Buscar

ANAIS_DO_ENCONTRO_CIENTIFICO_DO_CONGRESS

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 147 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 147 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 147 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

Londrina/PR - Editora Thoth responsável pela publicação 
Comissão da Advocacia Criminal de Londrina 
V. 2, 2019 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Anais do Encontro Científico do Congresso da Advocacia Criminal de Londrina. 
Londrina/PR. V. 2, 2019. Jan./Dez. Publicação anual. 
 
 
 
 
 
COORDENAÇÃO: 
Rafael Junior Soares. Rafael Garcia Campos. Wilian Gomes dos Anjos. 
 
ORGANIZAÇÃO: 
Beatriz Daguer. Roberta Carolina de Afonseca e Silva. Polyana Keiko Shishido. Rafael Junior 
Soares. 
 
ANAIS DO ENCONTRO CIENTÍFICO DO CONGRESSO DA ADVOCACIA 
CRIMINAL DE LONDRINA. 
Londrina/PR. V.2, 2019. Jan./Dez. Publicação anual. 
Comissão da Advocacia Criminal de Londrina 
Rua Governador Parigot de Souza, nº 311 - CEP 86015-650 - Londrina/PR. 
afonsecaroberta@gmail.com 
 
© Direitos de Publicação Editora Thoth. Londrina/PR. Editora responsável pela publicação. 
Rua Júlio Estrela Moreira, 154, Londrina/PR, CEP 86015-070. 
www.editorathoth.com.br 
contato@editorathoth.com.br 
Diagramação: Editora Thoth 
Revisão: os autores. Editor chefe: Bruno Fuga 
Coordenador de Produção Editorial: Thiago Caversan Antunes 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A Comissão Científica do III Congresso da Advocacia Criminal de Londrina agradece a 
todos os acadêmicos e profissionais que participaram ativamente do evento, contribuindo 
intelectualmente para o desenvolvimento dos trabalhos. Além da busca incessante pelo 
reconhecimento da advocacia criminal e a luta pela efetivação das prerrogativas conferidas à 
classe, um dos objetivos do Congresso é discutir temas atuais e fomentar a pesquisa científica. 
 
 
 
COMISSÃO ORGANIZADORA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
APRESENTAÇÃO ................................................................................................................................. 4 
ARTIGOS CIENTÍFICOS ................................................................................................................. 10 
GT – CIÊNCIAS CRIMINAIS .......................................................................................................... 11 
OPRESSÃO POLICIAL NO BRASIL E A LEGÍTIMA DEFESA DO “PROJETO 
ANTICRIME” ....................................................................................................................................... 12 
POLICE OPPRESSION IN BRAZIL AND THE LEGITIMATE DEFENSE OF THE 
“ANTICRIME PROJECT” ................................................................................................................. 12 
INTRODUÇÃO ............................................................................................................................... 12 
1 OPRESSÃO EM NÚMEROS .................................................................................................... 13 
2 MODIFICAÇÕES NA LEGÍTIMA DEFESA PROMOVIDA PELO PROJETO 
ANTICRIME ..................................................................................................................................... 14 
CONCLUSÃO .................................................................................................................................. 19 
REFERÊNCIAS ............................................................................................................................... 20 
O CRIME DE IMPORTUNAÇÃO SEXUAL E A RETROATIVIDADE DA LEI PENAL
 .................................................................................................................................................................. 23 
THE CRIME OF SEXUAL IMPORTUNATION AND THE RETROACTIVITY OF 
CRIMINAL LAW.................................................................................................................................. 23 
INTRODUÇÃO ............................................................................................................................... 24 
1 A APLICAÇÃO DA IMPORTUNAÇÃO SEXUAL NOS TRIBUNAIS SUPERIORES
 .............................................................................................................................................................. 25 
2 A RETROATIVIDADE DO ARTIGO 215-A NO ESTUPRO DE .................................. 26 
2.1 PRINCÍPIO DA ESPECIALIDADE ................................................................................ 28 
CONCLUSÃO .................................................................................................................................. 29 
REFERÊNCIAS ............................................................................................................................... 30 
A ADEQUAÇÃO DA PROPOSTA DE PLEA BARGAINING CONTIDA NO PROJETO 
DE LEI ANTICRIME AO SISTEMA DE JUSTIÇA CRIMINAL BRASILEIRO ................. 32 
THE ADEQUACY OF THE PLEA BARGAINING PROPOSAL CONTAINED IN 
ANTICRIME LAW PROJECT IN THE BRAZILIAN CRIMINAL JUSTICE SYSTEM ..... 32 
INTRODUÇÃO ............................................................................................................................... 33 
1 AS PROPOSTAS DO PLEA BARGAINING E SUA ADEQUAÇÃO À REALIDADE 
JURÍDICA CRIMINAL BRASILEIRA ........................................................................................ 34 
2 PERSPECTIVA CRIMINOLÓGICA DO PLEA BARGAINING: IGUALDADE 
FORMAL E SUBSTANCIAL ........................................................................................................ 36 
CONCLUSÃO .................................................................................................................................. 38 
REFERÊNCIAS ............................................................................................................................... 39 
DA COMPENSAÇÃO AO DANO EXTRAPATRIMONIAL EM JUÍZO CRIMINAL: UMA 
RUPTURA EPISTEMOLÓGICA ..................................................................................................... 41 
 
 
 
FROM COMPENSATION TO EXTRAPATRIMONIAL DAMAGE IN CRIMINAL 
JUDGMENT: AN EPISTEMOLOGICAL BREAKDOWN ....................................................... 41 
INTRODUÇÃO ............................................................................................................................... 41 
1 DO DEVER DE REPARAR O DANO .................................................................................. 42 
2 DA FLAGRANTE CRISE EPISTEMOLÓGICA NA COMPENSAÇÃO 
EXTRAPATRIMONIAL NO PROCESSO PENAL ................................................................ 42 
3 DA CRISE INSTRUTÓRIA NA FIXAÇÃO DO QUANTUM INDENIZATÓRIO NO 
CURSO DO PROCESSO PENAL ............................................................................................... 45 
CONCLUSÃO .................................................................................................................................. 48 
REFERÊNCIAS ............................................................................................................................... 48 
A POLÍTICA CRIMINAL PROIBICIONISTA DE DROGAS COMO 
IMPULSIONADORA DO CRIME ORGANIZADO: DA ATUAL CRISE NO SISTEMA 
CARCERÁRIO E DO ENCARCERAMENTO DA JUVENTUDE ......................................... 50 
LA POLÍTICA CRIMINAL PROHIBICIONISTA DE DROGAS COMO CONDUCCIÓN 
DEL CRIMEN ORGANIZADO: LA ACTUAL CRISIS EN EL SISTEMA PRISIÓN Y DEL 
ENCARCELAMIENTO DE LA JUVENTUD .............................................................................. 50 
INTRODUÇÃO ............................................................................................................................... 50 
1 O PROIBICIONISMO COMO VETOR DO CRIME ORGANIZADO ......................... 51 
2 EVOLUÇÃO E CONSEQUÊNCIAS DAS POLÍTICAS PROIBICIONISMO NO 
BRASIL ............................................................................................................................................... 52 
3 A GUERRA CONTRA O CRIME SEUS NÚMEROS E DESDOBRAMENTOS ......... 54 
4 O DIREITO PENAL MÍNIMO EM PARALELO A UM ESTADO DE VINGANÇA
 ..............................................................................................................................................................55 
5 A CRISE NO SISTEMA CARCERÁRIO COMO FORMA DE DESUMANIZAÇÃO, 
SOBERANIA ESTATAL E SUAS CONSEQUÊNCIAS ........................................................ 57 
CONCLUSÃO .................................................................................................................................. 58 
REFERÊNCIAS ............................................................................................................................... 59 
SUPRANACIONALIDADE E COOPERAÇÃO NO ÂMBITO DO DIREITO 
INTERNACIONAL PENAL PRODUZIDA PELA UNIÃO EUROPEIA ............................ 61 
SUPRANATIONALITY AND COOPERATION IN THE FRAMEWORK OF 
INTERNATIONAL PENAL LAW PRODUCED BY THE EUROPEAN UNION ............ 61 
INTRODUÇÃO ............................................................................................................................... 62 
1 COOPERAÇÃO PENAL INTERNACIONAL ..................................................................... 63 
2 SUPRANACIONALIDADE ...................................................................................................... 63 
3 COOPERAÇÃO E HARMONIZAÇÃO DO DIREITO PENAL INTERNACIONAL
 .............................................................................................................................................................. 64 
CONCLUSÃO .................................................................................................................................. 68 
REFERÊNCIAS ............................................................................................................................... 68 
ANÁLISE DOS EFEITOS DA ATUAL REDAÇÃO DO ARTIGO 225 DO CÓDIGO 
PENAL E SUAS POSSÍVEIS REPERCUSSÕES .......................................................................... 71 
ANALYSIS OF THE EFFETCS OF THE CURRENT WRITING OF ARTICLE 225 OF 
THE CRIMINAL CODE AND ITS POSSIBLE REPERCUTIONS ........................................ 71 
 
 
 
