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DIAGNÓSTICO NUTRICIONAL UNIASSELVI-PÓS Autoria: Afonso Pinho da Silva Maia Indaial - 2021 1ª Edição CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090 Copyright © UNIASSELVI 2021 Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. M217d Maia, Afonso Pinho da Silva Diagnóstico nutricional. / Afonso Pinho da Silva Maia. – Indaial: UNIASSELVI, 2021. 202 p.; il. ISBN 978-65-5646-305-6 ISBN Digital 978-65-5646-304-9 1. Avaliação nutricional. - Brasil. II. Centro Universitário Leonardo da Vinci. CDD 360 Impresso por: Reitor: Prof. Hermínio Kloch Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol Equipe Multidisciplinar da Pós-Graduação EAD: Carlos Fabiano Fistarol Ilana Gunilda Gerber Cavichioli Jóice Gadotti Consatti Norberto Siegel Julia dos Santos Ariana Monique Dalri Marcelo Bucci Jairo Martins Marcio Kisner Revisão Gramatical: Equipe Produção de Materiais Diagramação e Capa: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Sumário APRESENTAÇÃO ............................................................................5 CAPÍTULO 1 ENTENDENDO A POPULAÇÃO BRASILEIRA ATRAVÉS DE DADOS EPIDEMIOLÓGICOS ....................................................7 CAPÍTULO 2 METÓDOS DE AVALIAÇÃO NUTRICIONAL .................................65 CAPÍTULO 3 AVALIAÇÃO NUTRICIONAL DE GRUPOS POPULACIONAIS ...133 APRESENTAÇÃO Olá, caro acadêmico! Seja muito bem-vindo à disciplina de Diagnóstico Nutricional! É de extrema importância que todos os nutricionistas e demais profissionais da saúde entendam a complexidade que é realizar um diagnóstico nutricional adequado. Para isso, precisamos compreender que cada indivíduo apresenta necessidades e comportamentos específicos que refletem diretamente em seu estado nutricional. A população brasileira é um mosaico de culturas, etnias e credos, que nos torna tão singulares. É preciso entender como todos esses fatores contribuíram para construir e/ou modificar nossas práticas alimentares ao longo de nossa história, para assim, conseguirmos estabelecer uma relação direta entre os diversos fatores que podem influenciar no estado nutricional dos brasileiros atualmente. Desde que o diagnóstico nutricional ganhou espaço dentro da vigilância epidemiológica no território nacional, nós começamos a estudar cada vez mais os impactos dos hábitos alimentares no desenvolvimento de condições que modificam o processo saúde/doença. Por isso, ao longo da leitura desse livro, você irá percorrer alguns tópicos que ajudarão a aumentar o seu conhecimento sobre como fatos históricos marcantes impactaram na nossa condição nutricional e como realizar um correto diagnóstico nutricional individualizado. No primeiro capítulo iremos ver alguns aspectos sobre a história da epidemiologia no Brasil, informações sobre nossa nação, características importantes da nossa população e compreender como se desenvolveu o processo de transição nutricional. Já no segundo capítulo nós iremos abordar os métodos para avaliação nutricional (antropométricos, dietéticos, clínicos e bioquímicos). O terceiro e último capítulo focará na avaliação e diagnóstico nutricional de população específicas (adultos, idosos, gestantes, crianças, adolescentes e atletas). Boa leitura! CAPÍTULO 1 Entendendo A População Brasileira Através De Dados Epidemiológicos A partir da perspectiva do saber-fazer, são apresentados os seguintes objetivos de aprendizagem: • Conhecer os aspectos sociais, econômicos e demográficos com o perfil nutricional da população brasileira. • Compreender os conceitos, métodos e usos de epidemiologia. • Analisar os elementos históricos da epidemiologia descritiva e os métodos de estudos de agravos à saúde na população. • Entender o processo de transição epidemiológica/nutricional brasileira 8 Diagnóstico Nutricional 9 Entendendo A População Brasileira Através De Dados EpidemiológicosEntendendo A População Brasileira Através De Dados Epidemiológicos Capítulo 1 1 CONTEXTUALIZAÇÃO De proporções continentais, o Brasil é um país conhecido pela sua riqueza de recursos naturais e culturais. Desde a chegada dos portugueses, a nossa história vem sendo escrita com a participação de várias nacionalidades que, ao somar suas características, transformou-nos nessa bela nação. A curiosidade a respeito de como os hábitos humanos podem influenciar o estado de bem-estar, modificando a relação saúde/doença sempre levantou interesse dos curiosos. Desde o começo da civilização, sempre buscamos compreender como fatores distintos podem contribuir para a melhora ou piora da saúde humana. A epidemiologia é uma ciência essencial para monitoramento do estado de saúde de uma população. Através dela é possível estimar como o comportamento de uma determinada região é capaz de alterar índices importantes que definem o perfil de uma população. Os diversos aspectos sociais, demográficos e econômicos brasileiros refletem as características de como nossa população vem se moldando por conta das disparidades presentes em nosso país. A união de todos esses aspectos únicos tem influência no perfil nutricional que a população brasileira apresenta em determinado período da nossa linha temporal. No começo das investigações epidemiológicas, era comum se deparar com casos de desnutrição, muito por conta da falta ao acesso a uma alimentação adequada. Hoje se tornou corriqueiro o crescente número de crianças, adultos e idosos que apresentam algum tipo de excesso de peso. O que nos mostra que nossos hábitos alimentares e práticas de vida mudaram ao longo do tempo. Após a leitura desse capítulo você irá conseguir dimensionar a complexidade da nossa população e entender a relevância da epidemiologia na construção de um diagnóstico nutricional. 2 BASES DA EPIDEMIOLOGIA BRASILEIRA Quando desejamos atuar em qualquer área relacionada à saúde, é necessário conhecer informações sobre o perfil epidemiológico da população 10 Diagnóstico Nutricional assistida. A epidemiologia é uma ciência essencial com a qual é possível conhecer detalhadamente, por exemplo, dados sobre mortalidade, natalidade e estado nutricional de determinada região. Caro acadêmico, para que consigamos entender melhor a importância dos estudos epidemiológicos sobre a população brasileira, vamos brevemente voltar no tempo e relembrar alguns fatos históricos. 2.1 A HISTÓRIA DA EPIDEMIOLOGIA NO MUNDO O homem sempre teve curiosidade para entender a dimensão de como a sociedade, saúde e doença se relacionavam. Hipócrates, pai da medicina, no início das civilizações já demonstrava entusiasmo ao descrever diversos episódios epidemiológicos (Figura 1) (NUTTON, 2017). Em seu famoso tratado “Ares, água e lugares” ele descreve detalhadamente o que era observado na sociedade grega naquela época: Visto que é preciso observar cada um dos pontos ditos anteriormente e comprová-los, eu os explicarei claramente. Uma cidade que for voltada para os ventos quentes – que ocorrem entre o nascente e o ocaso hibernais do sol - e para ela estes ventos forem habituais, se for resguardada dos ventos vindos das Ursas, nessa cidade, as águas são abundantes e necessariamente um pouco salgadas, e se encontram em lugares elevados, quentes no verão, e frias no inverno. Os homens têm as cabeças úmidas e flegmáticas, e suas cavidades são frequentemente perturbadas por causa das cabeças quando o flegma escorre para baixo; suas formas são geralmente sem vigor e não têm propensão para comer nem para beber, pois todos os que têm cabeças fracas não têm propensão para beber, uma vez que a embriaguez os oprime mais. As enfermidades locais são as seguintes: em princípio, as mulheres são doentias e suscetíveis a corrimentos;depois, muitas se tornam estéreis por ação da doença e não por natureza, e frequentemente abortam; sobre as criancinhas sobrecaem convulsões, dispneias e tudo aquilo que julgam provocar a doença infantil e ser a doença sagrada. Já sobre os homens sobrecaem disenterias, diarreias, febres contínuas, febres de inverno de longa duração, numerosas erupções noturnas e hemorroidas no lugar em que se senta. Em contrapartida, as pleurisias, pneumonias, febres altas e tudo o que se considera enfermidade aguda não ocorrem na maioria das vezes, pois não é possível que, onde as cavidades são úmidas, essas doenças tenham força. As oftalmias úmidas ocorrem então, e não são penosas e são breves, a não ser que alguma 11 Entendendo A População Brasileira Através De Dados EpidemiológicosEntendendo A População Brasileira Através De Dados Epidemiológicos Capítulo 1 enfermidade comum a todos se apodere (da cidade) depois de uma grande mudança. E quando as pessoas ultrapassam os cinquenta anos, os fluxos que sobrevêem do cérebro tornam- nas hemiplégicas, quando, de súbito, têm a cabeça exposta ao solou ao frio. Estas são, então, as enfermidades locais para elas. Afora isso, se alguma enfermidade comum a todos se apoderar (da cidade) a partir de uma mudança das estações, elas tomam parte nessa (CAIRUS; RIBEIRO JR., 2005, p. 95). FIGURA 1 – HIPÓCRATES TRATANDO UMA PESSOA COM PESTE EM ATENAS FONTE: NUTTON (2017) O interesse sobre o entendimento do processo saúde-doença e as correlações com suas populações específicas começaram a aumentar no final do século XVIII e início do século XIX. Nessa época, os pesquisadores do movimento iluminista buscavam associar os conhecimentos acerca das enfermidades e causas de adoecimento com a estado de saúde da população. Fundamentado nesses conhecimentos, também conhecidos como Higiene Social ou Pública, a Epidemiologia ganhou força dentro da comunidade científica (PEREIRA, 2018). Durante a segunda metade do século XIX, os estudiosos passaram a desenvolver métodos sistemáticos tentando conhecer a relação entre causa e efeito que o ambiente causava nos eventos fisiopatológicos conhecidos pelo meio científico da época. Esse avanço possibilitou à ciência entender e relacionar como os eventos afetavam as condições de saúde da população (FRANCO; PASSOS, 2011). 