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DIDÁTICA Profª Me. MARIANA SPADOTO DE BARROS Reitor Márcio Mesquita Serva Vice-reitora Profª. Regina Lúcia Ottaiano Losasso Serva Pró-Reitor Acadêmico Prof. José Roberto Marques de Castro Pró-reitora de Pesquisa, Pós-graduação e Ação Comunitária Profª. Drª. Fernanda Mesquita Serva Pró-reitor Administrativo Marco Antonio Teixeira Direção do Núcleo de Educação a Distância Paulo Pardo Coordenadora Pedagógica do Curso Fabiana Aparecida Arf Designer Educacional Juliana Spadoto Edição de Arte, Diagramação, Design Gráfico B42 Design *Todos os gráficos, tabelas e esquemas são creditados à autoria, salvo quando indicada a referência. Informamos que é de inteira responsabilidade da autoria a emissão de conceitos. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem autorização. A violação dos direitos autorais é crime estabelecido pela Lei n.º 9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal. Universidade de Marília Avenida Hygino Muzzy Filho, 1001 CEP 17.525–902- Marília-SP Imagens, ícones e capa: ©envato, ©pexels, ©pixabay, ©Twenty20 e ©wikimedia B277d Barros, Mariana Spadoto de Didática [livro eletrônico] / Mariana Spadoto de Barros. Fabiana Aparecida Arf (coord.) - Marília: Unimar, 2019. PDF : il. color. ISBN 978-85-86860-31-7 1. Aprendizagem 2. Didática 3. Ensino 4. Ensino e Aprendizagem – Brasil 5. Planejamento Educacional 6. Processo Didático – Avaliação I. Título. CDD – 371.3 005 Aula 1: O conceito de Didática e seu uso 013 Aula 2: Introdução à História Geral da Didática 021 Aula 3: Foco na aprendizagem: inatismo, empirismo e associacionismo 029 Aula 4: Foco no ensino - O comportamentalismo 040 Aula 5: Foco no ensino - O cognitivismo 049 Aula 6: Foco no ensino - O socioconstrutivismo (ou sociointeracionismo) 055 Aula 7: O Ensino e a Aprendizagem no Brasil: tendências pedagógicas liberais 063 Aula 8: O Ensino e a Aprendizagem no Brasil:as tendências pedagógicas progressistas 069 Aula 9: As formas de ensinar: métodos de ensino 078 Aula 10: A Relação Pedagógica 087 Aula 11: A dimensão pessoal em questão: a relação Professor - Aluno 093 Aula 12: O planejamento educacional 100 Aula 13: O plano de ensino 111 Aula 14: O plano de aula 118 Aula 15: A sequência didática 124 Aula 16: A importância da avaliação no processo didático 002 Introdução Estimado(a) aluno(a), Você iniciará seus estudos em Didática, uma disciplina que trata das maté- rias-primas do ofício do professor: o ensino e a aprendizagem. Como se aprende? Qual a melhor forma de ensinar? Como organizar as au- las? Quais são as finalidades do ensino de determinados conteúdos? Como estabelecer uma boa relação com meus alunos? Tenho clareza quanto aos objetivos do ensino de conteúdos escolares? Todas essas questões serão exploradas neste material. Mas não se engane: não há respostas prontas. Certas dúvidas perseguirão o professor por toda a sua vida profissional, já que as respostas variam de acordo com o contexto histórico, social e político em que o processo educativo e o próprio professor estão inseridos. O que a disciplina Didática fará é fornecer elementos para que você pense sua práti- ca pedagógica de maneira a assumir sua responsabilidade técnico-político, inerente à carreira profissional. A palavra didática vem do grego didasko que significa instruir, ensinar. Foi, porém, o educador checo Comenius (1592 – 1670), no século XVII, quem atribui à didática, por meio de sua obra Didática Magna, o sentido “a arte de ensinar”. Você também deve ter ouvido a palavra didática como adjetivo para algo relacionado à educação: livro didático, material didático. Ou como substantivo e sinônimo de técnica de ensino: “Esta professora tem didática! Sabe ensinar!”. Tais sentidos para o conceito de didática cabem nele. Em nosso curso, con- tudo, os aprofundaremos, pois nos debruçaremos sobre a Didática como disciplina responsável por orientar o professor acerca de tudo que envolve o processo de ensino, tais como seus objetivos, conteúdos e métodos. O curso tratará do conceito de Didática, de sua história geral. Em seguida, você estudará as principais concepções sobre a forma de aprender, as pro- postas de ensino e tendências pedagógicas que podem embasar o processo pedagógico do professor. Trataremos também de alguns métodos de ensino, da relação pedagógica e, especificamente, da relação professor-aluno. 003 Adentrando a etapa final do curso, discutiremos sobre a importância a as instâncias do planejamento educacional. E, finalizando o curso, discutiremos o processo avaliativo escolar e suas dimensões. É muito importante que você faça a leitura do material e acompanhe as videoaulas, pois são complementares. O material também conterá sugestões que podem ampliar sua visão sobre os assuntos trabalhados, o que ajudará na efetivação da aprendizagem. Vamos juntos desbravar alguns caminhos destes fenômenos incríveis da ação humana: ensinar e aprender! Professora Mariana Spadoto de Barros 004 01 O conceito de Didática e seu uso 005 006 O que é educação? Quando falamos de educação, certamente estamos citando um termo amplo que engloba muitas dimensões humanas, individuais e sociais. Abordaremos aqui o conceito de educação - o objeto de conhecimento da Pedagogia. De�nir o que é educação é algo complexo, já que o fenômeno educativo – educar e ser educado – é multidimensional. Pense comigo: os pro�ssionais que, de alguma forma, estão ligados ao campo educacional, como, por exemplo, psicólogos, sociólogos, antropólogos ou pro�ssionais da saúde, se perguntados sobre sua de�nição de educação, dariam respostas relacionadas a sua área de atuação. Um psicólogo, provavelmente, diria algo relacionado à aprendizagem dos comportamentos, das emoções ou mesmo do desenvolvimento dos processos cognitivos. Da mesma forma, se perguntarmos a uma pessoa que não é do campo educacional, “O que é educação?” ou “O que é educar?”, sua resposta basear-se-á em concepções do senso comum, como, por exemplo, ensinar ou aprender sobre boas maneiras, aprender ou ensinar coisas, dizer ou ouvir de alguém o que se deve ou não fazer. Fonte: Disponível aqui De acordo com o dicionário online Michaelis: Senso comum, FILOS: conjunto de ideias, opiniões e pontos de vista de um grande número de pessoas em um determinado contexto social que se estabelecem e impõem como naturais e necessárias, não admitindo grandes questionamentos nem re�exões; consenso. https://michaelis.uol.com.br/busca?r=0&f=0&t=0&palavra=senso 007 O conceito de educação na contemporaneidade assume uma identidade muito abrangente, vistos os inúmeros processos nos quais o sujeito está inserido: campos social, cultural, econômico, político, religioso e cientí�co, além das questões psicológicas. Portanto, de acordo com Libâneo (2010, p. 30), “Educação é o conjunto das ações, processos, in�uências, estruturas que intervêm no desenvolvimento humano de indivíduos e grupos na sua relação ativa com o meio natural e social, num determinado contexto de relações entre grupos sociais”. Apoiados em Libâneo (2010), então, compreendemos que tudo aquilo que interfere no desenvolvimento integral do ser humano ou de um grupo, que o modi�ca, é educação. A partir dessa compreensão, qualquer fator, seja natural ou social, que transforma o sujeito, é educação. Assim, podemos a�rmar que existem situações intencionais de educação, ou seja, em que se há sistematização e planejamento a �m de educar, e situações não-intencionais de educação, em que a educação acontece de forma intuitiva, não-planejada. Como a educação se dá em diversos campos da vida, Libâneo (2010) classi�ca tais situações em três categorias. São elas: Educação informal: ações e in�uências exercidas pelo meio (ambiente sociocultural), por meio das relações. Ex.: relações familiares. Educação não-formal: instituições educativas com certo grau de sistematização e estruturação. Ex.: Meios de comunicação sociais, associações de bairro, museus.Educação formal: onde há objetivos educativos explícitos e uma ação educacional institucionalizada, estruturada, sistemática (mesmo que fora do ambiente escolar propriamente dito). Ex.: escolas formais, educação pro�ssional, educação de adultos. 008 É importante saber que a educação formal e a não-formal são sempre perpassadas pela educação informal. É função da educação formal considerar, de forma crítica, as diversas in�uências vindas do ambiente natural e sociocultural de seus alunos. Também a educação formal e não-formal se interpenetram, pois os alunos das escolas formais são também agentes de outras esferas educativas. Assim, o professor deve considerar que o aluno é também participante de outras esferas educativas e traz consigo uma bagagem de conhecimentos. Após entendermos que a educação acontece nas mais variadas esferas sociais (nas famílias, nos grupos sociais, nas instituições educacionais ou assistenciais, nas associações pro�ssionais, sindicais e comunitárias, nas igrejas, nas empresas, nos meios de comunicação de massa etc.) e assume diferentes formas de organização, é possível agora, compreender, que é ela o objeto de estudo da Pedagogia, isto é, cabe à Pedagogia estudar o fenômeno educativo em sua globalidade, propondo teorias e práticas. Agora sim, caro(a) aluno(a), é possível compreender melhor o que é a Pedagogia e o que faz um pedagogo - e consequentemente um professor - para só então conseguirmos entender a importância da disciplina Didática. 009 Acesse: Disponível aqui Para entender melhor o conceito de educação não-formal, conheça o projeto Curumim, idealizado pelo SESC SP em 1987 e que permanece ativo. Pedagogia: a ciência da educação Pedagogia é o campo de conhecimento que estuda a educação. Porém, dentro do universo cientí�co, há muitas disciplinas que têm a educação como um de seus focos de estudo, como a psicologia, as ciências sociais, algumas áreas da saúde, entre outras. Então, o que difere a Pedagogia dessas ciências? Essas ciências e muitas outras que estudam a educação o fazem abordando-a a partir de suas próprias perspectivas e métodos. A Pedagogia estuda o ato educativo em si, ou seja, os elementos da ação educativa e sua contextualização. De acordo com Libâneo (2010, p. 38), a Pedagogia analisa, então, “[...] o sujeito que se educa, o educador, o saber e os contextos em que ocorre”. Observe o esquema baseado nessa a�rmação: https://www.sescsp.org.br/online/artigo/9676_APRENDER+E+BRINCAR+O+QUE+E+O+CURUMIM. 