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1 Letícia M. Dutra 3 - Obesidade Problema: Quando a comida é o veneno. Objetivos: 1- Obesidade (definição,epidemiologia, fisiopato, Critérios clínicos e antropométricos para obesidade, tratamento) 2- Correlacionar subnutrição e desnutrição com a obesidade 3- Caracterizar mecanismo de controle de saciedade com alterações da obesidade 4-Definir erro alimentar, adulto e criança Intenção educacional: Estudar os componentes anatômicos do Sistema límbico e correlacioná-los com a fisiopatologia dos transtornos alimentares e uso de drogas. Objetivos e identificações: - Sistema límbico - componentes corticais (lobo límbico) - componentes subcorticais - circuito de papez - Identificar em exames por imagem os componentes do sistema límbico. - Caracterizar os tipos de transtornos de ansiedade - Transtornos alimentares - Rever a anatomia do encéfalo em exames por imagem 2 Letícia M. Dutra OBESIDADE INTRODUÇÃO E EPIDEMIOLOGIA Define-se obesidade como um estado anormal no qual ocorre excesso de gordura corporal, em relação a massa magra. É uma doença caracterizada pelo acúmulo de tecido adiposo resultante do desequilíbrio entre consumo e gasto energético. A obesidade é um problema de saúde pública crescente em todo o mundo, ocorrendo em cerca de 20% da população mundial. Atualmente o número de indivíduos com sobrepeso e obesidade ultrapassa a estimativa de pessoas desnutridas em todo o mundo. Estima-se que no Brasil 40% da população apresenta sobrepeso e destes 10% tem obesidade. EUA: 35% da população (custos: 2,1 bilhões de dólares anualmente) Brasil: 20% (2008 – 11%) Metade dos países do mundo: 20% de obesos Acredita-se que essa doença ocorra mais no sexo feminino e idosos, no entanto, ocorre diferenças marcantes na prevalência ao se considerar o nível socioeconômico. Apesar da tendência de aumento da obesidade, percebe-se à redução do excesso de peso entre níveis socioeconômicos mais privilegiados. A prevalência da obesidade preocupa vários setores ligados a saúde devido à grande morbimortalidade das doenças relacionadas a obesidade. Dessa forma, várias doenças como diabetes, cardiopatias, artropatias degenerativas, doenças cerebrovasculares e tromboembólicas, neoplasias, esteatose hepática, colelitíase, apneia de sono, entre outras, possuem como fator de risco a obesidade grave. Além disso, essa doença pode levar a como uma epidemia global de alta gravidade, associada a incapacidade para o trabalho, realização de tarefas domésticas e até de higiene pessoal. Os efeitos adversos da obesidade estão relacionados não somente com o peso corporal total, mas também com a distribuição da gordura armazenada. É uma doença multifatorial, relacionada a fatores genéticos, mas com influência importante de exposições ambientais, econômicos, de estilo de vida e demográficos. Além disso, a obesidade infantil, um forte indicador de obesidade nos adultos. A obesidade central ou visceral, em que ocorre acumulo de gordura no tronco e na cavidade abdominal, está associada a risco muito maior de várias doenças do que um acúmulo de excesso de gordura com distribuição difusa no tecido subcutâneo. Existem vários métodos de avaliação da obesidade, como o índice de massa corpórea (IMC), medidas de dobras cutâneas, ou medidas das circunferências corporais. Entretanto, o método considerado mais eficaz é o IMC. Nesse caso, é considerado obeso, o indivíduo com IMC superior a 30 kg/m2. Devido à gravidade e prevalência dessa doença, tem crescido a preocupação com métodos efetivos de tratamento, sendo atualmente considerado como pilar a associação entre dieta, atividade física, medicações e em casos selecionados a realização de cirurgias endócrino- metabólicas. ETIOLOGIA Origem exógena (95%) Excesso de calorias (alterações hipotalâmicas) Medicações: Corticoides, antipsicóticos Fatores psicossociais Origem endógena (5%) Endocrinopatias (Sd. de Cushing) Genéticas FISIOPATOLOGIA Apesar do grande número de estudos envolvendo a obesidade, sua fisiopatologia não está completamente elucidada. Essa doença, possui etiologia complexa e multifatorial, envolvendo fatores genéticos, ambientais e psicológicos. Sabe-se que existe uma forte predisposição genética, porém, maus hábitos alimentares, como o excesso de alimentos calóricos é um fator fundamental para o desenvolvimento da obesidade. Com isso, a origem da obesidade está no desequilíbrio entre a necessidade energética e a ingesta de alimentos. Esse equilíbrio é coordenado por uma série de mecanismos neurais e hormonais. SISTEMA NEURO-HUMORAL O sistema neuro-humoral é dividido em três compartimentos que interagem entre si para a regulação do consumo e gasto energético: 1- O sistema periférico ou aferentes, de curta e longa duração, que permitem perceber o status energético do indivíduo. Corresponde às moléculas produzidas perifericamente que regulam o metabolismo energético. 2- Centros cerebrais integradores, mais significativamente no hipotálamo, onde o nível de resposta eferente é determinado. Núcleo arqueado no hipotálamo ou sistema eferente. 3- Sinais eferentes, incluindo aqueles reguladores da intensidade da fome e do nível do gasto energético. Na obesidade ocorre a prevalência da ação dos hormônios orexígenos. Sendo que, os hormônios anorexígenos podem até estar aumentados (insulina e leptina), porém há uma resistência a ação desses hormônios. O sistema periférico ou aferente manda sinais ao cérebro através da produção de moléculas como a leptina e a adiponectina (produzidas pelos adipócitos), a insulina (pâncreas), a grelina (estômago) e o peptídeo YY (íleo e cólon). Essas moléculas por meio de mecanismos diferentes controlam a ingesta alimentar. A leptina reduz a ingesta de alimentos, Já a grelina estimula o apetite, 3 Letícia M. Dutra Enquanto o peptídeo YY, é um sinal de saciedade. O núcleo arqueado no hipotálamo processa esses sinais periféricos e gera novos sinais que são transmitidos pelos neurônios conhecidos como POMC (pró- opiomelanocortina), CART (transcritos regulados pela cocaína e anfetamina), NPY (neuropeptídeo Y) e AgRP (peptídeo relacionado com agouti). Enquanto isso, o sistema eferente, recebe os sinais neuronais vindos do núcleo arqueado e inicia o processo de ingesta de alimentos ou perda energética. Os neurônios POMC e CART levam ao aumento do gasto energético e da perda de peso, enquanto os neurônios NPY/AgRP promovem a ingestão de alimentos e ganho de peso. SISTEMA AFERENTE O sistema aferente corresponde às moléculas produzidas perifericamente que regulam o metabolismo energético. Apesar de ter vários componentes, os principais agentes desse sistema é a leptina, tecido adiposo e hormônios intestinais. Tecido adiposo: O tecido adiposo é um órgão endócrino que produz ácidos graxos livres, hormônios e citocinas, como leptina, adiponectina, resistina, IL-6), TNF, fator ativador da inibição do plasminogênio, entre outros. Algumas dessas substâncias produzidas pelos adipócitos participam da regulação do peso corporal e da gênese de comorbidades. Um fato interessante é que o número total de adipócitos é estabelecido durante adolescência é maior em pessoas que eram obesas quando crianças, aumentando a preocupação com a obesidade infantil. Nos adultos, o número de adipócitos permanece constante, independentemente da massa corporal. Adipocinas Gordura visceral (↑ na obesidade visceral) – Pró- aterogênicas/pró-diabetogênicas IL-6 ↑ inflamação vascular ↓sinalização de insulina ↑ proteínas de fase aguda (fibrinogênio, PCR, amiloide A) TNF-α ↓ sensibilidade à insulina nos adipócitos, via ↓ IRS-1 Promove lipólise, ↑ AGL Gordura subcutânea Antiaterogênica/ antidiabética/ ↓ risco Cvs, ↓ risco de câncer Adiponectina ↓ cél. espumosas ↓ remodelação vascular ↑ sensibilidade à insulina ↓ fluxo hepáticode glicose Leptina: Um dos principais componentes da homeostase energética é a leptina. Esse hormônio