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TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO DA LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS Me. Camila Neto Fernandes Andrade GUIA DA DISCIPLINA 2021 1 Tradução e Interpretação da Língua Brasileira de Sinais Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 1. A IMPORTÂNCIA DA PALAVRA Objetivo: Compreender a importância de uma língua, seja ela qual for, na comunicação das pessoas. Introdução: Os serem humanos são seres sociais e, por essa razão, produzem suas próprias culturas. E isso acontece através da linguagem, da comunicação entre esses sujeitos. Neste primeiro tópico da disciplina trataremos sobre a importância da palavra, no ponto de vista de Vigotski, para compreendermos a relevância da atividade do Tradutor e Intérprete de Libras atuando em conjunto com sujeitos surdos (usuários da Libras) e sujeitos ouvintes (que fazem uso apenas da língua oral). Encerraremos o primeiro tópico tratando das línguas de sinais pelo mundo e também sobre alguns aspectos da Língua Brasileira de Sinais. 1.2. Linguagem Vigotski (1896 – 1934) entende que a principal função da linguagem é a de intercâmbio social, ou seja, “é para se comunicar com seus semelhantes que o homem cria e utiliza os sistemas de linguagem” (OLIVEIRA, 1997, p.42). Para que essa comunicação aconteça de forma clara é necessário que sejam empregados signos compreensíveis pelas outras pessoas. O autor segue uma linha de pesquisa voltada para descrever as relações entre pensamento e linguagem. Abaixo, segue um organograma para detalhar de uma maneira mais clara as principais ideias de Vigotski sobre signo, significado e palavra: PALAVRA SIGNO SIGNIFICADO 2 Tradução e Interpretação da Língua Brasileira de Sinais Universidade Santa Cecília - Educação a Distância O signo, para Vigotski, nada mais é que uma marca externa que auxilia o homem no desempenho de atividades psicológicas, como a memória, por exemplo. (OLIVEIRA, 1997). Exemplo: SIGNO LINGUÍSTICO CONCEITO BOLA Fonte: https://www.lazi.com.br/bola-inflavel-vinil-colorida-50- cm/p Oliveira (1997) disserta que “o significado é um componente essencial da palavra e é, ao mesmo tempo, um ato de pensamento, pois o significado de uma palavra já é, em si, uma generalização” (p.48). Vale ressaltar que é no significado da palavra que o pensamento e a fala se unem. Importante também frisar que o significado da palavra é inconstante e pode ser modificado no processo de desenvolvimento da criança ou de vivência dos adultos. Como exemplo disso, podemos pensar no significado da palavra “ensino” que foi modificado para muitas pessoas, durante o período de isolamento social devido à pandemia de COVID19. Significado da palavra alterado palavrapensamento 3 Tradução e Interpretação da Língua Brasileira de Sinais Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Vigotski reflete ainda sobre o pensamento e a palavra e esclarece que estes são um processo, um eterno “vai e vem” entre os dois. As palavras não se limitam a expressar o pensamento, é por elas que ele existe. Ao avançar em seus estudos, Vigostki aponta que “encontramos no significado da palavra essa unidade que reflete da forma mais simples a unidade do pensamento e da linguagem” (VIGOTSKI, 2018, p. 398). “Esse autor vincula a linguagem à formação das funções psicológicas superiores, já que ela apresenta como propriedade fundamental a capacidade de alterar por completo o fluxo e a estrutura das funções psicológicas superiores” (LACERDA, 2019, p.7). Mas afinal, o que são as funções psicológicas superiores? VIGOTSKI, Lev Semyonovich. A construção do pensamento e da linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 2018. MEMÓRIA PENSAMENTO PERCEPÇÃO EMOÇÃO CONSCIÊNCIA FORMAÇÃO DE CONCEITOS FALA ATENÇÃO VONTADE 4 Tradução e Interpretação da Língua Brasileira de Sinais Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Até aqui compreendemos que a comunicação entre as pessoas acontece na e pela linguagem, que a palavra só tem sentido quando esta possui um significado e que o pensamento existe através da palavra, logo, pensamento e linguagem estão interligados. 1.3. Línguas de Sinais Após o breve aporte teórico relacionando pensamento e linguagem, palavra e significado para o psicólogo Vigotski, vamos agora tratar a respeito das Línguas de Sinais. Sim, no plural! Aqui já trataremos sobre um primeiro ponto importante: não existe uma única língua de sinais utilizada por todos os surdos do mundo. Cada país, cada território possui a sua própria língua de sinais. Existe sim uma língua de sinais internacional, conhecida como Gestuno, mas essa língua não é utilizada rotineiramente pelos surdos em suas regiões. Quadros (2008) afirma que “todas as pessoas estão acostumadas a associar língua com fala. Assim, quando se fala em língua de sinais que exige uma associação de língua com sinais, normalmente as pessoas apresentam concepções inadequadas” (p.46). As línguas de sinais apresentam-se numa modalidade diferente das línguas orais; são línguas espaço-visuais, ou seja, a realização dessas línguas não é estabelecida através dos canais oral-auditivos, mas através da visão e da utilização do espaço. (QUADROS, 2008, p.46) As línguas de sinais passaram de geração em geração, dentro da comunidade surda e não são línguas oriundas das línguas orais. São línguas com características próprias, com estrutura gramatical e regras próprias também. Assim, as línguas de sinais incorporam todas as características de uma língua oral e possui o mesmo caráter linguístico de qualquer outra língua. Através das línguas de sinais, as pessoas podem se comunicar sobre qualquer assunto, seja ele abstrato ou não. 5 Tradução e Interpretação da Língua Brasileira de Sinais Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Diante dessas informações, fica fácil entender que as línguas de sinais não são gestos, mímicas ou pantomima. O correto é se remeter à língua de sinais como LÍNGUA mesmo e jamais como linguagem! Vamos ver agora o motivo para isso. Língua de sinais ou Linguagem de sinais? Linguagem é o que o ser humano utiliza como manifestação, como por exemplo a linguagem teatral, linguagem musical, linguagens artísticas através de pinturas, esculturas, entre outros. Língua surge em comunidade e é utilizada para a comunicação entre os sujeitos. Sendo assim, o correto é usarmos Língua de sinais. Por fim, devemos ter o conhecimento também que os sinais utilizados nas línguas de sinais podem ser icônicos ou arbitrários, ou seja, os sinais podem sim parecer com o objeto a qual ele se refere, por exemplo o sinal de telefone, mas podem também ser totalmente arbitrários, como por exemplo o sinal de desculpa. Fonte: http://libraseducandosurdos.blogspot.com/2010/02/sinais- meios-de-comunicacao.html Fonte: https://rodrigopimentalibras.webnode.com/aprenda- lingua-de-sinais/ 6 Tradução e Interpretação da Língua Brasileira de Sinais Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 1.4. Línguas de Sinais pelo mundo Como vimos anteriormente, as línguas de sinais são diferentes em cada território. Aqui no Brasil utilizamos a Língua Brasileira de Sinais, a Libras ou LIBRAS. Em outros países temos outras línguas de sinais, conforme veremos a seguir: Estados Unidos: ASL – American Sign Language Canadá: LSQ – Langue de Signes du Québec Japão: JSL – Japanese Sign Language ou Nihon Shuwa França: LSF - langue des signes française Dinamarca: DSL – Danish Sign Language Argentina: LSA - Lengua de Señas Argentina Chile: LSCh - Lengua de Señas Chilena Vimos nesse tópico sobrea importância da palavra para a comunicação entre sujeitos e também para a organização do pensamento e linguagem. Compreendemos que existem diferentes línguas de sinais em cada território e que língua e linguagem tem conceitos bem diferentes. Por fim, conhecemos os nomes de línguas de sinais de alguns países. ANDRADE, Camila Neto Fernandes. Bebês e Crianças Surdas nos Espaços Educativos. Dissertação (Mestrado Em Educação). Universidade Federal de São Paulo, Guarulhos, 2020. LACERDA, Cristina Broglia Feitosa de. Intérprete de Libras: em atuação na educação infantil e no ensino fundamental. 9ª ed. Porto Alegre: Mediação, 2019. 7 Tradução e Interpretação da Língua Brasileira de Sinais Universidade Santa Cecília - Educação a Distância OLIVEIRA, Marta Kohl. Vygotsky: Aprendizado e desenvolvimento: um processo sócio-histórico, São Paulo: Scipione, 1997. QUADROS, Ronice Müller de. Educação de Surdos: a aquisição da linguagem . Porto Alegre: Artmed, 2008. VIGOTSKI, Lev Semyonovich. A construção do pensamento e da linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 2018. 8 Tradução e Interpretação da Língua Brasileira de Sinais Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 2. PERCURSO HISTÓRICO DOS INTÉRPRETES E TRADUTORES Objetivo: Conhecer sobre o percurso histórico de tradutores e intérpretes ao longo da história da humanidade; Compreender a diferença na atuação dos dois profissionais. Introdução: Tradutores e intérpretes não são profissionais que surgiram nos últimos tempos. Existem registros desses profissionais no período do 3º milênio a.C. e isso nos revela a importância deles para a história da humanidade. Ressaltamos que tradutores e intérpretes de uma língua possuem atuações diferentes entre si, embora muitas pessoas se confundam. Neste tópico conheceremos a respeito da especificidade da atuação de cada profissional, conheceremos a história da profissão de tradutor e intérprete e finalizaremos direcionando na profissão dos tradutores e intérpretes de línguas de sinais. 