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Regionalização do Espaço Mundial - Europa África Ásia - Livro-Texto - Unidade III

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Unidade III
Unidade III
7 África
O continente africano caracteriza‑se por apresentar um contorno maciço, com poucos recortes em 
seu litoral. Possui uma superfície de cerca de 30,3 milhões de quilômetros quadrados. Por ser cortado, 
ao mesmo tempo, pelo Meridiano de Greenwich, em sua porção ocidental, e pelo Equador, ao centro, 
é o único continente a possuir territórios nos quatro hemisférios: ocidental, oriental, setentrional e 
meridional. Dois terços do território africano concentram‑se no hemisfério setentrional, e apenas uma 
pequena parte no hemisfério Ocidental.
7.1 Divisão político‑regional, quadro natural e suas paisagens
Nos próximos subtópicos, abordaremos as características físicas do continente africano.
7.1.1 Divisão político‑regional
O continente africano é cortado ao norte pelo Trópico de Câncer, na região abrangida pelo Deserto 
do Saara, e ao sul pelo Trópico de Capricórnio, na região abrangida pelo Deserto do Kalahari. Por isso, 
apresenta considerável influência da tropicalidade em grande parte do seu território.
Delimita‑se ao norte com o Mar Mediterrâneo, a nordeste com o Mar Vermelho, a oeste com o 
Oceano Atlântico e a leste com o Oceano Índico. Entre os Mares Mediterrâneo e Vermelho, encontra‑se 
o Istmo de Suez (Península do Sinai), e, entre o Marrocos, a noroeste, e a Espanha, encontra‑se o 
Estreito de Gibraltar, passagem de navios do Atlântico para o Mediterrâneo.
Os pontos extremos do continente africano são: ao norte, o Cabo Branco, na Tunísia; ao sul, o Cabo 
das Agulhas, na África do Sul; a leste, o Cabo Hafun e Guardafun, na Somália; e, a oeste, o Cabo Verde, 
próximo ao Senegal.
Cercada de mares e oceanos, a África é um continente maciço, com uma costa pouco recortada, o 
que torna difícil o acesso ao interior, sendo raros os portos naturais.
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Figura 70 – Divisão política da África
7.1.2 Relevo e estrutura geológica
O continente africano é uma vasta plataforma tabular, em que predominam os terrenos cristalinos 
e uma série de planaltos (com 600 m a 700 m de altitude), que se estendem a perder de vista. É 
um continente fortemente trabalhado pela erosão, em que se sobressaem picos rochosos isolados, 
semelhantes ao Pão de Açúcar. Os planaltos são elevados no litoral e descem bruscamente para o mar 
em degraus abruptos. No interior, o relevo é suave.
Além do predomínio de planaltos cristalinos fortemente trabalhados pela erosão, observa‑se no 
continente africano a presença de bacias sedimentares de dois tipos:
• bacias fechadas: não apresentam contato direto com o mar, possuindo rios de drenagens 
endorreicas (às vezes intermitentes), que desembocam nos Lagos Chade, ao norte, e Ngami, ao 
sul;
• bacias abertas: estão diretamente em contato com o mar, como é o caso daquelas formadas pelos 
Rios Congo, Nilo e Zambeze.
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Altitudes (metros)
Depressão
De 0 a 200
De 200 a 500
De 500 a 1.500
De 1.500 a 3.000
Acima de 3.000
Cumes
Vulcões
Figura 71 – Relevo africano
Observam‑se ainda as formações montanhosas, com destaque para:
• Cadeia jovem do Atlas, formada durante a Era Terciária e localizada a noroeste do continente. 
Divide‑se em Atlas Marroquino (Grande e Pequeno Atlas e Cadeia do Rife) e Atlas Argelino, onde 
aparecem montanhas muito erodidas pelo vento (Tell, Hogar e Tibesti).
• Montanhas antigas do Golfo da Guiné, também elevadas e vulcânicas, em que se destacam a 
Serra Leoa e os Montes Camerum e Fouta Djalon.
• Montanhas vulcânicas da porção oriental, onde se destacam o Planalto de Abissínia e os maciços 
do Quênia e do Kilimanjaro. Neste último se encontra o pico mais alto da África: o Pico Kibo ou 
Uhuru (Independência), com 5.893 m de altitude, coberto de neves eternas e situado entre o 
Quênia e a Tanzânia.
• Montanhas antigas do sul, onde aparecem os Montes Drakensberg, o Conglomerado Mineralógico 
de News‑Weld e a Cadeia do Cabo, todos de origem antiga e bastante trabalhados pela erosão.
Na porção oriental africana, o rígido embasamento cristalino, não resistindo às pressões 
interiores (tectonismo), fragmentou‑se, determinando a formação de uma linha de falhas no sentido 
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longitudinal e originando uma imensa fossa tectônica que, posteriormente ocupada por água doce, 
deu origem a dezenas de lagos tectônicos: Vitória, Tanganica, Niassa, Mweru, Bangueolo, Alberto, 
Turkana, Eduardo etc.
7.1.3 Grandes cadeias montanhosas
• Atlas: sistema montanhoso que se orienta da Costa Atlântica do Marrocos para o Nordeste, 
numa extensão de 2.250 km, até o norte da Tunísia. Consiste em vários alinhamentos de relevos 
grosseiramente paralelos. No Marrocos, inclui (de sul para norte) o Antiatlas (sim, é o nome da 
montanha; subdivisão sudoeste da cadeia principal), o Alto Atlas e o Médio Atlas; na Argélia, o 
Atlas Saariano (que inclui as montanhas Amour e se estende até o maciço de Aurés, a leste) e, 
mais para o norte, o Atlas Teliano, ou Atlas Marítimo. O pico mais elevado do norte da África – 
Djebel Toubkal (4.167 m) – ergue‑se no Alto Atlas, no Marrocos.
• Drakensberg: cadeia montanhosa que se estende por 1.125 km, desde o leste do Transvaal, 
através dos Estados sul‑africanos de Orange e Natal, o Reino de Lesoto, até o leste da província 
do Cabo. Faz parte da Grande Escarpa, e o nome deriva de lendas segundo as quais os montes 
eram habitados por dragões. Os picos mais altos situam‑se na fronteira entre a África do Sul e o 
Lesoto, onde o Thabana Ntlenyana (no Lesoto) atinge 3.482 m, e o Champagne Castle (na África 
do Sul), 2.274 m.
• Kilimanjaro: a montanha mais alta da África, no nordeste da Tanzânia, na fronteira com 
o Quênia. O Kilimanjaro tem dois picos – o Kibo (5.895 m) e o Mawenzi (5.149 m), ambos 
vulcões extintos.
 Lembrete
Drenagem endorreica é a orientação de uma bacia hidrográfica que 
corre para o interior de um continente, para um mar fechado ou lago; é o 
contrário de drenagem exorreica, quando uma bacia tem seu desaguadouro 
associado a um oceano ou mar aberto.
Os Montes Drakensberg são uma formação montanhosa da porção 
meridional do continente africano que constitui um fenômeno geológico, 
pois sua formação pré‑cambriana encerra uma das maiores e mais 
diversificadas concentrações de minerais metálicos do globo.
Fossa tectônica é uma depressão alongada enquadrada por uma série 
de degraus produzidos por falhas paralelas.
Lagos tectônicos são aqueles formados pelo preenchimento de fossas 
tectônicas por águas fluviais.
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7.1.4 Hidrografia
O continente africano dispõe de duas enormes artérias fluviais: o Rio Nilo e o Rio Congo. O Nilo é o 
segundo mais extenso do planeta, e o Congo é, depois do Amazonas, o rio que possui o segundo maior 
volume de água da Terra.
Rios permanentes
Canais de irrigação
Figura 72 – Delta do Nilo (Egito)
• Rio Nilo: nasce no Lago Vitória, com o nome de Nilo Branco, e corre sempre para o norte, 
recebendo água dos Lagos Kyoga e Alberto. Atravessa o Sudão e recebe, pela margem direita, 
os Rios Sabat, Nilo Azul e Atbara; e, pela margem esquerda, o Rio Gazelas (Bahr el Ghazal). 
Em seguida, atravessa todo o Deserto do Saara (2.000km), sem um único afluente e, antes 
de formar as seis grandes cataratas, descreve um enorme “S” no Deserto da Núbia. Deságua 
finalmente no Mediterrâneo, depois de um curso de mais de 6.500 km, formando um grande 
delta de 600 km de largura, onde estão as maiores cidades africanas: Cairo (baixo curso) e 
Alexandria (foz).
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Figura 73 – É um espetáculo a cascata do Rio Nilo Azul, na Etiópia
O regime do Rio Nilo está na dependência das chuvas de verão; suas águas provêm principalmente 
dos afluentes da margem direita. Essas enchentes ocorrem de junho a setembro, e o nível das 
águas chega a atingir 7 a 8 metros acima do nível mais baixo.
 Observação
Delta é o desaguadouro de um rio em que se observam vários canais. 
Essa dispersão das águas fluviais ocorre em face do acúmulo exagerado de 
sedimentos.
São essas enchentes que depositam o limo fertilizante sobre as margens; daí a famosa frase 
de Heródoto: “O Egito é uma dádiva do Nilo”. Hoje em dia, suas enchentes são reguladas pelas 
barragens das hidrelétricas de Assuã e Assiut.
• Rio Congo ou Zaire: é o primeiro da África em volume de água (40.000 m3) e o segundo em 
extensão (4.600 km). Oriundo do Lago Bangueolo, atravessa o Lago Mweru e recebe as águas 
do Lago Tanganica. Forma ainda as famosas Cataratas de Livingstone (cerca de 32 cachoeiras). 
