Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 Prosa do pós-modernismo Português 3D09 Aula Situação histórica O período que se estendeu de 1930 a 1945 foi marca- do por acontecimentos que abalaram a estrutura social, econômica e política de muitos países. As guerras, a crise econômica, a proliferação de governos autoritários pro- vocaram choques ideológicos, morais e conflitos íntimos. A quebra da Bolsa de Valores de Nova Iorque (CRACK - 1929) provocou grande depressão econômica no mundo inteiro. No Brasil, a Revolução de 30 coloca Getúlio Vargas no poder, encerrando o período da República Velha e da política do café com leite. Em 1937, Getúlio instaura a ditadura do Estado Novo. A literatura desse período Passadas as efervescências revolucionárias da primei- ra fase modernista, a literatura atinge maior equilíbrio e estabilidade. A criação artística aproveita as conquistas do movimento de 22, mas volta a utilizar também os instrumentos artísticos do passado. Busca-se, acima de tudo, uma expressão artística nacional. Vertente realista Alguns autores da prosa modernista de 30 produzem romances de tese, de denúncia e narrativas regionalis- tas, que destacam a realidade nordestina como a seca, o êxodo rural, a mão de obra escrava, a violência, os bandos armados, o fanatismo e o coronelismo. Vertente introspectiva Outros escritores, com raízes no Simbolismo ou no modelo machadiano, revelam personagens em conflito consigo mesmos e que por vezes expressam um forte sentimento de fuga. Principais autores e obras Rachel de Queiroz (1910-2003) Nascida em Fortaleza, Rachel de Queiroz cresceu incentivada pela tradição cultural da família o que fez dela uma autora precoce. Aos vinte anos, publicou seu primeiro e mais importante livro, O Quinze; depois escreveu outros romances, contos, crônicas e histórias infantis que a colocam entre o mais importantes nomes de nossa literatura. O Quinze Este livro, de conteúdo político e social conta a história de uma família de retirantes, igual à de milhares de outras, expulsas de suas terras pela estiagem. O tema abordado especificamente é a seca de 1915, donde o título da obra. No estilo, Rachel de Queiroz se destaca pela objetividade nas descrições, pela linguagem enxuta e pela análise psicológica do homem nordestino diante das forças destruidoras da natureza. O Quinze é um painel dramático da ausência de destino para os retirantes. Para fugir da seca, da miséria e da fome, Chico Bento e D. Cordulina abandonam tudo que ainda lhes resta e vão buscar uma vida melhor no Sul do Brasil, mais especificamente, em São Paulo. Paralelamente, a história mostra como a seca destrói os bens materiais e também os psicológicos, impedindo, por exemplo, o relacionamento entre Conceição e Vicente. A personalidade da jovem Conceição, culta e politizada, frustrada como mulher por viver numa sociedade patriarcal e machista, choca-se com o jeito rude de Vicente, proprietário rural, apegado à terra e às tradições, o típico vaqueiro “endurecido” no cenário desolador e árido da fazenda. 2 Extensivo Terceirão Os flagelados, enfrentando a fome, a incompreensão humana e a marginalização social felizmente encontram Conceição no acampamento da cidade, num trabalho voluntário, que busca amenizar a perda total das esperanças. Diante da fome, da miséria, da doença e da morte, a presença solícita e delicada de Conceição personifica a esperança e a solidariedade. José Lins do Rego (1901-1957) José Lins do Rego nasceu na Paraíba, no engenho de açúcar do avô materno, estudou o secundário em João Pessoa e fez Direito em Recife. Aos 34 anos transfere-se para o Rio de Janeiro onde passa o resto da vida. Seus avós e seus pais sempre foram ligados ao mundo rural do Nordeste açucareiro, às senzalas e aos negros. Esse mundo marcado pelo patriarcalismo é reconstituído pelo autor, a começar pelo livro de estreia, de cunho autobiográfico, Menino de engenho. A agonia e morte dos banguês, engenhos primitivos, o domínio crescente das usinas, a desumanização da economia pela mecanização da lavoura, a dispersão dos descendentes de escravos ainda não fixados no trabalho livre são os componentes do imenso mural descrito por José Lins do Rego que mostra a agonia de uma casta, o fim do patriarcado rural, o desmoronamento de um mundo. Fogo morto Sob o impacto da Guerra Mundial e do Estado Novo, o autor escreveu sua obra-prima, Fogo Morto, em 1943. O centro do romance é o mundo decadente do Santa Fé, o poderoso engenho, desde sua fundação até o declínio, quando se vê de “fogo morto”, expressão com que se designam os engenhos inativos. Três personagens entrecruzam-se no espaço e no tempo narrativo deixando a narrativa multifacetada, com pluralidade de visões. É o imenso painel da so- ciedade rural do Nordeste, na transição da economia mercantil para a economia pré-capitalista. A história que se passa em Pilar, terra natal do autor, por volta de 1850, sintetiza o ciclo da cana-de-açúcar e está dividida em três partes, cada uma delas girando em torno de uma personagem. O mestre José Amaro O velho seleiro vive nas terras do Santa Fé, à beira da es- trada. Tem uma personalidade forte, não aceita se submeter aos poderosos, grita com a mulher e a filha, vive ferido no seu orgulho devido a vários problemas que enfrenta. A lou- cura da filha, a fuga da mulher, os desentendimentos com o coronel Lula, novo dono do engenho Santa Fé, agravam a sua personalidade negativista e sombria. Vagando solitário à noite, ganhou fama de lobisomem. Tendo consertado al- guns arreios para o cangaceiro Antônio Silvino, pediu como pagamento que o bandoleiro desse uma surra no coronel Lula. Quando a polícia soube de seu envolvimento com o bandido, prendeu-o e deu-lhe uma surra humilhante na cadeia. Acabou suicidando-se. O engenho de seu Lula Depois de viver dias de glória nas mãos do Capitão Tomás, o Engenho Santa Fé entrou em declínio quando o genro, seu Lula, assumiu a administração. Arrogante e beato, dominado por extremo orgulho de casta, Lula de Holanda Chacon isolou-se dentro da própria casa e se afastou das pessoas, mesmo amigas. Após a Abolição, os ex-escravos abandonam o Santa Fé e o coronel Lula tenta, inútil e desesperadamente, manter o prestígio antigo. Os pobres o desprezam e os parentes ricos o lamentam. O capitão Vitorino Como um D. Quixote sertanejo, Vitorino, de perso- nalidade excêntrica, amalucada e idealista contrapõe-se às figuras frustradas e soturnas do Mestre Amaro e do Coronel Lula. Esta personagem é uma das grandes cria- ções da literatura brasileira. Pessoa decaída socialmente e grotesca, o Capitão Vitorino, sem se importar com o deboche dos moleques que o chamam de “papa-rabo” e lhe atiram pedras, levanta-se como paladino da justiça e defensor dos pobres e oprimidos. É surrado pela polícia, de quem denuncia os desmandos; não teme os canga- ceiros nem a prepotência dos senhores de engenho. Essa personagem libertária, nebulosa e heroica, apesar das aparências ridículas, demonstra grandeza humana e consciência de seu destino. Jorge Amado (1912-2001) Jorge Amado nasceu numa fazenda de cacau em Ita- buna, no sul da Bahia. Seu pai e seus tios foram homens ligados à cultura do cacau. Passa parte da infância em Ilhéus com filhos de trabalhadores rurais. Em Salvador, onde vive em contato com o povo simples da Bahia, sempre presente em suas obras, continua os estudos. No Rio de Janeiro, aos 19 anos, publica seu primeiro romance, O país do carnaval. Em 1945, conhece a grande paixão de sua vida, a também escritora, Zélia Gattai. Influenciado por Rachel de Queiroz, José Lins do Rego e Graciliano Ramos, abraça as ideias marxistas e é eleito deputado federal pelo PCB. Alguns anos depois, desilu- dido da política, desliga-se do Partido. Numa sessão de fisioterapia, sofre uma parada cardiorrespiratória, e morre. Seus livros foram traduzidos para mais de 50 idiomas e tiveram mais de 20 milhões de exemplares vendidos.Aula 09 3Português 3D Obras, estilo e temática A Bahia, síntese da miscigenação racial e cultural do Brasil, é o espaço onde transcorrem praticamente todas as histórias de Jorge Amado. O erotismo, a malícia, a sen- sualidade e o bom-humor dão um sabor picante às cenas e constituem também fatores determinantes do grande sucesso deste autor. Jorge Amado foi principalmente um regionalista da Geração de 30. O ciclo do cacau O escritor, numa série de livros, mostra as sangrentas disputas no sul da Bahia pela conquista e posse das terras mais férteis do mundo para o plantio do cacau, em que milhares de hectares da floresta atlântica foram devastados para darem lugar às árvores de cacau. São histórias de lutas, tocaias, negociatas fraudulentas, assassinatos e atentados, ocorridos entre proprietários rurais. A exploração dos traba- lhadores, os conchavos políticos regados a muito dinheiro, os incêndios criminosos, a falsificação de documentos e a impunidade são os temperos dessa verdadeira guerra, que dá muito lucro para os comerciantes de armas e para os bons atiradores. As obras Cacau e Terras do Sem Fim encaixam-se nesta temática. Romances proletários São as obras que refletem o ponto de vista dos trabalha- dores e das classes sociais marginalizadas, como Capitães da Areia e Mar Morto. A Bahia pitoresca A partir da década de 50 inicia a fase mais popular de Jorge Amado. Nela, o escritor passa a mostrar o povo bem humorado; mulheres lindas, fortes, sedutoras e inteligen- tes; belas e deslumbrantes paisagens naturais. As lutas políticas, a vitória da modernidade sobre o medievalismo econômico, a luta contra os grupos econômicos que pre- tendem destruir a natureza são os principais temas desses romances, os mais populares do autor comoGabriela Cravo e Canela; Dona Flor e seus dois Maridos e Tieta do Agreste. Terras do sem-fim Sinhô Badaró e Horácio da Silveira, os dois maiores fazendeiros e