2.2. Definição de tradutores e intérpretes Antes de partirmos para a história da atuação de tradutores e intérpretes vamos compreender a diferença entre os dois profissionais. Para a grande maioria das pessoas, ambos os profissionais realizam a mesma função, no entanto, para alguns estudiosos, isso não é verdade. Traduzir e interpretar são ações diferenciadas, embora alguns autores entendam que são complementares. No dicionário online de português temos os seguintes significados para cada profissional: Significado de Tradutor Significado de Intérprete 9 Tradução e Interpretação da Língua Brasileira de Sinais Universidade Santa Cecília - Educação a Distância No dicionário, então, ambas profissões tem a função de traduzir, o que vai ao encontro daquilo que alguns autores defendem. Para alguns autores, os termos tradução e interpretação se complementam e, em certa medida, remetem à mesma tarefa: versar os conteúdos de uma dada língua para outra, buscando trazer nesse processo os sentidos pretendidos sem que eles se percam ou que sejam distorcidos no percurso. Advogam que o mais importante não é se ater a palavras – a chamada tradução literal -, mas que é fundamental se ater aos sentidos pretendidos pelo locutor/ enunciador na língua de origem e trabalhar para que esses sentidos cheguem para o outro na língua-alvo (THEODOR, 1976; SILVEIRA, 2004; QUADROS, 2004, entre outros). (LACERDA, 2019, p.16) Já outros autores sustentam que interpretar e traduzir são funções diferentes, uma vez que o tradutor traduz textos escritos e, assim, pode realizar pesquisas e consultas enquanto realiza o seu trabalho. Já o intérprete traduz o que é dito, ou seja, de forma simultânea e sem a possibilidade de fazer qualquer consulta. Intérpretes atuam com a interpretação daquilo que é falado. Interpretam o que é dito em uma língua para a outra língua. Tradutores atuam com a tradução daquilo que é escrito. Traduzem um texto em uma língua para outra língua. 2.3. Breve histórico ‘Segundo Pagura (2003), “a mais antiga referência a um intérprete parece ser um hieróglifo egípcio do terceiro milênio antes de Cristo. Há registros de intérpretes na antiga substantivo masculino Pessoa que traduz uma obra de uma língua para outra. substantivo masculino e feminino Tradutor simultâneo; pessoa que traduz oralmente as palavras, frases ou estruturas, de uma língua para outra língua. 10 Tradução e Interpretação da Língua Brasileira de Sinais Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Grécia e no Império Romano” (p.213), ou seja, ser intérprete não é algo novo. O autor ainda afirma que na própria Bíblia existe menção a intérpretes. Agora, a interpretação mais semelhante ao que encontramos atualmente começou no período da Primeira Guerra Mundial. A língua usada com frequência durante as negociações da guerra era o francês, mas com a entrada dos Estados Unidos ficou necessária a interpretação do francês e do inglês para continuidade das negociações. Diante das pesquisas realizadas sobre esse período, Paul Mantoux é apontado como o primeiro dos intérpretes modernos. Paul Mantoux nasceu na França e era professor na University College, em Londres e foi o principal intérprete da França nas conferências pós- guerra, tendo, inclusive, participado como intérprete das negociações do Tratado de Versalhes. No período entre as duas grandes Guerras Mundiais, a modalidade de interpretação mais utilizada era a interpretação consecutiva, que acontecia entre o inglês e o francês na época. Nessa modalidade de interpretação o intérprete ouve uma grande parte daquilo que está sendo dito, toma notas e depois interpreta na língua-alvo. Embora não seja mais comumente utilizada em grandes eventos internacionais, ainda é bastante usada em pequenos grupos, principalmente quando o evento envolve apenas dois idiomas. É importante ressaltar também que a consecutiva tem papel preponderante no treinamento de intérpretes simultâneos, uma vez que nesse modo se desenvolvem as técnicas que serão fundamentais para o desempenho da simultânea, tais como a capacidade de compreensão e análise do discurso de partida. (PAGURA, 2003, p. 211) Já no final da Segunda Guerra Mundial, no Julgamento de Nuremberg houve o problema relacionado a língua a ser utilizada: inglês, francês, russo ou alemão. Verificou- se que fazer uso da interpretação consecutiva seria impraticável devido ao longo tempo que as interpretações tomariam durante o julgamento. Pagura (2003, p.214) descreve que quem recebeu a incumbência de encontrar a solução para o problema foi o Coronel Leon Dostert, intérprete do General Eisenhower. A IBM empresta o equipamento gratuitamente, tendo em vista a grande propaganda que seria o seu uso em tal ocasião. Dostert convoca jovens intérpretes consecutivos e outras pessoas sem experiência em interpretação, mas com excelente competência linguística e, após alguns meses de experimentação e treinamento intensos, surge o embrião do que viria a ser a interpretação simultânea como a conhecemos hoje em dia (cf.: AIIC 1996; Gaiba 1998). 11 Tradução e Interpretação da Língua Brasileira de Sinais Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Anterior ao início da Segunda Guerra, a IBM estava fazendo testes com um aparelho que auxiliaria na interpretação simultânea, mas que foi abandonado. Fonte: https://blogperlitteras.wordpress.com/2013/07/10/nuremberg-e-a-primeira- interpretacao-simultanea/ Dostert defendia que era possível realizar a interpretação ao mesmo tempo em que o discurso era realizado, mas foi contrariado pelos intérpretes consecutivos mais experientesda época. Antes mesmo de finalizar o Julgamento de Nuremberg, foi criada a Organização das Nações Unidas (ONU) que, ao longo da sua estruturação, contou com seis línguas oficiais da ONU. Assim, a interpretação simultânea vence os preconceitos e ganha força. A interpretação simultânea, então, nada mais é que a interpretação mais utilizada nos dias atuais. Nessa modalidade, os intérpretes – sempre em duplas – trabalham isolados numa cabine com vidro, de forma a permitir a visão do orador e recebem o discurso por meio de fones de ouvido. Ao processar a mensagem, re-expressam-na na língua de chegada por meio de um microfone ligado a um sistema de som que leva sua fala até os ouvintes, por meio de fones de ouvido ou receptores semelhantes a rádios portáteis. Essa modalidade permite a tradução de uma mensagem em um número infinito de idiomas ao mesmo tempo, desde que o equipamento assim o permita. (PAGURA, 2003, p.211) 12 Tradução e Interpretação da Língua Brasileira de Sinais Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 2.4. Semelhanças e diferenças entre tradutores e intérpretes Após conhecermos o que é específico em cada função e conhecer a história da profissão, vamos agora tratar dos pontos que aproximam e distanciam tradutores e intérpretes. O papel fundamental do profissional tradutor e intérprete de uma língua é romper com uma barreira linguística existente devido ao desconhecimento da língua usada pelo interlocutor, seja ele um palestrante, por exemplo, ou um escritor de um texto científico importante que necessita ser lido em países que se utilizam de outras línguas. Segundo Lacerda (2019), • “(...)tradutor e intérprete são profissionais-ponte, ou seja, favorecem que uma mensagem cruze a “barreira linguística” entre duas comunidades”. (p.18) • “(...)em ambas as atividades, é fundamental dominar os idiomas envolvidos, sendo que o tradutor precisa ter domínio da forma escrita, e o intérprete, da forma oral”. (p. 19) • “(..)tanto a tradução quanto a interpretação precisam ser realizadas por profissionais capazes de compreender e expressar ideias relacionadas às mais diferentes áreas de conhecimento humano, sem serem especialistas nessa área, como o são seus leitores ou ouvintes” (p.19) Vamos agora destacar outros pontos relativos às diferenças na atuação dos dois profissionais, segundo a visão de Lacerda (2019): • Diferenças operacionais: Já mencionado anteriormente, o tradutor atua diretamente com texto escrito enquanto o intérprete atua com a comunicação oral. • O tradutor precisa ter domínio as línguas e o assunto tratado no texto a ser traduzido, enquanto o intérprete, além do domínio nas línguas e conhecimento do assunto tratado precisa também ter “domínio das expressões orais presentes em ambos os idiomas”. (p. 20) • Ao tradutor é possível obter um momento de pausa durante a tradução de um texto e até mesmo que realize uma pesquisa de algo que desconheça para que a tradução aconteça da melhor forma, o que não é possível que o intérprete faça. 13 Tradução e Interpretação da Língua Brasileira de Sinais Universidade Santa Cecília - Educação a Distância “As escolhas linguísticas (do intérprete) precisam ser rápidas, e por isso a bagagem cultural do intérprete precisa ser ampla”.