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– 1 1. Introdução O homem, diferentemente de outras espécies, não se contenta em viver no mundo satisfazendo simples - mente suas necessidades primárias. Sente a neces sidade de interpretar o mundo e acaba criando um segundo mundo: o mundo humano. Assim, podemos definir a espécie humana como aquela capaz de refletir sobre sua própria condição, capaz de planejar sua ação, de simbolizar e de produzir o universo da cultura. Deste novo mundo, faz parte a produção de arte fatos, necessários para complementar uma inacabada estrutura biológica. O homem, assim, cria lanças para caçar, arma - men tos para guerrear, instrumentos para construir outras coisas, máquinas para voar. Além desses objetos, o homem ritualiza sua rotina, através de come morações, cerimônias, festas e cultos. Assim, ele se assegura de que a vida tem algum sentido e garante a reprodução da vida social. O desenho de Escher sugere o exercício da reflexão humana. Segundo o filósofo Ernst Cassirer, a meta mais elevada da Filosofia é o conhecimento de si próprio. Não é só isso. O homem elabora abordagens do real. Não tolerando o caos ou a desordem, ele busca inter pre - tações da realidade e acumula saberes que lhe permitem uma vida plena de consciência, usando a inteligência para escapar do absurdo da existência; ou seja, o homem, pelo conhecimento, traça para si uma existência de fato humana. Tais abordagens se apresentam em diversos aspectos e versam em diferentes áreas do conhecimento: a arte, a mitologia, a religião, a ciência, o senso comum e a filosofia. 2. O Senso Comum O senso comum é um conhecimento empírico, herdado pelo meio social, pouco questionado, irrefletido, fragmentário, difuso, elaborado sem método ou qualquer sistema. Isso não quer dizer que não tenha valor, mas o senso comum geralmente deve ser transcendido para que não gere julgamentos errados, preconceituosos e pobres. A realidade é complexa e exige esforços da inteligência para que seja mais bem sondada. Cabe ao bom senso saber usar o senso comum, reconhecendo seu valor e suas limitações. Assim, desenvolve-se o sen - so crítico, capacitado a questionar os valores transmi tidos, sem destruí-los, apta a ade quá-los e transformá-los diante das situações novas da existência. Zeus – Mito grego. Os gregos não se contentaram com as explicações míticas, por isso desenvolveram a reflexão filosófica. MÓDULO 1 Do Espanto à Reflexão C1_UNICO_FILO_PROF_MA 16/01/14 13:15 Página 1 Rodin, O Pensador. Só o homem reflete e questiona a sua existência. 3. O Nascimento da Filosofia Os gregos antigos contavam com uma mitologia ampla e rica para explicar o universo e a realidade. Mas é na Grécia Antiga, mais especificamente nas suas colônias (Jônica e Magna Grécia), no século VI a.C, que nasce a reflexão filosófica. Isso não decretou a morte do pensa - mento mítico, mas muitos filósofos rejeitavam os mitos e procuravam dessacralizar a natureza, buscando entender como lógicos os processos naturais. Os mitos se baseavam em certezas dogmáticas e não resultavam de processos reflexivos. A filosofia, segundo Platão (428-347 a.C.), nascera do espanto, da per ple xidade, ou seja, da capacidade humana de ad mirar o mundo. Assim, o homem problematiza questões da vida, reflete sobre sua própria condição e existência – filosofa. Sócrates (470-399 a. C.) afirmara que uma existência sem reflexão não valeria a pena e sabemos que hoje, num mundo pragmático, numa cultura marcada pelo cons tante culto ao vazio, muitas pessoas preferem não refletir; abrem mão desse privilégio ou mesmo desse risco, pois a reflexão consciente nos mobiliza e então torna-se necessário sair da nossa zona de conforto. Tudo para essas pessoas é natural e a realidade não merece questionamento. Per ma - necem no senso comum. Aristóteles, filósofo grego que valorizou a razão humana. Texto Filosófico: Leia o texto escrito na Antiga Grécia pelo filósofo Aristóteles em seu livro Metafísica: Os homens, no início, encontravam no assombro o motivo para filosofar, por que no início eles se ma - ravilhavam diante dos fe nô menos mais simples, dos quais não podiam dar-se conta. Depois, paulatina mente, passaram a estar diante de problemas mais com plexos, como as condições da Lua e do Sol, as es trelas e a origem do universo. Quem se encontra em estado de incerteza e de assombro acredita ser ignorante (por isso, quem se interessa pelas lendas também é, de alguma maneira, filósofo, uma vez que o mito é um conjunto de coisas maravilhosas). Se é verdade que os homens começaram a filosofar para livrar-se da ignorância, é evidente que procuravam conhecer por amor ao saber, e não por uma neces sidade prática. Isso pode ser comprovado também pelo curso dos eventos, uma vez que os homens buscaram essa espécie de conhecimento somente depois que tiveram à sua disposição todos os meios indispensáveis à vida, assim como aqueles que oferecem comodidade e bem- estar. É claro, então, que nos dedicamos a essa inves - tigação sem visar vantagens exteriores. Assim como dizemos que um homem que vive para si, e não para o outro, é livre, do mesmo modo consideramos tal ciência. “Passar do senso comum à consciência filosófica significa passar de uma concepção fragmentária, incoerente, desarticulada, implícita, degradada, mecâ nica, passiva e simplista a uma concepção unitária, coerente, articulada, explícita, original, intencional, ativa e cultivada”. (Dermeval Saviani) 2 – C1_UNICO_FILO_PROF_MA 10/12/13 15:15 Página 2 – 3 O filósofo Aristóteles nasceu em 384 a.C. e morreu em 322 a.C. Seus pensamentos e ideias sobre a humanidade têm influências significativas na educação e no pensamento ocidental contemporâneo. Aristóteles é considerado o criador do pensamento lógico. Suas obras influenciaram também na teologia da cristandade. Aristóteles foi viver em Atenas aos 17 anos, onde conheceu Platão, tornando-se seu discípulo. Passou o ano de 343 a.C. como preceptor do imperador Alexandre, o Grande, da Macedônia. Fundou em Atenas, no ano de 335 a.C, a escola Liceu, voltada para o estudo das ciências naturais. Seus estudos filosóficos baseavam-se em experimentações para comprovar fenômenos da natureza. O filósofo valorizava a inteligência humana como a única forma de alcançar a verdade. Fez escola e seus pen - samentos foram seguidos e propagados pelos dis cípulos. Pensou e escreveu sobre diversas áreas do conheci men - to: política, lógica, moral, ética, teologia, pedagogia, metafísica, didática, poética, retórica, física, antropologia, psicologia e biologia. Publicou muitas obras de cunho didático, principalmente para o público geral. Valorizava a educação e a considerava uma das formas crescimento intelectual e humano. Sua grande obra é o livro Organon, que reúne grande parte de seus pensamentos. Pensamento: “A educação tem raízes amargas, mas os frutos são doces”. Glossário: Dessacralizar: retirar determinado elemento cultural da esfera sagrada. Dogmático: de dogma, relativo a uma verdade que não é passível de questionamento. Sobre Aristóteles 1. De acordo com o texto filosófico de Aristóteles, julgue as colocações abaixo: a) A filosofia nasce da necessidade de sobrevivência humana. b) A filosofia é pura atividade contemplativa. c) A filosofia é amor puro e desinteressado pelo conhecimento. d) A filosofia nasce da apatia e da naturalização diante dos fenômenos. São coerentes: a) todas. b) apenas I e II. c) apenas I e III. d) apenas II e III. e) apenas III e IV. RESOLUÇÃO: Resposta: D 2. “O ato de filosofar não pretende oferecer soluções já prontas, isentas de todo questionamento... Liberdade e razão se entrecruzam, e esse entrecruzamento reflete-se no ato de filosofar. É nestes termos que o ato de filosofar contraria tanto a ideologização quanto a mistificação, porque está atento à dimensão especificamente histórica...”. (Thomas R. Giles) Assinale a alternativa que melhor reflete a proposição acima. a) O ato de filosofar se limita a uma simples contemplação ou constatação dos fatos,excluindo qualquer engajamento. b) Filosofar é estar em contato constante com os fatos e com a experiência desses fatos, numa atitude de radicalidade (no sentido de raiz, de profundidade) sempre renovada, à procura dos pressu - postos e dos fundamentos de uma realidade que se manifesta e se esconde. c) A interioridade a que a Filosofia nos leva e para a qual nos conclama é aquela de um eu isolado, contemplativo, absorto e distante do mundo. d) O ato de filosofar deve elaborar respostas rápidas e prontas, capazes de expor soluções práticas às questões fundamentais da existência e da vida social. e) A atividade de filosofar se distingue do ato próprio de viver, segundo o pressuposto de Sócrates. RESOLUÇÃO: Resposta: B C1_UNICO_FILO_PROF_MA 10/12/13 15:15 Página 3 4 – 3. Filósofos sempre tentaram definir o homem distinguindo-o dos outros animais. Nesse sentido, podemos afirmar: I. O homem é um ser social, enquanto os outros animais não vivem em sociedade. II. O homem tem uma grande capacidade de adaptação ao ambiente geográfico e à alimentação. III. O homem produz cultura, que é um mundo especificamente humano, sem o qual não conseguiria viver adequadamente. IV. O homem não é um ser livre, somente os animais verdadeiramente o são. São coerentes apenas: a) I e II b) II e III c) II e IV d) III e IV e) I e IV RESOLUÇÃO: Resposta: B 4. A filosofia sempre procurou definir o homem distinguindo-o dos demais animais. Avalie as proposições abaixo: I. O homem é um ser que consegue repousar sobre seu próprio corpo, prova de seu acabamento biológico. II. O homem é um ser de linguagem articulada e inventiva. III. O homem é o único ser social. IV. O homem produz conhecimento e abordagens do real porque não tolera o caos. São coerentes: a) I e II b) I e III c) II e III d) I e IV e) II e IV RESOLUÇÃO: Resposta: E 5. “Ao homem cabem indagações axiológicas, ou seja, valorativas”. Isso significa que a) o homem não tem escolhas diante de sua