010 Título: Objeto de Estudo da Pedagogia | Fonte: autor O pedagogo e o professor são especialistas em educação, pois não apenas dominam as técnicas de ensino, mas compreendem, por meio da teoria pedagógica, a problemática educativa na sua totalidade, além de produzir teoria pedagógica em resposta aos problemas da prática. Por isso é que você poderá atuar tanto como professor, em sala de aula, na gestão escolar (coordenação pedagógica, direção, supervisão e dirigente de ensino), como na organização de projetos educativos em empresas e ONGs, ou dedicando-se à pesquisa acadêmica nas universidades. Concluindo: A Pedagogia, mediante conhecimentos cientí�cos, �losó�cos e técnico- pro�ssionais, investiga a realidade educacional em transformação, para 011 explicitar objetivos e processos de intervenção metodológica e organizativa referentes à transmissão/assimilação de saberes e modos de ação. Ela visa ao entendimento, global e intencionalmente dirigido, dos problemas educativos e, para isso, recorre aos aportes teóricos providos pelas demais ciências da educação. (LIBÂNEO, 2010, p. 32-33). E onde entra a Didática nesse contexto? A Didática é uma disciplina da Pedagogia, um ramo de estudo dessa ciência. Vejamos. Didática: disciplina da Pedagogia Ao compreendermos que a educação é todo e qualquer processo em que haja modi�cação, intencional ou não, no desenvolvimento do sujeito e que a Pedagogia é a ciência que estuda esse processo de modi�cação, analisando todo o contexto em que ele ocorre, é possível inferir que a Didática é um ramo da Pedagogia. A Didática é uma disciplina da Pedagogia. Ela se preocupa, basicamente, com a investigação e a proposição de teorias acerca do ensino. Libâneo (2001) conceitua: A didática é uma disciplina que estuda o processo de ensino no seu conjunto, no qual os objetivos, conteúdos, métodos e formas organizativas da aula se relacionam entre si de modo a criar as condições e os modos de garantir aos alunos uma aprendizagem signi�cativa. (LIBÂNEO, 2001, p. 2). A Didática então, como disciplina da Pedagogia, ajuda o professor na orientação de seu trabalho, proporcionando a segurança pro�ssional necessária para este árduo ofício. Isto porque o professor, compreendendo as �nalidades do ensino, é capaz de selecionar os métodos mais adequados para o sucesso de sua ação educativa. É de primordial importância que você, futuro professor, compreenda que a atividade docente está diretamente ligada com o para que educar (Libâneo, 2001). Isso porque a educação acontece inserida em uma determinada sociedade, composta por grupos 012 sociais diferentes, com visões igualmente distintas do sentido da educação. É função do professor compreender as relações de disputa para que se posicione criticamente e tenha clareza das �nalidades que tem em mente para a educação das crianças. Portanto: Não há técnica pedagógica sem uma concepção de homem e de sociedade, como não há concepção de homem e sociedade sem uma competência técnica para realizá-la educacionalmente. Por isso, o planejamento do ensino deve começar com propósitos claros sobre as �nalidades do ensino na preparação dos alunos para a vida social: que objetivos mais amplos queremos atingir com o nosso trabalho, qual o signi�cado social da matéria que ensinamos, o que pretendemos fazer para que meus alunos reais e concretos possam tirar proveito da escola etc. As �nalidades ou objetivos gerais que o professor deseja atingir vão orientar a seleção e organização de conteúdos e métodos e das atividades propostas aos alunos. Essa função orientadora dos objetivos vai aparecer a cada aula, perpassando todo o ano letivo. (LIBÂNEO, 2001, p. 2-3). Mais adiante, nossas aulas tratarão dos processos relacionados ao ensino e à aprendizagem, como a relação professor-aluno e os métodos de ensino. Antes disso, conheceremos um pouco da história da Didática. O importante sobre a Didática é compreendermos que não se trata de uma disciplina especí�ca para ensinar técnicas de ensino ao professor, apesar de sua importância, mas que se propõe a estudar todo o contexto em que o ensino se dá, com que objetivo ele ocorre, qual conteúdo ele apresenta e como ensiná-lo, considerando o espaço em que ele acontece e as relações desenroladas nesse espaço. É para isso que a Didática serve: para que o professor consiga realizar intencionalmente o seu ofício de ensinar, para além do senso puramente prático, de modo que o aluno aprenda de fato. 02 Introdução à História Geral da Didática 013 014 A origem da palavra didática, segundo Cordeiro (2007), vem do grego didasko, que signi�ca ensinar ou instruir. Na Grécia antiga, o ensino infantil acontecia de modo bem diferente do que o que hoje entendemos por instrução. Vamos compreender um pouco da história do ensino e da Didática? Segundo Malheiros (2012), muitos autores consideram Platão como o primeiro professor de que se ouviu falar. Considerando que Platão nasceu em por volta de 427 a. C., as formas e objetivos de ensino mudaram muito nestes, aproximadamente, 2.500 anos. É importante conhecer o desenvolvimento histórico da Didática para compreender muitas das ideias atuais de educação. Nosso modelo de instrução atual, centra-se, basicamente, em paradigmas europeus de educação. Por isso, centremo-nos neles. Muito da forma de educação da Idade Média (séculos V a XV), de acordo com Malheiros (2012), vinha da Antiguidade. As crianças podiam ser dadas, vendidas ou mortas a partir da decisão do pai. Com a expansão do cristianismo,no entanto, a Igreja passou a assumir a tarefa de acolher as crianças, garantindo não a educação integral, tal qual pensamos hoje, mas sua sobrevivência (alimentação, vestimenta, higiene). A educação dada era, basicamente, catequização. As corporações medievais, que eram associações de pessoas de uma determinada pro�ssão, também admitiam crianças para que aprendessem um ofício e, futuramente, �zessem parte da associação. Malheiros (2012) explica ainda que a partir do século VI é que a Igreja passou a abrir espaços escolares para garantir a formação cristã nas maiores cidades europeias. Neste momento, não havia um ensino diferenciado que considerasse a maneira própria das crianças aprenderem. A partir dos cinco anos, elas aprendiam juntamente com os adultos. Foi somente com o início da Idade Moderna, no �m do século XV, que os jesuítas criaram a ideia de seriação. As escolas, no formato como conhecemos hoje, são fruto do modelo europeu de escola consolidado a partir do século XVII. Esse século consolida a ideia de professores regentes e grupos mais homogêneos de alunos, separados �sicamente. Foi neste século que se começa a pensar especi�camente em conteúdos, objetivos e métodos de ensino. Vejamos quem deu este passo. 015 Jan Amos Comenius (1592 – 1670) Costuma-se dizer que a Didática foi fundada no século XVII por um educador da Europa central chamado Comenius. Nesse século, ele publicou um livro que se chamava Didática Magna: tratado da arte universal de ensinar tudo a todos (1632). Por que essa obra tornou-se tão importante? Por dois motivos: pelo seu pioneirismo em propor um método universal que orientasse a prática do professor e por in�uenciar muitas teorias e práticas futuras que buscariam tornar o ensino efetivo, e�ciente, por meio da racionalização das formas de ensinar. Sua obra também é considerada muito relevante porque traz como inovação a aprendizagem do aluno como elemento central na prática educativa, além da ideia da pro�ssionalização do ensino, ou seja, de um conjunto de competências cabíveis ao professor. Fonte: Disponível aqui Conheça a obra Didática Magna de Comenius, com tradução do professor doutor da Faculdade de Letras de Coimbra, Joaquim Ferreira Gomes, publicado pela Fundação Calouste Gulbenkian, em 2001, que está disponível no formato e-book. Comenius (ou Comênio) foi o primeiro educador a ter a intenção de que os conhecimentos fossem difundidos para todos, segundo princípios e regras do ensino. Libâneo (2013, p. 59) salienta que: http://www.ebooksbrasil.org/adobeebook/didaticamagna.pdf 016 Comênio desenvolveu ideias avançadas para a prática educativa nas escolas, numa época em que surgiam novidades no campo da Filoso�a e das Ciências e grandes transformações nas técnicas de produção, em contraposição às ideias conservadoras e do clero. O sistema de produção capitalista, ainda incipiente, já in�uenciava a organização da vida social, política e cultural. A Didática de Comenius centrava-se em determinados princípios. Vejamos alguns deles: Educação como direito: todos os homens merecem a sabedoria, a moralidade e a religião. A educação é um direito natural de todos. Respeito ao desenvolvimento natural humano: o homem deve ser educado conforme seu próprio desenvolvimento natural. A Didática deve estudar e propor métodos de ensino respeitando tal processo Aprender pelos sentidos: a assimilação não é algo mecânico. Os conhecimentos devem ser construídos pela observação, por meio dos órgãos dos sentidos. Do simples para o complexo: O planejamento deve seguir o curso da natureza infantil. Deve ser ensinada uma coisa de cada vez, partindo do conhecido para o desconhecido. Considerada a época dessas ideias, podemos dizer que são uma grande novidade. Embora acreditasse na importância da observação e da experiência dos sentidos, Comenius tinha em seus ideais algumas características comuns ao período, como o caráter transmissor do ensino, o método único e o ensino simultâneo. Além disso, considerava que a única forma de aprendizagem seria pela experiência sensorial, o que o fez desconsiderar a experiência socialmente acumulada. Comenius teve uma in�uência signi�cativa por seu empenho ao desenvolvimento dos métodos mais e�cientes de instrução e também pelo desejo de que todas as pessoas fossem bene�ciadas pela aquisição dos conhecimentos. Mesmo com as propostas de Comenius, no século XVII e também nos seguintes, houve ainda a predominância de práticas escolares medievais, como o ensino integralmente intelectual, verbal e dogmático, centrado na memorização e na repetição mecânica do ensino. “Nessas escolas não havia espaço para ideias próprias dos alunos, o ensino era separado da vida, mesmo porque ainda era grande o poder da religião na vida social”. (LIBÂNEO, 2013, p. 60). 