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VIOLENCIA CONTRA A MULHER UMA ANALISE SOBRE A PERSPECTIVA DOS PROFISSIONAIS (1)

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Prévia do material em texto

CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ 
FACULDADE CEARENSE – FaC 
CURSO DE SERVIÇO SOCIAL 
 
 
 
FRANCISCA FABIANA LIMA 
 
 
VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER: UMA ANÁLISE SOBRE A 
PERSPECTIVA DOS PROFISSIONAIS DA SECRETARIA DA 
MULHER, CIDADANIA E DIREITOS HUMANOS DO MUNICÍPIO DE 
PACATUBA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
FORTALEZA 
 2014 
2 
 
 
FRANCISCA FABIANA LIMA 
 
 
 
 
 
 
 
 
VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER: UMA ANÁLISE SOBRE A 
PERSPECTIVA DOS PROFISSIONAIS DA SECRETARIA DA 
MULHER, CIDADANIA E DIREITOS HUMANOS DO MUNICÍPIO DE 
PACATUBA 
 
 
Monografia submetida à aprovação do Curso de 
Bacharelado em Serviço Social da Faculdade Cearense 
– FaC, como requisito parcial para obtenção de título de 
Bacharel em Serviço Social. 
Orientadora: Profª. Ms. Priscila Nottingham de Lima 
 
 
 
 
 
 
 
FORTALEZA 
 2014 
 
B 
3 
 
FRANCISCA FABIANA LIMA 
 
 
VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER: UMA ANÁLISE SOBRE A 
PERSPECTIVA DOS PROFISSIONAIS DA SECRETARIA DA 
MULHER, CIDADANIA E DIREITOS HUMANOS DO MUNICÍPIO DE 
PACATUBA 
 
 
Monografia como pré-requisito para obtenção do título de 
Bacharelado em Serviço Social, outorgado pela 
Faculdade Cearense – FaC, tendo sido aprovada pela 
banca examinadora composta pelas professores. 
 
 
Data de aprovação: ____/____/____ 
 
BANCA EXAMINADORA 
 
___________________________________________________________________ 
Prof.ªMs. Priscila Nottingham de Lima 
(Orientadora) 
 
 
___________________________________________________________________ 
Prof.ªMs. Silvana Maria Pereira Cavalcante 
(Examinadora) 
 
___________________________________________________________________ 
Profª.Ms. Francis EmmanuelleAlves Vasconcelos 
(Examinadora) 
 
B 
B 
4 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A minha família e namorado 
 
 
 
B 
B 
5 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
 
Agradeço em primeiro lugar a Deus, por está ao meu lado durante essa 
caminhada me proporcionando momentos maravilhosos. 
A minha mãe, mulher guerreira que esteve em todos os momentos ao 
meu lado me transmitindo força e coragem. 
Ao meu pai (in memoriam), pela força espiritual transmitida, sei que onde 
estiver deve está orgulhoso. 
Ao meu irmão, pela paciência e palavras de estímulo e incentivo. 
Aos meus avós, por acreditarem em mim e estarem ao meu lado em 
todos os momentos. 
Ao meu namorado, amor da minha vida, obrigada por todo o incentivo e 
palavras de estímulo e por sempre escutar minhas angústias e aceitar minhas 
escolhas. 
A minha madrinha, pelo apoio, força e carinho. 
Às amigas de curso Ianne, Ianna, Bianca, Fernanda, Mazé, Jordânia 
pelos momentos divertidos e pelas experiências trocadas. 
Às amigas, em especial Aline Maria, Catiana Paiva e Suelen, obrigada 
pela força transmitida nessa reta final. 
Aos professores da Faculdade Cearense – FaC, pelo conhecimento 
compartilhado. 
Aos profissionais da Secretaria da Mulher, em especial a Jaíra e a Lilian, 
pela colaboração e força. 
À professora Priscila Nottinghan, pelas orientações, paciência e incentivo. 
À banca examinadora, obrigada por estarem presente neste momento tão 
especial. 
A todos os colegas que não foram citados, obrigada pelo carinho. 
 
 
 
B B 
6 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“Comigo não, violão 
Na cara que mamãe beijou 
"Zé Ruela" nenhum bota a mão 
Se tentar me bater 
Vai se arrepender 
Eu tenho cabelo na venta 
E o que venta lá, venta cá 
Sou brasileira, guerreira 
Não tô de bobeira 
Não pague pra ver 
Porque vai ficar quente a chapa... 
Você não vai ter sossego na vida, seu moço 
Se me der um tapa 
Da dona "Maria da Penha" 
Você não escapa.” 
Alcione, Maria da Penha. 
 
B 
B 
7 
 
RESUMO 
 
Este estudo propõe explicar a Perspectiva dos Profissionais da Secretaria da 
Mulher, Cidadania e Direitos Humanos sobre a violência contra a mulher, 
destacando a situação precária em que a Secretaria se encontra no momento. Este 
trabalho é de natureza qualitativa, para o qual se utilizou para coleta de dados a 
entrevista semiestruturada e a pesquisa de campo. Sua fundamentação teórica 
ocorre pelas categorias Gênero, Violência e Família. Apresento, também, como 
ocorreu a trajetória de conquistas das mulheres e as deficiências encontradas na 
instituição pesquisada. 
 
Palavras-chave:Gênero, Violência contra a mulher, Secretaria da Mulher, Cidadania 
e Direitos Humanos. 
 
 
 
 
 
 
B B 
8 
 
ABSTRACT 
 
This study aims to explain the perspective of the Department of Professional Women, 
Citizenship and Human Rights on violence against women, highlighting the 
precarious situation that the Secretariat is at the moment. This study is qualitative in 
nature, which was used for data collection semistructured interview and field 
research. Its theoretical foundation is the categories Gender, Violence and the 
Family. Present as the trajectory of women's achievements and deficiencies found in 
the research institution occurred. 
Keywords:Gender, Violence against Women, Ministry of Women, Citizenship and 
Human Rights. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
B 
9 
 
SUMÁRIO 
 
INTRODUÇÃO ................................................................................................................................... 10 
CAPÍTULO 1- PERCURSO TEÓRICO - METODOLÓGICO ....................................................... 12 
1.1 Considerações acerca do Método ........................................................................................ 15 
1.2. Objeto de Estudo ................................................................................................................... 18 
1.3. Secretaria da Mulher, Cidadania e Direitos Humanos do Município de Pacatuba ....... 23 
CAPÍTULO 2 - VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER ....................................................................... 26 
2.1 Tipos de Violência ................................................................................................................... 30 
2.2. As Lutas Feministas .............................................................................................................. 33 
2.2.2. As Lutas Feministas no Brasil ....................................................................................... 37 
2.3. Política Nacional de Enfrentamento a Violência Contra a Mulher .................................. 40 
2.3.1. A Lei “Maria Da Penha” – N° 11.340/06 ...................................................................... 43 
2.3.2. Redes de Apoio .............................................................................................................. 46 
CAPÍTULO 3 - UNIVERSO DA VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER NO MUNICÍPIO DE 
PACATUBA ........................................................................................................................................ 50 
3.1. O Perfil dos Profissionais Entrevistados ............................................................................. 55 
3.2. Entrevistas com os profissionais da Secretaria da mulher, Cidadania e Direitos 
Humanos do município de Pacatuba .......................................................................................... 57 
CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................................. 63 
REFERÊNCIAS ................................................................................................................................. 65 
APÊNDICES ...................................................................................................................................... 68 
ANEXOS ............................................................................................................................................. 71 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
B 
10 
 
INTRODUÇÃO 
A violência existe em todo o mundo e se concretiza como um dos gravesproblemas de nossa sociedade, podendo assumir várias formas e ocorrer por 
motivos diversos. Neste trabalho, abordaremos a violência perpetrada contra a 
mulher, em que, na maioria das vezes, o agressor é o homem, em geral seu 
parceiro, namorado, noivo ou marido. 
A violência contra a mulher se concretiza, atualmente, como um problema 
de cunho público, pois toda mulher, independente de sua classe econômica, está 
sujeita a ser vítima deste fenômeno que resulta em graves consequências físicas, 
psicológicas, e sociais como adepressão, a incapacidade eo medo, podendo chegar 
ao suicídio. 
Durante anos, a mulher foi submetida a um tratamento desigual ao dos 
homens,era tratada de forma machista e inferior, todas as conquistas, até agora, 
foram resultados de muitas lutas e mortes.Muitas mulheres foram as ruas e lutaram 
pelo voto feminino, por salários iguais aos dos homens, garantias de trabalho, 
melhores condições de vida e pelo fim da violência. 
Hoje,século XXI, temos varias políticas de proteção e combate à violência 
contra a mulher no Brasil. Uma das iniciativas que ganhou maior notoriedade foi a lei 
11.340/06, mais conhecida como lei Maria da Penha, pois foi uma grande vitória 
diante do histórico de injustiças as quais as mulheres vinham sendo submetidas. Foi 
necessário que uma mulher, após duas tentativas de assassinato perpetradas por 
seu marido, deixando-a paraplégica, recorresse a Comissão Interamericana de 
Direitos Humanos e condenasse o Brasil por negligência para que se conseguisse 
justiça e a efetivação de uma lei que viessea amparar essas mulheres vítimas de 
agressão. 
Mesmo com a efetivação da lei, ainda existem dados que comprovam que 
a violência contra a mulher não acabou, pelo contrario, algumas pesquisas mostram 
que, mesmo com a lei, o nível de mulheres que sofrem violência ainda é bastante 
relevante. Isso ocorre por vários fatores, como o medo de denunciar, a dependência 
financeira, a cultura do machismo, a afetividade e a falta de equipamentos que 
venham amparar essas mulheres. 
Este estudo vem propor uma análise sobre as Perspectivas dos 
Profissionais da Secretaria da Mulher, Cidadania e Direitos Humanos sobre a 
11 
 
