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ORGANIZADO POR CP IURIS ISBN 978-65-5701-030-3 IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA à luz da Lei n.º 14.230/21 Brasília 2ª edição 2022 SOBRE O AUTOR BRUNO BETTI COSTA. Procurador do Estado de São Paulo. Mestrando em Direito Público pela Fundação Getúlio Vargas - FGV/SP. Professor de Direito Administrativo. Especialista em Direito Administrativo. Autor de obras jurídicas e palestrante. INTRODUÇÃO O livro de improbidade administrativa é direcionado para você que quer se atualizar com um material direto e didático e, ao mesmo tempo, profundo. O livro passará pelas alterações promovidas pela Lei nº 14.230/21 na Lei nº 8.429/92. Além disso, a obra também contém as relevantes e recentes jurisprudências do Supremo Tribunal Federal e do Superior Tribunal de Justiça sobre improbidade administrativa. Desse modo, você, leitor, estará com um material que irá direto ao ponto, sem perder a qualidade necessária para o seu estudo. SUMÁRIO IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA - À LUZ DA LEI N.º 14.230/21 ................................................................................. 6 1. COMENTÁRIOS INICIAIS ...................................................................................................................................... 6 2. COMPETÊNCIA ................................................................................................................................................... 8 3. SUJEITO PASSIVO ................................................................................................................................................ 9 4. SUJEITO ATIVO ................................................................................................................................................... 9 5. COMENTÁRIOS RELEVANTES..............................................................................................................................10 6. AGENTES POLÍTICOS ..........................................................................................................................................12 7. RESPONSABILIDADE SUCESSÓRIA.......................................................................................................................12 8. TIPOLOGIA DE IMPROBIDADE ............................................................................................................................12 8.1. Enriquecimento Ilícito .............................................................................................................................13 8.1.1. Hipóteses previstas no art. 9º ................................................................................................................ 14 8.2. Dano ao Erário .......................................................................................................................................15 8.2.1. Hipóteses do art. 10 .............................................................................................................................. 16 8.3. Dos Atos de Improbidade Administrativa Decorrentes de Concessão ou Aplicação Indevida de Benefício Financeiro ou Tributário ...............................................................................................................................18 8.4. Violação a Princípios ..............................................................................................................................18 8.4.1. Hipóteses do art. 11 .............................................................................................................................. 19 8.5. Quadro comparativo entre os tipos de improbidade................................................................................21 9. SANÇÕES 21 9.1. Comentários Importantes .......................................................................................................................22 10. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA E A ORDEM URBANÍSTICA .............................................................................26 11. DO PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO E JUDICIAL ...........................................................................................27 11.1. Procedimento Administrativo ...............................................................................................................27 11.2. Procedimento Judicial ...........................................................................................................................27 12. PRESCRIÇÃO ....................................................................................................................................................33 13. DA INDISPONIBILIDADE DOS BENS – ART. 16 .....................................................................................................35 14. COMENTÁRIOS FINAIS .....................................................................................................................................37 JURISPRUDÊNCIA IMPORTANTE.................................................................................................................................38 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................................................................................43 BRUNO BETTI IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA 6 IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA À LUZ DA LEI N.º 14.230/21 BRUNO BETTI IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA 7 1. COMENTÁRIOS INICIAIS A improbidade administrativa é uma imoralidade qualificada, isto é, uma situação de enorme gravidade. O conceito jurídico de ato de improbidade administrativa, por estar no campo do direito sancionador, é inelástico, isto é, não pode ser ampliado para abranger situações que não tenham sido contempladas no momento da sua definição. Nesse sentido, o referencial da Lei n.º 8.429/1992 é o ato do agente público frente à coisa pública a que foi chamado a administrar. Portanto não há improbidade administrativa, por exemplo, na prática de eventuais abusos perpetrados por agentes públicos durante abordagem policial, caso os ofendidos pela conduta sejam particulares que não estavam no exercício de função pública. Esse é o entendimento da doutrina, chancelado pela jurisprudência do STJ.1 Contudo cabe observar que o próprio STJ entendeu que a tortura de preso custodiado em delegacia praticada por policial constitui ato de improbidade administrativa que atenta contra os princípios da administração pública.2 O art. 37, § 4º, da Constituição Federal de 1988 é o dispositivo constitucional que consagra a improbidade administrativa e segundo o qual os atos de improbidade administrativa importarão a suspensão dos direitos políticos, a perda da função pública, a indisponibilidade dos bens e o ressarcimento ao erário, na forma e gradação previstas em lei, sem prejuízo da ação penal cabível. Ademais, observe-se que, no caso concreto, o juiz não precisa aplicar todas as sanções previstas constitucionalmente. Ainda, a Lei n.º 8.429/92, que regula a improbidade administrativa, elenca outras sanções. A Lei de Improbidade não é aplicada a fatos ocorridos anteriores a sua edição, conforme entendimento do STJ3. Observe-se ainda que a ação de improbidade administrativa não configura uma ação penal. Sempre se pontuou que a ação de improbidade era uma ação civil. Todavia o art. 17-D estabelece que a ação seria repressiva, de caráter sancionatório. 1 Informativo 573 STJ. REsp 1.558.038-PE, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 27/10/2015, DJe 9/11/2015. 2 STJ REsp 1.177.910-SE, Rel. Ministro Herman Benjamin, julgado em 26/8/2015, DJe 17/2/2016. 3 STJ. REsp 1129121/GO, rel. Min. Eliana Calmon, 2ª Turma, julgado em 03/05/2012. http://www.stj.jus.br/webstj/processo/justica/jurisprudencia.asp?tipo=num_pro&valor=REsp1558038 http://www.stj.jus.br/webstj/processo/justica/jurisprudencia.asp?tipo=num_pro&valor=REsp1177910BRUNO BETTI IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA 8 De toda forma, assim como já vigorava anteriormente, não há que se falar em foro por prerrogativa de função nessas ações. Isso ocorre pelo fato de que Constituição Federal de 1988 prevê foro apenas para as ações penais, como se depreende da leitura dos artigos 102 e 105.4 ATENÇÃO! Posicionamento do STJ - Ação Civil de perda de cargo de Promotor de Justiça cuja causa de pedir não esteja vinculada a ilícito capitulado na Lei n.º 8.429/1992 deve ser julgada pelo Tribunal de Justiça.5 STJ. 2ª Turma. REsp 1.737.900-SP, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 19/11/2019 (Info 662). Há de se fazer um distinguishing do caso concreto em relação ao posicionamento sedimentado no STJ e no STF acerca da competência do juízo monocrático para o processamento e julgamento das Ações Civis Públicas por ato de improbidade administrativa, afastando o "foro privilegiado ou especial" das autoridades envolvidas. É que a causa de pedir da ação ora apreciada não está vinculada a ilícito capitulado na Lei n.º 8.429/1992, que disciplina as sanções aplicáveis aos atos de improbidade administrativa, mas a infração disciplinar atribuível a Promotor de Justiça no exercício da função pública, estando este atualmente em disponibilidade. Ademais, o STJ possui precedente no sentido de que "a Ação Civil com foro especial não se confunde com a ação civil pública de improbidade administrativa, regida pela Lei n. 8.429/1992, que não prevê tal prerrogativa"6. Por fim, nos termos do art. 1º, da Lei n.º 8.429/92, o sistema de responsabilização por atos de improbidade administrativa tutelará a probidade na organização do Estado e no exercício de suas funções, como forma de assegurar a integridade do patrimônio público e social. 