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O Sistema Prisional e a Ineficacia da Lei de Execução Penal - Luciana Carvalho Corrêa

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Prévia do material em texto

Luciana Carvalho Corrêa 
 
 
 
 
 
 
 
O SISTEMA PRISIONAL BRASILEIRO E A INEFICÁCIA DA LEI DE 
EXECUÇÃO PENAL 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Centro Universitário Toledo 
Araçatuba/SP 
2018 
 
Luciana Carvalho Corrêa 
 
 
 
 
 
 
 
O SISTEMA PRISIONAL BRASILEIRO E A INEFICÁCIA DA LEI DE 
EXECUÇÃO PENAL 
 
 
 
 
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como 
requisito parcial para obtenção de grau de Bacharel em 
Direito à Banca Examinadora do Centro Universitário 
Toledo, sob orientação do Professor Jefferson Jorge. 
 
 
 
 
 
Centro Universitário Toledo 
Araçatuba/SP 
2018 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
BANCA EXAMINADORA 
 
 
 
Jefferson Jorge 
 
 
Thiago de Barros Rocha 
 
 
Luiz Gustavo Boiam Pancotti 
 
 
 
 
Araçatuba/SP, 20 de junho de 2018. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Este trabalho é dedicado a meus pais, 
especialmente a meu pai que não pode 
alcançar minha conquista. 
 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
 
Dedico meus sinceros agradecimentos àqueles que muito me ajudaram na conclusão 
desse caminho árduo e difícil. Com certeza essas pessoas tornaram a realização deste trabalho 
uma tarefa prazerosa, a exemplo dos meus pais, Glória Carvalho Corrêa e Eliseu Corrêa, 
minha irmã Luciene Carvalho, minha sobrinha Julia Berjan e meu cunhado Donizete Doro. 
Ainda, os eternos e mais que especiais, Juliana Crespi Bozzo e Carlos Henrique 
Gênova Morotti, bem como aos excelentíssimos professores Renato Freitas e Jefferson Jorge 
os quais eu nunca poderei expressar minha eterna gratidão. Outras pessoas poderiam ser aqui 
citadas, fazendo com que a estrutura desse texto fosse mais completa e emotiva, porém 
poucas fizeram a real diferença como as que estão citadas. Maiormente, Deus, nosso Senhor 
em Cristo Jesus. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
―Se quiseres conhecer a situação 
socioeconômica do país, visite os porões de 
seus presídios‖ Nelson Mandela. 
 
 
RESUMO 
 
O exposto trabalho, o qual foi nomeado ―O Sistema Prisional Brasileiro e a ineficácia da Lei 
de Execução Penal‖, tem por objetivo esclarecer e apontar os principais problemas do sistema 
carcerário brasileiro e, junto, a ineficácia e despreparo evidentes da Lei de Execução Penal 
desenvolvida para desobstruir o processo penal em sua última fase, concretizar a sentença ou 
decisão criminal e, além disso, facilitar a integração do apenado que volta a conviver em 
sociedade. Para tanto, este trabalho, resumidamente, esclarece aspectos relevantes da história 
das penas e castigos, a linha de raciocínio traçada pelos pensadores das escolas penais, bem 
como a história dos sistemas prisionais anteriores. Fundamentalmente, a obra propõe mostrar 
algumas das inúmeras causas da crise penitenciária no Brasil e, finalmente, os motivos pelos 
quais a Lei de Execução Penal se faz ineficaz frente ao sistema carcerário. 
Palavras-chave: Sistema prisional carcerário. Objetivos da LEP. Lei de Execução Penal. 
Crise no Sistema Carcerário Brasileiro. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ABSTRACT 
 
This work, which was named " The Brazilian Prison System and the ineffectiveness of the 
Criminal Enforcement Law", aims to clarify and point out the main problems of the Brazilian 
prison system and, together, the evident inefficiency and lack of preparation of the Criminal 
Enforcement Law developed to clear the criminal process in its last phase, to concretize the 
sentence or criminal decision and, in addition, to facilitate the integration of the remorse that 
returns to live in society. To this end, this paper briefly clarifies relevant aspects of the history 
of punishments and punishments, the line of reasoning drawn by criminal school thinkers, as 
well as the history of previous prison systems. Fundamentally, the book proposes to show some 
of the innumerable causes of the penitentiary crisis in Brazil and, finally, the reasons why the 
Law of Criminal Execution becomes ineffective before the prison system. 
 
Keywords: Prison system in prisons. Objectives of the LEP. Criminal Execution Law. Crisis 
in the prison system prison. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE ABREVIATURAS 
 
 
 CF: Constituição Federal 
 CP: Código Penal 
 CPP: Código de Processo Penal 
 LEP: Lei de Execução Penal 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 12 
I – BREVE HISTÓRIA DAS PENAS...................................................................................13 
1.1. Vingança divina ................................................................................................................ 13 
1.2. Vingança privada .............................................................................................................. 14 
1.3. Vingança pública ............................................................................................................... 15 
1.4. Direito penal romano ......................................................................................................... 16 
1.5. Direito penal germânico .................................................................................................... 19 
1.6. Direito penal canônico ...................................................................................................... 21 
1.7. Período Humanitário ......................................................................................................... 26 
 
II – ESCOLAS PENAIS.........................................................................................................39 
2.1. Escola Clássica .................................................................................................................. 39 
2.2. Escola Positiva ................................................................................................................. 40 
2.3. Escola Correcionalista ....................................................................................................... 43 
2.4. Escola Técnico-Jurídica .................................................................................................... 44 
2.5. Escola de Defesa Social .................................................................................................... 45 
2.6. Conceito de Pena ............................................................................................................... 46 
2.6.1. Teorias sobre a finalidade da pena ................................................................................. 47 
2.6.2. Teoria absoluta ou retributiva. ..................................................................................... 49 
2.6.3. Teorias relativas com finalidades preventivas. ............................................................. 50 
2.6.4. Teoria adotada pelo Brasil e classificação das penas. .................................................. 51 
 
III – A HISTÓRIA SOBRE OS SISTEMAS PENITENCIÁRIOS....................................53 
3.1. A importância de John Howard ......................................................................................... 53 
3.2. Jeremy Bentham e sua atuação ......................................................................................... 54 
3.3. Sistema Pensilvânico ......................................................................................................... 56 
3.4. Sistema Auburniano .......................................................................................................... 57 
3.5. Sistema Progressivo Inglês ...............................................................................................61 
3.6. Sistema Progressivo Irlandês ............................................................................................ 62 
file:///C:/Users/Carlos/Desktop/MONOGRAFIA%20-%20FINAL.doc%23_Toc368410506
file:///C:/Users/Carlos/Desktop/MONOGRAFIA%20-%20FINAL.doc%23_Toc368410510
 
3.7. Sistema de Elmira ............................................................................................................. 64 
3.8. Sistema de Montesinos ...................................................................................................... 65 
 
IV - AS CAUSAS DA CRISE PENITENCIÁRIA...............................................................68 
4.1. O Crime Organizado ......................................................................................................... 68 
4.2. A Superlotação .................................................................................................................. 70 
4.3. A Reincidência .................................................................................................................. 73 
4.4. O Excesso de prisões provisórias ...................................................................................... 75 
 
V - A INEFICÁCIA DA LEI DE EXECUÇÃO PENAL.....................................................78 
5.1. O desrespeito ao princípios constitucionais ...................................................................... 78 
5.2. A não prestação dos direitos e garantias previstos ............................................................ 82 
5.3. A má administração ........................................................................................................... 86 
5.4. A Segurança nos presídios. ............................................................................................... 88 
CONCLUSÃO ........................................................................................................................ 90 
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 93 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
file:///C:/Users/Carlos/Desktop/MONOGRAFIA%20-%20FINAL.doc%23_Toc368410537
file:///C:/Users/Carlos/Desktop/MONOGRAFIA%20-%20FINAL.doc%23_Toc368410537
 
INTRODUÇÃO 
 
O sistema carcerário atual constitui um dos maiores impasses do Brasil e, portanto, 
deve ser avaliado e reestudado para que sofra melhorias e avanços frente o ordenamento 
jurídico brasileiro, sobretudo a Lei de Execução Penal. 
A relevância desse assunto é tão grande que a LEP foi criada com o objetivo de 
efetivar as disposições da sentença e, como preceitua a lei, proporcionar condições para a 
integração social do apenado. 
Dessa forma, esse trabalho cuidará de esclarecer um pouco da história das prisões, 
como as prisões chegaram ao que se tem hoje avaliando as escolas penais e as causas da crise 
no sistema prisional brasileiro e, ainda a ineficácia da Lei de Execução Penal. 
O primeiro capítulo cuida avaliar em um panorama histórico a transição do conceito 
de pena e prisão, bem como o período em que esta ganhou o caráter mais humano. 
Adiante, o trabalho se preocupa em detalhar minuciosamente os pensamentos de todas 
as escolas penais, principalmente, o conceito e as teorias relativas as penas no direito penal. 
 No terceiro capitulo, se fará necessário esclarecer a história do sistema penitenciário e 
a influencia fundamental de alguns pensadores que fizeram história no tema penitenciário. 
O penúltimo capítulo deste trabalho cuida de demonstrar algumas das principais 
causas da crise do sistema penitenciário brasileiro. Desta forma, se fez fundamental destacar o 
crime organizado, a superlotação, a reincidência e o excesso de prisões provisórias no Brasil. 
Por fim, o ultimo capitulo elucida alguns dos pontos estimuladores da ineficácia da lei 
de execução penal, a exemplo, do desrespeito aos princípios constitucionais, a não observação 
aos direitos inerentes dos presos, bem como suas garantias e, ainda a má administração das 
autoridades e a segurança dentro dos estabelecimentos prisionais. 
 