12 Diagnóstico Nutricional Já no século XX, os estudos epidemiológicos debruçaram-se sobre dados e números, assumindo um lado estatístico e probabilístico. Os estudiosos buscavam assimilar como diferentes agentes externos ao adoecer e suas relações causais afetam a saúde das pessoas, dando origem ao conceito de risco epidemiológico (MARTINS et al., 2018). VOCÊ SABIA? Epidemiologia – origem grega “epi” – sobre “demo” – população “logos” – tratado, ciência 2.1.1 Modelos epidemiológicos Ao longo da história, vários modelos epidemiológicos existiram a fim de correlacionar a saúde e doença do homem. Durante a idade média (séculos V a VX), haviam duas teorias sobre como o homem se relacionava com esse processo (MARTINS et al., 2018). A primeira, a teoria humoral, era defendida por médicos e dizia que doença se desenvolvia por consequência do desarranjo entre os humores corporais e ambientais. Enquanto a segunda, teoria apocalíptica, tinha cunho religioso fortemente estabelecido, onde a doença era um castigo ou punição divina a um pecador. As duas coexistiram em harmonia (FRANCO; PASSOS, 2011). De acordo com Palmeira, Miyashiro e Chaiblich (2017), durante a Peste Negra (peste bubônica) que assolou cerca de 1/3 da população europeia no século XIV, de acordo com a teoria humoral, consecutivos eventos; como o aumento dos vetores (ratos e pulgas), foram atribuídos aos planetas Saturno (sinal de infortúnio e crise), Júpiter (formador de vapores) e Marte (causador da inflamação dos vapores) foram os responsáveis pela epidemia. Ao mesmo tempo que a teoria religiosa compreendeu que a doença era consequência dos pecados dos humanos e instigou a prática de procissões e penitências a fim de alcançar a paz divina (PALMEIRA; MIYASHIRO; CHAIBLICH, 2017). 13 Entendendo A População Brasileira Através De Dados EpidemiológicosEntendendo A População Brasileira Através De Dados Epidemiológicos Capítulo 1 Com a revolução industrial do século XIX, o aumento das populações em zonas urbanas, falta de condições ideais de higiene e de trabalho e alimentação inadequada entre diversos fatores contribuíram para o crescimento das doenças infecciosas. Durante esse período, a Teoria miasmática e a Teoria contagionista ganharam força (PEREIRA, 2018). A Teoria miasmática baseava-se no fato de que a poluição em excesso dos grandes centros urbanos era a principal geradora dos miasmas e, consequentemente, das doenças. John Snow, considerado o pai da epidemiologia foi um dos principais expoentes dos pensamentos da teoria miasmática, sendo seu trabalho primordial no controle da epidemia de cólera que atingiu a capital inglesa durante os anos de 1849 até 1854 (PEREIRA, 2018). Já a Teoria contagionista fundamentava-se na existência de agentes do contágio, organismos capazes de se multiplicar no organismo humano e assim se espalhar através do contato ou pelo ar. Nesse período já era possível ver medidas de contenção como a quarentena e isolamento de pessoas infectadas (PALMEIRA; MIYASHIRO; CHAIBLICH, 2017). O surgimento da Teoria dos germes só foi possível com a evolução de técnicas cientificas que permitiu a identificação diversos microrganismos patogênicos (agentes etiológicos) bem como de algumas medidas de prevenção (soros e vacinas). Veja mais na leitura complementar a seguir. Artigo: Louis Pasteur foi determinante para criação das primeiras vacinas. Cientista introduziu os métodos de esterilização nas cirurgias médicas. 26/11/2011 06h36 - Atualizado em 04/05/2012 20h03 Os estudos de Pasteur na área medica se iniciaram após já ter obtido sucesso na sua carreira como cientista. Em 1861 recebeu o prêmio da Academia de Ciência por seus estudos sobre a fermentação e, em sequência, na mesma década, conclui seus estudos sobre o processo que viria a controlar o crescimento dos micro-organismos na indústria de alimentos e bebidas. Processo que recebeu o nome de pasteurização em homenagem ao seu criador. Pasteur começou a estudar as doenças em 1865 ao ser requisitado pelos sericultores (fabricantes de seda) que estavam tendo prejuízos devido a uma doença que estava atacando a forma larvar de uma mariposa, o bicho-da-seda, que produz a seda. Foi 14 Diagnóstico Nutricional com este trabalho que Pasteur iniciou o estudo científico da teoria microbiana das enfermidades, embora no início da pesquisa não achou que a origem da doença do bicho da seda fosse devido aos micróbios. A criação de bichos da seda era de grande importância econômica na França nesta época. As 20 mil toneladas produzidas em 1850 no país foram reduzidas a quatro mil toneladas em 1865, por causa de uma enfermidade que dizimava as criações chamada “pebrina”. As larvas apresentavam pequenas manchas negras na superfície e corpúsculos negros dentro dos órgãos, enfraqueciam, morriam e secavam. Foi estabelecida, na época, uma comissão de estudos da qual Pasteur participava. Pasteur parte para o campo e, após algumas semanas, retorna a Paris e apresenta suas conclusões na academia de ciência dizendo que a doença era hereditária. Mesma conclusão que havia chegado Quatrefages, um cientista que anteriormente havia estudado a doença. Em relação aos corpúsculos negros observados nas lagartas, Pasteur diz que não seriam micróbios, e sim o produto de um organismo doente. A pesquisa continua por meses e ele verifica que estes corpúsculos estavam na poeira dos alojamentos das larvas e que se fosse polvilhada nas folhas de amoreira, que serviam de alimentos para as larvas, a mortalidade era alta. Conclui, depois de experimentos, que oscorpúsculos eram micro-organismos responsáveis pela enfermidade. Outro cientista, Antoine Béchamp, também contribui para a elucidação da causa dessa doença. Pasteur ensinou os sericultores a identificar os ovos saudáveis ao microscópio, a destruir ovos e larvas doentes, e como prevenir a presença dos micro-organismos nas folhas das amoreiras. Estes estudos iniciais tiveram um papel fundamental no desenvolvimento da teoria microbiana das doenças. Com o conhecimento adquirido, Pasteur confirmou que cada doença é causada por um micróbio específico e que estes micróbios eram agentes externos. Estabeleceu, assim, as noções básicas de esterilização e assepsia que levaram a benefícios na prevenção de contaminações e infecções na cirurgia e obstetrícia. Continuou dando sequência à pesquisa médica e caracterizou três bactérias responsáveis por doenças. Além disso, descobriu que a 15 Entendendo A População Brasileira Através De Dados EpidemiológicosEntendendo A População Brasileira Através De Dados Epidemiológicos Capítulo 1 origem dos furúnculos e da osteomielite humanas eram provenientes de bactérias denominadas estafilococos (Staphylococcus sp), e que a causa da infecção puerperal eram devido à bactéria hoje denominada estreptococo (Streptococcus sp). Iniciou, então, sua pesquisa sobre imunidade e vacinas. Introdução aos métodos de esterilização Com a introdução da anestesia, na década de 1840, as cirurgias tomaram novo rumo e ocorreu um aprimoramento nas técnicas e procedimentos cirúrgicos. Mas, paralelamente, a mortalidade por infecção de feridas ficou muito alta. Até 1865, a taxa de infecção por amputação durante a guerra era de 25% a 90%. Em Paris, no ano de 1870, essa taxa chegava próxima a 100%. Os pacientes morriam geralmente do que era denominado de “gangrena hospitalar”. Os estudos de Pasteur sobre a fermentação e a decomposição dos alimentos devido aos micróbios durante a pesquisa da geração espontânea, assim como os estudos das doenças devido aos micróbios, serviram de base para os estabelecimentos dos princípios de esterilização, desinfecção e assepsia. Seu pronunciamento histórico, no dia 30 de abril de 1878, na academia de medicina, resume a sua contribuição: “Se eu tivesse a honra de ser um cirurgião, tão convencido como eu estou dos perigos causados pelos germes de micróbios espalhados pela superfície de cada objeto, particularmente nos hospitais, eu não apenas utilizaria instrumentos absolutamente limpos, como limparia minhas mãos com o máximo cuidado e colocaria as mesmas sobre uma chama, e utilizaria apenas esponjas, bandagens e tecidos os quais tivessem sido previamente aquecidos à 130ºC – 150 ºC; utilizaria apenas água que tivesse sido aquecida à temperatura de 110 ºC -120 ºC. Tudo isso é facilmente obtido na prática, e, desta forma, ainda teria medo dos germes suspensos na atmosfera ao redor da cama do paciente; mas observações nos mostram todos os dias que o número desses germes é quase insignificante se comparado àqueles espalhados na superfície de objetos, ou na água mais límpida.” A contribuição de Pasteur para a produção de vacinas Vacina é uma substância produzida com bactérias ou vírus, ou partes deles, mortos ou atenuados (enfraquecidos). Pode ser também uma substância quimicamente semelhante a um agente infeccioso 16 Diagnóstico Nutricional causador de doença. Essa substância é reconhecida pelo sistema imunológico do indivíduo vacinado e produz uma resposta que o protege da doença. A vacina, portanto, induz o sistema imunológico do ser humano a reagir como se tivesse realmente sido infectado. A primeira vacina foi feita pelo médico Inglês Edward Jenner e serviu de base para estudos posteriores sobre o tema e também para Louis Pasteur. Jenner observou que algumas pessoas eram imunes à varíola, por exemplo. Todos eram ordenhadoras e tinham se contaminado com cowpox, uma doença do gado semelhante à varíola. A doença formava uma pústula, como na varíola, mas não era fatal. Em 1796, Jenner coletou o pus da pústula de uma ordenhadora