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LÍNGUA PORTUGUESA D

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1
Prosa do 
pós-modernismo
Português
3D09
Aula 
 Situação histórica
O período que se estendeu de 1930 a 1945 foi marca-
do por acontecimentos que abalaram a estrutura social, 
econômica e política de muitos países. As guerras, a crise 
econômica, a proliferação de governos autoritários pro-
vocaram choques ideológicos, morais e conflitos íntimos. 
A quebra da Bolsa de Valores de Nova Iorque 
(CRACK - 1929) provocou grande depressão econômica 
no mundo inteiro. 
No Brasil, a Revolução de 30 coloca Getúlio Vargas 
no poder, encerrando o período da República Velha e da 
política do café com leite. Em 1937, Getúlio instaura a 
ditadura do Estado Novo.
 A literatura desse período
Passadas as efervescências revolucionárias da primei-
ra fase modernista, a literatura atinge maior equilíbrio e 
estabilidade. A criação artística aproveita as conquistas 
do movimento de 22, mas volta a utilizar também os 
instrumentos artísticos do passado. Busca-se, acima de 
tudo, uma expressão artística nacional.
Vertente realista 
Alguns autores da prosa modernista de 30 produzem 
romances de tese, de denúncia e narrativas regionalis-
tas, que destacam a realidade nordestina como a seca, 
o êxodo rural, a mão de obra escrava, a violência, os 
bandos armados, o fanatismo e o coronelismo.
Vertente introspectiva
Outros escritores, com raízes no Simbolismo ou no 
modelo machadiano, revelam personagens em conflito 
consigo mesmos e que por vezes expressam um forte 
sentimento de fuga. 
 Principais autores e obras
Rachel de Queiroz
(1910-2003)
Nascida em Fortaleza, Rachel de Queiroz cresceu 
incentivada pela tradição cultural da família o que 
fez dela uma autora precoce. Aos vinte anos, publicou 
seu primeiro e mais importante livro, O Quinze; depois 
escreveu outros romances, contos, crônicas e histórias 
infantis que a colocam entre o mais importantes nomes 
de nossa literatura.
O Quinze
Este livro, de conteúdo político e social conta a 
história de uma família de retirantes, igual à de milhares 
de outras, expulsas de suas terras pela estiagem. O tema 
abordado especificamente é a seca de 1915, donde o 
título da obra. No estilo, Rachel de Queiroz se destaca 
pela objetividade nas descrições, pela linguagem enxuta 
e pela análise psicológica do homem nordestino diante 
das forças destruidoras da natureza. 
O Quinze é um painel dramático da ausência de 
destino para os retirantes. Para fugir da seca, da miséria 
e da fome, Chico Bento e D. Cordulina abandonam tudo 
que ainda lhes resta e vão buscar uma vida melhor no 
Sul do Brasil, mais especificamente, em São Paulo.
Paralelamente, a história mostra como a seca destrói 
os bens materiais e também os psicológicos, impedindo, 
por exemplo, o relacionamento entre Conceição e 
Vicente. A personalidade da jovem Conceição, culta 
e politizada, frustrada como mulher por viver numa 
sociedade patriarcal e machista, choca-se com o jeito 
rude de Vicente, proprietário rural, apegado à terra e 
às tradições, o típico vaqueiro “endurecido” no cenário 
desolador e árido da fazenda. 
2 Extensivo Terceirão
Os flagelados, enfrentando a fome, a incompreensão 
humana e a marginalização social felizmente encontram 
Conceição no acampamento da cidade, num trabalho 
voluntário, que busca amenizar a perda total das 
esperanças. Diante da fome, da miséria, da doença e 
da morte, a presença solícita e delicada de Conceição 
personifica a esperança e a solidariedade. 
José Lins do Rego
(1901-1957) 
José Lins do Rego nasceu na Paraíba, no engenho de 
açúcar do avô materno, estudou o secundário em João 
Pessoa e fez Direito em Recife. Aos 34 anos transfere-se 
para o Rio de Janeiro onde passa o resto da vida.
Seus avós e seus pais sempre foram ligados ao 
mundo rural do Nordeste açucareiro, às senzalas e aos 
negros. Esse mundo marcado pelo patriarcalismo é 
reconstituído pelo autor, a começar pelo livro de estreia, 
de cunho autobiográfico, Menino de engenho.
A agonia e morte dos banguês, engenhos primitivos, 
o domínio crescente das usinas, a desumanização da 
economia pela mecanização da lavoura, a dispersão dos 
descendentes de escravos ainda não fixados no trabalho 
livre são os componentes do imenso mural descrito por 
José Lins do Rego que mostra a agonia de uma casta, o fim 
do patriarcado rural, o desmoronamento de um mundo.
Fogo morto
Sob o impacto da Guerra Mundial e do Estado Novo, 
o autor escreveu sua obra-prima, Fogo Morto, em 1943.
O centro do romance é o mundo decadente do Santa 
Fé, o poderoso engenho, desde sua fundação até o 
declínio, quando se vê de “fogo morto”, expressão com 
que se designam os engenhos inativos. 
Três personagens entrecruzam-se no espaço e no 
tempo narrativo deixando a narrativa multifacetada, 
com pluralidade de visões. É o imenso painel da so-
ciedade rural do Nordeste, na transição da economia 
mercantil para a economia pré-capitalista. 
A história que se passa em Pilar, terra natal do autor, 
por volta de 1850, sintetiza o ciclo da cana-de-açúcar e 
está dividida em três partes, cada uma delas girando em 
torno de uma personagem.
O mestre José Amaro 
O velho seleiro vive nas terras do Santa Fé, à beira da es-
trada. Tem uma personalidade forte, não aceita se submeter 
aos poderosos, grita com a mulher e a filha, vive ferido no 
seu orgulho devido a vários problemas que enfrenta. A lou-
cura da filha, a fuga da mulher, os desentendimentos com 
o coronel Lula, novo dono do engenho Santa Fé, agravam a 
sua personalidade negativista e sombria. Vagando solitário 
à noite, ganhou fama de lobisomem. Tendo consertado al-
guns arreios para o cangaceiro Antônio Silvino, pediu como 
pagamento que o bandoleiro desse uma surra no coronel 
Lula. Quando a polícia soube de seu envolvimento com o 
bandido, prendeu-o e deu-lhe uma surra humilhante na 
cadeia. Acabou suicidando-se.
O engenho de seu Lula 
Depois de viver dias de glória nas mãos do Capitão 
Tomás, o Engenho Santa Fé entrou em declínio quando 
o genro, seu Lula, assumiu a administração. Arrogante e 
beato, dominado por extremo orgulho de casta, Lula de 
Holanda Chacon isolou-se dentro da própria casa e se 
afastou das pessoas, mesmo amigas. Após a Abolição, os 
ex-escravos abandonam o Santa Fé e o coronel Lula tenta, 
inútil e desesperadamente, manter o prestígio antigo. Os 
pobres o desprezam e os parentes ricos o lamentam.
O capitão Vitorino
Como um D. Quixote sertanejo, Vitorino, de perso-
nalidade excêntrica, amalucada e idealista contrapõe-se 
às figuras frustradas e soturnas do Mestre Amaro e do 
Coronel Lula. Esta personagem é uma das grandes cria-
ções da literatura brasileira. Pessoa decaída socialmente 
e grotesca, o Capitão Vitorino, sem se importar com o 
deboche dos moleques que o chamam de “papa-rabo” e 
lhe atiram pedras, levanta-se como paladino da justiça e 
defensor dos pobres e oprimidos. É surrado pela polícia, 
de quem denuncia os desmandos; não teme os canga-
ceiros nem a prepotência dos senhores de engenho. 
Essa personagem libertária, nebulosa e heroica, apesar 
das aparências ridículas, demonstra grandeza humana e 
consciência de seu destino.
Jorge Amado
(1912-2001)
Jorge Amado nasceu numa fazenda de cacau em Ita-
buna, no sul da Bahia. Seu pai e seus tios foram homens 
ligados à cultura do cacau.
Passa parte da infância em Ilhéus com filhos de 
trabalhadores rurais. Em Salvador, onde vive em contato 
com o povo simples da Bahia, sempre presente em suas 
obras, continua os estudos.
No Rio de Janeiro, aos 19 anos, publica seu primeiro 
romance, O país do carnaval. Em 1945, conhece a grande 
paixão de sua vida, a também escritora, Zélia Gattai.
Influenciado por Rachel de Queiroz, José Lins do Rego 
e Graciliano Ramos, abraça as ideias marxistas e é eleito 
deputado federal pelo PCB. Alguns anos depois, desilu-
dido da política, desliga-se do Partido. Numa sessão de 
fisioterapia, sofre uma parada cardiorrespiratória, e morre. 
Seus livros foram traduzidos para mais de 50 idiomas 
e tiveram mais de 20 milhões de exemplares vendidos.Aula 09
3Português 3D
Obras, estilo e temática
A Bahia, síntese da miscigenação racial e cultural do 
Brasil, é o espaço onde transcorrem praticamente todas 
as histórias de Jorge Amado. O erotismo, a malícia, a sen-
sualidade e o bom-humor dão um sabor picante às cenas 
e constituem também fatores determinantes do grande 
sucesso deste autor.
Jorge Amado foi principalmente um regionalista da 
Geração de 30.
O ciclo do cacau
O escritor, numa série de livros, mostra as sangrentas 
disputas no sul da Bahia pela conquista e posse das terras 
mais férteis do mundo para o plantio do cacau, em que 
milhares de hectares da floresta atlântica foram devastados 
para darem lugar às árvores de cacau. São histórias de lutas, 
tocaias, negociatas fraudulentas, assassinatos e atentados, 
ocorridos entre proprietários rurais. A exploração dos traba-
lhadores, os conchavos políticos regados a muito dinheiro, 
os incêndios criminosos, a falsificação de documentos e 
a impunidade são os temperos dessa verdadeira guerra, 
que dá muito lucro para os comerciantes de armas e para 
os bons atiradores. As obras Cacau e Terras do Sem Fim 
encaixam-se nesta temática.
Romances proletários
São as obras que refletem o ponto de vista dos trabalha-
dores e das classes sociais marginalizadas, como Capitães 
da Areia e Mar Morto.
A Bahia pitoresca
A partir da década de 50 inicia a fase mais popular de 
Jorge Amado. Nela, o escritor passa a mostrar o povo bem 
humorado; mulheres lindas, fortes, sedutoras e inteligen-
tes; belas e deslumbrantes paisagens naturais. As lutas 
políticas, a vitória da modernidade sobre o medievalismo 
econômico, a luta contra os grupos econômicos que pre-
tendem destruir a natureza são os principais temas desses 
romances, os mais populares do autor comoGabriela Cravo 
e Canela; Dona Flor e seus dois Maridos e Tieta do Agreste.
Terras do sem-fim
Sinhô Badaró e Horácio da Silveira, os dois maiores 
fazendeiros e produtores de cacau da região disputam as 
terras virgens do Sequeiro Grande. Nesta disputa, vale a 
lei do mais forte, e todos os meios – lícitos ou ilícitos – são 
válidos para se alcançarem os fins pretendidos.
