Buscar

História das Américas II_ Livro

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 76 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 76 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 76 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

1 
 
 
 
 
2 
 
 
Material didático acessível com a 
utilização dos softwares 
 
Google Chrome 
 
NVDA 
 
 
VLIBRAS 
 
 
https://www.google.com.br/chrome/browser/desktop/
https://sourceforge.net/projects/nvda/?source=typ_redirect
https://chrome.google.com/webstore/detail/vlibras/pgmmmoocgnompmjoogpnkmdohpelkpne?hl=pt-BR
 
3 
 
 
 Luciane Azevedo Chaves 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
HISTÓRIA DAS 
AMÉRICAS II 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
1ª Edição 
2017 
 
 
 
4 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
5 
 
Sumário 
Palavra do Professor autor 
Sobre o autor 
Ambientação à disciplina 
Trocando ideias com o autores 
Problematizando 
 
UNIDADE I AMÉRICA COLONIAL 
A conquista e a colonização da América Espanhola 
A aculturação entre espanhóis e indígenas 
A crise no sistema colonial 
 
UNIDADE II AMÉRICA INDEPENDENTE 
O processo de independência na América Espanhola 
O desenvolvimento do capitalismo na América Espanhola 
Os sistemas de governo e o caudilhismo 
 
UNIDADE III POPULISMO, DITADURAS E REDEMOCRATIZAÇÃO NA 
AMÉRICA LATINA. 
Populismo 
Ditaduras 
Redemocratização 
 
 
 
6 
 
Explicando melhor com a pesquisa 
Leitura obrigatória 
Pesquisando com a Internet 
Saiba mais 
Vendo com os olhos de ver 
Revisando 
Autoavaliação 
Bibliografia 
Bibliografia Web 
Vídeos 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
7 
 
Palavras do Professor autor 
 
 Olá cara (o) estudante, 
 
É com satisfação que lhe desejo boas vindas à disciplina História das 
Américas II. 
 
As discussões propostas neste material visam lhe proporcionar não 
apenas o conhecimento, mas a reflexão em torno de questões pertinentes sobre o 
período de conquista, de colonização e de independência até o período das 
ditaduras, dos governos populistas e de redemocratização dos territórios que hoje 
constituem os países da América Latina. 
 
O referido material traz sugestões de leituras no intuito de possibilitar 
maior aprofundamento sobre o assunto abordado. É importante realizar uma 
leitura atenta para que possa obter bons resultados nas avaliações tanto 
discursivas quanto objetivas. 
 
Acredito que a leitura realizada a partir desse módulo e das sugestões de 
leituras de livros e filmes, poderá dar suporte para a construção de seu 
conhecimento acadêmico enquanto estudante e futuro professor de História. 
 
 Além da leitura deste material é extremamente importante sua interação 
no Ambiente Virtual de Aprendizagem com seus colegas e tutor. 
 
 
 
A autora. 
 
 
 
8 
 
Sobre a autora 
 
Luciane Azevedo Chaves, mestre em História Social pela 
Universidade Federal de Uberlândia – UFU, Especialista em 
História do Brasil pelo Instituto Superior de Teologia 
Aplicada (2011). Possui graduação em História Licenciatura 
Plena pela Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA 
(2007). Tem experiência na área de História, com ênfase 
em História Social, atuando principalmente nos seguintes 
temas: educação; memória e história oral; cultura; trabalho e ensino de história. 
Atualmente é Professora do Instituto Superior de Teologia Aplicada – INTA no 
Curso de Graduação em História na modalidade a distância. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
9 
 
 
Ambientação da disciplina 
 
 
Caras (os) estudantes, bem-vindos a disciplina História das Américas II. 
 
Nosso material de estudo está dividido em três unidades: Na primeira 
unidade você poderá entender sobre as relações estabelecidas entre indígenas e 
espanhóis no período de “conquista” e colonização da América espanhola, bem 
como os conflitos, lutas e resistências desses povos a dominação espanhola, 
acompanhado também a expansão e o amadurecimento dos territórios da colônia. 
 
 Na segunda unidade do módulo, o estudante conhecerá a América 
durante o processo de independência, bem como a ocorrência de lutas nos 
principais países da América Latina. As disputas e os embates entre dominantes 
e dominados são pontos norteadores dessa discussão. 
 
Na última unidade do conteúdo, serão abordados os governos populistas 
e as ditaduras instituídas na América Latina, o período de redemocratização e a 
situação do país no pós-ditadura. 
 
Proporcionar uma qualidade de ensino com excelentes resultados em sua 
aprendizagem é a nossa maior tentativa de definição para dar significado a este 
módulo. Cada unidade, conteúdo e indicações bibliográficas foram pensados com 
critérios bastante selecionados a fim de atingirmos nosso maior objetivo, seu 
crescimento pessoal e profissional. 
 
 
 
 
 
 
 
Bons estudos! 
 
10 
 
 
Trocando ideias com os autores 
 
Convido a você a ler o livro A América Latina na Época 
Colonial, escrito por John Lockart e Stuart Schwartz. 
Esse livro contempla estudo da historiografia moderna 
que trata do período de conquista e colonização dos 
portugueses e dos espanhóis na América Latina, bem 
como o processo de independência das colônias 
espanholas e portuguesas. Suas discussões apresentam 
uma linguagem atual com relação à América Colonial, 
apontando semelhanças nos processos de colonização 
portuguesa e espanhola. Para a construção dessa obra, que teve sua primeira 
versão em 1983, John Lockartww e Stuart Schwartz analisam o final do século XV 
até meados do século XIX. 
 
SCHWARTZ, Stuart; LOCKHART, James. A América Latina na época colonial. 
2. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2010. 
 
 
 Sugerimos também a leitura da obra: A Formação do 
Estado Populista na América Latina, de autoria de 
Octávio Ianni. O autor propõe nesse livro uma discussão 
do Populismo como um fenômeno evidenciando o 
antagonismo existente entre classes. Não é intenção do 
autor discutir as especificidades dos governos, dos 
partidos políticos, movimentos e regimes nacionalistas, 
mas de perceber o populismo como um fenômeno 
importante das estruturas de poder, das relações de 
classes, bem como as relações de caráter econômico e político. É proposta na 
obra uma análise do amadurecimento do processo de luta das classes em aliança 
com o populismo e como essas relações sociais de classes aparecem juntamente 
com a formação do Estado Populista. 
 
 
11 
 
IANNI, Octávio. A formação do estado populista na América Latina. 2. Ed. Rio 
de Janeiro: Civilização Brasileira, 1991. 
 
 
 
 
Guia de Estudo: 
Analise os dois livros e faça um paralelo entre os assuntos abordados 
nessas obras, correlacionando-os com o conteúdo estudado na disciplina. 
Faça uma resenha baseada na sua análise e poste no ambiente virtual. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
12 
 
Problematizando 
 
 
 Com base na leitura sobre redemocratização na América Latina, e 
percebendo que vivemos um momento de desconstrução da verdadeira 
democracia em nosso país, partindo da concepção de que democracia implica na 
luta pela igualdade de direitos de uma sociedade e que num regime de governo 
democrático o poder pertence ao povo. Podemos dizer na prática que a 
democracia brasileira está sendo respeitada? Enquanto professor de História, 
como trabalharia essa discussão em sala de aula? 
 
 
 
Guia de Estudo: Construa um texto associando o período de 
redemocratização da América Latina com a realidade do Brasil em termos de 
democracia. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
13 
 
 
AMÉRICA COLONIAL 
1 
Conhecimentos 
Entender o processo de “conquista” e colonização da América Espanhola, as 
culturas distintas, o espaço de disputas e resistências estabelecidas entre nativos, 
negros e espanhóis, bem como a crise no sistema colonial que acarretou na luta 
pela independência dosterritórios colonizados. 
 
 
Habilidades 
Reconhecer que ao longo do processo de conquista houve a dizimação de grande 
parte dos povos nativos e que tal projeto de colonização visou interesse da coroa 
espanhola. 
 
Atitudes 
Estimular o estudante à reflexão da história da formação dos primeiros povos da 
América espanhola. 
 
 
 
 
 
14 
 
 
A conquista e a colonização da América Espanhola 
 
O perfil de um “conquistador”, um desbravador de mundos costumava ser 
aquele capaz de se aventurar corajosamente nos mares bravios, onde junto com 
sua tropa era constantemente desafiado. O juntamente consigo, um caudilho 
comandava a tripulação. Com diz J. H. Elliott “[...] um líder, cuja capacidade de 
sobrevivência seria testada na primeira oportunidade por sua capacidade de 
mobilizar homens e recursos [...]”. (BETHELL, 2004, p.142). 
 
Individualismo e comprometimento com o grupo eram características 
essenciais para o bom desempenho nas viagens. Esse movimento expansionista 
reunia todo um projeto que envolvia duas grandes instituições: a Igreja e a coroa 
espanhola. Quando “conquistada”, as terras estavam sob as ordens da Igreja que 
entrava com a moral e os preceitos da fé cristã e ao Estado, no qual cuidava em 
povoar e autorizar a liberação de terras que se tornariam produtivas sendo 
também cobradas o quinto real pelas rendas adquiridas. 
 
A sobrevivência das colônias espanholas dependia da mão de obra, para 
isso os espanhóis passaram a importá-la de outras regiões. A alternativa 
encontrada foi da escravização de negros que foi considerada uma alternativa 
natural diante do problema enfrentado nas colônias. Sendo assim, em 1505 
chegara à Ilha de Hispanhola a primeira remessa de negros ladinos. Mas esse 
tráfico nem sempre foi contínuo, pois o cardeal Francisco Jiménez Cisneros o 
proibiu, sendo retomado em 1518. 
 
Como ocorreu inicialmente o processo de colonização na América 
espanhola? 
 
 
15 
 
O processo de colonização iniciado em 1508 já havia se expandido por 
Santo Domingo e suas ilhas vizinhas, bem como em Porto Rico. Já na Jamaica a 
colonização ocorreria em 1509, logo depois veio a Ilha de Fernandina, atual país 
de Cuba. Essa ilha se tornou ponto de referência para o estabelecimento da 
colonização, sendo o porto de Havana rota de passagem para as índias. 
 