É o único rio da Terra que atravessa duas vezes o Equador. Os seus principais afluentes são o 
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Ubanque, pela margem direita, e o Cassai, pela margem esquerda. Seu regime depende das chuvas 
equatoriais, e quase toda a sua bacia é coberta por impenetráveis florestas equatoriais.
Figura 74 – Hidrografia da África
O Rio Congo banha três capitais: Bangui, na República Centro‑Africana; Brazzaville, na República 
Popular do Congo; e Kinshasa, na República Democrática do Congo.
• Rio Níger: nasce nos Montes Fouta Djalon, corre para o norte e depois descreve uma imensa 
curva, levando suas águas para o Golfo da Guiné, onde forma um grande delta. Sua extensão é de 
aproximadamente 4.200 km, e seu principal afluente é o Benue. Banha Bamaco e Niamei.
• Rio Zambeze: com 2.600 km de extensão, forma ao longo de seu trajeto as famosas Quedas de Vitória, 
nas quais o rio despenca de uma altura de quase 140 metros. Atravessa três biomas: a savana, as 
estepes do Sahel e a floresta equatorial. Desemboca no Índico, no Canal de Moçambique, onde forma 
um amplo delta. Nele se encontra a maior hidrelétrica do continente, Cahora Bassa, em Moçambique.
• Rio Limpopo: nasce ao norte da África do Sul, separando‑a do Zimbábue e desembocando no Índico.
• Rio Orange: com nascentes no leste da África do Sul, próximo ao Reino do Lesoto, separa a 
Namíbia do norte da África do Sul, desembocando em seguida no Oceano Atlântico.
• Rio Chari: sua extensão é de 1.300 km; nasce na savana africana, atravessa o Sahel e deságua no 
Lago Chade, ao sul do Saara. Por desaguar no interior, sua drenagem é endorreica.
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Além de ter grandes rios, o continente africano conta com grandes formações lacustres. Estas 
aparecem em uma linha longitudinal, na porção centro‑oriental do continente, e são de origem tectônica.
O maior lago africano é o Vitória, com 66.000 km2. Localiza‑se a 1.000 m de altitude, sendo cortado 
pelo Equador. Além dele, podemos destacar os Lagos Tanganica, Niassa ou Malauí, Turkana, Alberto, Eduardo, 
Bangueolo, Mweru, Kariba e outros. As Cachoeiras de Vitória, no Rio Zambeze, chegam a 120 metros de altura.
Cabe mencionar ainda os lagos situados em depressões, como o Chade e o Ngami.
7.1.5 Clima
Em virtude de sua posição geográfica, cortada pelos dois trópicos, a África é dominada por climas 
quentes. Em geral, as temperaturas do mês mais frio não descem a menos de 10 °C, e, por toda parte, o 
mês mais quente apresenta sempre mais de 20 °C. Nos desertos, a temperatura chega a mais de 59 °C.
O continente africano apresenta grande variedade na distribuição das chuvas. Em algumas regiões, 
elas são abundantes; em outras, são extremamente escassas.
Há uma África úmida, bem diferenciada. Na região equatorial e na Costa do Golfo da Guiné, existe a zona de 
calmarias, que produz chuvas de convecção: chove em abundância quase diariamente. Em regiões mais afastadas 
dessa zona, as precipitações diminuem, e há um período sensivelmente menos chuvoso em certas épocas do ano, 
correspondente aos meses menos quentes: é o regime de climas tropicais úmidos propriamente dito.
Mediterrâneo
Desértico
Equatorial
Tropical
Figura 75 – Clima da África
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Em contraposição à África úmida, há uma África seca. Nas latitudes tropicais, formam‑se centros 
de alta pressão (anticiclones), dispersores dos ventos alísios, que se deslocam em direção ao Equador. 
Nessas áreas de alta pressão, formam‑se os Desertos do Saara, ao norte, e do Kalahari, a sudoeste. Como 
consequência, a estação seca prolonga‑se por quase todo o ano, e as chuvas, bem raras, são muito 
irregulares. Já nas suas extremidades norte e sul, o continente torna‑se mais úmido. Aí os ventos do 
oeste provocam chuvas que se concentram nos meses de inverno, caracterizando climas mediterrâneos.
A diferenciação do clima se faz, de maneira geral, acompanhando o sentido dos paralelos. De norte 
a sul, encontramos:
• clima equatorial: com chuvas abundantes durante o ano todo, sem estação fria, abrange as áreas 
próximas ao Equador, como Congo e Quênia;
• clima tropical: com chuvas durante o verão, secas no inverno e médias térmicas anuais elevadas, 
aparecendo entre as áreas desérticas e as de clima equatorial;
• clima desértico quente: índice pluviométrico abaixo de 250 mm/ano; exemplos: Desertos do Saara 
e do Kalahari.
O Deserto do Saara é o maior do globo (7.780.000 km2), correspondendo a um imenso peneplano 
que vai do Atlântico ao Mar Vermelho e ocupa todo o norte do continente africano.
Figura 76 – Vista do Deserto do Saara, no norte do Níger
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O Deserto do Saara é uma vasta região de rochas e areias, caracterizada por uma aridez desolada. As 
temperaturas são elevadíssimas durante o dia, chegando a 57 °C na Líbia, e durante a noite podem cair 
bastante, atingindo até mesmo 0 °C. Os cursos de água (ueds), mais comuns nas periferias norte e sul, 
são temporários, só fluindo quando chove, predominando a drenagem endorreica.
Há três tipos de deserto: o hamada – uma espécie de planalto rochoso, às vezes parecido com um 
chapadão seco e duro; o reg – uma vasta área de seixos e cascalhos amontoados; e o erg – composto 
de dunas de areia.
O Deserto do Kalahari situa‑se ao sul do continente, é cortado pelo Trópico de Capricórnio e abrange 
terras de Botsuana e parte da Namíbia ou África do Sudoeste.
 Lembrete
Ventos alísios são ventos que sopram durante todo o ano em direção 
às calmarias equatoriais, que são áreas de baixa pressão.
Ueds são rios intermitentes ou temporários, que existem apenas na 
época das chuvas.
 Observação
O Deserto do Kalahari é uma região árida e semiárida de 520.000 km, 
formada por areias e depressões de solo salgado seco. As temperaturas 
mais elevadas sãoverificadas entre novembro e dezembro. Os khoisan, mais 
conhecidos como hotentotes ou bosquímanos, constituem a maioria da 
população. O deserto possui várias reservas de animais selvagens, incluindo 
as do Kalahari Central, Makgadikgadi Pan e Kalahari Gemsbok National Park, 
no norte da província do Cabo (África do Sul) e no sudoeste da Botsuana.
Sahel é uma região semiárida que se estende do Senegal ao Sudão em 
forma de uma faixa que separa o Deserto do Saara das florestas tropicais. 
Na sua maior parte, é revestida de savanas, existindo ainda algumas 
terras irrigadas pelos Rios Níger e Senegal. Trata‑se de uma região frágil 
do ponto de vista ambiental, sempre ameaçada pelos ventos secos do 
deserto. A sobrecarga do Sahel com pastoreio e agricultura alterou seu 
equilíbrio, causando grande crise, com queda da produção alimentar e 
êxodo populacional em 1974 e 1984.
• Clima subtropical: é encontrado nos extremos norte e sul da África, em latitudes médias e nas 
altitudes elevadas. No extremo norte, o clima subtropical pode ser chamado mediterrâneo, em 
razão de acentuadas influências do Mar Mediterrâneo.
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Intensidade
Mais de 2.000 mm
De 1.000 a 2.000 mm
De 500 a 1.000 mm
De 250 a 500 mm
Menos de 250 mm
Figura 77 – Pluviosidade
7.1.6 Formações vegetais
As paisagens vegetais na África estendem‑se de um e de outro lado do Equador, de acordo com 
a distribuição das chuvas: a zona equatorial, quente, muito úmida, com uma floresta densa e alta; 
a zona tropical, úmida, mas com estação seca bem‑marcada e vegetação de savana; as estepes; e 
os desertos.
• Florestas da África úmida: uma floresta densa cobre toda a Bacia do Congo e as regiões 
costeiras do Golfo da Guiné. Compreende centenas de espécies, muitas delas de madeira de 
lei. Também a fachada costeira da África Oriental é ocupada por densa floresta, cuja riqueza 
vegetal é comparável à da Amazônia. O húmus (produto da decomposição parcial de restos 
vegetais que se acumulam no chão da floresta) constitui fonte de matéria orgânica para a 
nutrição vegetal da floresta. Entretanto, os solos em geral são muito pobres e esgotam‑se 
facilmente quando cultivados.
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Savana
Equador
Estepes
Floresta equatorial
Vegetação desértica
Vegetação mediterrânea
Figura 78 – Vegetação
• Savanas: estendem‑se de um lado e de outro da floresta equatorial, na faixa dos trópicos, mas 
também predominam nos planaltos e na região dos Grandes Lagos Africanos.
Os solos são pobres e, em grandes extensões, prejudicados por lateritas. Nas savanas, vivem 
grandes mamíferos, como girafas, zebras, elefantes, além de outros de menor porte.
• Estepes e desertos: gramíneas típicas das áreas de transição de climas secos para úmidos, como as 
áreas entre os desertos e as savanas, numa faixa que se estende do Atlântico ao Mar Vermelho. Os 
desertos abrangem as áreas onde as chuvas são inferiores a 250 mm anuais. Onde existe alguma 
umidade, uma vegetação rasteira e de folhas grossas cresce em tufos e recobre os leitos secos dos 
rios temporários.
No Deserto do Kalahari, entre blocos de rochas, desenvolve‑se uma vegetação xerófita.
