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Capítulo 11• DIREITOS FUNDAMENTAIS E DIREITOS E DEVERES lf'vDIVIOUAIS E COLETIVOS 395 • Penas ----- --------------------------------------------------- Art. 5°, XLV, da CF:"nenhuma pena passará da pessoa do condenado, podendo a obrigação de reparar o dano e a decretação do perdimento de bens ser, nos termos da lei, estendidas aos sucessores e contra eles executadas, até o limite do valor do patrimônio transferido;" -------------------------------------------------------------------- Art. 5°, XLVI, da CF: "a lei regulará a individualização da pena e adotará, entre outras, as seguintes: a) privação ou restrição da liberdade; b) perda de bens; c) multa; d) prestação social alternativa; e) suspensão ou interdição de direitos;" Art. 5°, XLVII, da CF: "não haverá penas: a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos do art. 84, XIX; b) de caráter perpétuo; c) de trabalhos forçados; d) de banimento; e) cruéis;" Art. 5°, XLVIII, da CF: "a pena será cumprida em estabelecimentos distintos, de acordo com a natureza do delito, a idade e o sexo do apenado;" O artigo 5", XLV, da CF traz o princípio da responsabilidade pessoal. A pena·nãopâssàrá da pessoa do condenado, mas a obrigação de reparar o dano·· e perdimento de bens podem !:;er estendidas aos ._. ser-contraele_s e)(eC!utadasaté à limite do_ patrim __ (mio • o esgotameríti:> do vàtor transmitido pela hérança deixada pelo morto. ·--· (/ 396 Parte U • DIREI-O CONSTITUCIONAL- Paulo Lépore Já o artigo 5°, XLVI, da CF, traz o princípio da individualização da pena e ainda arrola os tipos de pena a serem adotados pelo ordenamento jurídico brasileiro. Sobre a individualização da pena, diz a Súmula Vinculante 26: "Para efeito de progressão de regime no cumprimento de pena por crime hediondo, ou equiparado, o juízo da execução observará a inconstitucionalidade do art. 2° da Lei 8.072, de 25 de julho de 1990, sem prejuízo de avaliar se o condenado preenche, ou não, os requisitos objetivos e subjetivos do benefício, podendo determinar, para tal fim, de modo fundamentado, a realização de exame criminológico': No famoso art. 5°, XLVII, da CF, está a determinação de que não haverá penas: a) de morte, salvo em caso de guerra declarada; b) de caráter perpé- tuo (que é mais abrangente do que uma pena de prisão perpétua; assim, não se pode, por 'exemplo, fixar uma pena de 100 anos e que não admita algum tipo de progressão ou benefício, pois ela seria revestida de caráter perpétuo e, por essa razão, o art. 75 do CP já estabelece que o tempo de cumprimento de penas privativas de liberdade não pode ser superior a 30 anos); c) de trabalhos forçados; d) de banimento ~ou degredo, que se refere ao envio compulsório de um nacional ao estrangeiro, sem possibilidade de retorno, como forma de punição); e e) cruéis. Por fim, no art. 5°, XLVIII, da CF, existe mais um elemento de individu- alização da pena, pois considera as diferenças quanto ao delito cometido, a idade e o sexo do apenado. Uadi Lammêgo Bullos vislumbra ainda: "O objetivo do dispositivo em des- taque foi contribuir para a reabilitação do criminoso, garantindo-lhe cumprir a pena em estabelecimento compatível com o crime por ele cometido. Para tanto, são considerados a natureza do delito, a idade e o sexo do apenado, porque essas especificações, ao menos em tese, servem para resguardar as diferenças que existem entre pessoas menos resistentes fisicamente daquelas outras mais avantajadas em força física. A observância desse dispositivo serviria para evitar que indivíduos inexperientes ficassem em contato com outros de maior potencial físico, sendo necessária a existência de edificações autônomas, dentro de um dado complexo carcerário': 22 22. BULOS, Uadi Lammêgo. Op. Cit., 275. Capítulo 11• DIREITOS FUNDAMENTAIS E DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS 397 • Integridade física e moral dos presos e o direito à amamentação para as mães presidiárias Art. 5°, XLIX, da CF: "é assegurado aos presos o respeito à integridade física e moral" Art. 5°, L, da CF: "às presidiárias serão asseguradas condições para que possam permanecer com seus filhos durante o período de amamentação" O indivíduo preso já está recebendo o devido castigo do Estado pela prá- tica do delito. Sendo assim, a ele deve ser assegurado respeito à integridade física e moral. Novamente merece destaque a Súmula Vinculante 11: "Só é lícito o uso de algemas em casos de resistência e de fundado receio de fuga ou de perigo à integridade física própria ou alheia, por parte do preso ou de terceiros, justifi- cada a excepcionalidade por escrito, sob pena de responsabilidade disciplinar, civil e penal do agente ou da autoridade e de nulidade da prisão ou do ato processual a que se refere, sem prejuízo da responsabilidade civil do Estado:' Às presidiárias garante-se o direito à amamentação, o que em análise mais detida atinge também os direitos da criança que, nos termos do art. 227 da CF, devem ser garantidos com absoluta prioridade. • Extradição Art. 5°, LI, da CF: "nenhum brasileiro será extraditado, salvo o naturalizado, em caso de crime comum, praticado antes da naturalização, ou de comprovado envolvimento em tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, na forma da lei" ·--------·----···----- Art. 5°, LI I, da CF:"não será concedida extradição de estrangeiro por crime político ou de opinião" Os dispositivos constitucionais são bastante densos, o que faz com que sejam objetos de frequentes questionamentos nas provas do CESPE. Desse modo, para prepará-lo para a prova, sistematizamos o regramento sobre extradição e, na sequência, apresentamos uma tabela comparativa: a) O brasileiro nato nunca será extraditado (por crime comum ou de opinião). 398 Parte 11• DIREITO CONSTITUCIONAL- Paula Lépore b) O brasileiro naturalizado somente poderá ser extraditado em caso de crime comum (praticado antes da naturalização), ou de comprovado envolvimento em tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins (an- tes ou depois da naturalização), na forma da lei, mas não por crime político. c) O estrangeiro pode ser extraditado pela prática de crime comum, mas não por crime político. d) O Brasil não extradita ninguém pela prática de crime político. 1. Brasileiro nato Não Não 2. Brasileiro naturalizado Sim, desde que seja por: a) crime praticado antes da naturalização b) comprovado envolvimento em tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, na forma da lei Não 3. Estrangeiro Sim Não REGRA GERAL O Brasil não extradita ninguém pela prática de crime político Encerrando este tópico, destacamos a Súmula 421 do STF: "Não impede a extradição a circunstância de ser o extraditando casado com brasileira ou ter filho brasileiro". • Juiz natural Art. 5°, Llll, da CF: "ninguém será processado nem sentenciado senão pela auto- ridade competente" Esse direito está ligado ao art. 5°, XXXVII, da CF, segundo o qual "não haverá juízo ou tribunal de exceção'~ Sendo assim, fica garantido que todo indivíduo tem direito a ser julgado por uma autoridade cuja competência já esteja atribuída antes da ocorrência do fato que deu origem ao julgamento. • Devido processo legal Art. 5°, LIV, da CF: "ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal" Capítulo 11• DIREITOS FUNDAMENTAIS E DIREITOS E DEVERES INDIViD:.JAIS E COLETIVOS 399 Valendo-nos da lição de Fredie Didier Júnior, podemos afirmar que o devido processo legal é, basicamente, o direito a ser processado e a processar de acordo com normas previamente estabelecidas.D A disciplina constitucional do instituto do devido processo legal se completa com o contraditório e a ampla defesa, que passamos a analisar na sequência. • Contraditório e ampla defesa Art. 5°, LV, da CF: "aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e a ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes" Entende-se por contraditório a garantia de ter ciência e poder manifes- tar-se sobre todos os termos e atos de um processo. Já a ampla defesa autoriza que sejam levadas ao processo todas as mani- festações e provas admitidas em direito. Sobre o tema, destacamos cinco Súmulas Vinculantes. Súmula Vinculante 14: "É direito do defensor, no interesse do repre- sentado, ter acesso amplo aos elementos de prova que, já documentados em procedimento investigatório realizado por órgão com competência de polícia judiciária, digam respeito ao exercício do direito de defesà'. Súmula Vinculante 28: "É inconstitucional a exigência de depósito prévio como requisito de admissibilidade de ação judicial na qual se pretenda discutir a exigibilidade de crédito tributário". Súmula Vinculante 21: "É inconstitucional a exigência de depósito ou arrolamento prévios de dinheiro ou bens para admissibilidade de recurso administrativo". Súmula Vinculante 5: "A falta de defesa técnica por advogado no processo administrativo disciplinar não ofende a Constituição". ~ATENÇÃO! Cuidado com aSúmulaViné:olânte 5, pois ela prega uma regra que é absoluta- mente contráriéJ -a0 q,l!eJJ~eceitllarT) 9 cohtradi~~riÇJ .. ea aFTmla d~fesa. ,. ' ' . ; ' ., > ', , ' '_, ,,' ',' '' ' 23. OIDIER JÚNIOR, FrecHe. Curso de direito processual civil. 11 ed. Salvador Juspodivm, 2009, p. 39. 