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Aula 01_Visões sobre a Idade Média
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Temática: Visões sobre a Idade Média
 
  A aula de hoje tem como objetivo apontar os principais problemas para o estudo da Idade Média, desde as questões que envolvem as fontes de pesquisa, passando pelos preconceitos sobre a “Idade das Trevas” até as diferentes abordagens do período.
Para começar, pense no nome dado ao período que começa no século V e termina no século XV : o que significa Idade Média? Por que denominá-la assim?
 Num primeiro momento, o que vale destacar é que essa definição é dada em relação a outros períodos: pois “média” é aquela que fica no meio. Simplificadamente, então, esse período fica entre outros dois, a Antiguidade e a Modernidade ou Idade Moderna.  Esse nome sugere que a Idade Média não tem uma identidade própria, uma vez que ela está definida por oposição ao que vem antes e ao que veio depois.
 Uma outra expressão, cunhada pelos renascentistas do século XVI, aumentou o “desprestígio” desse período histórico. Eles chamavam a Idade Média de “Idade das Trevas”, considerando-a um tempo marcado pela ignorância e pela superstição em contraste com a antiguidade greco-romana, cujas tradições tentavam recuperar. A Idade Média foi marcada também pelo domínio absoluto da Igreja Católica na Europa.
 O movimento iluminista do século XVIII, seguindo a opinião dos renascentistas, também mostrava menosprezo por um período que julgavam de baixo desenvolvimento tecnológico e cultural.
 A recuperação do “prestígio” medieval acontece somente no século XIX. 
Porém, por outro lado, o romantismo do século XIX idealizou a Idade Média como um período marcado pela integração entre homem e natureza, mais rural e espiritualizado. Temerosos com as convulsões sociais do período em que viveram (Revolução Francesa, Primavera dos Povos etc), os românticos idealizam a Idade Média como um período de ordem e hierarquia sob o comando do cristianismo.
 Todavia, não deve ser motivo para surpresas, o fato de que o período que abrange o século V até o XV tenha sido visto de diferentes maneiras. Na verdade, cada época olha o passado a sua maneira. De certo modo o passado é sempre filho do presente.  Simplificadamente, entre essas duas correntes de interpretação, uma pejorativa e outra valorativa, a historiografia tradicional optou por aquela influenciada pelo Renascimento e pelo Iluminismo. Não por acaso, pois uma época urbanizada e desenvolvida tecnologicamente tende a ver com distanciamento a Idade Média.
 Os historiadores tinham bons argumentos para corroborar a visão depreciativa da Idade Média. E isso porque o conhecimento no mundo ocidental está marcado pela palavra escrita e a vida na Idade Média estava marcada pela palavra falada. E quando os historiadores tentavam compreender o período medieval buscando textos sobre o período eles encontravam um grande vazio, pois a esmagadora maioria da população era iletrada. O domínio da escrita ficava praticamente reduzido aos religiosos. Havia então uma “ausência” de fontes que acabava por corroborar a Idade Media como a época da ignorância, das “trevas”.
 As primeiras abordagens historiográficas da Idade Média estiveram muito centradas no aspecto econômico, nas relações de trabalho, avançando nas questões relacionadas ao feudo, ao senhorio e as relações de soberania e vassalagem. Esta corrente estava preocupada com a questão da servidão, entendida como uma melhoria da condição das pessoas em relação à escravidão, mas ainda um estágio inferior em relação à liberdade do trabalho assalariado, fruto do desenvolvimento do capitalismo - e muito distante daquela que sonhavam os marxistas.
 Todavia, os novos estudos sobre o período, enfatizam o que se convencionou chamar de “mentalidade”, isto é, a história cultural; nesse sentido, a história medieval é tão rica quanto qualquer outra.
 Embora absorva as melhores interpretações da macro-história, entrando no debate sobre o feudalismo e as relações de trabalho, a história das mentalidades também busca inovar na busca e no tratamento das fontes. Assim, para conhecer o período medieval, devemos ir além da palavra escrita, dos textos, e analisar também objetos, igrejas, vitrais etc, enfim, a cultura material do período. Não é por acaso que a renovação dos estudos históricos, a chamada Escola dos Annales, foi encabeçada por dois medievalistas, Lucien Fevre e Marc Bloch, e continua contando com medievalistas como Jacques Le Goff e Georges Duby.
 
Nessa aula você conheceu os principais estereótipos e preconceitos que predominam esse período histórico, chegando mesmo a nomeá-lo pejorativamente. Conheceu também a influência que esses preconceitos exerceram na historiografia e as novas abordagens para superar essas questões.
 
Aula 02_Periodização medieval
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Temática: Periodização medieval
   Na aula de hoje abordaremos a periodização medieval, demonstrando a dificuldade de marcar o início e o fim de um momento histórico. Você também vai conhecer as principais opções de marcos para o “começo” e o “fim” da Idade Média.
 Imagine que ao final da sua vida você tenta descrever para alguém qual foi o melhor período da sua história. Ou, então, qual a data precisa em que você deixou a juventude e virou adulto. Há uma data específica para isso? Você foi dormir jovem e acordou adulto? Ou foi a sua vida que mudou do dia para a noite: era ótima e, de repente,os problemas começaram “do nada”?
 Assim como é difícil estabelecer uma data específica para as transformações da sua vida, porque, em geral, as mudanças ocorrem aos poucos, como um processo, também é difícil demarcar o começo e o fim exato de um período histórico.
 A história não vem em pacote, rigidamente demarcada. Os historiadores é que elaboram periodizações coerentes para fins de estudo e, posteriormente, os professores o fazem para fins didáticos. No caso específico da Idade Média, são muitas as opções de demarcação para o seu “início” e “fim”. Como resumiu Hilário Franco Junior
 
 “[...] já se falou, dentre outras datas, em 476 (deposição do último imperador romano), 392 (oficialização do cristianismo) ou 330 (reconhecimento da liberdade de culto aos cristãos) como o ponto de partida da Idade Média. Para seu término já se pensou em 1453 (queda de Constantinopla e fim da guerra dos cem anos), 1492 descoberta da América) e 1517 (início da reforma protestante)”1
  1JUNIOR, H.F. A Idade Média e o nascimento do Ocidente. São Paulo: Editora Brasiliense, 1988, p, 11.
 Vemos que, não só a data, mas também o século é controverso. Todavia, para uma abordagem inicial como a nossa, vamos utilizar a periodização tradicional, que considera o início no século V com as invasões “bárbaras” e o término no século XV, período das Grandes Navegações e da chegada à América. Dessa maneira, evitaremos um ano específico e aconselhamos a você consultar a bibliografia do curso para aprofundar a questão.
   Definidos esses cerca de 1000 anos de história como referência, outro problema relacionado à periodização é saber a abrangência geográfica e as subdivisões do período. Quanto ao primeiro aspecto, você vai conhecer, principalmente, o desenvolvimento da Europa Ocidental, mas também, brevemente, a expansão do Islã e o Império Bizantino.
 Tamanha abrangência geográfica acarreta, sem dúvida, alguns problemas, pois uma das características do período medieval é justamente a fragmentação política e o desenvolvimento particular das instituições em cada região — na medida do possível você vai ser alertado para essas especificidades.
 Quanto à subdivisão desse período, a mais consagrada é a que o divide em Alta Idade Média e Baixa Idade Média, cada um com as características discutidas mais detalhadamente nas páginas seguintes. Resumidamente, na Alta Idade Média foram conjugados a herança do Império Romano e as tradições oriundas das invasões bárbaras. A partir do século XI, com o recuo das invasões, entre outras coisas, surgiram um conjunto de transformações que marcaram o ápice da cultura medieval e também apontaram, ao mesmo tempo para a sua superação. Esse “subperíodo” foidenominado Baixa Idade Média. Contudo, vale destacar que essa subdivisão deixa em segundo plano alguns aspectos culturais mais profundos e que permaneceram atuando nos dois períodos, ou, então, processos que começaram em um período e só terminaram no outro. A religiosidade é uma exemplo de aspecto cultural profundo que permaneceu por toda a Idade Média, estendendo-se para além, do período, na Idade Moderna.
 
 
Nessa aula você refletiu sobre as características e limitações da periodização, completando um panorama sobre as principais dificuldades para o estudo do período. A partir de agora você está preparado para conhecer esse milenar período da história.
 
 
 Hilário Franco Junior divide o período em “Primeira Idade Média”, “Alta Idade Média”, Idade Média Central” e Baixa Idade Média” JUNIOR, H.F. A Idade Média e o nascimento do Ocidente. São Paulo: Editora Brasiliense, 1988, pp12-15.
 
