por servir a 
interesses, é hoje apenas um ponto de referência 
histórico para nossa análise. Pois acreditamos que 
tal cumplicidade com o passado é sinal de 
estagnação e conformismo.
Nos últimos dez anos, os terapeutas ocupacionaisbrasileiros vêm adotando as definições de terapia 
ocupacional advindas dos Estados Unidos da 
América do Norte, dentre as quais figuram com 
maior freqüência as propostas pela Associação 
Americana de Terapia Ocupacional, formuladas em 
1972 e em 1977 e, mais recentemente, a proposta 
por Reed e Sanderson em 1980.
Vejamos como se apresentam.
O Conselho da Associação Americana de Terapia 
Ocupacional, em 1972, definiu a terapia 
ocupacional como "a arte e a ciência de dirigir a 
participação do homem em tarefas selecionadas a 
fim de restaurar, reforçar e engrandecer sua 
atuação, facilitando a aprendizagem de habilidades 
e funções essenciais para sua adaptação e 
produtividade, diminuindo ou corrigindo patologias 
e promovendo a manutenção da saúde" (cf. REED 
e SANDERSON, 1980).
Em 1977, a assembléia representativa da Associa-
ção Americana de Terapia Ocupacional (AOTA) 
aprovou uma nova definição: "Terapia ocupacional 
é a aplicação da ocupação (única atuação) de 
qualquer atividade que se emprega para avaliação, 
diagnóstico e tratamento de problemas que 
interfiram na atuação funcional de pessoas 
debilitadas por doenças físicas ou mentais, 
desordens emocionais, desabilidades congênitas 
ou de desenvolvimento ou no processo de 
envelhecimento, com o objetivo de alcançar um 
funcionamento ótimo e de prevenir e manter a 
saúde" (cf. REED e SANDERSON, 1980, p. 7).
Reed e Sanderson, em seu livro Conceitos de tera-
pia ocupacional, publicado em 1980, propõem 
algumas modificações à definição da AOTA/77 e 
conceituam a terapia ocupacional como "análise e 
aplicação da ocupação, especificamente auto-
manutenção, produtividade e lazer, as quais 
através do processo de problemas de avaliação, 
interpretação e tratamento de problemas que, 
interferindo com a execução funcional ou 
adaptativa em pessoas nas quais as ocupações são 
diminuídas por doenças físicas ou mentais, 
desordens emocionais, debilidades congênitas ou 
do desenvolvimento ou processo de 
envelhecimento, com o objetivo de promover a 
pessoa a uma ação funcional ótima e adaptativa, 
prevenir a diminuição ocupacional e promover 
saúde e manutenção ocupacional".
Observando com atenção, estas definições trazem 
ou fazem passar a idéia de que a terapia 
ocupacional deva assumir, cada vez mais, o papel 
de promoção do homem.
Aí surge uma pergunta — do ponto de vista da te-
rapia ocupacional, o que significa promover o 
homem?
De acordo com as definições que aqui analisamos, 
tal promoção se dá através do desenvolvimento da 
personalidade e das potencialidades ou 
capacidades humanas. O que, a nosso ver, articula 
progresso individual com progresso técnico-
científico, de maneira a fazer crer que essa 
promoção deva levar ao aprimoramento das 
instituições, de forma que, ao realizar sua prática 
profissional, seja em uma favela, seja em um bairro 
de elite, o terapeuta, sempre irá enfatizar os 
valores intelectuais (emocionais) e biológicos. No 
entanto, a nossa experiência da valoração nos 
mostra que as coisas acontecem de maneiras bem 
diferenciadas, pois a ação terapêutica ocupacional 
sempre é desenvolvida num contexto social 
concreto.
Chamamos então, a atenção para o que considera-
mos ser uma ideologia "terapêutica" que permeia 
as propostas das terapias, sem deixar de lado, é 
claro, a terapia ocupacional.
Cabe aqui, uma preocupação com tal formulação, 
pois está longe de nossa intenção isolar a ideologia 
terapêutica do seu contexto geral, ou de 
caracterizá-la como uma esfera de ação à parte, ou 
mesmo de privilegiar sua importância. Embora 
tenhamos a clareza que uma análise mais apurada 
deveria trazer à compreensão, as ligações 
existentes entre os diversos aspectos da ideologia, 
mostrando assim como a ideologia "terapêutica" 
incorpora os discursos ou práticas destes.
Nossa intenção, entretanto, é fazer aqui apenas al-
gumas aproximações ao assunto, para que 
possamos estabelecer um ponto de partida 
necessário à compreensão dos diferentes modelos 
de terapia ocupacional e, conseqüentemente, o 
embate criado quando um conceito formal é 
assumido como verdade universal.
Voltando às definições, é importante perceber os 
mecanismos de desqualificação da dimensão 
político- ideológica da terapia ocupacional operada 
pela ideologia "terapêutica", a qual está inserida 
no sistema ideológico geral da sociedade 
tecnológica e enfatiza a questão das técnicas como 
prioridade.
Desqualificação, porque se faz a partir da 
concepção da ciência como neutra ou, melhor 
dizendo, acima de qualquer interesse de classes.
Tendo como pressuposto que a ideologia dominan-
te tem necessidade de, por um lado, garantir a 
harmonia no interior da classe dominante e, por 
outro, passar seu modelo às outras classes como 
verdade universal e não, como na realidade, 
verdade de classes, podemos observar que a 
ideologia "terapêutica" está muito bem articulada 
com a ideologia do desenvolvimento individual, a 
ideologia das diferenças de aptidões e a ideologia 
dos dons, de tal forma que nesses entendimentos o 
social encontra-se sempre afastado.
Vejamos, agora, como a camuflagem acontece.
A classe dominante necessita sustentar a qualquer 
custo o princípio da igualdade de direitos, ao 
mesmo tempo em que deve justificar a 
desigualdade advinda da divisão social do trabalho. 
E aí acontece o milagre. Como ela não pode 
afirmar a superioridade de alguns indivíduos, trata 
então de afirmar a idéia das diferenças individuais. 
Todos os homens são iguais em dignidade, 
entretanto, diferentes em aptidões, dons inatos.
Notem que existe uma significação politica e, por-
tanto, dissimulada no uso dos termos aptidão, dons 
e capacidades. Fica, assim, notório que a causa da 
diferença das funções sociais desempenhadas 
pelos homens seria um determinismo biológico e 
não a divisão social do trabalho.
É mediante o mascaramento da realidade social 
que a ideologia terapêutica procura cumprir, ã sua 
maneira, a função de dissimulação da realidade 
social. E nesse contexto a terapia ocupacional, de 
acordo com as definições analisadas, propõe 
produzir efeitos de promoção do homem.
3. TERAPIA OCUPACIONAL: PROFISSÃO 
NOVA?
Muito se tem falado da terapia ocupacional como 
uma profissão nova, entretanto a idéia de que a 
ocupação ou diversão de qualquer espécie é 
benéfica aos doentes manifesta-se de tempos em 
tempos na história da humanidade. Observamos 
historicamente que a ocupação como meio de 
tratamento remonta às civilizações clássicas. Os 
jogos, a música e os exercícios físicos foram 
utilizados por gregos, romanos e egípcios como 
medida de tratamento do corpo e da alma. 
Entretanto, somen- te por volta do fim do século 
XVIII e princípio do século XIX, período marcado 
pelo humanismo, a ocupação se torna largamente 
aceita para o tratamento do doente mental.
Na França, em 1791, o dr. Philippe Pinel, ao 
assumir a direção do asilo de Bicêtre e deparando-
se com a trágica situação dos doentes mentais, 
tomou para si a reforma assistencial, simbolizada 
historicamente pela "quebra dos grilhões que 
mantinham presos os infelizes insanos do espírito" 
(ARRUDA, 1962, p. 25). A utilização da ocupação 
foi, então, introduzida como parte principal de sua 
reforma, a qual o fez pioneiro na aplicação do 
trabalho como forma de tratamento do doente 
mental.