 
 
 
 
 
I – BREVE HISTÓRIA DAS PENAS 
 
1.1 Vingança Divina. 
 
A origem do Direito Penal tem como um de seus fundamentos as diferentes formas de 
advertência do homem como ser social. A repreensão do homem está associada a uma época 
primitiva, os livros religiosos fazem menção a uma espécie de punição sofrida pelo homem 
como forma de efeito por um mal causado. Segundo a Bíblia Sagrada, uma das primeiras 
experiências no que tange a recriminação do homem se encontra no livro de Gênesis, o qual 
relata a desobediência de Eva em relação à ordem emanada de Deus, tal condição merece 
registro: 
 
E Deus disse: Quem te disse que estavas nu? Comeste tu da árvore de que te ordenei 
que não comesses? Então disse Adão: A mulher que me deste por companheira, ela 
me deu da árvore, e eu comi. E disse o Senhor Deus à mulher: Que é isto que 
fizeste? E disse a mulher: A serpente me enganou, e eu comi. E à mulher disse: 
Multiplicarei grandemente a tua dor e a tua concepção; com dor darás à luz filhos; e 
o teu desejo será para o teu marido, e ele te dominará. E a Adão disse: Porquanto 
deste ouvidos à voz de tua mulher e comeste da árvore de que te ordenei, dizendo: 
Não comerás dela; maldita é a terra por causa de ti; com dor comerás dela todos os 
dias da tua vida. Espinhos e cardos também te produzirão; e comerás a erva do 
campo. No suor do teu rosto comerás o teu pão, até que retornes à terra, porque dela 
foste tomado; porquanto és pó, e ao pó retornarás. 
 
De acordo com a religião o conflito foi à primeira relação de Deus para com o homem 
e, sobretudo, a punição ou castigo foi à primeira das soluções. Porém, na passagem dos 
períodos, a doutrina da vingança acontece não somente pela divindade cristã, mas também por 
outros deuses emblemáticos nos códigos de consagradas nações, ou seja, códigos interpostos 
pelo próprio homem por uma presumível expiração divina. No que diz respeito à opinião de 
Magalhães Noronha sobre isto: 
Já existe um poder social capaz de impor aos homens normas de conduta e castigo. 
O princípio que domina a repressão é a satisfação da divindade, ofendida pelo crime. 
Pune-se com rigor, antes com notória crueldade, pois o castigo deve estar em relação 
com a grandeza do deus ofendido. É o direito penal religioso, teocrático e sacerdotal. 
Um dos principais Códigos é o da Índia, de Manu (Mânava, Dharma, Sastra). Tinha 
por escopo a purificação da alma do criminoso, através do castigo, para que pudesse 
alcançar a bem-aventurança. Dividia a sociedade em castas: brâmanes, guerreiros, 
comerciantes e lavradores. Era a dos brâmanes a mais elevada; a última, a dos 
sudras, que nada valiam. Revestido de caráter religioso era também o de Hamurabi. 
Aliás, podemos dizer que esse era o espírito dominante nas leis dos povos do Oriente 
antigo. Além da Babilônia, Índia e Israel, o Egito, a Pérsia, a China etc. 
(NORONHA, 2000, p. 21). 
 
 
Muitos atos foram cometidos com a desculpa de vingança divina, muitos destes 
cometidos pelo homem para outro homem, ou ainda, de uma tribo para com uma família. A 
partir destas concepções, algumas tribos ou bando destinavam e nomeavam alguns indivíduos 
em meio ao grupo para exercer a pretensa vingança, pode-se assim dizer chefes e sacerdotes. 
Ao dissertar sobre o tema Rogério Greco comenta: 
 
Era o direito aplicado pelos sacerdotes, ou seja, aqueles que, supostamente, tinham 
um relacionamento direto com um deus e atuavam de acordo com sua vontade. 
Incontáveis atrocidades foram praticadas em nome dos deuses, muitas delas com a 
finalidade de aplacar-lhes a ira. A criatividade maligna dos homens não tinha 
limites. As sociedades, nesse período, eram carregadas de misticismos e crenças 
sobrenaturais. Eventos da natureza, como chuvas, trovões, terremotos, vendavais 
etc.,podiam demonstrar a fúria dos deuses para com os homens e, para tanto, 
precisava ser aplacada, mediante o sacrifício humano. Alguém era apontado como 
culpado e, consequentemente, devia ser entregue aos deuses (GRECO, 2017, p. 49). 
 
 
Também em contrapartida Artur Rocha De Souza Netto aclara ―A fase da vingança 
divina é caracterizada pela aplicação de penas com o intuito de satisfazer os deuses pela 
ofensa praticada no grupo social. Exemplo típico dessa fase é o Código de Manu. Nessa fase a 
pena era aplicada pelos sacerdotes‖ (NETTO, 2010). 
 
 
1.2 Vingança Privada 
 
 
Entende-se que a vingança privada era uma reação natural e muita das vezes 
desproporcional do ofendido para com seu ofensor. Acontece que pela falta de 
regulamentação de normas a invasão daquele que sofreu o delito era muito maior do que o 
dano causado, podendo ultrapassar a pessoa do delinquente tendo consequência, 
principalmente, em sua parentela. Pela lição de Magalhães Noronha temos: 
 
A pena, em sua origem, nada mais foi que vindita, pois é mais que compreensível 
que naquela criatura, dominada pelos instintos, o revide à agressão sofrida devia ser 
fatal, não havendo preocupações com a proporção, nem mesmo com sua justiça. Em 
regra, os historiadores consideram várias fases da pena: a vingança privada, a 
vingança divina, a vingança pública e o período humanitário. Todavia deve advertir-
se que esses períodos não se sucedem integralmente, ou melhor, advindo um, nem 
por isso o outro desaparece logo, ocorrendo, então, a existência concomitante dos 
princípios característicos de cada um: uma fase penetra a outra, e, durante tempos, 
esta ainda permanece a seu lado (NORONHA, 2000, p. 20). 
 
 
 
As palavras de Rogerio Greco explana o que foi acima citado ―O único fundamento da 
vingança era a pura e simples retribuição a alguém pelo mal praticado. Essa vingança podia 
ser exercida não somente por aquele que havia sofrido o dano, como também por seus 
parentes ou mesmo pelo grupo social em que se encontrava inserido‖ (GRECO, Curso de 
Direito Penal: Parte Geral, 2015, p. 16). Rogério também compara o livro sagrado e a Lei do 
Talião em sua exemplificação: 
 
A Bíblia relata a existência das chamadas ―cidades refúgio‖, destinadas a impedir 
que aquele que houvesse praticado um homicídio involuntário, ou seja, um 
homicídio de natureza culposa fosse morto pelo vingador de sangue. Se, no entanto, 
o homicida viesse a sair dos limites da cidade refúgio, poderia ser morto pelo 
mencionado vingador. A Lei de Talião pode ser considerada um avanço em virtude 
do momento em que foi editada. Isso porque, mesmo que de forma incipiente, já 
trazia em si uma noção, ainda que superficial, do conceito de proporcionalidade. O 
―olho por olho‖ e o ―dente por dente‖ traduziam um conceito de Justiça, embora 
ainda atrelada à vingança privada. (GRECO, Curso de Direito Penal: Parte Geral, 
2015, p. 17) 
 
 
De maneira uniforme um artigo detalhado pelo aluno de direito Artur Rocha De Souza 
Netto faz alusão de como era o tempo da vingança privada, em suas palavras, ilustra: 
 
Na fase de vingança privada, quando alguém praticava um ato proibido por seu 
povo, havia a reação da vítima, dos parentes, e até de seu grupo social que agiam 
sem proporção à ofensa. Se o ofensor fosse da tribo podia ser expulso (banido) ou 
até mesmo morto, e se fosse de outra tribo, poderia acabar gerando uma guerra que 
levaria até mesmo à destruição de uma das tribos. Com o tempo, a fim de se evitar 
massacres desmedidos, tornou-se aceita a ideia de que a retaliação deveria ser 
proporcional ao dano causado (NETTO, 2010). 
 
Enfim, muita das vezes desproporcional a vingança privada era o meio pelo qual o 
homem externava suas razões por não ter garantia nenhuma que a justiça fosse ser feita. 
 
 
1.3 Vingança pública 
 
 
A vingança pública tem se por mais organizada, isto é, instituída pelo Estado para que 
as autoridades competentes cumpram seu papel de vingador. A vingança pública não se 
desarraigou de seu caráter cruel e vexatório, ao contrário, se tornara mais violenta por seu 
cunho executório. Dessa forma, Greco nos afirma ―A vingança pública surge, nessa fase da 
evolução histórica do Direito Penal, e fundamentada na melhor organização social, como 
forma de proteção, de segurança do Estado e do soberano, mediante, ainda, a imposição de 
 
penas cruéis, desumanas, com nítida finalidade intimidatória‖ (GRECO, Curso de Direito 
Penal: Parte Geral, 2015, p. 18). 
Entretanto, a vinganças privada e divina nunca desapareceram do meio social, tão 
somente se escondiam em menor quantidade por força de grupos apartados. Pode-se refletir 
com base no que diz João Mestieri (1999, p.26, apud GRECO, 2015, p. 18) 
 
A vingança divina cede naturalmente lugar à vingança pública, produto da paulatina 
afirmação do direito no contexto sociocultural. As várias sociedades, já 
politicamente organizadas, contam com um poder central, procurando por todos os 
meios se afirmar e manter a coesão e a disciplina do grupo social. Leis severas são 
ditadas e a sociedade não demora muito a sentir a enorme perda que está sofrendo 
dia a dia, com a aplicação da justiça. As mortes e as mutilações apenas enfraqueciam 
a tribo, sendo necessário então outra forma de retribuição. 
 
