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Inserir Título Aqui Inserir Título Aqui Assistência de Enfermagem ao Paciente Politraumatizado Diferentes Tipos de Trauma Responsável pelo Conteúdo: Prof.ª M.ª Camila Cristina Revisão Textual: Prof. Me. Luciano Vieira Francisco Revisão Técnica: Prof.ª Dr.ª Raquel Josefina Oliveira Lima Nesta unidade, trabalharemos os seguintes tópicos: • Traumas Cranioencefálico e Raquimedular, Torácico, Abdominal e de Extremidades. Objetivos • Conhecer diferentes tipos de trauma; • Aprender o exame físico relacionado ao tipo de trauma; • Identificar os itens do exame físico dos diferentes traumas. Caro Aluno(a)! Normalmente, com a correria do dia a dia, não nos organizamos e deixamos para o úl- timo momento o acesso ao estudo, o que implicará o não aprofundamento no material trabalhado ou, ainda, a perda dos prazos para o lançamento das atividades solicitadas. Assim, organize seus estudos de maneira que entrem na sua rotina. Por exemplo, você poderá escolher um dia ao longo da semana ou um determinado horário todos ou alguns dias e determinar como o seu “momento do estudo”. No material de cada Unidade, há videoaulas e leituras indicadas, assim como sugestões de materiais complementares, elementos didáticos que ampliarão sua interpretação e auxiliarão o pleno entendimento dos temas abordados. Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discussão, pois estes ajudarão a verificar o quanto você absorveu do conteúdo, além de propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e aprendizagem. Bons Estudos! Diferentes Tipos de Trauma Fonte: Getty Im ages UNIDADE Diferentes Tipos de Trauma Traumas Cranioencefálico e Raquimedular, Torácico, Abdominal e de Extremidades Compreender o mecanismo do trauma possibilita a correta avaliação da vítima, re- duzindo a probabilidade de óbito pela identificação precoce de possíveis manifestações. Comumente o trauma segue um padrão, podendo ser classificado como fechado – mecanismo indireto de lesão – ou penetrante – restrito a um ou dois segmentos. Veja como avaliar um Traumatismo Craniano (TCE) no Atendimento Pré-Hospitalar (APH). Disponível em: https://youtu.be/ekXKLlDhHVg Trauma Cranioencefálico Lesões decorrentes de traumas na região do encéfalo são denominadas traumatismo craniano e consideradas graves, de modo que o atendimento urgente é fundamental. Os ossos cranianos têm como principal função a proteção do cérebro, sendo espes- sos e duros, mas dependendo do trauma poderão sofrer lesões (SANTOS, 2018). O TCE é responsável por cerca de 200.000 vítimas por ano nos Estados Unidos; aqui no Brasil é uma das principais causas de invalidez e óbitos. As regiões Nordeste e Sudeste possuem as taxas mais elevadas de mortalidade, de modo que a Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que atualmente é responsável pela maior causa de morbimortalidade (SANTOS et al., 2019). As lesões encefálicas podem ser classificadas como primárias e secundárias. As primárias são as que ocorrem no momento do trauma estando relacio- nadas diretamente com a cinética e o fator causal, já as secundárias são resultantes da relação de fatores metabólicos e infecciosos que ocorrem em resposta ao dano inicial. (SANTOS et al., 2019) Podemos descrever o traumatismo cranioencefálico como qualquer agressão de ori- gem traumática que leve à lesão anatômica (forma) ou funcional do couro cabeludo, crânio, meninges, vasos e/ou artérias. O Traumatismo Cranioencefálico (TCE) é o principal determinante de mor- bidade, incapacidade e mortalidade dentro deste grupo. O TCE grave está associado a uma taxa de mortalidade de 30% a 70%, e a recuperação dos sobreviventes é marcada por sequelas neurológicas graves e por uma quali- dade de vida muito prejudicada. (GAUDÊNNCIAIO; LEÃO, 2013, p. 428) Os traumas nesta região poderão ser isolados ou associados, acarretando maior ex- tensão à lesão. Sendo assim, lesões no couro cabeludo podem gerar hemorragias e hematomas subgaliais. A avaliação do nível de consciência por meio da Escala de Coma de Glasgow (ECG) possibilita classificar o TCE de acordo com a sua pontuação, a saber: • Leve: 14 a 15 pontos; • Moderado/intermediário: 9 a 13 pontos; • Grave: ≤ 8 pontos (TIMERMAN, 2020). 