017 Ainda de acordo com Libâneo (2013), nesse contexto, transformações intensas se sucederam, gerando avanços signi�cativos na ciência e cultura. Com isso, houve a diminuição do poder da nobreza e do clero e, consequentemente, a burguesia teve ascensão. Com o seu fortalecimento como classe social, na disputa pelo poder econômico e político com a nobreza, cresceu também a intenção de que o ensino estivesse ligado ao mundo da produção e dos negócios, contemplando o desenvolvimento livre das capacidades e dos interesses de cada um. Por isso, outros tratados didáticos focados no desenvolvimento do sujeito, surgem. O desenvol�mento da teoria didática Jean Jacques Rousseau (1712 - 1778) 018 Com a ascensão da burguesia, no século XVIII, a era moderna começa a se instalar com novas visões de mundo. Rousseau, um pensador que procurou interpretar esse cenário, propôs novas concepções de ensino e de infância com base nos interesses imediatos da criança. Rousseau inova “quando põe em relevo a natureza da criança e transforma o método num procedimento natural, exercido sem pressa e sem livros”. (CASTRO, 1991, p. 17). São ideias rousseaunianas: Para preparar a criança para a vida futura, parte-se do estudo das coisas que re�itam seus interesses e necessidades atuais. “Os verdadeiros professores são a natureza, a experiência e o sentimento. O contato da criança com o mundo que a rodeia é que desperta o interesse e suas potencialidades naturais”. (LIBÂNEO, 2013, p. 60). A educação é um processo natural, fundamentada no desenvolvimento interno da criança ou jovem. “As crianças são boas por natureza, elas têm uma tendência natural para se desenvolverem” (LIBÂNEO, 2013, p. 60). Nota-se, então, de acordo com Castro (1991, p. 17), que “enquanto Comenius, ao seguir as pegadas da natureza, pensava em domar as paixões das crianças, Rousseau parte da ideia da bondade natural do homem, corrompido pela sociedade”. Entretanto, cabe ressaltar que Rousseau não colocou em prática tais ideias e também não elaborou uma teoria de ensino. Essa tarefa foi cumprida por outro pedagogo: o suíço Henrique Pestalozzi, que trabalhou até o �m da vida na educação de crianças pobres, em instituições dirigidas por ele próprio. Henrique Pestalozzi (1746 – 1827) O pedagogo Pestalozzi valorizava o ensino como meio de desenvolver as capacidades humanas, seus sentimentos, sua mente e seu caráter. Haydt (2011, p. 15) elucida que ele: [...] acreditava que o ser humano nascia bom e que o caráter de um homem era formado pelo ambiente que o rodeia. Sustentava que era preciso tornar esse ambiente o mais próximo possível das condições naturais, para que o caráter do indivíduo se desenvolvesse ou fosse formado positivamente. Para ele, a transformação da sociedade iria se processar através da educação, que tinha por �nalidade o 019 desenvolvimento natural, progressivo e harmonioso de todas as faculdades e aptidões do ser humano. Para o pedagogo suíço, a educação deve desenvolver a linguagem, o senso de observação e de análise (de objetos e fenômenos da natureza). Além disso, dava importância à Psicologia infantil, considerando-a como princípio do desenvolvimento do processo de ensino. Pestalozzi, com tais ideias, lança as sementesda Pedagogia Moderna. “Foi ele o primeiro a formular de forma clara e explícita o princípio de que a educação deveria respeitar o desenvolvimento infantil”. (HAYDT, 2011, p. 15). Os três pensadores vistos até aqui in�uenciaram Herbart (1766-1841), um pedagogo alemão que na primeira metade do século XIX teve in�uência relevante nas práticas docentes. Foi considerado (e ainda é) inspiração da pedagogia conservadora. As ideias de Herbart, segundo Libâneo (2013), estão presentes nos dias atuais na prática das salas de aula brasileiras. Tal concepção de ensino e de aprendizagem valoriza a aquisição de conhecimentos, direcionados pelo professor (o “arquiteto da mente”). Cabe a ele inserir ideias corretas na cabeça dos alunos, de modo que controle seus interesses. Johann Friedrich Herbart (1746 – 1827) Para Herbart, de acordo como Haydt (2011, p. 17), a educação moral decorre da educação intelectual, pois são as ideias que formam o caráter. “O conhecimento produz ideias que moldam a vontade, isto é, o caráter. A este ciclo, conhecimento-ideias-caráter, 020 Herbart chamou de instrução educativa”. A instrução permite atingir a moralidade, entendida como a �nalidade da educação. Aproveitando as leis da psicologia do conhecimento, Herbart formulou um método de ensino, estabelecendo quatro passos didáticos que deveriam ser rigorosamente seguidos (LIBÂNEO, 2013). Vejamos: 1º passo - Clareza: é preciso realizar a preparação e a apresentação do conteúdo novo de forma clara e completa; 2º passo - Associação: é necessário que haja associação das ideias antigas com as novas; 3º passo - Sistematização: deve ocorrer a sistematização dos conhecimentos com vistas à generalização; 4º passo - Aplicação: fazer uso dos conhecimentos adquiridos com exercícios. Posteriormente, de acordo com Libâneo (2013), os seguidores de Herbart acrescentaram mais um passo didático, a generalização, e tal sequência ainda é muito utilizada atualmente. Os passos �caram na seguinte ordem: preparação; apresentação; assimilação; generalização; aplicação. Libâneo (2013) critica tal sequência a�rmando que a aprendizagem se torna mecânica, pois não mobiliza a atividade mental do aluno, inibindo a re�exão, o pensamento independente e a criatividade. O sistema pedagógico de Herbart e seus seguidores — chamados de herbartianos — trouxe esclarecimentos válidos para a organização da prática docente, como por exemplo: a necessidade de estruturação e ordenação do processo de ensino, a exigência de compreensão dos assuntos estudados e não simplesmente memorização, o signi�cado educativo da disciplina na formação do caráter. Entretanto, o ensino é entendido como repasse de ideias do professor para a cabeça do aluno; os alunos devem compreender o que o professor transmite, mas apenas com a �nalidade de reproduzir a matéria transmitida. (LIBÂNEO, 2013, p. 62). Os autores explorados até aqui abordaram a educação a partir de pontos de vista muito diversos. Analisaremos a seguir as correntes �losó�cas que explicam como o ser humano aprende, cada uma à sua maneira. Você conseguirá relacionar tais correntes aos pensamentos vistos até aqui. 03 Foco na aprendizagem: inatismo, empirismo e associacionismo 021 022 Você viu, até aqui, que a nossa disciplina se ocupa de investigar os conteúdos de ensino (o que ensinar), os objetivos desse ensino (por que ensinar) e os métodos de ensino (como ensinar), bem como suas �nalidades mais amplas, ou seja, qual a importância que o que está sendo ensinado tem para a sociedade, de forma que o aluno efetivamente aproveite a escola como meio de inserção e interação social e econômica. É muito importante que você, futuro professor, aproveite o máximo de nossas aulas para que, ultrapassando as ideias de ensino e escola do senso comum, faça boas escolhas, preocupadas realmente com a aprendizagem de seus alunos. Como as pessoas aprendem? Para um professor, a resposta a essa pergunta pode determinar suas escolhas didáticas e relação pedagógica. Por muito tempo, os sujeitos se questionaram - e ainda se questionam - sobre esse assunto. Segundo Malheiros (2012), historicamente, as teorias construídas acerca de como se aprende podem ser agrupadas em três blocos: o inatismo, o empirismo e o associacionismo. Como as pessoas aprendem? - O inatismo O inatismo parte do princípio de que todas as características que de�nem o sujeito nascem com ele. Nesta perspectiva, as pessoas nascem com mais ou menos potencialidades. O desenvolvimento precede a aprendizagem. Alguns nascem mais desenvolvidos que outros. Essa teoria tem como seu primeiro representante o �lósofo Platão (427-347 a.C.). Platão defendia que aprender signi�ca desenvolver os dons com os quais as pessoas nascem. Assim, o meio social não tem in�uência no desenvolvimento cognitivo do indivíduo. 023 Atualmente, quase não há pesquisadores que defendam essa teoria. Isso porque ela foi muita utilizada para justi�car atos discriminatórios ao longo do tempo, embasando a ideia de que pais pouco instruídos passam essa herança a seus �lhos, mesmo que tivessem crescido em outro contexto social, político ou econômico. Muitos grupos étnicos foram discriminados ao longo do tempo por conta, entre outras coisas, dessa ideia. Não há evidências cientí�cas que justi�quem essa teoria. Por se tratar da mais antiga concepção de aprendizagem, está ainda presente no imaginário das pessoas. Você certamente já ouviu alguém – ou mesmo um professor – dizer: “Tal pessoa não nasceu pra isso”. Ou mesmo: “Aquele sujeito consegue realizar tal atividade porque possui um dom”. A maior crítica que se faz a este tipo de crença é que se o sujeito nasce com determinadas características, de forma inata, então, não é possível mudar. O meio, portanto, não interfere no desenvolvimento cognitivo da pessoa. 