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414225907-Olaz-et-al-2019-Terapia-de-Aceitacao-e-Compromisso-pdf

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W ILS O N V IE IR A M E LO
ORGANIZADOR
A PRÁTICA DAS INTERVENÇÕES
PSICOTERÁPICAS
COMO TRATAR PACIENTES NA VIDA REAL
OCEANO INTEIRO!
912p A prática das intervenções psicoterápicas: como tratar pacientes 
na vida real / organizado por Wilson Vieira Melo. - 
— Novo Hamburgo : Sinopsys, 2019.
16x23cm; 780p.
ISBN 978-85-9501-118-2
1. Psicologia — Práticas de intervenção. I. Melo, Wilson Vieira. 
II. Título.
C D U 159.9
Catalogação na publicação: Mônica Ballejo Canto — CRB 10/1023
A PRÁTICA DAS INTERVENÇÕES
PSICOTERAPICAS
COMO TRATAR PACIENTES NA VIDA REAL
W ILSON V IEIR A M ELO
ORGANIZADOR
2019
© Sinopsys Editora e Sistemas Ltda., 2019 
A prática das intervenções psicoterápicas — 
Como tratar pacientes na vida real 
Wilson Vieira Melo (Org.)
Capa: Fabiana Franck 
Imagem de capa: Shutterstock 
Tradução do capítulo 15: Marcelo Duarte 
Supervisão editorial: Mônica Ballejo Canto 
Editoração: Formato Artes Gráficas
Todos os direitos reservados à 
Sinòpsys Editora
Fone: (51) 3066-3690
E-mail: atendimento@sinopsyseditora.com.br 
Site: www.sinopsyseditora.com.br
mailto:atendimento@sinopsyseditora.com.br
http://www.sinopsyseditora.com.br
Sumário
Prefácio 1....................................................................................... 19
Bernard Rangé
Prefácio I I ............................................................................ 23
Mario Francisco Juruena
Apresentação................................................................................ 27
Wilson Vieira Melo
Parte I
A Importância do Diagnóstico em Psicoterapia
O Que é Psicoterapia............................................................... 32
Ricardo Wainer
Entrevista Clínica em Saúde Mental......................................... 51
Jairo Vinícius Pinto, Ives Cavalcante Passos,
Maurício Kunz e Márcia Kauer SanfAnna
Parte II
Estratégias e Técnicas Psicoterápicas
Análise Funcional do Comportamento.................................... 84
Maíra Pereira Toscano, Ana Carolina Macchione 
e Jan Luiz Leonardi
xvi Sum ário
4
5
6
7
8
9
10 
11 
12
13
14
15
16 
17
Terapia Racional-Emotiva..................................................
Elisabeth Meyer e Valentina Marques da Rosa
Terapia Cognitiva..............................................................
Neri Maurício Piccoloto, Luciane Benvegnú Piccoloto 
e Andriza Saraiva Corrêa
Terapia Construtivista.......................................................
Simone da Silva Machado
Terapia Cognitiva Processual.............................................
Irismar Reis de Oliveira e Daniela Ladeira Reis
Terapia Metacognitiva......................................................
Heitor Pontes Hirata
Terapia do Esquema.........................................................
Aline Henriques Reis e Ricardo Franzin
Terapia Focada nas Emoções.............................................
Marco Aurélio Mendes e Márcia Bruno
Terapia do Esquema Emocional........................................
Francisco Crauss e Bernardo Dewes
Terapia de Aceitação e Compromisso................................
Fabian Olaz, Paulo Gomes de Sousa-Filho,
Giovanni Kuckartz Pergher e Wilson Vieira Melo
Terapia Analítico-Funcional...............................................
Jonatas Argemi Foster Passos, Paulo Gomes de Sousa-Filho, 
Gibson J. Weydmann e Janaína Thais Barbosa Pacheco
Terapia Comportamental Dialética...................................
Wilson Vieira Melo, Gabriela Baldisserotto e 
Camila Morelatto de Souza
Terapia Comportamental Dialética Radicalmente Aberta...
Mariana Sampaio e Larissa Mancil
Terapia Focada na Compaixão...........................................
Diana Ribeiro da Silva, Daniel Rijo e Paula Castilho Freitas
Terapia Cognitiva Baseada em M indfulness......................
Breno Irigoyen de Freitas, Leandro Timm Pizutti 
e Lucianne Valdivia
102
124
154
173
218
240
277
303
336
367
401
440
475
506
Sum ário xvii
18 Terapia Comportamental Integrativa de Casal................
Mara Regina S. W. Lins
....... 529
19 Terapia de Casais Focada nas Emoções...........................
Adriana Zilberman
....... 550
20 Terapia Cognitiva Sexual.................................................
Aline Sardinha, Karine Lopes e Marseylle Assis Brasil
....... 573
21
Parte III
Intervenções em Diferentes Contextos
Intervenções Transdiagnósticas em Psicoterapia......
Kátia Alessandra de Souza Caetano
610
22
23
24
25
26
Intervenções em Família com Crianças.................................. 647
Débora C. Fava e Mariana Gonçalves Boeckel
Intervenções em Estresse nos Diferentes
Estágios Desenvolvimentais................................................... 674
Marilda Emmanuel Novaes Lipp, Valquíria A. Cintra Tricoli 
e Márcia Maria Bignotto
Intervenções para Redução de Estresse
Baseada em M indfulness...................................................... 702
Daniela Sopezki
Intervenções na Saúde no Período de Hospitalização............ 728
Marisa Marantes Sanchez, Leopoldo Barbosa e Tania Rudnicki
Intervenções com Realidade Virtual e o Uso de
Tecnologia em Saúde Mental................................................. 745
Cristiano Nabuco de Abreu, Maria de Fátima Gaspar Vasques,
Maria Olimpia Jabur Saikali e Juliane Verdi Fiaddad da Fonseca
índice 775
Anexos disponíveis em 
www.sinopsyseditora.com.br/interpsform
http://www.sinopsyseditora.com.br/interpsform
12
Terapia de Aceitação e Compromisso
Fabian Olaz, Paulo Gomes de Sousa-Filho,
Giovanni Kuckartz Pergtier e Wilson Vieira Melo
Sempre que tentamos lutar contra algo que não temos condições de modifi­
car, isso implica em sofrimento. Aceitar a realidade não equivale a aprovar ou 
concordar com ela. Também não significa passividade, resignação ou acomo­
dação. A aceitação é um processo ativo que significa tomar as coisas como 
elas são postas. Do mesmo modo, alguns pensamentos não precisam ser re­
estruturados e modificados. Se tivermos um problema, é necessário que nos 
perguntemos, antes de tudo, se ele tem solução. Se sim, implementam-se es­
tratégias efetivas de resolução de problemas para lidar com ele. Se não há 
solução, aceitação é a estratégia mais sábia a se utilizar. Outro ponto signifi­
cativo é o comprometimento com nossos valores pessoais. Os valores são 
como um farol que guia a nossa existência e orienta nossos comportamentos. 
Para trabalhar os valores e o processo de aceitação, nada melhor do que uma 
terapia que baseia suas intervenções fundamentais em tais princípios.
W.V.M.
N
este capítulo, vamos apresentar uma introdução à Terapia de 
Aceitação e Compromisso (ACT), com o pTopósito funda­
mental de que ele sirva como uma primeira aproximação a 
uma forma de trabalho que envolve muito mais do que um conjun­
to novo de técnicas ou estratégias de intervenção. Tal abordagem 
implica em uma mudança na forma de ver o mundo, que parte de
A Prática das Intervenções Psicoterápicas 557
um compromisso profundo e intenso com a dignidade do sofrimen­
to humano (Melo, Olaz, & Pergher, 2018). Dadas as características 
de um texto introdutório, há muitos pontos que não serão aborda­
dos, e por isso convidamos o leitor a aprofundar-se a partir das refe­
rências que são incluídas ao final do capítulo. Primeiramente apre­
sentaremos os princípios básicos subjacentes à ACT e logo exempli­
ficaremos algumas das intervenções que são usadas na ACT focadas 
em processos específicos.