existência. b) o homem tem uma estrutura biológica inadequada para sobreviver em qualquer ambiente geográfico. c) o homem porta em sua existência consciente uma dimensão moral. d) o homem não possui habilidades para refletir sobre a sua condição. e) o homem é indiferente diante do outro, de sua dor e sofrimento. RESOLUÇÃO: Resposta: C 6. Platão dizia que a filosofia nascera do espanto humano diante da vida e do Universo. A palavra espanto (thauma em grego) teria aqui o sentido de a) medo ou receio. b) perplexidade ou admiração. c) susto ou pavor. d) ignorância ou trevas. e) conhecimento ou esclarecimento. RESOLUÇÃO: Resposta: B 7. Platão dizia que a filosofia nascera do espanto humano diante da vida e do Universo. No sentido aqui empregado, o contrário de espanto – e que portanto não promoveria o ato de filosofar – poderia ser: a) preconceito. b) tranquilidade. c) indiferença. d) preocupação. e) senso comum. RESOLUÇÃO: Resposta: E 8. Costuma-se dizer que a filosofia assume, por vezes, uma postura negativa, no sentido de dizer não aos preconceitos, ao óbvio, ao senso comum. Isso significa dizer que a) a filosofia é um conhecimento crítico. b) a filosofia é um conhecimento dogmático e rígido. c) a filosofia é pessimista. d) a filosofia não tem habilidade para refletir plenamente sobre a existência e a condição humana. e) os filósofos querem elaborar um conhecimento semelhante ao produzido pela ciências naturais, como a biologia e a física. RESOLUÇÃO: Resposta: A C1_UNICO_FILO_PROF_MA 10/12/13 15:15 Página 4 – 5 1. O homem, diferentemente de outras espécies, não se contenta em viver no mundo satisfazendo simplesmente suas necessidades primárias. O homem também sente a necessidade de: a) interpretar o mundo e de se adaptar a ele, criando a cultura. b) acumular capital, sendo naturalmente ambicioso. c) reproduzir-se sexualmente, dando continuidade à espécie. d) viver em sociedade, coisa observável apenas nessa espécie. e) dominar as outras espécies, garantindo, assim, a sua sobrevivência. 2. O conhecimento empírico, herdado pelo meio social, pouco questionado, irrefletido, fragmentário, difuso, elaborado sem método ou qualquer sistema. A isso costuma-se chamar de: a) bom senso. b) cientificismo. c) senso comum. d) ideologia. e) reflexão filosófica. 3. “Os gregos antigos contavam com uma mitologia ampla e rica para explicar o universo e a realidade. Mas é na Grécia Antiga, mais especificamente nas suas colônias (Jônica e Magna Grécia), no século VI a.C, que nasce a reflexão filosófica. Isso não decretou a morte do pensamento mítico, mas muitos filósofos rejeitavam os mitos e procuravam dessacralizar a natureza, buscando entender como lógicos os processos naturais. Os mitos se baseavam em certezas”. No texto, o termo dessacralizar está relacionado: a) ao fato da cultura grega nunca ter sofrido qualquer influência de outras culturas, como a oriental ou cristã. b) ao fato de o politeísmo (muitos deuses) ser considerado um pecado, pois só o monoteísmo (um só Deus) constitui a racionalidade e verdade das religiões. c) à necessidade dos antigos gregos de interpretar o mundo de acordo com o advento do pensamento científico e rigoroso. d) à vontade intelectual dos gregos de entender a natureza de forma mais reflexiva, pois os mitos se baseavam em certezas dogmáticas e não resultavam de processos reflexivos. e) às exigências do Estado grego de subordinar a religião ao poder político, o que resultou na formação de um Estado laico (que separa a esfera religiosa da política). 4. “Ao buscarem a racionalidade do universo, os filósofos dessacralizam a natureza”. Assinale a alternativa que complementa esta sentença. a) Os primeiros filósofos elaboraram um conhecimento metafísico, portanto distante da experiência concreta com o mundo. b) Os filósofos gregos elaboraram um saber mítico que só foi desmantelado com o advento da ciência na idade moderna. c) O sucesso tecnológico justifica a supervalorização da ciência e a exclusão das outras formas de conhecimento ultrapassadas. d) A natureza nada tem de sagrado, pois a única filosofia possível é aquela comprometida com uma visão materialista e não mítica. e) À medida que o mito deixa de ser uma forma abrangente de com - preensão do real, o conhecimento se seculariza e a razão torna-se um instrumento de valor para a compreensão filosófica. 9. (ENEM) TEXTO I Anaxímenes de Mileto disse que o ar é o elemento originário de tudo o que existe, existiu e existirá, e que outras coisas provêm de sua descedência. Quando o ar se dilata, transforma-se em fogo, ao passo que os ventos são ar condensado. As nuvens formam-se a partir do ar por feltragem e, ainda mais condensadas, transformam-se em água. A água, quando mais condensada, transforma-se em terra, e quando condensada ao máximo possível, transforma-se em pedras. BURNET, J. A aurora da filosofia grega. Rio de Janeiro: PUC-Rio, 2006 (adaptado). TEXTO II Basílio Magno, filósofo medieval, escreveu: “Deus, como criador de todas as coisas, está no princípio do mundo e dos tempos. Quão parcas de conteúdo se nos apresentam, em face desta concepção, as especulações contraditórias dos filósofos, para os quais o mundo se origina, ou de algum dos quatro elementos, como ensinam os Jônios, ou dos átomos, como julga Demócrito. Na verdade, dão impressão de quererem ancorar o mundo numa teia de aranha.” GILSON, E.: BOEHNER, P. História da Filosofia Cristã. São Paulo: Vozes, 1991 (adaptado). Filósofos dos diversos tempos históricos desenvolveram teses para explicar a origem do universo, a partir de uma explicação racional. As teses de Anaxímenes, filósofo grego antigo, e de Basílio, filósofo medieval, têm em comum na sua fundamentação teorias que a) eram baseadas nas ciências da natureza. b) refutavam as teorias de filósofos da religião. c) tinham origem nos mitos das civilizações antigas. d) postulavam um princípio originário para o mundo. e) defendiam que Deus é o princípio de todas as coisas. RESOLUÇÃO: Osdois autores postulam que um princípio teria ori gi nado o mundo: para Anaxímenes, seria o ar; en quanto para o medieval Basílio Magno, seria Deus, em acordo com a concepção criacionista cristã. Resposta: D C1_UNICO_FILO_PROF_MA 10/12/13 15:15 Página 5 6 – 1) A 2) C 3) D 4) E 5) E 6) D 7) E 8) Do grego Filo: amor, Sofia: saber; portanto, o sentido da palavra é “amor ao conhecimento”, conforme inclusive está colocado no texto de Aristóteles. 9) Segundo o filósofo grego, a filosofia nasce somente em sociedades desenvolvidas materialmente, ou seja, naquelas em que já são oferecidos conforto e bem-estar. 10) A frase refere-se ao surgimento da reflexão filosófica na Grécia Antiga, em que foi deixado de lado, em parte, o saber dogmático, irrefletido, e substituído por um pensar coerente, unitário e original. 11) O senso comum é um conhecimento empírico, herdado pelo meio social, pouco questionado, elaborado sem método ou qualquer sistema. O senso comum geralmente deve ser transcendido para serem evitados julgamentos errados, preconceituosos e pobres. 12) A competição, para Darwin, e a colaboracão, para Wilson, funcionam como fatores da natureza evolutiva na sobrevivên - cia da espécie humana. Resposta: C 5. Passar do senso comum à consciência filosófica significa passar de uma concepção fragmentária, incoerente, desarticulada, implícita, degradada, para uma concepção: a) mecânica e coerente. b) passiva e explícita. c) simplista e intencional. d) ativa e dogmática. e) original e cultivada. 6. “Os homens, no início, encontravam no assombro o motivo para filosofar, porque no início eles se maravilhavam diante dos fenômenos mais simples, dos quais não podiam dar-se conta, e depois, paula - tinamente, passaram a estar diante de problemas mais complexos, co - mo as condições da Lua e do Sol, as estrelas e a origem do universo”. (Aristóteles) No texto, o termo assombro faz referência: a) à impossibilidade de se encontrar respostas definitivas e verdadeiras acerca do universo. b) ao espanto e à perplexidade humana diante da complexidade do mundo e da existência, o que a leva à reflexão. c) ao mistério da vida, que só pode ser desvendado progressivamente com o desenvolvimento científico. d) à religião, que tem como objeto de entendimento o mistério do mundo e da existência. e) à necessidade humana de produzir os mitos que explicam, de fato, a origem das coisas e do universo. 7. “Não há filosofia que se possa aprender; só se aprende a filosofar”. (I. Kant) A frase do filósofo Kant pretende afirmar que: a) a filosofia deve ser um conhecimento fechado, lógico e dogmático (indiscutível). b) a filosofia é, na verdade, uma doutrina que estabelece respostas e verdades. c) a filosofia não é um conhecimento coerente, tampouco lógico, necessitando grande flexibilidade de interpretação, como acontece com a arte. d) a filosofia é um conjunto de ideias que foram expostas pelos gregos do passado e hoje constitui uma ideologia. e) o ato de filosofar implica autonomia de pensamento, ou seja, não se trata de uma ideologia fechada ou de uma doutrina dogmática. 8. Pesquise o sentido e a origem do termo filosofia. 9. Como, no texto, Aristóteles argumenta contra a ideia de que a filo so - fia teria nascido em razão da necessidade de sobrevivência dos homens? 10.“O conhecimento filosófico não é dado pelos deuses, mas procurado pelos homens.” (Maria Lúcia de Arruda Aranha). Qual o sentido dessa frase? 11.Explique o senso comum e fale sobre a sua limitação. 12.