Buscar

LIVRO DIDATICA UNIMAR M1 INTRODUÇÃO

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 141 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 141 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 141 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

DIDÁTICA
Profª Me. MARIANA SPADOTO DE BARROS
Reitor
Márcio Mesquita Serva
Vice-reitora
Profª. Regina Lúcia Ottaiano Losasso Serva
Pró-Reitor Acadêmico
Prof. José Roberto Marques de Castro
Pró-reitora de Pesquisa, Pós-graduação e Ação Comunitária
Profª. Drª. Fernanda Mesquita Serva
Pró-reitor Administrativo
Marco Antonio Teixeira
Direção do Núcleo de Educação a Distância
Paulo Pardo
Coordenadora Pedagógica do Curso
Fabiana Aparecida Arf
Designer Educacional
Juliana Spadoto
Edição de Arte, Diagramação, Design Gráfico
B42 Design
*Todos os gráficos, tabelas e esquemas são creditados à autoria, salvo quando indicada a referência. Informamos 
que é de inteira responsabilidade da autoria a emissão de conceitos.
Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem autorização. A 
violação dos direitos autorais é crime estabelecido pela Lei n.º 9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal.
Universidade de Marília 
Avenida Hygino Muzzy Filho, 1001 
CEP 17.525–902- Marília-SP
Imagens, ícones e capa: ©envato, ©pexels, ©pixabay, ©Twenty20 e ©wikimedia
B277d Barros, Mariana Spadoto de
 Didática [livro eletrônico] / Mariana Spadoto de Barros. 
Fabiana Aparecida Arf (coord.) - Marília: Unimar, 2019.
 PDF : il. color.
ISBN 978-85-86860-31-7
 1. Aprendizagem 2. Didática 3. Ensino 4. Ensino e 
Aprendizagem – Brasil 5. Planejamento Educacional 
6. Processo Didático – Avaliação I. Título.
CDD – 371.3
005 Aula 1: O conceito de Didática e seu uso
013 Aula 2: Introdução à História Geral da Didática
021 Aula 3: Foco na aprendizagem: inatismo, empirismo e 
associacionismo
029 Aula 4: Foco no ensino - O comportamentalismo
040 Aula 5: Foco no ensino - O cognitivismo
049 Aula 6: Foco no ensino - O socioconstrutivismo (ou 
sociointeracionismo)
055 Aula 7: O Ensino e a Aprendizagem no Brasil: tendências 
pedagógicas liberais
063 Aula 8: O Ensino e a Aprendizagem no Brasil:as tendências 
pedagógicas progressistas
069 Aula 9: As formas de ensinar: métodos de ensino
078 Aula 10: A Relação Pedagógica
087 Aula 11: A dimensão pessoal em questão: a relação 
Professor - Aluno
093 Aula 12: O planejamento educacional
100 Aula 13: O plano de ensino
111 Aula 14: O plano de aula
118 Aula 15: A sequência didática
124 Aula 16: A importância da avaliação no processo didático
002
Introdução
Estimado(a) aluno(a),
Você iniciará seus estudos em Didática, uma disciplina que trata das maté-
rias-primas do ofício do professor: o ensino e a aprendizagem.
Como se aprende? Qual a melhor forma de ensinar? Como organizar as au-
las? Quais são as finalidades do ensino de determinados conteúdos? Como 
estabelecer uma boa relação com meus alunos? Tenho clareza quanto aos 
objetivos do ensino de conteúdos escolares? Todas essas questões serão 
exploradas neste material. Mas não se engane: não há respostas prontas. 
Certas dúvidas perseguirão o professor por toda a sua vida profissional, já 
que as respostas variam de acordo com o contexto histórico, social e político 
em que o processo educativo e o próprio professor estão inseridos. O que a 
disciplina Didática fará é fornecer elementos para que você pense sua práti-
ca pedagógica de maneira a assumir sua responsabilidade técnico-político, 
inerente à carreira profissional. 
A palavra didática vem do grego didasko que significa instruir, ensinar. Foi, 
porém, o educador checo Comenius (1592 – 1670), no século XVII, quem 
atribui à didática, por meio de sua obra Didática Magna, o sentido “a arte 
de ensinar”. Você também deve ter ouvido a palavra didática como adjetivo 
para algo relacionado à educação: livro didático, material didático. Ou como 
substantivo e sinônimo de técnica de ensino: “Esta professora tem didática! 
Sabe ensinar!”.
Tais sentidos para o conceito de didática cabem nele. Em nosso curso, con-
tudo, os aprofundaremos, pois nos debruçaremos sobre a Didática como 
disciplina responsável por orientar o professor acerca de tudo que envolve 
o processo de ensino, tais como seus objetivos, conteúdos e métodos.
O curso tratará do conceito de Didática, de sua história geral. Em seguida, 
você estudará as principais concepções sobre a forma de aprender, as pro-
postas de ensino e tendências pedagógicas que podem embasar o processo 
pedagógico do professor.
Trataremos também de alguns métodos de ensino, da relação pedagógica 
e, especificamente, da relação professor-aluno.
003
Adentrando a etapa final do curso, discutiremos sobre a importância a as instâncias do 
planejamento educacional. E, finalizando o curso, discutiremos o processo avaliativo 
escolar e suas dimensões.
É muito importante que você faça a leitura do material e acompanhe as videoaulas, pois 
são complementares. O material também conterá sugestões que podem ampliar sua 
visão sobre os assuntos trabalhados, o que ajudará na efetivação da aprendizagem.
Vamos juntos desbravar alguns caminhos destes fenômenos incríveis da ação humana: 
ensinar e aprender!
Professora Mariana Spadoto de Barros
004
01
O conceito de
Didática e seu uso
005
006
O que é educação?
Quando falamos de educação, certamente estamos citando um termo amplo que
engloba muitas dimensões humanas, individuais e sociais. Abordaremos aqui o conceito
de educação - o objeto de conhecimento da Pedagogia.
De�nir o que é educação é algo complexo, já que o fenômeno educativo – educar e ser
educado – é multidimensional. Pense comigo: os pro�ssionais que, de alguma forma,
estão ligados ao campo educacional, como, por exemplo, psicólogos, sociólogos,
antropólogos ou pro�ssionais da saúde, se perguntados sobre sua de�nição de
educação, dariam respostas relacionadas a sua área de atuação. Um psicólogo,
provavelmente, diria algo relacionado à aprendizagem dos comportamentos, das
emoções ou mesmo do desenvolvimento dos processos cognitivos.
Da mesma forma, se perguntarmos a uma pessoa que não é do campo educacional, “O
que é educação?” ou “O que é educar?”, sua resposta basear-se-á em concepções do
senso comum, como, por exemplo, ensinar ou aprender sobre boas maneiras, aprender
ou ensinar coisas, dizer ou ouvir de alguém o que se deve ou não fazer.  
Fonte: Disponível aqui
De acordo com o dicionário online Michaelis: Senso comum, FILOS: conjunto
de ideias, opiniões e pontos de vista de um grande número de pessoas em um
determinado contexto social que se estabelecem e impõem como naturais e
necessárias, não admitindo grandes questionamentos nem re�exões;
consenso.
https://michaelis.uol.com.br/busca?r=0&f=0&t=0&palavra=senso
007
O conceito de educação na contemporaneidade assume uma identidade muito
abrangente, vistos os inúmeros processos nos quais o sujeito está inserido: campos
social, cultural, econômico, político, religioso e cientí�co, além das questões psicológicas.
Portanto, de acordo com Libâneo (2010, p. 30), “Educação é o conjunto das ações,
processos, in�uências, estruturas que intervêm no desenvolvimento humano de
indivíduos e grupos na sua relação ativa com o meio natural e social, num determinado
contexto de relações entre grupos sociais”.
Apoiados em Libâneo (2010), então, compreendemos que tudo aquilo que interfere no
desenvolvimento integral do ser humano ou de um grupo, que o modi�ca, é
educação. A partir dessa compreensão, qualquer fator, seja natural ou social, que
transforma o sujeito, é educação. Assim, podemos a�rmar que existem situações
intencionais de educação, ou seja, em que se há sistematização e planejamento a �m
de educar, e situações não-intencionais de educação, em que a educação acontece de
forma intuitiva, não-planejada. Como a educação se dá em diversos campos da vida,
Libâneo (2010) classi�ca tais situações em três categorias. São elas: 
Educação informal: ações e in�uências exercidas pelo meio (ambiente
sociocultural), por meio das relações. Ex.: relações familiares.
Educação não-formal: instituições educativas com certo grau de sistematização e
estruturação. Ex.: Meios de comunicação sociais, associações de bairro, museus.Educação formal: onde há objetivos educativos explícitos e uma ação educacional
institucionalizada, estruturada, sistemática (mesmo que fora do ambiente escolar
propriamente dito). Ex.: escolas formais, educação pro�ssional, educação de
adultos. 
008
É importante saber que a educação formal e a não-formal são sempre
perpassadas pela educação informal. É função da educação formal considerar,
de forma crítica, as diversas in�uências vindas do ambiente natural e
sociocultural de seus alunos.
Também a educação formal e não-formal se interpenetram, pois os alunos das
escolas formais são também agentes de outras esferas educativas. Assim, o
professor deve considerar que o aluno é também participante de outras
esferas educativas e traz consigo uma bagagem de conhecimentos.
Após entendermos que a educação acontece nas mais variadas esferas sociais (nas
famílias, nos grupos sociais, nas instituições educacionais ou assistenciais, nas
associações pro�ssionais, sindicais e comunitárias, nas igrejas, nas empresas, nos meios
de comunicação de massa etc.) e assume diferentes formas de organização, é possível
agora, compreender, que é ela o objeto de estudo da Pedagogia, isto é, cabe à Pedagogia
estudar o fenômeno educativo em sua globalidade, propondo teorias e práticas.