(p. 20) • Diferença relacionada ao tempo de trabalho: Enquanto nas organizações internacionais, espera-se que os tradutores de tempo integral traduzam cerca de 50 linhas a cada duas horas, um discurso cujo texto transcrito tenha as mesmas 50 linhas será interpretado em cerca de oito minutos, conforme dados apresentados por Seleskovitch e Lederer (1995:v). Seleskovitch acrescenta ainda que a interpretação acontece numa velocidade “30 vezes maior” (1978:2) do que o processo de tradução. É óbvio que, nessas condições, não é possível qualquer tipo de revisão da mensagem expressa. Enquanto a tradução é revisada pelo tradutor e, freqüentemente, por um outro leitor, o resultado do trabalho do intérprete é final”. (PAGURA, 2003, p.227) Por fim, segundo Lacerda (2019), diante de tudo o que tratamos até agora podemos compreender que há a necessidade de tanto o tradutor quanto o intérprete terem domínio da língua de partida e também da língua alvo para terem sucesso no seu trabalho. “Aos tradutores caberá dominar bem a língua escrita, e aos intérpretes caberá o domínio da língua oral”. Esse tópico nos trouxe esclarecimentos sobre as diferenças e semelhanças na atuação de tradutores e intérpretes e também nos informou a respeito das modalidades de interpretação acompanhadas de elucidação da história dessas profissões. LACERDA, Cristina Broglia Feitosa de. Intérprete de Libras: em atuação na educação infantil e no ensino fundamental. 9ª ed. Porto Alegre: Mediação, 2019. PAGURA, Reynaldo. A interpretação de conferências: interfaces com a tradução escrita e implicações para a formação de intérpretes e tradutores. Delta, São Paulo, v.19, p. 209-236, 2003. Edição especial. 14 Tradução e Interpretação da Língua Brasileira de Sinais Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 3. LEGISLAÇÕES Objetivo: Conhecer as legislações referentes ao trabalho de tradutores e intérpretes no território brasileiro. Introdução: A profissão de Tradutor e Intérprete de Língua de Sinais (TILS) foi regulamentada pela Lei Federal 12.319 de 1º de setembro de 2010, ou seja, é uma profissão regulamentada recentemente. Neste tópico trataremos das legislações sobre a Língua Brasileira de Sinais (Libras) e sobre a profissão TILS, dando ênfase em alguns pontos necessários serem discutidos. O foco dessa aula não é tratar de cada artigo das legislações, até porque algumas das legislações trazidas para reflexão são bastante densas. Vamos apenas nos ater aos artigos mais necessários de atenção e discussão. Na aula 4 continuaremos com as discussões relacionadas à formação necessária dos intérpretes de Libras, então, nesse momento, não abrangeremos tal discussão. Fonte: http://edmarciuscarvalho.blogspot.com/2010/10/lei-regulamenta-profissao-de-tradutor-e.html 15 Tradução e Interpretação da Língua Brasileira de Sinais Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 3.2. Lei Federal nº 10.436 Aqui temos o artigo 1º da conhecida lei da Libras. O destaque em negrito foi feito propositalmente para nos levar a uma importante reflexão. A Libras é considerada por muitas pessoas como “a segunda língua oficial do Brasil” e esse discurso é oriundo da legislação citada acima. No entanto, como bem podemos observar, a legislação, em momento algum, oficializa a Libras como a segunda língua usada no Brasil, mas sim reconhece a Língua Brasileira de Sinais como um meio legal de comunicação e expressão. Tal legislação se fez necessária por toda a história da educação de surdos, que vocês já estudaram anteriormente. A Libras não é a segunda língua oficial do Brasil, como muitas pessoas pensam ser. Um outro ponto importante nesse mesmo artigo está relacionado a outra comum confusão entre as pessoas e que nós já discutimos na primeira aula desta disciplina: a Libras é uma língua, com estrutura gramatical própria, entre outros. LEI Nº 10.436, DE 24 DE ABRIL DE 2002 Dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais - Libras e dá outras providências. O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: Art. 1º É reconhecida como meio legal de comunicação e expressão a Língua Brasileira de Sinais - Libras e outros recursos de expressão a ela associados. Parágrafo único. Entende-se como Língua Brasileira de Sinais - Libras a forma de comunicação e expressão, em que o sistema linguístico de natureza visual-motora, com estrutura gramatical própria,constituem um sistema linguístico de transmissão de ideias e fatos, oriundos de comunidades de pessoas surdas do Brasil. 16 Tradução e Interpretação da Língua Brasileira de Sinais Universidade Santa Cecília - Educação a Distância No artigo 4º da legislação é tratado acerca do sistema educacional, federal, estadual e municipal, que deve garantir o ensino da Libras nos cursos de níveis médio e superior dos cursos de Educação Especial, Fonoaudiologia e Magistério. Já o ponto destacado revela que a Libras não poderá substituir a modalidade escrita da língua portuguesa. Aqui podemos claramente observar que a língua portuguesa segue majoritária, apesar do reconhecimento da Libras como língua. Vale relembrar que língua portuguesa e Libras possuem regras, uso gramatical diferentes e, com essa determinação na lei estamos dizendo que o surdo deve fazer o registro escrito em sua L2 (segunda língua) e não na L1 (primeira língua), sua língua de conforto. Para ler a legislação na íntegra acesse: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10436.htm Art. 4º O sistema educacional federal e os sistemas educacionais estaduais, municipais e do Distrito Federal devem garantir a inclusão nos cursos de formação de Educação Especial, de Fonoaudiologia e de Magistério, em seus níveis médio e superior, do ensino da Língua Brasileira de Sinais - Libras, como parte integrante dos Parâmetros Curriculares Nacionais - PCNs, conforme legislação vigente. Parágrafo único. A Língua Brasileira de Sinais - Libras não poderá substituir a modalidade escrita da língua portuguesa. Art. 5º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação. Brasília, 24 de abril de 2002 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10436.htm 17 Tradução e Interpretação da Língua Brasileira de Sinais Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 3.3. Decreto Federal nº 5.626 Este decreto se fez muito importante, pois uma lei só é regulamentada quando o decreto é publicado, ou seja, o decreto dá as diretrizes necessárias para a correta execução da lei. Como podemos observar, houve um intervalo superior a 3 anos para ser publicado o decreto acima, assim, somente após o decreto publicado pôde-se colocar em prática as ações relacionadas à Lei. Os artigos destacados acima serão discutidos na aula 4. Para ler a legislação na íntegra acesse: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004- 2006/2005/decreto/d5626.htm DECRETO Nº 5.626, DE 22 DE DEZEMBRO DE 2005 Regulamenta a Lei nº 10.436, de 24 de abril de 2002, que dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais - Libras, e o art. 18 da Lei nº 10.098, de 19 de dezembro de 2000. DECRETA: CAPÍTULO I DAS DISPOSIÇÕES PRELIMINARES Art. 1º - Este Decreto regulamenta a Lei nº 10.436, de 24 de abril de 2002, e o art. 18 da Lei nº 10.098, de 19 de dezembro de 2000. CAPÍTULO V DA FORMAÇÃO DO TRADUTOR E INTÉRPRETE DE LIBRAS - LÍNGUA PORTUGUESA Art. 17. Trata sobre a formação Art. 18. Formação em nível médio Art. 19. Pessoas sem a titulação exigida Art. 20. Exame nacional de proficiência em tradução e interpretação de Libras http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/decreto/d5626.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/decreto/d5626.htm 18 Tradução e Interpretação da Língua Brasileira de Sinais Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 3.4. Lei Federal nº 12.319 Esta lei regulamenta a profissão do TILS. Após 8 anos da publicação da lei que reconhece a Libras como língua de interlocução e após 5 anos da publicação do decreto 5.626, onde já se fala sobre os tradutores e intérpretes, mas ainda sem serem profissionais. Os artigos acima mencionados serão tratados na aula 4. Lei Federal 12.319, de 1º de setembro de 2010 Regulamenta a profissão de Tradutor e Intérprete da Língua Brasileira de Sinais - Libras O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: Art. 1º Esta Lei regulamenta o exercício da profissão de Tradutor e Intérprete da Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS. Art. 2º O tradutor e intérprete terá competência para realizar interpretação das 2 (duas) línguas de maneira simultânea ou consecutiva e proficiência em tradução e interpretação da Libras e da Língua Portuguesa. Art. 3º ( VETADO) Art. 4º Trata da formação profissional Art. 5º Trata do exame nacional de proficiência em Tradução e Interpretação de Libras 19 Tradução e Interpretação da Língua Brasileira de Sinais Universidade Santa Cecília - Educação a Distância O art 6º é um dos mais importantes da legislação, uma vez que aborda sobre as atribuições do tradutor e intérprete. Aqui fica claro quais são as funções desses profissionais. Art. 6º São atribuições do tradutor e intérprete, no exercício de suas competências: I - efetuar comunicação entre surdos e ouvintes, surdos e surdos, surdos e surdos-cegos, surdos-cegos e ouvintes, por meio da Libras para a língua oral e vice-versa; II - interpretar, em Língua Brasileira de Sinais - Língua Portuguesa, as atividades didático-pedagógicas e culturais desenvolvidas nas instituições de ensino nos níveis fundamental, médio e superior, de forma a viabilizar o acesso aos conteúdos curriculares; III - atuar nos processos seletivos para cursos na instituição de ensino e nos concursos públicos; IV - atuar no apoio à acessibilidade aos serviços e às atividades-fim das instituições de ensino e repartições públicas; e V - prestar seus serviços em depoimentos em juízo, em órgãos administrativos ou policiais. 