(UNESP) – Encontrar explicações convincentes para a origem e a evolução da vida sempre foi uma obsessão para os cientistas. A competição constante, embora muitas vezes silenciosa, entre os indivíduos, teria preservado as melhores linhagens, afirmava Charles Darwin. Assim, um ser vivo com uma mutação favorável para a sobrevivência da espécie teria mais chances de sobreviver e espalhar essa característica para as futuras gerações. Ao fim, sobreviveriam os mais fortes, como interpretou o filósofo Herbert Spencer. Um século e meio depois, um biólogo americano agita a comunidade científica interna cional ao ousar complementar a teoria da seleção darwinista. Segundo Edward Wilson, da Universidade de Harvard, o processo evolutivo é mais bem-sucedido em sociedades nas quais os indivíduos colaboram uns com os outros para um objetivo comum. Assim, grupos de pessoas, empresas e até países que agem pensando em benefício dos outros e de forma coletiva alcançam mais sucesso, segundo o americano. (Rachel Costa. O poder da generosidade. IstoÉ. 11.05.2012. Adaptado) Embora divergentes no que se refere aos fatores que explicam a evolução da espécie humana, ambas as teorias, de Darwin e de Wilson, apresentam como ponto comum a concepção de que a) influências religiosas e metafísicas são o principal veículo no processo evolutivo humano ao longo do tempo. b) são os condicionamentos psicológicos que infuenciam de maneira decisiva o progresso na história. c) a sobrevivência da espécie humana ao longo da história é explicada pela primazia de fatores de natureza evolutiva. d) os fatores econômicos e materiais são os principais responsáveis pelas transformações históricas. e) os fatores intelectuais são os principais responsáveis pelo sucesso dos homens em dominar a natureza. C1_UNICO_FILO_PROF_MA 10/12/13 15:15 Página 6 – 7 “Deve-se exigir de mim que procure a verdade, mas não que a encontre” – Diderot (1713 – 1784), Pensamentos Filosóficos. “Não exageres o culto da verdade, não há homem que ao fim de um dia não tenha mentido com razão muitas vezes” – Jorge Luis Borges (1899), Elogio da Sombra. 1. Introdução A busca por uma Verdade universalmente válida tem sido um dos motores da história do pensamento filo - sófico. Muitos veem nisso, como Nietzsche (1844-1900), uma obsessão desvairada e sem sentido. Outros, os relativistas, afirmam que não há Verdade, mas pequenas verdades de valor particular, sem qualquer vocação de aplicação universal. Trata-se do mais polêmico tema filosófico e um tratamento baseado no senso comum compromete a qualidade da discussão. Protágoras, filósofo sofista da Antiga Grécia. Na Antiga Grécia, o problema já estava presente. Os sofistas eram filósofos mestres em persuasão e o mais famoso foi Protágoras (485-410 a.C.). Esses sábios pensadores eram itinerantes, ou seja, viajavam muito, e tiveram, portanto, contato com povos diferentes e com concepções diversas de realidade e verdade. Assim, chegaram à conclusão de que não havia uma verdade universal. Do outro lado, temos a posição de Sócrates, já citado na aula anterior. Sócrates jamais saíra de Atenas, hoje capital da Grécia, e não achava que precisasse viajar para adquirir sabedoria, pois essa se encontrava exata - mente dentro do homem. Em Atenas, muitos jovens buscavam o filósofo na via pública para aprender. Interpelava transeuntes e fazia tantas per gun tas que, no final, eles reconheciam a própria ignorância; para Sócrates, é exatamente no reconheci mento da própria ignorância que começa o caminho para a sa bedoria. Só sei que nada sei é uma frase que foi atribuída a ele. Nada escreveu, como Jesus, e seus ensina mentos foram registrados pelos discípulos, particular mente por Platão. Sua peda go - gia foi chamada de Maiêutica, ou seja, relativo ao parto, pois, como um parteiro, ajudava a sabedoria nascer de dentro dos seus alunos. A Verdade, então, viria à luz. Sócrates, filósofo grego que acreditava que a verdade estava dentro do homem. MÓDULO 2 A Busca da Verdade C1_UNICO_FILO_PROF_MA 10/12/13 15:15 Página 7 Texto Filosófico Antigo Sócrates: Protágoras afirma que a medida de todas as coisas é o homem: daquelas coisas que são, pelo que são, daquelas que não são, pelo que não são, entendendo por medida a norma de juízo e por coisas o fato geral. Logo o homem é a norma que julga todos os fatos: daqueles que são pelo que são, daqueles que não são pelo que não são. Por isso, ele admite somente aquiloque parece a cada indivíduo, introduzindo, dessa forma, o princípio de relatividade. Segundo ele, portanto, quem julga as coisas é o homem. De fato, tudo o que parece aos homens também é; e o que não parece a nenhum homem tampouco é... Protágoras: Eu afirmo, sim, que a verdade é mesmo como escrevi: que cada um de nós é a medida das coisas que são e que não são; mas existe uma diferença infinita entre homem e homem, e exatamente por isso as coisas parecem e são de um jeito para uma pessoa e, de outro jeito, para outra pessoa. (Fonte: Platão, Teeteto) Texto moderno E se o Relativismo fosse verdade – Uma ilustração (Matthew J. Slick - Tradução: Hamilton B. Furtado) Relativismo é a posição em que todos os pontos de vista são tão válidos quanto quaisquer outros e em que o indivíduo é a medida do que é verdade para si. Eu vejo um grande problema nisso. A seguir está uma ilustração para demonstrar por quê. O contexto: um ladrão está sondando uma joalheria a fim de roubá-la. Ele entra para checar se há algum alarme visível, fechaduras, o espaço etc. Neste pro cesso ele inesperadamente se vê envolvido em uma discussão com o proprietário da joalheria, cujo passa tempo é o estudo de filosofia e que acredita que a verdade e a moral são relativas. – Então – diz o proprietário – Tudo é relativo. É por isso que eu acredito que toda a moral não é absoluta é que certo e errado é algo que o indivíduo deve deter mi nar dentro dos limites da sociedade. Mas não há um certo e errado absoluto. – É uma perspectiva muito interessante – diz o ladrão. – Eu entrei acreditando que existia um Deus e que existia certo e errado. Mas eu abandonei tudo isso e concordo com você que não existe um certo e errado absoluto e que nós somos livres para fazer o que queremos. O ladrão deixa a loja e volta à tarde para assaltar. Ele desarma todos os alarmes e travas e está no processo de roubar a loja. Neste momento entra o proprietário por uma porta lateral. O ladrão saca uma arma. O proprietário não pode ver a face do ladrão porque este usa uma máscara de esqui. – Não atire em mim – diz o proprietário. – Por favor, pegue o que quiser e me deixe em paz. – É exatamente isso que eu pretendo fazer. – Diz o ladrão. – Espere um pouco. Eu conheço você. Você é o homem que estava na loja hoje cedo. Eu reconheço sua voz. – Isso é muito ruim para você – diz o ladrão. – Porque agora você também sabe como eu sou. E como eu não quero ir para a cadeia eu vou ter que matar você. – Você não pode fazer isso – diz o proprietário. – Por que não? – Porque não é certo – implora o homem, deses perado. – Mas você não me disse hoje cedo que não há um certo e errado? – Sim, mas eu tenho uma família, filhos que precisam de mim e uma esposa. – E daí? Eu tenho certeza que você tem seguro e eles vão faturar um bom dinheiro. Mas como não há certo ou errado não faz diferença se eu mato ou não você. E já que se eu deixá-lo vivo você irá me delatar e eu irei para a prisão. Lamento, mas isso não vai acontecer. – Mas é um crime contra a sociedade me matar. – Isso é errado porque a sociedade diz que é. Como você pode ver, eu não reconheço o direito da sociedade impor moralidade sobre mim. Tudo é relativo. Lembra-se? – Por favor, não atire em mim. Eu lhe imploro. Eu prometo não contar para ninguém como você é. Eu juro! – Eu não acredito em você e não posso arriscar. – Mas é verdade! Eu juro que não conto para ninguém. – Desculpe, mas isso não pode ser verdade, porque não há verdade absoluta, não há certo nem errado, nem erro, lembra-se? Se eu deixar você viver e sair você vai quebrar sua promessa porque isso tudo é relativo. Não há chance de confiar em você. Nossa conversa esta manhã convenceu-me que você acredita que tudo é relativo. Por causa disso eu não posso crer que você irá conservar sua palavra. Eu não posso confiar em você. – Mas é errado me matar. Não está certo! – Para mim não é nem certo nem errado matar você. Uma vez que a verdade é relativa ao indivíduo, se eu matar você, esta é a minha verdade. E é obviamente verdadeiro que se eu deixá-lo vivo eu irei para a prisão. Lamento, mas você mesmo se matou. – Não! Por favor, não atire em mim. Eu lhe imploro. – Implorar não faz diferença. (Bang!) Se o relativismo é verdadeiro, então qual o problema em puxar o gatilho? Talvez alguém possa dizer que é errado tirar a vida de outra pessoa sem necessidade. Mas porque seria errado se não há um padrão de certo e errado?Outros podem dizer que é um crime contra a sociedade. Mas, e daí? Se o que é verdade para você é simplesmente verdade, então qual é o erro em matar alguém para se proteger depois de roubá-lo? Se o que é verdade para você que para se proteger você deve matar, então quem se importa com o que a sociedade diz? Por que alguém seria obrigado a se conformar com normas sociais? Agir assim é uma decisão pessoal. Embora nem todos os relativistas ajam de maneira não-ética, eu vejo o relativismo como um contribuidor para a anarquia geral. Por quê? Porque é uma justificação para fazer o que você quiser. 