Mapa 1: Territórios conquistados pela Espanha 
 
 
No mapa é possível identificar os territórios que foram “conquistados”, 
melhor dizendo invadidos pelos espanhóis e ingleses, porém se deve voltar à 
atenção para as colônias que constituíram a América espanhola do século XVII. 
Entre elas estavam: a Capitania Geral do Chile, o Vice-Reinado da Prata, o Vice-
Reinado do Peru, o Vice-Reinado da Nova Granada, a Capitania Geral da 
Venezuela, o Vice-Reinado da nova Espanha e a Capitania Geral de Cuba. 
 
 
16 
 
Capitania: Território concedido a um particular nas terras descoberta. 
 
 
No decorrer dos anos de 1492 e 1519 teve-se o período de descoberta, 
“conquista” e colonização. Leslie Bethel afirma que durante esse período foram 
intensas e aceleradas as atividades nas colônias. Mas o processo de “conquista” 
só se concretizou completamente a partir de 1519 até 1540. Esse período de 21 
anos foi marcado pela forte presença espanhola no continente americano. 
 
 O tráfico de escravos por ser um negócio lucrativo continuou existindo 
para essas colônias que precisavam render lucros a Coroa espanhola. Os negros 
eram tratados como animais, sem nenhum pudor eram escravizados e 
submetidos a castigos caso não obedecessem às ordens de seus senhores. 
 
Diante disso, tem-se na América espanhola um período marcado por 
conflitos, disputas de poder e dizimação dos povos nativos. As disputas territoriais 
foram primeiramente pensadas nas buscas de riquezas como ouro e prata. A 
colonização foi uma necessidade, pois os gastos nesse empreendimento marítimo 
precisavam ser convertidos em lucros à coroa. 
 
Em 1516 a 1518 o território cubano já havia sido conquistado e logo em 
seguida foi à vez do México em 1519 a 1522, seguindo para o Norte e Sul do 
Planalto Central Mexicano. Em 1524 os “conquistadores” seguiram para 
Guatemala e El Salvador. Vale ressaltar que o processo de dominação do 
território mexicano ocorreu lentamente. Em 1529 a 1536 o norte e oeste mexicano 
foram dominados por Nuño de Guzmán, no território de Nova Galícia. 
 
Outros pontos estratégicos de dominação foram: o território do Panamá 
em 1523 a 1524, seguindo para Nicarágua e ao sul do Oceano Pacífico seguiu 
para o Império Inca ocupado em 1531 a 1533. Na sequência de territórios 
 
17 
 
dominados estava o Peru em 1534 e 1536, logo em seguida foram os territórios 
da Venezuela, da Colômbia, do Chile, do Paraguai e da Argentina. 
 
Ao longo dos anos que se estenderam as expedições dominadoras o 
processo de conquista em algumas áreas mexicanas ocorreu de forma lenta, 
porém tomando um contexto geral esse processo ocorreu de maneira rápida e 
violenta. Como aconteceu de maneira imposta essa dominação se deparou com 
inúmeras resistências dos povos nativos. 
 
Como reagiram os nativos no primeiro contato com os espanhóis? 
 
 Inicialmente a impressão dos nativos sobre os espanhóis foi de 
encantamento como diz Bethel: “[...] quando viram os espanhóis pela primeira 
vez, os índios ficaram maravilhados [...]”.Chamaram os espanhóis de Tucupachas 
que significa deuses[...]”.(BETHEL, 2004, p.160). Se para os indígenas o primeiro 
olhar foi de encantamento, para os espanhóis o choque cultural causou-lhes 
estranhamento. 
 
Durante o processo de “conquista” e colonização os espanhóis implantam 
no território americano o sistema de encomienda, no intuito de arrecadar tributos 
onde foi explorado o trabalho dos índios. Com o crescimento das colônias 
espanholas alguns encomenderos se distanciaram dos pontos de exploração de 
minério, desse modo, passaram a priorizar a comercialização de mercadorias 
importadas da Espanha. 
 
O sistema de encomienda foi algo lucrativo tanto para os espanhóis que 
habitavam nas colônias como para a coroa. Para Bethell “[...] a encomienda era 
vista por Cortés como um dispositivo para assegurar aos conquistadores um 
interesse no futuro de Nova Espanha [...]”. (BETHELL, 2010, p.182). Durante o 
período de colonização muitos encomederos enriqueceram, mas em alguns locais 
 
18 
 
não era possível acumular cargos como nas áreas centrais, diferentemente do 
Caribe onde o colono tanto poderia ser um encomedero e ao mesmo tempo 
possuir um cargo de governante. 
 
Para Stuart B. Schwartz e James Lockhart os índios da encomienda não 
eram considerados escravos, pois em sua concepção o escravo é aquele que é 
vendido e comprado e que possui um valor de mercado. (SCHWARTZ, 2010). 
Mas isso não implica em dizer que não tenha havido escravidão indígena, pelo 
contrário, “[...] a escravidão do índio ocorreu como medida de transição e de 
emergência [...] os índios que resistiram à entrada dos espanhóis em suas terras 
estavam sujeitos à escravidão [...]”. (SCHWARTZ; LOCKHART, 2010, p.9). 
 
 
Encomienda: Instituição jurídica implantada pela coroa espanhola para cobrar e 
controlar os tributos, bem como a exploração do trabalho indígena. 
 
 
 
 
Para Schwartz e Lockhart (2010) o projeto de colonização da América 
espanhola se concentrou em dois pontos no que eles chamam de “flancos de 
conquista”, começando por Hispanhola, na região do Panamá e seguindo para o 
Peru, Cuba e México. Essas conquistas se concentravam em áreas indígenas. A 
partir dessas grandes áreas surgiram às cidades espanholas, ainda durante o 
processo de “conquista” surgiram às cidades principais, onde havia inicialmente,residências, comércio, porto e outras cidades com áreas indígenas. 
 
Havia cidades onde a autonomia indígena continuava existindo paralelo 
do mundo espanhol. Como exemplo, tem-se a cidade de Tenochitlicán no México. 
Mesmo diante da colonização espanhola, essa cidade como informa Schwartz e 
Lockhart possuía “seu governador, conselho, quatro distritos e todas as 
 
19 
 
características de uma corporação indígena [...]”. (SCHWARTZ; LOCKHART, 
2010, p.198). 
 
Durante o período de pós-conquista, ocorreu certa “preservação” de 
alguns grupos indígenas, que não tenha havido conflitos e tão pouco porque 
houvesse um respeito por sua cultura. Alguns grupos estabeleceram acordos com 
os espanhóis. Esses acordos foram importantes para o fortalecimento da 
colonização espanhola que manteve estreitos laços com esses nativos como os 
grupos étnicos nabória- yanaconas. 
 
Diante disso, configura-se um cenário constituído de duas culturas 
distintas, um espaço de disputas e resistências, onde durante muito tempo, até o 
processo de independência esteve sob o domínio espanhol. É importante pensar 
que nesse espaço ocorreu o processo de miscigenação e que ambas as culturas 
influenciaram na formação dos povos latinos. 
 
 
 A aculturação entre espanhóis e indígenas 
 
No estudo sobre os povos da América no período da conquista é 
importante atentar para como ficou organizada suas vidas depois da conquista, 
pois se sabe que quando os espanhóis chegaram ao continente americano, se 
depararam com cidades de uma beleza arquitetônica jamais vista antes. 
 
Durante o período da colonização essas cidades continuaram existindo, 
agora sob o domínio dos espanhóis. Dentro de sua organização social foram 
introduzidas atividades que passaram a contemplar as necessidades de uma 
cidade moderna para aquele período. Essas cidades cresceram e se 
estabilizaram no decorrer da colonização. Na citação abaixo uma descrição sobre 
as cidades espanholas a partir do olhar do inglês Thomas Gage. 
 
20 
 
Numa famosa descrição de como encontrou a cidade do México em 
1625, o inglês Tomas Gage observa a construção sólida das residências 
particulares, feitas de pedra e tijolo, além da suntuosidade das igrejas, 
dos mosteiros e conventos, que proclamavam a grandeza da cidade. As 
lojas de artesãos e mercadores, que já eram numerosas no período da 
conquista havia agora se expandindo ao ponto da ampla especialização; 
perto da praça havia uma rua de ourives de prata, outras de ferreiros, 
outras de mercadores de seda, e assim por diante. Havia tanta compra e 
venda na praça central que existia uma alameda ou parque especial 
onde à alta sociedade podia se reunir e desfilar com seus coches, 
cavalos e criados bem vestidos de várias origens étnicas. (GAGE, apud 
SCHWARTZ; LOCKHART 2010, p. 190). 
 
Erguida antes da chegada dos espanhóis, a cidade do México foi sendo 
ampliada a partir de uma cultura europeia. Na descrição de Thomas Gage havia 
mosteiros, convento e igrejas, isso evidencia uma consolidação do poder da 
Instituição da Igreja Católica em terras americanas. É descrito também as 
profissões existente da época como: ferreiros, ourives e mercadores de seda, isso 
torna evidente que o comércio colonial era bem desenvolvido e diversificado. 
 
Outro fator relevante é da intensidade de circulação comercial, quando 
Gage fala da intensidade do comércio com relação às compras e vendas 
realizadas na praça da cidade. Esta praça também se constituía como ponto de 
encontro da elite da época que ia exibir-se com seus coches e cavalos, bem como 
suas indumentárias dignas de serem exibidas. 
 
Na América espanhola havia povos de etnias diferentes, obviamente que 
ao longo do texto já se foi mencionado sobre alguns desses povos como os índios 
e os negros. Mas é importante fazer uma reflexão sobre como eram percebidos 
nas colônias espanholas. Assim sendo, Gage (apud Schwartz e Lockhart, 2010) 
ao se referir as etnias existentes, as distingue por categorias, sendo assim para 
ele havia as categorias de espanhóis, negros e índios. 
 