400 Parte 11• DIREITO CONSTITUCIONAL- Paulo Lépore Súmula Vinculante 3: "Nos processos perante o TCU asseguram-se o contraditório e a ampla defesa quando da decisão puder resultar anulação ou revogação de ato administrativo que beneficie o in- teressado, excetuada a apreciação da legalidade do ato de concessão inicial de aposentadoria, reforma e pensão': • Provas obtidas por meios ilícitos Art. 5°, LVI, da CF: "são inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por meios ilícitos" A vedação às provas obtidas por meios ilícitos é uma consequência das garantias do devido processo legal, do contraditório e da ampla defesa. Vale ainda destacar que o Supremo Tribunal Federal entende que decorre da regra que veda a utilização no processo de provas obtidas por meios ilícitos a proibição de utilização também das provas derivadas das ilícitas - teoria que se tornou conhecida pela alcunha de "frutos da árvore envenenada". Entretanto, a jurisprudência do STF admite a utilização das provas derivadas das ilícitas em processo penal, quando a acusação demonstrar que as provas derivadas advêm de uma fonte independente (RHC 90.376, julgado em 2007 e relatado pelo Ministro Celso de lVlello). • Estado/Presunção de inocência Art. 5°, LVII, da CF:"ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória" O estado ou presunção de inocência é direito que se alinha ao regime democrático do Estado brasileiro. Isso porque, se garante que os indivíduos exerçam livremente seus direitos sem que possam sofrer pressões ou represálias ao serem considerados culpados pelas autoridades constituídas. O magistério de Uadi Lammêgo Bulos esclarece: "Com o advento da Cons- tituição de 1988, todos são inocentes até existir prova em contrário, porque até Capítulo 11• DIREITOS FUNDAMENTAIS E DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS 401 o transitar em julgado da sentença condenatória o réu terá o direito público subjetivo de não ostentar o status de condenado. Trata-se de uma projeção do Estado Democrático, que se conecta com outros corolários, tais como o devido processo legal, o contraditório, a ampla defesa, o in dubio pro reo e o nu/la poena sine culpa".24 • Identificação criminal Art. 5°, LVIII, da CF: "o civilmente identificado não será submetido a identifi- cação criminal, salvo nas hipóteses previstas em lei" Trata-se de direito que limita a identificação criminal, que tem a tendên- cia de estigmatizar o investigado, notadamente pelo exame dactiloscópico (impressões digitais). As exceções que atendem ao comando "salvo nas hipóteses previstas em lei" estão regulamentadas fundamentalmente na Lei 12.037/2009.25 24. BULOS, Uadi Lammêgo. Op. Cit., 312. 25 Lei 12.037 /2009:"Art. 1 o O civilmente identificado não será submetido a identificação criminal, salvo nos casos previstos nesta Lei. Art. 2° A identificação civil é atestada por qualquer dos seguintes documentos: I -carteira de identidade; 11- carteira de trabalho; 111- carteira profissional; IV- passaporte; V- carteira de identificação funcional; VI - outro documento público que permita a identificação do indiciado. Parágrafo único. Para as finalidades desta Lei, equiparam-se aos documentos de identificação civis os documentos de identificação militares. Art. 3° Embora apresentado documento de identificação, poderá ocorrer identificação criminal quando: I- o documento apresentar rasura ou tiver indício de falsificação; 11 - o documento apresentado for insuficiente para identificar cabalmente o indiciado; 111 - o indiciado portar documentos de identidade distintos, com informações conflitantes entre si; IV a identificação criminal for essencial às investigações policiais, segundo despacho da autoridade judiciária competente, que decidirá de ofício ou mediante representação da autoridade policial, do Ministério Público ou da defesa; V- constar de registros policiais o uso de outros nomes ou diferentes qualificações; VI -o estado de conservação ou a distância temporal ou da localidade da expedição do documento apresentado impossibilite a completa identificação dos caracteres essenciais. Parágrafo único. As cópias dos documentos apresentados deverão ser juntadas aos autos do inquérito, ou outra forma de investigação, ainda que consideradas insuficientes para identificar o indiciado. Art. 4° Quando houver necessidade de identificação criminal, a autoridade encarregada tomará as providências neces- sárias para evitar o constrangimento do identificado. Art. 5° A identificação criminal incluirá o processo datiloscópico e o fotográfico, que serão juntados aos autos da comunicação da prisão em flagrante, ou do inquérito policial ou outra forma de investigação. Parágrafo único. Na hipótese do inciso IV do art. 3°, a identificação criminal poderá incluir a coleta de material biológico para a obtenção do perfil genético. (Incluído pela Lei no 12.654, de 2012). Art. S0 -A. Os dados relacionados à coleta do perfil genético deverão ser armazenados em banco de dados de perfis genéticos, gerenciado por unidade oficial de perícia criminal. (Incluído pela Lei no 12.654, de 2012). § 1 o As informações genéticas contidas nos bancos de dados de perfis genéticos não poderão revelar traços somáticos ou comportamentais das pessoas, exceto determinação genética de gênero, consoante as normas constitucionais e inter- nacionais sobre direitos humanos, genoma humano e dados genéticos. (Incluído pela Lei no 12.654, de 20 12). § 2° Os dados constantes dos bancos de dados de perfis genéticos terão caráter sigiloso, respondendo civil, penal e administrativamente aquele que permitir ou promover sua utilização para fins diversos dos previstos nesta Lei ou em decisão judicial. (Incluído pela Lei no 12.654, de 2012). § 3° 402 Parte 11• DIREITO CONSTITUCIONAL- Paulo Lépore • Ação penal Art. 5°, LIX, da CF: "será admitida ação privada nos crimes de ação pública, se esta não for intentada no prazo legal" ----------------------- Em regra, o processo penal se inicia mediante ação pública, cujo titular é o Ministério Público. Entretanto, se não intentada no prazo legal, será cabível ação privada, chamada pela doutrina de subsidiária ou supletiva. Na lição da doutrina especializada, a ação privada subsidiária ou supleti- va "tem cabimento diante da inércia do MP, que, nos prazos legais, deixa de atuar, não promovendo a denúncia ou, em sendo o caso, não se manifestando pelo arquivamento dos autos do inquérito policial, ou ainda, não requisitando novas diligências. [ ... ] É uma mera faculdade, cabendo ao particular optar entre manejar ou não a ação, gozando como regra do prazo de seis meses, iniciados, contudo, do encerramento do prazo que o MP dispõe para atuar': ou seja, normalmente cinco dias (se preso o investigado) ou quinze dias (se o investigado estiver em liberdade.26 • Publicidade dos atos processuais Art. 5°, LX, da CF: "a lei só poderá restringir a publicidade dos atos processuais quando a defesa da intimidade ou o interesse social o exigirem" Nesse dispositivo há uma clara ponderação de valores, o que é desejável que ocorra em um contexto constitucional que não elenca nenhum direito como absoluto. Equilibram-se a publicidade e a defesa da intimidade ou o interesse social. Sobre o tema, é precisa a lição de Uadi Lammêgo Bulos: "[ ... ] é sempre válido lembrar que o sigilo não deve e nem pode ser absoluto, porque os atos judiciais são complexos. É o caso da consulta aos autos e do pedido de certidões, que, embora limitados às partes e a seus patronos, são direitos públicos subjetivos e de caráter político, invadindo até a esfera discricionária do Poder Judiciário". As informações obtidas a partir da coincidéncia de perfis genéticos deverão ser consignadas em laudo pericial firmado por perito oficial devidamente habilitado. (Incluído pela lei no 12.654, de 2012)". 26. ALENCAR. Rosmar Rodrigues; TÁVORA. Nestor. Op. Cit., p. 183. Capítulo 11• DIREITOS FUNDAMENTAIS E DIREITOS E DEVEEES INDIVIDUAIS E COLETIVOS 403 • Prisão e demais direitos do preso Art. 5°, LXI, da CF: "ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada de autoridade judiciária competente, salvo nos casos de transgressão militar ou crime propriamente militar, definidos em lei" Art. 5°, LXII, da CF: "a prisão de qualquer pessoa e o local onde se encontre serão comunicados imediatamente ao juiz competente e à família do preso ou à pessoa por ele indicada" ------------------------·-----------------~-------------· Art. 5°, LXIII, da CF: "o preso será informado de seus direitos, entre os quais o de permanecer calado, sendo-lhe assegurada a assisténcia da família e de advogado" Art. 5°, LXIV, da CF: "o preso tem direito à identificação dos responsáveis por sua prisão ou por seu interrogatório policial" Art. 5°, LXV, da CF:"a prisão ilegal será imediatamente relaxada pela autoridade judiciária" Art. 5°, LXVI, da CF: "ninguém será levado à prisão ou nela mantido, quando a lei admitir a liberdade provisória, com ou sem fiança" Esses dispositivos estabelecem um verdadeiro :-o! de direitos para os presos. Além disso, há um fino detalhamento27, o que acaba gerando uma constante cobrança em provas de concursos. Passaremos, pois, a destacar como esses dispositivos são cobrados pelas bancas examinadoras. -~ t)t!~~~~R~ . .· .. _ ._ .. · .. · . . . ... é ·A.pri~&o:~~ quf1lquer pesso!'l_-~- o iC?é!'ll on~e.'