8 – C1_UNICO_FILO_PROF_MA 10/12/13 15:15 Página 8 – 9 O sentido grego. Sobre Sócrates O sentido grego Em grego, a palavra para ‘verdade’ é aletheia e significa o não oculto, não escondido, não dissimulado. O verdadeiro é o que se manifesta aos olhos do corpo e do espírito, a verdade é a manifestação daquilo que é ou existe tal como é. O verdadeiro, neste sentido, se opõe ao falso, pseudos, que é o encoberto, o escondido, o dissimulado, o que parece ser e não é como parece. Verdadeiro é o evidente, numa acepção quase ‘visual’ da palavra; o ‘verdadeiro’ é claro, delineado, estruturado, visível. Assim, a verdade é uma qualidade das próprias coisas e o verdadeiro está nas próprias coisas. Conhecer é ver e dizer a verdade que está na própria realidade e, portanto, a verdade depende de que a realidade se manifeste, enquanto a falsidade depende de que ela se esconda ou se dissimule em aparências. Sobre Sócrates Detalhes sobre a vida de Sócrates derivam de três fontes contemporâneas: os diálogos de Platão, as peças de Aristófanes e os diálogos de Xenofonte. Não há evidência de que Sócrates tenha ele mesmo publicado alguma obra. As obras de Aristófanes retratam Sócrates como um personagem cômico e sua representação não deve ser levada ao pé da letra. Sócrates casou-se com Xântipe, que era bem mais jovem que ele, e teve três filhos: Lamprocles, Sophronis - cus e Menexenus. Seu amigo Críton criticou-o por ter abandonado seus filhos quando ele se recusou a tentar escapar antes de sua execução, mostrando que ele (assim como seus outros discípulos) parece não ter entendido a mensagem que Sócrates tenta passar sobre a morte (diálogo Fédon), antes de ser executado. Não se sabe ao certo qual o trabalho de Sócrates, se é que houve outro além da Filosofia. De acordo com algumas fontes, Sócrates aprendeu a profissão de pedreiro com seu pai. Na obra de Xenofonte, Sócrates aparece declarando que se dedicava àquilo que ele considerava a arte ou ocupação mais importante: debater filosofia. Platão afirma que Sócrates não recebia pagamento por suas aulas. Sua pobreza era prova de que não era um professor. Várias fontes, inclusive os diálogos de Platão, mencionam que Sócrates tinha participado no exército em várias batalhas. Na Apologia, Sócrates compara seu período no serviço militar a seus problemas no tribunal, e diz que qualquer pessoa no júri que imagine que ele deveria se retirar da filosofia deveria também imaginar que os soldados devessem bater em retirada quando era provável que pudessem morrer em uma batalha. Algumas curiosidades: Sócrates costumava caminhar descalço e não tinha o hábito de tomar banho. Em certas ocasiões, parava o que quer que estivesse fazendo, ficando imóvel por horas, meditando sobre algum problema. Certa vez o fez descalço sobre a neve, segundo os escritos de Platão, o que demonstra o caráter legendário da figura socrática. As crenças de Sócrates, em comparação às de Platão, são difíceis de discernir. Há poucasdistinções entre as duas ideias filosóficas. Consequentemente, diferenciar as crenças filosóficas de Sócrates, Platão e Xenofonte é uma tarefa árdua e deve-se sempre lembrar que o que é atribuído a Sócrates pode refletir o pensa - mento dos outros autores. Se algo pode ser dito sobre as ideias de Sócrates é que ele foi moralmente, intelectualmente e filosofica - mente diferente de seus contemporâneos atenienses. Quando estava sendo julgado por heresia e por corrom per a juventude, usou seu método de elenchos para demonstrar as crenças errôneas de seus julgadores. Sócrates acreditava na imortalidade da alma e que teria recebido, em um certo momento de sua vida, uma missão especial do deus Apolo. Sócrates também duvi da - va da ideia sofista de que a arete (virtude) podia ser ensinada. Acreditava que a excelência moral é uma questão de divindade e não de parentesco, pois pais moralmente perfeitos não tinham filhos semelhantes a eles. Isso talvez tenha sido a causa de não ter se importado muito com o futuro de seus próprios filhos. Sócrates frequentemente diz que suas ideias não são próprias, mas de seus professores, entre eles Pródico e Anaxágoras de Clazômenas. Sócrates apontando para o alto, sereno, no leito de morte. C1_UNICO_FILO_PROF_MA 10/12/13 15:15 Página 9 10 – 1. Platão afirmava que Sócrates não recebia pagamento por suas aulas. Sua pobreza era prova de que não era um professor. Isso indica que, para Sócrates, a) o conhecimento não era suficiente para ser considerado professor. b) a sabedoria não era comerciável e condenava os sofistas por cobrarem por suas aulas. c) as aulas, que eram ministradas nas ruas de Atenas, e não numa escola, não deveriam ser cobradas. d) o conhecimento era para os pobres e não para os ricos. e) a filosofia não era uma profissão, mas uma religião. RESOLUÇÃO: Resposta: B 2. Na Apologia, Sócrates compara seu período no serviço militar a seus problemas no tribunal, e diz que qualquer pessoa no júri que imagine que ele deveria retirar-se da filosofia deveria também imaginar que os soldados devessem bater em retirada quando fosse provável que morressem em uma batalha. Vê-se nessa afirmação: I. O grande valor que a verdade tinha para Sócrates. II. O posicionamento relativista desse grande filósofo. III. Que foi no serviço militar que Sócrates se tornou filósofo. IV. A coerência moral desse filósofo ateniense São verdadeiras apenas: a) I e II b) I e III c) II e III d) I e IV e) II e IV RESOLUÇÃO: Resposta: D 3. Não existe um critério de juízo objetivo: toda verdade é verdade para um sujeito. Cada indivíduo percebe o mundo à sua maneira. Segundo ele, até os diferentes sabores que os homens experimentam nos alimentos constituem uma prova do subjetivismo perceptivo, não podendo servir como critério de sabedoria. Sobre essa ideia, podemos afirmar: I. Trata-se do pensamento de Sócrates. II. Trata-se do pensamento de Protágoras. III. Revela que o homem é a medida de todas as coisas. IV. O subjetivismo significa que a verdade é interna e universal. São verdadeiras apenas: a) I e III b) II e III c) I e IV d) III e IV e) I e II RESOLUÇÃO: Resposta: B 4. Se toda verdade é relativa, isso também é relativo. Essa frase tenta demonstrar a) a coerência do relativismo b) o absurdo de se acreditar numa única verdade. c) o paradoxo do relativismo. d) de que só existe uma verdade. e) de que não há verdades relativas. RESOLUÇÃO: Resposta: C 5. A imagem de Jacques-Louis David mostra a) a serenidade de Sócrates antes de sua morte. b) uma pregação de Sócrates. c) a indignação de Sócrates diante da condenação à morte. d) uma reunião de Sócrates e seus discípulos. e) o confronto entre sócrates e Protágora.s RESOLUÇÃO: Resposta: A 6. A gravura de Escher, entrando um pouco na filosofia, sugere a) que o homem reflete sobre sua própria condição. b) que o homem deforma a realidade por meio do conhecimento. c) que a ciência é o único conhecimento que retrata fielmente a realidade. d) que a reflexão filosófica não permite a exposição do sujeito. e) que a única função da filosofia é promover o autoconhecimento. RESOLUÇÃO: Resposta: A C1_UNICO_FILO_PROF_MA 10/12/13 15:15 Página 10 – 11 7. “Sócrates (470-399 a. C.) afirmara que uma existência sem reflexão não valeria a pena e sabemos hoje que, num mundo pragmático, numa cultura marcada pelo constante culto ao vazio, muitas pessoas preferem não refletir, abrem mão desse privilégio ou mesmo desse risco”. O termo “risco” aqui utilizado refere-se a) ao fato de que a reflexão pode desembocar em alguma forma de patologia e isolamento social. b) ao fato de que a reflexão é sempre imprecisa, podendo recorrer ao senso comum. c) ao fato de que a reflexão consciente nos mobiliza e então nos vemos sair da nossa zona de conforto, momento em que transcendemos o senso comum. d) ao fato de que a reflexão filosófica não se insere numa das possibilidades de sobrevivência material e sucesso econômico. e) ao fato de a filosofia não se apropriar dos métodos científicos, mais coerentes e autênticos. RESOLUÇÃO: Resposta: C 8. “Não exageres o culto da verdade, não há homem que ao fim de um dia não tenha mentido com razão muitas vezes” – (Jorge Luis Borges). Pensando em moral ou ética, poderíamos dizer que a frase do escritor argentino Borges, de certa forma, a) relacionou a verdade e a ética, mostrando que uma não existe sem a outra. b) revelou que o escritor era um relativista e portanto não cria em verdades universais. c) relativizou a importância acerca da verdade, pois, algumas vezes, mentir pode ter uma justificativa. d) dissociou verdade e razão. e) revelou que o escritor era antiético. RESOLUÇÃO: Resposta: C 1. Na antiga Grécia, os sofistas: a) Eram mestres da retórica e da persuasão. b) Seguiam a escola filosófica de Sócrates. c) Assumiam uma postura relativista. d) Raramente saíam de Atenas, pois achavam que não precisavam viajar para encontrar a verdade. e) São verdadeiras apenas: a) I e II. b) I e III. c) II e IV. d) II e III. e) I e IV. 2. No debate entre Protágoras e Sócrates, podemos afirmar que: a) Para o sofista Protágoras, há uma verdade e ela está dentro dos homens. b) Sócrates incitava seus alunos a viajarem muito para encontrar a verdade. c) Protágoras via o homem como portador de uma dimensão moral interior. d) Para Sócrates, existiam apenas verdades relativas e culturais. e) A maiêutica (parto) socrática era o exercício filosófico de trazer à luz a verdade de dentro do homem. 3. Assinale a alternativa que expõe corretamente o sentido da pedagogia socrática da maiêutica. a) Maiêutica é a pedagogia expositiva, em que o mestre expõe aos discípulos suas ideias e princípios. b) Maiêutica é a exposição pelos sermões religiosos e filosóficos. c) Maiêutica é a prática de viajar para buscar a verdade. d) Maiêutica é a pedagogia do “parto”, no sentido de fazer nascer a verdade de dentro do homem através da dialética (diálogo) e) Maiêutica é a pedagogia que considera o aluno uma tábula rasa, um papel em branco e, assim, transmite-se o conhecimento de forma unidirecional. 4. “Sócrates: Protágoras afirma que a medida de todas as coisas é o homem: daquelas coisas que são, pelo que são, daquelas que não são, pelo que não são, entendendo por medida a norma de juízo e por coisas o fato geral. Logo o homem é a norma que julga todos os fatos: daqueles que são pelo que são, daqueles que não são pelo que não são. Por isso, ele admite somente aquilo que parece a cada indivíduo, introduzindo, dessa forma, o princípio de relatividade. Segundo ele, portanto, quem julga as coisas é o homem. De fato, tudo o que parece aos homens também é; e o que não parece a nenhum homem tampouco é...” (Platão, Teeteto) Sobre a colocação de Sócrates, podemos afirmar que: a) Sócrates concordará com Protágoras, pois de fato o homem é a medida de todas as coisas. b) Sócrates deverá concordar com Protágoras, pois um foi discípulo do outro. c) Sócrates nãoconcordará com o relativismo de Protágoras. d) Sócrates afirmará que Protágoras não foi relativista o suficiente para considerá-lo seu discípulo. e) Sócrates era sofista e, portanto, não podia concordar com a colocação de Protágoras. C1_UNICO_FILO_PROF_MA 10/12/13 15:15 Página 11 12 – 5. Sócrates foi condenado a tomar a cicuta (veneno) por influenciar negativamente os jovens. Sócrates teve a oportunidade de fugir e evitar a sua morte, porém optou por envenenar-se. Assinale a alternativa que melhor explica o gesto do filósofo grego. a) Ao tomar o veneno, pretendeu ensinar a obediência ao poder públi - co. b) Pretendia provar a sua coragem como último ensinamento. c) Como Jesus, desejou cumprir as escrituras. d) Uma fuga poderia significar uma negação (ou uma renúncia) de tudo quanto ensinara. e) Pretendia com esse gesto fundar uma religião. 