Primeira parte
Centenas de pessoas embarcam em Salvador rumo à 
região de Ilhéus, donde se dizia que o dinheiro era fácil e 
abundante. João Magalhães vai fugindo da polícia, Antônio 
Vítor e muitos outros vão em busca de fortuna fácil, Margot 
vai atrás de Virgílio, Juca Badaró volta de uma estada de 
negócios e divertimentos, um velho está voltando para 
vingar a morte do filho.
Segunda parte
Esta é a mais extensa e mais importante parte da obra. 
Nela aparecem e são caracterizadas as principais persona-
gens da narrativa que se dividem no apoio a um ou outro 
dos poderosos coronéis Badaró e Horácio.
A mata do Sequeiro Grande, objeto da disputa, é per-
sonificada como impenetrável, misteriosa e ameaçadora. 
Numa cena que antecipa as últimas cenas do livro, Juca 
Badaró ameaça matar quem, por medo das “assombrações” 
da floresta, tentar fugir da derrubada que vai iniciar. 
Terceira parte
Ferradas, povoado encravado nas terras de Horácio, 
vive agitada com as notícias dos barulhos que estão come-
çando nas fazendas. 
Tabocas, futura Itabuna, também “curral” de Horácio, 
já tinha estrada de ferro, calçamento nas ruas centrais, 
grandes depósitos de cacau, tinha Dr. Jessé, médico e 
amigo de Horácio, tinha muita confusão, briga e mortes 
nas eleições, tinha grupo de teatro amador e tinha também 
fama de um centro de civilização e progresso. A prostituta 
Margot, antiga amante e protetora de Virgílio na época da 
faculdade, veio atrás dele.
Para evitar mais escândalo e chantagem da amante, o 
advogado de Horácio levou-a para Ilhéus, onde o romance 
entre ele e Ester, mulher do coronel, vai-se concretizar. 
O Dr. Virgílio falsifica uma antiga medição das matas 
do Sequeiro Grande e, subornando o escrivão, registra as 
matas em nome de Horácio e de seus aliados. Ao saber da 
notícia Don’Ana, filha de Sinhô Badaró e sobrinha de Juca, 
ausente no momento, ordenou ao coronel Teodoro das Ba-
raúnas, assassino frio, cruel e sanguinário que botasse fogo 
no cartório de Tabocas, destruindo todos os documentos ali 
registrados, inclusive a escritura do Sequeiro Grande.
Quarta parte
Nos botecos do cais de Ilhéus, marinheiros, prostitutas 
e aventureiros contam histórias de aventuras e amores do 
mar.
Ilhéus já era uma grande cidade, com calçamento, 
bairros chiques, igrejas, colégios e muito comércio, mas di-
versão havia só para os homens, no cabaré e nos botequins. 
O jornal O Comércio, era dos Badaró; enquanto que A 
Folha de Ilhéus, era do coronel Horácio. Em artigos infla-
mados, cheios de preciosismos pernósticos, os articulistas 
trocavam insultos entre si e denegriam a moral dos líderes.
No cabaré da cidade, Juca Badaró oferece muito 
dinheiro a João Magalhães, falso engenheiro, para que 
este faça uma nova medição das terras do Sequeiro 
4 Extensivo Terceirão
Grande. Noutra mesa, Dr. Virgílio provocava uma discus-
são com Margot com a intenção de deixá-la, para ir ao 
encontro de Ester. Juca Badaró aproveitou-se da situação 
e tomou Margot como sua amante exclusiva. 
A primeira das muitas noites de amor que passariam 
juntos começou para Virgílio e Ester à luz da lua sob as 
estrelas.
 Nos dias que passou na mata e na fazenda dos 
Badaró, João Magalhães conheceu Don’Ana e entre eles 
nasceu uma afeição que terminaria em casamento. Tanto 
os Badaró como Horácio começaram a contratar trabalha-
dores e jagunços. Sinhô Badaró, após registrar em cartório 
as medições de João Magalhães, vendeu à companhia 
exportadora toda a futura safra de cacau. 
Quinta parte
Sinhô Badaró escapa por pouco de um atentado e Juca 
revida atacando e matando vários homens de Horácio.
Por causa de Margot, Dr. Virgílio é provocado por 
Juca, que não reage no momento, mas encomenda a um 
capanga de Horácio que liquide o desafeto. Juca escapa do 
atentado.
Horácio, na certeza de ter-se livrado de Juca, hospeda-
-se na casa do Dr. Jessé em Tabocas, ajuda o médico a cui-
dar de um doente atacado pela febre e acaba contraindo 
a doença. Por ter-se tratado logo no início da doença, por 
ter recebido todos os cuidados e carinhos de Ester e por ter 
uma saúde de ferro, Horácio escapa da doença, frustrando 
os desejos secretos de Virgílio e quiçá de Ester que espera-
vam sua morte para poderem gozar livremente seu amor 
e sua paixão. Quem morre em seguida é Ester que havia 
contraído a doença do marido. A tragédia se abate sobre 
Virgílio e Horácio, mas não impede o coronel de continuar 
comandando a luta, nem o advogado de prosseguir com 
os processos. Os Badaró, aproveitando-se da situação, ha-
viam iniciado a derrubada das matas do Sequeiro Grande 
e já levavam uma boa vantagem sobre Horácio.
Juca Badaró é assassinado logo depois, a mando de 
Horácio que se beneficia de uma reviravolta política. O 
governo federal nomeou um interventor para a Bahia e o 
coronel Horácio passou a fazer parte do governo. Horácio 
atacou a casa-grande dos Badaró a pretexto de prender o 
coronel Teodoro que havia sido condenado pelo incêndio 
do cartório de Tabocas. As roças foram destruídas, as 
propriedades queimadas e os Badaró colocados em fuga. 
O coronel Horácio foi absolvido da morte de Juca Badaró.
Sexta parte
Meses depois, o coronel Horácio descobriu que Virgílio 
e Ester tinham sido amantes e resolve mandar matar o 
advogado. Maneca Dantas aconselhou o doutor a fugir 
mas este preferiu ir ao encontro da morte na estrada de 
Ferradas, na esperança de reencontrar Ester para viverem 
seu amor juntos noutras terras que não fossem essas do 
cacau.
A elevação de Ilhéus a diocese e a chegada do novo 
bispo, reuniu a sociedade inteira da cidade, situação e 
oposição, amigos e inimigos, esquecidos das desavenças 
em favor de algo maior. 
Capitães da areia
Capitães da areia é a história de um grupo de meninos 
de rua. 
Nunca ninguém havia mencionado em literatura 
este bando de jovens que engenhosamentedesafia as 
autoridades, roubando a classe privilegiada e dividindo o 
produto do roubo entre os seus camaradas subnutridos. 
Personagens
Pedro Bala, o líder dos capitães da areia, era uma espé-
cie de pai para os garotos, mesmo sendo tão jovem quanto 
os outros. Ágil, esperto e inteligente, era respeitado por 
todos e a todos respeitava. Mais tarde descobre ser filho 
de um líder sindical, morto durante uma greve. 
João Grande, negro, era o mais alto e mais forte do 
bando. Com 13 anos há quatro no bando, era filho de um 
carroceiro gigantesco, morto atropelado por um caminhão. 
Era chamado para as reuniões não por ser inteligente nem 
por saber planejar os furtos, mas porque era temido. 
Dora tinha treze para quatorze anos, era a única 
mulher do grupo e se adaptou bem a ele. Morreu de uma 
febre muito forte, logo depois de se tornar esposa de Pe-
dro Bala. Menina simples, dócil, bonita, simpática e meiga. 
Conquistou facilmente o grupo com sua simpatia e seus 
cabelos lisos.
Sem-Pernas, garoto pequeno para sua idade, era 
coxo de uma perna, agressivo, individualista. Entrava nas 
casas de família, fingindo ser um pobre órfão aleijado, e 
descobria os lugares da casa onde ficavam os objetos de 
valor, depois fugia e os capitães da areia assaltavam a casa.
Professor, garoto magro, inteligente, calmo, era o úni-
co que sabia ler. Planejava os roubos dos Capitães da areia. 
Professor lê e desenha com muito talento. Vai pintar no Rio 
de Janeiro, e seus quadros retratando a vida dos capitães 
da areia fizeram sucesso. 
Boa-Vida, mulato troncudo e feio, era o mais malan-
dro, e sabia tocar violão, fazia sambas, cantava pelas ruas e 
bares, a “vagabundear” e participava dos principais roubos 
do grupo. 
Querido-de-Deus é um capoeirista amigo do grupo, 
que dá algumas aulas de capoeira para Pedro Bala, João 
Grande e Gato.
Pirulito, magro, alto, seco, meio amarelado, de olhos 
fundos, boca rasgada e pouco risonha. Era o único do 
grupo que tinha vocação religiosa apesar de pertencer 
Aula 09
5Português 3D
aos Capitães da areia. Quando parou de roubar, para 
sobreviver, vendia jornais; seu destino foi ajudar o padre 
José Pedro numa paróquia distante.
Volta-Seca era um mulato sertanejo, afilhado de Lam-
pião, que odiava a polícia.Viera da caatinga. 
Gato, bonito e elegante, gostava de se vestir bem. 
Tinha um caso com a prostituta Dalva, que lhe dava 
dinheiro. Malandro e esperto, participava dos planos mais 
arriscados.
Primeira parte: “Sob a lua, num velho 
trapiche abandonado”.
Na introdução, são apresentadas reportagens sobre 
bandos de delinquentes que atormentavam a vida dos 
cidadãos de Salvador. Em seguida são narradas histórias e 
peripécias do grupo de menores delinquentes com quase 
cem membros. Os principais líderes surgem em ações iso-
ladas em que se destacam a esperteza e as especialidades 
de cada um. 
Segunda parte: “Noite da grande paz, 
da grande paz dos teus olhos”.
No trapiche, acontece uma história de amor encanta-
dora quando a menina Dora torna-se a primeira “capitã 
da areia”. Inicialmente os garotos tentam tomá-la a força, 
mas ela impõe sua personalidade e se torna uma espécie 
de mãe e irmã para todos. O homossexualismo é comum 
no grupo, apesar de Pedro Bala tentar impedi-lo e embora 
todos costumem “derrubar negrinhas” na orla. Professor e 
Pedro Bala se apaixonam por ela, e Dora se apaixona por 
este. Ao serem capturados, são cruelmente castigados, no 
reformatório e no orfanato. Quando escapam da prisão, já 
muito debilitados, Pedro e Dora se amam pela primeira vez 
na praia e pouco depois ela morre atingida por uma febre 
muito forte.
Terceira parte: “Canção da Bahia, canção da liberdade”.