~;i~ ·. · · imediatamente ao juiz ctlmpetente e (não ou)à f~ · · pess-oa por ele indicada. · 27. Para um estudo aprofundado do Processo Penal, voltado a outms concursos ou à atuaçao profissional, recomendamos a seguinte obra: ALENCAR, Rosmar Rodriçues;TÁVORA, Nestor. Op. Cit. 404 Parte 11• DIREITO CONSTITUCIONAL- Paufv Lépore 2. Vale notar que a liberdade provisória foi profundamente alterada pela Lei 12.403/11, que estabeleceu um regramento detalhado sobre a matéria. • Prisão civil por dívida Art. 5°, LXVII, da CF: "não haverá prisão civil por dívida, salvo a do responsável pelo inadimplemento voluntário e inescusável de obrigação alimentícia e a do depositário infiel" ------------------ Apesar de o texto constitucional admitir a prisão civil tanto no caso do inadimplemento voluntário e inescusável (não desculpável) de obrigação alimentícia, quanto na situação do depositário infiel, esta última não gera mais efeitos práticos. Isso porque, no bojo do RE 466.343 e do HC 87.588, o STF declarou inaplicável a prisão civil do depositário infiel: ''A subscrição pelo Brasil do Pacto de São José da Costa Rica, limitando a prisão civil por dívida ao des- cumprimento inescusável de prestação alimentícia, implicou a derrogação das normas estritamente legais referentes à prisão do depositário infiel:' (HC 87.585, julgado em 2008 e relatado pelo Ministro Marco Aurélio). Portanto, apesar de a prisão ser possível à luz do texto constitucional, ela não pode se materializar na prática, pois as regras infraconstitucionais que a tornavam aplicável (Decreto-Lei 911/69 e artigo 652 do Código Civil) foram revogadas pelo Pacto de São José da Costa Rica. O posicionamento tomado pelo STF acabou gerando a edição da Súmula Vinculante 25: "É ilícita a prisão civil de depositário infiel, qualquer que seja a modalidade do depósito': Capítulo 11• DIREITOS FUNDAMENTAIS E DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS 405 • Assistência jurídica integral e gratuita Art. 5°, LXXIV, da CF: "o Estado prestará assistência jurídica integral e gratuita aos que comprovarem insuficiência de recursos" A assistência judiciária é regulada pela Lei 1.060/50. Na prática a compro- ração de insuficiência de recursos (condição para se fazer jus à assistência ju- liciária) se equipara à ideia de necessitado da legislação infraconstitucional. Nos termos do art. 1 o, parágrafo único, da Lei 1.060/50, "Considera-se 1ecessitado, para os fins legais, todo aquele cuja situação econômica não lhe )ermita pagar as custas do processo e os honorários de advogado, sem prejuízo lo sustento próprio ou da famílià'. • Indenização ao condenado Art. 5°, LXXV, da CF:"o Estado indenizará o condenado por erro judiciário, assim como o que ficar preso além do tempo fixado na sentença" Trata-se de garantia importante para assegurar que o Estado atue de nodo diligente no exercício da função jurisdicional e também na condução :la execução das penas. Como apontado pela doutrina, "a responsabilidade do Estado é objetiva, undando-se na teoria do risco integral. Logo, ocorrendo danos morais ou nateriais ao condenado, não se poderá invocar nenhuma causa de exclusão io dever estatal de indenizá-lo. Isso também vale para a prisão que excede o empo previsto na sentença".28 (grifo nosso) • Registro de nascimento e certidão de óbito Art. 5°, LXXVI, da CF: "são gratuitos para os reconhecidamente pobres, na forma da lei: a) o registro civil de nascimento; b) a certidão de óbito" ~8. BULOS, Uadi Lammêgo. Op. Cit., p. 394. 406 Parte 11• DIREITO CONSTITUCIONAL- Paulo Lépore 3. Nos comentários ao próximo inciso veremos que, nos termos do art. 1°, da Lei 9.256/96, o registro civil de nascimento e o assento de óbito são considerados atos necessários ao exercício da cidadania e, por isso, gratuitos a todos, e não apenas aos reconhecidamente pobres. Entretanto, as bancas dos concursos continuam exigindo o conhecimento apenas do texto seco da Constituição Federal, sem levar em consideração a Lei 9.256/96. • Gratuidade de atos necessários ao exercício da cidadania ··----·--··-···--·-·-···-·---··--·-·-·---·--- Art. 5°, LXXVII, da CF: "são gratuitas as ações de "habeas corpus" e "habeas data'; e, na forma da lei, os atos necessários ao exercício da cidadania". Os reflexos da gratuidade nas ações de habeas corpus e habeas data serão estudados no item 4 deste capítulo. Já a gratuidade dos atos necessários ao exercício da cidadania foi regu- lamentada pela Lei 9.265/96, que, em seu art. 1°, determina: "são gratuitos os atos necessários ao exercício da cidadania, assim considerados: I - os que capacitam o cidadão ao exercício da soberania popular, a que se reporta o art. 14 da Constituição; II - aqueles referentes ao alistamento militar; III - os pedidos de informações ao Poder Público, em todos os seus âmbitos, objeti- vando a instrução de defesa ou a denúncia de irregularidades administrativas na órbita pública; IV- as ações de impugnação de mandato eletivo por abuso do poder econômico, corrupção ou fraude; V - quaisquer requerimentos ou petições que visem as garantias individuais e a defesa do interesse público; VI - O registro civil de nascimento e o assento de óbito, bem como a primeira certidão respectiva". Razoável duração do processo Art. 5°, LXXVIII, da CF: "a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegu- rados a razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação': Trata-se de princípio inserido na Constituição pela EC 45/04, que ficou popularmente conhecida como Emenda de Reforma do Poder Judiciário. Capítulo 11• DIREITOS FUNDAMENTAIS E DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS 407 A inclusão do princípio da razoável duração do processo buscou atacar o grave problema da morosidade que afeta o Poder Judiciário brasileiro. 5. AÇÕES CONSTITUCIONAIS OU REMÉDIOS CONSTITUCIONAIS As ações constitucionais dispostas no art. so da CF também são conhe- cidas como remédios constitucionais29, porque servem para "curar a doença" do descumprimento de direitos fundamentais. Em outras palavras, são instrumentos colocados à disposição dos indiví- duos para garantir o cumprimento dos direitos fundamentais. Para fins didáticos, analisaremos cada ação em separado, mas na sequência em que são abordadas pela CF. 5.1. Habeas corpus ------------------------------------·----------- Art. 5°, LXVIII, da CF: "conceder-se-á habeas corpus sempre que alguém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder". [ ... ] Art. 5°, LXXVII, da CF: "são gratuitas as ações de habeas corpus e habeas data, e, na forma da lei, os atos necessários ao exercício da cidadania" 29. Alguns autores, como José Afonso da Silva, entendem h3ver distinção entre as ideias de remédios constitucionais e ações constitucionais. Os remédios seriacn meios postos à disposição dos indivíduos e cidadãos para provocar a intervenção das autoridades •:ompetentes, visando sanar, corrigir, ilegali- dade e abuso de poder em prejuízo de direitos e interesses individuais. Por sua vez, as ações seriam os remédios postos como meios de provocar a atividade jurisdicional. Nesse sentido, consideram que o direito de petição, insculpido no art. 5°, XXXIV, da CF, é urn ·ernédio constitucional, mas não faz parte das ações constitucionais. Entretanto, na prática, segundo 3 maioria da doutrina, e as bancas exami- nadoras, os remédios constitucionais designam as ações ons~itucionais, sendo expressões sinônimas, não englobando, portanto, o direito de petição. 408 Parte 11• DIREITO CONSTITUCIONAL- Paulo Lépore O habeas corpus é a ação constitucional que tutela o direito fundamental à liberdade ambulatorial, ou seja, o direito de ir, vir e estar em determinado local. De acordo com o texto constitucional, o habeas corpus pode ser preventivo ("sempre que alguém se achar ameaçado de sofrer .. :') ou repressivo ("sempre que alguém sofrer .. :'), em relação a violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder. Segundo o STF, o habeas corpus pode ser impetrado por nacional ou estrangeiro, residente ou não no pais. Para ilustrar, colacionamos o seguinte julgado: "O súdito estrangeiro, mesmo o não domiciliado no Brasil, tem plena legitimidade para impetrar o remédio constitucional do habeas corpus, em ordem a tornar efetivo, nas hipóteses de persecução penal, o direito subjetivo, de que também é titular, à observância e ao integral respeito, por parte do Estado, das prerrogativas que compõem e dão significado à cláusula do devido processo legal. A condição jurídica de não nacional do Brasil e a circunstância de o réu estrangeiro não possuir domicílio em nosso país não legitimam a adoção, contra tal acusado, de qualquer tratamento arbitrário ou discrimina- tório. (HC 94.016, julgado em 2009 e relatado pelo Ministro Celso de Mello) Por tutelar a liberdade ambulatorial, o habeas corpus não pode ser proposto em favor de pessoa jurídica. Nesse sentido, o STF: "Habeas corpus. Negativa de seguimento. ( ... ) Na concreta situação dos autos, a pessoa jurídica da qual o paciente é representante legal se acha processada por delitos ambientais. Pessoa Jurídica que somente poderá ser punida com multa e pena restritiva de direitos. Noutro falar: a liberdade de locomoção do agravante não está, nem mesmo indiretamente, ameaçada ou restringida': (HC 88.747-AgR, julgado em 2009 e relatado pelo Ministro Ayres Britto) Entretanto, a liberdade ambulatorial, por vezes, é vista de modo um pouco mais amplo pela jurisprudência. Veja o seguinte julgado: "O habeas corpus é medida idônea para impugnar decisão judicial que autoriza a quebra de sigilos fiscal e bancário em procedimento criminal, haja vista a possibili- dade destes resultarem em constrangimento à liberdade do investigado. Com base nesse entendimento, a Turma, resolvendo questão de ordem, deu provimento a agravo de instrumento interposto pelo Ministério Público Fe- deral para, convertendo-o em recurso extraordinário, negar-lhe provimento. Alegava-se, na espécie, ofensa ao art. 5°, LXVIII, da CF, ao fundamento de que a decisão que determinara a quebra de sigilos não ameaçaria o imediato direito de locomoção do paciente, consoante exigido constitucionalmente". (STF. AI 573623 QO/RJ, julgado em 2006 e relatado pelo Ministro Gilmar Mendes). Capítulo 11• DIREITOS FUNDAMENTAIS E DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS 409 Destacamos, ainda, que a restrição à liberdade de locomoção que enseja > habeas corpus pode emanar de ato ilegal ou abusivo praticado pelo Poder Júblico ou por um particular. Assim é a lição da doutrina, que traz hipó- eses em que cabe habeas corpus contra ato de particular: "contra o médico lUe ilegalmente promove a retenção de paciente no hospital ou contra o 'azendeiro que não libera o colono da fazenda': (CUNHA, Rogério Sanches; ~ORENZATO, Gustavo Müller; FERRAZ, Maurício Lins e PINTO, Ronaldo 3atista. Processo penal prático. 