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METODOLOGIA DE ARTES VISUAIS, MÚSICA E EXPRESSÃO CORPORAL Dra. Ana Kalassa El Banat GUIA DA DISCIPLINA 2022 1 Metodologia de Artes Visuais, Música e Expressão Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 1. ARTE NA EDUCAÇÃO E SURDEZ “A arte demonstra que o ordinário é extraordinário”. Amedée Ozenfant, 1970. “Criar arte é ver o mundo como que pela primeira vez. É buscar a origem, o gesto que o fundou. É reaprender cada coisa, cada objeto, é dar novos significados às coisas já existentes, é reinventar, reconduzir, reconstruir”. Frederico de Morais, 1989. Como ensinar arte? E, mais ainda como ensinar arte para a criança ou jovem surdo? Os documentos oficiais, que orientam as diretrizes educacionais, são unânimes em afirmar a importância da arte para o desenvolvimento pleno do indivíduo e de suas capacidades de relacionar-se com o mundo a sua volta e, quando se trata da criança surda o potencial expressivo da arte é ainda mais importante, pois pode proporcionar um canal de comunicação que auxilia na formação de vínculos entre a criança e os diferentes ambientes e grupos sociais a que está ligada, permitindo ampliar as possibilidades de desenvolvimento de suas capacidades cognitivas, afetivas e emocionais. Os estudos sobre a educação que queremos para o século XXI falam muito sobre uma educação para a valorização das diferenças, sobre um olhar mais humano para a multiculturalidade, apontam a necessidade de que a educação seja realizada tendo em vista a diversidade cultural e social e, nesse sentido, a educação estética, por meio da arte, tem muito a contribuir conscientizando para o reconhecimento da importância e o estímulo às múltiplas linguagens, incentivando que essa multiplicidade de caminhos de comunicação e expressão de ideias, emoções e significados faça parte, efetivamente, da prática letiva. Cunha chama nossa atenção para a importância da arte para a criança e de como as crianças estão próximas dos artistas: 2 Metodologia de Artes Visuais, Música e Expressão Universidade Santa Cecília - Educação a Distância A arte faz de conta. Crianças, artistas, fazem de conta que um rabisco, um objeto, um fragmento, um pensamento se transforme em uma outra coisa. Tanto as crianças, quanto àqueles adultos que persistem em deslocar a ordem estabelecida do mundo, compartilham de um pensamento similar, no sentido de que ambos propõem simulacros ou fingem que uma coisa é outra coisa. Artistas e crianças, percebem o mundo e dão sentido a ele através de formas singulares. Utilizam seus sentidos de forma mais aguçada do que a maioria dos adultos que deixaram para trás esta capacidade humana de ver, imaginar e simbolizar. (CUNHA) O quanto sabemos do imaginário da criança surda? É possível apontar aspectos que são específicos ao desenvolvimento do imaginário no contexto da baixa audição ou surdez? Essas são questões muito difíceis de serem respondidas, mas podemos afirmar que há conteúdos culturais que são particulares as experiências e aos lugares em que as crianças e jovens surdos se desenvolvem o que implica em dizer que têm também uma subjetividade própria. Podemos assim nos referir a um conjunto de produções culturais como artes surdas que apresentam características próprias das trocas culturais compartilhadas por determinado grupo de pessoas surdas, para quem essas artes são constitutivas de identidade para o grupo, relacionadas às formas de comunicação que estabeleceram entre si e, em geral, fortemente amparadas pela experiência visual. Sendo assim, nossa disciplina caminhará entre dois importantes eixos: apresentar as questões teóricas e metodológicas do ensino da arte e a adaptação necessária ao universo criativo e expressivo da criança surda. 3 Metodologia de Artes Visuais, Música e Expressão Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 1.1. Do que falamos quando nomeamos arte? A arte é uma parcela do que chamamos de cultura. Bem, mas esse começo precisa de mais um esclarecimento, já que ainda não conceituamos cultura. Esse conceito também não é único e tão pouco há consenso sobre ele, entretanto as posições mais contemporâneas pensam cultura como toda forma de ação humana no mundo, incluindo todos os modos de preparar certa comida, construir certas formas de residência, tipos de vestimenta e suas formas de confecção e até mesmo a maneira como tratamos a paisagem e a natureza. Mesmo com um dicionário simples, online, temos: A cultura é o conjunto de formas e expressões que caracterizarão no tempo uma sociedade determinada. Pelo conjunto de formas e expressões, entende- se e inclui os costumes, crenças, práticas comuns, regras, normas, códigos, vestimenta, religião, rituais e maneiras de ser que predominam na maioria das pessoas que a integram. (Conceito de cultura) Há certas formas culturais que se destacam por sua especificidade, por sua capacidade de trazer ao mundo novas ideias e possibilidades que são consideradas, pela sociedade, como patrimônio. Esse patrimônio pode ser local, regional, nacional ou mesmo um patrimônio da humanidade. Você sabia que a roda de capoeira está inscrita na Lista Representativa do Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade, da UNESCO, desde 2014? E o Círio de Nazaré: procissão da imagem de Nossa Senhora de Nazaré na cidade de Belém (Estado do Pará), desde 2013? Além deles são considerados patrimônios da humanidade o Frevo: arte do espetáculo do carnaval de Recife, o Yaokwa, ritual do povo enawene nawe para a manutenção da ordem social e cósmica, as expressões orais e gráficas dos wajapis e o Samba de roda do Recôncavo Baiano. http://www.unesco.org/new/pt/brasilia/culture/world-heritage/intangible-cultural-heritage-list-brazil/frevo/#c1415508 http://www.unesco.org/new/pt/brasilia/culture/world-heritage/intangible-cultural-heritage-list-brazil/yaokwa-ritual-do-povo-enawene-nawe/#c1415500 http://www.unesco.org/new/pt/brasilia/culture/world-heritage/intangible-cultural-heritage-list-brazil/yaokwa-ritual-do-povo-enawene-nawe/#c1415500 http://www.unesco.org/new/pt/brasilia/culture/world-heritage/intangible-cultural-heritage-list-brazil/expressoes-orais-e-graficas-dos-wajapis/#c1414260 http://www.unesco.org/new/pt/brasilia/culture/world-heritage/intangible-cultural-heritage-list-brazil/samba-de-roda-do-reconcavo-baiano/#c1414252 http://www.unesco.org/new/pt/brasilia/culture/world-heritage/intangible-cultural-heritage-list-brazil/samba-de-roda-do-reconcavo-baiano/#c1414252 4 Metodologia de Artes Visuais, Música e Expressão Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Esse mesmo processo de reconhecimento social, valorização e necessidade de preservação acontece com a arte, que é parte da cultura. Arte faz parte da vida, é fácil identificar sua presença ao nosso redor. Se eu pedir a você que fale o nome de uma obra de arte tenho certeza de que você saberá uma série deles de memória. Você sabia que a obra de arte que é considerada como a mais conhecida no Ocidente é a Mona Lisa, pintada por Leonardo Da Vinci, em 1503? Leonardo da Vinci. Mona Lisa. 1503-06. Pintura à óleo sobre madeira. Museu do Louvre. Paris. Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Mona_Lisa Além dela você pode conhecer as 16 obras mais conhecidas no Ocidente no artigo: As 16 pinturas mais famosas do mundo. Disponível em: https://www.culturagenial.com/pinturas-mais-famosas-do-mundo/. E as 11 obras abstratas mais conhecidas em: https://www.culturagenial.com/abstracionismo-obras-mais-famosas/ Mas e se eu pedir a você que conceitue arte, será igualmente fácil? Penso que não. Se eu pergunto: qual o conceito de arte? Como resposta, em geral, receberei frases como: https://pt.wikipedia.org/wiki/Mona_Lisahttps://www.culturagenial.com/pinturas-mais-famosas-do-mundo/ https://www.culturagenial.com/abstracionismo-obras-mais-famosas/ 5 Metodologia de Artes Visuais, Música e Expressão Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Arte é expressão. Arte é comunicação. Arte é uma habilidade ou ainda arte é um dom, mas todas são respostas muito vagas, e nem todas têm a mesma conotação. Por que isso acontece? O que chamamos arte está relacionado a um conjunto de objetos, produções, formas e outros que são socialmente reconhecidos como extraordinários, isto é, que superam o ordinário, o comum, o cotidiano e ganham destaque, em grande medida, por gerarem um sentido de admiração (que é diferente de beleza). Mas, ainda assim é importante destacar o termo socialmente reconhecida. O que isso significa? Que é a sociedade na forma de historiadores, teóricos, artistas, museólogos entre outros profissionais, incluindo aí os professores que, junto com as instituições: museus, galerias, espaços culturais e mesmo escolas dizem à sociedade o que está sendo considerado arte. O que é considerado arte hoje não necessariamente era considerado assim no passado e não temos nenhuma garantia de que será ainda pensado como arte em um futuro não muito distante. Como elemento da cultura a arte está ligada à vida, aos valores, expectativas e percepções dos diferentes locais e tempos. Então agora mesmo, o que nós apontamos como arte nos artigos acima não necessariamente seriam considerados arte em outros lugares como, por exemplo, para os Maoris da Nova Zelândia ou para o povo Inuit, do Ártico. Isso acontece mesmo que nós aceitemos a produção deles como arte. Terminamos com algumas perguntas: podemos falar de uma cultura ou arte surda? Como a arte participa da educação e por quê? Como a arte surda participa desse processo? 