Agora sim, caro(a) aluno(a), é possível compreender melhor o que é a Pedagogia e o que
faz um pedagogo -  e consequentemente um professor - para só então conseguirmos
entender a importância da disciplina Didática. 
009
Acesse: Disponível aqui
Para entender melhor o conceito de educação não-formal, conheça o projeto
Curumim, idealizado pelo SESC SP em 1987 e que permanece ativo.
Pedagogia: a ciência da educação
Pedagogia é o campo de conhecimento que estuda a educação. Porém, dentro do
universo cientí�co, há muitas disciplinas que têm a educação como um de seus focos de
estudo, como a psicologia, as ciências sociais, algumas áreas da saúde, entre outras.
Então, o que difere a Pedagogia dessas ciências? Essas ciências e muitas outras que
estudam a educação o fazem abordando-a a partir de suas próprias perspectivas e
métodos. A Pedagogia estuda o ato educativo em si, ou seja, os elementos da ação
educativa e sua contextualização. De acordo com Libâneo (2010, p. 38), a Pedagogia
analisa, então, “[...] o sujeito que se educa, o educador, o saber e os contextos em que
ocorre”. Observe o esquema baseado nessa a�rmação: 
https://www.sescsp.org.br/online/artigo/9676_APRENDER+E+BRINCAR+O+QUE+E+O+CURUMIM.
010
Título: Objeto de Estudo da Pedagogia | Fonte: autor
O pedagogo e o professor são especialistas em educação, pois não apenas dominam
as técnicas de ensino, mas compreendem, por meio da teoria pedagógica, a
problemática educativa na sua totalidade, além de produzir teoria pedagógica em
resposta aos problemas da prática. Por isso é que você poderá atuar tanto como
professor, em sala de aula, na gestão escolar (coordenação pedagógica, direção,
supervisão e dirigente de ensino), como na organização de projetos educativos em
empresas e ONGs, ou dedicando-se à pesquisa acadêmica nas universidades.
Concluindo:
A Pedagogia, mediante conhecimentos cientí�cos, �losó�cos e técnico-
pro�ssionais, investiga a realidade educacional em transformação, para
011
explicitar objetivos e processos de intervenção metodológica e
organizativa referentes à transmissão/assimilação de saberes e modos
de ação. Ela visa ao entendimento, global e intencionalmente dirigido,
dos problemas educativos e, para isso, recorre aos aportes teóricos
providos pelas demais ciências da educação. (LIBÂNEO, 2010, p. 32-33).
E onde entra a Didática nesse contexto? A Didática é uma disciplina da Pedagogia, um
ramo de estudo dessa ciência. Vejamos.       
Didática: disciplina da Pedagogia
Ao compreendermos que a educação é todo e qualquer processo em que haja
modi�cação, intencional ou não, no desenvolvimento do sujeito e que a Pedagogia é a
ciência que estuda esse processo de modi�cação, analisando todo o contexto em que ele
ocorre, é possível inferir que a Didática é um ramo da Pedagogia.
A Didática é uma disciplina da Pedagogia. Ela se preocupa, basicamente, com a
investigação e a proposição de teorias acerca do ensino. Libâneo (2001) conceitua:
A didática é uma disciplina que estuda o processo de ensino no seu
conjunto, no qual os objetivos, conteúdos, métodos e formas
organizativas da aula se relacionam entre si de modo a criar as
condições e os modos de garantir aos alunos uma aprendizagem
signi�cativa.  (LIBÂNEO, 2001, p. 2).
A Didática então, como disciplina da Pedagogia, ajuda o professor na orientação de seu
trabalho, proporcionando a segurança pro�ssional necessária para este árduo ofício. Isto
porque o professor, compreendendo as �nalidades do ensino, é capaz de selecionar os
métodos mais adequados para o sucesso de sua ação educativa.
É de primordial importância que você, futuro professor, compreenda que a atividade
docente está diretamente ligada com o para que educar (Libâneo, 2001). Isso porque a
educação acontece inserida em uma determinada sociedade, composta por grupos
012
sociais diferentes, com visões igualmente distintas do sentido da educação. É função do
professor compreender as relações de disputa para que se posicione criticamente e
tenha clareza das �nalidades que tem em mente para a educação das crianças.
Portanto:
Não há técnica pedagógica sem uma concepção de homem e de
sociedade, como não há concepção de homem e sociedade sem uma
competência técnica para realizá-la educacionalmente. Por isso, o
planejamento do ensino deve começar com propósitos claros sobre as
�nalidades do ensino na preparação dos alunos para a vida social: que
objetivos mais amplos queremos atingir com o nosso trabalho, qual o
signi�cado social da matéria que ensinamos, o que pretendemos fazer
para que meus alunos reais e concretos possam tirar proveito da escola
etc. As �nalidades ou objetivos gerais que o professor deseja atingir vão
orientar a seleção e organização de conteúdos e métodos e das
atividades propostas aos alunos. Essa função orientadora dos objetivos
vai aparecer a cada aula, perpassando todo o ano letivo. (LIBÂNEO,
2001, p. 2-3).
Mais adiante, nossas aulas tratarão dos processos relacionados ao ensino e à
aprendizagem, como a relação professor-aluno e os métodos de ensino. Antes disso,
conheceremos um pouco da história da Didática. 
O importante sobre a Didática é compreendermos que não se trata de uma
disciplina especí�ca para ensinar técnicas de ensino ao professor, apesar de
sua importância, mas que se propõe a estudar todo o contexto em que o
ensino se dá, com que objetivo ele ocorre, qual conteúdo ele apresenta e
como ensiná-lo, considerando o espaço em que ele acontece e as relações
desenroladas nesse espaço. É para isso que a Didática serve: para que o
professor consiga realizar intencionalmente o seu ofício de ensinar, para além
do senso puramente prático, de modo que o aluno aprenda de fato.
02
Introdução à
História Geral 
da Didática
013
014
A origem da palavra didática, segundo Cordeiro (2007), vem do grego didasko, que
signi�ca ensinar ou instruir. Na Grécia antiga, o ensino infantil acontecia de modo bem
diferente do que o que hoje entendemos por instrução. Vamos compreender um pouco
da história do ensino e da Didática?
Segundo Malheiros (2012), muitos autores consideram Platão como o primeiro professor
de que se ouviu falar. Considerando que Platão nasceu em por volta de 427 a. C., as
formas e objetivos de ensino mudaram muito nestes, aproximadamente, 2.500 anos.
É importante conhecer o desenvolvimento histórico da Didática para compreender
muitas das ideias atuais de educação. Nosso modelo de instrução atual, centra-se,
basicamente, em paradigmas europeus de educação. Por isso, centremo-nos neles.
Muito da forma de educação da Idade Média (séculos V a XV), de acordo com Malheiros
(2012), vinha da Antiguidade. As crianças podiam ser dadas, vendidas ou mortas a partir
da decisão do pai. Com a expansão do cristianismo,no entanto, a Igreja passou a
assumir a tarefa de acolher as crianças, garantindo não a educação integral, tal qual
pensamos hoje, mas sua sobrevivência (alimentação, vestimenta, higiene). A educação
dada era, basicamente, catequização. As corporações medievais, que eram associações
de pessoas de uma determinada pro�ssão, também admitiam crianças para que
aprendessem um ofício e, futuramente, �zessem parte da associação.
Malheiros (2012) explica ainda que a partir do século VI é que a Igreja passou a abrir
espaços escolares para garantir a formação cristã nas maiores cidades europeias. Neste
momento, não havia um ensino diferenciado que considerasse a maneira própria das
crianças aprenderem. A partir dos cinco anos, elas aprendiam juntamente com os
adultos.
Foi somente com o início da Idade Moderna, no �m do século XV, que os jesuítas criaram
a ideia de seriação. As escolas, no formato como conhecemos hoje, são fruto do modelo
europeu de escola consolidado a partir do século XVII. Esse século consolida a ideia de
professores regentes e grupos mais homogêneos de alunos, separados �sicamente.
Foi neste século que se começa a pensar especi�camente em conteúdos, objetivos e
métodos de ensino. Vejamos quem deu este passo. 
015
Jan Amos Comenius
(1592 – 1670)
Costuma-se dizer que a Didática foi fundada no século XVII por um educador da Europa
central chamado Comenius. Nesse século, ele publicou um livro que se chamava Didática
Magna: tratado da arte universal de ensinar tudo a todos (1632). Por que essa obra
tornou-se tão importante? Por dois motivos: pelo seu pioneirismo em propor um
método universal que orientasse a prática do professor e por in�uenciar muitas teorias e
práticas futuras que buscariam tornar o ensino efetivo, e�ciente, por meio da
racionalização das formas de ensinar. Sua obra também é considerada muito relevante
porque traz como inovação a aprendizagem do aluno como elemento central na prática
educativa, além da ideia da pro�ssionalização do ensino, ou seja, de um conjunto de
competências cabíveis ao professor. 
Fonte: Disponível aqui
Conheça a obra Didática Magna de Comenius, com tradução do professor
doutor da Faculdade de Letras de Coimbra, Joaquim Ferreira Gomes, publicado
pela Fundação Calouste Gulbenkian, em 2001, que está disponível no formato
e-book.
Comenius (ou Comênio) foi o primeiro educador a ter a intenção de que os
conhecimentos fossem difundidos para todos, segundo princípios e regras do ensino.
Libâneo (2013, p. 59) salienta que:
http://www.ebooksbrasil.org/adobeebook/didaticamagna.pdf
016
Comênio desenvolveu ideias avançadas para a prática educativa nas escolas, numa
época em que surgiam novidades no campo da Filoso�a e das Ciências e grandes
transformações nas técnicas de produção, em contraposição às ideias conservadoras e
do clero. O sistema de produção capitalista, ainda incipiente, já in�uenciava a
organização da vida social, política e cultural. 
