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Historiagrafia_Brasileira_Final

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HISTORIOGRAFIA 
BRASILEIRA
1ª EDIÇÃO
EGUS 2015
HISTORIOGRAFIA BRASILEIRA
• JOSÉ GILVAN SOUSA DA SILVA
INTA - Instituto Superior de Teologia Aplicada
PRODIPE - Pró-Diretoria de Inovação Pedagógica
Diretor Presidente das Faculdades INTA
Dr. Oscar Rodrigues Júnior 
Pró-Diretor de Inovação Pedagógica 
Prof. PHD. João José Saraiva da Fonseca
Coordenadora Pedagógica e de Avaliação
Profª. Sônia Henrique Pereira da Fonseca
Assessor de Gestão de Projetos de Avaliação e Pesquisa
Éder Jacques Porfírio Farias 
Equipe de Pesquisa e Desenvolvimento de Projetos 
Tecnológico e Inovadores para Educação
Coordenador da Equipe
Anderson Barbosa Rodrigues
Analista de Sistemas Mobile
Francisco Danilo da Silva Lima
Analista de Sistemas Front End
André Alves Bezerra
Analista de Sistemas Back End
Luis Neylor da Silva Oliveira
Técnico de Informática / Ambiente Virtual
Rhomelio Anderson Sousa Albuquerque
Equipe de Produção Audiovisual
Roteirista da Vídeoaula 
José Gilvan Sousa da Silva
Gerente de Produção de Vídeos
Francisco Sidney Souza Almeida
Edição de Áudio e Vídeo
Francisco Sidney Souza Almeida
José Alves Castro Braga
Gerente de Filmagem/Fotografia
José Alves Castro Braga
Operador de Câmera/Iluminação e Áudio
José Alves Castro Braga
Designer Editorial
José Edwalcyr Santos
Diagramador Web
Luiz Henrique Barbosa Lima
Assessoria Pedagógica/Equipe de Revisores
Sonia Henrique Pereira da Fonseca
Evaneide Dourado Martins
7INTA Historiagrafia Brasileira
1
Sumário
2
Palavra do Professor-Autor ....................................... 09
Ambientação.............................................................. 12
Trocando ideias com os autores ............................... 14
Problematizando........................................................ 16
Unidade de Estudo: 
A Historiografia Imperial: A criação do IHGB
Historismo e as origens do Instituo Histórico ........................................................ 21
Características sócias profissionais do IHGB........................................................ 22
Os objetivos do IHGB ............................................................................................ 23
A lógica do processo histórico nas origens do IHGB............................................. 24
Unidade de Estudo: Identidades do Brasil
Identidades do Brasil: Varnhagen e Capistrano de Abreu ..................................... 29
Varnhagen: elogios à colonização portuguesa do Brasil ....................................... 30
A escrita da história dos anos de 1900: Capistrano de Abreu e o aparecimento do 
povo brasileiro ....................................................................................................... 31
8 Historiagrafia Brasileira INTA
3
4
A independência do Brasil em perspectiva 
historiográfica
A emancipação como processo.............................................................................41
O Império como conquista.....................................................................................45
Escravidão e Cidadania no Império do Brasil .......................................................49
Unidade de Estudo: 
Colonização, miscigenação e questão racial 
Colonização, miscigenação e questão racial: notas sobre equívocos e tabus da 
historiografia brasileira. ...................................................................................55
Leitura Obrigatória .................................................. 70
Saiba mais ................................................................ 72
Revisando ................................................................ 74
Autoavaliação .......................................................... 78
Bibliografia ............................................................... 84
Bibliografia Web ...................................................... 89
9INTA Historiagrafia Brasileira
Palavra do Professor-autor
Olá! Boas vindas!
A historiografia brasileira é uma disciplina que expressa a abrangência da his-
tória em sua inserção nos contextos nacional e internacional. Considerando a ques-
tão da historiografia e a educação como eixo norteador da disciplina. 
É manifestada a expansão da área de estudos e o trabalho do professor/ histo-
riador no mundo contemporâneo, a partir de elementos como novas fontes de pes-
quisa, com uso das mídias digitais, criando espaço de novas estratégias de estudo 
em novos campos de atuação e inserção em projetos culturais e de preservação do 
patrimônio artístico.
Assim, a formação de docente é capaz de levar para a sala de aula tanto as 
discussões sobre esses novos aspectos que estão sendo estudados pelo historiador 
atual, como questões ligadas à cidadania e ética. A reconstrução do estímulo à in-
terdisciplinaridade dos conteúdos, bem como o diálogo construtivo com as demais 
ciências.
Esperamos que o estudo desta disciplina resulte numa renovação do concei-
to de pesquisa em história, considerando-a como uma atitude investigativa a ser 
formada e na perspectiva de um ensino articulado à pesquisa, possibilitando novas 
formas aos elementos curriculares, como a não memorização dos conteúdos, e sim 
a apreensão compreensiva, permitindo ao aluno uma caminhada como sujeito de 
sua própria história.
Bons estudos!
10 Historiagrafia Brasileira INTA
Biografia do autor
JOSÉ GILVAN SOUSA DA SILVA, graduado em História pelo Instituto Superior 
de Teologia Aplicada – INTA (2012), Especialista em História do Brasil pelo Instituto Su-
perior de Teologia Aplicada – INTA (2014). Foi professor da Escola Senador Jereissati e 
atualmente é professor do Ensino Superior de Formação e Educação Teológica – IFETE.
11INTA Historiagrafia Brasileira
12 Historiagrafia Brasileira INTA
AMBIENTAÇÃO
Este ícone indica que você deverá ler o texto para ter 
uma visão panorâmica sobre o conteúdo da disciplina.
13INTA Historiagrafia Brasileira
Nesta disciplina vamos aprender como o Instituto Histórico e Geográfico 
Brasileiro (IHGB) teve sua importância para a nossa historiografia brasileira, vamos 
trabalhar com vários autores tendo a problemática da nossa história, como José 
Carlos Reis, Gilberto Freire, Junior Prado e outros autores clássicos como Francisco 
Adolfo de Varnhagem e Capistrano de Abreu. 
Caio Prado Junior investiga o nosso país desde que 
éramos colônia. Para começar nossa viagem na historio-
grafia, vamos trabalhar com a obra “Formação do Bra-
sil contemporâneo”, é uma obra acerca do pensamento 
social e da historiografia brasileira e apresenta texto sobre 
as relações entre nação e colônia no processo histórico que 
originou o Brasil. Ele trata também sobre o sentido da co-
lonização, povoamento, raças, economia, grande lavoura, 
agricultura de subsistência, mineração, pecuária, produções extrativas, artes, indús-
tria, vida social e política.
14 Historiagrafia Brasileira INTA
TROCANDO IDEIAS 
COM OS AUTORES 
A intenção é que seja feita a leitura de obras indicadas 
pelo professor-autor numa perspectiva de dialogar com 
os autores de relevo nacional e/ou mundial. 
15INTA Historiagrafia Brasileira
Agora você é convidado a trocar ideias com os autores sugeridos.
Quem somos nós, os brasileiros? Ser brasileiro será bom ou 
ruim, motivo de orgulho ou de vergonha? Você gosta sinceramen-
te de se sentir brasileiro? Em busca de nossa identidade, José Car-
los Reis analisa criticamente as narrativas e teorias de autores que 
interpretaram a ‘civilização brasileira’, desde a ótica da extrema 
direita até a da rebeldia mais radical, construíram uma intriga de 
nossa história e fizeram um retrato de corpo inteiro do Brasil. Nes-
te livro, o autor retoma e analisa algumas das mais importantes 
interpretações do Brasil, aquelas que ultrapassaram a condição de simples referên-
cias intelectuais, de meros modelos discursivos, para se tornar as “inventoras” das 
identidades do Brasil vivido e real, orientando os brasileiros em suas opções políti-
cas, em sua autoidentificação e autorrepresentação. O autor sobrevoa120 anos do 
pensamento histórico brasileiro: de Varnhagen, nos anos 1850, a Florestan Fernan-
des e FHC, nos anos 1970.
REIS, José Carlos. As identidades do Brasil. Rio de Janeiro: FGV, 2006. 
O livro retrata o descobrimento do Brasil e o desenvol-
vimento no século XVI, os antecedentes indígenas e sua relação 
com os brancos. O autor aborda sua visão mais original do país, 
onde ele redescobre o Brasil, valorizando seu povo, sua luta, seus 
costumes, o clima, a natureza e a miscigenação entre o branco e 
o índio, na constituição do sertanejo. 
ABREU, J. Capistrano de. Capítulos de história colonial, 1500-1800. 7. Ed. São Pau-
lo: Editora da Universidade de São Paulo, 1988. 
Estudo Guiado:
Após a leitura das obras, escolha uma e faça um resenha.
16 Historiagrafia Brasileira INTA
PROBLEMATIZANDO
É apresentada uma situação problema onde será feito 
um texto expondo uma solução para o problema 
abordado, articulando a teoria e a prática profissional.
17INTA Historiagrafia Brasileira
Vamos analisar a seguinte situação: Dois alunos do ensino médio estavam 
conversando sobre a aula de História do Professor Gilvan, o aluno Carlos falou: Que 
coisa chata essa aula de História! O professor falando sobre IHGB, nem sei o que é, 
nem para que serve e nem quero saber.
Luís Fernando o outro aluno retrucou - hora é muito importante para nossa 
vida, pois através do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB), começamos a 
escrever nossas histórias com outro olhar, não mais de colonizados, mas sim de um 
país independente com os nossos heróis como Tiradentes e outros. E ainda mais, 
você sabe o que é HISTORIOGRAFIA BRASILEIRA?
Estudo Guiado:
E vocês futuros historiadores sabem o que significa IHGB 
e para que serve? O que é historiografia brasileira e sua 
importância? Reflitam e respondam.
18
Fonte: wikimedia.org
Planta da Restituição da BAHIA, por João Teixeira Albernaz'
19
A HISTORIOGRAFIA IMPERIAL: 
A CRIAÇÃO DO IHGB 
Conhecimentos
Conhecer a historiografia brasileira e sua importância para nossa história; 
Características sócias profissionais do Instituto Histórico e Geográfico 
Brasileiro mais conhecido como IHGB.
Compreender porque houve a necessidade da criação do IHBG.