Ao mesmo tempo em que pela metade do século 
XIX, o tratamento proposto por Pinel era difundido 
na Europa e na América e firmava raízes, emergia 
um novo movimento filosófico e científico, à luz do 
aparecimento de tecnologia mais avançada, 
resultado da revolução industrial —o positivismo, 
corrente filosófica determinante da escola de 
pensamento científico, que se baseava na regra da 
inquisição e no método científico das ciências 
físicas: "(...) só é compreensível e possui sentido 
aquilo que se pode comprovar pela experiência" 
(BRUGGER, 1977, p. 323).
A concepção filosófica estava sendo mudada pelo 
impacto da tecnologia. Os valores tecnológicos de 
produção iam assumindo um papel de destaque na 
visão de mundo, em detrimento dos valores 
humanitários.
Na área da saúde, ao invés do ambiente, o cérebro 
é que era objeto de explicação e tratamento da 
doença mental. Os doentes mentais passaram a 
ser tratados por meios quimioterápicos e 
cirúrgicos. Neste momento, as instituições de 
atendimento aos doentes mentais tornaram-se 
grandes laboratórios experimentais. Negligências e 
abusos eram cometidos em função de investiga-
ções comprometidas com a aprovação dos fatores 
etiológicos na patologia do cérebro.
De acordo com tal situação, o desenvolvimento da 
ocupação como forma de tratamento, então, 
declinou de maneira súbita, sendo o tratamento 
moral eventualmente reaplicado por alguns poucos 
membros da comunidade médica, compromissados 
com as tendências humanitárias. Essa fase 
perdurou, na América, até 1890 e, na França, até 
1906.
Somente nas duas primeiras décadas do século XX 
é que fatores como o renascimento do tratamento 
moral e a Primeira Guerra Mundial foram 
responsáveis pelo início formal da Terapia 
Ocupacional.
Em 1915, na América, William Rusch Dunton pu-
blicou o livro Occupational Therapy: a manual for 
nurses, propondo princípios de aplicação da 
ocupação no tratamento de doentes mentais. 
Nascia, então, o termo terapia ocupacional e, 
simultaneamente, a primeira escola dentro de uma 
instituição acadêmica, no Welwaukee Dower 
College (1918), seguindo-se uma onda de escolas 
para formação profissional.
Somente por volta de 1957 surgiam no Brasil as 
primeiras escolas para formação profissional, 
respectivamente no Instituo de Reabilitação da 
Faculdade de Medicina da USP - SP e na Associação 
Brasileira Beneficente de Reabilitação - RJ.
Esse breve histórico da terapia ocupacional tornou-
se necessário a fim de tornar público que esta 
efetivamente não é uma prática nova de saúde, ao 
contrário, pelo que pudemos observar, remonta ao 
fim do século passado.
Segunda Parte
Atividade Humana
X
Recurso Terapêutico
1. CONSIDERAÇÕES GERAIS
Nas discussões que temos levado em nossos 
encontros profissionais (congressos, simpósios e 
seminários), vemos com freqüência, a preocupação 
de alguns profissionais em procurar caracterizar de 
forma única e uniforme a terapia ocupacional. Esse 
fato aparece quando as análises realizadas da 
prática profissional apontam as diferenças 
substanciais encontradas entre as práticas dos 
terapeutas ocupacionais que tratam as mesmas 
populações.
Existem aqueles que, frente a esse acontecimento, 
identificam como causa as crises pessoais, outros, 
uma crise de estrutura teórica que direcione a 
terapia ocupacional.
Vejo com espanto as conclusões tomadas, pois elas 
funcionam como mantenedoras da situação, e a 
questão continua não-desvelada.
É preciso evitar a ilusão de que deixando-se de 
lado as crises pessoais e encontrando-se uma 
estrutura teórica única para a terapia ocupacional 
seja possível sair- se da crise. A ilusão de que 
basta aparar as arestas (caminhando ao consenso), 
e tudo se resolve.
Essas não são nem podem ser as formas para 
dirigir nossa busca de identidade. Mesmo porque 
não acredito que a simples volta ao passado venha 
a ser o caminho. Na verdade, quando a terapia 
ocupacional tinha seu início formal, a literatura da 
área refletia um sentido único de direção, 
sustentado por princípios teóricos — primeiros 
princípios — que foram organizados em torno da 
busca para identificar o significado da ocupação 
humana.
A partir desses princípios e com o caminhar das 
ciências, as teorias e as práticas terapêuticas 
ocupacionais foram absorvendo as filosofias e as 
ideologias das diferentes épocas e se 
transformando, para chegar ao que hoje 
caracterizamos de diferentes modelos teórico-
práticos de terapia ocupacional.
Podemos, portanto, dizer que a questão das 
diferenças encontradas na prática profissional é 
muito mais uma questão de método.
Sabemos que a terapia ocupacional tem um con-
junto de requisitos muito peculiar à sua teoria, à 
medida que lança mão das diversas ciências para 
se efetivar. E é neste contexto que, acredito, 
surgem as diferenças.
A ciência, em sua peculiar objetividade, apoderou- 
se do homem e dividiu-o em grupos de estudos 
paralelos que, podemos dizer, raramente se 
encontram.
"Imagine as várias divisões da ciência — física, quí-
mica, biológica, psicológica, sociológica — como 
técnicas especializadas. No início pensava-se que 
tais especializações produziriam, miraculosamente, 
uma sinfonia. Isto não ocorreu. O que ocorre, 
freqüentemente, é que cada músico é surdo para o 
que os outros estão tocando. Físicos não entendem 
sociólogos, que não sabem traduzir as afirmações 
de biólogos, que por sua vez não compreendem a 
linguagem da economia, e assim por diante" 
(ALVES, 1981, p. 12).
Não pretendo, aqui, acusar a ciência ou colocá-la 
como bode expiatório, ao contrário, quero trazer a 
questão da "neutralidade" de determinadas 
posturas científicas (métodos) que, com o 
propósito de se aprofundarem no conhecimento do 
homem, separam-no do contexto em que vive, 
retalham-no em suas múltiplas formas de 
capacidades e com isso perdem de vista o homem 
real e concreto. Assim, "cada ciência supõe-se 
capaz de decifrar o homem à sua imagem, da 
astronomia à sociologia, e cria uma filosofia na sua 
base: para o químico, o organismo humano é 
apenas um laboratório químico, para o físico, uma 
concentração de átomos" (BAS-BAUM, 1977, p. 61); 
cada um desses setores estuda apenas um 
aspecto, uma parcela do verdadeiro homem — 
aquele homem integral, enraizado em seu mundo, 
que se realiza, realizando o mundo.
"Mesmo as chamadas ciências sociais — as 
ciências do homem — transformaram um ser real 
em objeto (positivismo, existencialismo, 
humanismo cristão) dilacerando-o em partes, 
inajustáveis. De ser passou a objeto. Mas objeto 
metafísico, não-existente, porque despojado de sua 
vivência, de sua homicidade (homem total) e o 
reduziram a um animal-que-fala-e-que-trabalha, 
porque não lhe deram outra perspectiva na terra. 
Ou o divinizaram transformando-o em um ser, feito 
de barro, mas possuidor de uma centelha divina, 
fora do alcance de si mesmo, incapaz de controlar 
ou determinar o seu próprio destino" (BASBAUM, 
1977, p. 62).
Esta fragmentação é que nos induz a pensar que 
existe um homem biológico, econômico, político, 
psicológico, social e assim por diante. Como se 
trocássemos de pele a cada momento, ora eu sou 
psicológico, ora sou biológico, ora social.
E aqui descobrimos uma vez mais a articulação de 
determinadas posturas científicas com o senso 
comum, a fim de reafirmar as verdades que são de 
interesse.
Como nos fala Rubem Alves (1981, p. 50):
"Uma teoria científica tem sempre a pretensão de 
oferecer uma receita universalmente válida, 
válida para todos os casos.
Esta exigência de universalidade tem a ver com a 
exigência de ordem, sobre que já falamos. Leis que 
funcionam aqui e não funcionam ali não são leis...