Aula 03_A queda do Império Romano
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  Temática: A queda do Império Romano
  
Na aula de hoje você vai conhecer a decadência do Império Romano, o desenrolar e as causas do processo, e o período posterior, que inicia a Idade Média e é marcado pelo intercâmbio entre as culturas “bárbaras” e a romana.  Como um império com o esplendor e riqueza de Roma, cujos vestígios ainda impressionam , simplesmente sucumbiu? A explicação usual e pontual para o fim do império romano seria a invasão dos “bárbaros”, o que, de certa maneira, faz aumentar a perplexidade: como “bárbaros” poderiam acabar com “civilizados”?
 Historicamente, a queda de Roma pode ser explicada por motivos internos, inerentes à sociedade romana, mas também por fatores externos. A crise romana já pode ser notada no século III e, basicamente, o próprio tamanho e forma de desenvolvimento do Império Romano contribuiu para seu colapso. 
  O império romano se alimentava de conquistas externas. Eram elas que forneciam a mão de obra (escrava), tributos, soldados para os exércitos e os materiais dos saques usados para recompensar os soldados. Roma exigia cada vez mais tributos para alimentar a burocracia, o exército, a própria guerra, o luxo do império, sem falar da corrupção. O sólido império entrava em crise.
 No ambiente de crise, houve uma forte diminuição das atividades urbanas e, como consequência, uma forte migração para o campo ou, como dizemos, houve um processo de ruralização do Império. Sem dúvida a crise era maior na parte ocidental do Império do que na oriental, pois esta, constituída mais recentemente, ainda possuía os despojos das guerras de conquista. Percebendo esse descompasso, o império foi divido em dois e Constantino transferiu a sede imperial para a parte oriental, para a cidade que ele construiu entre os anos de 324 até 336 — que vai ser tema de aula posterior.
  Internamente o império estava em crise e externamente ele também passava a sofrer pressão. A fim de minorar os problemas, os romanos fizeram acordos com alguns povos “bárbaros” que viviam as margens do império para defendê-lo da invasão de outros povos. Assim, alguns bárbaros foram entrando lentamente no império, ultrapassando as suas fronteiras. Vê-se, portanto, que não faz sentido supor que as invasões aconteceram de um momento para o outro, repentinamente.
 Na verdade a expansão do império romano foi tão expressiva que a população imperial não dava conta de colonizar as terras conquistadas, função para a qual muitos povos ditos bárbaros foram convidados, principalmente nas regiões fronteiriças.
 Todavia, devemos nos perguntar, qual o interesse desses povos no império? Primeiramente, eles foram pressionados a entrar no império, às vezes, em busca de proteção, devido aos movimentos dos nômades das estepes orientais, os terríveis e temidos hunos. Os hunos eram cavaleiros exemplares, atacaram toda a Europa e chegaram à porta de Roma.
  Em segundo lugar, a riqueza de Roma, funcionava como uma força de sedução e atração. Muitas populações bárbaras estavam mais interessadas em fazer parte do império do que propriamente em derrubá-lo. O clima mais quente e as terras férteis do sul da Europa também atuavam como força de atração para essas populações de agricultores.
 Convém chamar a atenção para o termo “bárbaro” que possui uma carga negativa, pois além de agrupar na mesma denominação um número grande de povos culturalmente diferentes, também possui uma carga depreciativa em relação à língua falada por esses povos, uma espécie de “balbuciar” infantil, segundo os romanos. Para eles, “bárbaros” era uma miríade de outros povos — godos, visigodos, ostrogodos, vândalos, francos, anglos, saxões etc — a maioria germanos, que possuíam uma tradição e língua aproximadas entre si.
  Quando esses povos, finalmente, derrotaram o poderio romano, começou um longo processo de trocas culturais entre o “vencedor” e o “vencido”, desenvolvendo-se um período de formação de uma nova sociedade, que não era nem romana, nem bárbara. Muitos fatores contribuíram para o amalgamento das sociedades germânicas, dentre eles a hierarquização social semelhante à do império e, principalmente, o papel exercido pela  Igreja, como unificadora religiosa e ideológica. A Igreja, grande herdeira do poderio simbólico do Império Romano e de seu saber, vai, paulatinamente, unificando as duas culturas.  O colapso político de Roma foi substituído por uma pluralidade de reinos germânicos até o século VIII. Nestes reinos,acelerou-se o processo de ruralização do Império Romano com a distribuição de terras levadas a cabo pela aristocracia germânica entre os guerreiros vitoriosos, aumentando a fragmentação política e a concentração populacional nas áreas rurais.
  Nesse período de formação da sociedade feudal, a insegurança física e econômica eram grandes. Os trabalhadores passaram a se colocar sob a proteção dos senhores proprietários e guerreiros, fortalecendo a instituição da servidão como regime majoritário de trabalho, em detrimento da escravidão e do trabalho livre. A servidão tornou-se o regime de mão de obra característico do feudalismo, mas esse é assunto para aulas posteriores.
 De qualquer maneira, os diversos reinos bárbaros alimentavam a nostalgia e o sonho de restauração do Império. Foram vários os líderes que tentaram restabelecer a centralização política, inclusive Carlos Magno do Reino Franco — assunto para a próxima unidade.
 Nessa aula você conheceu o processo que levou ao fim do Império Romano, conheceu suas causas internas — a própria característica da expansão — e suas causas externas, as pressões dos povos “bárbaros”. E vislumbrou também a formação de um novo mundo com características dos dois outros mundo que o formaram. Antes de você conhecer os novos reinos bárbaros, irá conhecer a parte oriental do Império.
Aula 04_A fundação e a geopolítica de Constantinopla
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 Temática: A fundação e a geopolítica de  Constantinopla
Hoje — e por mais duas aulas — você vai estudar o Império Bizantino, formado na parte oriental do Império Romano que não sucumbiu à invasão bárbara. Inicialmente você vai conhecer a história da cidade de Constantinopla, atual Istambul na Turquia, a partir de sua fundação e de sua importância geopolítica para o Império Romano.
 Constantinopla foi reconstruída entre 324 e 336 por Constantino, no local onde havia uma antiga colônia grega, chamada Bizâncio. A cidade foi edificada segundo o modelo romano e, logo após a inauguração, foi denominada “Nova Roma”, ou seja, aquela que viria a ser a capital do Império Bizantino. Na verdade, surgiu como uma cidade do Império Romano. A simbologia da refundação mostra claramente a ideia de recriar Roma às margens do estreito de Bósforo.
 
Essa refundação tinha várias razões. Como afirmou Paul Lemerle, havia as razões estratégicas:
 
[...] as ameaças mais graves que pesavam sobre o império vinham dos godos e dos persas; Roma, ela própria álias vulnerável às tribos da Germânia ou da Ilíria, estava extremamente afastada desses dois teatros de operações; Constantinopla, fortaleza inexpugnável, era ao mesmo tempo uma excelente base de partida, terrestre e marítima, contraos bárbaros do norte e do leste. Econômicas: a necessidade, em tempos tumultuados, de manter livre a rota dos estreitos e de assegurar as trocas comerciais entre o Mediterrâneo e os países da costa do Mar Negro, entre a  Europa e a Ásia. Políticas, por fim: a decadência geral da Itália, já tão nítida no século II, tinha se precipitado; Roma orgulhosamente petrificada em seus velhos privilégios era uma cidade morta: o Oriente grego parecia claramente, por sua riqueza e civilização, a parte viva do império” 1
 1LEMERLE, P. História de Bizâncio. São Paulo: Martins Fontes, pp. 16- 17.
 Todavia foi só em 404, com a pressão dos Visigodos — um dos povos germanos que invadiu o Império, que Constantinopla foi declarada a capital do Império Romano. 
  Muitos dos aspectos ressaltados por Lemerle têm como base o aspecto geopolítico da cidade. E, nesse sentido, podemos fazer um paralelo com a situação atual, pois muito da importância geopolítica está relacionada ao fato de Constantinopla, atual Istambul, estar localizada exatamente na encruzilhada entre o Oriente e o Ocidente, fazendo a ponte entre as duas regiões, sem ter uma definição clara se a cidade é ocidental ou oriental.
 Esse hibridismo atinge a própria Turquia, país em que, atualmente, se localiza Istambul. A Turquia está negociando a sua participação como membro da União Europeia. Entretanto, essa participação não encontra consenso nem interna nem externamente.
 Do ponto de vista econômico a localização de Constantinopla favorecia o rico comércio entre o Ocidente e o Oriente, — o comércio de especiarias e de seda da China e Índia. Consequentemente, essa era uma área muito cobiçada. Uma das principais rotas comerciais, a da seda, estava na mão dos vizinhos persas com quem Bizâncio tinha que negociar e, por vezes, guerrear.
 Os bizantinos tentaram contornar a questão persa buscando novas rotas de comércio, mas fracassaram, muito embora tenham conseguido fundar colônias em outras regiões. Posteriormente, a fim de se livrar dos persas, aliaram-se com os turcos que terminaram por dominar a cidade. E, finalmente, por meio da aculturação dos produtos do Oriente, Bizâncio passou a produzir a seda.
 Sob o reinado de Justiniano (527-565), Bizâncio conheceu o apogeu cultural e econômico. O imperador conseguiu conter o avanço búlgaro e estabeleceu a paz com os persas. Por outro lado, deu início a uma política expansionista em direção à África e outras regiões da Ásia e da Europa, que acarretou um terrível aumento de imposto e descontentamento da população.
 Nos séculos seguintes, as dificuldades cresceram com as tentativas de dominação dos búlgaros e dos árabes e, principalmente com a questão religiosa que, por trás da questão da proibição dos ícones, escondia a disputa de poder entre o papado de Roma e o imperador Bizantino, autoridade política e, ao mesmo tempo, religiosa.
 Além das lutas internas, após o século XIII, o império passou a sofrer ataques dos sérvios e, posteriormente, dos turcos otomanos que, finalmente, tomaram Constantinopla  em 1453. Assim, quase mil anos depois, caía nas mãos dos turcos, a capital do império romano do oriente.
 
 Na aula de hoje você conheceu um pouco da fundação e da importância geopolítica de Constantinopla, capital do Império Romano e depois do Império Bizantino, fazendo a ponte entre Ocidente e Oriente, não só no campo político e econômico, mas também cultural, como você vai ver nas próximas aulas.
 
Aula 05_ O Império Bizantino: as questões religiosas
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 Temática: O Império Bizantino: as questões religiosas
 
Como na aula anterior, você vai ter contato com a porção oriental do Império Romano, o chamado Império Bizantino, que, por 1000 anos manteve um rico legado cultural. Hoje, especificamente, você vai conhecer as querelas religiosas que envolveram Bizâncio.  “Essa discussão é bizantina”, você provavelmente já ouviu essa expressão sendo utilizada para descrever diálogos em que o resultado é inócuo. A origem dessa expressão está justamente nas discussões teológicas travadas nesse império.
Essas querelas religiosas tiveram grande importância e estão na raiz da formação da Igreja Ortodoxa. Dentre as disputas teológicas, a de maior importância versava sobre a questão do duplo caráter de Jesus Cristo, divino e humano, estabelecido no Concílio de Nicéia. Se Cristo era Homem e Deus como ocorria a relação entre ambas? A partir dessas questão surgem duas correntes com respostas diferentes: a nestoriana e a monofisita.
 
