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1 01 Aula O surgimento da Filosofia – Os Pré-Socráticos 1 Filosofia Por que a Filosofia surgiu na Grécia? Quando falamos em Grécia, é evidente que você não deve pensar nesse país que existe hoje. A Grécia que foi berço da Filosofia abrigou algumas centenas de milhares de pessoas espalhadas em cidades-Estados, muitas das quais rivais entre si. Os gregos não eram, portanto, um país como entendemos hoje, mas eram um povo, com uma língua, cultura e religião comuns. Com a expansão comercial, tornaram-se catalisadores de outras culturas e ideias. É dessa Grécia, que teve em Atenas seu principal centro cultural e artístico, que estamos falando. Situados historicamente, voltemos à nossa questão: por que a Filosofia surgiu na Grécia e não em algum outro ponto daquela região que os livros de História chamam de “Antiguidade Oriental e Clássica”? Há pelo menos três razões para entendermos essa questão. Mas há ainda outra observação importante: não é verdade que outros povos não “filosofassem”, pensando sobre a morte, por exemplo. Pelo contrário, muitos construíram religiões inteiras tendo a morte como ponto central, basta lembrarmos dos egípcios e dos astecas. Igualmente, muitos povos antes dos gregos pensaram sobre as estrelas, os números, a origem das coisas, o finito e o eterno, etc. Mas só os gregos trans- formaram isso tudo em Filosofia. Então vamos às razões: • A primeira razão está associada à religião dos gregos. Os mitos de origem e muitas das explicações sobre a natureza do comportamento dos homens ganharam sua primeira versão com a religião. Para os gregos, no início era o caos, e então, da união entre o céu e a ter- ra, surgiram deuses e homens. E as ações humanas, como as guerras, eram muitas vezes ditadas pelo capricho desses deuses. Bem, de resto, não foi muito diferente nos mitos de criação dos deuses nórdicos, orientais, africanos e americanos. Então, por que a religião grega contribuiu para o surgimento da Filosofia e as outras religiões não? Acontece que deuses gregos não eram muito confiá- veis. Eram poderosos, imortais, até aí tudo bem. Porém, tinham muitos defeitos: ciumentos, invejosos, avarentos, dissimulados, briguentos. É fato que possuíam também muitas virtudes: generosos, bondosos, prestativos. © iS to ck ph ot o. co m /P ed re Pa la zz o de l T e/ Fo tó gr af o de sc on he ci do 2 Extensivo Terceirão Enfim, eram quase humanos. Tanto que nem mora- vam tão longe. A morada dos deuses, no monte Olimpo, não chegava nem a 3 mil metros de altura! E eles viviam descendo o morro e convivendo entre os homens. Che- garam a ter vários filhos com humanos! Agora compare com os poderosos deuses dos anti- gos. Os hebreus, por exemplo: um Deus tão poderoso que nem seu nome podia ser dito! Com deuses como os gregos, as perguntas básicas sobre a existência humana (De onde vim? O que faço aqui? Para onde vou?) não eram satisfatoriamente respondidas. Pense mais uma vez na religião hebraica: o Deus deles responde a estas perguntas ou nem responde, mas todo mundo sabe que ele tem as respostas, afinal é um Deus muito poderoso. E isso basta. Para os gregos não bastava. Para eles era preciso encontrar algo mais consistente para acalmar a alma atormentada pelo espanto da vida e da morte daquelas pobres criaturas. • A segunda razão diz respeito a uma característica típica dos gregos: a necessidade que eles tinham de sistematizar tudo o que aprendiam com os outros povos. Não adiantava saber que a relação em um triângulo retângulo era expressa pelos números 3, 4 e 5. Era preciso associar essa informação a todas as outras relativas aos triângulos e buscar outras relações possíveis pelo encadeamento das ideias. Não fosse isso, os gregos não teriam chegado à soma do quadrado dos catetos e ao quadrado da hipote- nusa! E nem a tudo o resto que hoje chamamos de geometria e que devemos tanto a eles. Assim, sistematizando e generalizando, os gregos transformaram as informações dos povos com os quais tinham relação de vizinhança ou relação comercial. Dessa particular característica surgiu algo primordial para o pensamento filosófico: o princípio. Não bastava aos gregos saber relatos incompletos ou mesmo contraditórios sobre a origem do mundo, dos deuses e dos homens. Era importante saber a base sobre a qual erigiram-se mundo, deuses e homens. E esse princípio, perceberam claramente, não era visível, palpável, reconhecível, mas, com certeza, explicava as coisas visíveis e palpáveis. Muitos filósofos debruçaram-se sobre essa questão, como veremos ao longo dos nossos encontros. Do que é feito o cosmos? Escola de Mileto Como já vimos, havia os deuses e os mitos de criação na Grécia, como, de resto, em praticamente todos os po- vos que se organizavam nessa época. No entanto, nem todos estavam satisfeitos com as respostas oferecidas pelos mitos e pela tradição. Um desses inconformados era um habitante da cidade portuária de Mileto, Tales. Para ele, por trás de todas as coisas que ele via surgindo e desaparecendo, deveria existir um princípio, algo comum a tudo e que poderia ser racionalmente iden- tificado. Talvez, sem se dar conta, Tales estava desenvolvendo uma postura revolucionária na história do pensamento. Vamos conhecer mais. Tales de Mileto – a água Tales (623-558 a.C.) resolve não acreditar simplesmente no que lhe era ensinado e, movido por sua curiosidade, obser- vação e, principalmente, inconformismo, busca uma resposta mais satisfatória para suas dúvidas. Aliás, sabe-se que Tales prestava atenção e interessava-se por tudo. Credita-se a ele, por exemplo, a previsão de um eclipse, o que lhe teria valido a fama de “mago” e ainda a safra extraordinária de azeitonas, o que o fez comprar antecipadamente prensas que depois lhe renderam um bom dinheiro! Mas o que poderia estar por trás de todas as coisas que existem? Qual seria a origem de tudo? Tales obser- vou que, em tudo que surgia, um aspecto comum se repetia: a umidade. Nada nasce a seco! A própria cidade Cr ai g M al am ut • A essa característica que acabamos de tratar, soma- va-se uma terceira: a de estender ao todo aquilo que aprendiam, generalizando seus conhecimentos. ve não que o , m a fama @ Wi kim edi a Co mmo ns Aula 01 3Filosofia 1 Diante de tantas demonstrações, Tales formulou a primeira teoria filosófica de que temos conhecimento: a água é a origem de todas as coisas! Hoje pode parecer, por um lado, óbvia tal afirmação e, por outro lado, um tanto ingênua. Afinal, se a água é a origem de todas as coisas que existem, como explicar os objetos sólidos, por exemplo? Não importam as refutações que fazemos hoje ao pensamento dos antigos. Aliás, este é um cuidado que precisamos ter em mente: o pensamento dos filósofos não são conhecidos para serem julgados, mas para serem compreendidos. Essa compreensão é que vai permitir a nós, no presente, dotar-nos de ferramentas para prosseguirmos a questionar o que somos e o que fazemos aqui. O fato, porém, é que Tales, com a sua teoria cosmo- lógica (porque, a partir dela, tenta explicar a origem do cosmos e de tudo o que há nele), revelou, pela primeira vez, a ideia de uma origem comum de todas as coisas, não perceptível pelos sentidos, porém apreensível pela razão. Essa unidade percebida pela razão está além da multiplicidade de coisas que estão ao nosso alcance mais imediato. Ou seja, Tales dava o primeiro passo para formular um dos campos mais importantes da filosofia, a Metafísica. Anaximandro – o ápeiron Um outro aspecto fascinante da Filosofia – e hoje, das ciências em geral – é a capacidade de refutar e aprimorar o pensamento de alguém. O que não pode ser refutado e aprimorado é o que chamamos de dogma. Falaremos mais tarde como as posições dogmáticas foram problemáticas para o desenvolvimento do pensa- mento e como, sob certos aspectos, ajudaram também. Mas voltemos ao nosso amigo Tales. de Mileto enchia-se devida com os barcos que o mar trazia. Ninguém podia ficar sem beber água. O sêmen é úmido! Tudo tem ou envolve água. Duas questões sobre o ponto de vista de Tales eram problemáticas: por que a água era a origem de todas as coisas? Como a água dava origem a todas as outras coisas? Anaximandro, discípulo de Tales, enfrentou essas questões sem desmentir inteiramente seu mestre. Para isso ele imaginou que a solução fosse atribuir ao princípio de todas as coisas determinadas uma coisa indeterminada a qual ele chamou de ápeiron. © Sh ut te rs to ck /T isc he nk o Iri na © Sh ut te rs to ck /g ua lti er o bo ffi O ápeiron é a arché, ou seja, o começo de todas as coisas, estando em todas as coisas, mas, não sen- do, ele mesmo, uma coisa conhecida. Vê-se aqui um avanço importante em relação ao pensamento de Tales e, ao mesmo tempo, uma abertura para uma concepção desse arché que instigou a imagi- nação de muitos pensadores ao longo do tempo. Anaxímenes – o ar Discípulo de Anaximandro, e inconformado em não poder se dar nome ao princípio iniciador de todas as coisas, Anaxímenes atribuiu ao ar a qualidade de substância originária. A qualidade de transformação do ar – ele não tem forma rígida, ora estando quente, frio, condensado, rarefeito – permitia que se atribuísse a ele esse papel de matéria geradora de matérias, uma solução cosmológica bastante engenhosa. © iS to ck ph ot o. co m /T ro ut 55 4 Extensivo Terceirão E para que servem essas elucubrações todas, você poderia perguntar? Que importância tem saber a origem das coisas se o que eu vejo são as coisas mesmas e elas é que me importam? Será? Pitágoras, os números e o desejo de harmonia do Universo Nascido na ilha de Samos, na costa da Ásia Menor, viveu a maior parte da vida no sul da Itália e lá desenvolveu uma espécie de filosofia religiosa, tendo a matemática como principal ferramenta de dissemi- nação de suas ideias. Pitágoras defendeu duas ideias que depois (e até hoje) ganharam mundo: a separação entre a alma e o corpo e a imortalidade da alma, que reencarnava eternamente, até finalmente ser capaz de abandonar o corpo e seguir sua jornada para a luz. É aí que entrava a matemática: para purificar o corpo e permitir a libertação da alma, era preciso conhecer e praticar regras de acordo com a harmonia das coisas. Para Pitágoras, essa harmonia só poderia ser expressa matematicamente. E por que os pitagóricos chegaram a esta relação en- tre práticas moralmente precisas e desenvolvimento do estudo da matemática? Porque acreditavam que havia uma ordem perfeita por trás da imperfeição das coisas e que esta ordem perfeita (do Universo) se expressaria por meio de números. Um exemplo foi a descoberta de Daí os pitagóricos acreditarem que tudo pode ter uma leitura a partir de números e que o mundo das almas libertas do jugo dos corpos seria, assim, perfeito e harmônico. Para Pitágoras, libertar a alma do corpo seria uma boa razão para se viver a vida. Heráclito e Parmênides: Metafísica O pensamento filosófico não andou em linha reta e nem sempre uma ideia foi herdeira de outra. De uma maneira geral, as diversas posições dos pensadores gregos refletiam uma preocupação comum que era a de buscar uma explicação racional para a origem e para a natureza do cosmos, a cosmogonia (que é um outro jeito de falar cosmologia). À medida que as questões eram apresentadas e discutidas, a preocu- pação principal focou-se na delimitação da realidade comum aos seres, a Metafísica (além da Física), isto é, a natureza que está além da percepção dada pelos sentidos. A partir desse ponto, no início do século 5 a.C., a Filosofia daria um salto que colocaria a razão como centro fundamental da compreensão de tudo o que nos cerca. Heráclito (aprox. 535 a.C. - 475 a.C.) viveu as dificuldades da invasão persa às cidades-Estado da Ásia Menor. Viu sua cidade, Éfeso, ser destruída, viu a luta de persas e gregos, a vitória desses últimos, a ascensão de Atenas e a democratização de sua cidade. Aristocrata, Heráclito não aceitou a nova ordem e retirou-se de Éfeso, vivendo como um ermitão o resto de seus dias. Seus escritos, herméticos, complexos, valeram-lhe o apelido de “o Obscuro”. que os intervalos da escala tonal podem ser expressos por meio de números inteiros. A música se expressa por meio dos números e ler partituras é, de certa forma, um exercício matemático. © W ik im ed ia C om m on s Dó Ré Mi Fá Sol Lá Si Dó 1:1 8:9 4:5 3:4 2:3 3:5 8:15 1:2 (297 Hz) (330 Hz) (352 Hz) (396 Hz) (440 Hz) (495 Hz) (528 Hz) uma oitava uma quinta uma quarta(264 Hz) Aula 01 5Filosofia 1 Sua maior contribuição para a Filosofia foi a afirma- ção de que tudo flui. Ao contrário da aparente calma e imutabilidade das coisas, para Heráclito, tudo é conflito, oposição constante, mudança permanente. Não po- demos entrar duas vezes ao mesmo rio, não somente porque o rio já não é o mesmo, mas também porque não permanecemos iguais. Essa dinamicidade das coisas só pode ser apreendida pelo logos. Assim, mais uma vez, a Filosofia grega apon- ta a razão como responsável pela leitura e compreensão do mundo, não o mundo que está diante dos olhos, mas o que se encontra na profundidade das coisas. O pensa- mento metafísico, daquilo que está além do empírico, do perceptível, é o conhecimento verdadeiro. O logos é que enxerga. A visão apenas apreende o singular, o fragmento. Para conectar o indivíduo com o mundo, é preciso construir a ponte com a razão. E isso não é fácil e, por isso, segundo Heráclito, possível apenas para alguns. Daí a bronca dele com a democracia... Mas, como uma realidade dinâmica pode ser verda- deira? Afinal, uma coisa verdadeira não é algo definido e estático? Heráclito vai afirmar que o vir a ser é a realidade, a constante transformação das coisas, a tensão entre a permanência e a mudança, só possível de ser conhecida, nessa dinâmica, pela razão treinada. P al ác io A po st ól ic o/ Fo tó gr af o de sc on he ci do © iS to ck ph ot o. co m /K en an O lg un © iS to ck ph ot o. co m /y ip en gg e Apesar disso, a posição de Heráclito estava longe de ser pacífica. Parmênides que o diga. Esse pensador que viveu no sul da Itália e sofreu forte influência do pensamento pitagórico, afirmava que só o Ser existe, porque só o Ser pode ser conhecido. O Não Ser – o vazio, o oco, o nada – não existe. Como o vazio não existe, o Ser não se move e o movimento é ilusão dos sentidos. Como o Ser existe, essa existência não pode ser determinada por um tempo, logo ela diz respeito a todo o tempo. Ou seja, o Ser é incriado, existe desde sempre e não deixa de existir nunca. Fora disso, é ilusão, ou como diziam os gregos, doxa, opinião, hipóteses não verificáveis. B ib lio te ca E st ad ua l d a Ba vi er a, M un iq ue Certo estava Parmênides... “Não há movimento“ Ra qs on u. 2 01 5. D ig ita l. 6 Extensivo Terceirão Na verdade, tanto Heráclito como Parmênides acre- ditavam em uma realidade por trás das coisas visíveis e essa realidade era somente apreensível pela razão. Fosse essa realidade o Ser ou uma regra (tudo muda), o fato que ambos contribuíram fortemente para a Metafísica. Mas, quem tinha razão? Empédocles, Anaxágoras e Demócrito foram pen- sadores que buscaram estabelecer um meio-termo, uma síntese das proposições de Heráclito e Parmênides. E a solução foi a seguinte: Para esses pensadores, o imutável e o incriado existem mas não há um ser assim, há vários. Esses seres eternos e imutáveis compõem-se entre si (como uma espécie de lego cósmico) formando complexos de seres que duram um certo tempo e depois transformam-se ou diluem-se, dando origem a outros e outros e outros seres. Pronto! Estava explicado o vir a ser de Heráclito, sem precisar descartar o Ser de Parmênides. Empédocles imaginou quatro Seres que formariam a composição de todas as coisas que conhecemos:fogo, terra, ar e água. Anaxágoras (que foi contemporâneo de Péricles, o administrador do apogeu de Atenas) imaginou que todas as substâncias existentes e que podemos perceber são formadas da soma de todas as substâncias básicas. Nós, por exemplo, somos compostos de todas as subs- tâncias que ingerimos (cálcio, ferro, zinco, magnésio, etc.). Assim, existem substâncias que são únicas (Ser) e que, ao mesmo tempo, compõem complexos que existem e deixam de existir, permanecem e se dissolvem no tempo (vir a ser). Concepções religiosas à parte, os pitagóricos avançaram na construção filosófica em dois pontos importantes: © W ik im ed ia C om m on s Atomistas e a primeira síntese filosófica Quem teria razão a respeito do Ser, Heráclito ou Parmênides? Se fosse Heráclito, então não haveria certeza sobre nada permanentemente e o mundo seria fenômeno, eterna mudança e dinâmica. Se fosse Parmênides, então tudo o que vemos se mover e se transformar é ilusão e vivemos em um mundo Matrix, no qual tudo o que parece não é. © iS to ck ph ot o. co m /M or eI SO Vale a pena saber Zenão de Eleia foi um dos mais próximos discí- pulos de Parmênides e um defensor arguto de suas ideias, particularmente a que afirmava que o Ser é uno, eterno e imutável e o movimento é ilusão. Para provar isso, Zenão formulou alguns argumentos muito interessantes. Um deles era o da corrida entre Aquiles de pés ligeiros e uma tartaruga. Como Aqui- les era muito ligeiro, ele deu uma vantagem de cem metros para a tartaruga. Ora, segundo Zenão, com essa vantagem, Aquiles nunca poderia mais alcan- çar a tartaruga. Você sabe por quê? A preocupação de Parmênides é a do amadureci- mento do pensamento metafísico: a de afirmar o que pode ser pensado racionalmente. Daí ele afirmar: Pensar e ser é a mesma coisa! Assim, a pensamento grego dá uma primeira volta completa: da negação dos mitos – embora os gregos, como nós, nunca tenham abandonado as crendices inteiramen- te – ao ponto em que a razão torna-se a única capaz de afirmar a realidade. O verdadeiro era o que era observável, racionalizado e dito. Fora disso, era o mundo do Não Ser. Aula 01 7Filosofia 1 • busca por uma explicação abrangente capaz de explicar fenômenos singulares; • distinção entre a realidade fática, palpável, e a reali- dade racional, pensada. Assim como os matemáticos de hoje, pensar com base nos números não exige nenhum contato perma- nente com a experiência sensível. E não foi pouca coisa. Veremos como essas duas “descobertas” pitagóricas vão influenciar enormemente o modo de o Ocidente conduzir o pensamento. Finalmente, Demócrito imaginou esses seres imutá- veis e incriados como átomos, isto é, seres indivisíveis mas tão pequenos que não são visíveis. Esses átomos teriam formas diferentes e isso é que permitiria, por combinação, o surgimento de formas complexas as mais diversas. Mais uma vez a ideia do Lego! Segundo Demócrito, não haveria uma motivação específica para os átomos se agregarem, dando origem a outras formas. Isso ocorria mecanicamente. Assim, o vir a ser, derivado da aglutinação e separação dos seres, era fruto do acaso. Uma questão chamou a atenção dos pensadores diante das soluções apresentadas por Empédocles, Anaxágoras e Demócrito: como os seres se moviam para formar os complexos? Que força os impulsionava? Se esses seres eram imutáveis e incriados, ou seja, existiram desde sempre, como se deu o primeiro movimento? Como você pode ver, cada passo dado pela Filosofia enseja novas perguntas. Essa última, você verá mais adiante como se buscou a resposta. Mas creio que seja possível a você já praticar uma atitude filosófica bem interessante: levantar hipóteses. Então, mãos à obra! © iS to ck ph ot o. co m /K en ne th W ie de m an n Testes Assimilação 01.01. (UEMA) – Leia a letra da canção a seguir. característica dessa realidade representada, também, na música de Lulu Santos é o(a) a) fluxo. b) estática. c) infinitude. d) desordem. e) multiplicidade. 