produtores de cacau da região disputam as terras virgens do Sequeiro Grande. Nesta disputa, vale a lei do mais forte, e todos os meios – lícitos ou ilícitos – são válidos para se alcançarem os fins pretendidos. Primeira parte Centenas de pessoas embarcam em Salvador rumo à região de Ilhéus, donde se dizia que o dinheiro era fácil e abundante. João Magalhães vai fugindo da polícia, Antônio Vítor e muitos outros vão em busca de fortuna fácil, Margot vai atrás de Virgílio, Juca Badaró volta de uma estada de negócios e divertimentos, um velho está voltando para vingar a morte do filho. Segunda parte Esta é a mais extensa e mais importante parte da obra. Nela aparecem e são caracterizadas as principais persona- gens da narrativa que se dividem no apoio a um ou outro dos poderosos coronéis Badaró e Horácio. A mata do Sequeiro Grande, objeto da disputa, é per- sonificada como impenetrável, misteriosa e ameaçadora. Numa cena que antecipa as últimas cenas do livro, Juca Badaró ameaça matar quem, por medo das “assombrações” da floresta, tentar fugir da derrubada que vai iniciar. Terceira parte Ferradas, povoado encravado nas terras de Horácio, vive agitada com as notícias dos barulhos que estão come- çando nas fazendas. Tabocas, futura Itabuna, também “curral” de Horácio, já tinha estrada de ferro, calçamento nas ruas centrais, grandes depósitos de cacau, tinha Dr. Jessé, médico e amigo de Horácio, tinha muita confusão, briga e mortes nas eleições, tinha grupo de teatro amador e tinha também fama de um centro de civilização e progresso. A prostituta Margot, antiga amante e protetora de Virgílio na época da faculdade, veio atrás dele. Para evitar mais escândalo e chantagem da amante, o advogado de Horácio levou-a para Ilhéus, onde o romance entre ele e Ester, mulher do coronel, vai-se concretizar. O Dr. Virgílio falsifica uma antiga medição das matas do Sequeiro Grande e, subornando o escrivão, registra as matas em nome de Horácio e de seus aliados. Ao saber da notícia Don’Ana, filha de Sinhô Badaró e sobrinha de Juca, ausente no momento, ordenou ao coronel Teodoro das Ba- raúnas, assassino frio, cruel e sanguinário que botasse fogo no cartório de Tabocas, destruindo todos os documentos ali registrados, inclusive a escritura do Sequeiro Grande. Quarta parte Nos botecos do cais de Ilhéus, marinheiros, prostitutas e aventureiros contam histórias de aventuras e amores do mar. Ilhéus já era uma grande cidade, com calçamento, bairros chiques, igrejas, colégios e muito comércio, mas di- versão havia só para os homens, no cabaré e nos botequins. O jornal O Comércio, era dos Badaró; enquanto que A Folha de Ilhéus, era do coronel Horácio. Em artigos infla- mados, cheios de preciosismos pernósticos, os articulistas trocavam insultos entre si e denegriam a moral dos líderes. No cabaré da cidade, Juca Badaró oferece muito dinheiro a João Magalhães, falso engenheiro, para que este faça uma nova medição das terras do Sequeiro 4 Extensivo Terceirão Grande. Noutra mesa, Dr. Virgílio provocava uma discus- são com Margot com a intenção de deixá-la, para ir ao encontro de Ester. Juca Badaró aproveitou-se da situação e tomou Margot como sua amante exclusiva. A primeira das muitas noites de amor que passariam juntos começou para Virgílio e Ester à luz da lua sob as estrelas. Nos dias que passou na mata e na fazenda dos Badaró, João Magalhães conheceu Don’Ana e entre eles nasceu uma afeição que terminaria em casamento. Tanto os Badaró como Horácio começaram a contratar trabalha- dores e jagunços. Sinhô Badaró, após registrar em cartório as medições de João Magalhães, vendeu à companhia exportadora toda a futura safra de cacau. Quinta parte Sinhô Badaró escapa por pouco de um atentado e Juca revida atacando e matando vários homens de Horácio. Por causa de Margot, Dr. Virgílio é provocado por Juca, que não reage no momento, mas encomenda a um capanga de Horácio que liquide o desafeto. Juca escapa do atentado. Horácio, na certeza de ter-se livrado de Juca, hospeda- -se na casa do Dr. Jessé em Tabocas, ajuda o médico a cui- dar de um doente atacado pela febre e acaba contraindo a doença. Por ter-se tratado logo no início da doença, por ter recebido todos os cuidados e carinhos de Ester e por ter uma saúde de ferro, Horácio escapa da doença, frustrando os desejos secretos de Virgílio e quiçá de Ester que espera- vam sua morte para poderem gozar livremente seu amor e sua paixão. Quem morre em seguida é Ester que havia contraído a doença do marido. A tragédia se abate sobre Virgílio e Horácio, mas não impede o coronel de continuar comandando a luta, nem o advogado de prosseguir com os processos. Os Badaró, aproveitando-se da situação, ha- viam iniciado a derrubada das matas do Sequeiro Grande e já levavam uma boa vantagem sobre Horácio. Juca Badaró é assassinado logo depois, a mando de Horácio que se beneficia de uma reviravolta política. O governo federal nomeou um interventor para a Bahia e o coronel Horácio passou a fazer parte do governo. Horácio atacou a casa-grande dos Badaró a pretexto de prender o coronel Teodoro que havia sido condenado pelo incêndio do cartório de Tabocas. As roças foram destruídas, as propriedades queimadas e os Badaró colocados em fuga. O coronel Horácio foi absolvido da morte de Juca Badaró. Sexta parte Meses depois, o coronel Horácio descobriu que Virgílio e Ester tinham sido amantes e resolve mandar matar o advogado. Maneca Dantas aconselhou o doutor a fugir mas este preferiu ir ao encontro da morte na estrada de Ferradas, na esperança de reencontrar Ester para viverem seu amor juntos noutras terras que não fossem essas do cacau. A elevação de Ilhéus a diocese e a chegada do novo bispo, reuniu a sociedade inteira da cidade, situação e oposição, amigos e inimigos, esquecidos das desavenças em favor de algo maior. Capitães da areia Capitães da areia é a história de um grupo de meninos de rua. Nunca ninguém havia mencionado em literatura este bando de jovens que engenhosamentedesafia as autoridades, roubando a classe privilegiada e dividindo o produto do roubo entre os seus camaradas subnutridos. Personagens Pedro Bala, o líder dos capitães da areia, era uma espé- cie de pai para os garotos, mesmo sendo tão jovem quanto os outros. Ágil, esperto e inteligente, era respeitado por todos e a todos respeitava. Mais tarde descobre ser filho de um líder sindical, morto durante uma greve. João Grande, negro, era o mais alto e mais forte do bando. Com 13 anos há quatro no bando, era filho de um carroceiro gigantesco, morto atropelado por um caminhão. Era chamado para as reuniões não por ser inteligente nem por saber planejar os furtos, mas porque era temido. Dora tinha treze para quatorze anos, era a única mulher do grupo e se adaptou bem a ele. Morreu de uma febre muito forte, logo depois de se tornar esposa de Pe- dro Bala. Menina simples, dócil, bonita, simpática e meiga. Conquistou facilmente o grupo com sua simpatia e seus cabelos lisos. Sem-Pernas, garoto pequeno para sua idade, era coxo de uma perna, agressivo, individualista. Entrava nas casas de família, fingindo ser um pobre órfão aleijado, e descobria os lugares da casa onde ficavam os objetos de valor, depois fugia e os capitães da areia assaltavam a casa. Professor, garoto magro, inteligente, calmo, era o úni- co que sabia ler. Planejava os roubos dos Capitães da areia. Professor lê e desenha com muito talento. Vai pintar no Rio de Janeiro, e seus quadros retratando a vida dos capitães da areia fizeram sucesso. Boa-Vida, mulato troncudo e feio, era o mais malan- dro, e sabia tocar violão, fazia sambas, cantava pelas ruas e bares, a “vagabundear” e participava dos principais roubos do grupo. Querido-de-Deus é um capoeirista amigo do grupo, que dá algumas aulas de capoeira para Pedro Bala, João Grande e Gato. Pirulito, magro, alto, seco, meio amarelado, de olhos fundos, boca rasgada e pouco risonha. Era o único do grupo que tinha vocação religiosa apesar de pertencer Aula 09 5Português 3D aos Capitães da areia. Quando parou de roubar, para sobreviver, vendia jornais; seu destino foi ajudar o padre José Pedro numa paróquia distante. Volta-Seca era um mulato sertanejo, afilhado de Lam- pião, que odiava a polícia.Viera da caatinga. Gato, bonito e elegante, gostava de se vestir bem. Tinha um caso com a prostituta Dalva, que lhe dava dinheiro. Malandro e esperto, participava dos planos mais arriscados. Primeira parte: “Sob a lua, num velho trapiche abandonado”. Na introdução, são apresentadas reportagens sobre bandos de delinquentes que atormentavam a vida dos cidadãos de Salvador. Em seguida são narradas histórias e peripécias do grupo de menores delinquentes com quase cem membros. Os principais líderes surgem em ações iso- ladas em que se destacam a esperteza e as especialidades de cada um. Segunda parte: “Noite da grande paz, da grande paz dos teus olhos”. No trapiche, acontece uma história de amor encanta- dora quando a menina Dora torna-se a primeira “capitã da areia”. Inicialmente os garotos tentam tomá-la a força, mas ela impõe sua personalidade e se torna uma espécie de mãe e irmã para todos. O homossexualismo é comum no grupo, apesar de Pedro Bala tentar impedi-lo e embora todos costumem “derrubar negrinhas” na orla. Professor e Pedro Bala se apaixonam por ela, e Dora se apaixona por este. Ao serem capturados, são cruelmente castigados, no reformatório e no orfanato. Quando escapam da prisão, já muito debilitados, Pedro e Dora se amam pela primeira vez na praia e pouco depois ela morre atingida por uma febre muito forte. Terceira parte: “Canção da Bahia, canção da liberdade”. A terceira e última parte da obra mostra a progressiva desintegração do grupo e o destino dos líderes. Sem- -Pernas se mata antes de ser capturado pela polícia que odeia; Professor, entristecido com a morte de Dora, parte para o Rio de