024 O inatismo acredita que todas as características que de�nem uma pessoa estão presentes no momento em que esta pessoa nasce. Aprender seria, portanto, estimular características que já́ existem. (MALHEIROS, 2012, p. 9). Como as pessoas aprendem? - O empirismo O empirismo: se opõe completamente ao inatismo, pendendo para o outro extremo. De acordo com o empirismo, nascemos sem saber nada e que as estruturas cognitivas vão sendo construídas a o longo da vida. Quanto mais experiências vivenciadas, mais informações acumuladas. A aprendizagem acompanha o desenvolvimento, e não vem depois dele. John Locke (1632-1704) se opôs profundamente ao inatismo e entrou para a história como �lósofo da teoria do conhecimento. Provavelmente, você ouvir falar que a mente humana é uma “tábula rasa”. Foi ele quem deu visibilidade a essa expressão. Isso signi�ca dizer que a cognição humana é uma tela em branco a ser preenchida com informação retiradas de sua própria experiência. Acontece, então, uma aprendizagem “de fora para dentro”, ou seja, o meio constrói o desenvolvimento cognitivo do sujeito. 025 Para Lock, a experiência (empiria) se dá por meio dos sentidos (visão, olfato, paladar, tato). Por meio da apreciação de um objeto, o sujeito constrói o seu conceito. A crítica que se faz ao empirismo tem a ver com a forma de apreensão do conhecimento. Ora, se conhecer é simplesmente entrar em contato com o objeto e descobrir com ele, aprender é, então, apreender, decorar, receber um conteúdo. Assim, descartam-se as questões subjetivas que permitem ao ser humano reconstruir o conhecimento, buscando suas próprias interpretações e respostas. O empirismo acredita que nascemos sem saber absolutamente nada, e que construímos nosso conhecimento por meio das experiências. (MALHEIROS, 2012, p. 10). 026 A relação entre empirismo e inatismo Observe o quadro que compara as duas teorias vistas até aqui: Inatismo Empirismo Conhecimento O conhecimento é pré- formado e fruto do desenvolvimento biológico. O conhecimento é oriundo da experiência, captado de fora pelos sentidos. Aprendizagem Armazenamento de informações por meio da memória. Alteração de comportamentos, fruto da experiência. EnsinoUso maciço de exposição de conteúdos pelo professor. Controle do ambiente para levar o aluno a viver uma experiência. Avaliação Mensuração da quantidade de informações retidas pelo aluno. Mensuração de respostas modi�cadas e comportamento alterado. Fonte: BARROS, 2012, p. 11. Você deve estar se perguntando: inatismo e empirismo não reconhecem a relação entre as pessoas como ponto importante para a aprendizagem? E a resposta é não. Não reconhecem. Ainda segundo Malheiros (2012), foi a partir do início do século XIX que alguns pensadores começaram a considerar e a investigar o impacto do meio e das relações sociais no ensino e na aprendizagem. Isso se deu porque a psicologia, no ocidente, começou a se a�rmar como disciplina autônoma e a fortalecer ideias acerca da in�uência das interações sociais na formação do indivíduo, além da noção de que 027 existia um vínculo entre o meio no qual se vivia e o tipo de educação oferecido. A partir de então, novas formas de se conceber a aprendizagem, e também o ensino, passaram a �gurar. Como as pessoas aprendem? – O associacionismo A partir das descobertas da psicologia que apontavam para uma in�uência do meio no desenvolvimento humano, as teorias denominadas associacionistas despontaram. O associacionismo: a educação acontece por meio de um estímulo e de uma recompensa. Por exemplo, os pais recompensam seus �lhos com uma sobremesa caso estes comam o alimento saudável oferecido durante a refeição. Caso não comam verduras e legumes, não ganham a sobremesa. Dessa forma, o resultado esperado é que os �lhos compreendam a relação estabelecida entre o estímulo e a recompensa, entendendo as consequências positivas e negativas dessa relação, e passem a dar respostas positivas a tais estímulos, mantendo tal comportamento. As ideias associacionistas foram a gênese do comportamentalismo. Fonte: Disponível aqui Saiba mais sobre as diversas formas de se compreender a aprendizagem, de maneira simples e atrativa, acompanhando online os conteúdos da Revista Nova Escola. https://novaescola.org.br/conteudo/41/inatismo-empirismo-e-construtivismo-tres-ideias-sobre-a-aprendizagem 028 Você pode se perguntar se aprender depende de algo tão simples e mecânico, como provocar o estímulo adequado para obter a resposta desejada. Pare e pense: quando você era criança, provavelmente sua professora fazia um elogio em seu caderno, esperando que você continuasse a aprender e a esforçar-se para isso. Entretanto, a carinha feliz ou a estrelinha colada em seu caderno provavelmente tinha pouca in�uência sobre sua di�culdade de aprender determinados conteúdos. Mesmo assim, séculos depois desta formulação teórica acerca de como aprendemos aparecer, ainda há pais, professores e psicólogos que se orientam pela concepção associacionista de aprendizagem, mãe do comportamentalismo. “O inatismo, o empirismo e o associacionismo são correntes �losó�cas que orientam a forma como se crê̂ que o conhecimento se estabelece. Não são métodos. Os métodos de ensino são os caminhos utilizados para garantir que o outro aprenda.” (MALHEIROS, 2012, p. 12). Baseadas nessas três formas de conceber a aprendizagem, teorias focadas em como ensinar – em métodos – foram desenvolvidas. Veremos quais são elas a seguir: Inatismo, empirismo e associacionismo são correntes �losó�cas que postulam a forma como as pessoas aprendem. Não são métodos de ensino. (MALHEIROS, 2012, p. 12). 04 Foco no ensino - O comportamentalismo 029 030 Já discutimos sobre as principais formas de se conceber a aprendizagem que embasaram os primeiros estudos sobre educação escolar no ocidente. Tais correntes deram origem a estudos mais estruturados sobre a aprendizagem, que propuseram métodos de ensino. Vimos em nossa primeira aula que é função da Didática estudar as �nalidades do ensino. De posse dessa informação, é fundamental que você, futuro professor, compreenda que dependendo da visão de mundo do educador, ou de um sistema organizado de ensino, a educação terá determinadas �nalidades e utilizará determinados meios para alcançá-las. Nenhum tipo de educação é neutro. Nenhum método de ensino é neutro. Sempre há uma concepção de homem e de sociedade para os quais a educação forma. Método e Metodologia são conceitos diferentes, contudo são comumente utilizados no campo da educação como sinônimos. Método signi�ca o caminho que se percorre para chegar a um objetivo, o passo a passo, as estratégias, as técnicas. Metodologia é um conceito mais amplo, que engloba o estudo do método, a análise dos procedimentos, os conhecimentos teórico-�losó�cos que embasam as técnicas. Discutiremos, nesta aula, o comportamentalismo e suas implicações para a educação. O comportamentalismo estabeleceu-se como teoria psicológica a�rmando que todo comportamento pode ser controlado por estímulos. Além disso, centra seus estudos psicológicos estudando o comportamento que pode ser observado, se opondo a outros 031 estudos, como a psicanálise freudiana. Um cientista que viveu entre os séculos XIX e XX, Pavlov, foi o primeiro a ser mundialmente conhecido por utilizar cães para comprovar o condicionamento comportamental. Uma experiência muito famosa que ele realizou com cães consistia em transferir a resposta de um estímulo para outro estímulo. Por exemplo: sempre que ele apresentava um pedaço de carne, o cão salivava. Em seguida, ele passou a apresentar um pedaço de carne e tocar um sino simultaneamente. Algum tempo depois, apenas ao tocar o sino, o cão já́ salivava. O grande feito de Pavlov foi mostrar que é possível moldar o comportamento (pelo menos em animais), o que instigou pesquisadores da psicologia a buscar compreender se esta associação também seria possível em humanos. (MALHEIROS, 2012, p. 13). Logo em seguida, dando continuidade aos estudos comportamentalistas, Watson (1878- 1958) iniciou uma corrente chamada de comportamentalismo (ou behaviorismo) clássico, que acredita ser possível comandar todos os comportamentos humanos a partir da identi�cação do melhor estímulo. Ele a�rmava que qualquer comportamento poderia ser condicionado por meio de estímulo-resposta, sem, contudo, conseguir comprovar completamente tal a�rmação. Tolman, contemporâneo de Watson, explanou que entre o estímulo e a resposta há um organismo, e que o mesmo estímulo pode desencadear respostas diferentes dependendo do organismo em questão. As pesquisas que orientam Tolman o levaram a apresentar o conceito de aprendizagem por mapas cognitivos, que são estruturas mentais orientadoras do comportamento a ser manifestado, dependendo do objetivo. É o que atualmente se chama de behaviorismo cognitivo. A relação entre as duas palavras (behaviorismo e cognitivo) sinaliza que, além da importância dada aos estímulos, Tolman coloca a cognição dentro da discussão. Neste caso, a resposta dada a um determinado estímulo dependerá fundamentalmente da intenção do organismo. (MALHEIROS, 2012, p. 14). 032 Hull, contemporâneo de Watson e Tolman, opõe-se a este último discutindo a ideia de aprendizagem por meio de memorização. Para Tolman, a manifestação da aprendizagem se dava pela realização de um comportamento que correspondia a uma experiência passada. Hull defendia que a experiência provoca alterações neuro�siológicas e, portanto, não se trataria simples- mente de um processo de aquisição de memória. É possível a�rmar que nesta nova visão do behaviorismo, os diversos reforços de comportamento são capazes de alterar a própria morfo�siologia daquele que é alvo do experimento. Hull é o autor que mais leva sua concepção de aquisição ou modulação de comportamentos para a educação. Ao se opor à ideia da separação entre corpo e mente, reforça a questão da modulação do comportamento por meio da modulação biológica. (MALHEIROS, 2012, p. 14). Foi com o psicólogo Skinner que o comportamentalismo teve sua expressão denominada comportamentalismo radical (MALHEIROS, 2012). Para este autor, haveria uma separação entre corpo e mente. A mente decide como agir, e o corpo recebe os estímulosexternos. Skinner apresentou o conceito de condicionamento operante. Neste condicionamento, um estímulo é oferecido visando a uma determinada resposta. E essa resposta só existirá se ela gerar um novo estímulo, dentro dos desejos deste respondente. Para Skinner, “o comportamento não surge de um estímulo isolado, mas da expectativa do estímulo futuro.” (MALHEIROS, 2012, p. 15). Tal ideia contraria o comportamentalismo clássico, pois a resposta não é simplesmente uma resposta �siológica a um estímulo, mas nasce de uma expectativa de novo estímulo. Duas ideias são fundamentais para entender esta forma de entender a aprendizagem: reforço e punição. O reforço são os estímulos que produzem a ocorrência e a repetição do comportamento. A punição são estímulos que fazem com que um comportamento seja evitado. Observe a seguir o esquema que representa esse conceito. 