Nessa formação, encontramos ao sul do Deserto do Saara uma faixa conhecida como Sahel.
• Vegetação mediterrânea: também conhecida como maquis e garrigues. Era formada por estreita 
floresta que foi devastada pela ação antrópica. Hoje, a vegetação mediterrânea é constituída 
por formações arbustivas, herbáceas e algumas árvores, próprias das áreas calcárias mais secas 
próximas ao litoral mediterrâneo, tanto da Europa quanto do Magreb africano.
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Unidade III
 Lembrete
Lateritas são crostas do solo decorrentes da laterização, processo de 
desgaste dos solos em que a retirada de seus elementos orgânicos tem como 
contrapartida o acúmulo de óxido de ferro e alumínio e, consequentemente, 
a formação de uma crosta em seu horizonte superior.
Xerófita é a planta adaptada aos climas secos (cactácea).
7.2 Quadro socioeconômico
Nos próximos subtópicos, estudaremos o quadro socioeconômico do continente africano.
7.2.1 Origens históricas
A África é o continente de mais antiga ocupação do planeta. Foi lá que foram encontrados os 
vestígios arqueológicos que permitiram datar a vida humana sobre a Terra a partir dos fósseis dos 
primeiros hominídeos que ali viveram há cerca de 6 milhões de anos.
Segundo o historiador africano Joseph Ki‑Zerbo, não se sabe ao certo a origem da palavra África. 
Após ter designado o litoral norte‑africano, passou a aplicar‑se ao conjunto do continente, desde o fim 
do século I antes da Era Cristã. Há várias hipóteses trazidas por Ki‑Zerbo (2010):
• A palavra África teria vindo do nome de um povo (berbere) situado 
ao sul de Cartago: os Afrig. De onde Afriga ou África para designar a 
região dos Afrig.
• Uma outra etimologia da palavra África é retirada de dois termos 
fenícios, um dos quais significa espiga, símbolo da fertilidade dessa 
região, e o outro, Pharikia, região das frutas.
• A palavra África seria derivada do latim aprica (ensolarado) ou do 
grego apriké (isento de frio).
• Outra origem poderia ser a raiz fenícia faraga, que exprime a ideia de 
separação, de diáspora. Enfatizemos que essa mesma raiz é encontrada 
em certas línguas africanas (bambara).
• Em sânscrito e hindi, a raiz apara ou africa designa o que, no plano 
geográfico, está situado “depois”, ou seja, o Ocidente. A África é um 
continente ocidental.
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Uma tradição histórica retomada por Leão, o Africano, diz que um chefe 
iemenita chamado Africus teria invadido a África do Norte no segundo 
milênio antes da Era Cristã e fundado uma cidade chamada Afrikyah. Mas 
é mais provável que o termo árabe Afriqiyah seja a transliteração árabe da 
palavra África. Chegou‑se mesmo a dizer que Afer era neto de Abraão e 
companheiro de Hércules! (KI‑ZERBO, 2010, p. 31, grifo nosso).
Para compreender hoje o quadro social e econômico da África é necessário retroceder brevemente até, 
pelo menos, algumas décadas atrás. Anteriormente ao domínio europeu, predominavam no continente 
grandes civilizações, como a do Egito (ao longo do Rio Nilo), a do Reino do Benim (junto ao Delta do 
Níger), a do Zimbábue (no Rio Zambeze) e diversas outras.
Desde a Antiguidade, povos asiáticos entram em contato com civilizações africanas. Os árabes, 
buscando expandir seu comércio, mantiveram grande contato com diversos povos do norte da África, 
em que imprimiram sua cultura, principalmente sua religião, o islamismo, que se difundiu até a África 
Central. No século XV, tem início o Período do Capitalismo Comercial, em que o comércio passa a ser a 
base econômica da Europa, e não mais a agricultura.
Em razão da necessidade de expandir o seu comércio, os países da Europa Ocidental viram‑se incentivados 
a realizar grandes navegações pelo Oceano Atlântico. No século XVI, as potências da época, Portugal, Espanha, 
Holanda, Inglaterra e França, dividiam o mundo em regiões de domínio geopolítico, como se vê no mapa a seguir:
Área sob controle de Portugal
Área sob controle da Espanha
Área sob controle da França
Área sob controle da Inglaterra
Área sob controle da Holanda
Figura 79 – O mundo dividido entre as potências europeias no século XVI
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Unidade III
A presença portuguesa ficava restrita ao litoral e a entrepostos comerciais na região costeira. 
Mas, no final do século XIX, no auge da Revolução Industrial, as potências europeias iniciaram uma 
corrida imperialista para controlar as matérias‑primas e conseguir novos mercados para seus produtos 
manufaturados. A Conferência de Berlim (1884‑1885) pretendeu colocar fim aos desentendimentos 
pela partilha do continente.
De 1880 a 1914, todo o território africano esteve sob o domínio europeu, com exceção da Libéria e 
da Etiópia. Vejamos a situação geográfica às vésperas da Primeira Grande Guerra Mundial.
Possessão belga
Possesssões alemãs
Possessões inglesas
Possessões italianas
Possessões francesas
Possessões espanholas
Possessões portuguesas
Estados independentes
Colônia 
do Cabo
Basutolândia
Madagascar
Zamzibar (Ingl.)
CamarõesLibéria
Togo
Nigéria
Quênia
Rodésia
Angola
Mo
ça
mb
iqu
e
Bechuanalândia
África 
do Sul 
Ocidental
África 
Oriental
África 
Equatorial
África 
Ocidental
Rio do 
Ouro
Congo 
Belga
Costa do 
Ouro
Serra 
Leoa
Guiné 
Port.
Gâmbia
Mauritânia
Cos
ta d
o 
Mar
fim
Cabinda
Uganda
Gabão
Muni
Somália 
Italiana
Somália 
Britânica
Sudão 
Anglo‑Egípcio
Abissinia
EgitoLíbia
Marrocos
Argélia
Ifni
Tunísia
Senegal Somália 
Francesa
Britreia
Figura 80 – A divisão da África às vésperas da Primeira Guerra Mundial
As disputas entre as potências europeias pelos territórios afro‑asiáticos desencadearam a Primeira 
Guerra Mundial. Com a formação das colônias, a economia do continente foi ainda mais modificada, 
visando atender às necessidades dos colonizadores. A colonização de exploração, por exemplo, alterou 
a agricultura de subsistência, que antes era, muitas vezes, suficiente para a população, substituindo‑a 
por plantations e passando a atender ao mercado externo. Praticamente todas as atividades do 
continente foram desenvolvidas visando às necessidades do colonizador. Após a Segunda Guerra 
Mundial (1939‑1945), o modelo colonial europeu entra em decadência, e crescem os movimentos de 
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emancipação das colônias. Desta vez, o contexto da Guerra Fria lança duas potências geopolíticas (EUA 
e URSS) na disputa pela influência na região. No final da Segunda Guerra Mundial, apenas quatro 
países eram independentes na África: Libéria, Etiópia, Egito e União Sul‑Africana. O período de maior 
descolonização na África ocorreu entre 1957 e 1975. Em muitos casos, o processo de independência 
transcorre sem guerras. Porém, nações colonizadas, como Argélia (pela França), República Democrática 
do Congo (Bélgica) e Angola (Portugal), enfrentam guerras duríssimas para conquistar a autonomia.
 Saiba mais
Você sabia que um médico congolês foi candidato ao Prêmio 
Nobel da Paz em 2013?
Para saber mais, leia:
CONGOLÊS recebe Prêmio de Coragem Civil por cuidar de vítimas 
da violência sexual. Por Dentro da África, 16 out. 2013. Disponível em: 
<http://www.pordentrodaafrica.com/ciencia/medico‑recebe‑premio‑ 
de‑coragem‑civi l‑por‑cuidar‑de‑vit imas‑da‑violencia‑sexual 
‑na‑republica‑democratica‑do‑congo>. Acesso em: 14 nov. 2014.
Contudo, as sequelas da colonização vão além do redirecionamento da economia para a exploração colonial. 
Uma das questões mais nevrálgicas e que mais têm ressonância até os dias de hoje nos processos sociais, 
econômicos e, sobretudo, geopolíticos africanos diz respeito ao fato de a colonização ter criado fronteiras 
geográficas totalmente artificiais de repartição do território. O traçado foi feito sem levar em conta as 
diferenças étnicas, culturais ou linguísticas desses povos, colocando‑os dentro de um mesmo território. Com 
a independência dessas colônias e a manutenção dessas fronteiras, sérios problemas surgiram em decorrência 
desse fato, levando os diferentes grupos a disputas pelo poder, a conflitos civis e a separatismos.
Divisão étnica Divisão política
Figura 81 – Fronteiras étnicas e políticas da África pós‑colonização europeia
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Unidade III
Até hoje se fazem sentir as consequências desse processo de desmembramento do território. 
Persistem conflitos e rivalidades étnicas decorrentes desse processo histórico desastroso.
 Observação
Na visão do africanista Samir Amin, não se deve usar a expressão tribo 
para designar os grupos étnicos africanos. Ele recomenda que se use o 
termo povos em seu lugar. Samir diz que o que existe na África são povos 
com línguas, religiões e histórias bem diferentes. Ele explica: “Não utilizo 
o termo tribo, não faz sentido: os haussás são da ordem dos quarenta 
milhões, não vejo por que eles seriam uma tribo, enquanto os islandeses, 
que são duzentos mil, seriam um povo [...]” (AMIN, [s.d.], p. 64).
As fronteiras artificiais criadas no contexto do colonialismo, após os processos de independência, 
fizeram da África um continente marcado por guerras civis, golpes de Estado e conflitos étnicos e religiosos.