A terceira e última parte da obra mostra a progressiva 
desintegração do grupo e o destino dos líderes. Sem-
-Pernas se mata antes de ser capturado pela polícia que 
odeia; Professor, entristecido com a morte de Dora, parte 
para o Rio de Janeiro para se tornar um pintor de sucesso; 
Gato se torna malandro de verdade e abandona Dalva; Pi-
rulito se torna frade e acompanha Padre José Pedro numa 
paróquia no interior, onde vai ajudar os desgarrados do 
sertão; Volta Seca se torna cangaceiro do grupo de Lam-
pião e mata mais de 60 soldados antes de ser capturado 
e condenado; João Grande torna-se marinheiro; Querido-
-de-Deus continua sua vida de capoeirista e malandro; 
Pedro Bala, cada vez mais fascinado com as histórias de 
seu pai sindicalista, vai se envolvendo com os doqueiros e 
se torna líder revolucionário comunista. 
Gabriela cravo e canela
Primeira parte
Mundinho é um jovem carioca que emigrou para 
Ilhéus e lá enriqueceu como exportador. Então planeja 
acelerar o desenvolvimento da cidade, melhorar os portos 
e derrubar Bastos, o inepto governante.
Nacib é um sírio (“turco é a mãe!”) dono do bar Vesú-
vio, que se vê em meio a uma grande tragédia pessoal: a 
cozinheira de seu restaurante partiu para ir morar com o 
filho às vésperas de um jantar para 30 pessoas em come-
moração à inauguração de uma linha automotiva regular 
para Itabuna. 
Nacib contrata umas irmãs gêmeas, mas descontente 
com elas, continua por toda parte procurando por uma 
nova cozinheira. Afinal encontra Gabriela, uma retirante 
que planeja estabelecer-se em Ilhéus como cozinheira ou 
doméstica, apesar dos pedidos do amante que planeja 
ganhar dinheiro plantando cacau. 
O dia começa com o encontro de dois corpos na praia, 
vítimas de um crime passional. O fazendeiro coronel 
Jesuíno Mendonça matou a tiros sua esposa e o cirurgião-
-dentista, moço elegante recém-chegado a Ilhéus e pelo 
visto afeito a conquistas perigosas.
Nacib contrata Gabriela, embora meio desconfiado 
dos reais dotes da moça, leva a retirante para o seu bar e 
fica surpreendido com os predicados de Gabriela, que vão 
muito além dos segredos da boa cozinha.
Sensual e inocente, sábia e pueril, morena com cheiro 
de cravo e cor de canela, a nova cozinheira conquista não 
apenas o coração de Nacib, mas também da maior parte 
dos ilheenses e desafia os costumes de sua época.
Durante o excelente jantar servido por Nacib e Gabrie-
la, manifestam-se e se acirram as diferenças políticas e, na 
prática, declara-se guerra aberta pela conquista do poder 
na cidade. A luta se fará entre Mundinho Falcão e Ramiro 
Bastos que mantém a hegemonia política na região há 
anos, sustentado pelo dinheiro e pela influência dos 
coronéis do cacau. 
Ao voltar para casa após o jantar, com um presente para 
a nova cozinheira por quem se encantava cada dia mais, 
Nacib tem com ela a primeira noite de amor e luxúria.
Segunda parte 
Josué era admirador de Malvina, filha de coronel e 
mulher liberal, de espírito independente, que não se 
sujeita às tradições patriarcais da família. Contrariando 
as expectativas familiares, Malvina se apaixona por 
Rômulo, o engenheiro chamado por Mundinho Falcão 
para estudar o caso da barra cuja pouca profundidade 
impedia os navios de grande calado de atracarem no 
porto de Ilhéus. Josué, desiludido de Malvina, interessa-
6 Extensivo Terceirão
-se por Glória, amante “teúda e manteúda” de um velho 
coronel, e passa a relacionar-se secretamente com ela. 
Rômulo foge após um escândalo provocado pelo pai 
de Malvina, tão machista quanto o resto da sociedade 
ilheense, Malvina faz planos de se libertar. 
A disputa política se acirra e o coronel Bastos usa de 
todos os meios ilícitos e violentos a ponto de ordenar 
a queima de toda uma tiragem do jornal de Mundinho. 
Mundinho ganhara terreno com a chegada do enge-
nheiro, mas perde parte do prestígio quando esse foge 
covardemente, e volta a ganhar com a promessa da 
chegada de dragas a Ilhéus. 
Nacib envolve-se loucamente com sua sensual empre-
gada. Mas a deliciosa e acessível Gabriela, com seu perfume 
de cravo e sua cor de canela, é assunto e objeto de desejo 
de praticamente todos os homens de Ilhéus. Até roças de 
cacau foram oferecidas a ela por ricos pretendentes. O 
turco, atacado pelos ciúmes, percebe que, na verdade, está 
apaixonado pelacabocla e acaba propondo-lhe casamen-
to. Foi durante a festa de casamento de Nacib e Gabriela, 
que chegaram as dragas ao porto de Ilhéus. 
Josué e Glória oficializam a relação e Glória é expulsa 
de casa. Ramiro Bastos perde o apoio de Itabuna e 
morre. Seus aliados reconhecem que tinham lealdade à 
pessoa do coronel, não a suas ideias. A guerra política 
acaba com a vitória de Mundinho e seus candidatos. 
Gabriela, para desespero de Nacib, não se adapta à 
vida de “senhora Saad” e o casamento é anulado porque 
o marido a flagrou na cama com Tonico Bastos e Gabriela 
sai de casa. 
As obras na barra se completam com sucesso e Nacib 
e Mundinho abrem um restaurante juntos. O cozinheiro 
chamado pelos dois é... convidado a se retirar da cidade 
por admiradores de Gabriela, que acaba sendo recon-
tratada. Nacib e ela reiniciam o relacionamento, ardente 
como no início, antes de o casamento estragar tudo.
O final será a condenação do coronel Jesuíno pelo 
assassinato da esposa e do amante.
Graciliano Ramos
(1892-1953)
Este alagoano é considerado por muitos como o 
maior escritor brasileiro, depois de Machado de Assis.
Além de grande escritor, Graciliano foi jornalista, 
prefeito, diretor da Imprensa e da Instrução estaduais, 
membro do Partido Comunista.
De março de 36 a janeiro de 37, esteve detido em 
vários presídios, acusado de subversivo. Revoltado com 
as humilhações e privações que sofreu, escreveu longo 
depoimento, Memórias do Cárcere, denunciando as 
barbáries e injustiças da polícia do Estado Novo.
Estilo
O estilo de Graciliano Ramos mostra a influência que 
recebeu de seus autores prediletos, Machado de Assis e 
Eça de Queirós:
Linguagem despojada e elegante, que mistura a 
linguagem acadêmica do narrador com elementos da 
fala regional, mais coloquial.
Visão objetiva da realidade que leva ao extremo as 
tensões entre o indivíduo consigo mesmo e com o meio.
Análise psicológica dos dramas das personagens, 
provocados pelas situações traumáticas que vivem.
Personagens-tipo que representam não indivíduos, 
mas classes e grupos sociais. 
Poucos personagens calados, revoltados, impoten-
tes contra a exploração, a violência e a indiferença, o que 
revela o isolamento, a solidão e desamparo em que se 
encontram.
Obras 
 • Caetés; São Bernardo; Angústia; Vidas secas; Infância; 
Memórias do cárcere.
S. Bernardo
Publicado em 1934, S. Bernardo é o relato, em 
primeira pessoa, da ascensão social do personagem 
narrador, Paulo Honório. Movido pela ambição de se tor-
nar um grande fazendeiro, levado pela ânsia de poder, 
pela obsessão da posse e pelo excessivo autoritarismo, 
acaba por afastar-se do convívio dos amigos e do amor 
da própria mulher. 
Sua esposa, a professora Madalena, ao contrário do 
marido capitalista, tem inclinações socialistas e senti-
mentos filantrópicos. A mulher opõe-se, assim, à explo-
ração a que Paulo Honório submete os trabalhadores.
Numa reação provocada pela ignorância e pelo 
radicalismo, o fazendeiro passa a desconfiar dos gestos 
e das atitudes de pessoa letrada que sua mulher toma e 
começa a tratá-la com ofensas, grosserias e humilhações 
derivadas de seu ciúme doentio.
Utilizando a única forma de negar e condenar radi-
calmente as injustiças e violências praticadas contra ela 
pelo marido, a mulher se mata.
O suicídio de Madalena, sua esposa, leva Paulo Ho-
nório a uma retrospectiva de todos os atos de sua vida, 
na tentativa de entender a causa do desmoronamento 
de seu mundo. 
O livro que a personagem resolve escrever é a expres-
são do desabafo e de um certo exame de consciência 
que tentam explicar seu jeito de ser e seu fim solitário, 
amargurado e decadente, como ele próprio confessa.
Aula 09
7Português 3D
– Estraguei a minha vida, estraguei-a estupi-
damente.
A agitação diminui.
– Estraguei a minha vida estupidamente.
Personagens
Paulo Honório é o personagem-narrador. Toda a 
estrutura do enredo se ordena em torno dele. Representa 
um duplo papel: o fazendeiro ambicioso, e o escritor e 
narrador da história. 
Através do relato, acompanhamos Paulo Honório se 
construindo: de menino pobre, sem pai nem mãe, passa 
pela juventude sem rumo, descobre as asperezas de vida e 
desenvolve uma forte ambição. Ao apropriar-se da fazen-
da São Bernardo, dá o passo definitivo para a estabilidade 
e o reconhecimento social. 
Madalena é a coprotagonista do romance. A partir 
do capítulo 12, quando efetivamente passa a participar 
das ações, todos os fatos narrados por Paulo Honório 
estão relacionados a ela, a mulher que, mesmo amando 
intimamente, ele pretende possuir como se fosse mais um 
objeto de troca.
As ideias que a professorinha alimenta – sua visão 
humanista e solidária, o desejo de participação igualitária 
dentro do casamento e nos negócios, a delicadeza no trato 
e a formação intelectual letrada – vão motivar o choque 
entre os dois. 
Luís Padilha, herdeiro legítimo de São Bernardo, 
formou-se doutor, mas não revelou competência na 
administração da herança e acabou por levar a fazenda à 
falência. Preferia dedicar-se ao jogo, à bebida e às mulhe-
res. É visível a fraqueza moral dele em contraponto com a 
agilidade e a competência de Paulo Honório.
Seu Ribeiro é o guarda-livros, que fora no passado um 
rico proprietário rural. Um patriarca amado e respeitado 
por todos e que a todos atendia. Entretanto, ele não soube 
acompanhar as mudanças trazidas pelos tempos e acabou 
perdendo tudo.
Casimiro Lopes é a figura silenciosa e soturna do 
capanga fiel que acompanha Paulo Honório como uma 
sombra, permitindo dizer que funciona como a projeção do 
lado mais primitivo e brutal deste. Entretanto, ele é o único 
que dá atenção ao filho de Paulo Honório e Madalena.
Dona Glória é a tia de Madalena e única pessoa da fa-
mília da moça, sobre a qual recai grande parte da irritação 
de Paulo Honório. Madalena a defende, narrando a vida 
difícil de ambas, quando D. Glória dedicava-se a várias 
pequenas atividades para manter os estudos da sobrinha. 
Enredo
Quando decide a contar a sua história, Paulo Honório 
já está viúvo e sozinho, com cinquenta anos, grisalho e pe-
sando 90 quilos. Não sabia muito de seus pais nem de sua 
Infância. Lembrava-se apenas de uma Margarida de quem 
vendia os doces, e a quem, agora, ele sustentava. Até os 18 
anos trabalhou na enxada, na fazenda São Bernardo.