INTRODUÇÃO ............................................................................................................................... 72 
1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO ARTIGO 225 DO CÓDIGO PENAL .......................... 72 
1.1 ORIGEM DO ARTIGO 225 DO CÓDIGO PENAL .................................................. 72 
1.2 REFORMA PENAL INSTITUÍDA PELA LEI 12.015/2009 ...................................... 73 
2 LEI 13.718/2018 E O ARTIGO 225 DO CÓDIGO PENAL ............................................. 75 
2.1 CONTEXTO SOCIAL EM QUE OCORREU O PROCESSO LEGISLATIVO 
RESULTANTE NA LEI 13.718/2018 ..................................................................................... 75 
2.2 ALTERAÇÃO REDACIONAL PROMOVIDA PELA LEI 13.718/2018 NO 
ARTIGO 225 DO CÓDIGO PENAL..................................................................................... 76 
3 EFEITOS PRÁTICOS DA ATUAL REDAÇÃO DO ARTIGO 225 DO CÓDIGO 
PENAL ............................................................................................................................................... 77 
3.1 EFEITOS PROCESSUAIS .................................................................................................. 77 
3.2 EFEITOS DO PONTO DE VISTA CRIMINOLÓGICO ........................................... 78 
CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................................ 80 
REFERÊNCIAS ............................................................................................................................... 81 
A TUTELA DOS DIREITOS DA PERSONALIDADE DO DELATOR............................... 83 
THE PROTECTION OF THE BETRAYING PERSONALITY RIGHTS ............................. 83 
INTRODUÇÃO ............................................................................................................................... 83 
1 OS DIREITOS DA PERSONALIDADE ................................................................................ 84 
1.1 A DISTINÇÃO ENTRE DIREITOS FUNDAMENTAIS E DIREITOS DA 
PERSONALIDADE ................................................................................................................... 85 
2 DA DELAÇÃO PREMIADA .................................................................................................... 85 
2.1 NATUREZA JURÍDICA ..................................................................................................... 86 
2.2 A TUTELA DOS DIREITOS DA PERSONALIDADE DO DELATOR ............... 87 
CONCLUSÃO .................................................................................................................................. 90 
REFERÊNCIAS ............................................................................................................................... 91 
O USO EQUIVOCADO DO TERMO PEDOFILIA E SUAS IMPLICAÇÕES NO ÂMBITO 
MÉDICO E LEGAL ............................................................................................................................ 94 
THE WRONG USE OF THE PEDOPHILIA WORD AND THE MEDICAL AND LEGAL 
IMPLICATIONS................................................................................................................................... 94 
INTRODUÇÃO ............................................................................................................................... 94 
1 CONTEXTUALIZAÇÃO SÓCIO HISTÓRICA ................................................................... 95 
1.1 ASPECTOS JURÍDICOS..................................................................................................... 96 
1.2 ASPECTOS MÉDICOS E PSICOLÓGICOS ................................................................. 97 
2 DISCUSSÃO .................................................................................................................................. 98 
CONCLUSÃO .................................................................................................................................. 99 
REFERÊNCIAS .............................................................................................................................100 
ANÁLISE SOBRE VITIMOLOGIAS FEMININAS ..................................................................102 
ANALYSIS ON FEMININE VITIMOLOGIES .........................................................................102 
 
 
 
INTRODUÇÃO .............................................................................................................................102 
1 DESENVOLVIMENTO ...........................................................................................................103 
1.1 VIOLÊNCIA CONTRA AS MULHERES.....................................................................103 
1.2 O FEMINICÍDIO NO BRASIL ......................................................................................104 
1.3 CONSEQUÊNCIAS DA VIOLÊNCIA .........................................................................105 
2 METODOLOGIA DE PESQUISA ........................................................................................106 
2.1 RESULTADOS ....................................................................................................................108 
CONCLUSÃO ................................................................................................................................109 
REFERÊNCIAS .............................................................................................................................109 
A PRISÃO PREVENTIVA DO EX-PRESIDENTE MICHEL TEMER E A 
(DES)NECESSIDADE DA CONTEMPORANEIDADE DOS FATOS ..............................111 
THE PREVENTIVE DETENTION OF THE EX-PRESIDENT MICHEL TEMER AND 
THE (UN)NECESSITY FOR CONTEMPORARY FACTS .....................................................111 
INTRODUÇÃO .............................................................................................................................111 
DESENVOLVIMENTO ..............................................................................................................112CONCLUSÃO ................................................................................................................................114 
REFERÊNCIAS .............................................................................................................................114 
A INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA NA LEI 11.343/06 ....................................................116 
THE REVERSAL OF THE BURDEN OF PROOF IN LAW 11.343/06 ..............................116 
INTRODUÇÃO .............................................................................................................................116 
DESENVOLVIMENTO ..............................................................................................................117 
CONCLUSÃO ................................................................................................................................118 
REFERÊNCIAS .............................................................................................................................118 
APONTAMENTOS SOBRE A RESPONSABILIDADE PENAL DA PESSOA JURÍDICA
 ................................................................................................................................................................119 
APPOINTMENTS ON THE CRIMINAL LIABILITY OF THE CORPORATION .........119 
INTRODUÇÃO .............................................................................................................................119 
DESENVOLVIMENTO ..............................................................................................................120 
CONCLUSÃO ................................................................................................................................121 
REFERÊNCIAS .............................................................................................................................121 
O PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA NO DIREITO PENAL BRASILEIRO ..............122 
THE PRINCIPLE OF INSIGNIFICANCE IN BRAZILIAN CRIMINAL LAW ................122 
INTRODUÇÃO .............................................................................................................................122 
DESENVOLVIMENTO ..............................................................................................................123 
CONCLUSÃO ................................................................................................................................124 
REFERÊNCIAS .............................................................................................................................125 
JUSTIÇA RESTAURATIVA – APLICAÇÃO NO ORDENAMENTO JURÍDICO 
BRASILEIRO ......................................................................................................................................126 
RESTORATIVE JUSTICE - APPLICATION IN BRAZILIAN LEGAL ORDINANCE ..126 
 
 
 
INTRODUÇÃO .............................................................................................................................126 
DESENVOLVIMENTO ..............................................................................................................127 
CONCLUSÃO ................................................................................................................................128 
REFERÊNCIAS .............................................................................................................................128 
JUSTIÇA NEGOCIADA – ADOÇÃO DO PLEA BARGAIN NO BRASIL .......................129 
NEGOTIATED JUSTICE – ADOPTION OF PLEA BARGAIN IN BRAZIL...................129 
INTRODUÇÃO .............................................................................................................................129 
DESENVOLVIMENTO ..............................................................................................................130 
CONCLUSÃO ................................................................................................................................132 
REFERÊNCIAS .............................................................................................................................133 
O DECLÍNIO DO DIREITO PENAL .........................................................................................134 
THE DECLINE OF CRIMINAL LAW .........................................................................................134 
INTRODUÇÃO .............................................................................................................................134 
DESENVOLVIMENTO ..............................................................................................................135 
CONCLUSÃO ................................................................................................................................136 
REFERÊNCIAS .............................................................................................................................136 
OMISSÕES INCONSTITUCIONAIS EM MATÉRIA PENAL: QUAL É O PROBLEMA 
JURÍDICO, AFINAL? .......................................................................................................................138 
OMISIONES INCONSTITUCIONALES EN MATERIA PENAL: ¿QUÉ ES EL 
PROBLEMA JURÍDICO, AFINAL? ..............................................................................................138 
INTRODUÇÃO .............................................................................................................................138 
DESENVOLVIMENTO ..............................................................................................................139 
CONCLUSÃO ................................................................................................................................141 
REFERÊNCIAS .............................................................................................................................142 
EXECUÇÃO PROVISÓRIA DA SENTENÇA CRIMINAL APÓS A CONDENAÇÃO NO 
TRIBUNAL DO JÚRI: UMA ANÁLISE ARGUMENTATIVA ..............................................143 
EJECUCIÓN PROVISIONAL DE LA SENTENCIA CRIMINAL DESPUÉS DE LA 
CONDENACIÓN EN EL TRIBUNAL DEL JURADO: UN ANÁLISIS 
ARGUMENTATIVO ........................................................................................................................143 
INTRODUÇÃO .............................................................................................................................143 
DESENVOLVIMENTO ..............................................................................................................144 
CONCLUSÃO ................................................................................................................................146 
REFERÊNCIAS .............................................................................................................................146 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ANDRE PO SHENG YU 
Graduando em Direito pela Pontifícia Universidade Católica – PUCPR. 
E-mail: poshengyu@gmail.com. 
 
 
Resumo: O presente artigo busca mostrar como as alterações no instituto de legítima defesa do 
Código Penal pelo Projeto Anticrime são nocivas para a República Federativa do Brasil e para a 
segurança jurídica através de pesquisas bibliográficas e documentais. As alterações não são 
destinadas a garantir a segurança e paz na população como se imagina, mas legitimar a atuação 
violenta, irresponsável e desproporcional do Estado. É inegável que Brasil precisa de soluções 
para conter a violência, mas da maneira como é lançada, o Projeto Anticrime acaba por 
desmoronar as conquistas que a Constituição vem trazendo desde 1988, a permitir a violação do 
maior bem jurídico: a vida humana. 
 
Palavras-chave: Legítima defesa. Opressão policial. Pacote anti-crime. 
 
Abstract: This article tries to show how the changes in the institute of legitimate defense of the 
Penal Code by the Anticrime Project are harmfulfor the Federative Republic of Brazil and for 
legal security through bibliographical and documentary researches. The changes are not intended 
to guarantee security and peace in the population as one imagines, but to legitimize the violent, 
irresponsible and disproportionate action of the State. It is undeniable that Brazil needs solutions 
to contain violence, but in the way it is launched, the Anticrime Project ends up crumbling the 
achievements that the Constitution has been bringing since 1988, allowing the violation of the 
greatest legal good: human life. 
 
Key-Words: Legitimate defense. Police oppression. Anti-crime project. 
INTRODUÇÃO 
Brasil é assolado pela violência há tempos, não bastam o medo, agonia e sofrimento das pessoas 
ao circularem pela urbe ou pelo campo, é preciso atentar também à violência proveniente do 
Estado, materializada sob forma da polícia militar. O presente trabalho busca demonstrar a partir 
de pesquisas bibliográficas, que o dito “Projeto de Lei Anticrime” com sugestivas alterações 
inerentes aos artigos 23 e 25 do Código Penal, constitui como meio de institucionalização da 
opressão policial, diferente do que a população possa imaginar, é imprescindível uma análise 
minuciosa das consequências jurídicas e sociais que tais alterações no Código Penal possam 
trazer. Em outros termos, o objetivo é esclarecer que a proposta do ministro Sérgio Moro pouco 
soluciona, combate ou atenua a questão da violência no Brasil, servindo apenas de um 
instrumento fictício para acalmar uma população que aclama a tempos por segurança. Eis a 
fixação de uma falsa sensação sobre o sentimento de tranquilidade populacional. Se partir da 
análise a teor rigoroso da ciência, verifica-se que o projeto é vago e fere os valores que a 
Constituição prega e se demonstra como afronta à segurança jurídica. 
 