Do ponto de vista socioeconômico, embora independentes, esses países tiveram sua economia 
bastante prejudicada pelo processo de colonização e, atualmente, sofrem uma forte dominação 
econômica. A emancipação política vinda com o processo de descolonização e independência política 
não foi suficiente para que as novas nações superassem a pobreza e os problemas sociais dos países 
em desenvolvimento. De um modo geral, houve intensa desestruturação do sistema produtivo das 
ex‑colônias.
O cenário político, em contrapartida, é dominado por violentas disputas pelo poder, golpes de Estado 
e ditaduras sangrentas.
 Saiba mais
Assista aos seguintes filmes:
DIAMANTE de sangue. Direção: Edward Zwick. Produção: Marshall 
Herskovitz, Graham King, Paula Weinstein e Edward Zwick. EUA; Alemanha: 
Warner Bros, 2006. 1 DVD (143 min).
HOTEL Ruanda. Direção: Terry George. Produção: Terry George e Keir 
Pearson. Reino Unido; Itália; África do Sul; EUA: United Artists, 2004. 1 DVD 
(121 min).
O filme Diamante de Sangue (2006) mostra a guerra civil em Serra Leoa 
(1991‑2001), e o filme Hotel Ruanda (2004) denuncia o genocídio dos tutsis 
pela etnia rival, os hutus, em Ruanda, em 1994..
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7.2.2 As duas Áfricas
O continente africano abriga duas sub‑regiões claramente delimitadas: a África Setentrional e a 
Subsaariana. O limite natural entre ambas é o Deserto do Saara.
Os seis países da África Setentrional têm características físicas e humanas semelhantes às das 
nações do Oriente Médio. Seu clima é desértico, e a região, majoritariamente ocupada, desde o 
século VII, por povos árabes, que difundiram o islamismo, bem como a língua e a cultura árabes. 
Mas também existem ali mouros, berberes e tuaregues. Ali, os chamados “brancos” são, na verdade, 
morenos. A porção mais ocidental dessa região, conhecida pelo nome de Magreb (que significa 
poente, em árabe), compreende o Marrocos, a Argélia e a Tunísia. Os outros três países são Líbia, 
Egito e Djibuti.
A África Negra ou Subsaariana é constituída por 34 países – em média com 50 anos de autonomia. 
A África Subsaariana, bem mais extensa, reúne a maioria da população, predominantemente negra. Essa 
região concentra alguns dos principais problemas econômicos e sociais do planeta.
A populaçãoafricana é estimada em 1 bilhão de habitantes, distribuindo‑se irregularmente pelos 
quase 30 milhões de quilômetros quadrados de superfície do continente. Representa aproximadamente 
15% da população mundial, como se vê no gráfico a seguir.
Ásia
60,2
Europa
10,8
Oceania
0,5
África
15
América
13,5
População – 2011 (em %)
Total mundial: 7 bilhões de habitantes
Figura 82 – Distribuição da população mundial pelos continentes
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A densidade demográfica geral é de 33 hab./km2, mas, observando no mapa a seguir, verificamos 
variações regionais. As áreas mais povoadas (zonas vermelhas do mapa) localizam‑se no Baixo Nilo, 
onde encontramos as cidades do Cairo e de Alexandria, que se destacam entre as mais populosas da 
África; no Magreb Setentrional ou África Menor (porção mediterrânea do Marrocos, Argélia e Tunísia); e 
nas proximidades do Golfo da Guiné, antiga Biafra, onde se localiza a cidade de Lagos, maior metrópole 
africana. Na África do Sul, as regiões de Cabo e Durban apresentam densidades elevadas por constituírem 
importantes centros industriais do continente. As menores densidades aparecem em áreas desérticas do 
Saara e do Kalahari e da floresta equatorial congolesa.
Mar Mediterrâneo
Oceâno 
Atlântico
Menos de 10
de 10 a 100
Mais de 100
Hab./km2
Oceâno 
Índico
Figura 83 – Densidades demográficas da África
A África sempre apresentou altas taxas de crescimento vegetativo, e o crescimento populacional 
ficava em torno de 4% ao ano em diversos países da área subsaariana (populações negras), fato que 
se repetia na África Branca muçulmana. Contudo, nos anos 1990, a taxa de crescimento começou a 
declinar em razão de vários fatores que aumentaram a mortalidade da população. A comparação com 
as taxas médias de natalidade por continente dá ideia de quanto a natalidade africana é alta: 36/00 
habitantes, o dobro da asiática (18/00 habitantes) e quase quatro vezes maior que a da Europa (cerca 
de 10/00 habitantes).
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10
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África
36,1
América
17,6
Ásia
18,8
Europa
10,5
Oceania
17,1
Natalidade – 2011 (por mil habitantes)
Figura 84 – Taxas de natalidade nos continentes (2011)
A expectativa de vida média dos africanos está entre as mais baixas do mundo, como é o caso das 
nações da costa ocidental, como Serra Leoa, onde os indivíduos não esperam sobreviver além dos 38 
anos. Não por acaso, no ranking do IDH, calculado pela ONU, todos os 22 países que têm IDH considerado 
baixo são da África Subsaariana.
Dois indicadores sociais muito significativos são as taxas de mortalidade e de desnutrição. Atestam 
as péssimas condições sociais do continente. Mais da metade dos países africanos apresenta taxas de 
subnutrição de 35% na população, fato que denota condições de vida miseráveis.
Taxa de mortalidade muito alta
Taxa de mortalidade alta
Taxa de mortalidade média
Taxa de mortalidade baixa
Sem dados
Figura 85 – Quadro da mortalidade mundial
Na África está a maior concentração de países com altos índices de desnutrição. Na Ásia e na América 
Latina, a situação é melhor; já nos países desenvolvidos, há pouca subnutrição, mas a obesidade está se 
tornando um grande problema de saúde.
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Porcentagem de 
subnutridos
35 ou mais
20 a 34
5 a 19
2,5 a 4
Menos de 2,5
Dados não disponíveis
Figura 86 – Subnutrição no mundo
A mortalidade geral alta, por sua vez, é gerada por uma mortalidade alta na infância, em virtude 
da desnutrição associada às péssimas condições sanitárias. A incidência da aids é responsável por pelo 
menos 1 milhão de mortos anualmente desde 1998 e faz a expectativa de vida diminuir cerca de trinta 
anos nos países mais afetados, como Botsuana, Lesoto, Suazilândia e Zimbábue. A malária também é 
endêmica, e, em 2012, cerca de 560 mil africanos morreram em decorrência da doença, o que representa 
90% dos óbitos mundiais. A região também apresenta a maior quantidade mundial de casos de sarampo, 
poliomielite e cólera, e atualmente é vítima do pior surto de ebola da história. No primeiro semestre 
de 2014, 470 pessoas morreram contaminadas pelo vírus ebola, na Região Oeste. Dos 33,2 milhões de 
portadores do vírus HIV no mundo em 2007, 22,5 milhões eram da África Subsaariana – quase 68% do 
total. Em outras palavras, de cada dez pessoas que têm aids, sete vivem nessa região.
42 milhões
45
45
45
45
25
20
15
0
34 milhões
1980
Total no mundo
Na África
2009
Figura 87 – Prevalência de aids
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7.2.3 Economia
A economia africana é pautada basicamente nas riquezas minerais e nas atividades agropecuárias.
7.2.3.1 Riquezas minerais
Como vimos, a região da África Subsaariana é uma das áreas mais pobres do planeta. São 
48 países cujo somatório do PIB, em 2013, foi de cerca de US$ 1,56 trilhão. Para se ter uma 
ideia, este valor é inferior ao do PIB brasileiro do mesmo período e corresponde a 2,1% do PIB 
mundial.
Grande parte da riqueza do continente africano decorre de seu subsolo. A presença de estrutura 
geológica cristalina antiga proporciona grande riqueza mineral. Por isso, a mineração é uma das 
principais atividades econômicas do continente africano, sendo a base econômica da maior parte 
dos países.
O petróleo destaca‑se dentre os minérios. São extraídos dos poços africanos cerca de 8% do 
petróleo mundial (mais de 130 bilhões de barris). Os dois maiores produtores são Nigéria e Angola, 
e a exportação desse recurso gera mais de 90% das receitas desses países. Os depósitos de óleo e gás 
localizam‑se principalmente no norte do continente (África Setentrional) e nas nações do Golfo. Os 
maiores produtores regionais são Nigéria, Líbia, Argélia e Angola, membros da Organização dos Países 
Exportadores de Petróleo (Opep). A nova onda de exploração de minérios raros e petróleo tem gerado 
crescimento econômico. O PIB da África Subsaariana cresceu a uma taxa média de 4,5% ao ano entre 
1995 e 2013. Em alguns países, como Serra Leoa, Chade, Moçambique e Sudão do Sul, esse crescimento 
deve superar 8% ao ano.
O investimento estrangeiro na África atingiu USS 43 bilhões em 2013. Os principais interessados 
em investir no continente são EUA, Índia, China, Brasil e alguns países da Europa, tendo em vista 
não só o petróleo, mas também o rico conjunto de minérios da região. Associados ao petróleo, 
outros minérios estratégicos fazem da África um território cobiçado por países dependentes de 
matérias‑primas, como a China e os EUA. Dentre os produtos de destaque, temos: ouro (África 
do Sul, Gana, Congo, Botsuana e Gabão); diamante (Congo, África do Sul, Gana e Botsuana); 
manganês (África do Sul, Gabão, Gana, Nigéria e Congo); urânio (África do Sul, Namíbia e Nigéria); 
bauxita (Guiné e África do Sul); fosfato (Marrocos, Gabão e Togo); cobre (Zâmbia, Congo e África 
do Sul); vanádio (África do Sul, Namíbia e Zâmbia); ferro (África do Sul, Gabão e Nigéria) e cromo 
(África do Sul e Zimbábue).