Depois de um tempo, trabalhando como vendedor, 
viajando, resolveu morar em Viçosa, sua terra natal, 
Alagoas, já tencionando apropriar-se de São Bernardo. 
Quando o velho Padilha (dono das terras) morreu, Paulo 
criou laços de amizade com o filho daquele, Luís: devasso, 
esbanjador e viciado em jogo. Paulo acabou por tomar-lhe 
São Bernardo com escritura e tudo o mais. Paulo teve que 
trabalhar muito para reconstruir a fazenda. Recuperada a 
propriedade, avançou além dos limites do vizinho, elimi-
nou os inimigos e se tornou um poderoso coronel.
Alguns o criticavam, alegando que desejava possuir 
o mundo todo. Paulo Honório mandou construir uma 
estrada, uma escola e uma Igreja. Recebeu a visita até do 
Governador. 
Queria casar-se, desejava um herdeiro para a sua fazen-
da. Conheceu uma loirinha que o deixou impressionado, 
cuja tia encontrou mais tarde no retorno de uma viagem. 
Passou a frequentar a casa delas até que, como se estivesse 
fechando uma transação comercial, propôs casamento a 
Madalena que aceitou, pensando em ter segurança para si 
e para a tia. Madalena teve um menino. 
Completaram-se dois anos de casados. 
Paulo, então, começou a sentir ciúmes da esposa, 
desconfiava de todos, achava que o filho nada tinha de 
parecido com ele. Ele só queria saber se a esposa lhe era 
fiel. A situação agravou-se ao extremo. Paulo Honório 
estava quase louco. À noite, ouvia passos e assobios que 
acreditava serem sinais. Não dormia. Madalena, nas con-
versas, mantinha-se serena. Só dizia que, caso morresse 
de repente, queria que dessem seus vestidos à família do 
Mestre Caetano e à Rosa; e os seus livros ao Seu Ribeiro, 
Padilha e Gondim.Até que um dia se suicidou.
Enterraram Madalena. Paulo mudou de quarto. D. Gló-
ria e Seu Ribeiro foram-se. Estourou a Revolução. Padilha e 
Padre Silvestre incorporaram-se às tropas revolucionárias. 
O outro ano foi terrível. Tudo andava mal, mas Paulo parecia 
não se incomodar. Era um homem só. Viúvo há dois anos. 
Um homem acabado. Sem amor, sem dinheiro, sem nada.
Angústia
Luís da Silva é o narrador e também o protagonista 
deste romance confessional. Vindo do interior, torna-se 
um intelectual e sonha tornar-se um vencedor na vida. 
Maceió apenas lhe dá um mísero emprego público e uma 
casa velha num bairro pobre. Sua vizinhança é composta 
de crianças esqueléticas, de mocinhas prematuramente 
prostituídas, de velhos doentes e de pobreza total, e o 
funcionário público e escritor frustrado, desesperado, 
8 Extensivo Terceirão
vive num clima de pesadelo, impossibilitado de conviver 
com ruídos que lhe são familiares, provocados por ani-
mais (ratos, galos, gatos), objetos (relógios, armadores de 
rede), pessoas tossindo.
Vitória, sua empregada velha e surda, faz-lhe compa-
nhia e dá uma relativa sensação de lar à casa onde mora. 
Aos quarenta e tantos anos, Luís é uma pessoa frustrada, 
consciente de que, apesar de suas aptidões, será sempre 
um relegado a segundo plano, um subalterno de pessoas 
que, apesar de incompetentes, galgarão os cargos mais 
importantes, por conta de favorecimentos espúrios.
Através do fluxo de associações mentais, em ritmo alu-
cinado, como um solilóquio doido, ele narra o percurso de 
uma obsessão: o crime, “ideia parafuso” em torno da qual 
gravita uma consciência esfacelada, centrada em uma 
predisposição depressiva e mórbida. Luís da Silva, Marina 
e Julião Tavares formam o “triângulo amoroso” do qual 
decorre o crime passional. Marina, com quem pretendia 
se casar e com quem dissipara suas economias, é sedu-
zida por Julião Tavares, rico, falante, sedutor. Alimentado 
por um ódio avassalador, consagra sua vida a um único 
objetivo: assassinar o rival. Matar Julião Tavares significa 
vingar os humildes, marginalizados e desvalidos. Um mês 
após o crime, Luís da Silva começa a escrever Angústia.
O crime, porém, não será a solução para sua angústia, 
muito pelo contrário, mas, pelo menos, desencadeará 
uma revolução em seu íntimo, que o sacudirá e o obrigará 
a se manifestar neste longo monólogo que é Angústia.
Vidas secas
O narrador focaliza os modos de ser, os dramas, o 
embrutecimento, a revolta surda e impotente dos perso-
nagens. 
Os poucos personagens se isolam em seu mundo 
interior, quase não dialogam e os monólogos interiores, 
como ruminações, são a expressão maior do pouco de 
identidade humana que resta. Fabiano, Sinha Vitória, 
os meninos e até a cachorra Baleia vivem seus sonhos 
individualmente e se comunicam praticamente só com 
monossílabos.
As paisagens são secas, as palavras são secas, as perso-
nagens são secas, as vidas são secas.
Enredo
A sequência descontínua das cenas possibilita a 
leitura aleatória dos capítulos.
1. Mudança
A família de Fabiano atravessa a caatinga. Na con-
dição de flagelados retirantes, eles dormem nos leitos 
secos dos rios, permanentemente atormentados pelo 
diabólico trinômio fome – sede – cansaço. Homens e 
animais igualam-se na condição de retirantes e a expres-
são “seis viventes” coloca-os num mesmo plano. 
2. Fabiano
A família se aloja numa fazenda abandonada, 
alimentando-se de raízes e outros frutos da terra. Após 
uma trovoada, aparece o dono da fazenda e expulsa 
os invasores. Fabiano finge-se de desentendido e se 
oferece para trabalhar como capataz e vaqueiro. O 
fazendeiro aceita a oferta e lhe entrega as peças de ferro 
para marcar o gado.
Progressivamente, Fabiano conscientiza-se de sua 
inferior condição: a enumeração dos caracteres físicos 
enfatiza sua irrelevância como indivíduo; a imagem 
degradante que faz de si se completa ao se considerar 
“uma coisa da fazenda, um traste”, pois, apesar de bran-
co como os patrões, falta-lhe o essencial, a propriedade.
3. Cadeia
Aproveitando a estabilidade temporária, Fabiano vai 
à feira da cidade fazer compras. No botequim onde vai 
tomar uma cachaça, é convidado por um soldado ama-
relo para jogar cartas. Ele inicialmente rejeita o convite, 
mas acaba jogando, perde dinheiro e, acabrunhado, 
retira-se do jogo sem se despedir do parceiro. 
Dizendo-se desrespeitado, o soldado pisa no pé de 
Fabiano, que retruca xingando-lhe a mãe. Na cadeia, 
Fabiano é surrado, maltratado. Fabiano, sem entender 
nada, passa a noite preso, preocupado com a mulher 
e os filhos que estão esperando por ele no escuro, sem 
querosene para a lamparina. 
4. Sinha Vitória
Sinha Vitória se revolta com a rotina dos afazeres 
domésticos. Indignada, enerva-se com Baleia e com os 
filhos. A certeza de ter que continuar dormindo numa 
cama de varas e a lembrança do papagaio que fora 
obrigada a sacrificar intensificam a sua amargura.
Numa discussão com Fabiano, lembra o dinheiro 
perdido no jogo e na bebida. Fabiano retruca, censu-
rando a esposa por ter comprado “sapatos de verniz (...) 
caros e inúteis”.
Sinha Vitória sonha possuir uma cama confortável 
e pensa nas diversas maneiras de obtê-la: venderia as 
galinhas e a porca, deixaria de comprar querosene, ... 
enfim, alimenta a esperança de, algum dia, conseguir o 
que deseja, e isso quase a deixa feliz.
5. O menino mais novo
O menino mais novo procura em vão aproximar-se 
dos parentes. Fixa-se no pai e imagina, um dia, fazer as 
mesmas coisas que este fazia, para demonstrar coragem 
ao irmão mais velho e à Baleia. Precisa fazer uma proeza, 
Aula 09
9Português 3D
algo que os deixe maravilhados: tenta montar e cavalgar 
num bode, mas cai numa ribanceira. 
6. O menino mais velho
Ao ouvir sinhá Terta pronunciar a palavra inferno, 
o menino mais velho, intrigado, pede à mãe que lhe 
explique o significado da palavra. Depois de dizer que 
era um lugar cheio de fogueiras e espetos quentes, sinhá 
Vitória impacienta-se com a nova pergunta do filho: “A 
senhora viu?” Revoltada com a própria incapacidade de 
lhe dar uma explicação satisfatória, aplica no filho mais 
velho um cascudo e o expulsa da cozinha. Humilhado, 
vai se esconder na caatinga, perto da lagoa vazia. 
7. Inverno
Quando chega a estação das chuvas, a família se re-
úne ao redor do fogão de lenha. Sonolentos, os meninos 
ouvem os pais conversarem animadamente e desfiarem 
os seus sonhos de felicidade. Com a caatinga verde, gado 
para cuidar e feijão com rapadura para comer, afasta-se 
o perigo da seca. 
8. Festa
No Natal, a família vai para a festa na cidade. Os me-
ninos estreiam calças e paletós. Sinhá Vitória sofre nos sa-
patos altos; Fabiano também sofre nas botas de borracha 
e elástico. As crianças ficam com medo ao verem tantas 
pessoas reunidas, tantas coisas sem nome, preocupadas 
com Baleia que havia desaparecido. Sinhá Vitória fica de 
longe apreciando a beleza da festa, as pessoas alegres 
e coloridas, tira o cachimbo, encosta-se ao marido que 
ronca e começa a fumar. Baleia, junto de novo à família, 
abana o rabo, desejosa de ir embora, como as crianças. 
9. Baleia
Baleia andava com uma doença, talvez hidrofobia, que 
a deixara magra, sem pelos, sempre rodeada de moscas. 
Fabiano então decidiu matá-la: os meninos não podiam 
pegar a doença. Sinhá Vitória trancou-se no quarto com 
os meninos que gritavam e choravam. Fabiano atirou e 
acertou a pata traseira da cachorra, que não sabia o que 
estava acontecendo. Ela amava Fabiano. Deixou de sentir a 
pata traseira. Aos poucos o sol desaparecia. Precisava vigiar 
as cabras. Um tremor começou a percorrer-lhe o corpo. 
Cansada, Baleia se encosta numa enorme pedra e dorme, 
para acordar num mundo cheio de preás gordos, crianças 
roliças, uma Sinhá Vitória quentinha e um Fabiano enorme.