6 Metodologia de Artes Visuais, Música e Expressão Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Para ler na íntegra o livro: O QUE É ARTE, de Jorge Coli: http://pt.slideshare.net/sdv-producoes/jorge-coli-o-que-arte-13212602 COLI, Jorge. O que é arte. Brasiliense. Coleção primeiros passos. Disponível em: https://designdeinterioresinap.files.wordpress.com/2011/02/jorge-coli- o-que-c3a9-arte.pdf. Acesso em 11/11/2020. CUNHA, Susana Rangel Vieira da. Como vai a Arte na Educação Infantil? Disponível em: http://brincarjogarepensar.blogspot.com.br/2009/10/como- vai-arte-na-educacao.html. Acesso em 11/11/2020. SANTOS, José Luiz dos. O que é cultura. Brasiliense. Coleção primeiros passos. Disponível em: http://www.netmundi.org/home/wp- content/uploads/2017/04/Cole%C3%A7%C3%A3o-Primeiros-Passos-O-Que- %C3%A9-Cultura.pdf. Acesso em 11/11/2020. Conceito de cultura. Disponível em: https://queconceito.com.br/cultura. Acesso em 11/11/2020. http://pt.slideshare.net/sdv-producoes/jorge-coli-o-que-arte-13212602 https://designdeinterioresinap.files.wordpress.com/2011/02/jorge-coli-o-que-c3a9-arte.pdf.%20Acesso%20em%2011/11/2020 https://designdeinterioresinap.files.wordpress.com/2011/02/jorge-coli-o-que-c3a9-arte.pdf.%20Acesso%20em%2011/11/2020 http://brincarjogarepensar.blogspot.com.br/2009/10/como-vai-arte-na-educacao.html http://brincarjogarepensar.blogspot.com.br/2009/10/como-vai-arte-na-educacao.html http://www.netmundi.org/home/wp-content/uploads/2017/04/Cole%C3%A7%C3%A3o-Primeiros-Passos-O-Que-%C3%A9-Cultura.pdf http://www.netmundi.org/home/wp-content/uploads/2017/04/Cole%C3%A7%C3%A3o-Primeiros-Passos-O-Que-%C3%A9-Cultura.pdf http://www.netmundi.org/home/wp-content/uploads/2017/04/Cole%C3%A7%C3%A3o-Primeiros-Passos-O-Que-%C3%A9-Cultura.pdf https://queconceito.com.br/cultura 7 Metodologia de Artes Visuais, Música e Expressão Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 2. CULTURA E ARTE SURDA “Para quem não ouve, o silêncio não é tão dramático como para a nossa imaginação. É apenas o cotidiano. O que é inimaginável é a existência do som.” (FUX, 1988, p. 12) Pela aprendizagem da arte um indivíduo pode conhecer-se, despertando a percepção pessoal sobre seu olhar, seus movimentos, seus desejos, suas inquietações, seus estímulos. Particularmente em relação aos alunos com deficiência auditiva é preciso estreitar o contato com esses alunos e cooperar com eles, com o objetivo de estimular a criatividade, despertar para temas mais sensíveis de interesse à cultura surda, encorajar a participação em vivências artísticas individuais ou coletivas, estabelecendo contato com outras pessoas da cultura surda ou não. A comunicação pode ser realizada de diferentes formas e por meio de várias linguagens existentes (visíveis ou não). Mas, mesmo assim, é comum vermos as pessoas com deficiência auditiva consideradas incapazes e sofrendo muita discriminação. Essa desconsideração influencia na criação da identidade da criança surda que precisa superar inúmeros preconceitos para desenvolver sua autoestima. Esses mesmos preconceitos também são identificados dentro de contextos educacionais, em que as aulas são voltadas quase exclusivamente para os ouvintes. E, sendo assim, buscaremos entender os desafios na construção de práticas de arte na perspectiva de professores que acompanham estudantes surdos no processo regular, de educação inclusiva ou na educação não formal. A criança surda, especialmente em uma sala regular, enfrenta várias dificuldades no andamento do aprendizado de Artes, mesmo acompanhada de um intérprete, pois os alunos com deficiência auditiva não abrangem as mesmas habilidades linguísticas e visuais que os alunos sem deficiência auditiva e nesse contexto, o uso de Libras é um recurso essencial na comunicação. 8 Metodologia de Artes Visuais, Música e Expressão Universidade Santa Cecília - Educação a Distância A Lei nº 10.436 (Brasil, 2002) regulamenta a educação formal de alunos surdos, e o Decreto nº 5626 (Brasil, 2005) aprova a educação formal de alunos surdos, mas é preciso ter cuidado para que a inclusão não tenha como resultado a exclusão. Por isso abordaremos algumas das competências necessárias para o preparo do educador. Discutiremos o desenvolvimento social, cultural e sensível que pode ser propiciado às crianças surdas por meio do contato com as artes. A inclusão escolar do aluno com surdez deve ocorrer de forma bastante criteriosa. O compartilhamento de atividades com as crianças ouvintes deve ser encorajado quando beneficiam o aluno. A escola inclusiva deve ser um lugar tão interessante que alunos ouvintes e com surdez tenham prazer em estarem inseridos nela, e a escola de surdos deve estar atenta para promover atividades sociais que incluam surdos e ouvintes em programações culturais e esportivas que possam beneficiar a todos. Os alunos devem usar (ou aprender a usar) e desenvolver suas habilidades por intermédio da interação com os professores surdos e outros membros do quadro de pessoal da escola, assim como com os colegas. Artes, teatro, poesia, mímica e narração de histórias são grandemente valorizadas como habilidades expressivas importantes. O orgulho das crianças com surdez por sua língua deve ser incentivado pela escola. Isso requer a presença de profissionais surdos no programa, o apoio de professores ouvintes e a construção de uma nova cultura educacional. (LIMA, p. 84) 2.1. Cultura Surda/ Culturas Surdas Para compreender as relações estabelecidas entre as artes e a criança surda precisaremos primeiro entender um pouco mais da cultura surda que pode ser sintetizada como a vivência particular dos surdos de apreensão e resposta prioritariamente visual do mundo. Como um sujeito cultural que se constitui através dos atravessamentos, de experiências que o tocam e o transformam. O sujeito surdo é um sujeito cultural, pois é permeadopela cultura a qual faz parte e a arte é um artefato cultural, a arte constitui o surdo, pois este consome a arte, a faz circular e a utiliza para produzir significados do que é ser surdo. (ANJOS, p. 5). 9 Metodologia de Artes Visuais, Música e Expressão Universidade Santa Cecília - Educação a Distância A partir de Karin Strobel, Cruz apresenta a ideia de cultura surda como: O jeito de o sujeito surdo entender o mundo e de modificá-lo a fim de torná- lo acessível e habitável, ajustando-o com suas percepções visuais, que contribuem para a definição das identidades surdas e das “almas” das comunidades surdas. Isso significa que abrange a língua, as ideias, as crenças, os costumes e os hábitos do povo surdo (STROBEL, 2013 Apud CRUZ). Strobel (2009 Apud PEREIRA) também é referência para a apresentação de quais são os aspectos culturais de maior relevância dentro da cultura surda: • experiência visual (a acuidade visual dos surdos), • linguístico (as línguas de sinais), • familiar (crianças surdas em lares ouvintes, e crianças ouvintes de pais surdos), • a literatura surda (poesia, narrativas, livros), • artes visuais (artes plásticas surdas e o teatro surdo), • vida social e esportiva (o relacionamento com seus pares), • político (líderes surdos, associações de surdos, lutas sociais), • tecnológico (telefones adaptados, campainhas luminosas). Desde o final dos anos de 1990 há uma reinvindicação da comunidade para que educadores aproximem esse repertório de seus alunos surdos com o intuito de criar proximidade dos discentes com essas referências. Essa é uma luta por reconhecimento e legitimação da produção cultural que corresponde de modo direto às vivências, modos de agir, de criar, de se expressar que tenha vínculo com o modo próprio das comunidades surdas se organizarem. 10 Metodologia de Artes Visuais, Música e Expressão Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Em 1999, ainda lutando pelo reconhecimento legal da Língua Brasileira de Sinais, que só aconteceria em 2002, participantes da comunidade surda se reuniram antes do V Congresso Latino Americano de Educação Bilíngue para Surdos, em Porto Alegre - RS, onde elaboraram o documento “A Educação que Nós Surdos Queremos”, que foi posteriormente entregue ao governo estadual, estabelecendo demandas coletivas sobre direitos humanos, escolas e classes especiais, o currículo, as relações com a comunidade e a família, entre outros temas. Um trecho é especialmente dedicado à chamada “arte surda”. No texto, que abarca todo tipo de produção artística de pessoas surdas. (Adaptado de PEREIRA) Entre as reinvindicações da comunidade surda para as artes é possível destacar: Observar que os alunos surdos precisam de contato com a arte surda. Levar surdos ao contato com artistas surdos e com arte surda através de fotos, vídeos, pinturas, esculturas, teatro. Considerar que os olhos, as mãos, a expressão corporal e facial são sinais referenciais para os surdos. Despertar os surdos para a arte, a fim de que possam expressar sua identidade através da mesma. Ver a arte como forma de significação que produz certas características determinantes para a diferença e as construções históricas e culturais (CALDAS, 2006 Apud PEREIRA). A arte proporciona uma chance importante de reconhecimento da existência de vivências e sensibilidades de sujeitos surdos de outras comunidades, outras culturas. A arte cria oportunidades para a organização das vivências em formas visíveis e sensíveis, de contato com múltiplas culturas, pela partilha de experiências e pela apreciação. O direito a escrita, partilha e reconhecimento das histórias e memórias dos surdos 11 Metodologia de Artes Visuais, Música e Expressão Universidade Santa Cecília - Educação a Distância ANJOS, Rosa Cristina Oliveira dos. Auto-estima resgatada como identidade com artistas surdos. Disponível em: https://lume.ufrgs.br/bitstream/- handle/10183/15702/000689117.pdf?sequence=1&isAllowed=y BATAGLIN, Mayara. EXPERIÊNCIA VISUAL E ARTE: ELEMENTOS CONSTITUIDORES DE SUBJETIVIDADES SURDAS. Disponível em: http://www.ucs.br/etc/conferencias/index.php/anpedsul/9anpedsul/paper/v iewFile/919/757 BELAUNDE. Caroline Zimmermann. Os processos perceptivos do aluno surdo: o universo da arte. Disponível em: https://teses.usp.br/teses/disponiveis/- 48/48134/tde26072018110940/publico/CAROLINE_ZIMMERMANN_BELAUN DE_rev.pdf CRUZ, ANDREZA NUNES REAL DA. Aula de arte para surdos: criando uma prática de ensino. Disponível em: https://repositorio.unesp.br/bitstre- am/handle/11449/143081/cruz_anr_me_ia.pdf;jsessionid=46D226D32B0CE0 5B96BC9C7174958116?sequence=3 LIMA, Daisy Maria Collet de Araújo Lima. Educação infantil: Saberes e práticas de inclusão. Dificuldades de comunicação e sinalização. Surdez. