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Psicossomatica centrada na pessoa pdf

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Sumário 
 
Introdução ................................................................................................................... 1 
1. Teoria da personalidade da Abordagem Centrada na Pessoa ................................ 2 
1.1. Tendência atualizante ....................................................................................... 2 
1.2. Campo experiencial .......................................................................................... 3 
1.3. Autoconceito ..................................................................................................... 4 
1.4. Processo de valoração organísmico ................................................................. 4 
1.5. Necessidade de consideração positiva ............................................................. 4 
1.6. Condições de valor ........................................................................................... 5 
1.7. Incongruência ................................................................................................... 5 
1.8. Emoção ............................................................................................................. 6 
1.9. Congruência ..................................................................................................... 6 
1.10. Pessoa em funcionamento pleno .................................................................... 7 
2. Psicossomática ....................................................................................................... 8 
2.1. Um breve histórico ............................................................................................ 8 
2.2. Uma psicopatologia do corpo .......................................................................... 8 
2.3. A doença como caminho ................................................................................. 9 
2.4. A linguagem do corpo ..................................................................................... 10 
2.5. Quem ama não adoece .................................................................................. 10 
2.6. Quando fala o coração .................................................................................... 11 
2.7. Organismo dicotomizado ................................................................................ 11 
2.8. Psicossomática na atualidade ........................................................................ 12 
3. Objetivos ............................................................................................................... 12 
4. Metodologia ........................................................................................................... 12 
4.1. Participantes ................................................................................................... 12 
4.2. Procedimentos ................................................................................................ 13 
5. Resultados ............................................................................................................ 13 
5.1. Organismo como uma totalidade .................................................................... 13 
5.2. A doença como manifestação de incongruência ............................................ 13 
5.3. Todas doenças são psicossomáticas ............................................................. 14 
5.4. Seguir o cliente ............................................................................................... 14 
5.5. A doença começa pelo emocional .................................................................. 15 
5.6. A doença como caminho para o crescimento ................................................ 15 
5.7. Lacuna na ACP ............................................................................................... 16 
5.8. Toda doença tem uma mensagem ................................................................. 17 
5.9. A doença como distorção do autoconceito ..................................................... 17 
5.10. Fatores além do emocional ........................................................................... 17 
5.11. Evitar uma visão determinante e reducionista .............................................. 18 
5.12. Além do reflexo de sentimentos .................................................................... 18 
5.13. Cliente Dicotomizado .................................................................................... 19 
6. Discussão .............................................................................................................. 19 
Considerações finais ................................................................................................. 20 
Referências Bibliográficas ......................................................................................... 21 
 
 
 
 
1
PSICOSSOMÁTICA CENTRADA NA PESSOA 
 
Olga Leticia Prestes da Silva 
 
 
INTRODUÇÃO 
 
 Entende-se por Psicossomática, o estudo das relações mente-corpo, com ên-
fase no entendimento psicológico de uma patologia. É um tema intrigante e polêmico 
que vem sendo estudado cada vez mais, tanto pela medicina tradicional como pela 
psicologia. Entretanto, percebe-se a existência de um maior número de publicações 
pela medicina do que pela psicologia. Apesar de alguns autores da Abordagem Cen-
trada na Pessoa, tais como Antonio dos Santos, Maria Constança Bowen e o pionei-
ro Carl Rogers, já terem estabelecido relação entre o estado emocional e os sinto-
mas patológicos apresentado por seus clientes, percebe-se a falta de publicações 
exclusivas sobre o assunto sob o enfoque da Abordagem Centrada na Pessoa. 
 
Para muitos, as explicações da medicina tradicional sobre saúde e doença já 
não satisfazem mais. Por que algumas pessoas apresentam uma maior facilidade 
para adoecer, enquanto outras apresentam uma “saúde de ferro?” ·Sem emoção 
não há vida. Mas é justamente essa tal emoção, segundo a psicossomática, que faz 
com que adoeçamos. Se na Psicoterapia Centrada na Pessoa trabalha-se com a 
emoção, com o sentimento, por que ainda não foi publicado nada na literatura brasi-
leira sobre o assunto? Será que os psicoterapeutas têm trabalhado com este tema 
em seus consultórios? 
 
O objetivo deste trabalho é investigar como psicoterapeutas da Abordagem 
Centrada na Pessoa lidam e entendem a Psicossomática em sua prática clínica. Sin-
to a necessidade de verificar se este pensamento psicossomático centrado na pes-
soa é algo que inquieta somente a mim ou também tem inquietado outros psicotera-
peutas. Este trabalho não pretende esgotar este assunto, muito pelo contrário. Pre-
tende-se abrir as portas para que mais pesquisas e trabalhos sobre este tema pos-
sam acontecer e serem publicados. 
 
 
 
 
2
1. TEORIA DA PERSONALIDADE DA ABORDAGEM CENTRADA NA 
PESSOA 
 
A teoria da personalidade que fundamenta a terapia centrada no cliente foi de-
senvolvida por Carl Rogers com base nos resultados de suas pesquisas e em sua 
extensa experiência clínica. A seguir, apresento os conceitos fundamentais desta 
teoria. 
 
 
1.1. Tendência atualizante 
 
A tendência atualizante é à base da teoria da personalidade de Carl Rogers. 
De acordo com Rogers (1977a), todo organismo é movido por uma tendência ineren-
te para desenvolver todas as suas potencialidades de maneira a favorecer a sua 
conservação e seu enriquecimento. Esta tendência está presente em todo organis-
mo vivo, tendo por efeito dirigir o desenvolvimento do organismo no sentido da auto-
nomia e da unidade. Este desenvolvimento é contínuo e impõe sua determinação 
autônoma a um campo sempre crescente de acontecimentos. A vida é um processo 
ativo e não passivo. Segundo Rogers, a tendência atualizante rege todo o organis-
mo, movendo-o em direção ao desenvolvimento próprio e à independência de con-
troles externos. 
 
Se oportunidadefor dada, o organismo vivo tende a realizar as suas mais com-
plexas potencialidades em vez de acomodar-se a satisfações mais simples. O indi-
víduo não cai em um equilíbrio passivo, isto ocorre somente em organismos enfer-
mos. Quando isto ocorre, é porque o indivíduo está alienado de seu próprio orga-
nismo, como se estivesse em guerra com ele mesmo. Assim, embora o organismo 
possa estar motivado de modo construtivo, irá aparentar o contrário. 
 
Rogers (1977a, 1983) afirma que todo indivíduo possui dentro de si vastos re-
cursos para a autocompreensão e para a modificação de seus autoconceitos, de 
suas atitudes e de seu comportamento. O organismo, em seu estado normal, busca 
a própria realização. Se não há fatores perturbadores graves, o desenvolvimento da 
tendência atualizante o orienta em direção à maturidade racional, social, subjetiva-
mente satisfatória e objetivamente eficaz. 
 
Rogers (1979) afirma que o organismo tem uma tendência a se empenhar, 
mesmo com muita dor, para alcançar uma maturidade. Seria bastante enganoso 
afirmar que o organismo age tranqüilamente na direção do auto-aperfeiçoamento. O 
organismo move-se, em meio a lutas e dores, na direção do aperfeiçoamento e do 
crescimento. 
 
A tendência à atualização busca constantemente a conservação do eu. Opõe-
se a tudo o que compromete o eu. Contudo, o sucesso ou eficácia desta ação “de-
pende não da situação real, mas da situação tal como o indivíduo a percebe” (Kin-
get, 1977, p. 44). Logo, a eficácia da tendência atualizante dependerá da congruên-
cia do indivíduo. 
 
