Buscar

DIAGNOSTICO NUTRICIONAL

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 202 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 202 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 202 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

DIAGNÓSTICO NUTRICIONAL
UNIASSELVI-PÓS
Autoria: Afonso Pinho da Silva Maia
Indaial - 2021
1ª Edição
CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI
Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito
Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC
Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090
Copyright © UNIASSELVI 2021
Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri
 UNIASSELVI – Indaial.
M217d
 Maia, Afonso Pinho da Silva
 Diagnóstico nutricional. / Afonso Pinho da Silva Maia. – Indaial: 
UNIASSELVI, 2021.
 202 p.; il.
 ISBN 978-65-5646-305-6
 ISBN Digital 978-65-5646-304-9
1. Avaliação nutricional. - Brasil. II. Centro Universitário Leonardo 
da Vinci.
CDD 360
Impresso por:
Reitor: Prof. Hermínio Kloch
Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol
Equipe Multidisciplinar da Pós-Graduação EAD: 
Carlos Fabiano Fistarol
Ilana Gunilda Gerber Cavichioli
Jóice Gadotti Consatti
Norberto Siegel
Julia dos Santos
Ariana Monique Dalri
Marcelo Bucci
Jairo Martins
Marcio Kisner
Revisão Gramatical: Equipe Produção de Materiais
Diagramação e Capa: 
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI
Sumário
APRESENTAÇÃO ............................................................................5
CAPÍTULO 1
ENTENDENDO A POPULAÇÃO BRASILEIRA ATRAVÉS
DE DADOS EPIDEMIOLÓGICOS ....................................................7
CAPÍTULO 2
METÓDOS DE AVALIAÇÃO NUTRICIONAL .................................65
CAPÍTULO 3
AVALIAÇÃO NUTRICIONAL DE GRUPOS POPULACIONAIS ...133
APRESENTAÇÃO
Olá, caro acadêmico! Seja muito bem-vindo à disciplina de Diagnóstico 
Nutricional! É de extrema importância que todos os nutricionistas e demais 
profissionais da saúde entendam a complexidade que é realizar um diagnóstico 
nutricional adequado. Para isso, precisamos compreender que cada indivíduo 
apresenta necessidades e comportamentos específicos que refletem diretamente 
em seu estado nutricional.
A população brasileira é um mosaico de culturas, etnias e credos, que nos 
torna tão singulares. É preciso entender como todos esses fatores contribuíram 
para construir e/ou modificar nossas práticas alimentares ao longo de nossa 
história, para assim, conseguirmos estabelecer uma relação direta entre os 
diversos fatores que podem influenciar no estado nutricional dos brasileiros 
atualmente.
Desde que o diagnóstico nutricional ganhou espaço dentro da vigilância 
epidemiológica no território nacional, nós começamos a estudar cada vez mais 
os impactos dos hábitos alimentares no desenvolvimento de condições que 
modificam o processo saúde/doença.
Por isso, ao longo da leitura desse livro, você irá percorrer alguns tópicos que 
ajudarão a aumentar o seu conhecimento sobre como fatos históricos marcantes 
impactaram na nossa condição nutricional e como realizar um correto diagnóstico 
nutricional individualizado.
No primeiro capítulo iremos ver alguns aspectos sobre a história da 
epidemiologia no Brasil, informações sobre nossa nação, características 
importantes da nossa população e compreender como se desenvolveu o processo 
de transição nutricional. Já no segundo capítulo nós iremos abordar os métodos 
para avaliação nutricional (antropométricos, dietéticos, clínicos e bioquímicos). 
O terceiro e último capítulo focará na avaliação e diagnóstico nutricional de 
população específicas (adultos, idosos, gestantes, crianças, adolescentes e 
atletas). 
Boa leitura!
CAPÍTULO 1
Entendendo A População Brasileira 
Através De Dados Epidemiológicos
A partir da perspectiva do saber-fazer, são apresentados os seguintes 
objetivos de aprendizagem:
• Conhecer os aspectos sociais, econômicos e demográficos com o perfil 
nutricional da população brasileira.
• Compreender os conceitos, métodos e usos de epidemiologia.
• Analisar os elementos históricos da epidemiologia descritiva e os métodos de 
estudos de agravos à saúde na população.
• Entender o processo de transição epidemiológica/nutricional brasileira
8
 Diagnóstico Nutricional
9
Entendendo A População Brasileira Através De Dados EpidemiológicosEntendendo A População Brasileira Através De Dados Epidemiológicos Capítulo 1 
1 CONTEXTUALIZAÇÃO
De proporções continentais, o Brasil é um país conhecido pela sua riqueza de 
recursos naturais e culturais. Desde a chegada dos portugueses, a nossa história 
vem sendo escrita com a participação de várias nacionalidades que, ao somar 
suas características, transformou-nos nessa bela nação. 
A curiosidade a respeito de como os hábitos humanos podem influenciar 
o estado de bem-estar, modificando a relação saúde/doença sempre levantou 
interesse dos curiosos. Desde o começo da civilização, sempre buscamos 
compreender como fatores distintos podem contribuir para a melhora ou piora da 
saúde humana.
A epidemiologia é uma ciência essencial para monitoramento do estado de 
saúde de uma população. Através dela é possível estimar como o comportamento 
de uma determinada região é capaz de alterar índices importantes que definem o 
perfil de uma população.
Os diversos aspectos sociais, demográficos e econômicos brasileiros 
refletem as características de como nossa população vem se moldando por conta 
das disparidades presentes em nosso país.
A união de todos esses aspectos únicos tem influência no perfil nutricional 
que a população brasileira apresenta em determinado período da nossa linha 
temporal. No começo das investigações epidemiológicas, era comum se deparar 
com casos de desnutrição, muito por conta da falta ao acesso a uma alimentação 
adequada. 
Hoje se tornou corriqueiro o crescente número de crianças, adultos e 
idosos que apresentam algum tipo de excesso de peso. O que nos mostra que 
nossos hábitos alimentares e práticas de vida mudaram ao longo do tempo. 
Após a leitura desse capítulo você irá conseguir dimensionar a complexidade da 
nossa população e entender a relevância da epidemiologia na construção de um 
diagnóstico nutricional.
2 BASES DA EPIDEMIOLOGIA 
BRASILEIRA
Quando desejamos atuar em qualquer área relacionada à saúde, é 
necessário conhecer informações sobre o perfil epidemiológico da população 
10
 Diagnóstico Nutricional
assistida. A epidemiologia é uma ciência essencial com a qual é possível conhecer 
detalhadamente, por exemplo, dados sobre mortalidade, natalidade e estado 
nutricional de determinada região.
 Caro acadêmico, para que consigamos entender melhor a importância 
dos estudos epidemiológicos sobre a população brasileira, vamos brevemente 
voltar no tempo e relembrar alguns fatos históricos.
2.1 A HISTÓRIA DA EPIDEMIOLOGIA 
NO MUNDO
O homem sempre teve curiosidade para entender a dimensão de como a 
sociedade, saúde e doença se relacionavam. Hipócrates, pai da medicina, no 
início das civilizações já demonstrava entusiasmo ao descrever diversos episódios 
epidemiológicos (Figura 1) (NUTTON, 2017).
Em seu famoso tratado “Ares, água e lugares” ele descreve detalhadamente 
o que era observado na sociedade grega naquela época:
Visto que é preciso observar cada um dos pontos ditos 
anteriormente e comprová-los, eu os explicarei claramente. 
Uma cidade que for voltada para os ventos quentes – que 
ocorrem entre o nascente e o ocaso hibernais do sol - e 
para ela estes ventos forem habituais, se for resguardada 
dos ventos vindos das Ursas, nessa cidade, as águas são 
abundantes e necessariamente um pouco salgadas, e se 
encontram em lugares elevados, quentes no verão, e frias no 
inverno. Os homens têm as cabeças úmidas e flegmáticas, e 
suas cavidades são frequentemente perturbadas por causa 
das cabeças quando o flegma escorre para baixo; suas formas 
são geralmente sem vigor e não têm propensão para comer 
nem para beber, pois todos os que têm cabeças fracas não têm 
propensão para beber, uma vez que a embriaguez os oprime 
mais. As enfermidades locais são as seguintes: em princípio, 
as mulheres são doentias e suscetíveis a corrimentos;depois, 
muitas se tornam estéreis por ação da doença e não por natureza, 
e frequentemente abortam; sobre as criancinhas sobrecaem 
convulsões, dispneias e tudo aquilo que julgam provocar a 
doença infantil e ser a doença sagrada. Já sobre os homens 
sobrecaem disenterias, diarreias, febres contínuas, febres de 
inverno de longa duração, numerosas erupções noturnas e 
hemorroidas no lugar em que se senta. Em contrapartida, as 
pleurisias, pneumonias, febres altas e tudo o que se considera 
enfermidade aguda não ocorrem na maioria das vezes, pois 
não é possível que, onde as cavidades são úmidas, essas 
doenças tenham força. As oftalmias úmidas ocorrem então, 
e não são penosas e são breves, a não ser que alguma 
11
Entendendo A População Brasileira Através De Dados EpidemiológicosEntendendo A População Brasileira Através De Dados Epidemiológicos Capítulo 1 
enfermidade comum a todos se apodere (da cidade) depois de 
uma grande mudança. E quando as pessoas ultrapassam os 
cinquenta anos, os fluxos que sobrevêem do cérebro tornam-
nas hemiplégicas, quando, de súbito, têm a cabeça exposta ao 
solou ao frio. Estas são, então, as enfermidades locais para 
elas. Afora isso, se alguma enfermidade comum a todos se 
apoderar (da cidade) a partir de uma mudança das estações, 
elas tomam parte nessa (CAIRUS; RIBEIRO JR., 2005, p. 95).
FIGURA 1 – HIPÓCRATES TRATANDO UMA PESSOA COM PESTE EM ATENAS
FONTE: NUTTON (2017)
O interesse sobre o entendimento do processo saúde-doença e as 
correlações com suas populações específicas começaram a aumentar no final do 
século XVIII e início do século XIX. Nessa época, os pesquisadores do movimento 
iluminista buscavam associar os conhecimentos acerca das enfermidades e 
causas de adoecimento com a estado de saúde da população. Fundamentado 
nesses conhecimentos, também conhecidos como Higiene Social ou Pública, a 
Epidemiologia ganhou força dentro da comunidade científica (PEREIRA, 2018).
Durante a segunda metade do século XIX, os estudiosos passaram a 
desenvolver métodos sistemáticos tentando conhecer a relação entre causa e 
efeito que o ambiente causava nos eventos fisiopatológicos conhecidos pelo meio 
científico da época. Esse avanço possibilitou à ciência entender e relacionar como 
os eventos afetavam as condições de saúde da população (FRANCO; PASSOS, 
2011).