033 Fonte: MALHEIROS, 2012, p. 15. O esquema explicita que o reforço leva à repetição da mesma resposta, se o estímulo for o mesmo e a punição suspende a resposta. Esta ideia in�uenciou fortemente a educação, mais especi�camente a escolha de um método de ensino. Aceitando que o comportamento pode ser modelado por meio de estímulos, basta que se ofereçam aos alunos os estímulos corretos para que apresentem comportamentos socialmente desejáveis e punindo comportamentos indesejáveis. Skinner defendia que simplesmente ter contato com o meio não bastava para que houvesse aprendizagem, mas que é necessária uma transmissibilidade organizada. Malheiros (2012, p.16) apresenta o desenvolvimento das ideias comportamentalistas no ensino: Em sala de aula, o comportamentalismo se manifestou principalmente pela criação e utilização das máquinas de ensinar. Estas máquinas apresentavam o conteúdo em uma sequência tal que permitiam que o aluno fosse apresentando as respostas esperadas. Os tipos de aprendizado eram categorizados por Skinner em três grupos: 034 - Comportamento re�exo: como a dilatação das pupilas diante da mudança na intensidade da luz. Neste caso, o sujeito não tem controle do comportamento. - Comportamento operante: são voluntários, como escrever um texto. É controlado pelas consequências dos estímulos. - Comportamento respondente: similar ao comportamento operante, mas controlado pelos estímulos que o precedem, como correr para atender ao chamado de alguém que chama. Mizukami (2014) explica que a abordagem comportamentalista de educação preconiza que o conhecimento está fora do sujeito, é uma descoberta. A ciência, nessa abordagem, é uma forma de descobrir a ordem e a natureza dos eventos, para utilizá-la e controlá-la. Por isso, o aluno é considerado como um “recipiente de informações e re�exões”. (MIZUKAMI, 2014, p. 20). Ensinar é mudar padrões de comportamento através do treinamento, de acordo com objetivos prede�nidos. De acordo com a autora, neste tipo de abordagem: [...]supõe-se e objetiva-se que o professor possa aprender a analisar os elementos especí�cos de seu comportamento, seus padrões de interação, para, dessa forma, ganhar controle sobre eles e modi�ca-los em determinadas direções quando necessário, ou mesmo desenvolver outros padrões. (MIZUKAMI, 2014, p. 21). Para Mizukami (2014), adotar a perspectiva comportamentalista implica em compreender o homem como uma consequência da in�uência do meio ambiente. Assim, a subjetividade do indivíduo é, praticamente, ignorada. O ideal dessa teoria, entretanto, é que o controle da situação ambiental seja transferido para o próprio indivíduo, de modo que ele possua autocontrole, porém, são as forças externas que continuam a exercer, ainda, maior controle. A visão de mundo dos comportamentalistas é a de que este é uma realidade objetiva, construída, pronta. Que cabe ao homem apenas manipulá-lo. O comportamento pode ser modi�cado alterando-se os elementos ambientais. Segundo Mizukami (2014, p. 23): 035 Para que a formulação das relações entre um organismo e seu meio seja adequada, devem-se sempre especi�car três aspectos: a ocasião na qual a resposta ocorreu, a própria resposta e as consequências reforçadoras. As relações entre esses três elementos constituem as contingências de reforço. São essas contingências de reforço que alteram o comportamento. Com relação à sociedade e à cultura, os comportamentalistas acreditam que é preciso que haja uma ciência para o planejamento desta última, isso porque o centro desta teoria, como vimos, admite a alteração por meio do controle das contingências. Assim, por meio do controle dos comportamentos, seria possível uma sociedade sem violência, sem autoridade, sem classes sociais ou propriedades privadas. A teoria do reforço garantiria uma nova forma de viver, encontrando a e�ciência ao máximo. Ora, se o comportamento humano é totalmente determinado pelas forças genéticas e ambientais, não é possível haver mérito individual. Segundo Mizukami (2104) o indivíduo é, então, como uma peça de uma máquina controlada, realizada a função que se espera dele. O comportamentalismo e a educação Você pôde observar, estimado aluno, que o conhecimento, para os comportamentalistas, é o resultado direto da experiência. Vimos que o maior expoente do comportamentalismo, Skinner, não se preocupou em investigar de que modo o conhecimento é construído na mente do indivíduo, mas lidou com o controle do comportamento observável. Assim, o comportamentalismo tem uma base empirista, que vimos na nossa segunda aula. A inteligência, para os comportamentalistas, foi herdada à medida que contingências de reforço que controlaram as respostas fornecidas pelo homem, cujas consequências têm a ver com a sobrevivência da espécie. 036 É por esse motivo que a educação, nesta abordagem, está ligada à transmissão cultural, porque se acredita que é impossível que o homem descubra por si mesmo elementos importantes de sua cultura. A educação, pois, deverá transmitir conhecimentos, assim comportamentos éticos, práticas sociais, habilidades consideradas básicas para a manipulação e controle do mundo/ambiente (cultural, social etc.). (MIZUKAMI, 2014, p. 27). Observe como a educação assume um caráter bastante controlador, pois, nesta teoria, saber signi�ca apreender exatamente o que se quer ensinar. Nada a mais. O sistema educacional, portanto, tem como objetivo promover mudanças individuais desejáveis, adquirindo-se comportamentos e modi�cando os já existentes por meio do reforço (recompensa e punição). O objetivo máximo é que cada indivíduo seja também controlador das contingências de reforço. Quanto maior o controle sobre si, mais responsabilidade, mais liberdade. Por isso, as contingências de reforço devem ser usadas de forma organizada e sistematizada pelo sistema educacional para o treinamento social e�ciente. 037 Para pôr em prática tais conceitos educacionais, a escola, explica Mizukami (2014), é o ambiente que deve adotar formas de controle de acordo com o os comportamentos que se deseja instalar e manter, isto é, aqueles que úteis e desejáveis para a sociedade; por isso é que os comportamentalistas criticam uma escola voltada para o saber clássico, conteudista, mas defende uma escola voltada para as demandas de controle social. O desenvolvimento da individualidade é, portanto, pautado por valores sociais, não subjetivos. Como aconteceriam os processos de ensinar e aprender nesta abordagem? Mizukami (2014) salienta que ensinar é planejar contingências de reforço sobre os quais os estudantes aprendem, e o professor é quem deve assegurar esta aprendizagem. Os comportamentos desejados dos alunos serão instalados e mantidos por condicionantes e reforçadores arbitrários, tais como: elogios, graus, notas, prêmios, reconhecimentos do mestre e dos colegas, prestígio etc., os quais, por sua vez, estão associados a uma outra classe de reforçadores mais remotos e generalizados, tais como: o diploma, as vantagens da futura pro�ssão, a aprovação �nal no curso, a possibilidade de ascensão social, monetária, status, prestígio da pro�ssão etc. (MIZUKAMI,2014, p. 30). A organização das contingências, realizadas pelo professor, vai depender dos comportamentos observáveis: um evento anterior, uma resposta, um reforço e fatores contextuais. O foco da proposta de aprendizagem da abordagem comportamentalista se encontra na organização das experiências curriculares. Essa organização dirigirá os alunos pelos caminhos adequados para que eles cheguem ao comportamento �nal. A aprendizagem, assim, é garantida pela organização. Para os comportamentalistas, como acontece a relação entre professor e aluno? O controle do processo está nas mãos do professor. É ele quem planeja e desenvolve o sistema de ensino-aprendizagem, a �m de maximizar o desempenho do aluno. Ele é um planejador e um analista e deve organizar as contingências de reforço de modo a possibilitar a ocorrência de uma resposta aprendida. Ao aluno, cabe apresentar as respostas esperadas. O ensino é individualizado, pois parte de um diagnóstico para detecção do melhor planejamento para o alcance da resposta esperada. 