2. COMPETÊNCIA Importante firmar posição de que a competência legislativa sobre improbidade administrativa é privativa da União. Dessa forma, a Lei n.º 8.429/92 é uma lei nacional, e não lei federal. O que se quer dizer é que a Lei de Improbidade Administrativa (LIA) é aplicada para todos os entes da federação. 4 STF. Plenário. Pet 3240/DF, Rel. para acórdão Min. Roberto Barroso, julgado em 10/05/2018. 5 STJ. REsp 1.737.900-SP, Rel. Min. Herman Benjamin, Segunda Turma, por unanimidade, julgado em 19/11/2019, DJe 19/12/2019 6 STJ. REsp 1.627.076/SP, Rel. Ministra Regina Helena Costa, Primeira Turma, DJe 14/8/2018 BRUNO BETTI IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA 9 3. SUJEITO PASSIVO A legitimidade passiva do ato de improbidade administrativa é da pessoa vítima dos atos ímprobos. O art. 1º, § 5º, da LIA estabelece quem são os sujeitos passivos do ato de improbidade, violando o seu patrimônio público e social: Poder Executivo, Legislativo, Judiciário, bem como das administrações direta e indiretas, no âmbito da União, dos Estados, dos Municípios e do Distrito Federal. Também serão considerados sujeitos passivos, nos termos do art. 1º, § 6º, a entidade privada que receba subvenção, benefício ou incentivo, fiscal ou creditício, de entes públicos ou governamentais. Por sua vez, o art. 1º, § 7º estabelece que também serão considerados sujeitos passivos secundários aqueles que, independentemente de integrar a Administração Indireta, são entidades privadas para cuja criação ou custeio o Erário haja concorrido ou concorra no seu patrimônio ou receita atual. Nesse caso, limitando-se o ressarcimento de prejuízos à repercussão do ilícito sobre a contribuição dos cofres públicos. ATENÇÃO! Não há mais a diferença se a contribuição estatal foi superior ou inferior a 50% do patrimônio ou receita atual da entidade. Pode-se dar como exemplo dos sujeitos passivos secundários as universidades privadas que recebem benefícios públicos e as Organizações Sociais e Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público. 4. SUJEITO ATIVO O sujeito ativo é aquele que pratica o ato de improbidade administrativa ou aquele que concorre para sua prática ou dele se beneficia, nos termos do art. 2º e 3º da LIA. Inclusive, importante observar, o art. 2º estabelece um conceito amplo de agente público. Assim, de acordo com o art. 2º, reputa-se agente público, o agente político, o servidor público e todo aquele que exerce, ainda que transitoriamente ou sem remuneração, por eleição, nomeação, designação, contratação ou qualquer outra forma de investidura ou vínculo, mandato, cargo, emprego ou função públicos. Ademais, nos termos do parágrafo único, também será considerado sujeito e se submeterá às sanções legais, no tocante a recursos de origem pública, o particular, pessoa física ou jurídica, BRUNO BETTI IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA 10 que celebra com a Administração Pública convênio, contrato de repasse, contrato de gestão, termo de parceria, termo de cooperação ou ajuste administrativo equivalente. Ainda, faz-se necessário pontuar que o particular pode responder por atos de improbidade administrativa, conforme prevê o art. 3º, segundo o qual aquele que, mesmo não sendo agente público, induza ou concorra dolosamente para a prática do ato de improbidade, responderá pelos atos ímprobos praticados. Por sua vez, o § 1º do art. 3º afirma que os sócios, cotistas, diretores e colaboradores de pessoa jurídica de direito privado não respondem pelo ato de improbidade a que venha ser imputado à pessoa jurídica, salvo se, comprovadamente, houver participação e benefícios diretos, hipótese em que responderão nos limites da sua participação. O § 2º afirma que as sanções de improbidade não se aplicarão à pessoa jurídica, caso o ato de improbidade administrativa seja também sancionado como ato lesivo à administração pública de que trata Lei n.º 12.846, de 1º de agosto de 2013 (Lei Anticorrupção). 5. COMENTÁRIOS RELEVANTES 1. Importante observar o que afirma o STJ sobre a responsabilidade dos sujeitos ativos: É inviável a propositura de ação civil de improbidade administrativa exclusivamente contra o particular, sem a concomitante presença de agente público no polo passivo da demanda.7. Por outro lado, faz-se necessário se atentar ao fato de que não há litisconsórcio passivo necessário entre o agente público e o particular, conforme já decidido no STJ8. ATENÇÃO! É inviável a propositura de ação civil de improbidade administrativa exclusivamente contra o particular, sem a concomitante presença de agente público no polo passivo da demanda. STJ. 1ª Turma. REsp 1.171.017-PA, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado em 25/2/2014 (Info 535). Não há litisconsórcio passivo necessário entre o agente público e o particular. AREsp n.º 1579273 / SP (2019/0270948-5). 7 STJ AgRg no AREsp 574500/PA, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA TURMA,Julgado em 02/06/2015,DJE 10/06/2015. 8 STJ. AgRg no REsp 1421144/PB,Rel. Ministro Benedito Gonçalves, Primeira Turma, Julgado em 26/05/2015,DJE 10/06/2015. javascript:document.frmDoc1Item7.submit(); javascript:document.frmDoc1Item7.submit(); javascript:document.frmDoc1Item7.submit(); javascript:document.frmDoc1Item7.submit(); http://www.stj.jus.br/SCON/jurisprudencia/toc.jsp?i=1&b=ACOR&livre=((%27AGARESP%27.clas.+e+@num=%27574500%27)+ou+(%27AGRG%20NO%20ARESP%27+adj+%27574500%27.suce.))&thesaurus=JURIDICO BRUNO BETTI IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA 11 2. Atente-se que, de acordo com o STJ9, dirigente de entidade privada que administra recursos públicos pode responder sozinho por improbidade. O fato de receber recursos públicos é circunstância que equipara o dirigente da referida ONG a agente público para os fins de improbidade administrativa 3. Outro ponto relevante é firmar posição de que a pessoa jurídica também pode ser sujeito ativo do ato de improbidade, de acordo com o entendimento do STJ10. Esse posicionamento do STJ foi positivado de maneira expressa na Lei n.º 8.429/92, por meio da Lei n.º14.230/2021. 4. Não comete ato de improbidade administrativa o médico que cobra honorários por procedimentorealizado em hospital privado que também seja conveniado à rede pública de saúde, desde que o atendimento não seja custeado pelo próprio sistema público de saúde. Isso porque, nessa situação, o médico não age na qualidade de agente público e, consequentemente, a cobrança não se enquadra como ato de improbidade.11 5. Observe que os empregados e dirigentes de concessionários e permissionários de serviços públicos não se sujeitam à LIA, uma vez que retiram sua remuneração da exploração do serviço público. O Estado, geralmente, não destina aos delegatários de serviço público benefícios, auxílios ou subvenções. Contudo, caso o Poder Público destine-lhes algum benefício, a LIA certamente incidirá. 6. Importante também é saber se agentes públicos com atribuição consultiva, aqueles que elaboram os pareceres, estão sujeitos às penalidades da LIA. Conforme a melhor doutrina, o parecer, por si só, não é suficiente para legitimar o parecerista a praticar atos de improbidade administrativa, haja vista que do parecer extrai-se apenas a opinião pessoal e técnica daquele que o produz. Contudo, o parecerista pode ser sujeito ativo de improbidade administrativa, caso haja com dolo ou erro grave ou inescusável. 7. A Segunda Turma do STJ12 que “o estagiário que atua no serviço público, ainda que transitoriamente, remunerado ou não, está (SIM) sujeito a responsabilização por ato de improbidade administrativa (Lei 8.429/1992)”. 9 AgInt no REsp 1845674/DF, Rel. Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, Rel. p/ Acórdão Ministro GURGEL DE FARIA, PRIMEIRA TURMA, julgado em 01/12/2020, DJe 18/12/2020. 10 STJ. REsp 970.393/CE, Rel. Ministro BENEDITO GONÇALVES, PRIMEIRA TURMA, julgado em 21/06/2012 11 STJ, REsp 1.414.669-SP, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 20/2/2014. 12 REsp 1.352.035-RS, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 18/8/2015, DJe 8/9/2015 (Informativo 568). BRUNO BETTI IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA 12 6. AGENTES POLÍTICOS Os agentes políticos, com exceção do Presidente da República, encontram-se sujeitos a um duplo regime sancionatório, e se submetem tanto à responsabilização civil pelos atos de improbidade administrativa quanto à responsabilização político-administrativa por crimes de responsabilidade. Também, faz-se importante o estudo do RE 976.566, pelo qual o STF fixou a seguinte tese de repercussão geral “O processo e o julgamento de prefeito municipal por crime de responsabilidade (Decreto-lei 201/67) não impede sua responsabilização por atos de improbidade administrativa previstos na Lei 8.429/1992, em virtude da autonomia das instâncias.” 7. RESPONSABILIDADE SUCESSÓRIA De acordo com o art. 8º, o sucessor ou herdeiro daquele que causar dano ao erário ou se enriquecer ilicitamente está sujeito apenas à obrigação de repará-lo, até o limite do valor da herança ou do patrimônio transferido. A alteração realizada pela Lei n.º 14.230/2021 tem por objetivo delimitar qual será a responsabilidade do sucessor ou do herdeiro, pois a redação anterior dizia que o sucessor se submeteria às sanções previstas em lei. Outra novidade refere-se ao art. 8º-A, segundo o qual a responsabilidade sucessória também será aplicada na hipótese de alteração contratual, transformação, incorporação, fusão ou cisão societária. Atente-se que, nos termos do parágrafo único, especificamente nas hipóteses de fusão e incorporação, a responsabilidade da sucessora será restrita à obrigação de reparação integral do dano causado, até o limite do patrimônio transferido, não lhe sendo aplicáveis as demais sanções decorrentes de atos e fatos ocorridos antes da data da fusão ou incorporação, exceto no caso de simulação ou evidente intuito de fraude, devidamente comprovados. 