12
 Diagnóstico Nutricional
Já no século XX, os estudos epidemiológicos debruçaram-se sobre dados e 
números, assumindo um lado estatístico e probabilístico. Os estudiosos buscavam 
assimilar como diferentes agentes externos ao adoecer e suas relações causais 
afetam a saúde das pessoas, dando origem ao conceito de risco epidemiológico 
(MARTINS et al., 2018).
VOCÊ SABIA?
Epidemiologia – origem grega
“epi” – sobre
“demo” – população
“logos” – tratado, ciência
2.1.1 Modelos epidemiológicos
Ao longo da história, vários modelos epidemiológicos existiram a fim de 
correlacionar a saúde e doença do homem. Durante a idade média (séculos V a 
VX), haviam duas teorias sobre como o homem se relacionava com esse processo 
(MARTINS et al., 2018).
A primeira, a teoria humoral, era defendida por médicos e dizia que doença 
se desenvolvia por consequência do desarranjo entre os humores corporais 
e ambientais. Enquanto a segunda, teoria apocalíptica, tinha cunho religioso 
fortemente estabelecido, onde a doença era um castigo ou punição divina a um 
pecador. As duas coexistiram em harmonia (FRANCO; PASSOS, 2011).
De acordo com Palmeira, Miyashiro e Chaiblich (2017), durante a Peste 
Negra (peste bubônica) que assolou cerca de 1/3 da população europeia no 
século XIV, de acordo com a teoria humoral, consecutivos eventos; como o 
aumento dos vetores (ratos e pulgas), foram atribuídos aos planetas Saturno 
(sinal de infortúnio e crise), Júpiter (formador de vapores) e Marte (causador da 
inflamação dos vapores) foram os responsáveis pela epidemia. Ao mesmo tempo 
que a teoria religiosa compreendeu que a doença era consequência dos pecados 
dos humanos e instigou a prática de procissões e penitências a fim de alcançar a 
paz divina (PALMEIRA; MIYASHIRO; CHAIBLICH, 2017).
13
Entendendo A População Brasileira Através De Dados EpidemiológicosEntendendo A População Brasileira Através De Dados Epidemiológicos Capítulo 1 
Com a revolução industrial do século XIX, o aumento das populações em 
zonas urbanas, falta de condições ideais de higiene e de trabalho e alimentação 
inadequada entre diversos fatores contribuíram para o crescimento das doenças 
infecciosas. Durante esse período, a Teoria miasmática e a Teoria contagionista 
ganharam força (PEREIRA, 2018).
A Teoria miasmática baseava-se no fato de que a poluição em excesso 
dos grandes centros urbanos era a principal geradora dos miasmas e, 
consequentemente, das doenças. John Snow, considerado o pai da epidemiologia 
foi um dos principais expoentes dos pensamentos da teoria miasmática, sendo 
seu trabalho primordial no controle da epidemia de cólera que atingiu a capital 
inglesa durante os anos de 1849 até 1854 (PEREIRA, 2018).
Já a Teoria contagionista fundamentava-se na existência de agentes do 
contágio, organismos capazes de se multiplicar no organismo humano e assim 
se espalhar através do contato ou pelo ar. Nesse período já era possível ver 
medidas de contenção como a quarentena e isolamento de pessoas infectadas 
(PALMEIRA; MIYASHIRO; CHAIBLICH, 2017).
O surgimento da Teoria dos germes só foi possível com a evolução de 
técnicas cientificas que permitiu a identificação diversos microrganismos 
patogênicos (agentes etiológicos) bem como de algumas medidas de prevenção 
(soros e vacinas). Veja mais na leitura complementar a seguir.
Artigo: Louis Pasteur foi determinante para criação 
das primeiras vacinas. Cientista introduziu os métodos 
de esterilização nas cirurgias médicas. 26/11/2011 06h36 - 
Atualizado em 04/05/2012 20h03
Os estudos de Pasteur na área medica se iniciaram após 
já ter obtido sucesso na sua carreira como cientista. Em 1861 
recebeu o prêmio da Academia de Ciência por seus estudos sobre 
a fermentação e, em sequência, na mesma década, conclui seus 
estudos sobre o processo que viria a controlar o crescimento dos 
micro-organismos na indústria de alimentos e bebidas. Processo que 
recebeu o nome de pasteurização em homenagem ao seu criador.
Pasteur começou a estudar as doenças em 1865 ao ser 
requisitado pelos sericultores (fabricantes de seda) que estavam 
tendo prejuízos devido a uma doença que estava atacando a forma 
larvar de uma mariposa, o bicho-da-seda, que produz a seda. Foi 
14
 Diagnóstico Nutricional
com este trabalho que Pasteur iniciou o estudo científico da teoria 
microbiana das enfermidades, embora no início da pesquisa não 
achou que a origem da doença do bicho da seda fosse devido aos 
micróbios.
A criação de bichos da seda era de grande importância 
econômica na França nesta época. As 20 mil toneladas produzidas 
em 1850 no país foram reduzidas a quatro mil toneladas em 1865, 
por causa de uma enfermidade que dizimava as criações chamada 
“pebrina”. As larvas apresentavam pequenas manchas negras na 
superfície e corpúsculos negros dentro dos órgãos, enfraqueciam, 
morriam e secavam. Foi estabelecida, na época, uma comissão de 
estudos da qual Pasteur participava.
Pasteur parte para o campo e, após algumas semanas, retorna 
a Paris e apresenta suas conclusões na academia de ciência dizendo 
que a doença era hereditária. Mesma conclusão que havia chegado 
Quatrefages, um cientista que anteriormente havia estudado a 
doença. Em relação aos corpúsculos negros observados nas 
lagartas, Pasteur diz que não seriam micróbios, e sim o produto de 
um organismo doente.
A pesquisa continua por meses e ele verifica que estes 
corpúsculos estavam na poeira dos alojamentos das larvas e 
que se fosse polvilhada nas folhas de amoreira, que serviam de 
alimentos para as larvas, a mortalidade era alta. Conclui, depois 
de experimentos, que oscorpúsculos eram micro-organismos 
responsáveis pela enfermidade. Outro cientista, Antoine Béchamp, 
também contribui para a elucidação da causa dessa doença.
Pasteur ensinou os sericultores a identificar os ovos saudáveis 
ao microscópio, a destruir ovos e larvas doentes, e como prevenir 
a presença dos micro-organismos nas folhas das amoreiras. Estes 
estudos iniciais tiveram um papel fundamental no desenvolvimento 
da teoria microbiana das doenças. Com o conhecimento adquirido, 
Pasteur confirmou que cada doença é causada por um micróbio 
específico e que estes micróbios eram agentes externos. Estabeleceu, 
assim, as noções básicas de esterilização e assepsia que levaram a 
benefícios na prevenção de contaminações e infecções na cirurgia e 
obstetrícia.
Continuou dando sequência à pesquisa médica e caracterizou 
três bactérias responsáveis por doenças. Além disso, descobriu que a 
15
Entendendo A População Brasileira Através De Dados EpidemiológicosEntendendo A População Brasileira Através De Dados Epidemiológicos Capítulo 1 
origem dos furúnculos e da osteomielite humanas eram provenientes 
de bactérias denominadas estafilococos (Staphylococcus sp), e que a 
causa da infecção puerperal eram devido à bactéria hoje denominada 
estreptococo (Streptococcus sp). Iniciou, então, sua pesquisa sobre 
imunidade e vacinas.
Introdução aos métodos de esterilização
Com a introdução da anestesia, na década de 1840, as cirurgias 
tomaram novo rumo e ocorreu um aprimoramento nas técnicas e 
procedimentos cirúrgicos. Mas, paralelamente, a mortalidade por 
infecção de feridas ficou muito alta. Até 1865, a taxa de infecção por 
amputação durante a guerra era de 25% a 90%. Em Paris, no ano 
de 1870, essa taxa chegava próxima a 100%. Os pacientes morriam 
geralmente do que era denominado de “gangrena hospitalar”. Os 
estudos de Pasteur sobre a fermentação e a decomposição dos 
alimentos devido aos micróbios durante a pesquisa da geração 
espontânea, assim como os estudos das doenças devido aos 
micróbios, serviram de base para os estabelecimentos dos princípios 
de esterilização, desinfecção e assepsia. Seu pronunciamento 
histórico, no dia 30 de abril de 1878, na academia de medicina, 
resume a sua contribuição:
“Se eu tivesse a honra de ser um cirurgião, tão convencido 
como eu estou dos perigos causados pelos germes de micróbios 
espalhados pela superfície de cada objeto, particularmente nos 
hospitais, eu não apenas utilizaria instrumentos absolutamente 
limpos, como limparia minhas mãos com o máximo cuidado e 
colocaria as mesmas sobre uma chama, e utilizaria apenas esponjas, 
bandagens e tecidos os quais tivessem sido previamente aquecidos 
à 130ºC – 150 ºC; utilizaria apenas água que tivesse sido aquecida 
à temperatura de 110 ºC -120 ºC. Tudo isso é facilmente obtido na 
prática, e, desta forma, ainda teria medo dos germes suspensos 
na atmosfera ao redor da cama do paciente; mas observações 
nos mostram todos os dias que o número desses germes é quase 
insignificante se comparado àqueles espalhados na superfície de 
objetos, ou na água mais límpida.”
A contribuição de Pasteur para a produção de vacinas
Vacina é uma substância produzida com bactérias ou vírus, ou 
partes deles, mortos ou atenuados (enfraquecidos). Pode ser também 
uma substância quimicamente semelhante a um agente infeccioso 
16
 Diagnóstico Nutricional
causador de doença. Essa substância é reconhecida pelo sistema 
imunológico do indivíduo vacinado e produz uma resposta que o 
protege da doença. A vacina, portanto, induz o sistema imunológico 
do ser humano a reagir como se tivesse realmente sido infectado.
A primeira vacina foi feita pelo médico Inglês Edward Jenner 
e serviu de base para estudos posteriores sobre o tema e também 
para Louis Pasteur. Jenner observou que algumas pessoas eram 
imunes à varíola, por exemplo. Todos eram ordenhadoras e tinham 
se contaminado com cowpox, uma doença do gado semelhante 
à varíola. A doença formava uma pústula, como na varíola, mas 
não era fatal. Em 1796, Jenner coletou o pus da pústula de uma 
ordenhadora e inoculou em um menino, que ficou protegido quando 
recebeu, posteriormente, uma inoculação com o pus de uma pústula 
de varíola. O nome vacina veio desta descoberta com o cowpox 
bovino.
A experiência de Pasteur com as vacinas aconteceu quando 
ele estudava a cólera aviária, doença causada pela Pasteurella 
multocida. Um assistente de Pasteur saiu de férias e deixou uma 
cultura esquecida, acidentalmente, no laboratório. Quando voltou, a 
cultura envelhecida não era mais eficaz em infectar as aves. Pasteur 
fez, então, um segundo experimento, no qual essas galinhas foram 
infectadas com uma cultura nova e virulenta (causa doença). Para 
sua surpresa as galinhas sobreviveram ao desafio.