 
Nesse sentido segue o resumo do promotor Cleber Masson, que em sua obra resume 
perfeitamente: 
 
Com a evolução política da sociedade e melhor organização comunitária, o Estado 
avocou o poder dever de manter a ordem e a segurança social, conferindo a seus 
agentes a autoridade para punir em nome de seus súditos. A pena assume nítido 
caráter público. Os ofendidos não mais necessitam recorrer às suas próprias forças. 
A finalidade dessa fase era garantir a segurança do soberano, por meio da aplicação 
da sanção penal, ainda dominada pela crueldade e desumanidade, característica do 
direito penal então vigente. Cabia a uma terceira pessoa, no caso o Estado – 
representante da coletividade e em tese sem interesse no conflito existente –, decidir 
impessoalmente a questão posta à sua análise, ainda que de maneira arbitrária. Nessa 
época, as penas ainda eram largamente intimidatórias e cruéis, destacando-se o 
esquartejamento, a roda, a fogueira, a decapitação, a forca, os castigos corporais e 
amputações, entre outras (MASSON, 2015, p. 120). 
 
 
 
1.4 Direito Penal Romano 
 
Os períodos de vingança foram, sobre tudo, o tempo no qual o homem, literalmente, 
exercia a autotutela, tendo base para tal as próprias razões. Neste período arcaico o exercício 
das próprias razões era simplesmente demasiado, sem qualquer ordem ou limite. 
Logo, é essencial elucidar que a historia de Roma foi categórica para o 
desenvolvimento do direito atual. De acordo com a história a narrativa romana se desmembra 
em três partes: Roma passou pela monarquia, pelo império e pela republica. 
 
Roma no inicio foi governada por reis que detinham vários dos poderes, inclusive, os 
poderes judiciais. Rogerio Greco narra à história de Roma de uma maneira exemplar, e sobre 
ela aduz: 
 
O Direito Romano pode ser considerado um dos marcos mais importantes da nossa 
história. Roma foi fundada em 753 a.c. e surgiu de uma pequena comunidade 
agrícola existente na península itálica no século VIII, tornando-se um dos maiores 
impérios do mundo antigo. Em virtude de uma proposta levada a efeito por um 
plebeu chamado Gaius Terentilius, em 462 a.c., que se opunha ao modo pelo qual as 
leis eram conhecidas e aplicadas, principalmente pelos patrícios, foi designado um 
decenvirato (um grupo de dez homens), que teve por encargo a preparação de um 
conjunto de leis que, posteriormente, ficou conhecido como Lei das XII Tábuas, que 
chegou a seu termo e foi promulgada de 451 a 450 a.C. Foi, originalmente, escrita 
em doze tabletes de madeira, que foram afixados no Fórum Romano, permitindo, 
assim, que todosas conhecessem e pudessem fazer a sua leitura. Sua temática estava 
dividida da seguinte forma: Tábuas I e II: Organização e procedimento judicial; 
Tábua III – Normas contra os inadimplentes; Tábua IV – Pátrio poder; Tábua V – 
Sucessões e tutela; Tábua VI – Propriedade; Tábua VII – Servidões; Tábua VIII – 
Dos delitos; Tábua IX – Direito público; Tábua X – Direito sagrado – Tábuas XI e 
XII – Complementares (GRECO, Curso de Direito Penal: Parte Geral, 2015). 
 
 
Sendo a historia do direito em Roma muito extensa pode-se traduzi-la em uma breve 
linha do tempo – Período arcaico — fundação a século II a.c. - que está ligado ao primitivo e 
ao fazer as leis como se acha necessário, ou seja, pelas próprias razões, sendo assim por este 
motivo mais tarde a codificação e organização da lei na chamada ―Lei das XII Tábuas‖. 
Contudo, está não se distanciou do arcaísmo e da violência do homem, sendo uma das leis 
mais severas já elaboradas. 
As demais fases (Período clássico e Justiniano) nos são permitido entender melhor 
nessa explanação feita por Renata Flávia Firme Xavier sobre o período clássico que venho 
após o período arcaico, e assim a mesma discorre que: 
 
As inovações do direito no período clássico foram obras principalmente dos 
magistrados, os pretores, que, embora não pudessem revogar as arcaicas normas do 
direito antigo (como as XII Tábuas), terminaram por introduzir modificações 
verdadeiramente revolucionárias, que, no intuito de suprir lacunas e trazer novas 
soluções para uma sociedade em constante modificação, colocaram o direito romano 
em um movimento constante de evolução. É preciso, todavia, que se esclareça a 
função desempenhada pelo pretor do direito romano. Ele, ao contrário de um juiz de 
direito moderno, não executava os processos, nem mesmo colhia as provas. Sua 
atividade era observar os argumentos das partes no processo e fixar os limites da 
demanda, isto é, de como ela deveria ser julgada. Aí, entrava em jogo um outro juiz, 
o iudex (melhor seria dizer árbitro, pois era livremente escolhido pelas partes), que 
colhia as provas e, seguindo as diretrizes pré-fixadas pelo pretor para o caso, dava 
uma decisão que encerrava a demanda. Dentre os jurisconsultos da época clássica, 
podem ser destacados alguns, como Sabinus, Iulianus, Papinianus (que teria sido um 
primeiro jurista cristão), Ulpianus (brilhante jurista-filósofo, grande conhecedor da 
filosofia de Aristóteles, Platão e Pultarco) e Gaius, autor de uma das obras mais 
importantes de toda a história do direito romano, as Institutiones. Com o tempo, 
 
porém, o poder dos pretores e dos jurisconsultos foi sendo reduzido, sendo uma das 
marcas do final do período clássico a concentração cada vez maior do poder nas 
mãos dos Imperadores, que, por meio de suas próprias regras soberanas (chamadas 
constituições imperiais), acabaram por ir tomando, para si, a capacidade de inovar 
em direito, a capacidade de criar regras novas (XAVIER, 2011). 
 
Mais a frente Roma tem-se o que se chama de Período Justiniano que assim se 
nomeou por ser governado por Flávio Pedro Sabácio Justiniano Augusto – também conhecido 
como Justiniano, o Grande. Renata Flávia Firme Xavier também discorre perfeitamente sobre 
está época: 
 
Inicia-se no ano 530, quando o Imperador Justiniano encarregou uma comissão de 
juristas, encabeçada por Triboniano, de elaborar uma compilação dos melhores 
momentos da história do direito romano, que seria chamada de Digesto ou 
Pandectas. Esta fase, a última da história do direito romano, termina em 565, com o 
falecimento de Justiniano. É uma época em que o Império já havia se deslocado para 
Bizâncio, no Oriente, e está, como o período pós-clássico inteiro, marcada por uma 
grande decadência do antigo e clássico direito romano. Justamente são essas as 
preocupações que moveram Justiniano: em razão da grande decadência, tentar 
resgatar um pouco da tradição e história do direito romano, compilando as mais 
famosas frases e citações dos grandes jurisconsultos romanos, como Papinianus, 
Ulpianus e Gaius. Em 530, Justiniano encarregou Triboniano de fazer uma seleção 
das obras mais importantes dos jurisconsultos clássicos. Triboniano convocou uma 
comissão que, em três anos, apresentou o resultado do trabalho árduo e penoso, mas 
de muita valia: o Digesto (ou Pandectas), composto de 50 livros, no qual estão 
compilados trechos escolhidos de cerca de 2000 livros dos grandes jurisconsultos. É 
interessante anotar que os compiladores tinham autorização para modificar 
levemente os trechos escolhidos, para harmonizá-los com os princípios do direito 
atual (lembrar que a maior parte dos autores compilados era do período clássico, 
portanto de três ou quatro séculos antes de Justiniano) (XAVIER, 2011). 
 
 
Obviamente que a evolução das leis em Roma tem a maior influencia no nosso mundo 
contemporâneo. Como elucida Renata: 
 
 Os romanos foram os fundadores da Ciência do Direito, os primeiros a desenvolver 
um trabalho de análise científica da experiência jurídica. Com isso, forjaram 
diversos conceitos, especialmente do Direito privado, conceitos que sobreviveram ao 
tempo chegando até os dias atuais. Esses conceitos surgiram no mundo romano 
como decorrências de uma necessidade prática, ou seja, da necessidade que os 
romanos tinham de descrever a realidade por eles vivenciada, e as normas e 
institutos que a regulavam. Para os romanos, a ligação entre Direito e sociedade não 
era uma relação casual, mas uma relação de necessidade. E essa necessidade do 
Direito fez aparecer uma reflexão típica dos jurisconsultos, com a criação dos 
conceitos operacionais do Direito. Justiniano mandou fazer também uma nova 
compilação do Codex, texto, este sim, que chegou até os dias de hoje. O Codex era, 
portanto, um aglomerado, das mais importantes regras dos Imperadores, em 
especial, como vimos, do período do Dominato, que equivale ao fim do período 
jurídico clássico e ao início do período jurídico pós-clássico. Além disso, Justiniano 
pediu aos seus juristas a elaboração de uma nova versão para as famosas Instituições 
de Gaius, que foi feita: são as Institutas de Justiniano. Nos anos seguintes, até o seu 
falecimento, Justiniano também cuidou de criar muitas regras novas, muitas 
constituições imperiais, que foram publicadas posteriormente como as Novellae, isto 
 
é, as novas (constituições imperiais). O conjunto das obras de Justiniano, portanto, 
abarca o Digesto, as Institutas, o Codex e as Novellae. Esse conjunto recebeu 
posteriormente o nome de "Código de Justiniano" ou, no século XVI, de Corpus 
Iuris Civilis (nome pelo qual ele é conhecido até hoje) (XAVIER, 2011). 
 
 
 
 
1.5. Direito Penal Germânico 
 
É importante dizer que o direito encontrado nos livros de hoje muito tem a ver com o 
direito dos primórdios. A narrativa de Roma como de outros povos em países distinto foi 
crucial para o aprimoramento de nossas leis. A evolução do homem na sociedade, a passagem 
de tribos e clãs para uma sociedade mais organizada, o conceito de Estado, a instituição de 
leis que beneficiam a propriedade, o aprimoramento do processo penal no julgamento de um 
delito, dentre outros avanços fora importantíssimo ao desenvolvimento de normas jurídicas 
em muitas nações e povos. Contudo, não se pode deixar de citar Roma se esquecendo do 
conhecido povo germânico e suas tradições. Todavia, antes é necessário procurar 
―acertadamente‖ conceituar a ideia de povo germânico. Dessa forma um artigo de estudo em 
um site de conteúdo educacional discorre sobre o assunto: 
 
Os povos germânicos são etnias indo-europeias originalmente estabelecidas na 
Europa setentrional. A maior fonte de conhecimento que temos dos germânicos - 
data do governo de Júlio César, quando o imperador romano empreendeu várias 
guerras contra estes povos. Os povos germânicos habitavam o norte da Europa, onde 
hoje estão localizados países comoa Alemanha, Áustria, Dinamarca, Noruega, 
Suécia, Holanda, Bélgica, Luxemburgo, Reino Unido e parte da França. Como não 
possuíam alfabeto, não há fontes escritas pelas próprias tribos germânicas. Por isso, 
as evidências arqueológicas são essenciais para descobrir como viviam ditos povos 
(BEZERRA, 2017). 
 