violência contra a mulher.Trago como fundamentação teórica as categorias Gênero, 
Violência e Família. 
Temos como objetivo geral Analisar a violência contra a mulher na 
perspectiva dos profissionais da Secretaria da Mulher, Cidadania e Direitos humanos 
do município de Pacatuba. 
Os objetivos específicos são: traçar um perfil das sujeitas da pesquisa, 
compreender como as profissionais percebem a violência doméstica contra a mulher 
eidentificar os casos de violência atendidos pelos profissionais. 
No primeiro capítulo, denominado de “Percurso Teórico – Metodológico”, 
abordaremos o porquê da escolha desse tema e os caminhos metodológicos, que 
são de origem qualitativa. Ainda neste capítulo,serão apresentadas minhas 
categorias e suas definições diante de vários autores como Joan Scott, 
Heleieth Saffioti. 
Finalizando, apresentamos a instituição a qual a pesquisa foi efetuada, a 
Secretaria da Mulher, Cidadania e Direitos Humanos, localizada no município de 
Pacatuba, cuja principal tarefa é formular diretrizes, programas e políticas públicas 
que venham favorecer a mulher e a eliminação de todo e qualquer ato de violência. 
No segundo capítulo, intitulado de “Violência contra a Mulher”, abordamos 
a violência perpetuada contra a mulher e seus vários tipos, ainda trazemos nesse 
capítulo a trajetória de luta das mulheres por condições melhores de vida, na qual 
fazemos um recorte, apresentando, inicialmente, a luta feminista no âmbito 
internacional e, depois, seu surgimentono Brasil, que se deu fortemente no período 
de Ditadura Militar (1964 a 1985),período em que muitas mulheres sofreram torturas 
e foram exiladas por levantarem a bandeira do feminismo. Também abordamos a 
Política Nacional de Enfrentamento a Violência contra a mulher, suas finalidades, 
seus quatros eixos norteadores e a Lei 11.340/06 – Maria da Penha, e, por fim, as 
redes de apoio a violência contra a mulher onde mantive como destaque as redes de 
apoio especializadas. 
Para concluir esse trabalho, no terceiro capítulo, denominado de 
“Universo da Violência contra a Mulher no Município de Pacatuba”,trazemos 
informações sobre a Secretaria da Mulher e seus dados de atendimento do ano de 
2012,2013 e 2014 de Janeiro a Maio. Foram elaborados gráficos que mostram o 
número de atendimentos em cada ano e os principais tipos de violência. Apresento 
ainda os profissionais entrevistados e os nomes fictícios atribuídos a cada um. Para 
12 
 
encerrar, trago as entrevistas dos profissionais, relacionando com autores de grande 
relevância para o tema estudado. 
Sendo assim, esse estudo irá mostrar a atuação desses profissionais, 
suas perspectivas sobre a violência e a atual situação da Secretaria da Mulher a 
partir da realidade vivenciada durante a observação simples e as entrevistas. 
 
CAPÍTULO 1-PERCURSO TEÓRICO - METODOLÓGICO 
O referido trabalho tem como tema principal a violência doméstica contra 
a mulher na perspectiva dos profissionais da Secretaria da Mulher, Cidadania e 
Direitos Humanos do município de Pacatuba.A pesquisa foi realizada no período de 
Abril à Junho de 2014, com os profissionais que atuam na referida instituição. Esse 
estudo busca como objetivo analisar a violência doméstica contra a mulher na 
perspectiva desses profissionais, estudando os significados dessa violência para 
cada um deles. 
A escolha do tema se deu através de inquietações referentes à temática. 
Em minha juventude tive a infelicidade de acompanhar alguns casos que ocorreram 
em meu município de origem, um em especial ocorreu no município vizinho.O caso 
da jovem Janaína1 sensibilizou a todos e trouxe medo e angústia aos que moravam 
nas proximidades do ocorrido. 
Ao ingressar na faculdade de Serviço Social (2009.2), tive a oportunidade 
de me aprofundar nesse tema e conhecê-lo melhor. A partir do 4º semestre (2011) 
de faculdade, cursando a cadeira de Pesquisa em Serviço Social I, tive como 
avaliação semestral a elaboração de um projeto que poderia ser relacionado com 
temas que despertassem meu interesse.Logo de inicio, demonstrei a vontade de 
trabalhar com a situação precária em que vivem as mulheres trabalhadoras rurais do 
município de Guaiuba, estudando suas condições de trabalho e a garantia de 
acesso aos seus direitos. 
 
1
Ana Janaína tinha 15 anos quando foi estuprada e assassinada quando saiu de casa para ir à 
escola. O acusado sequestrou a garota e a levou para uma casa próxima à Rodoviária de Pacatuba. 
Ali manteve a menina em cativeiro durante três dias e passou a estuprá-la, somente após uma 
denúncia a Policia cercou o local. Iniciou-se, uma demorada negociação. Quando os policiais 
entraram na residência, encontraram Ana Janaína morta no banheiro. O acusado a matou com 14 
facadas, antes mesmo das negociações começarem. O caso teve grande repercussão no município e 
nas cidades vizinhas. 
 
13 
 
Nessa pesquisa surgiram inúmeras inquietações e pude observar a 
precarização a que essas mulheres são expostas, seja no ambiente de trabalho, 
seja no ambiente pessoal, onde ocorre também a presença forte da discriminação e 
do machismo, que estiveram claramente visíveis durante todo o projeto. Após a 
elaboração da atividade, mantive o interesse e busquei, a partir do 5º semestre, um 
estágio na Secretaria da Mulher do município de Pacatuba, mas, infelizmente, não 
foi possível, pois a seleção da qual participei dispôs de vagas somente para o 
hospital. Apesar do referido estágio não ter se efetivado, o interesse pela temática 
não desapareceu. 
De inicio, pretendíamos trabalhar a questão da violência psicológica 
contra a mulher negra, mas após iniciar a construção da monografia ocorreramdificuldades pessoais e acadêmicas como a dificuldade de encontrar materiais 
bibliográficos que abordassem a temática da violência psicológica junto à mulher 
negra. Além disso, existe a questão das próprias mulheres, na maioria das vezes, 
não se reconhecerem como negras, o que poderia prejudicar a construção deste 
trabalho. 
Desta forma, foi decidido junto a minha orientadora uma mudança na 
elaboração do referido trabalho. Foi retirada a questão racial e a violência 
psicológica. Logo, a partir daí, foi trabalhada a violência doméstica contra a mulher, 
que de acordo com a Lei nº 11. 340 - Lei Maria da Penha, seria: 
[...] configura violência doméstica e familiar contra a mulher qualquer ação 
ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento 
físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial: 
I - no âmbito da unidade doméstica, compreendida como o espaço de 
convívio permanente de pessoas, com ou sem vínculo familiar, inclusive as 
esporadicamente agregadas; 
II - no âmbito da família, compreendida como a comunidade formada por 
indivíduos que são ou se consideram aparentados, unidos por laços 
naturais, por afinidade ou por vontade expressa; 
III - em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou 
tenha convivido com a ofendida, independentemente de coabitação. 
(BRASIl, 2006. p.13). 
O tema passou a ser Violência Contra a Mulher – Uma análise sobre a 
violência doméstica contra a mulher no Centro de Referência Francisca Clotilde- 
(CRFC). Antes de iniciar oficialmente a pesquisa de campo, procurei fazer uma visita 
para conhecer melhor o local onde pretendia iniciar a pesquisa. De inicio, fui ao 
14 
 
endereço do Centro de Referência Francisca Clotilde, na Rua Gervásio de Castro, 
no bairro Benfica. Ao chegar ao local, encontrei o estabelecimento com as portas 
fechadas e um senhor sentado próximo que me orientou sobre uma mudança que 
havia ocorrido. 
Após essa experiência, tive contato com a coordenadora do CRFC e, por 
questão de acessibilidade, optei por escolher outra instituição para a efetivação da 
pesquisa. 
Assim, a pesquisa se efetivou junto à Secretaria da Mulher, Cidadania e 
Direitos Humanos de Pacatuba, de onde eu já conhecia o trabalho realizado, pois fiz 
estagio do Hospital do município e, durante esse processo, mantive contato com 
alguns profissionais da secretaria. 
Na primeira visita ao local, constatei que a demanda de atendimento era 
pequena. Portanto, busquei trabalhar com os profissionais ali presentes, analisando 
suas perspectivas sobre a violência doméstica. 
Em minha compreensão, o estudo desse fenômeno é de grande 
importância, pois é notável o aumento no número de casos de violência contra a 
mulher. Segundo pesquisa do DataSenado (2013), denominada de Violência 
Doméstica e Familiar Contra a Mulher, 99% das mulheres conhecem ou já ouviram 
falar da Lei 11.340/06 - lei Maria da Penha, apesar desse conhecimento, a pesquisa 
mostra que 13 milhões e 500 mil mulheres já passaram por algum tipo de agressão, 
deste número 31% ainda convivem com o agressor, das que convivem,14% ainda 
sofrem alguma violência. Sendo assim, um número alarmante de 700 mil brasileiras 
são alvos de constantes agressões. 
Ou seja, no século XXI,vivenciamos um período de bastante crescimento 
do número de mulheres violentadas, a sociedade, juntamente com os órgãos 
governamentais, busca constantemente meios de prevenir esse fenômeno, no 
entanto, podemos notar facilmente na pesquisa mencionada a naturalização da 
violência de gênero e um número cada vez mais significativo de mulheres que 
sofrem, ou já sofreram, algum abuso, seja no ambiente familiar, no trabalho ou nas 
ruas, não distinguindo classes sociais e atingindo, assim, a todas as mulheres, 
independente de raça, cor e etnia. 
Osterne (2011) afirma que: 
Importa ainda comentar que a desigualdade de gênero é um fenômeno 
transversal à sociedade, pois desconhece a fronteira de classe social e de 
raça/etnia. Ocorre no mundo inteiro e atinge mulheres em todas as idades, 
15 
 
grau de instrução, estado civil, classe social, orientações religiosa e sexual, 
condições física e mental. (p.132) 
 Essa desigualdade se constitui em um processo de difícil desconstrução, 
pois se trata de uma questão permeada por uma cultura em que prevalece o 
masculino e o poder do macho, impondo, assim, ao homem o poder de dominação 
sobre a mulher. 
 No subtópico a seguir, trato das indicações metodológicas selecionadas 
para a construção dessa pesquisa, com ênfase em seus significados e na 
importância deles para a temática em questão. 
 