Em geral, os países investidores desenvolvem projetos de infraestrutura para a mineração, a extração 
de petróleo e gás natural e a construção de hidrelétricas e oleodutos (incluindo um oleoduto de 1,5 mil 
quilômetros no Sudão). O comércio africano com a China cresce vertiginosamente. Este paísé hoje o 
maior parceiro comercial do continente, superando os EUA desde 2009. Os EUA pretendem diminuir 
seu grau de dependência de petróleo da África, responsável por nada menos que 15% do petróleo 
consumido pelos norte‑americanos.
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O Brasil também se torna um grande parceiro comercial da África por meio de empresas nacionais, 
como a Vale, a Petrobras e as construtoras Odebrecht e Camargo Corrêa. Por parte do governo, para 
facilitar a aproximação, pensou‑se em renegociar a dívida externa de alguns países do continente com 
o Brasil e dar apoio técnico e científico em agricultura e saúde.
7.2.3.2 A indústria
Somente dois países africanos têm destaque na área industrial: África do Sul e Egito. A 
atividade industrial na África é muito recente e enfrenta sérios problemas: possui grandes 
reservas minerais, mas não dispõe de capital para a exploração; tem um dos maiores potenciais 
hidrelétricos do mundo, mas com pequena potência instalada; as deficiências nas redes de 
transporte dificultam a utilização dos recursos naturais; a falta de mão de obra especializada e 
o baixo poder aquisitivo da população são problemas que os programas de industrialização têm 
de enfrentar.
Diversos países possuem atividades industriais concentradas na produção de tecidos, nas indústrias 
de transformação, no refino de petróleo, dentre outros. A República da África do Sul é o país mais 
industrializado do continente africano, concentrando, principalmente, indústrias pesadas, como 
metalúrgicas, siderúrgicas, químicas, têxteis, de montagem de automóveis e de equipamentos, de 
mineração e de construção naval.
O Egito é o segundo país industrial da África. Produz artigos têxteis, alimentícios, químicos e 
petroquímicos. As indústrias africanas estão centralizadas nas regiões do Cabo (África do Sul) e de 
Alexandria (Egito). O turismo tem‑se tornado importante fonte de divisas no setor industrial do Quênia 
(Parque Nacional de Nairóbi) e em Gâmbia.
7.2.3.3 Pecuária
Atividade de pouco rendimento no continente africano, em virtude da pobreza das pastagens, dos 
animais ferozes de certas regiões e da mosca tsé‑tsé. Nas estepes norte‑africanas predominam os grupos 
de pastores nômades, com seus rebanhos de ovelhas, camelos, cabras e dromedários. Nas encostas de 
montanhas, pratica‑se o pastoreio de cabras e ovelhas. Na África Central, apesar de prejudicada pela 
doença do sono, nas áreas mais secas da savana e nos planaltos orientais, os negros criam gado da raça 
zebu como uma atividade de subsistência.
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7.2.3.4 Agricultura
Tubérculos e plantação de banana
Milhete ou sorgo
Trigo, frutas cítricas e uva
Trigo e cevada
MilhoM
A
P
C
X
O
Arroz
Palmeiras oleaginosas
Cacau e café
Algodão
Criação extensiva
Região onde o problema da fome é 
particularmente grave
Figura 88 – Principais produtos agrícolas
No Norte da África, na região dos oásis do deserto ou na região mediterrânea, as populações 
sedentárias desenvolvem a tradicional agricultura de regadio (tamareiras, cereais, legumes, forragens) 
em áreas de planícies. Nas encostas de montanhas, cultivam‑se os produtos típicos da agricultura 
mediterrânea – vinhedos, oliveiras, figueiras, amendoeiras, hortaliças e algumas cítricas. Destaca‑se 
também nessa região o algodão, principalmente na Tunísia, na Argélia e no Egito.
Na África Central, o Congo e o Gabão apresentam grandes destaques na exploração madeireira, de 
seringueira e de dendê. De um modo geral, a maior parte da população é de agricultores, que praticam 
uma agricultura extensiva de subsistência, geralmente, utilizando técnicas rústicas de cultivo, como a 
queimada para limpeza do terreno e início de novas culturas temporárias, resultando em esgotamento 
do solo e deslocamento para outras áreas. Na zona tropical há culturas de cereais (milho, sorgo ou 
oleaginosas e amendoim), mas também são importantes as culturas de banana e dendê, enquanto na 
zona equatorial são destaques os tubérculos (inhame e mandioca). Embora a maioria das áreas seja 
destinada à agricultura de subsistência, podemos observar o sistema de plantation (monocultura para a 
exportação), principalmente, na porção ocidental do continente. Os principais produtos cultivados são: 
cacau (Gana, Nigéria e Costa do Marfim); algodão (Egito, Sudão, Uganda e Senegal); café (Costa do 
Marfim, Uganda, Etiópia, Madagascar e República de Camarões); e amendoim (Nigéria e Senegal).
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7.3 Geografia cultural africana: a religião, a experiência do sagrado e a arte
O continente africano apresenta o perfil religioso exposto na tabela a seguir.
Tabela 11 – Distribuição das religiões africanas segundo a região geográfica (em %)
Cristianismo Islamismo Religiões tradicionais 
Demais 
religiões Total
2006 2010 2006 2010 2006 2010 2006 2010 2006 2010
África 
Central 81,3 82,5 9,6 9,7 8,0 6,7 1,1 1,1 100 100
África 
Oriental 63,9 66,0 21,8 21,9 13,1 10,9 1,2 1,2 100 100
Norte da 
África 9,0 8 87,6 89,1 2,2 2,1 1,2 0,8 100 100
África 
Austral 82,0 82,4 2,2 1,5 9,7 7,9 6,1 8,1 100 100
África 
Ocidental 35,7 36,5 48,1 51,0 15,7 12,1 0,5 0,4 100 100
A maioria dos africanos pratica a religião cristã; em segundo lugar vêm os adeptos do Islã, e, em 
menor proporção, aqueles que praticam as religiões tradicionais. Existe, no entanto, importante variação 
regional das distribuições. Na África Austral (países do sul do continente) e nas porções centrais e 
orientais do continente, predominam os cristãos, respectivamente, com 82,4%, 82,5% e 66% dos 
praticantes. Em contrapartida, os adeptos do Islã são maioria na porção norte do continente (89,1%) e 
também na África Ocidental (51%), sobretudo, na Costa do Marfim, no norte de Gana e no sudoeste e 
no norte da Nigéria. Também se concentram os muçulmanos no nordeste da África e ao longo da costa 
da África Oriental.
O Islã, assim como a religião cristã, assume características próprias na África porque costuma haver 
um sincretismo entre estas religiões e as religiões tradicionais. São formas mescladas com crenças 
ancestrais dos povos mais antigos que a tradição preservou. O sincretismo típico das religiões africanas, 
no entanto, costuma gerar conflito apenas na região da Arábia Saudita, cujos representantes mais 
ortodoxos islãos são menos favoráveis a esse fenômeno.
As expansões islâmicas ocorreram durante o processo expansionista árabe iniciado no século 
VII, a partir da unificação dos povos da Península Arábica, com a disseminação do islamismo. Com 
o expansionismo, os muçulmanos conquistaram, além do Oriente Próximo, a Península Arábica, a 
Península da Anatólia, a Mesopotâmia, o norte da África, a costa do Índico Setentrional Africano e a 
Península Ibérica.
As religiões tradicionais africanas são também denominadas religiões étnicas. Representam práticas 
e rituais trazidos pela tradição há séculos. São pouco representativas no norte da África, concentrando 
adeptos nas porções orientais e ocidentais do continente. Sobre este aspecto, vale observar que, entre 
2006 e 2010 (Tabela 11), as religiões tradicionais perderam proporção de adeptos em três regiões. Na África 
Oriental, perderam cerca de 2% dos adeptos, diminuindo de 13,1% em 2006 para 10,9% em 2010, redução 
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que sedeu paralelamente ao incremento dos cristãos em cerca de 2% (de 63,9% em 2006 para 66% em 
2010) na região. A diminuição proporcional de 2% dos praticantes das religiões tradicionais também é 
observada na região da África Austral. Por sua vez, na porção ocidental do continente, observou‑se a maior 
variação proporcional. Desta vez, é claro que a perda de adeptos das religiões tradicionais de 15,7% em 
2006 para 12,1% em 2010 provavelmente tenha ocorrido pelo aumento das conversões ao islamismo, 
dado que houve aumento da proporção de 48,1%, em 2006, para 51%, em 2010.
 Lembrete
Islã, islamismo ou maometismo é a religião sistematizada pelo profeta 
Muhammad (Maomé) e que prega a subserviência ao deus único, Alá.
Fetichismo ou animismo é a religião que considera todos os seres da 
natureza dotados de vida e capazes de agir conforme uma finalidade.
Cristianismo e judaísmo são religiões que têm origem no Velho 
Testamento. A diferença básica entre as duas é que os cristãos celebram a 
vinda de Cristo (Novo Testamento), enquanto os judeus aguardam a vinda 
de um messias.
Mesmo hoje, quando a adesão à religião tradicional é tão pequena, pode‑se dizer que a importância 
desses valores é grande, porque o cristianismo e o islamismo, religiões de maior prevalência na África, 
assumem formas sincréticas claramente mescladas com as da religião tradicional. Segundo Roger 
Bastide (1968), analisar a cultura africana segundo o método estrutural da experiência do sagrado das 
religiões tradicionais tem papel revelador. Por isso, um dos objetivos deste tópico é compreender, via 
análise da arte e da religião africanas, o aspecto fundamental da cultura africana enquanto uma cultura 
denominada material. Elucidar o significado da expressão cultura material nos dá a porta de entrada 
para compreendermos desde o estilo da arte africana até o modo pelo qual os processos sociais se 
desenvolvem no meio africano.