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/surdez.pdf PEREIRA, Janaí de Abreu. Narrativas visuais: o silenciamento do ensino de arte para surdos. Disponível em: http://anpap.org.br/anais/2017/PDF/EAV/- 26encontro______PEREIRA_Jana%C3%AD_de_Abreu.pdf https://lume.ufrgs.br/bitstream/-handle/10183/15702/000689117.pdf?sequence=1&isAllowed=y https://lume.ufrgs.br/bitstream/-handle/10183/15702/000689117.pdf?sequence=1&isAllowed=y http://www.ucs.br/etc/conferencias/index.php/anpedsul/9anpedsul/paper/viewFile/919/757 http://www.ucs.br/etc/conferencias/index.php/anpedsul/9anpedsul/paper/viewFile/919/757 https://teses.usp.br/teses/disponiveis/-48/48134/tde26072018110940/publico/CAROLINE_ZIMMERMANN_BELAUNDE_rev.pdf https://teses.usp.br/teses/disponiveis/-48/48134/tde26072018110940/publico/CAROLINE_ZIMMERMANN_BELAUNDE_rev.pdf https://teses.usp.br/teses/disponiveis/-48/48134/tde26072018110940/publico/CAROLINE_ZIMMERMANN_BELAUNDE_rev.pdf https://repositorio.unesp.br/bitstre-am/handle/11449/143081/cruz_anr_me_ia.pdf;jsessionid=46D226D32B0CE05B96BC9C7174958116?sequence=3 https://repositorio.unesp.br/bitstre-am/handle/11449/143081/cruz_anr_me_ia.pdf;jsessionid=46D226D32B0CE05B96BC9C7174958116?sequence=3 https://repositorio.unesp.br/bitstre-am/handle/11449/143081/cruz_anr_me_ia.pdf;jsessionid=46D226D32B0CE05B96BC9C7174958116?sequence=3 12 Metodologia de Artes Visuais, Música e Expressão Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 3. EDUCAÇÃO ESTÉTICA E MULTISSENSORIALIDADE “O prazer estético implica uma atividade de conhecimento, embora distinta do conhecimento conceitual”. Luiz Costa Lima, 1979. As diretrizes propostas para a educação no Brasil pontuam que se deve proporcionar aos alunos uma experiência planejada para que todos possam ter acesso à democratização do patrimônio cultural e educacional, e enfatizar o objetivo de criar qualidade de vida e justiça social. “É com surpresa que encontramos, em todos os documentos normativos das atuais Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Básica, a estética como um dos princípios norteadores da organização do currículo escolar”. (TROJAN, 2004). [...]. As situações planejadas intencionalmente devem prever momentos de atividades espontâneas e outras dirigidas, com objetivos claros, que aconteçam num ambiente iluminado pelos princípios éticos, políticos e estéticos das propostas pedagógicas. (Parecer CEB,22/98, p.10 In TROJAN, 2004). Trojan (2004) atenta para o papel da estética no tripé sobre o qual é amparada a diretriz educacional do Brasil, mas, apesar disso, sua importância é subestimada em relação aos outros dois aspectos. A arte é o veículo por excelência da presença da estética na educação, ainda que não seja o único, por isso, o trabalho com arte na educação deve levar em conta essa relação. Assim poderíamos sintetizar que a presença da arte na escola visa garantir a existência da formação estéticado indivíduo. 13 Metodologia de Artes Visuais, Música e Expressão Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Mas, como podemos definir educação estética? Do ponto de vista da história social, a educação estética é o contato com a arte, que após a devida vivência e absorção, se insere no mais íntimo processo de desenvolvimento pessoal. Promove a autorrealização e ajuda os alunos a ampliar seu potencial. O objetivo da educação estética é estimular a percepção geral e a capacidade de compreender e interagir de múltiplas formas com arte e cultura. A palavra estética, apesar de sua presença na linguagem cotidiana como conotação para o belo, tem sentido mais amplo. E quais efeitos podemos esperar de uma educação estética? A educação estética oportuniza uma experiência que não é uma simples manifestação da sensibilidade desconectada da sociedade, mas que sintetiza um conjunto de relações significativas e universais; propicia a oportunidade de interpretar os elementos das linguagens artísticas e preparar a criança para romper as fronteiras da sua vida cotidiana. É fundamental para a formação da criança, busca a interação com a vasta gama de textos e imagens, sons e movimentos, tanto no espaço da escola como fora da escola, de maneira a possibilitar a apreensão e compreensão da cultura na sua totalidade e a socialização do saber em arte. Esse processo de revelar e construir nosso olhar, audição e movimentos, de apontar novos significados e sentidos. (CASTILHO; FERNANDES). A estética é um campo de pesquisa relacionado à beleza. Segundo Aranha (1993), o uso generalizado do termo estética envolve a beleza física como o adjetivo que é atribuído a algo ou alguém. Por outro lado, na arte, a palavra estética tem outro significado e é usada mais como um substantivo: estética moderna, estética renascentista, etc. No campo da filosofia, dedica-se ao estudo racional da beleza e ao sentimento que desperta dos humanos. “Etimologicamente, a palavra estética vem do grego aisthesis, com o significado de ‘faculdade do sentir’, ‘compreensão pelos sentidos’, ‘percepção totalizante’ ”. (ARANHA, 1993, p. 341). 14 Metodologia de Artes Visuais, Música e Expressão Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Por muitos séculos, a arte foi considerada a forma por excelência de criação de beleza e, por isso mesmo, ocupa uma posição de importância em relação aos estudos de estética. Entretanto, esse laço entre arte e beleza não pode ser mais aplicado de forma tão direta, quando nos referimos, por exemplo, às manifestações da arte moderna ou contemporânea onde a arte nem sempre trata do belo. Há obras cujo tema é a miséria humana, outras cujos materiais usados para sua criação foram descartados, até mesmo lixo. Arte e estética estão ligadas, não porque a arte seja dedicada à beleza, mas principalmente porque quando os objetos de arte são apresentados a pessoas para visualização ou experiência, isso é feito pela mobilização da percepção. A obra deve ser percebida através dos nossos sentidos, neste caso, a experiência da arte torna-se um processo de conhecimento. E na educação? Como a vivência estética pode contribuir para o desenvolvimento integral de nossos alunos? E, mais especificamente, para o desenvolvimento dos alunos surdos? 3.1. Experiência Estética na Sala de Aula Você já se perguntou o que seria uma experiência de beleza? Alguma vez, você, diante de algo, ou alguém, percebeu depois que havia ficado tão admirado que o tempo parecia ter “parado”? De forma geral, a experiência estética poderia ser definida como esse estado de admiração, rápido, quase instantâneo, fugaz, porque não pode ser contido, tão pouco pode ser repetido (mesmo diante do mesmo objeto ou pessoa). 15 Metodologia de Artes Visuais, Música e Expressão Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Assim, poderíamos sintetizar a experiência de beleza como uma vivência que experimentamos ao nos relacionarmos com o mundo a nossa volta, por meio de nosso aparato perceptivo, quando nossa atenção é mobilizada pela aparição de algo que mobiliza nossa percepção, conduzindo-nos à a uma atualização do nosso processo cognitivo, emocional e sensorial. João Duarte Jr. defende que a educação seja estética em sua essência. [...] quando defendo uma educação que seja estética em sua essência, em seus fundamentos, penso num auxílio às novas gerações para que não apenas percebam esse jogo primordial corpo-mundo no qual estamos metidos, mas também as ajude a jogá-lo de maneira mais acurada e consciente. Educação estética talvez tenha a ver com um antigo mote da fenomenologia: voltar às coisas mesmas. Isto é: temos que partir do irredutível fato de sermos um corpo que procura sobreviver – com prazer e alegria – em meio aos perigos do mundo, e quando temos consciência de que somos capazes de enfrentar e até de tirar proveito dessas ameaças, um sentimento de espanto, de maravilhamento (vale dizer, de beleza) nos sobrevém. A partir de tal maravilhar-se, de tal espantar-se com as coisas e nossas relações primordiais com elas é que se podem então erigir todos os saberes. (Entrevista: João Duarte JR.) Essa relação corpo/mundo tem grande importância dentro das vivências da pessoa surda. Todo conhecimento principia no espanto. O corpo na água da piscina, por exemplo, constitui um momento de prazer (mas também de medo), e aprender a dominar o elemento, desenvolvendo as técnicas da natação, do mergulho e do boiar consiste numa educação estésica e estética, a partir da qual se pode também aprender, digamos, física: mecânica dos fluidos, empuxo, essas coisas todas que desde a eureca do Arquimedes se veio desenvolvendo. Para se pensar sobre a vida e o mundo é fundamental que se os sinta e que nos maravilhemos com eles. (Entrevista: João Duarte JR.) 16 Metodologia de