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23/01/2022 1 TECNOLOGIA DE PRODUÇÃO DE CELULOSE MÓDULO: TECNOLOGIA DE BRANQUEAMENTO DE POLPA CELULÓSICA AULA 1: PRINCÍPIOS DO BRANQUEAMENTO Prof. Dr. Dalton Longue Júnior CURSO CONTEÚDO Localização do branqueamento numa fábrica Definição Tipos de polpa História do branqueamento Tipos de branqueamento Reagentes de branqueamento Sequências de branqueamento Avaliação do branqueamento Variáveis do branqueamento Floresta Madeira Estocagem Fábrica Limpeza Picagem Classificação Cozimento Depuração Pré- branqueamento Branqueamento Máquinas LOCALIZAÇÃO DO PROCESSO DE BRANQUEAMENTO NUMA FÁBRICA DE POLPA CELULÓSICA LOCALIZAÇÃO DO PROCESSO DE BRANQUEAMENTO NUMA FÁBRICA DE POLPA CELULÓSICA Fonte: www.semanticscholar.com 23/01/2022 2 Fonte: www.radiocacula.com.br LOCALIZAÇÃO DO PROCESSO DE BRANQUEAMENTO NUMA FÁBRICA DE POLPA CELULÓSICA Filtros lavadores Torre de estocagem Torres de branqueamento Fonte: www.dci.com.br LOCALIZAÇÃO DO PROCESSO DE BRANQUEAMENTO NUMA FÁBRICA DE POLPA CELULÓSICA Filtros lavadores Torres de estocagem Torres de branqueamento DEFINIÇÃO Processo químico que tem por objetivo melhorar a alvura e a limpeza da polpa celulósica para uma dada aplicação. O processo de branqueamento numa sequência de múltiplos estágios é sempre avaliado pela observação da alvura (refletância da luz visível azul). O branqueamento aumenta a quantidade de luz azul refletida pela polpa, pois possui menos grupos cromóforos, responsáveis pela absorção de luz. DEFINIÇÃO Um processo de branqueamento é composto por: Estágios de branqueamento: etapas individuais do processo onde a polpa celulósica é submetida a condições específicas, normalmente com o objetivo de elevar a alvura pela remoção ou alteração de algum grupo cromóforo. O número de estágios deve ser bastante planejado pois influencia nas características finais da polpa, no geração de efluentes (ambiente) e no custo do projeto. Sequências de branqueamento: conjunto de estágios de branqueamento, podendo ser composto de 3 até mais de 7 estágios, a depender da tecnologia disponível e do nível de qualidade exigido para a polpa final (cliente define). 23/01/2022 3 DEFINIÇÃO Resumindo... Branqueamento é um conjuntos de estágios (sequência) definidos de modo a elevar a alvura e melhorar a limpeza da polpa, com menor custo, sem comprometer a qualidade final do produto e com o mínimo impacto ambiental. TIPOS DE POLPA POLPA MECÂNICA POLPA QUÍMICA POLPA SOLÚVEL≠ ≠ Exigência do processo de branqueamento - + Alvura 18 – 25%ISO Polpa não branqueada de coníferas Alvura 88-92 %ISO Polpa kraft de mercado Alvura 95-96%ISO Polpa sulfito solúvel TIPOS DE POLPA Polpa Alto Rendimento Polpa Química Polpa Solúvel Elevado rendimento (>70%) Menor resistência Menor alvura final (máx. 80%ISO) Baixo rendimento (50%) Maior resistência Maior alvura final (88-92%ISO) Baixo rendimento (40%) Resistência não exigida (pureza química) Maior alvura final (>92%ISO) Fonte: https://in.all.biz/unbleached-bleached-pulp TIPOS DE POLPA 23/01/2022 4 TIPOS DE POLPA Polpa Mercado Qualidade Custo Meio Ambiente Tecnologia Pessoal HISTÓRICO DO BRANQUEAMENTO Inicialmente acompanhou a descoberta do cloro, em 1774, e sua ação branqueadora sobre as fibras vegetais. Hipoclorito de cálcio (H) desenvolvido em 1799, possibilitou o transporte mais fácil do produto. 1900 - 1930: grande evolução nas tecnologias de branqueamento, como o surgimento dos estágios de cloro (C), extração (E) e dióxido de cloro (D). 1952 - descoberto o estágio com oxigênio. 