Habilidade
Reconhecer a necessidade da criação do IHGB no Brasil em 1838 para o 
desenvolvimento dos conhecimentos geográficos e históricos no Brasil, 
pelo estímulo à pesquisa com reconhecimento da nossa História.
Atitudes
Problematizar nossa historiografia e ampliar o conhecimento histórico e 
reconhecer os historiadores como Francisco Adolfo de Varnhagen e outros 
importantes para nossa historiografia.
1
20 Historiagrafia Brasileira INTA
21INTA Historiagrafia Brasileira
Historismo e as origens do Instituto Histórico
Para os atuais e futuros historiadores, a historiografia é de fundamental impor-
tância para nossa formação acadêmica. 
Mas, vocês já ouviram falar sobre historiografia? 
É muito simples é o registro escrito que analisa os fatos da História do passado e 
estudo crítico do que foi escrito. Como estamos falando de Império, após a indepen-
dência do Brasil em 07 de setembro de 1822 o país precisava construir sua identida-
de e com isso foi criado o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro mais conhecido 
como IHGB, a sua criação era necessária como relata Lilia Moritz Schwarcz: 
Criado logo após a independência política do país, o estabe-
lecimento carioca cumpria o papel que lhe fora reservado, assim 
como aos demais institutos históricos: construir uma história da 
nação, recriar um passado, solidificar mitos de fundação, ordenar 
fatos buscando homogeneidades em personagens e eventos até 
então dispersos”. ( SCHWARCZ, 2005)
 O IHGB teve seu inicio com o Marechal Raimundo José da Cunha Matos e o 
cônego Januário da Cunha Barbosa, respectivamente primeiro-secretário e secretá-
rio adjunto da Sociedade Auxiliadora da Indústria Nacional (SAIN), propuseram, na 
sessão de 18 de agosto de 1838, do Conselho Administrativo, a fundação de um Ins-
tituto Histórico e Geográfico. Em sessão do dia seguinte a proposta foi aprovada em 
assembleia geral da sociedade. No dia 21 de outubro de 1838 o instituto foi instalado 
pelo presidente da SAIN, Marechal Francisco Cordeiro da Silva Torres, presentes 27 
membros, convidados para sócios fundadores. 
A direção provisória do Instituto ficou constituída pelo Visconde de São Leopol-
do (presidente), cônego Januário da Cunha Barbosa (primeiro-secretário) e Emílio Joa-
quim da Silva Maia (segundo-secretário); coube ao presidente, ao primeiro-secretário 
e a Raimundo José da Cunha Matos a redação do projeto dos estatutos. No dia 25 
de novembro foram eles aprovados, elegendo-se a primeira diretoria, composta pelo 
Visconde de São Leopoldo (presidente). Cunha Matos (vice-presidente e diretor da 
seção de geografia), Araújo Viana (vice-presidente e diretor da seção de história). Cô-
nego Januário da Cunha Barbosa (primeiro-secretário), Pedro de Alcântara Bellegarde 
(orador) e José Lino de Moura (tesoureiro e diretor da comissão de fundos). 
22 Historiagrafia Brasileira INTA
Um ano após, na sessão comemorativa do primeiro aniversário da ins-
tituição, presente o Regente Araújo Lima, puderam os fundadores de o IHGB 
apresentar resultados satisfatórios, que atendiam às finalidades definidas nos 
estatutos: estabeleceram-se contatos com as províncias, para o recolhimento 
de documentos relativos à história e geografia do Brasil e elevava-se a 175 o 
número de sócios correspondentes, membros de instituições congêneres em 
Nápoles, Portugal, Prússia, Baviera, França, Peru, Chile e Buenos Aires. Publi-
cou-se, também, a revista. 
Podemos citar Francisco Adolfo de Varnhagen que foi um dos pioneiros 
da nossa história depois da criação do IHGB, segundo José Carlos Reis no seu 
livro “As identidades do Brasil” e dá o titulo de Heródoto brasileiro e é pro-
picio a história criada por Varnhagen foi pioneiro pelo fato de ter tido grande 
apoio do governo monárquico brasileiro, o mesmo produziu uma história do 
ponto de vista do conquistador ou podemos observar história positivista, exal-
tando seus feitos e heróis nacionais. 
Características sócias profissionais do IHGB
Nascido sob os auspícios da Sociedade Auxiliadoras da Indústria Nacional 
(SAIN), cuja finalidade era o fomento das atividades produtivas (especialmen-
te, nesta quadra, a agrícola) e tendo como membros da elite política do impé-
rio, homens da geração da independência, o Instituto Histórico e Geográfico 
Brasileiro visava atingir os objetivos político-administrativo e intelectuais que 
transcendiam de muito qualquer rotina acadêmica, o que pode ser explicado 
com o auxilio de uma análise sócio profissionais de seus filiados.
O status profissional de todos os 27 sócios fundadores e a importância 
de política de pelo menos nove deles (senadores, ministros, conselheiros de 
Estado) atesta a integração do Instituto ao establishment imperial. Funcio-
nalmente eram magistrados, advogados, funcionários públicos, eclesiásticos e 
negociantes, quase todos pertencentes, assim, à alta burocracia do Império.
 Em 1839 o número de sócios efetivos subiu para 46, mais 12 honorários. 
Nos efetivos predominava a formação jurídica (41,3%) e a atividade profissio-
nal no serviço público (71,7%), sendo 21,7% na magistratura, 28,3% no ensino, 
6,5% de militares e 15,2% em outros ramos da administração pública. Eram 
parlamentares 19,6% dos sócios efetivos. Enquanto os sócios efetivos predo-
Establishment: 
Grupo sociopolítico 
que exerce sua 
autoridade, controle 
ou influência, 
defendendo seus 
privilégios; ordem 
estabelecida, 
sistema.
23INTA Historiagrafia Brasileira
minavam a alta burocracia, o quadro de sócios honorários brasileiros era nitidamen-
te político, predominando justamente os representantes regressistas que fundariam 
o partido conservador.
A heterogeneidade funcional era compensada pela unidade ideológica. Eram 
quase todos, homens de visão nacionalista e centralizadora quecaracterizou a elite 
política do Império. Repetem-se, no caso do IHGB, as características gerais desta 
elite política imperial definida por José Murilo de Carvalho: 
“defesa da unidade nacional, consolidação do governo 
civil, redução do conflito a nível nacional, limitação da mobi-
lidade social e da mobilização política, ao contrário da Amé-
rica Hispânica, onde a falta de unidade ideológica da elite le-
vou a balcanização, ao caudilhismo e à instabilidade política”. 
(WEHLING, 2001)
Os Objetivos do IHGB
Formalmente, a principal finalidade do IHGB era o desenvolvimento dos co-
nhecimentos geográficos e históricos no Brasil, pelo estímulo à pesquisa com reco-
lhimento, nas províncias e no exterior, de documentos relativos à formação brasilei-
ra, e pelo estímulo a produção de trabalhos monográficos e gerais que permitissem 
o estudo da história brasileira. Neste aspecto, serviu de incentivo ao nativismo dos 
fundadores do Instituto o fato de a única obra sobre o conjunto da história brasileira 
ser de um inglês, Robert Southey, além de alegadas distorções sobre o movimento 
de independência.
Para além destes objetivos puramente “desinteressados” da pesquisa cientifica, 
os documentos sobre a fundação do IHGB demonstraram explicitamente a busca 
de outros fins: o “esclarecimento” da sociedade, pelo desenvolvimento da “cultura 
literária”, levando a um aprimoramento das relações sociais; o aperfeiçoamento da 
administração pública, com a formação de melhores quadros funcionais; e o exercí-
cio mais aperfeiçoado dos cargos eletivos.
Associam-se os estudos históricos á sorte da Monarquia constitucional, con-
forme se diz na proposta de Cunha Matos e Januário da Cunha Barbosa. Sintomati-
camente, a monografia premiada sobre como se deve escrever a História do Brasil 
24 Historiagrafia Brasileira INTA
(1843) afirma que o historiador “geral do país deveria redigi-la” do ponto de vista da 
monarquia constitucional. A mesma ideia encontrou no prefácio da História Geral 
por Varnhagem já nosso conhecido como Heródoto brasileiro, primeira obra que se 
propôs cumprir o programa do Instituto. 
A lógica do processo histórico nas origens do IHGB
Os fundadores do IHGB falavam como os historiadores desde o final do século 
XVIII, numa história tríplice, filosofia, ou seja, interpretativa, que elucidasse o signi-
ficado dos acontecimentos à luz das grandes tendências, pragmática que servisse 
de orientação para a sociedade do presente e critica que, através de métodos con-
fiáveis, restabelecesse a verdade objetiva, ressalvadas as distorções partidárias, quer 
as políticas, quer religiosas, e os excessos literários. Quando, com Ranke a partir 
dos anos 1820, se afirma a cientificidade da história da história, já se trata de uma 
evolução em relação a este ponto: o aspecto filosófico é retirado de qualquer funda-
mentação transcendental ou metafísico para restringir-se á própria “compreensão” 
histórica. 
A aplicação do conhecimento histórico é uma consequência extracientífica, 
embora desejável, deste conhecimento; e os aspectos críticos expandem-se, a ponto 
de constituir uma área de saber próprio dentro da história e sua metodologia.
No Brasil, e particularmente no IHGB, confundem-se as duas posições; embora 
a formação intelectual de homens como Januário da Cunha Barbosa, São Leopoldo 
ou o próprio Martius seja tipicamente iluminista - mas do historicismo iluminista. O 
cônego Januário, por exemplo, entendia por história filosófica aquela que iria desve-
lar as regularidades do mundo moral, a mesma que Newton e Clarke descobriram as 
leis do mundo físico. Martius viu a história do Brasil como fruto de um ‘’cruzamento 
de raças’’, segundo uma não explicada ‘’lei particular das forças diagonais’’. Este 
autor chega a aplicar ao caso brasileiro uma ‘’lei’’ histórica ou sociológica, segundo 
a qual o desenvolvimento social ocorreria a partir das ‘’classes baixas’’, pois estas 
forneceriam os elementos que aperfeiçoariam e vivificariam as ‘’classes superiores’’ 
impedindo sua decadência, numa antecipação das aplicações evolucionistas da se-
leção natural darwiniana. 