Na vacinação, a exposição do animal à cepa de um organismo, 
que não causará doença (cepa avirulenta), pode provocar 
uma resposta imune que protegerá o animal contra a infecção 
subsequente por cepa produtora de doença (virulenta) do mesmo, ou 
de um microrganismo relacionado.
Em 1881, Pasteur trabalhou também com o mesmo princípio 
para produzir bactérias avirulentas do antraz (Bacillus anthracis), 
cultivando as mesmas em temperaturas altas. Essas bactérias, 
atenuadas pelo calor, foram utilizadas como vacina para proteger 
ovinos contra o desafio com bactérias virulentas do antraz. Com esta 
vacina de Pasteur, em 1881, reduziu-se drasticamente a mortalidade 
dos ovinos a 0,34% e a dos bovinos a 1%.
Finalmente, em 1885, Pasteur inicia seus estudos sobre a raiva, 
usando as medulas espinhais secas de coelhos e cães infectados 
com o vírus como material para preparar a vacina. A raiva humana 
17
Entendendo A População Brasileira Através De Dados EpidemiológicosEntendendo A População Brasileira Através De Dados Epidemiológicos Capítulo 1 
(hidrofobia) era contraída quando as pessoas eram mordidas por 
cães, ou outros animais doentes, e condenavam os doentes à morte 
devido à lenta destruição do Sistema Nervoso Central. Sendo assim, 
ele começou fazendo vários estudos com animais, mas surgiu uma 
emergência para atender um menino chamado Joseph Meister, 
mordido várias vezes por um cão com raiva e recebeu várias doses 
da vacina e não desenvolver a doença. Salvou também a vida de um 
grupo de lavradores russos que foram mordidos por lobos raivosos. 
O Czar enviou-lhe 100.000 francos que foi um donativo importante 
para a fundação do Instituo Pasteur. Em 14 de novembro de 1888, 
o Instituto Pasteur de Paris foi inaugurado para o estudo da raiva 
e outras pesquisas microbiológicas e que permanece até os dias 
de hoje como uma referência mundial de excelência em pesquisa 
científica.
Analisando esses fatos da vida de Pasteur, pensamos “qual 
era o seu maior compromisso? Sem dúvida, era com a sociedade, 
tendo como ferramenta a sua ciência, estudos, uma mente 
observadora e criativa e muita persistência. Sempre buscando 
a verdade comprovada através de experimentos científicos. 
Acreditava na pesquisa aplicada que gerava benefícios na área da 
medicina, buscando a cura e a prevenção das doenças na área da 
microbiologia industrial, voltada para o setor produtivo e que, direta 
ou indiretamente, também levava melhorias para a sociedade.
Os tipos de vacinas existentes
Pasteur usou, basicamente, vírus atenuados em suas vacinas, 
culturas envelhecidas, inativadas pelo calor, ou secas. Daquele tempo 
até os dias de hoje, as vacinas tiveram uma evolução extraordinária, 
embora o princípio utilizado por Pasteur ainda seja usado atualmente. 
As vacinas começaram a ser produzidas em pequena escala e hoje 
são fabricadas em biorreatores. As vacinas podem ser basicamente 
de três tipos:
Vacinas replicantes (vivas-atenuadas):
Este tipo é muito usado para vacinas virais e com menos 
frequência em vacinas bacterianas. Pode usar o micro-organismo, 
uma forma recombinante (modificada geneticamente), que se 
multiplica. A “atenuação” pode serfeita de diferentes modos tendo 
como resultado a redução da virulência, ou patogenicidade a níveis 
seguros, sem destruir sua capacidade de induzir a reposta imune.
18
 Diagnóstico Nutricional
Vacina de DNA:
Este tipo é uma tecnologia inovadora que administra o DNA 
de plasmideos de bactérias que codificam antígenos imunogênicos 
para tecidos. Essa vacina fornece ao organismo hospedeiro uma 
informação genética para que ele crie o antígeno com todas as 
características necessárias para a formação de uma resposta imune.
Vacinas não replicantes (não-vivas, mortas ou inativadas):
Nesse tipo de vacina, os micro-organismos não são mais 
capazes de se multiplicar. As técnicas usadas para inativação podem 
ser irradiações, substâncias químicas e calor.
Vacinas combinadas:
São vacinas aplicadas em uma única dose que contêm antígenos 
de micro-organismos diferentes, ou múltiplas cepas (sorotipos ou 
variantes de um mesmo microrganismo).
FONTE: http://redeglobo.globo.com/globociencia/noticia/2011/11/artigo-louis-pasteur-
foi-determinante-para-criacao-das-primeiras-vacinas.html#:~:text=Com%20esta%20
vacina%20de%20Pasteur,material%20para%20preparar%20a%20vacina.
Diante da complexidade das diversas teorias que perpassaram a nossa 
história diferentes modelos epidemiológicos foram propostos ao longo dos anos. 
Veja o Quadro 1 abaixo.
QUADRO 1 – TIPOS DE MODELOS DO PROCESSO SAÚDE/DOENÇA
MODELO FUNDAMENTAÇÃO
Modelo Unicausal
Focado na ideia de que o agente etiológico (causal) das 
doenças é único e que ao ser eliminado causa da doença 
(Figura 2). 
A relação do agente etiológico com o indivíduo ocorre li-
nearmente.
Modelos Multicausal
As diferenças demográficas e no padrão de morbimortali-
dade se tornaram fundamentais para diversas teorias que 
utilizavam a diversidade de agentes causais e acrescen-
taram características do ambiente e do hospedeiro nos 
modos de transmissão de doenças.
19
Entendendo A População Brasileira Através De Dados EpidemiológicosEntendendo A População Brasileira Através De Dados Epidemiológicos Capítulo 1 
Modelo Ecológico (tríade ecológica) Tenta estabelecer relação entre indivíduo, meio ambiente 
e agente etiológico na origem da doença (Figura 3).
Modelo Rede de Causalidade
Doença resultante de diferentes fatores interconectados. 
Não é necessário conhecer todas as interações entre os 
fatores a fim de controlar a doença. Exemplo: síndrome 
metabólica (Figura 4). 
Modelo História Natural da Doença 
(HND)
Modelo proposto por Leavell e Clark, define relação entre 
diversos pontos no adoecimento e ações de prevenção e 
controle (Figura 5).
Modelo Determinantes Sociais da 
Saúde (DSS)
Ganhou força nos anos 1960, no qual foi proposto que 
condições de vida como a classe social, estilo de vida, 
poder aquisitivo, entre outros, exercem papel importante 
no surgimento de doenças. 
FONTE: Adaptado de Palmeira, Miyashiro e Chaiblich (2017)
FIGURA 2 – MODELO UNICAUSAL DE DOENÇA
FONTE: Adaptado de Palmeira, Miyashiro e Chaiblich (2017)
20
 Diagnóstico Nutricional
FIGURA 3 – MODELO ECOLÓGICO
FONTE: Adaptado de Palmeira, Miyashiro e Chaiblich (2017)
FIGURA 4 – MODELO DA REDE DE CAUSALIDADE
FONTE: Adaptado de Palmeira, Miyashiro e Chaiblich (2017)
FIGURA 5 – MODELO HISTÓRIA NATURAL E PREVENÇÃO DA DOENÇA
FONTE: Adaptado de Palmeira, Miyashiro e Chaiblich (2017)
21
Entendendo A População Brasileira Através De Dados EpidemiológicosEntendendo A População Brasileira Através De Dados Epidemiológicos Capítulo 1 
2.2 EPIDEMIOLOGIA NO BRASIL
 
Com o aumento da industrialização e juntamente com crescimento dos 
movimentos sanitaristas na Europa no final do século XIX, no Brasil se inicia a 
construção do que viria a ser a base da saúde coletiva nacional (MARTINS, 2018). 
No início do século XX, as epidemias de febre amarela e malária eram 
frequentes em solo brasileiro. Grandes centros urbanos, como Rio de Janeiro e 
São Paulo, sofriam com altos índices de mortalidade de tais doenças por conta 
do grande número de pessoas, comércio e urbanização que acontecia na época 
(PALMEIRA; MIYASHIRO; CHAIBLICH, 2017). 
Como solução, o governo brasileiro começou a investir em pesquisas 
médicas, destacando as doenças tropicais, nas quais o modelo militar-
organizacional foi servido de molde para atuar nos casos recorrentes no período. 
Nasciam as campanhas sanitárias (MARTINS, 2018).
Destacam-se no período os trabalhos dos médicos-sanitaristas Oswaldo Cruz, 
Adolfo Lutz, Carlos Chagas e Vital Brasil. Esses cientistas foram responsáveis pela 
implementação de diversos centros de pesquisas biomédicas (que futuramente 
dariam origem ao Instituto Butantan e Instituto Adolfo Lutz, ambos em São Paulo, 
e à FIOCRUZ (Figura 6), no Rio de Janeiro) primordiais para o estabelecimento 
e desenvolvimento da ciência brasileira, tornando-se fundamentais no combate a 
diversas doenças e na produção de vacinas e soros em território nacional que se 
estende até os dias atuais (FRANCO; PASSOS, 2011).
FIGURA 6 – CONSTRUÇÃO DO CASTELO MOURISCO (SEDE FIOCRUZ), 1907
FONTE: Fiocruz (2020, on-line)
22
 Diagnóstico Nutricional
No decorrer das décadas seguintes a saúde pública veio ganhando cada 
vez mais importância dentro da política nacional. Após sucessivos eventos 
importantes, durante o governo Vargas, em 15 de novembro de 1953 é criado o 
Ministério da Saúde (PEREIRA, 2018). 
Diversas melhorias foram implementadas durante os anos seguintes, 
destacando a criação dos sistemas de informações sobre a saúde da população 
brasileira, sendo a nossa principal fonte de dados epidemiológicos e possibilitando 
um melhor direcionamento das políticas públicas (PALMEIRA; MIYASHIRO; 
CHAIBLICH, 2017). O Quadro 2 traz um panorama dos sistemas de informação 
em saúde existentes no Brasil.
QUADRO 2 – PRINCIPAIS SISTEMAS DE INFORMAÇÃO EM SAÚDE NO BRASIL
SISTEMA ANO DE CRIAÇÃO FUNÇÃO
SIM – Sistema de Informações 
sobre Mortalidade 1975 Informar dados sobre mortalidade.
SINASC – Sistema de Informação 
sobre Nascidos Vivos 1990
Informar dados sobre nascidos vivos 
(natalidade).
SINAN – Sistema de Informações 
de Agravos sob Notificação 1993
Substituto do Sistema de Notificação 
Compulsória de Doenças (SNCD). 
Coletar, transmitir e disseminar dados 
gerados rotineiramente pelo Sistema 
de Vigilância Epidemiológica das três 
esferas de governo
SIH – SUS – Sistema de registro 
das internações hospitalares do 
SUS
1984
Reunir informações de sobre os in-
ternamentos hospitalares realizados 
no país
SIA – SUS – Sistema de registro 
de informações ambulatoriais 1991
Registrar todos os atendimentos, pro-
cedimentos, e tratamentos realizados 
em unidades de saúde no âmbito am-
bulatorial.