1.1 Considerações acerca do Método 
Para alcançar meus objetivos, foram adotados métodos que me 
auxiliaram na construção e elaboração do referido trabalho, o caminho metodológico 
é de natureza qualitativa, que, conforme explica Haguette (2005): 
 [...] fornece uma compreensão profunda de certos fenômenos sociais 
apoiados no pressuposto de maior relevância do aspecto subjetivoda ação 
social face à configuração das estruturas societais, seja a incapacidade da 
estatística de dar conta dos fenômenos complexos e dos fenômenos únicos. 
(p. 63) 
A pesquisa qualitativa tem como principal objetivo auxiliar na realização 
de uma leitura critica da realidade estudada, reduzindo a distancia entre o 
pesquisador e seu objeto de estudo. É através da pesquisa qualitativa que o 
pesquisador faz a junção entre o real, o sujeito e a coletividade compreendendo 
profundamente o estudo do fenômeno estudado. 
Minayo (2007) explica que: 
A pesquisa qualitativa responde a questões muito particulares. Ela se 
preocupa, nas ciências sociais, com um nível de realidade que não pode ser 
quantificado. Ou seja, ela trabalha com o universo de significados, motivos, 
aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço 
mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que não 
podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis. (p. 21) 
Ou seja, a pesquisa qualitativa trata o fenômeno estudado pelas suas 
particularidades, vai além de dados numéricos, pois estuda especificamente cada 
detalhe. 
Portanto, “[...] os métodos qualitativos enfatizam as especificidades de um 
fenômeno em termos de suas origens e de sua razão de ser” (HAGUETTE, 2005, p. 
63) 
16 
 
O contato com o fenômeno estudado possibilita uma ampliação do 
conhecimento, esse contato real traz os benefícios de analisar a realidade de forma 
critica, desvendando, assim, o que se encontra para além da aparência, 
possibilitando estudar o fenômeno como totalidade. 
Segundo Martinelli (1999), na pesquisa qualitativa: 
A realidade é uma construção social da qual o investigador participa. Os 
fenômenos são compreendidos dentro de uma perspectiva histórica e 
holística – componentes de uma dada situação estão inter-relacionados e 
influenciados reciprocamente, e se procura compreender essas inter-
relações em um determinado contexto. (p.35) 
Procurei uma maior aproximação com o tema através de uma pesquisa 
bibliográfica sobre as categorias apresentadas, onde fizemos uma seleção rígida de 
artigos, livros, revistas, que auxiliaram na construção e entendimento da realidade 
vivida na Secretaria da Mulher. Trago, durante todo o trabalho, autores como Joan 
Scoot, HeleiethSafiotti e Maria do Socorro Osterne. Em relação a esse tipo de 
pesquisa, Marconi; Lakatos (2009) salientam: 
A pesquisa bibliográfica, ou de fontes secundarias, abrange toda bibliografia 
já tornada pública em relação ao tema de estudo, desde publicações 
avulsas, boletins, jornais, revistas, livros, pesquisas, monografias, teses, 
material cartográfico etc., até meios de comunicação orais: rádio, gravações 
em fita magnética e audiovisuais: filmes e televisão. (p.185) 
 
Realizamos também a pesquisa de campo, que, conforme Minayo (2007, 
p. 61): 
[...] permite a aproximação do pesquisador da realidade sobre a qual 
formulou uma pergunta,mas também estabelecer uma interação com os 
“atores” que conformam a realidade e, assim, constrói um conhecimento 
empírico importantíssimo para quem faz a pesquisa social. 
Gil (2011) afirma que esse tipo de pesquisa: 
 [...] se caracterizam pela interrogação direta das pessoas cujo 
comportamento se deseja conhecer. Basicamente, procede-se à solicitação 
de informações a um grupo significativo de pessoas acerca do problema 
estudado para em seguida, mediante análise quantitativa, obter as 
conclusões correspondentes dos dados coletados. (p.55) 
Desta maneira, o fenômeno estudadose relacionacom realidade dos 
indivíduos na instituição, possibilitando uma visão mais ampla de seus cotidianos. 
Constitui-se através da observação e análise do que é exposto no campo para obter 
informações que auxiliem na construção do trabalho. 
Para coleta dos dados, foi utilizada a entrevista, que, conforme Gil (2011): 
17 
 
Pode-se definir entrevista como a técnica em que o investigador se 
apresenta frente ao investigado e lhe formula perguntas, com o objetivo de 
obtenção dos dados que interessam à investigação. A entrevista é, portanto, 
uma forma de interação social. Mais especificamente, é uma forma de 
diálogo assimétrico, em que uma das partes busca coletar dados e outra se 
apresenta como fonte de informação. (p.109) 
Elaborou-se um roteiro com perguntas que me auxiliassem na 
compreensão do tema e no alcance de meus objetivos, formando, assim, uma 
interação social entre entrevistador e entrevistado. Haguette (2005) afirma que “A 
entrevista pode ser definida como um processo de interação social entre duas 
pessoas na qual uma delas, o entrevistador, tem por objetivo a obtenção de 
informações por partedo outro, o entrevistado (p.86). 
O tipo de entrevista utilizada foi semiestruturada, que,segundo Minayo 
(2007, p.58): 
Em geral as entrevistas podem ser estruturadas e não estruturadas, 
correspondendo ao fato de serem mais ou menos dirigidas. Assim, torna-se 
possível trabalhar com a entrevista aberta ou não estruturada, onde o 
informante aborda livremente o tema proposto; bem como as estruturadas 
que pressupõe perguntas previamente formuladas. Há formas, no entanto, 
que articulam essas duas modalidades, caracterizando-se comoentrevista 
semiestruturada. (p.58) 
Ao todo, foram entrevistados sete profissionais, dentro desse grupo, cinco 
atuam na Secretaria da Mulher e dois atuam no Centro de Referência Especializada 
de Assistência Social - (CREAS). Os dois profissionais do CREAS foram 
entrevistados, tendo em vista que no momento a Secretaria da Mulher está 
passando por uma falha no seu corpo profissional, tornando-se necessária a 
atuação desses dois profissionais do CREAS quando é preciso o uso suas 
especialidades, e, devido à gravidade do fenômeno da violência contra a mulher, 
esses profissionais se tornam constantemente procurado. 
Os profissionais entrevistados foram escolhidos com base naqueles que 
mais se aproximaram com os casos que chegam a Secretaria da Mulher. São 
aqueles que estão presente durante todo o processo, desde a entrada da mulher na 
instituição até a efetivação dos devidos encaminhamentos. 
Foi passado para cada entrevistado o Termo de Livre Consentimento, no 
qual havia explicado detalhadamente o motivo da entrevista, sua duração, e a 
necessidade de sua colaboração. 
18 
 
A técnica de entrevista foi feita entre Abril e Maio de 2014, em uma sala 
fechada, onde estavam presentes no momento somente o entrevistador e a pessoa 
entrevistada. O procedimento durou cerca de quinze a vinte minutos, variando de 
entrevistado para entrevistado, sendo que em todo o momento foi mantido um 
ambiente de confiança e espontaneidade. Todos os nomes utilizados são fictícios, a 
fim de preservar cada entrevistado. 
Depois de feita toda a coleta de dados, busquei a compreensão de todo o 
material com base no que afirma Gil (2011): 
Classificamente, a interpretação dos dados é entendida como um processo 
que sucede à sua análise. Mas estes dois processos estão intimamente 
relacionados. Nas pesquisas qualitativas, especialmente, não há como 
separar os dois processos. (p.177) 
Todo o material transcrito foi avaliado e estudado detalhadamente, 
levando em considerações aspectos relacionados às emoções e gestos 
manifestados pelos interlocutores. 
Utilizei também a observação simples, que conforme afirma Gil (2011): 
Por observação simples entende-se aquela em que o pesquisador, 
permanecendo alheio á comunidade, grupo ou situação quem pretende 
estudar, observa de maneira espontânea os fatos que aí ocorrem. Neste 
procedimento, o pesquisador é muito mais um espectador que um ator. Daí 
por que pode ser chamado de observação- reportagem, já que apresenta 
certas similaridade com as técnicas empregadas pelos jornalistas. (p.101) 
Sendo assim, foi observada toda a atuação desses profissionais, suas 
dúvidas e procedimentos. Dessa maneira, compreendemos que os métodos 
utilizados deram apoio suficiente para a elaboração e construção deste trabalho. 
 
1.2. Objeto de Estudo 
Para a melhor discussão e compreensão do tema, selecionamos as 
seguintes categorias: Gênero, Violência e Família. Em relação à categoria gênero, 
segundo Lauretis (1994), afirma que: 
O termo gênero é na verdade, a representação de uma relação, a relação 
de pertencer a uma classe, um grupo, uma categoria. Gênero é a 
representação de uma relação, ou, se me permitirem adiantar-me para a 
segunda proposição, o gênero constrói uma relação entre uma entidade e 
outras entidades previamente constituídas como uma classe, uma relação 
de pertencer; assim, o gênero atribui a uma entidade, digamos a uma 
pessoa, certa posição dentro de uma classe, e por tanto uma posição vis-à-
vis outras classes pré-constituídas. [...] assim o gênero representa não um 
individuo, e sim uma relação, uma relação social; em outras palavras, 
representa um indivíduo por meio de uma classe. (1994, p.210-211) 
19 
 