2. ed. Salvador: Juspodivm, 2007, p. 180) Por fim, lembramos que a ação de habe'JJJ,orpus é gratuit~. ~ _., -.1 ~ \'UML~ 14 b,{&L) .4. ).2. Mandado de segurança individual E- ~~.JL" ~--t<J · ( ~ .&L Art. 5°, LXIX- conceder-se-á mandado de segurança para proteger direito líquido e certo, não amparado por habeas corpus ou habeas data, quando o responsável pela ilegalidade ou abuso de poder for autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do Poder Público -----····-----·------· O mandado de segurança individual é a ação constitucional impetrada Jor pessoa física ou jurídica, ou ente despersonalizado30, que busca a tutela de lireito líquido e certo, não amparado por habeas corpus ou habeas data, 1uando o responsável pela ilegalidade ou abuso de poder for autoridade pública m agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do Poder Público. Veja, portanto, que o mandado de segurança tem cabimento subsidiário. Ele somente será admitido se não couber habeas corpus ou habeas data para 1 defesa do direito líquido e certo. 31 Entende-se por direito líquido e certo aquele que pode ser demonstrado ie plano por meio de prova pré-constituída, isto é, sem que haja necessidade ie dilação probatória. Na dicção de conceituada doutrina de Hely Lopes Mei- :elles, é o direito "manifesto na sua existência, delimitado na sua extensão ! apto a ser exercitado no momento da impetração':32 Vale ainda destacar que não cabe mandado de segurança contra ato de rarticular, salvo na hipótese de o sujeito praticar ilegalidade ou abuso de Joder como agente de pessoa jurídica no exercício de atribuiç~es do Poder l J:.u (0 bS ~ "q.ua'Nit-r -'YlUyadcv f>L''t .LL/fY'<?"--' <1ú..fú..?Jtuio ~ca.... ..LUrrC Cti{.U J \{Sll lO. Órgãos pú~~tos (Mesas das Casas Legislativas, por exemplo) ou Universalidades (espólio, condomínio ou massa falida, por exemplo). !1. Para mais detalhes, veja o item 5.5 deste capítulo. !2. MEIRELLES, Hely Lopes. Mandado de segurança. 22. ed. São Paulo: Malheiros, 2000. p. 21-22. 410 Parte 11• DIREITO CONSTITUCIONAL- Paulo Lépore Público. A Súmula 510 do STF ainda esclarece: "Praticado o ato por autori- dade, no exercício de competência delegada, contra ela cabe o mandado de segurança ou a medida judicial". Por ser o mandado de segurança um dos remédios mais utilizados e também porque tem cabimento subsidiário, além da Súmula 51 O, outros enunciados também foram editados pelo STF para discipliná-lo. Destacamos as mais importantes súmulas para as provas do CESPE: Súmula 101 do STF: "O mandado de segurança não substitui a ação popular': Súmula 266 do STF: "Não cabe mandado de segurança contra lei em tese". Súmula 268 do STF: "Não cabe mandado de segurança contra decisão judicial com trânsito em julgado". Súmula 512 do STF: "Não cabe condenação em honorários de ad- vogado na ação de mandado de segurança': Súmula 267 do STF: "Não cabe mandado de segurança contra ato judicial passível de recurso ou correição". Em que pese o teor da súmula 267, é certo que o próprio STF, abrandando a rigidez da re- ferida Súmula, tem admitido o mandado de segurança quando, do ato judicial impugnado, puder resultar dano irreparável, desde logo cabalmente demonstrado. Tal posicionamento restou assentado no MS 22.623-AgR, julgado em 1996 e relatado pelo Ministro Sydney Sanches. Súmula 624 do STF: "Não compete ao Supremo Tribunal Federal conhecer originariamente de mandado de segurança contra atos de outros Tribunais': Súmula 625 do STF: "Controvérsia sobre matéria de direito não impede concessão de mandado de segurança': Súmula 430 do STF: "Pedido de reconsideração na via administrativa não interrompe o prazo para o mandado de segurança". Ademais, atualmente o mandado de segurança é disciplinado também pela Lei 12.016/09. Capítulo 11 • DIREITOS FUNDAMENTAIS E DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVO~-'~~ J,~ rk dcw-,e_J..~ ~ d;.~ d,L ~.J~~ -r>{ .i,~ ms 5.3. Mandado de segurança coletivo lO/YU!l'.> cL. ~ ~ J M'>~'GC::Q..Ldh Art. 5°, LXX, da CF: o mandado de segurança coletivo pode ser impetrado por: a) partido político com representação no Congresso Nacional; b) organização sindical, entidade de classe ou associação legalmente constituída e em funcionamento há pelo menos um ano, em defesa dos interesses de seus membros ou associados. ----------- O mandado de segurança coletivo é a ação constitucional impetrada por partido político com representação no Congresso Nacional, organização sindical, entidade de classe ou associação legalmente constituída e em funcionamento há pelo menos um ano (em defesa dos interesses de seus membros ou associados), que busca a tutela de direito líquido e certo, não amparado por habeas corpus ou habeas data, quando o responsável pela ilegalidade ou abuso de poder for autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do Poder Público. Perceba, pois, que sob o ponto de vista do texto constitucional, a única diferença do mandado de segurança individual para o coletivo é que nesse último há um rol taxativo de legitimados. Entende-se que a legitimação do partido político com representação no Congresso Nacional fica satisfeita se o partido político tiver ao menos um representante no Congresso Nacional, ou seja, pelo menos um Senador ou Deputado Federal eleito e exercendo mandato. Já a legitimação da associação somente fica satisfeita se ela estiver legal- mente constituída e em funcionamento há pelo menos um ano, em defesa dos interesses de seus membros ou associados. Segundo o STF, o requisito temporal de funcionamento há pelo menos um ano só se aplica para as associações, não valendo para as organizações e entidades de classe.33 Complementando a disciplina essencial sobre a matéria, apontamos as seguintes Súmulas do STF: Súmula 629 do STF: ''A impetração de mandado de segurança coletivo por entidade de classe em favor dos associados independe da autori- zação destes". 33 STF. Informativo 163. RE N. 198.919-DF. RELATOR : MIN. ILMAR GALVAO. EMENTA: LEGITIMIDADE DO SINDICATO PARA A IMPETRAÇAO DE MANDADO DE SEGURANÇA COLETIVO INDEPENDENTEMENTE DA COMPROVAÇAO DE UM ANO DE CONSTITUIÇAO E FUNCIONAMENTO. Acórdão que, interpretando desse modo a norma do art. 5°, LXX, da CF, não merece censura. Recurso não conhecido. I 412 Parte 11• DIREITO CONSTITUCIONAL- Paulo Lépore Súmula 630 do STF: ".A entidade de classe tem legitimação para o mandado de segurança ainda quando a pretensão veiculada interesse apenas a uma parte da respectiva categoria". Por fim, vale destacar que, conforme entendimento do STF, os partidos políticos não têm legitimidade ativa ad causam para impetrar mandado de segurança coletivo em defesa de terceiros, com vistas a impugnar direito individual disponível, como a incidência de imposto. Tal posicionamento restou evidenciado em 2004, no julgamento do RE 196.184, relatado pela Ministra Ellen Grade: "Uma exigência tributária configura interesse de grupo ou classe de pessoas, só podendo ser impugnada por eles próprios, de forma individual ou coletiva. Precedente: RE 213.631, rei. min. Ilmar Galvão, DJ de 7-4-2000. O partido político não está, pois, autorizado a valer-se do man- dado de segurança coletivo para, substituindo todos os cidadãos na defesa de interesses individuais, impugnar majoração de tributo': 5.4. Mandado de injunção Art. 5°, LXXt da CF: "conceder-se-á mandado de injunção sempre que a falta de norma regulamentadora torne inviável o exercício dos direitos e liberdades constitucionais e das prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania e à cidadania" O mandado de injunção é a ação constitucional impetrada por pessoa física ou jurídica, ou ente despersonalizado,3'1 que objetive sanar a falta de norma regulamentadora que torne inviável o exercício dos direitos e liberdades constitucionais e das prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania e à cidadania. Basicamente, pode-se dizer que o mandado de injunção é ajuizado em face das normas de eficácia limitada, que são aquelas que possuem aplicabi- lidade indireta, mediata e reduzida (não direta, não imediata e não integral), pois exigem norma infraconstitucional para que se materializem na prática.35 O exemplo clássico quanto ao cabimento do mandado de injunção é em relação à norma do art. 37, VII, da CF, que traz o direito de greve dos 34. Não há julgados que limitem a legitimidade para ajuizamento do mandado de injunção. Sendo assim, adota-se o posicionamento da legitimação mais ampla possível, a exemplo do mandado de segurança individuaL 35. Remetemos o amigo leitor ao item 7 do capítulo 1, deste livro, ponto em que explicamos com mais detalhes a classificação das normas constitucionais. Capítulo 11• DIREITOS FUNDAMENTAIS E DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS 413 servidores públicos. Esse dispositivo constitucional é uma norma de eficácia limitada, portanto, para que o direito de greve dos servidores públicos seja exercido, faz-se necessária a edição de norma infraconstitucional, que, até hoje, não existe. O grande problema é que a edição de norma regulamentadora depende do Poder Legislativo e, em razão do princípio fundamental da separação dos Poderes (art. 2°, da CF), o Poder Judiciário, ao julgar mandado de injunção, não pode obrigar o Poder Legislativo a suprir a omissão. Nesse sentido, por muito tempo, o mandado de injunção padeceu de absoluta ineficiência prática. Entretanto, recentemente o STF resolveu atuar de forma mais efetiva, conferindo efeito concreto ao mandado de injunção. No caso do mandado de injunção ajuizado para sanar a omissão relativa ao direito de greve do servidor público, o STF determinou que, enquanto não for criada a lei pertinente, deverá ser aplicada a lei de greve da iniciativa