e inoculou em um menino, que ficou protegido quando recebeu, posteriormente, uma inoculação com o pus de uma pústula de varíola. O nome vacina veio desta descoberta com o cowpox bovino. A experiência de Pasteur com as vacinas aconteceu quando ele estudava a cólera aviária, doença causada pela Pasteurella multocida. Um assistente de Pasteur saiu de férias e deixou uma cultura esquecida, acidentalmente, no laboratório. Quando voltou, a cultura envelhecida não era mais eficaz em infectar as aves. Pasteur fez, então, um segundo experimento, no qual essas galinhas foram infectadas com uma cultura nova e virulenta (causa doença). Para sua surpresa as galinhas sobreviveram ao desafio. Na vacinação, a exposição do animal à cepa de um organismo, que não causará doença (cepa avirulenta), pode provocar uma resposta imune que protegerá o animal contra a infecção subsequente por cepa produtora de doença (virulenta) do mesmo, ou de um microrganismo relacionado. Em 1881, Pasteur trabalhou também com o mesmo princípio para produzir bactérias avirulentas do antraz (Bacillus anthracis), cultivando as mesmas em temperaturas altas. Essas bactérias, atenuadas pelo calor, foram utilizadas como vacina para proteger ovinos contra o desafio com bactérias virulentas do antraz. Com esta vacina de Pasteur, em 1881, reduziu-se drasticamente a mortalidade dos ovinos a 0,34% e a dos bovinos a 1%. Finalmente, em 1885, Pasteur inicia seus estudos sobre a raiva, usando as medulas espinhais secas de coelhos e cães infectados com o vírus como material para preparar a vacina. A raiva humana 17 Entendendo A População Brasileira Através De Dados EpidemiológicosEntendendo A População Brasileira Através De Dados Epidemiológicos Capítulo 1 (hidrofobia) era contraída quando as pessoas eram mordidas por cães, ou outros animais doentes, e condenavam os doentes à morte devido à lenta destruição do Sistema Nervoso Central. Sendo assim, ele começou fazendo vários estudos com animais, mas surgiu uma emergência para atender um menino chamado Joseph Meister, mordido várias vezes por um cão com raiva e recebeu várias doses da vacina e não desenvolver a doença. Salvou também a vida de um grupo de lavradores russos que foram mordidos por lobos raivosos. O Czar enviou-lhe 100.000 francos que foi um donativo importante para a fundação do Instituo Pasteur. Em 14 de novembro de 1888, o Instituto Pasteur de Paris foi inaugurado para o estudo da raiva e outras pesquisas microbiológicas e que permanece até os dias de hoje como uma referência mundial de excelência em pesquisa científica. Analisando esses fatos da vida de Pasteur, pensamos “qual era o seu maior compromisso? Sem dúvida, era com a sociedade, tendo como ferramenta a sua ciência, estudos, uma mente observadora e criativa e muita persistência. Sempre buscando a verdade comprovada através de experimentos científicos. Acreditava na pesquisa aplicada que gerava benefícios na área da medicina, buscando a cura e a prevenção das doenças na área da microbiologia industrial, voltada para o setor produtivo e que, direta ou indiretamente, também levava melhorias para a sociedade. Os tipos de vacinas existentes Pasteur usou, basicamente, vírus atenuados em suas vacinas, culturas envelhecidas, inativadas pelo calor, ou secas. Daquele tempo até os dias de hoje, as vacinas tiveram uma evolução extraordinária, embora o princípio utilizado por Pasteur ainda seja usado atualmente. As vacinas começaram a ser produzidas em pequena escala e hoje são fabricadas em biorreatores. As vacinas podem ser basicamente de três tipos: Vacinas replicantes (vivas-atenuadas): Este tipo é muito usado para vacinas virais e com menos frequência em vacinas bacterianas. Pode usar o micro-organismo, uma forma recombinante (modificada geneticamente), que se multiplica. A “atenuação” pode serfeita de diferentes modos tendo como resultado a redução da virulência, ou patogenicidade a níveis seguros, sem destruir sua capacidade de induzir a reposta imune. 18 Diagnóstico Nutricional Vacina de DNA: Este tipo é uma tecnologia inovadora que administra o DNA de plasmideos de bactérias que codificam antígenos imunogênicos para tecidos. Essa vacina fornece ao organismo hospedeiro uma informação genética para que ele crie o antígeno com todas as características necessárias para a formação de uma resposta imune. Vacinas não replicantes (não-vivas, mortas ou inativadas): Nesse tipo de vacina, os micro-organismos não são mais capazes de se multiplicar. As técnicas usadas para inativação podem ser irradiações, substâncias químicas e calor. Vacinas combinadas: São vacinas aplicadas em uma única dose que contêm antígenos de micro-organismos diferentes, ou múltiplas cepas (sorotipos ou variantes de um mesmo microrganismo). FONTE: http://redeglobo.globo.com/globociencia/noticia/2011/11/artigo-louis-pasteur- foi-determinante-para-criacao-das-primeiras-vacinas.html#:~:text=Com%20esta%20 vacina%20de%20Pasteur,material%20para%20preparar%20a%20vacina. Diante da complexidade das diversas teorias que perpassaram a nossa história diferentes modelos epidemiológicos foram propostos ao longo dos anos. Veja o Quadro 1 abaixo. QUADRO 1 – TIPOS DE MODELOS DO PROCESSO SAÚDE/DOENÇA MODELO FUNDAMENTAÇÃO Modelo Unicausal Focado na ideia de que o agente etiológico (causal) das doenças é único e que ao ser eliminado causa da doença (Figura 2). A relação do agente etiológico com o indivíduo ocorre li- nearmente. Modelos Multicausal As diferenças demográficas e no padrão de morbimortali- dade se tornaram fundamentais para diversas teorias que utilizavam a diversidade de agentes causais e acrescen- taram características do ambiente e do hospedeiro nos modos de transmissão de doenças. 19 Entendendo A População Brasileira Através De Dados EpidemiológicosEntendendo A População Brasileira Através De Dados Epidemiológicos Capítulo 1 Modelo Ecológico (tríade ecológica) Tenta estabelecer relação entre indivíduo, meio ambiente e agente etiológico na origem da doença (Figura 3). Modelo Rede de Causalidade Doença resultante de diferentes fatores interconectados. Não é necessário conhecer todas as interações entre os fatores a fim de controlar a doença. Exemplo: síndrome metabólica (Figura 4). Modelo História Natural da Doença (HND) Modelo proposto por Leavell e Clark, define relação entre diversos pontos no adoecimento e ações de prevenção e controle (Figura 5). Modelo Determinantes Sociais da Saúde (DSS) Ganhou força nos anos 1960, no qual foi proposto que condições de vida como a classe social, estilo de vida, poder aquisitivo, entre outros, exercem papel importante no surgimento de doenças. FONTE: Adaptado de Palmeira, Miyashiro e Chaiblich (2017) FIGURA 2 – MODELO UNICAUSAL DE DOENÇA FONTE: Adaptado de Palmeira, Miyashiro e Chaiblich (2017) 20 Diagnóstico Nutricional FIGURA 3 – MODELO ECOLÓGICO FONTE: Adaptado de Palmeira, Miyashiro e Chaiblich (2017) FIGURA 4 – MODELO DA REDE DE CAUSALIDADE FONTE: Adaptado de Palmeira, Miyashiro e Chaiblich (2017) FIGURA 5 – MODELO HISTÓRIA NATURAL E PREVENÇÃO DA DOENÇA FONTE: Adaptado de Palmeira, Miyashiro e Chaiblich (2017) 21 Entendendo A População Brasileira Através De Dados EpidemiológicosEntendendo A População Brasileira Através De Dados Epidemiológicos Capítulo 1 2.2 EPIDEMIOLOGIA NO BRASIL Com o aumento da industrialização e juntamente com crescimento dos movimentos sanitaristas na Europa no final do século XIX, no Brasil se inicia a construção do que viria a ser a base da saúde coletiva nacional (MARTINS, 2018). No início do século XX, as epidemias de febre amarela e malária eram frequentes em solo brasileiro. Grandes centros urbanos, como Rio de Janeiro e São Paulo, sofriam com altos índices de mortalidade de tais doenças por conta do grande número de pessoas, comércio e urbanização que acontecia na época (PALMEIRA; MIYASHIRO; CHAIBLICH, 2017). Como solução, o governo brasileiro começou a investir em pesquisas médicas, destacando as doenças tropicais, nas quais o modelo militar- organizacional foi servido de molde para atuar nos casos recorrentes no período. Nasciam as campanhas sanitárias (MARTINS, 2018). Destacam-se no período os trabalhos dos médicos-sanitaristas Oswaldo Cruz, Adolfo Lutz, Carlos Chagas e Vital Brasil. Esses cientistas foram responsáveis pela implementação de diversos centros de pesquisas biomédicas (que futuramente dariam origem ao Instituto Butantan e Instituto Adolfo Lutz, ambos em São Paulo, e à FIOCRUZ (Figura 6), no Rio de Janeiro) primordiais para o estabelecimento e desenvolvimento da ciência brasileira, tornando-se fundamentais no combate a diversas doenças e na produção de vacinas e soros em território nacional que se estende até os dias atuais (FRANCO; PASSOS, 2011). FIGURA 6 – CONSTRUÇÃO DO CASTELO MOURISCO (SEDE FIOCRUZ), 1907 FONTE: Fiocruz (2020, on-line) 22 Diagnóstico Nutricional No decorrer das décadas seguintes a saúde pública veio ganhando cada vez mais importância dentro da política nacional. Após sucessivos eventos importantes, durante o governo Vargas, em 15 de novembro de 1953 é criado o Ministério da Saúde (PEREIRA, 2018). Diversas melhorias foram implementadas durante os anos seguintes, destacando a criação dos sistemas de informações sobre a saúde da população brasileira, sendo a nossa principal fonte de dados epidemiológicos e possibilitando um melhor direcionamento das políticas públicas (PALMEIRA; MIYASHIRO; CHAIBLICH, 2017). O Quadro 2 traz um panorama dos sistemas de informação em saúde existentes no Brasil. QUADRO 2 – PRINCIPAIS SISTEMAS DE INFORMAÇÃO EM SAÚDE NO BRASIL SISTEMA ANO DE CRIAÇÃO FUNÇÃO SIM – Sistema de Informações sobre Mortalidade 1975 Informar dados sobre mortalidade. SINASC – Sistema de Informação sobre Nascidos Vivos 1990 Informar dados sobre nascidos vivos (natalidade). SINAN – Sistema de Informações de Agravos sob Notificação 1993 Substituto do Sistema de Notificação Compulsória de Doenças (SNCD). Coletar, transmitir e disseminar dados gerados rotineiramente pelo Sistema de Vigilância Epidemiológica das três esferas de governo SIH – SUS – Sistema de registro das internações hospitalares do SUS 1984 Reunir informações de sobre os in- ternamentos hospitalares realizados no país SIA – SUS – Sistema de registro de informações ambulatoriais 1991 Registrar todos os atendimentos, pro- cedimentos, e tratamentos realizados em unidades de saúde no âmbito am- bulatorial. SISVAN – Sistema de Informações e Vigilância de Agravos Nutricio- nais 1990 Estimar condições nutricionais (des- nutrição e obesidade) principalmente em gestantes e em crianças FONTE: O autor (2021) Dentre todos esses sistemas de vigilância, o SISVAN é o principal meio de coleta de dados sobre aspectos relacionados ao estado nutricional dos brasileiros. No próximo tópico iremos entender um pouco melhor como se dá o funcionamento desse sistema. 