O gênero está ligado a relações, sejam elas de grupo, de classe ou 
qualquer outra. As divisões sexuais em que são submetidos feminino e masculino 
têm significados diferentes de acordo com a cultura e a vivência desses grupos. 
Scott (1995) define gênero através de duas partes, a autora afirma que: 
[...] (1) o gênero é um elemento constitutivo de relações sociais baseadas 
nas diferenças percebidas entre os sexos e (2) o gênero é uma forma 
primária de dar significado as relações de poder. As mudanças na 
organização das relações sociais correspondem sempre a mudanças nas 
representações do poder, mas a mudança na é unidirecional. (p.86) 
A autora mencionada ainda apresenta quatro elementos que estão inter-
relacionados e são fundamentais para o entendimento de sua primeira definição de 
gênero. Os elementos são as representações simbólicas culturais de Eva e Maria 
como representação da mulher; os conceitos de feminino e masculino que estão 
presentes em todos os espaços como: religião, educação, política e constituem de 
forma inequívoca os significados de homem e mulher; um olhar mais amplo na 
compreensão do gênero, não se limitando a estudos em sistema de parentesco, a 
busca para ampliar o conhecimento para o mercado de trabalho, educação e a 
política e o ultimo elemento diz respeito à como a identidade subjetiva deve ser 
construída relacionando com representações sociais, atividades e organizações 
historicamente especificas. (p.86) 
No que diz respeito à segunda definição, Scott (1995) afirma que: 
[...] O gênero é um campo primário no interior do qual, ou por meio do qual, 
o poder é articulado. O gênero não é o único campo, mas ele parece ter 
sido uma forma persistente e recorrente de possibilitar a significação do 
poder no ocidente, nas tradições judaico-cristãse islâmica. Como tal, essa 
parte da definição poderia aparentemente pertencer à seção normativa do 
meu argumento, mas isso não ocorre, pois os conceitos de poder, embora 
sebaseiem no gênero, nem sempre se referem literalmente ao gênero em si 
mesmo. (p.88) 
Logo, a definição de poder se norteia no gênero, porém o gênero sozinho 
não é suficiente para justificar as desigualdades existentes, é preciso um olhar mais 
amplo e questionador sobre a realidade dos indivíduos e suas transformações. 
Ainda segundo Scott (1995): 
Na sua utilização recente mais simples, gênero é sinônimo de “mulheres”. 
Os livros e artigos de todos os tipos que tinham como tema a historia das 
mulheres substituíram, nos últimos anos, nos seus títulos e termos 
“mulheres” por “gênero”. [...] o termo gênero além de ser um substituto para 
o termo mulheres, é também utilizado para sugerir que qualquer informação 
sobre as mulheres é necessariamente informação sobre os homens, que 
um implica o estudo do outro. (p.75) 
20 
 
Piscitelli (2002) afirma que 
[...] entre os acadêmicos que dialogam com as discussões feministas, o 
conceito de gênero foi abraçado com entusiasmos, uma vez que foi 
considerado um avanço significativo em relação às possibilidades analíticas 
oferecidas pela categoria mulher (p.1) 
Dessa forma, o termo gênero está diretamente ligado à mulher, mas 
também abrange informações sobre o homem, pois o mesmo permite uma visão 
mais ampla sobre as características hierárquicas que define masculino e feminino. 
Saffioti (2001) afirma que violência de gênero: 
[...] é o conceito mais amplo, abrangendo vitimas como mulheres, crianças e 
adolescentes de ambos os sexos. No exercício de função patriarcal, os 
homens detêm o poder de determinar a conduta das categorias sociais 
nomeadas, recebendo autorização ou, pelo menos, tolerância da sociedade 
para punir o que se lhes apresenta como desvio. [...] Com efeito, a ideologia 
de gênero é insuficiente para garantir a obediência das vitimas potenciais 
aos ditames do patriarca, tendo este necessidade de fazer uso da violência. 
(p.115) 
Dessa maneira, a violência de gênero abrange tanto mulheres, 
jovensecrianças que são submetidos à criação patriarcal, em que o pai, como 
benfeitor da família, tem todo domínio sobre tudo e todos, podendo, assim, fazer uso 
de punições e agressões para alcançar o que deseja. 
Em relação à categoria violência, Adeodato (2005) afirma que “[...] é um 
processo orientado para fins determinados a partir de diferentes causas, com formas 
variadas, produzindo determinados danos, alterações e consequências imediatas ou 
tardias.” (p.109). 
Dessa forma, a violência ocorre podendo ter diversas causas e formas, 
como é o caso da violência contra a mulher que pode ser psicológica, familiar, 
financeira, entre outras, sendo todas com consequências, seja na hora do ato ou 
não. 
Zaluar (1999) define violência como: 
Violência vem do latim violentia, que remete a vis (força, vigor, emprego de 
força física ou os recursos do corpo em exercer a sua força vital). Esta força 
torna-se violência quando ultrapassa um limite ou perturba acordos tácitos e 
regras que ordenam relações, adquirindo carga negativa ou maléfica. É, 
portanto, a percepção do limite e da perturbação (e do sofrimento que 
provoca) que vai caracterizar um ato como violento, percepção esta que 
varia cultural e historicamente. (p.8) 
21 
 
Desta forma, de acordo com a perspectiva da referida autora a violência 
se manifesta em diferentes graus, sendo alguns aceitáveis ou não, o que vai 
diferenciar é a vivência histórica e cultural da pessoa envolvida no ato. 
Osterne (2011) afirma que a violência se apresenta de forma diferente 
para o homem e para a mulher. 
[...] a violência se apresenta de forma diferenciada para homens e 
mulheres, pois enquanto o homem sofre violência nas ruas, nos espaços 
públicos, praticada por outro homem, a mulher, na maioria absoluta dos 
casos, torna-se vítima da violência masculina primeiramente dentro de casa, 
depois no espaço privado, e seus agressores, geralmente, são (ou foram) 
seus namorados, maridos, filhos, companheiros, amantes ou indivíduos 
outros de alguma forma seus conhecidos. (p.131) 
 
 
A violência se manifesta para a mulher com mais frequência dentro do 
seio familiar, sendo perpetuada, na maioria das vezes, por pessoas próximas que 
possuem vínculo amoroso. Já para o homem, as brigas são constantes nas ruas, em 
ambiente abertos como bares e estádios e envolve, normalmente, somente homens. 
Segundo Celmer(2010), a violência doméstica seria: [...] aquela conduta 
que cause dano físico, psíquico ou sexual não só à mulher como a outras pessoas 
que coabitem na mesma casa, incluindo empregados e agregados (p.73)Sendo 
assim, constitui-se violência qualquer agressão, dano físico, psicológico ou sexual 
que venha machucar a mulher ou qualquer outro individuo dentro do ambiente 
doméstico. 
Por fim, a categoria família, que segundo Mioto (2010): 
A família, nas suas mais diversas configurações constitui-se como um 
espaço altamente complexo. É construída e reconstruída histórica e 
cotidianamente, através das relações e negociações que estabelece entre 
seus membros, entre seus membros e outras esferas da sociedade, tais 
como Estado, trabalho e mercado. (p.167) 
Ou seja, a família estásempre em constante mudança, sendo construída e 
reconstruída sofrendo influencia de época, trabalho e mercado. Bourdieu (1996) 
define família como: “[...] um conjunto de indivíduos aparentados, ligados entre si por 
aliança, casamento, filiação, ou, excepcionalmente, por adoção (parentesco), 
vivendo sob o mesmo teto [...]” (p.124) 
Dessa maneira, a família é todos aqueles indivíduos que vivem no mesmo 
espaço independente de parentesco consanguíneo, e é dentro desse convívio 
familiar que começa a ocorrer à influência e o desenvolvimento de opinião. 
Saffioti (1987) afirma que: 
22 
 
[...] a família é constituída de um homem e uma mulher que se amam e que, 
através do ato de amor, se reproduzem, oferecendo a sua prole não apenas 
os meios materiais de subsistência, mas tambéme sobretudo um ambiente 
de carinho, no qual a criança possa desenvolver sua dimensão afetiva.(p. 
36) 
Ou seja, é na infância que a criança deve aprender a lidar com os 
sentimentos, aprendendo, já a partir daí, como se relacionar com o outro, como 
respeitar e entender suas diferenças. Mas em nossa sociedade essa concepção de 
família não é colocada realmente em prática. As crianças já desde pequenas são 
educadas com base nas diferenças de gênero. Segundo Saffioti(1987): 
Os homens são ensinados a competir permanentemente: por um emprego, 
por um salário melhor, pela promoção na carreira, até pelas atenções de 
uma mulher. A competição constitui, pois, o traço fundamental da 
personalidade masculina destinada a desempenhar o papel de macho. Não 
se pode esquecer a agressividade como componente básico da 
personalidade competitiva. Ademais, a agressividade também integra, 
necessariamente, o modelo macho. [...] à mulher impõe-se a necessidade 
de inibir toda e qualquer tendência agressiva, pois deve ser dócil, cordata, 
passiva. Caso ela seja o tipo mulher despachada deve disfarçar esta 
qualidade, porquanto essa característica só é positiva quando presente no 
homem. Mulher despachada corre o risco de ser tomada como mulher 
macho. (p. 36-37) 
Ainda segundo Saffioti(1987): 
No seio da família, a dominação masculina pode ser observada em 
praticamente todas as atitudes. Ainda que a mulher trabalhe fora de casa 
em troca de um salário, cabe-lhe realizar todas as tarefas domestica. Como, 
de acordo com o modelo os afazeres domésticos são considerados “coisas 
de mulher”, o homem raramente se dispõe a colaborar para tornar menos 
dura de sua companheira. Não raro, ainda se faz servir, julgando-se no 
direito de estrilar se o jantar não sai a seu gosto ou se sua mulher não 
chega a tempo, trazendo-lhe os chinelos.(p.50) 
Portanto, de acordo com a perspectiva da referida autora, é dentro do 
seio familiar que nasce às primeiras concepções de certo ou errado, do que é da 
“natureza”do menino e da menina, do que são atitudes e comportamentos 
destinados a meninos e meninas. E essa realidade repercute diretamente em 
nossas vidas, pois enraizamos em nossas cabeças essas concepções e aceitamos 
todas, sem julgá-las, naturalizando-as em nossa sociedade. 
No subtópico a seguir, iremos apresenta a instituição onde a pesquisa de 
campo ocorreu. 
 