privada no que for cabível aos servidores públicos. Assim, diz-se que o STF adotou a tese/teoria concretista geral sobre as omissões constitucionais, pois determinou a concretização do direito com eficácia para todos (erga omnes) mesmo sem a edição da lei infraconstitu- cional regulamentadora. Dada a importância do tema, destacamos o julgamento do STF em que esse posicionamento restou consolidado: "Mandado de injunção. Garantia fundamental (CF, art. 5°, LXXI). Direito de greve dos servidores públicos civis (CF, art. 37, VII). Evolução do tema na jurisprudência do STF. [ ... ] Mandado de injunção deferido para determinar a aplicação das Leis 7.701/1988 e 7.783/1989. Sinais de evolução da garantia fundamental do mandado de injunção na jurisprudência do STF. No julgamento do MI 107/DF, Rel. Min. Moreira Alves, DJ de 21-9-1990, o Plenário do STF consolidou entendimento que conferiu ao mandado de injunção os seguintes elementos operacionais: i) os direitos constitucionalmente garantidos por meio de mandado de injunção apresentam-se como direitos à expedição de um ato normativo, os quais, via de regra, não poderiam ser diretamente satisfeitos por meio de provimento juris- dicional do STF; ii) a decisão judicial que declara a existência de uma omissão inconstitucional constata, igualmente, a mora do órgão ou poder legiferante, insta-o a editar a norma requerida; iii) a omissão inconstitucional tanto pode referir-se a uma omissão total do legislador quanto a uma omissão parcial; iv) a decisão proferida em sede do controle abstrato de normas acerca da existência, ou não, de omissão é dotada de eficácia erga orrmes, e não apresenta diferença significativa em relação a atos decisórios proferidos no contexto de mandado 414 Parte 11• DIREITO CONSTITUCIONAL- Paulo Lépore de injunção; iv) o STF possui competência constitucional para, na ação de mandado de injunção, determinar a suspensão de processos administrativos ou judiciais, com o intuito de assegurar ao interessado a possibilidade de ser contemplado por norma mais benéfica, ou que lhe assegure o direito consti- tucional invocado; v) por fim, esse plexo de poderes institucionais legitima que o STF determine a edição de outras medidas que garantam a posição do impetrante até a oportuna expedição de normas pelo legislador. Apesar dos avanços proporcionados por essa construção jurisprudencial inicial, o STF flexibilizou a interpretação constitucional primeiramente fixada para conferir uma compreensão mais abrangente à garantia fundamental do mandado de injunção. A partir de uma série de precedentes, o Tribunal passou a admitir soluções 'normativas' para a decisão judicial como alternativa legítima de tornar a proteção judicial efetiva (CF, art. 5°, XXXV). Precedentes: MI 283, Rei. Min. Sepúlveda Pertence, D] de 14-11-1991; MI 232/RJ, Rei. Min. Moreira Alves, DJ de 27-3-1992; MI 284, Rei. Min. Marco Aurélio, Rei. p/ o ac. Min. Celso de Mello, DJ de 26-6-1992; MI 543/DF, Rei. Min. Octavio Gallotti, DJ de 24-5-2002; MI 679/DF, Rei. Min. Celso de Mello, DJ de 17-12-2002; e MI 562/DF, Rei. Min. Ellen Grade, DJ de 20-6-2003. ( ... ) Mandado de injunção conhecido e, no mérito, deferido para, nos termos acima especificados, de- terminar a aplicação das Leis 7.701/1988 e 7.783/1989 aos conflitos e às ações judiciais que envolvam a interpretação do direito de greve dos servidores públicos civis. (MI 708, Rei. Min. Gilmar Mendes, julgamento em 25-10-2007, Plenário, DJE de 31 10-2008). No mesmo sentido: MI 670, Rei. p/ o ac. Min. Gilmar Mendes, e MI 712, Rel. Min. Eros Grau, julgamento em 25-10-2007, Plenário, D]E de 31-10-2008". No que tange ao rito, o entendimento atual do STF é de que não é cabível liminar em mandado de injunção (vide MI 680, julgado em 2008 e relatado pela Ministra Ellen Gracie). Ainda não existe norma infraconstitucional regulamentando o mandado de injunção. Entretanto, consoante art. 24, parágrafo único, da Lei 8.038/90, no mandado de injunção, serão observadas, no que couberem, as normas do mandado de segurança (atualmente a Lei 12.016/09), enquanto não editada legislação específica. Destaca-se, ainda, que apesar de não haver previsão constitucional, o STF admite o mandado de injunção coletivo (conforme MI 102, julgado em 1998 e relatado para acórdão pelo Ministro Carlos Velloso ), hipótese em que os legitimados para impetração seriam os mesmo do mandado de [ segurança coletivo (art. 5°, LXX, da CF). Capítulo 11• DIREITOS FUNDAMENTAIS E DIREITOS E DEVERES INDlVIDUAIS E COLETIVOS 415 5.5. Habeas data ------------------ ---- Art. 5°, LXXII, da CF:"conceder-se-á habeas data: a) para assegurar o conhecimento de informações relativas à pessoa do impetrante, constantes de registros ou bancos de dados de entidades governamentais ou de caráter público; b) para a retificação de dados, quando não se prefira fazê-lo por processo sigiloso, judicial ou administrativo': -------------------------------------------------- [ ... ] -------------------------- Art. 5°, LXXVII, da CF:"são gratuitas as ações de"habeas-corpus" e"habeas-data'; e, na forma da lei, os atos necessários ao exercício da cidadania". O habeas data é a ação constitucional impetrada por pessoa física ou jurí- dica, que tenha por objetivo assegurar o conhecimento de informações sobre si, constantes de registros ou bancos de dados de entidades governamentais ou de caráter público, ou para a retificação de dados, quando não se prefira fazê-lo por processo sigiloso, judicial ou administrativo. Esse remédio constitucional está regulamentado pela Lei 9.507/97, que disciplina o direito de acesso a informações e o rito processual do habeas data. As duas principais características do habeas data são: a) objetiva assegurar o conhecimento de informações sobre a pessoa do impetrante36, ou retificar dados; b) as informações devem estar armazenadas em registros ou bancos de dados governamentais ou de caráter público37 • 36. Portanto, a ação é personalíssima, não sendo admitida para a tutela de direito de terceiros. Assim entende o STF: "O habeas data não se presta para solicitar informações relativas a terceiros, pois, nos termos do inciso LXXII do art. 5° da CF, sua impetração deve ter por Jbjetivo'asseguraro conhecimento de informações relativas à pessoa do impetrante'~ (HD 87-AgR, julgado em 2009 e relatado pela Ministra Cármen Lúcia). 37. Nos termos do art. 1°, parágrafo único, da Lei 9.507/97: "Considera-se de caráter público todo registro ou banco de dados contendo informações que sejam ov que possam ser transmitidas a terceiros ou 416 Parte 11 • DIREITO CONSTITUCIONAL- Paula Lépare ... MANDADO DE SEGURANÇA ... HABEAS DATA 1. Conhecimento de informações de inte- resse pessoal do impetrante 1. Conhecimento de informações relativas/ referentes à pessoa do impetrante ------l 2. Obtenção de certidão que contenha informações de interesse pessoal do 1---i m_.:._petra nte 2. Obtenção de informações constantes em registros ou bancos de dados (não em certidões)* O habeas data também não se presta para obtenção de vista em processo administrativo, con- soante posicionamento do STF:"A ação de habeas data visa à proteção da privacidade do indivíduo contra abuso no registro e/ou revelação de dados pessoais falsos ou equivocados. O habeas data não se revela meio idôneo para se obter vista de processo administ·ativo". (HD 90-AgR, julgado em 2010 e relatado pela Ministra Ellen Grade). Ainda sobre o cabimento do habeas data, merece lembrança a Súmula 2 do STJ: "Não cabe o habeas data (CF, art. 5°, LXXII, letra a) se não houve recusa de informações por parte da autoridade administrativa': Desta feita, para que o habeas data seja processado, deve haver a comprova- ção do pedido e da recusa/negativa quanto ao conhecimento das informações pela via administrativa. Por fim, a exemplo do habeas corpus, lembramos que a ação de habeas data é gratuita. :;f. ,0, ClfiiK.Lo..uiD ~ ~ L~~ ~ tiJti '(JG't.Ú ~ .fiJ>Uc. 5.6. Ação popular ~~ ~ ~a±.fÃt(a~~Je- ~ ca{>C<t.-t' Art. 5°, LXXIII, da CF:"qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que vise a anular ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao pa- trimônio histórico e cultural, ficando o autor, salvo comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do ônus da sucumbência" A ação popular é o remédio constitucional ajuizado por qualquer cidadão, que tenha por objetivo anular ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e \Ob~~o 0- JWin ~~a_~~~~ JL~~ ---'et~ ~ fÚ~ . ..t~cutua[, ~'r -11u1m~. que não sejam de uso privativo de órgão ou entidade produtora ou depositária das informações~ Capítulo 11• DIREITOS FUNDAMENTAIS E DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS 417 ao patrimônio histórico e cultural, ficando o autor, salvo comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do ônus da sucumbência. Como o requisito para a propositura é ser cidadão, e formalmente isso significa ter título de eleitor, aquele que, a partir dos 16 anos, estiver munido desse documento, poderá ajuizar ação popular. Nesse sentido, é tranquila a compreensão da Súmula 365 do STF: "Pessoa jurídica não tem legitimidade para propor ação popular': Importante, ainda, destacarmos a Súmula 101 do STF: "O mandado de segurança não substitui a ação popular". Ou seja, se o objetivo for a anulação de ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural, deve ser ajuizada ação popular, não sendo admissível mera opção pelo mandado de segurança. Vale anotar que, nos casos de ação popular movida contra o Presidente da República, a competência originária para o seu julgamento não é do Supremo Tribunal Federal, pois não há previsão no art. 102 da CF, que conta com rol taxativo (regime de direito estrito). Nesse sentido, a jurisprudência do STF: "A competência para julgar ação popular contra ato de qualquer autoridade, até mesmo do Presidente da República, é, Vlia de regra, do juízo competente de primeiro grau. Precedentes. Julgado o feito na primeira instância, se ficar configurado o impedimento de mais da metade dos Desembargadores para apreciar o recurso voluntário ou a remessa obrigatória, ocorrerá a competência do STF, com base na letra n do inciso I, segunda parte, do art. 102 da CF". (AO 859-QO, julgado em 2001 e relatado pelo Ministro Maurício Corrêa). Por fim, registramos que a ação popular está regulamentada infraconsti- tucionalmente pela Lei 4.717/65. 