Parece pacifico, pois, que as relações sociais ou morais eram submetidas a 
regularidades e que estas poderiam ser traduzidas cognitivamente por leis, na con-
cepção dos fundadores do IHGB. Mais ainda: Januário da Cunha Barbosa chega a 
25INTA Historiagrafia Brasileira
afirmar que a interpretação da história brasileira permitiria a previsão do fu-
turo do país, preenchendo um dos requisitos que Popper atribuiu ao histo-
ricismo mais cientificista, o da previsibilidade histórica. Matius argumentou 
de maneira idêntica, pouco mais tarde.
O conhecimento histórico, ademais, deveria ser aplicado ao aperfei-
çoamento da realidade social. Num momento em que apenas se fundavam 
as novas ciências sociais, como a antropologia, a etnografia ou a sociologia 
e em que não se falava em ‘’ciências sociais aplicadas’’, esperavam os fun-
dadores do IHGB da História o ‘’esclarecimento da sociedade’’ pelo desen-
volvimento da cultura literária e o aprimoramento das relações sociais, a 
melhora dos quadros da administração pública e da representação política, 
com o exercício mais responsável dos cargos públicos. Os instrumentos para 
isso eram os próprios estudos monográficos sobre a história brasileira e as 
monografias biográficas, que tinham declaradamente cunho pedagógico, 
em especial para o exercício de funções públicas. 
Tanto quanto o romantismo e o nacionalismo, no plano ideológico, foi 
o historicismo, no plano teórico-metodológico, o informado e racionalizado 
por excelência da Weltanschauung dos fundadores da IHBG. Numa con-
cepção historicista da história foram buscar a estrutura velada das relações 
sociais, as leis do desenvolvimento histórico, sua projeção para o futuro e o 
conhecimento aplicado, para aperfeiçoar a administração pública represen-
tação política do recente e combalido Império Associado, no plano político, 
á ideologia liberal e no plano social ao ‘’regressismo’’ da elite centralizadora 
do final dos anos 1830. 
Realizaria sua obra, como apontaram Januário da Cunha Barbosa, o 
Visconde de São Leopoldo e Martius, visando consolidar o sistema unitário 
e a forma de governo, monarquia constitucional. A realização deste progra-
ma nas décadas seguintes – cujo melhor exemplo foi a História Geral do 
Brasil, de Varnhagen – deu o tom da aliança entre a intelectualidade e o po-
der no Segundo Reinado, pelo menos até a Guerra do Paraguai e o ‘’bando 
de ideias novas’’ de 1868, anunciadas por Silvio Romero. 
Weltanschauung: 
Concepção do 
mundo (falando-
se de diversas 
doutrinas da 
Alemanha 
romântica ou 
moderna).
26
Fonte: maishistoria.com.br
27
IDENTIDADES DO BRASIL
Conhecimento
 Compreender como se deu o processo de construção do pensamento 
historiográfico dos autores como Francisco Adolfo de Varnhagem e Ca-
pistrano de Abreu.
Habilidade
Reconhecer a necessidade de analisar os vestígios do passado aos quais 
se denominam fontes para historiografia brasileira.
Atitudes
Posicionar-se criticamente diante das diferenças entre os autores com 
problemáticas diferentes. 
2
28
29INTA Historiagrafia Brasileira
Identidades do Brasil: 
Varnhagen e Capistrano de Abreu
Embasamento a este texto é o livro de José Carlos Reis: as Identidades do Bra-
sil. Nossa abordagem tem como objetivo tecer comentário alinhavando as citações 
para que o acadêmico possa compreender como se deu o processo de construção 
do pensamento historiográfico dos autores como Francisco Adolfo de Varnhagem e 
Capistrano de Abreu, intelectuais que figuram na historiografia brasileira dos anos de 
1850 ao inicio do século XX.
No campo das definições, tornam-se enriquecedor os conceitos de historiogra-
fia dada por João Miguel Teixeira de Godoy: 
A polissemia frequentemente apontada para o termo his-
tória transfere-se, de certa forma, para historiografia. Além do 
meramente literal – escrita da historia -, dois outros sentidos aca-baram por se impor: reunião do escritos de história inicialmente, 
mas também ramo do conhecimento histórico dedicado a recom-
por e a analisar a trajetória e as condições de possibilidades do 
próprio conhecimento histórico através de suas obras. Recompor 
ou reconstituir a trajetória de uma forma de conhecimento exi-
ge uma abordagem que leve em conta sua dimensão temporal. 
(GODOY, 2009)
 O que nos interessa é sabermos que a palavra historiografia possui vários sig-
nificados, contudo, o mais adequado ao nosso estudo será de que a historiografia se 
torna a investigação de como se escreveu a história do Brasil desde a criação do Ins-
tituto Histórico e Geográfico Brasileiro ( IHGB) em 1838. Para que nosso estudo possa 
acontecer, podemos dizer que há a necessidade de conceituação de fonte, neste sen-
tido acordamos com José Amado Mendes quando afirma: “Os materiais de que o his-
toriador se serve, ao exercer o seu oficio, designam- se genericamente fontes’’. Essas 
matérias anteriormente são vestígios materiais e imateriais que servem á produção do 
conhecimento historiográfico, sendo desde documentos escritos estatais até cantigas 
de roda e depoimentos memoriais. 
A produção de conhecimento histórico praticamente requer a análise desses 
vestígios do passado aos quais se denominam fontes, mas na trajetória intelectual 
que pretendemos comentar, ou seja, a historiografia brasileira, suas definições e usos 
ganham sentidos diversos dependendo do historiador e sua análise. Passaremos a 
30 Historiagrafia Brasileira INTA
considerar de maneira panorâmica alguns historiadores que selecionamos, ten-
do como base teórica como dissemos acima o livro de José Carlos Reis: ‘’As 
identidades do Brasil’’.
 
Varnhagen: elogios à colonização portuguesa do Brasil.
Segundo José Carlos Reis (2006) considera Francisco Adolfo de Varnhagen 
(1816-1878), o primeiro historiador que produz uma ‘’obra independente mais 
completa, confiável, documentada, critica, com posição explicitas: a história ge-
ral do Brasil refletia uma preocupação nova no Brasil com a história, com a do-
cumentação sobre o passado brasileiro, que o recém-fundado Instituto Histórico 
e Geográfico Brasileiro’’. Essa preocupação com a história é justificada, pois havia 
a necessidade da construção de uma unidade para o país. Entretanto, para Nilo 
Odália a História Geral do Brasil foi escrita num estilo literário monótono, sem 
mostrar o dramático das tensões e opções. Varnhagen teria, segundo Odália, 
“o estilo de um botânico descrevendo a flora: árido e distante’’. (ODÁLIA, 1979) 
Para tal estudo temos que situar o autor no seu tempo histórico, suas condições 
materiais e intelectuais.
As interpretações de Varnhagen, historiador da escola metódica, se fun-
damentam em documentos e são carregadas de preconceitos próprios de seu 
tempo. Os elogios que tece sobre a colonização portuguesa se justifica a medida 
que sabemos quem é seu protetor, ‘’o imperador foi o protetor de Varnhagem’’.
(REIS, 2006) Vendo o império brasileiro como iluminado dotado de civilização 
que salvou as terras tupiniquins.
Para Reis, o Visconde do Porto Seguro ‘’inicia a pesquisa metódica nos 
arquivos estrangeiros, onde encontrou e elaborou inúmeros, documentos re-
lativos ao Brasil’’(REIS, 2007). É esta a maior contribuição de nosso analisado: o 
compêndio de fontes que é o livro História Geral do Brasil. Essa busca incansá-
vel pelo documento sugere uma preocupação exacerbada com a fidelidade das 
fontes, como sugere Reis:
“‘Varnhagen representa o pensamento brasileiro do-
minante durante o século XIX, e ele o expõe com rara cla-
reza, com fartura de dados e datas, nomes e fatos”. Deve 
ser lido como um grande depósito de informações sobre 
o Brasil, um arquivo portátil, e como a interpretação do 
Brasil mais elaborada e historicamente eficaz do século 
XIX’’. (REIS, 2007, p, 33) 
Tupiniquins: tribo 
indígena antiga 
na região de Porto 
Seguro (Bahia)
Read more: 
http://www.aulete.
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31INTA Historiagrafia Brasileira
A escrita da história dos anos de 1900: 
Capistrano de Abreu e o aparecimento 
do povo brasileiro.
João Capistrano de Abreu nasceu em Maranguape, Ceará, 
em 1853, no sitio de Columinjuba [...] Ali, Capistrano foi criado 
com rigidez, severidade e austeridade, em um ambiente mar-
cado pelo trabalho pesado e continuo e pelo dogmatismo ca-
tólico’’. ‘’No sitio se plantava cana, algodão, mandioca, feijão, e 
milho. O trabalho era feito por escravos, por empregados e pela 
própria família’’. (REIS, 2007, p. 85)
Reis o descreve como sendo um autentico sertanejo, tanto no seu modo de 
pensar e agir. Sua formação intelectual, sobretudo, autodidata advém da insistência 
de um jovem que gostava de ler e se utilizou de seus conhecimentos para se intro-
duzir na corte, para isso, pediu ajuda a seu contemporâneo José de Alencar, que o 
descreveu da seguinte maneira: ‘’Ao chegar, ao ser apresentado a alguém ou a se 
apresentar, sua imagem causava desgosto; ao sair seu espírito deixava encantamen-
to’’. (REIS, 2007 p. 86) 
Ao galgar espaço na corte, o jovem Capistrano de Abreu teria que viver seus 
próprios rendimentos; ‘’foi professor no colégio Aquino, publicou vários artigos em 
jornais, passou em concurso para o preenchimento de uma vaga na Biblioteca Na-
cional, emprego público, estável e seguro, âncora de que ele precisa para fixar-se 
na corte’’. (REIS, 2007 p. 87) Ele também exerceu o cargo de professor de história do 
colégio Pedro II até o ano de 1899. “Sua biografia interessa muito, quando se co-
nhece o lugar inovador que ele teve na historiografia brasileira’’”. (REIS, 2007 p. 87)
Aquele jovem cearense que se fixou na corte na ultima década do século XIX 
escreveu um dos livros mais importantes da historiografia brasileira daquele perío-
do, Capítulos de História Colonial (1907), ‘’é uma nova história do Brasil, embora 
muito parecida com Capistrano fisicamente: modesta, magra, quase silenciosa. Po-
rém, ao mesmo tempo, extremamente eloquente. É uma síntese que reúne muitos 
fatos esparsos, encadeados em uma perspectiva inovadora’’(REIS, 2007 p. 96).