 
 
Em um país onde possui a polícia mais letal do mundo,1 o referido projeto pode conferir aos 
policiais e agentes de segurança pública grandes poderes na atuação da profissão no cotidiano, 
que muitas vezes extrapola o limite permitido, invadindo e reproduzindo o abuso sobre 
população específica. Portanto, o presente trabalho buscará dissecar as alterações do instituto da 
legítima defesa ao destacar em primeiro momento os aspectos quantitativos da violência no 
Brasil e posteriormente partirá para uma análise jurídica do aspecto vago das alterações 
legislativas. 
1 OPRESSÃO EM NÚMEROS 
 
“Mãe, eu sei quem atirou em mim, eu vi quem atirou em mim. Foi o blindado, mãe. Ele não me 
viu com a roupa de escola?”, essas foram as palavras proferidas pelo adolescente Marcos Vinícius 
da Silva a sua mãe, Bruna, durante operação policial catastrófica no complexo de favelas da Maré 
no Rio de Janeiro.2 Marcos veio a falecer no hospital, onde teve o baço e rim retirados. O 
falecimento de Marcos gerou onda de protestos na comunidade onde ele foi criado, 
acompanhado por parentes, amigos, professores, moradores do complexo. 
 A tragédia que ocorreu com o adolescente não é isolada, apenas foi amplamente 
divulgada pelos meios de comunicação, que gerou comoção nacional. Quantos jovens, 
adolescentes tiveram o mesmo destino que Marcos? Segundo dados divulgados pelo Instituto 
de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA, 2018), no ano de 2016 foram assassinados 33.590 
jovens, deste número, 94.6% do sexo masculino.3 Em paralelo, o Fórum Brasileiro de Segurança 
Pública em seu anuário divulgou que no ano de 2016 foram 4240 mortes decorrentes das 
intervenções policiais (em serviço e fora de serviço). Tal número saltou para 5159 no ano de 
20174, significando um aumento em 21,6%! 
 Os alvos da truculência policial se concentram no grupo de pessoas entre 15 e 29 anos, 
em grande maioria os negros, moradores da periferia. De acordo com o Atlas da Violência 
(2018), a taxa de homicídio de negros (40,2%) é quase duas vezes e meia maior em relação à de 
não negros (16,0%).5 Outro dado de extrema relevância é o comparativo realizado pelo FBSP 
(Fórum Brasileiro de Segurança Pública), que destacou as seguintes informações: no ano de 2017, 
o número de policiais mortos foi 367, enquanto que cerca de 5159 pessoas foram mortas em 
intervenções policiais, o que significa que a cada um policial morto por dia, catorze civis eram 
mortos (1/14).6 
 Diante deste cenário caótico, a solução encontrada pelo ministro da Justiça Sérgio Moro 
foi o Projeto de Lei “Anticrime”, enquanto na situação como presidente da república Jair 
Bolsonaro decidiu afrouxar as conquistas do Estatuto do Desarmamento (lei 10.826/2003) ao 
assinar o decreto nº 9785/2019. 
 Tais medidas frustram o combate à violência, mas sob ótica de uma população que não 
vivencia paz e/ou segurança há tempos, a falsa sensação de tranquilidade, serenidade nunca 
estiveram tão próximas. Hodiernamente, mais que nunca, a população aclama por punição, por 
meios defensivos privados, já que não se destina tanta confiança no papel desempenhado pelo 
Estado. 
 
1 ARAÚJO, Thiago. Polícia brasileira é a que mais mata no mundo, diz relatório. Exame Abril, São Paulo, 8 
set. 2015. 
2 BETIM, Felipe. Mãe de jovem morto no Rio: “É um Estado doente que mata criança com roupa de escola”. 
El País, Rio de Janeiro, 25 jun. 2018. 
3 CERQUEIRA, Daniel et al. Atlas da Violência 2018. Rio de Janeiro: Ipea/FBSP, 2018, p. 32. 
4 FÓRUM BRASILEIRO DE SEGURANÇA PÚBLICA – FBSP. Anuário Brasileiro de Segurança Pública. 
São Paulo: FBSP, 2018, p. 26. 
5 CERQUEIRA et al, op. cit., p. 40. 
6 FBSP, op. cit., p. 6. 
 
 
 
 Dentre os motivos que corroboram para a vitória do atual presidente sobre outros 
candidatos presidenciais, reside a promessa feita durante o período eleitoral, ao garantir no 
documento conhecido como Projeto Fênix “o direito do cidadão à LEGÍTIMA DEFESA sua, 
de seus familiares, de sua propriedade e a de terceiros”.7 
 Uma parte da população brasileira (parte considerável) é incrédula em relação à 
capacidade do Estado solucionar as questões de segurança e violência, destarte, com as propostas 
do governo federal em alterar consideravelmente o estatuto do desarmamento e o Código Penal, 
verifica-se o ânimo do sujeito em tutelar os interesses próprios, da família, propriedade e 
terceiros. Isso tudo se trata de uma grande falácia do Estado em acobertar as atrocidades 
policiais8, de latifundiários9 que não cabem discussão no presente trabalho. 
2 MODIFICAÇÕES NA LEGÍTIMA DEFESA PROMOVIDA PELO PROJETO 
ANTICRIME 
 
 O instituto de legítima defesa está presente no Código Penal nos artigos 23 e 2510 e 
permite ao sujeito repelir a agressão, seja atual ou iminente de maneira moderada perante si ou 
outrem. 
 Releva o professor Bitencourt que 
 
A legítima defesa, nos termos em que é proposta pelo nosso Código Penal, exige a 
presença simultânea dos seguintes requisitos: agressão injusta, atual ou iminente; direito 
(bem jurídico) próprio ou alheio; meios necessários usados moderadamente; elemento 
subjetivo: animus defendendi. Este último é um requisito subjetivo; os demais são 
objetivos.11 (grifo meu). 
 
 Desta maneira, é imprescindível que 
 
A licitude de uma ação cometida em legítima defesa, decorrerá, portanto, de análise 
acurada da presença dos requisitos indispensáveis exigidos pelo legislador, para que 
conclua, tal como a lei presume, que o agente não atuou com menosprezo ao 
valor ínsito ao bem jurídico atingido, mas em função de um outro valor 
igualmente tutelado.12 (grifo meu). 
 
 Ao analisar separadamente os elementos, verifica-se que no que se trata da agressão 
injusta, atual ou iminente, tal agressão não precisa se constituir como um ato ilícito penal, sendo 
suficiente que o ato seja ilícito lato sensu. A escolha do vocábulo pelo legislador indica que “injusta 
será, em suma, a agressão ilícita (não necessariamente típica e antijurídica) que não estiver 
autorizada pelo ordenamento jurídico”13. Só após a materialização da tal prática injusta que 
analisará o aspecto da atualidade ou iminência. 
 
7 PROJETO FÊNIX:PROPOSTAS DE GOVERNO DE BOLSONARO. Disponível em: 
<https://flaviobolsonaro.com/PLANO_DE_GOVERNO_JAIR_BOLSONARO_2018.pdf>. Acesso em: 19 
mai. 2019. 
8 FÁBIO, André Cabette. O aumento de assassinatos pela polícia e o recorde de homicídios em 2017. Nexo Jornal, 
São Paulo, 15 ago. 2018. 
9 OLIVEIRA, Elida. Número de mortes por conflito cai, mas violência contra líderes de movimentos aumenta, diz 
CPT. G1, 10 dez. 2018. 
10 Art. 23 - Não há crime quando o agente pratica o fato: I - em estado de necessidade; II - em legítima defesa; III - 
em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício regular de direito. Art. 25 - Entende-se em legítima defesa 
quem, usando moderadamente dos meios necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de 
outrem. 
11 BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito penal: parte geral. 25. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2019, 
p. 436. 
12 REALE JÚNIOR, Miguel. Instituições de direito penal. 4. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2012, p. 152. 
13 BITENCOURT, op. cit., p. 437. 
 
 
 
 O segundo elemento a ser analisado é o bem jurídico a ser tutelado. Este pode referir ao 
bem do próprio sujeito ou de um terceiro. De acordo com Reale Jr., não se pode realizar 
interpretação restritiva do bem jurídico, abarcando estritamente e unicamente a vida ou a 
integridade física, ressalta o referido professor que todos bens jurídicos podem ser objetos de 
legítima defesa.14 
 É fundamental dentro deste contexto o uso moderado dos meios necessários, 
respeitando o princípio da proporcionalidade. Sobre este princípio, interessante é a indagação 
feita em seguinte sentido 
 
Pode-se dizer em legítima defesa o proprietário de uma casa em cujo jardim há uma 
jaboticabeira visitada por crianças, que invadem a residência, e uma delas vem a ser 
abatida por um tiro quando se achava no galho da árvore, defendendo-se assim, a 
propriedade?15 
 
 Na referida situação ocorreu ofensa a dois quesitos: a necessidade do meio e moderação 
do uso. Bitencourt discorre que 
 
Necessários são os meios suficientes e indispensáveis para o exercício eficaz da defesa. 
Se não houver outros meios, poderá ser considerado necessário o único meio disponível 
(ainda que superior aos meios do agressor), mas, nessa hipótese, a análise da moderação 
do uso deverá ser mais exigente, mais criteriosa, mais ajustada às circunstâncias. Aliás, 
além de o meio utilizado dever ser o necessário para a repulsa eficaz, exige-se que o seu 
uso seja moderado, especialmente quando se tratar do único meio disponível e 
apresentar-se visivelmente superior ao que seria necessário.16 (grifo meu). 
 