Janeiro para se tornar um pintor de sucesso; Gato se torna malandro de verdade e abandona Dalva; Pi- rulito se torna frade e acompanha Padre José Pedro numa paróquia no interior, onde vai ajudar os desgarrados do sertão; Volta Seca se torna cangaceiro do grupo de Lam- pião e mata mais de 60 soldados antes de ser capturado e condenado; João Grande torna-se marinheiro; Querido- -de-Deus continua sua vida de capoeirista e malandro; Pedro Bala, cada vez mais fascinado com as histórias de seu pai sindicalista, vai se envolvendo com os doqueiros e se torna líder revolucionário comunista. Gabriela cravo e canela Primeira parte Mundinho é um jovem carioca que emigrou para Ilhéus e lá enriqueceu como exportador. Então planeja acelerar o desenvolvimento da cidade, melhorar os portos e derrubar Bastos, o inepto governante. Nacib é um sírio (“turco é a mãe!”) dono do bar Vesú- vio, que se vê em meio a uma grande tragédia pessoal: a cozinheira de seu restaurante partiu para ir morar com o filho às vésperas de um jantar para 30 pessoas em come- moração à inauguração de uma linha automotiva regular para Itabuna. Nacib contrata umas irmãs gêmeas, mas descontente com elas, continua por toda parte procurando por uma nova cozinheira. Afinal encontra Gabriela, uma retirante que planeja estabelecer-se em Ilhéus como cozinheira ou doméstica, apesar dos pedidos do amante que planeja ganhar dinheiro plantando cacau. O dia começa com o encontro de dois corpos na praia, vítimas de um crime passional. O fazendeiro coronel Jesuíno Mendonça matou a tiros sua esposa e o cirurgião- -dentista, moço elegante recém-chegado a Ilhéus e pelo visto afeito a conquistas perigosas. Nacib contrata Gabriela, embora meio desconfiado dos reais dotes da moça, leva a retirante para o seu bar e fica surpreendido com os predicados de Gabriela, que vão muito além dos segredos da boa cozinha. Sensual e inocente, sábia e pueril, morena com cheiro de cravo e cor de canela, a nova cozinheira conquista não apenas o coração de Nacib, mas também da maior parte dos ilheenses e desafia os costumes de sua época. Durante o excelente jantar servido por Nacib e Gabrie- la, manifestam-se e se acirram as diferenças políticas e, na prática, declara-se guerra aberta pela conquista do poder na cidade. A luta se fará entre Mundinho Falcão e Ramiro Bastos que mantém a hegemonia política na região há anos, sustentado pelo dinheiro e pela influência dos coronéis do cacau. Ao voltar para casa após o jantar, com um presente para a nova cozinheira por quem se encantava cada dia mais, Nacib tem com ela a primeira noite de amor e luxúria. Segunda parte Josué era admirador de Malvina, filha de coronel e mulher liberal, de espírito independente, que não se sujeita às tradições patriarcais da família. Contrariando as expectativas familiares, Malvina se apaixona por Rômulo, o engenheiro chamado por Mundinho Falcão para estudar o caso da barra cuja pouca profundidade impedia os navios de grande calado de atracarem no porto de Ilhéus. Josué, desiludido de Malvina, interessa- 6 Extensivo Terceirão -se por Glória, amante “teúda e manteúda” de um velho coronel, e passa a relacionar-se secretamente com ela. Rômulo foge após um escândalo provocado pelo pai de Malvina, tão machista quanto o resto da sociedade ilheense, Malvina faz planos de se libertar. A disputa política se acirra e o coronel Bastos usa de todos os meios ilícitos e violentos a ponto de ordenar a queima de toda uma tiragem do jornal de Mundinho. Mundinho ganhara terreno com a chegada do enge- nheiro, mas perde parte do prestígio quando esse foge covardemente, e volta a ganhar com a promessa da chegada de dragas a Ilhéus. Nacib envolve-se loucamente com sua sensual empre- gada. Mas a deliciosa e acessível Gabriela, com seu perfume de cravo e sua cor de canela, é assunto e objeto de desejo de praticamente todos os homens de Ilhéus. Até roças de cacau foram oferecidas a ela por ricos pretendentes. O turco, atacado pelos ciúmes, percebe que, na verdade, está apaixonado pelacabocla e acaba propondo-lhe casamen- to. Foi durante a festa de casamento de Nacib e Gabriela, que chegaram as dragas ao porto de Ilhéus. Josué e Glória oficializam a relação e Glória é expulsa de casa. Ramiro Bastos perde o apoio de Itabuna e morre. Seus aliados reconhecem que tinham lealdade à pessoa do coronel, não a suas ideias. A guerra política acaba com a vitória de Mundinho e seus candidatos. Gabriela, para desespero de Nacib, não se adapta à vida de “senhora Saad” e o casamento é anulado porque o marido a flagrou na cama com Tonico Bastos e Gabriela sai de casa. As obras na barra se completam com sucesso e Nacib e Mundinho abrem um restaurante juntos. O cozinheiro chamado pelos dois é... convidado a se retirar da cidade por admiradores de Gabriela, que acaba sendo recon- tratada. Nacib e ela reiniciam o relacionamento, ardente como no início, antes de o casamento estragar tudo. O final será a condenação do coronel Jesuíno pelo assassinato da esposa e do amante. Graciliano Ramos (1892-1953) Este alagoano é considerado por muitos como o maior escritor brasileiro, depois de Machado de Assis. Além de grande escritor, Graciliano foi jornalista, prefeito, diretor da Imprensa e da Instrução estaduais, membro do Partido Comunista. De março de 36 a janeiro de 37, esteve detido em vários presídios, acusado de subversivo. Revoltado com as humilhações e privações que sofreu, escreveu longo depoimento, Memórias do Cárcere, denunciando as barbáries e injustiças da polícia do Estado Novo. Estilo O estilo de Graciliano Ramos mostra a influência que recebeu de seus autores prediletos, Machado de Assis e Eça de Queirós: Linguagem despojada e elegante, que mistura a linguagem acadêmica do narrador com elementos da fala regional, mais coloquial. Visão objetiva da realidade que leva ao extremo as tensões entre o indivíduo consigo mesmo e com o meio. Análise psicológica dos dramas das personagens, provocados pelas situações traumáticas que vivem. Personagens-tipo que representam não indivíduos, mas classes e grupos sociais. Poucos personagens calados, revoltados, impoten- tes contra a exploração, a violência e a indiferença, o que revela o isolamento, a solidão e desamparo em que se encontram. Obras • Caetés; São Bernardo; Angústia; Vidas secas; Infância; Memórias do cárcere. S. Bernardo Publicado em 1934, S. Bernardo é o relato, em primeira pessoa, da ascensão social do personagem narrador, Paulo Honório. Movido pela ambição de se tor- nar um grande fazendeiro, levado pela ânsia de poder, pela obsessão da posse e pelo excessivo autoritarismo, acaba por afastar-se do convívio dos amigos e do amor da própria mulher. Sua esposa, a professora Madalena, ao contrário do marido capitalista, tem inclinações socialistas e senti- mentos filantrópicos. A mulher opõe-se, assim, à explo- ração a que Paulo Honório submete os trabalhadores. Numa reação provocada pela ignorância e pelo radicalismo, o fazendeiro passa a desconfiar dos gestos e das atitudes de pessoa letrada que sua mulher toma e começa a tratá-la com ofensas, grosserias e humilhações derivadas de seu ciúme doentio. Utilizando a única forma de negar e condenar radi- calmente as injustiças e violências praticadas contra ela pelo marido, a mulher se mata. O suicídio de Madalena, sua esposa, leva Paulo Ho- nório a uma retrospectiva de todos os atos de sua vida, na tentativa de entender a causa do desmoronamento de seu mundo. O livro que a personagem resolve escrever é a expres- são do desabafo e de um certo exame de consciência que tentam explicar seu jeito de ser e seu fim solitário, amargurado e decadente, como ele próprio confessa. Aula 09 7Português 3D – Estraguei a minha vida, estraguei-a estupi- damente. A agitação diminui. – Estraguei a minha vida estupidamente. Personagens Paulo Honório é o personagem-narrador. Toda a estrutura do enredo se ordena em torno dele. Representa um duplo papel: o fazendeiro ambicioso, e o escritor e narrador da história. Através do relato, acompanhamos Paulo Honório se construindo: de menino pobre, sem pai nem mãe, passa pela juventude sem rumo, descobre as asperezas de vida e desenvolve uma forte ambição. Ao apropriar-se da fazen- da São Bernardo, dá o passo definitivo para a estabilidade e o reconhecimento social. Madalena é a coprotagonista do romance. A partir do capítulo 12, quando efetivamente passa a participar das ações, todos os fatos narrados por Paulo Honório estão relacionados a ela, a mulher que, mesmo amando intimamente, ele pretende possuir como se fosse mais um objeto de troca. As ideias que a professorinha alimenta – sua visão humanista e solidária, o desejo de participação igualitária dentro do casamento e nos negócios, a delicadeza no trato e a formação intelectual letrada – vão motivar o choque entre os dois. Luís Padilha, herdeiro legítimo de São Bernardo, formou-se doutor, mas não revelou competência na administração da herança e acabou por levar a fazenda à falência. Preferia dedicar-se ao jogo, à bebida e às mulhe- res. É visível a fraqueza moral dele em contraponto com a agilidade e a competência de Paulo Honório. Seu Ribeiro é o guarda-livros, que fora no passado um rico proprietário rural. Um patriarca amado e respeitado por todos e que a todos atendia. Entretanto, ele não soube acompanhar as mudanças trazidas pelos tempos e acabou perdendo tudo. Casimiro Lopes é a figura silenciosa e soturna do capanga fiel que acompanha Paulo Honório como uma sombra, permitindo dizer que funciona como a projeção do lado mais primitivo e brutal deste. Entretanto, ele é o único que dá atenção ao filho de Paulo Honório e Madalena. Dona Glória é a tia de Madalena e única pessoa da fa- mília da moça, sobre a qual recai grande parte da irritação de Paulo Honório. Madalena a defende, narrando a vida difícil de ambas, quando D. Glória