ACT é uma terapia baseada na análise funcional do comporta­
mento; por isso, seu interesse fundamental é predizer e influir nos 
comportamentos, com parcimônia, alcance e profundidade, para o 
qual parte de uma análise dos contextos que os influem e nas funções 
dele. Entre os diferentes contextos que influenciam no comportamen­
to (ambiental, relacionai, etc.), a ACT dirige o foco para um contexto 
tipicamente humano, o contexto verbal. Para maiores detalhes ver o 
Capítulo 3 deste livro.
O modelo psicopatológico da ACT parte da ideia de que o so­
frimento humanoé, em grande parte, verbal, ou seja, determinado 
pelos contextos verbais. Assim, o sofrimento psíquico é o resultado 
das operações linguísticas em si mesmas e do uso excessivo destas 
como um meio de regulação comportamental, que é reforçado pela 
linguagem. Enfraquecer o impacto desses contextos verbais aversivos 
sobre o comportamento humano é um dos principais objetivos da 
ACT (Hayes, Strosahl, & Wilson, 2012).
A ACT é uma terapia comportamental contextual (Luoma, 
Hayes, & Walser, 2017). Deste ponto de vista, é assumido que os 
problemas que as pessoas precisam enfrentar estão baseados em sua 
história pessoal, a qual é o contexto das maneiras específicas que têm 
para derivar pensamentos e emoções, e para reagir a eles. Em ACT, a 
abordagem psicoterápica parte de uma revisão contextual do proble­
ma do paciente, em que o objetivo da terapia é o abandono da luta 
contra os sintomas e, em seu lugar, a reorientação para a vida 
(Hayes, Strosahl, & Wilson, 2012). Para isso, o nosso trabalho cen­
tra-se na análise funcional do comportamento clínico, daquilo que
558 Terapia de Aceitação e Com prom isso
dificulta que o paciente tenha uma vida voltada para o que é impor­
tante para ele e para a geração de contextos verbais facilitadores de 
uma vida orientada a valores.
A tarefa do terapeuta visa gerar contextos em que o paciente 
possa vivenciar emoções, sentimentos e lembranças, alguns deles mui­
to dolorosos, sem procurar que a ansiedade ou emoções sejam extin­
tas, mas com o propósito de treinar o paciente para uma disposição 
flexível e aberta a essas experiências (Luoma, Hayes, & Walser, 2017) 
e esclarecer o que é importante em sua vida, possibilitando redirecio­
nar sua vida para isso (Sandoz, Wilson, & Dufrene, 2011) com o uso 
da relação terapêutica como campo de trabalho.
Assim, o objetivo da ACT é gerar contextos verbais que evo­
quem comportamentos baseados numa maior tomada de perspectiva 
em relação ao mundo interno, um maior conhecimento dos antece- 
“dentes e consequências que influenciam no comportamento (maior 
sensibilidade para os contextos e funções), e contextos que evoquem 
comportamentos guiados pelas funções motivacionais daquilo que é 
mais valioso para a pessoa.
O S T R Ê S P ILA R ES DA F LE X IB IL ID A D E P S IC O LÓ G IC A
Ainda quando o objetivo geral da ACT seja pouco comparti­
lhado na literatura, em termos específicos podemos notar que os 
processos psicológicos considerados centrais para alcançar estes ob­
jetivos e a maneira de conceitualizá-los foram mudando ao longo da 
história da ACT. Entretanto, o termo flexibilidade psicológica (FP) 
se tornou uma maneira de organizar o trabalho em ACT e é um dos 
objetivos das intervenções. Tradicionalmente, a FP é definida como 
a habilidade para vivenciar o momento presente em sua totalidade 
como um ser humano consciente e, baseado naquilo que a situação 
oferece, agir de acordo com seus valores. Um dos modelos mais uti­
lizados para representar conceitualmente a FP tem sido o Hexaflex 
(Hayes, Strosahl, & Wilson, 2012).
A Prática das Intervenções Psicoterápicas 539
Momento presente
Valores
Ação
Comprometida
O Hexaflex é um hexágono, onde cada vértice corresponde a 
um processo que compõe a flexibilidade psicológica (Pergher & Melo, 
2014). E importante ressaltar que a diferenciação destes seis processos 
é puramente pragmática no sentido de permitir a identificação das di­
ferentes facetas de flexibilidade psicológica, a fim de projetar interven­
ções orientadas em diferentes aspectos do comportamento.
Talvez uma das dificuldades fundamentais do modelo Hexaflex 
seja postular termos de "nível médio", que não correspondam facilmen­
te com os processos comportamentais básicos (Schoendorff, Webster, & 
Polk, 2014), o que leva a certa ambiguidade em sua definição. Por isto, 
foram desenvolvidos outros modelos com o objetivo de simplificar o 
Hexaflex. Entre eles, consideramos que o modelo dos Três Pilares, de 
Strosahl, Robinson e Gustavsson (2012), pode ser útil para treinar ACT 
em pessoas que ainda não tenham muito conhecimento acerca da teo­
ria, já que é um modelo simplificado e que reduz os processos do Hexa­
flex em três pilares centrais (Figura 12.2). Por isto, será apresentado um 
exemplo de abordagem baseado em ACT partindo de um caso clínico, 
organizando as intervenções segundo uma conceituação baseada nos 
três processos. Já que não se trata de um capítulo teórico, só vamos
340 Terapia de Aceitação e Com prom isso
apresentar resumidamente cada um dos pilares, com o objetivo de que 
seja mais visível a função de cada intervenção.
Aplicações e técnicas
Apresentaremos algumas das principais intervenções da ACT, 
mas dado que a ACT é uma terapia baseada em processos ou habili­
dades amplas que são interdependentes das intervenções, é impossível 
apresentar este ponto sem conceituar as bases das mesmas.
Aberto Centrado Comprometido
Figura 12.2 Modelo dos três pilares.
O objetivo terapêutico em ACT é a FP, definida como a dispo­
nibilidade ativa para entrar em contato com a experiência no momen­
to presente, de forma consciente e sem defesa, a serviço do que é im­
portante para a pessoa (Hayes, Strosahl, & Wilson, 2012). Deste 
modo, podemos considerar que a FP é o resultado de três processos 
comportamentais funcionalmente definidos.
Aberto: Tem a capacidade de se abrir para experimentar experiên­
cias não desejadas sem lutar com elas. Sua conduta é moldada por re­
sultados e não por regras ineficazes.
Centrado: Tem a capacidade de perceber o momento presente 
e de tomar perspectiva de seu Eu (self) e da sua história.
A Prática das Intervenções Psicoterápicas 341
Comprometido: Clareza e conexão com o que é importante 
para si mesmo, com capacidade de realizar ações baseadas no que é 
importante.
Caso clínico
Gabriela é estudante de psicologia e vem para terapia, pois há al­
gum tempo se sente incapaz de lidar com tanta pressão. Estuda o 
dia todo para ter um bom rendimento, mas ainda assim sente que 
o esforço não é o suficiente. Sente muita culpa quando não pode es­
tudar tanto quanto acredita que deveria, e tem dificuldades para 
dormir à noite, já que fica com muitas preocupações e ruminando 
sobre o que não fez durante o dia. Ao mesmo tempo, sente que pre­
cisa ser mais amável com ela mesma e que está muito cansada de 
tanto se exigir. Acha que só será respeitada se for uma excelente es­
tudante e uma profissional destacada.
C O N C E IT U A Ç Ã O SEG U N D O O S T R Ê S P ILA R ES 
Pilar aberto
Não é fácil agir de modo congruente com nossos valores, princi­
palmente quando passamos por situações desafiadoras e geradoras de 
ansiedade, frustração, raiva, fadiga e toda uma gama de emoções desa­
gradáveis. Gabriela sofre ao apresentar dificuldades em entrar em conta­
to com seus eventos privados e, como consequência, tem vivenciado um 
aumento da ansiedade e desconforto persistente, baseado em parte por 
se apresentar fusionada com pensamentos como “não estou me esfor­
çando o suficiente”, “preciso me destacar para que me respeitem”, “pre­
ciso ser a melhor”. Adicionado a isso, pensamentos avaliativos adicio­
nais podem aparecer e aumentar o desconforto: “todos vão perceber que 
sou um fracasso”, “meus colegas de sala não gostam de mim”, “não 
vou conseguir fazer uma boa apresentação”. Esses pensamentos podem 
aparecer concomitante a intensas e desagradáveis vivências emocionais
542 Terapia de Aceitação e Com prom isso
(p. ex., culpa), as quais Gabriela tenta “escapar” dirigindo toda sua ener­
gia e momentos livres frequentando a biblioteca.