é produzido pelo tecido adiposo e tem a capacidade de regular a ingesta de alimentos e aumentar o gasto de energia. Através de mecanismos pouco compreendidos, a produção da leptina é regulada pela quantidade de reservas de gordura. Diante de um tecido adiposo abundante, a secreção de leptina é estimulada e o hormônio atua no hipotálamo, reduzindo o consumo de alimentos pela estimulação dos neurônios POMC/CART e inibição dos neurônios NPY/AgRP. Contrário a isso, quando há pouca reserva de gordura, a secreção de leptina é diminuída e o consumo de alimentos é aumentado pela desinibição dos neurônios NPY/AgRP. Além disso, o nível circulante de leptina é pulsátil, com picos durante a noite e esse hormônio também aumenta o gasto de energia ao estimular a atividade física, o gasto de energia e a termogênese. Pode ocorrer mutações que desativam o gene que codifica a leptina, levando a quadros de obesidade grave. Essas mutações podem ser encontradas em 4-5% dos pacientes com obesidade severa. Entretanto, alguns estudos indicam que muitas obesos possuem níveis elevados de leptina no sangue, sugerindo que o mecanismo pode ser a resistência à leptina. Hormônios Intestinais: Os hormônios intestinais também atuam na fisiopatologia da obesidade. Os principais hormônios envolvidos nesse mecanismo são a grelina e o peptídeo YY (PYY). A grelina é produzida no estômago, geralmente antes das refeições e promove o aumento na ingestão de alimentos pelo estímulo dos neurônios NPY/AgRP no hipotálamo. Em pessoas obesas os níveis desse hormônio após a refeição permanecem em níveis mais altos, durante mais tempo. Em relação ao PYY, essa molécula é secretada no íleo e cólon, em resposta à ingestão de alimentos. Sua ação ocorre por meio do estímulo aos neurônios POMC/CART no hipotálamo, diminuindo a ingesta de alimentos. FISIOPATOLOGIA DA OBESIDADE OBESIDADE Tecido adiposo ↓ Leptina, Adiponectina (↓ a ingesta de alimentos) Intestinos ↓ PYY (É um sinal de saciedade) Células Pancreáticas ↓ Insulina Estômago ↓ Grelina (Estimula o apetite) Hipotálamo Neurônios POMC, CART POMC (pró-opiomelanocortina), CART (transcritos regulados pela cocaína e anfetamina): Levam ao aumento do gasto energético e da perda de peso Neurônios NPY e AgRP NPY (neuropeptídeo Y) e AgRP (peptídeo relacionado com agouti): Promovem a ingestão de alimentos e ganho de peso ↓ Inibição da alimentação Desequilíbrio entre os fatores de estimulo a ingesta e o gasto de calorias ↓ OBESIDADE ↓ Estimulo a alimentação Consumo exagerado de alimentos calóricos Figura 1. Mecanismos envolvidos na regulação energética. Fonte: Patologia Básica Robbins, 9° ed, 2013. 4 Letícia M. Dutra Via anorexígena (saciedade): A partir do momento que o alimento chega no intestino, começam a ser produzidos vários hormônios: colecistoquinina, GLP-1, PYY, GIP, amilina, insulina, leptina (tecido adiposo). Esses hormônios agem no hipotálamo (centro da fome – núcleo arqueado) sinalizando a presença do alimento. Hipotálamo emite sinais eferentes através de 2 vias: 1. POMC - α-MSH (hormônio alfa-melanócito estimulante) que se liga no receptor Mc4R = saciedade 2. CART (transcrito relacionado a cocaína e anfetamina) = saciedade e termogênese Leptina A produção da leptina é regulada pela quantidade de reservas de gordura. Diante de um tecido adiposo abundante, a secreção de leptina é estimulada e o hormônio atua no hipotálamo, reduzindo o consumo de alimentos pela estimulação dos neurônios POMC/CART e inibição dos neurônios NPY/AgRP. Contrário a isso, quando há pouca reserva de gordura, a secreção de leptina é diminuída e o consumo de alimentos é aumentado pela desinibição dos neurônios NPY/AgRP. Além disso, o nível circulante de leptina é pulsátil, com picos durante a noite e esse hormônio também aumenta o gasto de energia e a termogênese. Pode ocorrer mutações que desativam o gene que codifica a leptina levando a quadros de obesidade grave! Alguns estudos também indicam que muitos obesos possuem níveis elevados de leptina no sangue, sugerindo que o mecanismo pode ser a resistência à leptina! CCK É secretada pelas células duodenais na presença de gordura e proteína no duodeno. Está envolvida na regulação de curta duração do apetite atuando na saciedade. Estimula a motilidade da vesícula biliar, a secreção de enzimas pancreáticas, o esvaziamento gástrico e a secreção ácida. Uma secreção alterada ou uma resposta modificada a esse hormônio pode contribuir para a obesidade. GLP-1 Secretado pelas células L intestinais do íleo e cólon, aumenta a secreção de insulina, ↓ a secreção de glucagon, ↑ a massa de células B, inibe o esvaziamento gástrico e reduz a ingestão de alimentos. Peptídeo YY: Essa molécula é secretada no íleo e cólon, pelas células L intestinais, em resposta à ingestão de alimentos. Sua ação ocorre por meio do estímulo aos neurônios POMC/ CART no hipotálamo, diminuindo a ingesta de alimentos. Indivíduos obesos apresentam níveis de PYY menores do que não obesos após uma refeição. Via orexígena (fome e apetite) Fundo gástrico produz grelina que vai agir no hipotálamo: Grelina 1. A grelina é produzida no estômago antes das refeições e promove aumento na ingestão de alimentos pelo estímulo dos neurônios NPY/AgRP no hipotálamo. 2. Em pessoas obesas os níveis desse hormônio após a refeição permanecem em níveis mais altos, durante mais tempo. O hipotálamo vai secretar os neuromoduladores orexígenos: NPY: Neuropeptídeo Y, secretado no núcleo arqueado do hipotálamo: Inibe o eixo tireotrófico Reduz a termogênese Hiperfagia AgRP: Proteína relacionada ao AGOUTI, secretado no núcleo arqueado do hipotálamo: Bloqueia a ligação alfa- MSH Bloqueia o Mc4R Aumenta MCH, orexina, hipocretina Resultando na fome Causas monogênicas Deficiência de Leptina: quando se tem deficiência da leptina, ela não informa a POMC e CART Deficiência no gene ob/ob (não ocorre a síntese) Deficiência no ob receptor Em ambas as deficiências ocorrerá uma obesidade grave, já na 1ª infância (hiperfagia) e baixa T° corporal (não estimula a CART então não estimula a termogênese do paciente) 5 Letícia M. Dutra Mutação do gene codificador da POMC: pct entra em insuficiência adrenal, ou seja, se não produz a POMC, não produz ACTH, e assim, se tem uma insuficiência adrenal 2ria. α-MSH = hiperfagia ϒ- MSH (H. melanotrófico) = defeitos de pigmentação da pele e cabelos ACTH = insuficiência adrenal 2ª Mutação no Receptor MC4R Problemas na formação do hipotálamo Prader-Willi: falha em ganhar peso no 1º ano de vida, seguido por ganho de peso excessivo; Deficiência de GH/hipogonadismo, hipogonadotrófico Deficiência intelectual/Problemas de comportamento Alstron e Bardet Biedl: nessas duas condições existem alterações formação do hipotálamo onde tamém fica os nucleos da visão, sendo assim o paciente além da obseidade, apresentará problemas visuais. 6 Letícia M. Dutra DIAGNÓSTICO E AVALIAÇÃO CLINICA Para se estabelecer o tratamento, é necessário reconhecer em qual classificação de excesso de peso o paciente se encontra. A medida isolada de peso não é um bom parâmetro pra predizer o risco de desenvolvimento de doenças um paciente pode ter. O peso considerado ideal pode variar de acordo com as diferentes características corporais de uma população. Tem-se notado que a distribuição de gordura é mais preditiva de saúde. A combinação de massa corporal e distribuição de gordura é, provavelmente, a melhor opção para preencher a necessidade de avaliação clínica. Sendo assim, podemos diagnosticar a obesidade por meio de parâmetros qualitativos, como IMC, medidade cintura abdominal ou até por avaliação indireta da composição corporal. 1. Índice de massa corpórea (IMC) O principal método quantitativo utilizado para avaliação da obesidade, é o IMC. Esse índice surgiu a mais de um século e continua sendo o melhor método por ser simples e bastante reprodutível. O IMC é medido dividindo o peso do paciente em quilos pela sua altura ao quadrado. 