038 Segundo Mizukami (2014), Skinner propôs uma metodologia de ensino baseada na elaboração de uma tecnologia adequada para isso, com vistas a uma maior e�ciência na aprendizagem. Por isso, as estratégias pensadas são individualizadas. A individualização do ensino surge, na abordagem comportamentalista, como decorrente de uma coerência teórico-metodológica. Tal individualização implica: especi�cação de objetivos; envolvimento do aluno; controle de contingências; feedback constante que forneça elementos que especi�quem o domínio de uma determinada habilidade; apresentação do material em pequenos passos; e respeito ao ritmo individual de cada aluno. (MIZUKAMI, 2014, p. 33). O comportamentalismo se preocupa com que o maior número possível de alunos atinja níveis altos de e�ciência. Para isso, uma das estratégias principais utilizadas é o módulo instrucional como material de ensino (Mizukami, 2014). Para os comportamentalistas, é fundamental que o aluno tenha conhecimento preciso do que dele se espera e dos resultados que ele atingiu no processo. O ensino com base na competência é caracterizado por: especi�cação dos objetivos em termos comportamentais; especi�cação dos meios para determinar se o desempenho está de acordo com os níveis indicados de critérios; fornecimento de uma ou mais formas de ensino pertinentes aos objetivos; conhecimento público dos objetivos, critérios, formas de atingi-las e atividades alternativas. A experiência de aprendizagem, pois, é considerada em termos de competência. (MIZUKAMI, 2014, p. 33). Neste formato, o módulo de ensino pode ser utilizado para a aquisição de um ou vários objetivos de ensino. Os comportamentalistas, como se vê, não se preocupam em estudar por que o aluno aprende, mas em fornecer uma tecnologia que produza mudanças no comportamento e fazer o aluno estudar. Como visto, a programação é o fundamento do ensino comportamentalista. A matéria deve ser dividida em pequenos passos, de modo que o professor consiga reforçar todas as respostas e comportamentos operantes emitidos pelo aluno. 039 Podemos concluir que uma educação baseada no comportamentalismo objetiva a autonomia do aluno, ao dominar os objetivos de ensino, mas em nome de algo que é exterior a ele, planejado por seu professor, garantindo objetivos importantes para o social. Vimos uma educação pautada na programação, em que o aluno é ativo, mas não para objetivos subjetivos. E uma educação diretivista. Não cooperação entre os alunos. A educação é pensada para cada indivíduo. A metodologia e os princípios utilizados nessa abordagem derivam da análise experimental do comportamento. A aplicação desse tipo de análise ao ensino, produziu, até o momento, grande quantidade de pesquisa básica e aplicada, o que, a partir dos anos 1950, aproximadamente, permitiu a elaboração de uma tecnologia de ensino, que, por sua vez, tem fornecido dados para a própria análise comportamental. (MIZUKAMI, 2014, p. 36). 05 Foco no ensino - O cognitivismo 040 Esta aula traz para você os fundamentos do cognitivismo e suas propostas para a educação. O cognitivismo, de acordo com Malheiros (2012), passou a ser estruturado pela psicologia também no século XIX e tem em Wundt seu primeiro expoente. Os trabalhos desse autor investigavam as atividades que estruturam a mente e a consciência. Esta abordagem entende que há algo dentro da mente do sujeito que é responsável pela relação entre as pessoas, e das pessoas para com o meio. Ao contrário da abordagem da aula anterior, o cognitivismo busca conhecer o mundo interno do sujeito, já que compreende que a aprendizagem é um processo interior. Portanto, compreende o processo de aprendizagem como algo individual e orgânico, que pode ser estimulado por fatores externos, mas que não pode ser controlado. O maior objetivo dos pesquisadores cognitivistas é compreender a estrutura da mente humana. No campo da educação, este entendimento serviria de base para a estruturação de métodos de ensino mais ecientes, ̀ ante a esta nova compreensão da aprendizagem. (MALHEIROS, 2012, p. 17). Segundo Malheiros (2012), foi o biólogo Jean Piaget (1896-1980), considerado por muitos o nome mais importante da educação do século XX, quem deu a maior contribuição a essa teoria. Ele dedicou sua vida a compreender as estruturas mentais envolvidas na construção do conhecimento. Ele não desenvolveu, entretanto, um método de ensino. Ele aponta para a compreensão do fenômeno cognitivo, mas não indica métodos a serem seguidos. A epistemologia genética, a partir dos trabalhos de Piaget, tornou-se um campo de investigação que passou a ocupar espaço privilegiado nas teorias de educação. Neste campo, percebeu-se que não se pode fazer uma pessoa aprender um conteúdo para o qual ela não está preparada. Tal compreensão serve de subsídio à estruturação de currículos educacionais até os dias de hoje, dando prevalência à aprendizagem cumulativa, que organiza os conteúdos partindo dos mais simples para os mais complexos. Além disso, notou-se que o interesse pelo conteúdo a ser estudado inuenciaria ̀ na construção do conhecimento. (MALHEIROS, 2012, p. 17). 041 Perceba, caro(a) aluno(a), que a ideia de aprendizagem cumulativa, do mais simples ao mais complexo, interfere completamente na organização dos currículos, legitimando a proposta de ensino seriado, de modo que Piaget ganhou importância ímpar na área educacional. A expressão epistemologia genética não tem a ver com “gene”, “gen”, mas com a “gênese” do conhecimento, ou seja, o conjunto de saberes teóricos acerca de como o conhecimento nasce, como ele é internamente construído. Piaget destacou-se por propor que há uma relação intrínseca entre afetividade e cognição, e que uma não acontece sem a outra; mas sua maior contribuição foi ter comprovado que a aprendizagem é construída pelo aluno, e jamais transferida de fora para dentro por outra pessoa: um professor ou alguém mais experiente que o sujeito. Esta constatação se opõe completamente ao comportamentalismo e inaugura a corrente construtivista de ensino. Nela o professor não é um controlador do processo, mas um estimulador da construção do saber, a partir da criação de situações que motivem o aluno a buscar respostas. Piaget descobriu, por meio de suas investigações, segundo Malheiros (2012), que a construção do conhecimento se dá por meio de dois processos: a assimilação e a acomodação, que acontecem simultaneamente e de forma inter-relacionada em nossa cognição. Assimilação: o aprendiz identi�ca novos conceitos e busca, por meio de seus conhecimentos anteriores, enquadrá-los em uma lógica, dar sentido a eles. Acomodação: o novo conhecimento é acomodado quando se adéqua às estruturas atuais, modi�cando-as, criando ainda novos esquemas. Equilibração: o novo conhecimento busca sua acomodação na cognição do sujeito, fortalecendo as estruturas cognitivas. 042 Para que você compreenda melhor todos esses processos que acontecem quando aprendemos um novo conhecimento, presteatenção ao exemplo dado por Malheiros (2012). Tente pensar em uma criança que está aprendendo a nomear os animais. Ela conhece, até este momento, o cachorro. Quando se depara com um cavalo ela exclama: “Nossa! Que cachorro enorme!”. Isto porque ela possui estruturas cognitivas que fazem com interprete o cavalo como um cachorro grande, já que ele também anda sobre quatro patas, é marrom, tem rabo, focinho, etc. Este é um exemplo do processo de assimilação; a criança acessou conhecimentos prévios para tentar dar sentido ao novo conhecimento identi�cado. 043 Imagine agora que um adulto intervenha nessa situação e diga: “Aquilo não é um cachorro, é um cavalo: é de outra espécie.” Então, a criança percebe que existem algumas características que diferenciam os animais, criando uma nova estrutura cognitiva, já que nenhuma estrutura consolidada identi�cou o cavalo. Assim acontece o processo de acomodação, no confronto do conhecido com o novo. Nesse exemplo, os dois processos, assimilação e acomodação visam ao processo de equilibração das estruturas cognitivas, que é a aprendizagem do conhecimento novo. Observe o esquema que exempli�ca esses processos. 044 Fonte: (MALHEIROS, 2012, p. 19). Piaget, ao explanar os processos de assimilação e acomodação do conhecimento, prioriza as estruturas cognitivas em detrimento da aquisição de novos conteúdos, explica Malheiros (2012). Desloca-se a ênfase dada à inteligência como demonstração de retenção de conteúdos para a capacidade de alterar estruturas mentais. Inteligência é, portanto, não o domínio de um conteúdo, como sustentava as formas tradicionais de ensino. Observe, então, como isso revoluciona as formas de se pensar o ensino. Ensinar não é transmitir conhecimentos, mas promover situações desequilibradoras da cognição para que novas estruturas sejam formadas. Por isso, o ensino centrado na fala do professor se desloca para a ênfase no aluno, porque é nele que o conhecimento é construído, daí o nome construtivismo. 045 Assim como você encontrará atitudes comportamentalistas nas instituições de ensino que você conhecerá em seus estágios, você também encontrará muitas escolas dizendo-se construtivistas, e algumas ações pedagógicas nesse sentido também (muito mais falas e escritos teóricos do que ações, é verdade, porque a utilização da metodologia construtivista implica na mudança total da estrutura da escola que temos hoje, no geral). Outra enorme contribuição de Piaget para a educação diz respeito às fases de desenvolvimento da criança, organizadas por ele, e que ajudariam as escolas a organizarem seus currículos de modo a considerar conteúdos para os quais as crianças estejam cognitivamente preparas para aprenderem. Veja: Fonte: MALHEIROS, 2012, p. 20. Período Idade 1 Sensório-motor 0-2 anos 2 Pré-operacional 2-7 anos 3 Operacional concreto 7-11 anos 4 Operacional formal 11-15 anos 046 Vamos compreender um pouco dos estágios de desenvolvimento propostos por Piaget, de acordo com Malheiros (2012, p. 20). No período sensório-motor, que abrange os meses iniciais da vida da criança, acontece a aprendizagem sensorial. Esta fase é responsável pela base de conhecimentos e habilidades que serão demandadas para futuras assimilações. Desta forma, a criança constrói o conhecimento no uso dos reexos, ̀ coordenações e combinações mentais. No período pré-operacional, a criança já́ consegue se perceber separada do mundo ligando-se ao concreto. Torna-se, portanto, capaz de compreender uma situação completa, mas ainda não consegue perceber por um ponto de vista que não seja o seu próprio. Esta fase é caracterizada pela sensação de integralidade vivida pela criança, ou seja, acontecimentos deixam de ser fatos isolados. O período operacional concreto é marcado pelo pensamento reversível e pelo entendimento de que as ações da criança repercutem no meio no qual estão inseridas. Todavia, conforme o nome atribuído ao período, a criança ainda não é capaz de desenvolver situações em sua mente. E o último período apresentado por Piaget é o período