6. Leia o texto e assinale a alternativa que melhor completa a frase de Matthew J. Slick. “Embora nem todos os relativistas ajam de maneira não-ética, eu vejo o relativismo como um contribuidor para a anarquia geral. Por quê?” a) Porque é uma justificação para fazer o que se quer. b) Porque torna o homem intolerante para com a “verdade de cada um”. c) Porque fomenta conflitos e guerras entre os povos. d) Porque essa postura cai no fundamentalismo que dificulta a compreensão de outros pontos de vista. e) Porque se trata de uma postura radical e alimenta os conflitos especificamente religiosos e políticos. 7. Assinale a alternativa que completa corretamente a frase abaixo: Em Atenas, muitos jovens buscavam Sócrates na via pública para aprender. O filósofo interpelava os transeuntes e fazia tantas perguntas que, no final, eles reconheciam a própria ignorância e, para Sócrates,… a) é exatamente no reconhecimento da própria ignorância que começava o caminho para a sabedoria. b) as pessoas eram desprovidas da verdade. c) as pessoas que reconhecessem a própria ignorância não estavam habilitadas para adquirir o conhecimento. d) somente as inteligências mais aguçadas teriam acesso à verdade. e) toda verdade é relativa. 8. “... existe uma diferença infinita entre homem e homem...” (Protágoras). A frase do filósofo refere-se: a) à verdade única que está dentro do Homem, concebido abstra - tamente. b) ao universo íntimo do homem, em que vive latente a verdade. c) à universalidade da busca de uma verdade única. d) ao relativismo que é atribuído aos sofistas. e) à impossibilidade de duas pessoas se parecerem entre si. 9. “É por isso que eu acredito que toda a moral não é absoluta e que certo e errado é algo que o indivíduo deve determinar dentro dos limites da sociedade. Mas não há um certo e errado absoluto”. Isso significa que para quem tivesse pronunciado tais palavras: a) Existe uma verdade universal. b) Não existem verdades relativas. c) A moral não tem qualquer relação com a cultura. d) Não há verdades produzidas pelos homens. e) Toda verdade é relativa. 10.O texto de Matthew Slick compactua com a postura filosófica de Protágoras ou de Sócrates? Justifique. 11.Se toda verdade é relativa, isso também é relativo. Comente o sentido dessa frase. 12.Qual é o sentido da expressão de Protágoras: o homem é a medida de todas as coisas? 13.Explique a Maiêutica socrática. 14.Explique o sentido grego da palavra aletheia. 1) B 2) E 3) D 4) C 5) D 6) A 7) A 8) D 9) E 10) Com a de Sócrates, pois o texto critica o relativismo, segundo o qual não há uma verdade universalmente válida; esta era a postura de Protágoras, para quem o homem era a medida de todas as coisas. 11) A frase denuncia uma contradição do relativismo, pois afirmar que tudo é relativo parece uma verdade muito rígida, o que não combina com a pregação aparentemente democrática dos relativistas. Claro que há pequenas verdades pessoais, culturais e historicamente construídas, mas alguns filósofos reivindicam verdades éticas, morais, humanitárias ou mesmo religiosas (metafísicas), de aplicação universal. 12) Para Protágoras, não existe um critério de juízo objetivo: toda verdade é verdade para um sujeito. Cada indivíduo percebe o mundo à sua maneira. Segundo ele, até os diferentes sabores que os homens experimentam nos alimentos constituem uma prova do subjetivismo perceptivo, não podendo servir como critério de sabedoria. 13) Para Sócrates, a verdade se encontrava dentro do homem, e sua pedagogia consistia em trazer à luz essa verdade, desvelá-la. Maiêutica significa o que é relativo ao parto. 14) Aletheia significa o não oculto, não escondido, não dissimulado. O verdadeiro é o que se manifesta aos olhos do corpo e do espírito, a verdade é a manifestação daquilo que é ou existe tal como é. Assim, a verdade é uma qualidade das próprias coisas e o verdadeiro está nas próprias coisas. Conhecer é ver e dizer a verdade que está na própria realidade e, portanto, a verdade depende de que a realidade se manifeste, enquanto a falsidade depende de que ela se esconda ou se dissimule em palavras. C1_UNICO_FILO_PROF_MA 10/12/13 15:15 Página 12 – 13 PLATÃO E A REPÚBLICA 1. Introdução Platão nasceu em Atenas, provavelmente em 427 a.C. e morreu em 347 a.C. É considerado um dos mais impor tantes filósofos gregos, e influenciou profunda - mente a forma de ver o mundo no ocidental. Toda a sua filosofia se fundamentou na divisão do mundo em duas realida des: o das coisas sensíveis (mundo das ideias e a inteligência) e das coisas visíveis (seres vivos e a matéria). Platão procedia de uma família de aristocratas e vangloriava-se dos antepassados. Iniciou seus estudos em filosofia quando tinha vinte e nove anos de idade e conheceu seu mestre Sócrates. Fundou a Academia, uma escola de filosofia com o propósito de recuperar e desenvolver as ideias e pensamentos socráticos. Convidado pelo rei Dionísio, passou um tempo em Siracusa, ensinando filosofia na corte. Voltou para Atenas para administrar a Academia, onde desenvolveu estudos em matemática, ciências, retórica e filosofia. Escreveu importantes e imortais obras, como: Apologia de Sócrates, em que valoriza os pensamentos do mestre; O Banquete, em que fala sobre o amor de uma forma dialética; e A República, em que analisa a política grega, a ética, o funcionamento das cidades, a cidadania e questões sobre a imortalidade da alma. Considerava a política uma decorrência natural da filosofia e acreditava que o poder estava reservado aos sábios. Platão valorizava os métodos de debate e diálogo como formas de alcançar o conhecimento. Para ele, os alunos deveriam descobrir as coisas superando os problemas impostos pela vida e o objetivo maior da educação era o desenvolvimento do homem moral. Platão deixou influências culturais em todo o Ocidente. O famoso Mito da Caverna é narrado por Platão no livro VII da República. Trata-se de uma metáfora filosófica que já teve várias interpretações, mas possui um sentido universal e profundo que descreve a condição da exis - tência humana. Para o filósofo, todos nós estamos condenados a ver sombras à nossa frente e tomá-las como verdadeiras. Essa poderosa crítica à condição dos homens, escrita há quase 2500 anos atrás, inspirou e ainda inspira inúmeras reflexões. Uma delas é o livro A Caverna, do escritor português José Saramago. Platão enxergava na humanidade numa condição infeliz. Imaginou os homens todos aprisionados numa caverna e imobilizados, obrigados a olharem sempre a parede em frente. Então o que veriam? O bruxuleio das sombras dos objetos e animais, por conta de uma luminosidade vinda detrás. Assim, os homens acreditavam que as imagens fantasmagóricas que apareciam aos seus olhos (que Platão chama de ídolos) eram verdadeiras, tomando o espectro pela realidade. A sua existência era, pois, totalmente dominada pela ignorância (agnóia). Imagem de Mats Halldin. O mito da caverna é uma alegoria da condição de ignorância dos homens. 2. O Mito Imaginemos uma caverna separada do mundo externo por um muro alto. Entre o muro e o chão da cavernahá uma fresta por onde passa um fino feixe de luz exterior, deixando a caverna na obscuridade quase completa. Desde o nascimento, geração após geração, Platão e a República Aristóteles e o Pensamento LógicoMÓDULO 3 C1_UNICO_FILO_PROF_MA 10/12/13 15:15 Página 13 14 – seres humanos encontram-se ali, de costas para a entrada, acorrentados, sem poder mover a cabeça nem se locomover, forçados a olhar apenas a parede do fundo, vivendo sem nunca ter visto o mundo exterior nem a luz do sol, sem jamais ter efetivamente visto uns aos outros, nem a si mesmos, apenas suas sombras e as dos outros, porque estão no escuro e imo bilizados. Abaixo do muro, do lado de dentro da caverna, há um fogo que ilumina vagamente o interior sombrio e faz com que tudo o que se passa do lado de fora seja projetado como sombra nas paredes do fundo da caverna. Do lado de fora, pessoas passam conver sando e carregando nos ombros figuras ou imagens de homens, mulheres e animais cujas sombras também são projetadas na parede da caverna, como num teatro de fantoches. Os prisioneiros julgam que as sombras, os sons de suas falas e as imagens que transportam nos ombros são as próprias coisas externas, e que os artefatos projetados são seres vivos que se movem e falam. Um dos prisioneiros, inconformado com a condição em que se encontra, decide abandonar a caverna. Fa brica um instrumento com o qual quebra os grilhões. De início, move a cabeça, depois o corpo todo; a seguir, avança na direção do muro e o escala. Enfrentando os obstáculos de um caminho íngreme e difícil, sai da caverna. No pri - mei ro instante, fica totalmente cego pela luminosidade do sol, com a qual seus olhos não estão acostumados. Enche-se de dor por causa dos movimentos que seu corpo realiza pela primeira vez e pelo ofuscamento de seus olhos sob a luz externa, muito mais forte do que o fraco brilho do fogo que havia no interior da caverna. Sente-se dividido entre a incre dulidade e o deslumbra - mento. Ao permanecer no exterior, o prisioneiro, aos poucos, se habitua à luz e começa a ver o mundo. Encanta-se, tem a felicidade de ver a realidade, descobrindo que estivera prisioneiro a vida toda e que em sua prisão vira apenas sombras. Doravante, desejará ficar longe da caverna para sempre e lutará com todas as forças para jamais regressar a ela. No entanto não pode deixar de lastimar a sorte dos outros prisioneiros e, por fim, toma a difícil decisão de regressar ao subterrâneo sombrio para contar aos demais o que viu e convencê-los a se libertarem também. Só que os demais prisioneiros zombam dele, não acreditando em suas palavras e, se não conseguem silen - ciá-lo com suas caçoadas, tentam fazê-lo espan cando-o. Se mesmo assim ele teima em afirmar o que viu e os convida a sair da caverna, certamente acabam por matá- lo. Mas quem sabe alguns podem ouvi-lo e, contra a vontade dos demais, também decidir sair da caverna rumo à realidade? 