20 Tradução e Interpretação da Língua Brasileira de Sinais Universidade Santa Cecília - Educação a Distância O artigo 7º trata sobre os valores éticos da profissão de TILS. Na próxima aula também discutiremos a respeito do código de ética da profissão. Para ler a legislação na íntegra acesse: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2010/Lei/L12319.htm 3.5. Outras leis: Conforme destaca Quadros (2004) existem outras leis que respaldam a atuação do intérprete de língua de sinais direta ou indiretamente: • Lei 10.098/00 (Lei da acessibilidade) Art. 7º O intérprete deve exercer sua profissão com rigor técnico, zelando pelos valores éticos a ela inerentes, pelo respeito à pessoa humana e à cultura do surdo e, em especial: I - pela honestidade e discrição, protegendo o direito de sigilo da informação recebida; II - pela atuação livre de preconceito de origem, raça, credo religioso, idade, sexo ou orientação sexual ou gênero; III - pela imparcialidade e fidelidade aos conteúdos que lhe couber traduzir; IV - pelas postura e conduta adequadas aos ambientes que frequentar por causa do exercício profissional; V - pela solidariedade e consciência de que o direito de expressão é um direito social, independentemente da condição social e econômica daqueles que dele necessitem; VI - pelo conhecimento das especificidades da comunidade surda. Art. 8º ( VETADO) Art. 9º ( VETADO) Art. 10º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2010/Lei/L12319.htm 21 Tradução e Interpretação da Língua Brasileira de Sinais Universidade Santa Cecília - Educação a Distância • Lei 10.172/01 (Lei do Plano Nacional de Educação) • Resolução MEC/CNE: 02/2001 (Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica)• Portaria 3284/2003 que substituiu a Portaria 1679/99 (acessibilidade à Educação Superior) BRASIL. Decreto nº 5.626, de 22 de dezembro de 2005. Regulamenta a Lei nº 10.436, de 24 de abril de 2002, que dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais – Libras, e o art. 18 da Lei nº 10.098, de 19 de dezembro de 2000. Diário Oficial da União, Brasília, 23 dez. 2005. BRASIL. Lei nº 10.436, de 24 de abril de 2002. Dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais – Libras e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 25 abr. 2002. BRASIL. Lei nº12.319, de 1 de setembro de 2010. Regulamenta a profissão de Tradutor e Intérprete da Língua Brasileira de Sinais - Libras. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 02 set. 2010. QUADROS, Ronice Muller de. O tradutor e intérprete de língua de sinais e língua portuguesa. Brasília: MEC/SEESP, 2004. 22 Tradução e Interpretação da Língua Brasileira de Sinais Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 4. O INTÉRPRETE DE LIBRAS Objetivo: Adensar nas discussões sobre a formação exigida e sobre o código de ética do intérprete de Libras. Introdução: Em continuação à aula 3, vamos agora discutir de forma mais aprofundada sobre a formação exigida aos TILS, sobre os cursos que são ofertados a esse público. Como vimos na aula passada, apenas em 2010 a profissão foi regulamentada, mesmo após a publicação do decreto 5.626/2005 que trata sobre a formação do tradutor e intérprete de Libras. Como vimos anteriormente, o tradutor trabalha diretamente com textos escritos, enquanto o intérprete é aquele que traduz o que é falado, sendo assim, abordaremos com mais destaque os pontos importantes relacionados aos intérpretes de Libras. 4.2. O Intérprete de Língua de Sinais (ILS): Os primeiros intérpretes de Libras surgiram diante do contato com a própria comunidade surda, fazendo com que essas pessoas adquirissem a fluência na Língua de Sinais e podiam auxiliar a comunicação de surdos e ouvintes que não conheciam a Libras. No Brasil, a atividade de interpretação ocorre com maior frequência nas instituições religiosas; aliás, nesses lugares, a atuação do ILS tem sido uma prática há décadas, mais exatamente desde o início dos anos 80, o que explica que os melhores ILS – salvo os filhos de pais surdos – são oriundos das instituições religiosas” (ROSA, 2005, p. 86 e 87) Fonte:https://blog.handtalk.me/interpretes-de-libras/ https://blog.handtalk.me/interpretes-de-libras/ 23 Tradução e Interpretação da Língua Brasileira de Sinais Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Como vimos na aula passada, a Lei Federal nº 10.436/2002 reconheceu a Libras como meio legal de comunicação e o Decreto 5.626/2005 regulamentou a Lei Federal e dá outras providências, dentre elas a formação do Instrutor de Língua de Sinais. A partir da publicação das legislações citadas acima, ampliou-se o número de vagas de trabalho e, consequentemente, o número de profissionais interessados em atuar na área. O Capítulo V do Decreto 5.626/05 versa a respeito da formação necessária para a atuação de um ILS. No artigo 17 é mencionado que a formação deste profissional deve ser por meio de curso superior de Tradução e Interpretação com habilitação em Libras – Língua Portuguesa. “Esse artigo indica o reconhecimento da profissão em igualdade com os tradutores e intérpretes de outras línguas e o reconhecimento da importância de essa formação ser realizada por meio de curso superior, até então pouco frequente na área” (LACERDA, 2019, p.26). Também existe um debate importante a respeito da necessidade de um vínculo entre a formação específica de intérprete e o curso de Letras. Quando o Decreto aponta para o fato de a formação se dar por meio de curso superior, abre-se um debate sobre a necessidade de essa formação se vincular a cursos de Letras ou não. Essa discussão também se faz presente quando se discute a formação de intérpretes de outras línguas (PAGURA, 2003). Muitos julgam que a formação do tradutor/ intérprete deva se dar dentro do contexto de curso de Letras, mas muitos cursos de formação de formação de tradutores e/ou intérpretes se constituíram autonomamente, em várias universidades e diferentes países, considerando o conhecimento das línguas envolvidas como essencial, mas discutindo que a formação de tradutor/ intérprete é bastante específica. Uma leitura atenta do Decreto revela que ele define a necessidade de formação em curso superior que deve ser implantada. (LACERDA, 2019, p.27) O Brasil herdou uma tradição de outros países ao vincular a formação de tradutores e intérpretes de Libras aos cursos de Letras, no entanto essa não é uma regra geral. Art. 17. A formação do tradutor e intérprete de Libras - Língua Portuguesa deve efetivar-se por meio de curso superior de Tradução e Interpretação, com habilitação em Libras - Língua Portuguesa. 24 Tradução e Interpretação da Língua Brasileira de Sinais Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Algumas poucas universidades (UNIMEP/ SP, Universidade Estácio de Sá/ RJ, UFSC) ofereceram cursos específicos de formação de intérprete de línguas de sinais. Ainda segundo Lacerda (2019) precisamos evidenciar que o conhecimento das línguas não é o essencial na formação de tradutores e intérpretes, mas sim “(...) uma formação plural e interdisciplinar, visando a seu trânsito na polissemia das línguas, nas esferas de significação e nas possibilidades de atuação frente à difícil tarefa de tradução/ interpretação” (p.28). Já o artigo 19 do mesmo decreto trata que: Art. 19. Nos próximos dez anos, a partir da publicação deste Decreto, caso não haja pessoas com a titulação exigida para o exercício da tradução e interpretação de Libras - Língua Portuguesa, as instituições federais de ensino devem incluir, em seus quadros, profissionais com o seguinte perfil: I - profissional ouvinte, de nível superior, com competência e fluência em Libras para realizar a interpretação das duas línguas, de maneira simultânea e consecutiva, e com aprovação em exame de proficiência, promovido pelo Ministério da Educação, para atuação em instituições de ensino médio e de educação superior; II - profissional ouvinte, de nível médio, com competência e fluência em Libras para realizar a interpretação das duas línguas, de maneira simultânea e consecutiva, e com aprovação em exame de proficiência, promovido pelo Ministério da Educação, para atuação no ensino fundamental; III - profissional surdo, com competência para realizar a interpretação de línguas de sinais de outros países para a Libras, para atuação em cursos e eventos. Parágrafo único. As instituições privadas e as públicas dos sistemas de ensino federal, estadual, municipal e do Distrito Federal buscarão implementar as medidas referidas neste artigo como meio de assegurar aos alunos surdos ou com deficiência auditiva o acesso à comunicação, à informação e à educação. Essa certificação era provisória, uma vez que fica claro o período de dez anos a partir da publicação do artigo, ou seja, até 2015 e, após essa década, a formação deverá ser com formação técnica ou superior. Ainda quanto ao exame de proficiência, Lacerda (2019) 25 Tradução e Interpretação da Língua Brasileira de Sinais Universidade Santa Cecília - Educação a Distância disserta que “com o exame de proficiência, os profissionais surdos e ouvintes passam a obter a certificação de que estão aptos a ministrar o ensino de Libras ou a atuar como intérpretes” (p.36). Com essa certificação, nos anos de 2006 até 2008 foram aprovados cerca de 2.203 ILS com formação técnica e superior (QUADROS, 2014). A Legislação que realmente regulamenta a profissão do Tradutor e Intérprete de Língua deSinais é a Lei Federal 12.319/10, também apresentada na aula passada. Vamos tratar sobre os artigos que não foram tratados anteriormente. No artigo 2º verificamos que o ILS poderá realizar a interpretação tanto na modalidade simultânea quanto na consecutiva, ficando a critério das pessoas envolvidas definirem qual das modalidades será utilizada. O artigo 4º trata da formação do ILS, tem abordado anteriormente nessa mesma aula. Já o artigo 5º refere-se sobre o exame de proficiência, exame também já discutido nessa aula. 4.3. Código de ética A FENEIS (Federação Nacional de Educação e Integração dos Surdos) elaborou um Código de Ética para os ILS. O código de ética é um instrumento que orienta o profissional intérprete na sua atuação. A sua existência justifica-se a partir do tipo de relação que o intérprete estabelece com as partes envolvidas na interação. O intérprete está para intermediar um processo interativo que envolve determinadas intenções conversacionais e discursivas. Nestas interações, o intérprete tem a responsabilidade pela veracidade e fidelidade das informações. Assim, ética deve estar na essência desse profissional. (QUADROS, 2004, p.31) Art. 2º O tradutor e intérprete terá competência para realizar interpretação das 2 (duas) línguas de maneira simultânea ou consecutiva e proficiência em tradução e interpretação da Libras e da Língua Portuguesa. 