operacional formal. Esta fase é caracterizada pela capacidade de o pensamento reter o conhecimento e, em seguida, desenvolver situações exclusivamente no âmbito mental. É importante frisar que essa classi�cação ligando a idade da criança ao potencial de aprendizagem não é algo estanque nem rígido, são parâmetros variáveis. De posse desses conhecimentos, o professor pode pensar no método de ensino adequado para a faixa etária de seus alunos e seu estágio de desenvolvimento. Ao perceber, por exemplo, que aos oito anos de idade, a criança não é capaz de abstrair uma situação, o método deveria valorizar o concreto. Um exemplo seria o ensino das operações básicas na matemática. Os números são uma abstração que representa uma quantidade concreta. Se a criança não é capaz de abstrair, o entendimento de uma operação será extremamente complicado, o que pode ser contornado pela utilização de elementos reais em sala de aula. Em vez de questionar qual o resultado da operação 2+2, seria adequado questionar: se tenho duas laranjas e comprei mais duas, 047 com quantas laranjas quei? ̀ Melhor ainda se for possível utilizar as laranjas para o ensino. (MALHEIROS, 2012, p. 20 - 21). A abordagem construtivista pede métodos de ensino que proporcionem desequilíbrio cognitivo: situações-problema reais a serem desenvolvidos, alunos em grupos heterogêneos com relação ao desenvolvimento cognitivo, atividades práticas que partam do que as crianças já sabem. O construtivismo recebeu críticas de alguns estudiosos da educação no sentido de que Piaget focou demasiadamente seus estudos nos processos internos da aprendizagem, sem debruçar-se tanto sobre a importância das interações sociais na construção do conhecimento. Veremos, na próxima aula, uma teoria pedagógica denominada socioconstrutivismo que impõe maior peso às relações nos processos cognitivos. Fonte: Disponível aqui Assista ao vídeo do professor Yves de La Taille, professor da USP, um dos expoentes dos estudos piagetianos no Brasil, sobre a teoria construtivista do Piaget para a série “Grandes Educadores”. 048 https://www.youtube.com/watch?v=2OzhE4pX_ng 06 Foco no ensino - O socioconstrutivismo (ou sociointeracionismo) 049 A corrente socioconstrutivista ou sociointeracionista é, juntamente com a construtivista, a mais importante e inovadora teoria educacional surgida no século XX. O expoente desta teoria é o russo Lev Vygotsky (1896-1934). Apesar de ter vivido apenas 38 anos, seu legado teórico in�uenciou e in�uencia muitos países na construção de seus sistemas educacionais. Do mesmo modo que Piaget, Vygotsky não desenvolveu nenhum método de ensino. Seu pensamento é fundamentado, segundo Malheiros (2012) na ideia de que a aprendizagem está intimamente ligada às interações sociais realizadas pelo indivíduo, que interferem mais do que questões biológicas na hora de aprender. Você já deve ter ouvido falar nas irmãs indianas Amala e Kamala, conhecidas como meninas-lobo. Tais meninas se comportavam como os animais que viviam e ilustram a forma de Vygotsky compreender a importância das interações sociais para a aprendizagem. Fonte: MALHEIROS, 2012, p. 21. Amala e Kamala �caram conhecidas como as meninas-lobo. Eram duas meminas que viviam em estado selvagem e foram encontradas na Índia em 1920. Quando foram encontradas, Amala tinha um ano e meio de idade e Kamala tinha oito anos. Ambas cresceram junto a uma matilha de lobos e por isso comportaam-se como estes animais. Andavam em quatro apoios, não falavam, não sorriam, uivavam para a lua, etc. Depois de resgatadas, foram levadas para um orfanato, no qual se iniciaria o processo de socialização. Amala morreu alguns meses depois, pela difícil adaptação. Kamala ainda viveu mais sete anos: levou seis anos para aprender a andar e, ao morrer, com quinze anos de idade, tinha um vocabulário de menos de cinquenta palavras. 050 Fonte: MALHEIROS, 2012, p. 22. Para Vygotsky, a formação da pessoa acontece apenasna relação com o outro. Ele rechaçava as teorias que apregoavam que o homem nasce com o conhecimento potencial (inatismo) e as empiristas-comportamentalistas, que acreditam que os estímulos adequados podem in�uenciar o desenvolvimento do sujeito, como vimos em aulas anteriores. De acordo com Malheiros (2014), Vygotsky dividiu o processo de aprendizagem em dois: os elementares e os complexos. Os processos elementares correspondem às atitudes inerentes à raça humana e, sobre os quais, não se tem controle por estímulo (respirar, por exemplo). Os complexos são fruto do processo de aprendizagem aliada ao desenvolvimento. Ler, fazer contas, dirigir, dentre outras atividades, são processos complexos. (MALHEIROS, 2012, p. 22). Além dos elementos mediadores entre o sujeito e o mundo, Vygotsky também propõe, segundo Malheiros (2012), que o próprio sujeito é um mediador entre o estímulo recebido e a resposta que é dada. Na perspectiva comportamentalista, como vimos, o estímulo gera uma resposta. Já para o socioconstrutivismo, esta relação não é mais linear, ou seja, é triangular. Para Vygotsky, entre o estímulo e a resposta está o sujeito. Observe a imagem: 051 Zona de atividade proximal. Para Vygotsky, a relação de uma pessoa com o mundo sempre acontece por meio de uma ferramenta ou de um símbolo. A linguagem, por exemplo, é uma estrutura simbólica de mediação. (MALHEIROS, 2012, p. 22). Vygotsky, então, preconiza que o homem se relaciona com o mundo não diretamente, mas de forma intermediária, por meio de signos e instrumentos. O papel da escola, então, de acordo com Malheiros (2012), seria estimular interações entre as pessoas e destas com um ambiente que proporcione o desenvolvimento intelectual. A escola deve ser a instituição capacitada para que esse desenvolvimento ocorra. Observe, por meio deste esquema, como acontecem os processos cognitivos da aprendizagem acontecem. Este esquema demonstra a suprema importância da mediação educacional para a aprendizagem, em Vygotsky. O papel da cultura e dos símbolos é central na teoria socioconstrutivista. Na escola, as crianças com habilidades ainda parciais vão desenvolvê-las com a ajuda de um parceiro mais habilitado (professores), até que tais habilidades passem de parciais para totais. 052 Vygotsky valoriza a linguagem como instrumento de comunicação e aprendizagem, já que é por meio dela que há interação. A linguagem é, antes de tudo, social. Portanto, sua função inicial é a comunicação, expressão e compreensão. Essa função comunicativa está estreitamente combinada com o pensamento. A comunicação é uma espécie de função básica porque permite a interação social e, ao mesmo tempo, organiza o pensamento. Para Vygotsky, a aquisição da linguagem passa por três fases: a linguagem social, que seria esta que tem por função denominar e comunicar, e seria a primeira linguagem que surge. Depois teríamos a linguagem egocêntrica e a linguagem interior, intimamente ligada ao pensamento. (RABELLO; PASSOS, 2013, p. 8). Vygotsky e Piaget foram contemporâneos, mas não estabeleceram diálogo entre suas teorias. Há, no espaço acadêmico, muitas tentativas de con�uência e contraponto entre os dois. Ambos, entretanto, estavam preocupados com a aprendizagem, sendo que Piaget preocupou-se mais com elementos internos e Vygotsky preocupou-se mais com as formas de mediação intencionais que devem acontecer para que o aluno passe daquilo que ela ainda não sabe para o que ele pode vir a fazer. Para J. Piaget, dentro da re�exão construtivista sobre desenvolvimento e aprendizagem, tais conceitos se inter-relacionam, sendo a aprendizagem a alavanca do desenvolvimento. A perspectiva piagetiana é considerada maturacionista, no sentido de que ela preza o desenvolvimento das funções biológicas – que é o desenvolvimento - como base para os avanços na aprendizagem. Já na chamada perspectiva sociointeracionista, sociocultural ou socio-histórica, abordada por L. Vygotsky, a relação entre o desenvolvimento e a aprendizagem está atrelada ao fato de o ser humano viver em meio social, sendo este a alavanca para estes dois processos. Isso quer dizer que os processos caminham juntos, ainda que não em paralelo. (RABELLO; PASSOS, 2013, p. 4). A ideia de que toda criança pode aprender, desde que a atuação na Zona de Desenvolvimento Proximal aconteça de forma intencional pelo professor, traz para a educação um caráter democrático, igualitário, não segregador. 053 Fonte: Disponível aqui Assista ao vídeo da professora Marta Kohl de Oliveira, professora da USP, um dos expoentes dos estudos vygotskyanos no Brasil, sobre a teoria interacionista do Vygotsky para a série “Grandes Educadores”. Você pode estar pensando como as concepções do modo de aprender e as correntes pedagógicas estudadas até aqui in�uenciaram no pensamento e na prática pedagógicos brasileiros. Na próxima aula, conversaremos sobre isso. 054 https://www.youtube.com/watch?v=T1sDZNSTuyE 07 O Ensino e a Aprendizagem no Brasil: tendências pedagógicas liberais 055 O que são Tendências Pedagógicas? É sempre bom enfatizar: a prática escolar sofre inuências ̀ sociais e políticas que reetem ̀ nas diversas concepções de homem e de sociedade, gerando diferentes ideias sobre o papel da escola e do aluno, da aprendizagem, das relações e dos métodos. Você já deve ter ouvido alguém dizer: “Este professor é muito tradicional, não permite que ninguém fale na aula dele”. Grande parte dos professores em sua prática adotam técnicas pedagógicas das próprias vivências como aluno ou se espelham em colegas de pro�ssão, com mais experiência. Sabe o que isso signi�ca? Que nas práticas cotidianas na sala de aula, eles seguem pressupostos teóricos/metodológicos implícitos. Há também os que entendem sua prática de modo mais amplo, e ainda outros que aderem às tendências da “moda”, pouco se importando se possuem ou não relação com as suas crenças (LIBÂNEO, 1998). Agora, estudaremos essas abordagens pedagógicas que aconteceram ou acontecem na atualidade nas escolas brasileiras, pela prática dos professores. Vale ressaltar que alguns autores usam o termo abordagens pedagógicas, ao passo que outros preferem chamar de tendências pedagógicas. É importante saber que ambos estão corretos e usaremos os dois nesta unidade. Fonte: Disponível aqui Você pode ampliar os seus conhecimentos sobre as tendências pedagógicas, assistindo ao vídeo “Tendências Pedagógicas”. De maneira resumida e complementar, os esquemas apresentados podem ajudá-lo na compreensão dos conceitos. 