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Reflexão Sobre a Formação da História - David Bohrer Finalizado

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Nome: David Sales Bohrer Nº: 00325431 Turma: HUM03122
Reflexão sobre a formação da história como disciplina
	A formação da disciplina de História como ciência acadêmica está estritamente ligada a formação dos Estados-nações modernos durante o século XIX, tendo como berços principais a França e a Alemanha. Antes desse desenvolvimento da História como ciência, esta era tratada como qualquer outro gênero literário, ou seja, para escrever História, bastava apenas se ter interesse no assunto e ser alfabetizado.
	A mudança em direção a uma História vista como ciência no Brasil tem início a partir da formação do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro em 1938. O foco principal deste era a organização de uma história nacional, com vínculo grande ao governo imperial de D. Pedro II. Devido a ligação direta com a corte imperial, esta escrita da história tinha um caráter oficial, no qual os historiadores da época cumpriam um dever nacional, tendo como dois objetivos principais o delineamento de uma identidade coletiva nacional e o provimento de modelos de ação para o governo. Por ter este viés de projeto nacionalista, a história escrita neste período tinha um caráter pessoal inegável, uma vez que só é possível se escrever uma história nacional como projeto direcionado quando se tem uma ligação entre a pessoa que escreve e a nação foco da escrita.
	O desenvolvimento de uma identidade coletiva nacional vem da necessidade de se criar uma ligação entre os habitantes de uma determinada nação, quando não existe mais um contrato social implícito de subserviência a um monarca absoluto empoçado de legitimidade divina. Por este motivo, o surgimento da história como academia se dá no século XIX, nascida da expansão dos ideais da Revolução Francesa pelo mundo.
	Essa construção de uma identidade nacional era de extrema importância na época, tendo em vista que até os séculos XVIII e XIX não existia uma ideia de pertencimento a uma nação como existe hoje. Para o país realmente “consolidar-se enquanto nação, seria preciso ir além dos aspectos físicos e normativos. Seria necessário conquistar mentes e corações, criando entre os membros do Estado um sentimento de pertencimento a uma mesma unidade. Certamente, muitos elementos concorreram para tal fim. Entre eles a (re)construção de uma mesma origem, passado e memória.”1 DE MELLO, Ricardo Marques. COMO SE DEVE ESCREVER A HISTÓRIA: CARL MARTIUS NO SÉCULO XIX E OS EDITAIS ATUAIS DO PROGRAMA NACIONAL DO LIVRO DIDÁTICO. Revista de História Comparada - Programa de Pós-Graduação em História Comparada-UFRJ. Disponível em: https://ppghc.historia.ufrj.br/images/publicacoes/rhc_volume012_Num002_003.pdf Acesso em: 12/09/2020 
	O provimento de modelos para ações de governantes e de funcionários públicos tinha como função do historiador desenvolver estratégias de governabilidade e orientações para o governos, tudo isso dentro do embasamento histórico disponível.
	Esta visão dominante de uma história subserviente ao governo e com o propósito de unir a nação começa a ruir durante as décadas de 1870 e 1880, com uma nova leva de historiadores buscando uma maior autonomia na sua escrita, deixando de lado o foco de uma história para o imperador e governantes, tornando-se para o povo, tanto como objeto a quem sua escrita é direcionada como força legitimadora. Não é por acaso que essa mudança se deu justamente em um momento de mudanças de pensamento no país, com o movimento republicado e o movimento abolicionista ganhando força e um esforço por parte do governo em separar o Brasil da figura do imperador.
	Neste novo momento, a escrita da história se desencabe de uma exaltação aristocrática, colocando em seu lugar o furor democrático. Fica claro, deste modo, que a escrita história brasileira no século XIX tinha um objetivo muito específico quanto a construção desta identidade nacional e posteriormente a aceitação de uma nova forma de governo. Os próprios historiadores tinham consciência disso, embora não houvesse ainda uma obrigação destes com qualquer imparcialidade, neste ponto estando mais próximos de poetas e bardos medievais propriamente.
	Durante o início do século XX surge um movimento positivista na história. Neste contexto, ocorreu uma quebra com o conceito de história como ferramenta de criação de identidade nacional ou política. Ocorre a construção da disciplina como uma ciência empírica, pautada principalmente na imparcialidade do historiador, não dando margem para suposições e utilizando documentos oficiais para criar uma história cronológica linear de eventos.