Para os nestorianos — seguidores de Nestório, patriarca de Constantinopla — Jesus tinha duas naturezas distintas: nasceu como homem e se tornou divino posteriormente. Já a doutrina monofisita estava interessada em defender a unidade divina e para isso, defendia que a encarnação  (Cristo) não passava de aparência, simulacro. Simplificadamente, tendo em vista a dupla essência de Cristo, uma corrente ressalta o lado divino, o monofisismo, e a outra a humana, o nestorianismo.
 Essas discussões também expressavam conflitos sociais e aspirações nacionais.. O conflito tinha várias implicações. No ano de 381 foi realizado o primeiro concílio de Constantinopla — e o segundo concílio ecumênico da Igreja. Essa primazia de Constantinopla causava inveja aos bispos da rica Alexandria, celeiro de grãos de Bizâncio, daí os ataques às teses defendidas pelo bispo de Constantinopla.
 
No fundo, essas desavenças abriam espaço para um “nacionalismo” cuja expressão aflorava na religião. Sem suportar a carga de impostos de Constantinopla, várias províncias bizantinas são cooptadas por essas dissidências que acabam por dar forma às novas igrejas (Síria, Egípcia, Armêna etc), num primeiro momento e depois acabam por incrementar a independência dessas regiões.
  Outra discussão fundamental no aspecto teológico ocorrida no Império Bizantino foi a questão iconoclasta: uma querela sobre imagens ocorrida entre os meados do século VIII e o segundo quartel do século IX. A iconoclastia era um movimento que propunha a destruição das imagens, pois acusava a devoção aos santos de idólatra, com base numa interpretação do Antigo Testamento. Em Bizâncio, as imagens santos recebiam uma devoção que era vista como deturpação, pois os devotos estariam mais preocupados com a representação em si do que com a pessoa representada. Na verdade, novamente, por trás de uma disputa religiosa também havia outros interesses: uma luta entre o Império e os monges. Bizâncio queria dominar os monges e seu poder econômico, pois eles eram donos das imagens e dos locais de devoção o que rendia grandes afluxos de doações. Todavia, o Império capitulou, pois a força dos monges e da devoção popular foi mais forte.
 
Na aula de hoje você conheceu um pouco sobre a fundação de Bizâncio e suas discussões teológicas sobre a natureza dupla de Cristo e o papel da iconoclastia.
 
 
Aula 06_Império Bizantino: ascensão e queda
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Temática: Império Bizantino: ascensão e queda
  
 Na aula de hoje você vai conhecer o período de governo de Justiniano (518 – 610) marcado pela máxima expansão do Império Bizantino e o de Heráclito (610 – 641), marcado pela separação de Bizâncio em relação à parte ocidental do Império Romano..
 No governo de Justiniano foi compilada a legislação romana, dando origem ao Código Justiniano, importante feito, pois manteve um dos aspectos fundamentais da estrutura romana. Todavia a grandeza de Bizâncio, nesse período, estava ligada à expansão militar e a suntuosidade do governo.
 Como imperador cristão, Justiniano acreditava justo moldar e interferir nos assuntos religiosos. Essa união entre a política e a religião ficou conhecida como “cesaropapismo”:
 
Termo empregado para indicar um tipo de relacionamento entre Estado e a Igreja, cabendo ao primeiro o exercício de poderes tradicionalmente atribuídos à segunda, tais como a regulamentação da doutrina religiosa, a disciplina e a organização dos fiéis. O cesaropapismo implica reconhecer a subordinação da  Igreja ao Estado.
 AZEVEDO, Antonio Carlos do A. Dicionário de nomes, termos e conceitos históricos. Riode Janeiro: Nova Fronteira, 1990, p.87
Justiniano também tentou reconquistar as antigas regiões do império romano para retomar o ímpeto e o glamour da antiga civilização. Essas conquistas são importantes porque juntam o Ocidente e o Oriente, dando novamente unidade ao império. Nesse sentido vale destacar que os próprios bizantinos chamavam a região de “România” e a si mesmos como “Romaioi”.
 De certa maneira sua tarefa de reconquista foi facilitada, pois a região por ele conquistada, a Mediterrânea, era justamente a que mantinha a maior porcentagem de romanos em relação ao número de povos bárbaros. Para a reconquista, ele contava com um exército de 150 mil homens. Todavia muitos eram bárbaros confederados, considerados indisciplinados e ávidos por recompensas: um exército de mercenários.
 
 As guerras provocaram excessivo aumento de impostos. Em 532, explodiu a revolta de Nika, apoiada pelos dois principais partidos políticos e pelos aristocratas. Em 541, o império é ainda mais abalado por um surto de peste bubônica.
 
O esplendor do período pode ser visto na igreja de Santa Sofia, a catedral do império, que, pela magnificência, marca o reinado de Justiniano. Durante toda a Idade Média, ela era chamada de a Grande Igreja e a simplicidade externa esconde a exuberância de mosaicos e mármores no seu interior; um estilo de arte que conciliava elementos romanos, gregos, orientais e cristãos. Ao inaugurar o monumento, Justiniano teria dito “Eu te venci,  Salomão!”— uma referência ao templo de Jerusalém cuja construção é atribuída ao antigo rei dos judeus.
 A expansão e a exuberância das construções de Justiniano em Constantinopla davam a impressão de que Oriente e Ocidente estavam unidos. Todavia, as contradições de Bizâncio e a ameaça dos reinos vizinhos promoveu uma continua pressão sobre o Império que, paulatinamente, foi perdendo territórios, até ser tomado pelos turcos otomanos, no século XV.
 A partir do reinado de Heráclito, 610-641, ocorreu um processo de helenização do Império, isto é, de paulatina ascensão da influência grega. Nesse período, de uma certa maneira, Bizâncio deixa de ser o Império Romano do Oriente para ser o Império Grego do Oriente: a língua grega substituiu o latim como língua oficial. Assim, o que antes estava unido, sob Justiniano, Ocidente e Oriente, foi separado, e isso só fez o antagonismo Ocidente/ Oriente crescer.
 
A Igreja com base em Roma percebeu que precisava converter os bárbaros se quisesse ter influência, pois estava perdendo a parte oriental em disputas religiosas. Desse modo, a helenização abriu uma fenda entra as duas partes do antigo Império Romano, a ponto de, com o tempo, elas deixarem de se reconhecer como unidade histórica ou cultural. No século XIII, os guerreiros cristãos conhecidos como cruzados, invadiram e saquearam Constantinopla, declara inimiga em sua guerra santa.
 Após, a invasão dos turcos, dois séculos depois, internamente a antiga influência romana e cristã na cidade foi sendo “apagada” e, externamente, essa influência foi sendo apagada pelos registros históricos feitos pela cristandade europeia.
 No século XV, finalmente, Constantinopla foi invadida pelos turcos otomanos e transformada na capital de um novo império islâmico. No século XX, com a fundação da República Turca, a capital foi transferida para Ancara e a antiga Constantinopla passou a ser oficialmente denominada Istambul.
 Na aula de hoje você conheceu a ligação entre Oriente e Ocidente por meio do império bizantino e a posterior separação, relegando ao esquecimento o passado comum vivido por essas duas regiões do planeta.
 
 
Temática: A ascensão do Reino Franco
  
Na aula de hoje, você vai conhecer um dos reinos bárbaros formados na Europa, após a queda de Roma, o reino franco, que obteve sucesso em termos de expansão militar. Vamos estudar o reino Franco e compreender a sua expansão e fragilidade.
 O reino Franco foi o mais poderoso da Alta Idade Média.  Podemos dizer que ele teve início com Clóvis, o fundador da dinastia Merovíngia (481-751). Até então, os francos estavam dispersos sob vários domínios e foi ele que, aliado à Igreja, submeteu os outros líderes francos e impôs a unificação. A expansão de Clóvis também alcançou as terras vizinhas ocupadas por outros povos germânicos.. No processo de centralização do poder, Clovis se converteu ao catolicismo, em 496, e tentou unir princípios romanos e francos.
 Enquanto a expansão territorial ocorria, os guerreiros eram agraciados com o butim das guerras por sua lealdade. Todavia, quando elas ficaram escassas, o reino teve que conceder os benefícios com recursos de suas próprias terras e rendas, diminuindo a centralização. Na verdade, os reis da dinastia Merovíngia tratavam o reino como uma propriedade particular.
 Em 751, instaurou-se um a nova dinastia, a Carolíngia, com os descendentes de Carlos Martel. O primeiro rei dessa dinastia foi o Pepino, o Breve  — assim chamado por causa da sua baixa estatura. Pepino obteve a sagração da Igreja como rei e consolidou o poder dos francos. 
A dinastia Carolíngia combateu a expansão muçulmana na península ibérica, o que fortaleceu o papel dessa dinastia como defensora da Cristandade contra os “infiéis”, como eram chamados os muçulmanos. Pepino também acatou um pedido do papa e interveio na península Itálica, doando posteriormente, à Igreja, as terras que dominou em Roma e adjacências - origem do Estado Papal que, depois de sucessivas perdas territoriais, é hoje o Estado do Vaticano.
 
O filho de Pepino, Carlos Magno (768-814), conquistou vitórias militares importantes contra os saxões da Germânia, acabando por convertê-los ao catolicismo, além de criar uma zona fortemente militarizada na fronteira oeste de seu império para evitar ataques muçulmanos. O já tradicional símbolo de defensor do Cristianismo, adquirido pelos francos, somado ao poder militar fabuloso de Carlos Magno chamou a atenção do papado que via nele uma forma de se proteger militarmente e de expandir o poder da Igreja.
 Assim, em 800, Carlos Magno foi sagrado imperador do Ocidente em Roma pelo papa Leão III. O Imperador de Bizâncio, após algumas negociações, aceitou e reconheceu o nova posição de Carlos Magno.  O reino franco era dividido em centenas de condados, o que favorecia a fragmentação, mas Carlos Magno tomou medidas para centralização dentro do próprio reino como o juramento de fidelidade e a nomeação dos bispos dentro de seu Império, tentando fundir a Igreja ao Estado.
 Em uma época de grande instabilidade, a segurança do reinado de Carlos Magno possibilitou o florescimento de um pequeno comércio e um florescimento cultural (com construção de Igrejas, escolas para a nobreza e a tradução de obras clássicas).
 