8. TIPOLOGIA DE IMPROBIDADE De acordo com o art. 1º, § 1º, da Lei n.º 8.429/92, consideram-se atos de improbidade administrativa as condutas dolosas tipificadas nos artigos 9º (enriquecimento ilícito), 10 (lesão ao erário) e 11 (violação a princípios) da Lei, ressalvados tipos previstos em leis especiais. Importante pontuar que o dolo é elemento necessário para a configuração de qualquer dos três atos de improbidade administrativa, de modo a não mais se admitir a figura da culpa, como era possível no caso de lesão ao erário. Nesse sentido, o art. 1º, § 2º, afirma que se considera dolo a BRUNO BETTI IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA 13 vontade livre e consciente de alcançar o resultado ilícito tipificado nos artigos 9º, 10 e 11, não bastando a voluntariedade do agente. ATENÇÃO! Não há mais ato de improbidade administrativa na modalidade CULPOSA. Todos os atos exigem o DOLO. Ademais o art. 1º, § 3º, propõe que o mero exercício da função ou desempenho de competências públicas, sem comprovação de ato doloso com fim ilícito, afasta a responsabilidade por ato de improbidade administrativa. Outro ponto relevante é que, nos termos do art. 1º, § 8º, não configurará improbidade a ação ou omissão decorrente de divergência interpretativa da lei, baseada em jurisprudência, ainda que não pacificadas, mesmo que não venha a ser posteriormente prevalecente nas decisões dos órgãos de controle ou dos Tribunais do Poder Judiciário. ATENÇÃO! Art. 1º, § 8º. Não configurará improbidade a ação ou omissão decorrente de divergência interpretativa da lei, baseada em jurisprudência, ainda que não pacificadas, mesmo que não venha a ser posteriormente prevalecente nas decisões dos órgãos de controle ou dos Tribunais do Poder Judiciário. 8.1. Enriquecimento Ilícito De acordo com o art. 9º da LIA, constitui ato de improbidade administrativa importando enriquecimento ilícito auferir, mediante a prática de ato doloso, qualquer tipo de vantagem patrimonial indevida em razão do exercício de cargo, mandato, função, emprego ou atividade nas entidades sujeitas a sofrer atos de improbidade. Atente-se para o fato de que o caput estabelece a conduta genérica. Os incisos, por sua vez, retratam as condutas específicas, sendo apenas um rol exemplificativo. Observe que a LIA se preocupou em preservar aquele que se enriquece licitamente. A este não há qualquer ato de improbidade. O que a lei proíbe é o enriquecimento ilícito, isto é, aquele que ofende a moralidade e a probidade administrativa. O art. 9º estabelece, ainda, como pressuposto exigível a percepção de vantagem patrimonial ilícita. Dessa forma, o pressuposto dispensável é o dano ao erário. O que se quer dizer é que, caso haja BRUNO BETTI IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA 14 o enriquecimento ilícito, independe de dano ao erário. Ex.: Servidor que recebe propina de terceiros para conferir-lhe vantagem indevida. Importante observar que o art. 9º exige que o agente público atue com dolo. Dessa forma, caso o agente público esteja sofrendo uma ação de improbidade administrativa com base no art. 9º da LIA ele deve, necessariamente, ter agido com o dolo. Caso tenha agido com culpa, será excluída sua responsabilidade. A conduta prevista no art. 9º é uma conduta comissiva, isto é, uma ação. OBSERVAÇÃO! Enunciado 7 do CJF: Configura ato de improbidade administrativa a conduta do agente público que, em atuação legislativa lato sensu, recebe vantagem econômica indevida. 8.1.1. Hipóteses previstas no art. 9º I - receber, para si ou para outrem, dinheiro, bem móvel ou imóvel, ou qualquer outra vantagem econômica, direta ou indireta, a título de comissão, percentagem, gratificação ou presente de quem tenha interesse, direto ou indireto, que possa ser atingido ou amparado por ação ou omissão decorrente das atribuições do agente público; II - perceber vantagem econômica, direta ou indireta, para facilitar a aquisição, permuta ou locação de bem móvel ou imóvel, ou a contratação de serviços pelas entidades referidas no art. 1° por preço superior ao valor de mercado; III - perceber vantagem econômica, direta ou indireta, para facilitar a alienação, permutaou locação de bem público ou o fornecimento de serviço por ente estatal por preço inferior ao valor de mercado; IV - utilizar, em obra ou serviço particular, qualquer bem móvel, de propriedade ou à disposição de qualquer das entidades mencionadas no art. 1º desta Lei, bem como o trabalho de servidores, empregados ou terceiros contratados por essas entidades; V - receber vantagem econômica de qualquer natureza, direta ou indireta, para tolerar a exploração ou a prática de jogos de azar, de lenocínio, de narcotráfico, de contrabando, de usura ou de qualquer outra atividade ilícita, ou aceitar promessa de tal vantagem; VI - receber vantagem econômica de qualquer natureza, direta ou indireta, para fazer declaração falsa sobre qualquer dado técnico envolvendo obras públicas ou qualquer outro serviço ou sobre quantidade, peso, medida, qualidade ou característica de mercadorias ou bens fornecidos a qualquer das entidades mencionadas no art. 1º desta Lei; VII - adquirir, para si ou para outrem, no exercício de mandato, cargo, emprego ou função pública, e em razão deles, bens de qualquer natureza, decorrentes dos atos descritos no caput, cujo valor seja desproporcional à evolução do patrimônio ou à renda do agente público, assegurada a demonstração pelo agente da licitude da origem dessa evolução; BRUNO BETTI IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA 15 VIII - aceitar emprego, comissão ou exercer atividade de consultoria ou assessoramento para pessoa física ou jurídica que tenha interesse suscetível de ser atingido ou amparado por ação ou omissão decorrente das atribuições do agente público, durante a atividade; IX - perceber vantagem econômica para intermediar a liberação ou aplicação de verba pública de qualquer natureza; X - receber vantagem econômica de qualquer natureza, direta ou indiretamente, para omitir ato de ofício, providência ou declaração a que esteja obrigado; XI - incorporar, por qualquer forma, ao seu patrimônio bens, rendas, verbas ou valores integrantes do acervo patrimonial das entidades mencionadas no art. 1° desta lei; XII - usar, em proveito próprio, bens, rendas, verbas ou valores integrantes do acervo patrimonial das entidades mencionadas no art. 1° desta lei. ATENÇÃO! Atenção aos verbos dos incisos do art. 9º, pois eles se repetem. São verbos que dão a ideia de que o agente público está ganhando algo, uma vez que o ato é de enriquecimento ilícito. VERBOS: RECEBER, PERCEBER, UTILIZAR, ADQUIRIR, USAR, INCORPORAR. 8.2. Dano ao Erário De acordo com o art. 10 da LIA, constitui ato de improbidade administrativa que causa lesão ao erário qualquer ação ou omissão dolosa, que enseje efetiva e comprovadamente, perda patrimonial, desvio, apropriação, malbaratamento ou dilapidação dos bens ou haveres das entidades que possam sofrer atos de improbidade. Atente-se que, novamente, o caput estabelece a conduta genérica, e os incisos, por sua vez, retratam as condutas específicas, configurando um rol exemplificativo. O que o artigo 10 pretende proteger é o patrimônio público. O pressuposto exigível, nessa conduta, é o dano ao patrimônio público. Caso a conduta não acarrete a lesão ao patrimônio público, possivelmente acarretará um ato de improbidade por violação dos princípios administrativos, nos termos do art. 11 da LIA. Por sua vez, o pressuposto dispensável é o enriquecimento ilícito. A conduta pode gerar dano ao patrimônio público, sem, contudo, ocasionar o enriquecimento do agente público. ATENÇÃO! O ato de lesão ao erário somente poderá ocorrer na modalidade DOLOSA, não sendo mais admissível a modalidade culposa desse ato. BRUNO BETTI IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA 16 A conduta aqui estudada é uma conduta comissiva ou omissiva, de acordo com o próprio art. 10, caput da LIA. Outra alteração do caput do mesmo dispositivo que chama atenção é a exigência da efetiva e comprovada perda patrimonial do ente público. Trata-se de alteração para alinhar ao entendimento do STJ13. Por sua vez, das alterações dos incisos do art. 10, chama-se atenção para o inciso VIII que, em sua parte final, exige a perda patrimonial efetiva no caso de frustração de processo licitatório ou de processo seletivo para celebração de parcerias. Isso porque, a jurisprudência do STJ14 estabelecia que, especificamente, na fraude à licitação, haveria um dano in re ipsa ao patrimônio público. Dessa forma, a alteração legislativa é uma clara superação do entendimento do STJ. ATENÇÃO! Exige-se a efetiva e comprovada perda patrimonial do ente público, inclusive nos casos de fraude à licitação Ademais, de acordo com o art. 10, § 1º, nos casos em que a inobservância de formalidades legais ou regulamentares não implicar perda patrimonial efetiva, não ocorrerá imposição de ressarcimento, vedado o enriquecimento sem causa das entidades referidas no art. 1º. Por fim, o § 2º do art. 10 afirma que a mera perda patrimonial decorrente da atividade econômica não acarretará improbidade administrativa, salvo se comprovado ato doloso praticado com essa finalidade. 