01.02. (UNIMONTES – MG) – O poeta brasileiro Carlos Drummond de Andrade, por sua vez, lamentou: Nada do que foi será De novo do jeito que já foi um dia Tudo passa Tudo sempre passará A vida vem em ondas Como um mar Num indo e vindo infinito Tudo que se vê não é Igual ao que a gente Viu há um segundo Tudo muda o tempo todo No mundo […] SANTOS, Lulu; MOTTA, Nelson. Como uma onda. In: Álbum MTV ao vivo. Rio de Janeiro: Sony-BMG, 2004. Da mesma forma como canta o poeta contemporâneo, que vê a realidade passando como uma onda, assim tam- bém pensaram os primeiros filósofos conhecidos como pré-socráticos que denominavam a realidade de physis. A “Como a vida muda. Como a vida é muda. Como a vida é nuda. Como a vida é nada. Como a vida é tudo.” Nas trilhas de Drummond, lembramos a mudança. Recorda- mos que a vida muda e muda sempre. ”Um homem não toma banho em um mesmo rio duas vezes, pois, no dia seguinte, o rio e o homem não serão os mesmos”. Tal formulação da questão da mudança foi registrada pelo pensador grego pré-socrático: a) Heráclito. b) Tales. c) Xenofonte. d) Pitágoras. Highlight Highlight 8 Extensivo Terceirão 01.03. (UEG – GO) – d) O conhecimento mítico segue um rigoroso procedimento lógico-analítico para estabelecer suas verdades. e) A verdade do mito obedece a critérios empíricos e cien- tíficos de comprovação. 01.06. (UEL – PR) – Tales foi o iniciador da reflexão sobre a physis, pois foi o primeiro filósofo a afirmar a existên- cia de um princípio originário e único, causa de todas as coisas que existem, sustentando que esse princípio de tudo é a água. Tudo se origina a partir dela. Essa proposta é importantíssima [ ] podendo com boa dose de razão ser qualificada como a primeira proposta filosófica daquilo que se costuma chamar de começo da formação do universo. REALE, Giovanni. História da filosofia. São Paulo: Loyola, 1990. A passagem do mito à filosofia iniciou-se com os pré- -socráticos. O primeiro deles foi Tales de Mileto, que iniciou o estudo da cosmologia. A cosmologia é definida como: a) A investigação racional do agir humano. b) A investigação acerca da origem e da ordem do mundo. c) O estudo do belo na arte. d) O estudo do estado civil e natural e seu ordenamento jurídico. 01.04. (UNICENTRO – PR) – “O número é a essência de todo o existente. Toda a harmonia do cosmo é justificada pelos números”. Essa frase está relacionada a a) Leucipo. b) Sócrates. c) Pitágoras. d) Aristóteles. e) Anaxímenes. Aperfeiçoamento 01.05. (UEL – PR) – ”Zeus ocupa o trono do universo. Agora o mun- do está ordenado. Os deuses disputaram entre si, alguns triunfaram. Tudo o que havia de ruim no céu etéreo foi expulso, ou para a prisão do Tártaro ou para a Terra, entre os mortais. E os homens, o que acontece com eles? Quem são eles?” VERNANT, Jean-Pierre. O universo, os deuses, os homens. Trad. de Rosa Freire d’Aguiar. São Paulo: Companhia das Letras, 2000. p. 56. O texto acima é parte de uma narrativa mítica. Considerando que o mito pode ser uma forma de conhecimento, assinale a alternativa correta. a) A verdade do mito obedece a regras universais do pen- samento racional, tais como a lei de não contradição. b) O mito busca explicações definitivas acerca do homem e do mundo, e sua verdade independe de provas. c) As explicações míticas constroem-se, de maneira argu- mentativa e autocrítica. “Entre os ‘físicos’ da Jônia, o caráter positivo in- vadiu de chofre a totalidade do ser. Nada existe que não seja natureza, physis. Os homens, a di- vindade, o mundo formam um universo unifica- do, homogêneo, todo ele no mesmo plano: são as partes ou os aspectos de uma só e mesma physis que põem em jogo, por toda parte, as mesmas forças, manifestam a mesma potência de vida. As vias pelas quais essa physis nasceu, diversificou- -se e organizou-se são perfeitamente acessíveis à inteligência humana: a natureza não operou ‘no começo’ de maneira diferentede como o faz ain- da, cada dia, quando o fogo seca uma vestimenta molhada ou quando, num crivo agitado pela mão, as partes mais grossas se isolam e se reúnem.” VERNANT, Jean-Pierre. As origens do pensamento grego. Trad. de Ísis Borges B. da Fonseca. 12.ed. Rio de Janeiro: Difel, 2002. p.110. Com base no texto, assinale a alternativa correta. a) A diversidade de fenômenos naturais pressupõe uma mul- tiplicidade de explicações e nem todas estas explicações podem ser racionalmente compreendidas. b) A razão é capaz de compreender parte dos fenômenos naturais, mas a explicação da totalidade dos mesmos está além da capacidade humana. c) O nascimento, a diversidade e a organização dos seres naturais têm uma explicação natural e esta pode ser compreendida racionalmente. d) A explicação para os fenômenos naturais pressupõe a aceitação de elementos sobrenaturais. e) Para explicar o que acontece no presente é preciso com- preender como a natureza agia ’no começo’ , ou seja, no momento original. 01.07. (UFU – MG) – “Princípio dos seres ele [Anaximandro] disse (que era) o ilimitado Pois donde a geração é para os seres, é para onde também a corrupção se gera se- gundo o necessário ; pois concedem eles mesmos justiça e deferência uns aos outros pela injustiça, segundo a ordenação do tempo.” Pré-Socráticos. Coleção “Os Pensadores”. São Paulo: Abril Cultural, 1978. A partir da análise do texto de Anaximandro, é correto afirmar que a filosofia, em contraposição ao mito, se caracteriza por a) conceber o tempo como um passado imemorial sem relação com o presente. b) os seres divinos concedem, por alianças ou rompimentos, justiça e deferência uns aos outros. Highlight Highlight Highlight Aula 01 9Filosofia 1 c) o mundo ser explicado por um processo constante e eter- no de geração e corrupção, cujo princípio é o ilimitado. d) narrar a origem do mundo por meio de alianças e forças geradoras divinas. 01.08. (IFPI) – Sobre os Pré-Socráticos, associe as ideias/feitos expressos nas máximas abaixo a seus respectivos pensadores: 1. O estado inicial de todas as coisas tem de ser indeter- minado, ou seja, não se identifica com nenhum outro elemento já descoberto. 2. Foi o primeiro a afirmar que a Lua recebe sua luz do Sol. 3. O mundo é um fluxo perpétuo onde nada permanece idên- tico a si mesmo, mas tudo se transforma no seu contrário. 4. O ser é uno, contínuo, único e eterno; sem princípio nem fim. 5. Foi o primeiro a conceber a água como substrato e força geradora de tudo. ( ) Parmênides de Eleia. ( ) Tales de Mileto. ( ) Anaximandro de Mileto. ( ) Anaxímenes de Mileto. ( ) Heráclito de Éfeso. A sequência numérica, de cima para baixo, que contém a associação correta é: a) 4, 5, 1, 2, 3 b) 4, 5, 3, 2, 1 c) 5, 4, 1, 2, 3 d) 1, 2, 3, 4, 5 e) 5, 4, 3, 2, 1 01.09. (UNIOESTE – PR) – II. O surgimento da filosofia não coincide com o fim do uso do pensamento mítico. III. Tales de Mileto, no século VI a.C., ao propor a água como princípio original do mundo, rompe, definitivamente, com o pensamento mítico. IV. Mitos estão presentes ainda nos textos filosóficos de Platão (século IV a.C.), como, por exemplo, o mito do julgamento das almas. V. Os primeiros filósofos gregos, chamados “pré-socráticos”, em sua reflexão, não se ocupavam da natureza (Physis). Das afirmativas feitas acima a) apenas a afirmação V está correta. b) apenas as afirmações III e V estão corretas. c) apenas as afirmações II e IV estão corretas. d) apenas as afirmações I, II e IV estão corretas. e) apenas as afirmações I, III e V estão corretas. 01.10. (UNICENTRO – PR) – A passagem do Mito ao Logos na Grécia antiga foi fruto de um amadurecimento lento e processual. Por muito tempo, essas duas maneiras de ex- plicação do real conviveram sem que se traçasse um corte temporal mais preciso. Com base nessa afirmativa, é correto afirmar: a) O modo de vida fechado do povo grego facilitou a pas- sagem do Mito ao Logos. b) A passagem do Mito ao Logos, na Grécia, foi responsabi- lidade dos tiranos de Siracusa. c) A economia grega estava baseada na industrialização, e isso facilitou a passagem do Mito ao Logos. d) O povo grego antigo, nas viagens, se encontrava com outros povos com as mesmas preocupações e culturas, o que contribuiu para a passagem do Mito ao Logos. e) A atividade comercial e as constantes viagens oportuni- zaram a troca de informações/conhecimentos, a obser- vação/assimilação dos modos de vida de outros povos, contribuindo, assim, de modo decisivo, para a construção da passagem do Mito ao Logos. Aprofundamento 01.11. (UFMA) – O homem sempre buscou explicações sobre os aspectos essenciais da realidade que o cerca e sobre sua própria existência. Na Grécia antiga, antes da filo- sofia surgir, essas explicações eram dadas pela mitologia e tinham, portanto, um forte caráter religioso. Historicamente, considera-se que a filosofia tem início com Tales de Mileto, em razão de ele ter afirmado que ”a água é a origem e a matriz de todas as coisas”. Nesse sentido, pode-se dizer que a frase de Tales tem caráter filosófico pelas seguintes razões: a) Porque destaca a importância da água para a vida; porque faz referência aos deuses como causa da realidade e, porque nela, embora apenas subentendido, está contido o pensamento: “tudo é matéria”. “Não é fácil definir se a ideia dos poemas homéri- cos, segundo a qual o Oceano é a origem de todas as coisas, difere da concepção de Tales, que con- sidera a água o princípio original do mundo; seja como for, é evidente que a representação do mar inesgotável colaborou para a sua expressão. Em todas as partes da Teogonia, de Hesíodo, reina a vontade expressa de uma compreensão construti- va e uma perfeita coerência na ordem racional e na formulação dos problemas. Por outro lado, a sua cosmologia ainda apresenta uma irreprimível pujança de criação mitológica, que, muito mais tarde, ainda age sobre as doutrinas dos “fisiólo- gos”, nos primórdios da filosofia “científica”, e sem a qual não se poderia conceber a atividade prodigiosa que se expande na criação das concep- ções filosóficas do período mais antigo da ciência” Werner Jaeger. Considerando o texto acima sobre o surgimento da filosofia na Grécia, seguem as afirmativas abaixo: I. O surgimento da filosofia não coincide com o início do uso do pensamento racional. 