 Em suma, a legítima defesa “é uma espécie de sanção imposta ao agressor, a sanção que 
impede que a agressão se consume”.17 
Se tem a impressão de que aos olhos do ministro da justiça o atual instituto é muito restritivo e 
dificulta a atuação dos policiais,18 para tanto, é pertinente o julgamento em alterar o texto legal. 
Porém, ao promover tais alterações, estas não se concentram somente no âmbito jurídico, mas 
também no social. É oportuno transcrever as mudanças dos artigos que se referem ao instituto 
presente no Projeto Anticrime. 
 
Art. 23 – (...) 
§ 1º O agente, em qualquer das hipóteses deste artigo, responderá pelo excesso 
doloso ou culposo. 
§ 2º O juiz poderá reduzir a pena até a metade ou deixar de aplicá-la se o excesso 
decorrer de escusável medo, surpresa ou violenta emoção. 
Art. 25 – (...) 
Parágrafo único. Observados os requisitos do caput, considera-se em legítima 
defesa: 
I - o agente policial ou de segurança pública que, em conflito armado ou em 
risco iminente de conflito armado, previne injusta e iminente agressão a direito 
seu ou de outrem; e 
II - o agente policial ou de segurança pública que previne agressão ou risco de agressão 
a vítima mantida refém durante a prática de crimes.19 (grifo meu). 
 
14 REALE JÚNIOR, op cit., p. 155. 
15 Ibidem, p. 156. 
16 BITENCOURT, op. cit., p. 439. 
17 REALE JÚNIOR, op. cit., p. 159. 
18 PALMA, Gabriel; CALGARO, Fernanda. Moro diz que policial não pode ser tratado como homicida se criminoso 
morrer. G1, 06 fev. 2019. Disponível em: <https://g1.globo.com/politica/noticia/2019/02/06/ninguem-deseja-
morte-de-criminoso-mas-policial-nao-pode-ser-tratado-como-homicida-diz-moro.ghtml>. Acesso em: 19 mai. 
2019. 
19 BRASIL. Ministério da Justiça e da Segurança Pública. Projeto de Lei. Altera o Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de 
dezembro de 1940 - Código Penal, o Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941 - Código de Processo Penal, a 
Lei nº 7.210, de 11 de julho de 1984 - Lei de Execução Penal, a Lei nº 8.072, de 25 de julho de 1990, a Lei nº 8.429, 
 
 
 
 
 Interessante notar que em situações acobertadas pela eximente é possível o juiz reduzir 
a pena pela metade ou simplesmente não aplicar a pena se o excesso decorrer de escusável medo, 
surpresa ou violenta emoção. Surgem diversas indagações a partir da interpretação dos artigos, 
dentre elas: se o policial afirmar perante o juízo que matou por medo, isso será o bastante para 
garantir a ele a excludente de ilicitude? É fundamental relembrar e ressaltar na atual conjuntura 
política que o direito à vida é “pressuposto dos demais direitos; em segundo lugar, a violação ao 
direito à vida é irreversível e irreparável”.20 
 Destarte, como bem elucidam Machado e Gonçalves, em um país onde a polícia é 
extremamente abusiva, truculenta, o que ocorre de fato é a distorção da realidade ao atribuir o 
extermínio como morte ao confronto com a polícia.21 Segundo os referidos autores “é preciso 
salientar que a segurança pública no Brasil segue concebida e operada por um modelo militarista 
e encarcerador de controle do crime, o qual pressupõe que a segurança pública só se efetiva se 
– e somente se – houver a aniquilação ou o encarceramento de agentes criminais”.22 
 Outro questionamento que é tempestivo: como medir medo, surpresa ou violenta 
emoção? São conceitos vagos e permitem uma ampla interpretação, o que acaba por assombrar 
a segurança jurídica. 
 
Observa-se, assim, que, na forma como está escrita – “medo, surpresa ou violenta 
emoção” –, a disposição do projeto relativa ao excesso de legítima defesa estabelece uma 
inadequada aproximação entre o susto e o ódio, em face da amplitude do termo “violenta 
emoção” (que pode ser utilizado em efeitos astênicos e estênicos); merecendo, portanto, 
ser revista para não conceder margem a argumentos antiéticos, aproveitadores de 
brechas legislativas, de afastamento de incidência do Direito Penal para uma verdadeira 
legalização do discurso de ódio.23 (grifo meu). 
 
 Explicita muito bem o professor Streck que “abstrações exigem explicações, sob pena 
de não dizerem nada. Ou de dizerem tudo sem dizer diretamente o que dizem, o que é ainda 
pior.”.24 Tal lógica deve ser levada em consideração não somente na análise do instituto da 
legítima defesa, mas sim no Projeto Anticrime como todo, assim como pela ciência jurídica e 
todas ciências em geral. 
 Em outros termos: 
 
Ao analisar separadamente cada um desses elementos, com exceção da “violenta 
emoção” tão conhecida pelos penalistas, observamos um grave problema: são 
conceitos demasiadamente abertos, que podem gerar decisões escatológicas e 
completamente diversas em tribunais Brasil afora.25 (grifo meu). 
 
 
de 2 de junho de 1992, a Lei nº 9.296, de 24 de julho de 1996, a Lei nº 9.613, de 3 de março de 1998, a Lei nº 10.826, 
de 22 de dezembro de 2003, a Lei nº 11.343, de 23 de agosto de 2006, a Lei nº 11.671, de 8 de maio de 2008, a Lei 
nº 12.037, de 1º de outubro de 2009, a Lei nº 12.850, de 2 de agosto de 2013, e a Lei nº 13.608, de 10 de janeiro de 
2018, para estabelecer medidas contra a corrupção, o crime organizado e os crimes praticados com grave violência 
a pessoa. Brasil, 2019. Brasília, 2019. 
20 RAMOS, André de Carvalho. Proteção à vida: a (in)convencionalidade das alterações envolvendo a legítima defesa 
no pacote anticrime. Boletim IBCCRIM,nº 318, p. 3. 
21 MACHADO, Érica Babini Lapa do Amaral; GONÇALVES, Cristhovão Fonseca. Legítima defesa e intervenção 
policial: qual o destino do uso da força estatal? Boletim IBCCRIM, nº 318, p. 13, mai. 2019. 
22 MACHADO; GONÇALVES, op. cit., p. 14. 
23 MELLO, Sebastian; ALBAN, Rafaela. O excesso de legítima defesa no projeto de lei de reforma do Código Penal: 
o que está escrito e o que não está escrito. Boletim IBCCRIM, nº 318, p. 25, mai. 2019. 
24 STRECK, Lênio Luiz. O “pacote anticrime” de Sérgio Moro e o martelo dos feiticeiros. Consultor Jurídico, São 
Paulo, 07 fev. 2019. 
25 MENDES, Alana Guimarães. A legítima defesa no pacote anticrime: uma analise a partir do princípio da taxatividade 
e o loop infinito do sistema penal brasileiro. Boletim IBCCRIM, nº 317, p. 29, abr. 2019. 
 
 
 
 É exatamente neste aspecto que a armadilha está lançada: não é possível sopesar a 
segurança jurídica de um lado e de outro a segurança dos policiais e/ou agentes de segurança, 
haja vista que “o Projeto Anticrime pouco contribui para dar segurança à atividade policial ou a 
qualquer sujeito que faça valer seu direito de autodefesa”.26 
 As palavras do professor Ramos chamam atenção para outro aspecto, qual seja: 
 
A alteração do art. 23 do Código Penal fragiliza esse dever ao permitir que o acusado 
fique até mesmo isento de pena caso o excesso punível (culposo ou doloso) no agir sob 
excludentes de ilicitude tenha ocorrido em face de “escusável medo, surpresa ou violenta 
emoção.” Essas minorantes genéricas não se aplicariam, em geral, aos agentes 
públicos, em face do dever do Estado em treinar seus servidores para justamente 
agir controladamente (sem excessos) no uso da força letal.27 (grifo meu). 
 
 Isso significa que o Estado tem a obrigação de treinar os agentes policiais, de segurança 
pública para que ajustem controladamente o uso da força durante a atuação da profissão, claro 
que, como humanos, as falhas existem, portanto o que se pretende é restringir a aplicação do 
instituto da legítima defesa e não simplesmente ampliá-la como pretende o Sérgio Moro. 
 Não é muito difícil entender que 
 
a alternativa hoje existente – de avaliação nas circunstâncias do caso de eventual excesso 
culposo ou doloso – serve de alerta (com efeito dissuasório) para aqueles que utilizam a 
força letal de modo desproporcional ou excessivo e acabam violando, sem necessidade, 
o direito à vida de outrem. Com essas minorantes, há o risco do incentivo a tais 
posturas e diminuição do efeito preventivo gerado pela existência da punição do 
excesso nas excludentes de ilicitude.28 (grifo meu). 
 
 Tangente ao parágrafo único do artigo 25, nota-se a inserção de um “conceito oriundo 
do direito internacional humanitário, que vem a ser “conflito armado”; e seu objetivo é assegurar 
o uso da excludente de ilicitude para o “agente de segurança pública””.29 Torna-se inapropriado 
o uso de tal termo pois 
remete às convenções de direito internacional humanitário. Mesmo considerando que 
se trataria de “conflito armado não internacional”, o direito internacional humanitário 
exige organização armada em conflito prolongado com o Estado, o que não se 
assemelha à atuação do crime – mesmo organizado – no Brasil. 30(grifo meu). 
 