8.2.1. Hipóteses do art. 10 I - facilitar ou concorrer, por qualquer forma, para a indevida incorporação ao patrimônio particular, de pessoa física ou jurídica, de bens, rendas, verbas ou valores integrantes do acervo patrimonial das entidades mencionadas no art. 1º desta Lei; II - permitir ou concorrer para que pessoa física ou jurídica privada utilize bens, rendas, verbas ou valores integrantes do acervo patrimonial das entidades mencionadas no art. 1º desta lei, sem a observância das formalidades legais ou regulamentares aplicáveis à espécie; 13 AgInt no REsp 1542025/MG, Rel. Ministro BENEDITO GONÇALVES, PRIMEIRA TURMA, julgado em 05/06/2018, DJe 12/06/2018 14 AgRg nos EDcl no AREsp 419.769/SC, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 18/10/2016, DJe 25/10/2016; REsp 728.341/SP, Rel. Ministro OG FERNANDES, SEGUNDA TURMA, julgado em 14/03/2017, DJe 20/03/2017. BRUNO BETTI IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA 17 III - doar à pessoa física ou jurídica bem como ao ente despersonalizado, ainda que de fins educativos ou assistências, bens, rendas, verbas ou valores do patrimônio de qualquer das entidades mencionadas no art. 1º desta lei, sem observância das formalidades legais e regulamentares aplicáveis à espécie; IV - permitir ou facilitar a alienação, permuta ou locação de bem integrante do patrimônio de qualquer das entidades referidas no art. 1º desta lei, ou ainda a prestação de serviço por parte delas, por preço inferior ao de mercado; V - permitir ou facilitar a aquisição, permuta ou locação de bem ou serviço por preço superior ao de mercado; VI - realizar operação financeira sem observância das normas legais e regulamentares ou aceitar garantia insuficiente ou inidônea; VII - conceder benefício administrativo ou fiscal sem a observância das formalidades legais ou regulamentares aplicáveis à espécie; VIII - frustrar a licitude de processo licitatório ou de processo seletivo para celebração de parcerias com entidades sem fins lucrativos, ou dispensá- los indevidamente, acarretando perda patrimonial efetiva; IX - ordenar ou permitir a realização de despesas não autorizadas em lei ou regulamento; X - agir ilicitamente na arrecadação de tributo ou renda, bem como no que diz respeito à conservação do patrimônio público; XI - liberar verba pública sem a estrita observância das normas pertinentes ou influir de qualquer forma para a sua aplicação irregular; XII - permitir, facilitar ou concorrer para que terceiro se enriqueça ilicitamente; XIII - permitir que se utilize, em obra ou serviço particular, veículos, máquinas, equipamentos ou material de qualquer natureza, de propriedade ou à disposição de qualquer das entidades mencionadas no art. 1° desta lei, bem como o trabalho de servidor público, empregados ou terceiros contratados por essas entidades. XIV – celebrarcontrato ou outro instrumento que tenha por objeto a prestação de serviços públicos por meio da gestão associada sem observar as formalidades previstas na lei; XV – celebrar contrato de rateio de consórcio público sem suficiente e prévia dotação orçamentária, ou sem observar as formalidades previstas na lei. XVI - facilitar ou concorrer, por qualquer forma, para a incorporação, ao patrimônio particular de pessoa física ou jurídica, de bens, rendas, verbas ou valores públicos transferidos pela administração pública a entidades privadas mediante celebração de parcerias, sem a observância das formalidades legais ou regulamentares aplicáveis à espécie; XVII - permitir ou concorrer para que pessoa física ou jurídica privada utilize bens, rendas, verbas ou valores públicos transferidos pela administração pública a entidade privada mediante celebração de parcerias, sem a observância das formalidades legais ou regulamentares aplicáveis à espécie; BRUNO BETTI IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA 18 XVIII - celebrar parcerias da administração pública com entidades privadas sem a observância das formalidades legais ou regulamentares aplicáveis à espécie; XIX - agir para a configuração de ilícito na celebração, fiscalização e análise das prestações de contas de parcerias firmadas pela administração pública com entidades privadas; XX - agir negligentemente na celebração, fiscalização e análise das prestações de contas de parcerias firmadas pela administração pública com entidades privadas; XXI - Revogado XXII - conceder, aplicar ou manter beneficio financeiro ou tributário contrário ao que dispõem o caput e o § 1 º do art. 8 º -A da Lei Complementar nº 116, de 31 de julho de 2003. ATENÇÃO! Atente-se aos verbos dos incisos do art. 10, pois muitos se repetem. São verbos que NÃO dão a ideia de que o agente público está ganhando algo. Pelas condutas, quem ganha algo é um particular (terceiro) ou há apenas dano ao erário. VERBOS: PERMITIR, FACILITAR, CONCORRER, DOAR, AGIR. 8.3. Dos Atos de Improbidade Administrativa Decorrentes de Concessão ou Aplicação Indevida de Benefício Financeiro ou Tributário O art. 10-A foi revogado pela Lei n.º 14.230/2021, de modo que se tornou o inciso XXII, do art. 10. 8.4. Violação a Princípios De acordo com o art. 11 da LIA constitui ato de improbidade administrativa que atenta contra os princípios da administração pública qualquer ação ou omissão dolosa que viole os deveres de honestidade, imparcialidade, legalidade e lealdade às instituições. Importa se atentar para o fato de que o caput também estabelece a conduta genérica e os incisos, por sua vez, retratam as condutas específicas e estabelecem um rol taxativo. Trata-se de grande mudança comparada à versão original da Lei n.º 8.429/1992 e também em relação aos demais tipos de improbidade. Observe-se que o art. 11 listou alguns princípios administrativos. Contudo, há apenas um rol exemplificativo de princípios. “O legislador disse menos do que queria”.15 Dessa forma, o que a LIA protege são os princípios constitucionais. 15 CARVALHO FILHO, José Santos. Manual de Direito Administrativo. 26ª ed. rev. ampl. atual. São Paulo: Atlas, 2012. p. 1086. BRUNO BETTI IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA 19 O pressuposto exigível é a violação dos princípios administrativos, exigindo-se lesividade relevante ao bem jurídico aqui tutelado. Por outro lado, é dispensável qualquer elemento de enriquecimento ilícito ou dano ao erário, nos termos do art. 11, § 5º. O art. 11 exige como elemento subjetivo o dolo. A conduta ensejadora de improbidade, no caso em análise, é tanto a conduta comissiva, quanto a omissiva. Nos termos do art. 11, § 1º, somente haverá improbidade administrativa, no caso de violação a princípios, quando, na conduta funcional do agente público, for comprovado o fim de obter um proveito ou benefício indevido para si mesmo ou para outra pessoa ou entidade. Essa disposição também se aplicará a todo e qualquer ato de improbidade, previstos na Lei n.º 8.429/92, bem como em qualquer outra que institua ato de improbidade, conforme dispõe o art. 11, § 2º. O enquadramento de conduta funcional pressupõe a demonstração objetiva da prática de ilegalidade no exercício da função pública, indicando-se as normas constitucionais, legais ou infralegais violadas, nos termos do art. 11, § 3º. Os atos de improbidade aqui tratados exigem lesividade relevante ao bem jurídico tutelado, para serem passíveis de sancionamento, e independem do reconhecimento da produção de danos ao Erário e de enriquecimento ilícito dos agentes públicos, nos termos do art. 11, § 4º. Na análise da hipótese prevista no inciso XI do artigo 11, isto é, de nomeação de parentes, não se configurará improbidade a mera nomeação ou indicação política por parte dos detentores de mandatos eletivos, sendo necessária a aferição de dolo com finalidade ilícita por parte do agente. 8.4.1. Hipóteses do art. 11 I - (Revogado); II - (Revogado) III - revelar fato ou circunstância de que tem ciência em razão das atribuições e que deva permanecer em segredo, propiciando beneficiamento por informação privilegiada ou pondo em risco a segurança da sociedade e do Estado; IV - negar publicidade aos atos oficiais, exceto em razão de sua imprescindibilidade para a segurança da sociedade e do Estado, ou em outras hipóteses instituídas em lei; V - frustrar, em ofensa à imparcialidade, o caráter concorrencial de concurso público, chamamento ou procedimento licitatório, visando à obtenção de benefício próprio, direto ou indireto, ou de terceiros; VI - deixar de prestar contas quando esteja obrigado a fazê-lo, desde que disponha das condições para tanto, visando a ocultar irregularidades; BRUNO BETTI IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA 20 VII - revelar ou permitir que chegue ao conhecimento de terceiro, antes da respectiva divulgação oficial, teor de medida política ou econômica capaz de afetar o preço de mercadoria, bem ou serviço. VIII - descumprir as normas relativas à celebração, fiscalização e aprovação de contas de parcerias firmadas pela administração pública com entidades privadas. IX - (Revogado); X - (Revogado); XI - nomear cônjuge, companheiro ou parente em linha reta, colateral ou por afinidade, até o terceiro grau, inclusive, da autoridade nomeante ou de servidor da mesma pessoa jurídica investido em cargo de direção, chefia ou assessoramento, para o exercício de cargo em comissão ou de confiança ou, ainda, de função gratificada na administração pública direta e indireta em qualquer dos poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, compreendido o ajuste mediante designações recíprocas; XII- praticar, no âmbito da Administração Pública e com recursos do erário, ato de publicidade que contrarie o disposto no §1º do art. 37 da Constituição Federal, de forma a promover inequívoco enaltecimento do agente público e personalização de atos, programas, obras, serviços ou campanhas dos órgãos públicos. ATENÇÃO! Tenha atenção com as seguintes hipóteses: 1) Art. 10, VIII vs. Art. 11, V Frustrar a licitude de processo licitatório ou de processo seletivo para celebração de parcerias com entidades sem fins lucrativos, ou dispensá-los indevidamente, acarretando perda patrimonial efetiva é ato de improbidade que configura dano ao erário. Por sua vez, frustrar, em ofensa à imparcialidade, o caráter concorrencial de concurso público, chamamento ou procedimento licitatório, visando à obtenção de benefício próprio, direto ou indireto, ou de terceiros é ato de improbidade que viola princípios. 