1. CONCEITO Capítulo 111 DIREITOS SOCIAIS Como visto no segundo capítulo, os direitos sociais são parte dos direitos e garantias fundamentais. Eles são classificados como direitos de segunda geração ou dimensão, pois têm como finalidade garantir o valor da igualdade. Em regra, os direitos sociais são efetivados por meio de políticas públicas capitaneadas pelo Estado, mas também podem se materializar como direitos subjetivos que impõem condutas nas relações exclusivamente particulares. Assim, por exemplo, ao garantir a saúde pelo Sistema Único de Saúde (SUS), o Estado está implementando direitos sociais ao passo que, ao conceder férias a um empregado, o empregador está respeitando um direito subjetivo previsto na Constituição. 2. DIREITOS SOCIAIS DO ART. 6° DA CF Nos termos do art. 6" da CF, são direitos sociais: a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à inn'mcia, a assistência aos desamparados, na forma dessa Constituição. Vale notar que esse artigo já foi objeto de três emendas constitucionais (EC 26/2000, EC 64/2010 e EC 90/2015). A primeira emenda incluiu a moradia, a segunda inseriu a alimentação e a terceira adicionou o transporte. 420 Parte 11• DIREITO CONSTITUCIONAL- Paulo Lépore 3. DIREITOS TRABALHISTAS Os direitos trabalhistas estão arrolados fundamentalmente nos artigos 7° a 11 da CF. A maioria dos cursos e manuais de direito constitucional restringe-se a reproduzir esses dispositivos, sem explicá-los. A justificativa é sempre a mesma: são temas mais bem explorados nos livros de direito do trabalho. Essa escusa é plausível, mas não reflete de modo fiel os concursos orga- nizados pelo CESPE. Além de detalhes sobre os direitos arrolados nos artigos 7° a 11, da CF, as provas do Cespe vêm pedindo algumas classificações relativas aos direitos sociais trabalhistas, notadamente as criadas por Alexandre de Moraes. Nesse sentido, abordaremos os dispositivos constitucionais seguindo as lições desse autor. 3.1. Direitos dos trabalhadores urbanos e rurais O caput do art. 7° da CF abre espaço para a enunciação de vários direitos aos trabalhadores urbanos e rurais. Os direitos arrolados neste artigo têm por objetivo alcançar a melhoria da condição social dos trabalhadores urbanos e rurais e, por isso, são exem- plificativos, admitindo ampliação por meio de normas constitucionais ou atos infraconstitucionais. 3.1.1. Direito à segurança no emprego Segundo Alexandre de Moraes, "consagra a Constituição Federal o direito à segurança no emprego, que compreende a proteção da relação de emprego contra despedida arbitrária ou sem justa causa, nos termos de lei complementar, que preverá indenização compensatória, entre outros direitos, impedindo-se, dessa forma, a dispensa injustificada, sem motivo socialmente relevante". Destacamos que esse é o direito contido no art. 7<, I, da CF. Capítulo 111• DIREITOS SOCIAIS 421 3. 7 .2. Seguro-desemprego Nos termos do art. 7°, II, da CF, é direito do trabalhador urbano e rural <' ",,,\'J 6 s::~~~1esemprego apenas é devido se o desempre~~,~~~";~~~~J~~~rló! 3.1.3. Fundo de garantia Consoante art. 7°, III, da CF, deve ser garantido ao trabalhador urbano e rural o fundo de garantia por tempo de serviço. O FGTS é um direito e ao mesmo tempo um dever: é um dever do em- pregador e um direito do empregado, funcionando como uma verdadeira poupança forçada. Na lição de Uadi Lammêgo Bulos: O FGTS funciona como pecúlio acumulado, uma espécie de reserva do trabalhador ou poupança particular, com o fito de suprir despesas excepcio- nais não acobertadas pelo salário, v.g., casos de doenças graves, aquisição de casa própria etc. É, em si mesmo, uma massa de recursos, sem lograr personalidade própria.' 3.1.4. Direitos relativos ao salário O art. 7°, IV, da CF, garante ao trabalhador o salário-mínimo, fixado em lei, nacionalmente unificado, capaz de atender a suas necessidades vitais básicas e às de sua família com moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência social, com reajustes periódicos que lhe preservem o poder aquisitivo, sendo vedada sua vinculação para qualquer fim. 2 1. BULOS, Uadi Lammêgo. Op. Cit., 432. 2. Súmula Vinculante 6: "Não viola a Constituição o estabelecimento de remuneração inferior ao salário mínimo para as praças prestadoras de serviço militar inicial': 422 Parte 11• DIREITO CONSTITUCIONAL- Paulo L é pore Também fica garantido ao trabalhador o piso salarial proporcional à extensão e à complexidade do trabalho (art. 7°, V, da CF). Sobre o tema, vale destacar o seguinte julgado do STF: Consubstanciam institutos diversos o piso salarial e o salário-mínimo- in- cisos IV e V do artigo 7° da Carta Federal. Ao primeiro exame, conflito com os textos constitucionais lei estadual que, a pretexto de fixar piso salarial no respectivo âmbito geográfico, acaba instituindo, por não levar em conta as peculiaridades do trabalho - extensão e complexidade -, verdadeiro salário mínimo estadual (STF, MC-ADI 2385, julgada em 2004 e relatada pelo Ministro Marco Aurélio). Outro direito de suma importância é a irredutibilidade do salário, salvo o disposto em convenção ou acordo coletivo (art. 7°, VI, da CF). ~~>Âf~~Ç.i(ói"• Ess~ ~:Iispbs,itll(c) é rnl.rito explorado nas proyas. Atenta~se;para ofÇ~to de qu~ o sàlatio pode ser réduzido por convenção ou acordo coletivo. Ademais, nos termos do art. 7", VII, da CF, há a garantia de salário, nunca inferior ao mínimo, para os que percebem remuneração variável. Como ensina Uadi Lammêgo Bulos, "o mínimo na remuneração variável é próprio daqueles trabalhadores que recebem comissões, gorjetas, percen- tagens, prêmios ou tarefas'>' Outra grande conquista dos trabalhadores é o décimo terceiro salário, com base na remuneração integral ou no valor da aposentadoria, consoante art. 7°, VIII, da CF. Segundo Maurício Godinho Delgado: O 13° salário consiste na parcela contraprestativa paga pelo empregador ao empregado, em caráter de gratificação legal, no importe da remunera- ção devida em dezembro de coda ano ou no último mês contratual, caso rompido antecipadamente a dezembro o pacto! Retribuindo o trabalhador que labora em condições incomuns, o art. 7°, IX, da CF prevê que a remuneração do trabalho noturno será superior à do diurno. 3. BULOS, Uadi Lammêgo. Op. Cít., 432. 4. DELGADO, Maurício Godinho. Curso de direito do trabalho. 11. ed. São Paulo: LTR, 2012, p. 765. Capítulo 111• DIREITOS SOCIAIS 423 De acordo com os ensinamentos de Henriqt:e Correia, deve-se diferenciar o trabalhador urbano do rural. Isso porque, embora ambos tenham adicional noturno, os percentuais serão diferentes: a) Empregado urbano: jornada noturna inicia-se às 22h e termina às Sh. Adicional de, no mínimo, 20% sobre a hora diurna. Ademais, a hora noturna será reduzida, ou seja, terá 52 minutos e 30 segundos. b) Empregado rural: jornada noturna inicia-se às 20h e termina às 4h na pecuária. Na lavoura, será das 2lh até as Sh. Adicional noturno é de, no mínimo, 25% superior à hora diurna. Por fim, a hora noturna não é reduzida, ou seja, possui 60 minutos.5 Visando impedir abusos por parte dos empregados, a CF, por meio do art. 7°, X, traz a proteção do salário na forma da lei, constituindo crime sua retenção dolosa. Com o objetivo de envolver o empregado com o trabalho que desempe- nha, o art. 7°, XI, da CF garante a participação nos lucros ou resultados, desvinculada da remuneração, e, excepcionalmente, participação na gestão da empre;5a, conforme definido em lei. A partir de redação dada pela EC 20/98, o art. 7", XII, da CF, garante o salário-família pago em razão do dependente do trabalhador de baixa renda nos termos da lei. Maurício Godinho Delgado ensina que o salário-família é: [ ... ]de origem (e natureza) previdencióría. [ .. .]Constituí-se de parcelas mo- netórias devidas pela Previdência Oficial ao traba.'hador de baixa renda (a restrição à renda sedimentou-se com a EC 20/SB), em função do número de seus dependentes, sejam pessoas inválidas, sejam menores de 74 anos. Tais parcelas são repassadas ao empregado pelo empregador, que se ressarce do custo correspondente através da compensação de valores no mentante de recolhimentos previdenciários sob encargo da empresa. (grifo nosso) S. CORREIA, Henrique. Direito do trabalho. 4. ed. Salvador: Juspodivm, 2013, p. 349. 424 Parte 11• DIREITO CONSTITUCIONAL- Pauio Lépore 3.1.5. Duração do trabalho, remuneração do serviço extraordinário e férias Nos termos do art. 7°, XIII, da CF, os trabalhadores urbano e rural têm direito a duração do trabalho normal não superior a 8 horas diárias e 44 semanais, facultada a compensação de horários e a redução da jornada, me- diante acordo ou convenção coletiva de trabalho. Entretanto, no caso de trabalho realizado em turnos ininterruptos de revezamento, a jornada será de 6 horas, salvo negociação coletiva (art. 7°, XIV, da CF). Ao trabalhador será devida remuneração do serviço extraordinário, superior, no mínimo, em 50% à do normal (art. 7°, XVI, da CF). Para o descanso, os trabalhadores urbano e rural têm direito a repouso semanal remunerado, preferencialmente aos domingos (art. 7°, XV, da CF) e ao gozo de férias anuais remuneradas com, pelo menos, um terço a mais do que o salário normal. 