10. Contas
Fabiano vai acertar as contas com o dono da fazenda, 
mas não entende os cálculos dele. O resultado sempre 
difere do de Sinhá Vitória. Fabiano não entende nada de 
juros, de imposto,e de outras contas. Só entendia que 
trabalhava o mês inteiro e na hora de receber apenas 
sobravam alguns míseros trocados. Mas precisava do 
emprego, por isso aceitava tudo. 
Fica evidente a dificuldade de comunicação de Fabia-
no, demonstrando dificuldade em organizar o raciocínio.
11. O soldado amarelo
Fabiano encontra-se com o soldado amarelo, que 
está perdido na caatinga, com medo e pedindo ajuda. 
O reencontro se dá um ano após o vaqueiro ter sido 
preso. Fabiano luta entre o desejo de matá-lo por ser um 
sujeito insignificante, ruim e inimigo, e o desejo de não 
matá-lo por ser um homem. Por fim, vence o respeito à 
autoridade: “Governo é governo”.
12. O mundo coberto de penas
As aves começam a chegar em bandos, param na 
beirada do rio, anunciando um novo ciclo de seca. De 
um lado, acentuam os efeitos da seca, porque bebem 
a pouca água existente; de outro, servem de alimento 
e, temporariamente, impedem que a família morra de 
fome. Os animais começam a morrer.
13. Fuga
Com a chegada da seca, a princípio Fabiano pensa em 
resistir e permanecer na fazenda. No entanto, a morte de 
um número cada vez maior de reses faz com que ele se de-
cida a tentar a sobrevivência noutro lugar. Desconsolados, 
o casal e os filhos resolvem partir de madrugada, evitando 
outro constrangedor encontro com o patrão, pois não têm 
como saldar a dívida acumulada. Despojados de tudo, 
iniciam uma nova retirada, levando às costas os poucos 
bens. Fabiano sonha, o mundo era grande, chegariam a 
outra terra sem rios secos, sem urubus, sem pessoas mor-
rendo secas. Os filhos estudariam. Não seriam vaqueiros. 
O sertão mandaria para a cidade homens fortes, brutos 
como Fabiano, Sinhá Vitória e os dois meninos.
Érico Veríssimo
(1900-1975)
Gaúcho de Cruz Alta, com o apoio de Augusto 
Meyer, ingressou no jornalismo e na literatura tendo 
conseguido o primeiro grande sucesso em 1933 com 
a publicação de Clarissa, a que se seguiram os livros 
Caminhos Cruzados, Olhai os Lírios do Campo e outros. 
São histórias líricas, melodramáticas, sem grandes 
conflitos nem análises profundas da psicologia e do 
comportamento humano.
O Tempo e o Vento é sua obra maior que apresenta 
um grandioso painel histórico, social, heroico e humano 
da história gaúcha. 
A visão histórica e crítica do autor será complementa-
da principalmente com Incidente em Antares. 
10 Extensivo Terceirão
O tempo e o vento 
O continente
A história principia pelo nascimento do estado do Rio 
Grande do Sul através das famílias Amaral, Cambará, Caré 
e Terra. Terra e Cambará são os nomes mais marcantes.
De início tem-se o retrato da conquista e a ocupação do 
território por aventureiros sorocabanos e lagunenses que, 
dirigindo-se para o sudoeste em busca de boas planícies 
para pastorear e plantar, ocupam a região. Os personagens 
que mais se destacam são Ana Terra e Capitão Rodrigo. 
Ana Terra é a jovem filha de Maneco Terra que trata 
dos ferimentos de Pedro Missioneiro, por ele se apaixona 
e dele engravida, passando assim a ser desprezada pelo 
pai e os irmãos, que matam Pedro. Num ataque de ban-
doleiros, o pai, o irmão e dois escravos são mortos, ela é 
estuprada, mas se salva com a cunhada e as crianças. Parte 
e vai ajudar na fundação de Santa Fé. 
O capitão Rodrigo é a imagem do gaúcho forte com 
as típicas características de homem destemido e bravo. A 
valentia deste capitão adentrando um vilarejo bem pacato 
mostra que ele é do tipo que pode incomodar, por causa 
do gênio forte.
A união de Rodrigo Cambará com Bibiana Terra repre-
senta a união de duas das famílias que serão os principais 
responsáveis pela formação do Rio Grande do Sul. No en-
tanto Rodrigo não é o que se chamaria de bom moço, pois 
mesmo já estando casado continua gostando do carteado, 
da bebedeira e até de outras mulheres.
Claro que o antagonista dele é Bento Amaral que 
perdeu a pretendente num duelo. Eles travaram uma luta 
atrás do muro do cemitério. Foram lutar por causa de um 
desentendimento ocorrido numa festa de casamento. 
Mais tarde, casado com Bibiana e com filhos, Rodrigo Cam-
bará morre com um tiro no peito durante um combate da 
Guerra dos Farrapos.
O retrato
Neste segundo romance da saga é retratada a de-
cadência social em Santa Fé, na virada do século XX, por 
motivações e joguetes políticos. Aos poucos Santa Fé foi 
perdendo o caráter rural.
Rodrigo Terra Cambará (bisneto do capitão que já 
conhecemos) resolveu voltar a Santa Fé, sua terra natal, 
depois de um tempo estudando medicina em Porto 
Alegre. Homem culto, médico de costumes requintados 
que se transforma no típico gaúcho machão, violento e de 
incontroláveis desejos sexuais.
O arquipélago
No último romance da trilogia o leitor assiste à 
desintegração das famílias originárias e das pessoas. Aos 
poucos a decadência dos estancieiros deixa lugar para 
os imigrantes.
Rodrigo Cambará retorna à cidade de Santa Fé após 
longos anos passados no Rio de Janeiro atuando na vida 
pública e política junto do presidente Getúlio Vargas, 
seu amigo e aliado. 
A família Terra Cambará que até então tinha somente 
poder local adquire influência em nível nacional. Com o 
fim do Estado Novo, Rodrigo, doente e derrotado politi-
camente, luta para não morrer em casa, considerando 
que “Cambará macho não morre na cama”.
Incidente em Antares
A história passada
O antigo Povinho da Caveira tivera seu nome trocado 
para Antares, nome de uma estrela maior que o sol, da 
constelação do Escorpião, por um viajante pesquisador.
A região colonizada inicialmente pelos Vacarianos, 
abrigou tempos depois os Campolargos que se insta-
laram também como criadores de gado e disputaram 
durante décadas a hegemonia política, econômica e 
social de Antares. Dessa disputa originaram-se brigas, 
guerras, assassinatos. 
Os Vacarianos, que mais tarde viriam a fundar o Par-
tido Liberal, eram monarquistas radicais, antiabolicio-
nistas que, na Revolução Federalista, tomaram o partido 
dos revolucionários. Na Guerra dos Farrapos ficaram do 
lado dos maragatos. No futebol eram todos torcedores 
do Fronteira F.C.
Os Campolargos fundaram o Partido Conservador, 
eram republicanos e abolicionistas, lutaram contra os 
revolucionários. Foram aliados dos pica-paus. Em 1915, 
fundariam o clube de futebol Esportivo Missioneiro.
Corrupção política, coação à justiça, despotismo e 
depravação moral foram acontecimentos frequentes 
em Antares, quer estivessem no poder os Vacarianos 
ou os Campolargos. Somente uma intervenção direta 
de Getúlio Vargas, que “intimou” os representantes das 
duas famílias para uma reunião em sua fazenda em São 
Borja, conseguiu estabelecer uma convivência pacífica 
daqueles inimigos que se dispunham a ser apenas 
adversários. 
 Desse modo, misturando personagens fictícios a 
vultos da história regional e nacional, os acontecimentos 
em Antares se confundem com os da História do Rio 
Grande do Sul e do Brasil: revoluções Federalista, Liberal 
e Constitucionalista; Coluna Prestes, Estado Novo, 
suicídio de Getúlio, construção de Brasília, governo e re-
núncia de Jânio Quadros e Revolução de 64, com DOPS, 
guerrilha, manifestações públicas, etc...
Aula 09
11Português 3D
A Greve
Em 13 de dezembro de 1963, Antares seria palco de 
uma greve geral deflagrada pelos trabalhadores, que 
exigiam melhorias salariais. Preocupado com a notícia, o 
coronel Tibério Vacariano, chefe político da cidade, resolveu 
comunicar a gravidade da situação local diretamente ao 
Governador do Estado, que pouca importância deu ao fato.
Houve um alarme geral. A cidade estava em pânico, 
pois ficaria sem luz, sem água, sem nenhum serviço 
público. D. Quitéria Campolargo, adversária política, mas 
comadre de Tibério Vacariano, ao receber a notícia do 
próximo tumulto, teve um ataque cardíaco e morreu. O 
Cel. Vacariano estava no velório de D. Quita, quando lhe 
comunicaram que o Dr. Cícero Branco que havia saído 
há pouco, tinha também morrido, vítima de um ataque 
cardíaco fulminante. Nesse dia morreram mais cinco 
pessoas.Conforme os caixões iam sendo levados ao cemitério, 
iam sendo deixados ao pé do muro, sem sepultura, porque 
também os coveiros haviam aderido à greve. Depois de 
muitas discussões ameaças, chiliques e esbravejamentos, 
o jeito foi deixar lá os caixões para serem enterrados quan-
do terminasse a greve. A multidão dispersou e um grupo 
de grevistas permaneceu montando guarda.
O incidente
Quando anoiteceu, um ladrão que ficara escondido 
dentro do cemitério, pois sabia que D. Quitéria seria enter-
rada com todas as joias da família, mais que depressa abriu 
o caixão da senhora e pôs-se a examinar-lhe os dedos, 
braços e pescoço à procura das joias e nada encontrou. 
Entretanto o pavor dominou-o quando viu a defunta abrir 
os olhos e, sentando-se, começar a rezar. O gatuno fugiu 
aos berros em desabalada carreira.
Ainda rezando, a defunta sai do caixão e, espantada e 
curiosa, abre o caixão ao lado e quem se levanta é o Dr. 
Cícero Branco. Surpresos e desnorteados, trocam ideias e 
resolvem abrir os outros caixões donde vão saindo José 
Ruiz, vulgo Barcelona, sapateiro anarquista que sabia de 
tudo sobre a vida alheia; Prof. Menandro de Olinda, pianis-
ta que se suicidara cortando os pulsos, para castigar suas 
mãos, instrumentos de seus pecados solitários e causa 
de sua vergonha pelo fracasso como pianista; Erotildes, 
prostituta que fora expulsa de casa pela mãe, tornara-se 
“protegida” do coronel e que, com o avanço da idade, fora 
decaindo até a mais negra miséria e morrera tísica por falta 
de atendimento, abandonada e esquecida num leito de 
hospital; João Paz, jovem idealista morto na cadeia devido 
às terríveis torturas que sofreu, embora nada tivesse a ver 
com as acusações de guerrilheiro e sabotador; por último, 
Pudim de Cachaça, velho beberrão, seresteiro irreverente e 
desbocado, morto envenenado pela mulher que cansara 
de levar tanta surra dele.
Depois de debaterem, de se acusarem mutuamente 
e colocar suas diferenças ideológicas, políticas e morais 
em pratos limpos, os sete defuntos resolveram de co-
mum acordo esperar até o amanhecer para em seguida 
descerem até a cidade, reclamar sobre seu estado e exigir 
sepultamento imediato.