	A partir da metade do século XX a mudança principal da disciplina se dá com um racha do antigo modelo de historicidade e o começo do presentismo. Este novo modelo de historicidade se caracteriza por um futuro ameaçador, consequência de uma quebra com o idealismo do fim do século XIX. Idealismo este que previa com a progressão tecnológica e uma proximidade cada vez maior a nível mundial que com o próximo século se teria paz e progresso pro mundo todo. A quebra desta inocência ocorre devido às consequências de todos os horrores de guerra durante a primeira metade do século XX, sendo reforçada durante a Guerra Fria com a possibilidade de destruição total da espécie humana com a ameaça das bombas atômicas. Atualmente este sentimento de regresso ou de crise do futuro é sentido de forma extrema com a rápida aproximação de uma catástrofe ambiental global, com o renascimento do fascismo e com a pandemia do Convid-19.
	Um dos grandes problemas da escrita histórica, durante quase todo seu período de existência como disciplina, é o fato dela ser escrita por homens, brancos, de ascendência europeia, heterossexuais e sua escrita, como já relatado acima, tinha como foco a ideia da nação como um todo, de modo que o apagamento de populações marginais da história era a norma. As populações negras, populações indígenas, as mulheres e homossexuais não tinham protagonismo nenhum nessas narrativas nacionais. Quando esses tinham a oportunidade de escrever suas visões da história eram rechaçados e ostracizados pelos grandes nomes da época.
	Um grande exemplo desse tratamento se deu em 1850 quando Beatriz Francisca de Assis Brandão, que foi uma poeta e educadora brasileira2 PEREIRA, Cláudia Gomes. A POESIA ESQUECIDA DE BEATRIZ BRANDÃO. Navegações v. 3, n. 1, p. 17-26, jan./jun. 2010 acessado por: https://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/navegacoes/article/view/7182/5180 Acesso em: 16/09/2020 , teve sua admissão para o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro rechaçado. A desculpa dada foi de que não se aceitava poetas dentro do rol do instituto, embora os responsáveis pela análise de admissão da poetiza fossem também poetas.
	Até mesmo durante o século XX, a exclusão dessas populações marginalizadas continuou sempre relegando a história feminina, história africana, história das populações americanas pré-coloniais ao outro, sendo estudada pela visão de externa e normalmente sem conexão com a história em um contexto geral. Este posicionamento acaba criando uma marginalização da história de grande parte da população, inclusive dentro das universidades onde as cadeiras de história pré-colonial americana, história e relações de gênero, história do continente africano, história e relações etino raciais até a muitíssimo pouco tempo figuravam entre cadeiras eletivas sem peso algum dentro da universidade que sempre teve o enfoque no ensino da história europeia cristã branca.
	Os efeitos dessa exclusão são sentidos até hoje. A história do continente africano que é passada nas escolas é quase que exclusivamente definida em três pontos: o Antigo Egito, a Escravidão e a Partilha da África pelos grandes poderes Europeus no século XIX. Com exceção ao Antigo Egito, os outros dois enfoques são de uma África passiva, sofrendo agência dos poderes Europeus. Em um país onde mais da metade da população se considera negra ou parda3 Segundo censo do IBGE acessado por: https://sidra.ibge.gov.br/Tabela/2094#resultado Acesso em: 16/09/2020 é uma demonstraçãoclara da exclusão sofrida por essas populações que, tanto a história escrita quanto a ensinada nas escolas do país, exista um destaque quase nulo para as culturas africanas como agentes históricos até muito recentemente.
	Em conclusão a formação da disciplina de história se deu durante um momento de necessidade da criação de estado/nações no século XIX, passou por um período positivista no início do século XX e acabou se desenvolvendo em um presentismo onde estamos vivendo com um futuro ameaçador, afastando a disciplina de história do passado e aproximando-a de questões que envolvem o momento atual. Faz sentindo que neste momento onde existe uma crise de futuro, haja um desafio a dominação sofrida por negros, indígenas, mulheres e homossexuais, tanto no mundo quanto dentro da própria disciplina. Pois quando não existe a perspectiva de futuro melhor, só resta lutar para se libertar de forças opressoras no presente.

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