23 
 
1.3. Secretaria da Mulher, Cidadania e Direitos Humanos do Município de 
Pacatuba 
A Secretaria da Mulher, Cidadania e Direitos Humanos esta localizada no 
município de Pacatuba a 32 quilômetros de Fortaleza, na Rua Major Cecílio Franklin, 
n°2039. O município faz parte da região metropolitana de Fortaleza e, segundo 
informações do censo de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística- 
(IBGE), a população do município é de 72. 249 habitantes. 
A Secretaria da Mulher no referido município foi criada através da lei n°. 
0945/2008 de 31/11/2008 e implantada em janeiro de 2009, em resposta a grande 
demanda referente a mulheres que tiveram seus direitos violados. Nos primeiros 
dois anos e cinco meses, a Secretaria atendeu cerca de 3.000 mulheres anualmente 
em atividades de prevenção e acompanhamento, através de atendimento 
psicológico, acompanhamento social, orientação jurídica, encaminhamento para 
medida protetiva, terapia grupal, encaminhamentos para mediação de conflitos, 
promoção de campanhas de combate à violência contra a mulher e comemoração 
de datas festivas e realização de palestras. 
A Secretaria, atualmente, divide espaço com os profissionais que 
trabalham com a questão dos direitos humanos no município, formando assim a 
Secretaria da Mulher, Cidadania e Direitos Humanos. O espaço da Secretaria está 
divido em nove (09) cômodos, sendo a entrada/recepção, sala de reuniões, sala de 
atendimento sigiloso, atendimento aos direitos humanos,sala administrativa, sala 
destinada à secretária e um espaço destinado ao atendimento (LGBTT) - Lésbicas, 
Gays, Bissexuais, Travestis e transgêneros, banheiro, e cozinha. 
 A Secretaria no inicio desta pesquisa tinha um corpo profissional 
composto por 16 profissionais juntamente com aqueles que trabalhavam como 
direitos humanos e os direitos LGBTT, ao fim desta pesquisa, a mesma se 
encontrava somente com 10 funcionários. 
Segundo a Lei n°. 0945/2008, a Secretaria tem por finalidade planejar, 
dirigir, executar, controlar e avaliar as atividades setoriais a cargo do município que 
visem à proteção da mulher, das minorias étnicas e sociais,cabendo-lhe: 
I- elaborar e propor as políticas municipais de proteção à mulher; 
 
II- planejar, desenvolver, implantar e coordenar projetos, programas e ações 
de prevenção e tratamento do uso de substâncias e de produtos 
psicoativos, visando à recuperação e a reinserção social do dependente 
químico; 
24 
 
III - fazer cumprir a declaração universal dos direitos humanos; 
 
IV- denunciar violência dos direitos humanos; 
 
V- promover palestras, conferências e debates e audiências públicas, 
podendo, para tanto, recorrer a trabalhos técnicos referentes aos direitos 
humanos, através de abordagem de temas relativos às condições de vida, 
trabalho, habitação, alimentação, transporte, saúde, educação, cultura, 
lazer, saneamento básico e segurança; 
 
VI- acompanhar a investigação, no território do município, de qualquer tipo 
de lesão aos direitos humanos, individuais os coletivos, que tenha sido 
denunciada através dos meios de comunicação social, dos movimentos 
populares organizados ou por qualquer pessoa capaz; 
 
VII- exerce atividades correlatas; 
A Secretaria também conta com o Conselho Municipal dos Direitos da 
Mulher,que, segundo a Lei n° 0969/ 2009, tem por finalidade: 
[...] formular diretrizes, programas e políticas públicas relacionadas com a 
promoção da melhoria das condições devida das mulheres e a eliminação 
de todas as formas de discriminação e violência contra as mesmas, de 
modo a assegurar-lhes plena participação e igualdade nos planos políticos, 
econômico, social, cultural e jurídico da sociedade. 
A Secretaria conta com a parceria do Centro de Referência Especializado 
de Assistência Social- (CREAS), Delegacia da Mulher, localizada no Jereissati III, a 
Prefeitura Municipal de Pacatuba e o Centro de Referência de Assistência Social –
(CRAS). 
No momento da realização dessa pesquisa, a Secretaria estava 
trabalhando em um projeto denominado de “Minha Identidade, Minha Cidadania”,o 
qual ocorre semanalmente nas escolas do município. O projeto traz a emissão de 
RG para alunos do 8° e 9° ano, palestras, fóruns e debates, ações educativas 
articuladas entre os Direitos Humanos e Cidadania, projetos, programas e ações 
voltadas à conscientização dos direitos de todos, sem discriminação de origem, 
raça, etnia, gênero, idade, condição econômica e social, orientação ou identidade 
sexual, credo religioso ou convicção política. 
Além desse projeto, a Secretaria também promoveu a Semana da Mulher 
Pacatubana, que ocorreu de seis (6) a oito (8) de março de 2014 em comemoração 
ao dia da mulher, na qual foram realizados eventos em homenagem às mulheres do 
município com as seguintes temáticas: saúde da mulher e beleza da mulher, 
palestras sobre a valorização da mulher e o projeto mulher esporte e cultura. 
25 
 
 A Secretaria também atua junto com o Centro de Estudos, Articulação e 
Referência sobre Assentamentos Humanos – (CEARAH) Periferia, com o projeto “A 
força da Mulher” que teve seu inicio em 2012 com parceria com a União Europeiae 
tem o objetivo de fortalecer mulheres política e economicamente, contribuindo para o 
Desenvolvimento Local Sustentável nos municípios de Ocara, Pacatuba e Quixadá. 
A Secretaria buscava, quando essa pesquisa foi efetivada, a construção e 
aquisição de equipamentos para o Centro de Referência da Mulher, para possibilitar 
a ampliação e melhoria da qualidade dos serviços especializados de atendimento à 
mulher. Segundo informações dos profissionais, o projeto já está em andamento e 
será uma grande conquista para o município, pois irá favorecer de forma positiva as 
ações que possibilitem atrair o maior número de mulheres participando da vida em 
comunidade, conhecendo melhor seus direitos e exercendo de forma plena e digna 
sua cidadania. 
Antes de ir ao campo, a pesquisa passou por alguns processos 
burocráticos para atender as normas da faculdade e da Secretaria. Sendo assim, foi 
solicitado o oficio e o mesmo foi passado para a Secretária da Mulher, que autorizou 
o inicio da pesquisa. 
No primeiro dia em campo, fui recebida de inicio por uma moça que fica 
na recepção, onde me identifiquei e apresentei minha pesquisa, a mesma me 
encaminhou para a sala da Secretária, de quem obtive total apoio para a execução 
da minha pesquisa. 
Logo de inicio, tive a oportunidade de presenciar um momento de reunião 
entre os profissionais, que discutiam sobre a construção de um novo projeto para a 
comemoração do dia das mães. Nesse momento de troca de informações, fui 
apresentada a todos da equipe, explicando minha pesquisa e o objetivo da mesma. 
A Secretária disponibilizou duas de suas funcionárias para me 
acompanharem durante esta pesquisa, as mesmas disponibilizaram todos os dados 
referentes ainstituição necessários para a construção deste trabalho monográfico. 
26 
 
CAPÍTULO 2 - VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER 
Segundo Saffioti (1987), “calcula-se que o homem haja estabelecido seu 
domínio sobre a mulher há cerca de seis milênios”. (p.47) Com base nisso, a 
violência contra a mulher não é um problema atual, as mulheres convivem com isso 
desde os primórdios. Essa valorização do masculino a que somos submetidas é algo 
que ultrapassa décadas e, hoje, mesmo com tantas políticas voltadas para a 
igualdade e coibição, prevenção e punição do ato da violência, vivenciamos, ainda 
diariamente, várias denúncias, conforme demonstraremos mais adiante nesse 
trabalho. 
Segundo Madeira; Costa(2012): 
A violência contra mulher é determinada por aspectos sociais e culturais 
que definem e legitimam lugares, direitos, deveres e papéis diferenciados 
para mulheres e homens, embasando a desigualdade de gênero presente 
historicamente na sociedade contemporânea. (p.87) 
Para melhor clareza desta questão, temos aqui dados de uma pesquisa 
(2014) do (IPEA) – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada feita com homens e 
mulheres com a faixa etária entre 16 a 60 anos, onde 40,9% concordam com a frase 
“os Homens devem ser a cabeça do lar”, já com a frase que afirma que “toda mulher 
sonha em se casar”, o número de pessoas que concordaram é de 50,9%, ou seja, 
mais da metade dos entrevistados concordam totalmente. No que diz respeito à 
frase “uma mulher só se sente realizada com filhos”, 28,6% concordam, e em 
relação a frase que afirma que “tem mulher que é pra casar, tem mulher que é pra 
cama” a margem de concordantes foi de 34,6%. 
Segundo dados da pesquisa do Mapa da Violência (2013), as mulheres 
entre 15 e 24 anos foram as principais vítimas de homicídio da última década. Entre 
2001 a 2011, o índice de homicídios de mulheres aumentou 17,2%, com a morte de 
mais de 48 mil brasileiras nesse período. Só em 2011, mais de 4,5 mil mulheres 
foram assassinadas no país. 
 Os primeiros dados aqui demonstrados (IPEA) revela que ainda vivemos 
em um modelo de família patriarcal, mesmo com tantas mudanças na construção e 
reconstrução da família em nossa sociedade, ainda existem traços arraigados, como 
a questão do homem como o cabeça do lar, mulheres que só se realizam com filhos 
e se submetem aos comportamentos que a sociedade e o parceiro impõem. 
27 
 