Imaginemos a seguinte afirmação sobre o universo 
dos gansos:
'Todos os gansos são brancos'.
Esta afirmação pretende ser verdadeira para todas 
as aves em questão. E se aparecer um ganso 
verde? A teoria cai por terra... Mas há um jeitode 
contornar esta dificuldade. Frente ao bicho verde 
eu digo: 'Isto não é um ganso, mas sim um fanso'. 
Se o bicho é um fanso, a universalidade da minha 
afirmação continua intacta. Mas a que preço? Por 
meio de artifícios como este se pode preservar 
uma teoria indefinidamente."
É neste emaranhado de idéias que o terapeuta 
ocupacional, tomando como fio condutor o 
problema das ciências e suas diferentes visões de 
homem/mundo deve, a meu ver, examinar a 
questão das diferenças encontradas na sua prática 
profissional. Podendo assim perceber que a falsa 
neutralidade é sempre escamoteadora de seu 
compromisso social.
2. PRIMEIROS PRINCÍPIOS
Os primeiros princípios teóricos que direcionaram a 
terapia ocupacional foram organizados em torno da 
busca do significado da ocupação humana.
Esses princípios podem ser resumidos em 03 (três) 
considerações (cf. KIELHOFNER, 1982, p. 1266):
• a primeira é que os humanos foram conhecidos 
como possuidores de uma natureza ocupacional,
• a segunda, que a doença foi vista como 
possuindo um potencial para interromper ou 
romper a ocupação,
• a última, que a ocupação foi reconhecida como 
um organizador natural do comportamento 
humano, que poderia ser usada terapeuticamente 
para refazer ou reorganizar o comportamento 
cotidiano.
O mais influente em fornecer tal perspectiva teóri-
ca para a terapia ocupacional foi Mayer psiquiatra 
americano, que via o organismo humano como 
possuidor de um princípio de atividade inerente à 
sua essência.
Segundo ele, "nossa concepção de homem é aque-
la de um organismo que se mantém e se equilibra 
no mundo de realidade e efetividade por estar em 
vida ativa e em uso ativo, isto é, usando e vivendo 
e agindo sobre seu tempo em harmonia com sua 
própria natureza e sobre a natureza em seu redor" 
(cf. KIELHOFNER, 1982, p. 1.266).
Mayer apóia seus princípios no entendimento de 
homem-organismo, que possui uma necessidade 
fundamental de ocupar-se, de trabalhar. O 
trabalho, a ocupação, é visto assim como o 
alimento e o ar, necessários para a sobrevivência 
do organismo humano. A atividade, aqui, mantém 
a organização e o equilíbrio do corpo, através do 
ritmo de trabalho, descanso, lazer e sono.
Em complemento a essa visão de homem 
enquanto indivíduo para a ocupação também foi 
reconhecido que a espécie humana como um todo, 
confiou sua parte integrante de produtividade para 
sobreviver. E o lazer foi entendido com uma 
característica evolucionária que preparava os 
jovens para a competência da vida adulta, como 
também um comportamento adulto necessário 
para relaxar e recriar o organismo, a fim de este 
conseguir realizar o trabalho.
3. ATIVIDADE = EXERCÍCIO
As primeiras mudanças ocorreram com o 
surgimento de uma nova corrente científica 
denominada reducionismo, no decorrer dos anos 
40 e 50. Sua influência na área da saúde levou à 
criação de um modelo médico centrado nos 
princípios da bioquímica e da biofísica e com a 
perspectiva psicanalítica da psiquiatria. "A visão do 
homem era, literalmente, aquela que poderia ser 
vista através do microscópio, ou pelo escrutínio de 
mecanismos internos que tinham lugar no divã do 
analista" (KIELHOFNER e BURKE, 1977, p. 16).
A terapia ocupacional, então, sofreu pressão por 
parte da comunidade médica para assumir 
perspectiva semelhante, sob a acusação de não 
confrontar-se com as patologias — "... o modelo da 
ocupação que aplicava seus princípios ao 
comportamento desordenado apenas com base no 
senso comum não era científico" (WILLIARD e 
SPACKMAN, 1973, p. 152).
Os terapeutas ocupacionais, sob essa forte e cons-
tante pressão, foram levados a resolver uma 
questão de sobrevivência da profissão: como fazer, 
ou melhor, o que fazer, para que o instrumento do 
seu trabalho — o uso da atividade (ocupação, 
trabalho) — fosse cientificamente aceitável?
Em resposta ao desafio reducionista, surgiu uma 
nova estratégia de aplicação da ocupação, que 
resultou na substituição do treinamento de hábitos 
pela aplicação de exercícios.
"En la restauración de la junción física el valor de 
la terapêutica ocupacional reside en la 
participación mental y física del paciente en una 
actividade constructiva que le proporcione el 
ejercicio requerido y le ajude a desarrollar el uso 
normal de la región incapacitada"1 (WILLIARD e 
SPACKMAN, 1973, p. 172).
De acordo com essa compreensão, o valor da 
terapia ocupacional está na obtenção do exercício 
pela atividade.
O modelo do homem se adaptando ao meio social, 
possuidor de uma natureza ocupacional em sua 
essência, foi substituído por um modelo mecânico 
e progressivo linear. O entendimento da ocupação 
como parte da natureza do homem foi esquecido, 
devido à necessidade de melhor explicar o uso das 
atividades.
Tendo em vista a preocupação de sistematização 
da aplicação da atividade, os terapeutas 
ocupacionais tornam-se especialistas em exercícios 
progressivos de resistência, em atividades da vida 
diária, em suportes funcionais, no desenvolvimento 
1 Quando apresentamos as citações em espanhol tivemos o cuidado de não efetuar nova tradução em 
cima destas, pois o original é em língua inglesa.
pré-vocacional etc. À medida que o uso da 
atividade passou a ser igual a exercício, voltado às 
partes lesadas do organismo humano, os 
terapeutas passaram a tratar patologias, mãos, 
ombros, quando não articulações, músculos, 
memória, atenção.
"El objetivo de la terapêutica ocupacional consiste 
en el restabelecimento dei movimiento en una 
articulación atravéz dei uso de la actividade 
constructiva, que distende las contracturas, 
elimina las adherencias, fortalece los músculos 
debilitados y disminuy el edema" (WILLIARD e 
SPACKMAN, 1977, p. 151).
A compreensão do uso da atividade com o propósi-
to do exercício específico pressupõe que alguns 
procedimentos gerais devam ser seguidos, para 
que se consiga obter sucesso no tratamento.
O primeiro procedimento, básico para configurar 
cientificamente o uso da atividade, é a sua análise.
a) Análise da Atividade
Procedimento que tem como objetivo possibilitar o 
conhecimento da atividade em seus pormenores, 
observando-se assim as suas propriedades 
específicas, a análise parte do pressuposto de ter a 
atividade uma única estratégia para a sua 
realização, e esta é que lhe possibilita as 
propriedades.
Entende-se, então, por propriedades as exigências 
físicas e mentais próprias da atividade. Nessa 
perspectiva somente através de uma análise 
sistemática e meticulosa é que o terapeuta pode 
identificar qual é o tipo de exercício obtido ao 
praticar cada movimento requerido para a 
efetivação da atividade, como também determinar 
se essa permite graduação em complexidade e 
estruturação em fases ou etapas.
Dentro da proposta de análise da atividade, encon-
tramos os mais variados modelos de roteiros que 
possibilitam sua realização. Todos eles ressaltam, 
contudo, que é necessário à realização de cada 
movimento requerido um certo número de vezes, 
considerável, anotando- se cuidadosamente as 
ações obtidas. Aconselham também que é útil 
observar outras pessoas trabalhando na mesma 
atividade, pois uma pessoa pode trabalhar em uma 
posição completamente diferente da outra, produ-
zindo consideráveis variações nos movimentos-
ações usados.
