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NEFRITE LÚPICA DISCENTES: ADRIELY S. P. BLANDINO E BRUNA B. F. CAMPELO UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS FACULDADE DE MEDICINA PROPEDÊUTICA MÉDICA II: ANATOMIA PATOLÓGICA II MACEIÓ, 2021 LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO (LES) ● LES é uma doença inflamatória autoimune, multissistêmica ● Cursa com focos inflamatórios em vários tecidos e órgãos: pele, articulações, serosas, glomérulos e o SNC. ● Períodos de exacerbações e remissões. ● A NEFRITE LÚPICA é uma complicação frequente no LES. O envolvimento renal nesta colagenose se dá principalmente nos glomérulos - onde se depositam os imunocomplexos produzidos durante a atividade da doença. ● Outras estruturas renais também podem ser afetadas (vasos sanguíneos, túbulos e interstício). EPIDEMIOLOGIA A Nefrite Lúpica é uma complicação em pacientes com LES: acomete cerca de 25-50% dos pacientes; Embora o LSE seja de 6 a 13 vezes mais prevalente em mulheres do que em homens, LN é ligeiramente mais prevalente em pacientes do sexo masculino do que do sexo feminino. Prevalência por raça: ● Preto (34-51%) ● Hispânicos (31-49%) ● Asiático (33-82%) ● Brancos (14-23%) FATORES DE RISCO POLIMORFISMOS GENÉTICOS TABAGISMO EXPOSIÇÃO A PESTICIDAS/AGENTES INDUSTRIAIS INFECÇÕES EXPOSIÇÃO PROLONGADA À LUZ UV PATOGÊNESE E PATOLOGIA Formação de imunocomplexos → deposição glomerular → ativação do complemento → quimiotaxia de células inflamatórias. No LES, há uma alteração crônica do sistema imunológico, que resulta em aumento da quantidade de linfócitos autorreativos, levando ao aumento da produção de células B e da produção leucocitária de citocinas pró-inflamatórias. Os imunocomplexos podem chegar até os glomérulos pela circulação ou então se formarem diretamente nestes (formação in situ). A deposição desses imunocomplexos leva à ativação do sistema complemento e recrutamento das células do sistema imune, gerando uma ativação constante e aumento da produção de citocinas pró-inflamatórias. PATOGÊNESE E PATOLOGIA Imunocomplexo: DNA dupla-hélice + autoanticorpo (o anti-DNAds). Depósitos de IgG, IgM e IgA. Ativação do complemento: depósitos de C3, C4 e C1q (envolvimento tanto da via clássica (C4) quanto da via alternativa (C3)). A inflamação intra-renal pode danificar os podócitos e os capilares glomerulares, levando ao aumento da proliferação das células parietais epiteliais, bem como das células mesangiais e da matriz extracelular. Histopatologia é variável: capacidade de mudança (em 15-40% dos casos), com evolução ou involução do padrão histológico, de forma espontânea ou terapêutica. CLASSIFICAÇÃO (ISN/RPS 2004) Nefrite lúpica mesangial mínima Nefrite lúpica mesangioproliferativa Nefrite lúpica difusa Nefrite lúpica membranosa Nefrite lúpica proliferativa focal Nefrite lúpica esclerosante avançada I II III IV V VI EVOLUÇÃO DA DOENÇA São lesões morfológicas e apresentações clínicas distintas, e a doença pode ter início por qualquer classe. Ao contrário do que ocorre na diabetes, as classes da nefrite lúpica NÃO seguem uma sequência. A classe mais grave é a IV, que rapidamente evolui para a classe VI. Quando a nefrite lúpica se inicia por outra classe além da IV, a evolução tende a ser mais lenta. NEFRITE LÚPICA MESANGIAL MÍNIMAI Classe I: GN mesangial mínima - Ausência de alterações à microscopia óptica - Depósitos mesangiais na imunofluorescência e na microscopia eletrônica. - O prognóstico é excelente e não requer terapêutica específica para o dano renal. Classe II: GN mesangial com expansão de matriz ou celularidade mesangial de qualquer grau à microscopia óptica - Elevação na matriz mesangial - Hipercelularidade puramente mesangial em qualquer grau ou expansão da matriz mesangial à microscopia óptica, com imunodepósitos mesangiais de Ig e complemento - Sem tratamento específico. - Se surgirem indícios clínicos, deve ser realizada uma nova biópsia para avaliar mudança de classe. NEFRITE LÚPICA MESANGIOPROLIFERATIVAII NEFRITE LÚPICA MESANGIOPROLIFERATIVAII Microscopia Eletrônica: Depósitos mesangiais de imunocomplexos (poucos IC estáveis de tamanho intermediário, que são removidos da luz capilar e degradados no mesângio). Imunofluorescência: Depósitos