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Vict�ria K. L. Card�so Bibli�grafia: Diretriz Brasileira de Obesidade Obesidade Introdução Medidas antropométricas: ● Medida de massa corporal mais tradicional: peso isolado ou peso ajustado para a altura. ○ Não há avaliação perfeita para sobrepeso e obesidade. IMC: ● Cálculo: divisão do peso, em kg, pela altura, em metros, elevada ao quadrado → kg/m². ○ É o cálculo mais usado para avaliação da adiposidade corporal. ● Apesar de ser um bom indicador, não está totalmente correlacionado com a gordura corporal. ○ O IMC não reflete a distribuição da gordura corporal. ● Pode haver diferenças na composição corporal em função do sexo, idade, etnia, no cálculo de indivíduos sedentários quando comparados a atletas, na presença de perda de estatura em idosos devido a cifose, em edemaciados, etc. ● Problema do IMC: não distingue massa gordurosa de massa magra, podendo ser menos preciso em indivíduos mais idosos, em decorrência da perda de massa magra e diminuição do peso, e superestimado em indivíduos musculosos. ○ Portanto, o ideal é usar o IMC associado a outros métodos de determinação de gordura corporal. ○ A combinação de IMC com medidas de distribuição de gordura pode ajudar a resolver alguns problemas do uso do IMC isolado. ● Valores: ○ Baixo peso grave: IMC <16 kg/m². ○ Baixo peso moderado: 16,0-16,9 kg/m². ○ Baixo peso leve: IMC entre 17,0-18,4 kg/m². @p�sitivamed Vict�ria K. L. Card�so Bibli�grafia: Diretriz Brasileira de Obesidade ○ Sobrepeso: IMC de 25 a 29,9 kg/m². ○ Obesidade grau I: IMC de 30 a 34,9 kg/m². ○ Obesidade grau II: IMC de 34,9 a 39,9 kg/m². ○ Obesidade grau III: IMC > 40,0 kg/m². ○ Idoso: (> 60 anos) IMC normal entre 22 e 27 kg/m², por conta da diminuição de massa magra e maior risco de sarcopenia. Massa gordurosa e distribuição de gordura: ● Relação circunferência abdominal/quadril (RCQ). ○ Demonstra associação com maior risco a comorbidades. ● A medida da circunferência abdominal reflete melhor o conteúdo de gordura visceral que a Relação circunferência abdominal/quadril e também se associa muito à gordura corporal total. ● Como realizar o exame: ○ Solicita-se ao paciente, em posição supina, que inspire profundamente, e, ao final da expiração deve ser realizada a medida. ○ Pode-se realizar a medida no maior perímetro abdominal entre a última costela e a crista ilíaca. ● Valores para maior risco cardiovascular de acordo com a circunferência abdominal: ○ Circunferência abdominal > a 94 cm em homens e 80 cm em mulheres. Outras formas de avaliação: ● Pesagem hidrostática (peso submerso). ● Composição corporal por absorciometria com raios-X de dupla energia (DEXA). ● Técnicas de imagem como ressonância magnética e tomografia computadorizada → custo elevado e uso limitado na prática. Diagnósticos diferenciais: ● Hipotireoidismo. ● Hipogonadismo. ● Alterações da adrenal. @p�sitivamed Vict�ria K. L. Card�so Bibli�grafia: Diretriz Brasileira de Obesidade ● Síndrome de Cushing. ● Deficiência de GH. ● Medicamentos. Fisiopatologia Balanço energético positivo: 1. Aumento: leptina. 2. Diminuição: NYP/AgRP (orexígenos) - hipotálamo e núcleo arqueado. 3. Aumento: POMC/CART (anorexígenos) - hipotálamo e núcleo arqueado. 4. Diminuição: ingestão de alimentos. 5. Aumento: gasto de energia. Balanço energético negativo: 1. Diminuição: leptina. 2. Aumento: NPY/AgRP (orexígenos) - hipotálamo e núcleo arqueado. 3. Diminuição: POMC/CART (anorexígenos) - hipotálamo e núcleo arqueado. 4. Aumento: ingestão de alimentos. 