Tal orientação nos leva ao entendimento de que ao 
realizar-se uma análise a atividade passa, então a 
ser uma série de ações deixando de lado o todo, a 
atividade em si. Williard e Spackman (1977, p. 180) 
afirmam:
"En algunas actividades, la altura dei indivíduo 
afecta o ejercício obtenido. El tipo de herramienta, 
la altura relativa dei banco de trabajo, la própria 
herramientao la silla, la posición dei indivíduo, el 
peso o la forma de herramienta, son factores que 
puedem producir diferencias en las acciones 
deseadas".
b) Adaptação da Atividade
Outro procedimento necessário para o uso da ativi-
dade como exercício é a adaptação das atividades 
ao tratamento. À medida em que se acredita que 
muitas das atividades usadas em terapia 
ocupacional não são de valor especial no 
tratamento dos incapacitados físicos ou mentais 
devido a não preencherem os critérios necessários 
para a adaptação ao tratamento.
Considera-se que uma atividade adapta-se ao 
tratamento quando possibilita que o "paciente" 
exercite a função lesada. Como Williard e 
Spackman (p. 174) afirmam no trabalho com 
pacientes:
"Para que una ocupación sea adaptable como ejer-
cício especifico deble permitir que el movimiento 
se localice primordialmente en la articulación o 
articulaciones afectas, o que fortalesca 
determinados grupos musculares".
Sabe-se, porque a análise da atividade já nos 
possibilitou um conhecimento prévio, que algumas 
atividades não se adaptam ao tratamento de 
determinadas patologias, pois não proporcionam o 
exercício desejado.
Esse princípio determina critérios para a adaptação 
de uma atividade ao tratamento, os quais podemos 
resumir nos seguintes:
1. que a atividade utilizada proporcione mais ação 
(movimentos) do que posicionamento,
2. que a atividade permita sua utilização 
graduada,
3. que a atividade possibilite um número 
considerável de repetições do movimento 
desejado,
4. que a atividade permita sua divisão em fases ou 
etapas.
c) Seleção e Graduação da Atividade
O terceiro procedimento da compreensão da ativi-
dade = exercício está no problema de seleção e 
graduação da atividade, que é certamente 
fundamental no entendimento da atividade = 
exercício, pois de nada vale a análise da atividade 
se o procedimento subseqüente não se efetivar.
Os terapeutas ocupacionais que trabalham com o 
modelo atividade = exercício preconizam que o 
objetivo primordial de seleção e graduação da 
atividade é possibilitar a restauração das ações 
perdidas ou prejudicadas, juntamente com a 
tolerância ao trabalho e as destrezas especiais.
A seleção de uma atividade para o tratamento 
deve recair sobre as suas possibilidades de 
graduação. Isto é, se esta pode ser graduada 
desde curtos a longos períodos de tempo, desde 
movimentos grossos a movimentos finos, desde 
movimentos simples a movimentos complexos, 
desde a compreensão de instruções simples à com-
preensão de instruções mais complexas e assim 
por diante. Uma atividade, portanto, só poderá ser 
eleita, quando possibilitar graduação.
Cumpre lembrar aqui que a compreensão da ativi-
dade exercício pressupõe o uso de atividades 
estruturadas, pois apenas estas se prestam à 
análise, adequação e graduação.
Contudo, quando por um acaso se utilizam ativida-
des desestruturadas, elas, ou são transformadas 
(ganham uma estrutura), ou são simplesmente 
aplicadas como mera distração para relaxamento 
do paciente.
Nesse entendimento, portanto, podemos constatar 
que a atividade estruturada ocupa posição de 
destaque naturalmente. Cabe aqui, então, trazer a 
diferença entre atividade estruturada e atividade 
desestruturada.
O termo atividade estruturada destina-se a desig-
nar aquelas atividades que, por princípio, possuem 
uma disposição e uma ordenação de partes para 
compor o todo. A jardinagem, por exemplo, é uma 
atividade estruturada, pois exige uma série de 
procedimentos para que possamos efetivá-la.
Em primeiro lugar deve-se eleger o tipo de cultura 
que se quer realizar (observando-se a época para 
plantio). Depois, deve-se preparar o solo: afofar, 
rastelar e adubar. Aí vem o plantio que, 
dependendo do tipo de cultura, necessitará ser 
feito em sementeiras ou diretamente no solo. E, 
então, há necessidade de cuidados especiais e de 
irrigação, para que a cultura se desenvolva.
Como podemos observar, a atividade estruturada 
tem exigências de ferramentas e/ou maquinários 
apropriados, com uso determinado como também 
uma seqüência ordenada (começo, meio e fim) 
sem a qual a atividade não se concretizará.
A atividade "desestruturada", por sua vez, 
contrapõe-se radicalmente à já descrita 
anteriormente, visto que não possui disposição e 
ordenação prévia. A sua realização pode ocorrer 
das mais variadas maneiras. Como, por exemplo, 
brincadeiras, modelagens, pinturas, desenhos, 
dramatizações, festas, passeios, esculturas etc. 
Cada sujeito que realiza qualquer dessas 
atividades imprime uma forma de fazer própria.
4. Atividade — Produção
"Reagir ou responder rápido é 'melhor' do que res-
ponder lentamente; decidir-se 'rápido' é melhor do 
que decidir-se vagarosamente" (HOLZKAMP, 1977, 
p. 169).
É nessa mesclagem da conceituação social para 
medir o comportamento humano que surge o uso 
da atividade = produção.
O sistema geral das relações desse tipo de 
valorização baseia-se evidentemente na concepção 
de maior ou menor produtividade. Assim, vemos 
que, juntamente com o conceito social de 
produtividade, encontra-se um outro critério, o da 
adaptação. O homem como uma peça dentro do 
sistema de trabalho social e, além disso, dentro 
ainda do sistema geral social, no qual ele deve ser 
levado a não prejudicar o funcionamento perfeito 
do sistema.
Tal compreensão advém da teoria geral dos siste-
mas e da psicologia aplicada ao trabalho.
"Aqui se fala do sistema homem-máquina, dentro 
do qual o homem aparece mais ou menos 
claramente como parte mais 'fraca' do sistema. A 
psicologia cabe então a tarefa de reduzir, ao 
máximo possível, o fator de interferência humana 
através do fomento de sentimentos de 'satisfação' 
com o trabalho, e coisas semelhantes" 
(HOLZKAMP, 1977, p. 197).
Temos, assim, um exemplo típico do pressuposto 
positivista na terapia ocupacional. Prever como a 
atividade pode acontecer (análise da atividade), o 
que ela pode causar, o que ela pode melhorar ou 
prejudicar, para prover o comportamento esperado 
pela sociedade, via um tratamento adequado, 
eficaz e científico.
A propósito escrevem Reed e Sanderson (1980, p. 
1): "O valor da terapia ocupacional reside principal-
mente na capacidade que o terapeuta ocupacional 
tem em investigar o desempenho efetivo total de 
um indivíduo, em termos de habilidades 
identificáveis e competência, e fazer 
recomendações no sentido de resolver problemas 
de desempenho".
Temos então, segundo essa afirmação, em 
primeiro lugar, o enfoque da atividade como 
instrumento que permite uma investigação de 
como a pessoa usa o seu potencial de 
desempenho; em segundo lugar, a atividade como 
instrumento que permite capacitar a pessoa, 
através de treinamento, à realização de uma tarefa 
com eficiente uso de energia e tempo.
É importante ressaltar, que Reed e Sanderson (p. 
1) propõem que o desempenho seja compreendido 
como um "sistema de interação, no qual muitos 
componentes devem estar funcionando para 
produzir resultados satisfatórios. Um desempenho 
deficiente pode tomar muita energia e muito 
tempo".
Estamos, então, diante de uma máquina. Todas as 
engrenagens devem estar em perfeito estado de 
funcionamento para que a máquina possa cumprir 
com o seu papel: produzir. Qualquer defeito em 
uma das peças — engrenagens —, gera um 
desequilíbrio que acarreta perda de tempo e de 
material produzido.