23 Entendendo A População Brasileira Através De Dados EpidemiológicosEntendendo A População Brasileira Através De Dados Epidemiológicos Capítulo 1 2.2.1 Sistema de informação e vigilância de agravos nutricionais – SISVAN O Brasil é um país de grandezas continentais e apresenta uma numerosa população extremamente heterogênea sob o ponto de vista social e econômico. Rastrear, identificar e controlar os problemas nutricionais sempre foi uma preocupação importante nos governos brasileiros (SOUZA, 2017). O país apresenta uma economia forte e, principalmente nos últimos anos, fez com que o poder aquisitivo da população permitisse um maior poder de compra, porém ainda é assustador o crescente número de brasileiros que passaram, passa e que, possivelmente,virá a passar por algum momento de vulnerabilidade econômica (SOUZA, 2010). Durante a década de 30, alguns fatos que marcaram nossa história foram essenciais para nortear a nutrição no Brasil. O surgimento de pesquisadores, como Josué de Castro, desempenhou papel importante na contextualização do problema da fome brasileira (para conhecer mais sobre a vida de Josué de Castro veja a leitura complementar). Castro foi responsável por realizar um levantamento em Recife no ano de 1933, no qual constatou um déficit importante de calorias e nutricional entre trabalhadores locais. O estudo pioneiro serviu de chamariz para atrair a atenção de outros pesquisadores dando início a uma série de inquéritos por grandes centros urbanos ao redor do país (SOUZA, 2017). A partir dos anos 60, a vigilância alimentar e nutricional começou a ganhar importância nacional e internacional através da realização de eventos como a 21ª Assembleia Mundial de Saúde (1968) e a Conferência Mundial de Alimentos (1974). Durante esse período ficou estabelecido que o estado nutricional da população deveria ser incluído no processo de vigilância epidemiológica (BRASIL, 2004). Com a criação do Instituto Nacional de Alimentação e Nutrição (INAN) em 1972, com objetivo de amparar o governo na concepção da Política Nacional de Alimentação e Nutrição e na criação do I Programa Nacional de Alimentação e Nutrição (PRONAN), o país começava a dimensionar a importância do estado nutricional como a chave de bons índices de saúde populacional (BRASIL, 2004). Tentando suprir a necessidade de conhecer melhor o perfil nutricional da nossa população, nasceu o Sistema de informação e vigilância de agravos nutricionais (SISVAN). Um equipamento do governo na forma de sistema de informação em saúde caracterizado por Camilo et al (2011) como: 24 Diagnóstico Nutricional Corresponde a um sistema de coleta, processamento e análise contínua dos dados de uma população, possibilitando diagnóstico atualizado da situação nutricional, suas tendências temporais e também os fatores de sua determinação. Contribui para que se conheçam a natureza e a magnitude dos problemas de nutrição, caracterizando grupos sociais de risco e dando subsídios para a formulação de políticas e estabelecimento de programas e intervenções (CAMILO et al., 2011, p. 225). Muitos são os desafios que o SISVAN precisa enfrentar, entretanto é importante destacar o papel essencial que ele proporciona no entendimento do estado nutricional da população brasileira para o governo, nutricionistas e outros profissionais. Para saber mais sobre o SISVAN e ter acesso aos relatórios gerados pelo sistema acesse: https://sisaps.saude.gov.br/sisvan/ Biografia de Josué de Castro Josué Apolônio de Castro nasceu no Recife, em 5 de setembro de 1908, na casa número 1 da rua Joaquim Nabuco. Viveu no Recife e estudou medicina na Bahia, graduando-se no Rio de Janeiro em 1929. Formado, retorna ao Recife para trabalhar na Secretaria de Educação do Estado de Pernambuco, a convite de Olívio Montenegro, Sílvio Rebelo, Gilberto Freire e outros do grupo de José Maria Belo que iria ser Governador. A Revolução de 1930 impediu 25 Entendendo A População Brasileira Através De Dados EpidemiológicosEntendendo A População Brasileira Através De Dados Epidemiológicos Capítulo 1 que Josué conquistasse um emprego na Secretaria de Educação e mudou sua sorte. Começou a clinicar no Recife e também a trabalhar como médico em uma grande fábrica, quando realiza, em 1932, um Inquérito Sobre as Condições de Vida das Classes Operárias no Recife. Em 1934, Josué de Castro casa-se com Glauce Rego Pinto, companheira de toda vida, cúmplice, parceira e guardiã de seus escritos. O casal teve três filhos: Josué Fernando de Castro, Anna Maria de Castro e Sonia de Castro Duval. Aos 28 anos, já residindo no Rio de Janeiro, prestou concurso para o cargo de Professor Titular em Geografia Humana da Faculdade Nacional de Filosofia da Universidade do Brasil. Seu primeiro trabalho publicado como professor foi a tese para o concurso de Professor Titular em Geografia Humana – Fatores da localização da Cidade do Recife. Radicado no Rio de Janeiro, clinicando, lecionando e estudando, Josué de Castro passa a ter atuação destacada em políticas públicas: nos movimentos em prol do estabelecimento do salário mínimo (que passa a vigorar por decreto-lei de Getúlio Vargas em 1940); na fundação dos Arquivos Brasileiros de Nutrição, editados sob a responsabilidade do Serviço Técnico da Alimentação Nacional e da Nutrition Foundation de New York em 1941; na fundação da Sociedade Brasileira de Alimentação em 1940, constituída de futuros dirigentes do Serviço de Alimentação da Previdência Social – SAPS, criado em agosto do mesmo ano por iniciativa do Ministério do Trabalho Indústria e Comércio. Em 1942 é convidado oficial do governo da Argentina para estudar problemas de alimentação e nutrição, o que viria a acontecer igualmente com outros países, como os Estados Unidos em 1943, México e República Dominicana, em 1945. Em 1943, Josué de Castro torna-se professor catedrático da cadeira de Nutrição do curso de Sanitaristas do Departamento Nacional de Saúde. É também designado diretor do Serviço Técnico de Alimentação Nacional (STAN), para nele desenvolver a área de tecnologia alimentar. Em 1945, o STAN é substituído pela Comissão Nacional de Alimentação (CNA), que Josué de Castro passa a dirigir até 1954. A década de 1950 reservaria muitas atividades públicas na vida de Josué de Castro. Foi deputado federal por Pernambuco em duas 26 Diagnóstico Nutricional legislaturas, 1955 e 1959. Em 1952, foi eleito Presidente do Conselho Executivo da FAO, Organismo das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação. Reeleito por unanimidade pelos delegados dos países que formam o Conselho das Nações Unidas, permanece no cargo até o final de 1956. No exercício da Presidência do Conselho da FAO, impulsionado pelo sucesso de seus livros (Geografia da Fome havia sido publicado em 1946) e pelo prestígio do Órgão, além da aceitação de suas posições científicas, Josué de Castro empreende uma série de trabalhos no combate à fome no mundo, sempre buscando unir os conhecimentos científicos e a ação. Ao deixar a FAO, em 1957, Josué de Castro fundou a Associação Mundial de Luta Contra Fome - ASCOFAM, visando despertar a consciência do Mundo para o problema da fome e da miséria, além de promover projetos demonstrativos de que a fome pode ser vencida e abolida pela vontade dos homens. Ao tempo em que era presidente da FAO (Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação), Josué de Castro se aproximou do mundo do cinema e seus escritos suscitaram interesse de cineastas do neo-realismo italiano, como Roberto Rosseline e Cesare Zavattini, ambos envolvidos em projetos de realizar filmes baseados em Geografia da Fome e Geopolítica da Fome. Desses projetos, realizou-se apenas o segmento brasileiro do projeto de Zavattini, que resultou no filme “O Drama das Secas”, filme de Rodolfo Nanni de 1958. Josué de Castro foi indicado por três vezes para o prêmio Nobel: em 1954, concorreu para o Nobel de Medicina, e nos anos de 1963 e 1970, ao Nobel da Paz. Em 1962, Josué de Castro era embaixador do Brasil na ONU – Organização das Nações Unidas. Em 1964, com o golpe militar, foi destituído do cargo de embaixador-chefe em Genebra e logo depois, em 9 de abril, tem seus direitos políticos cassados por 10 anos. Impedido de voltar ao país, escolheu a França para viver, morando em Paris de 1964 a 1973. Continuou nesse país suas atividades intelectuais. Fundou, em 1965, e dirigiu até 1973 o Centro Internacional para o Desenvolvimento, além de Presidente da Associação Médica Internacional para o Estudo das Condições de Vida e Saúde. Depois de um ano de docência, em 1969, o governo francês o designa professor estrangeiro associado ao CentroUniversitário Experimental de Vincennes (Universidade de Paris VIII), onde trabalhou até sua morte. 