3.1.6. Licenças A proteção à maternidade e à infância são direitos sociais (art. 6° da CF) e, nesse sentido, acabam refletindo em algumas normas de proteção ao trabalhador. Segundo o art. 7°, XVIII, da CF, é devida a licença à gestante, sem prejuízo do emprego e do salário, com a duração de 120 dias. A CF também garante a licença-paternidade, nos termos fixados em lei. consoante art. 7°, XIX. A lei específica ainda não foi criada, de modo que ainda vale a regra do art. 1 O do ADCT: Até que seja promulgada a lei complementar a que se refere o art. 7°, I, da Constituição: ( ... ) § 7 o- Até que a lei venha a disciplinar o disposto no art. Jo, XIX, da Constituição, o prazo da licença-paternidade a que se refere o inciso é de cinco dias. Capítulo 111• DIREITOS SOCIAIS 425 3.7.7. Proteção à mulher De acordo com o art. 7°, XX, da CF, é garantida a proteção do mercado de trabalho da mulher, mediante incentivos específicos, nos termos da lei. A Lei 9.799/99 inseriu, na Consolidação das Leis do Trabalho, regras sobre o acesso da mulher ao mercado de trabalho e deu outras providências. Vale destacar alguns trechos do art. 373-A da CLT: Ressalvadas as disposições legais destinadas a corrigir as distorções que afetam o acesso da mulher ao mercado de trabalho e certas especificidades estabelecidas nos acordos trabalhistas, é vedado:[ ... ] IV- exigir atestado ou exame, de qualquer natureza, para comprovação de esterilidade ou gravidez, na admissão ou permanência no emprego;[ ... ] VI- proceder o empregador ou preposto a revistas íntimas nas empregadas ou funcionárias. Parágrafo único. O disposto neste artigo não obsta a adoção de medidas temporárias que visem ao estabelecimento das políticas de igualdade entre homens e mulheres, em particular as que se destinam a corrigir as distorções que afetam a formação profissional, o acesso ao emprego e as condições gerais de trabalho da mulher. 3. 7 .8. Aviso-prévio Consoante art. 7°, XXI, da CF, é direito dos trabalhadores urbano e rural o aviso-prévio proporcional ao tempo de serviço, sendo no mínimo de trinta dias, nos termos da lei. Por meio do aviso-prévio garante-se que tanto o empregado quanto o empregador tenham tempo para se organizarem e não sofrerem consequências tão severas com o término do contrato de trabalho. Henrique Correia leciona: O aviso-prévio tem como finalidade indicar a data do término do contrato de trabalho. O período do aviso possibilita ao trabalhador procurar outro emprego, e, ainda, ao empregador buscar um substituto para o cargo vago. Dessa forma, torna-se possível que uma parte não seja surpreendida com a ruptura do contrato por ato unilateral da outra. Afasta-se, portanto, o evento surpresa.6 6. CORREIA, Henrique. Op. Cit., p. 463. 426 Parte 11• DIREITO CONSTITUCIONAL- Paula Lépore 3.7.9. Riscos e adicionais O mote da Constituição Federal é proteger o trabalhador. Nesse sentido, o art. 7°, XXII, do texto constitucional garante aos trabalhadores urbano e rural a redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de saúde, higiene e segurança. Independentemente da redução dos riscos, será devido adicional de re- muneração para as atividades penosas, insalubres ou perigosas, na forma da lei (art. 7°, XXIII, da CF). Nos termos do art. 193, § 1°, da CLT, o trabalho em condições de pericu- losidade assegura ao empregado um adicional de 30% sobre o salário sem os acréscimos resultantes de gratificações, prêmios ou participações nos lucros da empresa. Sobre o adicional de insalubridade, vale destacar a lição de Henrique Correia: O adicional de insalubridade era calculado com base no salário-mínimo, variando de acordo com a agressivídade do agente nocivo. [ ... ]Ocorre, en- tretanto, que o Supremo Tribunal Federal - STF -, em recente julgamento (30 de abril de 2008), proibiu que o salário-mínimo sirva de base de cálculo (indexador) do adicional de insalubridade. Após essa decisão, o art. 192 da CLT não mais pode ser utilizado.[. . .] De acordo com a Súmula Vinculante 4: Salvo nos casos previstos na Constituição, o salário-mfnimo não pode ser usado como indexador de base de cálculo de vantagem de servidor público ou de empregado, nem ser substituído por decisão judicial. 7 (grifo nosso) 7. .CORREIA, Henrique. Op. Cit., p. 354. Capítulo 111• DIREITOS SOCIAIS 427 3.1. 1 O. Aposentadoria Os trabalhadores urbano e rural terão direito à aposentadoria (art. 7°, XXIV, da CF), o que representa respeito às condições que limitam a conti- nuidade do trabalho (notadamente a idade avançada). A aposentadoria está detalhada no art. 201 da CF. 3. 1.11. Assistência aos filhos O art. 7°, XXV, da CF, garante assistência gratuita aos filhos e dependentes dos trabalhadores urbanos e rurais desde o nascimento até 5 (cinco) anos de idade em creches e pré-escolas. Referido dispositivo tem redação muito semelhante ao art. 208, IV, da CF, e o motivo é claro: ambos tiveram redações dadas pela EC 53/06. 3. 1. 7 2. Convenções e acordos coletivos O texto constitucional, em seu art. 7°, XXVI, reconhece ainda dois impor- tantes instrumentos de direito coletivo do trabalho: as convenções coletivas de trabalho (CCT) e os acordos coletivos de trabalho (ACT). Para compreensão e distinção dos institutos, nos valemos das lições ce Maurício Godinho Delgado: A CCT tem em seus paios subjetivos, necessariamente, entidades sindicais, representativas de empregados e empregadores, respectivamente. É pacto subscrito por sindicatos representativos de certa categoria profissional e sindicatos representativos da correspondente categoria econômica. O ACT, ao revés, tem em um de seus polos subjetivos empregadores não necessariamente representados pelo respectivo sindicato. As empresas, individualmente ou em grupo, podem subscrever, sozinhas, acordos coletivos com o correspondente sindicato representativo de seus empregados. A presença sindical somente é obrigatória quanto ao sindicato representativo dos trabalhadores vinculados à(s) empresa(s) que assina(m) o acordo coletivo de traba/ho.8 3. 7. 13. Proteção em face da automação O art. 7°, XXVII, da CF garante aos trabalhadores urbano e rural proteção em face da automação, na forma da lei. 8. DELGADO, Maurício Godinho. Op. Cit., p. 1.396. 428 Parte ll• DIREITO CONSTITUCIONAL- Paulo Lépore Trata-se de nítida preocupação do constituinte com o avanço das novas tecnologias, que paulatinamente tendem a eliminar vários postos de trabalho, notadamente nas atividades desenvolvidas em meio rural (ex.: mecanização no corte da cana-de-açúcar). 3.7. 7 4. Seguro contra acidentes de trabalho O constituinte também trouxe, no art. 7°, XXVIII, da CF, a garantia do seguro contra acidentes de trabalho, a cargo do empregador, sem excluir a indenização a que este está obrigado, quando incorrer em dolo ou culpa. 3.7. 75. Reclamação trabalhista De acordo com o art. 7°, XXIX, da CF, os trabalhadores urbano e rural têm direito a ação, quanto aos créditos resultantes das relações de trabalho, com prazo prescricional de cinco anos para os trabalhadores urbanos e rurais, até o limite de dois anos após a extinção do contrato de trabalho. Vê-se, pois, que há dois prazos para o ajuizamento da ação/reclamação trabalhista: a) Prazo prescricional para ingresso com a ação/reclamação: até 2 anos após a extinção do contrato de trabalho {prescrição bienal). b) Prazo prescricional quanto à garantia de direitos pretéritos: até 5 anos retroativos, contados do ajuizamento da ação/reclamação (prescrição quinquenal). Em resumo, podemos dizer que quanto mais tempo o empregado demorar para ajuizar ação/reclamação pior será para ele. Por exemplo: se o empregado ingressar com ação/demanda 1 anos depois do término do contrato, ele es- tará no prazo para ajuizar, mas já terá perdido um ano de direitos pretéritos, fazendo jus a apenas 4 anos de verbas anteriores. 3. 7. 16. Proibições à discriminação O art. 7°, em seus incisos XXX a XXXII da CF, traz uma série de proibi- ções à discriminação. Vejamo3: Capítulo 111• DIREITOS SOCIAIS 429 a) proibição de diferença de salários, de exercício de funções e de critério de admissão por motivo de sexo, idade, cor ou estado civil; b) proibição de qualquer discriminação no tocante a salário e critérios de admissão do trabalhador portador de deficiência; c) proibição de distinção entre trabalho manual, técnico e intelectual ou entre os profissionais respectivos. Esses dispositivos estão em plena consonância com o art. 3°, IV, da CF, segundo o qual um dos objetivos da República Federativa do Brasil é pro- mover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação, bem como com o art. 227, II, da CF, que impõe ao Estado a criação de programas de prevenção e atendimento especializado para as pessoas portadoras de deficiência física, sensorial ou mental, bem como de integração social do adolescente e do jovem portador de deficiência, mediante o treinamento para o trabalho e a convivência, e a facilitação do acesso aos bens e serviços coletivos, com a eliminação de obs- táculos arquitetônicos e de todas as formas de discriminação. Por fim, a proibição da discriminação é uma das facetas do direito à igualdade, previsto no art. 5°, caput, da CF. 3. 1. 17. Idade para o trabalho Outro importante inciso do art. 7" da CF é o XXXIII, segundo o qual há proibição de trabalho noturno, perigoso ou insalubre a menores de 18 e de qualquer trabalho a menores de 16 anos, salvo na condição de aprendiz, a partir de 14 anos. Simplificando o dispositivo, temos: a) A idade mínima para o trabalho (aquisição da capacidade laboral) é de 16 anos. b) Antes dos 16 anos a única modalidade de trabalho permitida é a aprendizagem, e somente a partir dos 14 anos de idade. c) Com 16 ou 17 anos o indivíduo pode trabalhar normalmente, desde que não seja um labor noturno, perigoso ou insalubre. d) A partir dos 18 anos o indivíduo pode desempenhar qualquer trabalho lícito, inclusive noturno, perigoso ou insalubre. 