32 Historiagrafia Brasileira INTA
 Mas Reis faz uma comparação entre Capistrano e Varnhagen: 
Capistrano se aproxima de Varnhagen na descrição do 
primeiro Brasil, e Varnhagen é até mais informativo, minucio-
so. Capistrano diferencia – se de Varnhagen na perspectiva que 
terá de tais dados. Para Capistrano, alienígenas, exóticos são os 
europeus e africanos, e não o indígena e a terra do Brasil, que 
veem chegar novos elementos. Ele olha da praia para o oceano 
cheio de caravelas, enquanto que Varnhagen olhava da carave-
la de Cabral para a praia, e via uma terra exótica e povoada por 
alienígenas’’. (REIS, 2007 p. 98).
Sem dúvida Varnhagen e Capistrano foram de fundamental importância para 
nossa História, com suas diferenças, Capistrano mostra um povo e sua formação 
étnica, já diferente de Varnhagen que defendia o Estado Imperial. Mas o que é mais 
interessante na História é a problemática, cada historiador defendendo sua ideolo-
gia e buscando novos pontos de vista, entre a História de Varnhagen defendendo 
o olhar do colonizador e Capistrano um novo olhar da história social. Com estas 
problemáticas que foi construída a nossa historiografia brasileira.
33INTA Historiagrafia Brasileira
34 Historiagrafia Brasileira INTA
Fonte: brasilindependente.weebly.com
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35INTA Historiagrafia Brasileira
A INDEPENDÊNCIA DO BRASIL
EM PERSPECTIVA HISTORIOGRÁFICA 
Conhecimento
Compreender e contextualizar as especificidades do processo de eman-
cipação política do Brasil, partindo de pressupostos básicos.
Habilidade
Identificar e destacar seus efeitos paradoxais: indubitavelmente, sob 
certos aspectos e a consolidação do novo centro político.
Atitudes
Posicionar-se criticamente sobre a problemática da autora do artigo.
3
36 Historiagrafia Brasileira INTA
37INTA Historiagrafia Brasileira
A Independência do Brasilem perspectiva historiográfica
Sonia Regina de Mendonça* 
O artigo “A independência do Brasil em perspectivas historiográfica” foi escri-
to pela Sonia de Mendonça que traz a problemática sobre emancipação do Brasil 
através de interesses do Sudeste sobre as demais províncias, segundo a mesma, a 
emancipação do Brasil foi conquistada a partir do poder militar, político e cultural. 
Para embasar sua tese traz citações de alguns autores como Jurandir Malerba, Wil-
ma Peres Costa e outros. Mendonça dividiu seu artigo em a emancipação como 
processo, o império como conquista, escravidão e cidadania no império do Brasil. 
O texto contextualiza as especificidades do processo de emancipação política 
do Brasil, partindo de três pressupostos básicos: que ela consistiu de um processo 
razoavelmente longo sobre determinado pela imposição da hegemonia dos grupos 
de interesse do Sudeste sobre as demais regiões; que a construção da sintonia entre 
Território e Estado Nacional somente adquiriu contornos a partir de uma “expansão 
para dentro” e que sua consolidação foi fruto de uma conquista militar, política e 
cultural tendo por alicerce a escravidão. 
Em tempos de celebração dos dois séculos da independência dos países lati-
no-americanos, velhas questões ressurgem como pauta quase obrigatória das dis-
cussões encetadas. A construção do Estado, a questão nacional, identidade, povo e 
revolução, reintroduzem-se no círculo dos debates, até mesmo para que possamos, 
histórica e historiograficamente, refletir sobre seus desdobramentos no presente e 
–por que não?– inferir projeções futuras, aí incluindo-se o próprio devir da prática 
historiadoras. No caso específico da emancipação política do Brasil cujo bicentená-
rio “formal” somente se completa em 2022– é de todo importante retomar alguns 
questionamentos acerca de sua especificidade, mormente no concerto das expe-
riências latino-americanas como um todo.
Outras tantas problemáticas, não tão explicitas, subjazem à analise deste tema, 
dentre elas a questão da democracia e da participação política popular, bem como 
a da efetividade das formas representativas estatais em nosso continente. Questões 
de todo presentes no processo histórico vivido antanho, questões ainda mal resol-
38 Historiagrafia Brasileira INTA
vidas na contemporaneidade. Por certo não se está aqui advogando a busca de 
origens históricas daquilo que muitos chamam de “o caráter nacional brasileiro” 
(Leite 2003), a não ser que compartilhasse da defesa de procedimentos teleo-
lógicos, o que não é o caso. Mas, de fato, muitas das tramas de interesses que 
informaram o processo de independência do Brasil tiveram resultados passiveis 
de encontrar ecos em nossa atualidade político-social, bem como – e principal-
mente - no imaginário dos “cidadãos” brasileiros e do mundo, particularmente 
sob a influencia das inúmeras vertentes interpretativas que marcaram a historio-
grafia brasileira até hoje.
 A este respeito vale a pena verificar os “picos” de concentração das publi-
cações sobre a independência na historiografia brasileira, marcadas por distinto 
teor político, teórico e metodológico, ao sabor de seus “emissores” e respectivos 
“públicos” a serem atingidos. Para tanto, nos valemos do quadro elaborado por 
Malerba (2006, p. 21) contendo toda a produção historiográfica publicada no 
país até 2002. 
Período Bibliografia Geral Na Revista do IHGB1 Total
Século XIX-1908 58 42 100
1908-1930 83 43 126
1930-1964 51 13 64
1964-1980 201 99 300
1980- 2002 60 6 66
Total Geral 453 203 656
A despeito de englobar materiais bastante heterogêneos, como o sinaliza 
o próprio autor, os dados revelam que a bibliografia do século XIX mantém-se 
enquanto tendência historiográfica até 1908, quando da publicação de D. João 
VI no Brasil, de Oliveira Lima. Ao mesmo tempo é clara a concentração dessa 
produção em dois momentos-chave do século XX: o período imediatamente an-
terior e posterior às celebrações do centenário (1922) e sesquicentenário (1972), 
bem como a segunda metade da década de 1990 quando, segundo o autor, o 
tema voltaria a ocupar lugar de relevo nas pesquisas históricas, mormente no to-
cante à chamada “questão nacional” (Malerba 2006, p. 22-23) A renovação histo-
riográfica desta ultima fase foi também marcada, como certeiramente o aponta 
Costa, pelo declínio do monopólio dos Institutos Históricos como espaços de 
produção de interpretações da “história pátria” (Costa 2005, p. 74), abrindo no-
vas frentes de reflexão e abordagem da problemática.
Não é minha intenção - e nem o poderia, por dever de oficio - dar respos-
tas a essas questões, mas apenas retrabalhá-las visando elucidar alguns dos ex-
Antanho: No ano 
passado.
Outrora, nos 
tempos idos: as 
querelas de antanho 
desapareceram.
39INTA Historiagrafia Brasileira
tremos a partir dos quais costuma ser analisada: ora seus aspectos mais sim-
plistas, tornados senso comum nas mentes de leigos; ora os mais complexos 
e controverso-erigidos como autenticas querelas historiográficas intramuros 
da academia.
Começando pelos primeiros, nunca é demais pontuar alguns “mitos” 
construídos sobre a independência do Brasil que são, até hoje, apropriados 
pelos discursos oficiais, não raro inundando manuais didáticos utilizados por 
estudantes do Ensino Fundamental e Médio (ALBUQUERQUE, 1986). Um de-
les reside na associação imediata que se estabelece entre o episódio do “grito 
do Ipiranga” proferido por Pedro I em 7 de setembro de 1822 e a emanci-
pação nacional, como se tal fora possível. Outro talvez mais pernicioso em 
seus efeitos, relaciona-se ao ocultamento da violência presente na história do 
Brasil em geral, e naquela sobre a independência em particular, marcado pela 
secundarização atribuída às guerras da independência ocorridas entre 1822-
1824 em inúmeras províncias. 
No entanto, tal postura deriva da total ausência de uma visão de con-
junto da história daquele contexto, que deixa de lado as circunstâncias espe-
cíficas e/ou regionais da emancipação política brasileira, cuja solução - manu 
militari- longe esteve de pacífica ou amigável, haja vista a complexa conjun-
tura nacional e internacional que cercou o próprio reconhecimento do pro-
cesso. 
Duas outras “mitologias” merecem figurar nessas considerações preli-
minares. Uma, tem sua origem nas tentativas de revisão historiográfica inseri-
da no contexto da comemoração do Centenário de 1922, que redundaram na 
consagração de uma leitura idealizada de um Império, liberal e ordeiro, fruto 
de um pressuposto bastante equivocado: o da permanência no poder dos 
mesmos grupos dominantes por eles herdados, implicando, uma vez mais, 
em minimizar a dimensão violenta do processo de consolidação da Indepen-
dência, face à multiplicidade de interesses junto a ela imbricados. Justamente 
por isso causam estranheza indagações como a de McFarlane (2006, p. 407) 
ao perguntar-se “por que o Brasil passou relativamente com tanta suavidade 
de colônia a Estado independente?”, inferindo da mera continuidade da So-
berania real - já que desde seu retorno a Portugal, D. João VI aqui deixara seu 
filho como monarca legítimo - um pacifismo que jamais existiu.