27 Entendendo A População Brasileira Através De Dados EpidemiológicosEntendendo A População Brasileira Através De Dados Epidemiológicos Capítulo 1 No exílio, sentiu agudamente a falta do Brasil, a ponto de declarar que “não se morre apenas de enfarte ou de glomerulonefrite crônica, mas também de saudade”. Faleceu em Paris, em 24 de setembro de 1973, quando esperava o passaporte que o traria de volta ao Brasil. O passaporte chegou, porém já era tarde. Seu corpo foi enterrado no cemitério São João Batista no Rio de Janeiro. Fonte: http://www.josuedecastro.org.br/jc/jc.html 2.2.2 Segurança alimentar Uma baixa oferta de alimentos, má qualidade na alimentação e estilo de vida podem ser a principal causa de uma grande parcela da população sofrer com questões nutricionais, podendo levar a um comprometimento na qualidade de vida desses brasileiros. Na Cúpula Mundial da Alimentação, realizada em 1996, na cidade de Roma – o Brasil, ao lado de centenas de países, firmou um compromisso de reduzir a situação de fome pela metade até 2015. Nesse sentido, foi criada a Lei Orgânica da Segurança Alimentar e Nutricional – Lei nº 11.346, de 15 de setembro de 2006 – LOSAN (BRASIL, 2006), bem como em 2010, estabelecida a regulamentação da LOSAN e a edificação da Política Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional – PNSAN –, por meio do Decreto nº 7.272, de 25.08.2010, onde foi incluída a alimentação aos direitos sociais previstos na Constituição Federal, por meio da Emenda Constitucional nº 64, de 04.02.2010 (PONTES et al., 2018). Seguindo os preceitos da LOSAN, foi criada Escala Brasileira de Insegurança Alimentar (Ebia), uma ferramenta que avalia em escala psicométrica a partir da experiência sobre a insegurança alimentar vivida por um indivíduo. A escala também avalia a dificuldade em ter acesso aos alimentos e a dimensão psicossocial da insegurança alimentar vivenciada pela família, e através desses dados é possível gerir políticas públicas direcionadas aos grupos vulneráveis (PONTES et al., 2018). O Quadro 3 a seguir mostra os possíveis graus de segurança/insegurança alimentar de acordo com IBGE (2014). 28 Diagnóstico Nutricional QUADRO 3 – DESCRIÇÃO DOS GRAUS DE SEGURANÇA ALIMENTAR Situação de segurança alimentar Descrição Segurança alimentar A família/domicílio tem acesso regular e permanente a alimen- tos de qualidade, em quantidade suficiente, sem comprometer o acesso a outras necessidades essenciais. Insegurança alimentar leve Preocupação ou incerteza quanto acesso aos alimentos no futuro; qualidade inadequada dos alimentos resultantes de estratégias que visam não comprometer a quantidade de alimentos. Insegurança alimentar moderada Redução quantitativa de alimentos entre os adultos e/ou ruptu- ra nos padrões de alimentação resultante da falta de alimentos entre os adultos. Insegurança alimentar grave Redução quantitativa de alimentos entre as crianças e/ou rup- tura nos padrões de alimentação resultante da falta de alimen- tos entre as crianças; fome (quando alguém fica o dia inteiro sem comer por falta de dinheiro para comprar alimentos). FONTE: Adaptado de IBGE (2014) Nas últimas décadas, os esforços do Brasil em reduzir a fome e a miséria resultaram em uma sensível melhora na segurança alimentar e nutricional de milhares de brasileiros. Conforme pode ser observada na Figura 7 houve uma redução no número de pessoas que estavam em situação de insegurança alimentar (PONTES et al., 2018). FIGURA 7 – CLASSIFICAÇÃO PORCENTUAL DAS PESSOAS, CONFORME AS CATEGORIAS DA SITUAÇÃO DE SEGURANÇA ALIMENTAR NO BRASIL PARA OS ANOS DE 2004, 2009 E 2013 FONTE: Adaptado de Pontes et al. (2018) 29 Entendendo A População Brasileira Através De Dados EpidemiológicosEntendendo A População Brasileira Através De Dados Epidemiológicos Capítulo 1 Porém, com a chegada da pandemia de Covid-19, o problema da fome no Brasil voltou à luz novamente ao aumentar as desigualdades e diminuir a oferta de alimentos para os estratos mais pobres da sociedade. Faça a leitura complementar a seguir para entender melhor o panorama brasileiro durante a pandemia. FOME E PANDEMIA DE COVID-19 NO BRASIL TESSITURAS | Revista de Antropologia e Arqueologia | ISSN 2318-9576 Programa de Pós-Graduação em Antropologia | UFPEL V8 | S1 | JAN-JUN 2020 Pelotas | RS Maria do Carmo Soares de Freitas (Professora da Escola de Nutrição – Universidade Federal da Bahia) Paulo Gilvane Lopes Pena (Professor da Faculdade de Medicina – Universidade Federal da Bahia) RESUMO Esse breve ensaio, objetiva refletir sobre as relações entre fome e a pandemia de Covid-19. A fome atinge milhões de pessoas no Brasil e no mundo, por viverem em precárias condições de alimentar- se dignamente. De início, conceitua-se fome enquanto uma manifestação biossocial decorrente da insuficiência alimentar que ocorre cotidianamente e de modo permanente. A partir da literatura apresenta-se a pandemia de Covid-19, os principais impactos na população que vivencia fome e alguns aspectos subjetivos da conexão entre esses dois fenômenos. O contexto político e social contribui para desvelar a magnitude deste problema e considera-se que a pandemia em curso tem profunda relação com o agravamento da fome. Esses fenômenos juntos, formam uma grande tragédia humanitária. PALAVRAS CHAVES: Fome, Pandemia de Covid-19, Fome no Brasil. A experiência de fome está relacionada ao sintoma de viver a realidade com o alimento provisório, insuficiente, de modo intermitente ou crônico, em uma vivência de sofrimento angustiante e agônico, não raramente fatal (FREITAS, 2003). 30 Diagnóstico Nutricional No contexto brasileiro, a fome pode ser expressa com subjetividades para além da dimensão clínico-patológica ou sensações físicas pela carência de comida. A recorrência a outros sentidos, nos leva a uma leitura mais profunda possível que circunscreve diversos significados socioculturais, como uma externalidade que se assemelha à peste e a sensação de morte (Idem). O faminto conhece e reproduz o que sente em si e em seus pares. Para uma compreensão da fome é necessário reconhecer os sentidos que transcendem a semiologia clínica e interfere de modo cruel nos sonhos de estar no mundo da vida. Fome coabita com o sentido agônico; vive-se com medo e cujo sentido associa- se a outros, compondo uma intersubjetividade representacional da condição faminta em cada contexto. Os modos de percepção da fome, dependem, também, da natureza da pessoa, uns são magros e outros gordos, porém, contraditoriamente famintos (Idem). Estes signos além de outros significados socioculturais, são efeitos dos sentidos, linguagens semióticas, sensações sustentadas por símbolos fatalmente suscitados pela insegurança concreta de viver. Obesidade na pobreza, nesses últimos 20 anos, representa uma insuficiência nutricional motivada pelo acesso a alimentos de péssima qualidade, processados e baratos, ricos em carboidratos simples, a exemplo do aumento de consumo de refrigerantes e massas semiprontas (BRASIL, 2017). Nas camadas populares, sobretudo na América Latina, desenvolveu-se uma espécie de fome-obesa, distinto dos transtornos alimentares que podem ocorrer nas classes sociais mais abastadas (AGUIRRE, 2004). Com isso, surgem outras patologias inerentes ao sobrepeso, como as enfermidades cardiovasculares e diabetes, principalmente. Dessa fragilidade, entende-se que estas pessoas apresentam, clinicamente, mais dificuldades de recuperação quando expostos à contaminação viral e bacteriana. Assim, a fome se conecta mais facilmente ao Covid-19, e a noção de contágio poderá ser investigada como um constructo de outras acepções para expressar efeitos mais graves. Esse pertencimento possibilita a origem de representaçõesem cada tempo e contexto específico. Sinteticamente, os famintos representam grupos de risco para a pandemia do Covid-19 configurando-se uma tragédia humana ainda maior. 31 Entendendo A População Brasileira Através De Dados EpidemiológicosEntendendo A População Brasileira Através De Dados Epidemiológicos Capítulo 1 No atual contexto histórico, com um crescimento acelerado da pobreza, consequentemente, há uma magnitude da insegurança alimentar, aqui nominada fome. Antes de mencionar minimamente sobre a economia, e a conexão entre fome e pandemia de Covid-19, vale recordar a noção sobre o termo segurança alimentar e nutricional, o qual não significa apenas disponibilidade do alimento do mercado, mas a permanência de acesso. A inconstância do alimento para o indivíduo, produz incerteza ou insegurança de viver e medo da fome, cuja realidade está associada inevitavelmente à outras faltas sociais. Resumidamente, entende -se que a posição que o indivíduo ocupa no processo produtivo determina sua condição alimentar. Então, a fome é uma questão política em qualquer que seja a sociedade, como afirmava Josué de Castro em substancial produção científica que o tornou uma referência internacional (CASTRO, 1965). No Brasil, a fome como um tema político, é produto histórico da desigualdade social e econômica como: falta de terra para garantir a sobrevivência; falta de saneamento básico, pois a vida sobre esgotos abertos propicia sinergismo entre parasitas e estado nutricional provocando desnutrição crônica principalmente em menores de cinco anos, uma vez que estão em pleno desenvolvimento; renda insuficiente; desemprego e subemprego entre outros problemas sociais. O desemprego é como uma sombra que cobre o caminho, e resulta no medo de ser invadido pela fome e a morte. Esses determinantes do tecido macro social são relacionais ao mundo individual e coletivo, que nas camadas sociais mais pobres, podem mostrar circunscrições significativas de insegurança alimentar ou fome. Em outros termos, a fome é produto da indiferença política e social, com profundas marcas nas histórias pessoais cujos traumas implicam em memórias vivas de existir em permanente sofrimento. No passado recente, o Brasil deixou de ser citado no mapa da fome mundial, pois, de fato, houve uma melhoria concreta das condições de vida da população. Mas, nos últimos quatro anos há maior empobrecimento e conforme análise da Fundação Getúlio Vargas, a partir do segundo semestre de 2019, houve aumento da concentração de renda, excedendo o observado em 1989. Os dados mostram que os mais pobres tiveram uma redução de 17% do poder de compra, enquanto que 1% dos mais ricos teve aumento de 10% da renda (FGV, 2019). 