Dada a vasta produção técnica, estilística e ontológica de centenas de sociedades, reinos e culturas 
da África tradicional, a expressão arte africana parece redutora. No entanto, é melhor do que outras 
que se usavam anteriormente, como arte primitiva ou arte selvagem, que espelhavam um preconceito 
de, antes de um exame mais cuidadoso, considerar essa cultura pouco evoluída ou muito simplória 
(SALUM, 2004, p. 1). O objetivo deste texto é mostrar que, para além do estilo ou dos objetivos da arte 
africana, que, no seio das religiões tradicionais, prestava‑se a ornamentar rituais e sacrifícios selvagens, 
trata‑se de uma arte extremamente viva cuja elucidação revela a riqueza da cultura dos povos que a 
produzem.
O grande diferencial da arte africana é sua característica de vitalidade. Por isso, a simples observação 
dos objetos como peças isoladas, tal como se encontram nos museus, não oferece nenhuma chave de 
leitura do seu significado profundo. Então, antes de tudo, é preciso levar em conta que:
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[...] exposição nenhuma jamais poderia recuperar a força das rochas, fontes 
e matas que abrigavam estátuas, nem o ambiente dos palácios, templos, 
altares em que se situavam. Formavam conjunto com outras peças e seu 
entorno: eram arquiteturais e espaciais, porém muitas não podiam ser 
tocadas, nem ao menos vistas. E daí tirarmos: nem toda produção plástica 
da África era visual (SALUM, 2004, p. 1).
Note‑se que Salum (2004) defende que nem toda arte africana é visual no que se refere a ter 
sido feita para ser vista por todos. O curioso é que se hoje esses objetos estão espalhados em muitos 
museus pelo mundo e, portanto, colocam‑se como objetos para serem vistos, originalmente, os rituais 
em que eles se encaixavam eram reservados a poucos, ou seja, eram apenas os iniciados e os sacerdotes 
que tinham acesso aos mistérios veiculados nos rituais onde esses objetos circulavam, pois parte das 
esculturas antropomórficas representa uma “presentificação” dos ancestrais fundadores e podia ser 
vista somente por poucos iniciados nos mistérios.
Escribas e arqueólogos descobriram peças antigas, muitas do século V a.C., que remetiam à mesma 
identidade ritualística, bem como aos mesmos padrões e texturas que se reproduziam nas joias, 
na tecelagem, na arte corporal e na arquitetura, ou seja, compunham um conjunto de objetos que 
integravam o mesmo evento, cada qual cumprindo uma função, daí se falar também que a arte africana 
é uma arte funcional.
Os antropólogos dizem que a África tem uma cultura material e que sua arte reflete esta 
característica. Isto significa que os objetos que a compõem pertencem ao uso cotidiano dos povos 
e não foram feitos com intenção apenas de ser contemplados como expressão artística. Em outras 
palavras, a arte está profundamente ligada à materialidade das formas de vida, e como as formas de 
vida africanas das sociedades tradicionais eram profundamente ligadas à natureza, essa arte apresenta 
também a relação íntima entre cultura e natureza. Salum (2004, p. 2) argumenta que o destaque ou a 
ênfase que nós costumamos dar ao fato de a cultura africana ser extremamente ligada à natureza revela 
muito sobre a nossa cultura ocidental contemporânea. O estranhamento em torno da questão revela o 
distanciamento das nossas formas de vida atuais em relação à natureza. A autora chega a afirmar que a 
própria denominação de que a cultura africana seja um exemplo de cultura material é acrítica, como 
se esta forma de pensar mantivesse ali explícita a ideia meio absurda de que a relação tão direta de uma 
cultura com a natureza fosse algo “antinatural”.
Na verdade, a diferença entre as culturas é muito mais profunda, ou melhor, trata‑se de 
uma diferença radical, considerando que estas culturas se organizam por formas diferentes de 
racionalidade. Não se trata de diferença qualitativa entre dois pensamentos, nem de juízos de 
valoração diferentes sobre as mesmas questões, mas de matrizes culturais que geram questões 
distintas.
A arte africana está inserida no contexto da religiosidade, é desenvolvida como ornamento na 
relação do homem com os mistérios, com o sagrado, e as formas das religiões tradicionais africanas 
incluem sempre a experiência corporal e a expressão deste corpo com outros elementos da natureza. 
O que não é exatamente de se espantar, porque toda experiência do sagrado, em suas origens, é uma 
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experiência corporal. Inclusive, o cristianismo assim o era em suas origens, conforme nos lembra Roger 
Bastide (1968, p. 6).
Outra diferença fundamental é que a civilização africana tradicional (anterior à sua ocidentalização) 
se expressava por meio de símbolos, e a ocidental, por meio de sinais linguísticos, ou seja, da língua 
escrita. Estes “são caminhos diametralmente opostos” (BASTIDE, 1968, p. 7). No esquema simbólico, não 
é a palavra que significa os objetos, mas sim os próprios objetos da natureza que se remetem uns aos 
outros para construir uma cadeia de significados. Os objetos do mundo, nesse contexto, passam a ser as 
palavras, que compõem um tipo de linguagem.
Originalmente, a religião ocidental cristã também apresentava uma relação corpórea com os 
sacramentos, mas, pouco a pouco, eles foram se tornando palavras celebradas pelo sacerdote das quais 
se participa em significado:
Os sacramentos da igreja católica, entre muitos católicos modernos [do 
século XVII], vão perdendo seus valores ontológicos para se tornarem simples 
sinais de participação. São raros os católicos que sabem que são o marido 
e a mulher que realizam o “sacramento” do matrimônio, e não o padre que 
os abençoa, e é pelo ato sexual que unificam seus corpos:é, no entanto, 
a partir dessa experiência, se ela fosse vivida, que seria fácil à etnologia 
católica compreender a sexualidade africana como uma forma de liturgia 
ou de pensamento “sacramental” (BASTIDE, 1968, p. 8).
É nesse sentido que a colonização trouxe às sociedades africanas tradicionais uma mudança brusca 
de mentalidade: substituiu uma visão simbólica do mundo por uma visão linguística. Além do mais, uma 
sociedade não cristã não é marcada necessariamente por uma visão dualista de mundo; logo, os mortos 
não habitam outro mundo diferente do nosso, mas compartilham do mesmo, por meio dos sonhos, das 
memórias, dos rituais sagrados ou até da crença na reencarnação. Desse modo, a morte não simboliza o 
contrário da vida, mas está dentro desta, pertence ao fenômeno da vida, existem um culto e um diálogo 
com os ancestrais.
Sobre a questão dos ancestrais, vale destacar que este é um dos aspectos que dão unidade 
aos povos da África tradicional. O indivíduo torna‑se um, ou seja, é considerado um indivíduo 
justamente porque ele compõe com os outros uma linhagem, porque tem um ascendente. 
Da mesma forma, quem vai lhe garantir a finalidade e a memória de sua existência é o seu 
descendente. Daí a profusão de imagens antropomórficas esculpidas a que se chama de 
ancestrais. Mas, diferentemente da arte ocidental, que é, por essência, uma arte representativa 
(ou seja, as formas tendem a representar algo existente no plano do real ou do imaginário), a 
arte tradicional africana é simbólica; as estátuas dos ancestrais não buscam mimetizar algum 
antepassado específico, mas simbolizam sua figura. Nesse sentido, muitos elementos simbólicos 
veiculam os valores de longevidade e da vitalidade e podem ser vistos expressados graficamente 
nas decorações de superfície de esculturas, na tecelagem e no trançado, bem como na própria 
arquitetura, por meio de figuras geométricas (zigue‑zagues, linhas onduladas, espirais – contínuas 
e infinitas) e de figuras zoomorfas (cobras, lagartos, tartarugas).
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Figura 89 – Pintura de rosto – povo Nuba (Sudão, África)
Quanto às matérias‑primas e ao uso dos materiais, Salum (2005, p. 3‑5) faz as seguintes observações:
• As matérias‑primas utilizadas nas peças informam muito sobre sua procedência. A madeira era 
muito usada nas regiões de floresta, e a estatuária de madeira também está concentrada na 
chamada África Ocidental e na África Central, regiões onde predominavam as florestas equatorial 
e tropical. O marfim, tradicionalmente usado, foi muito valorizado, desde o Renascimento europeu, 
ligado ao comércio e ao turismo.
• Outras artes, como cerâmica, cestaria e adornos corporais, eram feitas tradicionalmente por 
todas as sociedades, respondendo às necessidades cotidianas e rituais; podemos destacar 
algumas em que essas técnicas eram mais usadas do que a escultura, de acordo com o 
modelo de organização social e as formas de expressão estética. Nesses casos, os recursos 
gráficos eram mais aplicados do que os recursos representativos da escultura. Aqui podem ser 
compreendidos, particularmente, os produtos de sociedades situadas em regiões semiáridas, 
que, na busca periódica de novos territórios, não podiam transportar com facilidade bens 
móveis de grande porte.
• Como a vida cultural é essencialmente ritualizada, o mundo material e o espiritual são concebidos 
juntos, com divindades que representam também forças da natureza. Os candomblés brasileiros 
conservam formas de culto muito próximas às de cultos tradicionais da África Ocidental, adotando 
emblemas, nomes e outras características de suas divindades. O caráter cósmico dessas religiões, 
e seu traço comum, é que seus deuses remetem às forças da natureza, pois é característica 
fundamental destas religiões que a experiência do sagrado remeta diretamente à participação do 
homem com os demais componentes do cosmo, os outros animais, os vegetais, os minerais, os 
mares, os ventos, as forças da vida, enfim.