 O uso banal do termo técnico adotado no projeto gera um questionamento frustrante: 
será que Brasil se encontra em situação de guerra? Ou o que é ainda mais grave, será um meio 
de justificação “de que a população das favelas poderá ser morta, com o consolo de que isso não 
ocorrerá de propósito, mas como dano colateral”?31 
Outro ponto vítima da atecnia crassa é o fato de o texto em seus incisos ressaltarem os 
elementos constituintes do caput. Isso ocorre com o artigo 25 em seus respectivos incisos. Como 
bem explicitado anteriormente, só é possível alegar o instituto de legítima defesa quando alguns 
elementos estiverem presentes: I - injusta agressão, atual ou iminente; II - a direito próprio ou 
de outrem, e III - de uso moderado de meios necessários para repelir a agressão. Portanto, 
 
se o agente policial ou de segurança pública, em conflito armado ou em risco iminente 
de tal conflito (I), ou em caso de vítima mantida refém (II), tem de observar os requisitos 
 
26 Ibidem. 
27 RAMOS, op. cit., p. 3. 
28 Ibidem, p. 4. 
29 Ibidem, p. 4. 
30 Ibidem, p. 4. 
31 GRECO, Luís. Análise sobre propostas relativas à legítima defesa no “Projeto de Lei Anticrime”. Jota, São 
Paulo, 07 fev. 2019. s/p. 
 
 
 
do caput, não há razão para destacar essas situações. Isso vale tanto para o inciso I, 
quanto para o II.32 
 
 É preciso esclarecer que a legítima defesa abrange a todos sujeitos, não podendo ser 
limitada a tal grupo de pessoas ou para determinadas situações em específico (vítima como 
refém). Seria o mesmo que cometer 
 
Os acréscimos soam, assim, tão despropositados quanto acrescentar ao extenso rol do 
art. 5º da Constituição Federal um inciso de conteúdo “o agente policial ou de segurança 
pública, em conflito armado ou em risco iminente de conflito armado, tem direito à vida, 
à integridade física, à propriedade etc.”33 
 
 Significa que tanto inciso I e II do artigo 25 dão a falsa impressão de criação de novas 
situações de legítima defesa, mas que em realidade são apenas derivações do próprio caput: 
 
Observe-se que, no elemento contextual de “vítima mantida refém”, já existe uma 
agressão, uma vez que por agressão, terminus technicus do instituto da legítima defesa, 
entende-se comportamento humano que gera perigo para um direito próprio ou alheio: 
quem mantém outra pessoa refém, lesiona (e portanto também coloca em perigo), no 
mínimo, o seu direito de liberdade de locomoção. Não é o inciso II que cria uma legítima 
defesa nessas situações: ela sempre existiu, nos termos do próprio caput.34 
 
 Como se não bastasse, a proposta de alteração presente no artigo 25 gera confusão para 
o leitor já que abre duas brechas. A primeira situa na exemplificação de legítima defesa, são os 
incisos meramente exemplificadores? A segunda é mais perturbadora ainda: será que passará a 
englobar mais interpretações acerca da legítima defesa? 
 Se de fato ampliar as interpretações do instituto, seria uma forma clara de legitimar a 
carnificina no Brasil. Sobre isso discorre professor Tangerino que 
 
Em se tratando de intervenção letal sem ameaça concreta, iminente e injusta à vida de 
alguém, seria pena de morte administrada pelo Estado, o que é expressamente vedado 
entre nós. Qualquer outra intervenção – a letal inclusive – seria aplicação de castigo, de 
punição estatal sem o prévio devido processo legal.35 
 
 Outro ponto que preocupa muito os professores de penal é o trecho que permite ao juiz 
“reduzir a pena ou deixar de aplicá-la”. Isso demonstra que ao invés de optar pela extinção da 
culpabilidade, foi decidido extinguir a punibilidade, concedendo o perdão judicial. O ideal seria 
que o Código Penal previsse em situações de excesso de legítima defesa a extinção de 
culpabilidade, como muitos países fazem. 
 
Isso porque uma agressão injusta, atual ou iminente, pode representar, para o agredido, 
uma perturbação no seu estado anímico, que o conduz a uma reação desproporcional 
na defesa. Valora-se, portanto, a existência de algo inerente ao próprio estado do agente 
durante a prática da conduta, de modo que não se pode exigir, no caso concreto, diante 
do susto, medo ou perturbação, fidelidade à norma jurídica.36 
 
 Por fim, será que tais mudanças proporcionarão segurança para o país? A história é capaz 
de dizer o contrário em um país que foi um dos últimos a abolir a escravidão; um país que matou, 
torturou pessoas durante a ditadura militar (1964-1985); e que até os dias contemporâneos 
 
32 GRECO, op. cit. 
33 Ibidem. 
34 GRECO, op. cit. 
35 TANGERINO, Davi. A legítima defesa no projeto anticrime de Moro. Jota, São Paulo, 06 fev. 2019, s/p. 
36 MELLO; ALBAN, op. cit., p. 25. 
 
 
 
reproduz práticas que distanciam da construção de uma sociedadelivre, justa e solidária como 
assegura a Constituição Federal em seu artigo 3º.37 
 É preciso analisar o pacote anticrime de maneira mais crítica, já que temos a obrigação 
de desconfiar quando o Governo tentar solucionar questões difíceis com equações fáceis, 
ademais, é preciso também 
 
Observar a quem serve a proposta de redução de pena ou perdão judicial nos excessos 
de legítima defesa, no país em que a “guerra às drogas” conduz a recordes de mortes 
causadas por policiais, é observar como a lei é capaz de gerir ilegalismos de maneiras 
distintas.38 
CONCLUSÃO 
 
 Na atual conjuntura política, se reacenderam discussões que ofendem o documento mais 
importante do nosso país: a Constituição Federal, e as pessoas não conseguem notar tamanha 
atrocidade que se está cometendo. É muito comum ver as pessoas debaterem sobre a questão 
da insegurança, violência e mais comum ainda é a reafirmação do discurso de que “bandido bom 
é bandido morto!”. 
 Combater violência usando a violência como pretende o ministro Sérgio Moro com suas 
sugestivas alterações conduzirá o Estado para o extermínio de uma população determinada, com 
cultura determinada, com moradia determinada: o negro, pobre que é morador da periferia. A 
falta de clareza e precisão dos artigos que tratam da legítima defesa demonstrados acima são 
preocupantes, afinal de contas, parece que o projeto de lei foi formulado de maneira distante da 
realidade brasileira, distante da milícia, distante da opressão policial, assim como distante da 
discussão democrática e próximo ao autoritarismo. 
 
37 BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil 
38 LOPES, Cláudio Ribeiro; GAMA, Alexis Andreus. Legítima defesa e o tratamento jurídico do excesso: 
legislando ao absurdo. Boletim IBCCRIM, nº 318, p. 16-17, mai. 2019. 
 
 
 
REFERÊNCIAS 
 
ARAÚJO, Thiago. Polícia brasileira é a que mais mata no mundo, diz relatório. Exame 
Abril, São Paulo, 8 set. 2015. Disponível em: < https://exame.abril.com.br/brasil/policia-
brasileira-e-a-que-mais-mata-no-mundo-diz-relatorio/>. Acesso em: 17 mai. 2019. 
 
BETIM, Felipe. Mãe de jovem morto no Rio: “É um Estado doente que mata criança com 
roupa de escola”. El País, Rio de Janeiro, 25 jun. 2018. Disponível em: 
<https://brasil.elpais.com/brasil/2018/06/22/politica/1529618951_552574.html>. Acesso 
em: 17 mai. 2019. 
 
BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito penal: parte geral. 25. ed. São Paulo: 
Saraiva Educação, 2019. 
 
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. 
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. 
Acesso em: 17 mai. 2019 
 
______. Decreto nº 9.785, de 07 de maio de 2019. Disponível em: 
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2019/decreto/D9785.htm>. Acesso 
em: 19 mai. 2019. 
 
______. Decreto-Lei nº 2.848, de 07 de dezembro de 1940. Código Penal. Rio de Janeiro, 
07 dez. 1940. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-
lei/del2848compilado.htm>. Acesso em: 17 mai. 2019. 
 
______. Ministério da Justiça e da Segurança Pública. Projeto de Lei. Altera o Decreto-Lei 
nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal, o Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de 
outubro de 1941 - Código de Processo Penal, a Lei nº 7.210, de 11 de julho de 1984 - Lei 
de Execução Penal, a Lei nº 8.072, de 25 de julho de 1990, a Lei nº 8.429, de 2 de junho de 
1992, a Lei nº 9.296, de 24 de julho de 1996, a Lei nº 9.613, de 3 de março de 1998, a Lei 
nº 10.826, de 22 de dezembro de 2003, a Lei nº 11.343, de 23 de agosto de 2006, a Lei nº 
11.671, de 8 de maio de 2008, a Lei nº 12.037, de 1º de outubro de 2009, a Lei nº 12.850, 
de 2 de agosto de 2013, e a Lei nº 13.608, de 10 de janeiro de 2018, para estabelecer 
medidas contra a corrupção, o crime organizado e os crimes praticados com grave violência 
a pessoa. Brasil, 2019. Brasília, 2019. Disponível em: 
<https://www.justica.gov.br/news/collective-nitf-content-1549284631.06/projeto-de-lei-
anticrime.pdf>. Acesso em: 17 mai. 2019. 
 
CERQUEIRA, Daniel et al. Atlas da Violência 2018. Rio de Janeiro: Ipea/FBSP. 
Disponível em: 
<http://www.ipea.gov.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=33410&
Itemid=432>. Acesso em: 16 mai. 2019. 
 
FÁBIO, André Cabette. O aumento de assassinatos pela polícia e o recorde de homicídios 
em 2017. Nexo Jornal, São Paulo, 15 ago. 2018. Disponível em: 
<https://www.nexojornal.com.br/expresso/2018/08/15/O-aumento-de-assassinatos-pela-
polícia-e-o-recorde-de-homicídios-em-2017>. Acesso em: 16 mai. 2019. 
 
 
 
 
FAVILENE, Matheus. Limites da legítima defesa nas ações de segurança pública. 
Consultor Jurídico, São Paulo, 04 mai. 2019. Disponível em: 
<https://www.conjur.com.br/2019-mai-04/matheus-falivene-limites-legitima-defesa-acoes-
seguranca>. Acesso em: 16 mai. 2019. 
 