32 Diagnóstico Nutricional Neste contexto, emerge em dezembro de 2019, na China, uma epidemia desencadeada pelo coronavírus SARS-CoV-2, responsável pela doença denominada Covid-19. A OMS reconheceu a condição de pandemia em fevereiro de 2020 e declarou Situação de Emergência em Saúde Pública no mundo (cerca de 4 milhões de casos confirmados e aproximadamente 290 mil óbitos em 13 de maio do corrente ano) (WHO, 2020), e no Brasil (177.589 casos confirmados e 12.400 óbitos) (MS, 2020). Trata-se, pois, de um desastre global e um dos maiores eventos históricos dos últimos cem anos, que atinge todos os setores indistintamente. Sem medidas eficazes como a vacina ou um tratamento medicamentoso específico, há uma alta capacidade de contágio, consequente rapidez na expansão global e elevada letalidade. Com isso, as estratégias de prevenção e controle se concentram, principalmente, no resgate de medidas tradicionais e seculares da saúde pública como: quarentena, barreiras sanitárias, isolamento/ confinamento e distanciamento social, somadas às medidas higiênicas, dentre outras (WHO, 2020). Até a presente data, metade da população mundial encontra- se em confinamento ou quarentena. As consequências sociais são imediatas, resultando no aumento drástico do desemprego pela redução das atividades econômicas atingindo, sobretudo, as populações desprovidas de condições de sobrevivência durante este período de pandemia. Entretanto, tais orientações estabelecidas pela própria OMS, necessitam de ação rápida dos governos para assegurar renda e dignidade às pessoas vulneráveis. Em condições de extrema vulnerabilidade encontram-se os famintos (sendo os negros os mais atingidos). Como exemplo das precárias condições de vida, antes desta pandemia, uma das opções para enfrentar o desemprego e a fome nos centros urbanos tem sido a economia informal com o pequeno comércio de alimentos e outros objetos de uso cotidiano. Muitos, inevitavelmente, são vítimas da violência policial e do crime organizado. O imenso comércio da economia informal nas ruas dos grandes centros urbanos do país se assemelha a uma grande feira com a circulação de mercadorias de baixo custo que se espalham e se concentram nos bairros mais pobres. Junta-se a esse comércio uma nova fonte de renda com aplicativos de empresas cujos trabalhadores não tem qualquer proteção social. 33 Entendendo A População Brasileira Através De Dados EpidemiológicosEntendendo A População Brasileira Através De Dados Epidemiológicos Capítulo 1 São essas pessoas fragilizadas e em situações de risco de fome, sem remuneração permanente, subempregados, pequenos agricultores, grupos étnicos empobrecidos (quilombolas, indígenas) que deveriam estar recebendo melhores e mais amplos benefícios sociais, tais como: bolsa família, restaurantes populares, alimentação escolar no contexto do direito à segurança alimentar e nutricional. Nesse momento de quarentena, necessitam desses benefícios concomitantemente à ajuda emergencial para resistirem à pandemia de Covid-19. São essas pessoas as que se aglomeram nas filas dos bancos estatais para receberem os recursos do governo federal. Condicionados pela vulnerabilidade econômica estrutural do país, cerca de milhões de brasileiros buscam uma parcela referente à metade do salário mínimo nacional para comprar suprimentos e sobreviver à fome e à quarentena. São muitos dias de aglomeração em enormes filas nos centros urbanos do país. As pessoas usam máscaras seguindo recomendações das autoridades sanitárias locais, mas não conseguem manter o distanciamento social. Sobre isto, ficam confusas, pois outras autoridades governamentais discursam a favor da quebra de isolamento social e concentram os benefícios emergenciais aglutinando pessoas, como se esse recurso fosse um favor à população carente e não um direito social. Em este mês de maio de 2020, com mais de 12 mil mortes por Covid-19, no país, autoridades do governo federal, insistentemente discursam contra a quarentena e o distanciamento social suscitando à população o retorno ao trabalho. As pessoas no emaranhado de informações parecem perdidas e muitas se deixam convencer por essa concepção negacionista (The LANCET, 2020). Com isso, há uma ruptura do cuidado para evitar o contágio dessa população tão vulnerável à fome e ao Covid-19, situação que contraria os direitos humanos. Mesmo com os recursos das ciências e da tecnologia deste século XXI, há aglomerados nas filas do benefício emergencial onde o vírus pode se difundir mais rapidamente, configurando-se um ciclo perverso de fome e pandemia que se caracteriza como uma das modalidades de indiferença política que marcará este fenômeno no Brasil. CONSIDERAÇÕES FINAIS A pandemia do COVID-19 tem profunda relação com o agravamento da fome no Brasil e no mundo. Esses fenômenos juntos, formam uma grande tragédia humanitária. 34 Diagnóstico Nutricional As ações como quarentena e confinamento social para salvar vidas devem se sobrepor aos interesses do grande capital que objetiva privilegiar a economia. Esse último propósito pode elevar, assustadoramente, o número de óbitos, promover a expansão descontroladada pandemia e o colapso total dos serviços de saúde no país. Ao conceber como fundamento os princípios do direito à vida seguindo orientações das ciências da saúde, econômicas, sociais e da OMS, deve-se essencialmente proteger vidas controlando, simultaneamente, a pandemia e os efeitos perversos aos famintos, por meio sustentável com a garantia de renda cidadã para todas as populações vulneráveis. BIBLIOGRAFIA AGUIRRE, P. Ricos flacos y gordos pobres. La alimentacion en crisis, Claves para Todos. Colección dirigida por José Nun. Editorial Capital Intelectual. Buenos Aires, 2004. BRASIL, MS; brasil.gov.br/saúde/2017/04/obesidade- cresce-60-em-dez-anos-no--brasil. Acessado 4/4/2018. CASTRO, J. Geopolítica da fome. São Paulo: Brasiliense, 1965. FGV – Fundação Getúlio Vargas, CPS, A escalada da desigualdade, novembro de 2019 cps.fgv.br/ desigualdade, acessado em 13 de maio de 2020 FREITAS, MCS. Agonia da fome. Salvador, FIOCRUZ/EDUFBA; 2003. The LANCET – COVID-19: “So what?” Editorial, The Lancet, vol. 395, May 2020. Disponível em www. thelancet.com Acessado em 13 de maio de 2013. MS, Ministério da Saúde, covid.saúde.gov. br acessado em 13 de maio de 2020 ONU https://nacoesunidas.org/crescimento-da-renda-dos- 20-mais-pobres--ajudou-brasil-a-sair-do-mapa-da-fome-diz- onu/. Publicado em 27/05/2015- Atualizado em 04/05/2017 WHO - World Health Organization who.int/ mergencies/diseases/ novel-coronavirus. 2019 acessado em 13 de maio de 2020. 35 Entendendo A População Brasileira Através De Dados EpidemiológicosEntendendo A População Brasileira Através De Dados Epidemiológicos Capítulo 1 1 Assinale a alternativa que corresponde a um objetivo do SISVAN: a) ( ) Vigilância alimentar e nutricional. b) ( ) Vigilância sanitária. c) ( ) Vigilância alimentar e sanitária. d) ( ) Realizar procedimentos atendimento hospitalar. e) ( ) Nenhuma das alternativas anteriores. 2 Marque a alternativa correspondente ao modelo de processo saúde/doença que possui as seguintes características: a doença é resultante de diversos fatos interrelacionados. a) ( ) Modelo unicausal. b) ( ) Modelo ecológico. c) ( ) Modelo de rede de causalidade. d) ( ) Modelo de história natural da doença. e) ( ) Nenhuma das alternativas anteriores. 3 Descreva como o avanço da epidemiologia no Brasil ajudou a aumentar a vacinação contra doenças infecciosas. 3 ASPECTOS SOCIAIS, ECONÔMICOS E DEMOGRÁFICOS O Brasil, hoje, é o maior país da América Latina, e quinto maior do mundo, com uma extensão de cerca de 8 milhões de km², apresentando uma população estimada de 210 milhões de habitantes espalhada em cinco regiões, 26 estados e mais de 5 mil cidades, além de uma economia com PIB aproximado de 3 trilhões de dólares (BRASIL, 2020). A fim de melhor entendermos nosso país, esse tópico será dividido em aspectos demográficos, sociais e econômicos. 