10 Extensivo Terceirão b) Porque enuncia algo sobre a origem das coisas; porque o faz sem imagem e fabulação e porque nela, embora apenas subentendido, está contido o pensamento: ”tudo é um”. c) Porque narra uma lenda; porque narra essa lenda através de imagens e fabulação e porque nela, embora apenas subentendido, está contido o pensamento: “tudo é movimento”. d) Porque enuncia uma verdade revelada por Deus; porque o faz através da imaginação e, porque nela, embora apenas subentendido, está contido o pensamento: ”o homem é a medida de todas as coisas”. e) Porque enuncia algo sobre a origem das coisas; porque o faz recorrendo a deuses e à imaginação e, porque nela, embora apenas subentendido, está contido o pensamen- to: “conhece-te a ti mesmo”. 01.12. (UNICENTRO – PR) – Sobre o período Pré-socrático, assinale a alternativa CORRETA. a) Os primeiros pré-socráticos, como Tales de Mileto, Anaxímenes e Platão, são conhecidos como “monistas”, porque identificam apenas um elemento constitutivo de todas as coisas. b) Para Heráclito, o ser é o múltiplo, não apenas no sentido de que há uma multiplicidade de coisas, mas por estar constituído de oposições internas. Para ele, o dinamismo de todas as coisas pode ser explicado pelo fogo primor- dial, expressão visível da instabilidade, símbolo da eterna agitação do devir. c) Para o filósofo Anaximandro, o princípio constitutivo de todas as coisas é um ser eterno, suprassensível e imutável, ao qual ele nomeia de Noûs. d) Demócrito é o precursor da matemática, atribui aos nú- meros a máximaperfeição original. e) Os primeiros filósofos foram chamados de pré-socráticos devido a uma classificação posterior da filosofia, que tinha como referência a figura de Sócrates. Todavia, nem todos os pensadores pré-socráticos viveram antes de Sócrates, a exemplo de Péricles, que foi contemporâneo ao pai da filosofia. 01.13. Anaximandro de Mileto, discípulo de Tales, também foi um dos filósofos que se dedicou às investigações de caráter cosmológico. Sobre os preceitos defendidos por esse pensador, assinale a alternativa correta. a) Anaximandro compreendeu que a arché se trataria me- ramente de um elemento material específico (physis). b) Para Anaximandro os elementos materiais como as estre- las, vulcões, ar, água, animais, por exemplo, não poderiam ser considerados o princípio gerador de todas as coisas, pois, os elementos materiais são, por sua própria natureza, finitos e limitados. Para ele, somente do infinito e do eter- no podem surgir inúmeros mundos finitos e temporários. c) Anaximandro, após observar sistematicamente o mundo natural, propôs que não apenas a água poderia ser con- siderada arché desse mundo em si e, por isso mesmo, incluiu mais um elemento: o fogo. d) Anaximandro entende que o ápeiron (ilimitado) seria a substância que teria originado a natureza e a realidade, a partir do movimento de associação e dissociação dos elementos materiais (physis), de caráter finito. e) Segundo Anaximandro, o átomo é arché da realidade. Afinal, tudo é feito de algo invisível e indivisível. 01.14. Anaxímenes de Mileto foi discípulo e sucessor de Anaximandro, vivendo por volta do século VI a.C. Praticamen- te nada se sabe sobre sua biografia, mas segundo alguns de seus escritos constatamos que para ele: a) Anaxímenes de Mileto disse que o ar é o elemento originário de tudo o que existe, existiu e existirá, e que outras coisas provêm de sua descendência. Quando o ar se dilata, transforma-se em fogo, ao passo que os ventos são ar condensado. b) Anaxímenes não aceitava a ideia de que o infinito era o princípio de todas as coisas. Porém, aceitava que este princípio fosse indefinido, como afirmava a filosofia de Anaximandro. c) Anaxímenes fez a união entre os pensamentos que o antecederam e concluiu que o princípio de todas as coisas não pode ser afirmado, já que tal princípio não está ao alcance dos sentidos. d) Anaxímenes discordava da ideia de Anaximandro de que o ar era o princípio de todas as coisas, considerando o infinito o elemento que se prestava a ser a origem de todas as coisas. e) Anaxímenes aceitava a ideia de seu mestre Tales de que o infinito era o princípio de todas as coisas. Não aceitava, porém, que este princípio fosse indefinido, considerando o fogo o elemento que se prestava a ser a origem de todas as coisas. 01.15. No que se refere ao pensamento do filósofo Heráclito de Éfeso, assinale a alternativa correta: a) Para Heráclito, o homem consegue se banhar duas vezes no mesmo rio. b) Heráclito de Éfeso negou o movimento e negou termi- nantemente a luta dos contrários como gênese e unidade do mundo antigo. c) Percebendo a constante permanência que se encontra em todas as coisas, Heráclito constata que as coisas sempre são definitivamente estáticas; essa constante permanên- cia é chamada devir ou vir-a-ser. d) Heráclito de Éfeso interessou-se pelo dinamismo do universo. Afirmou que nada permanece o mesmo, tudo muda; que a mudança é a passagem de um contrário ao outro e que a luta e a harmonia dos contrários são o que gera e mantém todas as coisas. e) De acordo com a teoria heraclitiana, tudo à nossa volta segue um fluxo perpétuo de nascer, crescer, envelhecer, morrer, renascer e crescer. Logo, para ele, o mundo é regido pela permanência, ou seja, tudo é estático. Aula 01 11Filosofia 1 01.16. (UEPG – PR) – Em relação à teoria parmenidiana e o fragmento abaixo, assinale o que for correto. De onde vem o mundo? De onde vem o universo? Tudo o que existe tem que ter um começo. Portan- to, em algum momento, o universo também tinha de ter surgido a partir de uma outra coisa. Mas, se o universo de repente tivesse surgido de alguma outra coisa, então essa outra coisa também devia ter surgido de alguma outra coisa algum dia. Sofia entendeu que só tinha transferido o problema de lugar. Afinal de contas, algum dia, alguma coisa tinha de ter surgido do nada. Existe uma substância básica a partir da qual tudo é feito? A grande ques- tão para os primeiros filósofos não era saber como tudo surgiu do nada. O que os instigava era saber como a água podia se transformar em peixes vivos, ou como a terra sem vida podia se transformar em árvores frondosas ou flores multicoloridas. Adaptado de: GAARDER, J. O Mundo de Sofia. Trad. de João Azenha Jr. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. p.43-44. Via da Verdade “[...] Pois bem, dir-te ei – e tu escuta a minha pa- lavra – quais as únicas vias de pesquisa que se podem pensar: uma que (o ser) é e não é possível que não seja – é o caminho da persuasão, porque vai direto a verdade – a outra que (o ser) não é necessário que não seja; [...].” Adaptado de: “Parmênides”. In: Giovanni Reale. História da Filosofia Antiga. Trad. De Marcelo Perine. São Paulo: Loyola, 1993. Vol.1. pp. 107-108 (Série História da Filosofia). 01) Não é possível afirmar a existência do não ser porque o não ser não é. 02) O texto descreve a forma com que Parmênides perce- bia o universo. 04) O ser nunca muda, o ser simplesmente é e o não ser não é. 08) Parmênides afirma que existe apenas um caminho para se chegar à verdade, definido como via da opinião, já que cada indivíduo, através dos sentidos, percebe de forma diferente as mudanças que ocorrem na physis. 01.17. (UFU – MG) – Parmênides (515 a.C. -440 a.C.) deixou seus pensamentos registrados no poema Sobre a nature- za, do qual restaram apenas fragmentos cultivados pelos filósofos do mundo antigo, uma das passagens célebres preservadas é a seguinte: “Necessário é o dizer e pensar que (o) ente é; pois é ser, e nada não é; isto eu te mando considerar. Pois primeiro desta via de inquérito eu te afasto, mas depois daquela outra, em que mortais que nada sabem erram, duplas cabeças, pois o imediato em seus peitos dirige errante pensamento; (...)” PARMÊNIDES. Sobre a natureza. Trad. de José Cavalcante de Souza. São Paulo: Nova Cultural, 1989, p. 88. Coleção ”Os Pensadores”. Com base no texto e nos conhecimentos sobre o surgimento da filosofia, assinale a alternativa correta. a) Os pensadores pré-socráticos explicavam os fenômenos e as transformações da natureza e porque a vida é como é, tendo como limitador e princípio de verdade irrefutável as histórias contadas acerca do mundo dos deuses. b) Os primeiros filósofos da natureza tinham a convicção de que havia alguma substância básica, uma causa oculta, que estava por trás de todas as transformações na natu- reza e, a partir da observação, buscavam descobrir leis naturais que fossem eternas. c) Os teóricos da natureza que desenvolveram seus sistemas de pensamento por volta do século VI a.C. partiram da ideia unânime de que a água era o princípio original do mundo por sua enorme capacidade de transformação. d) A filosofia da natureza nascente adotou a imagem homé- rica do mundo e reforçou o antropomorfismo do mundo dos deuses em detrimento de uma explicação natural e regular acerca dos primeiros princípios que originam todas as coisas. e) Para os pensadores jônicos da natureza, Tales, Anaxímenes e Heráclito, há um princípio originário único denominado o ilimitado, que é a reprodução da aparência sensível que os olhos humanos podem observar no nascimento e na degeneração das coisas. Analise as assertivas abaixo. I. A opinião humana busca o que é (ser) naquilo que não é (ser). II. O mundo dos sentidos é (ser), portanto, o único digno de ser conhecido. III. Não se pode dizer “não-ser é”, porque “não-ser” é impen- sável. IV. Dizer “não-seré não não-ser”, é o mesmo que afirmar ”não-ser não é”. Assinale a alternativa que contém as assertivas corretas. a) I e III b) II e III c) II e IV d) I e IV 01.18. (UEL – PR) – Leia o texto a seguir e responda à pró- xima questão. 