2) Art. 9º, IV vs. Art. 10, XIII Utilizar, em obra ou serviço particular, qualquer bem móvel, de propriedade ou à disposição de qualquer das entidades mencionadas no art. 1º desta Lei, bem como o trabalho de servidores, empregados ou terceiros contratados por essas entidades é ato de improbidadeque configura enriquecimento ilícito. Porém, permitir que se utilize, em obra ou serviço particular, veículos, máquinas, equipamentos ou material de qualquer natureza, de propriedade ou à disposição de qualquer das entidades mencionadas no art. 1º desta lei, bem como o trabalho de servidor público, empregados ou terceiros contratados por essas entidades é ato de improbidade que configura dano ao erário. BRUNO BETTI IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA 21 8.5. Quadro comparativo entre os tipos de improbidade TIPO DE IMPROBIDADE ENRIQUECIMENTO ILÍCITO (art. 9º) PREJUÍZO AO ERÁRIO (art. 10) VIOLAÇÃO DE PRINCÍPIOS (art. 11) Conduta Ação Ação ou Omissão Conduta: Ação ou Omissão Elemento subjetivo Dolo Dolo Dolo Pressuposto exigível Enriquecimento ilícito Efetivo dano ao erário Violação a princípios Pressuposto dispensável Dano ao erário Enriquecimento ilícito Enriquecimento ilícito e dano ao erário Rol Exemplificativo Exemplificativo Taxativo 9. SANÇÕES As sanções aplicáveis no caso de improbidade administrativa estão previstas no art. 12, I a III, da LIA. Independentemente do ressarcimento integral do dano patrimonial, se efetivo, e das sanções penais comuns e de responsabilidade, civis e administrativas previstas na legislação específica, está o responsável pelo ato de improbidade sujeito às seguintes cominações, que podem ser aplicadas isolada ou cumulativamente, de acordo com a gravidade do fato: ENRIQUECIMENTO ILÍCITO PREJUÍZO AO ERÁRIO VIOLAÇÃO DE PRINCÍPIOS Perda dos bens ou valores acrescidos ilicitamente ao patrimônio Perda dos bens ou valores acrescidos ilicitamente ao patrimônio, se concorrer esta circunstância * Perda da função pública Perda da função pública * Suspensão dos direitos políticos até 14 anos Suspensão dos direitos políticos até 12 anos * Pagamento de multa civil equivalente ao valor do acréscimo patrimonial Pagamento de multa civil equivalente ao valor do dano Pagamento de multa civil de até 24 vezes o valor da remuneração percebida pelo agente BRUNO BETTI IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA 22 Proibição de contratar com o Poder Público ou receber benefícios, pelo prazo não superior a 14 anos Proibição de contratar com o Poder Público ou receber benefícios, pelo prazo não superior a 12 anos. Proibição de contratar com o Poder Público ou receber benefícios, pelo prazo não superior a 4 anos 9.1. Comentários Importantes 1. As sanções previstas no art. 12 possuem caráter extrapenal. 2. A sanção de perda da função atinge apenas o vínculo de mesma qualidade e natureza que o agente público ou político detinha com o Poder Público na época do cometimento da infração, podendo o magistrado, na hipótese de enriquecimento ilícito, e em caráter excepcional, estender aos demais vínculos, considerando-se as circunstâncias do caso e a gravidade da infração. (art. 12, § 1º) Trata-se de uma superação do entendimento do Superior Tribunal de Justiça, que tem entendimento, anterior à alteração da Lei n.º 8.429/92, que o agente público perde a função pública que estiver ocupando no momento do trânsito em julgado, ainda que seja diferente daquela que ocupava no momento da prática do ato de improbidade.16 3. Ponto relevante também se refere à possibilidade de aplicação da sanção de cassação de aposentadoria. Em outras palavras, o que se quer saber é se a expressão “perda de cargo” abarcaria a sanção de cassação de aposentadoria. Nesse sentido, há posicionamento do Supremo Tribunal Federal, no ARE nº 1.321.655, segundo o qual é viável a conversão da perda de cargo em cassação de aposentadoria no âmbito da improbidade administrativa. Por outro lado, o Superior Tribunal de Justiça17, em entendimento anterior ao firmado do STF, assentou que o magistrado não tem competência para aplicar a sanção de cassação de aposentadoria a servidor condenado judicialmente por improbidade administrativa. Para o colegiado, apenas a autoridade administrativa possui poderes para decidir sobre a cassação. 4. A multa pode ser aumentada até o dobro, se o juiz considerar que, em virtude da situação econômica do réu, o valor calculado é ineficaz para reprovação e prevenção do ato de improbidade (art. 12, § 2º). 16 STJ. STJ. 2ª Turma. RMS 32.378/SP, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 05/05/2015. 17 STJ. 1ªSeção. EREsp nº 1496347. Rel. Min. Herman Benjamin. 24/02/2021 BRUNO BETTI IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA 23 5. Na responsabilização da pessoa jurídica, deverão ser considerados os efeitos econômicos e sociais das sanções, de modo a viabilizar a manutenção de suas atividades (art. 12, § 3º). 6. Em caráter excepcional e por motivos relevantes devidamente justificados, a pena de proibição de contratação com o Poder Público pode extrapolar o ente público lesado pelo ato de improbidade, devendo- se sempre observar os impactos econômicos e sociais das sanções, de forma a preservar a função social da pessoa jurídica (art. 12, § 4º). 7. Em se tratando de atos de menor ofensa aos bens jurídicos tutelados pela Lei, a sanção se limitará à aplicação de multa, sem prejuízo do ressarcimento do dano e da perda dos valores obtidos, quando for o caso (art. 12, § 5º). 8. Ocorrendo lesão ao patrimônio público, a reparação do dano deve deduzir o ressarcimento ocorrido nas instâncias criminal, cível e administrativa tendo por objeto os mesmos fatos (art. 12, § 6º). 9. As sanções aplicadas a pessoas jurídicas com base nesta Lei e na Lei nº 12.846, de 1º de agosto de 2013, deverão observar o princípio constitucional do non bis in idem. (art. 12, § 7º) 10. A sanção de proibição de contratação com o Poder Público deverá constar no Cadastro Nacional de Empresas Inidôneas e Suspensas - CEIS de que trata a Lei nº 12.846, de 1º de agosto de 2013, observando-se as limitações territoriais contidas em decisão judicial (art. 12, § 8º). 11. As sanções de improbidade só podem ser executadas com o trânsito em julgado da sentença condenatória, nos termos do art. 12, § 9º. Trata-se de nítida alteração se comparada à redação anterior da Lei 8.429/92, segundo a qual apenas a perda da função e a suspensão dos direitos políticos se efetivariam com trânsito em julgado da decisão. ATENÇÃO! Com a Lei n.º 14.230/2021, TODAS as sanções de improbidade só podem ser executadas com o trânsito em julgado da sentença condenatória. 12. Para efeitos de contagem do prazo da sanção de suspensão dos direitos políticos, computar-se-á retroativamente o intervalo de tempo entre a decisão colegiada e o trânsito em julgado da sentença condenatória (art. 12, § 10) BRUNO BETTI IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA 24 13. Observe-se que o juiz não precisa aplicar todas as penalidades. Ele irá analisar o caso concreto para aplicar as penalidades. Ademais, o caput do art. 12 da LIA estabelece que as penas podem ser aplicadas de forma isolada ou cumulativa. 14. A LIA aumenta as sanções previstas no art. 37, § 4º da CF/88. Contudo não há qualquer inconstitucionalidade na previsão legal, do que se conclui que a atual Constituição Federal apenas estabeleceu uma relação mínima. 15. Em relação à gravidade das sanções, certamente, as previstas para os casos de enriquecimento ilícito (art.9º) são mais severas que as previstas para os casos de prejuízo ao erário (art. 10), que consequentemente são mais severas que as previstas para os casos de violação de princípios (art. 11). 16. A autoridade judicial competente poderá determinar o afastamento do agente público do exercício do cargo, emprego ou função, sem prejuízo da remuneração, quando a medida se fizer necessária à instrução processual ou para evitar a iminente prática de novos ilícitos. O afastamento será de até 90 dias, prorrogáveis uma única vez por igual prazo, mediante decisão motivada. (art. 20, §§ 1º e 2º). 17. O STJ tem mitigado o Princípio da Congruência (juizatrelado ao pedido), ou seja, o juiz poderá aplicar sanção distinta daquela pedida na ação. Todavia, a Lei 14.230/21 trouxe o art. 17, §10-F, segundo o qual será nula a decisão de mérito total ou parcial da ação de improbidade administrativa que o requerido por tipo diverso daquele definido na petição inicial. Assim, há superação do entendimento do STJ.18 Não é possível a fixação das penas aquém do mínimo legal, de acordo com o STJ.19 18. Uma só conduta pode ofender simultaneamente os artigos 9º, 10 e 11 da LIA. Quando isso acontecer, deverá o aplicador da sanção utilizar do princípio da subsunção, de modo que a conduta e a sanção mais graves absorvam as de menor gravidade.20 19. A posse e o exercício de agente público ficam condicionados à apresentação de Declaração de Imposto de Renda e Proventos de qualquer natureza, que tenha sido apresentada à 18 STJ, REsp nº 324.282, 1ª turma, Rel. Min. Humberto Gomes de Barros. 19 STJ. REsp 1582014/CE, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA TURMA, julgado em 07/04/2016, DJe 15/04/2016 20 DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 25ª ed São Paulo: Atlas, 2012. p.730. BRUNO BETTI IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA 25 Secretaria da Receita Federal, a fim de ser arquivada no serviço de pessoal competente (art. 13, caput). 20. A declaração de bens será atualizada anualmente e na data em que o agente público deixar o exercício do mandato, cargo, emprego ou função (art. 13, § 1º). 21. Será apenado com a pena de demissão, sem prejuízo de outras sanções cabíveis, o agente público que se recusar a prestar declaração dos bens, dentro do prazo determinado, ou que a prestar falsa (art. 13, § 2º). 