3. A República de Platão (Resumo) Quem nunca construiu em sua mente uma sociedade perfeita, infalível em funcionamento e estrutura? Todos os que almejam mais de si mesmo e do mundo devem ter se rendido à técnica da idealização. Platão faz o mesmo em sua República. Idealiza uma sociedade perfeita, harmônica, simbiótica. Para isso lança mão da alegoria da caverna, que põe em xeque um par de distinções muito ligado à natureza da alma do ser humano: é o par essência e aparência, repre sen tadas, respectivamente, pelo mundo inteligível e pelo mundo sensível. Platão utiliza, para desenvolver a dicotomia aparência/ideias, dois mecanismos bastante peculiares e acessórios ao desenvolvimento retórico-filosófico, a saber: a dialética e a alegoria, cuja conceituação se dará a seguir. A dialética é, segundo Platão, o único meio de levar o filósofo até o Bem, já que consiste em estender os limites lógicos das reflexões filosófico-ideológicas. Este “estender” implica submeter o próprio pensamento às opiniões e/ou contradições de outrem, justamente o que acontece n’A República, em que há um constante diálogo entre, por exemplo, Só crates e Glauco. Já a alegoria representa um papel ainda mais relevante na difusão do axioma filosófico proposto. Conceituada, grosso modo, como um conjunto interli gado de metáforas, ela se manifesta de maneira mais relevante no “mito da caverna” (livro VII). Nele, Platão cria dois planos: “a caverna” e “o dia”, cada qual com seus elementos específicos. A caverna, que representa o mundo sensível, é composta pelos seguintes elementos: a sombra das marionetes, as marionetes e o fogo (respectivamente representando as sombras do real, a realidade e o Sol). O dia (metáfora do mundo inteligível), por sua vez, também é composto por três elementos, sendo eles as sombras e reflexos, a realidade e o Sol (que representam, também respectivamente, as sombras das ideias, as ideias propriamente ditas e o Bem). Construída esta alegoria, Platão ressalta a necessidade de sair da caverna e contemplar o Sol, ou seja, de libertar-se das falsas realidades, conhecer por inteiro as realidades palpáveis, partir em busca das ideias e, finalmente, atingir o Bem. Platão privilegia a filosofia em detrimento da poesia. O pensamento platônico deixa claro que tornar-se um filósofo não é tarefa das mais fáceis, pois exige o desapego das coisas subjetivas e piegas e exige o direcionamento da atenção fundamentalmente para o mundo inteligível. Se apenas os filósofos podem alcançar este grau absoluto de verdade, conclui-se que só mesmo eles podem orientar os que ainda não conseguiram “sair da caverna e con templar o Sol”. Desta forma, cabe a eles, na so ciedade perfeita de Platão, ocupar o posto de dirigentes, con trolando desde os contribuintes para o bem C1_UNICO_FILO_PROF_MA 10/12/13 15:15 Página 14 – 15 material até os encarregados da proteção e defesa da já mencionada cidade. Por outro lado, o poeta não pode ria ser um constituinte da cidade perfeita, visto que está a três passos da realidade (já que sua produção espelha-se na sombra da realidade). Por estar tão distante do mundo inteligível, sua obra nos revela apenas a aparência e apresenta uma descrição, sobretudo dos aspectos trágicos e taciturnos da natureza humana, o que, por conseguinte, corrompe a alma. O poeta, em suma, é duas vezes ilusório, visto que não imita o mundo ima nente, e sim apenas o mundo sensível. Isso não quer dizer, contudo, que a poesia deveria ser totalmente descartada. O pensamento platônico impu nha que o aprimoramento da educação dos guardiões deveria ser feito através de “ginástica para o corpo e música para a alma”. Desta forma, urgia a necessidade de selecionar o conteúdo das letras das músicas, uma vez que elas poderiam conter apenas parte da verdade. A poesia poderia, sim, ser utilizada com fins educativos, desde que não disseminas - sem concepções deturpadas da realidade. O próprio filósofo admite a utilidade de poetas como Homero, que exaltou o grego do passado e transmitiu às gerações posteriores um grande exemplo de procedimento que leva ao Bem. Todavia, obras, por exemplo, como a Ilíada, que atribuía aos deu ses tanto o bem quanto o mal, deveriam ser termi nantemente descar tadas. Não obstante a possibilidade de utilização da poesia com fins educativos, Platão deixa transparecer o desejo de substituição da poesia pela filosofia como meio didático, pois somente esta última pode nos revelar, na sua forma dialética, o que são, de fato, as realidades verdadeiras. (Disponível em: <www.logosofia.org.br>.) Academia de Platão da Vila de T. Siminus Sephanus, Pompeia (I a.C.) 4. Excertos de A República, de Platão SÓCRATES – Reflete agora sobre o que te vou dizer. Qual é o objeto da pintura? O de representar o que é, tal qual é, ou o que parece, tal qual parece? Imita a aparência ou a realidade? GLAUCO – A aparência. SÓCRATES – Logo, a arte de imitar está muito afastada do verdadeiro; e a razão por que faz tantas coisas é que só toma uma pequena parte de cada uma, e esta mesmo não passa de simulacro ou fantasma. Um pintor, por exemplo, pinta um sapateiro,um carpinteiro ou outro artesão qualquer, sem ter nenhum conhecimento de suas respectivas artes. Isso não impede, se é bom pintor, de iludir as crianças e os ignorantes, mostrando-lhes de longe um carpinteiro por ele representado e que tomem por imitação da verdade. GLAUCO – Sem dúvida. SÓCRATES – O mesmo se deve entender, meu caro amigo, de todos os que fazem como o pintor. Sempre que alguém nos vier dizer ter encontrado um homem que sabe todos os ofícios e reúne em si, em elevado grau, todos os conhecimentos que se acham repartidos entre muitos, é preciso desenganá-lo, mostrando-lhe que não passa de um tolo por se ter deixado lograr por um imitador ou mágico a quem tomou por sábio, simples mente porque não sabe discernir a ciência da ignorân cia, a realidade da imitação. GLAUCO – É a pura verdade. SÓCRATES – Resta-nos agora considerar a tragédia e Homero, seu criador. Como ouvimos diariamente a certas pessoas que os poetas trágicos entendem muito de todas as artes e ciências humanas que se referem ao vício e à virtude e mesmo com as de natureza divina; visto que a um bom poeta é necessário estar perfeitamente instruído nos assuntos de que trata se quiser versá-lo com êxito que de outra sorte lhe seria impossível, cumpre verificarmos se os que assim falam não se deixam iludir por esta espécie de imitadores; se, vendo-lhes as produções, esqueceram de notar que se afastam três graus da realidade e que, sem conhecer a verdade, é fácil compô-los, visto que não passam, ao cabo, de meros fantasmas sem sombra do real; ou se há algo de sólido no que dizem; e se, realmente, os bons poetas entendem das matérias sobre as quais o comum dos homens pensa que escreveram bem. (...) SÓCRATES – A poesia imitativa produz em nós também o amor, a ira e todas as paixões da alma que têm por objetivo o prazer e a dor, influindo em todas as nossas ações, porque as alimenta e orvalha em vez de dessecá- las; faz-nos mais viciados e infelizes, pelo domínio que dá a estas paixões sobre nossa alma, em vez de mantê-las inteiramente dependentes, o que nos tornaria melhor e mais felizes. C1_UNICO_FILO_PROF_MA 10/12/13 15:15 Página 15 GLAUCO – Tenho de concordar contigo. SÓCRATES – Assim, pois, caro Glauco, quando encontrares admiradores de Homero a dizer que este poeta instruiu e formou a Grécia e que a gente aprende, lendo-o, a governar-se e a bem conduzir-se nas várias contingências da vida e que o melhor a fazer é pautar os atos por seus preceitos, será de bom conselho acolhê-los com toda a atenção e respeito, como a homens bem intencionados e virtuosos que são, e admitir que Homero é o maior dos poetas e o primeiro dos trágicos. Mas, ao mesmo tempo, não esqueças que em nossa república só se hão de tolerar como obras poéticas os hinos de louvor dos deuses e os elogios de homens ilustres. Por que assim que aí deres entrada à musa mais voluptuosa da poesia lírica ou épica, desde esse momento o prazer e a dor reinarão no Estado em lugar da lei e da razão, cuja excelência todos os homens reconheceram sempre. GLAUCO – Nada é mais certo. SÓCRATES – Visto que surgiu nova ocasião de falar em poesia, já ouviste o que tenho a dizer sobre o assunto para provar que, sendo o que é, tivemos razão de desterrá-la de uma vez por todas de nossa república; porquanto fora impossível resistir à força dos motivos que a isso nos levaram. PLATÃO. A República. São Paulo: Livraria e Exposição do Livro, s.d. (p.280-81 e 289) Platão acredita que a educação deva começar muito cedo na vida das pessoas, e que se desenvolva, sobretudo, em torno de um treinamento físico adequado. ARISTÓTELES E O PENSAMENTO LÓGICO 5. Introdução Aristóteles foi um dos mais importantes filósofos gregos e deixou grande rastro na história do pensamento ocidental. Nasceu em 384 a.C., em Estagira, e morreu em 324 a. C. na cidade de Cálcis. Aristóteles é considerado o criador do pensamento lógico. Suas obras influenciaram profundamente a teo - logia cristã e islâmica. Escreveu uma quantidade enorme de livros, entre eles: Ética a Nicômaco, Política, Arte Poética, Retórica das Paixões, O Homem de Gênio e a Melancolia, De Anima, A Metafísica, e muito mais. Aristóteles é considerado o criador do pensamento lógico. 