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A Evolução do Turismo na Ilha Grande

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS
ESCOLA DE TURISMO
Processos de transformação do Turismo: o caso de Ilha Grande, RJ.
MILENA SANTANA GHIOTTO DA SILVA
RIO DE JANEIRO-RJ
2019
MILENA SANTANA GHIOTTO DA SILVA
PROCESSOS DE TRANFORMAÇÃO DO TURISMO: 
O CASO DE ILHA GRANDE, RJ.
Monografia apresentada ao curso de Licenciatura em Turismo, Coordenação de Educação à Distância, da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), como pré-requisito parcial para aquisição do grau de Licenciado em Turismo sob a orientação da professora Dra Maria Jaqueline Elicher.
[Cite sua fonte aqui.]
RIO DE JANEIRO-RJ
2019
FOLHA DE APROVAÇÃO
Ata de Defesa realizada em: ____/____/_____
BANCA EXAMINADORA:
___________________________________________________
Dra Maria Jaqueline Elicher (orientadora – UNIRIO)
_____________________________________________________
Dra Carla L. Fraga (membro avaliador – UNIRIO)
_____________________________________________________
Dra Bruna Ranção Conti (membro avaliador– UNIRIO)
AGRADECIMENTOS
Agradeço à minha mãe Cecília, mulher digna, forte e guerreira e ao meu pai João (in memoriam), homem digno, honesto e trabalhador. Se hoje sou uma pessoa justa, honesta, trabalhadora e honrada é porque tive vocês como espelho. Sem seu carinho, educação e ensinamentos, jamais teria chegado até aqui. 
Dedico esse trabalho especialmente ao meu pai “meu mala favorito” que tenho certeza que estaria comemorando orgulhoso junto comigo ao som de muitas risadas (adorava sua gargalhada). Queria que estivesse aqui nos momentos difíceis para me dizer que eu conseguiria e que estaria acabando. Foi mais difícil sem ele...
Agradeço todo o apoio que recebi dos meus irmãos Natália e Max, que sempre torceram por mim. São os melhores irmãos que alguém poderia ter…
Agradeço ao meu marido, meu companheiro, meu amor, Gerson que me deu todo o suporte para que eu conseguisse estudar e toda paciência e carinho nos meus momentos de surtos. 
Agradeço aos meus amigos de perto e de longe que com certeza torceram por mim. Em especial agradeço minha amiga/irmã Andreza que mesmo de longe sempre esteve presente com seu carinho e apoio diários.
Muito obrigada por fazerem parte da minha vida.
Amo todos vocês.
RESUMO
A Ilha Grande localiza-se na região chamada Costa Verde e pertence ao município de Angra dos Reis, localizado ao Sul do Estado do Rio de Janeiro. A Ilha atrai uma grande quantidade de turistas e aumentou consideravelmente o número de habitantes nas últimas décadas do século XX, o que viabilizou a abertura de lojas, restaurantes, pousadas, bares etc, gerando empregos para os moradores e movimentando a economia local, o que trouxe muitos benefícios, mas também inúmeros prejuízos em nível social e ambiental. Este trabalho é de cunho teórico, descritivo e analítico e tem como objetivo investigar como se deu a evolução do turismo na Ilha Grande e as principais transformações socioespaciais decorrentes. Para analisarmos o desenvolvimento do turismo será necessário contar um pouco de sua história até chegarmos ao entendimento da Ilha como possível atrativo turístico e sua evolução até os dias atuais. Para a complementação desse trabalho foi feito uma coleta de dados secundários, por meio de um levantamento bibliográfico e documental. Também foram realizadas pesquisas abertas com moradores da Ilha, cujos resultados tiveram um tratamento qualitativo. Como principais resultados foi possível constatar que....	Comment by 95133534949: Corrigir o abstract	Comment by 95133534949: completar
Palavras-chave: Ilha Grande; Turismo, Transformações socioespaciais, Impactos.	Comment by 95133534949: sugiro retirar
ABSTRACT
Paradisiacal, of nature and unique exuberance, Ilha Grande is located in the region called Costa Verde and belongs to the municipality of Angra dos Reis, located south of the state of Rio de Janeiro. The island attracts a large number of tourists and considerably increased the number of inhabitants in the last decades of the twentieth century, which enabled the opening of shops, restaurants, inns, bars, etc., creating jobs for residents and moving the local economy, which It has brought many benefits, but also numerous social and environmental damages. This paper is theoretical, descriptive and analytical and aims to investigate how the evolution of tourism in Ilha Grande occurred and its main impacts. To analyze the development of tourism it will be necessary to tell a little of its history until we reach the understanding of the island as a possible tourist attraction and its evolution to the present day. To complement this work a secondary data collection was made through a bibliographic and documentary. Open surveys were also conducted with residents of the island, whose results had a qualitative treatment.
Keywords: Ilha Grande, tourism, socio-spatial transformations, impacts.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
FIGURA 1- Mapa da Costa Verde..............................................................................21
FIGURA 2- Municípios da Costa Verde no Estado do Rio de Janeiro.... ..................22
FIGURA 3- Localização da Ilha Grande em relação ao Estado do Rio de Janeiro....23
FIGURA 4- Ilha Grande..............................................................................................24
FIGURA 5- Pavilhões da primeira e segunda classes.................................................26
FIGURA 6- Pavilhão da terceira classe.......................................................................27
FIGURA 7- Interior das ruínas do Lazareto ...............................................................28
FIGURA 8- Exterior das ruínas do Lazareto...............................................................28
FIGURA 9- Aqueduto do Lazareto.............................................................................29
FIGURA 10- Praia e Vila de Dois Rios......................................................................30
FIGURA 11- Presídio de Dois Rios em funcionamento.............................................31
FIGURA 12- Ruínas do presídio de Dois Rios...........................................................32
FIGURA 13- Abraão antiga.........................................................................................33 
FIGURA 14- Enseada e Vila do Abraão.....................................................................34
FIGURA 15- Vila do Abraão......................................................................................34
FIGURA 16- Como Chegar........................................................................................36
FIGURA 17- Enseada do Abraão...............................................................................37
FIGURA 18- Porto do Abraão....................................................................................40
FIGURA 19- Praia do Abraão.....................................................................................41
FIGURA 20- Lixo na entrada do Abraão na alta temporada.......................................42
FIGURA 21- Zoneamento do PEIG............................................................................47
LISTA DE SIGLAS
ALERJ- Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro
CIT- Centro de Informações Turísticas
CNTUR- Conselho Nacional de Turismo
COMAM- Conselho Municipal de Angra dos Reis
CONAM- Confederação Nacional das Associações de Moradores
COMBRATUR- Comissão Brasileira de Turismo
EMBRATUR- Empresa Brasileira de Turismo
INEA- Instituto Estadual do Ambiente
INEPAC- Instituto Estadual do Patrimônio Cultural
IPCM- Instituto Penal Cândido Mendes 
OMT- Organização Mundial do Turismo
PEIG- Parque Estadual Ilha Grande
PMA- Parque Marinho do Aventureiro
RBEPS- Reserva Biológica Estadual da Praia do Sul
RSD- Reserva de Desenvolvimento Sustentável
TURISANGRA- Fundação de Turismo de Angra
UERJ- Universidade do Estado do Rio de Janeiro
UNIBERO- Centro UniversitárioIbero Americano
UNESCO- Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura
USP- Universidade de São Paulo
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO......................................................................................................................10
CAPÍTULO I- O TURISMO NO CONTEXTO SOCIOECONÔMICO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO..........................................................................................................12
1.1- O Turismo como fenômeno social e atividade econômica.............................................. 12
1.2 – O Turismo no Rio de Janeiro...........................................................................................16
1.3 – Expansão da Urbanização no Rio de Janeiro e o processo de ocupação da Costa Verde pelo Turismo.............................................................................................................................20
CAPÍTULO II - O TURISMO NA ILHA GRANDE ........................................................23
2.1- Aspectos Históricos..........................................................................................................24
2.2 - O Turismo em seus primórdios na Ilha Grande...............................................................32
CAPÍTULO III - O TURISMO NA ILHA GRANDE: CONTRADIÇÕES E PERSPECTIVAS..................................................................................................................36
3.1 - Impactos socioespaciais provocados pelo Turismo na Ilha Grande e a visão da comunidade.............................................................................................................................40	Comment by 95133534949: troquei para socioespaciais – trocar La no capitulo
3.2 - Medidas para proteção dos recursos naturais.................................................................46
CONSIDERAÇÕES FINAIS..............................................................................................48
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...............................................................................49 
INTRODUÇÃO
A Ilha Grande é a maior ilha do Estado do Rio de Janeiro e a sexta maior do Brasil. Fica localizada ao Sul do Estado e pertence ao Município de Angra dos Reis. De natureza singular, possui 113 praias de variados tamanhos e características diversas. São mais de 193km² de mata Atlântica mesclada com o intenso verde e azul do mar, rios, lagos, cachoeiras e mangues. Está separada do continente por uma baía de mesmo nome. O acesso à ilha só é possível pelo mar ou pelo ar (somente helicóptero, pois no local não possui aeroporto).
O presente trabalho analisa a evolução do turismo na referida ilha objetivando identificar os benefícios e prejuízos vindos com esse desenvolvimento, principalmente pela percepção do nativo, que descreveu a complexidade dessa evolução com a propriedade de quem participou e participa do evento.
Estas informações poderão ser utilizadas na elaboração de outras pesquisas e na construção de projetos que objetivem conhecer ou caracterizar a ilha, ou propor medidas de transformação da realidade local, oferecendo subsídios para a prática de um turismo de qualidade e responsável, respeitando os limites sociais e da natureza. 
O principal objetivo desse trabalho foi o investigar como se deu a evolução do turismo na Ilha Grande e os impactos em nível, social, econômico e ambiental causados por essa evolução. Como objetivos secundários, tivemos: a) investigar a evolução do turismo na Ilha pela perspectiva do nativo; b) identificar propostas de controle de acesso e de capacidade de carga para o turismo na Ilha; c) levantar as políticas públicas voltadas para a preservação da Ilha.	Comment by 95133534949: colocar o mesmo objetivo no resumo
A seguir apresentamos os diversos métodos disponíveis para a realização da pesquisa efetuada neste trabalho e quais foram as ferramentas utilizadas para sua execução. 