A Didática de Comenius centrava-se em determinados princípios. Vejamos alguns deles:
Educação como direito: todos os homens merecem a sabedoria, a moralidade e a
religião. A educação é um direito natural de todos.
Respeito ao desenvolvimento natural humano: o homem deve ser educado
conforme seu próprio desenvolvimento natural. A Didática deve estudar e propor
métodos de ensino respeitando tal processo
Aprender pelos sentidos: a assimilação não é algo mecânico. Os conhecimentos
devem ser construídos pela observação, por meio dos órgãos dos sentidos.
Do simples para o complexo: O planejamento deve seguir o curso da natureza
infantil. Deve ser ensinada uma coisa de cada vez, partindo do conhecido para o
desconhecido.
Considerada a época dessas ideias, podemos dizer que são uma grande novidade.
Embora acreditasse na importância da observação e da experiência dos sentidos,
Comenius tinha em seus ideais algumas características comuns ao período, como o
caráter transmissor do ensino, o método único e o ensino simultâneo. Além disso,
considerava que a única forma de aprendizagem seria pela experiência sensorial, o que
o fez desconsiderar a experiência socialmente acumulada.
Comenius teve uma in�uência signi�cativa por seu empenho ao desenvolvimento dos
métodos mais e�cientes de instrução e também pelo desejo de que todas as pessoas
fossem bene�ciadas pela aquisição dos conhecimentos.
Mesmo com as propostas de Comenius, no século XVII e também nos seguintes, houve
ainda a predominância de práticas escolares medievais, como o ensino integralmente
intelectual, verbal e dogmático, centrado na memorização e na repetição mecânica do
ensino. “Nessas escolas não havia espaço para ideias próprias dos alunos, o ensino era
separado da vida, mesmo porque ainda era grande o poder da religião na vida social”.
(LIBÂNEO, 2013, p. 60).
017
Ainda de acordo com Libâneo (2013), nesse contexto, transformações intensas se
sucederam, gerando avanços signi�cativos na ciência e cultura. Com isso, houve a
diminuição do poder da nobreza e do clero e, consequentemente, a burguesia teve
ascensão. Com o seu fortalecimento como classe social, na disputa pelo poder
econômico e político com a nobreza, cresceu também a intenção de que o ensino
estivesse ligado ao mundo da produção e dos negócios, contemplando o
desenvolvimento livre das capacidades e dos interesses de cada um. Por isso, outros
tratados didáticos focados no desenvolvimento do sujeito, surgem.
O desenvol�mento da teoria didática
Jean Jacques Rousseau (1712 - 1778)
018
Com a ascensão da burguesia, no século XVIII, a era moderna começa a se instalar com
novas visões de mundo. Rousseau, um pensador que procurou interpretar esse cenário,
propôs novas concepções de ensino e de infância com base nos interesses imediatos da
criança. Rousseau inova “quando põe em relevo a natureza da criança e transforma o
método num procedimento natural, exercido sem pressa e sem livros”. (CASTRO, 1991, p.
17).
São ideias rousseaunianas:
Para preparar a criança para a vida futura, parte-se do estudo das coisas que
re�itam seus interesses e necessidades atuais. “Os verdadeiros professores são a
natureza, a experiência e o sentimento. O contato da criança com o mundo que a
rodeia é que desperta o interesse e suas potencialidades naturais”. (LIBÂNEO, 2013,
p. 60).
A educação é um processo natural, fundamentada no desenvolvimento interno da
criança ou jovem. “As crianças são boas por natureza, elas têm uma tendência
natural para se desenvolverem” (LIBÂNEO, 2013, p. 60).
Nota-se, então, de acordo com Castro (1991, p. 17), que “enquanto Comenius, ao seguir
as pegadas da natureza, pensava em domar as paixões das crianças, Rousseau parte da
ideia da bondade natural do homem, corrompido pela sociedade”. Entretanto, cabe
ressaltar que Rousseau não colocou em prática tais ideias e também não elaborou uma
teoria de ensino. Essa tarefa foi cumprida por outro pedagogo: o suíço Henrique
Pestalozzi, que trabalhou até o �m da vida na educação de crianças pobres, em
instituições dirigidas por ele próprio.
Henrique Pestalozzi (1746 – 1827)
O pedagogo Pestalozzi valorizava o ensino como meio de desenvolver as capacidades
humanas, seus sentimentos, sua mente e seu caráter. Haydt (2011, p. 15) elucida que ele:
[...] acreditava que o ser humano nascia bom e que o caráter de um
homem era formado pelo ambiente que o rodeia. Sustentava que era
preciso tornar esse ambiente o mais próximo possível das condições
naturais, para que o caráter do indivíduo se desenvolvesse ou fosse
formado positivamente. Para ele, a transformação da sociedade iria se
processar através da educação, que tinha por �nalidade o
019
desenvolvimento natural, progressivo e harmonioso de todas as
faculdades e aptidões do ser humano.
Para o pedagogo suíço, a educação deve desenvolver a linguagem, o senso de
observação e de análise (de objetos e fenômenos da natureza). Além disso, dava
importância à Psicologia infantil, considerando-a como princípio do desenvolvimento do
processo de ensino. Pestalozzi, com tais ideias, lança as sementesda Pedagogia
Moderna. “Foi ele o primeiro a formular de forma clara e explícita o princípio de que a
educação deveria respeitar o desenvolvimento infantil”. (HAYDT, 2011, p. 15).
Os três pensadores vistos até aqui in�uenciaram Herbart (1766-1841), um pedagogo
alemão que na primeira metade do século XIX teve in�uência relevante nas práticas
docentes. Foi considerado (e ainda é) inspiração da pedagogia conservadora.
As ideias de Herbart, segundo Libâneo (2013), estão presentes nos dias atuais
na prática das salas de aula brasileiras. Tal concepção de ensino e de
aprendizagem valoriza a aquisição de conhecimentos, direcionados pelo
professor (o “arquiteto da mente”). Cabe a ele inserir ideias corretas na cabeça
dos alunos, de modo que controle seus interesses.
Johann Friedrich Herbart (1746 – 1827)
Para Herbart, de acordo como Haydt (2011, p. 17), a educação moral decorre da
educação intelectual, pois são as ideias que formam o caráter. “O conhecimento produz
ideias que moldam a vontade, isto é, o caráter. A este ciclo, conhecimento-ideias-caráter,
020
Herbart chamou de instrução educativa”. A instrução permite atingir a moralidade,
entendida como a �nalidade da educação. Aproveitando as leis da psicologia do
conhecimento, Herbart formulou um método de ensino, estabelecendo quatro passos
didáticos que deveriam ser rigorosamente seguidos (LIBÂNEO, 2013). Vejamos:
1º passo - Clareza: é preciso realizar a preparação e a apresentação do conteúdo
novo de forma clara e completa;
2º passo - Associação: é necessário que haja associação das ideias antigas com as
novas;
3º passo - Sistematização: deve ocorrer a sistematização dos conhecimentos com
vistas à generalização;
4º passo - Aplicação: fazer uso dos conhecimentos adquiridos com exercícios. 
Posteriormente, de acordo com Libâneo (2013), os seguidores de Herbart acrescentaram
mais um passo didático, a generalização, e tal sequência ainda é muito utilizada
atualmente. Os passos �caram na seguinte ordem: preparação; apresentação;
assimilação; generalização; aplicação.         
Libâneo (2013) critica tal sequência a�rmando que a aprendizagem se torna mecânica,
pois não mobiliza a atividade mental do aluno, inibindo a re�exão, o pensamento
independente e a criatividade.
O sistema pedagógico de Herbart e seus seguidores — chamados de
herbartianos — trouxe esclarecimentos válidos para a organização da
prática docente, como por exemplo: a necessidade de estruturação e
ordenação do processo de ensino, a exigência de compreensão dos
assuntos estudados e não simplesmente memorização, o signi�cado
educativo da disciplina na formação do caráter. Entretanto, o ensino é
entendido como repasse de ideias do professor para a cabeça do aluno;
os alunos devem compreender o que o professor transmite, mas apenas
com a �nalidade de reproduzir a matéria transmitida. (LIBÂNEO, 2013,
p. 62).
Os autores explorados até aqui abordaram a educação a partir de pontos de vista muito
diversos. Analisaremos a seguir as correntes �losó�cas que explicam como o ser
humano aprende, cada uma à sua maneira. Você conseguirá relacionar tais correntes
aos pensamentos vistos até aqui.
03
Foco na aprendizagem:
inatismo, empirismo 
e associacionismo
021
022
Você viu, até aqui, que a nossa disciplina se ocupa de investigar os conteúdos de ensino
(o que ensinar), os objetivos desse ensino (por que ensinar) e os métodos de ensino
(como ensinar), bem como suas �nalidades mais amplas, ou seja, qual a importância que
o que está sendo ensinado tem para a sociedade, de forma que o aluno efetivamente
aproveite a escola como meio de inserção e interação social e econômica.
É muito importante que você, futuro professor, aproveite o máximo de nossas aulas para
que, ultrapassando as ideias de ensino e escola do senso comum, faça boas escolhas,
preocupadas realmente com a aprendizagem de seus alunos.
Como as pessoas aprendem? Para um professor, a resposta a essa pergunta pode
determinar suas escolhas didáticas e relação pedagógica.   Por muito tempo, os sujeitos
se questionaram - e ainda se questionam - sobre esse assunto. Segundo Malheiros
(2012), historicamente, as teorias construídas acerca de como se aprende podem ser
agrupadas em três blocos: o inatismo, o empirismo e o associacionismo. 