12 Extensivo Terceirão 01.01. a 01.02. a 01.03. b 01.04. c 01.05. b 01.06. c 01.07. c 01.08. a 01.09. d 01.10. e 01.11. b 01.12. b 01.13. b 01.14. a 01.15. d 01.16. 07 (01 + 02 + 04) 01.17. a 01.18. b 01.19. a 01.20. b Gabarito Com base no texto e nos conhecimentos sobre a filosofia de Parmênides, assinale a alternativa correta. a) Pensar e ser se equivalem, por isso o pensamento só pode tratar e expressar o que é, e não o que não é – o não ser. b) A percepção sensorial nos possibilita conhecer as coisas como elas verdadeiramente são. c) O ser é mutável, eterno, divisível, móvel e, por isso, a razão consegue conhecê-lo e expressá-lo. d) A linguagem pode expressar tanto o que é como o que não é, pois ela obedece aos princípios de contradição e de identidade. e) O ser é e o não ser não é indica que a realidade sensível é passível de ser conhecida pela razão. 01.20. (UFPR) – Os corcéis que me transportam, tanto quanto o âni- mo me impele, conduzem-me, depois de me terem dirigido pelo caminho famoso da divindade [...] E a deusa acolheu-me de bom grado, mão na mão di- reita tomando, e com estas palavras se me dirigiu: [...] Vamos, vou dizer-te – e tu escuta e fixa o relato que ouviste – quais os únicos caminhos de investi- gação que há para pensar, um que é, que não é para não ser, é caminho de confiança (pois acompanha a realidade): o outro que não é, que tem de não ser, esse te indico ser caminho em tudo ignoto, pois não poderás conhecer o não-ser, não é possível, nem indicá-lo [...] pois o mesmo é pensar e ser. PARMÊNIDES. Da Natureza, frags. 1-3. Trad. José Trindade Santos. 2. ed. São Paulo: Loyola, 2009. p. 13-15. Quando soube daquele oráculo, pus-me a refletir assim: “Que quererá dizer o Deus? Que sentido oculto pôs na resposta? Eu cá não tenho cons- ciência de ser nem muito sábio nem pouco; que quererá ele então significar declarando-me o mais sábio? Naturalmente não está mentindo, porque isso lhe é impossível”. Por longo tempo fiquei nessa incerteza sobre o sentido; por fim, muito contra meu gosto, decidi-me por uma investiga- ção, que passo a expor. PLATÃO. Defesa de Sócrates. Trad. Jaime Bruna. Coleção Os Pensadores. Vol. II. São Paulo: Victor Civita, 1972, p. 14. O texto acima pode ser tomado como um exemplo para ilustrar o modo como se estabelece, entre os gregos, a passa- gem do mito para a filosofia. Essa passagem é caracterizada: a) pela transição de um tipo de conhecimento racional para um conhecimento centrado na fabulação. b) pela dedicação dos filósofos em resolver as incertezas por meio da razão. c) pela aceitação passiva do que era afirmado pela divindade. d) por um acento cada vez maior do valor conferido ao discurso de cunho religioso. e) elo ateísmo radical dos pensadores gregos, sendo Sócra- tes, inclusive, condenado por isso. Desafios 01.19. (UEL – PR) – Leia o texto a seguir. Aula 02 13Filosofia 1 Filosofia 1 Sofistas e Sócrates Do seu porto, Pireu, o comércio e as informações sobre todo o mundo antigo circulavam e muitos artistas e pensadores fluíam para a cidade. As transformações econômicas e as reformas políticas tinham ampliado a participação na administração pública para todos os cidadãos. Embora isso não significasse tanta gente – cerca de 10% da população – era mais do que Atenas conhecera em toda a sua existência. Essa formulação democrática provocou uma mu- dança muito importante no desenvolvimento da Filoso- fia grega. A preocupação cosmológica e metafísica, que marcara os textos dos pensadores até então, desloca-se para o campo da teoria do conhecimento e o estudo da natureza cede lugar às preocupações sociais e culturais. A objetividade que até então fora a preocupação dos filósofos abre alas para o conhecimento mediado pelo homem. Aliás, o homem passa a ser o centro da preocu- pação dos filósofos. E por que ocorreu essa mudança? Na Atenas das disputas públicas e democráticas, nas quais o pensamento aristocrático linear e unidirecional não tinha mais vez e os novos ricos, os comerciantes, e mesmo os não ricos podiam expressar sua opinião e definir os rumos da cidade, debater sobre como convencer os espíritos e como demonstrar mais ade- quadamente um argumento verossímil tornaram-se uma questão mais premente que saber a natureza do cosmos ou o que se escondia para além do mundo sen- sível. Pelo contrário, em uma cidade fervilhante, tudo parecia à flor da pele. Os sofistas souberam enxergar e entender essa realidade. E deram um passo importante para tornar a filosofia ainda mais instigante. Mudança nos temas da Filosofia As especulações metafísicas perdem terrenos em prol das observações empíricas. Estudos sobre História, com Heródoto e Tucídides, linguagem com Pródico, música, poesia, artes plásticas, com Policleto, medicina com Hipócrates marcam o período. O conhecimento aristocrático, voltado apenas para espíritos elevados, tendo como finalidade uma formação para a sabedoria, integral e profunda, perde terreno para a praticidade do conhecimento voltado para fins do conhecimento útil, da informação necessária e das técnicas de con- vencimento nos debates públicos. Por conta dessa nova realidade, muitos pensadores passam a disponibilizar seus conhecimentos e habilidades em troca de dinheiro, tornando-se uma espécie de “pensadores profissio- nais”, cujo “produto” era o repertório de informações e métodos de persuasão que possuíam, e a capacidade de ensiná-los para qualquer um que se dispusesse a aprender. O conhecimento, enfim, democratizava-se como a própria Atenas. Sofistas O pensamento sofístico parte do pressuposto relativista e subjetivista. Para eles, o que percebemos do mundo é indissociado da nossa própria e singular natureza humana. Somos singulares e temos uma forma de perceber as coisas que também é singular. Logo, a recepção dessa sensação de contato com o mundo é única, não podendo ser objetivamente determinada. KLENZE, Leo von Klenze. Acrópole de Atenas. 1846. 1 óleo sobre tela, color.; 103 cm x 148 cm. Neue Pinakothek, Munique, Alemanha. Atenas, século V a.C. A vitória sobre os persas e a administração de Péricles fizeram da cidade-estado de Atenas o coração da cultura grega no século V. a.C. © N eu e Pi na ko th ek /W eb G al le ry o f A rt / W ik im ed ia C om m on s 14 Extensivo Terceirão Percebam que essa abordagem teve um impacto bastante forte no campo do comportamento (moral) e nas questões públicas (direito). Na medida em que um fato pode ser percebido de maneira diferente por duas pessoas, é preciso que se construa um consenso no que diz respeito a qual das compreensões deve pautar o comportamento geral. E esse consenso não é definitivo. As mesmas pessoas podem começar a perceber uma mesma coisa de forma diferente com o passar do tempo. Logo, a construção de consensos é permanente e exige processos adequados para que não torne a convivência social impossível. Havia perigos no ar: de essa relativização tornar im- possível qualquer balizamento de verdade. Daí vários pensadores se voltarem contra os sofistas. Essas críticas foram tão fortes que até hoje é comum referirmo-nos a esta palavra (sofista) com um sentido negativo! Principais sofistas: Protágoras e Górgias O homem é a medida de todas as coisas. Essa frase, atribuída a Protágoras, é a síntese da posição sofista. Segundo ele, o conhecimento não é ditado apenas pela coisa apreendida pelos nossos sentidos, mas também pela forma como reagimos a essa per- cepção. Como temos reações diferentes, não é possível afirmar que algo é objetivamente verdadeiro nem que, ao contrário, algo seja falso. Assim, a verdade não é a expressão de algo que existe objetivamente, apreendido poruma razão treinada: é tão somente o que se convenciona afirmar como tal, pelo consenso das pessoas. Essa regulação da verdade, na medida em que era feita subjetivamente, exigia pessoas bem formadas, daí a importância de dar ensinamentos a elas. Quanto mais pessoas capazes de discernir o melhor possível as sensações do real, melhor formulação subjetiva será realizada sobre essas sensações do real e mais refinado será o consenso alcançado. Esse consenso é o que podemos chamar de senso de moral e justiça que acompanha as sociedades e vai se modificando confor- me novas formas de perceber o real ganham status de consenso. É só lembrar, por exemplo, da escravidão. Há 200 anos, poucas eram as pessoas que consideravam a propriedade de um humano algo contrário à moral e à justiça. Hoje, podemos afirmar, é exatamente o contrário. A posição dos sofistas batia de frente com a Me- tafísica e sua convicção da possibilidade de conhecer a essência do real por meio da razão. Górgias, outro pensador do sul da Itália, foi o mais ardoroso crítico da posição metafísica. Seus textos, particularmente o Sobre o não ser, procuraram desmontar as razões apresentadas pelos metafísicos, principalmente por Parmênides, e demonstrar a impossibilidade de conhe- cer o ser. Mesmo que fosse admissível uma realidade objetiva, ela era, segundo Górgias, impossível de ser expressa por meio de palavras, que são invenções humanas e não pertencem ao ser, não podendo assim traduzi-lo, mas apenas informar sobre ele, passando sempre pela perspectiva humana. Os sofistas ficaram conhecidos como os iluminis- tas gregos, pois criticaram a religião, as crendices populares e propuseram uma origem contratual das sociedades, antecipando, em vários séculos, as posições de Voltaire, Locke e Rousseau. Pensadores, como Pródico, questionavam valores como bom e mau, afirmando que é a forma como os homens se apropriam das coisas que lhes conferem essas características; Aristóteles faz referência a um certo Licófron como defensor da ideia de uma organização social e política