A escolha de um método é parte essencial para a elaboração de uma pesquisa. Como define Köche (1997), o método é a descrição de passos gerais empregados na investigação científica. Nesta pesquisa foi utilizada uma abordagem qualitativa, de acordo com reflexões de LUDKE e ANDRÉ (1986). Segundo os dois autores, esse tipo de pesquisa supõe o contato direto e prolongado do pesquisador com o ambiente e a situação que está sendo investigada, através do trabalho intensivo de campo. 
A pesquisa qualitativa costuma ser direcionada, ao longo do seu desenvolvimento; além disso, não busca enumerar ou mensurar eventos e, geralmente, não emprega ferramentas estatísticas para a análise de dados; seu foco de interesse é amplo e parte de uma perspectiva diferenciada da adotada pelos métodos quantitativos. Dela faz parte a obtenção de dados descritivos mediante a contato direto e interativo do pesquisador com a situação objeto de estudo (NEVES, 1996). 
Nesta pesquisa a abordagem qualitativa foi feita através de coleta de dados primários (representada por entrevistas) e secundários (por meio de levantamento bibliográfico). As entrevistas foram feitas individualmente, de forma semiestruturada, realizadas com moradores residentes na ilha por tempo superior há quarenta anos, capazes de fornecer informações acerca do desenvolvimento do turismo na localidade. Durante o período de seis de abril a onze de maio de 2019 foram realizadas trinta entrevistas. Essas entrevistas foram realizadas pessoalmente com um roteiro semiestruturado, sempre evitando influenciar o entrevistado a fornecer qualquer informação. Foram feitas gravações em áudio, as quais foram autorizadas por cada entrevistado. As entrevistas estão armazenadas em arquivos de áudio e foram realizadas transcrições parciais, a partir da identificação dos trechos mais significativos para a pesquisa. Os entrevistados concordaram em colaborar para a elaboração deste trabalho, porém, optei por preservar a identidade deles, utilizando letras representando seus nomes no decorrer do trabalho. 
Com relação às pesquisas, é freqüente a classificação com base em seus objetivos gerais. Desta forma, é possível classificar as pesquisas em três grandes grupos: exploratórias, descritivas e explicativas (GIL, 2002). Nesse caso, foi executada uma pesquisa descritiva. A pesquisa descritiva visa a descrição do objeto por meio da observação e do levantamento de dados ou ainda pela pesquisa bibliográfica e documental (BARROS; LEHFELD, 2004).
Assim, este trabalho está organizado em três capítulos: No primeiro capítulo foi abordado o “Turismo no contexto socioeconômico do Estado do Rio de janeiro” onde, inicialmente, discutimos o significado do turismo e suas diversas definições e, em seguida, estudamos os efeitos socioeconômicos do turismo no Estado do Rio de janeiro desde o início, no século XIX até os dias atuais e, também, como se deu o surgimento do turismo na região da Costa Verde. No segundo capítulo temos como tema “Turismo na Ilha Grande”, no qual analisamos como se deu a evolução do Turismo na Ilha, mencionando o surgimento dos primeiros habitantes, o início do turismo e principais questões históricas que antecederam o seu desenvolvimento na localidade. E no terceiro capítulo, com o tema “O turismo na Ilha Grande: Contradições e perspectivas” foram apresentados os principais atrativos turísticos, investigados os impactos socioambientais provocados pelo turismo e a visão do morador. Averiguamos medidas protetivas para os recursos naturais da Ilha Grande. 
CAPÍTULO I - O TURISMO NO CONTEXTO SOCIOECONÔMICO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
 O turismo é atualmente uma das atividades de maior desenvolvimento no Brasil e tem se estabelecido por seu grande impacto socioeconômico.
 Com incontáveis atrativos naturais e culturais, o Estado do Rio de Janeiro tem grande perspectiva de expansão dessa atividade. Mas há necessidade de desenvolvimento e de melhoria na infraestrutura de alguns municípios, além da promoção dos locais com potencial turístico e proteção aos seus recursos naturais. Para isso, precisamosentender o que é de fato esse fenômeno socioeconômico.
 
1.1 - O Turismo como fenômeno social e atividade econômica 
A origem da palavra turismo vem do vocábulo “tour” que é de origem francesa e significa “volta” (BARRETO, 1995, p. 17). Mas outra afirmação diz: “a matriz do radical “tour” é do latim, através do seu substantivo “tourns”, do verbo “tornare”, cujo significado é “giro, volta, viagem ou movimento de sair e retornar ao local de partida” (ANDRADE, 1992 p. 12). 
O fenômeno Turismo é ainda muito complexo, por esse motivo não existe somente uma definição de turismo. Muitos autores chegam a considerar a extrema dificuldade para uma definição precisa e abrangente de turismo, levando em conta que o fenômeno é tão grande e complexo que se toma praticamente impossível expressá-lo corretamente e, por isso, preferem observar invariavelmente seus aspectos parciais ou, pelo menos, algumas de suas realidades isoladas (BENI, 1990, p. 21).
No entanto, a Organização Mundial de Turismo/Nações Unidas (OMT, 2001, p.38) define o turismo como: "as atividades que as pessoas realizam durante suas viagens e permanência em lugares distintos dos que vivem, por um período inferior a um ano consecutivo, com fins de lazer, negócios e outros”.
Oliveira, 2005, p. 36 afirma:Dá-se o nome de turismo à atividade humana que é capaz de produzir resultados de caráter econômico financeiro, político, social e cultural produzidos numa localidade, decorrentes do relacionamento entre os visitantes com os locais visitados durante a presença temporária de pessoas que se deslocam de seu local habitual de residência para outros, de forma espontânea e sem fins lucrativos (OLIVEIRA, 2005, p. 36).
Já para (SCHWENCK, 1974, p. 24-28). o “Turismo é o movimento de pessoas que abandonam temporariamente o lugar de residência permanente por qualquer motivo relacionado com o espírito, o corpo ou a profissão.” Enquanto Urry (2001, P.17) indica o Turismo como uma criação e uma possibilidade do capitalismo moderno. 
Outros autores também defendem que o Turismo nasceria com o capitalismo, como é o caso de Moesch (2000), quando afirma que: 
Turismo nasceu e se desenvolveu com o capitalismo. A cada avanço capitalista, há um avanço do turismo. A partir de 1960, o turismo explodiu como atividade de lazer, envolvendo milhões de pessoas e transformando-se em um fenômeno econômico, com lugar garantido no mundo financeiro internacional (MOESCH, 2000, p. 9).
Em 1989 Harvey afirmou que, depois de 1945 a internacionalização da economia no mundo ocidental, assim como a generalização do fordismo como sistema de produção, trouxera a formação de mercado de consumo global, incrementando uma série de atividades internacionais, dentre elas o sistema bancário e o turismo. 
Muitos concordam, portanto, que foi no século XIX, quando o sistema capitalista se expande, que teria havido o surgimento do chamado turismo moderno. Hobsbawm (2000) afirma que “o capitalismo industrial produziu duas novas formas de viagens de prazer: turismo e viagens de verão para a burguesia e pequenas excursões mecanizadas para as massas em alguns países como a Inglaterra” (p. 285). 
Para Boyer (2003) o turismo, como forma de lazer, surge como uma nova possibilidade de produção e reprodução do capital. Por tratar-se de um fenômeno produzido a partir do liberalismo, percebe-se que as destinações turísticas passam também a ser entendidas como espaços de consumo, mas não de um consumo qualquer. 
Para o mesmo autor, o Turismo é um tipo de consumo diferente dos demais, 
pois se realiza em outro local e não visa a satisfação de um necessidade fundamental do homem: ele não é um dado da Natureza ou do Patrimônio Histórico, pois nenhum lugar é ‘turístico em sí’, nenhum sítio ‘merece ser visitado’, como diz a literatura turística; o turismo é um produto da evolução sociocultural (p.16).
Na década de 1970 organismos internacionais de desenvolvimento disseminavam a ideia de que a atividade turística estava destinada a salvar as economias do Terceiro Mundo. A essa visão economicista e até ingênua do processo social se opuseram antropólogos como Turner e Ash, cujo livro, editado na Inglaterra em 1976, The Golden Hordes, depois traduzido na Espanha pela editora Endmion, também se transformou num clássico, apontando a ação redatória do turismo de massas, comparando os turistas com as hordas dos povos bárbaros que deixavam um rastro de destruição (Turner; Ash, 1991). 	Comment by 95133534949: ?
Conforme já foi dito, para a Organização Mundial de Turismo (OMT) a realização do turismo se define pelas atividades realizadas durante suas viagens e permanência em lugares distintos dos que vivem, por um período de tempo inferior a um ano consecutivo, com fins de lazer, negócios e outros. Seguindo esse pensamento, as primeiras civilizações já se deslocavam por diversas partes se utilizando de hospedagens. Eram estudantes de classes com maior poder aquisitivo que viam nas viagens oportunidades de crescimento pessoal e melhor formação profissional, pessoa em peregrinações, por causa de guerras que estas ocorrências não tenham sido com intenção de lazer, e fossem feitas apenas por uma parcela mínima da sociedade, encontram-se aí ações que caracterizam ou que dão origem ao turismo – o deslocamento, o transporte, a hospedagem[footnoteRef:0]. No entanto, estamos de acordo que o turismo passa a se tornar uma atividade moderna com a ascensão do sistema capitalista e sua organização como forma de uso do tempo livre do trabalho para fins de descanso ou lazer. [0: O surgimento do turismo na sociedade- Disponível em: https://www.portaleducacao.com.br/conteudo/artigos/idiomas/o-surgimento-do-turismo-na-sociedade/28258] 
No Brasil os primeiros lugares a receberem turistas foram Petrópolis (RJ), Campos do Jordão (SP) e, Poços de Caldas (MG). 