Todasessasquestões passam pela educação familiar, que, de geração em geração, 
reforça o patriarcado e a subordinação feminina. Segundo Safiotti (1987): 
A resignação, ingrediente importante da educação feminina, não significa 
senão a aceitação do sofrimento enquanto destino de mulher. Assim, se o 
companheiro tem aventuras amorosas ou uma relação amorosa estável fora 
do casamento, cabe à esposa resigna-se. Não deve ela, segundo ideologia 
dominante, revidar na mesma moeda. A esposa na medida em que se 
mantém fiel ao marido, ainda que este lhe seja infiel, recebe aprovação 
social. (p.35) 
Sendo assim, essa subordinação da mulher ao homem já faz parte de sua 
criação, em que a mulher é tratada como se não tivesse voz, aceitando seu destino 
e se submetendo ao silêncio diante das atitudes irregulares do marido. 
 Adeodato (2005) afirma que: 
Violência contra a mulher é um problema social e de saúde pública, que 
consiste num fenômeno mundial que não respeita fronteiras de classe 
social, raça/ etnia, religião, idade e grau de escolaridade. Atualmente, e em 
geral não importa o status da mulher, o locusda violência continua sendo 
gerado no âmbito familiar, sendo que a chance de a mulher ser agredida 
pelo pai de seus filhos, ex-marido, ou atual companheiro, é muitas vezes 
maior do que o de sofrer alguma violência por estranhos.(p.109) 
A violência do homem contra mulher deixou a muito tempo de ser um 
problema privado, hoje é um problema público com medidas estatais, quepunem o 
agressor, além de ser uma séria infração aos direitos humanos. Safiotti (1987) afirma 
que: 
A violência masculina contra a mulher atravessa toda a sociedade, estando 
presente em todas as classes sociais. Não importa se um Zé ninguém mate 
sua mulher com um machado, em quanto Doca Street assassinou 
barbaramente Ângela Diniz, usado um revolver. O resultado objetivo é o 
mesmo: o homicídio de mulheres por seus companheiros. (p.55) 
 No Ceará, o número de denúncias de violência doméstica gera cerca 
de 400 processos 2por mês. Um número alarmante de violência, e nesses dados se 
encontram somente as violências denunciadas que foram adiantecom o processo, 
onúmero, com certeza, deve ser maior se levarmos em conta um porcentual de 
mulheres que não denunciam por vários motivos. 
No nordeste,a questão do homem macho e dominador é mais forte devido 
a própria realidade da população nordestina, que exige que o homem seja “cabra 
macho” e que tenha a valentia e a brutalidade como qualidade. 
 
2
Dados retirados do site Tribuna do Ceará. Disponível em:http://tribunadoceara.uol.com.brAcesso em: 
14/04/2014 
28 
 
Osterne (2011) afirma que: 
O nordestino seria “macho” pela própria história da região, que teria exigido 
a sobrevivência dos mais fortes, mais valentes e corajosos diante de suas 
adversidades climáticas. Na literatura regionalista e nos discursos literários 
e memorialísticos, é comum encontrar-se o registro da legitimação da 
violência nessa região e, de forma bastante acentuada, a violência de 
gênero. Outro tema recorrente no discurso regionalista nordestino é um 
apurado sentido de honra presente na conduta dos homens que não devem 
levar desaforopara casa. O adultério feminino, por exemplo, ainda é algo 
percebido como passível de ser duramente punido pelo marido ou 
companheiro, inclusive com a morte. Esse sentido da honra foi herdado da 
tradição cultural brasileira desde os tempos coloniais. (p.132) 
Uma das principais características da violência doméstica é sua 
rotinização, segundo Soares (2005): 
Ainda na sua forma típica, a violência doméstica contra a mulher envolve 
atos repetitivos, que vão se agravando, em frequência e intensidade, como 
coerção, cerceamento, humilhação, desqualificação, ameaças e agressões 
físicas e sexuais variadas. Além do medo permanente, esse tipo de 
violência pode resultar em danos físicos e psicológicos duradouros. (p.13) 
A violência contra a mulher tem seu início com uma cenafavorável para 
que o ato seja cometido, que pode se caracterizar como um confronto inicial entre o 
homem e a mulher. Segundo Gregori (1989): 
 
O objeto de fazer a cena é dar a “ultima palavra”. Cada um dos parceiros a 
seu modo, tem como horizonte da cena dizer algo que faça o outro calar. 
Este é o único sentido para o qual a cena verbal avança. O acordo final é 
impossível. (p.164) 
A cena é como o começo da briga, nela se encontram divergências de 
opiniões entre o casal, que vai gerando um conflito em que ambos discordam em 
opiniões e em atitudes. Segundo Barthes,“[...] a cena só pode ter seu fim através de 
três momentos: o cansaço de algum dos parceiros,o qual deve ser mútuo, a 
chegada de alguém, ou a substituição da violência verbal pela agressão física”. 
(BARTHES apud GREGORI, 1989, p. 164). 
A psicóloga americana Lenore Walker (1979) criou um modelo de ciclo da 
violência,através dele,a autora tenta evidenciar as faces da violência, identificando o 
porquê das mulheres sentirem dificuldade de romper com o agressor. 
 
 
 
29 
 
Figura 1 – Ciclo da Violência 
 
 
Fonte: Elaboração da Pesquisadora com base na “Cartilha Enfrentando a Violência Contra a Mulher” 
– Orientações práticas para profissionais e voluntários. 
 
O ciclo possui três fases: a primeira é a fase da tensão,que podemos 
dizer que ocorrem as brigas verbais, ameaças, ciúmes em excesso e xingamentos. 
A segunda fase se caracteriza quando a tensão alcança seu limite, essa fase é 
marcada por agressões violentas e a convivência se torna insuportável. A terceira e 
última é a fase, da lua de mel, ocorre quando o agressor volta arrependido de seu 
ato, faz promessas de que isso nunca vai se repetir, implora perdão, e suas ações 
são destinadas a agradar a sua parceira, pois nesse momento ele possui medo de 
perdê-la. 
O ciclo é apenas uma demonstração de como a violência pode acontecer, 
um padrão que se baseia nas constantes semelhanças de diversos casos. O ato da 
violência pode ocorrer também de formas diferentes e em outras situações. 
Nesse contexto, tendo conhecimento da gravidade do ato de violência 
perpetrada contra a mulher, apresentamos no subtópico seguinte como essa 
violência se manifesta e suas características.A EXPLOSÃO 
DA VIOLÊNCIA
LUA DE MEL
CONSTRUÇÃO 
DA TENSÃO
30 
 
2.1 Tipos de Violência 
A violência contra a mulher pode ocorrer de várias formas e comgraus 
alternados. A violência doméstica é aquela que ocorre dentro do ambiente 
doméstico e pode ser perpetrada por parentes, agregados ou pessoas de convívio 
próximo, normalmente esse tipo de violência ocorre com o agressor sendo um 
membro da família. 
Segundo a Lei Maria da Penha - n° 11.340/06 são formas de violência 
contra a mulher à violência física, psicológica, sexual, a patrimonial e a moral. A Lei 
nº 11.340/06 define cada uma como: 
 
I - a violência física, entendida como qualquer conduta que ofenda sua 
integridade ou saúde corporal; 
 
II– a violência psicológica, entendida como qualquer conduta que lhe cause 
dano emocional e diminuição da autoestima ou que lhe prejudique e 
perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas 
ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça, 
constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, vigilância 
constante, perseguição contumaz, insulto, chantagem, ridicularização, 
exploração e limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe 
cause prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação; 
 
III-– a violência sexual, entendida como qualquer conduta que a constranja 
a presenciar, a manter ou a participar de relação sexual não desejada, 
mediante intimidação, ameaça, coação ou uso da força; que a induza a 
comercializar ou a utilizar, de qualquer modo, a sua sexualidade, que a 
impeça de usar qualquer método contraceptivo ou que a force ao 
matrimônio, à gravidez, ao aborto ou à prostituição, mediante coação, 
chantagem, suborno ou manipulação;ou que limite ou anule o exercício de 
seus direitos sexuais e reprodutivos; 
 
IV- a violência patrimonial, entendida como qualquer conduta que configure 
retenção, subtração, destruição parcial ou total de seus objetos, 
instrumentos de trabalho, documentos pessoais, bens, valores e direitos ou 
recursos econômicos, incluindo os destinados a satisfazer suas 
necessidades; 
 
V- a violência moral, entendida como qualquer conduta que configure 
calúnia, difamação ou injúria.(p.14) 
A violência de gênero se manifesta por qualquer dano, ou conduta, que 
venha denegrir o gênero da pessoa, pode ocorrer tanto entre gêneros iguais como 
distintos. 
Fazem parte do contexto de violência de gênero a violência doméstica e a 
familiar. Nesse contexto, na maioria das vezes, são as mulheres suas principais 
vítimas, devido acultura patriarcalista e sexista que impõe ao homem a força e a 
brutalidade e à mulher a resignação. 
31 
 
A violência doméstica, contudo, diz respeito não somente ao âmbito 
feminino, mas também a todos os homens ou mulheres que passem por abusos, 
maus tratos que ocorrem dentro do espaço familiar. 
Já a violência intrafamiliar se manifesta por qualquer ato que venha 
prejudicar o bem-estar físico e psicológico de algum individuo, e pode ser perpetrada 
fora ou dentro do ambiente familiar por algum membro da família, seja ele de laço 
consanguíneo ou não. 
Osterne (2011) afirma que: 
[...] violência familiar, ou seja, aquela que ocorre no âmbito da família, mas 
que extrapola os limites do domicilio, como resultado de relações violentas 
entre membros da própria família. É, assim, o caso de um avô ou avó, tio ou 
tia que não habite o domicílio de seus parentes, mas que comete a violência 
em nome dos sagrados laços familiares. (p.138) 
A violência física se caracteriza pela agressão, tapas, espancamentos, 
empurrões, queimaduras ou uso de armas cortantes. Osterne (2011) define como: 
[...] um ato executado com intenção, ou intenção percebida, de causar dano 
físico a outra pessoa. O dano físico poderá ser compreendido desde a 
imposição de uma leve dor, passando por um tapa, até ao extremo de um 
assassinato. Pode deixar marcas, hematomas, cortes, arranhões, fraturas 
ou mesmo provocar a perda de órgão e a morte. (p.134) 
Em relação à violência sexual, é quando ocorre o ato sexual, ou a 
tentativa do mesmo, contra a vontade da vítima, por meio de agressão e uso da 
força física. Osterne (2011) define como: 
Por violência sexual compreende-se todo ato ou jogo sexual, relação hetero 
ou homossexual entre uma ou mais pessoas, praticada de maneira forçada, 
com níveis gradativos de agressividade, com vista de obtenção de prazer 
sexual por via de força. (p.134) 
Já a violência psicológica, é considerada por muitos a pior, poisnão deixa 
marcas no corpo, mas lembranças difíceis de serem esquecidas. Caracteriza-se pelo 
uso de palavras ofensivas, difamação, manipulação e ameaças. Osterne (2011) 
define como: 
A violência psicológica, também conhecida como violência emocional, é 
aquela capaz de provocar efeitos torturantes ou causar 
desequilíbrios/sofrimentos mentais. A violência psicológica poderá vir pela 
via das insinuações, ofensas, julgamentos depreciativos, humilhações, 
hostilidades, acusações infundadas, e palavrões. (p.135) 
32 
 