 
 
3
O organismo reage ao campo da experiência como um todo organizado. Uma 
das características mais básicas da vida orgânica é sua tendência às respostas to-
tais, organizadas e direcionadas para metas. O organismo é um sistema organizado 
total, no qual a alteração de uma das partes pode produzir modificações em qual-
quer outra parte. O organismo apresenta esta tendência básica a concretizar, manter 
e aperfeiçoar o organismo que experimenta (Rogers, 1979). 
 
A tendência atualizante é uma força direcional observada na vida orgânica, é 
uma tendência do organismo a preservar-se. É uma tendência de assimilar comida, 
comportar-se defensivamente diante de ameaças, de alcançar metas de autopreser-
vação, mesmo se esta estiver bloqueada. É uma tendência do organismo a mover-
se em direção à maturidade, ao crescimento. É um mover-se na direção da inde-
pendência ou auto-responsabilidade. É direcionar-se para frente. Rogers (1979) sa-
lienta que esta tendência fica evidente inclusive em casos graves, quando o indiví-
duo está a beira da psicose ou de um suicídio. Nesta situação, o terapeuta tem pro-
funda consciência de que a única força com que ele pode contar é esta tendência 
orgânica na direção ao crescimento e aperfeiçoamento contínuos. 
 
Kinget (1977) afirma que a tendência atualizante preside o exercício de todas 
as funções, tanto físicas quanto experienciais. A tendência atualizante visa desen-
volver constantemente as potencialidades do indivíduo para assegurar sua conser-
vação e seu enriquecimento. “Por enriquecimento entendemos tudo aquilo que favo-
rece o desenvolvimento integral do indivíduo pelo crescimento de tudo o que possui 
e de tudo o que é” (Kinget, 1977, p.41). O que a tendência atualizante procura atingir 
é aquilo que o sujeito percebe como valorizador ou enriquecedor. 
 
 
1.2. Campo experiencial 
 
Rogers (1959) utilizou o termo campo experiencial para se referir ao mundo 
particular de experiências do indivíduo, incluindo todas as experiências que se pas-
sam no seu organismo e que estão potencialmente disponíveis à consciência. Neste 
mundo de experiência do indivíduo, Rogers (1979) afirma “apenas uma porção des-
sa experiência, e provavelmente uma porção muito pequena, é conscientemente 
experimentada” (Rogers, 1979, p. 549) A maior parte das experiências do indivíduo 
constitui o plano de fundo do campo de percepção, mas pode facilmente tornar-se 
figura enquanto outras experiências retornam ao plano de fundo. 
 
Rogers (1959) ressalta que o conceito de campo experiencial engloba somente 
as experiências do momento presente, não sendo uma acumulação de experiências 
passadas. As experiências passadas só farão parte do campo experiencial quando a 
memória destas experiências estiver ativa no momento, influenciando o significado 
dos estímulos no presente. Rogers (1979) postula que somente o indivíduo pode 
saber como sua experiência foi percebida. O mundo de experiências do indivíduo é 
um mundo particular. 
 
Conforme Kinget (1977), a saúde e o bem-estar físico do indivíduo revelam-se 
condicionados por sua experiência, ou seja, por seus sentimentos, pensamentos, 
emoções e fatores físicos. 
 
 
4
O comportamento se produz tanto em função da bioquímica do indivíduo quan-
to em função da sua experiência, ou campo experiencial. A variedade de conflitos 
psicossomáticos nos fornece um exemplo surpreendente das íntimas relações exis-
tentes entre a experiência, tendência atualizante e a bioquímica do organismo. 
 
 
1.3. Autoconceito 
 
Rogers (1959) definiu autoconceito como sendo o padrão organizado de per-
cepções do eu e do eu no relacionamento com os outros e com o ambiente, junta-
mente com os valores associados a essas percepções. O autoconceito é uma confi-
guração fluida e mutável que está disponível à consciência. O indivíduo sempre pro-
cura agir de uma maneira coerente com as suas percepções a valores. Por isso, o 
autoconceito é um quadro de referencias para escolhas, atitudes e comportamentos 
do indivíduo. Rogers (1979) afirma que, ao interagir com o ambiente, o indivíduo 
constrói conceitos sobre si mesmo, sobre o ambiente e sobre si mesmo em relação 
ao ambiente. Mesmo que estes conceitos não estejam presentes na consciência, 
ainda assim eles funcionam como princípios orientadores. 
 
Rogers (1977a) afirma que o indivíduo tem capacidade de reorganizar seu 
campo perceptivo, incluindo a maneira como percebe a si mesmo. Assim, à medida 
que a percepção do eu se modifica, o comportamento também se modifica. À medi-
da que as observações do eu e da realidade mudam, o comportamento muda. Estas 
mudanças comportamentais acontecem espontaneamente após ocorrer à reorgani-
zação perceptiva. Quando o indivíduo adquire uma visão diferente de seu mundo de 
experiência, incluindo a si próprio, esta percepção que muda não é necessariamente 
dependente da mudança da realidade. 
 
 
1.4. Processo de valoração organísmico 
 
Rogers (1959) afirma que, continuamente, o organismo atribui valores às expe-
riências de acordo com a satisfação experimentada nelas. As experiências que man-
tém e aperfeiçoam o organismo são valoradas positivamente enquanto as experiên-
cias que ameaçam o ou que não preservam o organismo recebem um valor negati-
vo. Ou seja, a tendência atualizante é utilizada como critério pelo organismo para 
atribuir valores às suas experiências. No processo de valoração, os valores não são 
fixos ou rígidos, mas são continuamente renovados a partir da experiência real do 
momento. Rogers ilustra esse processo de valoração organísmico com o compor-
tamento do bebê, que valoriza a comida quando está com fome e que, quando satis-
feito, a rejeita; ou que valoriza a estimulação em determinado momento e valoriza 
somente o repouso em outro. 
 
 
1.5. Necessidade de consideração positiva 
 
Rogers (1959) definiu a necessidade de consideração positiva como sendo a 
necessidade do indivíduo de perceber que as experiências que emergem do seu eu 
afetam o campo experiencial da outra pessoa de uma maneira positiva. 
 
 
5
A consideração positiva envolve, em geral, os sentimentos e atitudes de calor, 
acolhida, respeito e aceitação. Rogers (1959) sugere que quando a criança começa 
a tomar consciência do eu, desenvolvenecessidade de consideração positiva. Esta 
necessidade é universal, existindo em todos os indivíduos. Uma vez que as crianças 
não separam as suas ações de seu ser total, reagem a aprovação de uma ação co-
mo se fosse aprovação de si mesmas. Da mesma maneira, reagem à desaprovação 
de um ato como se estivessem sendo desaprovadas como um todo. Esta necessi-
dade de consideração positiva é tão importante para a criança, que elas acabam 
agindo de maneira que lhe garantam esta consideração positiva, seja através de 
comportamentos “saudáveis” ou não. 
 