Está registrado como sendo o ano de 1907 que o Brasil recebe a primeira excursão internacional, organizada pela agência Thomas Cook.[footnoteRef:1] A partir desse ano foram oferecidos incentivos para a construção de hotéis que, em alguns casos, acumulavam a função de cassino e casa de espetáculo, atividades que incentivaram o turismo durante um tempo, até a proibição de cassinos no Brasil, em 1946.[footnoteRef:2] [1: QUEIROZ, J. História do turismo no Brasil. Disponível em:
https://turismoreceptivo.wordpress.com/historia-do-turismo/] [2: Disponível em: História dos cassinos no Brasil é tema de reportagem especial da Rádio Senado
Fonte: Agência Senado] 
Na década de 1920 surgiram os primeiros hotéis no Rio de Janeiro (Hotel Glória e Copacabana Palace). A construção Copacabana Palace foi um marco no turismo e na hotelaria do Rio de Janeiro, segundo Venegas: 
(...) o Copacabana – com 233 apartamentos que era, de longe, a maior e mais luxuosa construção da época com desenho arquitetônico inspirado no Hotel Carlton, situado em Cannes, no Mediterrâneo Francês – foi edificado em um bairro carioca de similar nome e recentemente urbanização e que também trouxe uma combinação ousada para a oferta da época: arte, deslumbrante panorama, distração e elegância, um sinal de novos tempos na hotelaria e do turismo no Rio de Janeiro. (VENEGAS, 2011, P 4)
 
 Em 1923 o Brasil executou a primeira ação com o objetivo de fomentar o turismo no país. O Touring Club do Brasil, que se chamou na época Sociedade Brasileira de Turismo, iniciou campanhas publicitárias colocando o Brasil em estandes de eventos internacionais, promoveu bailes do Teatro Municipal e concursos de música carnavalesca. Copacabana foi visualizada como um atrativo turístico, criaram o mito do Carnaval do Brasil, o que tornou obrigatória a passagem dos navios transatlânticos pelo país.
Em 1932 o Touring levou o primeiro navio turístico do Sul do Brasil para a Amazônia, passando pelo Nordeste. O Touring teve grande importância na evolução do turismo no Brasil promovendo o turismo interno, a luta pelo meio ambiente, obtendo a criação do primeiro Parque Nacional na Serra dos Órgãos.[footnoteRef:3] [3: Turismo daJuventude. Disponível em: https://books.google.com.br/books?id=5NN_BAAAQBAJ&pg=PA22&lpg=PA22&dq=O+Touring+club++Parque+Nacional+Serra+dos+%C3%93rg%C3%A3os.&source=bl&ots=ES6FRX3xPT&sig=ACfU3U0CZItYIo6tdSJTIyr8sJBbQXWGFw&hl=pt-BR&sa=X&ved=2ahUKEwin6JXBxvflAhXQH7kGHaRMDqYQ6AEwC3oECCEQAg#v=onepage&q=O%20Touring%20club%20%20Parque%20Nacional%20Serra%20dos%20%C3%93rg%C3%A3os.&f=true] 
Conforme Prosérpio (2003), entre os anos de 1950 e 1962 acontecimentos importantes marcaram nossa história e chamaram a atenção do mundo inteiro: A construção de Brasília, a descoberta do petróleo no Brasil, a Copa de 1950 e os títulos de 1958 e 1962 e a criação da Comissão Brasileira de Turismo (COMBRATUR) em 1958. Alguns anos depois, em 1966 foram criados o Conselho Nacional de Turismo (CNTUR) e a Empresa Brasileira de Turismo (EMBRATUR), com o objetivo de organizar e estimular o turismo, que foi reconhecido como atividade econômica importante para o país. A partir daí o turismo brasileiro começa a ganhar uma série de apoios e incentivos governamentais. Com esses apoios financeiros começa a inserção da rede hoteleira e grandes centros de convenções. Afirma Prosérpio (2003, p. 41):
Seguindo a estratégia de política econômica vigente - segundo a qual o setor público incentivava a implantação de novos segmentos da matriz industrial ainda não instalados no país - também ao setor de turismo e hospedagem eram oferecidos, através da Embratur, incentivos à entrada de novos capitais [...], determinando a expansão das redes hoteleiras locais e a entrada, por primeira vez, de grandes redes internacionais, atraídas pelos incentivos, pelo aumento da concorrência no plano internacional e pelas perspectivas de crescimento do turismo interno.
Em 1991 a EMBRATUR passou a ser o Instituto Brasileiro de Turismo e em 1993 a Lei 8623/93 reconheceu e regulamentou a profissão do guia de turismo. Já a primeira faculdade de turismo do Brasil foi inaugurada em 1971 em São Paulo, na atual Universidade Ahembi-Morumbi, a UNIBERO, SP, em 1972 e a USP em 1973[footnoteRef:4]. [4: CURSOS SUPERIORES DE TURISMO: UMA ABORDAGEM HISTÓRICA (1970/1979) Disponível em: http://www.sbhe.org.br/novo/congressos/cbhe4/individuais-coautorais/eixo05/Sergio%20Henrique%20Azevedo%20Teixeira%20-%20Texto.pdf ] 
	Vale salientar que nos anos de 1980 a economia brasileira viveu uma completa instabilidade inflacionária. A oscilação da moeda e os planos de congelamento de preços fizeram com que o número de visitantes decrescesse por quase uma década. Em 1990, os preços voltaram a se estabilizar e o turismo, junto com toda a economia, viveu as transformações da conquista do Plano Real. No setor turismo isso provocou a privatização de vários hotéis e equipamentos de convenções e lazer, até então estatais. Foi a partir daí que a Embratur assumiu o papel de Instituto Brasileiro de Turismo e o turismo passou a ser entendido como o caminho mais fácil para um equilibrado desenvolvimento sustentável do país. Sendo assim, a partir desse ponto o processo de evolução do turismo no Brasil tem sido gradativo, mas deficitário, necessitando de políticas públicas de valorização diante de sua importância econômica no país. 
1.2 - O Turismo no Rio de Janeiro
	No estado do Rio de Janeiro não foi diferente. Após a abolição da escravatura, e consequentemente, a proibição do tráfico de escravos, a cidade do Rio de Janeiro tornou-se centro comercial do Império e sede administrativa do país, funcionando como porto escoador de café e importador de produtos industriais para abastecimento dessas áreas. Com isso houve um aumento da urbanização, desenvolvimento de ruas e do meio de transporte e aumento da densidade demográfica.[footnoteRef:5] [5: Rio de Janeiro: Do segundo Império à Primeira República. Disponível em: https://www.redalyc.org/pdf/4735/473547040004.pdf] 
A produção da agricultura cafeeira era muito grande e contava com tecnologias modernas vindas da Europa (ferrovias, navegação a vapor). Com o estabelecimento de toda essa modernidade houve a necessidade de melhorias na infraestrutura, objetivando potencializar a exportação. Esse período, até o fim do século XIX, foi marcado pelo início da modernização da cidade. A construção das ferrovias, o alargamento de ruas próximas à região portuária, a abertura de linhas de bonde, além dos melhoramentos no porto, são alguns exemplos da mudança da sua estrutura urbana. Essa modernização estimulou o aumento do trabalho livre e prestação de serviços. 
Um contingente multiforme e flutuante de livres e libertos, cada vez mais numeroso, trabalhava, residia, e perambulava nos limites dessa mesma área central. Ali prevalecia a mais completa e caótica contigüidade entre o mercado onde a força do trabalho era posta à venda, cotidianamente, e o mercado – formal e ambulante – onde as “diárias” incertas se convertiam em gêneros e elementos indispensáveis a sobrevivência e reprodução dessa heteróclita plebe urbana. As diárias eram consumidas no armazém que fornecia alimentos caros, muitas vezes a crédito, no pagamento de um quarto de cortiço (geralmente nos fundos do mesmo armazém), contíguo à oficina, próximo ao porto, vizinho a um sobrado de comerciante opulento, da moradia de um empregado público ou, quem sabe, de uma viúva que, a duras penas, sobrevivia com a renda proporcionada por um ou dois escravos postos ao ganho (Benchimol, 1990, p. 112)
Começaram a surgir problemas provocados pelo aumento do número de pessoas que se aglomeravam residindo, transitando ou trabalhando nessa área. Os trabalhadores e viajantes se alojavam em quartos de cortiços e hospedarias existentes nos fundos dos armazéns ou em ruas estreitas do centro. Esse tipo de moradia e os morros existentes eram conhecidos como locais com pouca higiene e insalubres. Por causa desse ambiente a cidade foi acometida por epidemias de doenças como a febre amarela, cólera, varíola e outras disseminadas rapidamente com as aglomerações.[footnoteRef:6] [6: Nos vinte anos que se seguiram, o Rio de Janeiro foi também assolado por epidemias de cólera-morbo e varíola, além de outras moléstias decorrentes das aglomerações das tropas com destino à guerra no Paraguai (Idem, p.122)] 
Durante a transição do Brasil de Monarquia para República em 1889, foram implantados os chamados “Planos de Melhoramentos e Embelezamento da Cidade do Rio de Janeiro”, que foram as intervenções urbanísticas e de saúde pública para modernização da cidade e erradicação das doenças que assolavam o Estado. Com isso o Brasil começou a receber visitantes. Ainda em 1907 o navio Byron promoveu uma viagem de turismo para conhecer o Rio (Lessa, 2005). Já em 1908 o Brasil celebra com uma exposição nacional o centenário da abertura de seus Portos e o fim da época colonial. Em 1922, a exposição é internacional e comemora a independência da colônia. 
 Do Rio de Janeiro colônia para os dias de hoje, muita coisa mudou. No início do século XX, a burguesia foi crescendo, o processo de urbanização foi acelerado, o trabalhador começou a ser assalariado e a industrialização foi ocupando espaço rapidamente. A partir desse ponto o Rio de Janeiro foi se tornando o principal destino turístico do Brasil. Então, começaram a surgir as primeiras empresas a trabalhar diretamente com o turismo.