𝐼𝑀𝐶 = 𝑃𝑒𝑠𝑜 (𝐾𝑔) 𝐴𝑙𝑡𝑢𝑟𝑎 (𝑚𝑒𝑡𝑟𝑜𝑠)2 IMC (KG/M²) CLASSIFICAÇÃO < 16 Magreza severa Baixo peso 16 a 16,9 Magreza moderada 17 a 18,5 Magreza leve 18,5 a 24,9 Eutrofia 25 a 29,9 Sobrepeso 30 a 34,9 Obesidade grau I 35 a 39,9 Obesidade grau II ≥ 40 Obesidade grau III Alguns autores classificam IMC > como super obesos e > 60 como super super obesos *Obesidade infantil: peso, altura e idade Entretanto, por ser exclusivamente quantitativo, o IMC não distingue gordura visceral de gordura subcutânea, tampouco, massa gordurosa de massa magra. Por conta disso, o cálculo do IMC superestima o grau de obesidade em indivíduos musculosos. De todo modo, em termos populacionais, esse índice permanece com alto valor preditivo positivo quanto ao risco de doenças associadas à obesidade. Devemos lembrar que em pacientes idosos, devido as particularidades de composição corporal, consideramos como peso ideal, o IMC entre 22 e 27 kg/m². Enquanto isso, nos asiáticos, devido ao seu maior acumulo de gordura visceral, já consideramos obesidade um IMC > 25 kg/m². Em crianças, além do peso, o IMC também varia com a altura ao longo dos anos e com a idade, não sendo utilizado o seu valor absoluto. Nesses casos, geralmente se usa o IMC percentual (%IMC), que independe da altura e da idade da criança e se apoia em tabelas de percentis de peso e de altura. IMC para idosos IMC (KG/M²) CLASSIFICAÇÃO < 21,9 Baixo peso 22 a 27 Eutrofia 27,1 a 32 Sobrepeso 32,1 a 37 Obesidade grau I 37,1 a 41,9 Obesidade grau II ≥ 42 Obesidade grau III 2. Cintura abdominal A medida da circunferência abdominal é um dos métodos que podem ser usados para se avaliar a obesidade visceral, além de ser associado a gordura corporal total. Sabemos que a medida da obesidade visceral tem forte correlação clínica com o risco cardiovascular e metabólico, desde que seus valores sejam ajustados para etnia e sexo. Com isso, pessoas com o mesmo IMC, mas que tenham maior circunferência abdominal, tem maior risco de desenvolver a síndrome metabólica. Diferentes autores sugerem diferentes pontos de referência para a medida da circunferência abdominal. No entanto, o mais aceito na literatura é solicitar ao paciente em posição supina que inspire profundamente, e, ao final da expiração deve ser realizada a medida. Mas também pode-se realizar a medida no maior perímetro abdominal entre a última costela e a crista ilíaca, segundo recomendações da OMS. Tabela 2. Medida de cintura abdominal aumentada por sexo e em diferentes etnias. Fonte: O autor, modificado de ABESO- Diretrizes brasileiras de obesidade, 2016. HOMENS MULHERES > 94 cm em europeus. > 80 cm em europeias, sul- americanas, chinesas e sul- asiáticas. > 88 americanas > 90 cm em sul- americanos, chineses e sul-asiáticos. > 85 cm em japoneses. > 90 cm em japonesas. 3. Relação Cintura/Quadril (RCQ) A relação circunferência abdominal/quadril era muito usada antigamente para avaliação da obesidade central. No entanto, apesar de possuir associação com o risco de comorbidades, ela não é tão valida, sendo por isso, menos usada. Essa medida permite avaliar a gordura visceral por meio da medida da cintura e a gordura periférica por meio da medida do quadril. Consideramos como medida alterada a medida: > 0,90 cm em homens > 0,85 cm em mulheres. 7 Letícia M. Dutra Técnica para aferição da cintura: Linha média horizontal entre a crista ilíaca e o último rebordo costal - medir sempre em um ponto fixo Final da expiração profunda Paciente em pé Nunca utilizar fita elástica ou de baixa flexibilidade Não deixar o dedo entre a fita e a pele Não promover pressão excessiva ou deixar a fita frouxa Realizar 3 medidas e calcular a média Não medir após atividade física Pacientes que perdem grande quantidade de peso mantem a RCQ inalterada 4. Relação Cintura/Altura Essa medida vem sendo cada vez mais utilizada, pois associa-se melhor ao risco cardiovascular do que o IMC e a medida isolada da circunferência abdominal. Consideramos como alterada uma relação cintura/altura ≥ 0,55. 5. Distribuição da gordura corporal É um diagnóstico qualitativo, em que se avalia a distribuição de gordura corporal ou à presença de adiposidade visceral. Dessa forma, é possível identificar os dois tipos principais de obesidade: A. Obesidade subcutânea, mais concentrada na região dos quadris, infra-umbilical. (Ocorre mais em em mulheres). B. Obesidade visceral, caracterizada pela maior concentração acima da cicatriz umbilical (ocorre mais em homens) Figura 2. Representação macroscópica da gordura visceral (B) e da gordura Subcutânea (A). Fonte: Clínica médica, vol.5, 2016. Dos métodos qualitativos, a tomografia computadorizada é o que melhor discrimina a distribuição de gordura corporal subcutânea e visceral (Figura 3). O valor total normal de gordura visceral é < 130 cm², para ambos os sexos, medida pela área de gordura no nível de L4-L5 ou por avaliação volumétrica por múltiplos cortes abdominais em tomografia espiral. O grande problema desse método é que além do grande custo, a tomografia ainda não está amplamente difundida, por conta disso, a medida isolada da circunferência abdominal e o IMC se comprova suficiente para estabelecer riscos cardiovascular e metabólico. Figura 3. Tomografia computadorizada evidenciando imagens com menor quantidade de gordura visceral (A e B) e maior quantidade de gordura visceral (C e D). Fonte: Clínica médica, Vol 5, 2016. 6. Avaliação indireta de composição corporal Esses métodos, como a impedância bioelétrica (BIA) ou bioimpedância de frequência única, mas são menos utilizados na prática. A composição biológica corporal varia de indivíduo para indivíduo e, pelo sistema de bioimpedância, podemos dividir o peso pelos diversos tecidos que compõem o corpo. Avaliar as porcentagens de massa adiposa e de tecido magro. Estimar o peso corporal ideal de atletas e não atletas Avaliar as intervenções nutricionais e de exercícios físicos na alteração da composição corporal Monitorizar mudanças na composição corporal associadas ao crescimento, desenvolvimento e idade Como fazer? 1. Métodos diretos: Padrão ouro (Pesagem hidrostática de Aristóteles) - Com base no deslocamento da agua vai se estimar a quantidade de gordura 2. Métodos indiretos: Densitometria de corpo inteiro 3. Métodos duplamente indiretos Prega cutânea Bioimpedância - Habilidade: especialmente, medição e localização inadequadas - Descrições anatômicas - Compassos: pressão, escala, material - Nível de hidratação - Dificuldades: obesos e idosos - não exige habilidade, maior facilidade - Menos invasivo, - Aparelhos ≠, resultados e equações ≠ - - Comer: 2 – 4 h antes e desidratação pode reduzir massa magra - Hidratação: melhor condução “↑ massa magra” 8 Letícia M. Dutra DIAGNÓSTICO OBESIDADE 𝑰𝑴𝑪 = 𝑃𝑒𝑠𝑜 (𝐾𝑔) 𝐴𝑙𝑡𝑢𝑟𝑎 (𝑚𝑒𝑡𝑟𝑜𝑠)2 IMC (KG/M²) CLASSIFICAÇÃO < 18,5 Baixo peso 18,5 a 24,9 Eutrofia 25 a 29,9 Sobrepeso 30 a 34,9 Obesidade grau I 35 a 39,9 Obesidade grau II ≥ 40 Obesidade grau III Cintura abdominal Tabela 2. Medida de cintura abdominal aumentada por sexo e em diferentes etnias. HOMENS MULHERES > 94 cm em europeus. > 80 cm em europeias, sul- americanas, chinesas e sul- asiáticas. > 90 cm em sul- americanos, chineses e sul- asiáticos. > 85 cm em japoneses. > 90 cm emjaponesas. Relação Cintura/Quadril > 0,90 cm em homens > 0,85 cm em mulheres. Relação Cintura/Altura Alterada ≥ 0,55 Distribuição de gordura corporal Avaliação indireta Impedância bioelétrica Bioimpedância de frequência única Avaliação da composição corporal Obesidade Gordura relativa Mulheres Homens Leve 25 – 30 15 – 20 Moderada 30 – 35 20-25 Elevada 35 – 40 25 – 30 Mórbida > 40 >30* *No homem, devido a ação da testosterona, é menos tolerado o percentual de gordura corporal COMPLICAÇÕES DA OBESIDADE O sobrepeso e a obesidade são conhecidos fatores de risco para inúmeras condições, incluindo DM 2, doença cardiovascular e câncer. Efeito aditivo nas comorbidades. Diversos