À medida que os mortos desciam pela Voluntários da 
Pátria, os corpos iam-se decompondo. O terror se espalhou 
pelas ruas, muitos tinham desmaios, ataques de histeria 
ou morriam de infarto. Os defuntos combinaram que cada 
qual iria resolver suas pendengas particulares e ao meio-
-dia encontrar-se-iam no coreto da praça central da cidade.
Muitas pessoas, os mais religiosos, juntamente com o 
Padre Gerôncio, representante da ala tradicional da Igreja, 
aliada dos poderosos, acreditando ser o dia do Juízo final, 
acorreram à igreja para confessar-se e ficar em paz com 
a consciência. As autoridades reuniram-se na prefeitura 
procurando uma solução para o problema.
Ao meio-dia em ponto, sob um sol escaldante, lá 
estavam os defuntos no coreto, esperando a população 
e as autoridades que foram chegando e tomando todos 
os espaços. Todos os recantos, muros, galhos e árvores, 
ficaram apinhados de gente, muitos trouxeram cadeiras, 
sombrinhas, lenços perfumados por causa do cheiro. Ia 
começar a discussão.
O Dr. Cícero Branco, advogado, antigo aliado dos 
poderosos na montagem e execução das falcatruas, sócio 
participante do produto da roubalheira oficial generali-
zada, tomou a palavra e discursou em nome dos demais 
defuntos.
O orador foi desfiando suas denúncias e acusações. Vá-
rias personalidades, homens e mulheres, foram desmasca-
rados perante o povo que os vaiava e ridicularizava. Houve 
desmaios e mal-estares. Segredos de alcova, adultérios, 
atos de pedofilia, roubos e falcatruas foram desfilando 
perante os culpados e a multidão. Vergonha, humilhação, 
acusações mútuas de casais fizeram com que pessoas tidas 
como “santas” tivessem seu dia de inferno. Veio à tona a 
verdade sobre a violência da polícia e a impunidade de 
malfeitores e assassinos. 
O mau-cheiro dos mortos alastrava-se, uma multidão 
de ratos invadiu a cidade, o populacho se dispersou e 
trancou-se em casa. Os urubus baixaram até o coreto. Um 
grupo de corajosos, com paus e pedras espantou os uru-
bus e os mortos que voltaram para o cemitério. O enterro 
foi realizado em seguida.
A chegada de repórteres de rádios, jornais e televisão 
fez com que a maioria das pessoas, num pacto tácito de 
silêncio, negasse tudo o que havia acontecido.
Alguns jovens, algumas crianças, alguns bêbados e 
outras pessoas humildes revelaram a verdade para a 
imprensa, mas... quem acredita neles?
12 Extensivo Terceirão
Testes
Assimilação
09.01. Leia o texto.
“As situações narrativas, embora enfocassem 
uma determinada região, poderiam ser exten-
sivas a todo país. A visão crítica que aparece 
nessas produções tem em vista o caráter social, 
mostrando situações típicas do país. Nesse par-
ticular, tais produções inserem-se na literatu-
ra social neorrealista, que se afirma no mundo 
ocidental a partir da “quebra” da Bolsa de Nova 
Iorque.” 
As palavras acima referem-se:
a) a obras regionalistas românticas.
b) ao regionalismo da segunda fase do Modernismo.
c) à poesia social de Castro Alves.
d) à literatura pré-modernista.
e) ao regionalismo de Guimarães Rosa.
09.02. (ITA – SP) – Pode-se afirmar que Paulo Honório, per-
sonagem de São Bernardo, de Graciliano Ramos, é descrito 
como um homem:
a) solidário com seus empregados da fazenda, vítimas das 
condições naturais do lugar;
b) benevolente com as pessoas do seu convívio diário, apesar 
do seu comportamento autoritário;
c) intolerante com as pessoas que vivem próximas a ele; 
d) indulgente com os empregados da fazenda, já que vê 
neles a miséria de sua própria existência;
e) condolente com seus empregados, visto que conhece de 
perto suas dificuldades.
09.03. Jorge Amado, escritor baiano pródigo em narrativas 
interessantes, ofereceu-nos Terras do Sem-fim. A respeito 
dessa obra, pode-se afirmar que
a) apresenta uma visão mais ampla dos motivos humanos 
e a veia poética traduz uma descrição mais convincente 
da realidade abordada. 
b) é um panorama humorístico de uma cidade, com um tom 
calmo, uma composição fabuladora segura. 
c) é um romance simples, narrando a vida de um perso-
nagem, órfão do morro, depois “cria” de casa abastada e, 
finalmente, operário.
d) J. Amado aborda a problemática dos retirantes do sertão, 
dando à obra um aspecto de propaganda trivial, acentua-
da, depois em outras obras. 
e) é uma obra descuidada, na composição e no acaba-
mento, o que compromete a capacidade fabuladora 
de J. Amado.
09.04. (PUCPR) – 
“Criaturas como o seleiro José Amaro, o Capitão Vitori-
no e o Coronel Lula de Holanda são expressões madu-
ras dos conflitos humanos de um Nordeste decadente.” 
(Alfredo Bosi)
O trecho acima refere-se a um romance considerado verda-
deira obra-prima, fecho e superação do Ciclo da cana-de-
-açúcar no regionalismo dos anos 30. Trata-se de 
a) Angústia, de Graciliano Ramos.
b) Fogo Morto, de José Lins do Rego.
c) Cangaceiros, de José Lins do Rego.
d) São Bernardo, de Graciliano Ramos.
e) Jubiabá, de Jorge Amado.
Aperfeiçoamento
09.05. (AFA – SP) – A obra Angústia, de Graciliano Ramos, 
segundo as tendências do romance moderno, de 30 para cá, 
que consideram o grau de tensão entre o “herói” e o “mundo”, 
pode ser caracterizada como romance de tensão
a) crítica. b) mínima.
c) interiorizada. d) transfigurada. 
09.06. (UFSC) – A respeito de José Lins do Rego e de sua 
obra literária, é correto afirmar.
01) Entre outros romances Fogo Morto e Usina fazem parte 
do chamado “Ciclo da cana-de-açúcar”.
02) Menino de Engenho, sua obra de estreia, é de inspira-
ção autobiográfica.
04) Seu estilo se aproxima do Barroco pelo emprego exa-
gerado de expressões eruditas e/ou antitéticas, fre-
quentes inversões e anacolutos.
08) É considerado o precursor do chamado Romance do 
Nordeste, com A Bagaceira, obra publicada em 1928.
16) Algumas de suas obras retratam a decadência do mun-
do dos engenhos.09.07. (ITA – SP) – O romance São Bernardo, de Graciliano 
Ramos, publicado em 1934, é narrado em primeira pessoa 
pelo narrador-personagem Paulo Honório, que decide 
escrever o livro em determinada altura da sua vida. O 
principal motivo que levou Paulo Honório a escrever a 
sua história foi
a) o desejo de mostrar como ele conseguiu, com enorme 
esforço, tornar-se um proprietário rural bem sucedido, 
apesar de sua origem extremamente humilde.
b) o desejo de mostrar como se formavam os conflitos 
políticos e sociais no interior do Nordeste brasileiro, tema 
recorrente na ficção da chamada “Geração de 30”.
c) a tristeza que toma conta dele depois que a fazenda São 
Bernardo deixa de ser produtiva, como ela tinha sido 
graças ao seu empenho.
Aula 09
13Português 3D
d) tentar compreender o que teria levado Madalena ao fim 
trágico da sua existência, bem como as razões de a vida 
conjugal deles não ter se realizado como ele gostaria.
e) revelar quais foram os motivos pelos quais Madalena se 
matou, visto que ela se sentia culpada por ter traído o 
marido com Padilha, antigo proprietário da São Bernardo.
09.08. (PUC – SP) – Dos enunciados abaixo, indique aquele 
que não condiz com as características de Fabiano, persona-
gem de Vidas Secas, obra de Graciliano Ramos.
a) Era vaqueiro, via-se mais como bicho do que como ho-
mem, as pernas faziam dois arcos, os braços moviam- se 
desengonçados. Parecia um macaco.
b) Vivia longe dos homens, só se dava bem com animais, 
tinha um vocabulário pequeno e falava uma língua can-
tada, monossilábica e gutural.
c) Vermelho, queimado, tinha os olhos azuis, a barba e os cabe-
los ruivos, vivia em terra alheia e cuidava de animais alheios.
d) Tinha vindo ao mundo para amansar brabo, curar feridas 
com rezas, consertar cercas de inverno a verão, cortar 
mandacaru e ensebar látegos.
e) Era bruto, nunca havia aprendido, não sabia explicar-se. 
Violento, não respeitava o governo e odiava Seu Tomás 
da bolandeira, homem que falava bem, lia livros e sabia 
onde tinha as ventas.
09.09. Texto
Como o vestido dificultava seus movimentos e 
como ela queria ser totalmente um dos Capitães de 
Areia, o trocou por umas calças que deram a Ba-
randão numa casa da cidade alta. As calças tinham 
ficado enormes para o negrinho, ele então as ofe-
receu a Dora. Assim mesmo estavam grandes para 
ela, teve que as cortar nas pernas para que dessem. 
Amarrou um cordão, seguindo o exemplo de to-
dos, o vestido servia de blusa. Se não fosse a ca-
beleira loira e os seios nascentes todos a poderiam 
tomar por um menino, um dos Capitães de Areia. 
No dia em que, vestida como garoto, ela apa-
receu na frente de Pedro Bala, o menino começou 
a rir. Chegou a se enrolar no chão de tanto rir. Por 
fim conseguiu dizer: 
– Tu tá gozada... 
Ela ficou triste, Pedro Bala parou de rir. 
– Não tá direito que vocês me dê de comer 
todo dia. Agora eu tomo parte no que vocês fizer. 
Sobre o texto , é correto afirmar.
a) Jorge Amado incorpora a seu texto dados da linguagem 
popular, visando à naturalidade e espontaneidade da fala. 
b) Numa casa da cidade alta, Barandão trocou o vestido por 
umas calças. 
c) O menino que queria se tornar um dos Capitães de Areia 
tinha uma cabeleira loira. 
d) Em “Assim mesmo estavam grandes para ela, teve que as 
cortar nas pernas para que dessem”, o pronome pessoal 
oblíquo átono “as” substitui “as pernas”.
09.10. Avalie as afirmações a respeito de O quinze, de 
Rachel de Queiroz.
1. O romance se dá em dois planos, um enfocando o vaqueiro 
Chico Bento e sua família, o outro a relação afetiva de 
Vicente, rude proprietário e criador de gado, e Conceição, 
sua prima culta e professora.
2. Como ocorre em São Bernardo ou em Fogo Morto, esses 
planos opostos entram em conflito, ocasionado pela 
distância poética da elocução centrada nos fragmentos 
líricos do desencanto.
3. A parte mais importante do livro apresenta a marcha trá-
gica e penosa do vaqueiro Chico Bento com sua mulher 
e seus cinco filhos, representando os retirantes.