6 7 O TCE é considerado na presença dos seguintes sinais e sintomas, independentemente do escore da ECG: anisocoria, assimetria motora, fratura de crânio com perda de líquor, sangue ou perda de massa encefálica, afundamento de crânio (SANTOS, 2018). Santos (2018) aponta que de acordo com a classificação recebida a vítima poderá apresentar os seguintes sinais e sintomas: Quadro 1 – Características clínicas de acordo com o grau de gravidade do TCE Leve Perda rápida da consciência com ligeira amnésia (que regride minutos após o trauma), com tempo de duração em torno de uma hora. Pode- rá ser acompanhado de ansiedade, lipotimia, mal-estar geral – que eventualmente pode persistir por alguns dias. Moderado/ intermediário Período médio de inconsciência que poderá durar por uma hora ou mais, com agitação, lipotimia e cefaleia; pode ter sonolência por uma semana após o trauma. Grave Pode ser posterior à lesão leve ou intermediária, horas após a lesão origi- nária. Pode também apresentar inconsciência profunda em decorrência de edema ou hemorragia cerebral. As lesões são graves e preocupantes, de modo que em um momento a vítima pode estar bem e em outro mo- mento poderá evoluir para quadro de coma profundo. Fonte: Adaptado de SANTOS, 2018 De acordo com o resultado da avaliação da ECG e a classificação do grau de gravi- dade da vítima, condutas deverão ser tomadas conforme verificado o fluxo de ação de acordo com a classificação feita. Figura 1 – Fluxo de ações de acordo com o grau de gravidade do TCE Fonte: TIMERMAN, 2020 7 UNIDADE Diferentes Tipos de Trauma Em decorrência do TCE poderá ocorrer fratura do crânio, podendo ser: • Linear: visualizada no raio X de crânio; fratura simples e que não requer tratamen- to específico. Nas situações em que a fratura esteja próxima à linha de sutura e artérias poderá ocorrer hemorragia epidural; • Depressão óssea: a fratura poderá ocasionar depressão visível a olho nu e detectada por palpação local. Em alguns casos será necessária abordagem cirúr- gica – a depender da gravidade. Clinicamente poderá apresentar convulsões e agitação psicomotora; • Aberta: em decorrência da fratura pode haver o rompimento da dura-máter, pro- vocando a comunicação entre a lesão do couro cabeludo e o tecido cerebral – em alguns casos é visualizada a massa cerebral e/ou o líquor (sendo inevitável cirurgia); • Fratura de base de crânio: na maior parte das vezes não é visualizada em radio- grafias comuns, de modo que seu diagnóstico poderá ser feito de forma rápida e eficiente por meio de exame físico – em que a vítima poderá apresentar as seguin- tes características: » Rinorreia: perda de líquor ou sangue pelas narinas; » Otorreia ou otoliquorreia: perda de líquor ou sangue pelos ouvidos; » “Olhos de guaxinim”: equimose ou hematoma periorbital; » Sinal de Battle: equimose ou hematoma na região do mastoide; » Sinal de duplo anel: presença de líquor e sangue no nariz e/ou nos ouvidos. Pode ser realizado o teste do lenço de papel para que haja certeza: no lenço de papel, após contato com a secreção drenada, forma-se um anel central de sangue e, ao seu redor, um anel de líquor – neste caso sendo contraindicada a intubação gástrica e/ou traqueal por via nasal (SANTOS, 2018). Nas fraturas de base do crânio a passagem de sonda nasogástrica não é indicada em decorrência da possibilidade de a sonda fazer um falso trajeto e, assim, piorar a gravi- dade do quadro. Outro aspecto de gravidade em decorrência do TCE corresponde às hemorragias cranianas, que podem ocorrer no espaço epidural, subdural ou intracerebral – conforme no link a seguir: Hematomas cerebrais, disponível em: https://bit.ly/36n9VZkAs hemorragias podem ocorrer em decorrência de um trauma – ou não –, sendo divi- didas em epidural aguda e subdural aguda, vejamos: • Epidural aguda: lesão em uma artéria da dura-máter, geralmente a artéria menín- gea média, perda da consciência com intervalos de lucidez, depressão do nível de consciência, hemiparesia do lado da hemorragia e dilatação e fixação da pupila do