estudos indicam que o DM e a hipertensão ocorrem 2,9 vezes mais em indivíduos obesos do que naqueles com peso adequado. Além disso, alguns autores consideram que um indivíduo obeso tem 1,5 vezes mais risco de apresentar níveis sanguíneos elevados de triglicerídeos e colesterol. A obesidade central também está envolvida em um grupo de alterações conhecidas como síndrome metabólica. Os mecanismos subjacentes a essas associações são complexos. A seguir, destacaremos as principais comorbidades associadas ao excesso de peso, lembrando que quanto maior o grau de obesidade, mais graves e numerosas serão as patologias relacionadas. COMORBIDADES RELACIONADOS COM A OBESIDADE Cardiovasculares Hipertensão arterial (HAS) Doença da artéria coronária (DAC) Fibrilação atrial Insuficiência cardíaca Respiratórios Dispneia Asma Apneia do sono obstrutiva Psicológicos Depressão/aut oestima baixa Transtorno da imagem corporal Estigmatização social Endócrinos Síndrome metabólica SOP/ andogenicidade Dislipidemia DM 2 Musculoesquelét icos Hiperuricemia e gota Osteoartrite (joelhos, quadris) Imobilidade Lombalgia Gastrintestinais Doença por refluxo gastresofágico (DRGE) Esteatose hepática não alcoólica (EHNA) Colelitíase Hérnias Câncer Pâncreas, esôfago, fígado Mama, colo do útero, ovário e útero Tegumentares Estrias Acantose nigricante/acrocórdons (pólipos fibroepiteliais ou fibromas moles) Aumento dos marcadores da inflamação A obesidade aumenta o estado inflamatório do indivíduo, elevando fatores como a proteína C reativa e as citocinas pró-inflamatórias (como o TNF). A explicação para esse estado não está bem compreendida, tanto um efeito pró-inflamatório direto do excesso de lipídeos circulantes, quanto a liberação aumentada de citocinas pelos adipócitos repletos de gordura foram propostos. Seja qual for a causa, sugere-se que a inflamação crônica pode contribuir para muitas das complicações da obesidade, incluindo resistência à insulina, anormalidades metabólicas, trombose, doenças cardiovasculares e câncer. Resistência à insulina, hiperinsulinemia e diabetes Uma das principais complicações relacionadas a obesidade é o desenvolvimento de resistência à insulina e hiperinsulinemia, que são características importantes do DM 2. O hiperinsulinismo leva a um achado dermatológico típico da resistência insulínica que é a acantose nigricans. Isso ocorre porque o excesso de insulina estimula a proliferação de melanócitos, principalmente em áreas de dobras, levando ao espessamento da pele e ao surgimento de pequenos nódulos. Diante de um indivíduo com um estado de resistência insulínica ou DM 2, um passo importante é a redução de peso que melhora a tolerância à glicose e reduz a necessidade de drogas hipoglicemiantes. 9 Letícia M. Dutra Dislipidemia Relação risco de dislipidemia e ganho de peso, lembrar que existem 3 enzimas envolvidadas nesse mecanismo: 1- Lipase Hormônio sensível (LHS) 2- Lipase lipoproteica 3- Lipase hepática Lipase Homônimo sensível: atua no TA, liberando AGL (ác. graxos lives) na circulação, a atividade da LHS é inibida pela insulina. Em situações de resistência insulínica, a insulina não consegue mais inibir a LHS, e o TA fica liberando Ac. Graxos constantemente. RESISTENCIA INSULINICA atividade ↑ LHS liberação de AGL no plasma, que chegarão ao fígado (matéria prima para a síntese de DLDL) e aos músculos (RI periférica) Lipoproteína lipase (LPL) atua no endotélio vascular, hidrolisando QM (quilomicrons) e VLDL que são moléculas ricas em triglicérides, ou seja, a LPL ↓ TGL. (a insulina estimula essa atividade) RESISTENCIA INSULINICA ↓ ação ↑ TGL Pct com hipertrigliceridemia importante (>1000), que chegam com pancreatite por aumento dos TGL, pode ser feito bomba de infusão de insulina, para a insulina estimular a LPL vencer a RI e assim ↓ TGL. Lipase hepática (LH) papel na formação de lipoproteínas pequenas e densas (LDL) RESISTENCIA INSULINICA/ grande aporte de ác. graxos a ação da lipase hepática aumenta, e acaba formando mais LDL e consequentemente ↓ HDL Resumindo: A dislipidemia na Sd. metabólica, se manifesta por: 1- Hipertrigliceridemia 2- Hiperlipidemia pós-prandial 3- ↓ HDL e ↑ LDL Aumento dos níveis tensionais Diversos estudos apontam que o excesso de insulina e sua consequente retenção de sódio, leva a expansão do volume de sangue, produção excessiva de noradrenalina e proliferação de células do músculo liso, que são as características da hipertensão. Com isso, é fato que o aumento da massa corporal está associado à pressão arterial elevada, e a perda de peso em indivíduos hipertensos é geralmente acompanhada por uma redução na pressão arterial. HAS Relação qualitativa e quantitativa do IMC com HAS ↑ da produção de adipocinas = ↑ tônus simpático = potencializa a HAS ↑ atividade do SRAA: ↑ reabsorção de Na e água e do tônus simpático, causando sobrecarga de volume, alterações hemodinâmicas e maior incidência de DAC Obesidade relacionada a disfunção endotelial e vasoconstrição (TNF-α, IL-6) Síndrome metabólica O termo Síndrome Metabólica se refere a um conjunto de fatores de risco que aumentam as chances de desenvolver doenças cardíacas, AVE e diabetes. A obesidade é um dos principais fatores relacionados ao desenvolvimento dessa síndrome, já que um dos seus principais fatores é a resistência a insulina. Existem várias classificações que definem a Síndrome metabólica. No entanto, a mais usada é o da NCEP/ATP III. No quadro 4 está descrito os critérios diagnósticos dessa síndrome. Para termos o diagnóstico dessa síndrome, é necessário a presença de, pelo menos, três alterações. Pode-se notar que todos os critérios estão direta ou indiretamente relacionado com a obesidade. Para o tratamento dessa síndrome e por consequência melhora do risco cardiovascular, pontos fundamentais são a mudança do estilo de vida, com melhora da alimentação e exercícios físicos, visando uma maior perda de peso. Tabela 4. Critérios da NCEP/ATP III para o diagnóstico de Síndrome metabólica. PARÂMETRO NÚMERO DE ALTERAÇÕES ≥ 3 DE: Glicose ≥ 100 mg/dL ou em tratamento para hiperglicemia HDL-colesterol Homens: < 40 mg/dL ou em tratamento para HDL baixo Mulheres: < 50 mg/dL ou em tratamento para HDL baixo Triglicérides ≥ 150 mg/dL ou em tratamento para triglicérides elevados Obesidade Cintura ≥ 102 cm para homens ou ≥ 88 cm para mulheres Hipertensão ≥ 130 x 85 mmHg ou em tratamento medicamentoso para HAS Vias aéreas SAHOS: Sd. da apneia hipopneias obstrutiva do sono - ↑ da gordura, estreita a passagem do ar 10 Letícia M. Dutra SAOS leve SAOS moderada SAOS acentuada - SDE ao ler, ver TV - SDE em eventos socioculturais - SDE ao comer, conversar, andar ou dirigir - Alteração da função social e profissional discreta - Alteração da função social e profissional moderadamente - Alteração da função social e ocupacional - IAH: 5 -15 - IAH: 15 – 30 - IAH: > 30 ASMA: (inflamação tipo 2, IL-6, adipocinas, inflamação sistêmica), adicionado ao uso de cordicoides DoençaRenal A obesidade pode ocasionar doença renal devido a presença de adipocinas do “mal” (TNFα e IL-6), gerando a GESL (glomérulo esclerose segmentar e focal). O pct obesidade visceral, mesmo em ponto de compensação, pode fazer uma doença renal. Gineológicos SOP: Em condições normais: Hipófise produz LH que atua na camada da Teca, para estimular o colesterol entrar na via da esteroidogênese, aumentando ↑ progesterona e testosterona. Já o FSH faz a testosterona sair da teca, entrar na zona granulosa, onde a testosterona vai se transformar em estrona e estradiol. O FSH também estimula a ovulação Quando existe uma hiperinsulinemia/ RI, a insulina bloqueia o FSH, bloqueando assim a migração da testosterona para a granulosa, sendo assim a mulher não ovula e fica com vários cistos (que são os folículos que não conseguiram ovular). Podendo ocasionar alterações menstruais, amenorreia. Alterações dermatológicas associadas ao aumento da testosterona – HIPERANDROGENISMO: Hirsutismo Acne Calvice ↑ massa muscular Voz grosssa Clitoromegalia Oncológicos Diversos tipos de canceres apresentam um aumento em sua incidência diante de um excesso de peso. Dentre eles, podemos citar o câncer de esôfago, tireoide, cólon e rins, nos homens, e câncer de esôfago, endométrio, vesícula biliar e rins, em mulheres. A explicação fisiopatológica para isso ainda é desconhecida. No entanto, acredita-se que a hiperinsulinemia aumente os níveis do fator de crescimento semelhante à insulina (IGF-1), o que pode estimular o crescimento e a sobrevivência de muitos tipos de células malignas, através da ativação do seu receptor cognato, o IGF1R. Insulina: Mitogênica Antiapoptóica Fatores de crescimento “primer” Estimula β-catenina (não deixa a cel. entrar em apoptose) IGFBP-3 proteólise IGFBP: são proteínas ligadoras do IGF-1 (H. similar ao GH), que também estimulam cel. cancerígenas, na ↓ da proteína que liga ao IGF-1, tem-se mais IGF-1 livre, e o IGF-1 é: Mitogênico Atiapoptótico Pró-angiogênico Regula o tamanho das cél. ↑ migração celular Potencializa os fatores de crescimento A gordura aumenta a produção de estrona, que é um derivado do estradiol, e esses tumores possuem receptores de estradiol, o que potencializa o crescimento desses tumores Obs.: o uso de Insulina de forma terapêutica não está relacionado ao risco de câncer. 11 Letícia M. Dutra Esteatose Hepática Alterações das lipases, causando esteatose hepática, a partir de então, a gordura produz mediadores químicos que ↑ inflamação, o que vai causar uma esteatohepatite (↑TGO ↑TGP) Indicações de biópsia: Presença de esplenomegalia (sugestivo de cirrose) – hipertensão portal Tem estigmas periféricos de doença hepática crônica (sugestivo de cirrose) Citopenias (sugestivo de cirrose) Ferritina sérica > 1,5 vezes o limite superior do normal (sugestivo de NASH e fibrose avançada) > 45 anos de idade com obesidade associada ou DM (↑ risco de fibrose avançada) Reumatológicas DRGE COMPLICAÇÕES DA OBESIDADE Apneia obstrutiva do sono Esteatose hepática não alcoólica Colelitíase Síndrome metabólica Osteoartrites Câncer Doença arterial coronariana (DAC) Doença do Refluxo gastresofágico (DRGE) Para redução de 1kg precisa gastar 7 mil kcal a mais do que ingerido. Lembrar: pessoas que estão em dieta com muito carbo, tem resistência insulínica alta Insulina retém Na+, e com isso retém liquido, essas pessoas ao serem submetida com dietas com mais proteínas e baixo carbo, a insulina cai, e o liquido que estava retido é liberado, assim o peso diminui. TRATAMENTO NÃO-FARMACOLÓGICO A base para o tratamento da obesidade requer um manejo multidisciplinar. O ponto principal para a redução de peso é fornecer um aumento do gasto energético e uma redução do aporte calórico. Sendo que esse equilíbrio deve ser feito de forma individualizada e sob supervisão médica contínua para evitar complicações nutricionais. Portanto, o tratamento clínico se baseia na mudança dos hábitos de vida, incluindo reeducação alimentar e realização de exercícios. Além disso, em alguns casos, está indicado a terapia farmacológica adjuvante às mudanças dos hábitos de vida. 1. DIETA: Como uma das causas da obesidade é o consumo excessivo de alimentos calóricos, a dieta é fundamental no tratamento da obesidade. Atualmente, uma série de dietas vem sendo divulgadas, entretanto, no geral, o importante é a restrição calórica moderada, ingerindo de 1000 a 1500 kcal por dia. No entanto, esse número deve ser individualizado em relação a cada indivíduo. O objetivo final, é instituir uma dieta que leve a um deficit de 500 a 1.000 kcal, para com isso, diminuir cerca de 0,5 a 1 kg por semana. O ministério da saúde orienta que independe da dieta a ser seguida, devemos reduzir o consumo excessivo de açúcar, gordura saturada e sal. Aliado a isso, é imprescindível o consumo regular de frutas, verduras e legumes já que são fontes de vitaminas, sais minerais e fibras. 12 Letícia M. Dutra 2. ATIVIDADE FÍSICA: A realização de exercícios físicos regulares além de reduzir o peso, promove benefícios que vão além do controle da obesidade. Ela se constitui num componente importante da prevenção e tratamento da doença coronariana, da hipertensão arterial, das doenças musculoesqueléticas, das doenças respiratórias e da depressão. Entretanto, a atividade física deve ser feita com instrução profissional pelos riscos do excesso de atividade aeróbica em alguns pacientes cardiopatas. No geral, recomenda-se a prática de exercícios de no mínimo 30 minutos por dia, em pelo menos 5 dias por semana. Esse tempo pode ser dividido em sessões de 10 minutos. Para pacientes liberados para atividades mais intensas, é recomendado exercícios de 60 minutos diários, entre 3 a 5 dias por semana. 3. Psicoterapia: terapia cognitivo-somportamental e TTO de transtorno de humor: psicologia e psiquiatria 4. Controle metabólico e endocrinológico TRATAMENTO FARMACOLÓGICO Nem todos os pacientes obesos têm indicação de usar terapia farmacológica adjuvante. O uso de medicamentos pode ser feito em pacientes com IMC > 25 kg/m² ou adiposidade central ou androide, desde que tenha outras doenças associadas à obesidade. O uso de medicamentos também pode ser feitos em pacientes sem outras comorbidades, mas com IMC > 30 kg/m², na falência do tratamento não- farmacológico isoladamente. O objetivo do tratamento com medicamentos é a perda de 10% do peso corporal, o que determina melhora das complicações da obesidade, como diabetes e hipertensão arterial. INDICAÇÕES PARA INÍCIO DO USO DE TERAPIA MEDICAMENTOSA IMC > 25 kg/m² (sobrepeso) ou adiposidade central com alguma comorbidade associada. IMC > 30 kg/m² (obeso), mesmo sem comorbidades, sem resposta adequada do tratamento não-farmacológico. TTO + MEV Critérios de eficácia Perda de 5% do peso inicial ou maior que o dobro do placebo após 12 semanas de TTO (FDA) Perda de 10% do peso inicial após 12 semanas de TTO (CPMP – Committe for Proprietary Medicinal Products) Perda de peso: idealmente mantida por pelo menos 1 ano e ser acompanhada de melhora dos parâmetros metabólicos Não alcança meta de 5% de perda de peso inicial: suspensão da medicação (risco x benefício) Podemos dividir os principais fármacos usados para tratamento da obesidade em três grupos: Medicamentos anorexiantes, Sacietógenos adrenérgicos e serotoninérgicos e os Redutores da absorção de gorduras. Medicações On Label no Brasil: Sibutramina, orlistate, Lorcasserina e Liraglutida Os medicamentos termogênicos, como efedrina, metilxantinas, fenilpropanolamina, e cafeína, não são usados para tratamento da obesidade. Sibutramina Ela atua bloqueando a recaptação de noradrenalina (NE) e de serotonina(SE) (IRNS), induzindo a perda de apetite. Estimula a POMC/CART e inibe AgRP = aumenta a saciedade e inibe a fome no centro hipotalâmico Ativa Rβ-adrenérgicos periférico: estimula a termogênsese (ação 2ª na perda de peso) Promove a perda de 4 a 6 kg em 6 meses. (Estudo: 69% conseguiram manter a perda de peso a longo prazo) Eficácia: Importante impacto metabólico: ↓ nos valores de TG, VLDL, insulina e peptídeo C, ác. úrico, ↑ do HDL – proporcionais a perda de peso Pode levar a uma pequena elevação média de 3-5 mmHg na PAD e de 2 a 4 bpm na FC. Por conta disso, se indicada para pacientes hipertensos, eles devem ser cuidadosamente monitorados. Contra-indicações: ICC, DAC, IAM, AIT, HAS mal controlada (> 145 x 90) e alto risco cardiovascular. Transtornos alimentares e psiquiátricos mal controlados. Extremos de idade (<12 ou > 69) – Bula 18 a 65 anos não respondem à medicação. DAC + DM = ↑ riscos de eventos CVs Receita B2 (termo com todas as contra-indicações) Colidrato de Sibutramina: Biomag, Sibus, Nolipo, Sigran, Slenfig, Vazy Efeitos colaterais: Boca seca, constipação, insônia, ↑FC, ↑PA, palpitações. - Vasodilatação, náuseas, calor, formigamento, cefaleia, ansiedade, suor intenso e alterações no paladar. Posoglogia: 10 – 15 mg/dia – pico em 3 horas Iniciar com 10 mg – se necessário aumentar para 15 mg A dose inicial recomendada é de 1 cápsula de 10 mg/dia VO, pela manhã – com ou sem alimentos (pela manhã, devido ao aumento da via β adrenérgica, o que poderia atrapalhar o sono) Caso a pessoa não perca pelo menos 2Kg nas primeiras 4 semanas de TTO, pode ser necessário aumentar a dose para 15 mg O TTO deve ser descontinuado em pessoas que não respondem à terapia de perda de peso após 4 semanas com dose diária de 15 mg R$ 30 a 60 /mês Figura 5: Mecanismo de ação da Sibutramina. Fonte: Clínica médica, Vol 5, 2016. 