Como as pessoas
aprendem? - O inatismo
O inatismo parte do princípio de que todas as características que de�nem o sujeito
nascem com ele. Nesta perspectiva, as pessoas nascem com mais ou menos
potencialidades. O desenvolvimento precede a aprendizagem. Alguns nascem mais
desenvolvidos que outros.
Essa teoria tem como seu primeiro representante o �lósofo Platão (427-347 a.C.). Platão
defendia que aprender signi�ca desenvolver os dons com os quais as pessoas nascem.
Assim, o meio social não tem in�uência no desenvolvimento cognitivo do indivíduo. 
023
Atualmente, quase não há pesquisadores que defendam essa teoria. Isso porque ela foi
muita utilizada para justi�car atos discriminatórios ao longo do tempo, embasando a
ideia de que pais pouco instruídos passam essa herança a seus �lhos, mesmo que
tivessem crescido em outro contexto social, político ou econômico. Muitos grupos
étnicos foram discriminados ao longo do tempo por conta, entre outras coisas, dessa
ideia.
Não há evidências cientí�cas que justi�quem essa teoria. Por se tratar da mais
antiga concepção de aprendizagem, está ainda presente no imaginário das pessoas.
Você certamente já ouviu alguém – ou mesmo um professor – dizer: “Tal pessoa não
nasceu pra isso”. Ou mesmo: “Aquele sujeito consegue realizar tal atividade porque
possui um dom”. A maior crítica que se faz a este tipo de crença é que se o sujeito nasce
com determinadas características, de forma inata, então, não é possível mudar. O meio,
portanto, não interfere no desenvolvimento cognitivo da pessoa.
024
O inatismo acredita que todas as características que de�nem uma pessoa estão
presentes no momento em que esta pessoa nasce. Aprender seria, portanto,
estimular características que já́ existem. (MALHEIROS, 2012, p. 9).
Como as pessoas
aprendem? - O empirismo
O empirismo: se opõe completamente ao inatismo, pendendo para o outro extremo. De
acordo com o empirismo, nascemos sem saber nada e que as estruturas cognitivas vão
sendo construídas a o longo da vida. Quanto mais experiências vivenciadas, mais
informações acumuladas. A aprendizagem acompanha o desenvolvimento, e não
vem depois dele. John Locke (1632-1704) se opôs profundamente ao inatismo e entrou
para a história como �lósofo da teoria do conhecimento. Provavelmente, você ouvir falar
que a mente humana é uma “tábula rasa”. Foi ele quem deu visibilidade a essa
expressão. Isso signi�ca dizer que a cognição humana é uma tela em branco a ser
preenchida com informação retiradas de sua própria experiência. Acontece, então, uma
aprendizagem “de fora para dentro”, ou seja, o meio constrói o desenvolvimento
cognitivo do sujeito.   
025
Para Lock, a experiência (empiria) se dá por meio dos sentidos (visão, olfato, paladar,
tato). Por meio da apreciação de um objeto, o sujeito constrói o seu conceito.
A crítica que se faz ao empirismo tem a ver com a forma de apreensão do conhecimento.
Ora, se conhecer é simplesmente entrar em contato com o objeto e descobrir com ele,
aprender é, então, apreender, decorar, receber um conteúdo. Assim, descartam-se as
questões subjetivas que permitem ao ser humano reconstruir o conhecimento,
buscando suas próprias interpretações e respostas.
O empirismo acredita que nascemos sem saber absolutamente nada, e que
construímos nosso conhecimento por meio das experiências. (MALHEIROS,
2012, p. 10).
026
A relação entre empirismo e inatismo
Observe o quadro que compara as duas teorias vistas até aqui:
Inatismo Empirismo
Conhecimento
O conhecimento é pré-
formado e fruto do
desenvolvimento biológico.
O conhecimento é oriundo da
experiência, captado de fora
pelos sentidos.
Aprendizagem
Armazenamento de
informações por meio da
memória.
Alteração de comportamentos,
fruto da experiência.
EnsinoUso maciço de exposição de
conteúdos pelo professor.
Controle do ambiente para
levar o aluno a viver uma
experiência.
Avaliação
Mensuração da quantidade
de informações retidas pelo
aluno.
Mensuração de respostas
modi�cadas e comportamento
alterado.
Fonte: BARROS, 2012, p. 11.
Você deve estar se perguntando: inatismo e empirismo não reconhecem a relação entre
as pessoas como ponto importante para a aprendizagem? E a resposta é não. Não
reconhecem.
Ainda segundo Malheiros (2012), foi a partir do início do século XIX que alguns
pensadores começaram a considerar e a investigar o impacto do meio e das relações
sociais no ensino e na aprendizagem. Isso se deu porque a psicologia, no ocidente,
começou a se a�rmar como disciplina autônoma e a fortalecer ideias acerca da
in�uência das interações sociais na formação do indivíduo, além da noção de que
027
existia um vínculo entre o meio no qual se vivia e o tipo de educação oferecido. A partir
de então, novas formas de se conceber a aprendizagem, e também o ensino, passaram a
�gurar.
Como as pessoas
aprendem? – O
associacionismo
A partir das descobertas da psicologia que apontavam para uma in�uência do meio no
desenvolvimento humano, as teorias denominadas associacionistas despontaram.
O associacionismo: a educação acontece por meio de um estímulo e de uma
recompensa. Por exemplo, os pais recompensam seus �lhos com uma sobremesa caso
estes comam o alimento saudável oferecido durante a refeição. Caso não comam
verduras e legumes, não ganham a sobremesa. Dessa forma, o resultado esperado é que
os �lhos compreendam a relação estabelecida entre o estímulo e a recompensa,
entendendo as consequências positivas e negativas dessa relação, e passem a dar
respostas positivas a tais estímulos, mantendo tal comportamento. As ideias
associacionistas foram a gênese do comportamentalismo.
Fonte: Disponível aqui
Saiba mais sobre as diversas formas de se compreender a aprendizagem, de
maneira simples e atrativa, acompanhando online os conteúdos da Revista
Nova Escola.
https://novaescola.org.br/conteudo/41/inatismo-empirismo-e-construtivismo-tres-ideias-sobre-a-aprendizagem
028
Você pode se perguntar se aprender depende de algo tão simples e mecânico, como
provocar o estímulo adequado para obter a resposta desejada. Pare e pense: quando
você era criança, provavelmente sua professora fazia um elogio em seu caderno,
esperando que você continuasse a aprender e a esforçar-se para isso. Entretanto, a
carinha feliz ou a estrelinha colada em seu caderno provavelmente tinha pouca
in�uência sobre sua di�culdade de aprender determinados conteúdos. Mesmo assim,
séculos depois desta formulação teórica acerca de como aprendemos aparecer, ainda há
pais, professores e psicólogos que se orientam pela concepção associacionista de
aprendizagem, mãe do comportamentalismo.
“O inatismo, o empirismo e o associacionismo são correntes �losó�cas
que orientam a forma como se crê̂ que o conhecimento se estabelece.
Não são métodos. Os métodos de ensino são os caminhos utilizados
para garantir que o outro aprenda.” (MALHEIROS, 2012, p. 12).
Baseadas nessas três formas de conceber a aprendizagem, teorias focadas em como
ensinar – em métodos – foram desenvolvidas. Veremos quais são elas a seguir: 
Inatismo, empirismo e associacionismo são correntes �losó�cas que
postulam a forma como as pessoas aprendem. Não são métodos de ensino.
(MALHEIROS, 2012, p. 12).
04
Foco no ensino -
O comportamentalismo
029
030
Já discutimos sobre as principais formas de se conceber a aprendizagem que
embasaram os primeiros estudos sobre educação escolar no ocidente. Tais correntes
deram origem a estudos mais estruturados sobre a aprendizagem, que propuseram
métodos de ensino.
Vimos em nossa primeira aula que é função da Didática estudar as �nalidades do ensino.
De posse dessa informação, é fundamental que você, futuro professor, compreenda que
dependendo da visão de mundo do educador, ou de um sistema organizado de
ensino, a educação terá determinadas �nalidades e utilizará determinados meios
para alcançá-las. Nenhum tipo de educação é neutro. Nenhum método de ensino é
neutro. Sempre há uma concepção de homem e de sociedade para os quais a educação
forma. 
Método e Metodologia são conceitos diferentes, contudo são comumente
utilizados no campo da educação como sinônimos. Método signi�ca o caminho
que se percorre para chegar a um objetivo, o passo a passo, as estratégias, as
técnicas. Metodologia é um conceito mais amplo, que engloba o estudo do
método, a análise dos procedimentos, os conhecimentos teórico-�losó�cos que
embasam as técnicas.
Discutiremos, nesta aula, o comportamentalismo e suas implicações para a educação.
O comportamentalismo estabeleceu-se como teoria psicológica a�rmando que todo
comportamento pode ser controlado por estímulos. Além disso, centra seus estudos
psicológicos estudando o comportamento que pode ser observado, se opondo a outros
031
estudos, como a psicanálise freudiana. Um cientista que viveu entre os séculos XIX e XX,
Pavlov, foi o primeiro a ser mundialmente conhecido por utilizar cães para comprovar o
condicionamento comportamental.
Uma experiência muito famosa que ele realizou com cães consistia em
transferir a resposta de um estímulo para outro estímulo. Por exemplo:
sempre que ele apresentava um pedaço de carne, o cão salivava. Em
seguida, ele passou a apresentar um pedaço de carne e tocar um sino
simultaneamente. Algum tempo depois, apenas ao tocar o sino, o cão já́
salivava. O grande feito de Pavlov foi mostrar que é possível moldar o
comportamento (pelo menos em animais), o que instigou pesquisadores
da psicologia a buscar compreender se esta associação também seria
possível em humanos. (MALHEIROS, 2012, p. 13).