Artes Visuais, Música e Expressão Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Essa abordagem da arte como elemento socializador pode ser extremamente benéfica ao surdo. “As linguagens artísticas presentes no currículo escolar representam uma fonte de vivência através da apreciação artística, do desenvolvimento do senso crítico e das experiências estéticas e consequentemente, como caminho socializador do educando”. (CANDA; BATISTA). Canda e Batista associam também a educação estética ao desenvolvimento da capacidade criativa como condição humana essencial: Um dos eixos norteadores da discussão do ensino de arte refere-se à compreensão de que o processo de criação não é um privilégio de artistas e sim, um conhecer e um fazer inerente à condição humana, mas que precisa ser estimulado, trabalhado e ressignificado em contextos sociais e educacionais. Assim, a criatividade não está restrita à criação de obras artísticas, mas ao poder de dar sentido para a compreensão de mundo, de criar novos pensamentos e possibilidades de leitura das relações sociais e novas resoluções para antigos problemas. O ato de criar é um potencial do ser humano, a ser desenvolvido em habilidades expressivas, estando ligado à constituição do pensamento e da imaginação. A base da criação é dar forma a algo. Compreender, relacionar, configurar, significar são ações ligadas diretamente ao ato criador. (CANDA; BATISTA) Na pessoa com surdez o desenvolvimento dessa capacidade criativa, que permite reinventar formas de comunicação, inclusive no campo poético, é ainda mais importante. “O grande instrumento desenvolvido pelo ser humano para o exercício da criatividade é a linguagem” (CANDA; BATISTA). E não apenas a linguagem ligada a percepção do som, mas toda forma de linguagem! Como essa experiência pode ser promovida para que os alunos possam vivenciá- la?Não há uma resposta única para essa pergunta, mas o mais óbvio talvez seja a resposta mais interessante nesse momento do nosso diálogo: - Trazendo arte para dentro da escola num formato acessível a todos. 17 Metodologia de Artes Visuais, Música e Expressão Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Isto pode ocorrer por meio do oferecimento de diferentes possibilidades de leitura de imagens, por meio do contato com fotografias (publicadas em jornais, revistas), literatura, pinturas, quadrinhos, desenhos, esculturas, peças de teatro, dança, computador, televisão, filmes, imagens publicitárias (cartazes, outdoors, anúncios, charges) entre outros. A escola e os professores são os mediadores que devem oferecer perspectivas teóricas e práticas, discussões e experiências com atividades que promovam o entendimento de formas de expressão, das tradicionais e novas técnicas artísticas. (CASTILHO; FERNANDES) Especialmente para os alunos surdos, o contato com as artes ligadas às culturas surdas é essencial. Por essas características a arte deve estar presente na formação escolar do aluno surdo: por aquilo que ela – atividade artística e contato com as culturas surdas – propicia, pelo conhecimento e reinvenção do mundo que fazem parte da construção da consciência, da emoção e da representação de si e do mundo. 3.2. Educação Estética e Materiais Multissensoriais para o Aluno Surdo Para promover essa ampliação da percepção no aluno com surdez, que é objeto da educação estética, uma estratégia que tem se mostrado eficiente é a adoção e adaptação da Pedagogia Multissensorial ou Didática Multissensorial, como foi nomeada mais recentemente. Iniciativas para uma pedagogia multissensorial não são recentes, mas nos anos 1990 uma nova ação trouxe a luz os benefícios desse tipo de proposição, especialmente no universo escolar da inclusão de crianças portadoras de diferentes necessidades especiais. 18 Metodologia de Artes Visuais, Música e Expressão Universidade Santa Cecília - Educação a Distância A Didática Multissensorial foi desenvolvida na Espanha, para incentivar o progresso de ações educacionais na área de ciências. Seu organizador é Miquel-Albert Soler, que publicou suas pesquisas em 1999, no livro “Didáctica Multisensorial de las Ciencias – um nuevo princípios para alumnos ciegos, defientes visuales, y también sin complicações de visión”. De acordo com Soler, a compreensão das ciências naturais e experimentais, a partir dos primeiros anos escolares, possui um trato educativo concentrado especialmente numa ênfase visual, gerando, entre outros, dificuldades para a transposição de conhecimentos a deficientes visuais. Pode parecer que a ligação dessa didática com a deficiência visual afaste-a das crianças surdas, já que sabemos que um dos canais mais importantes de comunicação para o surdo é a visão, entretanto essa didática contribui com a sensibilização das potencialidades perceptivas do estudante, complementando sua aprendizagem com novas competências. Dessa forma resulta também em bons procedimentos para portadores de necessidades especiais ou não, e para os surdos. Soler (1999) argumenta que os sabores, os movimentos, os ritmos e os estímulos táteis, podem atuar como canais de chegada de dados valiosos para gerar novas observações sobre o que estiver em estudo. Esses elementos informativos, embora entrem por canais sensoriais diferentes, possuem um fim comum, nossa inteligência, expandindo as possibilidades do aprendizado, estimulando mais de um dos cinco sentidos humanos. Em sua origem a Didática multissensorial baseia-se na transposição de noções visuais para outro canal de recebimento sensorial. Dessa forma, pode-se transfigurar em tátil uma imagem visual, como uma ação artística, um catálogo, uma estampa etc. Essa ação é possível pela constatação de que há imagens visuais que levam, associadas a elas, conhecimentos não visuais e que, dessa forma, são capazes de ser percebidas ao mesmo tempo por mais áreas perspectivas. Entretanto, o princípio do trabalho multissensorial é implementar a adaptação de ações que estimulem toda forma de percepção. 19 Metodologia de Artes Visuais, Música e Expressão Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Os estudos sobre metodologias de aprendizagem voltadas aos surdos têm evidenciado a utilização de estratégias didáticas multissensoriais, uma vez que promovem nos surdos uma ampliação de capacidades perspectivas, reduzindo sua submissão ao treino oral. Chamamos de materiais multissensoriais todos que fazem o uso de distintas perspectivas de apreensão da realidade e, por isso mesmo, podem auxiliar também alunos surdos que ingressem em escolas regulares e bilíngues, criando oportunidades para que participem verdadeiramente das atividades em sala de aula, apresentando a compreensão própria à sua percepção sob outros moldes que não o da oralidade. Para os alunos surdos quanto mais acesso tiverem a materiais multissensoriais, mais adequado será para que não dependam apenas do conhecimento da língua portuguesa usada pelos ouvintes. O surdo precisa exercitar suas capacidades e percepções para afinar o processo de interpretação, que auxilia também sua desenvoltura na linguagem de sinais. Isso implica em ações didáticas que explorem o olhar, a expressão facial e corporal, o ritmo da gesticulação etc. Dessa maneira compõem um repertório de signos que auxiliam na comunicação e ampliam as possibilidades de interação. Amanda Tojal, pesquisadora da área de acessibilidade em museus, afirma: Na verdade, as experiências perceptivas desenvolvidas segundo a abordagem multissensorial possibilitam melhor compreensão da realidade, bem como das representações humanas e do meio ambiente, da mesma forma que exercitam e estimulam as potencialidades perceptivas de pessoas com ou sem deficiências e amplia as capacidades de reconhecimento e apreensão do mundo. (TOJAL, 2007 Apud CRUZ) 20 Metodologia de Artes Visuais, Música e Expressão Universidade Santa Cecília - Educação a Distância A abordagem multissensorial pode ser adaptada a todas as disciplinas, cabendo ao docente compor o seu planejamento curricular e criar materiais e atividades que enfatizem as experimentações e aprendizagens concretas sob múltiplas percepções. A aplicação em classes regulares possui potencial para gerar, por exemplo, outros moldes de análise, distintos dos que são aplicados comumente. A utilização de materiais multissensoriais é ferramenta importante para estimular o desenvolvimento de crianças e jovens surdos. Esses materiais contribuem, por exemplo, para aumentar a motivação e estimular a cognição. Oferecem oportunidade para a interpretação das situações em análise, criam uma conexão para a correlação do surdo com os temas em estudo e estimulam a usar novos princípios para solucionar acontecimentos concretos. Os materiais multissensoriais dão mais independência aos alunos, aproximam os alunos da temática investigada, proporcionam chance de visualizarem ações distintas e demonstram e estimularam os alunos a construírem imagens mentais variadas a respeito do assunto em estudo. Para saber mais sobre origens históricas e diferentes abordagens de métodos multissensoriais: OLIVEIRA, Anabela Ruas de. Intervenção multissensorial numa criança com dificuldades de aprendizagem na leitura do 2.