dedicava-se a várias pequenas atividades para manter os estudos da sobrinha. Enredo Quando decide a contar a sua história, Paulo Honório já está viúvo e sozinho, com cinquenta anos, grisalho e pe- sando 90 quilos. Não sabia muito de seus pais nem de sua Infância. Lembrava-se apenas de uma Margarida de quem vendia os doces, e a quem, agora, ele sustentava. Até os 18 anos trabalhou na enxada, na fazenda São Bernardo. Depois de um tempo, trabalhando como vendedor, viajando, resolveu morar em Viçosa, sua terra natal, Alagoas, já tencionando apropriar-se de São Bernardo. Quando o velho Padilha (dono das terras) morreu, Paulo criou laços de amizade com o filho daquele, Luís: devasso, esbanjador e viciado em jogo. Paulo acabou por tomar-lhe São Bernardo com escritura e tudo o mais. Paulo teve que trabalhar muito para reconstruir a fazenda. Recuperada a propriedade, avançou além dos limites do vizinho, elimi- nou os inimigos e se tornou um poderoso coronel. Alguns o criticavam, alegando que desejava possuir o mundo todo. Paulo Honório mandou construir uma estrada, uma escola e uma Igreja. Recebeu a visita até do Governador. Queria casar-se, desejava um herdeiro para a sua fazen- da. Conheceu uma loirinha que o deixou impressionado, cuja tia encontrou mais tarde no retorno de uma viagem. Passou a frequentar a casa delas até que, como se estivesse fechando uma transação comercial, propôs casamento a Madalena que aceitou, pensando em ter segurança para si e para a tia. Madalena teve um menino. Completaram-se dois anos de casados. Paulo, então, começou a sentir ciúmes da esposa, desconfiava de todos, achava que o filho nada tinha de parecido com ele. Ele só queria saber se a esposa lhe era fiel. A situação agravou-se ao extremo. Paulo Honório estava quase louco. À noite, ouvia passos e assobios que acreditava serem sinais. Não dormia. Madalena, nas con- versas, mantinha-se serena. Só dizia que, caso morresse de repente, queria que dessem seus vestidos à família do Mestre Caetano e à Rosa; e os seus livros ao Seu Ribeiro, Padilha e Gondim.Até que um dia se suicidou. Enterraram Madalena. Paulo mudou de quarto. D. Gló- ria e Seu Ribeiro foram-se. Estourou a Revolução. Padilha e Padre Silvestre incorporaram-se às tropas revolucionárias. O outro ano foi terrível. Tudo andava mal, mas Paulo parecia não se incomodar. Era um homem só. Viúvo há dois anos. Um homem acabado. Sem amor, sem dinheiro, sem nada. Angústia Luís da Silva é o narrador e também o protagonista deste romance confessional. Vindo do interior, torna-se um intelectual e sonha tornar-se um vencedor na vida. Maceió apenas lhe dá um mísero emprego público e uma casa velha num bairro pobre. Sua vizinhança é composta de crianças esqueléticas, de mocinhas prematuramente prostituídas, de velhos doentes e de pobreza total, e o funcionário público e escritor frustrado, desesperado, 8 Extensivo Terceirão vive num clima de pesadelo, impossibilitado de conviver com ruídos que lhe são familiares, provocados por ani- mais (ratos, galos, gatos), objetos (relógios, armadores de rede), pessoas tossindo. Vitória, sua empregada velha e surda, faz-lhe compa- nhia e dá uma relativa sensação de lar à casa onde mora. Aos quarenta e tantos anos, Luís é uma pessoa frustrada, consciente de que, apesar de suas aptidões, será sempre um relegado a segundo plano, um subalterno de pessoas que, apesar de incompetentes, galgarão os cargos mais importantes, por conta de favorecimentos espúrios. Através do fluxo de associações mentais, em ritmo alu- cinado, como um solilóquio doido, ele narra o percurso de uma obsessão: o crime, “ideia parafuso” em torno da qual gravita uma consciência esfacelada, centrada em uma predisposição depressiva e mórbida. Luís da Silva, Marina e Julião Tavares formam o “triângulo amoroso” do qual decorre o crime passional. Marina, com quem pretendia se casar e com quem dissipara suas economias, é sedu- zida por Julião Tavares, rico, falante, sedutor. Alimentado por um ódio avassalador, consagra sua vida a um único objetivo: assassinar o rival. Matar Julião Tavares significa vingar os humildes, marginalizados e desvalidos. Um mês após o crime, Luís da Silva começa a escrever Angústia. O crime, porém, não será a solução para sua angústia, muito pelo contrário, mas, pelo menos, desencadeará uma revolução em seu íntimo, que o sacudirá e o obrigará a se manifestar neste longo monólogo que é Angústia. Vidas secas O narrador focaliza os modos de ser, os dramas, o embrutecimento, a revolta surda e impotente dos perso- nagens. Os poucos personagens se isolam em seu mundo interior, quase não dialogam e os monólogos interiores, como ruminações, são a expressão maior do pouco de identidade humana que resta. Fabiano, Sinha Vitória, os meninos e até a cachorra Baleia vivem seus sonhos individualmente e se comunicam praticamente só com monossílabos. As paisagens são secas, as palavras são secas, as perso- nagens são secas, as vidas são secas. Enredo A sequência descontínua das cenas possibilita a leitura aleatória dos capítulos. 1. Mudança A família de Fabiano atravessa a caatinga. Na con- dição de flagelados retirantes, eles dormem nos leitos secos dos rios, permanentemente atormentados pelo diabólico trinômio fome – sede – cansaço. Homens e animais igualam-se na condição de retirantes e a expres- são “seis viventes” coloca-os num mesmo plano. 2. Fabiano A família se aloja numa fazenda abandonada, alimentando-se de raízes e outros frutos da terra. Após uma trovoada, aparece o dono da fazenda e expulsa os invasores. Fabiano finge-se de desentendido e se oferece para trabalhar como capataz e vaqueiro. O fazendeiro aceita a oferta e lhe entrega as peças de ferro para marcar o gado. Progressivamente, Fabiano conscientiza-se de sua inferior condição: a enumeração dos caracteres físicos enfatiza sua irrelevância como indivíduo; a imagem degradante que faz de si se completa ao se considerar “uma coisa da fazenda, um traste”, pois, apesar de bran- co como os patrões, falta-lhe o essencial, a propriedade. 3. Cadeia Aproveitando a estabilidade temporária, Fabiano vai à feira da cidade fazer compras. No botequim onde vai tomar uma cachaça, é convidado por um soldado ama- relo para jogar cartas. Ele inicialmente rejeita o convite, mas acaba jogando, perde dinheiro e, acabrunhado, retira-se do jogo sem se despedir do parceiro. Dizendo-se desrespeitado, o soldado pisa no pé de Fabiano, que retruca xingando-lhe a mãe. Na cadeia, Fabiano é surrado, maltratado. Fabiano, sem entender nada, passa a noite preso, preocupado com a mulher e os filhos que estão esperando por ele no escuro, sem querosene para a lamparina. 4. Sinha Vitória Sinha Vitória se revolta com a rotina dos afazeres domésticos. Indignada, enerva-se com Baleia e com os filhos. A certeza de ter que continuar dormindo numa cama de varas e a lembrança do papagaio que fora obrigada a sacrificar intensificam a sua amargura. Numa discussão com Fabiano, lembra o dinheiro perdido no jogo e na bebida. Fabiano retruca, censu- rando a esposa por ter comprado “sapatos de verniz (...) caros e inúteis”. Sinha Vitória sonha possuir uma cama confortável e pensa nas diversas maneiras de obtê-la: venderia as galinhas e a porca, deixaria de comprar querosene, ... enfim, alimenta a esperança de, algum dia, conseguir o que deseja, e isso quase a deixa feliz. 5. O menino mais novo O menino mais novo procura em vão aproximar-se dos parentes. Fixa-se no pai e imagina, um dia, fazer as mesmas coisas que este fazia, para demonstrar coragem ao irmão mais velho e à Baleia. Precisa fazer uma proeza, Aula 09 9Português 3D algo que os deixe maravilhados: tenta montar e cavalgar num bode, mas cai numa ribanceira. 6. O menino mais velho Ao ouvir sinhá Terta pronunciar a palavra inferno, o menino mais velho, intrigado, pede à mãe que lhe explique o significado da palavra. Depois de dizer que era um lugar cheio de fogueiras e espetos quentes, sinhá Vitória impacienta-se com a nova pergunta do filho: “A senhora viu?” Revoltada com a própria incapacidade de lhe dar uma explicação satisfatória, aplica no filho mais velho um cascudo e o expulsa da cozinha. Humilhado, vai se esconder na caatinga, perto da lagoa vazia. 7. Inverno Quando chega a estação das chuvas, a família se re- úne ao redor do fogão de lenha. Sonolentos, os meninos ouvem os pais conversarem animadamente e desfiarem os seus sonhos de felicidade. Com a caatinga verde, gado para cuidar e feijão com rapadura para comer, afasta-se o perigo da seca. 8. Festa No Natal, a família vai para a festa na cidade. Os me- ninos estreiam calças e paletós. Sinhá Vitória sofre nos sa- patos altos; Fabiano também sofre nas botas de borracha e elástico. As crianças ficam com medo ao verem tantas pessoas reunidas, tantas coisas sem nome, preocupadas com Baleia que havia desaparecido. Sinhá Vitória fica de longe apreciando a beleza da festa, as pessoas alegres e coloridas, tira o cachimbo, encosta-se ao marido que ronca e começa a fumar. Baleia, junto de novo à família, abana o rabo, desejosa de ir embora, como as crianças. 9. Baleia Baleia andava com uma doença, talvez hidrofobia, que a deixara magra, sem pelos, sempre rodeada de moscas. Fabiano então decidiu matá-la: os meninos não podiam pegar a doença. Sinhá Vitória trancou-se no quarto com os meninos que gritavam e choravam. Fabiano atirou e acertou a pata traseira da cachorra, que não sabia o que estava acontecendo. Ela amava Fabiano. Deixou de sentir a pata traseira. Aos poucos o sol desaparecia. Precisava vigiar as cabras. Um tremor começou a percorrer-lhe o corpo. Cansada, Baleia se encosta numa enorme pedra e dorme, para acordar num mundo cheio de preás gordos, crianças roliças, uma Sinhá Vitória quentinha e um Fabiano enorme. 