056 https://www.youtube.com/watch?v=HLZtZILFAps&feature=youtu.be Essa temática pode parecer complexa, mas para que você compreenda melhor vamos nos referir: 1. à posição que as tendências pedagógicas adotam em relação às circunstâncias sociopolíticas da escola; 2. a como a Didática é entendida em cada tendência. Muitas pesquisas são realizadas para identi�car as formas de perceber como o ensino e a aprendizagem acontecem. Malheiros (2012, p. 23) esclarece que: “Nas duas últimas décadas, várias teorias foram formuladas para esclarecer a história dos métodos de ensino no Brasil. A classi�cação de Libâneo (1998) ainda parece ser a mais adotada.” Observe. Fonte: MALHEIROS, 2012, p.23 Classi�cação da corrente Modelo pedagógico Não crítica (liberal) Ensino tradicional Pedagogia renovada Ensino tecnicista Dialética (progressista) Pedagogia histórico-crítica Pedagogia libertadora De acordo com Malheiros (2012, p. 23, grifo nosso): As correntes não críticas são de�nidas como aquelas que utilizam o processo educativo visando à perpetuação do modelo social vigente. Nesta compreensão, a diferenciação entre os modelos pedagógicos é dada pelo método escolhido, não pelo �m do ato educativo. Já́ as correntes dialéticas são caracterizadas pelo foco em levar o educando a construir um conhecimento que o torne passível de mudar a realidade na qual está inserido. Vamos explorar a princípio a Tendência Pedagógica Liberal. 057 As Tendências Pedagógicas Liberais O foco das TendênciasPedagógicas Liberais ou Pedagogia Liberal é que a escola deve preparar os indivíduos para desempenhar papéis sociais, seguindo as aptidões individuais; o importante é que os sujeitos se adaptem aos valores e às normas da sociedade de classes; assim, camua ̀ as diferenças de classes e desconsidera a desigualdade de condições existentes. Libâneo (1998, p. 6) enfatiza que “historicamente, a educação liberal iniciou-se com a pedagogia tradicional e, por razões de recomposição da hegemonia da burguesia, evoluiu para a pedagogia renovada”, mas não houve substituição de uma pela outra e ambas são ainda vistas na prática escolar. Temos quatro tendências da Pedagogia Liberal. Tendência Pedagógica Liberal Tradicional A primeira delas é a tendência tradicional, segundo a qual depende do esforço do próprio aluno o alcance de sua plena realização como pessoa. Assim, aqueles com menos potencial para as atividades escolares precisam se dedicar para superar suas di�culdades e alcançar os “mais capazes”. A escola disciplina os alunos “[...] de acordo com os padrões éticos e religiosos, incentivando a virtude” (CANDAU, 2010, p. 140). Como a Didática é concebida nessa abordagem? Segundo Libâneo (2013), ela re�ete o conjunto de regras e princípios que regem o ensino e é centrada no professor, que explica a matéria – na maioria das vezes usando a exposição oral como único recurso. Assim, o aluno é passivo, ao fazer exercícios repetitivos e ouvir a explicação do professor consegue “gravar” o que lhe é ensinado para depois reproduzir nas provas. O papel do aluno é memorizar o conteúdo ensinado, desvinculado de sua realidade; assim, a aprendizagem é receptiva e não estimula a sua capacidade mental. Libâneo (2013, p. 66) completa essa ideia ao a�rmar que: A Didática tradicional tem resistido ao tempo, continua prevalecendo na prática escolar. É comum nas nossas escolas atribuir-se ao ensino a tarefa de mera transmissão de conhecimentos, sobrecarregar o aluno de conhecimentos que são decorados sem questionamento, dar somente exercícios repetitivos, impor externamente a disciplina e usar castigos 058 Tendência Pedagógica Liberal Renovada Outra tendência da Pedagogia Liberal é a tendência renovada, que também valoriza o sentido da cultura para desenvolver as aptidões individuais, porém vê a educação como um processo interno que parte dos interesses individuais para a adaptação ao meio. A escola renovada valoriza o aluno como sujeito do conhecimento. É importante saber que essa tendência inclui outras correntes: a tendência renovada progressivista (ou pragmática) e a tendência renovada não diretiva. A tendência renovada progressivista, difundida pelo movimento escolanovista, desenvolveu-se nos Estados Unidos e teve como principal representante John Dewey. No Brasil, as ideias desse educador foram marcantes na liderança de Anísio Teixeira e outros educadores com o Movimento dos Pioneiros da Escola Nova, com atuação importante na formulação da política educacional. A Didática da Escola Nova valoriza o aluno como sujeito da aprendizagem, identi�cando como papel do professor o de oferecer situações que partam da necessidade e do interesse do aluno, para que assim ele possa por si mesmo buscar conhecimentos. Você já percebeu que o centro das práticas educativas não é o professor nem o conteúdo, e sim o aluno, concebido como um ser ativo. De acordo com Haydt (2011, p. 25), a Escola Nova pretendia ser um movimento de renovação pedagógico/didática que tentou aplicar na prática educativa e também “[...] na organização escolar e nos procedimentos de ensino, as conclusões dos estudos das ciências do comportamento. Mas ela não era apenas isso, pois trazia em seu interior uma visão de homem e de mundo, isto é, uma concepção �losó�ca”. Como o professor alia as situações de aprendizagem às necessidades individuais dos alunos, a Didática, nessa tendência, valoriza os métodos e técnicas que possibilitem atividades em grupo, pesquisa e experiências. Desse modo, Libâneo (2013, p. 67) reforça que “os adeptos da escola nova costumam dizer que o professor não ensina; antes, ajuda o aluno a aprender”. 059 Fonte: Disponível aqui Assista ao documentário sobre um dos defensores da Escola Nova, Anísio Teixeira, que pode ampliar sua visão sobre a tendência renovada progressivista. A tendência renovada não diretiva é “orientada para os objetivos de autorrealização (desenvolvimento pessoal) e para as relações interpessoais, na formulação do psicólogo norte-americano Carl Rogers” (LIBÂNEO, 1998, p. 22). Desse modo, valoriza as relações e a comunicação, em detrimento da transmissão de conteúdos. Nessa tendência, o aluno é o centro, que formará a sua personalidade e aperfeiçoará as características que fazem parte da sua natureza, ao passo que o professor colabora para as relações humanas e busca não interferir, como forma de aceitar o aluno na sua plenitude. Vamos agora conhecer a última tendência liberal? A tendência tecnicista visa à preparação de mão de obra para a indústria. No Brasil, na década de 1950, ganhando mais autonomia nos anos de 1960, foi imposta pelos órgãos o�ciais pelos interesses econômicos, políticos e ideológicos do regime militar (LIBÂNEO, 2013). Para melhor compreendê-la, partimos da ideia de que a indústria estabelece (cienti�camente) metas econômicas, sociais e políticas; por isso, cabe à educação treinar (cienti�camente também) nos alunos os comportamentos para atender a essas metas. Assim, acredita-se que a realidade oferece as próprias leis, e cabe aos indivíduos descobri-las e aplicá-las. Neste contexto, a realidade não faz mais diferença, o que mais importa é a forma (as técnicas) para a descoberta e aplicação. Portanto, a educação deve favorecer a promoção do desenvolvimento econômico, e isso pode acontecer tanto pela quali�cação da mão de obra e pelas questões de renda quanto pelo aumento de produção. O importante é “planejar a educação e o ensino de maneira a evitar as 060 https://www.youtube.com/watch?v=ls-FoXhfM_Y Tendência Renovada TRADICIONAL PROGRESSIVISTA NÃO DIRETIVA TECNICISTA Aluno educado para atingir plena realização pelo esforço próprio Os conteúdos, práticas educativas e relação professor/aluno não se aproximam da realidade dos alunos Valorização da palavra do professor e das regras impostas Há o cultivo do aspecto intelectual, pautado na repetição e memorização Difundida pelos pioneiros da Escola Nova Usa situações da necessidade e do interesse do aluno para que assim ele possa por si mesmo buscar conhecimentos Prepara o aluno para exercer o seu papel na sociedade Segue a ideia de “aprender fazendo”, e o aluno passa a ser o centro do processo ensino e aprendizagem Valoriza o desenvolvimento pessoal e as relações interpessoais A escola deve formar atitudes; a preocupação é com as questões psicológicas Menor importância com os aspectos pedagógicos e sociais O professor deve ajudar o aluno a se organizar, sensibilizando-o para que os sentimentos possam a�orar Importância voltada à preparação de mão de obra para a indústria As técnicas de descoberta e aplicação são mais importantes que o conteúdo da realidade A educação deve contribuir para o desenvolvimento econômico Os conteúdos são sistematizados nos manuais, livros didáticos e outros dispositivos interferências subjetivas que possam pôr em risco sua e�ciência. Deve-se operacionalizar os objetivos e, em certos aspectos, mecanizar o processo” (PILETTI, 2010, p. 28). No tecnicismo o papel da Didática está relacionado à tecnologia educacional, com a preocupação na e�cácia e na e�ciência do processo de ensino; ou seja, o foco é a racionalização do ensino, por isso a separação entre teoria e prática �ca mais evidente. O professor é concebido como um executor do planejamento. Para que você compreenda melhor as principais características de cada tendência da Pedagogia liberal, apontadas por Libâneo (1998), veri�que o quadro a seguir: Tendências da Pedagogia Liberal. Fonte: Libâneo (1998). 061 Em nossa próxima aula,
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