 A segunda afirma a existência generalizada de soluções “republicanas” 
no decorrer da emancipação, as quais pouco tinha em comum, por exem-
plo, com o paradigma que referenciaria o regime republicano instaurado em 
Manu militari: Por 
ação militar; com 
o auxílio das forças 
armadas ou militares
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militari#ixzz
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40 Historiagrafia Brasileira INTA
1889 o qual, por sua vez, derivara da decadência do Império do Brasil e não dos 
momentos decisivos de sua construção, deixando entrever a confusão estabele-
cida entre descentralização política e república. Isso posto, um pequeno elenco 
de grandes questões pode servir como ponto de partida para um approach 
historiográfico que, espero, possa contribuir para iluminar as peculiaridades do 
processo de independênciado Brasil, dentre as quais destaco: 
•	 A emancipação foi um processo razoavelmente lon-
go, iniciado em 1808, porém complementado, de fato, em 1831, 
com a abdicação do Imperador D.Pedro I e seu retorno a Portugal 
neste sentido, 1822 não passaria de uma data “canônica”, crista-
lizada e perpetuada por uma certa historiografia; 
•	 Os artífices do processo de independência, longe da 
simplória oposição que costuma antagonizar “brasileiros” e “por-
tugueses”, constituíram um grupo dotado de uma trama com-
plexa de interesses econômicos e políticos comuns, para além da 
questão das “nacionalidades”, artífices esses que foram, simulta-
neamente, “construtores” e “herdeiros” (Mattos, 2005 p. 8), evi-
denciando as contradições que marcaram a afirmação nacional; 
•	 A construção da sintonia entre Território e Estado 
Nacional somente adquiriu contornos claros enquanto projeto 
em ação – ou “expansão para dentro” também nos termos de 
(Mattos 1987, p. 86-87) - após o período regencial (1831-40), 
em plena década de 1850, sendo prematuro e equivocado a eles 
referir-se no imediato pós-emancipação; 
•	 A construção do Império do Brasil foi uma conquis-
ta, sendo esta, talvez, a maior singularidade do caso brasileiro, 
posto ter-se verificado em meio a uma sociedade profundamen-
te matizada e portadora de projetos políticos distintos. Como o 
afirma Oliveira (2005, p. 51) “a hegemonia alcançada pelo projeto 
conservador de Estado, em meados do século XIX, foi construí-
da por meio de guerras e conflitos [...] que envolveram desde a 
luta armada e manifestações de rebeldia de escravos, libertos e 
homens livres pobres, até a luta por espaços de representação 
parlamentar”; 
•	 O papel da escravidão como fundamentos da cida-
dania e da nação brasileira.
Approach: Modo de 
encarar determinado 
assunto ou problema; 
ENFOQUE
 Maneira particular 
de lidar com algo.; 
ATITUDE
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41INTA Historiagrafia Brasileira
A emancipação como processo 
 A rigor, a emancipação política do Brasil tem como marco o ano de 
1810 quando, após a instalar a Corte portuguesa no Rio de Janeiro, D. João VI 
proclama a chamada “Abertura dos Portos às Nações Amigas”, necessidade 
imperiosa já que Lisboa deixara, face aos conflitos napoleônicos, de ser o en-
treposto entre Brasil-Europa. Tal fato não é carente de importância, na medida 
em que atingiu o ponto nevrálgico de todo o sistema colonial com relação à 
terra brasilis: o exclusivo colonial, de pronto destruído. O monarca também 
descobriu de pronto, a existência no Rio de Janeiro, de um grupo organizado 
na defesa de seus interesses e que soube muito bem tirar partido da necessi-
dade de recursos por parte da Coroa. 
Eram eles os Negociantes, definidos como 
proprietários de capital que, além da esfera da cir-
culação, atuavam no abastecimento e no finan-
ciamento e investem no tráfico de escravos, o que 
permite que controlem setores chave da economia, 
inclusive na produção escravista, face ao papel que 
desempenham no crédito e no fornecimento de 
mão de obra. Uma de suas características é a mul-
tiplicidade de suas atividades, o que permite que 
detenham uma posição privilegiada na sociedade 
brasileira e seja capaz de influir decisivamente tan-
to nos rumos da economia e na política do país 
(PIÑEIRO, 2003, p. 72-73)
Este seleto grupo de agentes sociais havia se fortalecido bem antes da 
chagada da Corte, em função de um processo denominado de “interioriza-
ção da Metrópole”, expressão cunhada por Maria Odila de Souza Dias (DIAS, 
1972), cuja grande e inovadora contribuição, abrindo caminhos para inúme-
ras pesquisas dela derivadas (Lenharo, 1992; Martinho, 1977; Gorestein, 1978) 
consistiu em analisar a construção de toda a trama de interesses comuns 
entre “elites” portuguesas e luso-brasileiras, desde o século XVIII, consolidada 
pela implementação de um “movimento interno de colonização” promovido 
pela chegada da Corte que, igualmente, incentivara a estrutura do comércio 
atlântico, notadamente através do tráfico negreiro procedente de Angola.
Brasilis: 
brasileirismo
42 Historiagrafia Brasileira INTA
Neste processo, a cidade do Rio de Janeiro adquiriria centralidade impar, 
voltando-se para ela tanto os olhares das demais províncias do Reino, quanto 
o de algumas regiões da América hispânica. Ao mesmo tempo, tornado o novo 
centro político e administrativo da Monarquia, criava-se uma dualidade gera-
dora de uma ambiguidade, que somente seria sanada com a criação, em 1815, 
do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves, formalização da antiga ideia de 
um Império Luso-brasileiro (NEVES, 1995). A medida cristalizaria a trama dos 
interesses já enraizados no Brasil, não apenas os de negociantes, como tam-
bém os de proprietários de terras e escravos, provocando um outro desdobra-
mento: a crescente diferenciação da área da Corte com relação ao conjunto 
das demais regiões brasileiras. O Rio de Janeiro passou a figurar como sinô-
nimo da “cabeça da Monarquia”, alimentando o projeto de um novo império 
(MATTOS, 1987). Todavia, ao mesmo tempo, tudo conspirava para a negação 
de um dos princípios definidores do conjunto representado pela monarquia: o 
Império Português, irreversivelmente comprometido.
Grandes proprietários de terras e escravos e grandes negociantes do Su-
deste em geral além de artífices da emancipação disputariam a imposição de 
projetos distintos, já sob a pressão das Cortes de Lisboa que, convocadas em 
1820 como desesperadas manobra para evitar a perda da mais importante 
parte do Império Ultramarino, tentariam regenerar o velho Reino, por meio de 
medidas centralizadoras extremadas. Suas reações seriam as mais diversas no 
reino do Brasil. Por certo, a trama dos interesses cristalizados no Rio de Janeiro 
as repudiaria veementemente, insubmissas a qualquer tentativa de reedição 
do exclusivo colonial, por eles já redefinido. Já as províncias do “Norte”, por 
seu turno, ameaçadas pela nova “cabeça do Reino”, adeririam ao sistema das 
Cortes, em nome do principio da autonomia e de uma almejada redefinição de 
suas relações com a Corte do Rio de Janeiro.
A necessidade do retorno de D. João a Portugal, em 1822, fez com que 
deixasse seu filho, o príncipe D. Pedro no Rio de Janeiro, deixando antever toda 
a potencialidade de ruptura vindoura. Nesse sentido, o Dia do Fico simbolizou, 
segundo alguns autores (Matos 2005, p. 16) não apenas o momento da funda-
ção do Império do Brasil, mas também uma alteração na própria significação 
de “brasileiros”. Se, até então, o termo designara os portugueses que, vivendo 
em terras americanas, ali enriqueceram e muitas vezes retornavam à terra de 
seus pais, agora, seria objeto de uma disputa de significações, incluindo desde 
Dia do Fico: O 
episódio conhecido 
na história do Brasil 
como “dia do Fico” -9 
de janeiro de 1822- 
consistiu na afirmação 
do príncipe regente 
em permanecer 
no país após ter 
sido conclamado a 
regressar a Portugal 
pelas Cortes de 
Lisboa, consagrando 
a não ruptura com 
Portugal.
43INTA Historiagrafia Brasileira
a adjetivação do partido constituído pelos interesses dos grupos prósperos 
do Rio de Janeiro -cujos privilégios as Cortes ameaçavam frontalmente- até 
aquela defendida por José Bonifácio para quem “brasileiro” seria “todo ho-
mem que segue a nossa causa, todo o que jurou a nossa independência” 
(apud Nogueira, 1973, p.86). Em síntese, os acontecimentos compreendidos 
entre 1821 e 1822 tornaram uma parte da Monarquia lusitana em corpo 
político independente: o Império do Brasil, numa fratura irremediável.
A convocação pelo príncipe regente de uma Assembleia Geral Cons-
tituinte em junho de 1822, integrada por deputados de todas as províncias 
do Brasil faria aflorar distintos projetos de soberania, muitas vezes confun-
dindo-se, perigosamente, as concepções de liberdade e igualdade, como 
conclamaria o redator de um dos jornais em circulação na cidade: “bem 
dirigir a opinião pública a fimde atachar os desacertos populares e as efer-
vescências frenéticas, de alguns compatriotas mais zelosos que discretos” 
(apud Morel e Barros 2003, p. 28). O temor da anarquia instaurava-se face à 
ameaça de fracionamento do território, derivada das tensões que presidiam 
a relação entre as províncias e o Rio, como o funcionamento da própria 
Constituinte o demonstraria.
Para reforçar a autoridade príncipe e ratificar o Rio de Janeiro como 
“cabeça” do corpo unido, algumas medidas administrativas foram tomadas, 
sobretudo a que obrigava a não ser executada nenhuma decisão das Cortes 
de Lisboa sem o “Cumpra-se” de D. Pedro. Além dessa, merecem destaque 
a criação de um escudo de armas e de uma Guarda de Honra formada por 
três esquadrões: os do Rio, São Paulo e Minas, não por acaso base dos in-
teresses “enraizados” e francamente emancipacionistas, além da elevação 
ao status de cidade para todas as vilas capitais de província e da concessão 
de títulos honoríficos às povoações que se posicionaram contrariamente às 
Cortes Portuguesas. O estopim da tensão interprovincial estava prestes a 
ser aceso.
Por certo o teor dessas medidas consistia em fazer coincidir o novo 
corpo político com o vasto território, sendo importante destacar a convo-
cação militar para promover a expulsão das tropas portuguesas ainda pre-
sentes em certos pontos do litoral das províncias rebeladas e favoráveis à 
Lisboa. Esse seria um dos aspectos das Guerras de Independência, mas não 
o único: ele igualmente revelava o primeiro ensaio de fazer expandir o Im-
pério do Brasil de modo a subordinar as províncias partidárias da proposta 
Adjetivação
Ação ou resultado de 
adjetivar, de qualificar 
com adjetivo(s)
2. Ação de transformar 
uma palavra em 
adjetivo ou de usá-la 
como adjetivo
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A7%C3%A3o#ixzz3
fnVCQ5QW
44 Historiagrafia Brasileira INTA
federativa a um projeto gestado pelos grupos dominantes no Rio de Janeiro. Seria 
essa a correlação de forças que permitiu o rompimento com as Cortes. Nas palavras 
de Matos, 
A independência política criara a liberdade frente à domi-
nação metropolitana; mas não fora capaz de gerar uma unida-
de, do ponto de vista de uma nação moderna constituída por 
indivíduos livres e iguais perante a lei (...). Elementos de fun-
do racial, social e cultural combinavam-se, de modo original, 
aos atributos de liberdade e propriedade no estabelecimento de 
fronteiras entre a boa sociedade, o povo mais ou menos miúdo 
e a massa de escravos (Matos 2005, p. 21).