Do ponto de vista geográfico o Estado possui 92 municípios, extensão territorial de 43.780,157 e, segundo estimativa de contagem populacional feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2019), população de 17.264.943 habitantes. O Rio de Janeiro é um Estado de clima tropical, conhecido mundialmente por sua beleza natural e diversidade cultural em conjunto com a exuberância de suas florestas e praias. O Estado faz conexão com aeroportos de mais de oitenta países e possui os mais diversos tipos de hospedagens, de famosas redes nacionais e internacionais a simples pousadas e hostels, e tem atraído cada vez mais turistas brasileiros e estrangeiros encantados com as belezas do Estado que abriga “Cidade Maravilhosa”.
O turismo tem sido uma atividadesocioeconômica de grande importância no Estado do Rio de Janeiro e há alguns anos vem desempenhando um papel de destaque na economia, apresentando reflexos na política, no meio ambiente e na cultura da sociedade carioca. Nesta compreensão, do ponto de vista socioeconômico, conforme apontado por Dias (2003, p. 18), o turismo: 
[...] tende a ser favorecido, pois, além de ser importante fonte de receita para os países em desenvolvimento e mesmo os desenvolvidos, atende a uma necessidade crescente do ser humano por lazer e entretenimento, além de outras necessidades de ocupação do tempo livre como o desenvolvimento espiritual e o aprofundamento cultural (DIAS, 2003, p. 18). A atividade turística gera impactos econômicos importantes para a localidade que o recebe. 
O turismo gera impactos socioeconômicos muito importantes para as localidades que o recebe e reflete nos problemas estruturais, principalmente aqueles relacionados aos desequilíbrios regionais e a concentração econômica de renda, conforme assinalado por Beni (2002, p. 64). 
A contribuição de cada um dos setores produtivos na geração do produto total da economia, com uma estrutura de empregos de fatores determinados para uso de uma tecnologia própria das condições econômicas, sociais e políticas de um país, reflete-se, entre outros fenômenos econômicos, no grau de desenvolvimento econômico alcançado por uma nação (BENI, 2002, p. 64).
Segundo o mapa do turismo Brasileiro, estado do Rio de Janeiro é o maior receptor de turistas do Brasil. Em 2014, 1.597.153 estrangeiros visitaram a região. Por causa desse potencial foi eleito para sediar dois importantíssimos megaeventos de visualização mundial: A Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016.
No processo de preparação de grandes eventos como esses a gestão pública tem um papel central na criação de condições adequadas aos investimentos. Os investimentos são fundamentais para fomentar as novas condições de acumulação urbana nas localidades receptoras. Esses investimentos públicos são justificados pelo legado de infraestrutura urbanística deixada para a localidade receptora. E, nesse caso, o Rio de Janeiro sofreu um intenso processo de preparação para receber os eventos mencionados.[footnoteRef:7] [7: Disponível em: http://cienciaecultura.bvs.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0009-67252016000200010] 
Houve uma considerável reestruturação da infraestrutura turística e de mobilidade com a ampliação do metrô, BRT e VLT e acesso a aeroportos, além de novos atrativos e equipamentos turísticos, novos regimes de segurança pública, reforma e construções de estádios. Mas além desse legado material esses eventos deram maior visibilidade para o Rio de Janeiro e para o Brasil. No processo de preparação de grandes eventos com esses a gestão pública tem um papel central na criação de condições adequadas aos investimentos. Esses investimentos são fundamentais para fomentar as novas condições de acumulação urbana nas cidades brasileiras. 
Em maio de 2019 ocorreu o 1º Seminário de Articulação Institucional do Turismo Fluminense. O evento foi realizado pelo Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro (TCE-RJ) e pela Secretaria de Turismo do Estado com o objetivo de discutir estudos socioeconômicos dos municípios do Estado do Rio de Janeiro e diagnosticar o turismo no Estado com base no Plano Nacional de Turismo, que estabelece as diretrizes e estratégias para a implantação da política nacional do setor.
Hercy Ayres Rodrigues Filho, chefe de gabinete do Ministério do Turismo, apresentou programas e projetos voltados para o desenvolvimento e integração da atividade turística em parceria com estados e municípios. Os projetos visam a regulamentação para a atuação de agências de turismo no Estado, cooperação técnica, qualificação profissional e integração regional para o desenvolvimento sustentável do turismo fluminense, o TCE-RJ e a Secretaria de Turismo do Rio vão promover a capacitação dos gestores municipais.
“Eles vão elaborar os inventários da oferta turística dos destinos e planos municipais de turismo para o desenvolvimento da atividade de forma ordenada, levando em consideração as regiões turísticas, de acordo com o Plano Diretor de Turismo do Estado do Rio de Janeiro”, explicou Márcio Jandre, secretário de Planejamento do TCE-RJ. “Nosso maior objetivo é consolidar o turismo como um dos principais setores econômicos do Rio, buscando a geração de renda, o desenvolvimento regional e o incremento na captação de recursos”, acrescentou Otávio Leite, secretário estadual de Turismo (2019).[footnoteRef:8] [8: Ministério do Turismo- Seminário debate planos e estratégias para desenvolver o turismo no Rio de Janeiro. 
Disponível em: http://www.turismo.gov.br/component/content/article.html?id=12657] 
 Já no século XIX havia esse empenho para o desenvolvimento regional, não para fins de turismo, mas foi inevitável após o processo de urbanização pelo qual passou a região conhecida atualmente como Costa Verde.
1.3 – Expansão da Urbanização no Rio de Janeiro e o processo de ocupação da Costa Verde pelo turismo
Um grande fazendeiro de Itacuruçá e vereador chamado José Caetano de Oliveira reunia esforços desde 1894 para levar o trem até a região atualmente conhecida como Costa Verde. No ano de 1911 a estrada de ferro chegou à Itacuruçá e somente em 1914, ao centro de Mangaratiba, marcando o início do desenvolvimento da região. Inicialmente os trens eram utilizados para o transporte de lenha, carvão, peixes e bananas (o último movimentava a economia região). Nessa época Mangaratiba chegou a ser o maior produtor de banana do país.
Com os trilhos foram chegando aos poucos trens cheios de turistas vindos do Rio de Janeiro à procura das lindas ilhas e praias já faladas. O litoral da região hoje conhecida como “Costa Verde” passou a ser destino nas férias e finais de semana. Instaura-se então, o que é hoje a principal base econômica da região: o turismo.
Desde então a densidade demográfica da região foi aumentando consideravelmente, muitas casas foram sendo construídas e o número de visitantes também aumentou. A partir de 1940 começaram a surgir loteamentos nas orlas de Itacuruçá, Muriqui, Praia Grande, e Praia do Saco. 
Com a inauguração da RJ14 que fazia ligação de Mangaratiba com o Rio de Janeiro, na década de 1950, o turismo foi rapidamente desenvolvido na região. Mas só em 1974 com a inauguração da Rodovia Rio-Santos (BR-101), segundo Santiago (2010), o que propicia a ligação da Costa Verde com as Metrópoles Rio de Janeiro e São Paulo, foi radicado. A partir daí, o acesso aos municípios de Itaguaí, Mangaratiba, Angra dos Reis, Paraty e Rio Claro, que compõem a região conhecida como Costa verde, ficou mais fácil instituindo definitivamente o turismo na região. 
No mapa abaixo é possível identificar os municípios que compõem a região Costa Verde e suas distâncias em relação ao município do Rio de Janeiro.
Figura 1: Mapa da Costa Verde
 Fonte: Produção da autora, 2019.	Comment by 95133534949: Explicar no rodapé como foram produzidos os amapas
Itaguaí é um município banhado pela Baía de Sepetiba. Estende-se por uma área de 275 km² estando a uma altitude de 15 metros do nível do mar. Além do território continental, parte do seu território é compreendido por ilhas e ilhotas, entre elas a ilha dos Martins, Ilha da Madeira, das Cabras, do Gado, das Ostras. Também faz parte do seu território a parte oeste da ilha de Itacuruçá e parte central da restinga da Marambaia. É um município em grande crescimento. A Companhia Siderúrgica do Atlântico, que fica em Santa Cruz, bairro do Rio vizinho à cidade, dinamiza a economia local, além dos investimentos no Porto de Itaguaí.
O município de Mangaratiba é um dos que fazem travessia para a Ilha Grande. Conta com mais de 34 praias ao longo de sua faixa litorânea, que é acessível pela rodovia Rio-Santos. Possui uma elevação de dezoito metros do nível do mar. Limita-se a leste com o município de Itaguaí, ao norte faz divisa com Rio Claro ea oeste com o município de Angra dos Reis. Por fim, é banhado ao sul pela Baía de Sepetiba.
Já Angra dos Reis está localizada a uma altitude média de seis metros e possui, em seu litoral, 365 ilhas, sendo uma delas a Ilha Grande. A maior parte da cidade é cercada por morros. Segundo o censo 2010, em Angra cerca de 36% de sua população vive em favelas, 
situados em morros ou áreas de mangues. Isto coloca o município em décimo lugar das cidades brasileiras, no que tange a proporção de domicílios nesse tipo de aglomeração urbana do país. 
Paraty está localizada quase ao nível do mar. A cidade foi projetada levando em conta o fluxo das marés. Como resultado, muitas de suas ruas são periodicamente inundadas pela maré. Em 5 de julho de 2019, a cidade colonial de Paraty, juntamente com Ilha Grande foram declaradas Patrimônio da Humanidade pela Unesco, por sua mistura única de riquezas históricas e naturais. Trata-se do primeiro lugar misto (patrimônio cultural e natural) do Brasil.
Por fim, Rio Claro que se encontra na região do Médio Paraíba, está a uma altitude de 446 metros. É uma linda e bucólica cidade, que além do antigo casario, também possui inúmeros atrativos naturais, como a Pedra do Bispo e a Pedra do Rastro e a Gruta, no centro da cidade, que despertam várias lendas no imaginário popular. 
Abaixo, observamos a Costa Verde em relação ao Estado do Rio de Janeiro.