1990 - desenvolvimento de sequencias de branqueamento sem cloro elementar e ampliação da utilização do reagentes derivados do oxigênio (Z, O e P). TIPOS DE BRANQUEAMENTO Branqueamento por Remoção de Cromóforos Branqueamento por Modificação de Cromóforos - Remove da polpa celulósica compostos coloridos da madeira ou que se tornaram coloridos devido às reações químicas da polpação. - Afeta negativamente o rendimento e positivamente a estabilidade de alvura. - Modifica os compostos coloridos da polpa que não puderam ser removidos da polpa celulósica, mesmo após vários estágios de branqueamento. - Influencia negativamente a reversão de alvura e positivamente o rendimento. REAGENTES DE BRANQUEAMENTO Agente branqueador: qualquer substância química capaz de diminuir a conjugação de elétrons de uma molécula colorida com potencial de colorir a polpa celulósica. Elétrons conjugados: moléculas com elétrons conjugados são capazes de absorver energia ou a luz visível, e, assim, excitarem-se para emitir diversas cores. Um método agressivo de impedir a conjugação de elétrons é a quebra da dupla ligação. 23/01/2022 5 REAGENTES DE BRANQUEAMENTO Seletividade: o reagente deve ser seletivo, pois se por um lado ele deve quebrar as ligações duplas conjugadas, por outro lado, ele não pode quebrar as ligações glicosídicas das cadeias de celulose (viscosidade). Reagente perfeito: deixar as fibras de celulose intactas e somente destruir os compostos cromóforos, ser de baixo custo e oxidar rapidamente a lignina residual não removida pelo cozimento. REAGENTES DE BRANQUEAMENTO Oxigênio: - Função: oxidar (quebrar ligações duplas conjugadas) e solubilizar a lignina residual (estruturas menores). - Vantagens: baixo custo, produz efluente livre de cloro e pode ser recirculado no sistema de recuperação química. - Desvantagens: requer alto capital de investimento, degradação da celulose se mal aplicado e aumenta a carga para a recuperação química. Peróxido de hidrogênio: - Função: oxidar, descolorir e solubilizar a lignina. - Vantagens: fácil de usar, baixo custo, produz efluente livre de cloro e pode ser recirculado no sistema de recuperação química. - Desvantagens: degradação da celulose se mal aplicado e ineficiente para remover feixes de fibras. REAGENTES DE BRANQUEAMENTO Dióxido de cloro: - Função: oxidar, descolorir e solubilizar a lignina. - Vantagens: eficiente e seletivo, efetivo na remoção de feixes de fibras, protege a celulose quando misturado ao Cl2 num estágio C. - Desvantagens: requer a produção do reagente no local de uso, alto custo, formação de organoclorados no processo e altamente corrosivo. Hipoclorito: - Função: oxidar, descolorir e solubilizar a lignina. - Vantagens: fácil de preparar e usar, e possui baixo custo. - Desvantagens: degradação da celulose se mal aplicado e formação de clorofórmio. REAGENTES DE BRANQUEAMENTO Oxidantes: cloro (Cl), dióxido de cloro (ClO2), hipoclorito (NaClO), peróxido (H2O2), oxigênio (O2) e ozônio (O3) . Agente de extração: hidróxido de sódio (NaOH) é o mais comum. Quando um reagente oxidante promove a oxidação dos compostos coloridos, ele recebe elétrons e, consequentemente, sofre uma redução em sua estrutura química e promove uma oxidação no grupo cromóforo. Quando um reagente redutor promove a redução dos compostos coloridos, ele doa elétrons e, consequentemente, sofre uma oxidação em sua estrutura química e promove a redução no grupo cromóforo.. 