6. Filosofia da Natureza Para Platão, as coisas concretas que se movem são simples aparências, sombras da verdadeira realidade que está no mundo das ideias. Aristóteles critica esse idealismo de seu mestre, e desenvolve uma concepção mais realista ou empirista. Assim, cria uma dualidade: o mundo é feito de matéria (ou substância) e forma. A matéria é passividade, contendo a virtualidade da forma em potência. A forma, por sua vez, é o princípio inteligível, a essência comum a todos os indivíduos de uma mesma espécie. Assim, a coisa comum a todos os seres de uma mesma espécie é a forma e tudo o que é distintivo ou singular é a matéria ou substância. O movimento, portanto, é a atualização da forma realizada pelo ser. Há uma ontologia aristotélica. Entende-se por ontologia o estudo da natureza do ser (verificar glossário). Para o filósofo, as substâncias interagem de várias maneiras para produzir objetos que diferem em proprie - dades como quantidade, qualidade, tempo, posição e condição de ação. Assim, Aristóteles criou uma filosofia da natureza, afirmando que a matéria sofre processos de 16 – C1_UNICO_FILO_PROF_MA 10/12/13 15:15 Página 16 – 17 mudança dinâmica e espontânea mediados por princípios estruturais preexistentes. Elaborou assim, uma espécie de hierarquia de existências que começam com os quatro corpos primários: terra, água, fogo, ar, os quais formam substâncias inorgânicas e, depois, os seres vivos: as plantas apresentam as funções de crescimento, nutrição e reprodução; os animais possuem, além dessas, as de sensação, desejo e locomoção; e os seres humanos, a faculdade da razão. Segundo a antropologia aristotélica, o homem pode exercer a suprema atividade que é a obtenção do conhecimento, através de sua alma racional. Metafísica estuda o ser e a sua origem primeira. 7. A Metafísica O sentido da palavra metafísica deve-se a Aristóteles e a Andrônico de Rodes. Aristóteles escreveu sobre temas relacionados à e sobre temas relacionados à ética e à política, entre outros semelhantes. Andrônico, ao organizar os escritos de Aristóteles, o fez de forma que, espacialmente, aqueles que tratavam de temas relacionados à physis viessem antes dos outros. Assim, eles vinham além da física (Meta = depois, além; Physis = física). Neste sentido, a metafísica é algo intocável, que só existe no mundo das ideias. Assim, Andrônico orga - nizou os escritos de acordo com a classificação dos dois temas. Ética, política etc. são assuntos que não tratam de seres físicos, mas de seres não-físicos exis tentes apesar da sua imaterialidade. Metafísica, portanto, trata de problemas sobre o propósito e a origem da existência e dos seres. Especulação em torno dos primeiros princípios e das causas primeiras do ser. Metafísica, portanto, pode estar relacionado à reflexão filosófica ou à Teologia. A metafísica é, segundo o pensamento aristotélico, a filosofia primeira que analisa os métodos e as premissas das filosofias secundárias (as ciências particulares), e ela estuda o ser enquanto ser. Assim, a metafísica analisa abstratamente a noção de realidade. O que define um homem e em que ele se distingue dos animais, por exemplo, é a sua forma universalmente humana e não particularidades materialmente observáveis. Nesse caso, a forma humana é a racionalidade. Em Aristóteles, porém, a razão difere da concepção platônica, pois ela não provém do mundo das ideias, ao contrário, trata-se de uma habilidade e não de uma dimensão espiritual. Assim, o homem não nasce, segundo esse filósofo, com ideias inatas, como pensava Platão. Texto: Política em Aristóteles Aristóteles começou a escrever suas teorias políticas quando foi preceptor de Alexandre, o Grande. Para Aristóteles, a Política é a ciência mais suprema, à qual as outras ciências estão subordinadase da qual todas as demais se servem numa cidade. A tarefa da Política é investigar qual a melhor forma de governo e instituições capazes de garantir a felicidade coletiva. Segundo Aristóteles, a pouca experiência da vida torna o estudo da Política supérfluo para os jovens, por regras impru dentes, que só seguem suas paixões. Embora não tenha proposto um modelo de Estado, como seu mestre Platão, Aristóteles foi o primeiro grande sistematizador das coisas públicas. Diferentemente de Platão, Aristóteles faz uma filosofia prática e não ideal e de especulação como seu mestre. O Estado, para Aristó teles, constitui a expressão mais feliz da comunidade em seu vínculo com a natureza. Segundo Aristóteles, assim como é impos sível conceber a mão sem o corpo, é impossível con ceber o indivíduo sem o Estado. O homem é um animal social e político por natureza. E, se o homem é um animal político, significa que tem necessidade natural de conviver em sociedade, de promover o bem comum e a felicidade. A polis grega encarnada na figura do Estado é uma necessidade humana. O homem que não necessita de viver em sociedade, ou é um deus ou uma besta. Para Aristóteles, toda cidade é uma forma de associação e toda associação se estabelece tendo como finalidade algum bem. A comunidade política forma-se de forma natural pela própria tendência que as pessoas têm de se agruparem. E ninguém pode ter garantido seu próprio bem sem a família e sem alguma forma de governo. Para Aristóteles, os indivíduos não se associam somente para viver, mas para viver bem. Dos agrupa mentos das famílias formam- se as aldeias, do agru pamento das aldeias forma-se a C1_UNICO_FILO_PROF_MA 10/12/13 15:15 Página 17 18 – cidade, cuja finalidade é a virtude dos seus cidadãos para o bem comum. A cidade aristotélica deve ser composta por diversas classes, mas quem entrará na categoria de cidadãos livres que podem ser virtuosos são somente três classes su periores: os guerreiros, os magistrados e os sacerdo tes. Aristóteles aceita a escravidão e a considera desejável para os que são escravos por natureza. Estes são os incapazes de governar a si mesmos, e, portanto, devem ser gover nados. Segundo Aristóteles, um cidadão é alguém politicamente ativo e participante da coisa pública. Segundo Aristóteles, sem um mínimo de ócio não se pode ser cidadão. Assim, o escravo ou um arte são não se encontra suficientemente livre e com tempo para exercer a cidadania e alcançar a virtude, a qual é incompatível com uma vida mecânica. E os escravos devem trabalhar para o sustento dos cidadãos livres e virtuosos. Aristóteles contesta o comunismo de bens, mulheres e crianças proposto por Platão. Segundo ele, quanto mais comum for uma coisa menos se cuida dela. Fonte: http://pt.shvoong.com/law-and-politics Autoria: Filosofolionessantos Adaptado Aristóteles deixou inúmeros textos que versam em diversas áreas. Texto: O Pensamento de Aristóteles. “Mestre dos que sabem”, assim se lhe refere Dante na Divina Comédia. Com Platão, Aristóteles criou o núcleo propulsionador de toda a Filosofia posterior. Mais realista do que o seu professor, Aristóteles percorre todos os caminhos do saber: da biologia à metafísica, da psicologia à retórica, da lógica à política, da ética à poesia. Impossível resumir a fecundidade do seu pensa mento em todas as áreas. Apenas algumas ideias. A obra aristotélica só se integra na cultura filosófica europeia da Idade Média, através dos árabes, no século XIII, quando é conhecida a versão (orientalizada) de Averróis, o seu mais importante comentarista. Depois, S. Tomás de Aquino vai incorporar muitos passos das suas teses no pensamento cristão. A teoria das causas. O conhecimento é o conhe - cimento das causas – a causa material (aquilo de que uma coisa é feita), a causa formal (aquilo que faz com que uma coisa seja o que é), a causa eficiente (a que transforma a matéria) e a causa final (o objetivo com que a coisa é feita). Todas pressupõem uma causa primeira, uma causa não causada, o motor imóvel do cosmos, a divindade, que é a realidade suprema, a substância plena que determina o movimento e a unidade do universo. Mas, para Aristóteles, a divindade não tem a faculdade da criação do mundo, este existe desde sempre. É a filosofia cristã que vai dar à divindade o poder da Criação. Aristóteles opõe-se, frequentemente, a Platão e à sua teoria das Ideias. Para o estagirita, não é possível pensar uma coisa sem lhe atribuir uma substância, uma quanti - dade, uma qualidade, uma atividade, uma passividade, uma posição no tempo e no espaço etc. Há duas es - pécies de Ser: os verdadeiros, que subsistem por si, e os acidentes. Quando se morre, a matéria fica; a forma, o que caracteriza as qualidades particulares das coisas, desaparece. Os objetos sensíveis são constituí dos pelo princípio da perfeição (o ato), são enquanto são e pelo princípio da imperfeição (a potência), através do qual se lhes permite a aquisição de novas perfeições. O ato explica a unidade do ser, a potência, a multiplicidade e a mudança. Aristóteles é o criador da biologia. A sua observação da natureza, sem dispor dos mais elementares meios de investigação (o microscópio, por exemplo), apesar de ter hoje um valor quase só histórico, não deixa de ser extraordinária. O que mais o interessava era a natureza viva. A ele se deve a origem da linguagem técnica das ciências e o princípio da sua sistematização e organi zação. Tudo se move e existe em círculos concêntricos, tendente a um fim. Todas as coisas se separam em função do lugar próprio que ocupam, determinado pela natureza. Enquanto Platão age no plano das ideias, usando só a razão e mal reparando nas transformações da natureza, Aristóteles interessa-se por estas e pelos processos físicos. Não deixando de se apoiar na razão, o filho de Nicômaco usa também os sentidos. Para Platão, a realidade é o que pensamos. Para Aristóteles, é tam - bém o que percebemos ou sentimos. O que vemos na natureza – diz Platão – é o reflexo do que existe no mundo das ideias, ou seja, na alma dos homens. Aristóteles dirá: o que está na alma do homem é