Sendo assim, a violência psicológica, na maioria das vezes, vem 
entrelaçada com a violência física, pois o homem, durante o ato de violência, faz uso 
de palavrões e ameaças que ofendem a mulher. 
Segundo Madeira, Costa (2012): 
A violência psicológica não é momentânea, mas se delineia na maneira que 
um cônjuge se relaciona com o outro, considerando este como seu objeto 
privativo. Dessa forma, alguns homens controlam e submetem 
emocionalmente as esposas. (p.90) 
Existem também outros tipos de violência pouco conhecidas, como a 
violência moral, a simbólica, a financeira, a institucional e a patrimonial. 
Como violência moral entende-se qualquer ato que cause difamação ou 
injuria aos princípios da mulher. Osterne (2011) afirma que: 
A violência moral é tida como aquele tipo que atinge, direta ou 
indiretamente, a dignidade, a honra e a moral da vítima. Da mesma forma 
que a violência psicológica, poderá manifestar-se por ofensas, e acusações 
infundadas, humilhações, tratamento discriminatório, julgamentos levianos, 
trapaça e restrição à liberdade. (p.135) 
A violência simbólica, também pouco conhecida pelo popular, é aquela 
que segundo Osterne (2011) está presente na ordem dos sistemas sociais vigentes 
(p.135). Manifesta-se também através de meios de comunicações como cenas de 
preconceitos, de violência, estupros, induzindo assim o indivíduo a reproduzir o ato 
violento. 
Osterne (2011) afirma que: 
Seriam também o caso da veiculação de pornografias, certas músicas 
populares, propagandas, anedotas e piadas, alguns tipos de filmes, ditados 
populares e os provérbios do tipo: pancada de amor não dói; é preciso 
prenderos bodes porque as cabras estão soltas; mulher é como batata frita: 
impossívelcomer só uma; mulher esquenta a barriga no fogão e esfria no 
tanque; ciúme éprova de amor, e tantos outros embutidos, principalmente, 
em comentários sobre traição e cornagem. São casos nos quais, muitas 
vezes, o cômico, o melodramático e a apresentação de fatos espetaculares 
tomam o lugar de situações onde a indignação e o protesto deveriam ser as 
reações mais esperadas.(p.136) 
Outro tipo de violência contra a mulher que é importante mencionar é a 
violência financeira, que diz respeito ao roubo, ou ao domínio de bens financeiros da 
vítima. Incluindo também abuso ou discriminação por situação financeira e 
destruição de bens. 
33 
 
A violência institucional trata-se daquela que se caracteriza por ofensas 
em atendimento por órgãos públicos ou privados, constrangimentos e discriminação 
racial, financeira ou de gênero. 
E por fim, a violência patrimonial, que se configura através de atitudes 
que venham danificar, perder e destruir bens pessoais e objetos de valores. 
Tento em vista a discussão realizada sobre a gravidade e proporções da 
violência de gênero, com ênfase naquela perpetrada contra a mulher, cabe discutir 
as formas de resistência que elas mobilizaram em combateà opressão 
historicamente sofrida. Nesse sentido, iniciaremos tratando das lutas feministas. 
 
2.2. As Lutas Feministas 
Para melhor compreensão de como se deu o inicio das lutas feminista, 
iremos dividir a trajetória de luta das mulheres pela igualdade em duas partes. De 
inicio, iremos trazer uma breve contextualização do papel da mulher antigamente e 
sua luta pelo direito ao voto. Na segunda parte, iremos abordar as lutas feministas 
atuais e suas novas reivindicações. 
Segundo Soares (1995): 
O conceito de feminismo aqui utilizado parte do princípio de que o 
feminismo é a ação política das mulheres. Engloba teoria, prática, ética e 
toma as mulheres como sujeitos históricos da transformação de sua própria 
condição social. Propõe que as mulheres partam para transformar a si 
mesmas e ao mundo. (p.33) 
Durante muitos anos, a mulher foi submetida a papéis em nossa 
sociedade que não lhe garantia nenhum direito nem proteção. Segundo Alves; 
Pitanguy (1985) “[...] na Grécia, a mulher ocupava posição equivalente à do escravo 
no sentindo de que tão somente estes executavam trabalhos manuais, 
extremamente desvalorizados pelo homem livre.” (p.11) 
A mulher tinha como seu papel principal a reprodução da espécie e os 
cuidados domésticos. Alves; Pitanguy (1985) afirmam que “[...] o “fora de casa”, 
onde se desenvolviam as atividades consideradas mais nobres – filosofia, política e 
artes, era o campo masculino.”(p.12) 
Na Idade Média, a mulher já se mostrava mais atuante. Segundo Alves; 
Pitanguy (1985): 
Durante os primeiros séculos da idade média, enquanto não haviam sido 
reintroduzidos os princípios da Legislação Romana – que ocorre no século 
34 
 
XII em diante – as mulheres gozavam de alguns direitos, garantidos pela lei 
e pelos costumes. Assim, quase todas as profissões eram-lhes acessíveis, 
bem como o direito de propriedade e de sucessão. (p.16) 
A grande maioria dos homens se envolvia com guerras, ou frequentes 
viagens, cabendo à mulher a manutenção dela e dos filhos. Segundo Alves; 
Pitanguy (1985) “historicamente, a maior participação da mulher na esfera 
extradoméstica esteve sempre ligada ao afastamento do homem por motivos de 
guerras.” (p.17) 
Neste período, destacam-se também grandes perseguições ao sexo 
feminino, por meio da chamada “caça as bruxas”. Alves; Pitanguy (1985) afirmam 
que: 
A chamada “caça as bruxas”, verdadeiro genocídio perpetrado contra o 
sexo feminino na Europa e nas Américas – tão pouco estudado e 
denunciado – que se inicio na idade média, exacerbando-se no século XVI, 
inicio do renascimento, é parte da herança de silencio que recobre a historia 
da mulher. (p.20-21) 
Um número alarmante de mulheres foram torturadas e mortassem provas 
concretas em relação às acusações. Segundo Alves; Pitanguy (1985): 
[...] por ordem de seu bispo, a cidade de Genebra queimou, no ano de 1515, 
em apenas 3 meses, nada menos que 500 mulheres; na Alemanha, o 
bispado Bamberg queima de uma só vez 600, e o de Wurtzburgo, 900. As 
confissões eram extraídas sob tortura [...] (p.25) 
Depois de muitos anos de subordinação e de inferiorização, em que 
muitas mulheres sofreram em busca de igualdade e de melhores condições de vida, 
é somente no século XIX que começam a surgir as primeiras vozes feministas, na 
luta pelo sufrágio. 
Segundo Pinto (2010): 
Mas a chamada primeira onda do feminismo aconteceu a partir das ultimas 
décadas do século XIX, quando as mulheres, primeiro na Inglaterra, 
organizaram-se para lutar por seus direitos, sendo que o primeiro deles que 
se popularizou foi o direito ao voto. As sufragetes como ficaram conhecidas, 
promoveram grandes manifestações em Londres, foram presas varias 
vezes, fizeram greve de fome. (p.15) 
Essa luta mobilizou varias mulheres de todas as classes sociais, e teve 
uma longa jornada. Segundo Alves; Pitanguy (1985): 
Prolongou-se, nos Estados Unidos e na Inglaterra, por 7 décadas[...] 
mobilizou, nos momentos de ápice das campanhas, até 2 milhões de 
mulheres, o que torna esta luta um dos movimentos políticos de massa de 
maior significação no século XX. Apesar disto, merece dos livros de historia, 
quando não o silencio, apenas uns poucos parágrafos ou uma nota de pé 
na pagina. (p.44) 
35 
 
Depois de constantes lutas e reivindicações, um processo histórico longo 
que abrangeu inúmeros atos e mobilizações, somente em 1920, nos Estados 
Unidos, foi conquistado o direito ao voto. Segundo Alves; Pitanguy (1985): 
O movimento que abrangeu 3 gerações numa luta incansavelmente 
retomada, adquiriu, nos últimos anos da campanha, uma feição violenta, 
tendo s sufragistas sofrido inúmeras prisões. Somente em setembro de 
1920 foi ratificada a 19° Emenda Constitucional, concedendo o voto as 
mulheres, terminando assim uma luta iniciada 72 anos antes. (p.45) 
O movimento sufragista foi o inicio de uma luta contra a exclusão social e 
a garantia de acesso aos direitos, a mulher passou a participar ativamente das 
decisões públicas. Alves; Pitanguy (1985) afirmam que [...]“se o movimento 
sufragista não se confunde com o feminismo, ele foi, no entanto, um movimento 
feminista, por denunciar a exclusão da mulher da possibilidade de participação nas 
decisões públicas.” (p.48) 
Após ter alcançado algumas conquistas, sendoo direito ao voto a principal 
vitória, o feminismo passou por um período de enfraquecimento. As principais 
reivindicações impostas pelas mulheres haviam sido alcançadas, como o direito ao 
voto, melhores condições no trabalho, ingressar nas escolas, entre outras. 
É nesse período de transição que em 1949, Simone de Beauvoir surge 
com seu livro “O segundo sexo”, onde a escritora traz a descrição da realidade de 
desigualdades entre homens e mulheres. Segundo Alves; Pitanguy (1985): 
Simone de Beauvoir estuda a fundo o desenvolvimento psicológico da 
mulher e os condicionamentos que ela sofre durante o período de sua 
socialização, condicionamentos que, ao invés de integrá-la a seu sexo, 
tornam-na alienada, posto que é treinada para ser mero apêndice do 
homem.(p.52) 
É a partir da década de 1970 que o feminismo começa a ressurgir com 
outras vertentes e questionamentos, além da luta pela igualdade em todos os 
âmbitos, o feminismo agora buscava romper com as raízes culturais que impõem 
papéis opostos aos homens e mulheres. Alves; Pitanguy (1985) afirmam que: 
O movimento feminista atual refuta a ideologia que legitima a diferenciação 
de papéis, reivindicando a igualdade em todos os níveis, seja no mundo 
externo, seja no âmbito doméstico. [...] O masculino e o feminino são 
criações culturais e, como tal, são comportamentos apreendidos através do 
processo de socialização que condiciona diferentemente os sexos para 
cumprirem funções sociais especificas e diversas. (p.55) 
Sendo assim, o movimento feminista volta ao cenário, mais critico e forte. 
Segundo Alves; Pitanguy (1985): 
36 
 