De fato, a crença de que devemos modificar, controlar ou supri­
mir pensamentos ou sentimentos que são causadores de dor, sofri­
mento ou, de forma geral, contraprodutivos está fortemente enraizada 
em nossa cultura. Se queremos viver uma vida produtiva e significati­
va, devemos estar motivados ou nos livrar de nossa ansiedade, tristeza 
ou quaisquer sentimentos ou pensamentos que nos causem descon­
forto (Blackledge,2015).
Nesse sentido, Hayes e colaboradores (2012) enfatizam que não 
há pensamentos, sentimentos ou outras experiências privadas que são 
falhas ou “erradas”, e distúrbios psicológicos e angústia não são ineren­
temente patológicos em si. Pelo contrário, é a forma como os indivíduos 
se relacionam com essas experiências privadas por meio da linguagem e 
da cognição que é potencialmente prejudicial. Por exemplo, através da 
suposição de que essas experiências devem ser controladas ou suprimi­
das para reduzir o sofrimento ou através de uma confiança excessiva nas 
crenças, regras, medos e julgamentos na regulação do comportamento.
Em contraste com muitos modelos teóricos que procuram modi­
ficar, controlar ou suprimir esses eventos privados, a ACT enfatiza a 
aceitação como alternativa para a esquiva experiencial, e esta é cultivada 
em terapia para contrariar os esforços do paciente no sentido de evitar 
as suas experiências privadas difíceis. Importante frisar, no entanto, que 
a aceitação não é enquadrada como sendo um fim em si mesma, mas é 
desenvolvida e cultivada para permitir mudanças consistentes em valo­
res que ocorrem no mundo externo do indivíduo (Cullen, 2008).
Aceitação, como entendida em ACT, é uma habilidade e, como 
qualquer outra habilidade, pode ser aprendida. Contrariamente ao 
senso comum e sua ênfase na passividade, caracteriza-se por ser uma 
ação ativa e intencional da pessoa no sentido de abraçar pensamentos, 
sentimentos e sensações físicas, mesmo, e principalmente, aqueles ge­
radores de dor e sofrimento. Hayes e colaboradores (1999, p.77) defi­
niram aceitação como “uma tomada ativa de um evento ou situação... 
abandono de agendas disfuncionais de mudança [dos sintomas] e um
A Prática das Intervenções Psicoterápicas 345
processo ativo de sentir sentimentos como sentimentos, pensar pensa­
mentos como pensamentos ... e assim por diante”.
* O terapeuta da ACT encoraja a aceitação por meio do uso de 
metáforas (Stoddard & Afari, 2014) e técnicas de mindfulness ('Brown, 
Creswell, & Ryan, 2015). O paciente é encorajado a experimentar es­
tados afetivos e sensações corporais, como a ansiedade, no momento 
em que ocorrem, em vez de tentar controlar a frequência ou intensi­
dade de tais sentimentos. Nesse sentido, uma primeira tarefa é enten­
der o que não pode ser controlado (pensamentos, emoções, sensações 
corporais, imagens mentais), o que pode (o comportamento e o am­
biente físico) e aceitar que pensamentos e emoções podem ser úteis ou 
não ao agir congruente com os valores.
Metáfora do homem no buraco
Após esclarecer diversos pensamentos e sentimentos dolorosos 
que Gabriela tem tentado evitar e as estratégias que têm utilizado para 
isso, a metáfora do homem no buraco foi utilizada.
Terapeuta (T.): Então Gabriela, você está nesse buraco, cavando aqui, 
ali, cada vez mais fundo... e o que está acontecendo?
Gabriela (G.): O buraco está ficando cada vez maior e mais fundo né!
T.: Uhum... e você com mais vontade ainda de sair fora dele... então cava 
com mais vontade.
G.: Putz... acho que é isso que tenho feito sem perceber. Fico tentando 
variações das mesmas coisas várias vezes e só indo cada vez mais fundo 
nesse buracão.
T.: Gabriela, você fez o que poderia fazer até agora. Você tinha uma pá e 
fez o que se faz com uma pá... cavou. O que eu gostaria de saber é se você 
está disposta a largar essa pá e tentar algo diferente.
Em um contexto terapêutico, algum grau de aceitação está 
sempre presente, já que o paciente e o terapeuta devem minima­
mente "absorver" que existe um problema para trabalhar nele (Bach 
& Moran, 2008). A aceitação envolve abrir espaço para pensamen­
tos, sentimentos, sensações, impulsos, imagens mentais e memórias,
544 Terapia de Aceitação e Com prom isso
onde o paciente é encorajado a adotar uma postura de abertura e 
disponibilidade em face das difíceis experiências internas que os se­
res humanos inevitavelmente enfrentam. A noção de aceitação em 
ACT representa a antítese da ideia de que os sintomas devem ser 
controlados ou evitados e que os pensamentos e sentimentos difíceis 
precisam estar ausentes para que mudança terapêutica e saúde psico­
lógica possa ocorrer.
O p ilar de abertura enfatiza a habilidade que a pessoa desen­
volve para experienciar eventos privados, que são dolorosos, de 
forma direta, sem procurar avaliar ou lutar contra eles. A ausência 
dessa abertura conduz a um maior seguimento de regras que forta­
lecem o controle, a supressão ou a esquiva das vivências privadas. 
Essa rigidez afeta a relação com as experiências do aqui-e-agora, 
diminuindo a sensibilidade às contingências do contexto vivencial 
limitando a habilidade da pessoa em lidar com as situações de for­
ma nova e criativa (Dahl, Plumb, Lundgren, & Stewart, 2009). 
Essa inflexibilidade psicológica também limita sua habilidade para 
estabelecer objetivos significativos assim como planos de ação que 
sejam pragmáticos, além de dificultar a percepção e o engajamento 
no que é significativo.
Entre os fatores relacionados à inflexibilidade psicológica, o tra­
balho nesse pilar envolve: esquiva experiencial & fusão cognitiva.
Esquiva experiencial
A esquiva experiencial é o oposto da aceitação, a experiência vo­
luntária de pensamentos, emoções, sensações corporais, à medida que 
surgem, sem esforços para evitar ou controlá-los (Hayes et al., 1996). 
E um termo geral que engloba tipos mais específicos de esquiva, como 
a esquiva cognitiva (p. ex., distrair da preocupação), esquiva emocio­
nal (p. ex., tentar suprimir a tristeza) e esquiva comportamental (p. 
ex., evitando situações que induzem excitação fisiológica e acompa­
nhadas de sensações interoceptivas).
A esquiva experiencial é uma categoria ampla de regulação emo­
cional para experiências percebidas como negativas e inclui a) a falta
A Prática das Intervenções Psicoterápicas 345
de vontade de permanecer em contato com a experiência privada 
aversiva (sensações corporais, pensamentos, sentimentos, emoções, 
memórias, etc.) e b) medidas tomadas para evitar, alterar ou controlar 
o contato ou a exposição a estímulos que podem desencadear essas re­
ações (Hayes et al., 1999). No entanto, tentativas de mudar experiên­
cias negativas, envolvendo-se na esquiva experiencial como uma estra­
tégia de regulação de emoções pode reduzir a flexibilidade de um in­
divíduo em lidar com situações desagradáveis, que podem ser prejudi­
ciais à sua qualidade de vida (Kashdan et al., 2006).
Em ACT não se trabalha a forma dos eventos privados, mas sua 
função (desativação de funções da linguagem), alterando, assim, os 
contextos verbais que promovem e mantêm a esquiva experiencial não 
funcional, colocando-se em evidência a aceitação. Mesmo quando se 
foca na forma, o objetivo é também para ampliar sua função (Dahl, 
Stewart, Martell, & Kaplan, 2014).
Desesperança criativa
Dentre as diversas formas de se abordar a esquiva experiencial e 
aumentar a abertura para o trabalho que se seguirá, destaca-se a deses­
perança criativa, que é voltada para o enfraquecimento da esquiva ex­
periencial do paciente, evidenciando seu caráter problemático, para 
que tanto o terapeuta quanto o paciente tenham espaço para o traba­
lho terapêutico. A desesperança criativa é parte do trabalho de aceita­
ção. As intervenções que a utilizam podem assumir diversas formas, 
mas todas envolvem explorar, com abertura e curiosidade, a agenda 
do controle emocional. Procura-se criar uma sensação de desesperança 
com relação ao apego a essa agenda ou, em outras palavras, confrontar 
essa agenda (Harris, 2009).