10. Contas Fabiano vai acertar as contas com o dono da fazenda, mas não entende os cálculos dele. O resultado sempre difere do de Sinhá Vitória. Fabiano não entende nada de juros, de imposto,e de outras contas. Só entendia que trabalhava o mês inteiro e na hora de receber apenas sobravam alguns míseros trocados. Mas precisava do emprego, por isso aceitava tudo. Fica evidente a dificuldade de comunicação de Fabia- no, demonstrando dificuldade em organizar o raciocínio. 11. O soldado amarelo Fabiano encontra-se com o soldado amarelo, que está perdido na caatinga, com medo e pedindo ajuda. O reencontro se dá um ano após o vaqueiro ter sido preso. Fabiano luta entre o desejo de matá-lo por ser um sujeito insignificante, ruim e inimigo, e o desejo de não matá-lo por ser um homem. Por fim, vence o respeito à autoridade: “Governo é governo”. 12. O mundo coberto de penas As aves começam a chegar em bandos, param na beirada do rio, anunciando um novo ciclo de seca. De um lado, acentuam os efeitos da seca, porque bebem a pouca água existente; de outro, servem de alimento e, temporariamente, impedem que a família morra de fome. Os animais começam a morrer. 13. Fuga Com a chegada da seca, a princípio Fabiano pensa em resistir e permanecer na fazenda. No entanto, a morte de um número cada vez maior de reses faz com que ele se de- cida a tentar a sobrevivência noutro lugar. Desconsolados, o casal e os filhos resolvem partir de madrugada, evitando outro constrangedor encontro com o patrão, pois não têm como saldar a dívida acumulada. Despojados de tudo, iniciam uma nova retirada, levando às costas os poucos bens. Fabiano sonha, o mundo era grande, chegariam a outra terra sem rios secos, sem urubus, sem pessoas mor- rendo secas. Os filhos estudariam. Não seriam vaqueiros. O sertão mandaria para a cidade homens fortes, brutos como Fabiano, Sinhá Vitória e os dois meninos. Érico Veríssimo (1900-1975) Gaúcho de Cruz Alta, com o apoio de Augusto Meyer, ingressou no jornalismo e na literatura tendo conseguido o primeiro grande sucesso em 1933 com a publicação de Clarissa, a que se seguiram os livros Caminhos Cruzados, Olhai os Lírios do Campo e outros. São histórias líricas, melodramáticas, sem grandes conflitos nem análises profundas da psicologia e do comportamento humano. O Tempo e o Vento é sua obra maior que apresenta um grandioso painel histórico, social, heroico e humano da história gaúcha. A visão histórica e crítica do autor será complementa- da principalmente com Incidente em Antares. 10 Extensivo Terceirão O tempo e o vento O continente A história principia pelo nascimento do estado do Rio Grande do Sul através das famílias Amaral, Cambará, Caré e Terra. Terra e Cambará são os nomes mais marcantes. De início tem-se o retrato da conquista e a ocupação do território por aventureiros sorocabanos e lagunenses que, dirigindo-se para o sudoeste em busca de boas planícies para pastorear e plantar, ocupam a região. Os personagens que mais se destacam são Ana Terra e Capitão Rodrigo. Ana Terra é a jovem filha de Maneco Terra que trata dos ferimentos de Pedro Missioneiro, por ele se apaixona e dele engravida, passando assim a ser desprezada pelo pai e os irmãos, que matam Pedro. Num ataque de ban- doleiros, o pai, o irmão e dois escravos são mortos, ela é estuprada, mas se salva com a cunhada e as crianças. Parte e vai ajudar na fundação de Santa Fé. O capitão Rodrigo é a imagem do gaúcho forte com as típicas características de homem destemido e bravo. A valentia deste capitão adentrando um vilarejo bem pacato mostra que ele é do tipo que pode incomodar, por causa do gênio forte. A união de Rodrigo Cambará com Bibiana Terra repre- senta a união de duas das famílias que serão os principais responsáveis pela formação do Rio Grande do Sul. No en- tanto Rodrigo não é o que se chamaria de bom moço, pois mesmo já estando casado continua gostando do carteado, da bebedeira e até de outras mulheres. Claro que o antagonista dele é Bento Amaral que perdeu a pretendente num duelo. Eles travaram uma luta atrás do muro do cemitério. Foram lutar por causa de um desentendimento ocorrido numa festa de casamento. Mais tarde, casado com Bibiana e com filhos, Rodrigo Cam- bará morre com um tiro no peito durante um combate da Guerra dos Farrapos. O retrato Neste segundo romance da saga é retratada a de- cadência social em Santa Fé, na virada do século XX, por motivações e joguetes políticos. Aos poucos Santa Fé foi perdendo o caráter rural. Rodrigo Terra Cambará (bisneto do capitão que já conhecemos) resolveu voltar a Santa Fé, sua terra natal, depois de um tempo estudando medicina em Porto Alegre. Homem culto, médico de costumes requintados que se transforma no típico gaúcho machão, violento e de incontroláveis desejos sexuais. O arquipélago No último romance da trilogia o leitor assiste à desintegração das famílias originárias e das pessoas. Aos poucos a decadência dos estancieiros deixa lugar para os imigrantes. Rodrigo Cambará retorna à cidade de Santa Fé após longos anos passados no Rio de Janeiro atuando na vida pública e política junto do presidente Getúlio Vargas, seu amigo e aliado. A família Terra Cambará que até então tinha somente poder local adquire influência em nível nacional. Com o fim do Estado Novo, Rodrigo, doente e derrotado politi- camente, luta para não morrer em casa, considerando que “Cambará macho não morre na cama”. Incidente em Antares A história passada O antigo Povinho da Caveira tivera seu nome trocado para Antares, nome de uma estrela maior que o sol, da constelação do Escorpião, por um viajante pesquisador. A região colonizada inicialmente pelos Vacarianos, abrigou tempos depois os Campolargos que se insta- laram também como criadores de gado e disputaram durante décadas a hegemonia política, econômica e social de Antares. Dessa disputa originaram-se brigas, guerras, assassinatos. Os Vacarianos, que mais tarde viriam a fundar o Par- tido Liberal, eram monarquistas radicais, antiabolicio- nistas que, na Revolução Federalista, tomaram o partido dos revolucionários. Na Guerra dos Farrapos ficaram do lado dos maragatos. No futebol eram todos torcedores do Fronteira F.C. Os Campolargos fundaram o Partido Conservador, eram republicanos e abolicionistas, lutaram contra os revolucionários. Foram aliados dos pica-paus. Em 1915, fundariam o clube de futebol Esportivo Missioneiro. Corrupção política, coação à justiça, despotismo e depravação moral foram acontecimentos frequentes em Antares, quer estivessem no poder os Vacarianos ou os Campolargos. Somente uma intervenção direta de Getúlio Vargas, que “intimou” os representantes das duas famílias para uma reunião em sua fazenda em São Borja, conseguiu estabelecer uma convivência pacífica daqueles inimigos que se dispunham a ser apenas adversários. Desse modo, misturando personagens fictícios a vultos da história regional e nacional, os acontecimentos em Antares se confundem com os da História do Rio Grande do Sul e do Brasil: revoluções Federalista, Liberal e Constitucionalista; Coluna Prestes, Estado Novo, suicídio de Getúlio, construção de Brasília, governo e re- núncia de Jânio Quadros e Revolução de 64, com DOPS, guerrilha, manifestações públicas, etc... Aula 09 11Português 3D A Greve Em 13 de dezembro de 1963, Antares seria palco de uma greve geral deflagrada pelos trabalhadores, que exigiam melhorias salariais. Preocupado com a notícia, o coronel Tibério Vacariano, chefe político da cidade, resolveu comunicar a gravidade da situação local diretamente ao Governador do Estado, que pouca importância deu ao fato. Houve um alarme geral. A cidade estava em pânico, pois ficaria sem luz, sem água, sem nenhum serviço público. D. Quitéria Campolargo, adversária política, mas comadre de Tibério Vacariano, ao receber a notícia do próximo tumulto, teve um ataque cardíaco e morreu. O Cel. Vacariano estava no velório de D. Quita, quando lhe comunicaram que o Dr. Cícero Branco que havia saído há pouco, tinha também morrido, vítima de um ataque cardíaco fulminante. Nesse dia morreram mais cinco pessoas.Conforme os caixões iam sendo levados ao cemitério, iam sendo deixados ao pé do muro, sem sepultura, porque também os coveiros haviam aderido à greve. Depois de muitas discussões ameaças, chiliques e esbravejamentos, o jeito foi deixar lá os caixões para serem enterrados quan- do terminasse a greve. A multidão dispersou e um grupo de grevistas permaneceu montando guarda. O incidente Quando anoiteceu, um ladrão que ficara escondido dentro do cemitério, pois sabia que D. Quitéria seria enter- rada com todas as joias da família, mais que depressa abriu o caixão da senhora e pôs-se a examinar-lhe os dedos, braços e pescoço à procura das joias e nada encontrou. Entretanto o pavor dominou-o quando viu a defunta abrir os olhos e, sentando-se, começar a rezar. O gatuno fugiu aos berros em desabalada carreira. Ainda rezando, a defunta sai do caixão e, espantada e curiosa, abre o caixão ao lado e quem se levanta é o Dr. Cícero Branco. Surpresos e desnorteados, trocam ideias e resolvem abrir os outros caixões donde vão saindo José Ruiz, vulgo Barcelona, sapateiro anarquista que sabia de tudo sobre a vida alheia; Prof. Menandro de Olinda, pianis- ta que se suicidara cortando os pulsos, para castigar suas mãos, instrumentos de seus pecados solitários e causa de sua vergonha pelo fracasso como pianista; Erotildes, prostituta que fora expulsa de casa pela mãe, tornara-se “protegida” do coronel e que, com o avanço da idade, fora decaindo até a mais negra miséria e morrera tísica por falta de atendimento, abandonada e esquecida num leito de hospital; João Paz, jovem idealista morto na cadeia devido às terríveis torturas que sofreu, embora nada tivesse a ver com as acusações de guerrilheiro e sabotador; por último, Pudim de Cachaça, velho beberrão, seresteiro irreverente e desbocado, morto envenenado pela mulher que cansara de levar tanta