SISVAN – Sistema de Informações 
e Vigilância de Agravos Nutricio-
nais
1990
Estimar condições nutricionais (des-
nutrição e obesidade) principalmente 
em gestantes e em crianças
FONTE: O autor (2021)
Dentre todos esses sistemas de vigilância, o SISVAN é o principal meio de 
coleta de dados sobre aspectos relacionados ao estado nutricional dos brasileiros. 
No próximo tópico iremos entender um pouco melhor como se dá o funcionamento 
desse sistema.
23
Entendendo A População Brasileira Através De Dados EpidemiológicosEntendendo A População Brasileira Através De Dados Epidemiológicos Capítulo 1 
2.2.1 Sistema de informação e 
vigilância de agravos nutricionais – 
SISVAN 
O Brasil é um país de grandezas continentais e apresenta uma numerosa 
população extremamente heterogênea sob o ponto de vista social e econômico. 
Rastrear, identificar e controlar os problemas nutricionais sempre foi uma 
preocupação importante nos governos brasileiros (SOUZA, 2017). 
O país apresenta uma economia forte e, principalmente nos últimos anos, fez 
com que o poder aquisitivo da população permitisse um maior poder de compra, 
porém ainda é assustador o crescente número de brasileiros que passaram, 
passa e que, possivelmente,virá a passar por algum momento de vulnerabilidade 
econômica (SOUZA, 2010). 
Durante a década de 30, alguns fatos que marcaram nossa história foram 
essenciais para nortear a nutrição no Brasil. O surgimento de pesquisadores, 
como Josué de Castro, desempenhou papel importante na contextualização do 
problema da fome brasileira (para conhecer mais sobre a vida de Josué de Castro 
veja a leitura complementar). Castro foi responsável por realizar um levantamento 
em Recife no ano de 1933, no qual constatou um déficit importante de calorias e 
nutricional entre trabalhadores locais. O estudo pioneiro serviu de chamariz para 
atrair a atenção de outros pesquisadores dando início a uma série de inquéritos 
por grandes centros urbanos ao redor do país (SOUZA, 2017).
A partir dos anos 60, a vigilância alimentar e nutricional começou a ganhar 
importância nacional e internacional através da realização de eventos como a 
21ª Assembleia Mundial de Saúde (1968) e a Conferência Mundial de Alimentos 
(1974). Durante esse período ficou estabelecido que o estado nutricional da 
população deveria ser incluído no processo de vigilância epidemiológica (BRASIL, 
2004).
Com a criação do Instituto Nacional de Alimentação e Nutrição (INAN) em 
1972, com objetivo de amparar o governo na concepção da Política Nacional de 
Alimentação e Nutrição e na criação do I Programa Nacional de Alimentação e 
Nutrição (PRONAN), o país começava a dimensionar a importância do estado 
nutricional como a chave de bons índices de saúde populacional (BRASIL, 2004).
Tentando suprir a necessidade de conhecer melhor o perfil nutricional 
da nossa população, nasceu o Sistema de informação e vigilância de agravos 
nutricionais (SISVAN). Um equipamento do governo na forma de sistema de 
informação em saúde caracterizado por Camilo et al (2011) como:
24
 Diagnóstico Nutricional
Corresponde a um sistema de coleta, processamento e 
análise contínua dos dados de uma população, possibilitando 
diagnóstico atualizado da situação nutricional, suas tendências 
temporais e também os fatores de sua determinação. Contribui 
para que se conheçam a natureza e a magnitude dos problemas 
de nutrição, caracterizando grupos sociais de risco e dando 
subsídios para a formulação de políticas e estabelecimento de 
programas e intervenções (CAMILO et al., 2011, p. 225).
Muitos são os desafios que o SISVAN precisa enfrentar, entretanto é 
importante destacar o papel essencial que ele proporciona no entendimento do 
estado nutricional da população brasileira para o governo, nutricionistas e outros 
profissionais.
Para saber mais sobre o SISVAN e ter acesso aos relatórios 
gerados pelo sistema acesse:
https://sisaps.saude.gov.br/sisvan/
Biografia de Josué de Castro
Josué Apolônio de Castro nasceu no Recife, em 5 de setembro 
de 1908, na casa número 1 da rua Joaquim Nabuco. Viveu no Recife 
e estudou medicina na Bahia, graduando-se no Rio de Janeiro em 
1929. Formado, retorna ao Recife para trabalhar na Secretaria 
de Educação do Estado de Pernambuco, a convite de Olívio 
Montenegro, Sílvio Rebelo, Gilberto Freire e outros do grupo de José 
Maria Belo que iria ser Governador. A Revolução de 1930 impediu 
25
Entendendo A População Brasileira Através De Dados EpidemiológicosEntendendo A População Brasileira Através De Dados Epidemiológicos Capítulo 1 
que Josué conquistasse um emprego na Secretaria de Educação e 
mudou sua sorte. Começou a clinicar no Recife e também a trabalhar 
como médico em uma grande fábrica, quando realiza, em 1932, um 
Inquérito Sobre as Condições de Vida das Classes Operárias no 
Recife.
Em 1934, Josué de Castro casa-se com Glauce Rego Pinto, 
companheira de toda vida, cúmplice, parceira e guardiã de seus 
escritos. O casal teve três filhos: Josué Fernando de Castro, Anna 
Maria de Castro e Sonia de Castro Duval. Aos 28 anos, já residindo 
no Rio de Janeiro, prestou concurso para o cargo de Professor 
Titular em Geografia Humana da Faculdade Nacional de Filosofia 
da Universidade do Brasil. Seu primeiro trabalho publicado como 
professor foi a tese para o concurso de Professor Titular em Geografia 
Humana – Fatores da localização da Cidade do Recife.
Radicado no Rio de Janeiro, clinicando, lecionando e estudando, 
Josué de Castro passa a ter atuação destacada em políticas 
públicas: nos movimentos em prol do estabelecimento do salário 
mínimo (que passa a vigorar por decreto-lei de Getúlio Vargas em 
1940); na fundação dos Arquivos Brasileiros de Nutrição, editados 
sob a responsabilidade do Serviço Técnico da Alimentação Nacional 
e da Nutrition Foundation de New York em 1941; na fundação da 
Sociedade Brasileira de Alimentação em 1940, constituída de futuros 
dirigentes do Serviço de Alimentação da Previdência Social – SAPS, 
criado em agosto do mesmo ano por iniciativa do Ministério do 
Trabalho Indústria e Comércio.
Em 1942 é convidado oficial do governo da Argentina para 
estudar problemas de alimentação e nutrição, o que viria a acontecer 
igualmente com outros países, como os Estados Unidos em 1943, 
México e República Dominicana, em 1945.
Em 1943, Josué de Castro torna-se professor catedrático da 
cadeira de Nutrição do curso de Sanitaristas do Departamento 
Nacional de Saúde. É também designado diretor do Serviço Técnico 
de Alimentação Nacional (STAN), para nele desenvolver a área de 
tecnologia alimentar. Em 1945, o STAN é substituído pela Comissão 
Nacional de Alimentação (CNA), que Josué de Castro passa a dirigir 
até 1954.
A década de 1950 reservaria muitas atividades públicas na vida 
de Josué de Castro. Foi deputado federal por Pernambuco em duas 
26
 Diagnóstico Nutricional
legislaturas, 1955 e 1959. Em 1952, foi eleito Presidente do Conselho 
Executivo da FAO, Organismo das Nações Unidas para Agricultura e 
Alimentação. Reeleito por unanimidade pelos delegados dos países 
que formam o Conselho das Nações Unidas, permanece no cargo 
até o final de 1956. No exercício da Presidência do Conselho da 
FAO, impulsionado pelo sucesso de seus livros (Geografia da Fome 
havia sido publicado em 1946) e pelo prestígio do Órgão, além da 
aceitação de suas posições científicas, Josué de Castro empreende 
uma série de trabalhos no combate à fome no mundo, sempre 
buscando unir os conhecimentos científicos e a ação. Ao deixar a 
FAO, em 1957, Josué de Castro fundou a Associação Mundial de 
Luta Contra Fome - ASCOFAM, visando despertar a consciência do 
Mundo para o problema da fome e da miséria, além de promover 
projetos demonstrativos de que a fome pode ser vencida e abolida 
pela vontade dos homens.
Ao tempo em que era presidente da FAO (Organização das 
Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação), Josué de Castro se 
aproximou do mundo do cinema e seus escritos suscitaram interesse 
de cineastas do neo-realismo italiano, como Roberto Rosseline e 
Cesare Zavattini, ambos envolvidos em projetos de realizar filmes 
baseados em Geografia da Fome e Geopolítica da Fome. Desses 
projetos, realizou-se apenas o segmento brasileiro do projeto de 
Zavattini, que resultou no filme “O Drama das Secas”, filme de 
Rodolfo Nanni de 1958.
Josué de Castro foi indicado por três vezes para o prêmio Nobel: 
em 1954, concorreu para o Nobel de Medicina, e nos anos de 1963 e 
1970, ao Nobel da Paz.
Em 1962, Josué de Castro era embaixador do Brasil na ONU 
– Organização das Nações Unidas. Em 1964, com o golpe militar, 
foi destituído do cargo de embaixador-chefe em Genebra e logo 
depois, em 9 de abril, tem seus direitos políticos cassados por 10 
anos. Impedido de voltar ao país, escolheu a França para viver, 
morando em Paris de 1964 a 1973. Continuou nesse país suas 
atividades intelectuais. Fundou, em 1965, e dirigiu até 1973 o Centro 
Internacional para o Desenvolvimento, além de Presidente da 
Associação Médica Internacional para o Estudo das Condições de 
Vida e Saúde. Depois de um ano de docência, em 1969, o governo 
francês o designa professor estrangeiro associado ao CentroUniversitário Experimental de Vincennes (Universidade de Paris VIII), 
onde trabalhou até sua morte.
27
Entendendo A População Brasileira Através De Dados EpidemiológicosEntendendo A População Brasileira Através De Dados Epidemiológicos Capítulo 1 
No exílio, sentiu agudamente a falta do Brasil, a ponto de 
declarar que “não se morre apenas de enfarte ou de glomerulonefrite 
crônica, mas também de saudade”. Faleceu em Paris, em 24 de 
setembro de 1973, quando esperava o passaporte que o traria de 
volta ao Brasil. O passaporte chegou, porém já era tarde. Seu corpo 
foi enterrado no cemitério São João Batista no Rio de Janeiro.
Fonte: http://www.josuedecastro.org.br/jc/jc.html
2.2.2 Segurança alimentar
 
Uma baixa oferta de alimentos, má qualidade na alimentação e estilo de vida 
podem ser a principal causa de uma grande parcela da população sofrer com 
questões nutricionais, podendo levar a um comprometimento na qualidade de 
vida desses brasileiros.