Neste espaço de multiculturas havia divisões de mundos, sendo o mundo 
espanhol constituído por espanhóis e negros. Estes últimos se aproximavam mais 
do mundo espanhol que os índios. Mas o fato de negros estarem inseridos num 
ambiente espanhol não os tornavam iguais, porque eles estavam em condições 
 
21 
 
de escravidão e era justamente devido a essa escravidão que os tornavam mais 
próximos do convívio com os espanhóis. 
 
Não havia por parte dos espanhóis uma vontade e muito menos 
necessidade de fazer parte do mundo dos índios e vice versa. Schwartz e 
Lockhart (2010) explicam que os negros tinham modos de agir mais próximos dos 
espanhóis que os índios, e isso também os aproximavam. Quando havia relações 
diretas entre negros e índios, estes últimos eram colocados em condições de 
subordinados. 
 
Os imigrantes que chegavam eram encaminhados para se juntarem aos 
espanhóis já estabilizados na colônia. Os colonos veteranos já possuíam um 
respaldo maior com relação aos recém-chegados. Muitos deles ao longo dos anos 
conseguiam ascender socialmente, chegando a fazer parte dos grupos dos 
grandes proprietários de terras. Outros adquiriam pequenos lotes de terras e se 
tornavam pequenos proprietários e havia aqueles que enveredavam em 
atividades comerciais. 
 
Na colônia espanhola havia a divisão entre os grupos étnicos de 
espanhóis e os grupos étnicos de índios. Essa divisão social persistiu durante 
todo o período da colonização. Mas é importante salientar que no mundo 
espanhol do século XVII a divisão étnica não era algo rigorosamente vivenciado. 
Schwartz e Lockhart colocam que não havia divisões, como passaram a existir 
posteriormente, para dividir os grupos de um determinado território como 
“peninsular” ou “crioulo”. Tudo se constituía apenas no Velho Mundo. 
 
No decorrer do processo de amadurecimento das colônias americanas, A 
população dita hispânica obteve maior crescimento, enquanto a população 
indígena diminuiu. Mas os hispânicos tenderam a crescer devido ao processo de 
miscigenação que implicou na mistura de brancos com índios ou negros com 
índios. Diante disso, “[...] para a sociedade espanhola das Índias Ocidentais foi 
 
22 
 
uma tendência muito profunda crescer a custa das sociedades indígenas [...]”. 
(SCHWARTZ; LOCKHART, 2010, p. 201). 
 
Entre os anos de 1550 e 1650 cidades como Peru e México passaram por 
transformações. Os ares de colônia foram ganhando formas e cores hispânicas, 
sendo que os povos indígenas participaram ativamente desse processo. Durante 
esse período foram construídos mosteiros e igrejas para cada província. A música 
europeia também influenciou as nações indígenas, bem como na língua náuatle 
que passou a ser incorporados vocábulos em espanhol. Mas é importante 
lembrar que esse processo de mistura de culturas ocorreu de forma imposta. 
 
 
Náuatle: Relativo aos náuatles, ou indivíduo desse antigo povo do México; 
asteca. 
 
 
A partir desse instante a língua espanhola passou a ser importante, 
disseminando nos principais espaços da colônia. Havia agora duas línguas que se 
cruzavam, dois mundos distintos, mas ligados por meio da miscigenação. 
Embora isso tenha acarretado na diminuição do idioma indígena, segundo 
Schwartz e Lockhart, atualmente ainda existem na região central do México 
grupos indígenas são praticantes da língua espanhola. Veja a citação a seguir: 
 
Nas cidades índias mexicanas veem-se os mesmos tipos de atividade 
hispânica, ainda mais acentuados, mas não há separação bem definida 
entre os dois subsetores porque as atividades eram realizadas de forma 
muito geral. Na verdade, muitas das práticas não eram tão hispânicas, e 
sim comuns à Península Ibérica e à Mesoamérica do início da era 
moderna, que tinha mercados especialistas comerciais e algo muito 
próximo de uma moeda, além de, aparentemente,já conhecer o princípio 
da compra e venda individual de pedaços de terra. (SCHWARTZ; 
LOCKHART, 2010, p. 210). 
 
 
 
23 
 
Na citação acima Schwartz faz referências às atividades rurais e 
comerciais praticadas tanto por povos de origem hispânica como indígena. O 
autor enfatiza que essas práticas foram se intensificando entre os povos 
indígenas das cidades peruanas e mexicanas (no texto da citação a referência é 
apenas às mexicanas), mas tais práticas ao longo do tempo se tornaram comuns 
entre os povos da península ibérica e da Mesoamérica. 
 
É importante observar como essas práticas foram se tornando cada vez 
mais presentes nas vidas dos povos indígenas. Se esses povos resistiram 
inicialmente ao processo de colonização, em sua continuidade souberam interligar 
e ao mesmo tempo diferenciar os hábitos espanhóis e indígenas. Obviamente, 
nesse período a colonização já se encontrava num estágio mais avançado. 
 
 Até o século XVII, alguns grupos indígenas ainda mantinham hábitos 
costumeiros praticados antes da chegada dos espanhóis. No campo religioso, por 
exemplo, ainda existiam sacerdotes e práticas de sacrifícios. Alguns textos 
sagrados de povos antigos como dos maias foram conservados e até atualizados. 
 
Alguns hábitos como o consumo de pulque foram preservados no período 
da colonização. Essa bebida fora repudiada pelos sacerdotes espanhóis durante 
o processo de colonização, mas acabou se tornando fonte de economia para 
colônia que passou a comercializá-la no comércio inter-regional dos povos 
indígenas. 
 
Na indumentária, algumas características do estilo europeu se mesclaram 
com as dos povos indígenas. Cada grupo trazia consigo as vestimentas 
peculiares, porém com um leve toque europeu. Enquanto as línguas, o náuatle 
não se perdeu com a introdução das palavras espanholas. É importante atentar 
que a cultura espanhola, aos poucos foi se naturalizando entre esses povos, 
embora preservassem mitos de seus costumes conforme já mencionado. 
 
 
24 
 
O processo de aculturação ocorrido entre os povos das Américas e os 
europeus, neste caso os espanhóis, perpassou por momentos de lutas e 
resistências. Muitos desses povos foram dizimados e aqueles que sobreviveram 
introduziram em suas culturas hábitos europeus. Quando se fala nessa mistura de 
culturas, às vezes pode soar como algo impactante, mas, ao longo do processo 
de colonização os choques culturais foram sendo amortecidos pelas gerações 
posteriores. 
 
Indumentária: Conjunto do vestuário utilizado em determinada época, região 
ou povo. 
 
A crise no sistema colonial 
O primeiro fator que acarretou a crise no sistema espanhol foi a mistura 
cultural entre os povos, pois isso refletiu nas formas de se relacionar nas esferas 
políticas, sociais e econômicas. O aumento de pessoas mestiças, mulatas e 
mamelucas, também contribuíram para que isso se agravasse, desse modo, as 
categorias de grupos étnicos foram se modificando em suas definições. 
 
Schwartz e Lockhart colocam que a palavra “[...] mulata, utilizada para 
definir os mestiços de origem africana, foi substituída pela categoria zamba para 
pessoas que eram metade índias, metade africanas, deixando o termo mulato 
para os que eram de ascendência espanhola e africana [...]”. (SCHWARTZ; 
LOCKHART, 2010, p. 268). 
 
Outras categorias como “pardo”, em algumas áreas era utilizado para 
referirem-se aqueles que eram superiores aos “mulatos”, enquanto em outros 
poderia representar o contrário de tal significação. Schwartz e Lockhart (2010) 
apontam para a possibilidade, no final do período colonial, de muitos terem 
optado por mudar sua categoria para se encaixarem nas condições 
socioeconômicas da época. 
 
 
25 
 
Nos últimos anos do período colonial, alguns índios demonstravam 
insatisfação com sua etnia, pois devido às condições em que estavam colocados 
diante das outras etnias, sentiam-se discriminados. Nesse período, foram 
intensificados os casamentos de índios com não índios isso porque a união 
matrimonial era uma alternativa para saírem da condição de subordinados. 
 
É importante deixar claro que a mão de obra indígena na América 
espanhola foi fundamental para o enriquecimento da coroa. Ao contrário do que 
pensavam, quando os espanhóis chegaram à América se depararam com uma 
sociedade organizada, possuidoras de costumes, de governo e religião própria. 
 
Muitas cidades peruanas e mexicanas se destacaram, novos grupos de 
grandes proprietários foram se estendendo ao longo desses territórios. As 
desigualdades sociais se tornaram mais evidentes a ponto de provocarem 
revoluções que culminaram em lutas pela independência de várias cidades. 
 
 Outro fator relevante foi o crescimento econômico dessas colônias. A 
economia se estabeleceu primeiramente nas regiões costeiras e isso contribuiu 
para o crescimento do comércio de exportação para a Europa. Sendo assim, 
muitos desses territórios foram ganhando autonomia a ponto de se estruturarem 
num sistema político, econômico e social mais complexo. 
 
As cidades de Buenos Aires, Cuba e Venezuela começaram a se destacar 
nesse processo de autonomia. Buenos Aires se tornou a capital do Rio da Prata, 
enquanto Cuba crescia isoladamente. Em 1760 o comércio marítimo das duas 
primeiras cidades cresceu rapidamente e isso ocorreu devido a sua entrada no 
livre comércio do império. Na Venezuela a economia se voltou para a exportação 
de cacau, uma mão de obra que contou com o trabalho dos escravos negros. 
 
 
26 
 
A influência do iluminismo também contribuiu para novas mudanças no 
cenário político da colônia hispano americana. As ideias circulavam através de 
publicações de textos em revistas da época que disseminaram pensamentos 
libertários. É importante pensar que o conhecimento era uma arma poderosa e 
naquele período cabia a Igreja juntamente com o Estado estabelecer o controle 
sob a vida dos indivíduos. 
A influência francesa continuou tendo efeito com a política do Bourbon 
que defendia a continuação de um governo monárquico. Uma de suas propostas 
políticas foi “[...] a preferência dada a espanhóis nascidos na Península em 
detrimento dos crioulos nas vagas das Audiências [...].” (SCHWARTZ; 
LOCKHART, 2010, p. 401). Isso implicou numa política que desfavorecia aos 
crioulos que já se constituíam maioria na colônia e isso era visto como uma 
ameaça à dominação dos reis Bourbon. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
27 
 
 
 
AMÉRICA 
INDEPENDENTE 
2 
 
Conhecimento 
Compreender o processo de independência da América Espanhola, os fatores 
que acarretaram esse acontecimento, a influência do capitalismo e os sistemas de 
governo constituídos durante esse processo que implicou em disputas e 
legitimação de poder entre os grupos dominantes. 
 