26 Tradução e Interpretação da Língua Brasileira de Sinais Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Como disse Quadros (2004), o intérprete de Libras deve ter a ética como premissa de seu trabalho. O código de ética dos ILS perpassa por princípios de fidelidade, confiabilidade, distância profissional, neutralidade, entre outros. Segue abaixo o Código de Ética construído pela FENEIS: Capítulo 1 Princípios fundamentais Artigo 1º. São deveres fundamentais do intérprete: 1º. O intérprete deve ser uma pessoa de alto caráter moral, honesto, consciente, confidente e de equilíbrio emocional. Ele guardará informações confidenciais e não poderá trair confidencias, as quais foram confiadas a ele; 2º. O intérprete deve manter uma atitude imparcial durante o transcurso da interpretação, evitando interferências e opiniões próprias, a menos que seja requerido pelo grupo a fazê-lo; 3º. O intérprete deve interpretar fielmente e com o melhor da sua habilidade, sempre transmitindo o pensamento, a intenção e o espírito do palestrante. Ele deve lembrar-se dos limites de sua função e não ir além de a responsabilidade; 4º. O intérprete deve reconhecer seu próprio nível de competência e ser prudente em aceitar tarefas, procurando assistência de outros intérpretes e/ou profissionais, quando necessário, especialmente em palestras técnicas; 5º. O intérprete deve adotar uma conduta adequada de se vestir, sem adereços, mantendo a dignidade da profissão e não chamando atenção indevida sobre si mesmo, durante o exercício da função. Capítulo 2 Relações com o contratante do serviço 27 Tradução e Interpretação da Língua Brasileira de Sinais Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 6º. O intérprete deve ser remunerado por serviços prestados e se dispor a providenciar serviços de interpretação, em situações onde fundos não são possíveis; 7º. Acordos em níveis profissionais devem ter remuneração de acordo com a tabela de cada estado, aprovada pela FENEIS. Capítulo 3 Responsabilidade profissional 8º. O intérprete jamais deve encorajar pessoas surdas a buscarem decisões legais ou outras em seu favor; 9º. O intérprete deve considerar os diversos níveis da Língua Brasileira de Sinais bem como da Língua Portuguesa; 10º. Em casos legais, o intérprete deve informar à autoridade qual o nível de comunicação da pessoa envolvida, informando quando a interpretação literal não é possível e o intérprete, então terá que parafrasear de modo claro o que está sendo dito à pessoa surda e o que ela está dizendo à autoridade; 11º. O intérprete deve procurar manter a dignidade, o respeito e a pureza das línguas envolvidas. Ele também deve estar pronto para aprender e aceitar novos sinais, se isso for necessário para o entendimento; 12º. O intérprete deve esforçar-se para reconhecer os vários tipos de assistência ao surdo e fazer o melhor para atender as suas necessidades particulares. Capítulo 4 Relações com os colegas 13º. Reconhecendo a necessidade para o seu desenvolvimento profissional, o intérprete deve agrupar-se com colegas profissionais com o propósito de dividir novos 28 Tradução e Interpretação da Língua Brasileira de Sinais Universidade Santa Cecília - Educação a Distância conhecimentos de vida e desenvolver suas capacidades expressivas e receptivas em interpretação e tradução. Parágrafo único. O intérprete deve esclarecer o público no que diz respeito ao surdo sempre que possível, reconhecendo que muitos equívocos (má informação) têm surgido devido à falta de conhecimento do público sobre a área da surdez e a comunicação com o surdo. LACERDA, Cristina Broglia Feitosa de. Intérprete de Libras: em atuação na educação infantil e no ensino fundamental. 9ª ed. Porto Alegre: Mediação, 2019. QUADROS, Ronice Muller de. O tradutor e intérprete de língua de sinais e língua portuguesa. Brasília: MEC/SEESP, 2004. ROSA, Andrea da Silva. Entre a visibilidade da tradução da língua de sinais e a invisibilidade da tarefa do intérprete. 2005. Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2005. 29 Tradução e Interpretação da Língua Brasileira de Sinais Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 5. INTÉRPRETES DE LIBRAS E ÁREAS DE ATUAÇÃO Objetivo: Reconhecer as diferentes atuações dos intérpretes de Libras. Introdução: Nessa aula vamos conhecer algumas áreas onde o intérprete de Libras pode atuar. Engana-se quem pensa que o intérprete de Libras atua apenas no âmbito educacional. Atualmente a TV Cultura ampliou a acessibilidade em Libras em sua programação, o que é um ganho imenso para a comunidade surda. Podemos encontrar intérpretes de Libras em teatros, eventos musicais, passeios guiados, em audiências públicas, em muitos espaços. Vamos agora conhecer algumas dessas atuações. 5.2. Áreas de atuação do ILS Na nossa terceira aula tivemos contato com a Lei Federal 12.319 que, em seu artigo 6º, trata das atribuições do TILS (p. 18). Com tais atribuições publicadas, podemos compreender que não basta ser fluência na língua de sinais para poder atuar como intérprete de Libras. Outro ponto importante a ser considerado também é relacionado à formação, o que também já discutimos na aula 4. Possuir a formação exigida na legislação também não é o suficiente. Há a necessidade de fazer parte da comunidade surda e, junto com ela, conhecer a cultura surda para assim, então, se tornar um bom intérprete de Libras. Para realizar um trabalho de qualidade, o intérprete deve ter um conhecimento básico na área que ele optar por se aprofundar, para, dessa forma, ter compreensão dos sinais específicos da área escolhida. Por exemplo, a área jurídica possui termos muito específicos e que exigem sinais específicos também. Infelizmente, a atuação dos ILS é encarada, por boa parte da sociedade, como uma atividade caritativa e assistencial, não como uma profissão que necessita de suporte teórico e que compartilha, com os tradutores e intérpretes de línguas vocais, de muitos aspectos em comum. (PEREIRA, 2008, p.136) 30 Tradução e Interpretação da Língua Brasileira de Sinais Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Fonte: https://blog.signumweb.com.br/curiosidades/a-importancia-do-tradutor-de-libras/Como bem mencionado por Pereira (2008) ainda existe uma confusão relacionada a atuação do intérprete de Libras, uma vez que ainda se vincula muito com a caridade. Muitas pessoas ainda caem no erro de associar o trabalho do ILS com trabalho voluntário e desconhecem toda a formação e empenho desses profissionais. No texto de Pereira (2008), também encontramos algumas categorias diferenciadas na atuação do ILS. Aqui segue o trecho do texto (p. 142 – 144): • Interpretação relé (relais/relay): existe entre línguas vocais, mas é distintiva no caso em que, por exemplo, uma palestra em Inglês seja interpretada diretamente para a Libras e só então para a língua portuguesa. Neste caso o ILS é o intérprete relé. • Intérprete tátil: chamado, no Brasil, de guia-intérprete para pessoas surdo cegas que utilizam a língua de sinais tátil. Se o mediador estiver utilizando outras técnicas para surdo cegos como, por exemplo, desenhar na palma da mão as letras do alfabeto latino ou tocar nas falanges de acordo com o sistema Braille, então não se trata de uma interpretação interlíngue, mas sim de uma transliteração. • Intérprete surdo: uma pessoa surda pode atuar normalmente como intérprete entre duas línguas de sinais. No caso em que uma pessoa surda não é falante competente da Libras e um ILS não consegue estabelecer um entendimento com ela, pode ser chamada outra pessoa surda que por meio gestual consiga uma https://blog.signumweb.com.br/curiosidades/a-importancia-do-tradutor-de-libras/ 31 Tradução e Interpretação da Língua Brasileira de Sinais Universidade Santa Cecília - Educação a Distância comunicação primária, mas satisfatória e não se trata de uma interpretação interlíngue e sim de uma comunicação gestual ou mímica. • Comunicador pidgin: nesta categoria está o uso do português sinalizado em que o léxico da língua de sinais é encaixado na estrutura da língua vocal, gerando, inclusive, a criação de sinais artificiais para suprir a equivalência literal entre as duas línguas. • Espelhamento: quando um intérprete, ao invés de interpretar, copia a sinalização de outro intérprete. Este é o caso em que, por motivos de localização no espaço, a plateia surda tem que se posicionar em diversos locais onde não seja possível a visualização de somente um intérprete. • Duplicador ou Replicador vocal: é chamada assim a pessoa que duplica a fala vocal de outra pessoa para deficientes auditivos que não se sentem proficientes ou confortáveis com a língua de sinais. Não é uma interpretação interlíngue, pois o duplicador posiciona-se de frente para a pessoa deficiente auditiva e, literalmente, reproduz, na mesma língua, tudo o que ouve, com uma articulação cuidadosa. Vimos até o momento as maneiras que um ILS pode realizar a sua interpretação. A escolha de qual das opções citadas acima o intérprete irá realizar irá depender do tipo de interpretação que será feita (se será uma palestra, uma peça de teatro, um concerto musical, entre outros) e do que o solicitante espera da interpretação. A partir de agora veremos alguns exemplos de áreas específicas onde o ILS pode atuar. Utilizamos como referência dois materiais apresentados em Congresso e um Artigo. 