lado em que ocorreu a hemorragia; • Subdural aguda: entre a dura-máter e o córtex cerebral. Pode vir acompanhada de fratura de crânio. Prognóstico favorável na maioria dos casos; 8 9 • Subaracnóideas: hemorragias acompanhadas de líquor sanguinolento e irritação das meníngeas, cefaleia intensa e fotofobia. Hemorragias cerebrais: ocorrem em qualquer região do cérebro e são acompanhadas de déficit neurológico. O prognós- tico e o déficit neurológico dependem da localização e da extensão da hemorragia (SANTOS, 2018) . A vítima de um trauma crânioencefálico quando não evolui ao óbito pode apresentar diferentes sequelas que necessitam ser identificadas para o adequado planejamento da assistência e reabilitação. Leia as diretrizes do Ministério da Saúde sobre a atenção à reabilitação da pessoa com traumatismo cranioencefálico em, disponível em: https://bit.ly/3pvux9z Trauma Raquimedular O trauma raquimedular pode ser descrito como uma lesão da medula espinhal que causa alteração funcional permanente ou transitória. As alterações compõem a função motora, sensibilidade e funções anatômicas. As lesões de composição cervical, em sua maioria, causam sequelas ligadas à paralisia de outros segmentos corporais. Leia o artigo intitulado “Atualização sobre a assistência de enfermagem aos pacien- tes com trauma raquimedular”, disponível em: https://bit.ly/3t7tizy O Pre Hospital Trauma Life Support (PHTLS) orienta que o socorrista poderá iden- tificar a possibilidade de um trauma raquimedular e de coluna em impacto violento na cabeça, no pescoço, tronco ou na pelve por qualquer mecanismo, além de incidentes que produzam aceleração e desaceleração repentina, ou na inclinação lateral do pescoço e tronco, tais como atropelamentos, quedas, em mergulhos (afogamentos) etc. Considerando a importância de conhecer alguns conceitos da Física para melhor entender a pro- dução de lesões por traumas, cabe analisar o famoso efeito “chicote”, o qual pode causar sérias lesões cervicais. Neste sentido, assista ao vídeo, disponível em: https://youtu.be/QNnt55gKXj0 Figura 2 – Efeito “chicote” Fonte: Adaptado de Getty Images 9 UNIDADE Diferentes Tipos de Trauma Quando o profissional identificar uma possível lesão deverá realizar anamnese da vítima, pesquisando a presença de dor à deglutição, sendo sugestivo de lesão faringoe- sofágica e a ausência de processo álgico referido e sentido. No exame físico o enfermeiro deverá realizar a inspeção, investigando a presença de respiração ruidosa, estritora, cornagem, hemorragia, hemoptise, alterações no aparelho fonador – voz. A palpação deverá ser minuciosa a fim de investigar a presença de enfisema subcutâneo por lesão de vias aéreas ou tubo digestivo – fraturas também podem estar pre- sentes. Deve-se auscultar o pescoço procurando identificar sopros sistólicos ou contínuos. Trauma Torácico A região torácica abriga órgãos considerados nobres, pois são vitais para a manutenção da ventilação e circulação sanguínea. Assim, uma lesão nessa região é considerada de extre- ma gravidade, uma vez que poderá interferir na ventilação, comprometendo a oxigenação tissular. Outro aspecto de grande relevância é o desencadeamento de quadros graves de acidose e choque em decorrência da hipoperfusão tecidual (TOBASE ; TOMAZINI, 2017). O trauma torácico é considerado uma lesão decorrente da ação de um agente trau- mático, podendo ser classificado de duas formas Trauma Aberto É provocado por objeto penetrante: projétil de arma de fogo, arma branca, ou por qualquer objeto que permita a comunicação da parte interna da cavidade torácica com o meio externo. Tal comunicação permite a saída e entrada de ar, ocasionando pneumo- tórax, hemotórax, colabamento pulmonar e consequente redução da capacidade venti- latória, além do risco iminente de infecção. Os eventos compensatórios desencadeados pelo trauma aberto são os seguintes: Taquipneia Insu�ciência respiratória ↑ Esforço respiratório/fadiga Figura 3 – Eventos compensatórios do trauma aberto de tórax Fonte: Adaptada de TOBASE; TOMAZINI, 2017 • Sobre a fisiopatologia do trauma torácico aberto: » Primeiro ocorre a entrada de ar, com diminuição da pressão e resistência; » Ocorre, então, o rompimento da aderência entre as membranas pleurais, forman- do o pneumotórax; » Ocorre o colabamento e consequente impedimento da ventilação eficaz, de modo que a respiração fica superficial – o que estimula o centro respiratório, levando ao aumento do esforço respiratório. 