 
1.6. Condições de valor 
 
Quando uma experiência relativa ao eu é procurada ou evitada unicamente 
porque é percebida como mais ou menos digna de consideração positiva, Rogers diz 
que o indivíduo adquiriu condições de valor. Condições de valor são obstáculos bá-
sicos a exatidão da percepção e à tomada de consciência real, criando uma discre-
pância entre o eu e o autoconceito. Para o indivíduo manter uma condição de valor, 
tem que negar determinados aspectos dele mesmo. Rogers cita o exemplo de quan-
do a criança escuta que deve amar o irmãozinho, ela entende que deve reprimir 
seus sentimentos genuínos em relação a ele. A criança entende que caso ela admita 
tais sentimentos, estará se arriscando a perder o amor da mãe. Aos poucos, ela per-
cebe que algumas experiências do seu eu recebem consideração positiva enquanto 
outras recebem consideração negativa das pessoas socialmente significativas. Com 
o amadurecer desta criança, o problema persiste. Para sustentar esta falsa imagem, 
a pessoa continua a distorcer experiências. 
 
Rogers (1959) afirma que o indivíduo que adquire condições de valor falsifica 
os valores que seu próprio organismo experiencia e substitui por valores que estas 
experiências tem para os outros. Ao invés de ele ser o centro de avaliação, utiliza 
um locus externo de avaliação. Os valores dos outros se tornam o critério utilizado 
para avaliar suas próprias experiências. As condições de valor não se desenvolveri-
am se a criança recebesse consideração positiva incondicional das pessoas social-
mente significativas desde o início, se ela se sentisse valorizada e aceita com todos 
seus sentimentos. Se todas as experiências do eu da criança recebessem a mesma 
consideração positiva, a criança seria capaz de reter a sua própria avaliação de ca-
da experiência e as condições de valor não se desenvolveriam. 
 
 
1.7. Incongruência 
 
Devido à introjeção das condições de valor, o autoconceito do indivíduo passa 
a incluir percepções distorcidas que não representam acuradamente sua experiência 
e, por outro lado, aspectos organísmicos de sua experiência são excluídos do auto-
conceito. O comportamento acaba sendo regulado pelos significados percebidos 
pela consciência enquanto outros significados vivenciados pelo organismo são ne-
gados e deixados de lado. Isso ocorre por causa de uma incapacidade do indivíduo 
de se comunicar com ele mesmo (Rogers, 1983). 
 
 
6
Neste momento, há uma cisão. Esta cisão ocorre porque o conceito do eu não 
está de acordo com a percepção realmente experienciada, o que foi chamado por 
Rogers de incongruência. .Esta é definida não só como inabilidade de perceber com 
precisão, mas também como inabilidade ou incapacidade de comunicação precisa. 
Neste estado de incongruência, o comportamento do indivíduo é regulado algumas 
vezes pelo autoconceito e outras vezes pelas experiências organísmicas que não 
foram incluídas no autoconceito. 
 
Segundo Rogers (1959), a incongruência representa um estado de tensão e 
confusão interna, produzindo comportamentos divergentes e incompreensíveis. Esta 
divisão na personalidade gera uma cisão na tendência atualizante. Se o autoconcei-
to e a experiência do organismo são relativamente congruentes, então a tendência 
atualizante permanece unificada. Mas se o autoconceito e a experiência se tornam 
incongruentes, tendência atualizante do organismo pode trabalhar em sentido con-
trário ao subsistema da tendência atualizante do eu. 
 
 
1.8. Emoção 
 
Rogers (1959) considera que a emoção geralmente facilita o comportamento 
dirigido para uma meta, sendo esta relacionada com a importância percebida para a 
preservação e o aperfeiçoamento do organismo. Assim, pode-se pensar na emoção 
em dois grupos: os sentimentos desagradáveis e os sentimentos de satisfação. As 
emoções do primeiro grupo acompanham o esforço de busca do organismo, ao pas-
so que as emoções do segundo grupo acompanham a satisfação da necessidade, a 
experiência de consumação. O medo, ao contrário do que se possa pensar, acelera 
a organização do indivíduo, e a inveja competitiva concentra os esforços na tentativa 
de superar-se. A intensidade da reação emocional pode variar de acordo com a re-
lação percebida do comportamento com a preservação e o aperfeiçoamento do or-
ganismo. 
 
 
1.9. Congruência 
 
Rogers (1961) define a congruência como “ser o que realmente se é”. Primei-
ramente parece ser algo fácil, entretanto não é. Bowen (1987) nos fala da congruên-
cia como um agir com espontaneidade e propriedade nas diversas situações. É um 
escutar e enfrentar o que está dentro de nós com aceitação, aprendendo a diferen-
ciar o que é “nosso” do que criamos com a nossa mente. É uma abertura, deixando 
nossa intuição guiar para um agir com espontaneidade e propriedade nas diversas 
situações. 
 
A autora afirma que congruência é enfrentar a “coisa como ela é”. Assim, 
quando o indivíduo é congruente com ele mesmo, suas necessidades, desejos e 
ações são uma coisa só. Segue-se apenas o caminho do coração, sem ser inter-
rompido por conflitos e dúvidas. 
 
Conforme Kinget (1977), Rogers originalmente, usou o termo em inglês “genui-
neness”, que em português se aproxima muito de sinceridade. 
 
 
7
Porém, quando traduziu suas experiências em conceitos teóricos, deu-se conta 
de que este termo não convinha às necessidades da teoria. Assim, acabou trocando 
para o termo congruência. 
 
Já Wood (1997) afirma que ser congruente tem a ver como honestidade e pu-
reza. É um sentimento puro e percebido em meio à complexidade de sensações que 
constituem a consciência e é expresso de modo direto e honesto, sem autocensura 
e de maneira apropriada. Para o autor, congruência exige muito. Esta requer hones-
tidade consigo e autoconhecimento. É necessário habilidade para comunicar o que 
sentimos e que muitas vezes parece contraditório e complexo. 
 
Rogers afirma que a congruência é um acordo entre o autoconceito de um indi-
víduo e as suas experiências organísmicas. Um indivíduo é considerado congruente 
quando suas experiências podem ser adequadamente simbolizadas na consciência, 
sem que haja distorções ou negações. O indivíduo congruente é alguém aberto, sem 
defesas, à totalidade de suas experiências (Tambara & Freire, 1999). 
 
Para exemplificar a congruência, Rogers (1983) citou uma criança recém-
nascida. Esta vivencia as experiências exatamente como elas são. Bebês são con-
gruentes. Expressam seus sentimentos logo que seja possível com o seu ser total. 
Quando um bebê está com fome, está todo com fome. Quando um bebê sente amor 
ou raiva, ele expressa plenamente essas emoções. É quando sentir fome, comer; 
quando estiver cansado, sentar; quando estiver com sono, dormir. Este é um orga-
nismo autoconfiante. Quando o indivíduo está funcionando de maneira integra-
da, Rogers (1977a) afirma que este indivíduo tem confiança nas direções que esco-
lhe inconscientemente e confia em sua experiência. 
 
 
1.10. Pessoa em funcionamento pleno 
 
Ao descrever o resultado da mudança terapêutica, Rogers (1959) considerou 
uma condição hipotética na qual a psicoterapia centrada na pessoa tivesse atingido 
o seu nível ótimo ou ideal. No ponto máximo deste processo terapêutico, o cliente se 
tornaria uma pessoaem funcionamento pleno. Esta pessoa é aberta à experiência, 
é capaz de se aceitar com suas qualidades e defeitos, sentimentos positivos e nega-
tivos. É capaz de lidar com a vida, é capaz de amar e de receber amor (Rogers, 
2002). 
 