O homem, aqui é como a máquina. Suas engrena-
gens são "os componentes de desempenho de 
habilidades: motores, sensoriais, cognetores2, de 
relacionamento intrapessoal e interpessoal". Esses 
componentes são necessários para o 
desenvolvimento das "competências ocupacionais"de auto-manutenção, produtividade e lazer. De tal 
maneira, que a atividade humana (atividade de 
vida diária, trabalho, lazer) é o produto da 
máquina-homem.
Observamos, de maneira clara, que os 
componentes ideológicos incluídos no modelo 
atividade = produção são: a recusa em admitir a 
crítica das estruturas sociais e a forma de trabalho 
alienado, encorajando ao mesmo tempo uma 
concepção terapêutica manipuladora.
As atividades são utilizadas com o objetivo de favo-
recer a produtividade, sendo o desenvolvimento 
das habilidades o caminho para tal conquista. O 
propósito é levar o indivíduo a alcançar o objetivo 
(resolução do problema de desempenho), num 
tempo menor do que este levaria usando seus 
2 Termo usado por Kathly Reed para entendimento do funcionamento do organismo humano e suas 
relações.
próprios recursos somente. Não basta conseguir 
realizar uma atividade. O fundamental é conseguir 
realizá-la com perfeição e em um tempo menor, da 
maneira exigida pelo social.
Trata-se, pois, do emprego da atividade com fins 
no produto final, onde o processo de execução não 
é considerado. O produto é a meta; o processo, um 
simples caminho para atingir a meta.
Nessa mesma perspectiva, Reilly (1979, p. 69) afir-
ma que o "objetivo da terapia ocupacional é 
encorajar o encontro aberto e ativo com tarefas 
que razoavelmente pertencem a seu papel de 
vida".
Reilly focaliza mais especificamente o papel produ-
tivo do indivíduo, como ponto nodal em torno do 
qual a terapia ocupacional deve centrar seus 
esforços terapêuticos.
A proposta de Reilly aproxima-se da teoria da 
recapitulação da ontogênese proposta por Mosey.
Essa teoria afirma que, através do terapeuta 
ocupacional, uma "variédade de experiências 
indutoras de crescimento é fornecida, experiências 
essas que permitirão ao indivíduo desenvolver 
aquelas capacidades, habilidades e destrezas 
necessárias para uma vida satisfatória e produtiva" 
(MOSEY, 1979, p. 140). Partindo do princípio que 
diz que "uma vida confortável e produtiva requer 
capacidade de adaptação" (p. 146).
Quando as habilidades adaptativas, necessárias à 
participação em papéis sociais, não são 
aprendidas, a interação no sistema social tende a 
ser improdutiva e inconfortável para o indivíduo.
Segundo esses autores, o uso da atividade como 
produção também requer procedimentos como 
análise da atividade, graduação e compatibilidade 
com as condições sociais do cliente. Entretanto, 
falamos agora de uma situação diferente da que 
vimos na atividade = exercício. Estamos tratando 
da atividade = trabalho repetitivo, trabalho a nosso 
ver "taylorizado", cuja organização se faz de forma 
rígida, com o propósito do aumento de 
produtividade.
Torna-se ainda importante ressaltar que, na ciência 
da organização da produção criada por Taylor, a 
prática se contrapõe à teoria, e que o único sentido 
dessa contraposição ou separação é a oposição 
que, em um regime capitalista, existe entre o 
trabalho intelectual e o trabalho manual.
A análise da atividade, aqui, recai sobre as habili-
dades componentes necessárias para a conclusão 
bem sucedida, permitindo que o terapeuta 
examine em detalhes as etapas ou procedimentos 
de uma atividade ou tarefa.
Considerando-se que muitas atividades são 
complexas e exigem muitas etapas e unidades de 
comportamento para realizá-las, somente a análise 
pode permitir um exame de cada etapa numa 
seqüência de exigências, o que por sua vez 
permite a visualização das etapas que o paciente 
deve realizar e das que não deve.
Nessa forma de compreensão e utilização da ativi-
dade, encontramos muito bem caracterizado que 
ao paciente só lhe é permitido o fazer mecânico, 
ficando o saber como propriedade do terapeuta, 
configurando-se, assim, a dicotomia entre 
elaboração (trabalho intelectual) e ação (trabalho 
manual).
5. Atividade = Expressão
Os Fidler e os Ázima foram os precursores, nas 
décadas de 50 e 60, do entendimento 
psicodinâmico da ação em terapia ocupacional. A 
compreensão de que o fazer humano é carregado 
de conteúdo simbólico foi o caminho percorrido 
pelos autores.
Essas idéias foram organizadas em torno da teoria 
psicanalítica freudiana. Mais especificamente em 
torno das relações objetais.
Partindo do questionamento à expressividade con-
tida nas ações, argumentavam, esses autores, que 
deveria ser evidente a oportunidade existente para 
a expressão de sentimentos, atitudes, idealizações, 
em um nível não-verbal, na compreensão do 
inconsciente, à medida que as atitudes, emoções e 
idéias mostradas na ação são "menos passíveis de 
vir sob a defesa de mecanismos de representação 
intelectuais mais concretos" (FIDLER e FIDLER, 
1960, p. 13).
Na perspectiva da ação ser mais reveladora do in-
consciente que a palavra, a atividade ganha uma 
dimensão de expressividade, simbolismo.
Quando se usa a terapia ocupacional "como 
processo psicoterapêutico, deve seguir-se 
necessariamente que o produto sendo feito e o 
trabalho de fazê-lo são considerados secundários 
ao julgamento de como o produto e o processo de 
fazê-lo afetam suas relações com os outros. A 
ocupação pássa então a ser a ferramenta da 
manipulação de suas relações com outras pessoas 
e não o objetivo primordial em si" (FIDLER e 
FIDLER, p. 14).
Em outras palavras, para os autores, o valor do uso 
da atividade simplesmente não está na dinâmica 
da atividade mas na psicodinâmica da ação do 
sujeito que a realiza. Tornando-se dessa forma 
mais importante e mais significante que a 
atividade em si a relação que o executante 
estabelece, de maneira que a realização de uma 
atividade serve ao propósito da inter-relação.
Ao mesmo tempo em que afirmam a exprèssão de 
sentimentos, atitudes e idéias através da execução 
da atividade, dão importância central ao 
estabelecimento de um relacionamento terapeuta-
paciente.
Como podemos observar nas palavras dos Fidler 
(p. 17) — "as modalidades disponíveis numa 
situação de terapia ocupacional são, em primeiro, 
a relação entre o terapeuta e o paciente, em 
segundo, a atividade".
Aqui a atividade, assim como o terapeuta, são re-
cursos terapêuticos, para os quais o paciente pode 
agir e reagir.
Para que se possa melhor compreender o uso da 
atividade enquanto meio de expressão, tomaremos 
por base as expressões que definem tal uso 
encontradas nos trabalhos desses autores.
Temos então: livre produção, material projetivo, 
criação livre, criação dirigida.
O termo livre produção, refere-se às atividades que 
não possuem de início uma estrutura, como, por 
exemplo, a argila, como também àquelas que 
podem ter forma definida (escultura, pintura).
O princípio para a compreensão da livre produção 
é o de liberdade de escolha do objeto/material e 
técnica de manipulação. Aqui a escolha e o 
caminho para a realização da atividade são feitos 
pelo próprio paciente, sem a interferência do 
terapeuta.
A livre produção é mais comumente utilizada com 
propósito diagnóstico, pois fornece dados sobre o 
indivíduo que a realiza. "Faz operar os modos tátil 
e corporal das relações objetais..., aumentando o 
acesso à projeção (AZIMA e AZIMA, 1979, p. 117).
Nesse contexto, passam então a constituir o que os 
autores denominam material projetivo.
Para a aplicação do material projetivo, Ázima e 
Ázima mais detalhadamente que os Fidler, 
propõem alguns critérios e procedimentos que 
devem ser observados. São divididos em quatro 
fases.