Uma breve descrição dos passos para o uso da desesperança 
criativa ocorre da seguinte maneira: em um primeiro momento, in­
vestiga-se as razões da busca de tratamento e coleta-se informações 
com relação às percepções do problema por parte do paciente. Dessa 
forma, a postura do paciente com relação a pensamentos, sentimen­
tos, sensações, imagens mentais e narrativas pessoais desconfortáveis
346 Terapia de Aceitaçãoe Com prom isso
ou dolorosas, assim como as estratégias que o paciente tem se utili­
zado para evitar ou controlar esses eventos privados, se revelam. Jun­
tos, paciente e terapeuta fazem uma lista das estratégias que o pa­
ciente utilizou e constatam que todas as tentativas de controle não 
funcionaram (Westrup, 2014).
A seguir, busca-se destacar a invalidez de tentar controlar, supri­
mir ou se ver livre dos nossos produtos internos e introduz-se a ideia 
de que aquelas estratégias, inclusive a terapia, não funcionaram sim­
plesmente porque não funcionam. O paciente é informado de que os 
pensamentos, sentimentos, sensações, imagens mentais não irão desa­
parecer, basicamente porque esse não é um objetivo possível. Enfatiza-se 
também o sofrimento envolvido na busca desse controle, assim como 
o custo em termos da luta do paciente, preso em uma batalha que não 
pode ganhar, ao invés de se engajar em estratégias em direção a uma 
vida que valha a pena ser vivida (Harris, 2013).
T.: O que você está me dizendo é que não está conseguindo lidar com as 
atividades em que se envolveu e que tem se sentido sobrecarregada e se 
afastando de coisas que você gostaria de fazer, como estar em um bom 
emprego e finalizar seus estudos.
G.: Sim, é isso.
T.: Gabriela, me conta sobre os pensamentos, sentimentos, emoções, sensa­
ções que você tem tentado evitar ou se livrar
G.: Então, fico o dia todo pensando que não estou me dedicando o sufi­
ciente para conseguir o que quero. Não consigo parar de pensar que as 
pessoas não me respeitam porque acham que sou burra.
T.: Existem sentimentos que aparecem com esses pensamentos?
G.: Que desastre que eu sou... me sinto culpada... me sinto abandonada. 
T.: [um pouco de silêncio, refletindo sobre o que ouviu] Estou me sen­
tindo tocado pelo que você me disse. E muito esforço, muita luta.
G.: Sim, e estou cansada dessa luta.
T.: O que você tem feito para lidar com tudo isso?
Junto com Gabriela, o terapeuta elabora uma lista de todos os 
esforços feitos para lidar com seus problemas.
A Prática das Intervenções Psicoterápicas 347
T.: Então Gabriela, nós acabamos de criar uma lista das diferentes estra­
tégias que você tem tentado para conseguir se livrar desses problemas... 
[pausa longa para reflexão]... e, no entanto, aqui está você.
G.: Sim, nada funcionou... nada.
T.: Gabriela, e se o que sua experiência está lhe dizendo aqui for real­
mente o caso? E se todas essas tentativas não funcionaram simplesmente 
porque não funcionam?
G.: [olhos se enchem de lágrimas] Então estou perdida? O que eu faço? 
T.: Bem, é isso que vamos trabalhar juntos aqui. ACT, a minha aborda­
gem, é justamente sobre uma forma diferente de lidar com esses sentimen­
tos e pensamentos dolorosos.
Fusão cognitiva
A fusão cognitiva refere-se ao excesso e a tendência inapropria- 
da a agir de acordo com o conteúdo literal dos pensamentos e não 
como processo contínuo de pensamento (Hayes et al., 2006). Duran­
te este processo, um indivíduo torna-se mais guiado por regras e rela­
ções verbais, em oposição a ser guiado por outros aspectos do meio 
ambiente no momento presente (Hayes et al., 2006). É a dominação 
dos próprios produtos internos (sentimentos, pensamentos, sensações 
corporais, imagens mentais) sobre o seu comportamento na ausência 
de automonitoramento e regulação. Assim, uma pessoa se torna "fu- 
sionada" com um pensamento se acredita que este é uma representa­
ção literal do mundo. Isso é particularmente problemático quando 
contribui para comportamentos que levam um indivíduo para longe 
de seus valores, do que considera significativo em sua vida.
O inverso da fusão é a desfusáo cognitiva, que é o processo de 
se tornar conscientes de sentimentos difíceis, permitindo que esses 
sentimentos estejam presentes e, eventualmente, abraçando-os e acei- 
tando-os, reduzindo assim a esquiva experiencial (Cullen, 2008).
A desfusão cognitiva é o processo de dar um passo para trás e 
olhar para a linguagem sem deixar que ela influencie o comportamen­
to. Este processo envolve o reconhecimento dos pensamentos e emo­
ções como eventos privados (palavras, sons, sensações e imagens) que 
estão em um estágio constante de mudança. Uma vez que os pensa­
548 Terapia de Aceitação e Com prom isso
mentos ou emoções podem ser neutralizados, sua importância e im­
pacto no comportamento decresce. Passos para promover a desfusão 
cognitiva, em última análise, contribuem significativamente para de­
senvolver flexibilidade psicológica. Técnicas de desfusão são usadas no 
ACT quando há algum evento que gera padrões de comportamento 
estreitos e inflexíveis, e quando essas inflexibilidades são obstáculos 
para que nossos pacientes se movam ativamente na direção de um va­
lor escolhido (Blackledge, 2015).
Dessa forma, procura-se, como objetivo terapêutico, reduzir a 
credibilidade dos pensamentos inúteis, em vez de reduzir a frequência 
ou alterar o seu conteúdo, limitando a sua factibilidade ao mesmo 
tempo que se busca promover, assim, uma maior tomada de perspec­
tiva e compreensão. Nesse sentido, Bond, Hayes e Barnes-Holmes 
(2006) apontam que a desfusão cognitiva interrompe a cadeia do 
comportamento negativo baseado em regras, permitindo ao indivíduo 
ter consciência dos eventos, pensamentos ou sentimentos internos, 
identificando-os como positivos ou negativos, e continuar a tomar de­
cisões baseadas em valores. Esse processo produz consequências no 
desenvolvimento da flexibilidade psicológica, que é a capacidade de 
permitir-se sentir, lembrar e discutir eventos difíceis sem defesas, e na 
flexibilidade cognitiva, a capacidade para se adaptar a mudanças 
(Gaudiano, 2010). Existem muitas estratégias para ajudar nesse pro­
cesso, como utilizar técnicas de relaxamento, dizer uma palavra difícil 
ou pensamento rapidamente e falar em voz alta (Cullen, 2008). 
Quanto mais um sentimento ou pensamento for aceito, mais provável 
que o sofrimento associado ao sentimento ou pensamento diminua.
Gabriela acredita que só será respeitada se for uma excelente es­
tudante e uma profissional destacada. Apresenta, também, sentimento 
de culpa, preocupações e pensamentos intrusivos afetando diretamen­
te o seu sono. A partir do pilar aberto, observamos a rigidez de seus 
comportamentos atrelados a sua tendência em estar sob influência de 
regras diretamente relacionadas ao controle. Por consequência,, pro­
cura controlar, evitar ou mesmo eliminar aspectos que ativam pensa­
mentos e emoções ameaçadoras.
A Prática das Intervenções Psicoterápicas 549
É importante ressaltar que atuar em fusão com essas regras 
parece desempenhar um papel importante nessas estratégias pro­
blemáticas, já que o comportamento fusionado com uma determi­
nada regra aumenta ainda mais o risco de fazer coisas que, a longo 
prazo, tenham efeitos negativos e restritivos na vida de uma pes­
soa. A fusão cognitiva não é necessariamente vista como proble­
mática, mas apresenta desafios para os indivíduos quando tal “fu­
são” leva a respostas rígidas que resultam em consequências preju­
diciais, como é o caso de Gabriela.