Na Cúpula Mundial da Alimentação, realizada em 1996, na cidade de Roma 
– o Brasil, ao lado de centenas de países, firmou um compromisso de reduzir a 
situação de fome pela metade até 2015. Nesse sentido, foi criada a Lei Orgânica 
da Segurança Alimentar e Nutricional – Lei nº 11.346, de 15 de setembro 
de 2006 – LOSAN (BRASIL, 2006), bem como em 2010, estabelecida 
a regulamentação da LOSAN e a edificação da Política Nacional de Segurança 
Alimentar e Nutricional – PNSAN –, por meio do Decreto nº 7.272, de 
25.08.2010, onde foi incluída a alimentação aos direitos sociais previstos 
na Constituição Federal, por meio da Emenda Constitucional nº 64, de 
04.02.2010 (PONTES et al., 2018).
Seguindo os preceitos da LOSAN, foi criada Escala Brasileira de 
Insegurança Alimentar (Ebia), uma ferramenta que avalia em escala psicométrica 
a partir da experiência sobre a insegurança alimentar vivida por um indivíduo. A 
escala também avalia a dificuldade em ter acesso aos alimentos e a dimensão 
psicossocial da insegurança alimentar vivenciada pela família, e através desses 
dados é possível gerir políticas públicas direcionadas aos grupos vulneráveis 
(PONTES et al., 2018). O Quadro 3 a seguir mostra os possíveis graus de 
segurança/insegurança alimentar de acordo com IBGE (2014).
28
 Diagnóstico Nutricional
QUADRO 3 – DESCRIÇÃO DOS GRAUS DE SEGURANÇA ALIMENTAR
Situação de segurança alimentar Descrição
Segurança alimentar 
A família/domicílio tem acesso regular e permanente a alimen-
tos de qualidade, em quantidade suficiente, sem comprometer 
o acesso a outras necessidades essenciais.
Insegurança alimentar leve 
Preocupação ou incerteza quanto acesso aos alimentos no 
futuro; qualidade inadequada dos alimentos resultantes de 
estratégias que visam não comprometer a quantidade de 
alimentos.
Insegurança alimentar moderada 
Redução quantitativa de alimentos entre os adultos e/ou ruptu-
ra nos padrões de alimentação resultante da falta de alimentos 
entre os adultos.
Insegurança alimentar grave 
Redução quantitativa de alimentos entre as crianças e/ou rup-
tura nos padrões de alimentação resultante da falta de alimen-
tos entre as crianças; fome (quando alguém fica o dia inteiro 
sem comer por falta de dinheiro para comprar alimentos).
FONTE: Adaptado de IBGE (2014)
Nas últimas décadas, os esforços do Brasil em reduzir a fome e a miséria 
resultaram em uma sensível melhora na segurança alimentar e nutricional de 
milhares de brasileiros. Conforme pode ser observada na Figura 7 houve uma 
redução no número de pessoas que estavam em situação de insegurança 
alimentar (PONTES et al., 2018).
FIGURA 7 – CLASSIFICAÇÃO PORCENTUAL DAS PESSOAS, 
CONFORME AS CATEGORIAS DA SITUAÇÃO DE SEGURANÇA 
ALIMENTAR NO BRASIL PARA OS ANOS DE 2004, 2009 E 2013
FONTE: Adaptado de Pontes et al. (2018)
29
Entendendo A População Brasileira Através De Dados EpidemiológicosEntendendo A População Brasileira Através De Dados Epidemiológicos Capítulo 1 
Porém, com a chegada da pandemia de Covid-19, o problema da fome 
no Brasil voltou à luz novamente ao aumentar as desigualdades e diminuir a 
oferta de alimentos para os estratos mais pobres da sociedade. Faça a leitura 
complementar a seguir para entender melhor o panorama brasileiro durante a 
pandemia.
FOME E PANDEMIA DE COVID-19 NO BRASIL
TESSITURAS | Revista de Antropologia e 
Arqueologia | ISSN 2318-9576
Programa de Pós-Graduação em Antropologia | UFPEL
V8 | S1 | JAN-JUN 2020 Pelotas | RS
Maria do Carmo Soares de Freitas
(Professora da Escola de Nutrição – 
Universidade Federal da Bahia)
Paulo Gilvane Lopes Pena
(Professor da Faculdade de Medicina 
– Universidade Federal da Bahia)
RESUMO
Esse breve ensaio, objetiva refletir sobre as relações entre fome 
e a pandemia de Covid-19. A fome atinge milhões de pessoas no 
Brasil e no mundo, por viverem em precárias condições de alimentar-
se dignamente. De início, conceitua-se fome enquanto uma 
manifestação biossocial decorrente da insuficiência alimentar que 
ocorre cotidianamente e de modo permanente. A partir da literatura 
apresenta-se a pandemia de Covid-19, os principais impactos na 
população que vivencia fome e alguns aspectos subjetivos da 
conexão entre esses dois fenômenos. O contexto político e social 
contribui para desvelar a magnitude deste problema e considera-se 
que a pandemia em curso tem profunda relação com o agravamento 
da fome. Esses fenômenos juntos, formam uma grande tragédia 
humanitária.
PALAVRAS CHAVES: Fome, Pandemia de Covid-19, Fome no 
Brasil.
A experiência de fome está relacionada ao sintoma de viver 
a realidade com o alimento provisório, insuficiente, de modo 
intermitente ou crônico, em uma vivência de sofrimento angustiante e 
agônico, não raramente fatal (FREITAS, 2003).
30
 Diagnóstico Nutricional
No contexto brasileiro, a fome pode ser expressa com 
subjetividades para além da dimensão clínico-patológica ou 
sensações físicas pela carência de comida. A recorrência a 
outros sentidos, nos leva a uma leitura mais profunda possível 
que circunscreve diversos significados socioculturais, como uma 
externalidade que se assemelha à peste e a sensação de morte 
(Idem). O faminto conhece e reproduz o que sente em si e em seus 
pares. 
Para uma compreensão da fome é necessário reconhecer 
os sentidos que transcendem a semiologia clínica e interfere de 
modo cruel nos sonhos de estar no mundo da vida. Fome coabita 
com o sentido agônico; vive-se com medo e cujo sentido associa-
se a outros, compondo uma intersubjetividade representacional 
da condição faminta em cada contexto. Os modos de percepção 
da fome, dependem, também, da natureza da pessoa, uns são 
magros e outros gordos, porém, contraditoriamente famintos (Idem). 
Estes signos além de outros significados socioculturais, são efeitos 
dos sentidos, linguagens semióticas, sensações sustentadas por 
símbolos fatalmente suscitados pela insegurança concreta de viver.
Obesidade na pobreza, nesses últimos 20 anos, representa 
uma insuficiência nutricional motivada pelo acesso a alimentos de 
péssima qualidade, processados e baratos, ricos em carboidratos 
simples, a exemplo do aumento de consumo de refrigerantes e 
massas semiprontas (BRASIL, 2017).
Nas camadas populares, sobretudo na América Latina, 
desenvolveu-se uma espécie de fome-obesa, distinto dos transtornos 
alimentares que podem ocorrer nas classes sociais mais abastadas 
(AGUIRRE, 2004). Com isso, surgem outras patologias inerentes 
ao sobrepeso, como as enfermidades cardiovasculares e diabetes, 
principalmente. Dessa fragilidade, entende-se que estas pessoas 
apresentam, clinicamente, mais dificuldades de recuperação 
quando expostos à contaminação viral e bacteriana. Assim, a fome 
se conecta mais facilmente ao Covid-19, e a noção de contágio 
poderá ser investigada como um constructo de outras acepções 
para expressar efeitos mais graves. Esse pertencimento possibilita 
a origem de representaçõesem cada tempo e contexto específico. 
Sinteticamente, os famintos representam grupos de risco para a 
pandemia do Covid-19 configurando-se uma tragédia humana ainda 
maior.
31
Entendendo A População Brasileira Através De Dados EpidemiológicosEntendendo A População Brasileira Através De Dados Epidemiológicos Capítulo 1 
No atual contexto histórico, com um crescimento acelerado da 
pobreza, consequentemente, há uma magnitude da insegurança 
alimentar, aqui nominada fome. Antes de mencionar minimamente 
sobre a economia, e a conexão entre fome e pandemia de Covid-19, 
vale recordar a noção sobre o termo segurança alimentar e nutricional, 
o qual não significa apenas disponibilidade do alimento do mercado, 
mas a permanência de acesso. A inconstância do alimento para o 
indivíduo, produz incerteza ou insegurança de viver e medo da fome, 
cuja realidade está associada inevitavelmente à outras faltas sociais. 
Resumidamente, entende -se que a posição que o indivíduo ocupa 
no processo produtivo determina sua condição alimentar. Então, 
a fome é uma questão política em qualquer que seja a sociedade, 
como afirmava Josué de Castro em substancial produção científica 
que o tornou uma referência internacional (CASTRO, 1965).
No Brasil, a fome como um tema político, é produto histórico da 
desigualdade social e econômica como: falta de terra para garantir a 
sobrevivência; falta de saneamento básico, pois a vida sobre esgotos 
abertos propicia sinergismo entre parasitas e estado nutricional 
provocando desnutrição crônica principalmente em menores de 
cinco anos, uma vez que estão em pleno desenvolvimento; renda 
insuficiente; desemprego e subemprego entre outros problemas 
sociais. O desemprego é como uma sombra que cobre o caminho, e 
resulta no medo de ser invadido pela fome e a morte.
Esses determinantes do tecido macro social são relacionais ao 
mundo individual e coletivo, que nas camadas sociais mais pobres, 
podem mostrar circunscrições significativas de insegurança alimentar 
ou fome. Em outros termos, a fome é produto da indiferença política 
e social, com profundas marcas nas histórias pessoais cujos traumas 
implicam em memórias vivas de existir em permanente sofrimento. 
No passado recente, o Brasil deixou de ser citado no mapa 
da fome mundial, pois, de fato, houve uma melhoria concreta das 
condições de vida da população. Mas, nos últimos quatro anos há 
maior empobrecimento e conforme análise da Fundação Getúlio 
Vargas, a partir do segundo semestre de 2019, houve aumento da 
concentração de renda, excedendo o observado em 1989. Os dados 
mostram que os mais pobres tiveram uma redução de 17% do poder 
de compra, enquanto que 1% dos mais ricos teve aumento de 10% 
da renda (FGV, 2019).
32
 Diagnóstico Nutricional
Neste contexto, emerge em dezembro de 2019, na China, 
uma epidemia desencadeada pelo coronavírus SARS-CoV-2, 
responsável pela doença denominada Covid-19. A OMS reconheceu 
a condição de pandemia em fevereiro de 2020 e declarou Situação 
de Emergência em Saúde Pública no mundo (cerca de 4 milhões 
de casos confirmados e aproximadamente 290 mil óbitos em 13 
de maio do corrente ano) (WHO, 2020), e no Brasil (177.589 casos 
confirmados e 12.400 óbitos) (MS, 2020). Trata-se, pois, de um 
desastre global e um dos maiores eventos históricos dos últimos cem 
anos, que atinge todos os setores indistintamente.