Figura 2: Municípios da Costa Verde no Estado do Rio de Janeiro
 Produção da autora, 2019.
Sendo assim, após a inauguração da principal estrada que faz ligação do município do Rio de Janeiro com a Costa Verde, o turismo na região se fortaleceu, assim como o turismo na Ilha Grande. 
CAPÍTULO II - O TURISMO NA ILHA GRANDE 
Neste capítulo abordaremos como se deu a evolução do turismo na Ilha Grande, mencionaremos o surgimento dos primeiros habitantes, o início do turismo e principais questões históricas que antecedem o desenvolvimento do turismo.
Ilha Grande, nosso objeto de estudo, está localizada ao Sul do Estado do Rio de Janeiro e pertence ao município de Angra dos Reis. É a maior ilha do Estado do Rio de Janeiro e a sexta maior do Brasil. De natureza singular, possui 113 praias de variados tamanhos e características diversas. São mais de 193km² de mata Atlântica mesclada com o intenso verde e azul do mar, rios, lagos, cachoeiras e mangues. Seu perímetro de 157 km é extremamente acidentado, apresentando 15 enseadas, 39 praias, 41pontas, 3 pequenos estuários, 2 lagoas e diversos mangues em pelos menos 6 pontos diferentes (CREED, 2009, p.249). O ponto mais alto é a Pedra D’água, com 1.031 metros, seguido do Pico do Papagaio (o mais conhecido) com 982 metros de altitude. Ilha Grande está separada do continente por uma baía de mesmo nome. O acesso à ilha só é possível pelo mar ou pelo ar (somente helicóptero, pois no local não possui aeroporto).
Figura 3: Localização da Ilha em relação ao Rio de Janeiro[footnoteRef:9]	Comment by 95133534949: Colocar o rodapé nas fontes e não no titulo, ok? [9: Disponível em: https://jorgesapia.wordpress.com/2019/07/04/ilha-grande/mapa-localizacao-ilha-grande/] 
 Fonte: MapLink, 2013	Comment by 95133534949: Rodape aqui, para todas as figuras e mapas
 A Ilha Grande faz parte de um arquipélago de 187 ilhas e ilhotas. Localizada na Baia da Ilha Grande é um dos locais mais bonitos do Oceano Atlântico. Suas costas são recortadas por inúmeras penínsulas e enseadas que formam várias praias. 
 Figura 4 - Ilha Grande.[footnoteRef:10] [10: Disponível em: https://www.flickr.com/photos/9183672/4247018430] 
 Fonte: Miriam Godet, 2010.
 
Embora, juridicamente pertença ao município de Angra dos Reis como 3º Distrito municipal, com sede na Vila do Abraão, a Ilha Grande fica de frente para o município de Mangaratiba. O mar predominante verde abriga valiosa biodiversidade, formando belos cenários naturais. Ilha Grande é área pública e mais de 80% do território pertence à União. São áreas protegidas e administradas pelo INEA (Instituto Estadual do Ambiente), que tem sede na Ilha. 
2.1- Aspectos Históricos 
Os primeiros habitantes da Ilha Grande foram os índios Tamoios, que nomearam a ilha de Ippaun Wasu ("Ilha Grande"). Em 1502 foi descoberta pelo navegador Gonçalo Coelho. Nessa época a ilha começou a funcionar como depósito de exportação (ou contrabando) de café, ouro, cana-de-açúcar e pau-brasil. Por esse motivo, comerciantes europeus, piratas holandeses, ingleses e franceses vieram na tentativa de conquistar esse território.[footnoteRef:11] [11: História da Ilha Grande - Angra dos Reis – RJ- Disponível em: http://ilhagrande.org/pagina/historia-da-ilha-grande-angra-dos-reis] 
A partir de 1772 fazendeiros de cana-de-açúcar e café surgiram para exploração das terras férteis da ilha, que começou então a desenvolver as culturas de café e cana de açúcar, onde os negros trazidos para trabalhar nas lavouras fizeram do lugar uma das principais rotas do tráfico de escravos até a abolição da escravatura.
No ano de 1803, a ilha passou à condição de freguesia, com o nome de Santana da Ilha Grande de Fora, ganhando autonomia jurídica em relação a Angra dos Reis. Em 1863, o imperador Dom Pedro II visitou ilha Grande e ficou maravilhado com sua natureza exuberante, o que o levou a comprar a chamada Fazenda do Holandês (área que ia da Vila do Abraão à Vila de Dois Rios). Mais tarde, nessa área foi erguida a construção que ficou conhecida como Lazareto. A colonização da ilha foi aumentando com a fundação de fazendas e de pequenas vilas e depois, vieram os servidores dos dois presídios (os quais falaremos adiante) e os pescadores e trabalhadores de uma antiga fábrica de sardinha. Nos anos 1930, a atividade pesqueira industrializada substituiu a agricultura, mas entrou em colapso nos anos 1960 devido à captura excessiva (WUNDER, 2006).
Dentre os patrimônios socioculturais da Ilha, podemos citar:
- Lazareto
O Lazareto foi construído em 1871 às margens da Praia Preta, na Vila do Abraão, dentro das terras de D. Pedro ll. A cólera-morbo propagava-se rapidamente do Mediterrâneo para países dos diversos continentes. Para proteger a população brasileira não só da cólera, mas de outras epidemias que poderiam chegar ao país em navios estrangeiros, o governo imperial resolveu construir um lazareto de quarentena. Foram estudadas diversas regiões capazes de receber a instalação, mas a Ilha Grande foi escolhida por sua situação geográfica, que facilitava o isolamento do continente, sua grande enseada (própria para o estabelecimento de ancoradouros, o que permitia a separação entre navios e núcleos de tratamento), os ventos favoráveis à renovação do ar, e área suficiente para a construção de vários prédios. Considerava-se, ainda, a necessidade de construir os edifícios próximos uns aos outros, mas não contíguos, a fim de possibilitar as múltiplas tarefas do complexo, como desinfecção de 
bagagens, isolamento dos internos, administração e moradia de funcionários (Freitas, 1884).
Seu objetivo principal seria manter em observação os passageiros de navios provenientes de outros portos e que representassem ameaça à saúde pública, como também proceder a operações higiênicas como fumigações, pulverizações e aeração de cargas e objetos contaminados. O tratamento dos doentes seria feito em outro local: "O caráter de hospital não se configura mais em semelhantes estabelecimentos, e quando há doentes, quer de moléstias comuns, quer de epidemia, eles devem ser imediatamente levados para edifícios especiais, fora e distantes do lazareto, de preferência enfermarias flutuantes, para receber o tratamento necessário" (Freitas, 1884, p.18-19).
Em um terreno inclinado, distante quinhentos metros da praia do Abraão e trinta metros acima do mar, foram construídos os pavilhões destinados a abrigar os passageiros de primeira e segunda classes. Os dois blocos situados em um plano mais alto e de um só pavimento, eram destinados à primeira classe. Possuíamdezesseis quartos e cada um destes podia acomodar até três pessoas. Em um plano mais baixo, edifícios de dois andares destinavam-se aos passageiros de segunda classe e com quartos menores podiam abrigar quatro vezes mais pessoas. A terceira classe alojava-se em uma grande construção em formato quadrangular, com 55 metros, toda murada. Ao desembarcarem no cais os passageiros encontravam o prédio que acomodava até quinhentas pessoas de uma só vez.[footnoteRef:12] [12: Lazareto da Ilha Grande: isolamento, aprisionamento e vigilância nas áreas de saúde e política (1884-1942) Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-59702007000400005] 
 Figura 5: Pavilhões da primeira e segunda classes[footnoteRef:13] [13: Disponível em: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Antigo_Lazareto_em_Ilha_Grande.jpg] 
 Fonte: Museu Penitenciário do Estado do Rio de Janeiro, 2011
 Figura 6: Pavilhão da terceira Classe[footnoteRef:14] [14: Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-59702007000400005] 
 Fonte: Barbosa, 1909
 Um congresso de sanitaristas, do qual o doutor Oswaldo Cruz participou, sugeriu a desativação dos lazaretos, após chegarem à conclusão de que esses não impediam a disseminação de doenças.[footnoteRef:15]  [15: Ruínas do Lazareto-Abraão-Ilha Grande- Disponível em: http://ilhagrande.org/pagina/lazareto-ilha-grande] 
Durante seu funcionamento chegou a atender mais de quatro mil embarcações que traziam os doentes. Funcionou como abrigo de quarentena até 1913, quando foi totalmente desativado. Com a Revolução Constitucionalista em São Paulo em 1932, Getúlio Vargas decretou que o Lazareto fosse reaberto, só que desta vez, funcionou como presídio político para abrigar os presos da Segunda Guerra Mundial. Em 1940, após mais uma reforma, passou a funcionar como presídio comum com o nome Colônia penal Cândido Mendes (mesmo nome do presídio de Dois Rios).[footnoteRef:16] [16: Presídios- Disponível em: https://www.ilhagrande.com.br/ilha-grande/historia/presidios/ ] 
Nesse período passaram por lá alguns escritores muitos famosos, como o escritor Graciliano Ramos e Orígenes Lessa, que enquanto estava preso escreveu “Não há de ser nada”, reportagem sobre a Revolução Constitucionalista, e “Ilha Grande, jornal de um prisioneiro de guerra”, dois trabalhos que o projetaram nos meios literários. 
 Com a construção do novo presídio (IPCM), os presos, que estavam no Lazareto, foram transferidos para Dois Rios e em 1954 o então governador Carlos Lacerda mandou demolir o Lazareto com tiros de canhão. 
Atualmente, as ruinas do Lazareto são um atrativo turístico histórico-cultural de grande importância e muito visitado na enseada do Abraão. Ficam dentro do PEIG e podem ser visitadas gratuitamente, mas apenas na parte externa. 