FÓRUM BRASILEIRO DE SEGURANÇA PÚBLICA – FBSP. Anuário Brasileiro de 
Segurança Pública. São Paulo: FBSP. Disponível em: 
<http://www.forumseguranca.org.br/wp-content/uploads/2019/03/Anuario-Brasileiro-de-
Segurança-Pública-2018.pdf>. Acesso em: 19 mai. 2019. 
 
FURTADO, Regina Helena Fonseca Fortes. Breves indagações sobre a nova redação do 
artigo 23, do Código Penal brasileiro, proposta pelo denominado “Projeto de Lei 
Anticrime”. Boletim IBCCRIM, nº 318, p. 11-12, mai. 2019. Disponível em: 
<http://www.ibccrim.org.br/site/boletim/pdfs/Boletim318.pdf>. Acesso em: 16 mai. 2019. 
 
GOMES, Luiz Flávio. Projeto “anticrime” do governo: legítima defesa ou lei do abate? 
Consultor Jurídico, São Paulo, 12 fev. 2019. Disponível em: 
<https://www.conjur.com.br/2019-fev-12/opiniao-projeto-anticrime-legitima-defesa-ou-lei-
abate>. Acesso em: 16 mai. 2019. 
 
GRECO, Luís. Análise sobre propostas relativas à legítima defesa no “Projeto de Lei 
Anticrime”. Jota, São Paulo, 07 fev. 2019. Disponível em: 
<https://www.jota.info/paywall?redirect_to=//www.jota.info/opiniao-e-
analise/colunas/penal-em-foco/analise-sobre-propostas-relativas-a-legitima-defesa-no-
projeto-de-lei-anticrime-07022019> Acesso em: 16 mai. 2019. 
 
LOPES, Cláudio Ribeiro; GAMA, Alexis Andreus. Legítima defesa e o tratamento jurídico 
do excesso: legislando ao absurdo. Boletim IBCCRIM, nº 318, p. 16-17, mai. 2019. 
Disponível em: <http://www.ibccrim.org.br/site/boletim/pdfs/Boletim318.pdf>. Acesso em: 
16 mai. 2019. 
 
MACHADO, Érica Babini Lapa do Amaral; GONÇALVES, Cristhovão Fonseca. Legítima 
defesa e intervenção policial: qual o destino do uso da força estatal? Boletim IBCCRIM, 
nº 318, p. 13-15, mai. 2019. Disponível em: 
<http://www.ibccrim.org.br/site/boletim/pdfs/Boletim318.pdf>. Acesso em: 16 mai. 2019. 
 
MELLO, Sebastian; ALBAN, Rafaela. O excesso de legítima defesa no projeto de lei de 
reforma do Código Penal: o que está escrito e o que não está escrito. Boletim IBCCRIM, 
nº 318, p. 24-26, mai. 2019. Disponível em: 
<http://www.ibccrim.org.br/site/boletim/pdfs/Boletim318.pdf>. Acesso em: 16 mai. 2019. 
 
MENDES, Alana Guimarães. A legítima defesa no pacote anticrime: uma analise a partir 
do princípio da taxatividade e o loop infinito do sistema penal brasileiro. Boletim 
IBCCRIM, nº 317, p. 28-30, abr. 2019. Disponível em: 
<http://www.ibccrim.org.br/site/boletim/pdfs/Boletim317.pdf>. Acesso em: 16 mai. 2019. 
 
OLIVEIRA, Elida. Número de mortes por conflito cai, mas violência contra líderes de 
movimentos aumenta, diz CPT. G1, 10 dez. 2018. Disponível em: 
<https://g1.globo.com/natureza/noticia/2018/12/10/no-de-mortes-por-conflito-de-terra-cai-
 
 
 
mas-violencia-contra-lideres-de-movimentos-aumenta-diz-cpt.ghtml>. Acesso em: 19 mai. 
2019. 
 
PALMA, Gabriel; CALGARO, Fernanda. Moro diz que policial não pode ser tratado como 
homicida se criminoso morrer. G1, 06 fev. 2019. Disponível em: 
<https://g1.globo.com/politica/noticia/2019/02/06/ninguem-deseja-morte-de-criminoso-
mas-policial-nao-pode-ser-tratado-como-homicida-diz-moro.ghtml>. Aceso em: 19 mai. 
2019. 
 
PROJETO FÊNIX: PROPOSTAS DE GOVERNO DE BOLSONARO.Disponível em: 
<https://flaviobolsonaro.com/PLANO_DE_GOVERNO_JAIR_BOLSONARO_2018.pdf>. 
Acesso em: 19 mai. 2019. 
 
RAMOS, André de Carvalho. Proteção à vida: a (in)convencionalidade das alterações 
envolvendo a legítima defesa no pacote anticrime. Boletim IBCCRIM, nº 318, p. 3-5, mai. 
2019. Disponível em: <http://www.ibccrim.org.br/site/boletim/pdfs/Boletim318.pdf>. 
Acesso em: 16 mai. 2019. 
 
REALE JÚNIOR, Miguel. Instituições de direito penal. 4. ed. Rio de Janeiro: Forense, 
2012, p. 152-159. 
 
STRECK, Lênio Luiz. O “pacote anticrime” de Sérgio Moro e o martelo dos feiticeiros. 
Consultor Jurídico, São Paulo, 07 fev. 2019. Disponível em: 
<https://www.conjur.com.br/2019-fev-07/pacote-anticrime-sergio-moro-martelo-
feiticeiros?fbclid=IwAR1SNjUI8pFfehO8XF4KG99Ktt-
iZQAmuw7I1XVGLygCSzAZ8j3AsIxr_qY>. Acesso em: 16 mai. 2019. 
 
TANGERINO, Davi. A legítima defesa no projeto anticrime de Moro. Jota, São Paulo, 
06 fev. 2019. Disponível em: 
<https://www.jota.info/paywall?redirect_to=//www.jota.info/opiniao-e-analise/artigos/a-
legitima-defesa-no-projeto-anticrime-de-moro-06022019>. Acesso em: 16 mai. 2019. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
BEATRIZ DAGUER 
Acadêmica do 10º período de Direito na Pontifícia Universidade Católica do Paraná, Campus 
Londrina. Pós-graduanda em Direito Penal e Processo Penal Econômico pela Pontifícia 
Universidade Católica do Paraná, Campus Londrina. Contato: bedaguer@hotmail.com. 
 
LUCAS DE VASCONCELOS ZANOTTI 
Advogado criminalista. Especialista em Direito Público pela Faculdade Damásio. Especialista 
em Ministério Público - Estado Democrático de Direito pela Fundação Escola do Ministério 
Público do Estado do Paraná. Bacharel em Direito pela Universidade Estadual de Londrina. E-
mail: ldvzanotti@gmail.com. 
 
Resumo: O presente trabalho tem por objetivo formular estudo sobre a criação do delito de 
importunação sexual, que figura no artigo 215-A, do Código Penal, avaliando seus limites e 
aplicações na esfera judicial ante a possibilidade de retroatividade da lei para agir em benefício 
do réu. Por meio de análise dogmática e jurisprudencial, faz-se necessário compreender se a 
novel legislação tem o condão de retroagir em prol do acusado por incorrer em outros crimes 
sexuais que auferem pena mais gravosa, como o estupro (artigo 213, do Código Penal) ou o 
estupro de vulnerável (217-A, do Código Penal). Assim, questiona-se de qual forma se daria a 
execução prática dessa aplicação a partir da análise de julgamentos do Superior Tribunal de 
Justiça e Supremo Tribunal Federal que versaram sobre o tema em apreço, mas que ainda 
carecem de entendimento predominante. 
 
Palavras-chave: Código Penal. Importunação sexual. Retroatividade; Lei penal. 
 
Abstract: The purpose of this study is to formulate a study on the creation of a sexual 
importunation crime, which is included in article 215-A of the Penal Code, evaluating its limits 
and applications in the judicial sphere front the possibility of retroactivity of the law to act for 
the benefit of the defendant. Through dogmatic and jurisprudential analysis, it is necessary to 
understand if the new legislation has the power of retroacting on behalf of the accused by 
incurring other sexual crimes that receive more severe punishment, such as rape (article 213 of 
the Penal Code) or the rape of vulnerable (217-A of the Penal Code). Thus, it is questioned how 
the practical implementation of this application would be based on the analysis of judgments of 
the Superior Court of Justice and Federal Supreme Court that dealt with the subject in question, 
but which still lack a predominant understanding. 
 
Key-words: Penal Code. Sexual importunation. Retroactivity; Criminal law. 
 