Habilidades 
Analisar o processo de independência da América espanhola, suas causas e seus 
efeitos e as lutas em favor da liberdade dos povos colonizados. 
 
Atitudes 
Instigar o estudante na compreensão das lutas e dos ideais de liberdade entre 
Colônia e Metrópole. 
 
 
 
28 
 
O Processo de independência da América Espanhola 
 
O processo de independência da América foi desencadeado a partir de 
conflitos étnicos. Com exceção do Haiti, as demais colônias da América buscaram 
sua independência através da iniciativa dos brancos que dispunham de riquezas. 
Conforme José Del Pozo houve uma mobilização de luta iniciada através de uma 
classe consciente de seus objetivos, bem como “capaz de elaborar um plano 
político”. (POZO, 2009, p. 15). 
 
Na segunda metade do século XVIII a independência começou a ser 
pensada a partir de um olhar político. O desencadeamento do processo de 
independência ocorreu com a participação dos criollos (crioulos), brancos 
nascidos no chamado Novo Mundo e de homens negros escravos que viviam na 
colônia francesa de Santo Domingo, atual Haiti.Quais motivos levaram essas colônias a provocarem conflitos com seu 
monarca? 
 
Havia insatisfações por parte dos colonos com questões relacionadas à 
alta dos impostos, por exemplo, temos o caso da revolta de Quito em 1592. 
Diante disso, podemos evidenciar uma insatisfação com a forma como vinha 
sendo conduzida a relação metrópole e colônia. Mas havia também o desejo de 
um controle maior sob esse território. Desse modo, a dominação sob os povos 
indígenas foi outro fator que motivou os colonos a alavancarem tais conflitos. 
 
Para José Del Pozo o século XVIII foi marcado pelas reformas sociais 
onde os negros e mulatos livres puderam participar das milícias e comprar as 
condições pertencentes apenas aos brancos, permitindo-lhes que adquirissem 
direitos perante a sociedade da época. Mas as mudanças durante este século não 
agradaram de forma homogênea, muitos colonos demonstraram insatisfação 
 
29 
 
durante os períodos das reformas. Com exemplo, tomamos o caso das 
Audiências, onde a maioria das cadeiras voltou a ser constituída de espanhóis. 
 
O reforço espanhol nas colônias foi ampliado a ponto de levar a expulsão 
dos jesuítas, isso devido à ameaça que a ordem provocou a corte, pois a 
influência da Igreja havia crescido bastante durante o período da colonização. 
Pozo informa que “[...] no México, dos 680 membros da ordem apenas 180 eram 
europeus [...]” (POZO, 2009 p. 19). 
 
Com esses números podemos perceber que havia uma enorme influência 
religiosa nas colônias, tanto é que o processo de expulsão provocou protestos 
violentos que acarretaram em punições como enforcamento. É importante deixar 
claro que o processo de expulsão não aconteceu de forma igualitária em todas as 
colônias da América, pois no Brasil ao contrário do México, não houve revolta da 
população com a expulsão dos jesuítas. 
 
A independência dos Estados Unidos (1776) e a Revolução Francesa 
(1789) contribuíram para que as colônias europeias amadurecessem o processo 
de independência. Mas esses não foram os fatores determinantes da 
independência das colônias espanholas. Desse modo, anos depois, o que 
culminou o enfraquecimento do monopólio espanhol e nesse caso o português 
sobre essas colônias foram as “guerras napoleônicas”. 
 
A partir de 1796 a Inglaterra passou a enviar navios aos territórios das 
colônias espanholas, desse modo, as informações sobre a república foram 
fazendo parte dos pensamentos de liberdade dos colonos. Outro fator que 
despertou o sentimento de luta pela independência foi o fato da Inglaterra atacar 
Buenos Aires e Montevidéu. Segundo Pozo (2009) essa invasão despertou nos 
criollos a consciência nacional o que findou no final do século XVIII para a 
formação de movimentos de luta pela independência. 
 
 
30 
 
A Revolução Francesa influenciou fortemente na independência do Haiti 
(colônia deste país). As ideias de igualdade de direitos entre colonos brancos e 
homens negros e livres repercutiram na colônia francesa, despertando o 
sentimento de luta pela efetivação de tais direitos. Mas essas ideias provocaram o 
descontentamento de colonos brancos que não concordavam com tais mudanças. 
Essa insatisfação acabou em conflitos nessa colônia também conhecida com 
Santo Domingo. 
 
Embora a França tenha dado a liberdade aos seus escravos em 1793, os 
conflitos continuaram a existir, pois os franceses temerosos em perderem seu 
domínio sobre Santo Domingo buscaram negociações com os ex-escravos para 
não perderem o controle da colônia. A luta em torno da independência resultou na 
prisão e morte do líder dos negros Toussaint Louverture, porém isso não inibiu a 
luta pela liberdade e as resistências aos ataques franceses continuaram. 
 
Alguns fatores favoreceram a derrota dos franceses como as doenças 
tropicais e o bloqueio continental inglês que impediu a chegada de mais reforços 
europeus. Desse modo, em 1804, o novo comandante da tropa criolla Jean 
Jacques Dessalines conseguiu juntamente com seus companheiros proclamar a 
independência de Santo Domingo que passou a ser chamado de Haiti. 
 
Embora a independência do Haiti tenha ocorrido em 1804, somente vinte 
anos depois foi reconhecido pela França como país independente. Entre os anos 
que antecederam a oficialização da independência, os haitianos se depararam 
com um período conturbado, pois com o assassinato de Dessalines em 1806 o 
governo deste país ficou dividido, sendo administrado por Henry Cristophe no 
norte e Alexandre Pétion no sul. 
 
Podemos entender que a luta dos criollos pela independência do Haiti 
repercutiu para as demais colônias. De forma positiva ela pode incentivar os 
negros escravos a lutarem pela sua liberdade, porém o desgaste sofrido ao longo 
 
31 
 
desses anos deixou os criollos de colônias como Cuba, Porto Rico e Santo 
Domingo espanhol, temerosos com relação ao desgaste sofrido na luta pela 
independência. 
 
 Mapa 2: Movimentos de independência 
 
 
Mas afinal, qual foi fator determinante que ocasionou o processo de 
independência da América espanhola? 
 
 A invasão da Península Ibérica pelas tropas de Napoleão Bonaparte 
entre os anos de 1807 e 1808 determinou o início do processo de independência. 
Com a invasão efetivada o Rei Carlos IV se viu obrigado a abdicar do trono 
espanhol juntamente com seu filho Fernando VII (próximo na linha de sucessão), 
favorecendo assim o trono a Napoleão. É importante salientar que no caso de 
Portugal, isso não ocorreu, pois a família real portuguesa fugiu para o Brasil em 
1808. 
 
 
32 
 
Devido à ausência de um rei, a Espanha se deparou com uma crise 
política que culminou para a destituição da autoridade monárquica e a formação 
de juntas de governo. Diante disso, enquanto o rei se encontrasse na prisão 
essas juntas atuariam como autoridade máxima. Isso significou a resistência da 
população em se submeter ao domínio francês. 
 
O governo dos criollos predominava apenas em algumas colônias, pois a 
organização de tais juntas não significou uma proclamação de independência, 
mas um compromisso assumido em governar em nome do rei enquanto estivesse 
na prisão. Porém, é importante salientar que esses acontecimentos abriram 
caminhos para mudanças e melhorias na vida dos criollos. 
. 
Nas demais colônias as lutas armadas e lideradas pelos criollos na 
América da região Sul do continente aconteceram a partir de 1811. Essas lutas 
estouraram devido às desconfianças por parte de criollos e espanhóis, pois as 
insatisfações entre tais povos aumentaram gradativamente, culminando para um 
conflito armado. 
 
A partir desses conflitos Buenos Aires foi perdendo o monopólio das 
colônias. O Paraguai proclamou-se independente ainda em 1811, pois segundo 
Pozo se encontrava em vantagem devido a ser uma colônia isolada, assim como 
a outras rebeliões que havia enfrentado em outras épocas e isso despertou o 
sentimento de nacionalismo. (POZO, 2009). 
 
O Uruguai, localizado na Banda Oriental, também já havia despertado o 
sentimento de luta pela liberdade e passou a reivindicar seus territórios que 
estavam sob o controle de Buenos Aires. As lutas armadas da banda Oriental se 
estenderam até 1820 e isso incluiu a luta em defesa do território que fazia 
fronteira com o Brasil. 
 
 
33 
 
Em 1818, após os conflitos militares e civis, que acarretou no exílio de 
muitos patriotas após serem derrotados na batalha de Rancagua, o Chile 
proclamou sua independência. Essa retomada do poder dos patriotas sob os 
espanhóis ocorreu logo após a repressão sofrida pelo criollos que foram acusados 
de apoiarem os patriotas. 
 
Diante disso, em 1817 formou-se um exército em Mendoza e assim O’ 
Higgins sob o comando de José de San Martin entre outros exilados, lutaram 
contra os realistas e retomaram o poder dos patriotas. É importante salientar que 
no Chile os patriotas eram divididos entre aqueles queacompanhavam José 
Miguel Carrera e Bernardo O’ Higgins. Ambos eram líderes chilenos e apesar das 
suas divergências políticas, lutavam contra o domínio espanhol. Veja na citação a 
seguir o que Pozo fala a respeito das guerras alavancadas nesse período. 
 
A luta foi ainda mais longa e encarniçada no antigo vice-reinado da Nova 
Granada. Tanto na Colômbia quanto na Venezuela, os patriotas estavam 
divididos, uma vez que diversas cidades importantes elegeram 
autoridades próprias, sem obedecer às instruções de Bogotá ou de 
Caracas. Ademais, os patriotas tiveram escasso sucesso ao buscarem o 
apoio dos negros e mulatos, pouco entusiasmados com a perspectiva de 
lutar ao lado de quem os dominava [...]. Assim como em outros lugares, 
as lutas pela independência foram verdadeiras guerras civis, pois os 
espanhóis eram uma minoria no campo realista. (POZO, 2009 p. 31). 
 