granulares mesangiais de imunoglobulinas (IgG, IgA, IgM) e complemento (C1, C3, C5) – lesão “full house” ou “casa cheia”. Classe III: À Microscopia Óptica: - Proliferação celular endotelial e mesangial; - Exsudação de neutrófilos (processo inflamatório); - Necrose fibrinoide; - Trombos hialinos. - Inchaço glomerular focal e segmentar NEFRITE LÚPICA PROLIFERATIVA FOCALIII NEFRITE LÚPICA PROLIFERATIVA FOCALIII Microscopia Eletrônica: Depósitos grosseiros de imunocomplexos no mesângio. Imunofluorescência: Depósitos grosseiros granulares do tipo full house. A glomerulonefrite proliferativa focal (classe III) pode ser classificada em: III (A) → lesões ativas: nefrite lúpica focal proliferativa. III (A/C) → lesões ativas e crônicas: nefrite lúpica focal proliferativa e esclerosante. III (C) → lesões crônicas inativas com cicatrizes glomerulares: nefrite lúpica focal esclerosante. CLASSE IV: - Proliferação endotelial e mesangial na maioria dos glomérulo e, às vezes, células epiteliais da cápsula de Bowman - Depósitos de imunocomplexos subendoteliais - Forma mais grave, pior prognostico Por ser uma glomerulonefrite difusa, a maioria dos glomérulos (≥ 50%) está comprometida. NEFRITE LÚPICA DIFUSAIV NEFRITE LÚPICA DIFUSAIV Quando ocorre proliferação das células da cápsula de Bowman, caracteriza-se a Glomerulonefrite Rapidamente Progressiva (GNRP). NEFRITE LÚPICA DIFUSAIV Imunofluorescência: Como na classe IV há depósitos subendoteliais, observa-se esses depósitos formando o desenho dos capilares e também localizados na região mesangial. Microscopia eletrônica: É possível visualizar os depósitos subendoteliais de imunocomplexos, como apontado na imagem ao lado pelas setas. NEFRITE LÚPICA DIFUSAIV S-A – GN proliferativa segmentar difusa; lesões ativas G-A – GN proliferativa global difusa; lesões ativas S-A/C – GN proliferativa segmentar difusa; lesões ativas e crônicas G -A/C – GN proliferativa global difusa; lesões ativas e crônicas S-C – GN proliferativa segmentar difusa; lesões crônicas com cicatrizes G-C – nefrite lúpica global difusa; lesões crônicas com cicatrizes S- mais de 50% de glomérulos com lesões segmentares G - mais de 50% de glomérulos com lesões globais CLASSE V: - Glomerulonefrite membranosa - Depósitos subendoteliais não visíveis por - Microscopia óptica: membrana basal glomerular (MBG) serve como um antígeno, e são produzidos anticorpos anti-MBG, que levam à formação de imunocomplexos in situ. - Comprometimento predominantemente membranoso, e não há ativação de mediadores inflamatórios. Pode apresentar-se de forma isolada ou associada às classes anteriores. O quadro clínico é marcado principalmente por síndrome nefrótica. NEFRITE LÚPICA MEMBRANOSAV NEFRITE LÚPICA MEMBRANOSAV Microscopia eletrônica: Depósitos eletrodensos intramembranosos e subepiteliais separados entre si por projeções dessa membrana (espículas ou spikes). Imunofluorescência: Depósitos intramembranosos e subepiteliais do tipo full house. Classe VI: - É a classe final do LES - Paciente encontra-se com insuficiência renal crônica necessitando de hemodiálise. - À Microscopia óptica: mais de 90% dos glomérulos estão esclerosados, sem atividade residual. NEFRITE LÚPICA ESCLEROSANTE AVANÇADAVI DIAGNÓSTICO Exames de sangue: avaliar os níveis de creatinina sérica; Exame de urina: avaliar presença de proteinúria e hematúria; Monitorização dos níveis séricos do anticorpo anti-DNAds e também os níveis séricos do complemento total (CH50) e seus componentes (C3 e C4); Biópsia renal: análise histológica para determinar a proporção dos glomérulos que são afetados e o tipo de lesão renal (intraglomerular, extraglomerular e / outubulointersticial); Achados da NL: deposição de complexo imune (IC), hipercelularidade endocapilar e a presença de glomerular lesões denominadas crescentes. INDICAÇÃO DE BIÓPSIA A biópsia NÃO é indicada para todos os casos. É indicada sempre que houver dúvida entre as classes histológicas distintas, nas quais os tratamentos e prognósticos são diferentes e o sucesso do tratamento dependa justamente disso. ● Presença de anormalidades leves no exame de urina, não sugestivas de uma classe específica, mas refratárias a baixas doses de prednisona (0,5 mg/kg/dia): diferenciar Mesangial (II) ou