Ou seja: a liberdade política não se traduzira em unidade, além de ser também 
incompatível com o principio da igualdade, subsumido a um sentimento aristocrá-
tico compartilhado por todos aqueles que produziram/reproduziam as hierarquias 
definidoras da sociedade. Mesmo os atores mais radicais deste processo - cha-
mados “democratas”- consideravam a convocação da Assembleia Constituinte uma 
vitória da iniciativa de trazer o Povo à cena política. Por povo, entretanto, definiam a 
representação da “boa sociedade”, isto, é, dos que eram livres e proprietários de ter-
ras e escravos, que se viam como brancos e longe estavam da plebe (Mattos 1987, 
p. 97), deixando claro o viés altamente hierarquizante e excludente de seu projeto e 
das forças nele empenhadas.
A ausência de unidade logo perpassaria as próprias bases de sustentação do 
primeiro Imperador, explicitada nas discussões da Assembleia Constituinte. Refiro-
-me, basicamente, ao grupo dos negociantes - fiadores econômicos da Corte - pou-
co representados neste foro. Desde seu inicio, a disputa entre projetos diversos de 
poder deu o tom aos trabalhos. Quando, afinal, o projeto de Constituição foi lido, 
a surpresa marcou a reação dos donos de capital, sobretudo pelo fato de propor, 
como base organizativa do Império, as Comarcas e não as Províncias, o que signi-
ficava depositar o poder político diretamente em mãos dos grandes proprietários 
de terras e escravos regionais. Desagrava-lhes também o sistema eleitoral previsto, 
não pelo fato de ser censitário, mas por definir como eleitores e elegíveis apenas os 
donos de “bens de raiz” (PIÑEIRO 2003, p. 78-79).
A discussão do projeto fraturou a Assembleia em campos antagônicos, esva-
ziando o poder do Imperador e consagrando os proprietários de terras, sobretudo 
do Sudeste. Nesse mesmo momento as Cortes de Lisboa enviavam negociadores 
45INTA Historiagrafia Brasileira
em prol da reunificação, deflagrando profunda crise, resolvida, uma vez mais, pela 
força das armas. A Constituinte seria dissolvida e um Conselho de Estado, nomeado 
por Pedro I, foi incumbido de redigir o novo texto constitucional, aprovado em 1824.
Paralelamente, as negociações pelo reconhecimento da independência por 
parte de Portugal, mediadas pela Inglaterra, resultariam em desvantagem para algu-
mas das forças que compunham o trama de interesses do Centro-Sul. Em primeiro 
lugar porque o Império teria que pagar polpuda indenização a Portugal que, so-
mente em 1825, reconheceria a emancipação, mediante promessa de que o governo 
brasileiro jamais incorporaria qualquer colônia lusitana e, em segundo, porque a 
Inglaterra - que desde 1810 pressionava pelo fim do tráfico de escravos - voltaria 
à carga com renovada intensidade. Em novembro de 1826 foi assinada convenção 
sobre o tráfico, estabelecendo o prazo de três anos para seu término, além de novo 
tratado comercial concedendo tarifas preferenciais para aos produtos ingleses en-
trados no país (Neves e Machado 1999). A extinção efetiva do tráfico, no entanto, 
somente se concretizaria em 1850, quando os grandes proprietários brasileiros além 
de sobejamente abastecidos de escravos, se encontrariam endividados junto aos 
negociantes.
Quando a nova Carta Outorgada foi promulgada, em 1824, preservando a es-
trutura unitária e estabelecendo que os presidentes das Províncias fossem nomea-
dos diretamente pelo Imperador, este enfrentaria uma dupla oposição: de um lado, 
aquela movida pela Câmara dos Deputados, dominada por proprietários de terra e 
de escravos de todo o Reino e, de outro, o afastamento progressivo do grupo dos 
negociantes descontentes com as concessões feitas a Portugal e a ameaça ao fim do 
tráfico, uma das fontes primordiais de suas fortunas. Imediatamente, reações eclo-
diriam por todo o “Império”, entre 1824 (com a Confederação do Equador) e 1848 
(com a Revolta Praieira), ambas as mobilizações nordestinas contra a centralização 
monárquica e o Rio de Janeiro. Neste interregno, a abdicação de Pedro I seria inevi-
tável, dando inicio ao Período das Regências. 
O Império como conquista 
A emancipação política do Brasil foi conduzida pela correlação de forças pre-
sidida pelos negociantes do Rio de Janeiro e grandes proprietários de terras e es-
cravos do Sudeste ainda que, em seu transcurso, ambos os segmentos tenham se 
confrontado. Já o Nordeste, cujo centro regional mais destacado era Pernambuco, 
dominado pelos grandes proprietários ligados ao complexo açucareiro, se insubor-
46 Historiagrafia Brasileira INTA
dinaria em inúmeros momentos do processo que acabamos de discutir. Desde 
1817, a província pegaria em armas em nome de “princípios liberais”, contra 
a hegemonia da nova “cabeça” do ainda Reino. Vale lembrar que a produção 
oriunda de Pernambuco e do Nordeste ainda detinham posição chave na pau-
ta das exportações brasileiras de açúcar e algodão (Mota, 1972). 
No entanto, em 1824, nova mobilização eclodiria na Província, a Confe-
deração do Equador, em defesa da autonomia provincial e contrária à tendên-
cia unitarista inscrita na Carta de 1824, desta vez somando-se aos protestos 
da Bahia. Tanto num caso, como no outro, a resposta da Corte foi a guerra, o 
envio de esquadra imperial para conter os movimentos. Os grupos dominan-
tes locais, contrários à Constituição e defensores do federalismo resistiram, 
alastrando a mobilização para as províncias vizinhas da Paraíba, Rio Grande do 
Norte e Ceará, todas elas áreasdependentes do centro de dominação regional 
pernambucano (Albuquerque 1986, p. 348).
Contrariando as representações mitológicas acerca da emancipação po-
lítica “pacifica e harmoniosa”, a reação da Corte do Rio seria ainda mais radi-
cal: suspendendo as garantias constitucionais nas províncias rebeldes, enviaria 
tropas do Exército, coadjuvadas por esquadra comandada por ingleses. Não 
poucos foram dizimados pela repressão, tanto em Pernambuco quanto nas 
demais províncias, chegando-se mesmo a impor a pena capital às principais 
lideranças do movimento.
Vale lembrar que estes não foram os primeiros episódios violentos deri-
vados do processo de emancipação política como um todo. Quando das ten-
tativas recolonizadoras das Cortes de Lisboa, iniciadas em 1820, muitas re-
giões nordestinas sublevaram-se contra a preponderância de D. Pedro, sendo 
focos desta resistência às províncias da Bahia, Piauí, Maranhão e Grão-Pará, 
igualmente dizimados pela repressão militar do Rio de Janeiro. Neste contexto 
especifico, outros fatores devem ser levados em conta, sobretudo a subordina-
ção dos proprietários de terras e escravos regionais aos grandes negociantes 
portugueses que, uma vez expulsos, os privaria de recursos (FREITAS, 1976).
O caráter abertamente belicoso da consolidação da independência não 
deve ser relegado a segundo plano, mas sim articulado a uma estrutura mais 
complexa que incluía até mesmo as difíceis condições do reconhecimento in-
ternacional da soberania do Brasil, os conflitos oriundos da hegemonia do 
Sudeste e a luta contra a manutenção de certos interesses lusitanos. Dessa 
perspectiva ressaltaria a necessidade de imposição da hegemonia do Sudeste 
BELICOSO: 
Inclinado à guerra, 
que a faz por gênio 
e hábito (povo 
belicoso).
2. Que estimula a 
vontade de guerrear 
ou brigar; que excita à 
guerra.
Read more: 
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47INTA Historiagrafia Brasileira
sobre as demais regiões, bem como a da reprodução do funcionamento de 
um Estado autoritário ou de um projeto autoritário de Império. Até 1850, 
quando a hegemonia política e ideológica do Sudeste encontraria na pro-
dução cafeeira as condições econômicas para reproduzir-se e fortalecer-se, 
as contradições inerentes ao processo de emancipação de um Império in-
tegrado por um vasto território, manifestaram-se de modo significativo. Os 
movimentos provinciais contestatórios se arrastaram por todo o período 
Regencial (1831-40), muito embora nenhumas das forças dissidentes inscre-
vesse em seus programas, por exemplo, o fim da escravidão ou da própria 
monarquia.
A adoção de princípios federalistas por parte de movimentos como a 
Sabinada (Bahia, 1837-38) ou a Farroupilha (Rio Grande do Sul, 1835-45) foi 
a tradução liberal do descontentamento dos grupos dominantes locais ao 
centralismo imperial em construção. Já no movimento da Cabanada (Per-
nambuco, Alagoas e Pará – 1832-35) outros elementos somaram-se à rejei-
ção unitarismo, com a participação de setores populares, mormente cam-
poneses pobres e livres.
O fundamental para os grupos de interesse hegemônicos do Sudeste 
era demonstrar que o rompimento com o poder Metropolitano não devia 
ser confundido com o aniquilamento ou enfraquecimento de todo poder 
centralizado, herdado do período colonial e reforçado ao longo da perma-
nência da Corte no Rio de Janeiro, o que implicava na construção das “ins-
tituições públicas”. Por isso era preciso deter o “carro da revolução” (Mattos 
1987, p. 154), palavra de ordem da política imperial, particularmente entre 
os anos 1840-1850.
Isso significa que o estabelecimento da associação entre Império do 
Brasil e Nação Brasileira vinculava a noção de império a uma concepção 
nacional. E a trajetória dessa nova associação seria longa e tortuosa, es-
tendendo-se, como apontamos, bem além do momento da emancipação 
política, uma vez que implicou na própria construção do Estado imperial, 
por ser esta era a condição de existência da Nação. Daí a elaboração de 
instrumentos que promoveriam essa “conquista” ou “expansão pra dentro”, 
na feliz expressão de Mattos acima citada. Dentre eles se destacou o próprio 
constitucionalismo, que permitia que fossem solapadas as bases tradicio-
nais do poder soberano à la Antigo Regime e a política externa que, sob a 
regência da Inglaterra, afastaria o novo império da África, inviabilizando a 
la Antigo Regime: 
Dentre elas destacam-
se a lei de outubro de 
1828 que dava nova 
forma às Câmaras 
Municipais e suas 
atribuições, bem como 
o processo de sua 
eleição e dos Juízes de 
Paz; e a organização 
do Poder.