430 Parte 11• DIREITO CONSTITUCIONAL- Paulo Lépare 3.1.18. Trabalhador avulso Nos termos do art. 7°, XXXIV, da CF, é garantida igualdade de direitos entre o trabalhador com vínculo empregatício permanente e o trabalhador avulso. Segundo Henrique Correia: A caracterfstica principal do trabalho avulso é a presença da intermediação de mão de obra, ou seja, o trabalhador avulso é colocado no local de trabalho com a intermediação do sindicato da categoria ou por meio do Órgão Gestor de Mão de Obra - OGMO. Embora esse trabalhador não seja empregado, nem do sindicato, nem do OGMP, o art. 7°, XXXIV, da CF/88 estendeu a ele todos os direitos previstos aos empregados? 3. 7. 7 9. Trabalhador doméstico Esse é o tema do momento. Isso porque os trabalhadores domésticos tiveram os seus direitos ampliados pela Emenda Constitucional 72 de 2 de abril de 2013, com posterior regulamentação pela Lei Complementar 150, de 1° de junho de 2015. Nos termos do art. 1 o da LC 150/2015, considera-se empregado domés- tico aquele que presta serviços de forma contínua, subordinada, onerosa e pessoal e de finalidade não lucrativa à pessoa ou à família, no âmbito residencial destas, por mais de 2 (dois) dias por semana. Estabelecidos os elementos que compõem a condição de empregado doméstico, passamos ao estudo dos novos direitos constitucionalmente garantidos. A EC 72/13 trouxe nova redação ao parágrafo único do art. 7° da CF, que agora determina: "São assegurados à categoria dos trabalhadores domésticos os direitos previstos nos incisos IV, VI, VII, VIII, X, XIII, XV, XVI, XVII, XVIII, XIX, XXI, XXII, XXIV, XXVI, XXX, XXXI e XXXIII e, atendidas as condições estabelecidas em lei e observada a simplificação do cumprimento das obrigações tributárias, principais e acessórias, decorrentes da relação de trabalho e suas peculiaridades, os previstos nos incisos I, II, III, IX, XII, XXV e XXVIII, bem como a sua integração à previdência social:' (gritos nossos) Vale destacar que os direitos previstos nos incisos IV, VI, VIII, XV, XVII, XVIII, XIX, XXI e XXIV do art. 7°, bem como a integração à previdência social, já eram garantidos aos empregados domésticos antes da EC 72/13. 9. CORREIA, Henrique. Op. Cit., p. 89. Capítulo 111• DIREITOS SOCIAIS 431 As novidades ficam por conta dos incisos que destacamos em negrito. Ademais, há que se ressaltar que, após a EC 72/13, passam a existir dois gru- pos de direitos: a) direitos incondicionados; e b) direitos condicionados.10 Os direitos incondicionados são aqueles que devem ser aplicados in- dependentemente de qualquer determinação estabelecida na legislação infraconstitucional. Estão nesse grupo os direitos assegurados no art. 7°, incisos IV, VI, VII, VIII, X, XIII, XV, XVI, XVII, XVIII, XIX, XXI, XXII, XXIV, XXVI, XXX, XXXI e XXXIII, da CF, que são: 1. Salário mínimo; 2. Irredutibilidade do salário; 3. Décimo terceiro salário com base na remuneração integral ou no valor da aposentadoria; 4. Repouso semanal remunerado, preferencialmente aos domingos; 5. Férias anuais remuneradas com, pelo menos, um terço a mais do que o salário normal; 6. Licença-gestante de 120 dias; 7. Licença-paternidade de 5 dias; 8. Aviso-prévio; 9. Aposentadoria (que já existiam antes da EC 72/13); e 10. Garantia de salário, nunca inferior ao mínimo, para os que percebem remuneração variável; 11. Proteção do salário na forma da lei, constituindo crime sua retenção dolosa; 12. Duração do trabalho normal não superior a oito horas diárias e quarenta e quatro semanais, facultada a compensação de horários e a redução da jornada, mediante acordo ou convenção coletiva de trabalho; 13. Remuneração do serviço extraordinário superior, no mínimo, em cinqüenta por cento à do normal; 14. Redução dos riscos inerentes ao traba- lho, por meio de normas de saúde, higiene e segurança; 15. Reconhecimento das convenções e acordos coletivos de trabalho; 16. Proibição de-diferença de salários, de exercício de funções e de critério de admissão por motivo de sexo, idade, cor ou estado civil; 17. Proibição de qualquer discriminação no tocante a salário e critérios de admissão do trabalhador portador de deficiência; 18. Proibição de trabalho noturno, perigoso ou insalubre a menores de dezoito e de qualquer trabalho a menores de dezesseis anos, salvo na condição de aprendiz, a partir de quatorze anos (que foram estabelecidos pela EC 72/13}. 1 O. Como a matéria é nova, a doutrina ainda se posicionará a respeito do tema. É possível que, com base na doutrina de José Afonso da Silva (explorada no capítulo I deste livro) se diga que os direitos aqui denominados de condicionados, representam uma norma constitucional de eficácia limitada, aplica- bilidade indireta, mediata e reduzida e, por isso, poceriam ser chamados de direitos de aplicabilidade mediata. Entretanto, ainda que possa representar a op•.;ão de algum autor, não recomendamos a utilização da denominação direito de aplicação ou aplicabilicade mediata (no lugar de direito condicionado). Isso porque, o parágrafo •.Jnico do art. 5° da CF determina que as normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais têm aplicaçao imediata e os direitos sociais dos trabalhadores domésticos (assim como de qualquer trabalhador) são direitos fundamentais. Até a sedimentação dessa questão, imaginamos que esse tipo de questionamento não vá aparecer em provas objetivas. Caso apareça, certamente poderá ser objeto de recurso. 432 Parte 11• DIREITO CONSTITUCIONAL- Paulo Lépore Já os direitos condicionados são aqueles que devem ser aplicados com atendimento às condições estabelecidas em legislação infraconstitucional e observância de simplificação do cumprimento das obrigações tributárias, principais e acessórias, decorrentes da relação de trabalho e suas peculia- ridades. Fazem parte deste grupo: 1. Integração à previdência social (que já existia antes da EC 72/13) e os direitos arrolados no art. 7°, incisos I, li, III, IX, XII, XXV e XXVIII, da CF, 2. Relação de emprego protegida contra despedida arbitrária ou sem justa causa, nos termos de lei complementar, que preverá indenização compensatória, dentre outros direitos; 3. Seguro-desemprego, em caso de desemprego involuntário; 4. Fundo de garantia do tempo de serviço; 5. Remuneração do trabalho noturno superior à do diurno; 6. Salário-família pago em razão do dependente do trabalhador de baixa renda nos termos da lei; 7. Assistência gratuita aos filhos e dependentes desde o nascimento até 5 (cinco) an0s de idade eo creches e pré-escolas; 8. Seguro contra acidentes de trabalho, a cargo do empregador, sem excluir a indenização a que este está obrigado, quando incorrer em dolo ou culpa (que foram estabelecidos pela EC 72/13). Esses direitos condicionados foram regulamentados pela LC 150/2015, de modo que já podem ser exercidos na prática. Para facilitar, segue tabela: Capítulo 111• DIREITOS SOCIAIS 433 2. Irredutibilidade do salário 3. Décimo terceiro salário com base na remuneração integral ou no valor da aposentadoria 4. Repouso semanal remunerado, preferencialmente aos domingos S. Férias anuais remuneradas com, pelo menos, um terço a mais do que o salário normal 6. Licença-gestante de 120 dias 7. Licença-paternidade de S dias 8. Aviso-prévio 9. Aposentadoria 1 O. Garantia de salário, nunca inferior ao mínimo, para os que percebem remuneração variável 11. Proteção do salário na forma da lei. constituindo crime sua retenção dolosa 12. Duração do trabalho normal não superior a oito horas diárias e quarenta e quatro semanais, facultada a compensação de horários e a redução da jornada, mediante acordo ou convenção coletiva de trabalho 13. Remuneração do serviço extraor- dinário superior, no mínimo, em cinqüenta por cento à do normal 14. Redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de saúde, higiene e segurança 1. Integração à previdência social 2. Relação de emprego protegida contra despedida arbitrária ou sem justa causa, nos termos de lei complementar, que preverá indenização compensatória, dentre outros direitos; 3. Seguro-desemprego, em caso de desemprego involuntário; 4. Fundo de garantia do tempo de serviço; S. Remuneração do trabalho noturno superior à do diurno; 6. Salário-família pago em razão do dependente do trabalhador de baixa renda nos termos da lei 7. Assistência gratuita aos filhos e dependentes desde o nascimento até 5 (cinco) anos de idade em creches e pré-escolas 434 Parte 11• DIREITO CONSTITUCIONAL-· Paulo Lépore e acordos coletivos de trabalho 16. Proibição de diferença de salários, de exercício de funções e de critério de admissão por motivo de sexo, idade, cor ou estado civil 17. Proibiçãodequalquerdiscrimina- ção no tocante a salário e critérios de admissão do trabalhador portador de deficiência 18. Proibição de trabalho noturno, perigoso ou insalubre a menores de dezoito e de qualquer trabalho a menores de dezesseis anos, salvo na condição de aprendiz, a partir de quatorze anos lho, a cargo do empregador, sem excluir a indenização a que este está obrigado, quando incorrer em dolo ou culpa ór; .. : "'r~:"::;, .. /· .• :!:;: E: .•..•. : >1;·:~;· ... ·,.,,. , ... ~ ... J:éfr~:~~·~~~~f;~;ª~D~~i~~·~jr)a~ ••s~posicionará ~ ~~~~~~jgj~~;~~.~~:f~.f pdssív' qli~,' cotn l:)~~~··p;;j:l:lóytrina pe José Afonso da Silvà(~)Sp!ori,\qâ'ooc#pí:. ·· tuloLdeste liv~o)'s(',iargp;:qoe;ps direit<:)s aqui denominadosâ~.co, .... ·· n,a~~~; .. representam; em vêtÇJaaê;'riórmàs constitucionais de eficá~ia~n ílda, :apli~ ' cabilidadeinqire~a,;megiayae reduzida e, por isso, poderiam s~rch~rnacfos <;!e 'ciireitos,de aplicqbiliqêld!'! rnediata . .,. AtENÇÃO! Ainda que'e'Stej'a' serYdbdiVUigado que houve
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