 Figura 7: Interior das ruínas do Lazareto[footnoteRef:17] [17: Disponível em: https://www.andrecypriano.com/portfolios/the-devils-caldron-o-caldeiro-do-diabo-1993] 
 Fonte: André Cypriano, 1993
 Figura 8: Exterior das ruínas do Lazareto[footnoteRef:18] [18: Disponível em: https://angradosreis.wordpress.com/] 
 Fonte: Wordpress 2018
A água que abastecia o Lazareto vinha do Córrego do Abraão, através de uma barragem até o Aqueduto[footnoteRef:19] (monumento semelhante aos Arcos da Lapa, no Rio de Janeiro) feito com óleo de baleia e pedra, pelos escravos no século XVIII. Hoje, ainda de pé, é um dos atrativos de grande importância histórica, mais visitados da ilha. [19: Elevada estrutura de alvenaria constituída por uma ou mais ordens de arcadas superpostas e erguida para servir de suporte a um canal que se destinava a conduzir a água sobre vale ou outra depressão do terreno.] 
 Figura 9: Aqueduto do Lazareto[footnoteRef:20] [20: Disponível em: https://www.destinosdorio.com.br/cidades/angra-dos-reis/cultura-e-historia/monumentos-historicos/item/586-o-aqueduto-lazareto-em-ilha-grande-tem-muita-historia] 
 Fonte: Vitor Marigo, 2016 
- Colônia Penal de Dois Rios
Notadamente um dos lugares mais bonitos da Ilha Grande, a praia de Dois Rios é de uma riqueza natural fascinante, muito preservada e com muita vegetação. Suas areias amarelas têm aproximadamente um quilômetro de extensão e em cada lado possui um rio de água doce, por isso o nome “Dois Rios”. Os rios são abastecidos por duas cachoeiras diferentes. As águas do rio da Barra Grande chegam de uma cachoeira que nasce pelo lado da Parnaioca e as águas que abastecem o rio da Barra Pequena vêm de uma cachoeira menor, suas águas partem do Abraão. O azul-esverdeado das águas e as ondas que se formam com o vento do mar aberto, batem na praia como a convidar para um mergulho.
 Figura 10: Praia e Vila de Dois Rios[footnoteRef:21] [21: Disponível em: http://www.pousadadosmeros.com.br/dt_gallery/praia-de-dois-rios/ ] 
 Fonte: Pousada dos Meros, 2019.
 Neste cenário paradisíaco foi instalada em 1903 a Colônia Penal de Dois Rios, no vilarejo de Dois Rios, que serviu de presídio a pessoas julgadas por crimes comuns. Em 1940, o Lazareto foi reformado e transformado em presídio – Colônia penal Cândido Mendes que recebeu os presos comuns que estavam na Colônia de Dois Rios, a fim de que essa última abrigasse os presos políticos da 2ª Grande Guerra Mundial. Enquanto funcionou como presídio para presos políticos abrigou importantes personalidades da época: além de políticos, espiões e escritores conhecidos. Dentre os quais estão Fernando Gabeira, Flores da Cunha, Agildo Barata e os escritores Graciliano Ramos e Orígenes Lessa.[footnoteRef:22] [22: Klepsidra- Ilha Grande, Ilha-Cárcere. Disponível em: https://www.klepsidra.net/klepsidra17/ilhagrande.htm] 
Muitos presos tentavam fugir a nado do “Caldeirão do diabo” (como foi chamado pelo fotógrafo André Cypriano[footnoteRef:23]). Durante os quarenta anos de funcionamento mais de mil detentos fugiram, mas 90% foram recapturados. Mas uma fuga em especial marcou a história do Instituto Penal Cândido Mendes e da própria Ilha Grande: foi a fuga do traficante mais conhecido da década de oitenta. José Carlos dos Reis Encina, realizada no ano de 1986. "Escadinha", como era conhecido, cumpria pena de 30 anos por tráfico de drogas, mas em janeiro de 1986 conseguiu escapar do presídio sendo resgatado de helicóptero por um comparsa chamado Carlos Gregório, conhecido como "Gordo" que era ladrão de carros no Rio de Janeiro. Essa fuga foi noticiada em todos os veículos de informação da época, fazendo com que o mundo todo voltasse seus olhos para a ilha (CARVALHO, 2009) [23: André Cypriano é um fotógrafo brasileiro que fotografou o CPCM por oito meses antes da sua demolição. Nesse tempo acompanhou o cotidiano dos 600, fotografando em preto e branco. Atualmente vive na Ilha Grande e nos Estados Unidos e trabalha como freelance.
] 
O portal extra.globo.com, num artigo sobre “A mais espetacular das fugas de Escadinha” afirma que:
[footnoteRef:24] o bandido aproveitou o momento em que parentes visitavam os internos, em função da passagem de fim de ano. Nem os agentes penitenciários e nem policiais militares chegaram a atirar na aeronave que pousou e decolou rapidamente. Dois carros teriam dado cobertura ao traficante. Na ocasião o secretário de Justiça, Vivaldo Barbosa, admitiu que a fuga havia sido espetacular. [24: disponível em: https://extra.globo.com/casos-de-policia/bau-do-crime/a-mais-espetacular-das-fugas-de-escadinha-392202.html] 
 Figura 11: Presídio de Dois Rios em funcionamento[footnoteRef:25] [25: Disponível em: https://acervo.oglobo.globo.com/em-destaque/convivencia-com-presos-politicos-na-ilha-grande-ajudou-criar-faccoes-criminosas-20759357] 
 	 Fonte: José Vidal, 1975.
O presídio foi implodido em 1994 e os direitos sob a área foram transferidos para a UERJ, que inaugurou em 1998, o Centro de EstudosAmbientais e Desenvolvimento Sustentável (CEADS), que desenvolve investigações científicas e tecnológicas e ensino para alunos de graduação e pós-graduação e atividades de extensão.
 Figura 12: Ruínas do Presídio de Dois Rios
 Fonte: Ilhagrande.org, 2015
A área da cozinha é um dos poucos setores que continuam de pé. Hoje é um anexo do Museu do Cárcere, criado para contar a história do instituto. Ele faz exposições de itens (cordas utilizadas na fuga de detentos, utensílios de cozinha, objetos transformados em armas e ferramentas) recolhidos dos escombros por moradores, guardadas ao longo de anos por herdeiros ou antigos funcionários da instituição.
Após a desativação do presídio Ilha Grande entra numa nova era, passando a ser visualizada como um lugar turístico.
2.2 - O turismo em seus primórdios na Ilha Grande 
A atividade turística na ilha deu início a partir da demolição do presídio de Dois Rios, já que se findara a sensação de insegurança causada pela sua presença. A desativação do Instituto Penal Cândido Mendes (1994) dá ainda mais impulso a essa atividade econômica. Desde então, "a Ilha Grande começou a tornar-se gradualmente um destino turístico muito procurado" (Mendonça, 2008, p. 2).
Com a grande redução da atividade pesqueira a partir da década de setenta, e com a extinção do Presídio na década de noventa, o turismo vem se consolidando como a atividade econômica mais importante do lugar (cf. Mello 1997). 
O aumento do número de pessoas interessadas em conhecer esse paraíso verde levou ao desenvolvimento de atividades econômicas até então desconhecidas na localidade e a população local passou a adaptar-se a essa nova atividades para atender as demandas de hospitalidade até então desconhecidas. Os prédios onde funcionavam as antigas fábricas de sardinha foram transformados em pousadas.
A Vila do Abraão foi a primeira a iniciar o processo de urbanização impulsionada pelo turismo, passando a desenvolver uma infraestrutura de equipamentos urbanos voltados para a rede hoteleira, iniciando a consolidação do processo de turistificação da ilha. 
Figura 13: Abraão antiga
 Fonte: arquivo nacional.	Comment by 95133534949: Rodapé. Como fez a consulta,s e foi pelo site colocar data da consulta e a pagina
Atualmente os serviços públicos existentes na Vila do Abraão são básicos, contando apenas com um posto de saúde, uma escola que abrange até o ensino médio, um Destacamento de Policiamento Ostensivo (DPO) e uma subprefeitura. Há um pequeno comércio composto por pequenos mercados, padarias, farmácias, restaurantes, algumas lojas de roupas e artigos para praia e agências de turismo que realizam os passeios dentre outras atividades. Atualmente Abraão é onde se concentra o maior número de habitantes (aproximadamente 9.426, segundo dados do IBGE em 2019) e é a vila de maior infraestrutura (ainda que deficitária). 
 Figura 14: Enseada e Vila do Abraão[footnoteRef:26] [26: Disponível em: https://oglobo.globo.com/rio/bairros/angra-dos-reis-faz-audiencia-para-discutir-superlotacao-da-ilha-grande-16188390] 
 Fonte: TurisAngra, 2015	Comment by 95133534949: idem
 Figura 15: Vila do Abraão[footnoteRef:27] [27: Disponível em: https://guia.melhoresdestinos.com.br/praia-do-abraao-191-5206-l.html] 
 Fonte: Monique Renne, 2018.	Comment by 95133534949: idem
 A ilha possui ainda, outras comunidades habitadas. A seguir, as mais povoadas:
a) A Vila do Provetá é a segunda maior comunidade da Ilha Grande, com aproximadamente mil e quinhentos habitantes, também a segunda em movimento econômico. É composta basicamente por nativos e pescadores; 
b) A Praia Vermelha que é muito tranquila e possui uma comunidade com pouco mais de cento e cinquenta habitantes. Seus moradores são em sua maioria caiçaras. Conta com seis pousadas, quatro restaurantes, uma pizzaria, lanchonete, e um pequeno mercado; 
c) Enseada de Araçatiba é mais uma comunidade bucólica da ilha, onde seus quase quatrocentos moradores vivem principalmente da atividade pesqueira e do turismo. Possui energia elétrica, posto de saúde, escola, telefones públicos e fixos, mas não possui provedor de internet; telefones móveis funcionam bem;
d) Enseada do Bananal que possui aproximadamente trezentos e setenta habitantes, é composta por caiçaras e sofre influência da cultura japonesa.[footnoteRef:28] Dispõe de rede de energia elétrica e telefone fixo. Celular nem sempre funcionam bem; [28: Na primeira metade do século XX estabeleceram-se na região imigrantes japoneses que iniciaram a produção do dashikô (sardinha seca, salgada e defumada, muito usada como tempero), instalando diversas fábricas de sardinha e empregando tanto japoneses quanto moradores da região e arredores. Em área tranquila na face norte da ilha residem, até hoje, muitos japoneses e descendentes, convivendo em perfeita harmonia com os caiçaras e há décadas compartilhando costumes das duas culturas. ] 
e) Enseada das Estrelas é composta por seis praias, mas a maior concentração de moradores está na Praia de Fora e Saco do Céu. Em toda a enseada das Estrelas vivem cerca de 550 pessoas. A comunidade essencialmente composta por pescadores é servida de energia elétrica, a mesma rede que segue para a Enseada do Abraão, posto de saúde e escola municipal de ensino fundamental, localizados no Saco do Céu.