 
Ainda na mesma ideia temos a definição e esclarecimento de Luís Regis Prado: 
 
Nos primórdios, os germanos ocupavam, fora das fronteiras do império romano, 
uma extensa zona que se estendia ao leste do rio Reno e ao norte do Danúbio, até 
região conhecida hoje como Rússia. Estavam divididos em uma série de povos ou 
tribos, em geral nômades, cada qual com a sua organização própria (v.g. visigodos, 
ostrogodos, álavos, vândalos, borgúndios), unidos em torno de um ancestral comum, 
sob a liderança de um chefe de guerra escolhido em razão de sua bravura. As 
sociedades germânicas eram constituídas por nobres, homens livres, semilivres e 
escravos, e dominadas pela concepção religiosa de que os deuses dirigem o destino 
humano (v.g., o grande deus Wotan, ou Odin, senhor das batalhas e dos mortos). Já 
por volta de 359, Roma acaba por aceitar a instalação dos sálicos na margem 
esquerda do rio Reno, ao norte da Gália, como soldados romanos de uma tribo 
bárbara. Ao depois, em 382, Teodósio faz o mesmo com os visigodos, autorizando-o 
a viverem na Trácia, em decorrência de um pacto de aliança (o foedus), que foi 
originariamente a causa do desmoronamento do Império Romano do Ocidente 
(PRADO, 2005, p. 72). 
 
 
 
Como as demais etnias e povos o clã germânico também disponham de crenças, 
costumes e religiões. Entretanto, o povo germânico não possuíam uma organização estatal 
nem um compilado de leis para os regerem. 
Dessa forma, se dividiam em tribos e quaisquer destes que desobedeciam as normas de 
conduta deveriam sofrer severas penalidades. Tratava-se de um direito consuetudinário, de 
costumes e não de leis escritas. Assim elucida Mirabete e Fabbrini: 
 
O Direito Penal germânico primitivo não era composto de leis escritas, mas 
constituído apenas pelo costume. Ditado por características acentuadamente de 
vingança privada, estava ele sujeito à reação indiscriminada e á composição. Só 
muito mais tarde foi aplicado talião por influencia do Direito Romano e do 
cristianismo. Outra característica do direito bárbaro foi à ausência de distinção entre 
dolo, culpa e caso fortuito, determinando-se a punição do autor do fato sempre em 
relação ao dano por ele causado e não de acordo com o aspecto subjetivo de seu ato. 
No processo, vigoravam as ―ordálias‖ ou ―juízos de Deus‖ (prova de água fervente, 
de ferro em brasa etc.) e os duelos judiciários, com os quais se decidiam os litígios, 
―pessoalmente ou através de lutadores profissionais‖ (MIRABETE & FABBRINI, 
2011). 
 
 
 
Enfim, o Direito Penal Germânico estava muito atrelado com a justiça primitiva 
também ligada a vingança, a justiça pelas próprias razões, mas em substituição destas o 
direito germânico foi passando por metástase e, contudo, aderindo ao poder estatal de Roma. 
Dessa forma, temos pontos relevantes na historia germânica, a exemplo, das leis 
bárbaras, compostas de obrigações pecuniárias e se estas não fossem possíveis seriam 
supridas por leis corporais. 
 
Em sua fase ulterior, após a invasão de Roma, com o aumento do poder do Estado, 
foi desaparecendo a vindicta. As leis bárbaras (leges barbarorum) caracterizavam-se 
pela composição, estabelecidas às tarifas de pagamento conforme a qualidade das 
pessoas, o sexo, a idade, o local e a espécie da ofensa. Àqueles que não pudessem 
pagar eram aplicadas penas corporais. Alguns crimes, principalmente os políticos, 
eram punidos com penas publicas (pena capital, corporal e exilio). No direito 
germânico preponderou, por muito tempo, ao contrário do direito romano do período 
clássico, que adotava a prevalência do aspecto subjetivo do fato, a responsabilidade 
objetiva. Punia-se o dano, sem se levar em conta se o fato resultou de dolo, culpa ou 
do fortuito. (JUNIOR, 2010, p. 55). 
 
Mais tarde aderiram ao direito do talião que se baseava na reciprocidade do ato 
cometido, originalmente conhecida como ―olho por olho e dente por dente‖. Logo, cumpre 
salientar que o povo germânico usufruiu por bastante tempo de todas as espécies de vingança 
usando-a como soberana norma social. 
 
Como ordem dentro das tribos e aldeias o povo germânico fez jus tanto das leis 
barbaras quanto também por aquelas que acreditavam serem leis e recompensas divinas, assim 
sendo, de acordo com suas crenças e filosofias. 
No entanto, é correto alegar que o direito germânico é o grande introdutor da 
responsabilidade objetiva no campo do direito, ou seja, o menosprezo da subjetividade do 
autor do delito, o julgamento tão somente dos fatos e não de uma possível passionalidade do 
autor. 
Artur Rocha De Souza Netto ilustra, em seu artigo, essa fase do direito primário 
germânico: 
 
O Direito Germânico, anterior à invasão de Roma, não continha leis escritas, sendo 
de natureza consuetudinária. A pena era tida como expiação religiosa. O crime era 
assunto privado, sujeito à vingança ou à composição familiar. Após a invasão de 
Roma, com o aumento do poder do Estado, têm-se as leis bárbaras (leges 
barbarorum) caracterizadas pela composição, estabelecidas as taxas de pagamento 
conforme a qualidade das pessoas, o sexo, a idade, o local e a espécie de ofensa. 
Àqueles que não pudessem pagar eram aplicadas penas corporais. O direito de talião 
foi aplicado muito tempo depois, por influência do Direito Romano e do 
Cristianismo. Ao contrário do Direito Romano do período clássico, preponderou no 
direito penal germânico à responsabilidade objetiva, ou seja, punia-se o dano sem 
levar em conta se o fato resultou de dolo, culpa ou fato fortuito. Quanto ao processo 
penal, serviam-se os germânicos das chamadas ordálias ou juízos de Deus (prova da 
água fervente, ferro em brasa, etc.) e dos duelos judiciários, onde o vencedor era 
proclamado inocente (NETTO, 2010). 
 
 
 
1.6. Direito Canônico. 
Outra narrativa bastante extensa é a correlação da igreja católica com o Estado. 
Embora, o mais ético fosse que as duas entidades não mantivessem relação alguma, está foi 
uma união muito forte durante o período da idade média e, a quem diga, recentemente 
também. 
O direito canônico é um misto de direito – por um lado temos sua essência costumeira, 
consuetudinária, e por outro temos um direito escrito de leis sacras, a exemplo, do Código de 
Direito Canónico atual e do uso da bíblia sagrada como um livro de referência de regras pré-
estabelecidas sobre normas morais. 
Inicialmente, temos que abordar que o cristianismo era uma religião muito perseguida, 
mas que com o tempo se dissipou grandemente tendo o Estado que se unir a tal filosofia por 
sua força e adeptos. Felipe Aquino professor de História a 20 anos da Igreja do Instituto de 
Teologia Bento XVI da Diocese de Lorena em seu artigo detalha a expansão e correlação do 
 
cristianismo com o Estado, o mesmo declara ―No início século quarto, o cristianismo já estava 
espalhado por quase todo o mundo, penetrando até na classe nobre e era muito perseguido 
pelos imperadores que tentavam a todo custo, com o poder das armas destruir o poder da fé, 
mas não conseguiam‖ (Aquino, 2017). 
Há relatos de perseguições sob o povo cristão no império romano, na gestão do 
imperador Nero Cláudio César Augusto Germânico, popularmente conhecido como ―Nero‖, 
perseguições por judeus contra a ideologia cristã, retaliações sob o governo de Diocleciano e 
Galério. 
Ademais, o próprio coliseu que começou a ser construído sob o governo de 
Vespasiano foi palco para grandes torturas contra o povo cristão, a exemplo, dos 
devoramentos de cristãos por leões que ficavam dias sem comer. 
Felipe Aquino igualmente discorre sobre os mártires sofridos pelosfiéis, não somente 
no passado, mas também nos dias de hoje: 
 
A perseguição começou com Jesus; foi caluniado, flagelado, coroado de espinhos, 
crucificado e morto entre dois ladrões. Antes Dele seu Precursor, João Batista, foi 
degolado. Logo em seguida foi Santo Estevão, apedrejado até a morte. Em seguida 
foi Tiago maior, morto por um dos Herodes. Pedro e Paulo morreram sob Nero e 
junto com eles milhares de cristãos derramaram seu sangue no Coliseu, no Circo de 
Nero e nos anfiteatros romanos em toda a volta do Mediterrâneo. Milhares de 
crianças, jovens, mulheres e velhos derramaram seu sangue para que a fé chegasse a 
nós. O escritor cristão do século II, Tertuliano, escreveu em seu ―Apologeticum‖ 
para o imperador sanguinário, Marco Aurélio, que não adiantava matar mais cristãos 
porque ―o sangue dos mártires é semente de novos cristãos‖. Quanto mais cristãos 
eram martirizados barbaramente, mais romanos se convertiam; até que em 313, 
depois de 250 anos de perseguição de Nero, Domiciano, Trajano, Aureliano, Marco 
Aurélio, Diocleciano, etc., Constantino se converteu, impediu a perseguição. Em 
385 Teodósio, o Grande, decretou o fim do paganismo e Roma se tornou cristã. Esse 
sangue foi derramado abundantemente no Japão, na China, no Vietnã, no Laos, no 
Cambodja, no México, em Cuba, na Espanha… em todos os continentes; e, mais do 
que nunca no século XX e XXI, pelos comunistas, nazistas e mulçumanos radicais. 
No Brasil, o nosso primeiro bispo, D. Pedro Sardinha, foi morto pelos índios e 
devorado. A revolução francesa matou cerca de 17.000 padres e 30.000 religiosos. O 
Papa João Paulo II disse, com dados mostrados, que o século XX sozinho fez mais 
mártires do que toda a história anterior da Igreja. Ele nomeou uma Comissão 
destinada a recensear os mártires do século XX. Mais de dez mil relatos de martírio 
ocorrido chegaram a Roma, em cerca de dez línguas diferentes. 45% desses relatos 
vieram de Conferências Episcopais e 40% de Congregações ou Ordens Religiosas. 
Em setembro de 1998, a Igreja da Espanha tinha mandado 2075 relatórios; a da 
França, sessenta e a Espanha mais 2000; a Coréia, 200; a Polônia, 900. Quanto aos 
países dominados por governo anticatólico (Vietnã, China, Sudão…), as autoridades 
civis não permitiram. (AQUINO, 2017). 
 