4. Os retirantes da seca são vistos de uma perspectiva que 
harmoniza o social e o psicológico sem perder o foco de 
entrada para alguns temas políticos da maior importância 
para a época, entre eles o da afirmação social da mulher 
(no caso, a protagonista Conceição) naquele contexto 
difícil e sabidamente adverso. 
Estão corretas, somente as afirmativas
a) 1, 2 e 3.
d) 1, 3 e 4.
b) 2, 3 e 4. 
e) 1 e 2.
c) 3 e 4. 
Aprofundamento
09.11. (UEL – PR) – Sobre a ficção produzida na década de 30 
deste século, é correto afirmar que, de modo predominante
a) abandonou os ideais modernistas, passando a dedicar-se 
à exploração psicológica das personagens e ao retrato dos 
ambientes intimistas.
b) concentrou-se na nova realidade urbana, analisando a emer-
gência de uma nova classe, representada pelos trabalhadores 
da indústria.
c) buscou a criação de uma linguagem experimental, de 
aspecto abstrato, testemunhando a crise da narrativa 
moderna.
d) voltou-se para as realidades regionais, explorando os mais 
problemáticos aspectos sociais e econômicos.
e) consolidou os ideais modernistas, inspirando-se na arte 
popular, nas crenças primitivas e no folclore.
09.12. (UFPR) – Sobre o romance Terras do sem-fim, de 
Jorge Amado, é correto afirmar.
1. A mata Sequeiro Grande, muito adequada para o plantio, é 
a razão da disputa e da morte entre os coronéis da região.
2. O enredo trata principalmente do conflito de terras, mas é 
em torno de conflitos psicológicos que temos a construção 
dos personagens mais interessantes.
3. No conjunto de romances de Jorge Amado ligados ao 
ciclo do cacau, este é o que se sobressai pelas questões 
14 Extensivo Terceirão
políticas levantadas, funcionando como um verdadeiro 
libelo de luta social.
4. A personagem Don’Ana é a segurança da continuidade, 
de sangue e espírito, da família Badaró.
São verdadeiras as afirmativas:
a) 1, 2 e 3 apenas. b) 1, 2 e 4 apenas.
c) 1 e 2 apenas. d) 2 e 4 apenas.
e) 3 e 4 apenas.
09.13. (UFSC) – Texto
Quando viva, Quitéria Campo Largo gostava de 
ficar às vezes contemplando o céu da noite – “ga-
rimpando estrelas”, como ela própria costumava 
dizer. Era uma espécie de jogo divertido que de 
certo modo a aproximava mais de Deus. Mantinha 
longos namoros com as constelações – Órion, o 
Cão Maior, o Sagitário, o Triângulo Austral, o Cen-
tauro e principalmente o Cruzeiro do Sul, que por 
misteriosas artes do coração e da memória, ela não 
considerava uma constelação universal, mas parte 
do patrimônio brasileiro. Quando lhe acontecia al-
guma coisa que a entristecia, levando-a a descrer 
das criaturas humanas, ela procurava no céu o 
Escorpião e, se ele já estivesse visível, localizava a 
estrela Antares, pensava no seu diâmetro mais de 
quatrocentas vezes maior que o do Sol, comparava 
essas grandezas astronômicas com as mesquinha-
rias de sua terra e de sua gente e acabava encon-
trando no confronto um profundo consolo que a 
punha de novo em paz com o mundo e a vida. 
VERISSIMO, Erico. Incidente em Antares.
Com base na leitura do texto e na obra de Erico Verissimo, é 
correto afirmar que: 
01) o texto faz referência à estrela Antares, cujo nome coincide 
com o da cidade onde se passa o incidente. No entanto, 
no romance, o nome Antares significa “cidade das antas”. 
02) o texto inicia-se com “Quando viva”, remetendo ao fato 
de que Dona Quitéria faz parte de um grupo de sete 
mortos insepultos, que enfrenta a população de Anta-
res no coreto da praça. 
04) a passagem “mesquinharias de sua terra e de sua gente” 
pode ser interpretada como uma referência às mazelas 
humanas, que não estão restritas a Antares, mas afetam 
a sociedade como um todo – temática que perpassa o 
romance. 
08) o texto, em terceira pessoa, apresenta Dona Quitéria, a 
narradora central do romance, que, por meio de suas re-
miniscências, mostra o modo de ser do povo de Antares. 
16) o livro está estruturado em duas partes distintas: a 
primeira contempla o absurdona forma do realismo 
mágico, e a segunda narra aspectos da história do Rio 
Grande do Sul na forma de um realismo histórico. 
32) Dona Quitéria, quando viva, “acabava encontrando no 
confronto um profundo consolo que a punha de novo 
em paz com o mundo e a vida”. Depois de morta, passa 
a revelar uma descrença na possibilidade de transfor-
mação social.
09.14. Vidas Secas, romance publicado em 1938, pertence à 
segunda fase do Modernismo brasileiro, período em que as 
narrativas literárias passam a questionar a realidade com mais 
vigor, explorar a temática regionalista, tornando a literatura 
mais construtiva e politizada. Leia os fragmentos:
Fragmento I:
“O patrão atual, por exemplo, berrava sem 
precisão. Quase nunca vinha à fazenda, só bo-
tava os pés nela para achar tudo ruim. O gado 
aumentava, o serviço ia bem, mas o proprietário 
descompunha o vaqueiro. Natural. Descompu-
nha porque podia descompor, e Fabiano ouvia as 
descomposturas com o chapéu de couro debaixo 
do braço, desculpava-se e prometia emendar-se. 
Mentalmente jurava não emendar nada, porque 
estava tudo em ordem, e o amo só queria mostrar 
autoridade, gritar que era dono.”
Fragmento II:
“Como num havemo de ser gente um dia? 
Gente que dorme em cama de couro. Por que 
havemos de ser sempre desgraçado? Fugindo no 
mato que nem bicho. Podemo viver como sem-
pre, fugindo que nem bicho”. 
RAMOS, Graciliano.Vidas Secas.
Em relação aos excertos acima e a obra como um todo, 
assinale a alternativa INCORRETA.
a) A miséria do retirante não é somente causada pela seca, 
mas pela miséria imposta pela influência social, represen-
tada pela exploração dos ricos proprietários da região.
b) Percebe-se que Fabiano, apesar das dificuldades linguísticas 
e da ausência de comunicação, sabia que estava sendo 
cobrado injustamente.
c) Por serem tratados como bichos, maltratados pela vida, 
pobres e sem instrução sentem-se inseguros para se 
comunicarem.
d) Fabiano e sua família se veem como bichos e se consideram 
como um deles por terem sido maltratados pela vida toda.
e) Quando se depara com um uso mais “difícil” da linguagem 
e o poder exercido por determinadas pessoas, Fabiano é 
capaz de se defender.
09.15. (UFPR) – Texto
“Se eu possuísse metade da instrução de Mada-
lena, encoivarava isto brincando. Reconheço final-
mente que aquela papelada tinha préstimo. O que é 
certo é que, a respeito de letras, sou versado em esta-
tística, pecuária, agricultura, escrituração mercantil, 
Aula 09
15Português 3D
técnicas, desconhecidas do público, e a ser tido por 
pedante. Saindo daí, a minha ignorância é completa. 
E não vou, está claro, aos cinquenta anos, munir-me 
de noções que não obtive na mocidade.”
O trecho acima pertence ao capítulo 2 de São Bernardo, de 
Graciliano Ramos. Assinale a alternativa correta a respeito 
desse romance.
a) A diferença de grau de instrução entre Paulo Honório e a 
professora Madalena não impediu que se casassem e cons-
tituíssem família, mas suas diferentes formas de encarar as 
desigualdades sociais colaboraram para o desfecho trágico.
b) Assim como fez em outros romances do período, tam-
bém em São Bernardo o autor, Graciliano Ramos, relatou 
minuciosamente episódios de sua vida, tais como a forma 
como adquiriu propriedades rurais e a relação conturbada 
com seus pais.
c) Apesar dos cuidados com o estilo, comentados no trecho 
transcrito, São Bernardo é um romance repleto de termos 
técnicos relacionados à agricultura e à pecuária, o que esta-
va de acordo com a estética realista do Regionalismo de 30.
d) Paulo Honório não conseguiu levar adiante seu plano de 
escrever um livro autobiográfico porque, em vez de tratar 
de assuntos que ele dominava, optou por descrever seu 
envolvimento amoroso com Madalena, assunto que mais 
o perturbava psicologicamente.
e) No final do romance, Paulo Honório retoma, de outra 
maneira, o balanço de seus cinquenta anos: em vez de 
dizer que não vai aprender novas noções por se considerar 
velho, passa a compreender que aquela é boa hora para 
recomeçar a vida, com outros princípios, aprendidos no 
convívio com Madalena.
09.16. (UDESC) – Texto
Visito com Xisto a redação e as oficinas de A 
Verdade. O diretor do jornal é um tipo curioso. 
Dá uma impressão de fluidez, é um homem que, 
como os líquidos, toma a forma dos vasos que 
os contém, isto é, da pessoa com quem fala ou a 
quem serve. Meia-idade, alto (em termos brasilei-
ros), moreno calvo, pele oleosa, vaselina na voz, 
nos gestos e nas ideias. Sua alcunha na cidade é de 
Lucas Lesma porque, explicam, a lesma é um ani-
mal capaz de arrastar-se sobre o fio duma navalha 
sem se cortar e sem cair para um lado nem para 
o outro. Conta-se que Lucas Faia tem passado a 
vida a rastejar incólume sobre o gume da espada 
afiadíssima da política e de mil outras contendas 
municipais. Um molusco dizem os seus inimigos. 
Um conciliador, corrigem os seus amigos.
VERÍSSIMO, Érico. Incidente em Antares.
Analise as afirmativas em relação ao excerto, assinale (V) para 
as sentenças verdadeiras e (F) para as falsas.
( ) Em relação à tipologia textual, no fragmento acima, 
há predominância de descrição, pois apresenta a ca-
racterização do diretor do jornal A Verdade.
( ) Na cidade de Antares, o codinome Lesma que deram 
a Lucas foi o resultado de ele não ter pressa alguma, 
caminhar lentamente com os passos arrastados.
( ) Os adversários de Lucas Faia taxam-no de um molus-
co, pois vive para si, interiorizado, rastejando; enquan-
to os seus amigos, o consideram um conciliador, pois 
está sempre procurando ajudar de um lado ou de ou-
tro, sem pensar em retribuição.
( ) A expressão como os líquidos estabelece uma forma 
de comparação entre homem (Lucas) e líquido, suge-
rindo que o ser humano é um ser flexível.
( ) Da oração é um tipo curioso infere-se que o diretor 
é um grande questionador, está sempre perguntado 
o porquê de tudo, pois faz parte do seu ofício no jor-
nalismo.