A tradição franca era de dividir o império entre os filhos, Carlos Magno já havia herdado o poder assim, mas dois de seus três filhos morreram e Luis, o Piedoso (814-840) herdou o Império. Com a morte de Luis, seus três filhos entraram em conflito e a disputa só se resolveu com a divisão do Império em três: França Oriental, França Ocidental e França Central, que após outros desdobramentos deram origem à Alemanha, França e Itália.
 Ao mesmo tempo em que disputavam o legado de Luis Piedoso, os três ainda tiveram que enfrentar a invasão normanda que contribuiu muito para a descentralização do poder, uma vez que muitos nobres se destacaram na defesa das invasões, obtendo o poder de fato nos territórios de suas posses. Com o tempo, também os bispos que haviam se submetido a Carlos Magno vão tomando o poder em seus territórios e deixam ao poder imperial um caráter apenas simbólico.
 Como resumiu Hilário Franco Junior o império Carolíngio acabou por sucumbir a uma “contradição entre o universalismo da tradição romana e cristã versus o particularismo germânico”. Por exemplo, as condições precárias das estradas herdadas de Roma restringiam a ação dos Carolíngios, algo que não preocupava a maior parte dos povos bárbaros, preocupados somente com o poder local, mas era um grave empecilho a constituição de um poder centralizado,que se expande militarmente. Essas características de fragmentação política, importante papel da igreja e predomínio das atividades agrícolas têm todos os traços do feudalismo, o que veremos em aulas posteriores.
 
Nessa aula você aprendeu um pouco da história política do reino franco, o mais poderoso da Alta Idade Média, conheceu seu desenvolvimento, caráter simbólico, apogeu e crise.
  
Temática: Expansão do Islamismo
  
 
Na aula de hoje você estudará a expansão do Islamismo no século VII, suas principais características e o impacto na Europa medieval.
 
O Islã é a terceira religião monoteísta surgida no Oriente, ao lado do Judaísmo e do Cristianismo, e hoje é uma das grandes religiões do mundo. O islamismo se originou na península arábica pela pregação do profeta Maomé. A doutrina islâmica está contida no livro sagrado dos muçulmanos, o Corão, escrito após a morte do profeta e mantido até hoje, com poucas alterações.
 Maomé nasceu em 570, na cidade árabe Meca, um dos principais centros comerciais da região. Órfão, foi levado pelo avô para o deserto onde conheceu o estilo de vida dos beduínos (com suas guerras tribais e códigos de honra e vingança) e teve contato com várias religiões sendo influenciado pelo monoteísmo judaico e cristão. Aos 40 anos, em 610, em uma de suas meditações, passou a propagar que recebia revelações divinas. A pregação logo obteve acolhida entre os beduínos seduzidos pelas visões do paraíso difundidas pelo profeta.
 
Com o crescimento do número de seus seguidores, a elite de Meca temeu que sua cidade sagrada perdesse a atração para os beduínos e proibiram a pregação de Maomé, passando a persegui-lo. Maomé fugiu para Medina onde formou uma pequena comunidade de seguidores A partida de Maomé para Medina é chamada de Hégira e marca o início do calendário muçulmano. Perseguido mesmo em Medina, os conflitos se acirraram e  Maomé passou a ordenar ataques às caravanas para Meca, o que o reforçava financeiramente e prejudicava a economia da cidade que, finalmente, aceita a sua mensagem. Maomé volta então para Meca destrói os ídolos das outras religiões e transforma Meca no centro de sua religião.
 
Unindo força diplomática e a jihad — guerra santa em nome de Alá — Maomé expandiu a nova doutrina por grande parte da península arábica. No período de um século, os exércitos árabes se expandiram para além da península, atingindo o norte da África, o sul da península ibérica e também o extremo leste da Pérsia e Índia. A expansão da fé islâmica continuou também pelas mãos dos comerciantes, chegando a Indonésia no século
 
 O Corão ou Alcorão foi escrito em árabe e deve ser lido por todo os muçulmanos, daí a denominação “árabe” para os adeptos do islamismo em geral. XIII, hoje o maior país islâmico. Entretanto, nesta aula estudaremos a expansão islâmica em seus primeiros movimentos.
 Uma primeira questão que você deve ter em mente é :como foi possível uma expansão tão avassaladora num espaço de tempo relativamente curto?  Vários são os fatores que explicam a expansão islâmica. Em primeiro lugar, os impérios Bizantino e Persa, perpetuamente em luta, estavam enfraquecidos, abrindo espaço para ascensão de outra potência na região.
 
A guerra baseada na jihad oferecia como atrativo o paraíso para aqueles que tombassem em seu nome, mas também novas terras e os materiais obtidos nos saques de caravanas. Ademais, o domínio muçulmano era relativamente tolerante para com aqueles que aceitavam o seu poder: na maior parte das vezes não forçando a conversão ao islã, os muçulmanos se limitavam a cobrar um imposto maior dos povos que não professavam a fé de Maomé. A permanência de cristãos e judeus em seus domínios demonstra isso, pois muitas das cidades sob o domínio muçulmano possuíam construções das três religiões, como Toledo e Córdoba, na Espanha.
 
Embora a expansão tenha sido rápida, após a morte de Maomé as subdivisões do império acabaram por desintegrá-lo em diversos califados, palavra que significa “sucessores”. Como Maomé não havia especificado os critérios para a escolha de seus sucessores, grandes questões envolvendo a continuidade do império começaram a aparecer. A maior subdivisão ocorreu entre sunitas e xiitas. Os primeiros, são os seguidores da “suna”, isto é, da tradição, equiparada ao próprio Corão, o texto sagrado. Os sunitas se opunham a sucessão dos descendentes de Ali, genro do profeta.  Os xiitas, por sua vez, eram minoria, mas defendiam o direito de sucessão de Ali. Essas e outras divisões acabaram por fragmentar o império.
 
Todavia, o importante a destacar nesse contexto é que os muçulmanos dominaram as rotas de comércio pelo mediterrâneo e a ligação do Ocidente com o Oriente, o que contribuiu para seu enriquecimento e o desenvolvimento de uma rica cultura. Além de empurrar a Europa para a ruralização praticamente “fechando” o comércio mediterrâneo. Para a Europa cristã era um duplo problema: espiritual, pois eles dominavam boa parte da península ibérica e possuíam o controle da Terra Santa, e, econômico, as rotas do comércio oriental estavam sob o domínio dos seguidores Alá.
 
 
Na aula de hoje você conheceu a origem da religião islâmica, seu método de expansão e consequências econômicas e religiosas para a Europa Cristã.
Aula 09_O poder da Igreja
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Temática_ O poder da Igreja
Apesar de boa parte do poder econômico da Igreja estar baseado nas grandes extensões de terra — que era a principal riqueza da época — os tesouros conseguidos nas pilhagens em territórios dentro e fora da Europa, reforçavam a beleza das Igrejas. Além disso, os camponeses eram obrigados a pagar o dízimo. Mas vale ressaltar, conforme explica o historiador da Idade Média, que “os cavaleiros, os camponeses, doam voluntariamente aquilo que possuem porque temem a morte, o julgamento, e os monges os protegem contra os piores perigos: aqueles que não se veem”
 A suntuosidade das igrejas e conventos também acabava servindo para contornar problemas monetários. Como o número de moedas na Idade Media era baixo, eram as igrejas que suprimiam a demanda quando ela crescia: derretiam-se as suas riquezas e cunhava-se o ouro.
 A educação também era praticamente um monopólio dos padres, pois, em geral, eles eram os únicos alfabetizados. Os mosteiros medievais guardavam a maioria das obras da antiguidade, protegendo-as da destruição e da pilhagem bárbara. Ficava a cargo dos mosteiros a reprodução dessas obras manualmente. Por vezes o monge copista sequer compreendia a língua em que estava  escrito o texto que ele estava copiando, mas  o trabalho era feito com esmero. A grande  quantidade de iluminuras e as letras em ouro que iniciavam os textos são prova desse cuidado, embora, alguns textos antigos tenham Um monge escriba sido apagados para dar lugar a outros, uma  vez que os suportes para a escrita eram caros e raros. Os documentos, geralmente, pergaminhos que eram raspados e reutilizados eram chamados de palimpsestos.
 