 
Enfim, muitas foram às perseguições ao cristianismo, contudo, o estigma de 
perseguição e represália se fez presentes em varios governos, como supracitados, e além 
destes, outros mais de diferentes ordens e leis em epocas diversas. Deste modo, cumpre 
infatizar o que realmente importou na historia do direito canonico, a exemplo do governo de 
Constantino I, também conhecido como Constantino Magno ou Constantino, o Grande. 
Com base na historia romana Constantino Magno foi um imperador que governou num 
dos periodos politicos mais dificeis da história e mesmo com tal quadro estabelecido foi 
propagador de varias reformas e mudanças no ambito social de Roma. O professor de História 
Felipe Aquino sintetiza com clareza a historia de Constantino, a saber: 
 
Era filho de um oficial grego, Constâncio Cloro, que no ano 305 foi nomeado 
Augusto ao mesmo tempo em que Galério, e de Helena, uma mulher que chegaria a 
ser santa. Por morte de Constâncio Cloro, em 306, Constantino é aclamado 
imperador do Ocidente pelo exército local, no meio de uma difícil situação política, 
agravada pelas tensões com o antigo imperador, Maximiano, e com o seu filho 
Maxêncio. Constantino começou por derrotar Maximiano, em 310, e logo a seguir 
Maxêncio, na batalha de Ponte Milvio, em 28 de Outubro de 312. Segundo a 
tradição, Constantino terá tido uma visão antes dessa batalha. Olhando o Sol, ao qual 
prestava culto, como pagão que era, viu uma cruz e ordenou que os seus soldados 
pusessem nos escudos o monograma de Cristo (as duas primeiras letras do seu nome 
em grego, sobrepostas). Embora continuasse a praticar ritos pagãos, a partir dessa 
vitória passou a mostrar-se favorável aos cristãos. Com Licínio, imperador do 
Oriente, promulgou o chamado ―Édito de Milão‖ (ver pergunta 49: O que foi Édito 
de Milão?), favorecendo a liberdade de culto. Mais tarde, os dois imperadores 
confrontaram-se e, no ano de 324, Constantino derrotou Licínio, convertendo-se no 
único Augusto do Império. (AQUINO, Quem era Constantino?, 2017). 
 
 
Conforme a historia de Roma, a própria mãe de Constantino foi uma devota cristã 
temente às doutrinas da igreja e tolerante com a devoção e permanecia do povo cristão em 
Roma. Não se sabe ao certo quais desses episódios influenciaram de fato a proclamação do 
Édito de Milão por Constantino, contudo, sabe-se que este foi o documento oficial que 
liberara e favorecia os cristãos a todo e qualquer exercício da religião. 
Com a liberação do exercício cristão em Roma o cristianismo se expandiu pelo mundo 
chegando ao que se conhece atualmente e sua forte influencia fez com que adquirisse forte 
domínio nas relações governamentais, principalmente, no continente europeu. 
A força da igreja sempre é contada nas obras que relatam os tempos do império, da 
idade média ou até mesmo os períodos das guerras e pós-guerras. A Igreja foi extremamente 
criticada até mesmo por seus membros, a exemplo de Martinho Lutero que a censurou por 
meio da reforma protestante ao buscar que a igreja católica não fizesse vista grossa aos seus 
componentes que pregavam a lei, mas não a cumpriam. 
 
No entanto, mesmo sobre criticas, a igreja católica manteve relações corporativas 
durante um longo período com os governantes que a apoiava e, esta em contrapartida, farara o 
mesmo. 
Todavia, com uma autoridade semelhante a dos governos mais poderosos do mundo e 
uma influencia territorial e intelectual suprema, a Igreja Católica não poderia ficar sem um 
código especificador de sua doutrina e ideal, ou seja, um código de regras de condutas que 
norteie seus dogmas. 
Cezar Bitencourt em sua respeitadíssima obra discorre sobre o assunto com nitidez, 
sobre isto diz: 
A influência do Cristianismo no Direito Penal, com a proclamação da liberdade de 
culto, pelo imperador Constantino (313 d.C.), veio a consolidar-se com a declaração 
do imperador Teodósio I, transformando-o na única religião do Estado (379 d.C.). O 
Cristianismo ingressou na Monarquia franca em 496 d.C., com a conversão de 
Clodovéu, surgindo a repressão penal de crimes religiosos e a jurisdição eclesiástica, 
protegendo os interesses de dominação. O Direito Canônico — ordenamento 
jurídico da Igreja Católica Apostólica Romana — é formado pelo Corpus Juris 
Canonici, que resultou do Decretum Gratiani (1140), sucedido pelos decretos dos 
Pontífices Romanos (séc. XII), de Gregório IX(1234), de Bonifácio VIII (1298) e 
pelas Clementinas, de Clemente V (1313). O Papa João Paulo II, em 25 de janeiro 
de 1983, promulgou o atual Código de Direito Canônico. Primitivamente, o Direito 
Penal Canônico teve caráter disciplinar. Aos poucos, com a crescente influência da 
Igreja e consequente enfraquecimento do Estado, o Direito Canônico foi-se 
estendendo a religiosos e leigos, desde que os fatos tivessem conotação religiosa. A 
jurisdição eclesiástica aparecia dividida em: ratione personae e ratione materiae. 
Pela primeira — em razão da pessoa — o religioso era julgado sempre por um 
tribunal da Igreja, qualquer que fosse o crime praticado; na segunda — em razão da 
matéria — a competência eclesiástica era fixada, ainda que o crime fosse cometido 
por um leigo (BITENCOURT, 2015, p. 78). 
 
Bitencourt ainda faz uma explanação a respeito do valor do direito canônico frente ao 
direito penal atual, inclusive, sobre a individualização da pena, nesse aspecto o especialista 
argumenta: 
 
O Direito Canônico contribuiu consideravelmente para o surgimento da prisão 
moderna, especialmente no que se refere às primeiras ideias sobre a reforma do 
delinquente. Precisamente do vocábulo ―penitência‖, de estreita vinculaçãocomo 
Direito Canônico, surgiram as palavras ―penitenciário‖ e ―penitenciária‖. Essa 
influência veio completar-se como predomínio que os conceitos teológico-morais 
tiveram, até o século XVIII, no Direito Penal, já que se considerava que o crime era 
um pecado contra as leis humanas e divinas. Sobre a influência do Direito Canônico 
nos princípios que orientaram a prisão moderna, afirma-se que as ideias de 
fraternidade, redenção e caridade da Igreja foram transladadas ao direito punitivo, 
procurando corrigir e reabilitar o delinquente. Os mais entusiastas manifestam que, 
nesse sentido, as conquistas alcançadas em plena Idade Média não têm logrado 
solidificar-se, ainda hoje, de forma definitiva, no direito secular. Entre elas, 
menciona-se a individualização da pena conforme o caráter e temperamento do réu. 
Seguindo a tradição canônica, na qual se fazia distinção entre pena vindicativa e 
pena medicinal, pode-se encontrar as iniciativas penitenciárias de Filippo Franci e as 
 
reflexões de Mabillon durante o século XVII, as realizações dos Papas Clemente XI 
e Clemente XII (BITENCOURT, 2015, p. 79) 
 
Em suma, a importância do direito penal canônico para se chegar ao que se conhece 
nos dias atuais é de extremo valor, o que conhecemos hoje por Código de Direito Canónico de 
1917 nada mais é que uma união de normas jurídicas relativas à organização e hierarquia 
dentro da congregação católica romana. 
Por fim, a este compilado de leis pertencem os direitos, as obrigações e, ainda, as 
sanções, nos casos de contravenções direcionadas aos fiéis católicos – compondo de tal modo 
um dos primeiros regulamentos já estabelecido com o objetivo de punição desenvolvido por 
uma instituição ao homem dentro da sociedade. 
Insta salientar que tanto na época das vinganças privadas, publicas ou divinas como no 
surgimento do direito penal em Roma e entre as sociedades germânicas os povos e 
instituições continham suas convicções do que era justiça e punição, ou seja, em cada fase da 
historia se acreditava em um conceito de retribuição punitiva, ora aplicado pelo homem contra 
o próprio homem, ora retribuído por deuses e entidades espirituais. 
Fato é que no decorrer do tempo os julgamentos e conceitos da sociedade foram se 
transformando, o homem passou por muitas variações e este passou a entender e enxergar 
outros patamares no que concerne ao ramo do direito penal e sua verdadeira função. 
Todas as épocas têm seus atributos – a época da vingança divina buscava-se 
atemorizar o homem com a ideia de que um ente superior lhe faria pagar pela transgressão 
cometida, o que fazia este sentir certo tipo de temor religioso – a época da vingança privada 
continha em fazer o violador pagar pelo crime cometido em condições até piores do que a por 
ele causada e, como se não bastasse, receber de um grupo social ou tribo penas mais severas e 
cruéis como forma de probidade e sensatez, além disso, como formato de evolução social 
surgiu à lei do talião a qual garantia a vitima ou aos seus membros familiares a retribuição 
idêntica do mal cometido sobre o infrator - o famigerado olho por olho – dente por dente. 
Logo, o direito penal concorda com as distintas épocas pelas quais passou, acontece 
que o pensamento humano se assimila em acordo com suas experiências tangíveis e, portanto, 
ocorrem mudanças no aspecto social e cultural. 
Dessa forma, no decorrer da história, alguns estudiosos perceberam que muitas das 
sanções aplicadas anteriormente não mais funcionavam nem como intimidação ao próprio 
transgressor nem como exemplo para os demais entes das tribos e sociedades. 
 