É nesse momento histórico de contestação e de luta que o feminismo 
ressurge como um movimento de massas, que passa a se constituir, a partir 
da década de 70, em inegável força política com enorme potencial de 
transformação social (p.58) 
O novo feminismo retorna rompendo com velhas práticas, buscando a 
emancipação da mulher em todos os sentidos. Alguns temas trazidos como 
reivindicações pelo novo feminismo são, segundo Alves; Pitanguy (1985): 
Sexualidade e violência, saúde, ideologia, formação profissional e mercado de 
trabalho. 
No que diz respeito à sexualidade e violência Alves; Pitanguy (1985) 
afirmam que: 
O movimento feminista denuncia a manipulação do corpo da mulher e a 
violência a que é submetido, tanto aquele que se atualiza na agressão física 
– espancamento, estupros, assassinatos – quanto a que o coisifica 
enquanto objeto de consumo. Denuncia da mesma forma a violência 
simbólica que faz do seu sexo um objeto desvalorizado. Reivindica a 
autodeterminação quanto ao exercício da sexualidade, da procriação, da 
contracepção. Reivindica,também, o direito a informação e ao acesso a 
métodos contraceptivos seguros, masculinos e femininos. (p.61) 
No âmbito da saúde, o feminismo luta por uma melhor qualidade no 
atendimento principalmente em casos de gravidez, abortos, menopausas, e doenças 
venéreas. Segundo Alves; Pitanguy (1985): 
[...] o movimento feminista voltou-se para o campo da saúde, onde propõe 
uma reapropriação do conhecimento do corpo. O desconhecimento da 
mulher sobre seu corpo gera uma alienação, uma perda da capacidade de 
controle sobre suas funções, tais como a menstruação, a reprodução, as 
relações sexuais, o controle da natalidade, a menopausa, etc.(p.61-62) 
A ideologia diz respeito às desigualdades entre os sexos, a 
hierarquização e a valorização do homem em nossa sociedade. Segundo Alves; 
Pitanguy (1985): 
O movimento feminista vem travando uma luta no sentido de denunciar os 
conceitos de “masculino e” feminino” na sua oposição de “superior” e 
“inferior”. Essa hierarquização entre o masculino – “superior” – e o feminino 
– “inferior”– é uma construção ideológica e não o reflexo da diferenciação 
biológica.(p.63) 
 
Essa ideologia está enraizada em nossa cultura, que é repassada para as 
crianças o que é considerado adequado para o comportamento da menina e do 
menino. 
37 
 
Na categoria formação profissional e mercado de trabalho, o feminismo 
vem romper com as demarcações no trabalho e com as diferenças salariais entre os 
sexos. Alves; Pitanguy afirmam que (1985) “[...] o movimento feminista tem colocado 
como bandeiras de luta: para funções iguais, salários e direitos iguais; igualdade de 
oportunidades no acesso ao mercado de trabalho e à ascensão e aprimoramento 
profissional. (p.65) 
O feminismo busca movimentar as mulheres a respeito de sua realidade, 
a mulher precisa se conscientizar e se posicionar na luta contra as injustiças. Sendo 
assim, o movimento feminista vem lutar contra as desigualdades entre homens e 
mulheres, buscando uma sociedade igualitária para todos. 
Contudo, o feminismo, como movimento, também teve grande 
repercussão entre as Brasileiras, no subtópico a seguir abordaremos como ocorreu 
o inicio da trajetória de lutas das mulheres no Brasil e suas conquistas. 
 
2.2.2. As Lutas Feministas no Brasil 
No Brasil, a luta das mulheres teve suas primeiras manifestações na 
busca pela conquista do voto feminino. Segundo Pinto (2010): 
No Brasil, a primeira onda do feminismo também se manifestou mais 
publicamente por meio da luta pelo voto. As sufragetes Brasileiras foram 
lideradas por Bertha Lutz, bióloga, cientista de importância, que estudou no 
exterior e voltou para o Brasil na década de 1910, iniciando a luta pelo voto. 
(p.16) 
Bertha Lutz teve papel essencial nessa conquista, ela foi a criadora da 
Liga pela Emancipação Intelectual da Mulher, que, logo depois, teve o nome 
alterado para “Federação Brasileira pelo Progresso Feminino”, e foi justamente 
através da federação que as mulheres fortaleceram suas atitudes em busca do 
direito ao voto. 
Alves; Pitanguy (1985) explicamque “As principais táticas utilizadas pela 
federação são a do lobbying (pressão sobre os membros do congresso) e a 
divulgação de suas atividades pela imprensa, para a mobilização de opinião 
pública.” (p.47) 
Somente em 1927, o Presidente do Rio Grande do Norte, Juvenal 
Lamartine, permitiu no referido Estado o voto às mulheres, com esse acontecimento, 
as reivindicações se intensificaram no País e o direito ao voto foi sendo conquistado 
38 
 
aos poucos nos Estados. Segundo Alves; Pitanguy (1985): “[...] em 1932, Getulio 
Vargas promulga por decreto lei o direto de sufrágio as mulheres, este já era 
exercido em 10 Estados do País.” (p.48) 
Mas foi somente durante a Ditadura Militar (1964 a 1985)que o feminismo 
ganhou força, várias mulheres foram torturadas e exiladas para fora do País devido 
as suas atitudes contrárias as do governo. Segundo Bastos (2006): 
[...] os primeiros exilados dirigiram-se principalmente para os países da 
América Latina, como Cuba, Uruguai, Bolívia, México e Argentina, e alguns 
para a Argélia e França. Mas Montividéu foi das capitais do exílio da 
primeira fase, recebeu um grande contingente de exilados brasileiros. Num 
segundo momento, o Chile tornou-se o principal destino dos brasileiros. A 
proximidade geográfica com o Brasil, a euforia e a mobilização política 
proporcionada pelo governo do então presidente socialista Salvador 
Allende, levou os exilados brasileiros a acreditarem que o Chile seria o 
espaço de rearticulação do movimento de oposição e enfrentamento ao 
regime autoritário brasileiro e pelo fim da ordem capitalista. (p.1) 
 
 
Com o fim do governo de Allende, os exilados saíram do Chile, e a grande 
maioria escolheu ir para a França, onde as mulheres Brasileiras exiladas tiveram o 
primeiro contato com o feminismo europeu, que trazia questionamentos como 
desigualdades entre os sexos, dominação e capitalismo. 
Segundo Bastos (2006): 
[...] os depoimentos indicam que a questão da luta específica das mulheres 
sofreu, mesmo neste período, muita rejeição por parte das organizações de 
esquerda; aos poucos esta temática foi ganhando espaço. Nesse sentido, 
as mulheres que participavam das organizações políticas estruturaram 
grupos de discussão somente de mulheres, onde temas como sexualidade, 
contracepção, trabalho feminino, maternidade e aborto foram incorporados 
ao debate político.(p.2) 
Algumas mulheres tiveram bastante dificuldade para participar desses 
grupos, pois os parceiros, muitas vezes com o pensamento machista enraizado em 
suas culturas, não compreendiam as ideias feministas. Nesse sentindo, afirma Pinto 
(2010): 
Enquanto as mulheres no Brasil organizavam as primeiras manifestações, 
as exiladas, principalmente em Paris, entravam em contato com o 
feminismo europeu e começavam a reunir-se, apesar da grande oposição 
dos homens exilados, seus companheiros na maioria, que viam o feminismo 
como um desvio na luta pelo fim da ditadura e pelo socialismo (p.17) 
Nesse contexto surge o Círculo de Mulheres Brasileiras, onde as 
mulheres se organizam para discutir temas diversos. Segundo Bastos (2006): 
 
39 
 
O Círculo de Mulheres Brasileiras foi fundado entre 1975 e 1976 em Paris 
por iniciativa de algumas mulheres militantes de organizações de esquerda, 
entre elas Regina Carvalho, militante do Campanha. O texto base para a 
formação do Círculo foi o documento intitulado Por uma tendência feminina 
revolucionária, feito em novembro de 1975 por militantes da Campanha, 
assinado como Grupo Brasileiro de Mulheres Revolucionárias. Vale 
ressaltar que grande parte das militantes do Círculo, era composto por 
jovens estudantes de classe média que partiram do Brasil após a edição do 
AI-5, mulheres que careciam de formação profissional, pois a militância 
política havia se tornado a atividade central em suas vidas.(p.3) 
 
A redemocratização dos anos 1980 permite o retorno dessas mulheres, 
que voltam com uma carga de conhecimento bastante consolidada devido às 
experiências vivencias na Europa. Segundo Sarti (1998): 
A anistia de 1979 permitiu a volta das exiladas no começo dos anos 80, 
reencontro que contribuiu para fortalecer a corrente feminista no movimento 
das mulheres brasileiras. As exiladas traziam em sua bagagem não apenas 
a elaboração (alguma, pelo menos) de sua experiência política anterior, com 
também a influência de um movimento feminista atuante, sobretudo na 
Europa. Além disso, a própria experiência de vida no exterior, com uma 
organização doméstica distinta dos tradicionais padrões patriarcais da 
sociedade brasileira, repercutiu decisivamente tanto em sua vida pessoal 
quanto em sua atuação política. (p.7) 
Sendo assim, o movimento feminista cresceu por todo o país, abrangendo 
um número de mulheres cada vez maior na luta por igualdade, conforme 
mencionado porSarti (1998): 
Nos anos 80 o movimento de mulheres no Brasil era uma força

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