5. Diminuição: gasto de energia. Etiologias no ganho de peso A etiologia da obesidade é complexa e multifatorial, resultando da interação de genes, ambiente, estilos de vida e fatores emocionais. Fatores gerais: ● Diminuição dos níveis de atividade física. ● Aumento da ingestão calórica. ● Aumento da quantidade de estresse diário. ● Populações com maior grau de pobreza e menor nível educacional → maior taxa de obesidade. ● Fases da vida → fase intrauterina, nascimento, amamentação, fase de rebote do peso no período de aumento do peso entre os 5 e 7 anos de idade e a fase puberal, gestação, amamentação, pós menopausa… ● Iatrogenia farmacêutica. ● Redução de sono e produção de melatonina → a privação do sono causa: ○ Diminuição da secreção de leptina e TSH. ○ Aumento dos níveis de grelina. @p�sitivamed Vict�ria K. L. Card�so Bibli�grafia: Diretriz Brasileira de Obesidade ○ Diminuição da tolerância à glicose ○ Aumento da fome e do apetite. ● Disruptores endócrinos. ● Obesidade de origem infecciosa. Relação com a melatonina: ● A melatonina, secretada na glândula pineal, funciona como um hormônio cronobiótico e tem um papel importante na regulação da ordem temporal interna circadiana. ● Além disso, a melatonina atua na regulação da expressão de GLUT4 e da fosforilação do receptor de insulina e na via de sinalização de insulina. ● Ou seja, a redução na produção de melanina induz a resistência insulínica, intolerância à glicose, perturbações do sono, e a desorganização circadiana metabólica, que caracteriza um estado de cronoruptura e leva à obesidade. Disruptores endócrinos: ● São substâncias lipofílicas ambientalmente estáveis, produzidas industrialmente e que podem afetar a função endócrina. ● Por perturbar a regulação hormonal endógena, os DEs podem causar ganho de peso através de múltiplas vias. ● Exemplos dessas vias: ○ Ligação direta aos receptores nucleares, incluindo o receptor ativado por proliferados de peroxissoma gama (PPARg) e o receptor de ácido retinóico X. ○ O DE organotin é agonista de alta afinidade para esses receptores nucleares, estimulando a proliferação de adipócitos. Ações hormonais: ● Grelina: estimula o apetite. ● Leptina: bloqueia o apetite. ○ Na obesidade: a produção de leptina é normal, mas não há ligação plena com seu receptor no SNC, por conta da impedição causada pelas citocinas do tecido adiposo. ● Resistina: expressa no tecido adiposo branco, age no sistema muscular alterando a estrutura do receptor da insulina, impedindo a ligação eficaz da glicose. @p�sitivamed Vict�ria K. L. Card�so Bibli�grafia: Diretriz Brasileira de Obesidade ○ Alta relação com a resistência a insulina e desenvolvimento de diabetes nas pessoas obesas. ● Adiponectina: regula a glicemia e o catabolismo de ácidos graxos. À medida que o tecido adiposo aumenta, a expressão de adiponectina diminui, favorecendo o processo inflamatório. Tratamento farmacológico O tratamento da obesidade é complexo e multidisciplinar. ● O tratamento farmacológico é adjuvante das terapias de modificação dos hábitos de vida, associados a orientações nutricionais para diminuir o consumo de calorias na alimentação e exercícios para aumentar o gasto calórico. Vias anorexígenas: POMC e CART. Fases de intervenção: ● Prevenção primária: ○ Prevenir doenças e a progressão do sobrepeso e obesidade. ○ Eliminar fatores de risco, remover causas ou aumentar resistência à doença. ○ Educar o público, promover alimentação saudável e atividade física regular. ○ Construir um meio ambiente propício. ● Prevenção secundária: ○ Impedir a progressão da doença. ○ Deter o processo da doença para prevenir complicações ou sequelas. ○ Rastrear e diagnosticar usando IMC. ○ Avaliar a presença de complicações. ○ Tratar com intervenção de estilo de vida sem/com medicamentos antiobesidade. ● Prevenção terciária: ○ Usar atividades clínicas que reduzam complicações e previnam deterioração posterior. ○ Tratar com terapia e medicamentos para perda de peso, visando diminuir as complicações relacionadas à @p�sitivamed Vict�ria K. L. Card�so Bibli�grafia: Diretriz Brasileira de Obesidade obesidade e prevenir a progressão da doença. ○ Considerar cirurgia bariátrica. Tratamento farmacológico: deve-se estabelecer o grau de