A primeira fase, a preparação, diz respeito basica-
mente à maneira de o paciente abordar o objeto, 
que objeto seleciona e as atitudes para com as 
pessoas que estão vivendo o processo com ele 
(terapeuta e pacientes).
A segundafase, de produção e acabamento, com-
preende o processo vivenciado pelo paciente, 
desde quando inicia a manipulação dos objetos 
disponíveis, numa certa direção, na construção ou 
destruição. Esta fase pode ser dividida em duas 
sub-fases: de livre criação e de criação dirigida.
Na fase de livre criação, o paciente é deixado livre 
frente aos objetos, para escolher e proceder como 
quiser.
Portanto não há direcionamento por parte do 
terapeuta. Na fase de criação dirigida, um objeto é 
definido pelo terapeuta e selecionado para o 
paciente. A partir do objeto, que lhe é oferecido 
este é deixado livre para sua manipulação.
Na terceira fase, denominada associação, o pacien-
te, após terminada a sua criação, é levado a fazer 
livre-associação sobre o objeto.
A quarta e última fase, de interpretação, caracteri-
za-se pelo momento em que, após criado o objeto 
e efetuadas as associações livres, o terapeuta 
passa a interpretar os acontecimentos.
Ressaltam os autores que a interpretação nesse 
momento deve ser comprendida enquanto 
interpretação diagnostica, não terapêutica.
Até agora falamos das atividades que podem ser 
entendidas enquanto desestruturadas, porém tanto 
os Fidler quanto os Ázima acreditam que os objetos 
mais claramente definidos e estruturados, ou seja, 
as atividades estruturadas, possibilitam 
experiências de manipulações úteis, pois essas 
atividades oferecem numerosas oportunidades de 
comunicação e expressão.
O modo de o paciente segurar e usar um determi-
nado objeto, o significado da escolha de uma 
atividade ou projeto assim como a natureza de 
suas ações são compreendidos pelos autores como 
claros indícios de suas defesas e problemas 
interpessoais. Essas são questões que podem ser 
investigadas e trabalhadas com o uso de 
atividades estruturadas.
Aqui as atividades estruturadas têm valor pela re-
lação e limites que determinam o fazer.
Outra compreensão da atividade expressiva 
aparece nos trabalhos desenvolvidos pela 
psiquiatra e terapeuta ocupacional Nise da Silveira; 
segundo ela, o atelier de pintura a "fez 
compreender que a principal função das atividades 
na terapêutica ocupacional seria criar oportunidade 
para que as imagens do inconsciente e seus 
concomitantes motores encontrassem formas de 
expressão" (1981, p. 13).
Essa autora acredita que as atividades plásticas 
(expressivas) permitem ao homem proceder ao 
relacionamento e à fixação das coisas 
significativas, tanto nas suas experiências internas 
quanto nas externas.
Nise fundamenta seu trabalho na psicanálise 
junguiana, compartilhando com Jung a idéia de 
que, por intermédio da pintura, "o caos 
aparentemente incompreensível e incontrolável da 
situação total é visualizado e objetivado (...) O 
efeito deste método decorre do fato de que a 
impressão primeira, caótica ou aterrorizante, é 
substituída pela pintura que, por assim dizer, a 
recobre. O tremendum é exorcizado pelas imagens 
pintadas, torna-se inofensivo e familiar e, em 
qualquer oportunidade que o doente recorde a 
vivência original e seus efeitos emocionais, a 
pintura interpõe-se entre ele e a experiência, e 
assim mantém o terror à distância" (apud 
SILVEIRA, 1981, p. 135).
Segundo tal compreensão, as atividades de pintura 
e desenho (expressivas) permitem ao doente viver 
um processo que lhe possibilitará dar forma às 
desordens internas vividas. De maneira que são 
instrumentos que permitem ao mesmo tempo 
organizar a desordem interna e reconstruir a 
realidade, pois, na medida em que as "imagens do 
inconsciente" vão sendo objetivadas nos desenhos 
e pinturas, tornam-se possíveis de serem tratadas.
6. ATIVIDADE = CRIAÇÃO, TRANSFORMAÇÃO
a) Visão marxista do homem e da natureza
Como se sabe, Marx não se ocupou com o 
desenvolvimento da evolução humana num plano 
individual, ao contrário, ele procurou estudar o 
desenvolvimento da relação entre homem e 
natureza sem, entretanto, confundi-lo com ela. De 
acordo com o seu pensamento, o homem é um ser 
que por essência necessita objetivar-se de modo 
prático, material, produzindo um mundo humano. 
Através da produção, o homem projeta-se no 
mundo dos objetos produzidos por seu trabalho, 
assim como integra a natureza no mundo humano, 
convertendo-a em natureza humanizada.
Para Marx, o desenvolvimento do homem na histó-
ria é determinado por contradições permanentes 
em seu curso. A evolução humana ocorre, 
portanto, dentro da história, sendo a história 
compreendida como "o processo da criação do 
homem por si mesmo, pela evolução, no processo 
de trabalho" (FROMM, 1979, p. 33.).
"O homem se define essencialmente pela 
produção, e desde que começa a produzir, o que só 
pode fazer socialmente, já está na esfera do 
humano" (VASQUEZ, 1977, p. 420). Dessa forma, 
um entendimento do comportamento individual 
jamais pode ser concebido a não ser como produto 
social. Pois, de modo contrário, estaremos 
concebendo os indivíduos isoladamente, e o cará-
ter social reduz-se apenas à retirada de algumas 
de suas características comuns elevadas ao nível 
da natureza universal, comum a todos.
Concluindo, a concepção marxista do homem e da 
natureza nos traz a luz do entendimento do 
homem enquanto ser social e histórico, homem 
que produz, cria e transforma a natureza e a si 
mesmo, através do seu trabalho.
b) Atividade humana: a práxis
Adolfo Sanches Vásquez procura distinguir a ativi-
dade propriamente humana da atividade em geral, 
com o propósito de esclarecer a afirmação: "Toda 
práxis é atividade, mas nem toda atividade é 
práxis".
Atividade em geral é entendida como o ato ou con-
junto de atos em virtude do qual um sujeito ativo 
(agente), que pode não ser humano, que 
efetivamente age ou atua modificando uma 
determinada matéria-prima, traduzindo-se num 
resultado ou produto, que é essa matéria mesma já 
transformada pelo agente. Enquanto "atividade 
propriamente humana só se verifica quando os 
atos dirigidos a um objeto para transformá-lo se 
iniciam com um resultado ideal ou finalidade e 
terminam com um resultado ou produto efetivo 
real" (VASQUEZ, p. 187).
De acordo com esse entendimento, as atividades 
biológicas e instintivas não podem ser 
consideradas como especialmente humanas, pois 
estas não transcendem o seu nível meramente 
natural. A atividade humana é então aquela que 
"se desenvolve de acordo com finalidades, e essas 
só existem através do homem, como produtos de 
sua consciência..." (grifo nosso) (VÁSQUEZ, p. 189).
Dessa maneira, a atividade da consciência deve 
ser compreendida como a relação entre o 
pensamento e a ação, mediados pela finalidade a 
qual o homem se propõe.
A intervenção da consciência3 é que distingue a 
atividade propriamente humana de outras 
meramente
naturais, é ela que faz o resultado apresentar-se 
duas vezes e em tempos diferentes — como 
resultado ideal, como produto real.
A atividade prática como atividade propriamente 
humana se manifesta no trabalho, na criação 
artística ou na práxis revolucionária. Através desse 
entendimento, podemos dizer que a atividade 
prática, portanto, é real, objetiva ou material.
"O objeto da atividade prática é a natureza, a so-
ciedade, ou os homens reais. A finalidade dessa 
atividade é a transformação real, objetiva, do 
mundo natural ou social para satisfazer 
determinada necessidade humana" (VASQUEZ, p. 
194).
3 A atividade da consciência aqui tratada é a da consciência de um homem social e não da atividade 
de uma consciência pura.