48 Historiagrafia Brasileira INTA
independência de Angola e sua incorporação ao Império do Brasil.
Como afirma Oliveira (2005, p. 50) a associação entre Império e Nação, em 
permanente construção, não implicou apenas numa alternância de sentido, ou seja, 
a mudança da concepção dinástica de Império para a concepção nacional. Ela im-
plicou também no fortalecimento de uma direção política: impossibilitado de um 
domínio ilimitado em termos espaciais, o Estado perpetrou uma “expansão para 
dentro”, destinada a configurar a nação e a cidadania, com todas as hierarquias e 
distinções que marcaram a existência de várias “nações” dentro da nação brasileira, 
implicando numa obra de conquista. E não conquista de territórios – muito embora 
o centro hegemônico se tivesse empenhado em preservar sua indivisibilidade, como 
vimos acima – mas conquista no sentido de reconhecer e fazer reconhecer que o 
Império do Brasil foi gerado no seio de uma sociedade matizada que incluía distin-
tos projetos políticos.
A hegemonia consolidada pelo projeto conservador de Estado defendido pelo 
grupo do Sudeste em meados do século XIX constituiu-se através de guerras e con-
flitos múltiplos, que abarcaram a luta armada, manifestações de rebeldia escrava, de 
homens livres e pobres, sem falar naquela pela conquista de espaços de represen-
tação política. Tudo isso em nome de um projeto de Império/Nação a ser por todos 
reconhecido e, na medida do possível, mais que reconhecido, compartilhado.
Essa obra de conquista não pararia por aí, implicando em instrumentos bem 
mais sutis, capazes de ratificar a associação entre Império e Nação brasileiros. Ela 
incluiria a fratura das identidades gestadas pela colonização, por intermédio da vul-
garização de valores, signos e símbolos imperiais, da elaboração de uma língua e de 
uma literatura e histórias nacionais. Nisso se empenharam os construtores do Esta-
do Imperial, assumindo seu papel de dirigentes, na acepção gramsciana do termo, 
difundindo um projeto “civilizatório” que ultrapassaria a coerção física. Eles seriam 
os produtores de um consenso em torno da própria nova noção de Império.
Os dirigentes imperiais perpetraram uma “expansão para dentro” em duplo 
registro: horizontalmente, confundindo-se com a própria constituição da classe do-
minante senhorial, progressivamente incorporando o seu projeto plantadores, ne-
gociantes, donos do crédito de quase todas as regiões do Império; verticalmente, 
confundindo-se com a própria consolidação da materialidade do Estado, atraindo 
para sua órbita médicos, advogados, tabeliães, jornalistas e o sempre crescente con-
tingente de funcionários públicos. Tratou-se de uma expansão que, partindo do 
Rio de Janeiro reproduziu a hierarquia presente no interior de cada região e entre 
49INTA Historiagrafia Brasileira
regiões (Mattos 1987, p. 167) A construção do Estado pressupôs iniciativas integra-
doras das mais diversas, desde a construção de estradas, pontes – que ademais de 
signos de progresso estreitariam alianças entre as frações da classe dominante – até 
uma obra de “esquadrinhamento” do vasto território e dos homens que ele conti-
nha. Mapas, cartas topográficas, plantas das distintas circunscrições administrativas 
seriam encomendadas, de modo a promover o conhecimento mais refinado das po-
tencialidades territoriais. Tudo isso sem negar a conflitividade social latente.Afinal, 
tratava-se, mais que tudo, de uma sociedade de base escravista. 
Escravidão e Cidadania no Império do Brasil 
Propositalmente, deixamos para o final considerações acerca do efetivo nexo 
integrador do Brasil: a escravidão. Seria ele o fio condutor principal da unidade, na 
medida em que toda a estrutura produtiva agroexportadora nela baseou-se até sua 
total extinção em 1888. Malgrado os distintos projetos políticos em disputa no de-
correr do processo de emancipação política, raros foram aqueles contrários à assim 
chamada “instituição servil” ou mesmo ao fim do tráfico negreiro, responsável por 
sua reprodução. Isso significa afirmar que, para além dos mecanismos de ordem po-
lítica, ideológica e cultural, eram os escravos - definidos como “bens semoventes”, 
mercadorias, enfim - o principal sustentáculo da economia nacional, a despeito de 
hierarquizações e dependências porventura estabelecidas entre os proprietários de 
terra e grandes negociantes fornecedores dessa mão de obra essencial.
A despeito de sua importância fulcral, tampouco seria a escravidão um obs-
táculo à construção nacional. Afinal, a figura do escravo desdobraria, até as ultimas 
consequências, a concepção de propriedade individual e de mercado, bem como as 
relações de dominação e desigualdade vigentes entre os cidadãos e os totalmente 
excluídos da sociedade (OLIVEIRA, 2003). Logo, de modo apenas aparentemente 
paradoxal, cidadania e nação estiveram inextrincavelmente vinculados à escravidão, 
ela mesma definidora do caráter da própria sociedade.
Que isso possa ter gerado reconfigurações na própria noção de cidadania du-
rante a primeira metade do século XIX, parece-nos óbvio, mormente considerando 
que o grupo hegemônico sediado na “nova cabeça” do Império, delas dependeria 
para a imposição de seu projeto. Na verdade, a associação verificada entre Império e 
Nação ocorreu numa sociedade escravista que herdara da experiência colonizadora 
a convivência obrigatória entre três grupos étnicos. A hierarquização entre o que 
50 Historiagrafia Brasileira INTA
se convencionou chamar de “boa sociedade” - os livres, brancos e proprietários de 
escravos, de “plebe”- integrada pelos livres, mas não proprietários de escravos e 
tampouco autor e apresentados como brancos e os escravos - propriedades de ou-
trem e não brancos em absoluto, foi construída a partir dos atributos de liberdade e 
propriedade (de escravos e terras), o que não deixava de pôr em questão o conceito 
moderno de nação (ANDERSON, 1989).
A despeito disso, a nação brasileira seria forjada com outras “nações” no inte-
rior do território unificado, não sendo casual, como o aponta Karasch (2000, p. 35-
40) que no Rio de Janeiro do período se utilizasse a expressão “nação” para identifi-
car os escravos negros e ameríndios, discriminando-se, igualmente, “nações de cor” 
(escravos nascidos no Brasil) e “nações africanas”, cujos membros, casos libertos, 
não poderiam tornar-se cidadãos brasileiros de acordo com a Constituição, o mes-
mo não acontecendo com os escravos aqui nascido. Era claríssima, sob essa ótica, a 
concepção de Ordem defendida pelos artífices da emancipação e do Império.
*Fonte: MENDONÇA, Sonia Regina de. A independência do Brasil em pers-
pectiva histórica. Universidade Federal Fluminense – Conselho Nacional de Desen-
volvimento Científico e Tecnológico (CNPq) – Brasil. Ver. Pilquen nº. 12 Viedna ene/ 
jun, 2010.
51INTA Historiagrafia Brasileira
52 Historiagrafia Brasileira INTA
Fonte: wikipedia.org - Oscar Pereira da Silva
c2.staticflickr.com
53INTA Historiagrafia Brasileira
COLONIZAÇÃO, MISCIGENAÇÃO 
E QUESTÃO RACIAL
Conhecimento
Compreender e contextualizar a problemática da mescla cultural na história do 
Brasil que foi colocada em nossos horizontes de investigação desde o começo da 
historiografia nacional.
Habilidade
Reconhecer a importância da necessidade de estudar as problemáticas de alguns 
autores da época do Brasil colônia.
Atitudes
Desenvolver o senso crítico entre os historiadores.
4
54 Historiagrafia Brasileira INTA
55INTA Historiagrafia Brasileira
Colonização, miscigenação e questão racial: 
notas sobre equívocos e 
tabus da historiografia brasileira
Ronaldo Vainfas*
O artigo “Colonização, miscigenação e questão racial: notas sobre equívo-
cos e tabus da historiografia brasileira” foram escritos pelo professor Titular de 
História Moderna da Universidade Federal Fluminense. Desenvolve-se a partir das 
notas sobre equívocos e tabus da historiografia brasileira no que tange à coloniza-
ção, miscigenação e questão racial para embasar sua tese traz citações de alguns 
estudiosos brasileiros e estrangeiros tais como Varnahagen, Capistrano de Abreu, 
Gilberto Freyre, Charles Boxer, Florestan Fernandes e Líllia Schwarcz, dentre outros. 
A importante necessidade de estudar as problemáticas de alguns autores da 
época do Brasil colônia e realçar alguns equívocos e tabus da historiografia brasi-
leira em relação à colonização, à miscigenação e questões raciais, pois é primordial 
repensar as contribuições de todos os estudiosos.
Brasil, quinhentos anos de história, se adotarmos a periodização de Varnha-
gen, ou sabe-se lá quantos séculos, se optarmos pelo seguidor e rival do Visconde 
de Porto Seguro, mestre Capistrano de Abreu, cujo primeiro capítulo do livro Capí-
tulos de História Colonial tem por título “Antecedentes indígenas”, embora deles 
o capítulo pouco trate na verdade. De todo modo, se deixarmos de lado as idealiza-
ções indigenistas ou indianistas, seja à moda romântica, seja na versão mais atual de 
uma “história politicamente correta”, é caso de realçar o extraordinário encontro de 
povos posto em cena pelo descobrimento e pela colonização efetuada pelos portu-
gueses na “sua América” – a que lhes reservou o Tratado de Tordesilhas. Encontro de 
certo conflitivo, muitas vezes trágico, haja vista o extermínio de milhares de índios 
e o cativeiro destes e dos africanos, como se sabe, desde o primeiro século. Mas 
encontro que pôs em contato culturas radicalmente distinta de três continentes, 
refazendo valores, recriando códigos de comportamento e sistemas de crenças, sem 
falar na “miscigenação étnica”, outrora chamada de “miscigenação racial”.