 
 
 
 
 
 
INTRODUÇÃO 
 
A Lei 13.718/2018 introduziu o artigo 215-A no Código Penal brasileiro para tipificar a 
conduta de importunação sexual por meio da seguinte redação: “Praticar contra alguém e sem a 
sua anuência ato libidinoso com o objetivo de satisfazer a própria lascívia ou a de terceiro”. O 
delito foi incluído no rol dos crimes contra a dignidade sexual, estipulando-se a pena mínima de 
01 (um) e máxima de 05 (cinco) anos, quando da conduta não resultar crime mais grave. 
Surgida em contexto emergencial, a partir da recorrente exposição midiática concernente 
a assédios sexuais de viés físico nos transportes públicos e a ausência de reprimenda legal 
específica para tais situações, o principal objetivo da criação da importunação sexual foi sanar a 
problemática anteriormente existente ante a ausência de punição adequada para casos em que há 
prática de atos libidinosos sem violência ou grave ameaça. 
Antes do advento da mencionada lei, existiam entendimentos conflitantes sobre a 
tipicidade de atos libidinosos ocorridos no contexto do transporte público, onde se discutia o 
que, de fato, caracterizaria violência ou grave ameaça39. Desta maneira, os aplicadores do Direito 
viam-se incumbidos de decidir entre as duas condutas típicas até então existentes na legislação, 
quais sejam, o crime hediondo de estupro (previsto no artigo 213 do Código Penal)40 e a 
contravenção penal de importunação ofensiva ao pudor (prevista no artigo 65, do Decreto-lei 
nº 3.688/41)41. Não raras vezes, decidiam pela atipicidade da conduta ou pela desclassificação da 
tipicidade da conduta de estupro, sujeita a uma pena restritiva de liberdade de, no mínimo, seis 
anos, para a de importunação ofensiva ao pudor, sancionada somente com uma pena de multa42. 
Estas últimas possibilidades ocasionavam perplexidade e grande repercussão negativa no 
núcleo social, ante à falta da intervenção penal ou de sua amenidade nestes casos, provocando 
discussões acerca da necessidade de criação de novas leis penais. Em razão disso, o Congresso 
Nacional aprovou o projeto de lei que instituía o crime de importunação sexual no ordenamento 
jurídico, inserindo-o no rol de crimes do Código Penal que tutelam a dignidade sexual. 
Dessa forma, com a entrada da nova lei em vigor, discutem-se os limites da aplicação 
dessa norma em benefício do indivíduo acusado de cometer outros crimes contra a dignidade 
sexual, previstos no Título VI, do Código Penal. Nesse aspecto, dois casos paradigmáticos sobre 
o tema já foram julgados pelo Superior Tribunal de Justiça e pelo Supremo Tribunal Federal, em 
contextos fáticos e legais diversos, e serão oportunamente analisados. 
Portanto, buscar-se-á compreender se, a partir da redação atribuída, das características 
do tipo penal e do princípio da especialidade, é possível a aplicação do artigo 215-A em prol do 
réu em detrimento de imputação por crimes mais gravosos, como o estupro (artigo 213, do 
Código Penal) ou o estupro de vulnerável (artigo 217-A, do Código Penal), com objetivo 
principal de formular análise contundente sobre essa temática que ainda carece de entendimento 
predominante no âmbito dos Tribunais Superiores. 
 
 
39 Para alguns, a violência psicológica também pode ser considerada para fins de caracterização do estupro. 
Exemplo disso são publicações anteriores nesse sentido: VILAÇA, Laura. A violência de gênero no âmbito do 
transporte público brasileiro. Disponível em: <https://lauravilacaadv.jusbrasil.com.br/artigos/401190828/a-
violencia-de-genero-no-ambito-do-transporte-publico-brasileiro>. Acesso em: 09 abr. 2019. 
40 BRASIL. Decreto-lei nº 2.848, de 07 de dezembro de 1940. Código Penal. Disponível em: 
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del2848compilado.htm>. Acesso em 09 abr. 2019. 
41 BRASIL. Decreto-Lei nº 3.688, de 03 de outubro de 1941. Lei de Contravenções Penais. Disponível em: 
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del3688.htm>. Acesso em: 09 abr. 2019. 
42 Exemplo disso é o caso emblemático do “ejaculador do metrô”, que ejaculou na orelha de mulher dentro de 
transporte público na grande São Paulo e teve sua prisão relaxada em sede de audiência de custódia, 
ocasionando grande repercussão midiática e a consequente perplexidade do seiosocial, que passou a exigir a 
criação de lei penal para punir condutas semelhantes. RESK, Felipe. Por que o juiz soltou o ejaculador. 
Disponível em: <https://politica.estadao.com.br/blogs/fausto-macedo/por-que-o-juiz-soltou-o-ejaculador/>. 
Acesso em: 22 jan. 2019.> 
 
 
 
1 A APLICAÇÃO DA IMPORTUNAÇÃO SEXUAL NOS TRIBUNAIS 
SUPERIORES 
 
Depois de sancionada, a novel legislação de importunação sexual trouxe à tona debates 
relevantes no meio jurídico, sobretudo no que concerne à possibilidade de sua aplicação 
retroativa em prol de réus acusados ou condenados por estupro ou outros delitos sexuais 
igualmente graves. 
A discussão adquiriu relevo perante a 1ª Turma do Supremo Tribunal Federal no 
julgamento do habeas corpus nº 143.591, sob a relatoria do Ministro Marco Aurélio, cuja pretensão 
do paciente era de obter a desclassificação da condenação pela prática do crime de estupro de 
vulnerável (217-A, do Código Penal) para a conduta versada no artigo 65, do Decreto-Lei nº 
3.688/41. A situação examinada dizia respeito a homem condenado por beijar criança de 5 anos 
de idade ao levá-la para local deserto. 
Após condenação em primeiro grau à pena privativa de liberdade de 8 anos por estupro 
de vulnerável, em sede de apelação, o Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo desclassificou 
a conduta, subsumindo-a à contravenção penal prevista no artigo 65, do Decreto-lei nº 3.688/41, 
a qual possui previsão legal consistente em “molestar alguém ou perturbar-lhe a tranquilidade, 
por acinte ou motivo reprovável”, punida com prisão simples, de quinze dias a dois meses, ou 
multa43. 
Por sua vez, o Superior Tribunal de Justiça optou por restabelecer a sentença do juízo 
de primeira instância44, considerando que o acusado teria incorrido no delito previsto no artigo 
217-A, do Código Penal. 
Conforme se constata do Informativo nº 92845, no julgamento do referido habeas corpus 
pelo Supremo Tribunal Federal, o Ministro Luís Roberto Barroso indicou sua posição no sentido 
de que a conduta do paciente se subsumia à norma prevista no artigo 215-A do Código Penal, 
afirmando que essa pena se demonstra mais razoável e adequada em relação à discussão fática e 
probatória deste processo, devendo, portanto, retroagir a lei penal em seu benefício. 
Em contrapartida, o Ministro Alexandre de Moraes salientou que não haveria o que se 
falar em retroatividade da lei penal mais benéfica, uma vez que os tipos penais são absolutamente 
diversos, frisando que os dispositivos que preveem a importunação sexual e o estupro de 
vulnerável são inequivocamente distintos, o que se demonstra pelas próprias elementares do 
tipo, argumentando ainda que a criação do artigo 215-A “não pretendeu transformar atos claros 
de pedofilia num tipo penal mais brando”. 
Após deliberação, o relator Ministro Marco Aurélio votou por conceder a ordem, o 
presidente, Ministro Alexandre de Moraes votou por denegar a ordem, o Ministro Luís Roberto 
Barroso concedeu, de ofício, o encaminhamento dos autos à primeira instância para aplicação 
da desclassificação da pena para o artigo 215-A do Código Penal, sendo que, em seguida, o 
Ministro Luiz Fux pediu vista dos autos para melhor avaliar o tema46. Portanto, até o momento, 
não foi adotada posição definitiva sobre o assunto no âmbito da Suprema Corte. 
Por outro lado, a retroatividade da importunação sexual também chegou ao Superior 
Tribunal de Justiça, ocasião em que a 6ª Turma concedeu, de ofício, habeas corpus para 
readequação da classificação da conduta imputada ao acusado, anteriormente condenado por 
 
43 BRASIL. Decreto-Lei nº 3.688, de 03 de outubro de 1941. Lei de Contravenções Penais. Disponível em: 
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del3688.htm> Acesso em: 09 abr. 2019. 
44 MIGALHAS. STF decidirá se crime de importunação sexual retroage para caso envolvendo criança. 
Disponível em: <https://www.migalhas.com.br/Quentes/17,MI293151,11049-
STF+decidira+se+crime+de+importunacao+sexual+retroage+para+caso>. Acesso em: 09 abr. 2019. 
45 SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. Informativo nº 928. Disponível em: 
<http://www.stf.jus.br/portal/informativo/verInformativo.asp?s1=importuna%E7%E3o%20sexual&numero=9
28&pagina=1&base=INFO>. Acesso em: 09 abr. 2019. 
46 SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. Andamento processual. Habeas corpus nº 134.591. Disponível em: 
<http://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?incidente=4984830> Acesso em: 09 abr. 2019. 
 
 
 
estupro, sob a justificativa da superveniência da lei penal ser mais benéfica ao réu, com o 
consequente reajuste da pena47. 
O caso em comento se tratou de agravo regimental no recurso especial nº 1.730.341, 
sob a relatoria da Ministra Laurita Vaz, onde o agravante pretendia a desclassificação de sua 
condenação pelo crime de estupro (artigo 213, do Código Penal) para a contravenção penal de 
artigo 65, do Decreto-Lei nº 3.688/41, sob o fundamento de que nos fatos em discussão, não 
houve demonstração da ocorrência de conjunção carnal, tampouco a violência ou grave ameaça, 
que são elementares do estupro. 
Em seu voto, a Ministra analisa as considerações do Tribunal de Justiça do Estado do 
Paraná, suscitando que: 
 
No caso dos autos, pela descrição da conduta apurada pelas instâncias ordinárias, não 
houve violência ou grave ameaça. De fato, a Corte Estadual ressaltou expressamente 
que "(...) o réu, de fato, abordou a vítima, interceptou sua passagem, e passou a 
mão em seu seio e cintura, sendo que foi contido pela ação da filha da vítima e 
posteriormente por um motorista de van escolar que chegou em socorro às mesmas" 
(fl. 254), o que se subsume à conduta descrita na novel legislação, mais branda e, 
portanto, de aplicabilidade retroativa. (grifo nosso) 
 
Seguida pelos demais Ministros da 6ª Turma, a decisão de aplicar a retroatividade do 
crime de importunação sexual em prol do agravante foi unânime e considerou todos os aspectos 
fáticos relevantes comprovados em sede de primeira e segunda instância. 
Ressalte-se que, a partir da decisão do Superior Tribunal de Justiça, é de fácil 
constatação a utilidade da entrada em vigor do delito de importunação sexual para abarcar 
circunstâncias antes consideradas atípicas ou mera contravenção penal, e não somente os 
recorrentes casos de assédio sexual de viés físico nos transportes públicos, ainda que não se saiba 
até o momento qual a efetividade de sua aplicação. 
Ademais, em virtude da falta de posicionamento preeminente – até o momento – acerca 
da aplicabilidade do novo tipo penal no que tange à sua retroatividade, faz-se necessária análise 
jurídica e dogmática que envolva sua interpretação e utilidade no âmbito do Poder Judiciário. 
 