 A pesar de Pozo (2009) se referir inicialmente ao vice-reinado de Nova 
Granada, um fator importante a ser observado é que essas guerras eram muito 
mais intensas entre os civis e isso causava grandes divergências, pois cada 
cidade possuía seus representantes. A Venezuela pôde vivenciar a república 
pela primeira vez entre os anos de 1811 e 1812. Tal experiência não ocorreu de 
forma positiva devido à derrota dos patriotas pelos realistas. Dentre os líderes que 
tiveram forte influência na luta pela independência da América espanhola 
podemos citar Simón Bolívar. 
Simón Bolívar: É considerado por alguns países da América Latina como um 
herói, visionário, revolucionário, e libertador. 
 
 
34 
 
 Durante a luta pela independência, Bolívar se deparou com fracassos, 
porém conseguiu libertar a Venezuela e a Colômbia, para isso contou com a 
ajuda militar de ingleses e irlandeses. Um fator que contribuiu para a vitória dos 
patriotas foi à desvantagem dos espanhóis que se viram fracos diante das 
doenças contraídas na América. 
 
E assim, após a vitória na batalha de Boyacá, no ano de 1829 foi 
organizado um congresso com o objetivo de criar a Grande Colômbia que passou 
a ser formada pelo que hoje são os países da Colômbia, da Venezuela, do 
Panamá e do Equador sendo Bolívar proclamado presidente desses países. Mas, 
a libertação desses territórios dos domínios espanhóis só se concretizou após a 
vitória do general Antônio José de Sucre na Batalha de Pichincha em 1822. 
Porém isso ocorreu parcialmente, pois os espanhóis tentaram reaver os territórios 
ocupando onde se localiza hoje a cidade de Lima, capital do Peru. 
 
As tropas comandadas por Sucre tiveram vantagem e adquiriram a vitória 
de Junín e Ayacucho e em 1824 as tropas realistas foram derrotadas. Embora 
tenham resistido até 1826, pois acreditavam que deveriam “[...] defender a honra 
espanhola e pela vaga esperança de receber reforços da Espanha”. (POZO, 
2009, p. 34), os espanhóis não obtiveram nenhum domínio sobre os territórios da 
América. 
Desse modo, dos territórios de fronteira entre Lima e Buenos Aires, onde 
já existiam disputas territoriais entre as duas cidades, foi fundada Bolívia cujo 
nome é uma homenagem ao líder libertador Simon Bolívar. E na região oriental o 
território que provocou a guerra entre Brasil e Buenos Aires veio a se constituir 
em 1828 o Uruguai. 
 
Através do quadro abaixo, é possível perceber como ocorreu o processo 
de independência das colônias na América espanhola. 
Quadro 1 
As vias para a independência: situações nacionais 
 
35 
 
País Via seguida Início do 
processo 
Proclamação 
da 
independência 
Obtenção real 
da 
independência 
América Central Pacífica 
 
1821 
 
1821 
 
1821 
 
Argentina* Luta armada 
 
1810 
 
1816 
 
1810 
 
Bolívia 
 
Luta armada 
 
1809 
 
1825 
 
1825 
 
Brasil 
 
Combates 
limitados 
 
1822 
 
1822 1822 
 Chile Luta armada 1810 1817 1818 
Colômbia Luta armada 1810 1819 1819 
Cuba Persistência da 
condição 
colonial 
 
Equador Luta armada 1809-1812 1822 1822 
Haiti Luta armada 1791 1802 1804 
México*** Mista 1810 1821 1821 
Paraguai** Luta armada 1810 1811 1811 
Peru Luta armada 1814-1815 
1821-1824 
1821 1824 
Porto Rico Persistência da 
condição 
colonial 
 Não 
corresponde 
Rep. 
dominicana 
Persistência da 
condição 
colonial e 
ocupação pelo 
Haiti 
 
Uruguai** Luta armada 1810 1825 1828 
Venezuela Luta armada 1810 1811 1821 
Fonte: POZO, José Del. História da América Latina e do Caribe: Dos processos 
de independência aos dias atuais. 
 
36 
 
* Na época, o país chamava-se “províncias Unidas da América do Sul”. 
** País no qual a independência foi não só da Espanha, mas também de Buenos 
Aires (caso Paraguai) ou do Brasil (caso do Uruguai). 
*** No México houve um processo de luta armada, mas a independência foi obtida 
por meios institucionais. 
 
Pensar no processo de independência implica em refletir alguns pontos 
que não podemos deixar de lado como o fato de tal independência ter sido 
conduzida pela elite branca. A família de Bolívar, por exemplo, era uma das mais 
ricas da Venezuela, O’ Higgins era filho de um grande fazendeiro que possuía 
propriedades no Sul do Chile. Outros pertenciam a famílias do Antigo Regime. 
Desse modo, os líderes da independência não pretenderam realizar 
transformações sociais, e aqueles que possuíam tais ideais, foram excluídos de 
tal combate. Podemos dizer que o princípio de igualdade foi algo afirmado apenas 
em teoria e a democratização dos direitos políticos e da cidadania caminhava em 
lentos passos. Mas é importante lembrar que embora não tenha ocorrido uma 
transformação por completo na sociedade, o processo de independência 
proporcionou a abertura para a ocorrência de avanços futuros desses países. 
 
O desenvolvimento do capitalismo na América Espanhola 
 
Desde o período colonial a agricultura se destacava como principal fonte 
econômica, devido ao fato da grande maioria da população viver no campo. Isso 
foi positivo para a época, pois durante o período dos conflitos, as guerras em 
favor da independência provocaram o declínio da mineração e do comércio. 
Isso permitiu maiores investimentos o que ocasionou no enriquecimento 
da elite. Nesse período, o café obteve destaque no Brasil, onde já era cultivado 
desde o período colonial. Na Venezuela, na América Central e na Costa Rica o 
café também teve destaque na economia. Na Argentina, o investimento 
econômico girou em torno da pecuária ovina, iniciada em 1830. Ao longo dos 
 
37 
 
anos, essa atividade obteve um elevado crescimento e isso garantiu o aumento 
nas exportações de lã. 
 
Afinal, havia terra para tantas atividades rurais? 
José Del Pozo informa que a demanda de novas terras na maioria das 
vezes não se fazia necessário, pois algumas atividades cultivadas em 
determinados terras eram retiradas daqueles territórios para dar lugar à produção 
de novos produtos. Mas, havia as tradições que continuaram fazendo parte da 
cultura latino americana. Até 1920 o consumo de bebidas era um hábito 
costumeiro como informa Fanny. Calderón de La Barca (apud POZO, 2009, p. 74) 
 
O maguey é uma fonte de seguros benefícios, pois seu consumo é 
enorme, tanto que muitas famílias ricas da cidade devem sua fortuna ao 
produto de seus mayengues. Quando seus proprietários não fabricam o 
pulpe, vendem as plantas aos índios: um maguey, que no momento do 
plantio custa um real, pode ser vendido por doze a dezoito pesos quando 
está no ponto de corte, lucro que merece ser levado em consideração já 
que a planta dá em quase qualquer terreno, requer pouco adubo e, ao 
contrário do que ocorre com o vinho, quase não precisa de cuidado. 
 
Podemos perceber que as culturas tradicionais atingiam seu auge, se 
perpetuando por longos tempos. Outras culturas como a cana-de-açúcar cultivada 
em Porto Rico e Cuba teve um período de grande produção entre os anos de 
1839 e 1800. Isso pôde ser percebido também nas exportações, chegandoa 
representar como informa Pozo 15% da produção mundial no ano de 1839 e 23, 
6% em 1875. 
 
O aumento de uma produção requeria uma demanda maior de terras, 
para isso, foram desmatadas vastas áreas no intuito de inserir novos plantios. 
Essa necessidade de novos plantios ocorreu devido à ampliação do mercado de 
consumidores norte americanos. Já nas Antilhas britânicas não houve aumento 
na produção de açúcar porque havia uma forte concorrente, a beterraba 
açucareira europeia. 
 
 
38 
 
E a mineração? Como ficou essa atividade no cenário industrial? 
 
Não podemos negar que nos primeiros anos de independência essa 
atividade registrou declínio, isso devido à diminuição de mão de obra e a falta de 
capital com a saída dos investidores espanhóis, porém essa atividade, 
desenvolvida deste o período colonial. 
 
Embora as exportações desse minério tenham caído, algumas minas 
continuaram sendo importantes, obtendo significativos números. No Norte do 
Chile, por exemplo, havia a mina de Chañarcillo e as de cobre de Tamaya. 
Conforme Pozo, no século XIX, este país foi considerado o primeiro produtor 
mundial de cobre, desse modo, 40% das exportações iam para a Grã-Bretanha. 
“A sua produção crescera de 2.000 toneladas anuais em 1830 para um máximo 
de 51.000 em 1869 [...]”. (POZO, 2009 p. 75). 
Ao contrário do Chile, o México sofreu forte queda na produção de prata, 
onde somente em 1850 pôde ter seus níveis de produção equivalentes ao período 
colonial. Não se pode deixar de enfatizar que essas explorações foram motivos de 
conflitos entre Peru, Bolívia e Chile, regiões de exploração de salitre e zona de 
conflito entre Peru e Bolívia, acarretou numa guerra entre estes países em 1879. 
 
 
Salitre: São sais de nitrato de sódio ou de potássio semelhantes ao sal de 
cozinha. É extraído de regiões do Chile, Peru e Bolívia. Geralmente 
encontrado em alimentos industrializados como salsichas, linguiças, entre 
outros. O consumo em excesso pode provocar danos à saúde. 
 
Em meados do século XIX, a produção de guano proporcionou rendas 
relevantes ao Peru, tanto é que a exportação deste adubo para o mercado 
europeu possibilitou a este país realizar o pagamento de indenizações aos donos 
de escravos, isso acarretou no fim da escravidão negra nesta. 
 