Segundo Rogers (1977b), a pessoa em funcionamento pleno funciona de ma-
neira integrada, ela confia na sua experiência, tornando-se participante e observado-
ra do processo da experiência organísmica em andamento. A sensação é de flutuar 
em uma corrente de experiência com a fascinante possibilidade de tentar entender 
sua sempre mutável complexidade. Este processo implica ausência de rigidez, au-
sência de uma imposição de estrutura à experiência, significa um máximo de adap-
tabilidade. Esta pessoa é capaz de viver com cada e com todos os seus sentimentos 
e reações. É capaz de permitir que seu organismo total funcione em toda a sua 
complexidade, selecionando entre as múltiplas possibilidades, o comportamento que 
no momento será o mais genuinamente satisfatório. 
 
 
 
8
A pessoa em funcionamento pleno está constantemente engajada no processo 
de ser e tornar-se ela mesma e descobrir que é socialmente orientada de forma sóli-
da e realista. Com a sensível abertura a seu próprio mundo, confiança na própria 
habilidade para fazer novos relacionamentos com seu meio ambiente, ela é o tipo de 
pessoa capaz de viver e produzir criativamente. 
 
 
2. PSICOSSOMÁTICA 
 
Conforme Bassoi (2006), o significado de psicossomática vem da junção de 
duas palavras. Psico, que vem de psiquê, e alma que aqui trataremos como mente. 
Soma, quer dizer corpo. Logo, psicossomática é o distúrbio que a mente causa no 
corpo físico. 
 
 
2.1. Um breve histórico 
 
Conforme Mello Filho (2002), o termo medicina psicossomática começou a ser 
utilizado nas primeiras décadas do século XX, sendo consagrado em 1939 quando 
foi criada nos Estados Unidos uma sociedade médica com este nome. Apesar de 
não haver trabalhos específicos que tenham registrado a evolução do pensamento 
psicossomático ao longo dos anos, pode-se encontrar referências a este tema nos 
tratados de psiquiatria e psicologia médica. 
 
De acordo com Mello Filho (2002), talvez tenha sido o filósofo Heráclito o pri-
meiro a chamar atenção para a importância do indivíduo como ser. Mas foi Hipócra-
tes quem, na Grécia Antiga, preocupado com o sofrimento humano, iniciou a prática 
de conversar com os parentes do paciente para saber o que sabiam sobre a doença. 
Seu objetivo não era a doença, mas o indivíduo como um todo. Segundo ele, a do-
ença seria um desequilíbrio nos humores corporais em conseqüência das disposi-
ções naturais do paciente ou temperamento. Hipócrates considerou o cérebro como 
órgão do pensamento e escreveu que as doenças mentais tinham causas naturais, 
desmistificando-a como doença sagrada. Seu interesse levou-o a dizer que o surgi-
mento de uma desinteria pode aliviar um quadro de loucura, ou que estados manía-
cos podem desaparecer quando surgem varizes, por exemplo. 
 
Mello Filho (2002) afirma que Freud foi o primeiro a mostrar que as reações 
humanas, normais ou patológicas, guardam relações de sentido e podem ser sem-
pre compreendidas. Foi com o trabalho clinico do pai da Psicanálise na análise de 
um caso de histeria de conversão que, segundo o autor, permitiu-se a primeira com-
preensão global de uma enfermidade. 
 
 
2.2. Uma psicopatologia do corpo 
 
Sivadon (1988) afirma que “o universo das emoções agarram o corpo de mil 
maneiras” (p.13). Segundo o autor, o homem é afetado por seu corpo, mesmo quan-
do os problemas pertencem à esfera do psíquico. 
 
 
9
O corpo é o local das experiências, o local de ancoragem do ego e da persona-
lidade. O desenvolvimento corporal sensório-motor, sensível e sensorial se faz jun-
tamente com a colocação do sistema das emoções. Ademais, a doença convida o 
indivíduo a entrar em relação com um sistema de cuidados: médicos, enfermeiras, 
especialistas, medicamentos. Desta forma, o social ocupa um lugar preponderante 
no processo de reparação da doença. 
 
 
2.3. A doença como caminho 
 
Conforme Dethlefsen e Dahlke (1983), é através do sintoma que o homem vive 
aquilo que de alguma forma não quis tomar consciência. O corpo é um instrumento 
para o ser humano tornar-se um todo. O sintoma mostra aquilo que está fazendo 
falta ao ser humano. É por isso que o ser humano não gosta de entrar em contato 
com o sintoma, pois este o obriga a expressar justamente aquilo que ele não quer 
saber e nem ver. 
 
Dethlefsen e Dahlke (1983) afirmam que, se as várias funções corporais se de-
senvolvem em conjunto de uma determinada maneira, sentimos um modelo harmo-
nioso e isso recebe o nome de saúde. Se uma função deixa de funcionar, a harmo-
nia do todo é comprometida e aí temos a doença. A doença é um estado do ser hu-
mano que indica que na sua consciência algo não está em ordem. Portanto, a doen-
ça significa a perda relativa da harmonia. Essa perturbação da harmonia acontece 
na consciência e se mostra pura e simplesmente no corpo. Assim, o corpo é a apre-
sentação ou concretização da consciência e de todos as modificações que nela 
ocorrem. A partir daí apresenta formas e se torna metáfora. O corpo material é o 
palco em que imagens da consciência se expressam. Constatamos, assim, que se a 
consciência da pessoa se desequilibra, isso será visível em sintomas corporais. Em 
razão disso, é errado afirmarmos que o corpo está doente, mas, sim, que a pessoa 
está em desequilíbrio. 
 
Conforme Dethlefsen e Dahlke (1983), a medicina, a sociologia e a psicologia 
vem se esforçando para pesquisar as verdadeiras causas dos sintomas das doen-
ças. Mas fazem isso querendo eliminar os sintomas existentes, quando a verdade 
está em outro caminho. Para os autores, o corpo é o espelho da alma. Ele mostra 
justamente aquilo que a alma jamais tomaria conhecimento sem ter uma base com 
que se comparar. No sintoma de uma doença, o ser humano vive, de maneira clara, 
aquilo que sempre baniu da psique e quer ocultar. E para compreender um significa-
do de um sintoma, não é necessário conceito de tempo nem do passado. A busca 
por causas no passado acaba por desviar a atenção da informação real, pois abdica 
o ser humano da responsabilidade, projetando essa responsabilidade numa causa 
hipotética. 
 
Dethlefsen e Dahlke (1983) afirmam que doença e saúde são conceitos singu-
lares, pois se referem a um estado das pessoas e não a órgãos ou partes do corpo. 
O corpo nunca está doente ou saudável, pois o corpo nada faz por si mesmo. A 
consciência apresenta as informações que se manifestam no corpo e que se tornam 
visíveis, podendo fazer a analogia de que a consciência está para o corpo assim 
como o rádio esta para o receptor. 
 
 
10
A doença significa uma perda relativa da harmonia ou questionamento de uma 
ordem que até então estava equilibrada. A perturbação da harmonia acontece na 
consciência e no âmbito da informação, mostrando-se pura e simplesmente no cor-
po. Se a consciência de uma pessoa se desequilibra, o fato se torna visível na forma 
de sintomas corporais. Sendo assim, não se pode afirmar que o corpo está doente, 
mas, sim, o indivíduo está doente. 
 
Para Dethlefsen e Dahlke (1983), o sintoma exige atenção, querendo ou não. E 
essa interrupção é sentida como se viesse de fora, como se fosse uma perturbação. 
Mas, na maioria das vezes, a intenção do sintoma é fazer desaparecer o elemento 
irritante: a perturbação. A doença é um estado do ser humano que indica que, na 
sua consciência, ela não está mais em harmonia. Sendo assim, o sintoma é um 
transmissor de informação. É a informação de que algo falta ao indivíduo, falta cons-
ciência, e tem por objetivo único tornar o indivíduo um ser perfeito. 
 