5.2.1. Intérprete da área jurídica (...)nas audiências jurídicas, é possível ao surdo, na condição de réu ou vítima, expor a sua versão dos fatos. E responder com maior clareza as perguntas que lhe são dirigidas pelas autoridades. A presença do ILS no judiciário é bem recente, e normalmente o juiz, quando está diante desse profissional, se refere normalmente a ele, não se dirigindo nem ao surdo e tampouco ao advogado, quer o surdo seja a vítima, quer seja réu – prática incomum, em se tratando de audiência com ouvintes, mesmo quando estes são estrangeiros. (ROSA, 2008, p.153) O direito linguístico assegurado ao surdo é bastante recente. Os surdos ainda lutam pela acessibilidade linguística e pelos seus direitos garantidos. O ponto positivo dessas 32 Tradução e Interpretação da Língua Brasileira de Sinais Universidade Santa Cecília - Educação a Distância lutas é que estamos contando com um aumento de contratação de intérpretes de Libras os tribunais de justiça pelos estados do Brasil. 5.2.2. Intérprete religioso Esse, muitas vezes, é o primeiro interlocutor na vida de uma pessoa surda. Existem muitos relatos que tratam do relacionamento dos surdos, dentro esse espaço, apenas com o intérprete, sem terem contato com outras pessoas do espaço religioso e tampouco com o líder religioso do local. Entre a enorme diversidade de instituições religiosas que se ocupam dos surdos, nos parece que quatro possuem um papel histórico de indubitável destaque; quais sejam, a Igreja Católica, a Igreja Evangélica Luterana do Brasil, a Testemunha de Jeová e a Igreja Batista” (ASSIS SILVA, 2006, p.47) Segundo o mesmo autor, a profissão de intérprete de Libras teve início nas igrejas, uma vez que esse era o local onde as pessoas com deficiência, em especial os surdos, eram acolhidos e incluídos. 5.2.3. Intérprete de música A música transmite sensações, emoções, subjetivas a cada ser humano. Portanto, tais sentimentos são vividos no ato interpretativo pelo TILS que, ouve, sente e posteriormente interpreta/traduz para a pessoa surda. (SOUZA e OLIVEIRA, 2012, p.5) Os autores nos revelam que o intérprete de Libras, no momento de interpretar uma música, não pode ser completamente imparcial e também não deve fazer a tradução literal daquilo que a canção está transmitindo. O profissional necessita fazer um uso maior do seu corpo e até mesmo da sua história para realizar a interpretação musical de forma positiva. Sugestão de vídeo: Bohemian Rhapsody with Two Interpreters https://youtu.be/bij__OJMJbg https://youtu.be/bij__OJMJbg 33 Tradução e Interpretação da Língua Brasileira de Sinais Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 5.2.4. Intérprete de poesia Durante o processo de tradução é impossível não questionar a respeito da complexidade das línguas sejam elas produzidas em qualquer modalidade, porém, mais complexa ainda, é encontrar uma aproximação entre elas, ou seja, a tão desejada “equivalência” linguística. É relevante considerar, também, que durante a realização desse processo fica perceptível à dificuldade de “fidelidade” e “invisibilidade” do tradutor. O mesmo está sempre presente e muito visível em cada palavra escolhida, em cada ato efetivado e sacramentado com a tradução. Ao refletir e questionar a respeito das possibilidades, perdas e ganhos ao traduzir poesias não é difícil afirmar que sempre iremos perder! E isto independe das línguas envolvidas no processo” (NICOLOSO, 2010, P.330) O processo de tradução, muitas vezes, causa perdas aos sujeitos da língua alvo. Algumas palavras podem ficar sem interpretação. Um suspiro dado após se dizer alguma palavra pode ser perdido no momento da interpretação, seja ela para a língua que for, e o suspiro perdido pode causar risos ou lágrimas na plateia que não precisa da interpretação e os sujeitos que estão perdendo esse detalhe podem ficar sem entender ou esperar que o intérprete explique. E como fazer na poesia? Para a interpretação de poesias o intérprete, tal qual o intérprete musical, deve usar muito do seu corpo e muitos classificadores também. Sugestão de vídeo: Slam do Corpo no Manos e Minas – Empatia https://youtu.be/jP3Qt67Ua2o Hoje nós vimos uma pequena parte dos segmentos de atuação que o ILS pode agir. Nas aulas seguintes trataremos especificamente dos intérpretes educacionais. Até lá! Observamos que os intérpretes de línguas de sinais podem, e devem, atuar em todos os segmentos. Para tanto, os ILS precisam ter familiaridade com termos específicos usados em cada segmento, para no momento da interpretação saber usar corretamente o sinalcorrespondente daquele termo específico. Vimos também que algumas áreas de atuação necessitam de um maior movimento de corpo para se fazer uma boa interpretação, no caso da música e poesia. https://youtu.be/jP3Qt67Ua2o 34 Tradução e Interpretação da Língua Brasileira de Sinais Universidade Santa Cecília - Educação a Distância ASSIS SILVA, César Augusto. Da missão à profissão: produzindo novas experiências da surdez. In: ENCONTRO DE PROFISSIONAIS TRADUTORES/ INTÉRPRETES DE LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS DO MATO GROSSO DO SUL. Anais. Campo Grande. APILMS, 2006, v.1, p. 46-56. NICOLOSO, Silvana. Traduzindo poesia em língua de sinais: Uma experiência fascinante de verter gestos em palavras. In: QUADROS, Ronice Muller de. (Org.). Tradução e interpretação de língua de sinais. Universidade Federal de Santa Catarina: Cadernos de Tradução, v. 2, n. 26, 2010, p. 307-332. PEREIRA, Maria Cristina. Interpretação interlíngue: as especificidades da interpretação de línguas de sinais. In: QUADROS, Ronice Muller de. (Org.). Tradução e interpretação de língua de sinais. Universidade Federal de Santa Catarina: Cadernos de Tradução, v.1, n.21, 2008 , p. 135-156. ROSA, Andréa Silva. Entre a Visibilidade da Tradução da Língua de Sinais e a invisibilidade da Tarefa do Intérprete. Petrópolis: Arara Azul, 2008. SOUZA, Marcelo Wagner Lima e; OLIVEIRA, Sonia Marta de. Interpretações musicais em língua de sinais: entre o real, o possível e o idealizado. In: CONGRESSO TILS. Anais. Minas Gerais, 2012. Site: http://professor.pucgoias.edu.br/SiteDocente/admin/arquivosUpload/17962 /material/%C3%81reas%20de%20atua%C3%A7%C3%A3o%20- %20Int%C3%A9rprete.pdf. Acesso em 20/12/2020. http://professor.pucgoias.edu.br/SiteDocente/admin/arquivosUpload/17962/material/%C3%81reas%20de%20atua%C3%A7%C3%A3o%20-%20Int%C3%A9rprete.pdf http://professor.pucgoias.edu.br/SiteDocente/admin/arquivosUpload/17962/material/%C3%81reas%20de%20atua%C3%A7%C3%A3o%20-%20Int%C3%A9rprete.pdf http://professor.pucgoias.edu.br/SiteDocente/admin/arquivosUpload/17962/material/%C3%81reas%20de%20atua%C3%A7%C3%A3o%20-%20Int%C3%A9rprete.pdf http://professor.pucgoias.edu.br/SiteDocente/admin/arquivosUpload/17962/material/%C3%81reas%20de%20atua%C3%A7%C3%A3o%20-%20Int%C3%A9rprete.pdf 35 Tradução e Interpretação da Língua Brasileira de Sinais Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 6. INTÉRPRETE EDUCACIONAL Objetivo: Compreender a função do intérprete de Libras na educação. Introdução: O intérprete educacional (IE) intermedia as relações entre professor e estudante, dentro dos espaços educativos. Segundo Lacerda (2019), o termo ‘intérprete educacional’, em muitos países como Canadá, EUA, Austrália, é utilizado para diferenciá-lo dos demais intérpretes. Com o movimento da inclusão, muitas crianças surdas foram inseridas nas escolas de ouvintes e a procura por IEs aumentou bastante, no entanto, na formação recebida pelos intérpretes, pouco se fala sobre a atuação em sala de aula. 6.2. Escolas e intérpretes Segundo Quadros (2004), o intérprete educacional faz parte da área da interpretação mais procurada tanto aqui no Brasil como em outros países. A autora afirma ainda que “o intérprete educacional é aquele que atua como profissional intérprete de língua de sinais na educação” (p.59). No Brasil os familiares de crianças surdas têm a possibilidade de matricular seus filhos nas seguintes escolas: • Escolas Bilíngues para Surdos; • Escolas de ouvintes com classes bilíngues para surdos e • Escolas de ouvintes (tendo como o pressuposto que TODAS as escolas são inclusivas). Vamos compreender o que diferencia cada uma dessas escolas. 