obesidade estando indicado o tratamento medicamentoso. ● IMC > 25 ou 27 kg/m² + comorbidades. ● IMC > 30 kg/m2 ● Falha em perder peso com o tratamento não farmacológico (a história prévia de má adesão à restriçãocalórica é suficiente). Principais fármacos: ● Sibutramina: aumento da sensação de saciedade. ● Orlistate: (trata diabetes tipo II também) em conjunto com uma dieta de baixa caloria, promove controle do açúcar no sangue. ● Liraglutida: (trata diabetes tipo II também) age no hipotálamo, sobre o centro de saciedade, promovendo diminuição da fome e retardando o esvaziamento gástrico. ● Anfepramona: similar a sibutramina, também induz a saciedade. ● Ansiolíticos que auxiliam na compulsão alimentar: fluoxetina, sertalina, topimarato e bupropina. ● Medicamento off label: fluoxetina, topiramato e bupropina. ○ Não são específicos para obesidade. Indicações cirúrgicas: ● Idade: 18 a 65 anos. ● IMC > 40 kg/m³ ou > 35 kg/m³ com comorbidades. ● Falha terapêutica com fármacos e MEV, apresentando manutenção ou aumento de peso. Contraindicações cirúrgicas: ● Maiores de 65 anos. ● ICC grave. ● Transtornos psiquiátricos ou dependentes de drogas. ● Causas endócrinas de obesidade. ● Dificuldades de compreender os riscos e benefícios da cirurgia. Obs: indivíduos com IMC normal e aumento da circunferência abdominal são @p�sitivamed Vict�ria K. L. Card�so Bibli�grafia: Diretriz Brasileira de Obesidade considerados obesos viscerais e devem ser tratados na presença de comorbidades. Fármacos Sibutramina: ● Mecanismo de ação: bloqueia a recaptação de noradrenalina (NE) e de serotonina (SE), levando a redução da ingestão alimentar. ○ Importante: a sibutramina não causa dependência psíquica nem química. ● Dose: 10 mg por dia e com reavaliação após 2 semanas. ● Indicações: ○ Pacientes obesos diabéticos sem antecedentes de doença cardiovascular ou cerebrovascular e com hipertensão arterial controlada. ○ Recomenda-se uma monitorização cuidadosa da pressão arterial e da freqüência cardíaca (FC) de repouso. ● Contraindicações: ○ Pacientes obesos com doença arterial coronariana ou doença cerebrovascular, com ou sem diabetes tipo 2 → é potencialmente prejudicial e aumenta o risco de infarto. ○ Hipertensos com a pressão mal controlada (maior que 145/90 mmHg), associada ao uso de antipsicóticos, inibidores da monoamino-oxidase, transtornos alimentares com purgação ou anorexia. ● Cuidados: ○ Pode causar uma elevação média de 3-5 mmHg na pressão arterial diastólica. ○ Aumento de 2 a 4 bpm na frequência cardíaca. Orlistate: ● Mecanismo de ação: é um análogo da lipstatina, inibidor de lipases gastrintestinais (GI), que se liga ao sítio ativo da enzima através de ligação covalente, fazendo com que cerca parte dos triglicérides ingeridos permanecem não digeridos e não sejam absorvidos pelo intestino, sendo eliminados nas fezes. ○ O orlistate não possui atividade sistêmica, tendo absorção desprezível. ● Dose: 120 mg → até 3 cápsulas por dia. @p�sitivamed Vict�ria K. L. Card�so Bibli�grafia: Diretriz Brasileira de Obesidade ● Indicações: ○ Benéfico e útil para redução de peso e circunferência abdominal. ○ Liberado para pacientes hipertensos, diabéticos e dislipidemicos. ○ Reduz: ■ Pressão arterial. ■ Insulinemia. ■ Glicemia de jejum. ■ Glicemia pós-prandial. ■ Hemoglobina glicada. ■ Triglicerídeos e colesterol-LDL → independente da perda de peso. ○ Causam mudanças favoráveis nos fatores de risco cardiovascular ligados à obesidade. ● Efeitos colaterais: ○ Efeitos gastrointestinais, como esteatorreia, flatus com descarga de gordura e urgência fecal. ● Contraindicações: ○ Pacientes com síndrome da má absorção crônica e colestase. Associação de sibutramina e orlistate: ● A perda de peso com essa associação causou a redução da resistência insulínica, com melhora dos marcadores bioquímicos e achados ultrassonográficos em pacientes com esteato-hepatite