Logo em seguida, dando continuidade aos estudos comportamentalistas, Watson (1878-
1958) iniciou uma corrente chamada de comportamentalismo (ou behaviorismo) clássico,
que acredita ser possível comandar todos os comportamentos humanos a partir da
identi�cação do melhor estímulo. Ele a�rmava que qualquer comportamento poderia ser
condicionado por meio de estímulo-resposta, sem, contudo, conseguir comprovar
completamente tal a�rmação.
Tolman, contemporâneo de Watson, explanou que entre o estímulo e a resposta há um
organismo, e que o mesmo estímulo pode desencadear respostas diferentes
dependendo do organismo em questão.
As pesquisas que orientam Tolman o levaram a apresentar o conceito de
aprendizagem por mapas cognitivos, que são estruturas mentais
orientadoras do comportamento a ser manifestado, dependendo do
objetivo. É o que atualmente se chama de behaviorismo cognitivo. A
relação entre as duas palavras (behaviorismo e cognitivo) sinaliza que,
além da importância dada aos estímulos, Tolman coloca a cognição
dentro da discussão. Neste caso, a resposta dada a um determinado
estímulo dependerá fundamentalmente da intenção do organismo.
(MALHEIROS, 2012, p. 14).     
032
Hull, contemporâneo de Watson e Tolman, opõe-se a este último discutindo a ideia de
aprendizagem por meio de memorização.
Para Tolman, a manifestação da aprendizagem se dava pela realização
de um comportamento que correspondia a uma experiência passada.
Hull defendia que a experiência provoca alterações neuro�siológicas e,
portanto, não se trataria simples- mente de um processo de aquisição
de memória. É possível a�rmar que nesta nova visão do behaviorismo,
os diversos reforços de comportamento são capazes de alterar a própria
morfo�siologia daquele que é alvo do experimento. Hull é o autor que
mais leva sua concepção de aquisição ou modulação de
comportamentos para a educação. Ao se opor à ideia da separação
entre corpo e mente, reforça a questão da modulação do
comportamento por meio da modulação biológica. (MALHEIROS, 2012,
p. 14).
Foi com o psicólogo Skinner que o comportamentalismo teve sua expressão
denominada comportamentalismo radical (MALHEIROS, 2012). Para este autor, haveria
uma separação entre corpo e mente. A mente decide como agir, e o corpo recebe
os estímulosexternos.
Skinner apresentou o conceito de condicionamento operante. Neste condicionamento, um
estímulo é oferecido visando a uma determinada resposta. E essa resposta só existirá se
ela gerar um novo estímulo, dentro dos desejos deste respondente. Para Skinner, “o
comportamento não surge de um estímulo isolado, mas da expectativa do estímulo
futuro.” (MALHEIROS, 2012, p. 15). Tal ideia contraria o comportamentalismo clássico,
pois a resposta não é simplesmente uma resposta �siológica a um estímulo, mas nasce
de uma expectativa de novo estímulo.
Duas ideias são fundamentais para entender esta forma de entender a aprendizagem:
reforço e punição. O reforço são os estímulos que produzem a ocorrência e a
repetição do comportamento. A punição são estímulos que fazem com que um
comportamento seja evitado.
Observe a seguir o esquema que representa esse conceito. 
033
Fonte: MALHEIROS, 2012, p. 15.
O esquema explicita que o reforço leva à repetição da mesma resposta, se o estímulo for
o mesmo e a punição suspende a resposta.
Esta ideia in�uenciou fortemente a educação, mais especi�camente a escolha de um
método de ensino. Aceitando que o comportamento pode ser modelado por meio de
estímulos, basta que se ofereçam aos alunos os estímulos corretos para que apresentem
comportamentos socialmente desejáveis e punindo comportamentos indesejáveis.
Skinner defendia que simplesmente ter contato com o meio não bastava para que
houvesse aprendizagem, mas que é necessária uma transmissibilidade organizada.
Malheiros (2012, p.16) apresenta o desenvolvimento das ideias comportamentalistas no
ensino:
Em sala de aula, o comportamentalismo se manifestou principalmente
pela criação e utilização das máquinas de ensinar. Estas máquinas
apresentavam o conteúdo em uma sequência tal que permitiam que o
aluno fosse apresentando as respostas esperadas. Os tipos de
aprendizado eram categorizados por Skinner em três grupos: 
034
- Comportamento re�exo: como a dilatação das pupilas diante da
mudança na intensidade da luz. Neste caso, o sujeito não tem controle
do comportamento.
- Comportamento operante: são voluntários, como escrever um texto.
É controlado pelas consequências dos estímulos.
- Comportamento respondente: similar ao comportamento operante,
mas controlado pelos estímulos que o precedem, como correr para
atender ao chamado de alguém que chama.
Mizukami (2014) explica que a abordagem comportamentalista de educação preconiza
que o conhecimento está fora do sujeito, é uma descoberta. A ciência, nessa abordagem,
é uma forma de descobrir a ordem e a natureza dos eventos, para utilizá-la e controlá-la.
Por isso, o aluno é considerado como um “recipiente de informações e re�exões”.
(MIZUKAMI, 2014, p. 20). Ensinar é mudar padrões de comportamento através do
treinamento, de acordo com objetivos prede�nidos.
            De acordo com a autora, neste tipo de abordagem:
[...]supõe-se e objetiva-se que o professor possa aprender a analisar os
elementos especí�cos de seu comportamento, seus padrões de
interação, para, dessa forma, ganhar controle sobre eles e modi�ca-los
em determinadas direções quando necessário, ou mesmo desenvolver
outros padrões. (MIZUKAMI, 2014, p. 21).       
Para Mizukami (2014), adotar a perspectiva comportamentalista implica em
compreender o homem como uma consequência da in�uência do meio ambiente.
Assim, a subjetividade do indivíduo é, praticamente, ignorada. O ideal dessa teoria,
entretanto, é que o controle da situação ambiental seja transferido para o próprio
indivíduo, de modo que ele possua autocontrole, porém, são as forças externas que
continuam a exercer, ainda, maior controle.
A visão de mundo dos comportamentalistas é a de que este é uma realidade objetiva,
construída, pronta. Que cabe ao homem apenas manipulá-lo. O comportamento pode
ser modi�cado alterando-se os elementos ambientais. Segundo Mizukami (2014, p. 23):
035
Para que a formulação das relações entre um organismo e seu meio
seja adequada, devem-se sempre especi�car três aspectos: a ocasião na
qual a resposta ocorreu, a própria resposta e as consequências
reforçadoras. As relações entre esses três elementos constituem as
contingências de reforço.
São essas contingências de reforço que alteram o comportamento.
Com relação à sociedade e à cultura, os comportamentalistas acreditam que é preciso
que haja uma ciência para o planejamento desta última, isso porque o centro desta
teoria, como vimos, admite a alteração por meio do controle das contingências. Assim,
por meio do controle dos comportamentos, seria possível uma sociedade sem violência,
sem autoridade, sem classes sociais ou propriedades privadas. A teoria do reforço
garantiria uma nova forma de viver, encontrando a e�ciência ao máximo. Ora, se o
comportamento humano é totalmente determinado pelas forças genéticas e ambientais,
não é possível haver mérito individual. Segundo Mizukami (2104) o indivíduo é, então,
como uma peça de uma máquina controlada, realizada a função que se espera
dele.
O comportamentalismo e a
educação
Você pôde observar, estimado aluno, que o conhecimento, para os comportamentalistas,
é o resultado direto da experiência. Vimos que o maior expoente do
comportamentalismo, Skinner, não se preocupou em investigar de que modo o
conhecimento é construído na mente do indivíduo, mas lidou com o controle do
comportamento observável. Assim, o comportamentalismo tem uma base empirista,
que vimos na nossa segunda aula. A inteligência, para os comportamentalistas, foi
herdada à medida que contingências de reforço que controlaram as respostas
fornecidas pelo homem, cujas consequências têm a ver com a sobrevivência da espécie.
036
É por esse motivo que a educação, nesta abordagem, está ligada à transmissão cultural,
porque se acredita que é impossível que o homem descubra por si mesmo elementos
importantes de sua cultura.
A educação, pois, deverá transmitir conhecimentos, assim
comportamentos éticos, práticas sociais, habilidades consideradas
básicas para a manipulação e controle do mundo/ambiente (cultural,
social etc.). (MIZUKAMI, 2014, p. 27).
Observe como a educação assume um caráter bastante controlador, pois, nesta teoria,
saber signi�ca apreender exatamente o que se quer ensinar. Nada a mais. O sistema
educacional, portanto, tem como objetivo promover mudanças individuais desejáveis,
adquirindo-se comportamentos e modi�cando os já existentes por meio do reforço
(recompensa e punição). O objetivo máximo é que cada indivíduo seja também
controlador das contingências de reforço. Quanto maior o controle sobre si, mais
responsabilidade, mais liberdade. Por isso, as contingências de reforço devem ser
usadas de forma organizada e sistematizada pelo sistema educacional para o
treinamento social e�ciente.
037
Para pôr em prática tais conceitos educacionais, a escola, explica Mizukami (2014), é o
ambiente que deve adotar formas de controle de acordo com o os comportamentos que
se deseja instalar e manter, isto é, aqueles que úteis e desejáveis para a sociedade; por
isso é que os comportamentalistas criticam uma escola voltada para o saber clássico,
conteudista, mas defende uma escola voltada para as demandas de controle social. O
desenvolvimento da individualidade é, portanto, pautado por valores sociais, não
subjetivos.
Como aconteceriam os processos de ensinar e aprender nesta abordagem? Mizukami
(2014) salienta que ensinar é planejar contingências de reforço sobre os quais os
estudantes aprendem, e o professor é quem deve assegurar esta aprendizagem.