Assinale a alternativa correta, de cima para baixo.
a) V F F V V
d) F F V V F
b) F V V F V 
e) V F F F F
c) V F F V F
09.17. (AFA – SP) – Em relação à obra Angústia, é INCOR-
RETO dizer que
a) o recurso do fluxo de consciência se compatibiliza com o 
estado de desarticulação espiritual do narrador.
b) o narrador faz uma análise impotente da miséria moral 
de seu mundo, que só se resolve pelo crime e pela au-
todestruição.
c) a narrativa avança, numa atmosfera de pesadelo e mau 
humor, para um desenlace em que não se resolvem os 
conflitos do herói problemático.
d) o narrador, pausada e refletidamente, registra os fatos de 
que participou, a despeito de ainda viver as consequências 
das infaustas ocorrências de seu passado recente.
09.18. O romance Vidas secas, de Graciliano Ramos, 
a) aborda a questão da seca de maneira objetiva, orientando-
-se pelo estilo jornalístico, que prima pela neutralidade do 
narrador, característica comum aos autores da segunda 
fase modernista. 
b) revela o pensamento das personagens por meio do discur-
so indireto livre, recurso estilístico amplamente utilizado 
pelo Romantismo e retomado pelos autores da segunda 
geração do Modernismo. 
c) denuncia os sistemas de opressão social mantidos por 
grandes latifundiários, representados, na narrativa, por 
personagens de má índole, cujos planos são mal compre-
endidos pelo protagonista, Fabiano. 
d) mostra a realidade das vítimas da seca, aprofundando a 
análise psicológica das personagens, retratadas por meio 
de recursos estilísticos como o discurso indireto livre e o 
fluxo de consciência. 
e) revoluciona a narrativa convencional, utilizando-se de 
elementos característicos do Realismo e do Naturalismo, 
que, por sua vez, eram influenciados pelo determinismo. 
16 Extensivo Terceirão
Desafio
09.19. (UFSC) – Sobre a obra Capitães de Areia e seu autor, é correto o que se afirma em: 
a) O código que rege os componentes do grupo Capitães de Areia é a força física e a habilidade no uso da faca, condição de-
monstrada por PedroBala na luta com o chefe Raimundo. 
b) Antes de Pedro Bala, o chefe dos Capitães de Areia era Raimundo, o Caboclo, mulato avermelhado e forte. 
c) De 1956 a 1960, no governo de Juscelino Kubitschek, Jorge Amado refugia-se na Espanha a convite do governo de Francisco 
Franco, período em que escreve a biografia intitulada A Vida de Luís Carlos Prestes, rebatizada mais tarde O Cavaleiro da 
Esperança. 
d) A obra Capitães de Areia “não possui nem o apelo político-ideológico de muitas obras da dita “primeira fase” de Jorge Amado 
(Cacau, Seara Vermelha e Jubiabá), nem o apelo popular e erótico de quase todos os romances escritos depois de Gabriela, 
Cravo e Canela. Quer dizer, Capitães de Areia não interessava nem ao Partido Comunista, nem ao grande público. 
09.20. (UTFPR) – O diálogo a seguir é entre Paulo Honório, narrador, e Gondim, jornalista contratado inicialmente por Paulo 
para escrever o romance: 
– Vá para o inferno, Gondim. Você acanalhou o troço. Está pernóstico, está safado, está idiota. Há lá nin-
guém que fale dessa forma!
Azevedo Gondim apagou o sorriso, engoliu em seco, apanhou os cacos da sua pequenina vaidade e replicou 
amuado que um artista não pode escrever como fala.
– Não pode? Perguntei com assombro. E por quê?
Azevedo Gondim respondeu que não pode porque não pode.
– Foi assim que sempre se fez. A literatura é a literatura, seu Paulo.A gente discute, briga, trata de negócios 
naturalmente, mas arranjar palavras com tinta é outra coisa. Se eu fosse escrever como falo, ninguém me lia.
 (Graciliano Ramos: S. Bernardo, cap.1)
Com base no texto, pode-se afirmar que:
a) a concepção de literatura da 1ª. fase do modernismo expressa-se na opinião de Gondim.
b) as ideias de Paulo aplicam-se à obra de Graciliano, não a outros autores modernos.
c) as buscas da prosa da 2ª. fase do Modernismo não aparecem no ponto de vista de Paulo.
d) a divergência entre Gondim e Paulo é antes temática que estilística.
e) a concepção de literatura da 1ª. e 2ª. fases do Modernismo está no parecer de Paulo.
Gabarito
09.01. b
09.02. c
09.03. a
09.04. b
09.05. c
09.06. 19 (01 + 02 + 16)
09.07. d
09.08. e
09.09. a) Alternativa correta: As expressões “tu tá”, “vocês me dê de 
comer”,“vocês fizer” são exemplos de linguagem popular e são 
consideradas desvios da norma culta e da norma padrão.
b) Incorreta: Quem trocou o vestido por umas calças foi a persona-
gem Dora. 
c) Incorreta: Quem tinha a cabeleira loira era Dora. 
d) Incorreta: O pronome pessoal oblíquo átono “as” substitui “as calças”.
09.10. d
09.11. d
09.12. c
09.13. 06 (02 + 04)
09.14. e
09.15. a
09.16. c
09.17. d
09.18. a
09.19. a) Incorreta: O código que rege o grupo não é a força física, nem a 
habilidade no uso da faca, mas a igualdade de condições. Pedro 
Bala sofreu um corte de navalha no rosto, feito por Raimundo, e 
como estava desarmado recebeu o apoio do grupo. 
b) Alternativa correta: De fato, antes de Pedro Bala assumir a condição 
de chefe dos Capitães de Areia, o chefe era Raimundo, o Caboclo. 
c) Incorreta: Jorge Amado viaja à Argentina e ao Uruguai no perío-
do de 1941-1945, quando pesquisa e publica em 1942 a biogra-
fia intitulada A Vida de Luís Carlos Prestes, rebatizada mais tarde 
O Cavaleiro da Esperança. 
d) Incorreta: Capitães de Areia é uma obra de forte apelo social com 
um teor crítico, que dava visibilidade às contradições sociais do 
capitalismo, de acordo com a ideologia do partido Comunista.
09.20. e
17Português 3D
Aula 10
Português
1B3D
Poesia neomodernista e 
contemporânea
 Contexto
A humanidade, a partir do ano de 1945, vem assistindo a uma série de acontecimentos decisivos e transformadores.
 A explosão da bomba atômica põe um ponto final na segunda guerra mundial e, ao mesmo tempo, dá início a uma 
era de pavor para o mundo inteiro, que se sente inseguro diante de arma tão poderosa.
A criação da ONU e a assinatura da Declaração dos Direitos Humanos, procuram alimentar um mínimo de esperan-
ça de que não haverá outra guerra.
Mesmo assim, os países mais poderosos do mundo, Estados Unidos e Rússia, dividem o mundo em dois blocos de influên-
cia política, ideológica e econômica que alimentarão o medo das nações com a guerra fria, a corrida espacial e armamentista.
A paz mundial vem sendo constantemente ameaçada por lutas armadas, nos mais diferentes países. 
No Brasil, a deposição de Getúlio Vargas determina o fim do Estado Novo, após um breve período de redemocratização 
(19 anos), inicia-se outro período (21 anos) de governo militar e de radicalização entre esquerda e direita.
I. Vanguardas
Nas últimas décadas, a poesia apresenta várias tendências, além da permanência das outras linhas poéticas já 
estabelecidas.
A geração 45
Alguns autores passaram a se inspirar na poesia formalista, observando as técnicas tradicionais de versificação (verso, 
estrofe, rima, ritmo, temática universalista), sem compromisso, portanto, com os princípios da Semana de Arte Moderna.
Os nomes de destaque foram João Cabral de Mello Neto, Geir Campos, Ledo Ivo, Ferreira Gullar, entre outros, que 
participaram temporariamente do grupo e depois seguiram seus próprios caminhos.
Concretismo
Décio Pignatari, Augusto de Campos e Haroldo de Campos, em 1956 lançam a poesia concreta, que tem como 
característica uma estrutura VERBIVOCOVISUAL.
O verso e a sintaxe tradicionais são abolidos; os vocábulos são desmembrados em prefixos, radicais e sufixos; empre-
gam-se neologismos, siglas, estrangeirismos e palavras técnicas. Diversos recursos são utilizados: sonoros (letras, afixos, 
assonâncias e aliterações são repetidos); visuais (uso criativo do espaço gráfico) e semânticos (polissemia, trocadilhos).
Exemplos:
V V V V V V V V V V
V V V V V V V V V E
V V V V V V V V E L
V V V V V V V E L O
V V V V V V E L O C
V V V V V E L O C I
V V V V E L O C I D
V V V E L O C I D A
V V E L O C I D A D
V E L O C I D A D E
(Ronaldo Azeredo)
LUXO  LUXO    LUXO         LUXO    LUXOLUXOLUXO
LUXO  LUXO      LUXO     LUXO     LUXOLUXOLUXO
LUXO  LUXO      LUXO LUXO       LUXOLUXOLUXO
LUXO  LUXO      LUXOXO          LUXO         LUXO
LUXO  LUXO      LUXO            LUXO         LUXO
LUXO  LUXO      LUXOXO          LUXO         LUXO
LUXO LUXO     LUXO      LUXO LUXO       LUXOLUXOLUXO
LUXO LUXO     LUXO      LUXO     LUXO     LUXOLUXOLUXO
LUXO LUXO     LUXO    LUXO         LUXO    LUXOLUXOLUXO
18 Extensivo Terceirão
Poema-praxis
Mário Chamie, em 1962, lança a “instauração” praxis: 
as palavras são energia, matéria-prima transformável; a 
transformação das palavras, que mudam de sentido e de 
dicção, alteram a estrutura sintática da frase; o texto é 
um projeto de solução dos problemas mostrados pelo 
contexto; o texto é aberto e permite ingerências do 
leitor; o poema práxis engaja-se no processo industrial: 
da matéria-prima ao produto, deste ao consumo.
Agiotagem
um
dois
três
o juro; o prazo
o pôr / o cento / o mês / o ágio
Porcentágio.
dez
cem
mil
o lucro : o dízimo
 o ágio / a moral / a monta em péssimo
Empréstimo
muito
nada
tudo
a quebra : a sobra
 a monta / o pé / o cento / a quota
Hajanota
Agiota
(Mário Chamie)
Poesia marginal
Olha a passarinhada
Onde?
Passou.
(Chacal)
Movimento cultural fundado nos  anos  70, a poesia 
marginal teve como principais representantes: Ana 
Cristina César, Paulo Leminski, Ricardo Carvalho Duarte 
(Chacal), Francisco Alvim e Cacaso. Eles eram cabeludos, 
universitários, poetas.
A poesia “marginal” se tornou conhecida por este nome 
porque seus poetas abandonaram as editoras e livrarias, e 
buscaram meios alternativos, fazendo cópias mimeografa-
das de seus trabalhos, vendendo-os a preço baixo, de mão 
em mão, nas ruas, em praças e nas universidades. Através 
dessa poesia, os poetas da chamada “geração do mimeó-
grafo” queriam se expressar livremente em pleno regime da 
ditadura militar, bem como revelar novas vozes poéticas.
Influenciados pela primeira fase do Modernismo 
brasileiro, pelo Tropicalismo e por movimentos de 
contracultura, tais

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