 
Esse monopólio cultural trazia consequências não só para a educação do período, extremamente controlada, mas também para a formação dos governos do período. Para fazer funcionar a máquina administrativa os príncipes e reis precisavam utilizar os serviços do clero, únicos com conhecimento suficiente para auxiliá-los.
 Essa proximidade, especialmente na Alta Idade Média, acabou fazendo com que os religiosos se aproximassem mais dos interesses terrenos do que da vida espiritual, uma promiscuidade entre o poder da Igreja e o poder dos senhores feudais, mostrando uma clara decadência moral e dos hábitos de parte expressiva do clero. Ademais, um nobre ao construir uma  Igreja em seus domínios poderia influenciar no campo religioso. Em uma época de grande religiosidade, supomos que a população se sentia desamparada com essas atitudes.
 O poder da Igreja abarcava também a medicina. Até o século XII não se praticava a dissecação de cadáveres, portanto, não se conhecia em profundidade a anatomia do corpo humano, pois como na doutrina cristã o homem havia sido feito à semelhança de Cristo, de certa, forma,violar o corpo humano seria ofender a Deus.
A força do cristianismo é tão clara que abarca a própria concepção de tempo. O nosso calendário está baseado na data que na época se acreditava que Cristo havia nascido, método estabelecido pelo Abade Dionísio em 525. A contagem do tempo na Idade Média seguia as alterações físicas da natureza e eram anunciadas pelo sino da igreja, mostrando o controle do clero sobre a vida das pessoas. A concepção de tempo que tempos hoje “tempo é dinheiro”, em que sempre vivemos na pressa, pois há a possibilidade de ganharmos dinheiro, era estranha à Idade Média. Para demonstrar isso, vale destacar que o relógio, até final do século XVII só tinha o ponteiro das horas, muitas pessoas nem o ano em que nasceram sabiam.
Pode parecer algo sem importância, mas controlar o tempo significa determinar quando é correto trabalhar e descansar, quando devemos pagar tributos aos governantes e a Deus, quando podemos nos sociabilizar por meio das festas marcadas pelo calendário cristão, quando devemos guardar abstinência sexual ou nos alimentar ou, até ,mesmo guerrear. O controle da Igreja atingia também a dimensão econômica, por meio da proibição da cobrança de juros, por exemplo, como veremos na próxima aula.
A ideologia cristão pregava a ordem social medieval como reflexo de uma ordem natural tripartite que dividia os homens entre oratores, bellatores e laboratoes: isto é, os que rezam, os que guerreiam e os que trabalham. Claramente, esses eram os papéis reservados respectivamente à Igreja, aos nobres e aos camponeses.
 Encerramento: nessa aula você viu e conheceu alguns dos aspectos do poder multifacetado da Igreja, que abarca desde a medicina até sua própria posição na ordem natural da sociedade.
 2DUBY, G. A Europa na idade média. Lisboa: Teorema, 1989, p.44.
3Para escrever as letras de ouro eram colocados moldes de gesso sobre o papel e, nos vãos, cola. Depois o pó de ouro era espalhado.
4Um dos métodos mais comuns de tratamento era a sangria, que consistia em retirar sangue do doente acreditando que o mal era originado do desequilíbrio de líquidos no corpo.
 
Resumo - Unidade II
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Resumo II
 Nessa unidade você conheceu o início da reestruturação da Europa após a queda de Roma, e também a expansão do islamismo.
 Entre os reinos bárbaros que ser formaram com a dissolução do império, o dos Francos foi o mais importante. A Igreja desde cedo o apoiou na perspectiva de criação de um novo império cristão. Por isso os primeiros reis merovíngios receberam o suporte institucional da Igreja que aumentou ainda mais em relação à Carlos Magno que, além da expansão territorial, fortaleceu a centralização política por meio de juramentos de fidelidade e nomeação de membros do clero.
 Enquanto as relações Reino Franco/Igreja se estreitam, ocorre o surgimento e posterior expansão de uma nova religião, a muçulmana. O profeta  Maomé é influenciado pelo monoteísmo judaico cristão e passa a pregar uma nova doutrina. Sendo perseguido, defende a jihad, a guerra santa. Com vizinhos enfraquecidos, a expansão islâmica se dá a grande velocidade chegando até a península ibérica, marcando uma série de conflitos com o cristianismo, embora a relação de cristãos e judeus dentro do Império islâmico fosse relativamente boa. Com a morte de Maomé, ocorreu uma disputa pela sua sucessão fragmentando o Império.
  Referências Bibliográficas
DUBY, G. A Europa na idade média. Lisboa: Teorema, 1989.
DUBY, G & ARIÈS, P. História da vida privada (Da Europa feudal à Renascença). São Paulo: Companhia das Letras, 1991.
 HEERS, J. Historia medieval. São Paulo: Difusão Europeia do Livro, 1974.
 JUNIOR, H.F. A Idade Média e o nascimento do Ocidente. São Paulo: Editora Brasiliense, 1988.
 LE GOFF, J. Mercadores e banqueiros na idade média. São Paulo, 1991.
  ________. O maravilhoso e o quotidiano no Ocidente Medieval. Lisboa. Edições 70, 1985.
 ________. Para um novo conceito de Idade Média. Lisboa. Editorial Estampa, 1980.
 
PERROY, Édouard (org.). A Idade Média. In: História Geral das Civilizações, vol. I,II, III tomo III, , São Paulo: Difusão Europeia do Livro, 1957.
   Consulte os sites abaixo, que contêm vários textos e algumas imagens sobre os temas abordados nessa unidade:
 http://www.historianet.com.br/conteudo/default.aspx?codigo=295
 http://www.brasilescola.com/historiag/conceito-idade-media.htm
 http://www.saberhistoria.hpg.ig.com.br/mapa_do_site.htm
Aula 10_Igreja, bárbaros e o Islã na formação da Europa
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Temática: Igreja, bárbaros e o Islã na formação da Europa
 
 
Na aula de hoje você vai conhecer a situação da Europa nesse período de reestruturação, em que a Igreja, o islamismo e os bárbaros estão em um processo de acomodação, conflito e influências mútuas e que acabaram por construir a Europa do período.
 
 Sem o poder unificador do Império Romano, foram frágeis as tentativas dos Francos em repetir o poderio romano. A  Europa mergulhou em um período marcado pelas relações entre a Igreja, os bárbaros e o islamismo. Essas relações devem ser ressaltadas pois, em geral, a cultura cristã e bárbara sofrem influência recíprocas nesse período, enquanto encontra no islã um inimigo, ainda que por vezes a convivência seja possível como no sul da Espanha.
 
Com relação aos povos chamados bárbaros, vale a pena traçar os pontos em comum, considerados os riscos oriundos de generalizações desse tipo. A estrutura social, política e econômica dessas sociedades guardava analogias, o que pode ser explicado porque muitas delas tinham como traço comum a origem germânica. Seu sistema econômico estava baseado na exploração coletiva da terra e nas trocas entre os produtos agrícolas e de animais. A guerra perpassava toda a sociedade e era elemento importante no sistema econômico para a obtenção de riquezas. A estrutura social era patriarcal, cabia ao chefe tomar as decisões, e politicamente era organizado com base nos clãs familiares. Só havia uma reunião de vários clãs para assuntos de suma importância como a preparação para a guerra. Quando a guerra era declarada, o comandante e o comandado reforçavam laços de lealdade. As aldeias bárbaras possuíam habitações pobres e suas vestimentas eram feitas a partir de couro de animais e tecidos rústicos. Do ponto de vista religioso, eram animistas, isto é, adoravam as forças da natureza como o vento, o sol, a chuva etc.
 
O encontro com o cristianismo transformou essa sociedade,  principalmente no quesito cultural. Os povos bárbaros, já nostálgicos do Império Romano, viram na Igreja uma fonte de poder que poderia substituir o domínio de Roma. Afinal, a Igreja tornou-se a guardiã do poderio romano.. A absorção da ideologia cristã pelos povos bárbaros não ocorreu de uma hora para outra e sem resistência, pelo contrário, apareceram várias heresias e a Igreja precisou se abrir e adaptar vários ritos e traços da cultura germânica ao ideário católico. O paganismo dos povos bárbaros foi, aos poucos, se revestindo com os traços cristãos e vice-versa: deuses são adaptados, datas pagãs são incorporadas ao calendário cristão, etc.
 
Nesse longo e desigual processo de unificação entre o cristianismo e os povos bárbaros, a invasão da península ibérica acaba desempenhando um papel importante ao transpor os infiéis muçulmanos para uma Europa que se pretendia cristã. Assim, foi possível encontrar um motivo objetivo para os guerreiros bárbaros seguirem o ideal cristão. No entanto, não podemos pensar o mundo muçulmano somente em oposição ao cristão, pois o islamismo trouxe conhecimentos novos à Europa — além de ser, ela mesma, como vimos,uma religião formada pela conciliação das duas outras religiões monoteístas de maneira relativamente tolerante. Também vale destacar que as condições de higiene do mundo muçulmano eram muito superiores ao mundo “cristão” devido ao caráter de purificação que a água adquire para os muçulmanos, levando-os a se manterem limpos para as frequentes rezas diárias: hábito que muito contribuiu para a redução das doenças nas regiões islâmicas. Sem falar dos avanços nos estudos da físicaou medicina levados à cabo por muçulmanos e judeus em algumas cidades antigas do atual Oriente Médio.
 
 Nesta aula apresentamos um pouco mais sobre a as relações entre as três culturas — bárbara, cristã e muçulmana— que, de diferentes maneiras, auxiliaram a formação da Europa no período. O patriarcalismo e a descentralização dos povos bárbaros, a cultura cristã e a “ameaça” muçulmana, estão na base da estrutura que a Europa começa paulatinamente a ter.
 
 
Aula 11_As relações sociais e o feudalismo
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Temática: As relações sociais e o feudalismo
  
Feudalismo, suserania, vassalagem, servidão, encomenda e feudo são conceitos comuns encontrados nos livros sobre Idade Média. Na aula de hoje você vai conhecer algumas definições desses termos e a partir deles vai compreender um pouco melhor as relações sociais e de produção num determinado período da Idade Média
Como em geral acontece com vários conceitos ou termos  históricos, há diferentes definições para cada um deles. Em nossas aulas tentaremos nos ater às definições desses vocábulos feitas por Le Goff e Hilário Franco Junior, autor de um manual universitário para o leitor brasileiro.
 Segundo Le Goff, o termo feudalismo,  “no sentido exacto do termo: vínculos feudo-vassálicos. Conjunto de instituições que criaram obrigações de obediência e de serviço por parte de um homem livre dito vassalo. Em troca de sua fidelidade o vassalo recebia do seu senhor a posse hereditária de um feudo.”
Ou seja, um homem livre se tornava fiel a um nobre, o suserano, basicamente para auxiliá-lo na guerra, selando o acordo por meio de uma cerimônia:
 
[...] os laços feudo-vassálicos eram estabelecidos através de três atos ... O primeiro era a homenagem, ato de um indivíduo se tornar “homem” de outro. O segundo era a fidelidade, juramento feito sobre a Bíblia ou relíquias de santos e muitas vezes selados por um beijo entre as partes. O terceiro era a investidura, pela qual o indivíduo que se tornava senhor feudal entregava ao outro, agora vassalo, um objeto (punhado de terra, folhas, ramo de árvore etc.) simbolizador do feudo que lhe concedia
Em troca da fidelidade o suserano dava ao vassalo um feudo. Na palavras de Le Goff um feudo era
 
  [...] uma concessão (em geral sob a forma de terra...  mas por vezes...de dinheiro) atribuída gratuitamente por um senhor ao seu vassalo com o fim de proporcionar a este a manutenção a que tem direito em troca de sua fidelidade e de o pôr em condições de prestar  ao seu senhor o serviço requerido”
 Assim um nobre dava a um homem livre um feudo, “um bem dado em troca de algo”, segundo a palavra germânica da qual se origina, na maior parte das vezes terra, pois era a principal riqueza do período. Assim quando um texto faz referência a um feudo na maior parte das vezes está se referindo a um pedaço de terra. Porém, o feudo dado pelo suserano poderia ser também o direito de cobrar imposto em determinada ponte ou um tributo de determinada população. Em troca, exigia lealdade, algo necessário principalmente nas guerras.
 