 
2.4. A linguagem do corpo 
 
Conforme Cairo (1999) otempo não é responsável pelas doenças e fatalidade 
não existe. A autora afirma que tudo existe no mundo interior do indivíduo e que este 
não pode ser enganado. O mundo interior do indivíduo sabe exatamente tudo sobre 
ele e, por isso, manda-lhe resposta e sinais o tempo inteiro. Para a autora, o corpo é 
a tela onde se projetam as emoções e todas as emoções negativas são projetadas 
na forma de doenças. Os sentimentos de raiva, mágoa, ressentimentos e sentimen-
tos de infelicidade, por exemplo, quando mantidos por muito tempo dão origem às 
doenças mais graves. 
 
 
2.5. Quem ama não adoece 
 
Conforme Silva (2006), a necessidade de felicidade do ser humano talvez seja 
a razão principal de nossos temores. Segundo ele, temos medo de tê-la e depois 
perdê-la. Como se uma sensação de iminente catástrofe sempre acompanhasse 
nossos dias mais felizes. Como se no fundo não nos julgássemos merecedores da-
quela felicidade, quase que não vivenciando ela sem nos sentirmos culpados. Sen-
timentos inconscientes de autopunição, por não se julgar merecedor daquela felici-
dade, pode também agir como fator para uma doença orgânica. 
 
Silva (2006) cita o caso das pessoas que nascem doentes ou que apresentam 
uma tendência hereditária a desenvolver alguma patologia. Segundo ele, a consecu-
ção da paz interior pode ser decisiva para que a tendência não se converta, de fato, 
em doença. Entretanto, o autor pondera que não há como negar que a contamina-
ção de microorganismos virulentos dificilmente deixa de causar doença, por mais 
pleno de amor que seja o indivíduo. 
 
Para Silva (2006), a doença é uma perturbação não resolvida no equilíbrio in-
terior do ser humano e em sua interação com o ambiente que o cerca. 
 
 
11
A existência de um conflito é motivo de muito sofrimento e, se não for adequa-
damente resolvido, certamente resultará em um estado de desequilíbrio do organis-
mo a que chamamos de doença. Os sintomas e exteriorizações das doenças são, 
com freqüência bem maior do que pensamos e aceitamos, carregados de símbolos. 
 
Conforme Silva (2006), o adoecer apresenta vários graus de regressão e traz 
consigo uma relação de dependência com outras pessoas que pode funcionar como 
trégua para o sofrimento psíquico que se esteja vivendo. Silva chama isso de “estar 
emocionalmente constipado” (p. 98). Neste caso, o adoecer de determinado órgão é 
a forma inconsciente de proclamar um sofrimento, por não conseguir fazê-lo de outra 
forma. A incapacidade de expressar e vivenciar as emoções é um fator importante 
da gênese das doenças. 
 
 
2.6. Quando fala o coração 
 
Conforme Santos (1987), o ser humano vive sob transe hipnótico do cartesia-
nismo matemático de Descartes, acabando por dividir os aspectos da vida de uma 
maneira ou de outra. Sempre escolhendo entre dois opostos. Não existe até hoje o 
meio termo para alguns indivíduos que se isolam num pólo ou no outro. Esta polari-
dade de se viver sempre em um lado ou no outro tem sido cultivada na escola, famí-
lia, religião, na ciência, sociedade, e assim por diante. O que não se pode deixar de 
lado é que estes pólos fazem parte de uma mesma realidade: o ser humano. 
 
Assim, Santos (1987) afirma que a doença aparece quando há isolamento de 
uma parte do todo e esta passa a viver independente do todo, sem levá-lo em consi-
deração. Se vivemos em um só pólo, podemos dizer que estamos gravemente en-
fermos ou que estaremos enfermos em um futuro bem próximo. Como o ser humano 
tem em si estes dois pólos, é importante que se entenda a ligação entre eles, pois 
fazem parte de uma mesma realidade. Quando funciona de maneira integrada e 
saudável em busca de harmonia, os pólos complementam-se, havendo uma integra-
ção entre os dois. Santos afirma que com o entendimento da consciência humana e 
seus respectivos estados, e sabendo da necessidade da harmonia e integração des-
tes para a saúde do ser humano, pode-se começar com uma regulação das polari-
dades de maneira mais consciente. 
 
 
2.7. Organismo dicotomizado 
 
Rogers (1977c) analisa a dificuldade do ser humano em alcançar a unidade. 
Segundo ele, esta dificuldade se deve ao fato de a vida ter sido dicotomizada duran-
te décadas. Devido à ênfase exagerada no intelecto, aliada à depreciação da sabe-
doria de nosso organismo total responsivo, o ser humano é impedido de viver de 
maneira integrada, unificada. 
 
Ao falar sobre a distorção no autoconceito, Rogers (1979) citou um exemplo do 
caso do adolescente criado num lar excessivamente solícito e cujo autoconceito é de 
alguém que sente gratidão pelos pais, mas pode sentir uma raiva intensa do controle 
sutil que está sendo exercido sobre ele. 
 
 
12
No organismo, são experienciadas alterações fisiológicas que acompanham a 
raiva, mas seu eu consciente pode impedir que essas experiências sejam simboliza-
das e, portanto, conscientemente percebidas. Ou pode, ainda, simbolizá-las de for-
ma distorcida, sendo coerente com sua estrutura de eu, percebendo suas sensações 
orgânicas como, por exemplo, uma terrível dor de cabeça. 
 
 
2.8. Psicossomática na atualidade 
 
Segundo Mello Filho (2002), a psicossomática é uma atitude e um campo de 
pesquisa. Para ele, toda e qualquer doença humana é psicossomática, já que incide 
num ser sempre provido de soma e psique, inseparáveis, anatômica e funcionalmen-
te: “Todas as doenças orgânicas sofrem, inevitavelmente, influências da mente de 
quem as apresenta” (p. 19). 
 
O mesmo autor afirma que, inicialmente, a expressão psicossomática foi usada 
para referir-se a certas doenças. Entretanto, à medida que as observações de paci-
entes prosseguiram, pesquisadores foram percebendo que tal conceito é potencial-
mente válido para toda e qualquer doença. Assim, a tendência atual é de abandonar 
os conceitos antigos e encarar o fenômeno doença de forma mais global, gestáltica, 
e em função da pessoa que a apresenta e em sua forma de viver em e com o mun-
do. 
 
 
3. OBJETIVOS 
 
Considerando que a teoria da personalidade de Rogers não faz referências es-
pecíficas aos conceitos da Psicossomática e considerando a lacuna existente na 
literatura da Abordagem Centrada na Pessoa sobre o assunto, este trabalho tem 
como objetivos: 
 
1) Identificar formas de entendimento da Psicossomática entre os psicoterapeu-
tas centrados na pessoa; 
 
2) Identificar propostas de integração entre a ACP e a Psicossomática na práti-
ca clínica de psicoterapeutas centrados na pessoa. 
 
 
4. METODOLOGIA 
 
 
4.1. Participantes 
 
A pesquisa foi realizada com quatro psicólogas que trabalham como psicotera-
peutas no referencial da Abordagem Centrada na Pessoa. A média de idade das 
entrevistadas é 37 anos, com mínimo de 32 e máximo de 42 anos de idade. Elas 
possuem em média, 9 anos de experiência clínica na ACP (mínimo de 5 e máximo 
de 15 anos de experiência). Apenas uma participante possui especialização em Psi-
cossomática. 
 