surra dele. Depois de debaterem, de se acusarem mutuamente e colocar suas diferenças ideológicas, políticas e morais em pratos limpos, os sete defuntos resolveram de co- mum acordo esperar até o amanhecer para em seguida descerem até a cidade, reclamar sobre seu estado e exigir sepultamento imediato. À medida que os mortos desciam pela Voluntários da Pátria, os corpos iam-se decompondo. O terror se espalhou pelas ruas, muitos tinham desmaios, ataques de histeria ou morriam de infarto. Os defuntos combinaram que cada qual iria resolver suas pendengas particulares e ao meio- -dia encontrar-se-iam no coreto da praça central da cidade. Muitas pessoas, os mais religiosos, juntamente com o Padre Gerôncio, representante da ala tradicional da Igreja, aliada dos poderosos, acreditando ser o dia do Juízo final, acorreram à igreja para confessar-se e ficar em paz com a consciência. As autoridades reuniram-se na prefeitura procurando uma solução para o problema. Ao meio-dia em ponto, sob um sol escaldante, lá estavam os defuntos no coreto, esperando a população e as autoridades que foram chegando e tomando todos os espaços. Todos os recantos, muros, galhos e árvores, ficaram apinhados de gente, muitos trouxeram cadeiras, sombrinhas, lenços perfumados por causa do cheiro. Ia começar a discussão. O Dr. Cícero Branco, advogado, antigo aliado dos poderosos na montagem e execução das falcatruas, sócio participante do produto da roubalheira oficial generali- zada, tomou a palavra e discursou em nome dos demais defuntos. O orador foi desfiando suas denúncias e acusações. Vá- rias personalidades, homens e mulheres, foram desmasca- rados perante o povo que os vaiava e ridicularizava. Houve desmaios e mal-estares. Segredos de alcova, adultérios, atos de pedofilia, roubos e falcatruas foram desfilando perante os culpados e a multidão. Vergonha, humilhação, acusações mútuas de casais fizeram com que pessoas tidas como “santas” tivessem seu dia de inferno. Veio à tona a verdade sobre a violência da polícia e a impunidade de malfeitores e assassinos. O mau-cheiro dos mortos alastrava-se, uma multidão de ratos invadiu a cidade, o populacho se dispersou e trancou-se em casa. Os urubus baixaram até o coreto. Um grupo de corajosos, com paus e pedras espantou os uru- bus e os mortos que voltaram para o cemitério. O enterro foi realizado em seguida. A chegada de repórteres de rádios, jornais e televisão fez com que a maioria das pessoas, num pacto tácito de silêncio, negasse tudo o que havia acontecido. Alguns jovens, algumas crianças, alguns bêbados e outras pessoas humildes revelaram a verdade para a imprensa, mas... quem acredita neles? 12 Extensivo Terceirão Testes Assimilação 09.01. Leia o texto. “As situações narrativas, embora enfocassem uma determinada região, poderiam ser exten- sivas a todo país. A visão crítica que aparece nessas produções tem em vista o caráter social, mostrando situações típicas do país. Nesse par- ticular, tais produções inserem-se na literatu- ra social neorrealista, que se afirma no mundo ocidental a partir da “quebra” da Bolsa de Nova Iorque.” As palavras acima referem-se: a) a obras regionalistas românticas. b) ao regionalismo da segunda fase do Modernismo. c) à poesia social de Castro Alves. d) à literatura pré-modernista. e) ao regionalismo de Guimarães Rosa. 09.02. (ITA – SP) – Pode-se afirmar que Paulo Honório, per- sonagem de São Bernardo, de Graciliano Ramos, é descrito como um homem: a) solidário com seus empregados da fazenda, vítimas das condições naturais do lugar; b) benevolente com as pessoas do seu convívio diário, apesar do seu comportamento autoritário; c) intolerante com as pessoas que vivem próximas a ele; d) indulgente com os empregados da fazenda, já que vê neles a miséria de sua própria existência; e) condolente com seus empregados, visto que conhece de perto suas dificuldades. 09.03. Jorge Amado, escritor baiano pródigo em narrativas interessantes, ofereceu-nos Terras do Sem-fim. A respeito dessa obra, pode-se afirmar que a) apresenta uma visão mais ampla dos motivos humanos e a veia poética traduz uma descrição mais convincente da realidade abordada. b) é um panorama humorístico de uma cidade, com um tom calmo, uma composição fabuladora segura. c) é um romance simples, narrando a vida de um perso- nagem, órfão do morro, depois “cria” de casa abastada e, finalmente, operário. d) J. Amado aborda a problemática dos retirantes do sertão, dando à obra um aspecto de propaganda trivial, acentua- da, depois em outras obras. e) é uma obra descuidada, na composição e no acaba- mento, o que compromete a capacidade fabuladora de J. Amado. 09.04. (PUCPR) – “Criaturas como o seleiro José Amaro, o Capitão Vitori- no e o Coronel Lula de Holanda são expressões madu- ras dos conflitos humanos de um Nordeste decadente.” (Alfredo Bosi) O trecho acima refere-se a um romance considerado verda- deira obra-prima, fecho e superação do Ciclo da cana-de- -açúcar no regionalismo dos anos 30. Trata-se de a) Angústia, de Graciliano Ramos. b) Fogo Morto, de José Lins do Rego. c) Cangaceiros, de José Lins do Rego. d) São Bernardo, de Graciliano Ramos. e) Jubiabá, de Jorge Amado. Aperfeiçoamento 09.05. (AFA – SP) – A obra Angústia, de Graciliano Ramos, segundo as tendências do romance moderno, de 30 para cá, que consideram o grau de tensão entre o “herói” e o “mundo”, pode ser caracterizada como romance de tensão a) crítica. b) mínima. c) interiorizada. d) transfigurada. 09.06. (UFSC) – A respeito de José Lins do Rego e de sua obra literária, é correto afirmar. 01) Entre outros romances Fogo Morto e Usina fazem parte do chamado “Ciclo da cana-de-açúcar”. 02) Menino de Engenho, sua obra de estreia, é de inspira- ção autobiográfica. 04) Seu estilo se aproxima do Barroco pelo emprego exa- gerado de expressões eruditas e/ou antitéticas, fre- quentes inversões e anacolutos. 08) É considerado o precursor do chamado Romance do Nordeste, com A Bagaceira, obra publicada em 1928. 16) Algumas de suas obras retratam a decadência do mun- do dos engenhos.09.07. (ITA – SP) – O romance São Bernardo, de Graciliano Ramos, publicado em 1934, é narrado em primeira pessoa pelo narrador-personagem Paulo Honório, que decide escrever o livro em determinada altura da sua vida. O principal motivo que levou Paulo Honório a escrever a sua história foi a) o desejo de mostrar como ele conseguiu, com enorme esforço, tornar-se um proprietário rural bem sucedido, apesar de sua origem extremamente humilde. b) o desejo de mostrar como se formavam os conflitos políticos e sociais no interior do Nordeste brasileiro, tema recorrente na ficção da chamada “Geração de 30”. c) a tristeza que toma conta dele depois que a fazenda São Bernardo deixa de ser produtiva, como ela tinha sido graças ao seu empenho. Aula 09 13Português 3D d) tentar compreender o que teria levado Madalena ao fim trágico da sua existência, bem como as razões de a vida conjugal deles não ter se realizado como ele gostaria. e) revelar quais foram os motivos pelos quais Madalena se matou, visto que ela se sentia culpada por ter traído o marido com Padilha, antigo proprietário da São Bernardo. 09.08. (PUC – SP) – Dos enunciados abaixo, indique aquele que não condiz com as características de Fabiano, persona- gem de Vidas Secas, obra de Graciliano Ramos. a) Era vaqueiro, via-se mais como bicho do que como ho- mem, as pernas faziam dois arcos, os braços moviam- se desengonçados. Parecia um macaco. b) Vivia longe dos homens, só se dava bem com animais, tinha um vocabulário pequeno e falava uma língua can- tada, monossilábica e gutural. c) Vermelho, queimado, tinha os olhos azuis, a barba e os cabe- los ruivos, vivia em terra alheia e cuidava de animais alheios. d) Tinha vindo ao mundo para amansar brabo, curar feridas com rezas, consertar cercas de inverno a verão, cortar mandacaru e ensebar látegos. e) Era bruto, nunca havia aprendido, não sabia explicar-se. Violento, não respeitava o governo e odiava Seu Tomás da bolandeira, homem que falava bem, lia livros e sabia onde tinha as ventas. 09.09. Texto Como o vestido dificultava seus movimentos e como ela queria ser totalmente um dos Capitães de Areia, o trocou por umas calças que deram a Ba- randão numa casa da cidade alta. As calças tinham ficado enormes para o negrinho, ele então as ofe- receu a Dora. Assim mesmo estavam grandes para ela, teve que as cortar nas pernas para que dessem. Amarrou um cordão, seguindo o exemplo de to- dos, o vestido servia de blusa. Se não fosse a ca- beleira loira e os seios nascentes todos a poderiam tomar por um menino, um dos Capitães de Areia. No dia em que, vestida como garoto, ela apa- receu na frente de Pedro Bala, o menino começou a rir. Chegou a se enrolar no chão de tanto rir. Por fim conseguiu dizer: – Tu tá gozada... Ela ficou triste, Pedro Bala parou de rir. – Não tá direito que vocês me dê de comer todo dia. Agora eu tomo parte no que vocês fizer. Sobre o texto , é correto afirmar. a) Jorge Amado incorpora a seu texto dados da linguagem popular, visando à naturalidade e espontaneidade da fala. b) Numa casa da cidade alta, Barandão trocou o vestido por umas calças. c) O menino que queria se tornar um dos Capitães de Areia tinha uma cabeleira loira. d) Em “Assim mesmo estavam grandes para ela, teve que as cortar nas pernas para que dessem”, o pronome pessoal oblíquo átono “as” substitui “as pernas”. 09.10. Avalie as afirmações a respeito de O quinze, de Rachel de Queiroz. 1. O romance se dá em dois planos, um enfocando o vaqueiro Chico Bento e sua família, o outro a relação afetiva de Vicente, rude proprietário e criador de gado, e Conceição, sua prima culta e professora. 2. Como ocorre em São Bernardo ou em Fogo Morto, esses planos opostos entram em conflito, ocasionado pela distância poética da elocução centrada nos fragmentos líricos do desencanto. 