Sem medidas eficazes como a vacina ou um tratamento 
medicamentoso específico, há uma alta capacidade de contágio, 
consequente rapidez na expansão global e elevada letalidade. 
Com isso, as estratégias de prevenção e controle se concentram, 
principalmente, no resgate de medidas tradicionais e seculares da 
saúde pública como: quarentena, barreiras sanitárias, isolamento/
confinamento e distanciamento social, somadas às medidas 
higiênicas, dentre outras (WHO, 2020).
Até a presente data, metade da população mundial encontra-
se em confinamento ou quarentena. As consequências sociais 
são imediatas, resultando no aumento drástico do desemprego 
pela redução das atividades econômicas atingindo, sobretudo, as 
populações desprovidas de condições de sobrevivência durante este 
período de pandemia. Entretanto, tais orientações estabelecidas 
pela própria OMS, necessitam de ação rápida dos governos para 
assegurar renda e dignidade às pessoas vulneráveis.
Em condições de extrema vulnerabilidade encontram-se os 
famintos (sendo os negros os mais atingidos). Como exemplo das 
precárias condições de vida, antes desta pandemia, uma das opções 
para enfrentar o desemprego e a fome nos centros urbanos tem 
sido a economia informal com o pequeno comércio de alimentos e 
outros objetos de uso cotidiano. Muitos, inevitavelmente, são vítimas 
da violência policial e do crime organizado. O imenso comércio da 
economia informal nas ruas dos grandes centros urbanos do país 
se assemelha a uma grande feira com a circulação de mercadorias 
de baixo custo que se espalham e se concentram nos bairros mais 
pobres. Junta-se a esse comércio uma nova fonte de renda com 
aplicativos de empresas cujos trabalhadores não tem qualquer 
proteção social. 
33
Entendendo A População Brasileira Através De Dados EpidemiológicosEntendendo A População Brasileira Através De Dados Epidemiológicos Capítulo 1 
São essas pessoas fragilizadas e em situações de risco de 
fome, sem remuneração permanente, subempregados, pequenos 
agricultores, grupos étnicos empobrecidos (quilombolas, indígenas) 
que deveriam estar recebendo melhores e mais amplos benefícios 
sociais, tais como: bolsa família, restaurantes populares, alimentação 
escolar no contexto do direito à segurança alimentar e nutricional. 
Nesse momento de quarentena, necessitam desses benefícios 
concomitantemente à ajuda emergencial para resistirem à pandemia 
de Covid-19. São essas pessoas as que se aglomeram nas filas dos 
bancos estatais para receberem os recursos do governo federal.
Condicionados pela vulnerabilidade econômica estrutural do 
país, cerca de milhões de brasileiros buscam uma parcela referente 
à metade do salário mínimo nacional para comprar suprimentos e 
sobreviver à fome e à quarentena. São muitos dias de aglomeração 
em enormes filas nos centros urbanos do país. As pessoas usam 
máscaras seguindo recomendações das autoridades sanitárias 
locais, mas não conseguem manter o distanciamento social. Sobre 
isto, ficam confusas, pois outras autoridades governamentais 
discursam a favor da quebra de isolamento social e concentram os 
benefícios emergenciais aglutinando pessoas, como se esse recurso 
fosse um favor à população carente e não um direito social.
Em este mês de maio de 2020, com mais de 12 mil mortes por 
Covid-19, no país, autoridades do governo federal, insistentemente 
discursam contra a quarentena e o distanciamento social suscitando 
à população o retorno ao trabalho.
As pessoas no emaranhado de informações parecem perdidas e 
muitas se deixam convencer por essa concepção negacionista (The 
LANCET, 2020). Com isso, há uma ruptura do cuidado para evitar 
o contágio dessa população tão vulnerável à fome e ao Covid-19, 
situação que contraria os direitos humanos. Mesmo com os recursos 
das ciências e da tecnologia deste século XXI, há aglomerados nas 
filas do benefício emergencial onde o vírus pode se difundir mais 
rapidamente, configurando-se um ciclo perverso de fome e pandemia 
que se caracteriza como uma das modalidades de indiferença política 
que marcará este fenômeno no Brasil.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A pandemia do COVID-19 tem profunda relação com o 
agravamento da fome no Brasil e no mundo. Esses fenômenos 
juntos, formam uma grande tragédia humanitária.
34
 Diagnóstico Nutricional
As ações como quarentena e confinamento social para salvar 
vidas devem se sobrepor aos interesses do grande capital que 
objetiva privilegiar a economia.
Esse último propósito pode elevar, assustadoramente, o número 
de óbitos, promover a expansão descontroladada pandemia e o 
colapso total dos serviços de saúde no país.
Ao conceber como fundamento os princípios do direito à vida 
seguindo orientações das ciências da saúde, econômicas, sociais 
e da OMS, deve-se essencialmente proteger vidas controlando, 
simultaneamente, a pandemia e os efeitos perversos aos famintos, 
por meio sustentável com a garantia de renda cidadã para todas as 
populações vulneráveis.
BIBLIOGRAFIA
AGUIRRE, P. Ricos flacos y gordos pobres. La alimentacion 
en crisis, Claves para Todos. Colección dirigida por José 
Nun. Editorial Capital Intelectual. Buenos Aires, 2004.
BRASIL, MS; brasil.gov.br/saúde/2017/04/obesidade-
cresce-60-em-dez-anos-no--brasil. Acessado 4/4/2018.
CASTRO, J. Geopolítica da fome. São Paulo: Brasiliense, 1965.
FGV – Fundação Getúlio Vargas, CPS, A escalada 
da desigualdade, novembro de 2019 cps.fgv.br/
desigualdade, acessado em 13 de maio de 2020
FREITAS, MCS. Agonia da fome. Salvador, 
FIOCRUZ/EDUFBA; 2003.
The LANCET – COVID-19: “So what?” Editorial, The 
Lancet, vol. 395, May 2020. Disponível em www.
thelancet.com Acessado em 13 de maio de 2013.
MS, Ministério da Saúde, covid.saúde.gov.
br acessado em 13 de maio de 2020
ONU https://nacoesunidas.org/crescimento-da-renda-dos-
20-mais-pobres--ajudou-brasil-a-sair-do-mapa-da-fome-diz-
onu/. Publicado em 27/05/2015- Atualizado em 04/05/2017
WHO - World Health Organization who.int/ mergencies/diseases/
novel-coronavirus. 2019 acessado em 13 de maio de 2020.
35
Entendendo A População Brasileira Através De Dados EpidemiológicosEntendendo A População Brasileira Através De Dados Epidemiológicos Capítulo 1 
1 Assinale a alternativa que corresponde a um objetivo do SISVAN:
a) ( ) Vigilância alimentar e nutricional.
b) ( ) Vigilância sanitária.
c) ( ) Vigilância alimentar e sanitária.
d) ( ) Realizar procedimentos atendimento hospitalar.
e) ( ) Nenhuma das alternativas anteriores.
2 Marque a alternativa correspondente ao modelo de processo 
saúde/doença que possui as seguintes características: a doença 
é resultante de diversos fatos interrelacionados.
a) ( ) Modelo unicausal.
b) ( ) Modelo ecológico.
c) ( ) Modelo de rede de causalidade.
d) ( ) Modelo de história natural da doença.
e) ( ) Nenhuma das alternativas anteriores.
3 Descreva como o avanço da epidemiologia no Brasil ajudou a 
aumentar a vacinação contra doenças infecciosas.
3 ASPECTOS SOCIAIS, ECONÔMICOS 
E DEMOGRÁFICOS
O Brasil, hoje, é o maior país da América Latina, e quinto maior do mundo, 
com uma extensão de cerca de 8 milhões de km², apresentando uma população 
estimada de 210 milhões de habitantes espalhada em cinco regiões, 26 estados e 
mais de 5 mil cidades, além de uma economia com PIB aproximado de 3 trilhões 
de dólares (BRASIL, 2020). A fim de melhor entendermos nosso país, esse tópico 
será dividido em aspectos demográficos, sociais e econômicos. 
3.1 ASPECTOS DEMOGRÁFICOS
Com uma população estimada em mais de 210 milhões de habitantes, o 
Brasil ocupa a quinta posição no ranking de países mais populosos do mundo, 
atrás de países como China, Índia, Estados Unidos e Indonésia. A chegada dos 
36
 Diagnóstico Nutricional
portugueses em solo brasileiro no século XV trouxe não só desenvolvimento para 
a futura nação, mas também uma mistura de povos, credos e culturas que nos é 
característica marcante mundo a fora (BRASIL, 2020).
A partir do seu descobrimento, com a exploração de recursos naturais 
pela coroa portuguesa, o país foi aumentando consideravelmente o número de 
habitantes. Primeiramente, os índios que aqui já habitavam o território nacional, 
foram utilizados como mão de obra até a intervenção da igreja. Com uma 
necessidade cada vez maior na exploração dos recursos, ressalta-se a vinda de 
escravos africanos como uma nova fonte de mão de obra trabalhadora nesse 
período. Já com o fim da escravidão e como refúgio da segunda grande guerra, 
muitos europeus vieram refugiados ao país, concentrando-se na região sul 
brasileira (BRASIL, 2020).
Da década de 30 adiante o país começou a sofrer forte industrialização e 
grandes centros urbanos surgiram, sobretudo na região sudeste. O governo de 
Juscelino Kubitschek foi o responsável por tentar levar o crescimento econômico, 
social e urbanização às regiões mais afastadas. Através da criação do plano 
“cinquenta em cinco”, JK tinha objetivo de alinhar a economia brasileira à 
americana, chegando a fazer diversos empréstimos para tal finalidade. Fato 
marcante foi a mudança e criação de uma nova capital para a república, Brasília 
(FERRO, 2013). 
Nas décadas seguintes o avanço da medicina e a expansão da indústria 
brasileira possibilitaram não só o ingresso da mulher no mercado de trabalho bem 
como o uso de novos métodos contraceptivos, como a pílula anticoncepcional. 
Essa característica refletiu diretamente sobre as taxas de fecundidade e 
natalidade, diminuindo o crescimento populacional (FERRO, 2013).
Apesar da enorme população brasileira, o país é considerado pouco povoado 
(cerca de 24 habitantes/km²), por conta de sua imensa extensão territorial. O que 
demonstra a grande concentração populacional em regiões específicas como 
o a região sudeste, por exemplo, a capital do estado de São Paulo apresenta 
população aproximada de 12 milhões de habitantes, nos dando um número de 
8 mil habitantes por metro quadrado (BRASIL, 2020). Observe a Figura 7, que 
demonstra a distribuição demográfica de acordo com os estados brasileiros, e 
veja como é maior a concentração de pessoas na região centro-sul do Brasil.