36 Tradução e Interpretação da Língua Brasileira de Sinais Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Escolas Bilíngues para Surdos Escolas de ouvintes com classes bilíngues para surdos Escolas de ouvintes • Escolas onde somente estudantes surdos podem ser matriculados. • Professores bilíngues (Libras/ Português) dialogam com os estudantes em língua de sinais. • Escolas onde surdos e ouvintes podem ser matriculados, mas os estudantes surdos são matriculados em salas exclusiva para eles. • Nas classes bilíngues atuam professores bilíngues (Libras/ Português) • Escolas onde estudantes surdos e ouvintes são matriculados nas mesmas classes. • Professores ouvintes dialogam com os estudantes em língua oral e o intérprete educacional faz a interpretação para Libras. Elaboração própria Após a leitura desta tabela, compreendemos que, dentre as três opções de escolas que os estudantes surdos podem ser matriculados, os intérpretes educacionais estão presentes apenas nas escolas de ouvintes, onde os estudantes surdos encontram-se incluídos. Nas escolas bilíngues para surdos e nas classes bilíngues, toda a rotina educacional acontece em língua de sinais, sem a necessidade da presença de um intermediário nas relações surdo-surdo e surdo-ouvinte. Já nas escolas de ouvintes, a língua majoritária é a língua portuguesa oral, o que se faz necessária a presença do intérprete educacional para mediar as relações surdo-ouvinte. Quadros (2004) revela que “o intérprete especialista para atuar na área da educação deverá ter um perfil para intermediar as relações entre os professores e os alunos, bem como, entre os colegas surdos e os colegas ouvintes” (p.60). A atuação do intérprete educacional (IE) algumas vezes pode ser confundida com a do professor da turma em que o estudante surdo está matriculado e, muitas vezes, essa confusão acontece com os próprios professores regentes da sala. O intérprete tem a função de interpretar a fala do professor ouvinte para a língua de sinais para os estudantes surdos. A função de passar os assuntos de cada disciplina é do professor regente da turma e muitas vezes essa confusão acontece até por parte do próprio estudante. 37 Tradução e Interpretação da Língua Brasileira de Sinais Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Não se trata de ocupar o lugar do professor ou de ter a tarefa de ensinar, mas sua atuação em sala de aula, que envolve tarefas educativas, certamente o levará a práticas diferenciadas, já que o objetivo nesse espaço é não apenas o de traduzir, mas também o de favorecer a aprendizagem por parte do aluno surdo. (LACERDA, 2019, p.37) O papel de construção de conhecimentos dos estudantes, sejam eles surdos ou não, é do professor regente da sala, no entanto o IE é o responsável por intermediar as relações entre professor X estudante surdo e estudante surdo X estudante ouvinte em todo o processo de ensino e aprendizagem. A educação de estudantes surdos em escolas de ouvintes prevê uma barreira comunicacional (língua portuguesa oral x língua de sinais) que pode ser eliminada com a presença do IE. Contudo, o intérprete tem o dever de estar atento a todas as ações e falas dos professores e também do estudante surdo, para assim poder ser o facilitador das aprendizagens desse estudante. Lacerda disserta que “muitas vezes, é a informação do IE sobre as dificuldades ou facilidades dos alunos surdos no processo de ensino e aprendizagem que norteia uma ação pedagógica mais adequada dos professores” (p.37), ou seja, a barreira linguística entre professores e estudantes surdos impedem que esse professor perceba em quais assuntos ou quais momentos intervenções mais específicas serão necessárias. Com isso, notamos que o IE e o professor regente devem trabalhar em parceria. O professor, como mencionado anteriormente, é o responsável por planejar as aulas, decidir quais assuntos serão discutidos com a turma, enquanto o IE, que conhece de maneira próxima os estudantes surdos, pode sugerir ao professor algumas atividades acessíveis a todos os estudantes da turma, inclusiveos estudantes surdos. (...) a presença de um ILS (Intérprete de Língua de Sinais) não garante que questões metodológicas sejam consideradas, e também não existe garantia de que o espaço socioeducacional, em um sentido mais geral, seja adequado, pois a criança surda poderá permanecer às margens da vida escolar, usando uma língua restrita à sua relação com o IE. (LACERDA, 2019, p.38) Para que essa articulação entre professor e IE aconteça é importante que o intérprete seja bem acolhido por todo o corpo docente da escola e que fique claro o papel de cada um dentro da rotina educacional. Os papéis de cada interlocutor devem sempre ser relembrado aos estudantes, uma vez que as salas de aula são muito dinâmicas e acaba envolvendo, inclusive, as solicitações dos próprios estudantes. 38 Tradução e Interpretação da Língua Brasileira de Sinais Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Um aspecto fundamental a ser considerado na atuação do IE em sala de aula é o seu nível educacional. O profissional precisa ter conhecimentos específicos para que sua interpretação seja compatível com o grau de exigência e possibilidades dos alunos que está atendendo. Atuar na educação infantil, no ensino fundamental, médio e/ou superior requer modos de interpretação, intervenção e conhecimentos bastante distintos. (LACERDA, 2019, p.39) É relevante retomarmos ao assunto referente à formação do intérprete, mais especificamente do IE. Como dito no começo deste texto, existe uma grande procura por profissionais intérpretes que atuem na área educacional e, por vezes, com a falta de profissionais formados, alguns intérpretes em formação são contratados para atuarem como IE, apenas porque essas pessoas possuem fluência na língua de sinais. Santos e Gurgel (2010) esclarecem que “o fato de uma pessoa ser fluente em uma língua não o capacita consequentemente como um bom professor” (p.54). Fonte: http://leandrobatistarp.blogspot.com/2015/03/moura-lacerda-oferece-pos-graduacao-em.html Vamos compreender a diferença entre fluência e proficiência em uma língua: FLUÊNCIA: Falar e compreender a fala sem quebras, além da capacidade de participar de negociações do idioma utilizando o próprio idioma, sem se depender de outras línguas. (https://www.uptime.com.br/blog/falar-ingles-fluente-entenda-como- funciona) PROFICIÊNCIA: Proficiência é a demonstração de um conhecimento, competência e capacidade. Proficiência é um adjetivo para qualificar a pessoa que tem um total https://www.uptime.com.br/blog/falar-ingles-fluente-entenda-como-funciona https://www.uptime.com.br/blog/falar-ingles-fluente-entenda-como-funciona 39 Tradução e Interpretação da Língua Brasileira de Sinais Universidade Santa Cecília - Educação a Distância conhecimento sobre determinado assunto, que executa tudo com muita proficuidade, habilidade e competência. (https://www.significados.com.br/proficiencia/) Assim, para atuar em uma escola como IE, não pode ser selecionada uma pessoa que acabou de concluir o módulo intermediário de um curso livre de Libras. Finalizaremos esta aula com uma citação de Girke: O intérprete educacional é peça chave para a inclusão de crianças surdas matriculadas em escolas de ouvintes. O IE não é o responsável por definir temas e estratégias daquilo que será proposto ao estudante surdo, pois esse é o papel do professor regente da turma. O intérprete educacional atua como mediador entre professor e estudante surdo e entre o estudante surdo e os estudantes ouvintes. Para ser um IE de talento, o profissional deve se dedicar a uma boa formação na área escolhida. “Conforme o Código de ética, descrito por Quadros (2007, p. 32), e o Código de conduta ética da FEBRAPILS (2014), o tradutor intérprete precisa possuir um comportamento de imparcialidade e confiabilidade, para que seu trabalho seja exercido de maneira ética. O intérprete não deve manifestar suas opiniões pessoais sobre o assunto explicado pelo professor, não deve, também, fazer interrupções de cunho pessoal. Ele está presente ali para mediar a comunicação do professor com a turma e, quando for necessário, fazer a mediação do aluno com o professor, traduzindo as dúvidas que ele venha a ter. A relação entre professor- intérprete-aluno deve ser de confiança, pois todos estão ali para alcançar um mesmo objetivo.” (GIRKE, 2018, p.28) https://www.significados.com.br/proficiencia/ 40 Tradução e Interpretação da Língua Brasileira de Sinais Universidade Santa Cecília - Educação a Distância QUADROS, Ronice Muller de. O tradutor e intérprete de língua de sinais e língua portuguesa. Brasília: MEC/SEESP, 2004. GIRKE, César Augusto. Atuação e papéis do intérprete educacional de Língua de Sinais. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em Letras Libras). Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2018. LACERDA, Cristina Broglia Feitosa de. Intérprete de Libras: em atuação na educação infantil e no ensino fundamental. 9ª ed. Porto Alegre: Mediação, 2019. SANTOS, Lara Ferreira dos; GURGEL, Taís Margutti do Amaral. O instrutor surdo em uma escola inclusiva bilíngue. In: LACERDA, C. B. F; LODI, A.C.B. (orgs). Uma escola, duas línguas: Letramento em Língua Portuguesa e Língua de Sinais nas etapas iniciais de escolarização. 2.ed. Porto Alegre: Mediação, 2010. p.51-64. 