2 A RETROATIVIDADE DO ARTIGO 215-A NO ESTUPRO DE VULNERÁVEL 
 
A Constituição Federal de 1988, em seu artigo 5º, inciso XL, prevê que “a lei penal não 
retroagirá, salvo para beneficiar o réu”48. Além disso, a Convenção Americana sobre Direitos 
Humanos também dispõe sobre o tema, mais precisamente em seu artigo 9º, declarando que: 
 
Ninguém pode ser condenado por ações ou omissões que, no momento em que forem 
cometidas, não sejam delituosas, de acordo com o direito aplicável. Tampouco se 
pode impor pena mais grave que a aplicável no momento da perpetração do delito. Se 
depois da perpetração do delito a lei dispuser a imposição de pena mais leve, 
o delinquente será por isso beneficiado49. (grifo nosso) 
 
No que se refere à criação do crime de importunação sexual, por se tratar de lei penal 
com pena intermediária (de 1 a 5 anos) e com redação geral, sem especificações muito 
 
47 CONJUR. STJ concede HC e aplica nova lei de importunação sexual para reduzir pena. Disponível em: < 
https://www.conjur.com.br/2018-out-25/stj-concede-hc-aplica-lei-importunacao-sexual>. Acesso em: 09 abr. 
2019. 
48 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em: 
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm>. Acesso em: 09 abr. 2019. 
49 COMISSÃO INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS.Convenção Americana sobre Direitos 
Humanos. Disponível em: <https://www.cidh.oas.org/basicos/portugues/c.convencao_americana.htm>. Acesso 
em: 08 abr. 2019. 
 
 
 
particulares, de início deve-se discutir qual seria o grau de incidência e quais consequências 
ofertariam a aplicação do instituto da retroatividade nesse novo dispositivo ante os crimes de 
estupro (artigo 213, do Código Penal) e estupro de vulnerável (artigo 217-A, do Código Penal). 
Quanto à definição de lei penal mais benéfica, Cezar Roberto Bittencourt leciona que: 
 
Toda lei penal, seja de natureza processual, seja de natureza material, que, de 
alguma forma, amplie as garantias de liberdade do indivíduo, reduza as 
proibições e, por extensão, as consequências negativas do crime, seja 
ampliando o campo da licitude penal, seja abolindo tipos penais, seja refletindo 
nas excludentes de criminalidade ou mesmo nas dirimentes de culpabilidade, é 
considerada mais benigna, digna de receber, quando for o caso, os atributos 
da retroatividade e da própria ultratividade penal.50 (grifo nosso) 
 
Diante dos dois aludidos casos julgados, respectivamente, pelo Supremo Tribunal 
Federal e pelo Superior Tribunal de Justiça, inexistem em ambas as condutas dos acusados o 
emprego de violência ou grave ameaça para atingir o fim desejado (praticar ato libidinoso). 
Todavia, no primeiro caso, subsiste a situação de vulnerabilidade absoluta da vítima em razão da 
idade. De outro modo, em se tratando de vítima sem essa condição, o Superior Tribunal de 
Justiça compreendeu – acertadamente – pela aplicação da nova lei penal mais benéfica de 
imediato, muito embora a condenação em primeiro grau do réu tenha sido pelo crime de estupro. 
Sob esse aspecto, ao observar o artigo 217-A, do Código Penal51, verifica-se a 
especificidade do dispositivo que pressupõe vulnerabilidade por parte dos menores de 14 
(catorze) anos em seu caput e, em seu parágrafo primeiro, equipara a condição de vulnerabilidade 
aos enfermos, deficientes mentais ou àquele que não pode oferecer resistência. 
Para Luiz Regis Prado, 
 
o dispositivo em análise não exige para sua configuração o manifesto dissenso da 
vítima expresso pela sua resistência à cópula carnal ou ao ato libidinoso, que somente 
é superada pelo uso da violência ou da grave ameaça. Aqui basta para o perfazimento 
do tipo a conduta de ter conjunção carnal ou praticar ato libidinoso com pessoa menor 
de 14 (catorze) anos, ainda que a vítima tenha consentido no ato, pois a lei ao adotar 
o critério cronológico acaba por presumir iuris et de iure, pela razão biológica da idade, 
que o menor carece de capacidade e discernimento para compreender o significado 
do ato sexual.52 
 
Nesse sentido, depreende-se que o legislador compreende especificamente que nos 
casos previstos pelo artigo 217-A não existe capacidade de consentimento e, justamente por essa 
razão, há maior cautela na tutela de direitos das vítimas. 
Relevante circunstância a ser mencionada concerne à falta de técnica legislativa na 
redação formulada ao artigo 215, do Código Penal. Por meio de sua criação em contexto 
puramente emergencial, verifica-se a reiteração do uso do termo “ato libidinoso”, que ainda 
 
50 BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal. Parte geral 1. 21 ed. rev., ampl. e atual., São 
Paulo: Saraiva, 2011, p. 208. 
51 217-A: “Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com menor de 14 (catorze) anos: Pena - 
reclusão, de 8 (oito) a 15 (quinze) anos. § 1o Incorre na mesma pena quem pratica as ações descritas 
no caput com alguém que, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a 
prática do ato, ou que, por qualquer outra causa, não pode oferecer resistência. 
52 PRADO, Luiz Regis. Comentários ao código penal: jurisprudência, conexões lógicas com os vários ramos 
do direito. 11. ed., rev., atual. e ampl., São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2017, p. 652. 
 
 
 
ocasiona divergência doutrinária e jurisprudencial53 e figura como elementar do novo delito. Em 
virtude das relevantes discussões no âmbito acadêmico e dos tribunais, há uma notável 
necessidade de que o legislador traga elucidação para delimitar o conceito dessa expressão. 
Se não fosse assim, um elemento importante a ser implementado nesse dispositivo, 
como bem delineado por Renato de Mello Jorge Silveira e Beatriz Corrêa Camargo, “seria a 
previsão de uma circunstância agravante para a hipótese de menores de 14 e pessoas com déficit 
cognitivo que não apresentem o necessário discernimento”54. 
Isso porque a pena mínima atribuída ao estupro de vulnerável correspondente a 8 (oito) 
anos de reclusão e gera grande polêmica no tocante à proporcionalidade da sanção em situações 
onde há ocorrência de ato libidinoso praticado contra alguém dentro das condições 
estabelecidas. Dessa forma, considerando tais aspectos, a incidência de causa de aumento de 
pena seria de grande relevância prática para resolução do impasse. 
Questiona-se, assim, se a sanção da prática de ato libidinoso deve ser equivalente àquela 
da conjunção carnal quando constatada a condição de vulnerabilidade da vítima. Todavia, até o 
momento, o legislador não se atentou a essa questão, permitindo que a equiparação entre as 
condutas seja correspondente, devendo ser aplicada a pena prevista no artigo 217-A quando da 
prática de ato libidinoso diverso da conjunção carnal ocorrer contra pessoa considerada 
vulnerável. 
2.1 PRINCÍPIO DA ESPECIALIDADE 
 
Um dos critérios de aplicação do dispositivo em questão, diz respeito à especialidade 
dedicada pelo legislador na elaboração do crime de estupro de vulnerável em virtude da 
atribuição de elementares peculiares para sua configuração: o menor de 14 (catorze) anos, o 
enfermo ou deficiente mental ou aquele que não pode oferecer resistência. 
Para tanto, Guilherme de Souza Nucci compreende no sentido de que “lei especial 
afasta a aplicação de lei geral (lex specialis derogat generali)”, assim, “para identificar a lei especial, 
leva-se em consideração a existência de uma particular condição (objetiva ou subjetiva), que lhe 
imprima severidade menor ou maior em relação à outra”55. 
Eugênio Pacelli e André Callegari, ao se referirem ao tema, afirmam que “uma norma 
é especial em relação à outra, então denominada geral, quando, apesar de manter identidade quanto 
ao conteúdo, oferece um acréscimo ou um plus acerca da matéria regulada, no âmbito do mesmo 
comportamento proibido.”56 
Como mencionado, é crível asseverar que o princípio da especialidade está diretamente 
atrelado ao estupro de vulnerável previsto no Código Penal, uma vez que ele possui elementares 
próprias para definir as condições de quem é vítima quando da configuração do delito. 
 
53 Não raras vezes a dificuldade de definição do termo “ato libidinoso” tem sido objeto de divergência na 
aplicação dos dispositivos que o preveem, isso porque se trata de expressão vaga e com diferentes formas de 
interpretação. Por exemplo: GREUEL, Priscila Caroline; CARLS, Suelen. A imprecisão do alcance da 
expressão ato libidinoso diverso da conjunção carnal: uma análise principiológica e sugestiva. Disponível em: 
<http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?artigo_id=7947&n_link=revista_artigos_leitura>. Acesso 
em: 14 abr. 2019. Nesse mesmo sentido, Paulo César Busato desenvolve críticas ao “ato libidinoso” empregado 
no estupro, uma vez que considera excessivamente aberto e “que deixa margem a uma ampla interpretação, 
permitindo que se incluam várias classes de ofensas de distintos matizes”, sugerindo ainda o emprego da 
expressão “violação”, “interpretada no sentido utilizado em Portugal, Espanha ou Alemanha”, devido à 
possibilidade de se englobar em mais contextos fáticos por possuir maior abrangência. BUSATO, Paulo César. 
Direito Penal: parte especial 2. 3 ed., São Paulo: Atlas, 2017, p. 850. 
54 SILVEIRA, Renato de Mello Jorge; CAMARGO, Beatriz Corrêa. O crime de importunação sexual: resposta 
adequada ao assédio

Outros materiais

Outros materiais