37
Entendendo A População Brasileira Através De Dados EpidemiológicosEntendendo A População Brasileira Através De Dados Epidemiológicos Capítulo 1 
FIGURA 7 – MAPA DE DENSIDADE DEMOGRÁFICA DOS ESTADOS BRASILEIROS
FONTE: Toda matéria (2020)
3.2 TRANSIÇÃO DEMOGRÁFICA
 
A expectativa de vida ao nascer é uma estimativa em anos da longevidade 
que um habitante pode atingir em determinada época e em determinado país. 
Diversas condições influenciam o aumento ou diminuição do número de anos 
esperados de vida, tais como: aumento/diminuição da criminalidade, acesso ou 
não à saúde, desenvolvimento, escolaridade, entre outros (BRASIL, 2016). 
O Brasil, assim como outros países em desenvolvimento, vem aumentando a 
expectativa de vida ao nascer ao longo de sua história, refletindo diretamente no 
perfil etário da população. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e 
Estatística, conforme pode ser visto na Tabela 1; na década de 1940 o brasileiro 
tinha uma expectativa de vida ao nascer de 45,5 anos, enquanto que em 2019 a 
estimativa foi de que poderia viver até os 76,6 anos, se nascido no Brasil (BRASIL, 
2019).
38
 Diagnóstico Nutricional
TABELA 1 – COMPARATIVO DA EXPECTATIVA DE VIDA AO NASCER 
DOS BRASILEIROS ENTRE 1940 E 2019
Expectativas de vida em idades exatas, variação em 
ano do período e tempo médio de vida- Brasil - 1940/2019
Idade
Expectativas de Vida
Variação (em anos) 
1940/2019
Tempo Mé-
dio de Vida 
- Ambos os 
Sexos
1940 2019
Total Homem Mulher Total Homem Mulher Total Homem Mulher 1940 2019
0 45,5 42,9 48,3 76,6 73,1 80,1 31,1 30,2 31,8 45,5 76,6
1 52,2 49,7 54,9 76,5 73,0 80,0 24,2 23,3 25,1 53,2 77,5
5 52,5 49,7 55,3 72,6 69,2 76,1 20,2 19,5 20,8 57,5 77,6
10 48,3 45,5 51,1 67,7 64,3 71,2 19,5 18,7 20,1 58,3 77,7
15 43,8 41,1 46,6 62,8 59,4 66,3 19,0 18,3 19,7 58,8 77,8
20 39,6 36,9 42,5 58,1 54,8 61,4 18,5 17,9 18,9 59,6 78,1
25 36,0 33,3 38,8 53,5 50,4 56,5 17,5 17,1 17,8 61,0 78,5
30 32,4 29,7 35,2 48,9 46,0 51,7 16,4 16,2 16,5 62,4 78,9
35 29,0 26,3 31,6 44,3 41,5 46,9 15,3 15,2 15,3 64,0 79,3
40 25,5 23,0 28,0 39,7 37,1 42,2 14,1 14,0 14,2 65,5 79,7
45 22,3 19,9 24,5 35,2 32,7 37,5 12,9 12,8 13,0 67,3 80,2
50 19,1 16,9 21,0 30,8 28,5 33,0 11,8 11,6 12,0 69,1 80,8
55 16,0 14,1 17,7 26,7 24,5 28,6 10,6 10,4 11,0 71,0 81,7
60 13,2 11,6 14,5 22,7 20,7 24,4 9,5 9,1 10,0 73,2 82,7
65 10,6 9,3 11,5 18,9 17,2 20,4 8,4 7,8 8,9 75,6 83,9
708,1 7,2 8,7 15,5 13,9 16,7 7,3 6,7 8,0 78,1 85,5
75 6,0 5,4 6,3 12,4 11,1 13,4 6,4 5,6 7,0 81,0 87,4
80 anos 
ou +
4,3 4,0 4,5 9,7 8,7 10,5 5,5 4,6 6,0 
Fontes: 1940 - Tábuas construídas no âmbito da Gerencia de Estudos e Análises da Dinâmica Demográfica. 
2019 - IBGE/Diretoria de Pesquisas. Coordenação de População e Indicadores Sociais. Gerência de Estudos e Análises da 
Dinâmica Demográfica. Projeção da população do Brasil por sexo e idade para o período 2010-2060.
FONTE: IBGE (2019)
Segundo projeções das Organizações das Nações Unidas (ONU), no ano 
de 1970, o Brasil apresentava uma população idosa de aproximadamente 3,1%, 
já as projeções para o ano de 2050 é que a parcela idosa atinja 19% do total de 
habitantes, ou seja, estamos envelhecendo cada mais por conta do aumento da 
expectativa de vida. 
Observe na Figura 8 abaixo como em 1980 a pirâmide etária brasileira 
apresentava uma base larga, ou seja, uma população jovem grande; e um topo 
fino, uma população idosa menor. Já no ano de 2017, os dados mostram uma 
mudança nesse perfil, base cada vez menor e topo cada vez maior. Seguindo 
39
Entendendo A População Brasileira Através De Dados EpidemiológicosEntendendo A População Brasileira Através De Dados Epidemiológicos Capítulo 1 
as projeções para o ano de 2060, a população brasileira terá uma parcela da 
população idosa ainda maior quando comparada às décadas anteriores. Esse 
fenômeno é conhecido como transição demográfica (BRASIL, 2017).
FIGURA 8 – HISTÓRICO E PROJEÇÃO DA PIRÂMIDE ETÁRIA DO BRASIL
FONTE: IBGE (2017)
3.3 ASPECTOS SOCIAIS
Em um país de grandezas continentais, são grandes os desafios enfrentados 
pela sociedade brasileira. São comuns os problemas nas áreas da educação, 
saúde, mercado de trabalho e segurança.
O Programa das Nações Unidas para Desenvolvimento (PNUD), da 
Organização das Nações Unidas, é o responsável por estimar o Índice de 
Desenvolvimento Humano (IDH), uma medida comparativa que serve como base 
para classificar os países em desenvolvidos (IDH muito alto), em desenvolvimento 
(IDH médio e alto) e subdesenvolvido (IDH baixo) (MACHADO; PAMPLONA, 
2008). 
Aspectos sociais e econômicos são avaliados a partir de uma estatística 
feita após análise das taxas de expectativa de vida ao nascer (qualidade de vida), 
escolaridade (anos médios de estudo e acesso), produto interno bruto (PIB) 
(renda per capita) (MACHADO; PAMPLONA, 2008). 
 
Em 2020, apesar de uma pequena melhora, o Brasil desceu cinco posições 
no ranking mundial do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), passando de 
79º para o 84º lugar entre 189 países. O IDH brasileiro foi de 0,762, em 2018, 
para 0,765, em 2019. Na Figura 9 é possível ver a evolução do IDH brasileiro ao 
longo dos anos.
40
 Diagnóstico Nutricional
FIGURA 9 – EVOLUÇÃO DO IDH BRASILEIRO ATÉ 2019
FONTE: G1 (2020)
De acordo com o PNUD o ranking do IDH é liderado pela Noruega (0,957), 
seguido por Suíça (0,955) e Irlanda (0,955). Nas últimas posições aparecem: 
Níger (0,394), República Centro-Africana (0,397) e Chade (0,398) (OMS, 2020).
Considerando os 12 países da América Latina, o Brasil perdeu duas posições, 
ficando na sexta posição. Na região, o Brasil aparece logo atrás do Chile (0,851), 
Argentina (0,845), Uruguai (0,817), Peru (0,777) e Colômbia (0,767). Observa na 
Figura 10 o ranking dos países latinos conforme seu IDH (OMS,2020).
41
Entendendo A População Brasileira Através De Dados EpidemiológicosEntendendo A População Brasileira Através De Dados Epidemiológicos Capítulo 1 
FIGURA 10 – IDH DOS PAÍSES DA AMÉRICA LATINA EM 2020
FONTE: G1 (2020)
Um aspecto importante sobre a qualidade da educação de um país é o 
percentual de pessoas alfabetizadas. No Brasil, de acordo com os resultados 
obtidos pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD 
Contínua) 2019, a taxa de analfabetismo de pessoas de 15 anos ou mais de idade 
foi de 6,6%, aproximadamente 11 milhões de brasileiros analfabetos (BRASIL, 
2019).
42
 Diagnóstico Nutricional
Quando comparado com o ano de 2018 (taxa de 6,8%) houve uma redução 
de 0,2 pontos percentuais no número de analfabetos brasileiros, correspondendo 
a uma redução de um pouco mais de 200 mil pessoas em 2019. Dentre todas 
as regiões brasileiras a Região Nordeste lidera o a lista com a maior taxa de 
analfabetismo com 13,9% da população analfabeta, quatro vezes mais do que as 
taxas das Regiões Sudeste e Sul (ambas com 3,3%). Completando a lista temos a 
Região Norte com 7,6% e a Centro-Oeste apresentando 4,9% da população sem 
saber ler e escrever, conforme pode se observar na Figura 11 (BRASIL, 2019).
FIGURA 11 – TAXA DE ANALFABETISMO NO BRASIL NO ANO DE 2019
FONTE: IBGE (2019)
Quando olhamos os dados sobres as taxas de analfabetismo podemos 
observar que os homens apresentam uma taxa levemente maior quando 
comparada às mulheres, sendo respectivamente de 6,9% e 6,3%. Entre as 
raças presentes na população brasileira as pessoas pretas ou pardas (8,9%), 
apresentam mais que o dobro de pessoas analfabetas quando comparadas à taxa 
de analfabetismo vista entre as pessoas brancas (3,6%) (BRASIL, 2019).
Ainda olhando para os dados de 2019, o Brasil mostrou leve melhora no 
número de pessoas de 25 anos ou mais de idade que concluíram a educação 
43
Entendendo A População Brasileira Através De Dados EpidemiológicosEntendendo A População Brasileira Através De Dados Epidemiológicos Capítulo 1 
básica obrigatória (no mínimo, o ensino médio) saindo de 47,4%, em 2018, 
para 48,8%, em 2019. Já levando em consideração a distribuição da população 
brasileira, com 25 anos ou mais, nos outros níveis de instrução, observa-se 
(Figura 12) que 46,6% da população aparece nos níveis de instrução até o ensino 
fundamental completo ou equivalente, cerca de 27,4% possui o ensino médio 
completo ou equivalente; e 17,4% compreende a parcela com o superior completo 
(BRASIL, 2019).
FIGURA 12 – ESCOLARIDADE DA POPULAÇÃO BRASILEIRA EM 2019
FONTE: IBGE (2019)
Segundo o IBGE (2019, s.p.), desemprego é “de forma simplificada, se 
refere às pessoas com idade para trabalhar (acima de 14 anos) que não estão 
trabalhando, mas estão disponíveis e tentam encontrar trabalho. Assim, para 
alguém ser considerado desempregado, não basta não possuir um emprego”.