Os comportamentos desejados dos alunos serão instalados e mantidos
por condicionantes e reforçadores arbitrários, tais como: elogios, graus,
notas, prêmios, reconhecimentos do mestre e dos colegas, prestígio etc.,
os quais, por sua vez, estão associados a uma outra classe de
reforçadores mais remotos e generalizados, tais como: o diploma, as
vantagens da futura pro�ssão, a aprovação �nal no curso, a
possibilidade de ascensão social, monetária, status, prestígio da
pro�ssão etc. (MIZUKAMI,2014, p. 30).
A organização das contingências, realizadas pelo professor, vai depender dos
comportamentos observáveis: um evento anterior, uma resposta, um reforço e
fatores contextuais. O foco da proposta de aprendizagem da abordagem
comportamentalista se encontra na organização das experiências curriculares. Essa
organização dirigirá os alunos pelos caminhos adequados para que eles cheguem ao
comportamento �nal. A aprendizagem, assim, é garantida pela organização.
Para os comportamentalistas, como acontece a relação entre professor e aluno? O
controle do processo está nas mãos do professor. É ele quem planeja e desenvolve o
sistema de ensino-aprendizagem, a �m de maximizar o desempenho do aluno. Ele é um
planejador e um analista e deve organizar as contingências de reforço de modo a
possibilitar a ocorrência de uma resposta aprendida. Ao aluno, cabe apresentar as
respostas esperadas. O ensino é individualizado, pois parte de um diagnóstico para
detecção do melhor planejamento para o alcance da resposta esperada.    
038
Segundo Mizukami (2014), Skinner propôs uma metodologia de ensino baseada na
elaboração de uma tecnologia adequada para isso, com vistas a uma maior e�ciência na
aprendizagem. Por isso, as estratégias pensadas são individualizadas.
A individualização do ensino surge, na abordagem comportamentalista,
como decorrente de uma coerência teórico-metodológica. Tal
individualização implica: especi�cação de objetivos; envolvimento do
aluno; controle de contingências; feedback constante que forneça
elementos que especi�quem o domínio de uma determinada habilidade;
apresentação do material em pequenos passos; e respeito ao ritmo
individual de cada aluno. (MIZUKAMI, 2014, p. 33).
O comportamentalismo se preocupa com que o maior número possível de alunos
atinja níveis altos de e�ciência. Para isso, uma das estratégias principais utilizadas é o
módulo instrucional como material de ensino (Mizukami, 2014). Para os
comportamentalistas, é fundamental que o aluno tenha conhecimento preciso do que
dele se espera e dos resultados que ele atingiu no processo.
O ensino com base na competência é caracterizado por: especi�cação
dos objetivos em termos comportamentais; especi�cação dos meios
para determinar se o desempenho está de acordo com os níveis
indicados de critérios; fornecimento de uma ou mais formas de ensino
pertinentes aos objetivos; conhecimento público dos objetivos, critérios,
formas de atingi-las e atividades alternativas. A experiência de
aprendizagem, pois, é considerada em termos de competência.
(MIZUKAMI, 2014, p. 33).
Neste formato, o módulo de ensino pode ser utilizado para a aquisição de um ou vários
objetivos de ensino. Os comportamentalistas, como se vê, não se preocupam em estudar
por que o aluno aprende, mas em fornecer uma tecnologia que produza mudanças no
comportamento e fazer o aluno estudar.
Como visto, a programação é o fundamento do ensino comportamentalista. A matéria
deve ser dividida em pequenos passos, de modo que o professor consiga reforçar todas
as respostas e comportamentos operantes emitidos pelo aluno.
039
Podemos concluir que uma educação baseada no comportamentalismo objetiva a
autonomia do aluno, ao dominar os objetivos de ensino, mas em nome de algo que
é exterior a ele, planejado por seu professor, garantindo objetivos importantes
para o social. Vimos uma educação pautada na programação, em que o aluno é ativo,
mas não para objetivos subjetivos. E uma educação diretivista. Não cooperação entre os
alunos. A educação é pensada para cada indivíduo. 
A metodologia e os princípios utilizados nessa abordagem derivam da análise
experimental do comportamento. A aplicação desse tipo de análise ao ensino,
produziu, até o momento, grande quantidade de pesquisa básica e aplicada, o
que, a partir dos anos 1950, aproximadamente, permitiu a elaboração de uma
tecnologia de ensino, que, por sua vez, tem fornecido dados para a própria
análise comportamental. (MIZUKAMI, 2014, p. 36).
05
Foco no ensino -
O cognitivismo
040
Esta aula traz para você os fundamentos do cognitivismo e suas propostas para a
educação.
O cognitivismo, de acordo com Malheiros (2012), passou a ser estruturado pela
psicologia também no século XIX e tem em Wundt seu primeiro expoente. Os
trabalhos desse autor investigavam as atividades que estruturam a mente e a
consciência.
Esta abordagem entende que há algo dentro da mente do sujeito que é
responsável pela relação entre as pessoas, e das pessoas para com o meio. Ao
contrário da abordagem da aula anterior, o cognitivismo busca conhecer o mundo
interno do sujeito, já que compreende que a aprendizagem é um processo interior.
Portanto, compreende o processo de aprendizagem como algo
individual e orgânico, que pode ser estimulado por fatores externos,
mas que não pode ser controlado. O maior objetivo dos
pesquisadores cognitivistas é compreender a estrutura da mente
humana. No campo da educação, este entendimento serviria de base
para a estruturação de métodos de ensino mais ecientes, ̀ ante a esta
nova compreensão da aprendizagem. (MALHEIROS, 2012, p. 17).
Segundo Malheiros (2012), foi o biólogo Jean Piaget (1896-1980), considerado por
muitos o nome mais importante da educação do século XX, quem deu a maior
contribuição a essa teoria. Ele dedicou sua vida a compreender as estruturas
mentais envolvidas na construção do conhecimento. Ele não desenvolveu,
entretanto, um método de ensino. Ele aponta para a compreensão do fenômeno
cognitivo, mas não indica métodos a serem seguidos.
A epistemologia genética, a partir dos trabalhos de Piaget, tornou-se
um campo de investigação que passou a ocupar espaço privilegiado
nas teorias de educação. Neste campo, percebeu-se que não se pode
fazer uma pessoa aprender um conteúdo para o qual ela não está
preparada. Tal compreensão serve de subsídio à estruturação de
currículos educacionais até os dias de hoje, dando prevalência à
aprendizagem cumulativa, que organiza os conteúdos partindo dos
mais simples para os mais complexos. Além disso, notou-se que o
interesse pelo conteúdo a ser estudado inuenciaria ̀ na construção do
conhecimento. (MALHEIROS, 2012, p. 17).
041
Perceba, caro(a) aluno(a), que a ideia de aprendizagem cumulativa, do mais simples ao
mais complexo, interfere completamente na organização dos currículos, legitimando a
proposta de ensino seriado, de modo que Piaget ganhou importância ímpar na área
educacional.
A expressão epistemologia genética não tem a ver com “gene”, “gen”, mas
com a “gênese” do conhecimento, ou seja, o conjunto de saberes
teóricos acerca de como o conhecimento nasce, como ele é
internamente construído.
Piaget destacou-se por propor que há uma relação intrínseca entre afetividade e
cognição, e que uma não acontece sem a outra; mas sua maior contribuição foi ter
comprovado que a aprendizagem é construída pelo aluno, e jamais transferida de
fora para dentro por outra pessoa: um professor ou alguém mais experiente que
o sujeito. Esta constatação se opõe completamente ao comportamentalismo e
inaugura a corrente construtivista de ensino. Nela o professor não é um controlador
do processo, mas um estimulador da construção do saber, a partir da criação de
situações que motivem o aluno a buscar respostas.
Piaget descobriu, por meio de suas investigações, segundo Malheiros (2012), que a
construção do conhecimento se dá por meio de dois processos: a assimilação e a
acomodação, que acontecem simultaneamente e de forma inter-relacionada em
nossa cognição.
Assimilação: o aprendiz identi�ca novos conceitos e busca, por meio de seus
conhecimentos anteriores, enquadrá-los em uma lógica, dar sentido a eles.
Acomodação: o novo conhecimento é acomodado quando se adéqua às
estruturas atuais, modi�cando-as, criando ainda novos esquemas.
Equilibração: o novo conhecimento busca sua acomodação na cognição do
sujeito, fortalecendo as estruturas cognitivas.
042
Para que você compreenda melhor todos esses processos que acontecem quando
aprendemos um novo conhecimento, presteatenção ao exemplo dado por Malheiros
(2012).
Tente pensar em uma criança que está aprendendo a nomear os animais. Ela conhece,
até este momento, o cachorro. Quando se depara com um cavalo ela exclama: “Nossa!
Que cachorro enorme!”. Isto porque ela possui estruturas cognitivas que fazem com
interprete o cavalo como um cachorro grande, já que ele também anda sobre quatro
patas, é marrom, tem rabo, focinho, etc. Este é um exemplo do processo de
assimilação; a criança acessou conhecimentos prévios para tentar dar sentido ao
novo conhecimento identi�cado.
043
Imagine agora que um adulto intervenha nessa situação e diga: “Aquilo não é um
cachorro, é um cavalo: é de outra espécie.” Então, a criança percebe que existem
algumas características que diferenciam os animais, criando uma nova estrutura
cognitiva, já que nenhuma estrutura consolidada identi�cou o cavalo. Assim acontece
o processo de acomodação, no confronto do conhecido com o novo.         
Nesse exemplo, os dois processos, assimilação e acomodação visam ao processo de
equilibração das estruturas cognitivas, que é a aprendizagem do conhecimento novo.
Observe o esquema que exempli�ca esses processos.
044
Fonte: (MALHEIROS, 2012, p. 19).