Com isso, alguns pensadores da época, inclusive no campo da filosofia, indagaram-se 
em relação às penas no campo do direito penal. 
Isto aconteceu porque a brutalidade e crueldade nesse aspecto eram demasiadamente 
desproporcionais – o fato de uma pessoa delinquir lhe rendia a desonra e ao declínio moral e 
muita das vezes não só a ele, mas para seus entes e descendentes também. 
A família do transgressor também era alvo dos castigos que recaiam sobre este, o que 
naquela época se julgava ser justo e merecedor. 
Sobre esta analise e sobre estes costumes muitos pensadores da época levantaram a 
tese do que se era justo e equilibrado no momento da aplicação da pena no âmbito do direito 
penal. Estes intelectuais descontruíam preceitos antigos, a exemplo do uso do corpo como 
forma de retribuição pelo ato cometido – outros colocaram em xeque o pensamento cruel e 
desumano da época, e com isso, se formou um pensamento mais humano e equilibrado em 
relação à forma de julgamento aos crimes cometidos. 
 
 
 
1.7 Período Humanitário - o pensamento de Beccaria. 
 
Os períodos de vingança como também os períodos mediáveis foram marcados por 
penas cruéis, desumanas e humilhantes. 
A sociedade não enxergava a pena como algo capaz de ressocializar o individuo 
tampouco se cogitava a ideia deste infrator ser aceito outra vez no convívio social. Em sua 
obra Rogério Greco esboça tais tradições: 
 
Até basicamente o período iluminista, as penas possuíam caráter aflitivo, ou seja, o 
corpo do homem pagava pelo mal que ele havia praticado. Os olhos eram 
arrancados, os membros mutilados, o corpo esticado até se destroncar, sua vida 
esvaía-se numa cruz, enfim, o mal da infração penal era pago com o sofrimento 
físico e mental do criminoso (GRECO, Curso de Direito Penal - parte geral volume 
1, 2017, p. 54). 
 
De modo contrário, nota-se que a crueldade usada no meio de aplicação da pena não 
era e, continua não sendo, garantia para que o crime desapareça do meio social. 
Ao mesmo tempo, não existia a devida punição por meio de um sistema democrático e 
que fosse concernente a um processo justo e igualitário, maiormente, que culminasse num 
ideal aprendizado por parte do transgressor. 
 
E, por esse raciocínio, paulatinamente, a ideia de suplicio penal foi sendo mudada e 
este conceito foi sendo revisto em algumas camadas sociais, a exemplo dos monastérios que 
trouxeram uma ideia básica do que era prisão e para o que servia o encarceramento. 
Foi à concepção de encarceramento usada contra os monges da época que fez nascer a 
definição sobre a prisão. De outro modo Greco resume está época da história, a saber: 
 
Sobretudo a partir do final do século XVIII, as penas corporais, aflitivas foram 
sendo substituídas, aos poucos, pela pena de privação de liberdade, que, até aquele 
momento, com raras exceções (a exemplo do que ocorria com a punição dos monges 
religiosos em seus monastérios, cuja finalidade era levá-los a refletir sobre a conduta 
praticada, ou ainda com as casas de correção criadas a partir da segunda metade do 
século XVI na Inglaterra – houses of correction e bridewells – e na Holanda – 
rasphuis para os homens e spinhuis para as mulheres), era tida tão somente como 
uma medida cautelar, ou seja, sua finalidade precípua era fazer com que o 
condenado aguardasse preso, a aplicação de sua pena corporal (GRECO, Curso de 
Direito Penal - parte geral volume 1, 2017, p. 54). 
 
No que se refere ao enclausuramento dos monges - a privação de liberdade tinha por 
objetivo fazer com que o individuo preso pensasse e refletisse sobre o erro cometido e, dessa 
forma, por meio da solidão e do ostracismo avaliasse seus atos e julgasse ser impropria aquela 
conduta anteriormente praticada. 
De modo contrário, em outros momentos, às prisões tinham o objetivo de garantir que 
o preso não fugisse para o cumprimento das demais penas, a prisão era o meio e não o fim, ou 
seja, o encarceramento era o método achado para que o preso aguardasse por sua pena 
legítima, ou melhor, a prisão não era a pena, apenas um meio assecuratório de cumprimento 
desta. 
Rogério Greco elucida brilhantemente sobre essa época, a respeito: 
 
A prisão do acusado, naquela época, era uma necessidade processual, uma vez que 
ele tinha de ser apresentadoaos juízes que o sentenciariam e, se fosse condenado, 
determinariam a aplicação de uma pena corporal, de natureza aflitiva, ou mesmo 
uma pena de morte. Na verdade, sua prisão era destinada a evitar que fugisse, 
inviabilizando a pena corporal que lhe seria aplicada, em caso de condenação, ou 
mesmo para que fosse torturado, com a finalidade de obter a confissão do fato que 
supostamente por ele havia sido praticado. Assim, o corpo do acusado tinha de se 
fazer presente, razão pela qual, em muitos casos, aguardava preso seu julgamento. 
No entanto, logo após a execução da sua pena – se não fosse, obviamente, a de 
morte – era libertado. Essa gradativa substituição fez com que as penas privativas de 
liberdade fossem ocupando, prioritariamente, o lugar das penas corporais (GRECO, 
Curso de Direito Penal - parte geral volume 1, 2017, pp. 54 -55). 
 
 
 
 
 
Mais a frente Greco também explica a mudança ocorrida na virada do século, 
sobretudo por um dos eventos mais importantes da história, episódio este que transformou 
indiretamente o sistema de pena mundial abrangendo princípios mais humanistas e inclinados 
à sensibilidade humana, assim o professor comenta: 
 
Até o século XVIII, portanto, as penas mais utilizadas eram as corporais, a pena de 
morte, além das chamadas penas infamantes e, em alguns casos menos graves, as 
penas de natureza pecuniária. Com a virada do século XVIII, principalmente após a 
Revolução Francesa, em 1789, a pena de privação de liberdade começou a ocupar 
lugar de destaque, em atenção mesmo a um princípio que, embora embrionário, 
começava a ser discutido, vale dizer, o princípio da dignidade da pessoa humana. 
Analisando essa mudança de opção punitiva, Foucault dizia que, a partir daquele 
momento, o sofrimento não mais recairia sobre o corpo do condenado, mas, sim, 
sobre sua alma (GRECO, Curso de Direito Penal - parte geral volume 1, 2017, p. 
55). 
 
 
A Revolução Francesa foi um dos eventos mais importante da história, assim, no 
século XVIII, a França tinha um dos reinados mais desonestos e autoritários, isto porque os 
camponeses e trabalhadores urbanos eram os que arcavam com os impostos para sustentar os 
nobres no poder e, se não bastasse, não podiam exercer o direito de voto nem opinar nas 
legislações e decisões governamentais, já que era o rei quem ostentava esse poder. Na obra 
―A Era das Revoluções – 1789 – 1848‖ Eric Hobsbawm nos remonta tal importância: 
A Revolução Francesa pode não ter sido um fenómeno isolado, mas foi muito mais 
fundamental do que os outros fenómenos contemporâneos e suas consequências 
foram, portanto mais profundas. Em primeiro lugar, ela se deu no mais populoso e 
poderoso Estado da Europa (não considerando a Rússia). Em 1789, cerca de um em 
cada cinco europeus era francês. Em segundo lugar, ela foi diferentemente de todas 
as revoluções que a precederam e a seguiram, uma revolução social de massa, e 
incomensuravelmente mais radical do que qualquer levante comparável (ALTMAN, 
2014). 
 
 Enquanto o povo vivia na miséria e os que trabalhavam assim faziam para pagar 
impostos, a monarquia gozava de poderes integrais controlando a economia, a religião, a 
politica e, principalmente, a aplicação da justiça. Qualquer oposição contra o rei da França 
resultava em prisão politica e muita das vezes resultava em condenação de pena capital. 
O povo francês que não fazia parte da nobreza e, dessa forma era reconhecido como 
terceiro estado, não só sustentava o clero que era composto pelos religiosos da igreja, como 
também arcavam com os gastos exacerbados da real nobreza, formada pelo Rei e toda sua 
família e, além destes, todos os duques, condes e marqueses do período. 
 
 
Com essa estrutura social muito rígida e desigual, a exemplo dos camponeses que 
viviam em estado de servidão e da burguesia que incluía os mais poderosos banqueiros até o 
pequeno comerciante, o terceiro estado se via incapaz de sustentar as mordomias do primeiro 
e do segundo estado e assim as mudanças na França foram necessárias. Napoleão Casado 
Filho leciona sobre este momento da história, a saber: 
 
O Estado francês era dividido em três ―classes‖ de pessoas, denominadas ―estados‖. 
O 1º Estado era composto do alto clero, que não pagava impostos. No 2º Estado, 
ficavam os nobres, que possuíam privilégios intocáveis, vivendo junto ao Rei e 
recebendo pensão ou, simplesmente, não pagando nenhum tipo de tributo. No 3º 
Estado, ficavam os burgueses e os camponeses, que pagavam altíssimos impostos, 
sustentando as demais classes sociais. Com os elevados gastos da nobreza e da 
péssima gerência de recursos do rei Luís XIV, o Estado francês estava com um 
déficit muito alto e sua população, de maneira geral, passava por grandes 
necessidades (FILHO, 2012, p. 38). 
 