41 Tradução e Interpretação da Língua Brasileira de Sinais Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 7. INTÉRPRETES NA EDUCAÇÃO INFANTIL Objetivo: Compreender a função do intérprete de Libras na educação infantil. Introdução: A etapa da Educação Infantil se tornou parte da educação básica em 1998 na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Tal etapa atende crianças de 0 a 5 anos, sendo que as crianças de 0 a 3 anos são atendidas nas creches e as crianças de 4 e 5 anos atendidas nas escolas de educação infantil (pré-escolas), sendo apenas obrigatória a matrícula desta última faixa etária mencionada. A Educação Infantil é uma etapa da educação onde se prima pelas aprendizagens através de interações, vivências, através do lúdico, assim o bebê e a criança se desenvolvem de uma forma integral. Fonte: http://www.pmf.sc.gov.br/arquivos/arquivos/pdf/15_02_2013_8.32.31.57063419ff65c6d21684fd0daa7a4fb9.pdf 42 Tradução e Interpretação da Língua Brasileira de Sinais Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 7.2. ILS e a primeira infância Iniciaremos essa aula relembrando um dos artigos da Lei Federal nº 12.319/2010: O artigo apontado acima não prevê a atuação de intérprete de Libras na educação infantil. Possivelmente isso tenha acontecido não por um equívoco e sim porque se sabe que a imensa maioria dos bebês e crianças surdas cheguem às unidades escolares sem uma língua construída, seja ela a língua oral ou língua de sinais. Sendo assim, o intérprete de Libras não desenvolverá o seu trabalho de interpretação, uma vez que a língua alvo não chegará ao destinatário. Segundo Lane (1992), Goldfeld (1997), Freeman, Carbin e Boese (1999), Quadros (2005), Silva, Pereira e Zanoli (2007) e Fernandes e Moreira (2014), mais de 95% dos surdos são filhos de pais ouvintes, o que torna difícil a construção de uma língua (oral ou sinalizada). Art. 6º São atribuições do tradutor e intérprete, no exercício de suas competências: I - efetuar comunicação entre surdos e ouvintes, surdos e surdos, surdos e surdos-cegos, surdos-cegos e ouvintes, por meio da Libras para a língua oral e vice-versa; II - interpretar, em Língua Brasileira de Sinais - Língua Portuguesa, as atividades didático-pedagógicas e culturais desenvolvidas nas instituições de ensino nos níveis fundamental, médioe superior, de forma a viabilizar o acesso aos conteúdos curriculares; III - atuar nos processos seletivos para cursos na instituição de ensino e nos concursos públicos; IV - atuar no apoio à acessibilidade aos serviços e às atividades-fim das instituições de ensino e repartições públicas; e V - prestar seus serviços em depoimentos em juízo, em órgãos administrativos ou policiais. 43 Tradução e Interpretação da Língua Brasileira de Sinais Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Portanto, a imensa maioria das crianças surdas tem o primeiro contato com a língua de sinais quando encontra um adulto sinalizante na escola e, a partir daí, inicia a construção de uma língua. No entanto, algumas instituições de ensino apostam na contratação desse profissional para atuar nas escolas de educação infantil junto às crianças surdas, principalmente àquelas que são filhas de pais surdos ou que já tiveram contato com a língua de sinais no período que antecedeu a sua inserção na escola. Como mencionado no início do nosso texto, a educação infantil é repleta de vivências lúdicas voltadas à construção de aprendizagens através das relações e interações entre os bebês e as crianças. Uma das atividades que é mais proporcionada para as crianças deste segmento da educação é a contação de histórias. E como contar histórias para crianças surdas? Este é um dos momentos onde professor e intérprete precisam planejar e se organizar com antecedência para que as crianças, surdas e ouvintes, possam compreender a história. Pode-se fazer uso de alegorias para representar a história ou fazer uso de imagens que representem a história, enquanto o professor conta a história na língua oral e o intérprete na língua de sinais. Fonte: http://educacao.serra.es.gov.br/material/por-segmento/52079f5977eb9a66eb9cee795d09247335d9384b Veja a história do Sítio do Pica-Pau Amarelo com janela em Libras: https://youtu.be/MwPEpZeeJ04 https://youtu.be/MwPEpZeeJ04 44 Tradução e Interpretação da Língua Brasileira de Sinais Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Algo muito importante em ser pensado também é na importância de se contar histórias que façam parte da cultura surda e que tragam a representatividade para as crianças surdas. Falaremos um pouco sobre cultura surda e os intérpretes em nossa última aula. Abaixo estão capas de alguns livros que fazem parte a literatura surda. Vale ressaltar que se o intérprete está atuando na educação infantil ou fundamental, mais difícil torna-se a sua tarefa. As crianças mais novas têm mais dificuldades em entender que aquele que está passando a informação é apenas um intérprete, é apenas aquele que está intermediando a relação entre o professor e ela. (QUADROS, 2004, p.60) Como já apontado em nossa aula passada, o papel de planejar, organizar as atividades da turma é do professor regente da sala e não do intérprete, no entanto, as crianças pequenas podem entender que aquela pessoa que se comunica com ela é a Fonte: https://br.pinterest.com/pin/691 161874038486464/ Fonte: http://www.porsinal.pt/index.php?ps=artigos&id t=artc&cat=25&idart=521 Fonte: http://www.porsinal.pt/index.php?ps=artigos&id t=artc&cat=25&idart=521 Fonte: https://www.abeu.org.br/farol/abeu/catalogo- unificado/item/editora-da-ulbra/o-feijaozinho- surdo/9683/ 45 Tradução e Interpretação da Língua Brasileira de Sinais Universidade Santa Cecília - Educação a Distância responsável por ela em sala, quando na verdade o ILS é apenas o mediador das relações entre ouvintes e crianças surdas. Nessa fase da idade e neste ambiente, o principal objetivo do TILS não se resume apenas à interpretação do conteúdo e sim na inclusão do aluno surdo no ambiente, aos conceitos ali explicados e ao conhecimento de mundo que muitas vezes este aluno não traz de casa (ALBRES, 2015). No ensino médio, o intérprete trabalha com um público mais maduro e o foco principal é a independência e autonomia do aluno surdo. (GIRKE, 2018, p.31) Como o autor bem reforça, a atuação do ILS perpassa à interpretação, uma vez que ele é o responsável pela inclusão das crianças surdas e deve ser atento para que as relações das crianças surdas não fiquem restritas ao ILS e crianças surdas. Qual é o lugar que o ILS deve ocupar na sala? “Conversar (ILS e professora) sobre as práticas, negociar buscando facilitar o trabalho e encontrar a melhor forma para a aprendizagem das crianças é necessário ao bom funcionamento de espaços escolares que recebem a presença de ILS. Esse aspecto é ainda mais complexo quando se trata da educação infantil, já que as crianças estão em constante movimento, em permanente desenvolvimento, e requerem atividades lúdicas e diversificadas adequadas à sua faixa etária. (LACERDA, 2019, p.57) É papel do ILS ensinar a língua de sinais para as crianças surdas? Não! Como já mencionado anteriormente, a grande maioria das crianças surdas são filhas de pais ouvintes e iniciam na escola sem uma língua constituída. Quem vai ser o modelo linguístico para a criança surda será o educador surdo, um nativo linguístico e que também será o modelo para essa criança, trazendo para ela a identidade e cultura própria dos surdos. Estudos (TARTUCI, 2015; PERLIN, 2016; KRAEMER, 2012; SANTANA, BERGAMO, 2005, entre outros) mostram que para que a criança surda construa a sua identidade surda e participe da cultura surda, ela deve ter contato com adultos surdos para servirem de seus modelos linguísticos e culturais. Desse modo, o intérprete educacional não se encaixa nesse perfil. 46 Tradução e Interpretação da Língua Brasileira de Sinais Universidade Santa Cecília - Educação a Distância (...) faz-se necessário a presença de professor surdo e professor ouvinte, com funções específicas: a primeira, entre outras, terá como papel de regente da turma desenvolver o currículo em Libras, proporcionar ao aluno com surdez a aquisição da Libras e auxiliar na construção da identidade da criança com surdez, servindo como modelo; e o segundo, entre outros papéis, deverá ter domínio da Libras, desenvolver o currículo, utilizando a Libras para proporcionar o acesso e a apropriação da Língua portuguesa escrita, como segunda língua, e propiciar apoio pedagógico aos demais professores regentes quanto ao planejamento, à execução e à avaliação do processo educativo que envolva crianças surdas (TARTUCI, 2015, p. 62). Assista o vídeo: Olhar através do outro | T01 EP04 - Como conheci a Libras https://youtu.be/OqfUP66C6W0 Assim, encerramos essa aula ratificando que o ILS na Educação Infantil deve atuar junto àquelas crianças surdas que já possuam a língua de sinais construída e, caso a criança surda ainda não tenha, o papel de se relacionar com essa criança e construir a sua língua e a sua cultura é do educador surdo. GIRKE, César Augusto. Atuação e papéis do intérprete educacional de Língua de Sinais. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em Letras Libras). Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2018. LACERDA, Cristina Broglia Feitosa de. Intérprete de Libras: em atuação na educação infantil e no ensino fundamental. 9ª ed. Porto Alegre: Mediação, 2019. QUADROS, Ronice Muller de. O tradutor e intérprete de língua de sinais e língua portuguesa. Brasília: MEC/SEESP, 2004. TARTUCI, Dulcéria. A Educação Bilíngue e o acesso à Língua Brasileira de Sinais na Educação Infantil. Revista Espaço 44, Rio de Janeiro: INES, 2015, jul/dez, p. 47-66. https://youtu.be/OqfUP66C6W0 47 Tradução e Interpretação da Língua Brasileira de Sinais Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 8. INTÉRPRETES NO ENSINO FUNDAMENTAL Objetivo: Compreender a função do intérprete
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