10 11 • Quanto aos desdobramentos em decorrência do ferimento aberto: » Pneumotórax hipertensivo: impede a respiração, diminuindo o retorno venoso e levando ao choque; » Deslocamento do mediastino: diminui o retorno venoso, a Pressão Arterial (PA), provocando o aumento da jugular e eventualmente o desvio da traqueia; » Ferimentos penetrantes causam hemorragia (hemotórax), podendo levar ao cho- que e à diminuição da capacidade respiratória; » Ferimentos pulmonares: presença de sangue nos alvéolos em decorrência de hemorragias, diminuindo a hematose, ventilação e oxigenação (TOBASE; TOMAZINI, 2017). Trauma Fechado Neste caso ocorre a aplicação de força externa por contusão, levando ao comprome- timento de órgãos e podendo ocorrer a ruptura da parede do tórax – aqui não havendo comunicação com o meio externo. • Quanto aos desdobramentos em decorrência do ferimento fechado: » Lesão contusa aplicada na parede do tórax, hemorragia pulmonar com a diminui- ção de hematose, ventilação e oxigenação; » Lesão em pleura parietal de entrada de ar leva ao pneumotórax hipertensivo; » A fratura de costelas pode ocasionar laceração pulmonar e formas de pneumo- tórax e hemotórax; » Lesão de grandes vasos: aorta hemorrágica catastrófica (TOBASE; TOMAZINI, 2017). Vítimas de trauma torácico poderão necessitar de suporte ventilatório invasivo e ven- tilação mecânica prolongada, uma vez que a principal meta no atendimento é preservar a ventilação, circulação e, assim, prevenir a hipóxia, punção e drenagem pleural. Esse tipo de trauma ocorre em sua maioria devido a acidentes automobilísticos, queda, arma branca, violência, entre outros fatores. A detecção desse tipo de trauma poderá ser realizada com base na presença de sinais e sintomas como o batimento de asa de nariz, a cianose, inquietação, dispneia, taqui- cardia e hipotensão. Na avaliação do segmento torácico o profissional deve pesquisar as queixas de disp- neia, dor torácica e hemoptise. Deve-se ainda observar a expansibilidade torácica, respi- ração paradoxal, fraturas de costela, entre outras características. Deve-se palpar o tórax na pesquisa de enfisema subcutâneo, crepitação, dor etc. A per- cussão torácica é importante para a investigação de timpanismo, pneumotórax, hemotórax, atelectasia etc.; enquanto na ausculta deve-se avaliar a diminuição unilateral de murmúrio vesicular, roncos, ruídos – para melhor visualização das ações necessárias ao atendimento de trauma torácico observe o seguinte fluxograma: 11 UNIDADE Diferentes Tipos de Trauma Figura 4 – Fluxograma de atendimento ao trauma torácico Fonte: TOBASE; TOMAZINI, 2017 Leia o artigo intitulado “Perfil epidemiológico do trauma torácico em um hospital referência da Foz do Rio Itajaí”, disponível em: https://bit.ly/3iWFXk6 Trauma Abdominal e Pélvico O trauma abdominal ocorre devido ao impacto de força externa proveniente de agres- são física, ferimento por arma branca ou de fogo, queda, atropelamento, colisão de veícu- los – que poderão exercer força sobre a região abdominal e pélvica, podendo causar danos aos órgãos internos. É importantelembrar que o abdome pode ser didaticamente dividido em nove partes ou quadrantes, possibilitando identificar, de acordo com a região acometida, o órgão potencialmente lesado. Divisão anatômica do abdome, disponível em: https://bit.ly/36pY90B Tendo como base a divisão anatômica, vejamos as estruturas encontradas em cada região abdominal: Quadrante superior direito: • Fígado; • Vesícula biliar; • Cabeça do pâncreas; • Rim e adrenal D.; • Fexura repática do cólon; • Parte do cólon ascendente e transverso. Quadrante superior esquerdo: • Estômago; • Baço; • Corpo do pâncreas; • Rim e adrenal E.; • Flexura esplência do cólon; • Parte do cólon transverso e descendente. Quadrante inferior direito: • Ceco; • Apêndice; • Ovário