22. A apuração e a sanção de atos de improbidade administrativa podem ser efetuadas pela via administrativa, não se exigindo a via judicial, em razão da independência das instâncias civil, penal e administrativa.21 23. Outro ponto relevante é o referente ao ressarcimento ao erário. De acordo com o STJ, não configura bis in idem a coexistência de título executivo extrajudicial (acórdão do TCU) e sentença condenatória em ação civil pública de improbidade administrativa que determinam o ressarcimento ao erário e se referem ao mesmo fato, desde que seja observada a dedução do valor da obrigação que primeiramente foi executada no momento da execução do título remanescente.22 24. De acordo com o STJ23, são cabíveis medidas executivas atípicas de cunho não patrimonial no cumprimento de sentença proferida em ação de improbidade administrativa. Exemplos dessas medidas é a apreensão da carteira de habilitação e/ou do passaporte de um devedor. 25. O STF, no julgamento da ADI n.º 6.678, por decisão monocrática do Ministro Gilmar Mendes, entendeu que a sanção de suspensão de direitos políticos não se aplica a atos de improbidade culposos que causem dano ao erário, bem como suspendeu a vigência da expressão suspensão dos direitos políticos de três a cinco anos do inciso III do art. 12 da Lei n.º 8.429/1992. Dessa forma, o STF entende que não há que se falar em suspensão dos direitos políticos por atos culposos de improbidade, nem nos atos que causem violação a princípios. 21 STJ, MS 15.054-DF, STJ – Inf. 474, 23/05/2011. 22 STJ. 1ª Turma. REsp 1.413.674-SE, julgado em 17/5/2016. 23 STJ. REsp 1.929.230-MT. BRUNO BETTI IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA 26 No que tange aos atos culposos de dano ao erário, com a nova redação da Lei n.º 8.429/92, dada pela Lei n.º 14.230/2021, de fato não há mais falar-se em improbidade administrativa, uma vez que se exige a figura do dolo para configurar ato de improbidade. Todavia ganha relevância a inviabilidade de se condenar a suspensão dos direitos políticos nos casos de atos que configuram violação a princípios. ATENÇÃO! Não há que se falar em suspensão dos direitos políticos nos atos de improbidade que violem princípios. 10. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA E A ORDEM URBANÍSTICA O art. 52 da Lei n.º 10.257/2001 (Estatuto da Cidade) estabeleceu que, sem prejuízo da punição de outros agentes públicos e da aplicação de outras sanções cabíveis, o prefeito incorre em improbidade administrativa nos termos da Lei n.º 8.429/92, em várias situações em que desrespeita obrigações impostas pelo referido Estatuto: Art. 52. Sem prejuízo da punição de outros agentes públicos envolvidos e da aplicação de outras sanções cabíveis, o Prefeito incorre em improbidade administrativa, nos termos da Lei nº 8.429, de 2 de junho de 1992, quando: I – (VETADO) II – deixar de proceder, no prazo de cinco anos, o adequado aproveitamento do imóvel incorporado ao patrimônio público, conforme o disposto no § 4o do art. 8o desta Lei; III – utilizar áreas obtidas por meio do direito de preempção em desacordo com o disposto no art. 26 desta Lei; IV – aplicar os recursos auferidos com a outorga onerosa do direito de construir e de alteração de uso em desacordo com o previsto no art. 31 desta Lei; V – aplicar os recursos auferidos com operações consorciadas em desacordo com o previsto no § 1º do art. 33 desta Lei; VI – impedir ou deixar de garantir os requisitos contidos nos incisos I a III do § 4º do art. 40 desta Lei; VII – deixar de tomar as providências necessárias para garantir a observância do disposto no § 3º do art. 40 e no art. 50 desta Lei; VIII – adquirir imóvel objeto de direito de preempção, nos termos dos arts. 25 a 27 desta Lei, pelo valor da proposta apresentada, se este for, comprovadamente, superior ao de mercado. BRUNO BETTI IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA 27 Esta norma tutela a ordem urbanística do Município. Para configuração do ato de improbidade administrativa, não se exige enriquecimento ilícito, nem mesmo dano ao erário; seu elemento subjetivo é o dolo. 11. DO PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO E JUDICIAL 11.1. Procedimento Administrativo O procedimento administrativo está regulado pelos artigos 14 a 16 da LIA. De acordo com o art. 14, qualquer pessoa poderá representar à autoridade administrativa competente para que seja instaurada investigação destinada a apurar a prática de ato de improbidade. A representação, que será escrita ou reduzida a termo e assinada, conterá a qualificação do representante, as informações sobre o fato e sua autoria e a indicação das provas de que tenha conhecimento. A autoridade administrativa rejeitará a representação, em despacho fundamentado, se esta não contiver as formalidades estabelecidas trazidas no art. 14, caput. A rejeição não impede a representação ao Ministério Público. Atendidos os requisitos da representação, a autoridade determinará a imediata apuração dos fatos, observando a legislação que regula o processo administrativo disciplinar aplicável ao agente. De acordo com o art. 15, a comissão processante dará conhecimento ao Ministério Público e ao Tribunal ou Conselho de Contas da existência de procedimento administrativo para apurar a prática de ato de improbidade. Ademais, nos termos do seu parágrafo único, o Ministério Público ou Tribunal ou Conselho de Contas poderá, a requerimento, designar representante para acompanhar o procedimento administrativo. 11.2. Procedimento Judicial O procedimento judicial está regulado nos artigos 17 a 18-B da LIA. Nos termos do art. 17, a ação de improbidade será proposta pelo Ministério Público e seguirá o procedimento comum previsto no Código de Processo Civil. ATENÇÃO! Observe-se, então, que não há mais a legitimidade ativa concorrente entre o MP e a PJ interessada. BRUNO BETTI IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA 28 Assim, diante da nova redação do art. 17, a Fazenda Pública, por meio de sua procuradoria, não tem mais legitimidade para a propositura da ação de improbidade. Nesse sentido, no prazo de 1 ano a partir da data de publicação da Lei n.º 14.230/2021, o Ministério Público manifestará interesse no prosseguimento das ações por improbidade administrativaem curso ajuizadas pela Fazenda Pública, inclusive em grau de recurso, de modo que, nesse prazo de 1 ano, suspende-se o processo, sendo vedado praticar qualquer ato processual, podendo o juiz, todavia, determinar a realização de atos urgentes a fim de evitar dano irreparável, salvo no caso de arguição de impedimento e de suspeição, nos termos do art. 314 do Código de Processo Civil. Caso o Ministério Público, nesse prazo de 1 ano, não se manifeste, o processo em questão será extinto sem resolução do mérito. Atente-se, pois, que a ação de improbidade deverá ser proposta perante o foro do local onde ocorrer o dano ou de domicílio da pessoa jurídica prejudicada. A propositura da ação prevenirá a competência do juízo para todas as ações posteriormente intentadas que possuam a mesma causa de pedir ou o mesmo objeto. A petição inicial observará o seguinte: I - o autor deverá individualizar a conduta do réu, apontando os elementos probatórios mínimos que demonstrem a ocorrência das hipóteses dos artigos 9º a 11 da Lei, e de sua autoria, salvo impossibilidade devidamente fundamentada; II - será instruída com documentos ou justificação que contenham indícios suficientes da veracidade dos fatos e do dolo imputado ou com razões fundamentadas da impossibilidade de apresentação de qualquer dessas provas, observada a legislação vigente, inclusive as disposições inscritas nos artigos 77 e 80 do CPC. A petição inicial será rejeitada nos casos do art. 330 do CPC, bem como quando não preenchidos os requisitos acima, ou ainda quando manifestamente inexistente o ato de improbidade imputado. Estando a inicial em devida forma, o juiz mandará autuá-la e ordenará a citação dos requeridos para que a contestem no prazo comum de 30 dias, iniciando-se o prazo na forma do art. 231 do CPC. Assim, observe que não há mais a defesa prévia, que estava prevista no antigo art. 17, § 7º, da Lei n.º 8.429/92. Da decisão que rejeita questões preliminares suscitadas pelo réu em sua contestação, cabe agravo de instrumento. BRUNO BETTI IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA 29 Havendo a possibilidade de solução consensual, poderão as partes requerer ao juiz a interrupção do prazo para a contestação, por prazo não superior a 90 (noventa) dias. Oferecida a contestação e, se for o caso, ouvido o autor, o juiz: I - procederá ao julgamento conforme o estado do processo, levando em conta a eventual manifesta inexistência do ato de improbidade; II - poderá desmembrar o litisconsórcio, visando otimizar a instrução processual. Após a réplica do Ministério Público, o juiz proferirá decisão indicando com precisão a tipificação do ato de improbidade administrativa imputável ao réu, sendo-lhe vedado modificar o fato principal e a capitulação legal apresentada pelo autor. Proferida a decisão, as partes serão intimadas a especificar as provas que pretendem produzir. Para cada ato de improbidade administrativa, deverá necessariamente ser indicado apenas um tipo dentre aqueles previstos nos artigos 9º, 10 ou 11 da Lei. Será nula a decisão de mérito total ou parcial da ação de improbidade administrativa que: I - condena o requerido por tipo diverso daquele definido na petição inicial; II - condene o requerido sem a produção das provas por ele tempestivamente especificadas. Em qualquer momento do processo, verificada a inexistência do ato de improbidade, o juiz julgará a demanda improcedente. Sem prejuízo da citação dos réus, intimar-se-á a pessoa jurídica interessada para, querendo, intervir no processo. Se a imputação envolver a desconsideração de pessoa jurídica, serão observadas as regras previstas nos arts. 133 a 137, do CPC. A qualquer momento, identificando o magistrado a existência de ilegalidades ou irregularidades administrativas a serem sanadas sem que estejam presentes todos os requisitos para a