consensual, fruto de um contrato. En- fim, os sofistas lançam muitas das ideias que o mundo contemporâneo ainda hoje discute, principalmente sobre comportamento, sociedade e Direito. Mas um dos maiores méritos dos sofistas é que sem suas ideias, Sócrates, Platão e Aristóteles provavelmente não teriam tido a relevância que tiveram. Sócrates Um dia, um grego chamado Querefonte foi ao oráculo de Delfos e fez a seguinte pergunta à velha sábia que respondia aos viajantes: Existe alguém mais sábio que Sócrates? Ao que a anciã respondeu: Não. Ninguém é mais sábio que Sócrates. Filho de uma parteira, soldado na Guerra do Pelo- poneso, sempre descalço e com roupas amarfanhadas e sujas, cabelo desgrenhado, nariz achatado e rosto de bolacha, Sócrates certamente passaria hoje, nas ruas da cidade grande, como um mendigo ou um demente. Principalmente quando, ensimesmado, ficava horas e horas de pé, rígido, com o olhar perdido, mergulhado em suas reflexões. Ou aca- baria sendo preso por causar inconvenientes diálogos com os transeuntes, sempre com perguntas incômodas, desmon- tando argumentos e certezas de qualquer um que aceitasse suas provocações. q a parteira, soldado na Guerra do Pelo- descalço e com roupas amarfanhadas o desgrenhado, nariz o de bolacha, Sócrates saria hoje, nas ruas da como um mendigo nte. Principalmente esmado, ficava horas , rígido, com o mergulhado ões. Ou aca- so por causar diálogos seuntes, rguntas esmon- ntos e alquer se suas ©Shutterstock/vlas2000 Aula 02 15Filosofia 1 Sócrates não deixou nada escrito. Ele afirmava que não era possível dialogar com um texto e que preferia saber com quem trocava ideias. Por isso ele passava os dias na Ágora, o local das dis- cussões e votações dos atenienses, questionando quem se dispusesse a conversar com ele. Aos 70 anos, depois de causar constrangimento em muita gente, incluindo gente poderosa, Sócrates acabou conde- nado a beber veneno por querer subverter os jovens e introduzir “novos deuses”. © Cr ea tiv e Co m m on s/D er ek Ke y Por que um homem com esse perfil tão controverso conseguiu cravar seu nome na imortalidade histórica e ser considerado, até hoje, o mais importante pensador da Filosofia ocidental? Sócrates foi um polemista, cri- ticando particularmente os sofistas e seu relativismo. Preocupava-se, principalmente, com o rigor dos conceitos. Sem eles, não era possí- vel conhecer nada verdadeiramen- te. No entanto, Sócrates não teve a pretensão de afirmar conhecer todos os conceitos. Pelo contrário, sabia que a busca que empreendia era para ele também. Por isso espantou-se tanto com a resposta do oráculo. Depois compreendeu: exatamente por ser o único a ter consciência de que quase nada sabia é que era o mais sábio! Sócrates demonstrou – e por isso angariou tantos opositores – que as pes- soas formulam verdades fundamentadas em conceitos que desconhecem ou que afirmam de forma distorcida ou incom- pleta. Assim como sua mãe trazia seres à luz, o pensador ateniense acreditava que sua missão era trazer ideias para a luz, os conceitos verdadeiros, desmontando certezas até então inabaláveis e discursos que, fundamentados nesses conceitos defeituosos, eram inválidos e inúteis. Para atingir seu objetivo de verificar a veracidade dos conhecimentos dos atenienses, Sócrates conversava. O diálogo foi a pedra angular de seu mé- todo. Sócrates ouvia e perguntava e depois replicava e treplicava, até deixar seu interlocutor vencido pela sua própria incapacidade de dar consistência às suas ideias. Observem que Sócrates não ensinava nada: ele usava dos conteúdos da outra pessoa como base para seus questionamentos e das respostas ditas pelo interlocutor para questioná-lo mais uma vez. Parece uma coisa cruel, não? Mas não é. O importante é saber que o objetivo do pensador era o conhecimento verdadeiro e ele acreditava que esse conhecimento existia e podia ser obtido pela depuração das palavras e esta depuração poderia ser obtida pela percepção das próprias contradições que cometemos ao usarmos esses conceitos no cotidiano. Esse diálogo socrático dividia-se em dois componentes que podemos denominar de método: a ironia e a maiêutica (que em grego quer dizer “parto das ideias”). O primeiro consistia em fazer o interlocutor deparar- -se com as contradições do seu saber presumido; o segundo, o suporte, por meio de outras indagações, para encaminhar o interlocutor ao co- nhecimento verdadeiro. E qual a finalidade desse esforço todo? Primeiro porque Sócrates acreditava que todos sabemos o conceito ver- dadeiro das coisas, sem o saber. Por meio do questionamento adequado e da suspensão dos conceitos distorcidos, qualquer um pode conhecer. Segundo porque o conhecimento verdadeiro conduziria ao compor- tamento adequado. Por exemplo: o comportamento virtuoso derivaria da apreensão correta do conceito abstrato de virtude. Para Sócrates, o que precisamos fazer para nos comportar de maneira virtuosa é conhecer o conceito verdadeiro de virtude. Logo, os comportamentos ruins, segundo Sócrates, eram derivados da falta de conhecimento, de um engano. Por isso buscar conhecer o bem é a forma mais correta de tornar-se bom e praticar o bem. Os atos imorais deri- vam da ignorância e, por isso, Sócrates afirmava que praticar uma injustiça era pior do que sofrê-la, já que isso indicava o despreparo e o desconheci- mento do agressor. um sa ba do qu al qu er .c om /C ar lo s R ua s KEEP CALM AND SÓ SEI QUE NADA SEI 16 Extensivo Terceirão Testes Assimilação 02.01. (UNESP – SP) – Contrariando os sofistas, Só- crates acreditava em uma verdade objetiva, em uma purificação da alma humana e na sua imortalida- de. Com ele, temas importantes da Metafísica são resgatados, embora as conquistas dos sofistas, parti- cularmente relativas à moral e ao direito, não tenham sido deixadasde lado por Sócrates. Suas ideias – já que ele não deixou nada escrito – chegaram até nós graças, principalmente, aos textos de Platão. Principal discípulo de Sócrates, Platão usará as ideias do mestre para formular um dos mais completos sistemas de pensamento que o Ocidente co- nheceu. Muitos chegam a afirmar que não se disse nada de original depois de Platão. Exageros à parte, um pouco dessa fascinante traje- tória será o assunto das próximas aulas. em praça pública. Os cidadãos eram convocados para votar quando havia um assunto que fosse de interesse comum. Com isso, os gregos exerciam um tipo de democracia na qual a) todos os cidadãos votavam em um grupo seleto pre- viamente indicado que dava a palavra final sobre temas específicos. b) o conjunto dos cidadãos convocados a votar variava con- forme a gravidade do assunto e os interesses em disputa. c) os eleitores podiam recorrer da decisão quando era realizada a votação de um assunto de interesse comum. d) eram considerados cidadãos todos os homens que viviam na cidade, e excluídas da cidadania todas as mulheres. e) todos os cidadãos tinham participação direta em todas as decisões que fossem de interesse comum. 02.03. (CESPE – UnB) – Considerando o contexto histórico da democracia ateniense, assinale a opção correta. a) A concepção ateniense de democracia na antiguidade grega atribuía a todos os habitantes da cidade o título de cidadãos. b) A ideia de justiça, sobre a qual se funda a democracia, exigia que todos fossem considerados iguais. Seguin- do esse ideário igualitário, a sociedade ateniense esforçava-se para que não houvesse estratificação social na sua população. Por isso também Sócrates aceitou a sentença de morte sem contestar e sem buscar atenuante e nem mesmo a fuga, embora sugerida pelos amigos. A coerência entre pensar e agir era a síntese do pensamento do filósofo. DAVID, Jacques Louis. A morte de Sócrates. 1787. 1 óleo sobre tela, color.; 129,5 cm x 196,2 cm. Metropolitan Museum of Art, Nova Iorque, Estados Unidos. © M et ro po lit an M us eu m o f A rt N ew Yo rk /W ik im ed ia C om m on s O aparecimento da filosofia na Grécia não foi um fato isolado. Estava ligado ao nascimento da pólis. Marcelo Rede. A Grécia Antiga, 2012. A relação entre os surgimentos da filosofia e da pólis na Grécia Antiga é explicada, entre outros fatores, a) pelo interesse dos mercadores em estruturar o mercado financeiro das grandes cidades. b) pelo esforço dos legisladores em justificar e legitimar o poder divino dos reis. c) pela rejeição da população urbana à persistência do pensamento mítico de origem rural. d) pela preocupação dos pensadores em refletir sobre a organização da vida na cidade. e) pela resistência dos grupos nacionalistas às invasões e ao expansionismo estrangeiro. 02.02. (FCC – SP) – Democracia é uma forma de governo que nasceu na Grécia antiga. Para os gregos, os interesses dos cidadãos e da cidade eram decididos em assembleia Aula 02 17Filosofia 1 c) A concepção de democracia na Atenas do século VIII a.C. não pode ser identificada com a concepção de democracia moderna nem pode ser identificada com um igualitarismo social tomado em sentido moderno. d) A ideia de liberdade, sobre a qual também se funda a democracia, exigia que todos fossem considerados como cidadãos livres. Portanto, faziam-se esforços para que os escravos fossem reconhecidos em sua dignidade de seres humanos e fossem libertados do regime de escravidão. e) Os trabalhadores eram respeitados como sujeitos de direito civis e políticos e exaltados como agentes de transformação social. 