 
 
13
4.2. Procedimentos 
 
Foram realizadas entrevistas abertas com a seguinte questão direcionadora: 
 
Como você entende a Psicossomática? 
 
As entrevistas foram gravadas em áudio e posteriormente transcritas. A dura-
ção média das entrevistas foi de quarenta e cinco minutos. As entrevistas foram 
analisadas através da metodologia qualitativa de análise temática, com a codificação 
do conteúdo em categorias emergentes. 
 
 
5. RESULTADOS 
 
Foram encontradas as seguintes categorias emergentes a partir da análise te-
mática das entrevistas: 
 
 
5.1. Organismo como uma totalidade 
 
Todas participantes acreditam que o adoecimento do indivíduo é um adoeci-
mento do todo: emocional e corporal. Todo evento que acontece no nosso corpo fí-
sico está relacionado direta ou indiretamente com o nosso emocional, e com nossos 
aspectos sociais, morais,espirituais. Somos um ser único e integrado e é preciso 
assumir essa responsabilidade do todo. 
 
“Tudo o que nos acontece em qualquer instância do nosso ser, tá re-
lacionado com outras instâncias do nosso ser”. (Maria1) 
 
“Hábitos de vida, as formas de a pessoa funcionar, suas atitudes e 
seu jeito de sentir as coisas, isso tem relação com alguns processos 
de doença” (Julia). 
 
“Parece que as pessoas não gostam. A impressão que me dá é que 
elas não gostam de assumir uma responsabilidade por si integral. É 
natural da nossa cultura dizer que a causa tá fora. Tua fica gripada 
porque pegou chuva. Tudo é no externo” (Paula). 
 
“O ser humano é um todo. Indivisível. É uma unidade” (Maria) 
 
 
5.2. A doença como manifestação de incongruência 
 
Três participantes afirmaram que a doença serve para o ser humano aprender 
a ver sua congruência. Quando identifica que está entrando em sofrimento, isso sig-
nifica que alguma coisa não está congruente. O adoecimento viria em decorrência 
desta incongruência. 
 
 
1
 Todos os nomes utilizados são fictícios, a fim de preservar o anonimato das participantes. 
 
 
14
“Nossas incongruências muitas vezes nos impedem de ouvir nosso 
organismo”. (Julia) 
 
“O que não tá cabendo da minha vida, o que não tá ficando bem. A 
todo o momento existem questões que o mundo nos traz, que as 
pessoas nos trazem nas relações... questões que mexem com a mi-
nha congruência... Num consultório a gente pode mostrar pro cliente 
que existe uma questão de incongruência dele... de uma ou mais 
questões... que aquilo ali a gente precisa adequar que fiquei bem pra 
ele. Pois não tá bem, tanto que tá adoecendo”. (Lúcia) 
 
“Quanto mais conectado tu tá, mais saudável tu é” (Paula). 
 
“Processo de a pessoa estar fazendo mal pra si mesma, ta tão dis-
torcida, tão perdida, tão... tão longe do seu verdadeiro eu, do seu or-
ganismo, que manifesta esse tipo de doença assim” (Júlia). 
 
 
5.3. Todas doenças são psicossomáticas 
 
Três participantes acreditam que todas as doenças são psicossomáticas, des-
de um resfriado, até doenças mais graves. Para elas, toda a doença tem algo por 
trás. Acidentes bobos têm componentes psíquicos daquele momento que o ser hu-
mano está vivendo. 
 
“Todas as doenças que nos acontecem, que vão se manifestar no 
corpo físico, tão dizendo alguma coisa do ser total. Então não tem 
como separar assim: algumas doenças são psicossomáticas, algu-
mas não são”. (Maria) 
 
“Vamos ver o que aconteceu antes dessa gripezinha aparecer?... E 
ai eu incluo, todas as questões... todas, todas” (Lúcia). 
 
“Todas as emoções da gente se refletem no corpo... ah, pra mim to-
da doença começa no emocional, né? Todas”.(Paula). 
 
 
5.4. Seguir o cliente 
 
Três participantes consideram que o terapeuta deve seguir o cliente a partir da 
perspectiva dele, tentando entender o significado do que ele está vivendo. É impor-
tante sempre seguir com o cliente, ver o que ele traz e se isso pra ele é importante. 
Talvez ele esteja doente, mas aquilo não seja o foco dele e não tenha importância 
naquele momento. 
 
“É importante, assim, enquanto psicoterapeutas, pensar na relação 
de ajuda, nos pressupostos de poder compreender empaticamente, 
aceitar incondicionalmente e não julgar esse processo de doença (...) 
ir junto com essa pessoa, entrar no mundo dessa pessoa, sem trazer 
um julgamento pronto” (Júlia). 
 
 
 
15
“Sempre aceitando o cliente com as questões dele, não minimizando 
o que ele esta trazendo. Eu posso achar bobagem, mas isso sou eu. 
Preciso ver como ele vê. (...) é muito importante tu olhar a pessoa, 
sem fazer um julgamento já do que pra ti aquela doença significa... 
Ver o que ele traz e se isso é importante para ele. Talvez ele esteja 
doente, mas aquilo não seja o foco dele, não tem importância naque-
le momento” (Lúcia). 
 
“Na abordagem, a intenção é que o cliente... não que ele crie uma 
dependência de mim pra que eu possa ver tudo pra ele, mas que ele 
aprenda a ver sua incongruência. Tô entrando em sofrimento, algu-
ma coisa não tá congruente. Onde tá? Claro que dependendo do 
momento do processo, ainda é preciso muito a contribuição do tera-
peuta. Mas a minha intenção é que eles levem isso pra vida”. (Lúcia) 
 
“Até porque se não vem dele, não há espaço pra isso (ser trabalhan-
do), né?” (Paula) 
 
 
5.5. A doença começa pelo emocional 
 
Segundo duas participantes, a doença é o emocional se manifestando no físi-
co. A doença é todas as questões psíquicas que ficam grandes demais pro indiví-
duo, que ele não dá conta e seu organismo transforma em algo concreto, que é o 
corpo. Isso ocorre porque é mais fácil dar conta da dor de um braço machucado, do 
que dar conta da dor emocional, psíquica. 
 
“Tudo começa pelo emocional” (Maria). 
 
“Toda doença começa no emocional” (Lúcia). 
 
“Todas as doenças que nos acontecem estão relacionado direta ou 
indiretamente com o nosso emocional, nossos aspectos sociais, mo-
rais, espirituais... todas doenças que se manifestam no corpo físico 
estão dizendo a respeito da totalidade do ser”. (Maria) 
 
“Um adoecimento emocional que leva a um processo de doença no 
corpo”. (Lúcia) 
 
 
5.6. A doença como caminho para o crescimento 
 
Duas participantes afirmaram que a doença tem a função de fazer o ser huma-
no crescer numa direção de maior autoconhecimento, de maior consciência. A do-
ença, apesar do sofrimento, traz embutido uma possibilidade de crescimento. E, 
quando o ser humano está incongruente, o caminho que seu organismo encontra 
para crescer, é este caminho mais denso. A doença “melhora” o ser humano. A do-
ença, por pior que seja nos tornam melhores, é uma oportunidade para crescer. 
Uma participante acredita que a doença é uma outra forma da tendência atualizante 
se manifestar. O ser está tão incongruente, que o adoecimento passa a ser uma ten-
tativa de fazer o indivíduo se dar conta. 
 