23/01/2022 6 REAGENTES DE BRANQUEAMENTO Oxidante PM (g/mol) é/mol para reduzir a Cl- ou O2- Peso equivalente OXE/kg de polpa Cloro 70,91 2 35,5 28,2 Dióxido de cloro 67,46 5 13,5 74,1 Hipoclorito de sódio 74,45 2 37,2 26,9 Oxigênio 32,00 4 8,0 125,0 Ozônio 48,00 6 8,0 125,0 Peróxido de hidrogênio 34,02 2 17,0 58,8 Fonte: Colodette e Gomes, 2015; Grundelius, 1991, 1993. Tabela 1: Pesos moleculares, elétrons transferidos, pesos equivalente e OXE dos principais oxidantes utilizados no branqueamento de polpa celulósica. OXE = equivalente de oxidação = alternativo ao cloro ativo que é mais usado no branqueamento 1000/ PE = 1 OXE significa 1 mol de elétrons transferido por 1 kg de reagente no branqueamento. REAGENTES DE BRANQUEAMENTO Cloro Ativo: para saber o poder de ação de um reagente químico. Issoé feito para poder estabelecer comparações entre os diferentes tipos de reagentes, numa mesma base química, que nesse caso é o cloro elementar (Cl). Um estágio de peroxidação (P) que utiliza 5 kg de peróxido = carga H2O2 (kg/t) x P.E. Cl / P.E. H2O2 = 5 kg/t H2O2 x 35,5 / 17,0 = 10,44 kg/t Cl2 ativo 5 kg/t de H2O2 = 10,44 kg/t Cl2 ativo Um estágio de dioxidação (D) que utiliza 5 kg de dióxido de cloro = carga ClO2 (kg/t) x P.E. Cl / P.E. ClO2 = 5 kg/t ClO2 x 35,5 / 13,5 = 13,15 kg/t Cl2 ativo 5 kg/t de ClO2 = 13,15 kg/t Cl2 ativo SEQUÊNCIAS DE BRANQUEAMENTO Sequência Standard ou Convencional Sequência ECF (Elemental Chlorine Free) - Formada por estágios que utilizam o cloro elementar (C). - Formada por estágios que não utilizam o cloro elementar, e que este é substituído por seu derivado, como dióxido de cloro. Sequência TCF (Totally Chlorine Free) - Formada por estágios que não utilizam nenhum reagente derivado do cloro. Utilizam reagentes derivado do oxigênio, como P, Z, Q, E, X e O. SEQUÊNCIAS DE BRANQUEAMENTO PASSADO Branqueamento realizado em único estágio Menos seletivo Maior degradação da celulose ATUAL Branqueamento em múltiplos estágios Mais seletivo Menor degradação da celulose A combinação de múltiplos estágios permite a oxidação eficiente dos grupos cromóforos e a remoção do material oxidado, praticamente impossível em um único estágio. 23/01/2022 7 SEQUÊNCIAS DO BRANQUEAMENTO As sequencias de branqueamento são formadas por estágios, que são designados por abreviações Norma TAPPI TIS 0606-21-1993 REGRAS GERAIS: 1. Usar sempre letras maiúsculas (Z, P, D, O, H). 2. Não usar subscritos e sobrescritos (DHT, P1, D2). 3. Usar a primeira letra representativa do nome do estágio na língua inglesa, exceto quando a letra já estiver em uso (O, Z, P, Y). 4. Usar o símbolo “/” para designar ausência de lavagem entre estágios (O/O, Z/D). 5. Quando um estágio for composto por dois reagentes, colocar as letras entre parênteses (EP, EOP, DC). O A/D (EOP) D1 D2 AVALIAÇÃO DO BRANQUEAMENTO PARÂMETROS MAIS USADOS PARA AVALIAR O DESEMPENHO DO BRANQUERAMENTO 1. Nível de preservação dos carboidratos (celulose e hemiceluloses): - Rendimento do branqueamento (estágio ou sequência); - Viscosidade da polpa branqueada; - Relação celulose/hemicelulose; - Distribuição do peso molecular. 2. Remoção ou modificação da lignina: - Número kappa/microkappa; - Teor de ácidos hexenurônicos. 3. Dissolução ou remoção de extrativos 4. Remoção ou descoloração de partículas (feixes de fibras) AVALIAÇÃO DO BRANQUEAMENTO PARÂMETROS MAIS USADOS PARA AVALIAR O DESEMPENHO DO BRANQUERAMENTO EFICIÊNCIA Quantidade de cromóforos removidos por unidade de reagente oxidante utilizado. ����. � ∆ �� � �� SELETIVIDADE Quantidade de cromóforos removidos por unidade de viscosidade decrescida. �����. � ∆ �� ∆�������� ��� AVALIAÇÃO DO BRANQUEAMENTO POLPA 1 Kappa inicial = 12 Kappa final = 2 Visc. inicial = 1250 dm3/kg Visc. final = 850 dm3/kg CAT = 16 kg/t POLPA 2 Kappa inicial = 12 Kappa final = 1 Visc. inicial = 1400 dm3/kg Visc. final = 800 dm3/kg CAT = 20 kg/t POLPA 3 Kappa inicial = 8,5 Kappa final = 0,5 Visc. inicial = 1250 dm3/kg Visc. final = 750 dm3/kg CAT = 14 kg/t Tês polpas foram submetidas a diferentes sequencias de branqueamento: Qual polpa apresentou maior viscosidade final? Qual polpa perdeu mais viscosidade ao final do branqueamento? Qual polpa apresentou menor número kappa final? Qual polpa reduziu mais o número kappa no branqueamento? Qual polpa apresentou menor consumo de cloro ativo total? Qual a polpa (branqueamento) apresentou melhor eficiência? Qual polpa apesentou melhor seletividade? 