02.04. (CESGRANRIO – RJ) – Na democracia da pólis, cujo exemplo maior é o da Atenas no século IV a.C., muito pou- cos de fato poderiam ser considerados cidadãos, estando excluídos da participação política: a) escravos, crianças, mulheres e homossexuais. b) mulheres, crianças, escravos e estrangeiros. c) mulheres, escravos e os mais pobres. d) homens, mulheres e crianças. e) todos que não servissem ao exército. Aperfeiçoamento 02.05. (UEG – GO) – No século V a.C., Atenas vivia o auge de sua democracia. Nesse mesmo período, os teatros esta- vam lotados, afinal, as tragédias chamavam cada vez mais a atenção. Outro aspecto importante da civilização grega da época eram os discursos proferidos na ágora. Para obter a aprovação da maioria, esses pronunciamentos deveriam conter argumentos sólidos e persuasivos. Nesse caso, alguns cidadãos procuravam aperfeiçoar sua habilidade de discur- sar. Isso favoreceu o surgimento de um grupo de filósofos que dominavam a arte da oratória. Esses filósofos vinham de diferentes cidades e ensinavam sua arte em troca de pagamento. Eles foram duramente criticados por Sócrates e são conhecidos como: a) maniqueístas (bem ou mal) b) hedonistas (busca pelo prazer) c) epicuristas d) sofistas 02.06. (FUNCAB – RJ) – Os sofistas, mestres da retórica e da oratória, opunham-se aos pressupostos de que as leis e os costumes sociais eram de caráter divino e universal. Deu-se assim, entre eles, o: a) naturalismo. b) relativismo. c) ceticismo filosófico. d) cientificismo. e) racionalismo. 02.07. Na Grécia antiga, principalmente na cidade de Atenas no século V a.C., desenvolveu-se uma corrente de pensadores conhecidos como Sofistas. Tidos como “sábios”, eram pagos para ensinar os jovens principalmente à arte da argumentação. ”Sofista” é o termo que significa sábio, especialista do saber. Sobre os sofistas é correto afirmar: a) Eram professores viajantes que, por determinado preço, vendiam ensinamentos práticos. b) Eram sábios, detentores de alto saber filosófico. c) Interessavam-se pelo saber autêntico das coisas. d) Tinham como objetivo desenvolver o poder da argumen- tação, baseado na verdade real e na essência das ideias. e) Eram filósofos que estudaram na escola de Platão. 02.08. “O homem é a medida de todas as coisas.” Vimos em sala que um dos principais Sofistas que viveu em Atenas foi Protágoras de Abdera, a quem se atribui a afirmação acima. Sobre sua correta interpretação, considere: I. Protágoras é considerado o ”pai dos sofistas”, uma vez que seus discípulos seguiam a sua frase citada acima. II. Protágoras quis dizer que a verdade só é verdade na medida em que alguém a considera como tal. III. Podemos dizer que Protágoras não acredita na verdade absoluta, pois para ele as coisas só são verdadeiras para um indivíduo, que a interpreta como tal, e não de maneira coletiva, por todos. a) Todas são verdadeiras. b) Apenas a I é falsa. c) Apenas a II é falsa. d) Apenas a III é falsa. e) Apenas a II é verdadeira. 02.09. (UNIMONTES – MG) – Via de regra, os sofistas eram homens que tinham feito longas viagens e, por isso mesmo, tinham conhecido diferentes sistemas de governo. Usos, costumes e leis das cidades-estados podiam variar enormemente. Sob esse pano de fundo, os sofistas iniciaram em Atenas uma discussão sobre o que seria natural e o que seria criado pela sociedade. GAARDER, J. O Mundo de Sofia. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. Sobre os sofistas, é incorreto afirmar que: a) eles tiveram papel fundamental nas transformações culturais de Atenas. b) eles se dedicaram à questão do homem e de seu lugar na sociedade. c) eles eram mercenários e só visavam ao lucro na arte de ensinar. d) eles foram os primeiros a compreender que o ”homem é medida de todas as coisas”. 18 Extensivo Terceirão Sobre o contexto histórico e sociopolítico que marca o debate entre Sócrates e os sofistas, conforme aludido no texto, considere as afirmativas a seguir. Nele encontramos: I. Debate com atenção voltada para as questões que alme- jam assegurar os fundamentos da natureza. II. Tematização das questões de ordem metafísica com a pretensão de racionalização do divino. III. O interesse pela problemática ético-política perpassa o debate que marca o contexto de ambos. IV. Compromisso bastante direto, aindaque com posiciona- mentos distintos, em relação ao exercício da democracia. Assinale a alternativa correta. a) Somente as afirmativas I e II são corretas. b) Somente as afirmativas I e IV são corretas. c) Somente as afirmativas III e IV são corretas. d) Somente as afirmativas I, II e III são corretas. e) Somente as afirmativas II, III e IV são corretas. Aprofundamento 02.11. (UNICENTRO – PR) – Analise as assertivas e assinale a alternativa que aponta as corretas. I. Assim como os sofistas, Sócrates dizia que a verdade existe e podemos conhecê-la. Eis porque suas preleções eram aulas onde essa verdade era ensinada. Tais preleções eram solilóquios, isto é, apenas Sócrates falava enquanto os outros o escutavam. II. Tanto para Sócrates quanto para os sofistas, o conheci- mento não é um e stado (o estado da sabedoria), mas um processo, uma busca, uma procura da verdade. Isso não significa que a verdade não exista, e sim que deve ser procurada e que sempre será maior do que nós. III. Como os sofistas, Sócrates se interessa pela virtude. Todavia, os sofistas, mantendo-se no plano dos costu- mes estabelecidos, falavam da virtude no plural, isto é, falavam de virtudes (coragem, temperança, amizade, justiça, piedade, prudência), mas Sócrates fala no sin- gular: a virtude. IV. Diferentemente dos sofistas, Sócrates mantém a separa- ção entre aparência e realidade, entre percepção sensorial e pensamento. Por isso, sua busca visa alcançar algo muito preciso: passar da multiplicidade das aparências opostas, da multiplicidade das percepções divergentes, à unidade da ideia (que é a definição universal e necessária da coisa procurada). a) Apenas I e III. b) Apenas II e III. c) Apenas IV. d) Apenas III e IV. e) Apenas II, III e IV. 02.12. (UNCISAL – AL) – Na Grécia Antiga, o filósofo Sócrates ficou famoso por interpelar os transeuntes e fazer perguntas aos que se achavam conhecedores de determinado assunto. Mas durante o diálogo, Sócrates colocava o interlocutor em situação delicada, levando-o a reconhecer sua própria ignorância. Em virtude de sua atuação, Sócrates acabou sendo condenado à mortes sob a acusação de corromper a juventude, desobedecer às leis da cidade e desrespeitar certos valores religiosos. Considerando essas informações sobre a vida de Sócrates, assim como a forma pela qual seu pensamento foi transmi- tido, pode-se afirmar que sua filosofia: a) transmitia conhecimentos de natureza científica. b) baseava-se em uma contemplação passiva da realidade. c) transmitia conhecimentos exclusivamente sob a forma escrita entre a população ateniense. d) ficou consagrada sob a forma de diálogos, posteriormente redigidos pelo filósofo Platão. e) procurava transmitir às pessoas conhecimentos de na- tureza mitológica 02.13. (UFU – MG) – A respeito do método de Sócrates, assinale a alternativa que apresenta a definição correta de maiêutica. a) Um método sintético, que ignora a argumentação dos interlocutores e prontamente define o que é o objeto em discussão. b) Uma estratégia sofística, que é empregada para educar a juventude na prática da retórica, visando apenas ao ornamento do discurso. c) Um método analítico, que interroga a respeito daquilo que é tido como a verdadeira justiça, o verdadeiro belo, o verdadeiro bem. d) Uma iluminação divina, que deposita na mente do filósofo o conhecimento profundo das coisas da natureza. 02.14. (UNESPAR – PR) – Platão, filósofo grego e um dos pensa- dores mais influentes da história da filosofia, deixou quase toda sua filosofia escrita em forma de diálogos. Na maioria deles, Sócrates é a personagem principal que debate com demais interlocutores os temas relevantes que constituem, de certa forma, o todo da filosofia de Platão. A forma de diálogo pode ser caracterizada como: a) A demonstração de que Platão e os autores de sua época desconheciam outra forma de escrita; b) Apenas uma forma que facilitava lembrar o texto, visto que se tratava de uma cultura da oralidade; c) Uma estratégia adequada que privilegiava a construção do pensamento de forma dialética através da maiêutica socrática; d) A demonstração de que Platão não dominava completa- mente os problemas que ele discutia e, por isso, precisava recorrer às ideias de outras pessoas; e) Uma estratégia pedagógica para facilitar o uso das obras na Academia, escola fundada por Platão. O pensamento de Sócrates e dos sofistas deve ser entendido, portanto, tendo como pano de fundo o contexto histórico e sociopolítico de sua época, pois tem um compromisso bastante direto e ex- plícito com essa realidade. MARCONDES, D. Iniciação à História da Filosofia. Dos Pré-Socráticos a Witt- genstein. Rio de Janeiro: Zahar, 2007. p.40. 02.10. (UNICENTRO – PR) – Leia o texto a seguir. Aula 02 19Filosofia 1 Dentre as características da filosofia socrática inferidas dos escritos de Platão, o trecho acima retrata: a) o uso da dialética como meio de alcançar as verdades imutáveis da alma. b) o constante recurso a analogias e abundantes exemplos para testar definições. c) a crença na reminiscência ou recordação como meio de acessar o conhecimento. d) a convicção de que a investigação se inicia com um reconhecimento do não saber. 02.16. (CESPE – UnB) – O método filosófico de Sócrates consiste em: a) afastar-se do mundo, para meditar melhor a respeito das ideias, que são a realidade fundamental da natureza. b) ver, em todos os seres, a união indissolúvel da matéria unida à forma, tomando a natureza e os seus reinos como objetos de estudos. c) alegar a própria ignorância para, na interlocução com os que julgam saber mais, descobrir a verdade. d) duvidar de toda a realidade para, então, a partir do próprio pensamento, construir um sistema de conhecimento que considere correto, tendo, por consequência, a convicção da própria existência. 