Miscigenação étnica e mescla cultural são problemáticas afins, embora não 
56 Historiagrafia Brasileira INTA
idênticas, que atualmente estão na ordem do dia na historiografia ocidental pro-
duzida sobre a colonização ibérica nas Américas. No entanto, é questão que, entre 
nós, vem de longe, modificando-se ao longo do tempo os termos, a valoração e o 
sentido das interpretações.
A problemática da mescla cultural na história do Brasil foi colocada em nossos 
horizontes de investigação desde o começo da historiografia nacional. Apareceu 
pela primeira vez, sob o rótulo da “miscigenação racial”, como proposta vencedora 
do concurso promovido na década de 1840 pelo recém-fundado Instituto Histórico 
e Geográfico Brasileiro. Formulou-a o alemão Karl Von Martius, naturalista, botâni-
co, viajante que deixou preciosos registros sobre a natureza e as gentes do Brasil 
no século XIX. Em como se deve escrever a história do Brasil, Martius afirmou que 
a chave para se compreender a história brasileira residia no estudo do cruzamento 
das três raças formadoras de nossa nacionalidade – a branca, a indígena, a negra –, 
esboçando a questão da mescla cultural sem contudo desenvolvê-la. Martius, como 
naturalista ilustrado, pensava o “hibridismo racial” do mesmo modo como pensava 
o cruzamento de plantas ou animais, porém sua relativa sensibilidade etnológica 
fê-lo ao menos rascunhar o que já se chamou de “sincretismo” cultural e atualmente 
se formula como circularidades ou hibridismos culturais.
É verdade que o naturalista alemão priorizou a contribuição portuguesa na 
formação da nacionalidade brasileira e praticamente silenciou sobre o papel da 
“raça” negra, para usar o seu vocabulário, reservando ao índio – um tanto idealizado, 
vale dizer –papel secundário. Mas não resta dúvida de que, já com Von Martius, a 
questão da miscigenação étnica e cultural estava posta. Seria mesmo caso de res-
saltar a paradoxal abertura intelectual do IHGB ao premiar proposta que, malgré o 
conservadorismo do autor, apontava para questão desafiadora, admitindo, ao me-
nos em tese, o papel do negro na formação do povo brasileiro – e isto num tempo 
em que os africanos e seus descendentes eram escravos, sem direito à cidadania no 
nascente império brasileiro. 
Tão inovadora era a proposta de Von Martius que ninguém na verdade a se-
guiu ao longo do século XIX e nas décadas após a Abolição e a proclamação da 
República. No século XIX, a grande história do Brasil foi a de Francisco Adolpho de 
Varnhagen, a quem já mencionei, paulista de Sorocaba, descendente de alemães, 
homem de confiança do imperador Pedro II e autor da portentosa História geral 
do Brasil, em cinco volumes, publicada entre 1854 e 1857 sob o patrocínio imperial.
Varnhagen não seguiu em nada os conselhos de seu quase conterrâneo Von 
57INTA Historiagrafia Brasileira
Martius e produziu obra factual, no estilo do historismo ou historicismo, co-
meçando pelo Descobrimento de 1500 e terminando em 1808, com a chega-
da da família real, fugitiva dos franceses sob a proteção dos ingleses. Cinco 
volumes que desfiam múltiplos fatos, as expedições de reconhecimento, as 
capitanias, a instalação do Governo Geral, os diversos governos, as “invasões 
estrangeiras” – que, para Varnhagen, o Brasil devia ser mesmo português, 
como rezava o Tratado de 1494. História muitíssimo bem documentada, uti-
líssima em vários aspectos, porém lusófila e brigantina, a louvar a Restauração 
dos Bragança, a mesma dinastia do imperador brasileiro, seu mecenas, sem 
aspas. História branca, elitista e imperial que, se deu contribuição surpreen-
dente ao informar sobre os costumes e crenças dos tupis, chamaram-nos 
quase sempre de bárbaros e selvagens e praticamente silenciou sobre os ne-
gros. Com Varnhagen, a “miscigenação” permaneceu oculta, seja racial, étnica 
ou cultural.
Capistrano de Abreu foi nosso grande historiador da virada do século, 
pois de fato inovou em diversos aspectos a interpretação da história colo-
nial do Brasil. Em seus Capítulos de história colonial, publicado em 1907, fez 
questão de abrir nossa história com os “Antecedentes indígenas”, no lugar do 
descobrimento; concebeu o futuro Brasil como área de disputa entre Portugal 
e outros países europeus, no lugar de sacramentar o Tratado de Tordesilhas; 
iluminou as diversidades territoriais da América portuguesa, como se vê no 
magistral capítulo “O sertão”. Com Capistrano de Abreu, deu-se verdadeiro 
deslocamento do objeto de investigação, que em Varnhagen era a coloniza-
ção portuguesa, suas instituições e motivações e nos Capítulos passou a ser 
a colônia, a sociedade colonial com todos os seus desequilíbrios e contrastes.
Talvez neste último ponto, na ênfase que deu às diversidades regionais, 
resida a inovação principal da interpretação de Capistrano que, longe de fes-
tejar, como Varnhagen, o êxito da colonização portuguesa e de sua vocação 
para manter a unidade do Brasil, acentuou a fragmentação, as incomunicabi-
lidades, a ausência de qualquer consciência nacional, mesmo que em esboço, 
ao final de três séculos de colonização.
No entanto, no tocante ao tema da miscigenação, que Von Martius 
apontara como chave para se compreender o Brasil, Capistrano avançou mui-
to pouco. Entre seus raros comentários sobre o assunto, reiterou estereóti-
pos sobre negros e mestiços, relacionando o primeiro às “danças lascivas” 
que alegravam o cotidiano da colônia (a compensar “o português taciturno e 
Estereótipos: 
Estereótipo são 
generalizações que as 
pessoas fazem sobre 
comportamentos 
ou características 
de outros. 
Estereótipo significa 
impressão sólida, 
e pode ser sobre a 
aparência, roupas, 
comportamento, 
cultura etc.
58 Historiagrafia Brasileira INTA
o índio sorumbático”) (Abreu, 1976 p. 18) e vendo os mulatos como indóceis e 
rixentos: “podiam ser contidos a intervalos por atos de prepotência, mas reassu-
miam logo a rebeldia originária”. Ainda que de forma atenuada, Capistrano re-
velou-se afinado, neste ponto, com certa “raciologia cientificista” ( SCHWARCZ 
, 1995), concebida na Europa e assimilada pela intelectualidade brasileira, a qual 
via na mestiçagem um perigo para a sobrevivência das civilizações. A mesma 
raciologia que inspirava intelectuais do porte de Nina Rodrigues, Euclides da 
Cunha, Silvio Romero, Mello Moraes, Oliveira Vianna e outros que, como já se 
disse certa vez, eram “racistas por ofício”.
É verdade que, com Capistrano de Abreu, pode parecer injusto emitir juízo 
aparentemente tão rigoroso, ele que, em sua rica correspondência, polemizou 
com João Lúcio de Azevedo, seu amigo e interlocutor, sobre a questão judaica 
no Antigo Regime português, criticando a intolerância inquisitorial e racista 
então vigente contra os cristãos novos. Mas no que toca ao Brasil, ao encontro 
sexual entre portugueses, índios e africanos e à mescla cultural derivada do 
convívio plurissecular, Capistrano tratou pouco e não deixou de pensá-la como 
um dos vários fenômenos que, a seu ver, esgarçavam o Brasil, funcionando an-
tes como fator desagregador do que como agente de coesão.
Seguiu-lhe a trilha Paulo Prado, autor do célebre e polêmico Retrato do 
Brasil, publicado em 1928, autor que fez da luxúria, da cobiça, da tristeza e do 
romantismo os grandes males da formação brasileira desde o descobrimento 
até o século XIX. Mas, à diferença de Capistrano, Paulo Prado foi mais explí-
cito em tudo, seja quanto à embriaguez sexual e multirracial deflagrada na 
colônia, seja quanto às consequências da miscigenação racial dela resultante. 
No tocante à embriagues sexual, Paulo Prado até que avançou um pouco, ao 
romper os constrangimentos que cercavam o tratamento do assunto, embora 
de seu texto extravase um moralismo quase jesuítico, condenatório das su-
postas liberdades sexuais do trópico, as quais considerava verdadeiramente 
patológicas. A culpa de tanta luxúria – porque disso se trata em Paulo Prado 
– era responsabilidade dos portugueses degenerados que para cá vieram sob 
degredo, dos índios naturalmente lascivos e dos africanos igualmente libidi-
nosos, disso resultando um “retrato do Brasil” tremendamente orgiástico.
Da condenação da orgia colonial à execração da miscigenação o passo 
foi curto. É no Post-scriptum que a posição de Paulo Prado se descortina com 
mais nitidez em meio a considerações raciológicas típicas do fim do século 
XIX e das primeiras décadas do século XX. Apesar de dizer que “todas raças 
Degredo:Pena 
consistente em 
afastamento 
compulsório da terra 
natal por certo tempo 
ou por toda vida; 
desterro, exílio. 
Orgiástico: 
que se refere a orgia.
Post-scriptum: 
Expressão latina que 
significa “escrito 
depois”.
59INTA Historiagrafia Brasileira
parecem essencialmente iguais em capacidade mental e adaptação à civi-
lização”, o autor não se escusa de afirmar “a inferioridade social” do negro 
nas aglomerações civilizadas, ao contrário do que costuma ser nos “centros 
primitivos da vida africana”. Elogia o conselho de Von Martius quanto à 
necessidade de se estudar o negro na história do Brasil, mas propõe conhe-
cê-lo “nos seus costumes, preconceitos e superstições, defeitos e virtudes, 
máquina de trabalho e vício para substituir o índio mais fraco e rebelde”. 
(PRADO, 1996, p. 187-188).
O problema racial do Brasil residia, segundo Paulo Prado, porém, nem 
tanto no negro, mas na miscigenação. De um lado, observa que a “ariani-
zação” do brasileiro avançava diariamente e “já com um oitavo de sangue 
negro, a aparência africana se apaga por completo [...] E assim o negro de-
saparece aos poucos, dissolvendo-se até a aparência de ariano puro [...] Não 
temos ainda perspectiva suficiente para um juízo imparcial. A arianização 
aparente eliminou diferenças somáticas e psíquicas:

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