13 Letícia M. Dutra Orlistate Análogo da lipstatina, inibidor de lipases pancreática e gástrica. Ele funciona impedindo a digestão de cerca de 1/3 dos triglicérides ingeridos. Com isso, os triglicerídeos que não são absorvidos pelo intestino, são eliminados nas fezes. Esse mesmo mecanismo, pode levar a esteatorreia, flatos e urgência fecal. Além disso, devido a disabsorção, pode ocorrer deficiência de vitaminas lipossolúveis (A, D, E K). Pode ser necessário reduzir dose da Warfarina Redução significativa na evolução para DM2 (37%), redução do LDL Ele não possui efeitos cardiovasculares significativos e leva a perda de cerca de 10% do peso em 1 ano de tratamento. 1 comprimido/dia antes ou até 1 hora após a principal refeição (até 3x/dia – caso tenha ingestão de gordura) Pode ser usado a partir dos 12 anos Preço: 42 cp R$ 80 a 120 – uso 3x dia = + 200/mês CI: Sd. da má absorção cônica, colestase Efeitos colaterais: Urgência e incontinência fecal, flatulência com perda de fezes gordurosas e aumento da defecação Cálculos por oxalato de Ca Efeitos geralmente são: transitórios nos 3 primeiros meses do TTO - Alguns efeitos aumentam com maior ingesta de gorduras efeito educador! Lorcasserina Mecanismo de ação: agonista seletivo do R 5-HT2C (seratoninérgico) - Ação central: Inibe o apetite e aumenta a saciedade Atua nos R POMC no núcleo arqueado Eficácia: efeito significativo na perda de peso Melhora significativamente: PA, FC, perfil lipodico, GJ, insulina, PCR, fibrinogênio, redução da Hb glicada Contra indicações: Uso de medicações antidepressivas ou com efeito seratoninérgico cuidado com associação com Sibutramina Gestantes <18 anos Não é Recomendado pra ClCr <30 nem child C Valvopatia não é CI Posologia: - Belviq ® - 10 mg 2x/dia R$ 300 /mês Efeitos colaterais: Cefaleia, Náusea, Vertigem, Boca seca, Constipação, fadiga, hipoglicemia, dorsalgia, tosse Liraglutida Agonista do peptídeo semelhante ao glucagon-1 (GLP-1), ação hipotalâmica ativando as vias anorexígênicas. Efeito: ↑ saciedade, em centros ligados ao prazer e recompensa e ação na (↓) velocidade do esvaziamento gástrico. Eficácia: Perda de peso – 5,4% ↓ níveis glicêmicos: HbA1c, GJ, insulina Melhora os parâmetros cardimetabólicos (PA, perfil lipídico) ↓ mortalidade CV Uso para DM2 (doses mais baixas) e obesidade (doses mais altas). CI: Antecedentes pessoal ou familiar de CMT (carcinoma medular de Tireoide) ou NEM 2ª ou 2B. Associada a tumores benignos ou malignos de cél C (roedores) Gestação Efeitos adversos: náuseas, vômitos e até diarreia e constipação, ITU Dose máxima: Saxenda: (3,0 mg) Victoza: (1,8 mg) Posologia: dose inicial: 0,6 mg – 1,2 mg – 1,8 mg Titulada em 4 semanas até 3 mg/1 x dia via SC (recomendada) Aprovada: TTO de DM2 (2010) benéfica em até 1,8 mg/dia. Aprovada para o TTO de obesidade (até 3,0 mg) em pacientes não diabéticos em 2014 pela FDA – pela ANVISA em 2016 Preço: R$ 500,00 a 800,00 14 Letícia M. Dutra Anorexígenos Essas medicações possuem efeito central catecolaminérgico, promovendo o aumento da liberação fatores adrenérgicos na fenda sináptica ou agindo diretamente no estímulo hipotalâmico. Fenproporex, Mazindol e Dietilpropiona. Eles proporcionam uma perda de peso entre 9 a 15 Kg em cerca de 3 meses. No entanto, possuem vários efeitos cardiovasculares, não sendo indicado como primeira opção. Recomendações gerais: Qualquer uma dessas 4 medicações podem ser associadas (cuidado com associação Sibutramina e Lorcasserina) Evitar uso de medicações manipuladas Fármacos “off-label” Não são medicações especificas para TTO de obesidade (não estão na bula para essa finalidade), mas existem estudos que provam de sua eficácia. Algumas medicações como bupropiona, fluoxetina e metformina, também conseguem produzir perda de peso, apesar de não serem aprovadas para essa finalidade. Geralmente elas são usadas para tratamento de comorbidades associadas a obesidade e levam também ao efeito favorável de perda de peso. O uso do Off-Label deve ser considerado quando o paciente ficou refratário (não resolveu/ não foi tolerado) ao TTO padrão. As medicações utilizadas são: Topiramato, Bupropiona + Naltraxona e Lisdexanfetamina. Topiramato Anticonvulsivante Aumenta a capacidade do GABA em ativar os receptores GABAa (GABAergicos); resultando no aumento do limiar convulsivo, atua também em R GABA no hipotálamo que regulam a fome e saciedade. Inibição do glutamato: ↓ apetite e ansiedade Melhora a sensibilidade a leptina (fazendo com que ↑ saciedade); Inibição da anidrase carbônica (↑ humor aquoso = miopia aguda, piora no glaucoma. Cálculos renais) Inibe canais de Na e Ca voltagem dependente (↓convulsão) Resumindo: potencializa a via anorexigênica e reduz a via orexigênica Os efeitos para perda de peso são dose dependente (até 200 mg) Efeitos colaterais (dose dependente): parestesia extremidades, disfunções cognitivas (sonolência, esquecimento, déficit de concentração), cefaleia não enxaquecosa, constipação intestinal/ diarreia, boca seca, náuseas, teratogênico (fendas orais) e reduz efeitos de anticoncepcionais, (inibidor fraco da anidrase carbônica ↑ pH da urina calculo de fosfato de Ca, ou seja, precipita o cálculo renal); Miopia aguda e glaucoma de ângulo fechado (surge geralmente no 1º mês de uso e é reversível com a interrupção da medicação) Contra-indicações: nefrolitíase, glaucoma, gestação/ amamentação, insuficiência hepática. Posologia: Inicia-se com 25 mg a noite – aumentar de forma progressiva em 25 mg a cada 1 a 2 semanas conforme tolerado. Evitar dose acima de 200 mg/dia. - 25 mg – caixa com 60 comp R$ 40,00 - 50 mg – caixa com 60 comp R$ 65,00 - 100 mg – caixa com 60 comp R$ 125,00 Bupropiona + naltrexona 1. Bupropiona: antidepressivo ↑ dopamina e norepinefrina: estimula ativaçãode POMC (inibe o apetite) - Neurônios POMC: clivam em α-MSH e β-endorfina α-MSH: ativa MC4R e as vias de gasto energético – superando a resistência a leptina, ↑ gasto energético e ↓ apetite β-endorfina: ↑ apetite Resumindo, os efeitos se igualam, não causando assim grandes efeitos na perda de peso. Sendo necessário utilizar o Naltrexona como antagonista β-endorfina. Efeitos colaterais: insônia, náuseas, boca seca ansiedade, dor abdominal, constipação, palpitações, ↑PA, ↓ limiar convulsivo, Rash ou prurido. 