02.17. (PUCPR) – Leia os enunciados abaixo a respeito do pensamento filosófico de Sócrates. I. O texto Apologia de Sócrates, cujo autor é Platão, apre- senta a defesa de Sócrates diante das acusações dos atenienses, especialmente, os sofistas, entre os quais está Meleto. II. Sócrates dispensa a ironia como método para refutar as acusações e calúnias sofridas no processo de seu julga- mento. III. Entre as acusações que Sócrates recebe está a de “cor- romper a juventude”. IV. Sócrates é acusado de ensinar as coisas celestes e terrenas, a não acreditar nos deuses e a tornar mais forte a razão mais débil. V. Sócrates nega que seus acusadores são ambiciosos e re- solutos e, em grande número, falam de forma persuasiva e persistente contra ele. Assinale a alternativa que apresenta apenas as afirmativas CORRETAS. a) II, IV e V. b) I, III e IV. c) I, III e V. d) II, III e V. e) I, II e III. 02.18. (CESPE – UnB) – “SÓCRATES: E agora, Mênon, vê que progressos ele já fez em termos de memória? De início não sabia que linha forma a figura de oito pés e mes- mo agora não sabe, mas antes achava que sabia e respondeu confiante como se soubesse, sem ter consciência das dificuldades; ao passo que agora sente a dificuldade em que se encontra e, além de não saber, não acha mais que sabe.” PLATÃO. Mênon. In: MARCONDES, Danilo. Textos básicos de filosofia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1999, p. 35. 02.15. (CPII – RJ) – Sócrates experimentara o filosofar como póle- mos, isto é, o embate e combate pela evidência e verdade (aletheia), contra o perigo da aparên- cia e da opinião (doxa). E pautara esse filosofar “polêmico” (no sentido acima) no exercício do diálogo. Do diálogo socrático fazia parte a ironia. “No uso comum, a palavra ironia tem uma gama infinita de sentidos. Mas em todos eles perpas- sa uma atitude mental que considera o conhe- cimento uma névoa que embacia e deforma a realidade. Nossa existência-no-mundo, forma- da a partir dessa névoa, torna-se terrivelmente mesquinha. O pensador irônico percebe a mes- quinhez de tal existência. Sócrates foi mestre da ironia porque, na discussãodas palavras, condu- zia a todos à evidência e à convicção do ‘sei que nada sei’”. Arcângelo R. Buzzi. Filosofia para principiantes: a existência humana no mundo. Petrópolis: Vozes, p. 82, 9.ª ed., 1998, p. 82 (com adaptações). De acordo com as ideias apresentadas no texto acima, assi- nale a opção correta. a) A ironia em Sócrates tinha um sentido meramente depreciativo e, nesse sentido, era idêntica ao sarcasmo puro e simples. b) Toda opinião é necessariamente falsa, pois é baseada na aparência, e não na essência das coisas. c) Para Sócrates, como educador, o importante era que o homem se tornasse capaz de ter opiniões sobre a realidade. d) A ironia socrática era o modo de interrogar por meio do qual Sócrates levava o seu interlocutor ao reconhecimento de sua própria ignorância, fazendo a crítica das opiniões baseadas nas aparências assumidas pelos homens no cotidiano. e) Na concepção socrática, o não saber é mera ignorância, portanto é o maior impedimento ao pensamento filo- sófico. 20 Extensivo Terceirão Gabarito 02.01. d 02.02. e 02.03. c 02.04. b 02.05. d 02.06. b 02.07. a 02.08. a 02.09. c 02.10. c 02.11. d 02.12. d 02.13. c 02.14. c 02.15. d 02.16. c 02.17. b 02.18. d 02.19. e 02.20. a Sócrates [...] é culpado de corromper os moços e não acreditar nos deuses que a cidade admite, além de aceitar divindades novas (24b-c). Ao final do escrito de Platão, Sócrates diz aos juízes: Mas, está na hora de nos irmos: eu, para morrer; vós, para viver. A quem tocou a melhor parte, é o que nenhum de nós pode saber, exceto a divin- dade. (42a). PLATÃO. Apologia de Sócrates. Trad. Carlos Alberto Nunes. Belém: EDUFPA, 2001. p. 122-23; 147. c) A acusação a Sócrates pauta-se na identificação da insufi- ciência dos seus argumentos, e a corrupção que provoca resulta das contradições do seu pensamento. d) A crítica de Sócrates à tradição sustenta-se no repúdio às instituições que devem ser abandonadas em benefício da liberdade de pensamento. e) A sentença de morte foi aceita por Sócrates porque morrer não é um mal em si e o livre pensar permite apreender essa verdade. 02.20. (UNICAMP – SP) – A sabedoria de Sócrates, filósofo ateniense que viveu no século V a.C., encontra o seu ponto de partida na afirmação “sei que nada sei”, registrada na obra Apo- logia de Sócrates. A frase foi uma resposta aos que afirmavam que ele era o mais sábio dos homens. Após interrogar artesãos, políticos e poetas, Sócrates chegou à conclusão de que ele se di- ferenciava dos demais por reconhecer a sua própria ignorância. O “sei que nada sei” é um ponto de partida para a Filosofia, pois: a) aquele que se reconhece como ignorante torna-se mais sábio por querer adquirir conhecimentos. b) é um exercício de humildade diante da cultura dos sábios do passado, uma vez que a função da Filosofia era repro- duzir os ensinamentos dos filósofos gregos. c) a dúvida é uma condição para o aprendizado e a Filosofia é o saber que estabelece verdades dogmáticas a partir de métodos rigorosos. d) é uma forma de declarar ignorância e permanecer distante dos problemas concretos, preocupando-se apenas com causas abstratas. Com base no texto e nos conhecimentos sobre a disputa entre filosofia e tradição presente na condenação de Sócrates, assinale a alternativa correta. a) O desprezo socrático pela vida, implícito na resignação à sua pena, é reforçado pelo reconhecimento da soberania do poder dos juízes. b) A aceitação do veredito dos juízes que o condenaram à morte evidencia que Sócrates consentiu com os argu- mentos dos acusadores. Desafios 02.19. (UEL – PR) – Sócrates, Giordano Bruno e Galileu fo- ram pensadores que defenderam a liberdade de pensamento frente às restrições impostas pela tradição. Na Apologia de Sócrates, a acusação contra o filósofo é assim enunciada: 21Filosofia 1 Filosofia 1Aula 03 Platão As duas primeiras ideias Platão (que na verdade se chamava Arístocles) era filho de uma família nobre, acostumada ao exercício dos cargos públicos. Porém, o acontecido com Sócrates leva Platão a se afastar de Atenas e partir para uma cidade próxima, Megara. Depois irá para a Sicília, onde orienta e influencia o rei local (numa relação que não foi bem-sucedida para o filósofo). Quando volta para Atenas, funda uma escola, a Academia, com o objetivo de formar novos cidadãos para a cidade cuja democracia havia rebaixado a política a arranjos e negociatas e, na opinião de Platão, a decisões tomadas pela massa ignorante e sem conhecimento. Sua inconformidade era particularmente voltada con- tra os sofistas. O subjetivismo e o relativismo, o apren- dizado da retórica para obter a adesão dos espíritos, a transformação da razão mais fraca em razão mais forte, como apregoava Protágoras, doía aos ouvidos de Platão. Platão não aceitava isso. Tinha que existir um parâ- metro que não variasse de homem para homem, mas que subjugasse todas as ações, um parâmetro objetivo, universal, cujo fim fosse um Bem que não fosse útil ou prazeroso, apenas um Bem em si. Ao contrário de Pro- tágoras e sua máxima “O homem é a medida de todas as coisas”, Platão buscava uma medida à qual todos os homens se submetessem. E qual seria essa medida? Como alcançá-la? Influências No período no qual passou no sul da Itália, Platão conheceu melhor três importantes filosofias da época e nelas buscou fundamento para sua própria filosofia: • Em Parmênides buscou as características da realida- de verdadeira: imutáveis e eternas. • Em Demócrito, a ideia de que o verdadeiro não é um só, mas, múltiplo. • Em Pitágoras, a noção de que a verdade só pode ser expressa abstratamente, sem a necessidade de contato com a experiência e que a matemática seria o meio mais adequado dessa expressão. As Ideias (como Platão as chamou) são, portanto, modelos verdadeiros, imutáveis e eternos, cujo conhe- cimento só é possível pela razão treinada. Essa razão treinada é a única capaz de estabelecer relações entre essas Ideias, reconhecendo a identidade ou diferença entre elas, a hierarquia, a compatibilidade, etc.). Essa capacidade de relacionar as Ideias, Platão chamou de dialética. Até então essa palavra era usada como a ca- pacidade de esclarecer os termos de um diálogo, usada por Sócrates e que Platão considerava muito importante para chegar a uma Ideia, desbaratando as opiniões em torno de um conceito. Mas, a dialética platônica era mais do que isso: era o diálogo com a realidade das Ideias, o conhecimento de um mundo cuja entrada só era possí- vel aos filósofos mais dedicados e profundos. Era o reino do conhecimento verdadeiro. Uma coisa era importante para Platão: todas as Ideias confluíam para o Bem. Isso conferia ao seu pensamento um caráter teleológico, ao contrário dos primeiros filóso- fos (pensadores da cosmogonia, lembra?), de Tales a De- mócrito, que não viam finalidade nos seres, concebendo a realidade como uma circunstância. Platão não podia imaginar a realidade sem um fim e esse fim era o Bem. É fato que ele nunca descreveu exatamente de que bem se tratava, mas não tinha relação com bens subjetivos ou políticos ou econômicos ou culturais. Tratava-se de um estado no qual a razão, no grau mais elevado de sua capacidade, atingia. Na medida em que as Ideias eram imutáveis e eternas, elas não pertenciam à realidade que experimentávamos. Tratava-se de uma realidade superior mas não tangível, perceptível aos sentidos. Por isso, afirmava Platão, Herá- clito podia afirmar que o que vemos é um vir a ser e que não podemos nos banhar duas vezes nas mesmas águas. É fato. O mundo da experiência é mutável e perecível e a © Sh ut te rs to ck .c om /E KS 22 Extensivo Terceirão ele cabem as considerações de Heráclito. Mas, essa é uma parte da realidade e não toda a realidade. Há um mundo das Ideias, formado pelos modelos das coisas que vemos e sentimos, só que nesse mundo esses modelos são as coisas perfeitas. Um exemplo são os polígonos, figuras abstratas
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