Todavia a palavra feudalismo também remete, segundo Le Goff, ao sentido genérico de “sociedade feudal:
"Colonato é o nome que se dá a um sistema de exploração de grandes propriedades entre diversos colonos ou meeiros, que ficam incumbidos de cultivar uma determinada área e entregar parte da produção ao proprietário, conservando outra parte para seu próprio consumo"https://www.infoescola.com/agricultura/colonato/ A primeira relação de feudo da história, se inicia com os romanos por falta de mão de obra escrava, a utilização do Colonato, se expande no século VIII. Os germânicos ou bárbaros por sua vez, trouxeram com eles um crescimento do campo em relação a cidade.   Através da sociedade feudal e de uma  cultura individualista pode ser vista na cultura da organização politica. "O comitatus era um tipo de organização política temporária que se empreendia durante a ocorrência de alguma guerra ou conflito. Um chefe guerreiro era designado para comandar um grupo de soldados organizados contra a invasão de um outro povo guerreiro. Nesse acordo, o chefe do grupo militar prometia defender o interesse de seus comandados. Em troca, os comandados prometiam obedecer às decisões do chefe guerreiro." https://mundoeducacao.uol.com.br/historiageral/as-influencias-germanicas-romanas-no-ocidente-medieval.htm. Os dois tipos de feudo se integram tanto das relações dos germânicos como os dos romanos, no sistema não havia mobilidade social, ou seja, os servos estavam "condenados" a passarem o resto de suas vidas servindo aos senhores. A nobreza, formada pelos donos dos feudos ou senhores feudais, era a classe mais alta do feudalismo. Dona das grandes propriedades rurais, ela exercia poder absoluto sobre as demais classes. eram uma forma de politica feudal da época medieval que foi muito utilizado na idade contemporânea.
 
 
”Sistema de organização econômica, social e política baseado nos vínculos de homem a homem, no qual uma classe de guerreiros especializados – os senhores — , subordinados uns aos outros por uma hierarquia de vínculos de dependência, domina uma massa campesina que explora a terra e fornece com que viver”
 
Nesse outro sentido, ela se refere, portanto a organização das relações sociais em um período abrangente da Idade Média. Assim enquanto as relações de suserania e vassalagem eram caracterizadas por um ritual de lealdade em que uma pessoa das classes superiores jurava defender outra em caso de guerra, as relações de servidão ficavam destinadas às classes inferiores. Nesse outro sentido, a ênfase recai nos camponeses, a maioria da população, e a organização do trabalho e da produção que os mantinham ligados ao senhor.
 
Devido ao escasso movimento comercial da Idade Média, as instabilidades geradas pelas guerras e pela fome e o papel preponderante da agricultura a questão da terra era essencial. Os camponeses, em sua maioria eram servos:
 Vassalagem: “vinculo de dependência privado, criado pela cerimônia de homenagem, que assentava em compromissos recíprocos, embora desiguais. Permitia a um homem livre, mediante a sua fidelidade, uma terra e ter acesso a uma parcela de autoridade pública”
 
 
[...] tipo de trabalhador difícil de ser definido com precisão, pois variava muito de local para local o elemento que o caracterizava. De acordo com sua origem, fala-se em servidão real, que pesava sobre a terra, e servidão pessoal, sobre o indivíduo, ainda que ambas tenham se confundido após o século XI... ser servo implicava não gozar de liberdade, ter incapacidades jurídicas... [mas] podia ter bens e recebia proteção do senhor”
 
A condição geral dos servos nas grandes propriedades era de inferioridade “submetida a cargas materialmente muito pesadas e moralmente infamantes: corveias, prestações e impostos arbitrariamente aplicados [...]” . Assim o sentido genérico de feudalismo é a organização de uma sociedade em que a grande massa de camponeses vivia em regime de servidão, não tendo, portanto, liberdade e devendo obrigações ao senhor em troca de proteção e do uso da terra , do moinho e de outros equipamentos, além de ser obrigado a trabalhar nas terras do senhor por 3 dias da semana gratuitamente (corveia). O servo estava submetido ao senhor do ponto de vista militar, judicial e econômico (esse conjunto de poderes era conhecido pelo nome de ban) , embora o servo fosse dono de sua vida (ao contrário do escravo) e, ao se submeter ao senhor, garantia uma terra para trabalhar. Em suma, o poder do senhor em seu domínio era o de “julgar, punir e taxar”.
 Por sua vez, o senhor era vassalo de outro senhor mais poderoso, o suserano, que por sua vez poderia ser vassalo de outro suserano mais forte, relações extremamente hierarquizadas. Além de hierárquicas, as relações sociais na Idade Média, especialmente no período da Baixa Idade Média,, eram dotadas de imobilidade social muito grande, isto é, em geral não havia ascensão social. Em geral um servo seria sempre servo e um nobre seria sempre nobre, uma sociedade assim é chamada estamental.Na aula de hoje você conheceu alguns termos usuais na historiografia da Idade Média e que ajudam a entender as relações sócias e econômicas que caracterizam o período até o momento em que grandes transformações mexem com essa estrutura.
Como esses conceitos são muito utilizados, o aluno deve prestar atenção e compreendê-los bem para dar prosseguimento às aulas.
 
 JUNIOR, H.F. A Idade Média e o nascimento do Ocidente. São Paulo: Editora Brasiliense, 1988, pp, 352-353.
FRANCO JR. Hilário. A Idade Média e o nascimento do Ocidente. São Paulo: Editora Brasiliense, 1988, p, 192.
LE GOFF, J. A civilização do ocidente medieval. 2v. Lisboa: Editorial Estampa, 1984, p. 344.
LE GOFF, J. A civilização do ocidente medieval. 2v. Lisboa: Editorial Estampa, 1984, p. 268.
Aula 12_A moradia e o trabalho do medieval
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 Temática: A moradia e o trabalho do medieval
 
Na aula de hoje você irá conhecer o cotidiano, a moradia e alguns dos hábitos da maior parte da população medieval, os camponeses.
 
Em primeiro lugar convém chamar a atenção para uma característica importante dessa população, a sua faixa etária. Em geral, a população da Idade Média possuía um padrão demográfico característico de sociedades agrárias pré-industriais, com alta natalidade e alta mortalidade, sendo que a faixa etária ficava entre 25 e 30 anos. Uma população jovem, portanto, sendo que no campo o infanticídio feminino era grande, pois as mulheres eram consideradas menos aptas ao trabalho.
 O tempo de trabalho do camponês era determinado por, basicamente, dois ritmos diferentes, o da Igreja e o da Natureza. A sanção contra o trabalho no domingo era estendida e respeitada nos dias de Santos e feriados religiosos. O ritmo de trabalho era determinado pelos ciclos de plantação, crescimento e colheita de cada um dos produtos, que também eram afetados pelos ciclos naturais das estações, das chuvas e sofrendo modificações com invernos rigorosos ou secas. As drásticas transformações climáticas poderiam prejudicar a colheita e a dieta dos medievos, aumentando o período de fome e escassez. Nesses períodos a letalidade era muito grande devido à subnutrição crônica e ao trabalho excessivo.
 O trabalho nesse período era extenuante devido as condições tecnológicas do trabalho no período. A maioria das ferramentas era construída de madeira, abundante na floresta, porque as de ferro poderiam ser usadas em rebeliões de camponeses, um problema crescente no fim da Idade Média. Ademais, o ferro era um bem escasso e caríssimo, ficando reservado na maior parte das vezes aos guerreiros.
 A fabricação das próprias ferramentas era natural numa economia não industrializada. Os camponeses também fabricavam os utensílios domésticos como colheres, feitas a partir de chifres de animais. A lã fornecida pelas ovelhas era preparada em casa para o trabalho de tecelagem realizado pelas mulheres. Sapatos, chapéus e móveis também eram fabricados em casa ou nas oficinas de artesãos que trabalhavam sob o regime de mestre e aprendiz.
 
  
 
 
Todavia o camponês não era autônomo e independente e boa parte do seu trabalho, pela própria característica da estrutura de dominação, precisava ser feito nas instalações do senhor feudal. Assim, havia a obrigação de moer o cereal (o trigo era o mais importante) no moinho do senhor, de fabricar a cerveja nas instalações dele, de pisar a uva para produzir o vinho no lagar dele - formas de pagar tributos. Na maior parte das vezes, os produtos eram levados em carroças comandadas pelos próprios camponeses.
 
 
  
Assim, o camponês medieval passava boa parte do dia no trabalho nos campos. O espaço doméstico não tinha a importância que tem hoje. A iluminação, era escassa e feita com a queima de um pano velho embebido em gordura animal: as janelas feitas de madeira, não deixavam passar luz. Algumas famílias mais ricas utilizavam janelas feitas com chifres polidos de animais que, embora não deixasse entrar muito ar, permitia um pouco de luminosidade.
 Não havia banheiros dentro das residências e os espaços internos eram de uso comum. Quase não havia divisões internas e, portanto, praticamente nenhuma privacidade.
 