A mente em terceira pessoa
G.: Minha mente diz que é importante ser a primeira e que só assim vão 
me respeitar.
T.: Você está me dizendo que tem um pensamento "que é importante ser a 
primeira" e “só assim vão te respeitar". Quais outros pensamentos apare­
cem quando você sente que deve ser a primeira e que só assim vão te res­
peitar?
G.: Me sinto meio que um peixe fora dágua na sala de aula. As vezes 
acho que tem algo errado comigo.
T.: “Tem algo errado comigo". Quando ele aparece, quais outros pensa­
mentos surgem?
G.: Que eu sou uma estranha, uma idiota e que não vou conseguir o res­
peito de ninguém.
T. Muito duros esses pensamentos: “eu sou uma estranha ”, “uma idiota”, 
“ninguém vai me respeitar”. Gabriela, quais sentimentos surgem nesses 
momentos?
G.: Fico triste e me sinto culpada por não conseguir mudar.
Gabriela tem pensamentos como “sou uma idiota” ou “ninguém 
vai me respeitar” e fusiona-se com eles, ou seja,não é capaz de perce­
bê-los como simplesmente um pensamento, assumindo-os como sen­
do literalmente verdadeiros. Suas tentativas de regular essas experiên­
cias internas (p. ex., estudando durante todo o dia) parecem, parado­
xalmente, intensificar o seu sofrimento, afetando, entre outros, o seu 
sono, quando se percebe invadida por preocupações e ruminações.
550 Terapia de Aceitação e Com prom isso
Esses eventos privados condicionados, sobre os quais Gabriela 
tem pouco ou nenhum controle, acabam por ser considerados motivos 
para seu comportamento e, assim, uma quantidade enorme de esforço 
desnecessário é gasto na tentativa de regulação dessas experiências inter­
nas, afastando sua atenção do aqui-e-agora e diminuindo sua sensibili­
dade às contingências que estão em seu momento presente e que po­
dem ser fontes de oportunidades em direção a uma vida significativa.
Rotular os pensamentos como o que eles sõo
Técnicas de desfusão tentam alterar o impacto de pensamentos 
e outros eventos internos, ao invés de seu conteúdo, tentando mudar 
as formas pelas quais os indivíduos se relacionam com eles (Hayes et 
al., 2006). Nesse sentido, utilizamos o exercício “rotulando os pensa­
mentos como o que eles são” .
T.: Gabriela, uma maneira de notar os pensamentos antes que eles passem 
despercebidos é rotulá-los como o que são. Isso também pode ser feito com 
sentimentos, emoções, sensações corporais, memórias, narrativas pessoais, 
imagens mentais e impulsos. Em vez de dizer ou pensar “ninguém vai me 
respeitar”, você pode adicionar uma frase e dizer “Pela minha mente está. 
passando a ideia de que ninguém vai me respeitar”. Vamos tentar isso. 
Considere uma situação que tenha afetado você ultimamente. Concentre- 
se nela e observe o pensamento que ocorre ao mesmo tempo. Encontre um 
pensamento particularmente impactante e esmiúce-o até a sua essência, 
em poucas palavras. Faça isso por uns 30 segundos 
G.: Certo, estou tentando. Estou lembrando de algo que tem me deixado 
muito chateada.
T.: Agora, coloque toda sua concentração nesse pensamento e tente acredi­
tar nele por 30 segundos. O que acontece?
G.: Me sinto muito mal. Até me deu vontade de chorar.
T.: Agora, reformule em sua mente no sentido de se concentrar que você 
está “tendo” o pensamento. Faça isso por mais 30 segundos. A maneira de 
dizer isso em sua mente é “Pela minha mente está passando a ideia de 
que...”. Observe o que acontece quando você experimenta o seu pensa­
mento dessa maneira. Alguma coisa muda?
A Prática das Intervenções Psicoterápicas 351
G.: Sim... senti algo como... menos peso... algo assim.
T.: Vamos tentar algo mais. Você pode reformular esse pensamento dentro 
da expressão “Estou percebendo que pela minha mente está passando a 
ideia de que... ”. Faça isso por mais uns 30 segundos.
G.: Ok.
T.: Ao repetir essa frase e experimentar seu pensamento dessa maneira, o 
que acontece? Observe a experiência e me diga se ela é diferente.
G.: Sim, bem diferente da primeira. Não senti a menor vontade de chorar.
T.: Gabi, talvez a gente possa tentar isso por um tempo, apenas rotular 
nossas experiências conforme elas acontecem.
G.: Uhum, achei interessante
T.: Para a próxima semana, que tal você aplicar esse processo que traba­
lhamos hoje? Aplique rótulos aos seus pensamentos, memórias, sensações 
corporais, imagens mentais e desejos. Se você quiser, pode até falar assim, 
em voz alta, tá bom?
A desfusão cognitiva pode ser utilizada sempre que: a) você ob­
servar a existência de pensamentos antigos, familiares, obsoletos; b) 
você está tão fusionado com seus produtos internos que o momento 
presente desaparece; c) você está fazendo muita comparação, classifi­
cação ou avaliação; d) você está ou no passado ou no futuro; e f) seus 
pensamentos estão acelerados, repetitivos ou confusos.
Pilar centrado
Gabriela apresenta pouca perspectiva em relação aos seus pro­
cessos privados. Durante todo o dia, fica presa em preocupações futu­
ras e situações do passado. A perda de perspectiva com estas experiên­
cias gera nela muito mal-estar, já que não tem a capacidade de obser­
var estas experiências como o que elas são (experiências), tomando-as 
literalmente. Ao mesmo tempo, a ausência de contato com o presen­
te, a fusão cognitiva e esquiva de experiencial dificultam o autoconhe- 
cimento. A identificação do “Eu” com as histórias e conceitos pessoais 
(ser uma excelente estudante) e a fusão com estas histórias (o “Eu con­
352 Terapia de Aceitação e Com prom isso
ceito”) dificulta a ela experimentar outros sentidos ou perspectivas do 
“Eu” . Assim, a fusão com o seu “Eu conceito” traz rigidez comporta- 
mental, já que ela rejeita ou evita qualquer conteúdo ou experiência 
que esteja em contradição com essas histórias.
O trabalho neste pilar envolve evocar contextos em que o pa­
ciente possa ficar na perspectiva de observador de sua experiência en­
quanto ela ocorre, tanto com a experiência externa (o mundo dos cin­
co sentidos) como com a experiência interna (pensamentos, emoções, 
sentimentos, por exemplo), e isso envolve o direcionamento conscien­
te e deliberado da atenção para a totalidade da experiência que está 
sendo vivenciada no momento, mantendo uma postura de acolhida, 
receptividade e curiosidade para tudo que se mostrar presente.
O pilar centrado pode ser considerado como a essência da FP. 
Assim, alguns autores assinalam que a FP é a capacidade de se relacio­
nar com os eventos privados como parte de uma hierarquia onde o Eu 
é acima dela (Tõrneke, Luciano, Barnes-Holmes, òc Bond, 2016). 
Desde nossa prática, o trabalho neste pilar envolve duas tarefas funda­
mentais: perceber a variabilidade da experiência e perceber a invariabili- 
dade do observador.
As intervenções podem ser muitas para cada uma destas tarefas 
e incluem metáforas, exercícios experienciais, práticas contemplativas 
e a conversação terapêutica. Na continuação, exemplifica-se uma ses­
são em que trabalhamos com Gabriela com estas duas tarefas clínicas.
Apenas notar
A primeira tarefa neste pilar envolve ancorar o paciente na pers­
pectiva de observador dos processos internos e sua variabilidade (“Eu” 
como processo). Através de exercícios específicos, fortalecemos este “Eu” 
permitindo que o paciente observe os processos internos, descrevendo- 
os como eles são: pensamentos, emoções, sentimentos e lembranças 
(Hayes, Strosahl, & Wilson, 2012). Com o objetivo de promover a fle­
xibilidade psicológica a partir deste processo, usamos práticas contem­
plativas de mindfulness, bem como práticas não contemplativas, como o 
trabalho focado no que acontece no aqui-e-agora da relação terapêutica
A Prática das Intervenções Psicoterápicas 555
ou o trabalho centralizado em "Notar" utilizando a Matrix (Schoendorff, 
Webster, & Polk, 2014; Polk, Schoendorff, Webster, & Olaz, 2016).