3. A parte mais importante do livro apresenta a marcha trá- gica e penosa do vaqueiro Chico Bento com sua mulher e seus cinco filhos, representando os retirantes. 4. Os retirantes da seca são vistos de uma perspectiva que harmoniza o social e o psicológico sem perder o foco de entrada para alguns temas políticos da maior importância para a época, entre eles o da afirmação social da mulher (no caso, a protagonista Conceição) naquele contexto difícil e sabidamente adverso. Estão corretas, somente as afirmativas a) 1, 2 e 3. d) 1, 3 e 4. b) 2, 3 e 4. e) 1 e 2. c) 3 e 4. Aprofundamento 09.11. (UEL – PR) – Sobre a ficção produzida na década de 30 deste século, é correto afirmar que, de modo predominante a) abandonou os ideais modernistas, passando a dedicar-se à exploração psicológica das personagens e ao retrato dos ambientes intimistas. b) concentrou-se na nova realidade urbana, analisando a emer- gência de uma nova classe, representada pelos trabalhadores da indústria. c) buscou a criação de uma linguagem experimental, de aspecto abstrato, testemunhando a crise da narrativa moderna. d) voltou-se para as realidades regionais, explorando os mais problemáticos aspectos sociais e econômicos. e) consolidou os ideais modernistas, inspirando-se na arte popular, nas crenças primitivas e no folclore. 09.12. (UFPR) – Sobre o romance Terras do sem-fim, de Jorge Amado, é correto afirmar. 1. A mata Sequeiro Grande, muito adequada para o plantio, é a razão da disputa e da morte entre os coronéis da região. 2. O enredo trata principalmente do conflito de terras, mas é em torno de conflitos psicológicos que temos a construção dos personagens mais interessantes. 3. No conjunto de romances de Jorge Amado ligados ao ciclo do cacau, este é o que se sobressai pelas questões 14 Extensivo Terceirão políticas levantadas, funcionando como um verdadeiro libelo de luta social. 4. A personagem Don’Ana é a segurança da continuidade, de sangue e espírito, da família Badaró. São verdadeiras as afirmativas: a) 1, 2 e 3 apenas. b) 1, 2 e 4 apenas. c) 1 e 2 apenas. d) 2 e 4 apenas. e) 3 e 4 apenas. 09.13. (UFSC) – Texto Quando viva, Quitéria Campo Largo gostava de ficar às vezes contemplando o céu da noite – “ga- rimpando estrelas”, como ela própria costumava dizer. Era uma espécie de jogo divertido que de certo modo a aproximava mais de Deus. Mantinha longos namoros com as constelações – Órion, o Cão Maior, o Sagitário, o Triângulo Austral, o Cen- tauro e principalmente o Cruzeiro do Sul, que por misteriosas artes do coração e da memória, ela não considerava uma constelação universal, mas parte do patrimônio brasileiro. Quando lhe acontecia al- guma coisa que a entristecia, levando-a a descrer das criaturas humanas, ela procurava no céu o Escorpião e, se ele já estivesse visível, localizava a estrela Antares, pensava no seu diâmetro mais de quatrocentas vezes maior que o do Sol, comparava essas grandezas astronômicas com as mesquinha- rias de sua terra e de sua gente e acabava encon- trando no confronto um profundo consolo que a punha de novo em paz com o mundo e a vida. VERISSIMO, Erico. Incidente em Antares. Com base na leitura do texto e na obra de Erico Verissimo, é correto afirmar que: 01) o texto faz referência à estrela Antares, cujo nome coincide com o da cidade onde se passa o incidente. No entanto, no romance, o nome Antares significa “cidade das antas”. 02) o texto inicia-se com “Quando viva”, remetendo ao fato de que Dona Quitéria faz parte de um grupo de sete mortos insepultos, que enfrenta a população de Anta- res no coreto da praça. 04) a passagem “mesquinharias de sua terra e de sua gente” pode ser interpretada como uma referência às mazelas humanas, que não estão restritas a Antares, mas afetam a sociedade como um todo – temática que perpassa o romance. 08) o texto, em terceira pessoa, apresenta Dona Quitéria, a narradora central do romance, que, por meio de suas re- miniscências, mostra o modo de ser do povo de Antares. 16) o livro está estruturado em duas partes distintas: a primeira contempla o absurdona forma do realismo mágico, e a segunda narra aspectos da história do Rio Grande do Sul na forma de um realismo histórico. 32) Dona Quitéria, quando viva, “acabava encontrando no confronto um profundo consolo que a punha de novo em paz com o mundo e a vida”. Depois de morta, passa a revelar uma descrença na possibilidade de transfor- mação social. 09.14. Vidas Secas, romance publicado em 1938, pertence à segunda fase do Modernismo brasileiro, período em que as narrativas literárias passam a questionar a realidade com mais vigor, explorar a temática regionalista, tornando a literatura mais construtiva e politizada. Leia os fragmentos: Fragmento I: “O patrão atual, por exemplo, berrava sem precisão. Quase nunca vinha à fazenda, só bo- tava os pés nela para achar tudo ruim. O gado aumentava, o serviço ia bem, mas o proprietário descompunha o vaqueiro. Natural. Descompu- nha porque podia descompor, e Fabiano ouvia as descomposturas com o chapéu de couro debaixo do braço, desculpava-se e prometia emendar-se. Mentalmente jurava não emendar nada, porque estava tudo em ordem, e o amo só queria mostrar autoridade, gritar que era dono.” Fragmento II: “Como num havemo de ser gente um dia? Gente que dorme em cama de couro. Por que havemos de ser sempre desgraçado? Fugindo no mato que nem bicho. Podemo viver como sem- pre, fugindo que nem bicho”. RAMOS, Graciliano.Vidas Secas. Em relação aos excertos acima e a obra como um todo, assinale a alternativa INCORRETA. a) A miséria do retirante não é somente causada pela seca, mas pela miséria imposta pela influência social, represen- tada pela exploração dos ricos proprietários da região. b) Percebe-se que Fabiano, apesar das dificuldades linguísticas e da ausência de comunicação, sabia que estava sendo cobrado injustamente. c) Por serem tratados como bichos, maltratados pela vida, pobres e sem instrução sentem-se inseguros para se comunicarem. d) Fabiano e sua família se veem como bichos e se consideram como um deles por terem sido maltratados pela vida toda. e) Quando se depara com um uso mais “difícil” da linguagem e o poder exercido por determinadas pessoas, Fabiano é capaz de se defender. 09.15. (UFPR) – Texto “Se eu possuísse metade da instrução de Mada- lena, encoivarava isto brincando. Reconheço final- mente que aquela papelada tinha préstimo. O que é certo é que, a respeito de letras, sou versado em esta- tística, pecuária, agricultura, escrituração mercantil, Aula 09 15Português 3D técnicas, desconhecidas do público, e a ser tido por pedante. Saindo daí, a minha ignorância é completa. E não vou, está claro, aos cinquenta anos, munir-me de noções que não obtive na mocidade.” O trecho acima pertence ao capítulo 2 de São Bernardo, de Graciliano Ramos. Assinale a alternativa correta a respeito desse romance. a) A diferença de grau de instrução entre Paulo Honório e a professora Madalena não impediu que se casassem e cons- tituíssem família, mas suas diferentes formas de encarar as desigualdades sociais colaboraram para o desfecho trágico. b) Assim como fez em outros romances do período, tam- bém em São Bernardo o autor, Graciliano Ramos, relatou minuciosamente episódios de sua vida, tais como a forma como adquiriu propriedades rurais e a relação conturbada com seus pais. c) Apesar dos cuidados com o estilo, comentados no trecho transcrito, São Bernardo é um romance repleto de termos técnicos relacionados à agricultura e à pecuária, o que esta- va de acordo com a estética realista do Regionalismo de 30. d) Paulo Honório não conseguiu levar adiante seu plano de escrever um livro autobiográfico porque, em vez de tratar de assuntos que ele dominava, optou por descrever seu envolvimento amoroso com Madalena, assunto que mais o perturbava psicologicamente. e) No final do romance, Paulo Honório retoma, de outra maneira, o balanço de seus cinquenta anos: em vez de dizer que não vai aprender novas noções por se considerar velho, passa a compreender que aquela é boa hora para recomeçar a vida, com outros princípios, aprendidos no convívio com Madalena. 09.16. (UDESC) – Texto Visito com Xisto a redação e as oficinas de A Verdade. O diretor do jornal é um tipo curioso. Dá uma impressão de fluidez, é um homem que, como os líquidos, toma a forma dos vasos que os contém, isto é, da pessoa com quem fala ou a quem serve. Meia-idade, alto (em termos brasilei- ros), moreno calvo, pele oleosa, vaselina na voz, nos gestos e nas ideias. Sua alcunha na cidade é de Lucas Lesma porque, explicam, a lesma é um ani- mal capaz de arrastar-se sobre o fio duma navalha sem se cortar e sem cair para um lado nem para o outro. Conta-se que Lucas Faia tem passado a vida a rastejar incólume sobre o gume da espada afiadíssima da política e de mil outras contendas municipais. Um molusco dizem os seus inimigos. Um conciliador, corrigem os seus amigos. VERÍSSIMO, Érico. Incidente em Antares. Analise as afirmativas em relação ao excerto, assinale (V) para as sentenças verdadeiras e (F) para as falsas. ( ) Em relação à tipologia textual, no fragmento acima, há predominância de descrição, pois apresenta a ca- racterização do diretor do jornal A Verdade. ( ) Na cidade de Antares, o codinome Lesma que deram a Lucas foi o resultado de ele não ter pressa alguma, caminhar lentamente com os passos arrastados. ( ) Os adversários de Lucas Faia taxam-no de um molus- co, pois vive para si, interiorizado, rastejando; enquan- to os seus amigos, o consideram um conciliador, pois está sempre procurando ajudar de um lado ou de ou- tro, sem pensar em retribuição. ( ) A expressão como os líquidos estabelece uma forma de comparação entre homem (Lucas) e líquido, suge- rindo que o ser humano é um ser flexível. ( ) Da oração é um tipo curioso infere-se que o diretor é um grande questionador, está sempre perguntado o porquê de tudo, pois faz parte do seu ofício no jor- nalismo. Assinale a alternativa correta, de cima para baixo. a) V F F V V d) F F V V F b) F V V F V e) V F F F F c) V F F V F 09.17. (AFA – SP) – Em relação à obra Angústia, é INCOR- RETO dizer que a) o recurso do fluxo de consciência se compatibiliza com o estado de desarticulação espiritual do narrador. b) o narrador faz uma análise impotente da miséria moral de seu mundo, que só se resolve pelo crime e pela au- todestruição. c) a narrativa avança, numa atmosfera de pesadelo e mau humor, para um desenlace em que não se resolvem os conflitos do herói problemático. d) o narrador, pausada e refletidamente, registra os fatos de que participou, a despeito de ainda viver as consequências das infaustas ocorrências de seu passado recente. 