2. Naltrexona: Antagonista do R opioide. Aprovado no TTO da dependência de opiáceos e do álcool. Inibe a β-endorfina e assim a Bupropiona continua estimulando a POMC, estimula o α-MSH e inibe a fome. (↓ auto-inibição da POMC medida pela β-endorfina) Efeitos colaterais: insônia, náuseas, ressaca. Bupropiona + naltrexona – CI: convulsão, epilepsia, uso de inibidores da MAO nos últimos 14 dias, anorexia ou bulimia, uso crônico de opióides, uso de antidepressivos seretoninérgicos, tentativa de cessa alcoolismo, catecolaminérgicos (↑ palpitação) Posologia: Iniciar: 1 comp. Naltrexona 8 mg/Bupropiona 90 mg 1 Semana: 1 comprimido cedo (1 – 0 – 0) 2 Semana: 1 comprimido 2x dia (1 – 0 – 1) 3 Semana: 2 comprimidos de manhã e 1 à noite (2 – 0 – 1) 4 Semana: 2 comprimido 2x dia (2 – 0 – 2) Dose total diária: Naltrexona 32 mg/ Bupropiona 360 mg Devido à náusea deve titulas a dose de Naltrexona Preço: Bup, Zyban, Bupium, Zetron e Wellbutrin XL - 150 mg – caixa com 60 comp R$ 40,00 a 150,00 - 300 mg – caixa com 60 comp R$ 100,00 a 180,00 Preço: Contrave (não vende no BR) - 8 m/ 90 mg – caixa com 120 comp R$ 330,00 - Revia: 50 mg – caixa com 30 comp R$ 270,00 - Uninaltrex: 50 mg – caixa com 30 comp R$ 110,00 15 Letícia M. Dutra Lisdexanfetamina (Venvanse ®) Indicações: 1º fármaco aprovado pelo FDA para TTO de TCAP (transtorno da compulsão alimentar periódica). Inicialmente era apenas para TDAH. - TCAP: 0,7 – 4% da população geral - TCAP: Até 75% em pacientes de programas de controle de peso Mecanismo de ação: inibe a recaptação de noradrenalina e dopamina (similar as anfetaminas) ↑ saciedade e controla os impulsos de compulsão alimentar Eficaz para reduzir episódios e gravidade de TCAP (significativamente com dose 50 a 70 mg) Melhora qualidade de vida (controle da compulsão alimentar) ↓ do peso em todas as doses Efeitos colaterais: exacerbação de psicoses pré- existentes, sintomas psicóticos, agitação/agressividade, possível indução de episódio maníaco em pacientes bipolares, maior risco de crises convulsivas, ↑ potencial de riscos cardiovascular Contraindicações: histórico de abuso de drogas, cardiopatias, coronariopatias, hipertireoidismo, uso de inibidores da MAO nos últimos 14 dias, HAS mal controlada, estados de agitação, glaucoma Posologia: 1º Mês: 30 mg/dia 2º Mês: 50 mg/dia, se necessário 3º Mês: 70 mg/dia (Usar pela manhã, para evitar insônia) Preço: Venvanse ® - 30 mg – caixa com 28 comp R$ 270,00 - 50 mg – caixa com 28 comp R$ 330,00 - 70 mg – caixa com 28 comp R$ 360,00 Recomendações gerais: Qualquer uma dessas medicações podem ser associadas entre si e também com as medicações on label Cuidado com uso dos serotoninérgicos associados Evitar uso de medicações manipuladas Formulas para emagrecer, que misturam vários componentes como: T4, T3, diuréticos, fitoterápicos, ansiolíticos, etc; não são considetados TTO off-label são TTO PREJUDICIAIS, sua prescrição é antiética e considerada má prática médica. TRATAMENTO CIRÚRGICO Outra modalidade de tratamento para a obesidade é a cirurgia. Muitos pacientes apresentam reganho de peso ou falha da terapia medicamentosa, sendo então indicado o tratamento cirúrgico. Dessa forma, a cirurgia está indicada para aqueles pacientes que tenham IMC ≥ 40 kg/m² e que tentaram tratamento clínico por mais de 2 anos consecutivos sem sucesso. Além disso, também pode-se indicar o tratamento cirúrgico para pacientes que tenham IMC > 35 kg/m2, mas que apresentem pelo menos uma das principais comorbidades: diabetes mellitus, hipertensão arterial sistêmica, apneia do sono ou artrose. Veja no quadro 5 as indicações e contraindicações para o procedimento. INDICAÇÕES E CONTRAINDICAÇÕES PARA O TTO CIRÚRGICO DA OBESIDADE INDICAÇÕES CONTRAINDICAÇÕES Pacientes com IMC ≥ 40 kg/m² (Obesidade Grau III) Uso abusivo de álcool ou drogas Pacientes com IMC≥ 35 kg/m² (Obesidade Grau II) com comorbidades associadas Quadros psicóticos, demências moderadas ou graves não controlados Limitação intelectual significativa sem suporte familiar adequado Maiores de 18 anos (Idosos e jovens com idade < 18 anos deve-se avaliar o custo/benefício) Doenças cardiopulmonares graves e descompensada Obesidade estável há 5 anos Hipertensão portal com varizes esofagogástricas Tratamento clínico há 2 anos, não eficaz Tumores endócrinos não tratados A cirurgia para tratamento da obesidade pode ser feita por via laparoscópica ou por laparotomia. Podemos dividir as técnicas em: Restritivas: apenas reduz o tamanho do estômago; Desabsortivas que levam a má absorção de alimentos e desnutrição; Técnicas mistas que promovem tanto a restrição do tamanho do estômago, quanto a disabsorção dos alimentos. Devido à grande desnutrição promovida, as técnicas puramente desabsortivas não são mais utilizadas. TÉCNICAS RESTRITIVAS Apenas reduz o tamanho do estômago -> leva à saciedade precoce Mais simples, menos invasiva, menor risco Funciona melhor para pacientes consumidores de grande volume de alimentos. Tem a vantagem de não necessitar de reposição vitamínica. Efetividade em termos de perda de peso bem menor do que as técnicas disabsortivas. As principais são o balão gástrico, a banda gástrica ajustável e o sleeve gástrico. Balão gástrico: Esse procedimento é feito via endoscopia, onde é colocado um balão com cerca de 600 ml no estômago, com isso, tem-se uma redução da ingesta de alimentos. No entanto, esse balão só pode permanecer por 6 meses, além de não ter tanta eficácia na perda de peso. 16 Letícia M. Dutra Banda gástrica ajustável: Essa técnica pode ser realizada via aberta ou fechada. Nesses casos, coloca-se uma fita ao redor do estômago, dando- lhe um formato semelhante a uma ampulheta. Devido ao rápido preenchimento da parte superior da fita, ocorre o sinal de saciedade. O grande problema dessa técnica é que essa fita pode erodir a parede do estômago, levando a complicações. Sleeve gástrico: Também é conhecida como gastrectomia vertical ou em manga. Nesses casos, se faz o grampeamento do estômago, isolando toda a parte da grande curvatura. Com isso, o volume do estômago fica menor, levando a saciedade precoce. Como se retira o fundo gástrico, também há redução da produção de grelina, hormônio que induz a fome. TÉCNICAS DISABSORTIVAS Levam a má absorção de alimentos e desnutrição Devido a grande desnutrição promovida, as técnicas puramente desabsortivas não são mais utilizadas Alteram pouco o tamanho e a capacidade do estômago em receber alimentos. Alteram drasticamente a absorção de alimentos a nível de intestino delgado Causam disabsorção e, portanto, requerem um seguimento com reposição de vitaminas e minerais conforme a técnica utilizada TÉCNICAS MISTAS Promovem tanto a restrição do tamanho do estômago (saciedade), quanto a desabsorção dos alimentos São consideradas as cirurgias de ouro, são cirurgias que apresentam elevados índices de satisfação, excelente controle das doenças associadas, excelente manutenção do peso perdido a longo prazo. São cirurgias mais realizadas no Brasil e no mundo. Apesar de terem um componente restritivo e outro desabsortivo, essas técnicas são predominantemente desabsortivas. As principais técnicas são a derivação gástricaem Y de Roux, derivação biliopancreática com gastrectomia horizontal e a derivação biliopancreática com gastrectomia vertical. Derivação gástrica em Y de Roux: Esse é o tipo de cirurgia mais realizada no mundo para o tratamento da obesidade e também é conhecida como Fobi capela. Nessa cirurgia é feito um grampeamento da pequena curvatura do estômago, excluindo o resto desse órgão. Após isso, realiza-se a reconstrução do trânsito com uma gastrojejunostomia, ou seja, entre o jejuno e a pequena bolsa de estômago formada. Com a técnica do Y de Roux, faz-se a transecção do jejuno em torno de 60 cm após o ligamento de Treitz e então, faz- se uma enteroenteroanastomose, formando uma alça em Y Figura 6. Esquema da cirurgia de derivação gástrica em Y de Roux (Fobi-Capela). Fonte: Clínica médica, Vol 5, 2016. Derivação biliopancreática com gastrectomia horizontal: Esse procedimento também é chamado de cirurgia de Scopinaro. Nesses casos, faz-se uma gastrectomia horizontal, exclui todo o jejuno e parte do íleo e cria uma alça intestinal comum de 50 cm. A reconstrução do trânsito também é feita em Y de Roux, excluindo cerca de 2 metros de intestino. O grande problema dessa cirurgia, é que é muito desabsortiva, já que exclui grande parte do intestino delgado. Isso pode levar a altos graus de desnutrição, má absorção lipídica, além de complicações pós-cirúrgicas. Figura 7. Esquema da cirurgia de Scopinaro. Fonte: SABISTON. 19.ed. Saunders. Elsevier Derivação biliopancreática com gastrectomia vertical: Essa cirurgia é uma adaptação da anterior e também é chamada de Duodenal Switch. No entanto, aqui, é feito uma gastrectomia vertical com preservação do piloro. Mas também é feita uma anastomose entre o íleo e a primeira porção do duodeno, mas a alça intestinal comum é um pouco mais longa (de 75 a 100 cm). Devido ao fato de deixar uma alça comum maior do que na cirurgia de Scopinaro, os efeitos colaterais são menores. Mas ainda existem. 