imposição das sanções aos agentes incluídos no polo passivo da demanda, poderá, em decisão motivada, converter a ação de improbidade administrativa em ação civil pública, regulada pela Lei nº 7.347/85. Da decisão que converter a ação de improbidade em ação civil pública caberá agravo de instrumento. Ao réu será assegurado o direito de ser interrogado sobre os fatos de que trata a ação sendo que a recusa ou o silêncio não implicará a confissão. Não se aplica na ação de improbidade administrativa (art. 17, § 19): BRUNO BETTI IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA 30 I - a presunção de veracidade dos fatos alegados pelo autor em caso de revelia; II - a imposição de ônus da prova ao réu, na forma do art. 373, §§1º e 2º, do CPC. III - o ajuizamento de mais de uma ação de improbidade administrativa pelo mesmo fato, competindo ao Conselho Nacional do Ministério Público dirimir conflitos de atribuições entre membros de Ministérios Públicos distintos. IV- o reexame obrigatório da sentença de improcedência ou de extinção sem resolução de mérito. A assessoria jurídica que emitiu o parecer atestando a legalidade prévia dos atos administrativos praticados pelo administrador público ficará obrigada a defende-lo judicialmente, caso este venha a responder ação por improbidade administrativa, até que a decisão transite em julgado (art. 17, § 20). Das decisões interlocutórias cabe agravo de instrumento, inclusive da decisão que rejeita questões preliminares suscitadas pelo réu em sua contestação (art. 17, § 21). De acordo com o art. 17-B, o Ministério Público poderá, conforme as circunstâncias do caso concreto, celebrar acordo de não persecução cível, desde que advenham, ao menos, os seguintes resultados: I - o integral ressarcimento do dano; II - a reversão, à pessoa jurídica lesada, da vantagem indevida obtida, ainda que oriunda de agentes privados. A celebração do acordo dependerá, cumulativamente: I - da oitiva do ente federativo lesado, seja em momento anterior ou posterior da propositura da ação; II - de aprovação, no prazo de até 60 (sessenta) dias, pelo órgão do Ministério Público competente para apreciar as promoções de arquivamento de inquéritos civis, se anterior ao ajuizamento da ação; III - de homologação judicial, independente do acordo ocorrer antes ou depois do ajuizamento da ação de improbidade administrativa. Em qualquer caso, a celebração do acordo levará em conta a personalidade do agente, a natureza, as circunstâncias, a gravidade e a repercussão social do ato de improbidade, bem como as vantagens, para o interesse público, na rápida solução do caso. Para fins de apuração do valor do dano a ser ressarcido, deverá ser realizada a oitiva do Tribunal de Contas competente, para que se manifeste com indicação de parâmetros, no prazo de 90 dias. BRUNO BETTI IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA 31 O acordo poderá ser celebrado no curso das investigações de apuração do ilícito, no curso da ação de improbidade ou quando da execução da sentença condenatória. As negociações para a celebração do acordo ocorrerão entre o Ministério Público, de um lado, e, de outro, o investigado ou demandado e o seu defensor. O acordo poderá contemplar a adoção de mecanismos e procedimentos internos de integridade, auditoria e incentivo à denúncia de irregularidades e a aplicação efetiva de códigos de ética e de conduta no âmbito da pessoa jurídica, se for o caso, bem como de outras medidas em favor do interesse público e de boas práticas administrativas. Em caso de descumprimento do acordo, o investigado ou demandado ficará impedido de celebrar novo acordo pelo prazo de 5 (cinco) anos, contados do conhecimento pelo Ministério Público do efetivo descumprimento. Por sua vez, de acordo com art. 17-C, a sentença proferida nos processos de improbidade deverá, além de observar o contido no art. 489 do CPC: I - indicar de modo preciso os fundamentos que demonstram os elementos a que se referem os arts. 9º a 11 da Lei, que não podem ser presumidos; II - considerar as consequênciaspráticas da decisão, sempre que decidir com base em valores jurídicos abstratos; III - considerar os obstáculos e as dificuldades reais do gestor e as exigências das políticas públicas a seu cargo, sem prejuízo dos direitos dos administrados e das circunstâncias práticas que houverem imposto, limitado ou condicionado a ação do agente; IV - considerar, para a aplicação das sanções, de forma isolada ou cumulativa: a) os princípios da proporcionalidade e da razoabilidade; b) a natureza, a gravidade e o impacto da infração cometida; c) a extensão do dano causado; d) o proveito patrimonial obtido pelo agente; e) as circunstâncias agravantes ou atenuantes; f) a atuação do agente em minorar os prejuízos e consequências advindas de sua conduta omissiva ou comissiva; g) os antecedentes do agente. V - levar em conta na aplicação das sanções a dosimetria das sanções relativas ao mesmo fato já aplicadas ao agente; VI - na fixação das penas relativamente ao terceiro, quando for o caso, tomar em vista a sua atuação específica, não sendo admissível a sua responsabilização por ações e omissões para as quais não tiver concorrido ou das quais não tiver obtido vantagens patrimoniais indevidas; BRUNO BETTI IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA 32 VII - indicar, na apuração da ofensa a princípios, critérios objetivos que justifiquem a imposição da sanção. A ilegalidade, sem a presença de dolo que a qualifique, não configura ato de improbidade. Na hipótese de litisconsórcio passivo, a condenação ocorrerá no limite da participação e benefícios diretos, vedada qualquer solidariedade. Não haverá remessa necessária nas sentenças de improbidade. Outro dispositivo relevante é o art. 17-D, segundo o qual a ação por improbidade administrativa é repressiva, de caráter sancionatório, destinada à aplicação de sanções de caráter pessoal, e não constitui ação civil, sendo vedado seu ajuizamento para o controle de legalidade de políticas públicas e para a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos, coletivos e individuais homogêneos. O que o dispositivo legal estabelece é que as questões atreladas ao controle de legalidade de políticas públicas, à proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos, coletivos e individuais homogêneos não poderão ser tutelados no âmbito da ação de improbidade administrativa. Nesse sentido, o parágrafo único do art. 17-D estabelece que, o controle de legalidade de políticas públicas e a responsabilidade de agentes públicos, inclusive políticos, entes públicos e governamentais, por danos ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico, a qualquer outro interesse difuso ou coletivo, à ordem econômica, à ordem urbanística, à honra e à dignidade de grupos raciais, étnicos ou religiosos e ao patrimônio público e social submetem-se à Lei de Ação Civil Pública. Portanto, o objetivo da lei é deixar claro que esses bens jurídicos não poderão ser objeto da ação de improbidade administrativa. Ademais, de acordo com o art. 18, a sentença que julgar procedente a ação fundada nos arts. 9º e 10, da Lei, condenará ao ressarcimento dos danos e à perda ou à reversão dos bens e valores ilicitamente adquiridos, conforme o caso, em favor da pessoa jurídica prejudicada pelo ilícito. Havendo a necessidade de liquidação do dano, a pessoa jurídica prejudicada procederá a essa determinação e ao ulterior procedimento para cumprimento da sentença referente ao ressarcimento do patrimônio público ou à perda ou reversão dos bens. Caso a pessoa jurídica prejudicada não adote as providências acima, no prazo de seis meses a contar do trânsito em julgado da sentença de procedência, caberá ao Ministério Público proceder à respectiva liquidação do dano e ao cumprimento da sentença, sem prejuízo de eventual responsabilização pela omissão verificada. BRUNO BETTI IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA 33 Para fins de apuração do valor do ressarcimento, deverão ser descontados os serviços efetivamente prestados. O juiz poderá autorizar o parcelamento do débito resultante de condenação pela prática de improbidade administrativa se o réu demonstrar incapacidade financeira de saldá-lo de imediato, em até 48 (quarenta e oito) parcelas mensais, corrigidas monetariamente. Por sua vez, o art. 18-A estabelece que a requerimento do réu, na fase de cumprimento da sentença, o juiz unificará eventuais sanções aplicadas com outras já impostas em outros processos, tendo em vista a eventual continuidade de ilícito ou a prática de diversas ilicitudes: I - no caso de continuidade de ilícito, o juiz promoverá a maior sanção aplicada, aumentando-a de um terço, ou a soma das penas aplicando-se a solução mais benéfica ao réu; II - no caso de prática de novos atos ilícitos pelo mesmo sujeito, as sanções serão somadas. Por fim, nos termos do parágrafo único, as sanções de suspensão de direitos políticos e proibição de contratar ou receber incentivos fiscais ou creditícios do Poder Público observarão o limite máximo de 20 (vinte) anos. 12. PRESCRIÇÃO De acordo com o art. 23 da LIA, a ação para a aplicação das sanções dos atos de improbidade administrativa prescreve em 8 anos, contados a partir da ocorrência do fato ou, no caso de infrações permanentes, do dia em que cessou a permanência. A instauração de inquérito civil ou processo administrativo para apuração dos ilícitos referidos nesta Lei suspende o curso do prazo prescricional, por no máximo 180 dias corridos, recomeçando a correr após a sua conclusão ou, caso não concluído o processo, esgotado o prazo de suspensão. O inquérito civil para apuração do ato de improbidade será concluído no prazo de 365 dias corridos, podendo ser prorrogado uma única vez por igual período, mediante ato fundamentado, submetido à revisão da instância competente do órgão ministerial, conforme dispuser a respectiva