 
39 
 
Guano: São fezes de aves, entre elas de morcegos, atobá peruano, cormorão 
e o pelicano alcatraz. Elas são extraídas de ilhas peruanas e é considerado 
um adubo de primeira qualidade. 
 
 
 Naquele período, em países como o Brasil a atividade industrial se fez 
presente com a implantação de fundições de ferro e de estaleiros. Mas foi no 
Paraguai que a produção industrial do ferro obteve maior destaque, porém esta 
produção declinou após a guerra de 1865-1870. 
 
Já no Equador e no México e nas regiões da Guatemala e Puebla do 
México a produção têxtil obteve maior respaldo isso devido a tradicional 
confecção de pano e de roupas. Sua produção era destinada ao mercado de 
consumo interno, pois seu mercado de vendas era estável e nem mesmo os 
tecidos importados abalavam suas vendas. 
 
 A independência dos países latinos americanos possibilitou a 
comercialização direta com o mercado externo. Sendo assim, podiam 
comercializar livremente com os principais centros consumidores assim como 
importar mercadorias. Mas vale ressaltar que foram adeptos a essa política 
comercial. Havia um temor da entrada de produtos importados em larga escala, 
pois isso para alguns países, era visto como uma ameaça a sua economia 
artesanal. 
 
De todo modo, a demanda externa acabou impulsionando as atividades 
produtivas. Se por um lado a demanda externa foi um fator positivo para os 
países afetados com as guerras pela independência, por outro, a referida 
demanda não se apresentou de maneira igualitária para todos que aderiram ao 
comércio exterior. Países como Chile, Argentina e Brasil tiveram suas 
exportações aumentadas, enquanto o Peru aumentou apenas cinco vezes e o 
México 20 %. 
 
40 
 
 
O investimento na construção de ferrovias foram os que mais contribuíram 
para as atividades de exportação, assim como para a ampliação dos mercados 
internos. Em 1837, foi construída em Cuba a primeira estrada de ferro da América 
Latina, e depois vieram mais investimentos para a ferrovia em países como Peru, 
Chile, México, Brasil e Argentina. No Chile a ferrovia atuou no transporte de 
minério de prata, desse modo, é possível perceber a importância desse 
investimento para o setor de comércio exportador. 
 
A criação de bancos contribuiu expressivamente para a economia da 
América Latina. Os primeiros países a serem implementados foram Brasil e 
México. Com o apoio estrangeiro vieram também os bancos particulares que 
surgiram em diversos países como o banco inglês South American Bank. “A 
modernização dos transportes, o surgimento dos bancos e o aumento da 
produção em geral reforçaram a orientação capitalista dos centros produtivos [...].” 
( POZO, 2009, p. 78). 
 
Embora tenha ocorrido significativas mudanças no modo de trabalho dos 
latinos americanos, ainda existiam trabalhos semiforçados. Havia a introdução de 
novas tecnologias e um modo de vida pautado no sistema capitalista, porém, 
ainda existiam países com a prática da escravidão negra e índios realizando 
atividades forçadas. 
 
Não pretendo dizer que o capitalismo seria a saída para a melhoria nas 
condições de vida desses povos e tão pouco, acabaria com a escravidão negra e 
com os trabalhos forçados, pois é sabido que o sistema capitalista gera 
desigualdades sociais e favorece o enriquecimento de uma pequena parcela da 
população. 
 
Apenas estou evidenciando as mudanças que ocorreram com o processo 
de independência e a implantação do sistema capitalista em países que antes 
 
41 
 
viviam num sistema colonial, considerado por alguns pesquisadores como um 
período em que ainda se perpetuavam práticas feudais. 
 
Muitos empresários continuaram alimentando a existência da escravidão 
e, ao mesmo tempo em que investiam em maquinário nesses países, mantinham 
também o trabalho escravo negro. Conforme Pozo, em Cuba, Porto Rico e Brasil 
os negros se concentravam como principal mão de obra do setor agrícola. Até 
1861, os trabalhadores escravos cubanos faziam parte da grande maioria da 
população. (POZO, 2009). 
 
Em alguns lugares existia aquele trabalhador livre, mas apenas na teoria, 
pois na prática estava submetido ao seu patrão devido às dívidas que havia 
contraído. No Chile existia o inquillino que recebia um pedaço de terra ou podiam 
usufruir do pasto, vale relatar que esses “benefícios” entravam como parte de seu 
salário. No rio da Prata, na Argentina e no Uruguai foi estabelecido salários acima 
da média para os peões que permanecessem nas terras de seus patrões, porém 
muitos não se acostumaram a uma vida estática. 
 
Vida estática: paralisada, imóvel, sem progresso, que está parado... 
 
 
O fato é que a elite sempre buscou mecanismos para manter esses 
trabalhadores presos a um sistema de trabalho fosse escravo ou servil. Nesses 
últimos casos, por exemplo, foram estabelecidas leis governamentais para obrigar 
tais trabalhadores a permanecerem no campo. E assim, se perpetuava o 
mandonismo e as desigualdades sociais entre os povos da América Latina. 
 
Mandonismo: Que tende a mandar em quaisquer situações, geralmente, 
utilizando-se de prepotência e uso exagerado do poder. 
 
 
 
42 
 
 Os sistemas de governo e o caudilhismo 
Na América Latina poucos países permaneceram como regime 
monárquico, aqueles que permaneceram tiveram curtos períodos, mas isso não 
foi o caso do Brasil que manteve esse regime com a proclamação da 
Independência por Dom Pedro II e assim, seguiu o país como uma monarquia 
independente até 1889. 
 
Como se configurava o poder do Estado no século XIX? 
 
O Estado não possuía poder máximo como nos dias atuais.Pensar o 
Estado naquela época é perceber um governo pequeno, com orçamentos baixos 
e inexistentes de impostos. Seus ministérios eram reduzidos em: Justiça, 
Fazenda, Guerra e marinha. 
 
As repúblicas e as monarquias governaram no século XIX pautadas ou no 
conservadorismo ou no liberalismo. Os conservadores defendiam a influência da 
Igreja Católica e eram contrárias as imigrações estrangeiras, enquanto os liberais 
abominavam os poderes dessa Instituição religiosa, pois acreditavam que ela 
dificultava o progresso social. No caso da migração estrangeira, poderia trazer 
desenvolvimento para o país, da mesma forma que apoiavam também a abolição 
da escravatura. Veja o que “Pozo” diz a respeito ao papel exercido pela Igreja 
Católica na América Latina. 
A Igreja Católica desempenhava um papel político de primeira linha. Na 
grande maioria dos países, inclusive naqueles governados por liberais, a 
lei estabelecia o catolicismo como religião oficial do Estado e única que 
podia ser praticada em público. A constituição argentina de 1853 
especificava que o chefe do Estado devia ser necessariamente católico. 
Isso implica que o Estado considerava delito o desrespeito aos preceitos 
fundamentais da Igreja, como ficou provado no caso de Camila O’ 
Gorman, a jovem que se apaixonou pelo sacerdote jesuíta Ladislao 
Gutiérrez na Buenos Aires de 1842. O romance teve final trágico, pois o 
governo de Rosas mandou perseguir, prender e fuzilar o casal por ter 
desrespeitado o sagrado juramento do sacerdócio. (POZO, 2009, p. 83). 
Ocorria uma troca de favores entre igreja e Estado, eis então o motivo que 
favorecia a esta instituição o poder de tomar atitudes enérgicas e cruéis contra 
daqueles que fossem contrários a suas leis. Mas a Igreja foi perdendo ao longo 
 
43 
 
dos anos controle sobre a vida pública. Nos anos de 1880 e 1890 no Chile já não 
exercia o controle sobre o registro civil, o casamento e os cemitérios. Coube 
então ao Estado assumir tal responsabilidade. O ensino religioso deixou de ser 
obrigatório na Argentina de 1884. 
 
Dependendo da posição social e da forma de morte, cabia a Igreja determinar 
quem deveria ser sepultado e de que forma deveria ser os ritos fúnebres. 
Suicidas, protestantes e pagãos não tinham direitos a ritos fúnebres e nem a 
serem sepultados nos cemitérios. 
 
Mas a diminuição de sua influência não foi unânime em todos dos países 
da América Latina. Alguns deles, pelo contrário, fortaleceram os laços com a 
Igreja como foi o caso da Colômbia que atribuía privilégios a essa Instituição 
religiosa, a obrigatoriedade do ensino religioso e a legitimidade do casamento 
católico continuaram presentes no cotidiano deste país. 
 
Durante o século XIX a política oligárquica se fez presente. Nesses 
governos sua principal característica era a concentração de poder nas mãos de 
um pequeno grupo de pessoas constituídas da mesma família. As oligarquias 
governaram por longos anos, realizando um revezamento de poder que pode ser 
evidenciado, por exemplo, no Chile onde o sucesso do presidente José Joaquim 
Prieto (1831-1841), foi o General Manoel Bulnes, no qual era seu sobrinho. 
 
Da família Errázuriz foram eleitos três presidentes: Frederico Errázuriz 
Zañartu, seu filho Frederico Errázuriz Echaurren e o primo Germán Riesco 
Errázuriz, entre outros políticos pertencentes à referida família. Alguns políticos 
conseguiam se eleger mesmo estando ausentes foi caso de Domingos Faustino 
Sarmiento em 1868 na Argentina. Mas essas oligarquias nem sempre 
conseguiram concentrar seu poder, pois a América Latina por vários momentos 
esteve governada pelos caudilhos, que não pertenciam nem a ala conservadora 
nem a liberal. 
 
44 
 
Os caudilhos não pertenciam a uma determinada classe social. Havia 
aqueles que vinham de famílias com poder aquisitivo mais elevado como o caso 
de Juan Manuel José Domingo Ortiz de Rosas de Buenos Aires, outros vinham de 
famílias que não possuíam poder aquisitivo como mestiço Rafael Carrera que 
governou a Guatemala de 1838 a 1835. Outro exemplo foi o do peão venezuelano 
José Antônio Páez. 
 