CAPÍTULO III - O TURISMO NA ILHA GRANDE: CONTRADIÇÕES E PERSPECTIVAS
Como já mencionado, Abraão é a comunidade da ilha mais populosa e de maior infraestrutura. O comércio é variado, contando com muitas lojas, restaurantes, bares e hospedagens. O porto localizado na praia do Abrão disponibiliza transporte de barcas (com destino à Angra dos Reis e Mangaratiba), Catamarãs (que saem de Angra dos Reis), táxis boats e escunas (que saem de Conceição de Jacareí) e barcos que fazem passeios para outros atrativos da ilha e para as outras comunidades. 
Abaixo, um mapa ilustra como chegar à ilha.
 Figura 16: Como Chegar[footnoteRef:29] [29: Disponível em: http://www.riachodoscambucas.com.br/how-to-get-there] 
 Fonte: riachodoscambucas.com.br
Não circulam carros na ilha, a não ser os de serviço público existentes na Vila (polícia militar, corpo de bombeiros, posto de saúde e universidade). Então, para quem chega à vila e não quer carregar suas bagagens há pessoas que cobram para levá-las até as pousadas. 
 A enseada do Abraão compreende a Vila do Abraão, a Praia do Canto, Praia da Júlia Praia da Bica, Praia Comprida, Praia da Crena, Praia da Guaxuma, Praia do Abraãozinho e Praia e Ilha do Morcego, Corisco, Praia Preta, Miradeiro e Ilhas Macedo.
 Abaixo, a figura representa a Enseada do Abraão com a localização da Vila do Abraão e seus pontos turísticos:
 Figura 17: Enseada do Abraão[footnoteRef:30] [30: https://www.ilhagrande.com.br/praias/enseada-do-abraao/praia-do-abraao/] 
 Fonte: Ilhagrande.com.br
 A praia do Abraão é a porta de entrada da Ilha Grande. Por esse motivo é muito utilizada para ancorar barcos de todos os tipos. Como consequência desse fluxo intenso de embarcações observa-se vários impactos ambientais negativos: derramamento de resíduos de combustíveis na água, a poluição das areias, resíduos das fumaças do óleo queimado lançado na atmosfera e ainda, a poluição pelo ruído intenso provocado pelos motores dos barcos. Midaglia, em 2001 estudou esse tipo de atividade: 
“... é certo que, tal como acontece em áreas terrestres também na água a mudança de usos de determinada zona costeira pode registrar alterações. Por exemplo, uso de determinados equipamentos, tais como embarcações movidas a combustível (lanchas, jeti-skies, etc) podem causar o afugentamento de espécies marinhas, através do intenso barulho e movimento das águas, afastando pequenos cardumes, mudando a cadeia alimentar, além do fato de existir a possibilidade de vazamento de óleo e gasolina na água.” (MIDAGLIA, 2001: p.38)
Esse impacto é visto tambémna Praia do Canto, que é uma extensão da Praia do Abraão. Essa praia é repleta de amendoeiras que além de embelezar, proporcionam sombra em toda sua orla e suas águas também são muito tranquilas. Já a praia da Júlia fica ao lado da praia do Abraão, é uma praia pequena, de areia amarelada, com águas muito tranquilas, muito frequentada por cães. Possui apenas um bar e uma casa. No início dessa praia começa também a trilha para a Praia de Lopes Mendes.
 A praia da Bica é bem pequena com águas claras e calmas, muita sombra de grandes árvores e folhagens que debruçam sobre a areia e o mar. É chamada de praia da bica por causa de um bambu, que jorra sobre a areia água coletada de um riacho. Seu acesso se dá a partir da praia da Júlia, fazendo-se menos de dois minutos de trilha.
 A Praia Comprida tem pouco mais de cem metros e fica depois da Praia da Bica. A vegetação em sua orla é abundante e suas águas são transparentes e muito calmas. Nesta praia existem algumas casas. O acesso a esta praia pode ser feito por barcos ou trilha. A Praia da Crena fica a mil metros do fim da praia do Abraão, apresenta águas bem verdes e muito tranquilas. Possui muitas árvores em sua orla. O acesso é feito por trilha ou barco. A praia da Guaxuma é uma das mais tranquilas da enseada, fica a uma distância média de 1.200 metros da Praia do Canto e tem vista total para a Praia do Abraão. A praia do Abraãozinho é a mais longe da enseada. Fica bem abrigada dos ventos e suas águas são transparentes. Possui dois restaurantes em sua pequena orla. Ela pode ser visitada a pé, por trilha ou de barco.
 A praia Preta fica dentro do Parque Estadual da Ilha Grande (PEIG). Nela estão as ruinas do Lazareto. Suas águas são um pouco mais agitadas do que as demais da enseada do Abraão e suas areias são pretas em alguns pontos. Há ainda um rio que desagua no mar. A partir da Praia Preta é possível fazer uma trilha para o aqueduto e o poção do aqueduto.
Tabela 1 - Principais atrativos 
	ATRATIVOS
	CARACTERÍSTICAS
	LOCALIZAÇÃO
	Enseada 
do Abraão
	Comunidade mais povoada da região, de maior infraestrutura e maior receptora do turismo. Onde se localizam as ruinas do Lazareto e Aqueduto, dois grandes atrativos da enseada.
	Fica de frente para o continente. 
	Lagoa Azul
	águas cristalinas com tons de azul, que formam um aquário natural.
	localizada na Freguesia de Santana
	Lopes Mendes
	mistura de tons verdes e azulados de suas águas cristalinas, vegetação abundante e areias muitos brancas e finas. Não há construções, não há sinal para celulares ou internet, nem cais para atracação de barcos.
	Localizada na Costa oceânica, ao Sul da ilha.
	Enseada de Araçatiba
	Recanto tranquilo cercado por belas paisagens. de três praias de águas cristalinas e bem tranquilas: praia Grande de Araçatiba, praia da Cachoeira e Araçatibinha.
	fica na parte sul da Ilha Grande
	Aventureiro
	É a praia com as águas mais agitadas da Ilha. Não há pousadas, nem comércio na Praia do Aventureiro. Onde está inserida a Reserva de Desenvolvimento Sustentável.[footnoteRef:31] [31: ] 
	Fica na parte sudoeste da Ilha Grande
	Enseada das Estrelas
	Um santuário ecológico repleto de belezas naturais. Maior quantidade de estrelas do mar. Abriga a maior queda d'água da Ilha Grande, a Cachoeira da Feiticeira
	Fica ao Norte da Ilha
	Gruta do Acaiá
	Uma fenda na pedra, abaixo do nível do mar, que dá vazão à água que forma um lago, cujo fundo, reflete a luz solar como se fosse um caleidoscópio
	Fica próxima à Praia Vermelha
Fonte: organização da autora, 2019.
3.1- Impactos socioambientais provocados pelo Turismo na Ilha Grande e a visão da comunidade	Comment by 95133534949: mudar conforme sumario
Como vimos anteriormente, a partir da demolição dos presídios e a transformação da ilha em um lugar turístico a atividade turística tem crescido de forma acelerada e desordenada, desencadeando impactos nas esferas econômicas, sociais e ambientais. A Vila do Abraão tornou-se o centro receptor do turismo da ilha, e centenas de turistas desembarcam na Vila levando para a localidade crescimento econômico (o impacto positivo), mas deixando marcas sociais e ambientais que, se não tiverem uma atenção especial por parte dos governos, poderão causar danos irreversíveis. 
No verão é comum ver a Vila do Abraão superlotada. O fluxo de visitantes que embarcam e desembarcam na ilha é intenso “De pacata aldeia de pescadores, fomos alçados a destino turístico de massa. Isso já provocou estrago considerável no meio ambiente local”, disse Ivan Neves (2015).[footnoteRef:32] Essa afirmação concorda com a do entrevistado “A”, proprietário de um hostel e morador da ilha há cinquenta anos, que, quando perguntado sobre o que acha do movimento de turista na ilha respondeu: [32: Ivan Neves, então subprefeito da Ilha Grande. ] 
“Muito bom! Porém, a ilha não ficou preparada “pra” suportar tantos imóveis e tantas pessoas. O poder público não acompanhou o saneamento básico, tratamento de água, eletricidade, saúde, educação e segurança pública!”
 Figura 18: Porto no Abraão[footnoteRef:33] [33: Disponível em: https://oglobo.globo.com/rio/a-superlotada-vila-do-abraao-em-ilha-grande-12398441] 
 Fonte: Marcelo Piu, 2014
Também o aumento desordenado do número de hospedagens e da demanda turística compromete seriamente esse paraíso. A infraestrutura existente não é suficiente para receber a grande quantidade de turistas que procuram o destino. 
A energia elétrica fornecida pela Ampla Energia e Serviços S/A vem do continente através de cabo submarino. No verão, com a superlotação da ilha, é muito comum faltar energia elétrica causada por sobrecarga na rede, afetando o bem-estar dos moradores. Quanto às hospedagens poucas possuem geradores, fazendo com que seus hóspedes fiquem sem luz, internet e ar condicionado; na vila do Abraão há uma estação para tratamento do esgoto local (deficiente para a carga atual). Os esgotos de algumas casas são eliminados por meio de fossas e sumidouros, mas em alguns pontos são lançados diretamente nos córregos e no mar in natura, sem qualquer tratamento;
É possível ver “línguas negras” em vários pontos da Enseada do Abraão; não há lixeiras suficientes na vila, o que faz com que as poucas existentes transbordem espalhando o lixo pelas trilhas, ruas e praias. 