Piaget, ao explanar os processos de assimilação e acomodação do conhecimento,
prioriza as estruturas cognitivas em detrimento da aquisição de novos conteúdos,
explica Malheiros (2012). Desloca-se a ênfase dada à inteligência como demonstração
de retenção de conteúdos para a capacidade de alterar estruturas mentais.
Inteligência é, portanto, não o domínio de um conteúdo, como sustentava as
formas tradicionais de ensino. 
Observe, então, como isso revoluciona as formas de se pensar o ensino. Ensinar não
é transmitir conhecimentos, mas promover situações desequilibradoras da
cognição para que novas estruturas sejam formadas. Por isso, o ensino centrado
na fala do professor se desloca para a ênfase no aluno, porque é nele que o
conhecimento é construído, daí o nome construtivismo.
045
Assim como você encontrará atitudes comportamentalistas nas
instituições de ensino que você conhecerá em seus estágios, você
também encontrará muitas escolas dizendo-se construtivistas, e
algumas ações pedagógicas nesse sentido também (muito mais falas e
escritos teóricos do que ações, é verdade, porque a utilização da
metodologia construtivista implica na mudança total da estrutura da
escola que temos hoje, no geral).
Outra enorme contribuição de Piaget para a educação diz respeito às fases de
desenvolvimento da criança, organizadas por ele, e que ajudariam as escolas a
organizarem seus currículos de modo a considerar conteúdos para os quais as
crianças estejam cognitivamente preparas para aprenderem.
Veja:
Fonte: MALHEIROS, 2012, p. 20.
  Período Idade
1 Sensório-motor 0-2 anos
2 Pré-operacional 2-7 anos
3 Operacional concreto 7-11 anos
4 Operacional formal 11-15 anos
046
Vamos compreender um pouco dos estágios de desenvolvimento propostos por
Piaget, de acordo com Malheiros (2012, p. 20).
No período sensório-motor, que abrange os meses iniciais da vida da
criança, acontece a aprendizagem sensorial. Esta fase é responsável
pela base de conhecimentos e habilidades que serão demandadas
para futuras assimilações. Desta forma, a criança constrói o
conhecimento no uso dos reexos, ̀ coordenações e combinações
mentais.
No período pré-operacional, a criança já́ consegue se perceber
separada do mundo ligando-se ao concreto. Torna-se, portanto, capaz
de compreender uma situação completa, mas ainda não consegue
perceber por um ponto de vista que não seja o seu próprio. Esta fase é
caracterizada pela sensação de integralidade vivida pela criança, ou
seja, acontecimentos deixam de ser fatos isolados.
O período operacional concreto é marcado pelo pensamento
reversível e pelo entendimento de que as ações da criança repercutem
no meio no qual estão inseridas. Todavia, conforme o nome atribuído
ao período, a criança ainda não é capaz de desenvolver situações em
sua mente.
E o último período apresentado por Piaget é o período operacional
formal. Esta fase é caracterizada pela capacidade de o pensamento
reter o conhecimento e, em seguida, desenvolver situações
exclusivamente no âmbito mental.
É importante frisar que essa classi�cação ligando a idade da criança ao potencial de
aprendizagem não é algo estanque nem rígido, são parâmetros variáveis.
De posse desses conhecimentos, o professor pode pensar no método de ensino
adequado para a faixa etária de seus alunos e seu estágio de desenvolvimento.
Ao perceber, por exemplo, que aos oito anos de idade, a criança não é
capaz de abstrair uma situação, o método deveria valorizar o
concreto. Um exemplo seria o ensino das operações básicas na
matemática. Os números são uma abstração que representa uma
quantidade concreta. Se a criança não é capaz de abstrair, o
entendimento de uma operação será extremamente complicado, o
que pode ser contornado pela utilização de elementos reais em sala
de aula. Em vez de questionar qual o resultado da operação 2+2, seria
adequado questionar: se tenho duas laranjas e comprei mais duas,
047
com quantas laranjas quei? ̀ Melhor ainda se for possível utilizar as
laranjas para o ensino. (MALHEIROS, 2012, p. 20 - 21).
A abordagem construtivista pede métodos de ensino que proporcionem
desequilíbrio cognitivo: situações-problema reais a serem desenvolvidos, alunos em
grupos heterogêneos com relação ao desenvolvimento cognitivo, atividades práticas
que partam do que as crianças já sabem.
O construtivismo recebeu críticas de alguns estudiosos da educação no sentido de que
Piaget focou demasiadamente seus estudos nos processos internos da aprendizagem,
sem debruçar-se tanto sobre a importância das interações sociais na construção do
conhecimento. Veremos, na próxima aula, uma teoria pedagógica denominada
socioconstrutivismo que impõe maior peso às relações nos processos cognitivos.
Fonte: Disponível aqui
Assista ao vídeo do professor Yves de La Taille, professor da USP, um
dos expoentes dos estudos piagetianos no Brasil, sobre a teoria
construtivista do Piaget para a série “Grandes Educadores”.
048
https://www.youtube.com/watch?v=2OzhE4pX_ng
06
Foco no ensino -
O socioconstrutivismo 
(ou sociointeracionismo)
049
A corrente socioconstrutivista ou sociointeracionista é, juntamente com a
construtivista, a mais importante e inovadora teoria educacional surgida no século XX.
O expoente desta teoria é o russo Lev Vygotsky (1896-1934). Apesar de ter vivido
apenas 38 anos, seu legado teórico in�uenciou e in�uencia muitos países na
construção de seus sistemas educacionais.
Do mesmo modo que Piaget, Vygotsky não desenvolveu nenhum método de ensino.
Seu pensamento é fundamentado, segundo Malheiros (2012) na ideia de que a
aprendizagem está intimamente ligada às interações sociais realizadas pelo
indivíduo, que interferem mais do que questões biológicas na hora de aprender.
Você já deve ter ouvido falar nas irmãs indianas Amala e Kamala, conhecidas como
meninas-lobo. Tais meninas se comportavam como os animais que viviam e ilustram a
forma de Vygotsky compreender a importância das interações sociais para a
aprendizagem.
Fonte: MALHEIROS, 2012, p. 21.
Amala e Kamala �caram conhecidas como as meninas-lobo. Eram duas
meminas que viviam em estado selvagem e foram encontradas na Índia
em 1920. Quando foram encontradas, Amala tinha um ano e meio de
idade e Kamala tinha oito anos. Ambas cresceram junto a uma matilha
de lobos e por isso comportaam-se como estes animais. Andavam em
quatro apoios, não falavam, não sorriam, uivavam para a lua, etc.
Depois de resgatadas, foram levadas para um orfanato, no qual se
iniciaria o processo de socialização. Amala morreu alguns meses depois,
pela difícil adaptação. Kamala ainda viveu mais sete anos: levou seis
anos para aprender a andar e, ao morrer, com quinze anos de idade,
tinha um vocabulário de menos de cinquenta palavras.
050
Fonte: MALHEIROS, 2012, p. 22.
Para Vygotsky, a formação da pessoa acontece apenasna relação com o outro. Ele
rechaçava as teorias que apregoavam que o homem nasce com o conhecimento
potencial (inatismo) e as empiristas-comportamentalistas, que acreditam que os
estímulos adequados podem in�uenciar o desenvolvimento do sujeito, como vimos
em aulas anteriores.
De acordo com Malheiros (2014), Vygotsky dividiu o processo de aprendizagem em
dois: os elementares e os complexos.
Os processos elementares correspondem às atitudes inerentes à raça humana e,
sobre os quais, não se tem controle por estímulo (respirar, por exemplo). Os
complexos são fruto do processo de aprendizagem aliada ao desenvolvimento. Ler,
fazer contas, dirigir, dentre outras atividades, são processos complexos. (MALHEIROS,
2012, p. 22).
Além dos elementos mediadores entre o sujeito e o mundo, Vygotsky também propõe,
segundo Malheiros (2012), que o próprio sujeito é um mediador entre o estímulo
recebido e a resposta que é dada. Na perspectiva comportamentalista, como vimos,
o estímulo gera uma resposta. Já para o socioconstrutivismo, esta relação não é mais
linear, ou seja, é triangular. Para Vygotsky, entre o estímulo e a resposta está o sujeito.
Observe a imagem:
051
Zona de atividade proximal.
Para Vygotsky, a relação de uma pessoa com o mundo sempre acontece
por meio de uma ferramenta ou de um símbolo. A linguagem, por
exemplo, é uma estrutura simbólica de mediação. (MALHEIROS, 2012, p.
22).
Vygotsky, então, preconiza que o homem se relaciona com o mundo não diretamente,
mas de forma intermediária, por meio de signos e instrumentos. O papel da escola,
então, de acordo com Malheiros (2012), seria estimular interações entre as pessoas e
destas com um ambiente que proporcione o desenvolvimento intelectual. A escola
deve ser a instituição capacitada para que esse desenvolvimento ocorra.
Observe, por meio deste esquema, como acontecem os processos cognitivos da
aprendizagem acontecem.
Este esquema demonstra a suprema importância da mediação educacional para a
aprendizagem, em Vygotsky. O papel da cultura e dos símbolos é central na teoria
socioconstrutivista. Na escola, as crianças com habilidades ainda parciais vão
desenvolvê-las com a ajuda de um parceiro mais habilitado (professores), até
que tais habilidades passem de parciais para totais.
052
Vygotsky valoriza a linguagem como instrumento de comunicação e aprendizagem, já
que é por meio dela que há interação.