Como se sabe, a práxis pode assumir diversas for-
mas, dependendo da matéria-prima sobre a qual a 
atividade práticaé exercida. Entretanto nos 
detemos, em apenas duas formas, as que 
consideramos fundamentais : práxis produtiva e 
práxis criadora.
A atividade prática produtiva é aquela que se efe-
tiva mediante o trabalho do homem com a 
natureza. Entretanto, sendo o homem um ser 
social, notemos que esse processo só se realiza em 
determinadas condições sociais.
Através do trabalho, o homem transforma um 
objeto de acordo com uma finalidade utilizando-se 
de meios ou de instrumentos adequados e, ao 
materializar uma finalidade, ele se objetiva no 
produto.
"A práxis produtiva é assim a práxis fundamental, 
porque nela o homem não só produz um mundo 
humano ou humanizado, no sentido de um mundo 
de objetivos que satisfazem necessidades 
humanas e que só podem ser produzidos à medida 
que se plasmam neles finalidades ou projetos 
humanos, como também no sentido de que na 
práxis produtiva o homem se produz, forma ou 
transforma a si mesmo" (VASQUEZ, p. 197-8).
Uma outra forma de práxis é a criadora, onde a 
finalidade não mais é determinada por uma 
necessidade prático-utilitária, mas por uma 
necessidade humana de expressão e objetivação.
O homem é um ser que em suas relações necessita 
estar sempre encontrando novas soluções para as 
situações de vida que se apresentam. Desta forma, 
tem de estar constantemente inventando ou 
criando na medida de suas necessidades — "Ele só 
cria por necessidade; cria para adaptar-se às novas 
situações ou para satisfazer novas necessidades" 
(VÁSQUEZ, p. 248).
No verdadeiro processo criador, a relação entre ati-
vidade da consciência e sua realização "se 
apresenta de modo indissolúvel" (p. 248).
A materialização como resultado, numa prática 
criadora, não se reduz a uma simples duplicação 
do que já idealmente pré-existia. Nesse processo, a 
finalidade estabelecida pela consciência se 
apresenta como finalidade aberta, fazendo que o 
processo prático se realize de forma aberta e ativa. 
Sabemos que o resultado definitivo pré-existia 
idealmente, contudo "o definitivo é exatamente o 
real e não o ideal (projeto ou finalidade original)" 
(VASQUEZ, p. 249).
Portanto, a finalidade original só pode se transfor-
mar no decorrer de um processo ao final do qual 
não se alcança tudo o que se havia projetado.
A práxis criadora é, portanto, aquela onde há uma 
unidade entre finalidade da consciência e seu 
resultado — unicidade e irrepetibilidade do 
produto.
Torna-se ainda importante ressaltar que nessa prá-
xis a prática não se contrapõe à teoria e que o 
único sentido existente dessa contraposição ou 
separação entre teoria e prática é a oposição que 
existe entre o trabalho intelectual e o trabalho 
manual, em um regime capitalista.
c) A importância da concepção marxista da 
atividade humana para a terapia ocupacional
O terapeuta ocupacional lida com um homem real, 
que apresenta conflitos advindos de um mundo da 
primazia do trabalho enquanto maior lugar onde se 
cristaliza a exploração humana. Nesse mundo, o 
homem é alijado da verdadeira compreensão de 
suas atividades práticas, quaisquer que sejam elas.
Portanto, se existe uma profissão que se propõe 
trabalhar com as dificuldades e os problemas 
enfrentados pelo homem no transcorrer da sua 
vida, esta deve estar compromissada com um 
entendimento da atividade humana somente 
enquanto práxis, pois de outra maneira estará 
apenas reforçando a divisão entre trabalho teórico 
e trabalho manual.
À nosso ver, a terapia ocupacional deve oferecer 
ao indivíduo um atendimento voltado às questões 
não apenas da disfunção mas, principalmente, do 
homem enquanto ser essencialmente social, 
através do entendimento da relação homem-
natureza, oriundo da sua atividade prática.
A participação do cliente nesse processo é exata-
mente o oposto de passivo. Ele, ao contrário, é um 
agente-ativo, fazedor de suas mudanças, partner 
em terapia.
A compreensão da terapia ocupacional, através 
dessa prática, nos faz acreditar num significado de 
terapia que leva o homem a lidar com sua 
realidade de vida, podendo assim promover a 
transformação de si mesmo e do meio social no 
qual está inserido.
Terceira Parte
Concepção "Ingênua" e Concepção Crítica da 
Terapia Ocupacional
(modelos do processo)
1. CONSIDERAÇÕES GERAIS
Até aqui, trilhados alguns caminhos, a atividade 
teve nossa principal atenção.
Mas... e a terapia em si? E o processo, como acon-
tece?
Bem, esta é a parte mais complicada de se falar. 
Pois, quando nos preocupamos em explicar o 
processo de terapia ocupacional, corremos o risco 
de apresentá-lo sob apenas uma perspectiva, o 
que remeteria à questão de uma verdade única, 
universal. E, como já foi discutido na primeira 
parte, deste livrinho, seria uma arma ideológica 
para fazer crer piamente numa forma única de 
terapia ocupacional. O que não acontece na reali-
dade. É, pois, por sermos o tempo todo invadidos e 
modelados por essa questão — verdade "universal" 
— é que nos preocuparemos em explicar as 
diferenças.
Poderíamos aqui apresentar as diferentes formas 
de processos de terapia ocupacional, sob a ótica 
das técnicas específicas de cada um deles, os 
quais, à guisa de ilustração, podemos mencionar: 
desenvolvimentista, psicodinâmico, 
comportamental, cinesiológico, integrativo 
sensorial, de aprendizagem, de estimulação preco-
ce etc.
Entretanto, observamos que sob esta ótica a tarefa 
torna-se um tanto complicada, pois sobrevêm o 
risco de nos perdermos num emaranhado de 
formas, identificando-se-as tantas quantos são os 
terapeutas ocupacionais que porventura se 
conseguir enumerar.
Uma análise dessa natureza só poderia ser 
efetuada se investigássemos o processo de terapia 
ocupacional à margem do contexto social em que é 
realizado. Mas não é essa a nossa proposta, pois 
não acreditamos na famosa neutralidade da 
postura profissional.
Portanto, para evitar os riscos apontados, vamos 
trabalhar com as visões de homem, de sociedade e 
sua relação com o processo de terapia 
ocupacional.
Quando tratamos de indagar, sob essa perspectiva, 
como acontece o processo terapêutico 
ocupacional, chegamos a um ponto onde 
aparecem, em linhas gerais, três posições opostas 
e, ao que parece, inconciliáveis.
Temos então que, para a primeira posição, o pro-
cesso acontece de forma natural, 
espontaneamente, na situação entre terapeuta e 
cliente, mediatizada pela atividade. Para a 
segunda, o processo é um artifício das rígidas 
condições em que se desenvolve, às quais o pa-
ciente tem de adaptar-se. Para a terceira, o 
processo é por definição criativo, transformador, 
questionador do contexto em que se efetiva.
Tais posições foram encontradas quando investiga-
mos como é visto o homem e a sociedade — a 
primeira posição toma como pressuposto a 
concepção humanista; a segunda, a concepção 
positivista; e a terceira, a concepção dialética.
Vejamos como cada uma das posições se 
apresenta.
2. MODELO DO PROCESSO DE TERAPIA 
OCUPACIONAL HUMANISTA
A principal característica do trabalho, nesse mode-
lo, é a inexistência de padrões preestabelecidos 
para o seu desenvolvimento. Isto é, não há uma 
seqüência de fatos ou procedimentos a seguir. 
Portanto, as conhecidas e tão consagradas divisões 
do processo de terapia ocupacional em 
encaminhamento, entrevista inicial, avaliação, 
elaboração de programa de tratamento, in-
tervenção, etc., aqui não têm lugar.
O terapeuta parte do pressuposto que ninguém 
melhor que o cliente para determinar os caminhos 
a percorrer para retomar uma vida saudável, o 
estado de saúde. Tal fato advém da crença num 
homem que é único.