º ano. Disponível em: https://comum.rcaap.pt/bitstream/10400.26/21872/1/ANABELA_OLIVEIRA.p df https://comum.rcaap.pt/bitstream/10400.26/21872/1/ANABELA_OLIVEIRA.pdf https://comum.rcaap.pt/bitstream/10400.26/21872/1/ANABELA_OLIVEIRA.pdf 21 Metodologia de Artes Visuais, Música e Expressão Universidade Santa Cecília- Educação a Distância Entrevista: João Duarte Jr. Revista Contrapontos - Eletrônica, Vol. 12 - n. 3 - p. 362-367 / set-dez 2012. Disponível em: http://siaiap32.univali.br/seer/index.php/rc/article/view/4039/2387 CANDA, Cilene Nascimento; BATISTA, Carla Meira Pires. Qual o lugar da arte no currículo escolar? R. cient. /FAP, Curitiba, v.4, n.2 p.107-119, jul. /dez. 2009. p. 109. Disponível em: http://www.fap.pr.gov.br/arquivos/File/RevistaCientifica4vol2/07_artigo_Cil ene_Canda_Carla_Batista.pdf CASTILHO, Ana Lúcia Serrou; FERNANDES, Vera Lúcia Penzo. Questão estética no ensino de artes no ensino fundamental. Disponível em:http://www.histedbr.fae.unicamp.br/acer_histedbr/jornada/jornada7/_ GT4%20PDF/QUEST%C3O%20EST%C9TICA%20NO%20ENSINO%20DE%20ART ES%20NO%20ENSINO.pdf. CORRÊA, Ayrton Dutra (org.). Ensino das Artes Visuais - mapeando o process o criativo. Santa Maria: Editora da UFSM, 2008. CRUZ, ANDREZA NUNES REAL DA. Aula de arte para surdos: criando uma prática de ensino. Disponível em: https://repositorio.unesp.br/bitstream/handle/11449/143081/cruz_anr_me_ ia.pdf;jsessionid=46D226D32B0CE05B96BC9C7174958116?sequence=3 OLIVEIRA, Anabela Ruas de. Intervenção multissensorial numa criança com dificuldades de aprendizagem na leitura do 2.º ano. Disponível em: https://comum.rcaap.pt/bitstream/10400.26/21872/1/ANABELA_OLIVEIRA.p df SOLER, M. A. Didáctica multisensorial de las ciencias: um nuevo método para alunos ciegos, deficientes visuales, y también sin problemas de visión. Barcelona: Paidós, 1999. TROJAN. Estética da sensibilidade como princípio curricular. Disponível em: http://publicacoes.fcc.org.br/ojs/index.php/cp/article/view/481/485 http://siaiap32.univali.br/seer/index.php/rc/article/view/4039/2387 http://www.fap.pr.gov.br/arquivos/File/RevistaCientifica4vol2/07_artigo_Cilene_Canda_Carla_Batista.pdf http://www.fap.pr.gov.br/arquivos/File/RevistaCientifica4vol2/07_artigo_Cilene_Canda_Carla_Batista.pdf http://www.histedbr.fae.unicamp.br/acer_histedbr/jornada/jornada7/_GT4%20PDF/QUEST%C3O%20EST%C9TICA%20NO%20ENSINO%20DE%20ARTES%20NO%20ENSINO.pdf http://www.histedbr.fae.unicamp.br/acer_histedbr/jornada/jornada7/_GT4%20PDF/QUEST%C3O%20EST%C9TICA%20NO%20ENSINO%20DE%20ARTES%20NO%20ENSINO.pdf http://www.histedbr.fae.unicamp.br/acer_histedbr/jornada/jornada7/_GT4%20PDF/QUEST%C3O%20EST%C9TICA%20NO%20ENSINO%20DE%20ARTES%20NO%20ENSINO.pdf https://repositorio.unesp.br/bitstream/handle/11449/143081/cruz_anr_me_ia.pdf;jsessionid=46D226D32B0CE05B96BC9C7174958116?sequence=3 https://repositorio.unesp.br/bitstream/handle/11449/143081/cruz_anr_me_ia.pdf;jsessionid=46D226D32B0CE05B96BC9C7174958116?sequence=3 https://comum.rcaap.pt/bitstream/10400.26/21872/1/ANABELA_OLIVEIRA.pdf https://comum.rcaap.pt/bitstream/10400.26/21872/1/ANABELA_OLIVEIRA.pdf http://publicacoes.fcc.org.br/ojs/index.php/cp/article/view/481/485 22 Metodologia de Artes Visuais, Música e Expressão Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 4. ARTE - EDUCAÇÃO “A função da arte é o aprimoramento da consciência humana”. Herbert Read, 1957. Antes de falarmos sobre objetivos, métodos e estratégias para a arte na educação de crianças e jovens surdos precisamos conhecer um pouco sobre o ensino da arte. Historicamente a relação entre o ensino da arte e as tendências pedagógicas pode ser dividido em cinco momentos. O primeiro é marcado pela influência da pedagogia tradicional. Segundo Ferraz e Fusari (1993, p. 30) as aulas sobre a influência da pedagogia tradicional usaram o desenho como principal conteúdo do ensino da arte, optando por uma ênfase utilitária, de preparação para o trabalho. A aprendizagem era realizada por meio de atividades com ênfase na repetição, no exercício da mão, na memorização, no refinamento do gosto e no senso de moral. Apesar da introdução, a partir dos anos 1950, da música, canto orfeônico e trabalhos manuais, a relação com a aprendizagem continuou a ser “[...] reprodutivista, desvinculando-se da realidade social e das diferenças individuais” (FERRAZ; FUSARI, 1993, p. 31), centrado no professor. A segunda grande tendência no Brasil foi a Pedagogia Nova também conhecida como movimento Escola Nova. Segundo Ferraz e Fusari (1993, p. 31), esse movimento, originário da Europa e Estados Unidos ainda no século XIX, repercutiu no Brasil nos anos 1930, mas ganhou destaque a partir dos anos 1950 e 1960, com escolas experimentais. 23 Metodologia de Artes Visuais, Música e Expressão Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Os teóricos de referência dessa tendência foram os americanos John Dewey e Victor Lowenfeld, assim como o inglês Herbert Read. As ideias presentes a essas teorias reforçaram a importância da arte como expressão. Em 1948, Augusto Rodrigues inicia a criação de uma “escolinha de arte” no Rio de Janeiro; com base nos princípios da Escola Nova. Buscava-se que a criança, por meio da arte, tivesse comportamentos mais criativos e “mais harmoniosos”, vendo a criança em seu aspecto global. A ênfase não era dada sobre o resultado ou produto artístico, mas sobre o processo vivenciado a partir de experiências com arte, um “aprender fazendo”. A influência dessa concepção se revela, por exemplo, no uso do desenho livre e na negação das influências exercidas por professores e pelos outros alunos, tanto sobre o processo, como sobre o resultado final das investidas artísticas da criança. A terceira tendência que repercutiu no Brasil é a Tecnicista que surgiu entre os anos 1960 e 1970. Nessa forma de pedagogia tanto aluno como professor ocupam papéis secundários. Em primeiro lugar está o sistema técnico de organização do curso e da aula, muito conhecido pelo uso de apostilas e materiais didáticos confeccionados a priori. (FERRAZ; FUSARI, 1993, p. 32). No contexto tecnicista a arte também recebe um tratamento padronizado. Os objetivos da aprendizagem valorizam a capacidade de “saber construir”, saber executar técnicas e atividades com uso de materiais diversificados e ênfase no produto que será obtido por meio da habilidade. Sua influência permanece, por exemplo, quando o professor planeja uma sequência de propostas técnicas, enfatizando o domínio de habilidades manuais dissociados das relações de linguagem, teoria ou filosofia da arte. A quarta ação pedagógica repercute ainda nos anos 1960, com as ideias desenvolvidas por Paulo Freire para a educação brasileira. Sua proposta é voltada ao “diálogo educador-educando e visando à consciência crítica” (FERRAZ; FUSARI, p. 33) e serviram de inspiração para muitos educadores, inclusive Ana Mae Barbosa, a educadora que foi um marco para as mudanças no ensino de Arte que repercutem até os dias atuais. 24 Metodologia de Artes Visuais, Música e Expressão Universidade Santa Cecília - Educação a Distância As ideias organizadas por Ana Mae ficaram conhecidas com o nome de Proposta Triangular por basearem-se em um tripé: fazer arte, leitura de obra de arte e história da arte. Esta proposta foi aplicada nos anos 1990, no MAC - Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo e no Rio Grande do Sul, pela fundação Iochpe e Universidade Federal. Suas ideias migraram para as aulas de arte do ensino básico, sofrendo transformações, adaptações, acréscimos e mesmo deturpações. A quinta ideia importante é o sócioconstrutivismo. Esta teoria privilegia a noção de “construção” do conhecimento, nas relações entre sujeito e objeto, buscando superar as concepções que focam apenas o empirismo (condições ligadas às percepções). Essa postura pedagógica se opõe a rigidez e padronização de avaliações, relações pedagógicas e a restrição de materiais didáticos. A aprendizagem acontece principalmente pela resolução de problemas, criação e interpretaçãode situações e convívio com dúvidas. Critérios são criados para a formação de boas situações de aprendizagem. Nesse contexto, a construção e a interação são fatores de aprendizagem. Essas duas últimas tendências dividem, atualmente, o campo de forças do ensino de arte com a Cultura Visual, cujo representante de maior alcance no Brasil é o espanhol Hernández (2000), defendendo a ideia de educar para a compreensão da cultura visual. Em síntese é uma área de estudo que se ocupa da diversidade do universo de imagens. Busca entender a própria produção visual como prática social, cultural e política. O fundamento do estudo com base na cultura visual é que “a visão é uma construção cultural, que é aprendida e cultivada, não simplesmente dada pela natureza e que, por conseguinte, tem um percurso histórico que precisa ser avaliado”. (PEGORARO) 25 Metodologia de Artes Visuais, Música e Expressão Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Como metodologia a Cultura Visual lança mão da interpretação crítica. Uma investigação dos valores da imagem em meio ao contexto da cultura e das artes, por meio de questionamentos que propiciam essa investigação. Isso significa: aprender a fazer questionamentos que revelem as implicações culturais e as relações de poder implícitas e explícitas em que determinadas produções – da arte ou do mundo - estão sendo produzidas e consumidas. Pensando no universo cultural surdo, o professor precisa aprender a construir questões que estimulem a capacidade de análise e interpretação para que o sujeito surdo produza significados que o ajudem a exprimir seu universo pessoal e as especificidades de sua experiência com a linguagem, valorizando e ampliando sua capacidade de comunicação. Para realizar a leitura de imagem com crianças surdas temos de considerar também: Para o desenvolvimento de todas essas atividades com crianças surdas faz-se necessário que haja adequações, flexibilizações e adaptações curriculares. As crianças possuem uma natureza singular, que as caracteriza como seres que sentem e pensam o