 
 
 
  
Na cozinha a maior parte dos alimentos eram cozidos em recipientes de ferro suspensos por ganchos ou então diretamente sobre o fogo, sendo que a fumaça na maior parte das vezes ficava retida, pois boa parte das casas não tinha chaminé, o que garantia o calor, mas tornava o ar insalubre. As refeições eram servidas em simples mesas de madeira.
A religiosidade estava presente em todos os momentos no trabalho ou em casa, pois o bem estar do corpo e o das plantações era visto como resultado da providencia divina exigindo, então, esforço espiritual para alcançá-la com orações e bênçãos.
Na aula de hoje você conheceu um pouco do cotidiano, da moradia e do trabalho, da maior parte da população medieval. Seria interessante fazer um paralelo com as condições de vida dos trabalhadores na sociedade contemporânea.
Aula 13_A posse e o uso da terra
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 Temática: A posse e o uso da terra
 
Nas duas aulas anteriores você conheceu as relações sociais e o cotidiano do camponês medieval, em que a terra era fator determinante. Nesta aula você vai saber como era estruturada a posse e o uso da terra 
Primeiramente, convém chamar a atenção para as pastagens e áreas florestais, que, tradicionalmente, eram de uso comum dos senhores e dos servos. Nelas, os camponeses colhiam frutos, levavam seus animais para pastar e extraiam a madeira. Já o senhor as utilizava para a caça. Em algumas regiões e em momentos especiais o senhor chegou a cobrar por essa utilização, o que causou revolta camponesa por romper com a tradição.
 Além das terras de uso comum, havia as terras de uso exclusivo do senhor. Os documentos de época falam em terra indominicata e os historiadores chamam de manso senhorial ou reserva senhorial. Nesse espaço estavam as instalações, tais como estábulos, celeiros, moinhos etc. No centro, em geral, ficava a casa do senhor e, ao redor dela, a morada do administrador, os alojamentos dos servidores domésticos e, amiúde, uma igreja. A terra do senhor era trabalhada pelos camponeses, por meio da corveia, o trabalho gratuito realizado em três dias, como você viu em aula anterior. Os camponeses também ficavam encarregados de manter os edifícios da corte, fazendo os trabalhos necessários.
 Os camponeses também “possuíam” seu pedaço de terra. A terra mansionaria, manso servil ou mansus era caracterizado pela dupla posse, uma vez que, do ponto de vista legal, ela era propriedade do senhor feudal, mas na prática era utilizada como se fosse do servo. Era como se fosse uma concessão ao servo, que dela fazia uso para garantir o seu sustento, e que, em média, tinha 15 hectares. O camponês era um trabalhador “livre”, mas havia também uma minoria de escravos, com seus próprios mansus, chamados de mansus servilles, pelos quais deviam encargos mais pesados ao senhor. Entre as obrigações dos camponeses pelo uso dessa terra estava um pagamento anual em moeda, uma quantidade fixa de produtos agrícolas e produtos da indústria doméstica (objetos de madeira e tecido).
Porém, as prestações de serviço eram mais importantes para o senhor feudal do que o fornecimento de produtos agrícolas ou moedas. 
Um grande domínio, como era chamada a junção de todos os diferentes tipos de posse do território, podia possuir centenas de mansus. Essas grandes propriedades, em geral, pertenciam à Coroa, à nobreza ou à Igreja. Com o tempo a Igreja se tornou a maior proprietária de terras pois, enquanto os demais poderiam ser fracionados em partilhas sucessórias ou em guerras, os domínios eclesiásticos ficavam unidos defendidos pelo celibato.
A produção nos campos seguira o sistema bienal, principalmente no norte da Europa e no Mediterrâneo, sendo o solo dividido em dois: um ficava em repouso, para evitar o desgaste do solo enquanto o outro era cultivado. No ano subsequente as posições eram invertidas.
Na aula de hoje você conheceu as relações de propriedade da terra. Nesse assunto também seriainteressante estabelecer uma comparação com propriedade da terra na sociedade contemporânea, eminentemente capitalista. 
Aula 14_Castelo Medieval
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 Temática: Castelo Medieval
 
 Na aula de hoje e na próxima você vai estudar um castelo medieval típico, analisando a sua construção, função e simbologia. Para isso, imagine que você é um guia turístico, analisando cada detalhe da construção e, na aula que vem, imagine-se no papel de um guerreiro que tenta invadir o castelo.
 Antes de continuar a leitura, olhe atentamente a figura da página seguinte e tente descobrir algo sobre cada uma das partes do castelo que estão numeradas. O que é Para que serve? Qual a razão do formato? etc  Diante de um castelo medieval, o primeiro aspecto a chamar a atenção é a ponte elevadiça (1). Você deve imaginar que sua função é evitar invasões, certo? Nos desenhos animados e no cinema ela aparece como porta e, ao mesmo tempo como ponte sobre um fosso(2), que também serve para evitar invasões pois amplia a distância entre o alto muralha do castelo(3) e o solo.. Além disso, o fosso evitava outra maneira bastante comum que os inimigos usavam para entrar na edificação: os túneis. Castelos sem fosso ficavam vulneráveis a esse tipo de invasão. Embora dependendo da região, ele não tivesse água e muito menos jacaré!  A porta que dá acesso ao interior das muralhas (4) era alta para permitir a entrada dos guerreiros e cavaleiros com suas montarias, além de carroças para fornecimento de mercadorias.
Nos primeiros séculos da Idade Média, os castelos eram de madeira. A partir do século XI, passaram a ser construídos com blocos de pedra e em lugares cada vez mais altos, que possibilitassem a visualização antecipada da chegada dos inimigos. A segurança era um aspecto importante do castelo medieval. Talvez o mais importante, tanto que, facilmente se poderia confundir um castelo com uma fortaleza. As muralhas também eram altas para evitar a entrada de inimigos e equipadas com postos de observação, a partir dos quais os soldados também poderiam defender o castelo (7) (15)  Alguns castelos apresentavam as coberturas em forma pontiaguda ou triangular para evitar o acúmulo de neve. (8)
 Conseguindo impedir a invasão, os moradores do castelo poderiam fazer prisioneiros e, nesse caso, estes eram levados para a masmorra (9), uma cela subterrânea. Um fato comum na Idade Média era o pedido de resgate de um preso, daí a importância  de se fazer prisioneiros.
 
A parte exterior do castelo (a) era voltada quase que exclusivamente para a defesa. Uma segunda área do castelo era destinada a sociabilização e a moradia da corte (b), isto é, da família nobre, do senhor feudal, e daqueles mais próximos.
 É importante destacar que, na Idade Média, os símbolos têm muita importância. Dessa maneira, não é a toa que no topo desse setor estivesse o aposento da família nobre (11) e a Igreja (12), simbolizando o poder secular e o sagrado, respectivamente. Nessa torre principal, logo abaixo dos aposentos dos senhores e da capela, ficava o grande salão onde eram servidas as refeições (13) . Ao contrário do que imaginamos, baseados em filmes ou contos de fadas, os castelos eram lugares de vida rústica, em que havia pouco espaço para a privacidade. Essa rusticidade refletia o temperamento dos nobres da época que eram, essencialmente, guerreiros. Quem imaginar o interior do castelo como um acampamento militar estará muito mais próximo da realidade do que quem imaginar um salão de baile com damas e cavaleiros bem vestidos.
 Um terceiro setor do castelo, nos fundos, era o de “serviço” (c) responsável por abastecer e manter em funcionamento toda a estrutura do castelo, desde a função de defesa até a de consumo da corte.  Um trabalho importante era o dos forjadores. Nesse setor utilizavam fogo intenso para moldar o ferro e transformá-lo em armas e ferraduras. O sistema hídrico do castelo era complexo, a água vinha tanto de poços artesianos (14) quanto da chuva. A água da chuva que escorria pelos telhados era guardada em cisternas (15) e levada por canos (16) até a cozinha (17).
 Neste local havia uma chaminé (18), sob a lareira onde muitos alimentos eram assados (19). Os primeiros castelos tinham apenas pequenos furos no teto por onde saia a fumaça, o que, de certa maneira, auxiliava a aquecer o recinto no inverno.
 Um dos principais alimentos era o porco, não só pelo animal ter uma dieta variada, capaz de comer muitos “restos”, mas também por ser um animal do qual aproveitava quase tudo. Ademais consumi-lo era permitido aos cristãos, ao contrário do que ocorria com muçulmanos e judeus.
 Na cozinha também eram guardados os alimentos que não se estragavam, enquanto aqueles que eram perecíveis ficavam nos porões (20), a zona mais fria do castelo. A armazenagem era fundamental para manter o estoque de suprimentos em períodos de guerra. Era também nessa edificação “de serviço” que se encontrava a fossa, que reunia os dejetos do castelo (21), sendo que parte desse ,material era recolhido e utilizado como adubo.
   Nessa aula você examinou um esquema arquitetônico genérico de um castelo medieval. Na próxima aula vamos estudar essa fortaleza em ação: a guerra.
 
Aula 15_O assédio ao Castelo
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 Temática: O assédio ao Castelo
 
Na aula anterior você conheceu um castelo medieval. Nesta aula vamos estudar as técnicas e estratégias utilizadas nos cercos aos castelos.
  Olhe novamente para o desenho da aula anterior e escreva em um papel ou desenhe um pequeno esboço de estratégias ou equipamentos possíveis para conquistar a fortaleza. Pense na viabilidade de cada um deles. Embora você não seja um guerreiro e muito menos medieval, certamente já viu algumas das técnicas utilizadas na conquistas de fortalezas nos inúmeros filmes que têm a Idade Média ou episódios medievais como tema.
 Se a estratégia fosse terrestre, um primeiro obstáculo seria, sem dúvida, o fosso, pois a ponte elevadiça estaria recolhida. A solução mais comum era tentar construir uma ponte com tábuas, embora, muitas vezes ,os invasores tentassem subornar alguém de dentro para agir como traidor e descer a passagem. Nesse momento o próximo obstáculo seria transpor a ponte recolhida e para isso era utilizado o aríete.
 O aríete era uma arma de assédio que variava desde uma simples tora de árvore afiada na ponta até um carro com rodas, tora com ponta de pedra e uma cobertura que protegia os homens que o empurravam. Esses diferentes “modelos” eram utilizados enquanto os arqueiros do castelo disparavam e enquanto o óleo fervendo era derramado. Mesmo quando essa estratégia desse certo, claramente a vantagem ainda era dos defensores.
 