e tuba uteria D.; • Ureter D.; • Cordão espermático D. Quadrante inferior esquerdo: • Parte do cólon descendente; • Cólon sigmoide; • Ovário e tuba uterina E.; • Ureter E.; • Cordão espermático E. Linha média: • Aorta; • Útero quando aumentado; • Bexiga quando distendida. Figura 5 – Localização dos órgãos em quadrantes Fonte: Adaptada de JARVIS, 2012 12 13 O trauma pode ser aberto – lesão com solução de continuidade penetrante e não penetrante – e fechado – mecanismo indireto de lesão. As complicações tardias de um trauma de abdome podem não ser identificadas no atendimento inicial, gerando graves complicações futuras. A avaliação do segmento abdominal e pélvico deve ser guiada para identificar queixas de dor abdominal, vômitos, hematêmese, enterorragia, hematúria – ou seja, indicativos de trauma abdominal. Na inspeção é necessário verificar escoriações e equimoses, dado que hematomas na parede abdominal pode indicar lesão interna; já o “sinal do cinto de segurança” pode sugerir lesões de coluna e vísceras. Na propedêutica da palpação cabe investigar sinais de peritonite e na percussão a presença de dor. Casos de trauma no abdome e pelve deverão ser avaliados na região genital para identificar a presença de sangue, lacerações, fraturas etc. Leia a “Diretriz assistencial multidisciplinar de abordagem ao paciente politrauma- tizado” (versão 2018), disponível em: https://bit.ly/3oun9dk Para a adequada compreensão das ações a serem realizadas na avaliação e condução clíni- ca de possível trauma abdominal, veja o fluxograma de ações proposto por Timerman (2020): Figura 6 – Condução clínica do trauma abdominal Fonte: TIMERMAN, 2020 13 UNIDADE Diferentes Tipos de Trauma Na vigência de trauma abdominal é comum que ocorra mais do que uma lesão, de modo que os sinais e sintomas presentes comumente são semelhantes. Assim, o profis- sional deverá desenvolver competências para ter acurácia na avaliação da vítima. Ademais, com base no mecanismo do trauma e na presença de vítima chocada sem causa aparente, é necessário que o profissional suspeite de estruturas abdominais inter- nas, seguindo ações ao Atendimento Pré-Hospitalar (APH) tais como as seguintes: Figura 7 – Fluxo de ações para o APH de vítima de trauma abdominal Fonte: TOBASE; TOMAZINI, 2017 Em todo o processo de avaliação e assistência ao indivíduo portador de trauma ab- dominal a sistematização da assistência de enfermagem é fundamental para o adequado raciocínio clínico, tais como a identificação de necessidades e implementação dos devidos cuidados; de modo que vejamos alguns diagnósticos de enfermagem que poderão ser loca- lizados nesta situação e os respectivos resultados esperados e consequentes intervenções: Tabela 1 – Diagnósticos de enfermagem, resultados esperados e respectivas intervenções Diagnósticos de enfermagem Resultados esperados Intervenções principais e sugeridas Risco de infecção Diminuição da gravidade da infecção e dos sintomas associados. • Proteção contra infecção; • Cuidados com lesões: drenagem fechada; • Monitoramento respiratório; • Cuidados com sonda gastrintestinal. Débito cardíaco diminuindo Fluxo sanguíneo unidirecional, livre de obstruções e com pressão adequada nos grandes vasos da circulação sistêmica e pulmonar. • Cuidados circulatórios; • Precauções contra sangramento; • Prevenção do choque; • Reposição rápida de líquidos; • Regulação hemodinâmica. Adequação do fluxo sanguíneo nos vasos cerebrais para a manutenção da função cerebral. • Monitoramento neorológico; • Promoção da perfusão cerebral; • Controle da hipovolemia. Dor Aguda Nível de conforto: extensão da percepção positiva do quanto o indivíduo se sente física e psicologicamente à vontade. • Prescrição de medicamentos; • Controle da dor; • Controle de medicamentos; • Controle da sedação e do ambiente. Integridade da pele prejudicada Integridade estrutural e função fisiológica normal da pele e das mucosas. • Supervisão da pele; • Controle da nutrição; • Controle hídrico; • Posicionamento; • Proteção contra infecção. Perfusão tissular periférica inefi caz Manutenção do estado circulatório. • Cuidados circulatórios; • Controle