Acontece que a França ainda possuía muitas das características feudais originadas pela 
idade média, portanto, dependia quase que totalmente da produção agrícola, porém, esta 
sofreu uma escassez abundante os preços dos alimentos subiam catastroficamente e, 
consequentemente, quem sofria era o povo uma vez forçados a suprimir parte de seus ganhos 
para arcar com impostos desvantajosos. 
Assim explica Napoleão Casado Filho ―A situação econômica e social da França no 
século XVIII era crítica. Além da maior parte da riqueza do país se originar da agricultura, 
que carecia de técnicas modernas de cultivo, a maioria dos camponeses ainda vivia sob o 
regime de servidão‖ (FILHO, 2012). 
Vale lembrar o que ressalta Eric Hobsbawm sobre o mesmo tema: 
 
Uma má safra em 1788 (e 1789) e um inverno muito difícil tornaram aguda a crise. 
As más safras faziam sofrer o campesinato, pois significavam que enquanto os 
grandes produtores podiam vender cereais a preços de fome, a maioria dos homens 
em suas insuficientes propriedades tinha provavelmente que se alimentar do trigo 
reservado para o plantio ou comprar alimentos àqueles preços, especialmente nos 
meses imediatamente anteriores à nova safra (maio julho) (HOBSBAWM, 1962, p. 
68). 
 
 
Por isso, exauridos de tanta tirania, o povo se rebelou contra esse sistema de 
privilégios e riquezas que a dinastia Bourbon criou e que a monarquia absolutista da França 
ostentava sem a menor misericórdia e procuraram depor o reinado de Luís XVI – fato que 
inicia o processo de revolução. 
 
Novamente Eric destaca: 
Os pobres do interior ficavam assim desesperados e envolvidos em distúrbios e 
banditismo; os pobres das cidades ficavam duplamente desesperados já que o 
trabalho cessava no exato momento em que o custo de vida subia vertiginosamente. 
Em circunstâncias normais, teria ocorrido provavelmente pouco mais que agitações 
cegas. Mas em 1788 e 1789 uma convulsão de grandes proporções no reino e uma 
campanha de propaganda e eleição deram ao desespero do povo uma perspectiva 
política. E lhe apresentaram a tremenda e abaladora ideia de se libertar da pequena 
nobreza e da opressão. Um povo turbulento se colocava por trás dos deputados do 
Terceiro Estado (HOBSBAWM, 1962, p. 69). 
 
Com essa combustão objetivada por uma linha de pensamento mais generosa quanto 
aos direitos do homem e por uma sociedade mais justa e igualitária para todas as camadas 
sociais sem interferência de monarcas absolutistas, a França foi influenciada pelos ideais 
iluministas da época protegidos pelos intelectuais mais notáveis da filosofia, a exemplo de 
René Descartes, Baruch Spinoza, David Hume, Adam Smith, Jean-Jacques Rousseau, 
Immanuel Kant, Denis Diderot, Voltaire e, além destes, Cesare Beccaria. 
O pensamento iluminista foi um divisor de aguas na historia mundial, tanto pelo seu 
conceito de razão empírica quanto pelo seu consenso de que os homens são iguais dentro do 
campo jurídico e, assim deviam ser tratados igualmente perante as autoridades. Explica-nos 
Rogério Greco sobre tal assunto: 
 
O período iluminista teve importância fundamental no pensamentopunitivo, uma 
vez que, com o apoio na ―razão‖, o que outrora era praticado despoticamente, agora, 
necessitava de provas para ser realizado. Não somente o processo penal foi 
modificado, com a exigência de provas que pudessem conduzir à condenação do 
acusado, mas, e, sobretudo, as penas que poderiam ser impostas. O ser humano 
passou a ser encarado como tal, e não mais como mero objeto, sobre o qual recaía a 
fúria do Estado, muitas vezes sem razão ou fundamento suficiente para a punição. 
Mediante um raciocínio jusnaturalista, passou-se a reconhecer direitos inatos ao ser 
humano, que não podiam ser alienados ou deixados de lado, a exemplo de sua 
dignidade, do direito a ser tratado igualmente perante as leis etc. Até mesmo no que 
dizia respeito à pena de morte, algumas formas de aplicação foram sendo 
aperfeiçoadas, com a finalidade de trazer o menor sofrimento possível ao 
condenado, como ocorreu com a utilização da guilhotina, sugerida por Ignace 
Guillotin, pela primeira vez no dia 25 de abril de 1792, que consistia em fazer com 
que a morte ocorresse rapidamente por meio de um golpe seco, produzido por uma 
lâmina afiadíssima e pesada, que pendia sobre a cabeça do executado. As penas, que 
eram extremamente desproporcionais aos fatos praticados, passaram a ser graduadas 
de acordo com a gravidade do comportamento, exigindo-se, ainda, que a lei que 
importasse na proibição ou determinação de alguma conduta, além de clara e 
precisa, para que pudesse ser aplicada, estivesse em vigor antes da sua prática. Era a 
adoção do exigível princípio da anterioridade da lei (GRECO, Curso de Direito 
Penal - parte geral volume 1, 2017). 
 
 
 
 
Finalmente, algum tempo depois tanto Luís XVI, como sua esposa, foram executados, 
tendo todos os seus bens embargados. Sobre isso Altman leciona: 
Em 15 de janeiro de 1793, 707 deputados dos 718 presentes julgam o rei culpado de 
conspiração contra a segurança do Estado. Por 423 votos a 281, rejeitam em seguida 
a ideia dos deputados moderados da Gironda de fazer ratificar o julgamento pelo 
povo. Por fim, mediante votação nominal e aberta que durou 36 horas, os deputados 
se pronunciaram sobre a pena a aplicar ao condenado. Cada qual foi chamado a 
justificar seu voto. A maioria exigida era de 361 votos e 387 deputados pediram a 
pena de morte, mas 26 abriram a possibilidade de sursis. Com efeito, faltou apenas 
um voto para que Luís XVI escapasse da guilhotina. Luís XVI, 38 anos, é executado 
na guilhotina, no domingo, 21 de janeiro de 1793, na Praça da Revolução, hoje 
Praça da Concórdia. O rei abatido é tirado no começo da manhã da prisão de 
Temple. É transportado não na charreta habitual dos condenados, mas sim na viatura 
do prefeito de Paris, a pedido deste, e conduzido ao local do cadafalso. (ALTMAN, 
2014). 
A revolução francesa consolidou a história da democracia e, por isso, a ela é atribuído 
total respeito histórico, sobretudo, no mundo jurídico, tanto no que diz respeito à conquista de 
um governo mais justo, quanto ao que concerne a concretização dos direitos humanos. Assim 
instrui Hobsbawm: 
Se a economia do mundo do século XIX foi formada principalmente sob a influência 
da revolução industrial britânica, sua política e ideologia foram formadas 
fundamentalmente pela Revolução Francesa. A Grã-Bretanha forneceu o modelo 
para as ferrovias e fábricas, o explosivo econômico que rompeu com as estruturas 
socioeconômicas tradicionais do mundo não europeu; mas foi a França que fez suas 
resoluções e a elas deu suas ideias, a ponto de bandeiras tricolores de um tipo ou de 
outro terem-se tornado o emblema de praticamente todas as nações emergentes, e a 
política europeia (ou mesmo mundial) entre 1789 e 1917 foi em grande parte a luta a 
favor e contra os princípios de 1789, ou os ainda mais incendiários de 1793. A 
França forneceu o vocabulário e os temas da política liberal e radical-democrática 
para a maior parte do mundo. A França deu o primeiro grande exemplo, o conceito e 
o vocabulário do nacionalismo. A França forneceu os códigos legais, o modelo de 
organização técnica e científica e o sistema métrico de medidas para a maioria dos 
países. A ideologia do mundo moderno atingiu as antigas civilizações que tinham até 
então resistido às ideias europeias inicialmente através da influência francesa. Esta 
foi à obra da Revolução Francesa (HOBSBAWM, A Era das Revoluções, 1982). 
 
O período no qual a França esteve em processo de revolução pode ser dividido em 
fases, porém, a etapa mais emblemática para a esfera penal foi à fase em que ocorreu a 
chamada assembleia constituinte realizada nos períodos de 1789 a 1792. Nessa toada, 
Napoleão Casado Filho aduz: 
A solução encontrada pelo soberano foi convocar os Estados Gerais para uma 
assembleia. Logo na abertura da assembleia, ocorreram desentendimentos entre o 
Rei e os representantes do 3º Estado. Eles queriam que as reuniões fossem em 
conjunto com todos os Estados, diferentemente do Rei. Este, ao ser contrariado, 
resolve dissolver a reunião. Os representantes do 3º Estado se revoltam com a 
atitude do Rei. No dia 14 de julho de 1789, a população se rebela contra a ordem 
vigente e vai às ruas, derrubando um dos símbolos do poder real: a prisão da 
Bastilha (FILHO, 2012, p. 38). 
 
 
A Assembleia Nacional Constituinte trata-se de um acontecimento histórico 
importantíssimo onde foram abolidos todos os direitos e mecanismos feudais das épocas, bem 
como os privilégios e garantias pessoais que não estavam em consonância a todos os 
indivíduos. 
 
O povo se organiza em Assembleia Geral Constituinte e em 26 de agosto aprova a 
Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, um verdadeiro código dos direitos 
humanos reconhecidos à época. Essa declaração, em seu primeiro artigo, já definia 
que todos os homens nascem e permanecem livres em direitos. Em 17 artigos, a 
Declaração busca seguir o slogan da revolução: liberdade, igualdade e fraternidade 
(FILHO, 2012, p. 38). 
 