 Figura 19- Praia do Abraão[footnoteRef:34] [34: Disponível em: https://vejario.abril.com.br/cidades/invasao-turistica-esgoto-e-lixo-ameacam-o-santuario-de-ilha-grande/] 
 Fonte: Felipe Fittipaldi, 2015
A rotina dos moradores que escolheram morar na ilha por ser inicialmente um lugar tranquilo foi quebrada. Enquanto prática socioespacial, o turismo vai se apropriando de determinados espaços, transformando-os e, a partir disso, produzindo territórios e territorialidades flexíveis e descontínuas (SOUZA, 1995), e “turistificando” os lugares (NICOLÀS,1996; KNAFOU,1996). A fala do morador “F” demonstra como esse processo de turistificação da ilha afetou e modificou o território: 
“... a prefeitura começou a fazer o saneamento básico e não acabou. Antes as casas eram todas com sistema de fossa e sumidouro, depois começaram a fazer estação de tratamento de esgoto, perfuraram a ilha todinha “pra” fazer os esgotos, só não acabou. Antigamente a gente esperava a maré subir e ia nas barras[footnoteRef:35] com a peneira e pegava um monte de robalo. Agora se fizer isso só pega cocô.” [35: É uma formação geológica que pode ocorrer nas desembocaduras de canais, estreitos, estuários, rios e outros cursos de água, devido à acumulação de material de aluvião, paralelo à costa, na linha onde a corrente do curso de água e a do corpo onde este desemboca se equilibram.] 
 Em qualquer lugar turístico existe alta e baixa temporada. Portanto, é comum que no verão a ilha receba mais visitantes que no inverno, mas para isso é necessário que se faça um planejamento para receber essa demanda. Os problemas aumentam durante feriadões de Ano Novo, Carnaval,Semana Santa, e na alta temporada do verão quando navios e escunas aportam na ilha abarrotados de turistas, sobrecarregando, também, o transporte marítimo do lixo, que fica acumulado nos cantos da Vila.
 Figura 20: Lixo na entrada do Abraão na alta temporada[footnoteRef:36] [36: Disponível em: https://www.oeco.org.br/colunas/emanuel-alencar/ai-de-ti-ilha-grande/] 
 Fonte: Emanuel Alencar, 2016
Além dos impactos ambientais, sofridos durante o processo de turistificação da Ilha Grande, existe também os sociais. O turismo na localidade interfere diretamente na rotina do morador da ilha. O fluxo de pessoas fora da região levou insegurança aos nativos da ilha. Por esse motivo o sr, “P”, que vive na ilha há setenta anos declarou em tom nostálgico:
“Aqui a gente tinha respeito, tinha silêncio, tinha organização. Hoje não tem mais nada disso.” “... aqui era outra coisa, não era essa baderna que é hoje.” “Você lembra do presídio... Tinha preso? Tinha! Tinha preso. Mas preso andava na rua... nunca vi um preso criar um problema!
Sendo assim, como uma forma de diminuir esses impactos socioambientais, além do estabelecimento das unidades de conservação, a Prefeitura de Angra dos Reis tem um projeto de controle do acesso de visitantes à Ilha Grande no qual o objetivo é que se faça um cadastro para cada pessoa que visite Abraão, limitando a quantidade de visitantes no principal local de embarque e desembarque de turistas que visitam a ilha. “O fluxo intenso de pessoas na alta temporada está desgastando a infraestrutura local e por isso estamos pensando em controlar o acesso”, afirmou o presidente da TurisAngra, Carlos Alberto Gibrail Rocha Filho. 
Para o controle de capacidade de carga, estuda-se refrear o fluxo de grandes embarcações na baía da Ilha Grande. A limitação de transatlânticos é a mesma medida que se adotou em Búzios, outro Balneário da costa fluminense. O secretário de meio ambiente em 2011, Carlos Minc afirmou:
No fim de outubro vamos lançar o plano de desenvolvimento sustentável da região, estabelecendo os critérios. Conheço a Lagoa Azul e reconheço que deve haver um controle mais forte. A gente não pode permitir em hipótese alguma que a Baía de Ilha Grande vire uma Sepetiba 2 - afirmou Minc, prometendo punir exemplarmente os que cometerem irregularidades.
Um projeto elaborado pelo Instituto Estadual do Ambiente (Inea) prometia ordenar o turismo na Ilha Grande. De acordo com a proposta, os visitantes que quisessem ir ao balneário teriam que pagar uma taxa, que serviria para preservar a natureza local. O projeto foi enviado à Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) em 2016 e pretendia controlar a entrada pela Vila do Abraão, principal porto de atracação do local, mas até a presente data não se obteve resposta da Alerj. Atualmente só a comunidade do Aventureiro tem controle de carga. 
Segundo informações coletadas na Prefeitura de Angra dos Reis, um termo de compromisso firmado entre Ministério Público Estadual, Secretaria de Estado de Meio Ambiente, a antiga Feema (agora INEA), Prefeitura de Angra e a comunidade local, através de sua associação de moradores, limitou o número de visitantes na Praia do Aventureiro em 560 pessoas, que podem se hospedar nos campings autorizados a funcionar no local. A Praia do Aventureiro é uma Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS), limítrofe a Reserva Biológica Estadual da Praia do Sul (RBEPS), na Ilha Grande. 
Esse controle é feito por meio de uma pulseira e um voucher, distribuídos gratuitamente pela TurisAngra que o turista retira somente no Centro de Informações Turísticas da Praia do Anil (CIT) antes de embarcar. Para o presidente da Turisangra, Manoel Francisco de Oliveira, este é um grande passo de um longo processo que deve contar imprescindivelmente com a comunidade para dar certo. “A participação da comunidade é fundamental para implantação de um plano de carga que garanta a sobrevivência do ilhéu através de um turismo consciente. Estamos começando pela Praia do Aventureiro por ser um local de difícil acesso, que tem especificidades legais por ser área preservação permanente e com grande procura turística. Nas demais praias da Ilha Grande e do continente, a Prefeitura vai continuar atuando com o Projeto Angra Legal, coibindo camping, comércio e construções ilegais, entre outras ações socioambientais” - afirmou.
Angra dos Reis é uma cidade historicamente marcada por grande mobilização política de Associações de moradores que obtiveram uma maior projeção entre as décadas de 1980 e 1990. (BEZERRA, 2007) Na busca pela institucionalização destas associações é criado o Conselho Municipal de Angra dos Reis (COMAM) em 1983, que trazia consigo o propósito de debater e traçar diretrizes de lutas que unificassem os movimentos populares (BEZERRA, 2007). O Estatuto do CONAM, por sua vez, enfatiza o papel das associações de moradores: O CONAM defende a universalização da qualidade de vida, com especial atenção às questões do direito a cidade, incluindo além da luta pela moradia digna, saúde, transporte, educação, meio ambiente, trabalho, igualdade de gênero e raça e democratização em todos os níveis.
 A comunidade tem sido bastante participativa quantos aos projetos de proteção à ilha. A Associação de Moradores do Abraão (AMA) e dos outros povoados constantemente promovem ações que visam a proteção e/ou manutenção do lugar. Como exemplo, podemos citar os mutirões de limpezas das praias.
Outro problema na Ilha Grande é a ocupação irregular e predatória. Algumas áreas de costão rochosos onde não possuem comunidades, estão sendo construídas mansões, decks e píeres invadindo o mar. Os órgãos competentes (Prefeitura e Estado) têm tentado impedir essas construções, mas na maioria das vezes o poder aquisitivo e influente dos proprietários consegue burlar as fiscalizações. Enquanto isso, a atuação dos órgãos públicos ambientais tem sido voltada ao controle dos usos dos recursos naturais da ilha pelo nativo. 
A partir da chegada do turismo na Ilha suas práticas anteriormente rotineiras, como a agricultura, a pesca, a caça de animais, coleta de plantas na floresta e a sua própria ocupação do espaço, passaram a ser proibidas ou controladas pelos órgãos de proteção ao meio ambiente, contrastando com o crescente e desenfreado número de pousadas, mansões e restaurantes nas praias que surgem a cada dia.
A senhora X, nasceu na Ilha Grande e a entrevista a fez voltar ao passado por uns instantes. Quando perguntada sobre como a ilha era antes do estabelecimento do turismo foi melancólica: 
“Era diferente né... Um lugarzinho bucólico. E não tinha essa expansão toda de moradores, pousadas, bares e restaurantes e imigrantes. Entendeu? Eram só as pessoas aqui nativas que nasceram e foram criadas aqui e nunca saíram daqui.” 
 O produto cultural contemporâneo, ao mesmo tempo que é global, produz enraizamentos no local, criando “sentidos globais de lugar”, que interagem com as identidades, memórias e tradições (ARANTES, 2004, p.3). 
Desde 1970 a Ilha Grande tem sido disputada por elites econômicas nacionais e internacionais com projetos de implantar empreendimentos imobiliários e turísticos em seu território. Mas esses projetos têm sido retraídos pelos órgãos de proteção ao meio ambiente. O Estado tem atuado na preservação de terras que considera de interesse público, representado pela biodiversidade e os ecossistemas, tendo atuado em outros casos de tentativa de construção de grandes empreendimentos na ilha. 
A Reserva Biológica Estadual da Praia do Sul foi um exemplo de ação do poder público para impedir o avanço dos grandes interesses imobiliários e turísticos, refreando um projeto sendo colocado em prática. Atualmente, o acesso à RBEPS é expressamente proibido e Polícia Militar Florestal fiscaliza a área em dias de ilha cheia. 
3.2 Medidas para proteção dos recursos naturais
A Ilha Grande possui uma condição especial no que se refere à conservação dos recursos naturais. Ela compõe o Parque Estadual da Ilha Grande (PEIG) foi criado

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