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Formada pela USP-Bauru, onde também realizou seu mestrado e doutorado no programa de pós-graduação em Fonoaudiologia, participando de pesquisas na área de processos e distúrbios da linguagem e Teleducação e Telessaúde em Fonoaudiologia. Durante o doutorado fez estágio pesquisa no exterior na University of South Florida (EUA). É apaixonada por intervenção, iniciando seus estudos e pesquisas na área de intervenção em linguagem e – percebendo que na prática não conseguimos separar fala de linguagem - vem se dedicando a estudar intervenção nos transtornos motores de fala, realizando diversos cursos e treinamentos, além de estar sempre participando de eventos científicos nacionais e internacionais. Aqui na TK, a Dra. Camilla é coordenadora científico-pedagógica e professora de diversos cursos. PROFA DRA. CAMILLA GUARNIERI FONOAUDIÓLOGA (CRFa 2 -18977) AUTORAS Formada pela UNESP-Marilia, realizou especialização em Saúde Materno Infantil na FAMEMA, mestre em Ciências e doutoranda pelo programa de pós-graduação em Fonoaudiologia da USP- Bauru, onde desenvolveu e continua trabalhando na validação de um checklist de sinais e sintomas para Apraxia de Fala na Infância. Aqui na TK ela é tutora e professora nos cursos relacionados a fala e linguagem, está sempre estudando sobre o tema e trabalhando para trazermos o melhor conteúdo para você! PROFA. ME. THAIS ROSA DOS SANTOS FONOAUDIÓLOGA (CRFa 2 - 19167) AUTORAS Cada vez mais, os Transtornos Motores de Fala (TMFs) tem estado em evidência na Fonoaudiologia. Isso se deve ao crescente interesse em melhor compreender e caracterizar esses quadros além de definir bases para a avaliação e intervenção. Nesse sentido, uma série estudos vêm sendo desenvolvidos e seus resultados têm gerado muitas discussões que constroem em panorama cada vez mais complexo e efetivo na atuação fonoaudiológica com essa população. Para melhor compreender os TMF, necessário se faz percorrer um longo caminho que tem início nos processos que resultam na produção da fala, passa pela descrição de cada um dos possíveis diagnósticos que compõem os TMFs, chegando até às bases da intervenção que difere em muitos aspectos dos procedimentos convencionais utilizados até agora nas diferentes alterações de fala e linguagem. Quem já buscou conhecer mais sobre esse tema, pode observar que existe também uma linguagem específica para denominar uma série de processos, aspectos e características. Ou seja, termos próprios que representam pontos chave na compreensão dos TMF. Nesse sentido, a proposta desse material é justamente esclarecer alguns dos termos mais utilizados nesse contexto com a proposta de auxiliar o Fonoaudiólogo que deseja estudar o tema na construção do seu conhecimento. INTRODUÇÃO Fala Planejamento Motor Aprendizado Motor Atraso Motor de Fala (AMF) Apraxia de Fala na Infância (AFI) Terapia Motora de Fala/ Princípio do Aprendizado Motor Prática Distribuída Motor Número de Tentativas Motor Estimulabilidade Motor SUMÁRIO X Pode ser entendida como um dos meios pelos quais a comunicação se torna efetiva, estando ela apoiada em um sistema de símbolos que corresponde ao código linguístico. Representa, portanto, a capacidade ou o uso dessa capacidade de emitir sons em algum padrão, utilizando mecanismos articulatórios para a impressão do código linguístico. O controle motor da fala ordena a contração muscular para sua execução e envolve os níveis de planejamento, programação e execução de planos de movimentos, objetivando contrações musculares e deslocamentos de estruturas com a amplitude, força, direção e tempo específicos que culminarão na articulação da fala (MCNEILL et al., 2009). Em resumo, para que a fala seja executada de forma Controle motor da fala Fala X eficiente, inicialmente, um conceito deve ser formulado simbolicamente, em um nível cognitivo e em interação com aspectos linguísticos. O conceito simbolicamente formulado, deve ser externalizado como a fala por meio das funções motoras da respiração, fonação, ressonância, articulação e prosódia. Anteriormente à externalização, um programa deve ser desenvolvido e determinará a sequência das contrações musculares requeridas para produzir um som individual e palavras que incluam a produção de fala intencionada, a isso, chamamos controle motor da fala (MURDOSH, 1997). No início do desenvolvimento de linguagem, o controle motor da fala não está totalmente estabelecido, sendo assim, em crianças pequenas é possível observar a falta de precisão articulatória e uma maior variabilidade dos movimentos articulatórios (ASHA, 2007; STRAND; STOECKEL; BASS, 2006). X O planejamento motor representa o primeiro desses níveis sendo considerado um processo de início no controle motor da fala. Desempenha importante papel na transformação de processos cognitivos/linguísticos em movimentos de fala. Nesse nível, os movimentos articulatórios necessários para produzir as características acústicas da mensagem pretendida são planejados. O indivíduo planeja, então, as configurações espaciais (postura articulatória) e temporais alinhadas ao objetivo acústico pretendido e à dinâmica do movimento articulatório (direção, amplitude