não alcoólica. Liraglutida: ● Mecanismo de ação: é um agonista do peptídeo semelhante ao glucagon-1 (GLP-1), que tem uma ação hipotalâmica em neurônios envolvidos no balanço energético, em centros ligados ao prazer, com uma ação menor na velocidade de esvaziamento gástrico. ● Dose: máximo de 3 mg. ● Indicações: ○ Induzir a perda de peso independente do status de pré-diabetes e do IMC e em indivíduos obesos normoglicêmicos. ○ Melhora: ■ Parâmetros glicêmicos. @p�sitivamed Vict�ria K. L. Card�so Bibli�grafia: Diretriz Brasileira de Obesidade ■ Pressão arterial. ■ Níveis lipídicos com consequente redução de medicamentos para estas doenças associadas ao excesso de peso. ■ Melhora os marcadores de risco cardiovascular e de qualidade de vida, incluindo a saúde mental. ■ Melhorar a apneia do sono em indivíduos obesos c ● Contraindicações: ○ Pacientes com gastroparesia. Medicamentos off label: ● Quando se usa: na ausência de tratamento para a doença ou para a faixa etária. ● Medicamentos com evidências científicas de potencial benefício: ○ Topiramato. ○ Associação de bupropiona e naltrexona. ○ Dimesilato de lisdexanfetamina. ● Topimarato: possui efeitos inibitórios sobre receptores de glutamato e em canais de cálcio e de sódio. ○ Além disso, pode modular canais de potássio, receptores GABA-A e é um inibidor fraco da anidrase carbônica. ○ Contraindicação: pacientes com glaucoma de ângulo fechado e mulheres em idade fértil, pois há toxicidade fetal. ○ Dose: 64-384 mg/dia. ● Bupropiona + naltrexona: ○ A bupropiona atua sobre os receptores adrenérgicos e dopaminérgicos no hipotálamo e a naltrexona é um antagonista do receptor opióide. ○ Ambos, isoladamente, tem mínimo efeito na perda de peso, mas a combinação deles leva a um sinergismo por ação no neurônio da POMC (via anorexígena). ○ Importante: tem potencial interação medicamentosa com ISRSs ou inibidores da MAO. ○ Dose: 90 mg de bupropiona + 8 mg de naltrexona. @p�sitivamed Vict�ria K. L. Card�so Bibli�grafia: Diretriz Brasileira de Obesidade ● Lisdexanfetamina: inibe a recaptação de dopamina e norepinefrina e promove a liberação de monoaminas, tendo o efeito de diminuir a compulsão alimentar. ○ Dose: 50-70 mg. Tratamento dietético Importante: se em 4-6 meses, monitorando a perda de peso com menor consumo dietético e com aumento de atividade física, o paciente não tiver uma perda de peso de 3-5%, ou se não houver benefícios clínicos significativos, deve-se encaminhar o paciente para tratamento com o especialista. Cálculo do valor calórico da dieta: ● Deve-se usar a taxa metabólica de repouso corrigida para o nível de atividade física. ● Se disponível, faz-se a calorimetria indireta, na ausência dela, usam-se equações preditivas. Prescrição dietética: ● Deve ser individualizada, levando em consideração o estado de saúde e as preferências do paciente, mas mantendo a adequação de nutrientes. ○ 20% a 30% de gorduras. ○ 55% a 60% de carboidratos. ○ 15% a 20% de proteínas. ● Redução da ingestão calórica: reduz-se a quantidade calórica em 500-750 kcal/dia. ○ Ingestão calórica normal: 1200-1.800 kcal diárias para mulheres e 1.500-1.800 kcal para homens. ○ Lembrando sempre de: diminuir a quantidade de gordura, aumentar os alimentos ricos em fibras e controlar o tamanho das porções. Dietas de muito baixas calorias: <800 kcal por dia. ● Apenas para situações muito limitadas e em cenário médico adequado. ○ Nesses casos, faz-se internação, supervisão e monitorização do paciente, pois a perda rápida de peso pode levar a complicações de saúde. Dietas da moda: não há evidência para recomendação dessas dietas e nem evidência de segurança no tratamento do sobrepeso e obesidade. ● Dietas ricas em gordura e pobres em carboidrato. ● Dieta do índice glicêmico. ● Jejum intermitente. ● Dieta sem glúten. ● Dieta sem lactose. @p�sitivamed
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