mundo de um jeito muito próprio. Nas interações que estabelecem desde cedo com as pessoas que lhe são próximas e com o meio que as circunda, as crianças revelam seu esforço para compreender o mundo em que vivem, as relações contraditórias que presenciam e, por meio das brincadeiras, explicitam as condições de vida a que estão submetidas e seus anseios e desejos. No processo de construção do conhecimento, as crianças utilizam as mais diferentes linguagens e exercem a capacidade que possuem de ter ideias e hipóteses originais sobre aquilo que buscam desvendar. Nessa perspectiva, as crianças constroem o conhecimento a partir das interações que estabelecem com as outras pessoas e com o meio em que vivem. (LIMA, p. 53) 26 Metodologia de Artes Visuais, Música e Expressão Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Para conhecer mais sobre "TENDÊNCIAS E CONCEPÇÕES DO ENSINO DE ARTE NA EDUCAÇÃO ESCOLAR BRASILEIRA: UM ESTUDO A PARTIR DA TRAJETÓRIA HISTÓRICA E SÓCIO-EPISTEMOLÓGICA DA ARTE/EDUCAÇÃO": http://30reuniao.anped.org.br/grupo_estudos/GE01-3073--Int.pdf AS TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS NO ENSINO DE ARTES: http://ead.bauru.sp.gov.br/efront/www/content/lessons/41/Apresenta%C3 %A7%C3%A3o%20Arte%20-%20Coordenadoras%20Pedag%C3%B3gicas.pdf Para saber mais sobre a história do ensino de arte no Brasil - vídeo em que a educadora Ana Mae Barbosa resgata aspectos importantes da história desse ensino: https://www.youtube.com/watch?v=kN5QKUllhX8&list=PLSsDcxd3Owkq9s- 5EfG8z7QFbCsyagcnE&index=6 CRUZ, ANDREZA NUNES REAL DA. Aula de arte para surdos: criando uma prática de ensino. Disponível em: https://repositorio.unesp.br/- bitstream/handle/11449/143081/cruz_anr_me_ia.pdf;jsessionid=46D226D32 B0CE05B96BC9C7174958116?sequence=3 FERRAZ, Maria Heloisa Corrêa de Toledo; FUSARI, Maria Felisminda de Rezende e. Metodologia do ensino de arte. São Paulo: Ed. Cortez, 1993. HERNANDÉZ, Frenando. Cultura visual, mudança educativa e projetos de trabalho. Porto Alegre: Artmed, 2000. LIMA, Daisy Maria Collet de Araújo Lima. Educação infantil: Saberes e práticas de inclusão. Dificuldades de comunicação e sinalização. Surdez. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/surdez.pdf PEGORARO, Éverly. Estudos da Cultura Visual e Estudos Culturais: aproximações e divergências. Disponível em: http://confibercom.org/- anais2011/pdf/112.pdf. Último acesso em out. 2020. PEREIRA, Janaí de Abreu. Narrativas visuais: o silenciamento do ensino de arte para surdos. Disponível em: http://anpap.org.br/anais/2017/PDF/EAV/- 26encontro______PEREIRA_Jana%C3%AD_de_Abreu.pdf http://30reuniao.anped.org.br/grupo_estudos/GE01-3073--Int.pdf http://ead.bauru.sp.gov.br/efront/www/content/lessons/41/Apresenta%C3%A7%C3%A3o%20Arte%20-%20Coordenadoras%20Pedag%C3%B3gicas.pdf http://ead.bauru.sp.gov.br/efront/www/content/lessons/41/Apresenta%C3%A7%C3%A3o%20Arte%20-%20Coordenadoras%20Pedag%C3%B3gicas.pdf https://www.youtube.com/watch?v=kN5QKUllhX8&list=PLSsDcxd3Owkq9s-5EfG8z7QFbCsyagcnE&index=6 https://www.youtube.com/watch?v=kN5QKUllhX8&list=PLSsDcxd3Owkq9s-5EfG8z7QFbCsyagcnE&index=6 https://repositorio.unesp.br/-bitstream/handle/11449/143081/cruz_anr_me_ia.pdf;jsessionid=46D226D32B0CE05B96BC9C7174958116?sequence=3 https://repositorio.unesp.br/-bitstream/handle/11449/143081/cruz_anr_me_ia.pdf;jsessionid=46D226D32B0CE05B96BC9C7174958116?sequence=3 https://repositorio.unesp.br/-bitstream/handle/11449/143081/cruz_anr_me_ia.pdf;jsessionid=46D226D32B0CE05B96BC9C7174958116?sequence=3 http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/surdez.pdf http://confibercom.org/anais2011/pdf/112.pdf http://confibercom.org/anais2011/pdf/112.pdf 27 Metodologia de Artes Visuais, Música e Expressão Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 5. ENSINAR A APRENDER ARTE No final dos anos 1990, as tendências da Proposta Triangular e sócioconstrutivista influenciaram a criação, tanto do Referencial Nacional da Educação Infantil, como dos Parâmetros Curriculares para o Ensino Fundamental e Médio das diferentes áreas do conhecimento. Materiais que há quase meio século chamam a atenção de professores e gestores para a necessidade de renovação do ensino da arte. Para que todo esse potencial aflore é preciso apresentar a arte para a criança, deixá-la apropriar-se de seus processos e princípios. A principal tendência para o ensino de arte na atualidade apresenta a necessidade de que o professor seja um mediador entre a criança e o universo artístico e para isso as propostas devem relacionar três eixos ou ações que devem ser organizadas pelo professor. Esses eixos são: o fazer artístico, a leitura de obras de arte e a contextualização da arte. Vamos conhecer um pouco do caráter e a contribuição de cada um desses eixos? Iniciaremos pela prática da arte. Sintetizando podemos dizer que o fazer ou produção artística é uma oportunidade para o aluno desenvolver um percurso próprio de criação na prática da Arte. Um momento para que ele crie segundo as suas experiências, possibilidades e expectativas. A etapa da produção é a oportunidade de o aluno testar, conhecer e escolher diferentes cores, formatos, gestos, movimentos corporais e sons. É o momento de mostrar suas escolhas, mudar de ideia, decidir novamente. "O estudante deve ter a chance de experimentar com diferentes formas e procedimentos para desenvolver um percurso próprio", diz Rosa Lavelberg. "O caminho é favorecer a criação com propostas instigantes. Assim, a produção dialoga com diferentes referências e alimenta a poética pessoal", diz Mirian Celeste Martins, do programa de pós-graduação em Educação, Arte e História da Cultura da Universidade Mackenzie,na capital paulista. (SANTOMAURO) 28 Metodologia de Artes Visuais, Música e Expressão Universidade Santa Cecília - Educação a Distância E, o que isso quer dizer? Que desenhar, pintar, modelar, ou fotografar deve ser uma experiência importante, criativa, em que a criança faz uma busca pessoal por sentido usando da linguagem visual. Por meio da arte a criança tem a oportunidade de organizar o seu mundo interior, suas experiências e intenções. Mas, para fazer isso ela depende do aprendizado dessa linguagem. Da mesma forma que aprendemos a ler e escrever a língua mãe, precisamos aprender a nos expressar visualmente e é aí que entra o segundo eixo: a leitura de imagem. Mas, o que seria isso? O momento em que as imagens são apresentadas e olhamos para elas com interesse renovado, pela organização didática dessa experiência. Olhamos com atenção para as imagens da arte para perceber como foram realizadas, quais aspectos da linguagem o artista usou, como são as cores, as formas e etc. para aprendermos a tirar partido dessas soluções e as utilizarmos também. A leitura de imagem também é chamada de apreciação ou fruição e pode ser sintetizada como a oportunidade para a ampliação do repertório dos estudantes, mas seu papel é bem mais amplo. Durante as atividades de apreciação, a turma aumenta o repertório. Ao ampliar a variedade de produções que conhece e ao analisar, o aluno estabelece ligações com o que já sabe e "constrói conhecimentos", como diz Marisa Szpigel. Essa parte do trabalho é feita em visitas a instituições culturais1, teatros e espaços para shows e outras apresentações artísticas que permitam desenvolver o pensamento crítico e perceber como a arte afeta cada um. (SANTOMAURO) O terceiro eixo desse tripé é constituído pela possibilidade de reflexão e/ou contextualização da arte. 1 As visitas a exposições e outros locais culturais não são a única forma de contato com a arte para realizar a apreciação. Essa leitura também pode ser realizada pela apresentação de imagens projetadas ou impressas de obras na própria sala de aula. 29 Metodologia de Artes Visuais, Música e Expressão Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Toda imagem tem uma história. Ela foi realizada por alguém, em algum lugar e com algum tipo de propósito. A pesquisa procura revelar aspectos da obra com os quais podemos nos relacionar hoje, a partir da das nossas experiências atuais, atribuindo novos significados a essa obra. Já a fase da reflexão é uma espécie de complemento da apreciação. A diferença é sutil: ela tem lugar quando o estudante analisa o que viu e ouviu. Sabendo que aquele objeto artístico foi criado em determinado contexto e que faz parte de uma história, torna-se capaz de entender os significados atribuídos a ele. Daí a importância das discussões em classe (e da leitura de críticas e resenhas) para todos observarem que há outras maneiras de entender a arte. Registros escritos também favorecem a expressão de ideias. (SANTOMAURO) Espero que tenha ficado instigado (a) a conhecer mais sobre os três eixos de ensino aprendizagem da arte e, especialmente a leitura de imagem. Sobre como essa leitura pode auxiliar a criança surda a produzir sentidos e representações para as suas vivências. Nesse sentido é importante destacar a necessidade de criação de espaços para que a criança surda possa materializar suas ideias de forma adequada a seu potencial e suas necessidades. Tanto para a organização de espaços físicos quanto para os espaços de expressão e representação. Sobre a organização de espaços físicos devemos atentar que: O professor pode organizar centros de atividades, que nada mais são do que uma área da sala de aula onde são oferecidos materiais baseados em uma área de conteúdo ou tópico, para estimular a aprendizagem da criança. Nos centros de atividades, deve-se considerar os interesses das crianças, estimular uma aprendizagem significativa, atender às atividades oferecidas, observando-se