Para compreender melhor a respeito dos caudilhos veja a reflexão de 
Frank Safford (2001 p. 354). 
 
Designa de modo geral aquele que usa a violência ou de ameaça de 
violência para fins políticos – seja um oficial da milícia ou ainda um civil a 
cavalo que comande a milícia ou forças irregulares na luta política, ou 
(mais amplamente) um líder essencialmente civil que usa da repressão 
violenta (como nos casos do Dr.Francia, no Paraguai, ou de Diego 
Portales, no Chile). Antes de 1840, a maioria dos homens que 
atualmente chamamos caudilhos eram indivíduos que haviam realizado 
algum feito militar antes de iniciarem suas carreiras políticas – soldados 
das lutas pela independência ou comandantes das milícias provinciais, 
como Juan Manuel de Rosas, que ganhou ama no combate aos índios 
(SAFFORD, 2001, p. 354). 
 
 
Nesse trecho é possível evidenciar que a presença do militarismo era uma 
característica dos caudilhos que surgiram no período das guerras pela 
independência. Para eles o poder se configurava através da violência e isso os 
levou a ascensão social através da política. Para muitos a ascensão social e 
riqueza pessoal era um fator importante, como exemplo é possível citar o caudilho 
mexicano Santa Anna que esteve sete vezes na presidência. 
 
O caudilhismo foi um acontecimento social com características peculiares 
que variavam entre cada região. Um fator importante a ser mencionado é que não 
era comum um caudilho confrontar as oligarquias. Isso evidencia que os 
pequenos grupos oligárquicos familiares continuaram comandando as áreas 
sociais, políticas e econômicas. 
As disputas territoriais e políticas entre os caudilhos locais começaram 
logo após as Províncias do Rio da Prata saírem sob a dominação espanhola. 
 
45 
 
 
Dentre os caudilhos que participaram dessas disputas de poder ganharam 
destaque, Manuel Oribe e Fructuoso Rivera. Seus enfrentamentos acarretaram no 
envolvimento de alguns países estrangeiros. Somente em 1850 esses conflitos 
abrandaram os ânimos, onde nesse período o Uruguai teve que se desfazer de 
boa parte de suas vastas propriedades, vendidas aos estrangeiros e inclusive 
para o Brasil. 
 
Dentre os países latinos foi na Argentina que o caudilhismo se tornou 
mais fervoroso. Durante longos anos o Estado encontrou-se fragmentado e isso 
só se estabilizou em 1860. Para se ter uma ideia de como funcionava esse 
governo fragmentado, em 1830 a Argentina federalista era governada por três 
caudilhos: Facundo Quiroga, Lopez e Juan Manuel de Rosas. 
 
 
 Desses três governos, Rosas foi aquele que mais tempo permaneceu no 
poder, isso ocorreu devido ao falecimento de Quiroga e Lopez. Desse modo, 
Rosas governou Buenos Aires entre os anos de 1829 e 1832 e de 1835 a1852. 
Seu governo possuía características autoritárias tendo o hábito de perseguição a 
inimigos políticos. 
 
 
É importante enfatizar que a política de Rosas pautava-se em ideias de 
caráter liberal e não no federalismo. Sua administração ficou centralizada na 
Província de Buenos Aires a qual já governava. No decorrer de seu governo 
defendeu uma política em favor dos grandes latifundiários. A partir de então se 
evidencia uma política voltada em benefício de um pequeno grupo. 
 
No Paraguai, ao contrário da Argentina e do Uruguai, não se fragmentou, 
porém houve a presença de uma ditadura que se estendeu por todo o território. O 
criollo José Gaspar Rodríguez de Francia estabeleceu um regime ditatorial que 
inibiu a existência de grandes latifundiários. Francia governou de 1813 até 1840, 
recorrendo sempre violência para legitimar seu poder. 
 
46 
 
 
 Com o fim do governo ditatorial de Francia novos governos 
centralizadores se ergueram como o de Carlos Antônio López e de seu filho
Francisco Solano López. Durante o governo de Solano Lopeza resistência de 
alianças com os argentinos e brasileiros provocaram conflitos armados que 
alavancou na guerra do Paraguai. 
 
Os caudilhos argentinos possuíam interesses nos territórios paraguaios, 
pois pretendiam fortalecer o liberalismo e centralizar os poderes dos países do 
Rio da Prata. Isso não era interessante para Solano Lopez, que não pretendia 
unir-se aos países vizinhos. Seu objetivo maior foi de fortalecer seu governo com 
armamentos e exércitos militares. 
 
O governo paraguaio proibiu a circulação de embarcações dos países 
vizinhos pelo Rio da Prata (rios Paraná e Paraguai) e isso intensificou as 
insatisfações do Brasil e da Argentina que pretendia trafegar pelo rio afim facilitar 
as relações comerciais. Na verdade o Paraguai temia uma invasão em seus 
territórios. O envolvimento do Brasil em questões políticas também era um 
agravante, pois o Paraguai discordou de seu envolvimento nos conflitos internos 
no Uruguai em 1864. 
 
 Mapa 3: Países da Tríplice Aliança 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
47 
 
Disposto a combater o Brasil, o Paraguai buscou adentrar em suas terras 
através dos territórios argentinos que seguiam pelo Mato Grosso. Esses conflitos 
alavancaram em 1864 a 1870 uma Guerra do Paraguai. Essa guerra ocorreu 
entre os países da Tríplice Aliança formados pela Argentina, Brasil e Uruguai 
(apoiados pela Inglaterra) contra o Paraguai. 
 
 
As consequências dessa guerra não foram satisfatórias para estes países 
que saíram endividados com a Inglaterra (foi o caso da Tríplice aliança). O 
Paraguai foi o mais prejudicado, pois teve que ceder parte de seus territórios para 
Argentina e Brasil. 
 
 
É importante enfatizar que ao longo da história da América Latina os 
conflitos políticos, econômicos e territoriais se fizeram presentes. Cada país com 
suas peculiaridades se desorganizaram. Desde a colonização tais territórios se 
configuraram em áreas de disputa, primeiro entre as nações estrangeiras e 
depois, com a independência, surgiram novos conflitos entre os países vizinhos. 
 
 
 Diante disso, pensar na construção histórica desses países implica em 
perceber suas problemáticas, suas limitações e suas dependências tanto no 
campo político, como econômico, religioso e social. As disputas de poder e os 
regimes ditatoriais, os grupos liberais e conservadores contribuíram para 
despertar a fúria dos inimigos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
48 
 
 
POPULISMO, DITADURAS 
E REDEMOCRATIZAÇÃO 
NA AMÉRICA LATINA. 
3 
Conhecimentos 
Refletir sobre o fenômeno do populismo, as ditaduras e a redemocratização na 
América Latina. 
 
 
Habilidades 
Analisar o contexto histórico em que foram constituídos os governos populistas 
com as massas sociais e a luta contra as ditaduras em favor da democracia. 
 
Atitudes 
Estimular o desenvolvimento crítico do estudante em torno desse episódio 
histórico carregado de lutas conflitos e disputas de poder. 
 
 
 
49 
 
Populismo 
 
Esse fenômeno político se caracteriza pela mudança ocorrida na 
sociedade, antes constituída de características tradicionais, sofreu alterações e 
passou a ser de tradicional a moderna. Tal modernismo surgiu em 1950, sob a 
influência do pensamento norte-americano que disseminou a teoria da 
modernização. 
 
Naquele período o populismo passou a ser sinônimo de evolução, sendo 
assim, representou uma fase de transição de uma política e economia tradicionais 
para uma sociedade moderna, nesse caso, essa modernidade surgiu na América 
Latina com a implantação de instituições capitalistas. 
 
 
Assim sendo, a morte de líderes populares não significou que esse 
fenômeno deixasse de ser presente na política. Como no caso de Juan Domingo 
Perón, com o peronismo na Argentina, Lázaros Cárdenas Del Río com o 
cardenismo no México, José Maria Velasco Ibarra com o velasquismo no 
Equador,Getúlio Dorneles Vargas como Varguismo no Brasil entre outros. Veja 
abaixo tabela sobre os fenômenos dos governos populistas da América Latina. 
 
Refletindo: Essa maneira de interpretar o populismo como uma transição de 
uma “sociedade tradicional para uma sociedade moderna” tem como precursor 
o Sociólogo Gino Germani que realizou estudos sobre o populismo do governo 
de Juan Domingo Perón (o peronismo) na Argentina. 
 
 
 
 
 
50 
 
 
Quadro 2: O populismo na América Latina 
LÍDER POPULISTA FENÔMENO PAÍS ANO 
José Batlle E 
Ordóñez; 
Battlismo Uruguai 
 
(1903-1907 / 
1911-1915) 
Juan Hipólito 
Yrigoyen 
Juan D. Perón 
Yrigoyenismo 
 
Peronismo 
 
 
Argentina 
 
(1916-22/1928-
30) 
(1946-52/1952-
55/ 1873-74) 
José Maria Velasco 
Ibarra 
Velasquismo Equador 1934-35/ 1944-
1947/ 1952-
1956 / 1960-61 
1968-1972 
Getúlio Dorneles 
Vargas 
Varguismo Brasil 1930-34/ 1934-
37 / 1937-45 
 
 
 Octávio Ianni apresenta duas questões para explicar o populismo na 
América Latina. Para este autor trata-se de “[...] fenômenos políticos produzidos 
no interior do processo mais amplo de modernização latino-americana” ou de 
fenômenos com menor intensidade políticos construídos “pela incapacidade das 
sociedades latino-americanas [...]”. (IANNI, 1991, p.8). 
 
No populismo as massas ganham visibilidades, mas essa visibilidade é 
manipulada pelos governos populistas que se apropriam de sua popularidade 
para sustentar a imagem de bons representantes da nação. Os valores políticos, 
religiosos e econômicos são deixados de lado para dar notoriedade aos valores 
construídos num ambiente urbano e capitalista. 
 
A força de trabalho se sobressai e o trabalhador tende a estabelecer 
relações com este instrumento de produção, mas é importante levar em 
 
51 
 
consideração que o populismo é um processo que envolve o político, o social e o 
cultural, estabelecendo relações de classes nos países latinos americanos. 
 