Focal (III) de Proliferativa Difusa oligossintomática (IV). ● Proteinúria nefrótica com escórias normais: diferenciar Proliferativa Difusa (IV) de Membranosa (V). ● Aumento lentamente progressivo das escórias: diferenciar: Proliferativa Difusa (IV) ou Membranosa (V) de Esclerosante avançada (VI). As manifestações clínicas da nefrite lúpica dependem do tipo histológico da glomerulopatia. Classe I: Paciente assintomático do ponto de vista renal. Classe II: Os achados clínicos são geralmente brandos e incluem proteinúria <1g/24h e hematúria discreta com creatinina sérica e TFG normais. Títulos elevados de anticorpo anti-DNA e complemento sérico baixo podem estar presentes. Classe III: Hipertensão, proteinúria >1 g/24h e hematúria. Alguns pacientes apresentam síndrome nefrótica e/ou ↑creatinina sérica. Gravidade intermediária e pode evoluir com a histologia de GEFS ou se “transformar” a qualquer momento na classe IV. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Classe IV: Mais grave e também a mais comum dentre todas as lesões renais do LES. ↑anticorpos anti-DNA, com complemento sérico baixo. Hipertensão arterial, proteinuria nefrótica, hematúria e insuficiência renal. Alguns pacientes evoluem com a síndrome de GN rapidamente progressiva. Classe V: Proteinuria nefrótica, discreta hematúria e insuficiência renal pouco expressiva e de evolução lenta. As manifestações trombóticas são muito comuns, em especial a trombose de veia renal. Classe VI: Estágio final de lesão renal do LES, número reduzido de néfrons funcionantes. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS O prognóstico da nefrite lúpica é variável e depende essencialmente da classe histológica As Classes I e II apresentam ótimo prognóstico. Na Classe III, se a proliferação for leve, os pacientes costumam ter bom prognóstico, sendo que 5% pode evoluir para IRC em 5 anos. Se a proliferação for grave, o prognóstico é ruim – semelhante à Classe IV. Alguns pacientes podem evoluir ao longo do tempo para classe IV. EVOLUÇÃO CLÍNICA A Classe IV é a que apresenta pior prognóstico de todas as classes, entretanto, o tratamento agressivo com corticoides/imunossupressores fez com que a sobrevida renal aumentasse de menos de 60% em 5 anos para até 90% em 5 anos. Classe V: A sobrevida renal neste grupo é de aproximadamente 90% em 5 anos e 70% em 10 anos. EVOLUÇÃO CLÍNICA TRATAMENTO DA NEFRITE LÚPICA O tratamento da NL é baseado na classificação histológica da doença. Todos os pacientes com NL devem receber tratamentos adjuvantes e suporte para tratar as comorbidades: Os IECA e BRA são benéficos no controle da proteinúria e da hipertensão arterial, e os diuréticos melhoram o edema associado. Pacientes com doença ativa inicialmente recebem terapia imunossupressora de indução (com glicocorticoides e micofenolatomofetil (MMF) ou ciclofosfamida (CYC)) para reduzir rapidamente a inflamação renal aguda. Terapia de manutenção é realizada com imunossupressores de baixa dose para tratar inflamação residual e prevenir crises renais. Apesar da terapia imunossupressora, cerca de 20% dos pacientes com nefrite lúpica grave evolui para rins em fase terminal, necessitando de diálise ou transplante renal. CLASSE I: Nenhum. CLASSE V: Iniciar corticoide para tentar remissão da S. nefrótica. Sem resposta: associar citotóxico. CLASSE II: Nenhum. Se surgirem indícios clínicos – Biopsiar de novo para avaliar mudança de classe. CLASSE III: Lesão branda: Corticoides em baixas doses. Lesão grave: tratar igual à classe IV. CLASSE IV: Imunossupressão agressiva (corticoides em altas doses + ciclofosfamida ou micofenolato). REFERÊNCIAS Abbas AK, Fausto V, Fausto N. Robbins & Coltran – Patologia: bases patológicas das doenças. 10ª edição. Rio de Janeiro: Elsevier, 2013. Brasileiro-Filho G. Bogliolo – Patologia Geral. 5ª edição. Rio de Janeiro: Guanabara-Koogan, 2013. Neves, E. H. C. NEFRITE LÚPICA. Blog Liga de Patologia UFC, 2011. Disponível em: <http://ligadepatologiaufc.blogspot.com/2011/08/nefrite-lupica.html> Acesso em; 06 Dez 2021. Lupus nephritis. Nat Rev Dis Primers 6, 8 (2020). https://doi.org/10.1038/s41572-020-0148-2 http://ligadepatologiaufc.blogspot.com/2011/08/nefrite-lupica.html
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