hídrico; • Monitoramento de sinais vitais. Fonte: Adaptado de TOBASE; TOMAZINI, 2017 14 15 Traumas de Extremidades O trauma de estruturas ósseas e articulações pode ocorrer em diferentes eventos, enquanto a fratura óssea ocorre quando há perda de continuidade de um osso em dois ou mais fragmentos, sofrendo variação de gravidade. Se consciente, a vítima pode se queixar de dor, incapacidade de movimentação e/ou alterações estruturais. Podemos encontrar dois tipos de fratura: • Fechada: onde o tegumento permanece íntegro; • Exposta: quando há ruptura do osso no tegumento. Ademais, as lesões de articulação podem se apresentar como luxações ou entorses. Definição e classificação das fraturas, disponível em: https://bit.ly/39tENcL A vítima de trauma deverá ser recepcionada na unidade de urgência e emergência do hospital e o principal atendimento inicial deve se amparar na avaliação e manutenção da função cardiorrespiratória, seguidas da identificação e avaliação da presença de le- sões para se estabelecer a conduta correta. Assista aos seguintes vídeos: • Tipos de choque, disponível em: https://youtu.be/Aluhohr1lMw • Avaliação XABCDE, disponível em: https://youtu.be/9A0cmIqIVtc • Método Start – múltiplas vítimas, disponível em: https://youtu.be/OUL1vGwavFQ O trauma é um evento não esperado, porém, prevenível através de sistemas de contenção, educação no trânsito, não ingestão de bebida alcoólica, organização de sistemas de res- gate, entre outras ações. Através da normatização e legalização dos serviços de remoção e dos programas de atenção direcionados à urgência e emergência são estabelecidos protocolos de assistência que deve- rão ser seguidos pela equipe de socorristas – cada um dentro de sua competência de atuação. Assim, podemos encontrar na literatura a descrição de diferentes tipos de traumas e as suas repercussões na saúde da vítima, cabendo ao profissional utilizar os seus conheci- mentos sobre os processos de Enfermagem, Anatomia, Fisiologia, entre outras áreas para a elaboração da correta assistência. A esta altura estudamos tópicos relacionados ao trauma, à avaliação primária e secundá- ria, assim como à identificação; compreendemos a importância da avaliação da cena do trauma e verificamos os principais tipos de trauma e anamnese. Quando discutimos sobre epidemiologia verificamos a magnitude dos índices direciona- dos aos óbitos, que os acidentes automobilísticos lideram as causas de morte, seguidos da violência urbana – fruto do desenvolvimento social. Percebemos como é importante o planejamento que o socorrista deve realizar antes do atendimento e a necessidade de se fazer perguntas simples para a reconstrução da cine- mática do trauma. 15 UNIDADE Diferentes Tipos de Trauma Verificamos a importância da legislação no amparo às ações e solidificação de um sistema nacional de urgência e emergência como política – e não como uma ação isolada de um Estado, mas uma visão federal, descentralizadora de ações. Compreendemos a complexidade do atendimento inicial, a estabilização da vítima e o seu transporteà rede de apoio hospitalar para um atendimento de complexidade diferente. O enfermeiro de APH deve ter conhecimento aplicado à realidade das ações, sem contar com a proteção do ambiente hospitalar; já o enfermeiro hospitalar, que recebe a vítima, deve possuir organização necessária ao atendimento e encaminhamento de exames, cirurgias, procedimentos gerais de enfermagem, unidades especiais – tal como a Unidade de Tera- pia Intensiva (UTI) –, entre outras competências. Se o enfermeiro do APH está preocupado em estabilizar a vítima e conduzi-la ao serviço médico sem maiores danos e/ou complicações em decorrência de seu transporte ao aten- dimento hospitalar, o enfermeiro hospitalar atenta-se ao apropriado manejo de complica- ções do trauma, tais como choque, amputações, entre outros fatores. 16 17 Referências ALFARO, D.; MATTOS, H. Atendimento pré-hospitalar ao traumatizado básico e avançado PHTLS. 6. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ATENDIMENTO INTEGRADO AO TRAUMA. O que é trauma? [20--]. 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