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Suyane Leal Lima – Medicina – 3º Período APG: Medo de ser o Próximo TUBERCULOSE OBJETIVOS Entender a fisiopatologia da TB; Compreender as manifestações clínicas da TB, adentram sobre sua resistência bacteriana; Apontar a epidemiologia da TB; Identificar o tratamento para TB; Discutir a conduta adequada para contexto penitenciário. DEFINIÇÃO Tuberculose (TB) é uma infecção contagiosa crônica causada pela bactéria Mycobacterium tuberculosis, que se propaga pelo ar. Afeta prioritariamente os pulmões, embora possa acometer outros órgãos e sistemas. A forma mais comum da doença é a forma pulmonar, mas acometimentos extra- pulmonares também são frequentes e dignos de atenção da saúde pública, como as formas pleural, ganglionar, miliar, osteomuscular, etc. É a principal causa infecciosa de morbidade e mortalidade mundial em adultos, matando aproximadamente 1,7 milhão de pessoas no mundo em 2016, a maioria nos países com renda média e baixa. Aproximadamente um quarto da população mundial está infectado. FISIOPATOLOGIA A tuberculose se desenvolve da seguinte forma: 1. Núcleos gotículas são inalados com M. tuberculosis; 2. As gotículas descem pela arvore brônquica (sem aderir ao epitélio) e se depositam nos alvéolos; 3. Os bacilos são fagocitados pelos macrófagos alveolares; 4. Os lipídios da parede celular dos bacilos impedem a destruição; 5. Os bacilos se reproduzem; 6. Macrófagos aliados aos linfócitos T geram uma resposta imune celular eficaz a partir de 3 a 6 semanas (decompõem as microbactérias e apresentam antígenos aos linfócitos T); 7. Os linfócitos T sensibilizados estimulam macrófagos a destruir as bactérias; 8. As enzimas líticas liberadas além de destruir as bactérias, destroem os tecidos do pulmão. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Suyane Leal Lima – Medicina – 3º Período APG: Medo de ser o Próximo A tuberculose afeta mais comumente os pulmões. Pode haver tosse seca e depois produtiva, com escarro purulento e com sangue (hemoptise, quando há danos no pulmão). Outros sintomas são febre baixa, anorexia, fadiga, perda de peso, sudorese noturna, fraqueza, dispneia, ortopneia, pleurite, dor no tórax, linfadenite. Além de sintomas extrapulmonares, quando há tuberculose associada à HIV. Complexos de Ghon: lesão pulmonar causada pela tuberculose, que consiste em focos de infecção calcificados e um nódulo linfático associado. RESISTÊNCIA BACTERIANA O bacilo da tuberculose é um mecanismo aeróbico que pode apresentar uma taxa elevada de mutação, assim, pode apresentar resistência a vários tipos de fármacos. Por isso, as tuberculoses são resistentes e necessitam de vários medicamentos em seu tratamento. Essa resistência à medicamentos pode aumentar devido à erros médicos e, também, erros do próprio paciente, que não os toma corretamente. EPIDEMIOLOGIA Aproximadamente 1/3 da população mundial é infectada pelo M. tuberculosis, e a maioria desses indivíduos têm tuberculose latente. Em 2011 foi levantada uma estimativa que de 8,7 milhões de casos de TB, 13% estavam associados com HIV e 500 milhões de casos novos de TB com 64 mil mortes ao ano secundárias à tuberculose. No Brasil e mais 21 outros países em desenvolvimento abrigam 80% dos casos da doença. Apesar da tendência de queda da incidência e da mortalidade por tuberculose no Brasil, são mais de 70 mil casos novos e o número de óbitos por tuberculose ultrapassa a o número de 4,5 mil a cada ano. TRATAMENTO Indicado para casos novos em adultos e adolescentes (> 10 anos), de todas as formas de tuberculose pulmonar e extrapulmonar (exceto a forma meningoencefálica), infectados ou não por HIV: Fase intensiva: Rifampicina (R) + Isoniazida (H) + Pirazinamida (Z) + Etambutol (E) durante 2 meses (2 RHZE). Fase