23/01/2022 8 AVALIAÇÃO DO BRANQUEAMENTO POLPA 1 Kappa inicial = 12 Kappa final = 2 Visc. inicial = 1200 dm3/kg Visc. final = 800 dm3/kg CAT = 16 kg/t POLPA 2 Kappa inicial = 12 Kappa final = 1 Visc. inicial = 1450 dm3/kg Visc. final = 850 dm3/kg CAT = 20 kg/t POLPA 3 Kappa inicial = 8,5 Kappa final = 0,5 Visc. inicial = 1250 dm3/kg Visc. final = 750 dm3/kg CAT = 14 kg/t Três polpas foram submetidas a diferentes sequencias de branqueamento: Qual polpa apresentou maior viscosidade final? Polpa B (850 dm3/kg) Qual polpa perdeu mais viscosidade ao final do branqueamento? Polpa B (600 dm3/kg) Qual polpa apresentou menor número kappa final? Polpa C (0,5 unidade de kappa) Qual polpa reduziu mais o número kappa no branqueamento? Polpa B (11 unidades kappa) Qual polpa apresentou menor consumo de cloro ativo total? Polpa C (14 kg/t) Qual a polpa (branqueamento) apresentou melhor eficiência? Polpa A (0,625 u kappa/kg CAT) Qual polpa apesentou melhor seletividade? Polpa A (0,025 un kappa/un viscosidade) VARIÁVEIS DO BRANQUEAMENTO Principais variáveis operacionais de cada etapa de branqueamento: Temperatura Tempo Concentração de reagentes (relaciona consistência e dosagem) Pressão da reação Grau de acidez ou alcalinidade (pH) Eficiência de lavagem da polpa Essas condições devem ser testadas, bem definidas e praticadas corretamente para possibilitar a alcance do grau de branqueamento pretendido (planejado). MATÉRIA PRIMA Características da Anatomia das fibras Teor de lignina Teor de extrativos Teor de hemiceluloses Número Kappa Viscosidade Alvura Sujidade (palitos) Carry over (arraste) BRANQUEAMENTO Variáveis do Temperatura Tempo Concentração de reagentes Carga de reagente Consistência Pressão da reação Grau de acidez ou alcalinidade (pH) Eficiência de lavagem PRODUTO FINAL Características do Anatomia das fibras Teor de extrativos Teor de hemiceluloses Viscosidade Alvura Sujidade (total) BIBLIOGRAFIA LIVROS Branqueamento de polpa celulósica: da produção da polpa marrom ao produto acabado (Colodette e Gomes, 2015) Seção 1: Composição anatômica e química de materiais lignocelulósicos Seção 3: Princípios gerais do branqueamento Pulp bleaching: principle and practices (Dence e Reeve, 1996) Section 1: Introduction Section 2: Raw material Section 3: The chemistry of bleaching and brightness revertion Handbook of pulp (Herbert Sixta, 2006) Section 1: Introduction Section 2: Raw material for pulp Section 7: Pulp Bleaching Section 8: Pulp purification 23/01/2022 9 BIBLIOGRAFIA ARTIGOS Effect of pulping processes on bleachability with ECF, Z-ECF and TCF sequences Autores: Colodette, J.L.; Gomide, J.L.; Argyropoulos, , D.S.; Robles, Y.A.M.; Almeida, J.M.;Hehlman, S.K.; Brito, A.C. Revista: Appita Journal. 1999, 52, 368-374. Effect of Structural Features of Wood Biopolymers on Hardwood Pulping and Bleaching Performance Autores: Paula C. Pinto, Dmitry V. Evtuguin e Carlos Pascoal Neto Revista: Industrial Engeneering Chemistry Research. 2005, 44, 9777-9784. Efeito dos sólidos dissolvidos da madeira na branqueabilidade e nas propriedades físico-mecânicas e ópticas de polpa kraft branqueada de eucalipto Autores: Longue Júnior, D.; Colodette, J.L. Revista: Ciência Florestal. 2012, 22 (1), 171-181. PRINCÍPIOS DO BRANQUEAMENTO Prof. Dalton Longue Júnior dalton@uesb.edu.br (77) 98815-8711