G.: Não posso parar de mepreocupar, estou muito cansada. Minha men­
te não para.
T.: Posso notar o difícil que está sendo Gabriela. Neste momento sua 
mente está trabalhando também?
G.: Sim!Muito! Ainda quando tento não pensar, ela trabalha e trabalha. 
T.: Ok. O que você acha de aproveitarmos para conhecê-la melhor? Ima­
gine que ela é uma televisão, e que você pode ver e escutar os programas. 
Está escutando ou observando algo?
G.: Sim, a imagem do meu exame e eu chorando porque reprovei.
T.: Uma imagem muito difícil, né? Algum pensamento?
G.: Sim, que eu não posso falhar. Que eu tenho que estudar mais.
T.: Ok. Temos esse pensamento também. E agora, enquanto falamos, per­
cebe alguma sensação física?
G.: Sim, uma forte pressão no peito.
T.: Ok, e se essa sensação tivesse um nome de emoção, qual seria?
G.: Angústia e tristeza, [começa chorar]
Nesta breve intervenção, o terapeuta convida Gabriela para ob­
servar sua experiência sem julgá-la, como um observador imparcial. 
Como se pode ver, o terapeuta não precisa utilizar um exercício for­
mal de mindjulness, e utiliza a sua pessoa como âncora enquanto o pa­
ciente observa e nota a sua experiência acontecendo. Oque ele tenta é 
fortalecer o sentido transcendente do “Eu”, evocando inicialmente 
uma posição de observação dos eventos privados. Trabalhando com o 
"Eu como observador" leva a um gradual sentido de perspectiva sobre 
os conteúdos privados e histórias pessoais que elaboramos, fortalecen­
do, assim, a perspectiva do Eu como um continente onde os diferen­
tes conteúdos ocorrem (pensamentos, emoções, etc.). O pilar centra­
do envolve observar nosso “Eu” como algo que transcende nossos 
pensamentos e emoções. Portanto, é a base para o pilar aberto, uma 
vez que só a partir deste lugar a pessoa pode se abrir para os eventos 
privados, já que podem ser "observados em perspectiva."
554 Terapia de Aceitação e Com prom isso
Perceber a invariabilidade do observador
A seguir, um breve exercício que o terapeuta utilizou com Ga- 
briela com o objetivo de gerar uma perspectiva de hierarquia em tor­
no aos eventos privados, especificamente às imagens do self, que po­
dem estar gerando inflexibilidade no repertório comportamental. O 
exercício é uma adaptação de Luoma, Hayes e Walser (2017).
G.: O problema é que eu tenho que ser excelente nisto, eu não sei como 
seria minha vida se eu não posso ser a melhor.
T.: Compreendo Gabriela. E me lembra neste momento de uma história 
que eu li hã algum tempo, você gostaria de escutã-la?
G.: Sim, gostaria
A história do vestido
Numa cidade muito distante vivia uma jovem muito pobre, que 
durante muitos anos havia guardado dinheiro com um só objetivo: com­
prar o melhor vestido do reino. Transcorridos vários anos, pôde juntar o 
valor para poder pagar por ele. Foi para a casa da melhor costureira do 
reino, entregou-lhe o dinheiro e esperou uma semana, o tempo que a cos­
tureira necessitava para aprontar o sonho da moça. O dia chegou e a jo­
vem se dirigiu à casa da costureira. Esta a recebeu com um grande sorriso, 
conduzindo a jovem até a sala onde se encontrava seu vestido pronto. Era 
melhor do que havia imaginado, belo, perfeito, único!
— Prove-o — disse a costureira.
O entusiasmo se transformou em temor e ansiedade quando a jovem 
pôde notar que o vestido não entrava no seu quadril.
— Não se preocupe — disse a costureira —, você só tem que torcer um pouco 
o corpo e... PRONTO!
O vestido entrou, mas novamente, quando a jovem tentou colocar 
um braço, o braço não entrava.
— Não se preocupe — disse a costureira — você só tem que torcer um pouco 
o braço e... PRONTO!
O vestido entrou, mas, novamente, quando a jovem tentou colocar o 
outro braço, ele não entrava.
A Prática das Intervenções Psicoterápicas 355
— Não se preocupe — disse a costureira —, você só tem que torcer um pouco 
o braço e... PRONTO!
O vestido entrou, mas quando a jovem tentou fechar o zíper, este não 
fechava.
— Não se preocupe — disse a costureira —, você só tem que torcer um pouco 
mais o tronco e... PRONTO!
Para surpresa da jovem, e mesmo quando sentia todo o corpo torcido e 
comprimido, o vestido parecia perfeito. Por isso, decidiu usá-lo, mesmo 
caminhando com grande dificuldade em direção à porta. Ao sair, pas­
sou por dois cavalheiros do reino que murmuram entre eles:
— Pobre jovem, olha o quão incômoda está dentro desse vestido — disse o 
primeiro cavalheiro.
— Mas olha como ela se acha linda!—disse o segundo.
T. Agora Gabriela. Você estaria disposta de me responder às seguintes per­
guntas? Quantos vestidos você colocou até o ponto de se confundir com 
eles? Quantos “Eu sou” ou “Eu devo ser” você comprou, tecidos pelos mais 
amados costureiros? Quão cômoda você se sente dentro deles? Quantas 
pessoas estão felizes com seus vestidos e quantos realmente estão dispostos a 
ver você sem eles. Quem é a pessoa que se esconde dentro de todos eles? 
Demore alguns segundos respirando e notando quais emoções, sensações, 
etc., aparecem frente a essas perguntas e observe e, lentamente, tente per­
ceber quem nota tudo isto, a pessoa por trás do vestido, e RESPIRA.
Pilar com prom etido
A abordagem terapêutica neste pilar envolve o trabalho com 
dois processos: contato com valores e ação comprometida.
De maneira simples, os valores, em uma perspectiva da ACT, 
são como uma bússola: eles apontam a direção na qual o paciente 
deseja ir. Em outras palavras, os valores representam a vida que a 
pessoa quer viver, ou seja, aquilo que realmente importa para ela 
(Dahl et al., 2009).
Para uma adequada aplicação das técnicas voltadas para trabalhar 
valores, é importante conhecer algumas características deste processo:
356 Terapia de Aceitação e Com prom isso
• Valores dizem respeito a ações, não a sentimentos ou outras 
experiências internas.
• Ao contrário de objetivos ou metas, valores nunca são plena­
mente alcançados.
• Os valores são livremente escolhidos, de modo que não preci­
sam ser justificados, explicados ou socialmente aprovados.
• Agir de maneira valorizada não depende de circunstâncias ex­
ternas, isto é, ações valorizadas podem ser praticadas em qual­
quer situação.
Uma vez que o conceito da ACT de valores é uma novidade 
para grande parte das pessoas, muitas vezes é útil dar exemplos con­
cretos ao paciente (Harris, 2013), conforme ilustrado a seguir.
Colocar valores em palavras
Resumidamente, valores são os seus desejos mais profundos relati­
vos a como você deseja ser enquanto ser humano. Eles não têm a ver com 
o que você quer ter ou conquistar. Eles dizem respeito a como você, ideal­
mente, deseja se comportar, tanto agora quanto no futuro; tanto em situa­
ções agradáveis quanto adversas. Os valores também indicam a maneira 
como você deseja se relacionar com aqueles ao seu redor, incluindo você 
mesmo. Para que você possa ter uma ideia mais precisa sobre como os va­
lores são formulados, vou lhe entregar aqui uma folha contendo uma lista 
dos valores mais comuns entre as pessoas. Vou lhe pedir que, ao longo da 
semana, você leia essa lista e registre ao lado de cada item a importância 
que aquele valor tem para você. Faça sua avaliação considerando a seguin­
te escala: 1 = Pouco importante; 2 = Importante e 3 = Muito importante. 
Lembre-se de que não há valores certos ou errados. É como o nosso gosto 
para sorvete. Se você prefere o de chocolate e eu prefiro o de flocos, isso 
não significa que meu gosto está certo e o seu está errado, ou vice-versa. 
Significa apenas que temos preferências diferentes. Da mesma forma, po­
demos ter valores diferentes e não existe problema algum nisso. Assim, se 
você achar que o fraseado de determinados itens precisaria de alterações 
para melhor refletir os seus valores, não hesite em rabiscar essa folha!