 
 
16
“A doença, apesar do sofrimento, sempre tem uma dose de sofrimen-
to, ela traz embutido isso. Uma possibilidade de crescimento. Já que 
a doença traz um benefício, uma oportunidade de crescimento, eu 
comecei a tentar ver como é que isso poderia ser entendido à luz da 
ACP. E eu acho que é uma função ou manifestação de um aspecto 
da tendência atualizante” (Maria). 
 
“A tendência atualizante faz a gente crescer, ela nos manda mensa-
gens, mas nem sempre a gente tá ouvindo nosso organismo. Nossas 
incongruências nos impedem de ouvir nosso organismo. Se ela não 
conseguir ser ouvida na consciência, ela vai encontrar um outro ca-
minho de se manifestar. Aí o caminho que ela encontra, é um cami-
nho mais denso, mais concreto, mais material, não tão sutil quanto a 
consciência, que é através da dor, do sofrimento físico, porque daí 
não tem como escapar dos teus olhos e fazer de conta que nada ta 
acontecendo. (...) Eu já tive uma conversa com um colega e ele não 
concordou. Ele acha que a doença é uma disfunção e que a tendên-
cia atualizante não é responsável por disfunção nenhuma. Eu sei que 
nem todos na ACP irão concordar de imediato com esse ponto de 
vista. Eu acho que as pessoas da ACP que não conseguiram enten-
der bem é porque estão muito presos à idéia de doença como um 
mal. Apenas como um mal” (Maria). 
 
 “A doença é uma boa oportunidade de crescimento. É um mal estar, 
mas não é um mal. Quando eu descobri isso, acho que foi um salto 
qualitativo e evolutivo. Muito importante. Quase um divisor de águas”. 
(Maria) 
 
“A doença é um presente, que se eu conseguir ouvir essa mensa-
gem, eu vou poder crescer como ser humano. E crescer numa dire-
ção de maior autoconhecimento, mais consciência. Mais responsabi-
lidades pela própria vida”. (Maria) 
 
“A ACP diz que estamos sempreem evolução. A doença faz a gente 
se tornar melhor” (Paula). 
 
“É uma oportunidade de tu crescer.” (Paula) 
 
 
5.7. Lacuna na ACP 
 
Duas participantes apresentaram uma certa insatisfação com a Abordagem 
Centrada na Pessoa, alegando que esta tem uma lacuna com relação às doenças. 
Acreditam que deveríamos pesquisar mais sobre o tema, pois faltam artigos ou tra-
balhos publicados sobre Psicossomática e a ACP. 
 
“Tem uma lacuna com relação às doenças de uma forma direta. Ro-
gers não falou diretamente sobre o assunto” (Maria) 
 
“Tem muito pouco na ACP sobre isso... daí já me passa outra coisa 
pela cabeça de que na ACP não tem quase nada de tudo. Deixo re-
gistrado que nós poderíamos nos dedicar mais a esse tipo de traba-
lho, fazer o que tu tá fazendo, esse tipo de pesquisa” (Paula). 
 
 
 
17
“Talvez ainda estejam em construção, mas isso faz a gente perder 
muito espaço, ficamos expostos” (Paula). 
 
 
5.8. Toda doença tem uma mensagem 
 
Uma participante afirmou que toda doença tem algum significado para a pes-
soa. É como uma mensagem que o organismo está manifestando no corpo físico. 
Cada doença tem uma mensagem pra indicar o caminho que o indivíduo precisa dar 
mais atenção. 
 
“Cada doença tem uma mensagem pra indicar o caminho que eu 
posso dar mais atenção, aprender sobre mim e quem sabe até mu-
dar aquela direção, me abrir pra aquela direção que antes eu estaria 
fechada, ou inconsciente ou não percebendo. Talvez esteja na rota 
errada”. (Maria) 
 
 
5.9. A doença como distorção do autoconceito 
 
Para um dos participantes, as doenças estão diretamente relacionadas à dis-
torção do autoconceito. É por haver uma distorção no autoconceito, por o indivíduo 
estar longe do seu verdadeiro eu, que a doença aparece. 
 
“A Psicossomática é as distorções que tem na imagem do eu, né? 
Porque muitos processos de doenças se transformam assim. As ex-
periências que eu vou distorcendo, se transformam em doença”. (Jú-
lia) 
 
 
5.10. Fatores além do emocional 
 
Uma das participantes considera que há muitas outros fatores, além do emoci-
onal, que podem causar o adoecimento. Por exemplo, pessoas que nascem com 
determinadas patologias, hábitos de vida, as formas da pessoa funcionar, suas ati-
tudes e o jeito de sentir as coisas. Todos estes fatores têm relação com alguns pro-
cessos de doença que se estabelecem no organismo. 
 
Outro participante considera que em alguns casos há uma predisposição espiri-
tual e não somente emocional para a doença. 
 
“Tem muitas coisas que têm relação, existem outros fatores, inúme-
ros fatores. Muitas outras coisas podem causar. Na prática, tem mui-
tas relações, no sentido de os hábitos de vida, as formas de a pes-
soa funcionar, suas atitudes”. (Júlia) 
 
 “Eu acredito que é uma predisposição espiritual’. (Paula) 
 
 
 
 
18
5.11. Evitar uma visão determinante e reducionista 
 
Uma das participantes acredita que a Psicossomática corre o risco de ser utili-
zada de uma maneira determinista e reducionista. Ele considera que é preciso ter 
cautela para não fazer generalizações como ‘tal sintoma tem tal significado’, ou en-
carar as doenças com um guia de significados ao lado, como se todos que sofrem 
de úlcera estivessem com a mesma dificuldade emocional. 
 
“Não me agrada um determinismo. Pessoas que nascem com deter-
minadas coisas, tu vai me dizer o que? Que tava incongruente no 
útero da mãe? Acaba sendo cruel”. (Júlia) 
 
“Na prática com alguém, é muito importante tu olhar pra essa pes-
soa, sem trazer um julgamento já do que pra ti aquela doença signifi-
ca”. (Júlia) 
 
 
5.12. Além do reflexo de sentimentos 
 
Uma participante acredita que o terapeuta deve interferir e focar na doença 
mesmo que o cliente não traga o problema. Na Abordagem Centrada na Pessoa, 
visa-se trabalhar exclusivamente com o emergente, com o que a pessoa traz. No 
entanto, este participante acredita que em alguns momentos pode-se perder a opor-
tunidade de trabalhar a doença. Quando a doença já está no orgânico, o terapeuta 
não pode simplesmente respeitar o ritmo do cliente, pois pode levar muito tempo. 
Por isso, de acordo com este participante, o terapeuta deve procurar ir além da téc-
nica de reflexo de sentimentos. 
 
Uma das formas de se trabalhar apresentada por este participante é focalizan-
do o corpo, focalizando o sintoma. Foram citadas algumas técnicas da Gestalt-
terapia, onde se faz um diálogo com o corpo e diálogo do cliente com ele mesmo. 
Houve a manifestação de curiosidade por parte deste participante em saber como é 
que outros colegas conseguem continuar fiéis à proposta pura da ACP. Um reflexo 
de sentimentos pode não ser suficiente. Haveria uma necessidade de se fazer mais 
pelo cliente. 
 
“Tem clientes que trazem essa queixa e a gente vai fazer o que? Ah, 
tu tá te sentindo muito angustiado com essa dor. Um reflexo de sen-
timentos eu acho pouco. Eu quero fazer mais. Nem sempre ela foca-
liza a sua doença orgânica. Tem muitos eventos orgânicos que a 
pessoa exclui da terapia”. (Maria). 
 