de manutenção: Rifampicina + Isoniazida durante 4 meses (4 RH). Considera-se que após 15 dias de tratamento, o paciente deixe de transmitir a doença se houver melhora clínica. Entretanto, é recomendado que se observe a negativação da baciloscopia para retirar as precauções de contágio. Indicado para casos novos em crianças < 10 anos, de todas as formas de tuberculose pulmonar e extrapulmonar (exceto a forma meningoencefálica), infectados ou não por HIV: Fase de ataque: 2 RHZ Fase de manutenção: 4 RH O etambutol não é recomendado como tratamento para crianças com < 10 anos. Esquema para a forma meningoencefálica em adultos e adolescentes (>10 anos): Fase intensiva: 2 RHZE Fase de manutenção: 7 RH Na forma meningoencefálica é indicado o uso de corticoide em associação com a terapia padrão. Recomenda-se usar prednisona via oral na dose de 1- 2mg/kg/dia por 4 semanas nos casos não graves e nos casos graves, usar Suyane Leal Lima – Medicina – 3º Período APG: Medo de ser o Próximo dexametasona intravenosa na dose de 0,3 – 0,4 mg/kg/dia por 4-8 semanas. Deve ser feita a redução gradual do corticoide nas 4 semanas subsequentes ao tratamento. APRESENTAÇÃO CLÍNICA Classicamente, as principais formas de apresentação da tuberculose pulmonar são a forma primária, a pós-primária (ou secundária) e a miliar. Os sintomas clássicos, como tosse persistente seca ou produtiva, febre vespertina, sudorese noturna e emagrecimento, podem ocorrer em qualquer das apresentações. TUBERCULOSE PRIMO-INFECÇÃO Quando uma pessoa inala as gotículas contendo os bacilos de Koch, muitas delas ficam no trato respiratório superior (garganta e nariz), onde a infecção é improvável de acontecer. Contudo, quando os bacilos atingem os alvéolos, eles ocasionam uma rápida resposta inflamatória, envolvendo células de defesa. Caso ocorra falha nesse mecanismo, os bacilos começam a se multiplicar. A primo-infecção tuberculosa, sem doença, significa que os bacilos estão no corpo da pessoa, mas o sistema imunológico os está mantendo sob controle. A cura ocorre na grande maioria dos casos, e o complexo primário calcifica-se e perde a capacidade de reativação. TUBERCULOSE PRIMÁRIA Em 5% dos casos, entretanto a primo- infecção não é contida, seja pela deficiência no desenvolvimento da imunidade celular, seja pela carga infectante ou pela virulência do bacilo. A tuberculose primária é resultante da progressão do complexo primário e que se desenvolve nos primeiros cinco anos após a primo-infecção. As formas de tuberculose primária podem ser: ganglionares, pulmonares e miliar que comprometem não apenas os pulmões, mas muitos órgãos como rins, cérebro, meninges, glândula suprarrenal e ossos, resultantes da disseminação linfo- hematogênica do bacilo. Por contiguidade, ocorrem as formas pleural, pericárdica e peritoneal. A forma miliar leva à disseminação hematogênica, e que apresenta lesões granulomatosas muito pequenas e difusas, que atingem não apenas os pulmões, mas muitos órgãos. A tuberculose primária se apresenta de forma insidiosa e lenta. Nessa forma, o paciente, comumente criança, apresenta- se irritadiço, com febre baixa, sudorese noturna, inapetência e exame físico inexpressivo. TUBERCULOSE PÓS-PRIMÁRIA, SECUNDÁRIA OU DE REATIVAÇÃO Uma vez infectada, pode haver reativação endógena, quando o sistema imunológico não pode mais manter os bacilos “sob controle” e eles se multiplicam rapidamente, ou reativação exógena, na qual ocorre uma nova exposição a bacilos mais virulentos e que resistem à forte resposta imunológica desencadeada pelo hospedeiro. A tuberculose pós-primária é mais comum em adolescentes, adultos jovens e adultos. A reativação é mais comum em indivíduos com algum tipo de imunodepressão, desnutrição, alcoolismo, na gravidez e em doentes com outras