os níveis de desenvolvimento das crianças e suas experiências anteriores, possibilitando, assim, que aprendam em seu próprio ritmo sobre o mundo ao seu redor, manipulando objetos, construindo, dialogando e assumindo diferentes papéis. (LIMA) 30 Metodologia de Artes Visuais, Música e Expressão Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Já em relação a criação de um espaço signico, que incentive múltiplas possibilidades de expressão temos: As artes visuais constituem o campo mais fértil de possibilidades para expressão do potencial das crianças surdas, uma vez que não há dificuldades em desenvolver atividades de artes visuais com elas, a não ser que envolvam comentários e leituras de imagens realizadas só oralmente. Sua criatividade deve ser estimulada pelo professor, de forma que possa perceber, pensar, imaginar, sentir e expressar o mundo em que vive. O fazer artístico do aluno deve ser visto como desenvolvimento de suas potencialidades criativas e como experiência de comunicação humana e de interação no grupo. A produção artística visual deve ser desenvolvida em espaços diversos por meio de desenho, pintura, colagem, gravura, escultura e outros, concretizando as próprias intenções, suas qualidades expressivas e construtivas. (LIMA, p. 57) BARBOSA, Ana Mae; CUNHA, Fernanda Pereira da. Abordagem Triangular no ensino das artes e culturas visuais. Rio de Janeiro: Cortez, 2010. FERRAZ, Maria Heloisa Corrêa de Toledo; FUSARI, Maria Felisminda de Rezende e. Metodologia do ensino de arte. São Paulo: Ed. Cortez, 1993. LIMA, Daisy Maria Collet de Araújo Lima. Educação infantil: Saberes e práticas de inclusão. Dificuldades de comunicação e sinalização. Surdez. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/surdez.pdf SANTOMAURO, Beatriz. O que ensinar em Arte. Disponível em: http://revistaescola.abril.com.br/formacao/conhecer-cultura-soltar- imaginacao-427722.shtml?page=0. http://revistaescola.abril.com.br/formacao/conhecer-cultura-soltar-imaginacao-427722.shtml?page=0 http://revistaescola.abril.com.br/formacao/conhecer-cultura-soltar-imaginacao-427722.shtml?page=0 31 Metodologia de Artes Visuais, Música e Expressão Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 6. A LEITURA DE IMAGEM NO CONTEXTO DA PROPOSTA TRIANGULAR “Numa obra de arte bem-sucedida a forma é inseparável do conteúdo. A aparência não é arbitrária. Mas não há fórmula que permita assegurar sua unidade: ela é particular a cada obra e é isso que faz seu valor”. John Berger, 1970. Ao ler o texto abaixo pense em como seria a leitura visual para a criança surda. Quais interpretações a criança surde faria? Haveria diferença de interpretações entre crianças surdas e crianças ouvintes? Quão enriquecedoras poderiam ser as significações criadas por crianças surdas para ampliar nosso olhar? E ainda: durante os exercícios de interpretação de imagem, na escola regular, as crianças surdas têm sido atendidas em suas necessidades de comunicação? Elas encontram espaço para expressar suas experiências expectativas, seus anseios, alegrias e temores entre outras ideias e sentimentos? Para voltarmos ao tema da leitura de imagem é importante lembrar: Ana Mae Barbosa é a educadora responsável pela organização da chamada Proposta Triangular. Sua abordagem para a arte e a leitura de imagem na Educação Infantil pode ser compreendida no trecho transcrito a seguir apresentado originalmente no livro Abordagem Triangular no ensino das artes e culturas visuais (2010, p.287-294) dessa educadora. 6.1. As leituras das crianças do Jardim B A partir de um projeto maior – Resgatando brincadeiras infantis – busquei uma forma diferenciada de trabalhar com jogos e brincadeiras em salade aula. Para isso, selecionei três reproduções de pinturas de dois artistas nacionais e um estrangeiro que apresentam brincadeiras infantis como tema para que as crianças fizessem suas leituras a partir dessas imagens. 32 Metodologia de Artes Visuais, Música e Expressão Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Na sala de aula, com as crianças sentadas em roda, apresentei as reproduções das três obras; cada um deles em momento diferente do projeto. Primeiro eu mostrava a obra ao mesmo tempo para todas as crianças e deixava que elas falassem suas impressões sobre a mesma. Em seguida, eu passava a imagem para que cada criança a olhasse em suas mãos e, individualmente fizesse comentários sobre ela. Nesse momento todas as crianças presentes falavam sobre a imagem. Nenhum dos alunos negou-se a expressar suas opiniões sobre as pinturas, o que possibilitou que esses momentos fossem riquíssimos. Meus objetivos com essa proposta foram: proporcionar às crianças o contato com reproduções de obras de arte, nesse caso, pinturas, de diferentes autores e também possibilitar à turma um olhar reflexivo frente a essas produções, pois a partir desse exercício elas poderiam se tornar capazes de “compreender e avaliar todo tipo de imagens. ” (BARBOSA, 1995, p.14) A primeira imagem apresentada foi uma reprodução da pintura de Milton da Costa, Roda (figura 1) de 1942, a qual retrata um grupo de meninas brincando de roda em um espaço externo. Assim que apresentei a obra para as crianças, perguntei-lhes o que elas estavam vendo, o que essas pessoas estão fazendo, onde elas estão... Apresento agora algumas das leituras das crianças frente à imagem: • “Elas estão rezando porque é de noite”. (Gabriel) • “Elas primeiro construíram uma barraca, depois foram brincar de roda”. (Ana) • “Elas estão dançando”. (Nathali) Figura 1 - Roda, Milton da Costa, 1942. Fonte: http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/bndes/bndes_pt/Area s_de_Atuacao/Cultura/Galeria/2004_espaco_ludico.html - Acesso março 2015. http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/bndes/bndes_pt/Areas_de_Atuacao/Cultura/Galeria/2004_espaco_ludico.html http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/bndes/bndes_pt/Areas_de_Atuacao/Cultura/Galeria/2004_espaco_ludico.html 33 Metodologia de Artes Visuais, Música e Expressão Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Sobre a leitura que as crianças fizeram em relação a essa imagem foi possível perceber que na leitura de Nathali, por exemplo, ficou evidente o quanto essa significação atribuída por ela – “Elas estão dançando” – está relacionada com sua realidade, com sua vivencia, tendo em vista que ela foi a única a fazer a relação da Roda como sendo uma dança. Penso que, provavelmente, isso se deve ao fato de ela fazer balé duas vezes por semana e a cena apresentada na obra assemelhar-se a alguma das coreografias aprendida, fazendo-a relacionar as duas situações: a brincadeira de roda e o dançar. A influência das aulas de dança na leitura de Nathali também aparece no sentido que ela atribuiu à obra Na rua que apresentarei em outro momento desse texto, mais adiante. Assim também, é interessante pensar na leitura de Gabriel essa imagem de arte: “eles estão rezando, porque é de noite”; o aluno provavelmente atribuiu esse significado a obra porque o hábito de rezar deve fazer parte de seu dia a dia a ser realizado à noite, antes de dormir. A segunda imagem foi uma pintura de Auguste Renoir intitulada Gabriele e Jean (figura 2), de 1895, que representa uma mulher e uma criança brincando com uma boneca e algumas miniaturas de animais de brinquedo sobre uma mesa no interior de uma casa. Depois de apresentar a imagem, fiz os seguintes questionamentos para as crianças: Quais cores tem na tela? De que essas pessoas estão brincando? Que títulos vocês dariam para essa obra? Estas foram suas leituras: • “Uma mãe e um bebê brincando de celeiro”. (Ana) • “A mãe tá brincando com o bebê”. (Carolina) • “A mãe e a filhinha tão brincando. Ela tá fazendo assim (mostra o movimento com a mão) com a boneca”. (Nathali) • “A mulher e a criança, que não é um bebê, é um menino, tão brincando de celeiro”. (Gabriel) • “A mãe e a filha tão brincando de fazenda”. Julia) Figura 2 - Pierre Auguste Renoir – “Gabriele e Jean”, 1895. Fonte: http://fineartamerica.com/featured/renoir- gabrielle-and-jean-granger.html - Acesso março de 2015 http://fineartamerica.com/featured/renoir-gabrielle-and-jean-granger.html http://fineartamerica.com/featured/renoir-gabrielle-and-jean-granger.html 34 Metodologia de Artes Visuais, Música e Expressão Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Foi interessante perceber na leitura das crianças sobre essa obra que somente uma delas disse que quem estava brincando com a mulher ou a mãe era um menino. Olhar para a criança da pintura e indicá-la como uma menina – o que aconteceu com a maioria das crianças – talvez tenha ocorrido pelo fato de a criança que está representada nessa pintura ter os cabelos quase na altura do ombro e usar vestimenta de época (1895), o que deixa dúvidas sobre seu sexo, e, ainda, por ser esta criança quem está segurando a boneca. Como normalmente e socialmente são as meninas que brincam de boneca, a maioria das crianças da turma do Jardim B rapidamente concluiu que aquela criança era uma menina. No momento em que deixei as crianças expor suas opiniões não quis intervir com questionamentos, pois como a situação ocorreu na rodinha, pensei que esse tipo de mediação pudesse influenciar a opinião das outras crianças, e o meu interesse naquele momento era perceber qual a significação que as crianças iriam atribuir para a obra, nesse primeiro contato com ela. É importante o professor intervir com o intuito de fazer a criança pensar sobre a opinião e aprofundá-la, mas esse não era o objetivo nesse momento. A última imagem que apresentei para as crianças foi Na Rua (1940) de Carlos Scliar (figura 3). Ela mostra crianças brincando de jogar bola de gude na rua. Deixei que as crianças expusessem suas opiniões. Elas atribuíram os seguintes significados para essa obra: • “Eles tão brincando de bolinha e as mulheres tão olhando”. (Julia) • “São chineses”. Gabriel • “Eles estão jogando bolinha de gude”. (Gabriela) • “Os meninos tão jogando e as meninas tão se vestindo para ir no balé. ” (Nathali) • “Eu acho que eles são escravos e estão jogando bolinha e tão tristes”. (Helena) Figura 3 – Carlos Scliar – Na rua – 1940 Fonte:http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa9898 /carlos-scliar - Acesso março de 2015 http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa9898/carlos-scliar http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa9898/carlos-scliar 35 Metodologia de Artes Visuais, Música e Expressão Universidade Santa Cecília - Educação a Distância A significação, por exemplo, de Nathali expressou a partir dessa obra-Os meninos tão jogando e as meninas tão se vestindo para ir no balé – demonstra o quanto os sentidos atribuídos a uma imagem estão comprometidos com o contexto e com vivencias de cada leitor, tendo em vista que ela, fez aulas de balé, estando a dança muito presente em sua vida. Talvez por esse motivo ela enxergou na obra meninas que estavam se arrumando para ir ao balé, algo que normalmente ela faz. Foi curioso perceber que nessa obra não há, ao menos não explicitamente, meninas representadas, só meninos. Mas analisando a obra e buscando atribuir sentido a ela, percebi que há uma pessoa que está afastada e, por esse motivo, não é possível visualizar com clareza seu rosto nem tampouco sua vestimenta. Assim, não é possível definir com certeza se essa pessoa está usando vestido, saia, calça ou bermuda, o que instaura a dúvida no leitor que não pode afirmar se a figura representada é um menino oumenina. Para Nathali é uma menina. Ao analisar as significações das crianças, pude perceber que elas foram bem diversificadas, especialmente para esta última imagem. Tal diversidade de leituras revela que cada indivíduo explicitamente, ou não, relaciona o visto com o vivido ao fazer analises desse tipo. Também foi possível notar que suas leituras partiram do que estava posto nas imagens, mesmo que em um primeiro momento nos cause estranhamento. Como, por exemplo, quando o aluno Gabriel visualiza “chineses” na obra se Scliar, contudo, sua leitura não foi aleatória, tendo em vista que o estilo da pintura do artista faz com que os olhos dos meninos representados remetam aos olhos de pessoas dessa etnia. Desta forma, a leitura realizada por esse aluno torna-se ainda mais compreensível e instigante, ao levarmos em consideração que, segundo a teoria semiótica, a leitura de qualquer imagem deve sempre partir dos elementos presentes na imagem. Os sentidos atribuídos Como pudemos observar, no item anterior, as leituras das crianças em relação à mesma imagem foram diversificadas. Isso não é de se estranhar, uma vez que, de acordo com Pillar: O olhar de cada indivíduo está impregnado com experiências anteriores, associações, lembranças, fantasias, interpretações etc. O que se vê não é o dado real, 36 Metodologia de Artes Visuais, Música e Expressão Universidade Santa Cecília - Educação a Distância mas aquilo que se consegue captar e interpretar acerca do visto, o que nos é significativo. (2001, p.13). A partir da afirmação da autora, pude perceber que as crianças fizeram essas leituras, e nas outras, devido aos elementos que estavam presentes nas imagens e também em virtude de suas vivencias e lembranças. Uma vez que o ato de olhar está comprometido com o passado, tendo em vista que, segundo Rossi (2003, p.19) “o significado surge a partir do mundo do leitor, pois não existe interpretação desconectada do mundo que se vive”. Dessa forma, duas pessoas podem ler a mesma imagem e chagar a conclusões completamente diferentes. Essas diferentes atribuições de significado se devem, também, ao fato de que, conforme a teoria semiótica, o sentido não está pronto e acabado nos textos, mas ele surgirá na relação entre o destinador (nesse caso as obras de arte) e o destinatário (as crianças). A esse respeito, Oliveira afirma que “a semiótica [...] fundamenta que o significado não está nas coisas, na ordem do mundo, mas na ordem da cultura [...]” (2008, p.28). Nessa perspectiva, o sentido não está nos objetos, mas na relação que o leitor estabelece com eles. Assim, o significado de determinado objeto ou imagem dificilmente será o mesmo para duas pessoas. Ema vez que, na busca por dar sentido ao mundo e ao que vê, cada leitor utiliza-se de seus conhecimentos prévios e suas vivencias. Algumas considerações Finalizo este texto reiterando a importância da Abordagem Triangular para a educação das Artes Visuais e para a formação dos alunos, especialmente, para esse texto, a relevância de uma Abordagem que possibilite aos educandos um momento para apreciar imagens e pensar sobre o que estão vendo, tendo em vista que na atualidade vivemos rodeados por imagens e não fomos educados para pensar criticamente sobre elas. Em relação a quantidade de imagens com as quais convivemos na atualidade, Rossi afirma que “hoje vivemos na chamada civilização da imagem” (2003, p.9). Dessa forma, somente a partir da análise crítica dessas imagens temos consciência de que 37 Metodologia de Artes Visuais, Música e Expressão Universidade Santa Cecília - Educação a Distância “somos destinatários de mensagens que pretendem impor valores, ideias e comportamentos que não escolhemos.” (Ibid.) A leitura crítica realizada pelos alunos frente às imagens, como já fiz referência anteriormente, partirá de suas competências de leitura e de seus repertórios. Dessa forma é de fundamental importância que os professores explorem, respeitem e valorizem as suas diferentes leituras. Para conhecer técnicas e materiais para a prática da arte, parte do livro "300 PROPOSTAS DE ARTES VISUAIS" de Ana Tatit e Maria Silvia Machado: https://books.google.com.br/books?id=klS88LTYQFkC&printsec=frontcover& hl=pt-BR&source=gbs_ge_summary_r&cad=0#v=onepage&q&f=false BARBOSA, Ana Mae; CUNHA, Fernanda Pereira da. Abordagem Triangular no ensino das artes e culturas visuais. Rio de Janeiro: Cortez, 2010. CUNHA, Susana Rangel Vieira da. Como vai a Arte na Educação Infantil? Disponível em: http://brincarjogarepensar.blogspot.com.br/2009/10/como- vai-arte-na-educacao.html FERRAZ, M.H.C.T. e FUSARI, M.F.R. Metodologia do ensino da arte. São Paulo: Cortez, 1993 SANTOMAURO, Beatriz. O que ensinar em Arte. Disponível em: http://revistaescola.abril.com.br/formacao/conhecer-cultura-soltar- imaginacao-427722.shtml?page=0 – LIMA, Daisy Maria Collet de Araújo Lima. Educação infantil: Saberes e práticas de inclusão. Dificuldades de comunicação e sinalização. Surdez. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/surdez.pdf https://books.google.com.br/books?id=klS88LTYQFkC&printsec=frontcover&hl=pt-BR&source=gbs_ge_summary_r&cad=0#v=onepage&q&f=false https://books.google.com.br/books?id=klS88LTYQFkC&printsec=frontcover&hl=pt-BR&source=gbs_ge_summary_r&cad=0#v=onepage&q&f=false http://brincarjogarepensar.blogspot.com.br/2009/10/como-vai-arte-na-educacao.html http://brincarjogarepensar.blogspot.com.br/2009/10/como-vai-arte-na-educacao.html http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/surdez.pdf 38 Metodologia de Artes Visuais, Música e Expressão Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 7. ARTES VISUAIS E SURDEZ “A nossa condição não nos define, podemos ser mais do que esperam de nós. A arte é uma forma de mostrar que existimos, que estamos aqui ao lado de vocês, ouvintes. Queremos nos expressar, nos comunicar e ser ouvidos”. Odrus. Para falarmos das artes visuais em relação às experiências de crianças e jovens surdos precisamos lembrar que, apesar de todo o esforço para que a inclusão seja real e coerente, dentro do processo de desenvolvimento da escolaridade ainda enfrentamos preconceitos baseados na ideia de que os surdos são deficientes e que é necessário devolver a eles a “normalidade” para que possam conviver dentro do grupo dito “normal”. Essa visão estereotipada da surdez e do surdo ignora que há outros processos de linguagem para expressar e representar as vivências desses sujeitos. Entre as linguagens a visual é das mais importantes dentro da cultura surda, mas há pouca literatura especializada que aborda os processos de criação a partir de experiências de surdos e seu repertório de linguagens. Tampouco há referências aprofundadas sobre métodos que sejam específicos para a aprendizagem das artes visuais para surdos. Em síntese o trabalho com artes visuais precisa ser significativo para o surdo, apresentando questões que encontrem pertinência em sua cultura. Mas também há de considerar as questões específicas da área, que são apontadas pelos documentos, ponderar sobre as questões metodológicas, conhecer as adaptações visuais necessárias e especialmente Libras. 39 Metodologia de Artes Visuais, Música e Expressão Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Como os surdos utilizam para a sua comunicação a visão, na arte eles encontram a satisfação para expressarem o que sentem, o que pensam, o que vivenciam. Suas produções artísticas visam mostrar um pouco sobre o ser surdo, sua história, sua língua, as emoções do surdo e tentar desvendar formas possíveis de entender a cultura surda. Suas manifestações também podem expor a história de luta e opressão que muitos surdos sofreram no passado e
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