17 Letícia M. Dutra Figura 8. Esquema da cirurgia de Duodenal Switch. Fonte: SABISTON. 19.ed. Saunders. Elsevier FLUXOGRAMA TRATAMENTO DA OBESIDADE EXERCÍCIOS FÍSICOS E DIETA ↓ Hábitos saudáveis ↓ OBESIDADE ↓ ↓ ↓ IMC ≥ 30 kg/m² IMC ≥ 35 kg/m² IMC ≥ 40 kg/m² Ausência de comorbidades: Presença de comorbidades Ausência de comorbidades: Presença de comorbidades ↓ Reforço a mudanças no estilo de vida ↓ ↓ Hábitos saudáveis + terapia medicamentosa ↓ ↓ Cirurgia OBESIDADE Complicações Apneia obstrutiva do sono Síndrome metabólica Esteatose hepática não alcoólica DAC Outros Fisiopatologia Desequilíbrio entre a ingesta e o gasto calórico Tratamento Mudanças no estilo de vida Sibutramina Orlistate Cirurgia Diagnóstico IMC Avaliação indireta Relação Cintura/Altura Relação Cintura/Quadril Distribuição de gordura corporal Cintura abdominal . 18 Letícia M. Dutra Desnutrição e subnutrição Subnutrição: deficiência nutricional por falta de ingesta alimentar principalmente. Desnutrição: deficiência nutricional por falta de ingesta de nutrientes, problemas de absorção/digestão. Causas primárias: consumo de alimentos inadequados ou de baixa qualidade Causas secundárias: doenças que alteram o consumo de alimentos ou nutrientes necessários, seu metabolismo ou sua absorção doenças que causam inflamação aguda ou crônica. Desnutrição energético-proteica: Marasmo: menores de 12 anos, emagrecimento acentuado, baixa atividade, irritabilidade, atrofia muscular e subcutânea, desaparecimento da bola de Bichat, fácies senil, costelas visíveis, nádegas hipotróficas, sinais de fome! Dietas pobres em energia, com inflamação mínima, levam à gradual erosão da massa corporal, resultando no Marasmo clássico. Kwashiorkor: crianças menores de 2 anos, alterações de pele, acometimento de cabelos, hepatomegalia, ascite, face de lua, edema ou anasarca, apatia. Dieta nutricional pobre em proteínas comprometimento do crescimento. Ou devido a inflamação de doenças agudas: sepse, HIV, câncer (correm a massa corporal escassa, mesmo na presença de ingestão alimentar). Obesidade e desnutrição A desnutrição nem sempre está associada a magreza, pacientes obesos podem apresentar deficiência nutricional. Nesse caso, eles até consomem muitas calorias, mas não uma variedade de nutrientes, ou seja, ele está desnutrido do ponto de vista de micronutrientes e oferta de proteínas. Além disso, pacientes obesos que fazem dieta por conta própria, podem apresentar carência nutricional. O paciente pode até perder peso, mas muitas vezes acaba voltando ao peso original sem recuperar os nutrientes que perdeu na dieta. . 19 Letícia M. Dutra Transtornos alimentares Definição: Condição médica grave, marcada por alterações disfuncionais no comportamento alimentar. Obsessão com comida, peso corporal, forma O transtorno afeta a saúde física e mental Não é um estilo de vida Pessoas podem aparentar serem saudáveis, ainda que estejam extremamente doentes Os Transtornos Alimentares apresentam as maiores taxas de complicações clínicas dentre os Transtornos Psiquiátricos Elevadas taxas de mortalidade e de comorbidade Etiologia Combinação de fatores genéticos, biológicos, comportamentais, psicológicos e sociais padrões de beleza impostos culturalmente (ciclo vicioso entre a busca e frustrações). Transtorno de Compulsão Alimentar (mais comum) Definição: “Bulimia sem purgação” (menos grave) Epidemiologia: 1,9% na população geral 30% em obesos 50% dos pacientes de cirurgia bariátrica 4. 1,5 M:1 H Características: Ocorrem em crianças e estão associadas a maior gordura corporal, ganho de peso e mais sintomas psicológicos Pode representar uma fase prodrômica dos transtornos alimentares O transtorno começa, em geral, na adolescência ou na idade adulta jovem, mas pode ter início na idade adulta A mudança diagnóstica de transtorno de compulsão alimentar para outros transtornos alimentares é incomum Ocorre em indivíduos de peso normal ou com sobrepeso e obesos É normalmente associado ao sobrepeso e à obesidade em indivíduos que buscam tratamento. Contudo é distinto da obesidade Comparados a indivíduos obesos sem transtorno de compulsão alimentar, aqueles com transtorno consomem mais calorias em estudos laboratoriais do comportamento alimentar e têm mais prejuízo funcional, qualidade de vida inferior, mais sofrimento subjetivo e maior comorbidade psiquiátrica Critérios Diagnósticos: - Transtorno de compulsão alimentar 1.Episódios recorrentes de compulsão alimentar. Um episódio de compulsão alimentar é caracterizado pelos seguintes aspectos: Ingestão em um breve período de tempo, uma quantidade de alimento definitivamente maior do que a maioria das pessoa consumiria no mesmo período sob circunstancias semelhantes, Sensação de falta de controle sobre a ingestão 2. Os episódios de compulsão alimentar estão associados a 3 ou mais dos seguintes aspectos: Comer mais rapidamente do que o normal Comer até se sentir desconfortável, “cheio” Comer grandes quantidades de alimentos na ausência da sensação física de fome Comer sozinho por vergonha do quanto se está comento Sentir-se desgostoso de si mesmo, deprimido ou muito culpado em seguida Sofrimento marcante em virtude de compulsão alimentar 3. Episódios de compulsão alimentar ocorrem, em média, ao menos uma vez por semana durante 3 meses, 4.A compulsão alimentar não está associada ao uso recorrente de comportamento compensatório inapropriado como bulimia nervosa e não ocorre exclusivamente durante o curso de bulimia nervosa ou anorexia nervosa. Diagnóstico Diferencial 1. Bulimia nervosa: Comer compulsivo recorrente 2. Em termosde apresentação clínica, o comportamento compensatório inapropriado (ex: purgação, exercício excessivo) visto na bulimia nervosa está ausente no transtorno de compulsão alimentar 3. Diferentemente de indivíduos com bulimia nervosa, aqueles com transtorno de compulsão alimentar não costumam exibir restrição dietética marcante ou voltada para influenciar o peso e a forma corporal entre os episódios de comer compulsivo. Eles podem, no entanto, relatar tentativas frequentes de fazer dieta. 4. As taxas de melhora são consistentemente maiores entre indivíduos com transtorno de compulsão alimentar do que entre aqueles com bulimia nervosa 20 Letícia M. Dutra Tratamento: 1. Equipe multidisciplinar: médicos, nutricionistas, psicólogos, educador físico 2. Psicoterapia (TCC é uma das linhas mais estudadas) 3. Medicações ISRS (fluoxetina) Topiramato Lisdexanfetamina (venvanse) OBS: NÃO usar Sibutramina (problemas cardíacos e AVC – aumento da PA e FC, problemas psiquiátricos) OBS 2: Orlistat eficaz na obesidade mas teve efeito igual a placebo em binge (compulsão). Erro alimentar São distúrbios digestivos desencadeados por hábitos inadequados. Sensação de queimação, azia, prisão de ventre, dor abdominal, gastrite ou até inchaços. Segundo a OMS 20% da população mundial sofre com problemas do TGI, sendo que 90% não procuram ajuda médica, e recorrem a automedicação. Alguns hábitos podem ser evitados a fim de evitar o desconforto, como por exemplo: Hábito de comer assistindo televisão, discutindo negócios, resolvendo conflitos, entre outros, tira o foco do principal: a refeição. Passa-se a ingerir em quantidade e/ou qualidade não ideal, motivando outros problemas além do desconforto digestivo. Evitar o excesso de frituras, gorduras, condimentos, bebidas alcoólicas, café e doces Mastigar bem os alimentos Comer a cada 3 horas, sem pular refeições Beber água Adicionar chás Grãos na dieta Adicionar vegetais na dieta Estresse controlado, refeição em família Evitar industrializados e frituras Saúde bucal: problemas na boca dificultam a boa alimentação Questões de higiene
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