09.18. O romance Vidas secas, de Graciliano Ramos, a) aborda a questão da seca de maneira objetiva, orientando- -se pelo estilo jornalístico, que prima pela neutralidade do narrador, característica comum aos autores da segunda fase modernista. b) revela o pensamento das personagens por meio do discur- so indireto livre, recurso estilístico amplamente utilizado pelo Romantismo e retomado pelos autores da segunda geração do Modernismo. c) denuncia os sistemas de opressão social mantidos por grandes latifundiários, representados, na narrativa, por personagens de má índole, cujos planos são mal compre- endidos pelo protagonista, Fabiano. d) mostra a realidade das vítimas da seca, aprofundando a análise psicológica das personagens, retratadas por meio de recursos estilísticos como o discurso indireto livre e o fluxo de consciência. e) revoluciona a narrativa convencional, utilizando-se de elementos característicos do Realismo e do Naturalismo, que, por sua vez, eram influenciados pelo determinismo. 16 Extensivo Terceirão Desafio 09.19. (UFSC) – Sobre a obra Capitães de Areia e seu autor, é correto o que se afirma em: a) O código que rege os componentes do grupo Capitães de Areia é a força física e a habilidade no uso da faca, condição de- monstrada por PedroBala na luta com o chefe Raimundo. b) Antes de Pedro Bala, o chefe dos Capitães de Areia era Raimundo, o Caboclo, mulato avermelhado e forte. c) De 1956 a 1960, no governo de Juscelino Kubitschek, Jorge Amado refugia-se na Espanha a convite do governo de Francisco Franco, período em que escreve a biografia intitulada A Vida de Luís Carlos Prestes, rebatizada mais tarde O Cavaleiro da Esperança. d) A obra Capitães de Areia “não possui nem o apelo político-ideológico de muitas obras da dita “primeira fase” de Jorge Amado (Cacau, Seara Vermelha e Jubiabá), nem o apelo popular e erótico de quase todos os romances escritos depois de Gabriela, Cravo e Canela. Quer dizer, Capitães de Areia não interessava nem ao Partido Comunista, nem ao grande público. 09.20. (UTFPR) – O diálogo a seguir é entre Paulo Honório, narrador, e Gondim, jornalista contratado inicialmente por Paulo para escrever o romance: – Vá para o inferno, Gondim. Você acanalhou o troço. Está pernóstico, está safado, está idiota. Há lá nin- guém que fale dessa forma! Azevedo Gondim apagou o sorriso, engoliu em seco, apanhou os cacos da sua pequenina vaidade e replicou amuado que um artista não pode escrever como fala. – Não pode? Perguntei com assombro. E por quê? Azevedo Gondim respondeu que não pode porque não pode. – Foi assim que sempre se fez. A literatura é a literatura, seu Paulo.A gente discute, briga, trata de negócios naturalmente, mas arranjar palavras com tinta é outra coisa. Se eu fosse escrever como falo, ninguém me lia. (Graciliano Ramos: S. Bernardo, cap.1) Com base no texto, pode-se afirmar que: a) a concepção de literatura da 1ª. fase do modernismo expressa-se na opinião de Gondim. b) as ideias de Paulo aplicam-se à obra de Graciliano, não a outros autores modernos. c) as buscas da prosa da 2ª. fase do Modernismo não aparecem no ponto de vista de Paulo. d) a divergência entre Gondim e Paulo é antes temática que estilística. e) a concepção de literatura da 1ª. e 2ª. fases do Modernismo está no parecer de Paulo. Gabarito 09.01. b 09.02. c 09.03. a 09.04. b 09.05. c 09.06. 19 (01 + 02 + 16) 09.07. d 09.08. e 09.09. a) Alternativa correta: As expressões “tu tá”, “vocês me dê de comer”,“vocês fizer” são exemplos de linguagem popular e são consideradas desvios da norma culta e da norma padrão. b) Incorreta: Quem trocou o vestido por umas calças foi a persona- gem Dora. c) Incorreta: Quem tinha a cabeleira loira era Dora. d) Incorreta: O pronome pessoal oblíquo átono “as” substitui “as calças”. 09.10. d 09.11. d 09.12. c 09.13. 06 (02 + 04) 09.14. e 09.15. a 09.16. c 09.17. d 09.18. a 09.19. a) Incorreta: O código que rege o grupo não é a força física, nem a habilidade no uso da faca, mas a igualdade de condições. Pedro Bala sofreu um corte de navalha no rosto, feito por Raimundo, e como estava desarmado recebeu o apoio do grupo. b) Alternativa correta: De fato, antes de Pedro Bala assumir a condição de chefe dos Capitães de Areia, o chefe era Raimundo, o Caboclo. c) Incorreta: Jorge Amado viaja à Argentina e ao Uruguai no perío- do de 1941-1945, quando pesquisa e publica em 1942 a biogra- fia intitulada A Vida de Luís Carlos Prestes, rebatizada mais tarde O Cavaleiro da Esperança. d) Incorreta: Capitães de Areia é uma obra de forte apelo social com um teor crítico, que dava visibilidade às contradições sociais do capitalismo, de acordo com a ideologia do partido Comunista. 09.20. e 17Português 3D Aula 10 Português 1B3D Poesia neomodernista e contemporânea Contexto A humanidade, a partir do ano de 1945, vem assistindo a uma série de acontecimentos decisivos e transformadores. A explosão da bomba atômica põe um ponto final na segunda guerra mundial e, ao mesmo tempo, dá início a uma era de pavor para o mundo inteiro, que se sente inseguro diante de arma tão poderosa. A criação da ONU e a assinatura da Declaração dos Direitos Humanos, procuram alimentar um mínimo de esperan- ça de que não haverá outra guerra. Mesmo assim, os países mais poderosos do mundo, Estados Unidos e Rússia, dividem o mundo em dois blocos de influên- cia política, ideológica e econômica que alimentarão o medo das nações com a guerra fria, a corrida espacial e armamentista. A paz mundial vem sendo constantemente ameaçada por lutas armadas, nos mais diferentes países. No Brasil, a deposição de Getúlio Vargas determina o fim do Estado Novo, após um breve período de redemocratização (19 anos), inicia-se outro período (21 anos) de governo militar e de radicalização entre esquerda e direita. I. Vanguardas Nas últimas décadas, a poesia apresenta várias tendências, além da permanência das outras linhas poéticas já estabelecidas. A geração 45 Alguns autores passaram a se inspirar na poesia formalista, observando as técnicas tradicionais de versificação (verso, estrofe, rima, ritmo, temática universalista), sem compromisso, portanto, com os princípios da Semana de Arte Moderna. Os nomes de destaque foram João Cabral de Mello Neto, Geir Campos, Ledo Ivo, Ferreira Gullar, entre outros, que participaram temporariamente do grupo e depois seguiram seus próprios caminhos. Concretismo Décio Pignatari, Augusto de Campos e Haroldo de Campos, em 1956 lançam a poesia concreta, que tem como característica uma estrutura VERBIVOCOVISUAL. O verso e a sintaxe tradicionais são abolidos; os vocábulos são desmembrados em prefixos, radicais e sufixos; empre- gam-se neologismos, siglas, estrangeirismos e palavras técnicas. Diversos recursos são utilizados: sonoros (letras, afixos, assonâncias e aliterações são repetidos); visuais (uso criativo do espaço gráfico) e semânticos (polissemia, trocadilhos). Exemplos: V V V V V V V V V V V V V V V V V V V E V V V V V V V V E L V V V V V V V E L O V V V V V V E L O C V V V V V E L O C I V V V V E L O C I D V V V E L O C I D A V V E L O C I D A D V E L O C I D A D E (Ronaldo Azeredo) LUXO LUXO LUXO LUXO LUXOLUXOLUXO LUXO LUXO LUXO LUXO LUXOLUXOLUXO LUXO LUXO LUXO LUXO LUXOLUXOLUXO LUXO LUXO LUXOXO LUXO LUXO LUXO LUXO LUXO LUXO LUXO LUXO LUXO LUXOXO LUXO LUXO LUXO LUXO LUXO LUXO LUXO LUXOLUXOLUXO LUXO LUXO LUXO LUXO LUXO LUXOLUXOLUXO LUXO LUXO LUXO LUXO LUXO LUXOLUXOLUXO 18 Extensivo Terceirão Poema-praxis Mário Chamie, em 1962, lança a “instauração” praxis: as palavras são energia, matéria-prima transformável; a transformação das palavras, que mudam de sentido e de dicção, alteram a estrutura sintática da frase; o texto é um projeto de solução dos problemas mostrados pelo contexto; o texto é aberto e permite ingerências do leitor; o poema práxis engaja-se no processo industrial: da matéria-prima ao produto, deste ao consumo. Agiotagem um dois três o juro; o prazo o pôr / o cento / o mês / o ágio Porcentágio. dez cem mil o lucro : o dízimo o ágio / a moral / a monta em péssimo Empréstimo muito nada tudo a quebra : a sobra a monta / o pé / o cento / a quota Hajanota Agiota (Mário Chamie) Poesia marginal Olha a passarinhada Onde? Passou. (Chacal) Movimento cultural fundado nos anos 70, a poesia marginal teve como principais representantes: Ana Cristina César, Paulo Leminski, Ricardo Carvalho Duarte (Chacal), Francisco Alvim e Cacaso. Eles eram cabeludos, universitários, poetas. A poesia “marginal” se tornou conhecida por este nome porque seus poetas abandonaram as editoras e livrarias, e buscaram meios alternativos, fazendo cópias mimeografa- das de seus trabalhos, vendendo-os a preço baixo, de mão em mão, nas ruas, em praças e nas universidades. Através dessa poesia, os poetas da chamada “geração do mimeó- grafo” queriam se expressar livremente em pleno regime da ditadura militar, bem como revelar novas vozes poéticas. Influenciados pela primeira fase do Modernismo brasileiro, pelo Tropicalismo e por movimentos de contracultura, tais
Compartilhar