“Qualquer boa psicoterapia que trabalhar ‘insight’ vai ajudar a pessoa 
a ser mais consciente, talvez até compreender o sentido daquela do-
ença. Só que talvez leve muito tempo. O tempo da própria terapia. Aí 
tem doenças que exigem uma ação mais imediata. E na ACP não dá 
pra ter pressa, né? E meu compromisso é com o cliente e não com 
uma ideologia ou filosofia, uma teoria... procuro os caminhos mais 
úteis pra pessoa. Não sou centrada na teoria, sou centrada na pes-
soa”. (Maria) 
 
 
 
19
“Eu acho que fica limitado só trabalhar com o verbal e com o que a 
pessoa traz verbalmente... tu trabalhar exclusivamente com o emer-
gente, com o que a pessoa traz. Eu perdia oportunidade de trabalhar. 
Então nas técnicas gestálticas onde a gente faz um dialogo com o 
corpo, com o sintoma, eu consegui mais resultados do que só ficar 
nas intervenções empáticas. Eu quero fazer meu cliente entrar no so-
frimento, ter uma compreensão disso, poder ouvir essa mensagem e 
poder se curar, né?”. (Maria) 
 
“Tenho curiosidade de saber como é que outros colegas conseguem 
continuar fiéis assim à proposta pura da ACP. Porque tem gente que 
é centrada na teoria centrada na pessoa. (Maria). 
 
“Acho que tem que ampliar pra visão humanista e quem sabe até 
transpessoal. Algumas pessoas acham que ter uma técnica mais ati-
va não é ACP. A Maria Constança utilizava técnicas e se reconheceu 
acepista. E eu nunca ouvi dizer que ela não era. A ACP é maravilho-
sa e aquele modelo de Rogers funcionava muito bem com ele e não 
quer dizer que vai funcionar com todos terapeutas. Pra funcionar, tu 
tem que ter um alto nível de congruência, alto nível de empatia e um 
alto nível de aceitação incondicional. Rogers tinha. Mas e nós, sim-
ples mortais? Pra quem não tem sempre, tem que ver outras coisas”. 
(Maria) 
 
 
5.13. Cliente Dicotomizado 
 
Uma participante citou o quanto seus clientes separam o corpo do emocional. 
Como se fossem para a terapia levando apenas suas emoções e deixando o corpo 
de lado. 
 
“Acho que as pessoas separam. Se eles têm algum problema orgâni-
co, no corpo, é difícil que eles tragam isso para tratar na terapia. Ele 
cita. Apenas citam. Acho que elas vêm pra terapia e não trazem o 
corpo junto” (Paula). 
 
 
6. DISCUSSÃO 
 
A análise das entrevistas mostra que não existe uma opinião homogênea entre 
os profissionais participantes a respeito da Psicossomática. Três dos participantes 
consideram que todas as doenças são psicossomáticas, ao passo que uma das par-
ticipantes possui uma visão mais crítica, apontando para o perigo de uma visão re-
ducionista e determinista na Psicossomática. 
 
Em relação às propostas de integração da Psicossomática com a ACP, três 
dos participantesmostraram-se cautelosos em relação ao grau de interferência do 
terapeuta no processo terapêutico. Eles apontaram para a necessidade do terapeuta 
manter o foco na totalidade do cliente, seguindo a direção e o ritmo do cliente. 
 
 
20
Uma participante, entretanto, apresenta uma visão mais crítica da ACP, consi-
derando a limitação da técnica de reflexo de sentimentos e sugerindo o uso de téc-
nicas da Gestalt-terapia. Diferentemente dos outros participantes, ele considera que 
o terapeuta deve, sim, focalizar na doença. 
 
Na medida em que não existem, na literatura, relatos sobre formas de integrar 
a Abordagem Centrada na Pessoa com a Psicossomática será que esta divergência 
de opiniões entre os profissionais participantes deste estudo, acontece justamente 
pela falta de trabalhos publicados sobre o tema apresentando? Será que a ACP es-
taria produzindo conhecimento suficiente? 
 
Carl Rogers não escreveu diretamente sobre Psicossomática, mas parece ter 
deixado algumas lacunas para que pudéssemos pesquisar mais a respeito. Se 
quando estamos doentes é porque há algo no organismo que não está em harmo-
nia, por que não falarmos de autoconceito? Quando o autoconceito e a experiência 
se tornam incongruentes, a tendência atualizante do organismo pode trabalhar em 
sentido contrário ao subsistema da tendência atualizante do eu. Essa confusão in-
terna poderá gerar o adoecimento e aparecer na forma de sintomas. Pode-se pensar 
que a doença seja um outro caminho encontrado pela tendência atualizante. Seria 
uma alternativa de manifestar tal distorção e incongruência. Pois Rogers afirmou que 
a tendência atualizante está presente em qualquer organismo vivo, mesmo nas situ-
ações mais adversas. Assim, a doença é tendência atualizante, porque o organismo 
está vivo e, se está vivo, está em atualização. A doença é o resultado de algo que 
não está bem para o organismo. 
 
Contudo, a doença não é necessariamente algo externo e ruim, mas sim algo 
que surge internamente e que pode ser entendido como um sinal de que algo não 
está em harmonia. A doença pode ser um caminho para evolução para um ser intei-
ro, um ser total. Cabe a nós, estarmos dispostos a perceber estes sinais e, a partir 
de um autoconhecimento, tornamo-nos responsáveis por nosso organismo e ir em 
busca de uma vida mais plena e saudável. 
 
Constata-se também, que na prática clínica, mesmo quando a doença é ape-
nas citada pelo cliente, surge aí uma grande oportunidade para trabalhar o que foi 
citado. Pois, se é trazido pelo cliente para a terapia, mesmo que seja somente uma 
citação, há algo que pode ser trabalhado. E, como profissionais da saúde, não deve-
ríamos ignorar tal oportunidade. Creio que pode ser trabalhado o sentimento o tem-
po inteiro, não sendo necessário trabalhar a doença isoladamente. Pois, creio que 
trabalhando sentimentos e baseando-se nos princípios da ACP, os sintomas psicos-
somáticos tendem a desaparecer. 
 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
Este trabalho parece mostrar que é possível, sim, fazer um trabalho com a 
Psicossomática dentro do referencial da Psicoterapia Centrada na Pessoa. Para que 
isso aconteça, como alguns participantes afirmaram, é necessário que ocorra uma 
evolução na ACP. É preciso continuar a desenvolver o pensamento de Rogers. A 
ACP não pode ser vista como um trabalho fechado e finalizado. 
 
 
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O próprio Rogers, ainda em vida, revisitou e reformulou conceitos durante o 
desenvolvimento de sua obra. E, provavelmente, não registrou e desenvolveu tudo 
que gostaria. É preciso evoluir junto com a ACP. Pode-se constatar que muito ainda 
deve ser estudado, pesquisado e publicado. Pois, se não há publicação e propaga-
ção das idéias e pensamentos dos profissionais da ACP, fica como se estes não 
existissem e ficam à margem na Psicologia e Ciência. É necessário falar de temas 
emergentes, sem deixar de lado os pressupostos de Carl Rogers. Deve-se questio-
nar, estudar, pesquisar e escrever sobre estes temas e mostrar isso para a comuni-
dade. Sempre lembrando que a ACP é um jeito de ser. 
 
 
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