afecções pulmonares subjacentes, como DPOC e câncer de pulmão. A resposta imune adaptativa específicaao M. tuberculosis desencadeia reação inflamatória à infecção, levando à formação de focos de necrose caseosa importante. Se esse sítio de inflamação e necrose se comunica com um brônquio, o Suyane Leal Lima – Medicina – 3º Período APG: Medo de ser o Próximo material necrótico é drenado pelas vias aéreas, formando uma cavidade. A reativação leva a um quadro clínico típico de tosse produtiva, com expectoração mucoide ou purulenta, com ou sem sangue. A febre é geralmente vespertina, sem calafrios, e não costuma ultrapassar os38,5 °C. Sudorese, hemoptise, perda ponderal e anorexia são comuns. TUBERCULOSE MILIAR É uma forma grave da doença que ocorre quando um grande número de bactérias se desloca pela corrente sanguínea e se dissemina pelo corpo. A tuberculose miliar secundária pode estar associada à disseminação hematogênica de uma tuberculose pulmonar secundária ou por reativação simultânea de vários focos latentes, formados na fase de disseminação hematogênica pré-alérgica. Os pacientes com tuberculose miliar apresentam micronódulos em geral menores que 6 mm, distribuídos difusa e aleatoriamente. Os sintomas como febre, astenia, emagrecimento e tosse ocorrem em 80% dos casos. DIAGNÓSTICO BACILOSCOPIA DIRETA: contagem dos Bacilos Álcool Ácido Resistentes (BAAR). TESTE RÁPIDO MOLECULAR: detecta o DNA do M. tuberculosis e faz triagem das cepas resistentes a rifampicina. CULTURA PARA MICOBACTÉRIA com identificação de espécie. RADIOGRAFIA DE TÓRAX: investigação de lesões sugestivas de tuberculose e calcificações. TESTEQUANTIFERON: mede a quantidade de interferon gama, que faz parte da resposta inflamatória. PROVA TUBERCULÍNICA: consiste na inoculação intradérmica de um derivado proteico do M, o valor de corte é de 5 mm, sendo os indivíduos classificados da seguinte forma: PPD < 5 mm é não reator, e PPD ≥ 5 mm é considerado reator. FATORES DE RISCO Pessoas imunodeprimidos (pessoas que possuem o sistema imune fragilizado por conta de determinadas condições, podendo apresentar risco aumentado para doenças infecciosas); População em situação de rua e população privada de liberdade; Diabetes: causa um aumento da suscetibilidade à tuberculose através de vários mecanismos, incluindo hiperglicemia e insulinopenia celular, que têm efeitos indiretos sobre a função de macrófagos e linfócitos; Tabagismo: relacionado à disfunção ciliar, a uma resposta imune reduzida e a defeitos na resposta imune de macrófagos, com ou sem uma diminuição da contagem de CD4, aumentando a suscetibilidade à infecção por Mycobacterium tuberculosis. A nicotina reduz a produção de TNF-α por macrófagos, a fumaça do cigarro promove seletivamente a baixa produção de IL-12 e TNF-α, impedindo a formação de granulomas, o que conteria a infecção nessa fase em indivíduos imunocompetentes; Uso de álcool: o uso de álcool altera significativamente a resposta imune, aumentando a suscetibilidade a doenças respiratórias, como a tuberculose; Uso de drogas ilícitas: impede a produção de macrófagos alveolares e citocinas imunorreguladoras, resultando na falta de resposta a um desafio micobacteriano, cuja consequência final é a falha na prevenção da tuberculose ativa. Suyane Leal Lima – Medicina – 3º Período APG: Medo de ser o Próximo REFERÊNCIAS BRASIL. MINISTERIO DA SAUDE. SECRETARIA DE POLITICAS DE SAUDE. COORDENACAO NACIONAL DE DST E AIDS. Tuberculose: diagnostico laboratorial: baciloscopia. Brasil. Ministerio da Saude, 2001. LONG, Dan L. et al. Medicina Interna de Harrison. 18 ed. Porto Alegre, RS: AMGH Ed., 2013. 2v. Porth CM, Matfin G. Fisiopatologia. 9ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan.
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