e força) necessário para atingir essa meta e metas subsequentes no enunciado a ser produzido (SHRIBERG; ARAM; KWITKOWSKI, 1997; CARUSO; STRAND, 1999). ... Planejamento Motor X O nível de programação motora da fala é responsável pelo controle de tempo e posicionamento, envolvendo ainda variáveis de força a fim de regular o movimento articulatório e alcançar o objetivo final (SHRIBERG; ARAM; KWITKOWSKI, 1997; CARUSO; STRAND, 1999). Neste nível ocorre a especificação provisória de como o plano motor deve ser alcançado: quais músculos devem contrair, quanto, quando e em qual direção. No nível da execução motora, inicia-se a ativação neural de grupos musculares de fala para uma dada sequência de movimentos com base na programação estabelecida das ações motoras. Nesse ponto, é importante ressaltar que mesmo depois do início da produção de fala, o sistema é flexível o suficiente para fazer mudanças, existindo, então, uma interação entre a programação e a execução motora (SHRIBERG; ARAM; KWITKOWSKI, 1997; CARUSO; STRAND, 1999). Programação motora da fala Execução motora X O aprendizado motor pressupõe o treino e a repetição de um determinado movimento, nesse caso, dos movimentos de fala, que irão resultar no desenvolvimento e aprimoramento de uma determinada habilidade. Quanto mais se pratica, mais preciso e coordenado será o movimento. Pode ser entendido, portanto, como um conjunto de processos associados à prática ou experiência que levarão a mudanças relativamente permanente na capacidade de movimento. Todo esse processo depende da interação de diversas áreas do sistema nervoso central e periférico. A praxia oral é a capacidade de realizar movimentos com os músculos orais e da face. Esses movimentos não são inatos e sim aprimorados ao longo do desenvolvimento, estando intimamente relacionados com a produção da fala. Praxia oral Aprendizado Motor X As praxias orais podem ser dívidas em praxia bucofacial que está relacionada aos movimentos de lábios, língua e mandíbula isoladamente; e praxia de fala onde os movimentos não são mais isolados, mas sim coordenados para a produção dos sons da fala. Pode ser descrita ainda como a fluência envolvida na sequência de movimentos exigidos para a fala, representando a capacidade de sequencializar sílabas dentro das palavras (FRANCO; ÁVILA, 2000; BRABO; SCHIEFER, 2009). Transtornos dos sons da fala Transtornos Motores da Fala (TMF) Série de dificuldades na produção de sons da fala em crianças que podem estar presentes devido a uma variedade de limitações relacionadas a processos perceptuais, motores da fala ou linguísticos (ou uma combinação) de origem conhecida (por exemplo, síndrome de Down, fissura labio-palatina) ou desconhecida (desenvolvimental).São parte desse grupo os seguites quadros: alterações fonológicas, alterações fonéticas, atraso motor de fala, disartria, apraxia de fala na infância (AFI) e a coocorrência de AFI + disartria. Nos quadros de TMF, de formar mais específica, ocorre o comprometimento de um ou mais processos motores de fala (planejamento, programação e/ou execução). Sendo assim, além de características como os processos de substituição e omissão de fonemas de forma persistente, como ocorre nos quadros onde há alterações fonéticas e/ou fonológicas, são observados que tais erros são caracterizados por imprecisão e/ou distorções espaço-temporais na produção de vogais e consoantes, além de alterações prosódicas. Os seguintes quadros compõem esse grupo: atraso motor de fala, disartria, AFI e a coocorrência de AFI + disartria. X Quadro onde há comprometimento motor de fala, caracterizado por imprecisão, fala instável e alterações de voz e prosódia, que diferem das características descritas na disartria e apraxia de fala, sendo considerado um diagnóstico de exclusão. Vale ressaltar que, a partir de estudos de prevalência, o AMF parece ser o TMF mais comum ente observado, sendo de 3 a 4 vezes mais comum na clínica pediátrica se comparado à AFI. Algumas características descritas na literatura são o deslizamento lateral/ horizontal da mandíbula, menor capacidade de controlar a altura da mandíbula (especialmente para vogais médias, por exemplo, [e], [o], [ε] e [ ]), ou amplitude excessiva de movimento da mandíbula (por exemplo, boca muito aberta para /a/), dificuldade em arredondar e retrair os lábios com precisão ou movimentos retraídos excessivos dos lábios superiores. Atraso Motor de Fala (AMF) X Disartria A disartria pode ser descrita como alterações na sucessão dos sons resultantes de um distúrbio no controle neuromuscular dos mecanismos da fala, que podem comprometer as funções de respiração, fonação, ressonância, articulação e prosódia de forma isolada ou associada. Esse quadro é usualmente causado por alguma lesão no sistema nervoso central ou periférico. Além disso, as características apresentadas podem variar muito de um sujeito para outro, podendo se apresentar como fraqueza ou excesso de força, com diminuição da amplitude de movimento e velocidade, incoordenação pneumofonoarticulatória e alterações prosódicas. Essa grande variabilidade leva à diferentes classificações da disartria em subtipos – flácida, espástica, atáxica, hipocinética, hipercinética - correspondentes aos sinais observados. Todos os sinais apresentados se relacionam à falhas na etapa de execução motora de fala em decorrência no prejuízo neuromuscular observado nesses quadros. Os estudos sugerem que as dificuldades apresentadas tem relação com o processo de execução neuromotora, sugerindo ainda um atraso na maturação do sistema motor da fala, causando dificuldade na precisão articulatória, estabilidade da fala, voz e prosódia. X A Apraxia da Fala na Infância (AFI) é uma desordem de origem neurológica na qual a precisão e consistência dos movimentos subjacentes à fala estão prejudicadas na ausência de déficits neuromusculares. A AFI pode ocorrer como resultado de um comprometimento neurológico conhecido, em associação com distúrbios neurocomportamentais complexos de origem conhecida ou desconhecida, ou como um distúrbio neurogênico idiopático. O comprometimento central no planejamento e / ou programação dos parâmetros espaço-temporais das sequências de movimento resulta em erros na produção de sons da fala e na prosódia (ASHA, 2007). Há muitas divergências com relação ao diagnóstico desse distúrbio, principalmente pela grande variabilidade de características descritas na literatura e por se tratar de uma desordem dinâmica na qual os sinais tem diferentes graus de severidade e podem variar ao longo do tempo em uma mesma criança. Contudo, três Apraxia de Fala na Infância (AFI) 01 02 03 X características são consenso entre os pesquisadores: Erros inconsistentes na produção de consoantes e vogais em produções repetidas de sílabas ou palavras; Coarticulação inadequada na transição entre sons e silabas e Prosódia inapropriada, especialmente na realização de acento lexical ou frasal. A fala pode soar monótona, robótica e pode ter uma tendência a sempre enfatizar a primeira sílaba. X Distribuição da prática Prática massiva / intensiva Se refere à extensão e frequência das sessões de tratamento. Não existe uma regra específica para se determinar qual a melhor frequência de sessões, isso porque, de acordo com a literatura, a recomendação pode variar de um quadro para outro. Maior número de emissões – visando o treino - em determinado intervalo de tempo, pode se referir tanto a quantidade e frequência de sessões em si, como também na distribuição do treino durante a sessão. Terapia Motora de Fala / Princípio do Aprendizado Motor X Menor número de emissões – visando o treino - em determinado intervalo de tempo, pode se referir tanto a frequência de sessões em si, como também na distribuição do treino durante a sessão. Variabilidade da prática Relaciona-se com a prática dos estímulos de forma constante, ou seja, nesse caso a produção dos alvos de fala acontece sempre em contexto semelhante de intensidade, frequência e prosódia. Prática constante Prática Distribuída Motor X Nesse caso, é solicitado que à criança que produza os alvos de fala com variações de velocidade, intensidade, frequências e padrões de ritmo. Se refere a um cronograma de prática no qual a criança devera praticar um determinado grupo de estímulos com o mesmo alvo, para somente depois trocar o alvo. Por exemplo: treino com /p/ antes de passar ao /t/. Representa um cronograma de prática no qual alvos diferentes são produzidos de forma sucessiva e aleatória, de forma não previsível pela criança. Por exemplo, prática do /p/ e /t/ em uma mesma sessão. Prática variável Prática blocada Prática aleatória X Se refere ao número de oportunidades de prática de um determinado estímulo que será oferecido à criança durante o atendimento. Vale ressaltar em que quadros como a AFI e o TMF esses estímulos têm que ser de fala. Treinar outros movimentos de lábio e língua (a não ser em casos de apraxias bucofaciais) não irão resultar em melhoras de fala. Na disartria, os estímulos de fala também são fundamentais, mas pode ser necessário trabalhar outros aspectos miofuncionais a fim de auxiliar na adequação das funções pretendidas. Número de Tentativas Motor X Feedback Pistas multissensoriais É fundamental que a criança consiga perceber se suas tentativas de fala foram corretas e incorretas e o feedback tem justamente esse papel. Existem diferentes tipos de feedback que vão desde a descrição específica do movimento que deve ser realizado até a confirmação ou não de sua execução da forma correta. Determinar o tipo e quantidade de feedbacks fornecidos é parte importante da terapia motora de fala. Pistas visuais, verbais, táteis/proprioceptivas compõem esse grupo e incluir esse tipo de informação sensorial ajudam no controle das sequências de movimento. Elas funcionam como lembretes ou apoios para que a criança saiba o que ela precisa fazer ao tentar falar uma palavra, por exemplo. X Habilidade da criança em imitar corretamente um determinado som quando fornecida orientação para olhar e ouvir o seu interlocutor. Essa medida se relaciona à presença ou não de dificuldades na execução dos diferentes gestos necessários para a produção dos sons da fala. Estimulabilidade Motor X American Speech-Language Hearing Association (ASHA). Childhood apraxia of speech. Retrieved from http://www.asha.org/policy. 2007. 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