3.1 ASPECTOS DEMOGRÁFICOS Com uma população estimada em mais de 210 milhões de habitantes, o Brasil ocupa a quinta posição no ranking de países mais populosos do mundo, atrás de países como China, Índia, Estados Unidos e Indonésia. A chegada dos 36 Diagnóstico Nutricional portugueses em solo brasileiro no século XV trouxe não só desenvolvimento para a futura nação, mas também uma mistura de povos, credos e culturas que nos é característica marcante mundo a fora (BRASIL, 2020). A partir do seu descobrimento, com a exploração de recursos naturais pela coroa portuguesa, o país foi aumentando consideravelmente o número de habitantes. Primeiramente, os índios que aqui já habitavam o território nacional, foram utilizados como mão de obra até a intervenção da igreja. Com uma necessidade cada vez maior na exploração dos recursos, ressalta-se a vinda de escravos africanos como uma nova fonte de mão de obra trabalhadora nesse período. Já com o fim da escravidão e como refúgio da segunda grande guerra, muitos europeus vieram refugiados ao país, concentrando-se na região sul brasileira (BRASIL, 2020). Da década de 30 adiante o país começou a sofrer forte industrialização e grandes centros urbanos surgiram, sobretudo na região sudeste. O governo de Juscelino Kubitschek foi o responsável por tentar levar o crescimento econômico, social e urbanização às regiões mais afastadas. Através da criação do plano “cinquenta em cinco”, JK tinha objetivo de alinhar a economia brasileira à americana, chegando a fazer diversos empréstimos para tal finalidade. Fato marcante foi a mudança e criação de uma nova capital para a república, Brasília (FERRO, 2013). Nas décadas seguintes o avanço da medicina e a expansão da indústria brasileira possibilitaram não só o ingresso da mulher no mercado de trabalho bem como o uso de novos métodos contraceptivos, como a pílula anticoncepcional. Essa característica refletiu diretamente sobre as taxas de fecundidade e natalidade, diminuindo o crescimento populacional (FERRO, 2013). Apesar da enorme população brasileira, o país é considerado pouco povoado (cerca de 24 habitantes/km²), por conta de sua imensa extensão territorial. O que demonstra a grande concentração populacional em regiões específicas como o a região sudeste, por exemplo, a capital do estado de São Paulo apresenta população aproximada de 12 milhões de habitantes, nos dando um número de 8 mil habitantes por metro quadrado (BRASIL, 2020). Observe a Figura 7, que demonstra a distribuição demográfica de acordo com os estados brasileiros, e veja como é maior a concentração de pessoas na região centro-sul do Brasil. 37 Entendendo A População Brasileira Através De Dados EpidemiológicosEntendendo A População Brasileira Através De Dados Epidemiológicos Capítulo 1 FIGURA 7 – MAPA DE DENSIDADE DEMOGRÁFICA DOS ESTADOS BRASILEIROS FONTE: Toda matéria (2020) 3.2 TRANSIÇÃO DEMOGRÁFICA A expectativa de vida ao nascer é uma estimativa em anos da longevidade que um habitante pode atingir em determinada época e em determinado país. Diversas condições influenciam o aumento ou diminuição do número de anos esperados de vida, tais como: aumento/diminuição da criminalidade, acesso ou não à saúde, desenvolvimento, escolaridade, entre outros (BRASIL, 2016). O Brasil, assim como outros países em desenvolvimento, vem aumentando a expectativa de vida ao nascer ao longo de sua história, refletindo diretamente no perfil etário da população. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, conforme pode ser visto na Tabela 1; na década de 1940 o brasileiro tinha uma expectativa de vida ao nascer de 45,5 anos, enquanto que em 2019 a estimativa foi de que poderia viver até os 76,6 anos, se nascido no Brasil (BRASIL, 2019). 38 Diagnóstico Nutricional TABELA 1 – COMPARATIVO DA EXPECTATIVA DE VIDA AO NASCER DOS BRASILEIROS ENTRE 1940 E 2019 Expectativas de vida em idades exatas, variação em ano do período e tempo médio de vida- Brasil - 1940/2019 Idade Expectativas de Vida Variação (em anos) 1940/2019 Tempo Mé- dio de Vida - Ambos os Sexos 1940 2019 Total Homem Mulher Total Homem Mulher Total Homem Mulher 1940 2019 0 45,5 42,9 48,3 76,6 73,1 80,1 31,1 30,2 31,8 45,5 76,6 1 52,2 49,7 54,9 76,5 73,0 80,0 24,2 23,3 25,1 53,2 77,5 5 52,5 49,7 55,3 72,6 69,2 76,1 20,2 19,5 20,8 57,5 77,6 10 48,3 45,5 51,1 67,7 64,3 71,2 19,5 18,7 20,1 58,3 77,7 15 43,8 41,1 46,6 62,8 59,4 66,3 19,0 18,3 19,7 58,8 77,8 20 39,6 36,9 42,5 58,1 54,8 61,4 18,5 17,9 18,9 59,6 78,1 25 36,0 33,3 38,8 53,5 50,4 56,5 17,5 17,1 17,8 61,0 78,5 30 32,4 29,7 35,2 48,9 46,0 51,7 16,4 16,2 16,5 62,4 78,9 35 29,0 26,3 31,6 44,3 41,5 46,9 15,3 15,2 15,3 64,0 79,3 40 25,5 23,0 28,0 39,7 37,1 42,2 14,1 14,0 14,2 65,5 79,7 45 22,3 19,9 24,5 35,2 32,7 37,5 12,9 12,8 13,0 67,3 80,2 50 19,1 16,9 21,0 30,8 28,5 33,0 11,8 11,6 12,0 69,1 80,8 55 16,0 14,1 17,7 26,7 24,5 28,6 10,6 10,4 11,0 71,0 81,7 60 13,2 11,6 14,5 22,7 20,7 24,4 9,5 9,1 10,0 73,2 82,7 65 10,6 9,3 11,5 18,9 17,2 20,4 8,4 7,8 8,9 75,6 83,9 708,1 7,2 8,7 15,5 13,9 16,7 7,3 6,7 8,0 78,1 85,5 75 6,0 5,4 6,3 12,4 11,1 13,4 6,4 5,6 7,0 81,0 87,4 80 anos ou + 4,3 4,0 4,5 9,7 8,7 10,5 5,5 4,6 6,0 Fontes: 1940 - Tábuas construídas no âmbito da Gerencia de Estudos e Análises da Dinâmica Demográfica. 2019 - IBGE/Diretoria de Pesquisas. Coordenação de População e Indicadores Sociais. Gerência de Estudos e Análises da Dinâmica Demográfica. Projeção da população do Brasil por sexo e idade para o período 2010-2060. FONTE: IBGE (2019) Segundo projeções das Organizações das Nações Unidas (ONU), no ano de 1970, o Brasil apresentava uma população idosa de aproximadamente 3,1%, já as projeções para o ano de 2050 é que a parcela idosa atinja 19% do total de habitantes, ou seja, estamos envelhecendo cada mais por conta do aumento da expectativa de vida. Observe na Figura 8 abaixo como em 1980 a pirâmide etária brasileira apresentava uma base larga, ou seja, uma população jovem grande; e um topo fino, uma população idosa menor. Já no ano de 2017, os dados mostram uma mudança nesse perfil, base cada vez menor e topo cada vez maior. Seguindo 39 Entendendo A População Brasileira Através De Dados EpidemiológicosEntendendo A População Brasileira Através De Dados Epidemiológicos Capítulo 1 as projeções para o ano de 2060, a população brasileira terá uma parcela da população idosa ainda maior quando comparada às décadas anteriores. Esse fenômeno é conhecido como transição demográfica (BRASIL, 2017). FIGURA 8 – HISTÓRICO E PROJEÇÃO DA PIRÂMIDE ETÁRIA DO BRASIL FONTE: IBGE (2017) 3.3 ASPECTOS SOCIAIS Em um país de grandezas continentais, são grandes os desafios enfrentados pela sociedade brasileira. São comuns os problemas nas áreas da educação, saúde, mercado de trabalho e segurança. O Programa das Nações Unidas para Desenvolvimento (PNUD), da Organização das Nações Unidas, é o responsável por estimar o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), uma medida comparativa que serve como base para classificar os países em desenvolvidos (IDH muito alto), em desenvolvimento (IDH médio e alto) e subdesenvolvido (IDH baixo) (MACHADO; PAMPLONA, 2008). Aspectos sociais e econômicos são avaliados a partir de uma estatística feita após análise das taxas de expectativa de vida ao nascer (qualidade de vida), escolaridade (anos médios de estudo e acesso), produto interno bruto (PIB) (renda per capita) (MACHADO; PAMPLONA, 2008). Em 2020, apesar de uma pequena melhora, o Brasil desceu cinco posições no ranking mundial do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), passando de 79º para o 84º lugar entre 189 países. O IDH brasileiro foi de 0,762, em 2018, para 0,765, em 2019. Na Figura 9 é possível ver a evolução do IDH brasileiro ao longo dos anos. 40 Diagnóstico Nutricional FIGURA 9 – EVOLUÇÃO DO IDH BRASILEIRO ATÉ 2019 FONTE: G1 (2020) De acordo com o PNUD o ranking do IDH é liderado pela Noruega (0,957), seguido por Suíça (0,955) e Irlanda (0,955). Nas últimas posições aparecem: Níger (0,394), República Centro-Africana (0,397) e Chade (0,398) (OMS, 2020). Considerando os 12 países da América Latina, o Brasil perdeu duas posições, ficando na sexta posição. Na região, o Brasil aparece logo atrás do Chile (0,851), Argentina (0,845), Uruguai (0,817), Peru (0,777) e Colômbia (0,767). Observa na Figura 10 o ranking dos países latinos conforme seu IDH (OMS,2020). 41 Entendendo A População Brasileira Através De Dados EpidemiológicosEntendendo A População Brasileira Através De Dados Epidemiológicos Capítulo 1 FIGURA 10 – IDH DOS PAÍSES DA AMÉRICA LATINA EM 2020 FONTE: G1 (2020) Um aspecto importante sobre a qualidade da educação de um país é o percentual de pessoas alfabetizadas. No Brasil, de acordo com os resultados obtidos pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua) 2019, a taxa de analfabetismo de pessoas de 15 anos ou mais de idade foi de 6,6%, aproximadamente 11 milhões de brasileiros analfabetos (BRASIL, 2019). 42 Diagnóstico Nutricional Quando comparado com o ano de 2018 (taxa de 6,8%) houve uma redução de 0,2 pontos percentuais no número de analfabetos brasileiros, correspondendo a uma redução de um pouco mais de 200 mil pessoas em 2019. Dentre todas as regiões brasileiras a Região Nordeste lidera o a lista com a maior taxa de analfabetismo com 13,9% da população analfabeta, quatro vezes mais do que as taxas das Regiões Sudeste e Sul (ambas com 3,3%). Completando a lista temos a Região Norte com 7,6% e a Centro-Oeste apresentando 4,9% da população sem saber ler e escrever, conforme pode se observar na Figura 11 (BRASIL, 2019). FIGURA 11 – TAXA DE ANALFABETISMO NO BRASIL NO ANO DE 2019 FONTE: IBGE (2019) Quando olhamos os dados sobres as taxas de analfabetismo podemos observar que os homens apresentam uma taxa levemente maior quando comparada às mulheres, sendo respectivamente de 6,9% e 6,3%. Entre as raças presentes na população brasileira as pessoas pretas ou pardas (8,9%), apresentam mais que o dobro de pessoas analfabetas quando comparadas à taxa de analfabetismo vista entre as pessoas brancas (3,6%) (BRASIL, 2019). Ainda olhando para os dados de 2019, o Brasil mostrou leve melhora no número de pessoas de 25 anos ou mais de idade que concluíram a educação 43 Entendendo A População Brasileira Através De Dados EpidemiológicosEntendendo A População Brasileira Através De Dados Epidemiológicos Capítulo 1 básica obrigatória (no mínimo, o ensino médio) saindo de 47,4%, em 2018, para 48,8%, em 2019. Já levando em consideração a distribuição da população brasileira, com 25 anos ou mais, nos outros níveis de instrução, observa-se (Figura 12) que 46,6% da população aparece nos níveis de instrução até o ensino fundamental completo ou equivalente, cerca de 27,4% possui o ensino médio completo ou equivalente; e 17,4% compreende a parcela com o superior completo (BRASIL, 2019). FIGURA 12 – ESCOLARIDADE DA POPULAÇÃO BRASILEIRA EM 2019 FONTE: IBGE (2019) Segundo o IBGE (2019, s.p.), desemprego é “de forma simplificada, se refere às pessoas com idade para trabalhar (acima de 14 anos) que não estão trabalhando, mas estão disponíveis e tentam encontrar trabalho. Assim, para alguém ser considerado desempregado, não basta não possuir um emprego”. O Brasil utiliza dados da PNAD para estabelecer o número de brasileiros que não possuem ocupação. A Figura 13 abaixo mostra o fluxograma feito para estabelecer tal taxa. 44 Diagnóstico Nutricional FIGURA 13 – FLUXOGRAMA PARA CLASSIFICAÇÃO POR OCUPAÇÃO FONTE: IBGE (2020) Em 2020, segundo dados da PNAD, no terceiro trimestre foi observada uma taxa de desemprego de 13,1%, totalizando cerca de 14,1 milhões de brasileiros sem trabalho. Conforme pode se observar na Figura 14, o Nordeste brasileiro é a região com a maior taxa de desocupados enquanto o Sul apresenta a menor taxa, respectivamente (BRASIL, 2020). FIGURA 14 – TAXA DE DESOCUPADOS ENTRE AS REGIÕES BRASILEIRAS NO 3º TRIMESTRE DE 2020 FONTE: Adaptado de IBGE (2020) 45 Entendendo A População Brasileira Através De Dados EpidemiológicosEntendendo A População Brasileira Através De Dados Epidemiológicos Capítulo 1 Além das particularidades sobre desenvolvimento humano e desemprego, o Brasil ainda enfrenta grandes problemas no âmbito da saúde. O acesso aos serviços de saúde de qualidade a toda população brasileira é uma missão importante de cada governo. Números do IBGE de 2019 demonstram que sete a cada dez brasileiros, mais de 150 milhões de pessoas, dependem exclusivamente do Sistema Único de Saúde (SUS) para realizar seus atendimentos médicos (BRASIL, 2020). A parcela da população que possui algum tipo de plano de saúde, médico e/ou odontológico, corresponde 28,5%. A Figura 15 mostra a distribuição, por região, dos brasileiros que possuem algum plano de saúde. FIGURA 15 – DISTRIBUIÇÃO DE BRASILEIROS QUE POSSUEMALGUM PLANO DE SAÚDE, POR REGIÃO FONTE: Adaptado de Tarja (2020) Vejamos então que a população brasileira se encontra, em sua grande maioria, dependente exclusivamente dos serviços de saúde públicos. Reafirmando a grande importância do fortalecimento do SUS e todos os serviços assistências brasileiros (BRASIL, 2020). Alguns outros fatores não podem ser ignorados como os altos índices de violência e criminalidade, falta de acesso ao saneamento básico e moradia. Como exemplo, veja na Figura 16, o impressionante número de pessoas que possuem acesso a rede de esgoto e banheiro exclusivo em seus domicílios na região Norte (BRASIL, 2020). 46 Diagnóstico Nutricional FIGURA 16 – PROPORÇÃO DE DOMICÍLIOS COM REDE DE ESGOTO E BANHEIRO EXCLUSIVO, POR REGIÃO FONTE: Adaptado de Tarja (2020) 3.4 ASPECTOS ECONÔMICOS Baseada, principalmente, na agricultura, a economia brasileira é composta pelos setores primário, secundário e terciário. O Brasil é um dos maiores produtores e exportadores de soja, cana de açúcar, frango e suco de laranja do mundo. Após grande avanço no século XX, a indústria também desempenha papel importante na economia brasileira, sendo os maiores destaques a produção automotiva, aeronáutica e a extração de petróleo e minério de ferro. As regiões brasileiras apresentam características distintas no que tange a economia conforme podem ser vistas no Quadro 4. 47 Entendendo A População Brasileira Através De Dados EpidemiológicosEntendendo A População Brasileira Através De Dados Epidemiológicos Capítulo 1 QUADRO 4 – CARACTERÍSTICAS REGIONAIS DA ECONOMIA BRASILEIRA Região Características principais Norte Extração vegetal (madeira, látex, açaí e casta- nha) e mineral (ferro, cobre e ouro). Nordeste Turismo, indústrias, agronegócio (cana-de-açú- car) e extração de petróleo. Sul Setor de serviços, indústria (alimentícia, têxtil e siderurgia) e agronegócio. Sudeste Maior concentração de indústrias do país (mon- tadoras e siderúrgicas). Serviços e comércio. Centro-oeste Agronegócio (soja, milho e carne bovina) e indústrias. FONTE: O autor (2021) O país apresentou PIB de R$ 7,4 trilhões no ano de 2019. Veja na Quadro 5 abaixo os valores do PIB por estado e observe os estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, todos estados da região Sudeste, lideram o ranking (BRASIL, 2020). QUADRO 5 – PIB DAS UNIDADES DA FEDERAÇÃO BRASILEIRAS Unidades da Federação PIB em 2018 (1.000.000 R$) Acre 15.331 Alagoas 54.413 Amapá 16.795 Amazonas 100.109 Bahia 286.240 Ceará 155.904 Distrito Federal 254.817 Espírito Santo 137.020 Goiás 195.682 Maranhão 98.179 Mato Grosso 137.443 Mato Grosso do Sul 106.969 Minas Gerais 614.876 Paraná 440.029 Paraíba 64.374 Pará 161.350 Pernambuco 186.352 Piauí 50.378 Rio de Janeiro 758.859 Rio Grande do Norte 66.970 Rio Grande do Sul 457.294 Rondônia 44.914 48 Diagnóstico Nutricional Roraima 13.370 Santa Catarina 298.227 Sergipe 42.018 São Paulo 2.210.562 Tocantins 35.666 FONTE: IBGE (2020) O PIB mede apenas os bens e serviços finais para evitar dupla contagem. Se um país produz R$ 100 de trigo, R$ 200 de farinha de trigo e R$ 300 de pão, por exemplo, seu PIB será de R$ 300, pois os valores da farinha e do trigo já estão embutidos no valor do pão (IBGE, 2020). Vale a pena ressaltar que desde 1991 o Brasil faz parte do bloco econômico MERCOSUL junto com Argentina, Uruguai, Paraguai, Bolívia e Venezuela, cujo objetivo é fortalecer a economia através do livre comércio e política comercial comum. Leia mais sobre o MERCOSUL na leitura complementar. Saiba mais sobre o MERCOSUL Composição, objetivos e estrutura institucional Com mais de duas décadas de existência, o Mercado Comum do Sul (MERCOSUL) é a mais abrangente iniciativa de integração regional da América Latina, surgida no contexto da redemocratização e reaproximação dos países da região ao final da década de 80. Os membros fundadores do MERCOSUL são Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai, signatários do Tratado de Assunção de 1991. A Venezuela aderiu ao Bloco em 2012, mas está suspensa, desde dezembro de 2016, por descumprimento de seu Protocolo de Adesão e, desde agosto de 2017, por violação da Cláusula Democrática do Bloco. 49 Entendendo A População Brasileira Através De Dados EpidemiológicosEntendendo A População Brasileira Através De Dados Epidemiológicos Capítulo 1 Todos os demais países sul-americanos estão vinculados ao MERCOSUL como Estados Associados. A Bolívia, por sua vez, tem o “status” de Estado Associado em processo de adesão. O Tratado de Assunção, instrumento fundacional do MERCOSUL, estabeleceu um modelo de integração profunda, com os objetivos centrais de conformação de um mercado comum - com livre circulação interna de bens, serviços e fatores produtivos - o estabelecimento de uma Tarifa Externa Comum (TEC) no comércio com terceiros países e a adoção de uma política comercial comum. O livre comércio intrazona foi implementado por meio do programa de desgravação tarifária previsto pelo Tratado de Assunção, que reduziu a zero a alíquota do imposto de importação para o universo de bens, salvo açúcar e automóveis. A União Aduaneira, estabelecida pela TEC, está organizada em 11 níveis tarifários, cujas alíquotas variam de 0% a 20%, obedecendo ao princípio geral da escalada tarifária: insumos têm alíquotas mais baixas e produtos com maior grau de elaboração, alíquotas maiores. O Protocolo de Ouro Preto, assinado em 1994, estabeleceu a estrutura institucional básica do MERCOSUL e conferiu ao Bloco personalidade jurídica de direito internacional. O Protocolo consagrou, também, a regra do consenso no processo decisório, listou as fontes jurídicas do MERCOSUL e instituiu o princípio da vigência simultânea das normas adotadas pelos três órgãos decisórios do Bloco: o Conselho do Mercado Comum (CMC), órgão superior ao qual incumbe a condução política do processo de integração; o Grupo Mercado Comum (GMC), órgão executivo do Bloco; e a Comissão de Comércio do MERCOSUL (CCM), órgão técnico que vela pela aplicação dos instrumentos da política comercial comum. No decorrer do processo de integração, e em grande medida em razão do êxito inicial da integração econômico-comercial, a agenda do MERCOSUL foi paulatinamente ampliada, passando a incluir temas políticos, de direitos humanos, sociais e de cidadania. Os dois marcos na área social e cidadã do MERCOSUL são, respectivamente, o Plano Estratégico de Ação Social (2011) e o Plano de Ação para o Estatuto da Cidadania do MERCOSUL (2010). A agenda política do MERCOSUL abrange um amplo espectro de políticas governamentais tratadas por diversas instâncias do bloco, que incluem reuniões de ministros, reuniões especializadas, 50 Diagnóstico Nutricional foros e grupos de trabalho. Os Estados Partes e Estados Associados promovem cooperação, consultas ou coordenação em virtualmente todos os âmbitos governamentais, o que permitiu a construção de um patrimônio de entendimento e integração de valor inestimável para a região. O MERCOSUL é hoje instrumento fundamental para a promoção da cooperação, do desenvolvimento, da paz e da estabilidade na América do Sul. Dados básicos Os membros fundadores (Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai) e a Venezuela, que completou seu processo de adesão em meados de 2012, abrangem, aproximadamente, 72% do território da América do Sul (12,8 milhões de km², equivalente a três vezes a área da União Europeia); 69,5% da população sul-americana (288,5 milhões de habitantes) e 76,2% do PIB da América do Sul em 2016 (US$ 2,79 trilhões de um total de US$ US$ 3,66 trilhões, segundo dados do Banco Mundial). Se tomado em conjunto, o MERCOSUL seria a quinta maior economia do mundo, com um PIB de US$ 2,79 trilhões. O MERCOSUL é o principal receptor de investimentos estrangeiros diretos (IED) na região. O bloco recebeu 47,4% de todo o fluxo de IED direcionado à
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