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As artes plásticas da África são uma série de produtos: esculpidos, fundidos, modelados, pintados, 
trançados, tecidos etc. Cada estilo ou grupo de estilos corresponde a um reino, região ou aldeia. Além 
disso, cada objeto é apenas uma parte da manifestação estética a que pertence, constituída por um 
conjunto de atitudes (gestos, palavras), danças e músicas. Isso pode determinar as diferenças entre a 
arte de um grupo e de outro, tendo‑se em vista também o lugar e a época. É possível encontrarmos na 
arte africana alguns elementos de aproximação com os de correntes da arte ocidental, do naturalismo 
ao abstracionismo. Esses elementos permitiram a artistas, como Picasso, revolucionar a arte ocidental, 
ainda que a ideia de cubismo seja uma invenção intelectual dos europeus que nada tem a ver com 
a intenção dos africanos. Ainda que qualquer tentativa de classificar esse tipo de arte esbarre em 
dificuldades, podemos observar que algumas produções são mais realistas ou mais geométricas. 
Salum (2005, p. 5) informa que o realismo ocorre com frequência nas estátuas, talvez por seu caráter 
representativo (de uma figura humana, de uma imagem onírica ou de um antepassado), enquanto 
o geometrismo aparece muito nas máscaras, principalmente, naquelas que representam espíritos e 
seres sobrenaturais.
Os oleiros marroquinos 
são, na sua maioria, 
analfabetos; por isso, em 
vez de copiarem textos 
do Corão, simulam a 
caligrafia corânica.
A tribo Ekoi da 
Nigéria utilizava 
os mesmos 
padrões, quer na 
olaria, quer nos 
artísticos penteados 
tradicionais
A cor tradicional dos 
potes zulu é o preto. 
Uma decorativa 
tampa feita com erva 
mantém o conteúdo 
fresco e sem insetos.
Figura 90 – Alguns padrões de arte africana
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 Saiba mais
O Museu de Arqueologia e Etnologia (MAE) da Universidade de São 
Paulo disponibiliza no site <www.arteafricana.usp.br> uma lista de portais 
de interesse para quem quer conhecer coleções de peças e fotos de 
importante valor histórico‑documental que integram acervos acessíveis na 
Internet. Veja a lista de museus:
Linha do tempo da história da arte no continente africano de 8.000 a.C. à 
atualidade, Museu Metropolitano, Nova Iorque: <http://www.metmuseum.org>.
Museu Etnológico de Berlim: <http://www.smb.spk‑berlin.de/mv/afrika>.
Museu Real da África Central, Tervuren: <http://www.africamuseum.be>.
Museu Nacional de Arte Africana, Washington: <http://www.nmafa.si.edu>.
Arquivos fotográficos Elliot Elisofon: <http://www.sirismm.si.edu>.
Museu Britânico, Londres: <http://www.thebritishmuseum.ac.uk>.
Museu Nacional Pré‑histórico Etnográfico Luizi Pigorini, Roma: <http://
www.pigorini.arti.beniculturali.it>.
Recitos de viajantes sobre a África – Base de dados Gallica: <http://
gallica. bnf.fr/ voyagesEnAfrique>.
Museu Africano de Berg em Dal: <http://www.afrikamuseum.nl>.
Museu Histórico de Abomey: <http://www.epa‑prema.net/abomeyGB>.
Museus da África na Internet: <http://www.icom.museum/vlmp/africa.html>.
Museu Afro‑brasileiro, Salvador: <http://www.ceao.ufba.br/mafro>.
Fototeca África da Fundação Pierre Verger: <http://www.pierreverger.
org/br/photos/>.
Casa das Áfricas: <http://www.casadasafricas.org,br>.
Museu Nacional de Belas Artes: <http://www.mnba.gov.br>.
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Regionalização do espaço Mundial: euRopa, ÁfRica e ÁsiaPara Bastide (1968, p. 11), enquanto os africanos se mantêm ligados ao mundo no entendimento 
profundo de que são partes da criação deste conjunto, ou seja, permanecem em “casamento espiritual” 
com o mundo, o ocidental dele se afasta por meio da linguagem da representação. O diálogo do 
homem, neste caso, não é mais com o mundo, mas com as palavras, as representações do mundo. Ao 
transformarmos os objetos em pensamento dos objetos, nós nos distanciamos deles, e mais, “destruímos” 
os objetos materiais para concebê‑los como conceitos, imagens etc. Substituímos nossa relação com o 
sagrado do mundo por um discurso sobre o sagrado; em vez de participarmos do mistério do mundo, 
pensamos sobre o mistério do mundo. “Já as civilizações africanas conhecem e cultivam o transe, como 
participação do homem com o sagrado, com o mundo dos mortos, com o mundo das forças cósmicas, 
mundo dos deuses que controlam ou regem essas forças cósmicas” (BASTIDE, 1968, p. 12).
Vimos, portanto, que, para discutir a questão da cultura africana tradicional, é necessário deslocar o 
olhar para além da nossa cultura. Esse esforço é necessário, mas não é totalmente possível porque, por 
mais que tentemos nos libertar dos nossos valores para tentar refletir sobre a cultura do outro, nosso 
próprio pensamento em si já está moldado por um modo de olhar e conhecer da nossa cultura. Desse 
modo, podemos afirmar que, “se o modo de produção dominante de uma sociedade pode dizer muito 
sobre a vida dessa sociedade, certamente não comporta explicações de todas as dimensões de como os 
homens constituem suas vidas e modelam suas existências” (SALUM, 2005, p. 2).
Na verdade, a questão maior é que habita em nosso imaginário ocidental sem mais questionamentos 
a ideia de que a África acolhia (e ainda acolhe) uma sociedade culturalmente atrasada. Tal fato era 
verdade não questionada até o início do século XX. Tal crença era, aliás, muito oportuna para justificar a 
exploração econômica dos recursos naturais e humanos da região durante séculos. Segundo o historiador 
John Fage (1982), essa mentalidade resultava, sobretudo, da junção de correntes de pensamento oriundas 
do Renascimento, do Iluminismo e da crescente revolução científica e industrial. Nesse contexto, não foi 
difícil convencer os europeus de que os objetivos, os conhecimentos e a cultura da civilização europeia 
deveriam prevalecer como horizonte de valor a ser alcançado pelas demais civilizações. O filósofo Hegel 
(1770‑1831) definiu explicitamente essa posição em sua obra Filosofia da História:
A África não é um continente histórico; ela não demonstra nem mudança 
nem desenvolvimento. [Os povos negros] são incapazes de se desenvolver 
e de receber uma educação. Eles sempre foram tal como os vemos hoje 
(HEGEL, 1817‑1830 apud FAGE, 1982, p. 7‑8).
Fage (1982) diz que, ironicamente, foi durante a vida de Hegel que os europeus lançaram os 
fundamentos de uma avaliação racional da história e das realizações das sociedades africanas. Essa 
exploração era ligada, em parte, à reação contra a escravidão e o tráfico de escravos, e, em parte, 
à competição pelos mercados africanos. Na época, muitos exploradores se lançaram ao continente 
africano para explorar as fontes da cultura negra africana.
Curiosamente, assim como estes primeiros explorados constituem exemplos de 
viajantes‑pesquisadores que produziram interessante material historiográfico, os primeiros geógrafos 
das novas terras americanas também eram exploradores que partiam em busca de informações, 
aventuras e riquezas, obviamente, mas que produziram os primeiros mapas e croquis, além das 
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primeiras descrições das paisagens das novas terras, material muito valorizado posteriormente pelos 
historiadores da Geografia e da História. Estes estudiosos recolhiam todo o material que encontravam, 
como documentos escritos, e descreviam tradições orais e testemunhos que descobriam sobre os 
traços do passado. “A literatura produzida pelos exploradores é imensa. Alguns desses trabalhos 
contêm história no melhor sentido do termo, e, em sua totalidade, tal literatura constitui um material 
de grande valor para os historiadores” (FAGE, 1982, p. 9).
O fato é que essas investidas constituíam atitudes isoladas. Em geral, a ideia hegeliana não só 
impera, mas também ganha força. O historiador explica:
Como essas tentativas [de exploração econômica e cultural] pareciam 
necessitar de uma justificativa moral, as considerações hegelianas foram 
reforçadas pela aplicação dos princípios de Darwin. O resultado sintomático 
disso tudo foi o aparecimento de uma nova ciência, a Antropologia, que é 
um método não histórico de estudar e avaliar as culturas e as sociedades 
dos povos “primitivos”, os que não possuíam “uma história digna de ser 
estudada”, aqueles que eram “inferiores” aos europeus e que podiam ser 
diferenciados destes pela pigmentação de sua pele (FAGE, 1982, p. 10).
Os historiadores e arqueólogos mantinham certa reserva sobre as pesquisas na África, porque naquela 
época se postulava que a História deveria orientar‑se essencialmente pelas fontes escritas, as quais não 
estavam disponíveis na África Subsaariana. Tal quadro epistemológico mudaria com a valorização dos 
testemunhos orais para investigar o passado de um povo (FAGE, 1982, p. 12). Ademais, a partir de 1947, 
com a criação da Sociedade Africana de Cultura, intelectuais, desta vez, africanos, começam a definir seu 
próprio enfoque retrospectivo, lutando pela construção das fontes de uma identidade cultural negada 
pelo colonialismo.
 Saiba mais
Existe uma obra monumental sobre a África?