 
 
Outra estratégia utilizada era a catapulta para tentar abrir um rombo na muralha e então entrar por ela num local menos protegido. A catapulta funcionava com um contrapeso que, com um movimento de alavanca arremessava pedras. No começo, ou então em castelos mal construídos, essa estratégia podia funcionar, pois como não havia cimento era uma questão de força: pedra contra pedra. Todavia, rapidamente, os construtores perceberam que se colocassem um suporte inclinado atrás da muralha com terra ou mesmo com pedras seria suficiente para mantê-la em pé mesmo que danificada.
 
 Todavia, as catapultas não eram utilizadas somente para arremessar pedras. Muitas vezes, era usada para lançar bolas de fogo, tentando forçar a retirada dos habitantes. Estratégia que funcionava em locais com muita madeira, mas era de pouca eficácia em locais de pedra e com a população preparada para essa possibilidade.
 Uma outra munição utilizada nas catapultas eram os cadáveres infectados que eram arremessados para dentro como forma de espalhar doenças e vencer a resistência dos sitiados. Embora essa pareça ser a estratégia definitiva, considerando o pânico causado pelas pestes, havia o risco de que a peste fugisse de controle e contaminasse os próprios sitiantes. Sem contar que o cadáver poderia ser arremessado de volta.
 Escalar as muralhas também era um método utilizado, com escadas ou com cordas. O objetivo eraatingir as torres para diminuir o poder de fogo dos arqueiros. Pois, embora ambos os lados utilizassem o arco e flecha, a proteção daqueles no castelo era muito maior. Os arqueiros também utilizavam as bestas. As mais rudimentares podiam ser carregadas com a mão e as mais “modernas” com um mecanismo para puxar a corda e aumentar a distância do disparo, contavam também com uma pontaria mais desenvolvida.
 Outra estratégia de assédio era torre móvel, que consistia em uma construção sobre rodas da altura da muralha por meio da qual se tentava invadir o castelo por cima, atacando uma das principais vantagens que era justamente os arqueiros na torre e na muralha. Ainda assim a vantagem de quem estava bem estabelecido e apoiado era maior num confronto direto.
  Na verdade, nenhuma dessas táticas era originária da Idade Média, mas todas elas foram utilizadas em maior ou menor grau e com maior ou menor grau de sucesso pelo homem medievo.. E quando todas essas estratégias de guerra falhavam, a fome era a mais eficaz.
 Os sitiantes cercavam o castelo e esperavam pacientemente que os sitiados desistissem pela fome. Um cerco bem sucedido poderia demorar meses e não era imune a adversidades. Além de precisar de um grande número de homens também necessitava de uma enorme quantidade de víveres nem sempre acessíveis, além de manter constante vigilância para evitar fugas e ataques de inimigos pela retaguarda. Em resumo, como apontou John Keegan:
“fortalezas defendidas com coragem e bem aprovisionadas eram difíceis de serem tomadas antes do advento da pólvora”
  Na aula de hoje você aprendeu um pouco sobre uma parte importante da guerra medieval, o assédio aos castelos.
Aprendeu as principais estratégias de ataque e suas limitações, dando ao castelo uma segurança relativa em uma época marcada por invasões.
  tt KEEGAN, John. Uma história da guerra. São Paulo: Cia. das Letras, 1996. p,169.
 
Aula 16_As invasões e a função social dos castelos
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 Temática: As invasões e a função social dos castelos
 
 Na aula de hoje você vai compreender a importância do castelo no contexto mais amplo da sociedade medieval.
 Ao esmiuçar as características dos castelos e os mecanismos de assédio, nas duas aulas anteriores, podemos perceber as invasões bárbaras e a instabilidade da segurança na Europa em sua realidade concreta e diária. Além das invasões germânicas do Império Romano, muitos povos continuaram invadindo a Europa, durante todo o período medieval, especialmente na Alta Idade Média.
 Com isso você não deve pensar que os castelos eram construídos unicamente com a intenção de proteção ante a ameaça externa. Na verdade, com o colapso do poder romano e diante das dificuldades dos reinos bárbaros em reconquistar a força imperial, assistimos à tentativa bem sucedida de dominação territorial e política com o Reino Franco. As guerras eram comuns mesmo entre cristãos ou entre os povos que já habitavam a Europa. Senhores ou guerreiros poderiam utilizar a situação de caos para enriquecer saqueando áreas vizinhas, mosteiros ou nobres rivais.
 Ademais, uma modalidade muito comum era o sequestro, pois
 
“acima de tudo a guerra feudal não objetivava a morte do adversário, apenas sua captura. Como uma das obrigações vassálicas era pagar o resgate do senhor aprisionado, e como na pirâmide hierárquica feudal quase todo o nobre, além de ser vassalo de outros, tinha seus próprios vassalos, capturar um inimigo na guerra era obter um rendimento proporcional à importância do prisioneiro”
 Todavia, a ameaça externa era a que causava o maior pânico. Na época se dizia que os três flagelos do mundo eram a peste, a fome e as guerras.
 Os dois mapas a seguir mostram os diversos povos que invadiram o continente, bem como a região de sua atuação. São poucas as informações sobre esses povos. Sabemos que os sarracenos, como eram chamados os muçulmanos, depois de sua expansão no século VII, começaram a agir como piratas em várias regiões do sul da Itália, cortando as estradas e rotas de comerciantes e  peregrinos no eixo Itália/Gália e pedindo resgate. Sarracenos e eslavos, ainda que menos perigosos, contribuíram para a disseminação do clima de insegurança no período. 
Muito maior foi a ameaça dos magiares, que contando com os fatores velocidade e surpresa causaram estragos no continente.
Segundo Hilário Franco Junior ,
“a cavalaria dos magiares, sem as pesadas couraças ocidentais e aproveitando as planícies da Europa Central, de onde saiam, causava pânico, e antes de qualquer contra-ataque se retirava    rapidamente para as suas bases.”
Os vikings também invadiram a Europa, pois com excesso demográfico precisavam encontrar novas terras. Num primeiro momento atuaram como piratas, utilizando navios de pequeno calado que permitiam a navegação tanto no mar quanto nos rios. Com o tempo passaram a se fixar no norte, onde teriam condições de extorquir e pilhar. Ao estabelecerem colônias para auxiliar os ataques os vikings perderam a surpresa como elemento estratégico e tornaram-se suscetíveis à pressão de franceses e ingleses, acabando por se converterem ao cristianismo.
 
Hilário Franco Junior afirma:
“a rapidez dos vikings, que descendo da Escandinávia penetravam pelos rios com seus barcos leves e ágeis, não permitia a defesa por parte daquele exército difícil de ser convocado, e pesado nas manobras militares”.
 
Dentre os reinos ameaçados, o Franco mostrava sua vulnerabilidade, pois era capa de lutar com alguém escolhido previamente e cuja realização da batalha fosse indicada antecipadamente Como consequência desse conjunto de invasões, “ficava patente a impotência dos soberanos, e cada região, em torno da nobreza local, organizava sua própria defesa. E passava, portanto, a definir seu próprio destino. A Europa cobria-se de castelos” , que eram construídos próximo de rios, lagos ou no alto das montanhas para dificultar o acesso.
 Essa multiplicação de castelos trouxe desdobramentos: quanto mais a  Europa se organizava na defesa, menos lucrativo fica o negócio do saque.  Não por acaso, a multiplicação dos castelos abriu espaço para um paulatino processo de sedentarização desses povos.  Os magiares se sedentariazam na planície húngara. Os vikings, como já vimos, também passam a fundar colônias e, aqueles que retornaram a sua terra natal, levaram influências cristãs e ajudaram na conversão de novos adeptos ao unir paganismo e cristianismo.
 A sedentarização desses povos e a multiplicação dos castelos tiveram como desdobramento uma grande fragmentação do poder no período. O feudalismo, o sistema que nós vimos em funcionamento em aulas passadas, adquiriu sua máxima expressão nos séculos XI-XIII, justamente após esse processo de “castelização”. Mas, ao mesmo tempo, ao garantir uma relativa calma nas guerras e invasões, permitiu um desenvolvimento comercial — assunto para outra unidade, pois já caracteriza o período de renascimento comercial da Europa, ocorrido na Baixa Idade Média.
  Na aula de hoje você conheceu um pouco mais da relação     entre as invasões de diversos povos sobre a Europa e o processo de “castelização” do continente. Relação que dá as bases para o feudalismo do século XI-XIII, já no período da Baixa Idade Média.
 
 JUNIOR, H.F. A Idade Média e o nascimento do Ocidente. São Paulo: Editora Brasiliense, 1988, p.34.
 
Resumo III
Nessa unidade você conheceu o início da reestruturação da Europa após a queda de Roma, e também a expansão do islamismo.
 
Dentre os reinos bárbaros posteriores a Roma, o dos Francos é o mais importante. A Igreja desde cedo o apoiou na perspectiva de conversão ao cristianismo, o que acabou ocorrendo com Clovis em 496, fundador da dinastia merovingia. O reino se expandiu, dividindo o butim com os guerreiros, e ao vencer muçulmanos na península ibérica adquiriu o status de defensor da cristandade. Com Carlos Magno o Reino alcançou sua maior extensão e poderio. 
Enquanto as relações Reino Franco/Igreja se estreitavam, ocorreu o surgimento e posterior expansão de uma nova religião monoteísta: o islamismo. O profeta Maomé foi

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