A Prática das Intervenções Psicoterápicas 557
Quadro 12.1 Lista de valores comuns*
Aceitação e autoaceitação: aceitar a mim mesmo, os outros, a vida, etc. 1 2 3
Aventura: ser aventureiro; ativamente buscar, criar ou explorar experiências novas 
ou estimulantes. 1 2 3
Assertividade: respeitosamente lutar por meus direitos e solicitar aquilo que desejo. 1 2 3
Autenticidade: ser autêntico, genuíno e verdadeiro; ser honesto comigo mesmo. 1 2 3
Cuidado e autocuidado: ser cuidadoso comigo mesmo, com os outros, com o 
ambiente, etc. 1 2 3
Compaixão e autocompaixão: agir gentilmente em relação a mim mesmo e aos 
outros. 1 2 3
Conexão: estar completamente envolvido naquilo que esteja fazendo e estar 
totalmente presente quando em companhia de outras pessoas. 1 2 3
Contribuição e generosidade: contribuir, ajudar, dar assistência, doar, dividir ou 
fazer uma diferença positiva. 1 2 3
Cooperação: ser cooperativo e colaborativo com outras pessoas. 1 2 3
Coragem: ser corajoso ou bravo; persistir mesmo em face do medo, ameaça ou 
dificuldade. 1 2 3
Criatividade: ser criativo ou inovador. 1 2 3
Curiosidade: ser curioso, mente-aberta e interessado; explorar e descobrir. 1 2 3
Encorajamento: encorajar e recompensar os comportamentos que valorizo em mim 
mesmo e nos outros. 1 2 3
Excitação: buscar, criar e me envolver em atividades que sejam excitantes ou 
estimulantes. 1 2 3
Justiça: ser justo comigo mesmo e com os outros.1 2 3
Forma física: Manter ou melhorar minha forma física, cuidar da minha saúde física 
e psicológica. 1 2 3
Flexibilidade: ajustar-me e adaptar-me às circunstâncias mutantes. 1 2 3
Liberdade e independência: escolher como vivo e me comporto e ajudar os outros a 
fazer o mesmo. 1 2 3
Amizade: ser amigável, companheiro ou agradável com os outros. 1 2 3
Perdão e autoperdão: ser remissório (aquele que perdoa) em relação a mim mesmo 
e aos outros. 1 2 3
Diversão e humor: ser um apreciador de diversão; buscar, criar e me envolver em 
atividades prazerosas. 1 2 3
Gratidão: ser grato e expressar apreço a mim mesmo, aos outros e à vida. 1 2 3
Honestidade: ser honesto, verdadeiro e sincero comigo mesmo e com os outros. 1 2 3
Empreendedorismo e diligência: ser diligente, trabalhador e dedicado. 1 2 3
Intimidade: estar aberto e compartilhar intimidades; estar física e emocionalmente 
próximo de outra pessoa. 1 2 3
Gentileza: ser gentil, atencioso, cuidador e provedor de alento a mim mesmo e aos 
outros. 1 2 3
Amor: agir amorosamente ou afetuosamente em relação a mim mesmo e aos 
outros. 1 2 3
Disponível em www.sinopsyseditora.com.br/interpsform
continua
http://www.sinopsyseditora.com.br/interpsform
358 Terapia de Aceitação e Com prom isso
Quadro 12.1 Continuação
Atenção plena (mindfulness): estar consciente de, aberto a, e curioso sobre minha 
experiência aqui-e-agora. 1 2 3
Ordem: ser organizado e ter minhas coisas em ordem. 1 2 3
Persistência e comprometimento: continuar a agir de maneira resolutiva, apesar de 
problemas ou dificuldades 1 2 3
Respeito e autorrespeito: tratar a mim mesmo e os outros com cuidado, 
consideração e apreço positivo. 1 2 3
Responsabilidade: ser responsável e responder por minhas ações. 1 2 3
Segurança e proteção: proteger ou assegurar a minha própria segurança e a dos outros. 1 2 3
Sensualidade e prazer: criar, explorar e aproveitar experiências prazerosas e 
sensuais. 1 2 3
Sexualidade: explorar ou expressar minha sexualidade. 1 2 3
Habilidade: continuamente praticar e melhorar minhas habilidades e me aplicar 
totalmente. 1 2 3
Apoio: ser apoiador, encorajador e disponível para mim mesmo e para os outros. 1 2 3
Confiança: ser confiável, leal, fiel, sincero e consistente. 1 2 3
A seguir estão listadas as principais estratégias utilizadas no tra­
balho sobre valores.
Exame da dor
Um princípio básico em ACT é o de que onde há dor há valor; 
portanto, o exame da dor indica os valores do paciente.
T.: O que lhe causa dor e sofrimento?
G.: Tirar uma nota baixa.
T.: O que você precisaria deixar de se importar para que isso não mais
pudesse lhe causar dor?
G.: Eu precisaria não querer ser uma boa profissional.
Aniversário de 80 anos
Aquilo que importa para a pessoa é aquilo pelo qual vai se sen­
tir realizada por ter feito ao final de uma vida, deixando o seu legado. 
Essa técnica envolve solicitar ao paciente que reflita sobre o que ele 
deseja ouvir de outras pessoas com relação ao seu legado.
T.: Imagine que é seu aniversário de 80 anos e ali estão todas as pessoas
que lhe são significativas. Em determinado momento, elas são convidadas
A Prática das Intervenções Psicoterápicas 559
afazer um breve discurso sobre quem foi você e o que você representou em 
sua vida. O que você gostaria de ouvir de cada uma delas?
Epitáfio
Segue o mesmo princípio básico de elucidação do que se refere 
a viver uma vida valorizada.
T.: O que você gostaria que fosse escrito em seu epitáfio? E se você conti­
nuasse vivendo a vida como tem vivido até agora, o que você acha que se­
ria escrito?
Varinha mágica
A fim de limpar o peso do fator social na discriminação de valo­
res, convém criar um contexto hipotético no qual a aprovação social 
seja garantida a despeito da escolha feita pelo paciente.
T.: Imagine que com um simples toque de uma varinha mágica você ti­
vesse a aprovação total, absoluta e incondicional de todas as pessoas do 
planeta. Não importa o que você fizesse - você podería descobrir a cura do 
câncer ou ser um serial killer, você seria aceito por todo mundo, e todos 
teriam uma visão positiva a seu respeito. Neste cenário, o que você faria 
de sua vida?
Pílula mágica
Como os valores são escolhas livres do indivíduo, estes não po­
dem ser definidos a partir daquilo que o sujeito não quer. Neste, a téc­
nica da “Pílula mágica” auxiliará na identificação de valores que sejam 
independentes das experiências internas que o mesmo busca evitar.
T.: Suponha que eu lhe desse uma pílula mágica e a partir de agora ne­
nhuma experiência interna indesejada (emoções, lembranças, impulsos, 
pensamentos ou sensações físicas) causa qualquer impacto sobre você - de 
que maneira sua vida seria diferente?
G .: Eu seria muito mais leve.
360 Terapia de Aceitação e Com prom isso
T.: E se eu pudesse observar você apenas através de um vídeo, sem poder 
falar com você, como eu sabería se a pílula está funcionando?
G.: Acho que você veria no vídeo que eu estaria fazendo atividade física, 
dormindo oito horas por noite e aceitando os convites para sair nos finais 
de semana.
Loteria
Tendo em vista que os valores representam a pessoa que o indiví­
duo quer ser, e não aquilo que ele gostaria de possuir, é interessante abor­
dar os valores retirando o fator dinheiro. Para tanto, convém criar um 
contexto hipotético onde o dinheiro não seja um fator de preocupação.
T.: Se você ganhasse na bteria de modo que nunca mais precisasse traba­
lhar para ganhar dinheiro, o que mudaria em sua vida? O que você co­
meçaria a fazer? O que você deixaria de fazer?
G.: Eu não estudaria tanto como costumo estudar e sairía mais com os 
meus amigos e largaria aquele estágio no grupo de pesquisa que não é o 
que eu quero fazer, mas que me paga uma bolsa.
T.: Quem você gostaria de ter ao seu lado para desfrutar dessa fortuna? 
G.: Minha família, as minhas colegas mais chegadas da faculdade e a 
Letícia e a Débora que são minhas amigas de infância.