Um dos projetos editoriais mais importantes da Unesco nos últimos 
trinta anos, a coleção História Geral da África é um grande marco no 
processo de reconhecimento do patrimônio cultural da África, pois ela 
permite compreender o desenvolvimento histórico dos povos africanos 
e sua relação com outras civilizações a partir de uma visão panorâmica, 
diacrônica e objetiva, obtida de dentro do continente. O projeto envolveu 
especialistas de áreas como História, Antropologia, Arqueologia, 
Linguística, Botânica, Física, Jornalismo, dentre outros. Com quase 10 mil 
páginas, foi construída ao longo de trinta anos por 350 pesquisadores, 
coordenados por um comitê científico composto por 39 especialistas, 
dois terços deles africanos.
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A obra está estruturada da seguinte forma:
Volume I – Metodologia e Pré‑História da África.
Volume II – África Antiga.
Volume III – África do século VII ao XI.
Volume IV – África do século XII ao XVI.
Volume V – África do século XVI ao XVIII.
Volume VI – África do século XIX à década de 1880.
Volume VII – África sob dominação colonial, 1880‑1935.
Volume VIII – África desde 1935.
Consulte:
KI‑ZERBO, J (Ed.). História Geral da África. Brasília: Unesco; Secad/
MEC; UFSCar, 2010. 8 vol. Disponível em: <http://www.unesco.org/new/
pt/brasilia/about‑this‑office/single‑view/news/general_history_of_africa_
collection_in_portuguese‑1/#.VGotMTTF_kU>. Acesso em: 17 nov. 2014.
A concepção da cultura e das artes africanas impõe rever, portanto, duas ordens de questões 
fundamentais: a do modo da relação de uma sociedade com sua história e a compreensão dos modos 
pelos quais uma cultura se relaciona com a natureza (sua “cultura material”) que não necessariamente 
implica subjugá‑la tecnologicamente para operar a produção de determinados tipos de bens de consumo. 
Assim, podemos considerar que o fato de os povos daquela região não terem escrito sua história não 
quer dizer que não a tenham, nem que não atenham tido escrita. A história deles está “escrita” numa 
infinidade de objetos que estão plenos de mensagens codificadas por signos e símbolos que podem ser 
“traduzidos”, ou interpretados verbalmente, como é o caso de muitos objetos proverbiais.
Por se tratar de sociedades com história cujo registro é oral, seus tempos históricos são marcados por 
eventos, não por datas, e os objetos trazem as marcas destes eventos, bem como seu lugar e instante. 
Os eventos podem ser de ordens diversas de importância e de extensão, podem ser eventos da natureza 
ou sociais. Vejamos alguns exemplos dados por Salum (2005, p. 4): a queda de um cometa célebre, uma 
enchente inusitada, fatos e feitos de determinado governo, deslocamentos das comunidades ou grandes 
correntes migratórias motivados por fatores culturais, naturais ou comerciais, assim como conquistas 
territoriais, dominação de povos, união de culturas de povos amigos etc. É bom notar também que se trata 
de objetos cuja origem remete a tempos bastante remotos, muito anteriores à conquista colonial da África 
pelos europeus nos séculos XIX e XX. Descobertas arqueológicas vêm demonstrando a procedência da 
espécie humana no continente africano, como o caso do exemplar mais antigo do Homo sapiens sapiens 
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descoberto no Quênia, datado de 130 mil anos atrás. Recentes pesquisas arqueológicas apontam para a 
região do Saara, na África, como um importante centro dessa manifestação da cultura pré‑histórica.
Figura 91 – Pinturas pré‑históricas em cavernas
Outro ponto importante que se refere à geografia cultural da África diz respeito diretamente à divisão 
do território que se deu durante o processo de colonização. O recorte do território colonial não condizia 
nem de longe com as fronteiras de centenas de grupos étnicos africanos, de forma que podemos dizer 
que esta questão geográfica foi uma das primeiras grandes violências que os povos africanos sofreram 
no seu processo histórico, como diz a autora:
O mais agravante, porém, é que as linhas de divisa colonial foram de modo 
geral absorvidas na configuração dos países atuais, a partir de então com 
seus próprios governos. Mesmo assim, até hoje são países que lutam com 
dificuldade, tentando recuperar suas origens ancestrais, e prosseguir suas 
vidas dentro do quadro da globalização imposto mundialmente. As lutas civis 
e a presença de ditadores compactuados com potências estrangeiras na África 
atual refletem ainda os problemas que a exploração europeia e a ideologia do 
desenvolvimento causaram aos povos africanos (SALUM, 2005, p. 5).
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A sociedade ocidental entendida como civilização prometeica é aquela que instala uma distância 
entre o sujeito e o objeto, entre o homem e seu mundo, o cosmos. Então, é esta oposição hierárquica 
que se instala entre o homem e o mundo que faz com a natureza; a materialidade é algo passível de 
ser dominado. Neste ponto, o homem abandonou sua relação ancestral com as forças da natureza, 
pois o sujeito já se desligou da ordem cósmica ao se colocar “acima” dela, como quem a pensa ou a 
captura numa representação. Por isso o herói ocidental é aquele que conquista o território, submete 
o outro povo ao seu jugo, ao passo que o herói da sociedade tradicional, segundo Bastide (1968, p. 
13‑4), é aquele que faz a intermediação com os deuses para ensinar ao homem a cultura e os modos de 
organização familiar, social e política.
8 África: a hiStOriciDaDe (cOLOniaLiSmO, neOcOLOniaLiSmO), OS 
cOnfLitOS e prObLemaS reGiOnaiS e a SituaçãO GeOpOLítica
A África é um continente cuja história de dominação é muito recente. Nos próximos subtópicos, 
abordaremos os conflitos e problemas regionais, bem como a geopolítica desse continente.
8.1 África Setentrional
O norte da África, por sua proximidade com a Europa, tem uma importância geopolítica. Nos 
subtópicos a seguir, estudaremos essa importância.
8.1.1 Importância estratégica da África Setentrional
O que nós vamos estudar como África Setentrional (ou África do Norte) é o trecho do continente 
africano que se estende da Mauritânia, no extremo oeste, até o Egito, na porção leste, incluindo nações 
como Marrocos, Argélia, Tunísia, Líbia e Saara Ocidental.
Como em todo o continente africano, o relevo é planáltico, sobressaindo‑se a Cadeia do Atlas, 
abrangendo Marrocos, Argélia e Tunísia. De formação recente, está sujeito a abalos sísmicos e possui 
altitudes superiores a 3.000 m. O clima da região é árido, com destaque especial para o Deserto do 
Saara, que se estende pelo interior da região. Caracterizada pelas elevadas temperaturas diurnas e pela 
baixíssima pluviosidade, é uma região de difícil circulação, mas que apresenta riquezas como o petróleo, 
intensamente explorado por Argélia, Líbia e Egito.
A importância estratégica do norte da África está na sua proximidade com a Europa, o que lhe 
permite um contato constante com esse continente, ao mesmo tempo recebendo e exercendo influência. 
De fato, desde a Antiguidade, o norte africano foi uma área de incursão de povos como fenícios, gregos 
e romanos, que lá possuíam colônias. Diversos povos bárbaros, vindos da Europa ou do Leste, fizeram 
também suas incursões no território norte‑africano, mas, sem dúvida alguma, foram os árabes que, com 
o advento do islamismo (século VI), marcaram sobremaneira a região. Hoje em dia, podem‑se reconhecer 
dois grupos étnicos principais: os semitas brancos, muito semelhantes aos árabes do Oriente Médio, que, 
durante a expansão islâmica em direção ao sul da Europa, se estabeleceram no litoral, dedicando‑se 
ao comércio e à agricultura mediterrânea; e os camitas, que se estabeleceram no interior, no deserto, 
dedicando‑se ao pastoreio nômade. São eles: tuaregues, berberes, mouros etc.
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Unidade III
A economia regional baseia‑se no comércio, na agricultura e na exploração mineral. O petróleo ganha 
destaque na Líbia e na Argélia (que são membros da Opep), e os fosfatos são explorados no Marrocos.
Analisaremos alguns fatos que merecem ser ressaltados na região.
8.1.1.1 Noroeste: o Magreb
Definida como a região que engloba Marrocos, Argélia e Tunísia, tem por limite, ao norte, o Mar 
Mediterrâneo e a Cadeia do Atlas, e, ao sul, o Deserto do Saara. Por ser a área mais próxima da Europa, 
tornou‑se de interesse colonial, notadamente da França, que se estabeleceu na região no século XIX. A 
interferência francesa na região, principalmente na Argélia, rendeu um dos mais sangrentos conflitos do 
Pós‑guerra, juntamente com as guerras do Vietnã e da Coreia.
Estabelecida no norte da Argélia desde 1830, a França não considerava o país uma colônia, mas 
uma extensão do território francês, tendo enviado para lá sucessivas levas de colonos. Esses franceses 
ocupavam as melhores terras da região, entrando em conflito com os habitantes locais. Isso fez surgir, na 
década de 1930, a Frente de Libertação Nacional (FLN), que, por meio de guerrilhas, lutava pela expulsão 
dos franceses. Num primeiro momento, o governo francês interferiu, enviando à Argélia cerca de 500 mil 
soldados para defender os colonos. Entre os próprios colonos, surgiu um movimento contraguerrilheiro 
conhecido como Organização do Exército Secreto (Organisation Armée Secrète – OAS), famoso por seus 
atos terroristas. Apesar de todo o esforço dos colonos, o governo francês resolveu ceder a independência 
à Argélia, o que resultou na evasão de mais de 1 milhão deles.
O atual cenário político do país caracteriza‑se

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