A saúde é concebida como um estágio de equilíbriona relação do homem com seu ambiente; a 
doença, portanto, decorre do desequilíbrio nessa 
relação.
Nessa concepção, a "saúde é um estado de 
completo bem-estar físico, mental e social e não 
apenas a ausência de afecção ou doença"4.
4 Conceito de saúde, difundido pela OMS em sua carta magna de 7 de abril de 1948.
O processo é centrado na relação terapêutica, tor-
nando-se a relação, portanto, o instrumento de 
trabalho do terapeuta ocupacional. Busca-se criar 
um ambiente acolhedor, onde o cliente possa 
descobrir-se e encontrar-se com o outro.
O cliente traz a sua maneira de viver, a história de 
suas aprendizagens e o clima afetivo no que se 
tem realizado. Cabe ao terapeuta a tarefa de tomar 
essa relação como medida, ser o facilitador para a 
aprendizagem de novas formas, oferecendo um 
modelo de relação, onde seja possível aprender, 
ensaiar, errar, ensinar, realizar no aqui e agora 
aquilo que em outro espaço não teve lugar.
A atividade também é compreendida enquanto um 
outro, concreto e com linguagem própria, 
linguagem que o cliente em ocasiões deverá 
escutar.
Possibilita-se, assim o reconhecimento desse cami-
nho de idas e vindas, caminho no qual não mais 
ocupará um lugar passivo, ao contrário, um novo 
caminho.
Dentro desses princípios, o primeiro encontro entre 
terapeuta e cliente tem por propósito o 
esclarecimento de questões como: o porquê de 
procurar a terapia, quais as expectativas e que tipo 
de ajuda pode ser oferecida ao cliente. Após 
explicitar essas questões, o caminho a seguir tanto 
pode ser pela continuidade da entrevista (primeiro 
contacto) como pela inserção do cliente na 
realização de uma atividade.
Voltamos a ressaltar, não existe um momento 
específico para a realização de uma avaliação; esta 
acontece a cada encontro (atendimento), é 
contínua, acompanha o processo. Aqui, as 
observações constantes substituem as tradicionais 
provas e testes. Quando porventura o terapeuta 
propõe o uso de algum instrumento de 
investigação, o objetivo é o de possibilitar o conhe-
cimento de como o cliente se coloca no mundo e 
que imagem tem de si, da sua existência.
Os primeiros contactos permitem ao terapeuta ela-
borar, configurar uma imagem do cliente, esboçar 
quem é o cliente e quais os seus desejos, suas 
vontades. Esse referencial, dado pelo cliente 
(expresso ou percebido) irá permitir a direção a ser 
tomada no processo.
É na conjugação do perfil do cliente aos seus de-
sejos em confronto com a sociedade no tocante ao 
que esta lhe oferece como também ao que espera 
dele que o terapeuta esboça as características das 
atividades a serem realizadas.
No transcorrer dos encontros, permanece a preo-
cupação com as observações para maior 
conhecimento do cliente, juntamente com o 
processo de tratamento.
O processo de terapia ocupacional visa, assim, ao 
autoconhecimento, o qual é trabalhado através da 
realização de atividades e reflexões com respeito 
tanto às relações estabelecidas no decorrer de 
cada encontro, como a esse fazer.
Nesse modelo de processo, aconselham-se os aten-
dimentos grupais, pois essa é a forma mais 
constante de estar no mundo. Entretanto, o 
trabalho de grupo aqui tem a conotação do que 
costumamos chamar em terapia ocupacional de 
grupo de atividades.
O grupo de atividades é uma forma de trabalho 
grupai, onde várias pessoas são atendidas num 
mesmo espaço, cada qual desenvolvendo o seu 
próprio projeto, compartilhando, entretanto, uma 
mesma dinâmica interpessoal. O fazer, nessa 
situação, é discutido em termos das relações 
acontecidas consigo e com os outros participantes, 
como, por exemplo, as relações de cooperação.
A essa altura, pode-se perguntar pelo referencial 
utilizado pelo terapeuta para efetivar o processo 
terapêutico ocupacional.
Observa-se que nesta proposta de trabalho, o tera-
peuta é um profundo conhecedor das relações 
humanas, um especialista no assunto. De forma 
que procura desenvolver duas características 
importantes sob a ótica humanista. A primeira é a 
de uma constante curiosidade quanto às formas de 
relação e soluções dadas pelo homem aos 
problemas enfrentados no seu cotidiano. A 
segunda é uma atitude criativa, que permitirá lidar 
com os problemas, propondo-lhes novas soluções, 
isto é, trabalhar com as informações de maneira a 
reunir os elementos não usuais para procurar 
compreender e resolver as situações apresentadas.
Vê-se, portanto, que aqui os métodos usuais de 
terapia ocupacional são postos em segundo plano 
em favor de prevalecer quase que exclusivamente 
o esforço do terapeuta no desenvolvimento de um 
estilo próprio de manejo terapêutico, a fim de ser 
um facilitador do processo vivido pelo cliente.
A aquisição dessas características depende de um 
autoconhecimento, o que favorece ao terapeuta a 
utilização de si próprio como instrumento 
terapêutico.
Sua função restringe-se a ajudar o cliente a se or-
ganizar para viver as situações onde seus 
sentimentos e ações possam ser expostos, vívidos, 
sem ameaças.
O objetivo do trabalho é, assim, favorecer os pro-
cessos de relacionamento interpessoal e auto-
aprendizagem, como condição primeira para o 
crescimento pessoal.
3. MODELO DO PROCESSO DE TERAPIA 
OCUPACIONAL POSITIVISTA
Partindo da compreensão de saúde como um 
estado de ausência de doença, entendida 
enquanto um processo biológico vivido pelo 
indivíduo (organismo), alguns autores de terapia 
ocupacional propõem um modelo de processo que 
tem como principal preocupação tratar a doença, a 
patologia, calcando seus trabalhos na definição de 
normal e patológico.
O processo de terapia proposto nessa concepção é 
bastante claro e definido, pois para sua realização 
deve seguir-se uma estrutura rígida de 
procedimentos. Tal estrutura configura-se num 
encadeamento de etapas distintas e logicamente 
ordenadas, as quais possibilitam conhecer a 
patologia apresentada pelo sujeito, suas pos-
sibilidades de prognóstico e a forma mais 
adequada para alcançar a meta final.
Essas etapas ou procedimentos são ordenadas da 
seguinte forma:
• encaminhamento,
• entrevista inicial,
• avaliação (inicial e ou completa),
• planejamento de programa de tratamento,
• tratamento propriamento dito,
• reavaliações,
• alta.
O tratamento, portanto, só acontece após uma 
avaliação do paciente e a elaboração, por parte do 
terapeuta, de um programa de tratamento.
Vejamos, então, etapa por etapa.
O encaminhamento médico é a porta de entrada 
do paciente no tratamento de terapia ocupacional. 
O paciente chega ao terapeuta com indicações, 
feitas pelo médico, denominadas prescrição 
médica.
A prescrição explicita os objetivos que o médico ou 
a equipe esperam obter com o tratamento. Aqui os 
objetivos apontados estão diretamente ligados à 
patologia apresentada no caso em questão.
Cabe ao profissional, após o recebimento do 
paciente, realizar uma entrevista inicial, a qual 
caracteriza o primeiro momento da série de coleta 
de dados.
Conhecer a história do paciente desde o início da 
doença é de fundamental importância para o 
profissional, porque possibilita uma investigação 
de como ele vive o seu cotidiano.
Os dados com respeito a nível de escolaridade, 
condições sócio-econômicas e culturais, religião, 
atividades de vida diária, trabalho e lazer são os 
preferencialmente colhidos nessa etapa.
A entrevista é composta por uma série de pergun-
tas que se faz ao paciente e registro das respostas, 
sem que haja qualquer interferência por parte do 
terapeuta.
Muitas são as formas utilizadas para a efetivação 
de uma entrevista: estruturadas, não-estruturadas, 
verbais, escritas, abertas, fechadas etc.
Dentre essas, as entrevistas abertas

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