apenas o reflexo dos objetos da natureza, a razão está vazia enquanto não sentimos nada. Daí a diferença de estilos: Platão é C1_UNICO_FILO_PROF_MA 10/12/13 15:15 Página 18 poético, Aristóteles é pormenorizado, preferindo, porém, o fragmento ao detalhe. Chegaram até nós 47 textos do fundador do Liceu, provavelmente inacabados por serem apontamentos para as lições. Um dos vetores fundamentais do pensamento de Aristóteles é a Lógica, assim chamada posteriormente (ele preferiu sempre a designação de Analítica). A Lógica é a arte de orientar o pensamento nas suas várias direções para impedir o homem de cair no erro. O Organon será para sempre um modelo de instrumento científico a serviço da reflexão. O Estado deve ser uma associação de seres iguais pro - curando uma existência feliz. O fim último do homem é a felicidade. Esta atinge-se quando o homem realiza, devidamente, as suas tarefas, o seu trabalho, na polis, a cidade. A vida da razão é a virtude. Uma pessoa virtuosa é a que possui a coragem (não a cobardia, não a au dácia), a competência (a eficiência), a qualidade mental (a razão) e a nobreza moral (a ética). O verda deiro homem virtuoso é o que dedica largo espaço à medi tação. Mas nem o próprio sábio se pode dedicar, totalmente, à reflexão. O homem é um ser social. O que vive, isoladamente, sempre, ou é um deus ou uma besta. A razão orienta o ser humano para que este evite o excesso ou o defeito (a coragem – não a cobardia ou a temeridade). O homem deve encontrar o meio-termo, o justo meio; deve viver usando, prudentemente, a riqueza; moderadamente, os prazeres, e conhecer, corretamente, o que deve temer. Também na Poética, o contributo ordenador de Aristóteles será definitivo: ele estabelecerá as caracte - rísticas e os fins da tragédia. Uma das suas leis sobre ela estender-se-á, por séculos, a todo o teatro: a regra das três unidades, ação, tempo e lugar. Erros, incorreções, falhas,terá cometido Aristóteles. Alguns são célebres. Na zoologia, por exemplo, considera que o homem tinha oito pares de costelas, não reconhece os ossos do crânio humano (três para o homem, um, circular, para a mulher), supõe que as artérias estão cheias de ar (como, aliás, supunham os médicos gregos), pensa que o homem tem um só pulmão. Não esqueçamos: Aristóteles classificou e descreveu cerca de quinhentas espécies animais, das quais cinquenta terá dissecado – mas nunca dissecou um ser humano. A grandeza genial da sua obra não pode ser questio - na da por tão raros erros, frutos da época – mais de 2 000 anos antes de nós. (Por Orlando Neves – Intelectual português. Adaptado.) – 19 Platão e a educação (uma reflexão) “Os ideais de educação formulados por Platão podem ser encontrados em sua maneira mais acabada nos diálogos A República e As Leis, nos quais o filósofo demonstra a importância do processo pedagógico para a constituição de um estado soberano e justo. E é precisamente sobre o tema da Justiça que o primeiro livro da República discorre, no intuito de se estabelecer um conceito que possa ser a base para um projeto educacional. Podemos, a partir de este exemplo, compreender que a educação deve ser norteada por valores considerados justos para todos os agentes envolvidos no processo. Por justiça, neste caso, podemos entender a igual oportunidade para todos, em que nenhuma pessoa possa cercear o direito de outro com base na ideia de uma equidade consignada, ou seja, o aspecto de que meu acesso a determinado direito seja condicionado à perda de tal direito por outrem. A questão da educação inclusiva nos rende alguns exemplos de como isso vem acontecendo. Não é justo que deficientes auditivos, por exemplo, fiquem sem acesso à educação formal em instituições de ensino públicas, pois é direito deles, como de todos os outros cidadãos, receberem educação gratuita e de qualidade. Contudo, o que acontece neste caso é que muitas vezes tais educandos com estas necessidades são simplesmente inseridos em sala de aula sem nenhuma forma de reestruturação física ou cognitiva das mesmas. Em muitos casos, os professores, que não receberam preparo adequado para lidar com estas situações de educação inclusiva, acabam se deparando com situações que resultam em um constrangimento para os próprios estudantes. Assim, por mais que os docentes desejem promover a educação inclusiva, ficam impossibilitados pela ausência de um intérprete ou por uma formação em linguagem de sinais, e os próprios alunos não terão acesso, pois não há uma porta que possibilite a comunicação plena entre mestres e discentes. Fez-se a inclusão de maneira injusta, e o escopo disto é que não se promoveu o acesso à educação. Ulteriormente, Platão acredita que a educação deva começar muito cedo na vida das pessoas, e que se desenvolva, sobretudo, em torno de um treinamento físico adequado. Evitar os excessos da alimentação e preparar o corpo físico nos moldes da educação espartana era o caminho para o desenvolvimento de uma população saudável, aspecto imprescindível para a estruturação de um estado com alto nível de bem-estar social. Neste caso, analisando os dias atuais, é comum observar a desmedida que pode ocasionar vícios, ou seja, é comum Platão e a Educação (uma reflexão) Revolução da Alma, texto de Aristóteles C1_UNICO_FILO_PROF_MA 10/12/13 15:15 Página 19 encontrar pessoas que não praticam atividade física nenhuma – a grande maioria da população –, e uma pequena fração que vive apenas para a academia, ambos equivocados. No âmbito da educação, é normal observar nas instituições de ensino que o espaço destinado para a prática de educação física muitas vezes se limita a uma quadra de cimento rústica comprimida entre muros ou paredes das salas de aula. Gerações inteiras de jovens cresceram e crescem sem nunca praticarem atletismo, natação, e outros esportes que podem desenvolver as habilidades físicas e o fortalecimento do corpo. Aqueles pais que não possuem condições de proporcionar o acesso a academias particulares ou colégios com boas condições estruturais para seus filhos os verão desen - volverem-se apenas sob a prática massiva de futsal ou vôlei. Platão ainda alerta para o fato de que os jovens recebam uma boa educação musical para que possam poten cializar sua sensibilidade e criatividade. Novamen - te, hoje, aqueles que não podem pagar por um serviço particular para fornecer educação musical aos filhos, observam a prole crescer embalada pelos ritmos musicais da pior manifestação cultural musical da história da civilização, fruto da indústria cultural de massa. Platão escreveu sobre isto há cerca de 2400 anos, e talvez estejamos a esperar outros 2400 anos para ouvir os conselhos de um homem sábio. Pena que não tenho certeza de que haverá alguém ainda para ser educado quando a civilização chegar lá.” Por Maurício Fernando Bozatski (Mestre em Filosofia. Coordenandor do Curso de Filosofia da Faculdade Sant’Ana. Professor do SESI e da SEED/PR e escritor) Revolução da Alma, texto de Aristóteles “Ninguém é dono da sua felicidade, por isso não entregues a tua alegria, a tua paz, a tua vida, nas mãos de ninguém, absolutamente de ninguém. Somos livres, não pertencemos a ninguém e não podemos querer ser donos dos desejos, da vontade ou dos sonhos de quem quer que seja. A razão da tua vida és tu mesmo. A tua paz interior é a tua meta de vida. Quando sentires um vazio na alma, quando acreditares que ainda está faltando algo, mesmo tendo tudo, remete o teu pen samento para os teus desejos mais íntimos e busca a divindade que existe em ti. Para de colocar a tua felici dade, cada dia, mais distante de ti. Não coloques objeti vos longe demais de tuas mãos, abraça os que estão ao teu alcance, hoje. Se andas desesperado por problemas financeiros, amorosos ou de relacionamentos familiares... busca no teu interior a resposta para te acalmares, tu és o reflexo do que pensas diariamente. Para de pensar mal de ti mesmo e sê teu melhor amigo, sempre. Sorrir significa aprovar, aceitar, felicitar. Então, abre um sorriso para aprovar o mundo que te quer oferecer o melhor. Com um sorriso no rosto, as pessoas terão as melhores impressões de ti e tu estarás afirmando para ti mesmo que estás ‘pronto’ para seres feliz. Trabalha, trabalha muito a teu favor. Para de esperar a felicidade sem esforços. Para de exigir das pessoas aquilo que nem tu conquistaste, ainda. Critica menos, trabalha mais. E não te esqueças, nunca, de agrade cer. Agradece tudo que está na tua vida neste momento, inclusive a dor. A nossa compreensão do universo ainda é muito pequena para julgar o que quer que seja na nossa vida.” Glossário Ontologia: Conforme o dicionário Aurélio, “ontologia” é a “parte da filosofia que trata do ser enquanto ser, isto é, do ser concebido como tendo uma natureza comum que é inerente a todos e a cada um dos seres (...)”. Tendo-se em conta que “onto”, do grego, significa indivíduo ou ser, e “logia” comumente significa estudo, tem-se que “ontologia” vem a ser o estudo investigativo e compa - rativo do indivíduo – aqui tido como exemplar da espécie humana – frente aos demais seres vivos, passando pela sua concepção, criação, evolução e extinção. Busca, portanto, o conhecimento profundo acerca da natureza do ser humano, levando em conta os aspectos fisiológicos e espirituais, confrontando-os com aqueles que caracterizam e distinguem os demais seres vivos. Frases de Platão “O belo é o esplendor da verdade”. “O que mais vale não é viver, mas viver bem”. “Vencer a si próprio é a maior de todas as vitórias”. “O amor é uma perigosa doença mental”. “Praticar injustiças é pior que sofrê-las”. “A harmonia se consegue através da virtude”. “Teme a velhice, pois ela nunca vem só”. “A educação deve possibilitar ao corpo e à alma toda a perfeição e a beleza que podem ter”. Frases de Aristóteles “O verdadeiro discípulo é aquele que consegue superar o mestre.” “A principal qualidade do estilo é a clareza.” “O homem que é prudente não diz
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