E, ainda, resultante desta reunião, aprovou-se a afamada "Declaração dos direitos do 
Homem e do Cidadão" onde os princípios iluministas se consolidaram de forma garantista. A 
Declaração dos direitos do Homem e do Cidadão traz uma enorme evolução no que diz 
respeito às garantias dos direitos naturais dos homens. 
Composto de um preambulo direcionado aos ideais libertários da época e de dezessete 
artigos que fazem referencia a liberdade e igualdade de tratamento entre todos os homens, a 
declaração dos direitos do homem e do cidadão é o documento embrionário para o nascimento 
do que hoje conhecemos como princípios do direito penal. Assim são detalhadas na redação 
de seu preambulo as preocupações da época: 
 
Os representantes do povo francês, constituídos em ASSEMBLEIA NACIONAL, 
considerando que a ignorância, o esquecimento ou o desprezo dos direitos do 
homem são as únicas causas das desgraças públicas e da corrupção dos Governos, 
resolveram expor em declaração solene os Direitos naturais, inalienáveis e sagrados 
do Homem, a fim de que esta declaração, constantemente presente em todos os 
membros do corpo social, lhes lembre sem cessar os seus direitos e os seus deveres; 
a fim de que os atos do Poder legislativo e do Poder executivo, a instituição política 
seja por isso mais respeitado; a fim de que as reclamações dos cidadãos, doravante 
fundadas em princípios simples e incontestáveis, se dirijam sempre à conservação da 
Constituição e à felicidade geral. 
 
 
Além disso, a Declaração dos direitos do Homem e do Cidadão defende em seu texto 
uma maior participação do povo na fiscalização do agente publico, bem como nas elaborações 
e aplicações das leis. 
Além disso, a Declaração dos direitos do Homem e do Cidadão defende em seu texto 
uma maior participação do povo na fiscalização do agente publico, bem como nas elaborações 
e aplicações das leis. 
 
Como a França passou décadas emais décadas sendo governadas por familiares 
monarcas absolutistas é de tamanha compreensão que o país desenvolvesse uma espécie de 
constituição entre os homens. 
Assim sendo, a Declaração dos direitos do Homem e do Cidadão foi uma espécie de 
carta de alforria para os cidadãos franceses preocupados em estabelecer a igualdade dos 
homens perante a lei como forma de equilíbrio social, uma vez que o monarca sozinho num 
regime totalitário e completamente tirano decidia por força de suas razões a vida dos mais 
abastados socialmente e, assim, quase que em todas as decisões prolatava uma sentença 
injusta usando de seu pensamento comum e único para aplicação da lei. 
Inicialmente, fora por esse motivo que a população francesa resguardou em separar os 
poderes dentro do país, evitando assim, que as entidades se beneficiassem entre si no que diz 
respeito as suas vantagens pessoais, a exemplo da igreja católica, que não era tão rigorosa no 
momento de exercer sua jurisdição espiritual sobre um membro da nobreza ou do próprio 
clero. Ainda, além destas, muitas outras são as garantias e direitos afiançados pelo texto da 
declaração, vejamos: 
 
Por consequência, a ASSEMBLEIA NACIONAL reconhece e declara, na presença e 
sob os auspícios do Ser Supremo, os seguintes direitos do Homem e do Cidadão: 
Artigo 1º- Os homens nascem e são livres e iguais em direitos. As distinções sociais 
só podem fundar-se na utilidade comum. Artigo 2º- O fim de toda a associação 
política é a conservação dos direitos naturais e imprescritíveis do homem. Esses 
Direitos são a liberdade. A propriedade, a segurança e a resistência à opressão. 
Artigo 3º- O princípio de toda a soberania reside essencialmente em a Nação. 
Nenhuma corporação, nenhum indivíduo pode exercer autoridade que aquela não 
emane expressamente. Artigo 4º- A liberdade consiste em poder fazer tudo àquilo 
que não prejudique outrem: assim, o exercício dos direitos naturais de cada homem 
não tem por limites senão os que asseguram aos outros membros da sociedade o 
gozo dos mesmos direitos. Estes limites apenas podem ser determinados pela Lei. 
Artigo 5º- A Lei não proíbe senão as ações prejudiciais à sociedade. Tudo aquilo que 
não pode ser impedido e ninguém pode ser constrangido a fazer o que ela não 
ordene. Artigo 6º- A Lei é a expressão da vontade geral. Todos os cidadãos têm o 
direito de concorrer, pessoalmente ou através dos seus representantes, para a sua 
formação. Ela deve ser a mesma para todos, quer se destine a proteger quer a punir. 
Todos os cidadãos são iguais a seus olhos, são igualmente admissíveis a todas as 
dignidades, lugares e empregos públicos, segundo a sua capacidade, e sem outra 
distinção que não seja a das suas virtudes e dos seus talentos. Artigo 7º- Ninguém 
pode ser acusado, preso ou detido senão nos casos determinados pela Lei e de 
acordo com as formas por esta s prescritas. Os que solicitam, expedem, executam ou 
mandam executar ordens arbitrárias devem ser castigados; mas qualquer cidadão 
convocado ou detido em virtude da Lei deve obedecer imediatamente, senão torna-
se culpado de resistência. Artigo 8º- A Lei apenas deve estabelecer penas estrita e 
evidentemente necessárias, e ninguém pode ser punido senão em virtude de uma lei 
estabelecida e promulgada antes do delito e legalmente aplicada. Artigo 9º- Todo o 
acusado se presume inocente até ser declarado culpado e, se se julgar indispensável 
prendê-lo, todo o rigor não necessário à guarda da sua pessoa, deverá ser 
severamente reprimido pela Lei. Artigo 10º- Ninguém pode ser inquietado pelas 
suas opiniões, incluindo opiniões religiosas, contando que a manifestação delas não 
 
perturbe a ordem pública estabelecida pela Lei. Artigo 11º- A livre comunicação dos 
pensamentos e das opiniões é um dos mais preciosos direitos do Homem; todo o 
cidadão pode, portanto, falar, escrever, imprimir livremente, respondendo, todavia, 
pelos abusos desta liberdade nos termos previstos na Lei. Artigo 12º- A garantia dos 
direitos do Homem e do Cidadão carece de uma força pública; esta força é, pois, 
instituída para vantagem de todos, e não para utilidade particular daqueles a quem é 
confiada. Artigo 13º- Para a manutenção da força pública e para as despesas de 
administração é indispensável uma contribuição comum, que deve ser repartida entre 
os cidadãos de acordo com as suas possibilidades. Artigo 14º- Todos os cidadãos 
têm o direito de verificar, por si ou pelos seus representantes, a necessidade da 
contribuição pública, de consenti-la livremente, de observar o seu emprego e de lhe 
fixar a repartição, a coleta, a cobrança e a duração. Artigo 15º- A sociedade tem o 
direito de pedir contas a todo o agente público pela sua administração. 
Artigo 16º- Qualquer sociedade em que não esteja assegurada a garantia dos direitos, 
nem estabelecida à separação dos poderes não tem Constituição. 
Artigo 17º- Como a propriedade é um direito inviolável e sagrado, ninguém dela 
pode ser privado, a não ser quando a necessidade pública legalmente comprovada o 
exigir evidentemente e sob a condição de justa e prévia indenização. 
 
Muitos dos princípios e das garantias achados no direito penal e processual penal 
foram retirados em analise a Declaração dos direitos do Homem e do Cidadão, como por 
exemplo, a anterioridade da lei penal, a presunção de inocência, o direito de afiliações a 
associações politicas, entre outros. 
A declaração dos direitos do homem tem absoluta influencia no pensamento iluminista 
da época, pois esta foi categórica para o desenvolvimento de uma linha de pensamento mais 
humana e sensata no que tange a elaboração das leis e sua aplicação. 
O período humanitário nasce dessa doutrina de cunho iluminista, ou seja, a 
reformulação das leis no sentido de que o crime é um problema social jurídico e que em 
muitas das situações seria mais fácil e econômico o prevenir do que o punir. 
Um dos estudiosos mais memoráveis e importantes do período humanitário é, sem 
duvida, Cesare Bonesana conhecido como Marquês de Beccaria. Cesar foi autor de uma das 
obras mais relevantes do mundo jurídico, principalmente no século XVIII, também conhecido 
como ―Século Das Luzes‖ fazendo referencia ao iluminismo, ou ainda ―Século da Filosofia‖ 
como alusão aos grandes pensadores da filosofia. 
Cesare Beccaria tinha grande parte de seu pensamento imbuído pela doutrina de 
Rousseau e Montesquieu – o primeiro conhecido por seu discurso de contrato social, 
liberdade individual e que o homem nasce bom, porém se corrompe pelos demais e, o 
segundo famoso por sua teoria da separação dos poderes, intensa até os dias de hoje. 
O Marquês de Beccaria publicou em Milão a obra ―Dos delitos e das penas‖ onde trata 
da necessidade de reforma das leis penais vigorantes. 
 
O livro de Beccaria nada mais é do que uma oposição ao sistema penal daquela época, 
isto é, penas que constituíam uma crueldade maior do que o próprio mal consolidado. 
A obra em suma se contrapõe aos métodos usados na época, mas, além disso, discute 
vários aspectos da sociedade e do mundo jurídico, como por exemplo, a origem da pena e o 
direito de punir, a interpretação das leis, a obscuridade das leis por aquele que a lê, a prisão, o 
espirito familiar, a questão da tortura, a duração do processo, o banimento daqueles que 
perturbam a tranquilidade dos demais, as penas de confiscos, a pena de morte, entre demais 
outros assuntos. 
O professor Cleber Masson nos resume um dos primeiros pensamentos da obra de 
Cesare, as saber: 
 
Baseia seu pensamento no contrato social de Rousseau, de forma que o criminoso 
passa a ser reputado como violador do pacto social, sendo então considerado 
adversário da sociedade. A pena perdia seu caráter religioso, predominando a razão 
sobre questões espirituais. Surge a questão do livre-arbítrio, ou seja, o homem 
pratica um crime consciente de sua conduta antissocial. Como consequência

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