 Octávio Ianni (1991) analisa dois tipos de populismo: o populismo das 
cúpulas caracterizado pelos governantes de perfil burguês, burocratas políticos e 
demagogos. Configura-se num populismo de elite e de classe média que controla 
a massa da população e a tudo que se refira a movimentos que provoquem 
estímulo e que reflita sobre sua realidade. Ocorre uma inibição das massas 
trabalhadoras, onde são impedidas de seguirem com suas lutas políticas. 
 
Já o populismo de massas é constituído pelos grupos sociais de classes 
baixas, operários, estudantes, trabalhadores do campo, intelectuais e partidos de 
esquerda e entre outras categorias que incluam a massa trabalhadora. (IANNI, 
1991). Esse tipo de populismo costuma ser mobilizador, e dependendo das 
circunstâncias, assume uma posição revolucionária que culmina numa luta de 
classes. 
 
Alguns estudiosos desse assunto como Jorge Ferreira, Ângela de Castro 
Gomes, Maria Helena Rolim Capelato, conceituam o populismo, dependendo de 
seu lugar de origem, como “[...] trabalhismo, getulismo, queremismo, sindicalismo 
ou peleguismo, autoritarismo, fascismos ou totalitarismo [...]” (BORGES, 2001, 
p.235). Não serão tratados nesta discussão todos estes conceitos em torno do 
populismo, mas saliento que cada conceito tem suas peculiaridades. 
 
E como se caracteriza uma política populista? 
 
 De acordo com Francisca Rafaela Parga, essa política é caracterizada 
pela presença do poder do Estado, instituição controladora dos mecanismos de 
produção. Sua atuação ocorre através da mobilização da massa popular, 
trazendo-a para a participação das decisões políticas. Podendo também ser 
 
52 
 
percebida como “[...] uma terceira alternativa frente ao capitalismo, gerador de 
conflitos de classe [...]” (PARGA, 2006, p.2). 
Desse modo, o discurso populista visou integrar as classes 
desfavorecidas da sociedade, trazendo-as para o cenário político, pregando uma 
política de comprometimento além de garantir os direitos dos cidadãos. Os 
populistas costumavam sercarismáticos e apresentavam um discurso cativante. 
 
Esses líderes se originavam das massas populares e apresentavam uma 
trajetória de vida de lutas e sofrimentos que expressavam uma identificação com 
o povo. Com por exemplo, a história da Argentina Eva Perón, de origem pobre, 
filha de um casamento ilegítimo. Outro exemplo, Jorge Gaitán, também de 
origem simples, destacou-se na sociedade, conquistando seu espaço. 
 
Em 1936 Lázaro Cárdenas assumiu o governo do México. Em seu 
governo fundou a Confederação de trabalhadores do México (CTM) no intuito de 
organizar e unificar as entidades sindicais. Isso implicou no fortalecimento da 
classe operária. O governo de Cárdenas também foi caracterizado pelo apoio aos 
camponeses com a implantação da reforma agrária entre os anos de 1936 e 
1937. Durante seu governo foi estimulado ao camponeses uma organização 
enquanto classe trabalhadora. 
 
Os governos de Cárdenas e Perón foram considerados mais 
revolucionários, conforme Parga (2006, p. 5): 
 
Cárdenas teve uma postura com relação aos sindicatos mais 
democrática que Perón, que atrelou as organizações sindicais ao Estado 
restringindo-lhes a autonomia. A política populista destes dois líderes 
trouxe importantes concessões ao povo, sem, no entanto, romper com 
as estruturas macroeconômicas vigentes, sendo assim, de caráter mais 
reformista que revolucionário. 
 
 
 
 
53 
 
É possível evidenciar que no governo de Lázaro Cárdenas havia uma 
postura que favorecia as classes trabalhadoras. Mas o apoio à luta de classes 
também ocorreu no governo de Júan Domingo Péron. Desse modo, há nesses 
governos um fortalecimento das massas trabalhadoras com relação às classes 
dos grandes proprietários, bem como um equilíbrio entre o capital e o trabalho. É 
importante ressaltar que os projetos de tais governos procuraram estabelecer um 
equilíbrio entre nação e grupos dominantes. 
 
O Varguismo surgiu no Brasil como uma política ideológica do (pós-30), e 
objetivou tirar a população da pobreza, inserindo-a no trabalho. Como diz Ângela 
de Castro Gomes “[...] O trabalho, desvinculado da situação de pobreza, seria o 
ideal do homem na aquisição de riqueza e cidadania [...]”. (GOMES, 1999, p.55). 
O discurso oficial do Estado Novo pregava uma maleabilidade na política de modo 
a disseminar uma ideologia pautada nas melhorias das condições da classe 
trabalhadora. 
Desse modo, será que o populismo na América Latina conseguiu atingir 
seus ideais políticos? 
 
Ao longo dos anos o populismo disseminou uma política ideológica que 
priorizava pela modernização e o comprometimento com a classe trabalhadora. 
Contudo, esses ideais tomaram outros rumos, comprometendo a tão esperada 
democracia latino americana. Octavio Ianni chama a atenção para essas 
questões e alerta para o fato da implantação de uma ideologia enganosa. É 
importante pensar também que dentre as características do populismo estavam à 
predisposição para o autoritarismo e a censura à liberdade civil. 
 
 Ditaduras 
As ditaduras na América Latina foram resultados das relações 
econômicas e políticas constituídas ao longo dos anos, passando pelas guerras 
civis do século XIX, as lideranças e os golpes aplicados pelos caudilhos, pelos 
governos nacionalistas ou populistas, porém, o fortalecimento do militarismo 
 
54 
 
ocorreria durante a Guerra fria com a profissionalização do exército latino 
Americano. 
 
 Ao atentar para o processo histórico desses países, percebe-se que 
sempre existiu uma relação de dependência com o mercado internacional, tendo 
se estendido as dominações externas inclusive no pós-independência. Para os 
grupos de elites um regime democrático não era compatível com uma sociedade 
que buscava a modernização. Esse discurso foi veiculado a justificativa da 
implantação dos governos militares. Porém, não se podem compreender essas 
ditaduras do século XX atentando apenas para a tradição do autoritarismo. 
 
Na Argentina o golpe de Estado foi oficialmente implantado em 24 de 
Março de 1976, mas o fortalecimento militar já acontecia com a derrubada do 
governo de Júan Domingo Perón na década de 1950. A implantação do regime 
militar significou o fim de um governo marcado pela industrialização e o início de 
um governo de características liberais, conservadoras e agrárias aliadas ao 
capital estrangeiro. 
 
O golpe militar de 1976 na Argentina foi considerado o mais violento de 
toda a história desse país, isso devido ao número de mortos e desaparecidos que 
correspondia num total de 32 mil. O desaparecimento e sequestro de bebês, filhos 
daqueles que se manifestaram contra o regime provocou um impacto profundo 
nesse período. 
 
 No caso do Chile, o governo norte americano de John F. Kennedy não 
demonstrava satisfação com a possível vitória do governo de Salvador Allende, e 
assim, procurou enfraquecê-lo, para isso, apoiou os partidos reformistas da classe 
média chilena, para conter o fortalecimento de revoltas no campo e na cidade. 
Contudo, isso não impediu a concretização da vitória de Allende nas urnas e em 4 
de novembro de 1970 foi empossado como presidente chileno. 
 
 
55 
 
Havia no Chile o temor de que o socialismo se legitimasse como saída 
para os países da América Latina. Sendo assim, estimulou-se o ódio e a 
repressão ao governo de Salvador Allende. As greves de 1972 e 1973 como a 
dos setores de transportes e de comércio provocaram instabilidade no país. Esse 
período de instabilidades se estendeu aos bancos e as agências internacionais 
que perderam seus créditos, tendo também limitados as vendas de produtos 
considerados de grande necessidade para o país. 
 
Mas, quem estimulou tais iniciativas? 
 
Todos esses acontecimentos foram influenciados pelo governo norte- 
americano que alimentou na burguesia nacional a realização de greves, da 
mesma forma que estimulou o exército a implantação do golpe de 1973. Vale 
ressaltar que outras tentativas de golpe foram realizadas e apoiadas pelos norte- 
americanos. 
 
No final da década de 1950 o Uruguai enfrentou uma crise econômica e 
política que o impossibilitou de manter a estabilidade e os lucros no setor de 
produção agrário. A instabilidade financeira provou insatisfação nos produtores 
que não concordaram com a política de distribuição realizada pelo Estado para os 
assalariados. Tal crise se estendeu aos demais segmentos da sociedade que 
havia vivido em anos anteriores um período de estabilidade financeira. 
 
Setores da elite contribuíram para que o pacto social estabelecido em 
anos anteriores e que visava o equilíbrio e a estabilidade econômica e financeira 
do país se desestruturasse. Na verdade a elite do Uruguai passou a lutar pela 
volta do liberalismo, visando também à monopolização do poder. 
 
Em 1968, no governo de Pacheco Areco, ocorreram grandes quedas nos 
salários e isso provocou conflitos que gerou resistência dos trabalhadores 
 
56 
 
assalariados, provocando no país uma sucessão de greves que levaram o 
governo a convocar uma intervenção militar. 
 
Nesse período criou-se o Movimento de Libertação Nacional (MLN) dos 
Tupamaros tidos como um movimento de subversão. Desse modo, no cenário 
político da década de 1970 as disputas de poder se configuraram entre dois 
partidos políticos: Blanco e Colorado, bem como do grupo esquerdista apoiado 
pelos Tupamaros. Mas essa frente esquerdista não conseguiu impedir que o 
partido da situação continuasse no governo e em 1971 foi eleito Juan Maria 
Bordaberry. 
 
Tupamaro: Nome de origem indígena que faz referência ao cacique inca 
Tupac Amaru. Foi um movimento guerrilheiro que surgiu no Uruguai entre os 
anos que antecederam a ditadura militar. Esses guerrilheiros lutavam pela 
igualdade social e os direitos dos cidadãos. 
 
 
Os militares vinham se fortalecendo desde o governo de Pacheco Areco. 
Sua atuação se constituiu em um nível de repressão mais

Continue navegando