lei orgânica. Encerrado o prazo de 365 dias, e não sendo o caso de arquivamento do inquérito civil, a ação deverá ser proposta no prazo de 30 dias. A prescrição será interrompida: I - pelo ajuizamento da ação de improbidade administrativa; BRUNO BETTI IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA 34 II - pela publicação da sentença condenatória; III - pela publicação de decisão ou acórdão de Tribunal de Justiça ou Tribunal Regional Federal confirmando sentença condenatória ou reformando sentença de improcedência; IV - pela publicação de decisão ou acórdão do Superior Tribunal de Justiça confirmando acórdão condenatório ou reformando acórdão de improcedência; V - pela publicação de decisão ou acórdão do Supremo Tribunal Federal confirmando acórdão condenatório ou reformando acórdão de improcedência. Interrompida a prescrição, o prazo recomeça a correr, do dia da interrupção, pela metade do prazo de 8 anos. A suspensão e a interrupção da prescrição produzem efeitos relativamente a todos os que concorreram para a prática do ato de improbidade. Nos atos de improbidade conexos, que sejam objeto do mesmo processo, estendem-se aos demais a suspensão e a interrupção relativas a qualquer deles. O juiz ou o Tribunal, depois de ouvido o Ministério Público, deverá, de ofício ou a requerimento da parte interessada, reconhecer a prescrição intercorrente da pretensão sancionadora e decretá-la de imediato caso, entre os marcos interruptivos, transcorra o prazo de 4 anos. O STF reafirmou essa imprescritibilidade estabelecendo a seguinte tese de repercussão geral: “São imprescritíveis as ações de ressarcimento ao erário fundadas na prática de ato doloso tipificado na Lei de Improbidade Administrativa”24. Ações de ressarcimento por atos dolosos Ações de ressarcimento por atos culposos IMPRESCRITÍVEL PRESCRITÍVEL Ademais, o STJ entende que o termo inicial da prescrição em improbidadeadministrativa em relação a particulares que se beneficiam de ato ímprobo é idêntico ao do agente público que praticou a ilicitude.25 Trata-se de entendimento firmado pela Súmula 634 do STJ. Por outro lado, entendeu o Superior Tribunal que em caso de concurso de agentes, a prescrição da ação de improbidade é contada individualmente.26 24 Recurso Extraordinário (RE) 852475. Julgamento dia 08 de agosto de 2018. 25 STJ AgRg no REsp 1510589/SE, Rel. Ministro BENEDITO GONÇALVES, PRIMEIRA TURMA, Julgado em 26/05/2015,DJE 10/06/2015 26 STJ. REsp 1230550/PR, Rel. Ministro OG FERNANDES, SEGUNDA TURMA, julgado em 20/02/2018, DJe 26/02/2018. BRUNO BETTI IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA 35 ATENÇÃO! De acordo com o art. 21, a aplicação das sanções previstas na lei independe: I - da efetiva ocorrência de dano ao patrimônio público, salvo quanto à pena de ressarcimento e aos casos de dano ao erário; É em razão do inciso I que o STJ não aplica o Princípio da Insignificância nos casos de improbidade administrativa. II - da aprovação ou rejeição das contas pelo órgão de controle interno ou pelo Tribunal ou Conselho de Contas. De acordo com o art. 21, § 1º, os atos do órgão de controle interno ou externo serão tomados em consideração pelo juiz quando tiverem servido de fundamento para a conduta do agente público. Por sua vez, o § 2º estabelece que as provas produzidas perante os órgãos de controle e as correspondentes decisões deverão ser consideradas na formação da convicção do juiz, sem prejuízo da análise acerca do dolo na conduta do agente. O § 3º afirma que as sentenças civis e penais produzirão efeitos em relação à ação de improbidade quando decidirem pela inexistência da conduta ou pela negativa da autoria. O § 4º estabelece que a absolvição criminal em ação que discuta os mesmos fatos, confirmada por decisão colegiada, impede o trâmite da ação da qual trata esta lei, havendo comunicação com todos os fundamentos de absolvição previstos no art. 386 do Decreto-Lei n.º 3.689, de 3 de outubro de 1941. O § 5º apregoa que eventuais outras sanções aplicadas em outras esferas deverão ser compensadas com as sanções aplicadas nos termos desta lei. 13. DA INDISPONIBILIDADE DOS BENS – ART. 16 Na ação por improbidade administrativa poderá ser formulado, em caráter antecedente ou incidente, pedido de indisponibilidade de bens dos réus, a fim de garantir a integral recomposição do erário ou do acréscimo patrimonial resultante de enriquecimento ilícito. Diante da nova redação legal, a indisponibilidade de bens pode ser decretada diante de qualquer dos atos tipificados como improbidade administrativa, alinhando-se à jurisprudência do STJ. O pedido de indisponibilidade pode ser formulado independentemente da representação da autoridade junto ao Ministério Público. O pedido de indisponibilidade apenas será concedido mediante a demonstração no caso concreto de perigo de dano irreparável ou de risco ao resultado útil do processo, desde que o juiz BRUNO BETTI IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA 36 se convença da probabilidade da ocorrência dos atos descritos na petição inicial à luz dos seus respectivos elementos de instrução, após a oitiva do réu em 5 (cinco) dias. Assim, há clara superação do entendimento de que a indisponibilidade de bens seria uma tutela de evidência, passando a se configurar como uma tutela de urgência. Nesse sentido, a lei estabelece que será aplicado à indisponibilidade de bens, no que for cabível, o regime da tutela provisória de urgência previsto no CPC. A medida pode ser decretada sem a oitiva prévia do réu, sempre que o contraditório prévio possa comprovadamente frustrar a efetividade da medida ou que haja outras circunstâncias que recomendem a proteção liminar, não podendo a urgência ser presumida. Havendo mais de um réu na ação, a somatória dos valores declarados indisponíveis não poderá superar o montante indicado na petição inicial como dano ao erário ou enriquecimento ilícito. O valor da indisponibilidade levará em conta a estimativa de dano indicada na petição inicial, permitindo-se a sua substituição por caução idônea, fiança bancária ou seguro-garantia judicial, a requerimento do réu, bem como a sua readequação durante a instrução do processo. A indisponibilidade de bens de terceiro depende da demonstração da sua efetiva concorrência para os atos ilícitos apurados ou, tratando-se de pessoa jurídica, da instauração de incidente de desconsideração da personalidade jurídica, a ser processada na forma da lei processual. Quando for o caso, o pedido incluirá a investigação, o exame e o bloqueio de bens, contas bancárias e aplicações financeiras mantidas pelo indiciado no exterior, nos termos da lei e dos tratados internacionais. Da decisão que defere ou indefere a medida relativa à indisponibilidade cabe agravo de instrumento. A indisponibilidade recairá sobre bens que assegurem exclusivamente o integral ressarcimento do dano ao erário, não incidindo sobre os valores a serem eventualmente aplicados a título de multa civil ou sobre acréscimo patrimonial decorrente de atividade lícita. A ordem de indisponibilidade de bens deverá priorizar veículos de via terrestre, bens imóveis, bens móveis em geral, semoventes, navios e aeronaves, ações e quotas de sociedades simples e empresárias, pedras e metais preciosos e, apenas na inexistência destes, o bloqueio de contas bancárias, de forma a garantir a subsistência do acusado e a manutenção da atividade empresária ao longo do processo. BRUNO BETTI IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA 37 O juiz, ao apreciar o pedido de indisponibilidade de bens do réu, observará os efeitos práticos da decisão, sendo vedada a adoção de medida capaz de acarretar prejuízo à prestação de serviços públicos. É vedada a decretação de indisponibilidade da quantia de até 40 (quarenta) salários-mínimos depositados em caderneta de poupança, em outras aplicações financeiras ou em conta corrente. É vedada a decretação de indisponibilidade do bem de família do réu, salvo se comprovado que o imóvel seja fruto de vantagem patrimonial indevida, conforme descrito no art. 9º da Lei. Trata- se aqui de superação de entendimento do STJ27. 14. COMENTÁRIOS FINAIS De acordo com o ar. 23-A, é dever do Poder Público oferecer contínua capacitação aos agentes públicos e políticos que atuem com prevenção ou repressão de atos de improbidade administrativa. Por sua vez, o art. 23-B estabelece que, nas ações e acordos regidos pela Lei n.º 8.429/92, não haverá adiantamento de custas, preparo, emolumentos, honorários periciais e quaisquer outras despesas. No caso de procedência da ação, as custas e demais despesas processuais serão pagas ao final. Haverá condenação em honorários sucumbenciais em caso de improcedência da ação de improbidade se comprovada má-fé. O art. 24 prevê que os atos que ensejem enriquecimento ilícito, perda patrimonial, desvio, apropriação, malbaratamento ou dilapidação de recursos públicos dos Partidos Políticos, ou suas fundações, serão responsabilizados pela Lei n.º 9.096/95. 27 REsp 1461882/PA, Rel. Ministro SÉRGIO KUKINA, PRIMEIRA TURMA, Julgado em 05/03/2015,DJE 12/03/2015. BRUNO BETTI IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA 38 JURISPRUDÊNCIA IMPORTANTE DIREITO ADMINISTRATIVO. CARACTERIZAÇÃO DE TORTURA COMO ATO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. A tortura de preso custodiado em delegacia praticada por policial constitui ato de improbidade administrativa que atenta contra os princípios da administração pública. O legislador estabeleceu premissa que deve orientar o agente público em toda a sua atividade, a saber: "Art. 4° Os agentes públicos de qualquer nível ou hierarquia são obrigados a velar pela estrita observância dos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade e publicidade no trato dos assuntos que lhe são afetos". Em reforço, o art. 11, I, da mesma lei, reitera
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