T.: Como você gostaria de agir em relação a essas pessoas?
G.: Com respeito e companheirismo.
Exemplos a seguir
Muitas vezes, a pessoa que o paciente gostaria de ser pode ser 
vislumbrada, pelo menos em parte, nas atitudes e comportamentos 
daqueles que ele admira. Desta forma, a técnica de “Exemplos a se­
guir” busca identificar tais valores através de modelos.
T.: Quem são as pessoas (ou personagens) que você admira / que lhe inspiram? 
G.: Meu professor de Teorias da Personalidade.
T.: Quais qualidades dele você gostaria de possuir ou desenvolver?
G .: Ao mesmo tempo em que ele sabe muito, ele demonstra ser muito 
atencioso com as pessoas, incluindo a família dele.
A Prática das Intervenções Psicoterápicas 561
T.: Estas qualidades que você admira dizem respeito ao que se passa no 
mundo interno dele ou ao modo como ele age?
G.: Ao modo como ele age. Ele não apenas diz que se importa, ele de­
monstra isso em atitudes.
Ação com prom etida
Conforme indicado anteriormente, os valores são representados 
por uma bússola, no sentido de que apontam a direção de vida que a 
pessoa deseja seguir (Strosahl, Robinson, & Gustavsson, 2015). Toda­
via, para uma vida significativa, não basta apenas sabermos para onde 
desejamos ir - precisamos caminhar naquela direção - e é nesse ponto 
que entra a ação comprometida. Tendo em vista que os valores repre­
sentam uma direção, esta não é passível de ser alcançada (podemos 
caminhar infinitamente para oeste - nunca chegaremos “lá”). Nesta 
metáfora geográfica, a ação comprometida seria o processo de avançar 
na direção escolhida, o que inclui passar por localidades específicas 
(objetivos) ao longo do caminho.
Objetivos SMART
Dito de maneira diferente, trabalhar a ação comprometida en­
volve a tradução das direções de vida valorizada em passos concretos a 
serem praticados no dia a dia, ou seja, transformar valores em metas. 
Para tanto, convém conduzir esse processo sob a égide dos objetivos 
SMART (inteligentes). SMART é um acrônimo em inglês para desig­
nar cinco aspectos que devemser considerados na formulação de ob­
jetivos com vistas a maximizar a chance de serem alcançados. Em ou­
tras palavras, os objetivos de terapia devem ser, idealmente:
Específicos (Specific): Os objetivos que indicam claramente o que o 
paciente deve fazer são os mais eficazes. Por exemplo, “fazer 30 minutos de 
esteira na terça, quinta e sábado” é preferível a “tentar me exercitar mais”.
Mensuráveis (Measurableh Objetivos eficazes estabelecem crité­
rios bem definidos e observáveis de sucesso. Por exemplo, o alcance
362 Terapia de Aceitação e Com prom isso
do objetivo “levar a Balofa para passear na pracinha todos os dias” 
pode ser avaliado de maneira inequívoca, ao contrário de, digamos, 
“cuidar mais da minha cachorrinha”.
Alcançáveis (Achievable): Primeiramente, o estabelecimento dos 
objetivos deve sempre considerar a disponibilidade atual dos recursos 
relevantes (p. ex., tempo, habilidades, forma física, dinheiro, amparo 
social) por parte do paciente. Além disso, de forma crucial, objetivos 
produtivos são formulados em termos dos comportamentos a serem 
praticados pelo paciente, e não em termos de determinados resultados 
externos ou experiências internas desejadas. Assim, ao invés de “sentir- 
se autoconfiante com minhas amigas” ou “ser mais popular na facul­
dade” seria muito mais útil algo como “iniciar uma conversa com pelo 
menos uma pessoa diferente na faculdade todos os dias”.
Relevantes (Relevant): Para que a ação comprometida seja man­
tida em face às barreiras internas e externas que invariavelmente surgi­
rão ao longo do caminho, é preciso haver um propósito maior por 
trás dos objetivos. Em outras palavras, objetivos eficazes são formula­
dos em plena consonância com os valores do paciente, de modo que 
os últimos podem ser regularmente relembrados. A paciente que se 
propôs a levar a cachorrinha Balofa para passear, naturalmente, vai 
sentir-se tentada a abandonar essa meta quando considerar o precioso 
tempo que vai “perder” e não estudar. Em situações como essa, a exis­
tência de uma conexão clara entre o objetivo (“levar a Balofa para pas­
sear na pracinha todos os dias”) e o valor (“fazer bem aos animais”) é 
o alicerce que dá sustentação à ação comprometida.
Tempo definido (Time firamed)\ Objetivos eficazes estabelecem, 
com tanto detalhe quanto for possível, o dia e a hora em que a pessoa 
colocará em prática as atitudes valorizadas. Um enquadramento tem­
poral adiciona especificidade ao objetivo e diminui as chances de a 
paciente se sentir sobrecarregada pela tarefa. Por exemplo, a meta “le­
var a Balofa para passear na pracinha todos os dias por 30 minutos as­
sim que chegar da faculdade” tem maior chance de ser alcançada do 
que “passear mais com a Balofa”.
A Prática das Intervenções Psicoterápicas 563
Tentar pegar a caneta
Frequentemente os pacientes ao se deparar com o esforço exigi­
do para uma mudança comportamental utilizam-se do argumento 
que iráo “tentar” realizar a tarefa, quando na verdade o que realmente 
está acontecendo é uma reduzida disposição para realizá-la (Zettle, 
2007). Tendo em vista que as mudanças buscadas em terapia sempre 
dizem respeito a mudanças nos padrões de comportamento da pessoa 
e não ao alcance de determinados resultados, torna-se evidente que 
não é possível tentar um comportamento.
T.: Gabriela, você comentou que gostaria de ir na festa dos formandos da 
medicina, mas está sem companhia. O que você acha de convidar alguma 
de suas colegas para ir com você?
G.: Tá! Vou tentar.
T.: Você se importa de fazer um exercício um pouco diferente? [após a pa­
ciente anuir com a cabeça o terapeuta pega uma caneta e coloca sobre 
a mesa de apoio entre eles]. Vou pedir para tentar pegar esta caneta.
G.: [paciente pega a caneta]
T.: [imediatamente quando Gabriela pega a caneta] Não, não! Eu não 
disse para você pegar a caneta. Falei para tentar pegar a caneta.
G.: [estende o braço em direção a caneta, mas não a pega]
T.: Não, não! Não falei para estender a mão em direção a caneta. Eu dis­
se para tentar pegar a caneta.
G.: [paciente abre os olhos e olha fixamente para a caneta]
T.: Não, não! Eu não disse para você olhar fixamente para a caneta. Falei 
para você tentar pegar a caneta.
G.: Como assim tentar pegar a caneta?
T.: Como assim tentar convidar a sua colega?
C O N SID E R A Ç Õ E S F IN A IS
A ACT é uma das principais abordagens das chamadas terapias 
de terceira onda ou contextuais e trata-se de uma terapia psicológica 
baseada em um critério pragmático de utilidade, cujo objetivo é pre­
364 Terapia de Aceitação e Com prom isso
dizer e influenciar os eventos psicológicos com precisão, alcance e pro­
fundidade (Melo, Olaz, & Pergher, 2018). Conforme discutido no 
capítulo, tal abordagem compartilha os pressupostos básicos do beha- 
viorismo radical, uma vez que o termo “comportamento” inclui prati­
camente tudo o que um ser humano pode realizar, como caminhar, 
chorar, falar, pensar, sentir, etc. Dentro desta perspectiva comporta- 
mentalista, o comportamento não é outra coisa senão uma maneira 
de se relacionar com o contexto.
A partir da hipótese contextualista funcional, as intervenções 
psicoterapêuticas sempre apontam para o contexto dos eventos psico­
lógicos, e esse contexto estará definido pela possibilidade de prever e 
influenciar esses eventos (Bond et al., 2006). Posto que a ACT não é 
um conjunto de técnicas ou procedimentos, mas sim um modelo de 
psicoterapia amplo e que possui uma visão própria acerca do sofri­
mento humano, recomenda-se conhecer mais sobre a abordagem e 
não apenas utilizar isoladamente as técnicas aqui apresentadas.
R E FE R Ê N C IA S
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