O Brasil utiliza dados da PNAD para estabelecer o número de brasileiros 
que não possuem ocupação. A Figura 13 abaixo mostra o fluxograma feito para 
estabelecer tal taxa.
44
 Diagnóstico Nutricional
FIGURA 13 – FLUXOGRAMA PARA CLASSIFICAÇÃO POR OCUPAÇÃO
FONTE: IBGE (2020)
Em 2020, segundo dados da PNAD, no terceiro trimestre foi observada uma 
taxa de desemprego de 13,1%, totalizando cerca de 14,1 milhões de brasileiros 
sem trabalho. Conforme pode se observar na Figura 14, o Nordeste brasileiro é a 
região com a maior taxa de desocupados enquanto o Sul apresenta a menor taxa, 
respectivamente (BRASIL, 2020).
FIGURA 14 – TAXA DE DESOCUPADOS ENTRE AS REGIÕES BRASILEIRAS 
NO 3º TRIMESTRE DE 2020
FONTE: Adaptado de IBGE (2020)
45
Entendendo A População Brasileira Através De Dados EpidemiológicosEntendendo A População Brasileira Através De Dados Epidemiológicos Capítulo 1 
Além das particularidades sobre desenvolvimento humano e desemprego, 
o Brasil ainda enfrenta grandes problemas no âmbito da saúde. O acesso aos 
serviços de saúde de qualidade a toda população brasileira é uma missão 
importante de cada governo. 
Números do IBGE de 2019 demonstram que sete a cada dez brasileiros, 
mais de 150 milhões de pessoas, dependem exclusivamente do Sistema Único de 
Saúde (SUS) para realizar seus atendimentos médicos (BRASIL, 2020). A parcela 
da população que possui algum tipo de plano de saúde, médico e/ou odontológico, 
corresponde 28,5%. A Figura 15 mostra a distribuição, por região, dos brasileiros 
que possuem algum plano de saúde.
FIGURA 15 – DISTRIBUIÇÃO DE BRASILEIROS QUE POSSUEMALGUM PLANO DE SAÚDE, POR REGIÃO
FONTE: Adaptado de Tarja (2020)
Vejamos então que a população brasileira se encontra, em sua grande 
maioria, dependente exclusivamente dos serviços de saúde públicos. Reafirmando 
a grande importância do fortalecimento do SUS e todos os serviços assistências 
brasileiros (BRASIL, 2020).
Alguns outros fatores não podem ser ignorados como os altos índices de 
violência e criminalidade, falta de acesso ao saneamento básico e moradia. Como 
exemplo, veja na Figura 16, o impressionante número de pessoas que possuem 
acesso a rede de esgoto e banheiro exclusivo em seus domicílios na região Norte 
(BRASIL, 2020).
46
 Diagnóstico Nutricional
FIGURA 16 – PROPORÇÃO DE DOMICÍLIOS COM REDE DE ESGOTO 
E BANHEIRO EXCLUSIVO, POR REGIÃO
FONTE: Adaptado de Tarja (2020)
3.4 ASPECTOS ECONÔMICOS
 
Baseada, principalmente, na agricultura, a economia brasileira é composta 
pelos setores primário, secundário e terciário. O Brasil é um dos maiores 
produtores e exportadores de soja, cana de açúcar, frango e suco de laranja do 
mundo.
Após grande avanço no século XX, a indústria também desempenha papel 
importante na economia brasileira, sendo os maiores destaques a produção 
automotiva, aeronáutica e a extração de petróleo e minério de ferro.
As regiões brasileiras apresentam características distintas no que tange a 
economia conforme podem ser vistas no Quadro 4.
47
Entendendo A População Brasileira Através De Dados EpidemiológicosEntendendo A População Brasileira Através De Dados Epidemiológicos Capítulo 1 
QUADRO 4 – CARACTERÍSTICAS REGIONAIS DA ECONOMIA BRASILEIRA
Região Características principais
Norte Extração vegetal (madeira, látex, açaí e casta-
nha) e mineral (ferro, cobre e ouro).
Nordeste Turismo, indústrias, agronegócio (cana-de-açú-
car) e extração de petróleo.
Sul Setor de serviços, indústria (alimentícia, têxtil e 
siderurgia) e agronegócio.
Sudeste Maior concentração de indústrias do país (mon-
tadoras e siderúrgicas). Serviços e comércio.
Centro-oeste Agronegócio (soja, milho e carne bovina) e 
indústrias.
FONTE: O autor (2021)
O país apresentou PIB de R$ 7,4 trilhões no ano de 2019. Veja na Quadro 
5 abaixo os valores do PIB por estado e observe os estados de São Paulo, Rio 
de Janeiro e Minas Gerais, todos estados da região Sudeste, lideram o ranking 
(BRASIL, 2020).
QUADRO 5 – PIB DAS UNIDADES DA FEDERAÇÃO BRASILEIRAS
Unidades da Federação PIB em 2018 (1.000.000 R$)
Acre 15.331
Alagoas 54.413
Amapá 16.795
Amazonas 100.109
Bahia 286.240
Ceará 155.904
Distrito Federal 254.817
Espírito Santo 137.020
Goiás 195.682
Maranhão 98.179
Mato Grosso 137.443
Mato Grosso do Sul 106.969
Minas Gerais 614.876
Paraná 440.029
Paraíba 64.374
Pará 161.350
Pernambuco 186.352
Piauí 50.378
Rio de Janeiro 758.859
Rio Grande do Norte 66.970
Rio Grande do Sul 457.294
Rondônia 44.914
48
 Diagnóstico Nutricional
Roraima 13.370
Santa Catarina 298.227
Sergipe 42.018
São Paulo 2.210.562
Tocantins 35.666
FONTE: IBGE (2020)
O PIB mede apenas os bens e serviços finais para evitar dupla 
contagem. Se um país produz R$ 100 de trigo, R$ 200 de farinha de 
trigo e R$ 300 de pão, por exemplo, seu PIB será de R$ 300, pois 
os valores da farinha e do trigo já estão embutidos no valor do pão 
(IBGE, 2020).
Vale a pena ressaltar que desde 1991 o Brasil faz parte do bloco econômico 
MERCOSUL junto com Argentina, Uruguai, Paraguai, Bolívia e Venezuela, cujo 
objetivo é fortalecer a economia através do livre comércio e política comercial 
comum. Leia mais sobre o MERCOSUL na leitura complementar.
Saiba mais sobre o MERCOSUL
Composição, objetivos e estrutura institucional
Com mais de duas décadas de existência, o Mercado Comum 
do Sul (MERCOSUL) é a mais abrangente iniciativa de integração 
regional da América Latina, surgida no contexto da redemocratização 
e reaproximação dos países da região ao final da década de 80. Os 
membros fundadores do MERCOSUL são Brasil, Argentina, Paraguai 
e Uruguai, signatários do Tratado de Assunção de 1991.
A Venezuela aderiu ao Bloco em 2012, mas está suspensa, 
desde dezembro de 2016, por descumprimento de seu Protocolo 
de Adesão e, desde agosto de 2017, por violação da Cláusula 
Democrática do Bloco.
49
Entendendo A População Brasileira Através De Dados EpidemiológicosEntendendo A População Brasileira Através De Dados Epidemiológicos Capítulo 1 
Todos os demais países sul-americanos estão vinculados ao 
MERCOSUL como Estados Associados. A Bolívia, por sua vez, tem o 
“status” de Estado Associado em processo de adesão.
O Tratado de Assunção, instrumento fundacional do 
MERCOSUL, estabeleceu um modelo de integração profunda, com 
os objetivos centrais de conformação de um mercado comum - com 
livre circulação interna de bens, serviços e fatores produtivos - o 
estabelecimento de uma Tarifa Externa Comum (TEC) no comércio 
com terceiros países e a adoção de uma política comercial comum.
O livre comércio intrazona foi implementado por meio do 
programa de desgravação tarifária previsto pelo Tratado de Assunção, 
que reduziu a zero a alíquota do imposto de importação para o 
universo de bens, salvo açúcar e automóveis. A União Aduaneira, 
estabelecida pela TEC, está organizada em 11 níveis tarifários, cujas 
alíquotas variam de 0% a 20%, obedecendo ao princípio geral da 
escalada tarifária: insumos têm alíquotas mais baixas e produtos 
com maior grau de elaboração, alíquotas maiores.
O Protocolo de Ouro Preto, assinado em 1994, estabeleceu a 
estrutura institucional básica do MERCOSUL e conferiu ao Bloco 
personalidade jurídica de direito internacional. O Protocolo consagrou, 
também, a regra do consenso no processo decisório, listou as fontes 
jurídicas do MERCOSUL e instituiu o princípio da vigência simultânea 
das normas adotadas pelos três órgãos decisórios do Bloco: o 
Conselho do Mercado Comum (CMC), órgão superior ao qual 
incumbe a condução política do processo de integração; o Grupo 
Mercado Comum (GMC), órgão executivo do Bloco; e a Comissão 
de Comércio do MERCOSUL (CCM), órgão técnico que vela pela 
aplicação dos instrumentos da política comercial comum.
No decorrer do processo de integração, e em grande medida em 
razão do êxito inicial da integração econômico-comercial, a agenda 
do MERCOSUL foi paulatinamente ampliada, passando a incluir 
temas políticos, de direitos humanos, sociais e de cidadania. Os dois 
marcos na área social e cidadã do MERCOSUL são, respectivamente, 
o Plano Estratégico de Ação Social (2011) e o Plano de Ação para o 
Estatuto da Cidadania do MERCOSUL (2010).
A agenda política do MERCOSUL abrange um amplo espectro 
de políticas governamentais tratadas por diversas instâncias do 
bloco, que incluem reuniões de ministros, reuniões especializadas, 
50
 Diagnóstico Nutricional
foros e grupos de trabalho. Os Estados Partes e Estados Associados 
promovem cooperação, consultas ou coordenação em virtualmente 
todos os âmbitos governamentais, o que permitiu a construção de 
um patrimônio de entendimento e integração de valor inestimável 
para a região.
O MERCOSUL é hoje instrumento fundamental para a promoção 
da cooperação, do desenvolvimento, da paz e da estabilidade na 
América do Sul.
Dados básicos
Os membros fundadores (Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai) 
e a Venezuela, que completou seu processo de adesão em meados 
de 2012, abrangem, aproximadamente, 72% do território da América 
do Sul (12,8 milhões de km², equivalente a três vezes a área da 
União Europeia); 69,5% da população sul-americana (288,5 milhões 
de habitantes) e 76,2% do PIB da América do Sul em 2016 (US$ 2,79 
trilhões de um total de US$ US$ 3,66 trilhões, segundo dados do 
Banco Mundial).
Se tomado em conjunto, o MERCOSUL seria a quinta 
maior economia do mundo, com um PIB de US$ 2,79 trilhões. O 
MERCOSUL é o principal receptor de investimentos estrangeiros 
diretos (IED) na região. O bloco recebeu 47,4% de todo o fluxo de 
IED direcionado à

Outros materiais

Outros materiais