A linguagem é, antes de tudo, social. Portanto, sua função inicial é a
comunicação, expressão e compreensão. Essa função comunicativa
está estreitamente combinada com o pensamento. A comunicação é
uma espécie de função básica porque permite a interação social e, ao
mesmo tempo, organiza o pensamento. Para Vygotsky, a aquisição da
linguagem passa por três fases: a linguagem social, que seria esta que
tem por função denominar e comunicar, e seria a primeira linguagem
que surge. Depois teríamos a linguagem egocêntrica e a linguagem
interior, intimamente ligada ao pensamento. (RABELLO; PASSOS, 2013,
p. 8).
Vygotsky e Piaget foram contemporâneos, mas não estabeleceram diálogo entre suas
teorias. Há, no espaço acadêmico, muitas tentativas de con�uência e contraponto
entre os dois. Ambos, entretanto, estavam preocupados com a aprendizagem, sendo
que Piaget preocupou-se mais com elementos internos e Vygotsky preocupou-se mais
com as formas de mediação intencionais que devem acontecer para que o aluno passe
daquilo que ela ainda não sabe para o que ele pode vir a fazer.
Para J. Piaget, dentro da re�exão construtivista sobre desenvolvimento
e aprendizagem, tais conceitos se inter-relacionam, sendo a
aprendizagem a alavanca do desenvolvimento. A perspectiva
piagetiana é considerada maturacionista, no sentido de que ela preza
o desenvolvimento das funções biológicas – que é o desenvolvimento -
como base para os avanços na aprendizagem. Já na chamada
perspectiva sociointeracionista, sociocultural ou socio-histórica,
abordada por L. Vygotsky, a relação entre o desenvolvimento e a
aprendizagem está atrelada ao fato de o ser humano viver em meio
social, sendo este a alavanca para estes dois processos. Isso quer
dizer que os processos caminham juntos, ainda que não em paralelo.
(RABELLO; PASSOS, 2013, p. 4).
A ideia de que toda criança pode aprender, desde que a atuação na Zona de
Desenvolvimento Proximal aconteça de forma intencional pelo professor, traz para a
educação um caráter democrático, igualitário, não segregador.
053
Fonte: Disponível aqui
Assista ao vídeo da professora Marta Kohl de Oliveira, professora da
USP, um dos expoentes dos estudos vygotskyanos no Brasil, sobre a
teoria interacionista do Vygotsky para a série “Grandes Educadores”.
Você pode estar pensando como as concepções do modo de aprender e as correntes
pedagógicas estudadas até aqui in�uenciaram no pensamento e na prática
pedagógicos brasileiros. Na próxima aula, conversaremos sobre isso.
054
https://www.youtube.com/watch?v=T1sDZNSTuyE
07
O Ensino e a Aprendizagem no Brasil:
tendências pedagógicas 
liberais
055
O que são Tendências
Pedagógicas?
É sempre bom enfatizar: a prática escolar sofre inuências ̀ sociais e políticas que
reetem ̀ nas diversas concepções de homem e de sociedade, gerando diferentes
ideias sobre o papel da escola e do aluno, da aprendizagem, das relações e dos
métodos.
Você já deve ter ouvido alguém dizer: “Este professor é muito tradicional, não permite
que ninguém fale na aula dele”. Grande parte dos professores em sua prática adotam
técnicas pedagógicas das próprias vivências como aluno ou se espelham em colegas
de pro�ssão, com mais experiência. Sabe o que isso signi�ca? Que nas práticas
cotidianas na sala de aula, eles seguem pressupostos teóricos/metodológicos
implícitos. Há também os que entendem sua prática de modo mais amplo, e ainda
outros que aderem às tendências da “moda”, pouco se importando se possuem ou
não relação com as suas crenças (LIBÂNEO, 1998).
Agora, estudaremos essas abordagens pedagógicas que aconteceram ou acontecem
na atualidade nas escolas brasileiras, pela prática dos professores. Vale ressaltar que
alguns autores usam o termo abordagens pedagógicas, ao passo que outros preferem
chamar de tendências pedagógicas. É importante saber que ambos estão corretos e
usaremos os dois nesta unidade.
Fonte: Disponível aqui
Você pode ampliar os seus conhecimentos sobre as tendências
pedagógicas, assistindo ao vídeo “Tendências Pedagógicas”. De maneira
resumida e complementar, os esquemas apresentados podem ajudá-lo
na compreensão dos conceitos.
056
https://www.youtube.com/watch?v=HLZtZILFAps&feature=youtu.be
Essa temática pode parecer complexa, mas para que você compreenda melhor vamos
nos referir:
1. à posição que as tendências pedagógicas adotam em relação às circunstâncias
sociopolíticas da escola;
2. a como a Didática é entendida em cada tendência.
Muitas pesquisas são realizadas para identi�car as formas de perceber como o ensino
e a aprendizagem acontecem. Malheiros (2012, p. 23) esclarece que: “Nas duas últimas
décadas, várias teorias foram formuladas para esclarecer a história dos métodos de
ensino no Brasil. A classi�cação de Libâneo (1998) ainda parece ser a mais adotada.”
Observe.
Fonte: MALHEIROS, 2012, p.23
Classi�cação da corrente Modelo pedagógico
Não crítica (liberal)
Ensino tradicional
Pedagogia renovada
Ensino tecnicista
Dialética (progressista)
Pedagogia histórico-crítica
Pedagogia libertadora
De acordo com Malheiros (2012, p. 23, grifo nosso):
As correntes não críticas são de�nidas como aquelas que utilizam o processo
educativo visando à perpetuação do modelo social vigente. Nesta compreensão, a
diferenciação entre os modelos pedagógicos é dada pelo método escolhido, não pelo
�m do ato educativo. Já́ as correntes dialéticas são caracterizadas pelo foco em levar
o educando a construir um conhecimento que o torne passível de mudar a realidade
na qual está inserido.
Vamos explorar a princípio a Tendência Pedagógica Liberal.
057
As Tendências Pedagógicas Liberais
O foco das TendênciasPedagógicas Liberais ou Pedagogia Liberal é que a escola
deve preparar os indivíduos para desempenhar papéis sociais, seguindo as aptidões
individuais; o importante é que os sujeitos se adaptem aos valores e às normas da
sociedade de classes; assim, camua ̀ as diferenças de classes e desconsidera a
desigualdade de condições existentes. Libâneo (1998, p. 6) enfatiza que
“historicamente, a educação liberal iniciou-se com a pedagogia tradicional e, por
razões de recomposição da hegemonia da burguesia, evoluiu para a pedagogia
renovada”, mas não houve substituição de uma pela outra e ambas são ainda vistas na
prática escolar.
Temos quatro tendências da Pedagogia Liberal.
Tendência Pedagógica Liberal Tradicional
A primeira delas é a tendência tradicional, segundo a qual depende do esforço do
próprio aluno o alcance de sua plena realização como pessoa. Assim, aqueles com
menos potencial para as atividades escolares precisam se dedicar para superar suas
di�culdades e alcançar os “mais capazes”. A escola disciplina os alunos “[...] de acordo
com os padrões éticos e religiosos, incentivando a virtude” (CANDAU, 2010, p. 140).
Como a Didática é concebida nessa abordagem? Segundo Libâneo (2013), ela re�ete o
conjunto de regras e princípios que regem o ensino e é centrada no professor, que
explica a matéria – na maioria das vezes usando a exposição oral como único recurso.
Assim, o aluno é passivo, ao fazer exercícios repetitivos e ouvir a explicação do
professor consegue “gravar” o que lhe é ensinado para depois reproduzir nas provas.
O papel do aluno é memorizar o conteúdo ensinado, desvinculado de sua realidade;
assim, a aprendizagem é receptiva e não estimula a sua capacidade mental. Libâneo
(2013, p. 66) completa essa ideia ao a�rmar que:
A Didática tradicional tem resistido ao tempo, continua prevalecendo
na prática escolar. É comum nas nossas escolas atribuir-se ao ensino
a tarefa de mera transmissão de conhecimentos, sobrecarregar o
aluno de conhecimentos que são decorados sem questionamento, dar
somente exercícios repetitivos, impor externamente a disciplina e usar
castigos
058
Tendência Pedagógica Liberal Renovada
Outra tendência da Pedagogia Liberal é a tendência renovada, que também valoriza
o sentido da cultura para desenvolver as aptidões individuais, porém vê a educação
como um processo interno que parte dos interesses individuais para a adaptação ao
meio. A escola renovada valoriza o aluno como sujeito do conhecimento.
É importante saber que essa tendência inclui outras correntes: a tendência renovada
progressivista (ou pragmática) e a tendência renovada não diretiva.
A tendência renovada progressivista, difundida pelo movimento escolanovista,
desenvolveu-se nos Estados Unidos e teve como principal representante John Dewey.
No Brasil, as ideias desse educador foram marcantes na liderança de Anísio Teixeira e
outros educadores com o Movimento dos Pioneiros da Escola Nova, com atuação
importante na formulação da política educacional.
A Didática da Escola Nova valoriza o aluno como sujeito da aprendizagem,
identi�cando como papel do professor o de oferecer situações que partam da
necessidade e do interesse do aluno, para que assim ele possa por si mesmo buscar
conhecimentos. Você já percebeu que o centro das práticas educativas não é o
professor nem o conteúdo, e sim o aluno, concebido como um ser ativo.
De acordo com Haydt (2011, p. 25), a Escola Nova pretendia ser um movimento de
renovação pedagógico/didática que tentou aplicar na prática educativa e também “[...]
na organização escolar e nos procedimentos de ensino, as conclusões dos estudos das
ciências do comportamento. Mas ela não era apenas isso, pois trazia em seu interior
uma visão de homem e de mundo, isto é, uma concepção �losó�ca”.
Como o professor alia as situações de aprendizagem às necessidades individuais dos
alunos, a Didática, nessa tendência, valoriza os métodos e técnicas que possibilitem
atividades em grupo, pesquisa e experiências. Desse modo, Libâneo (2013, p. 67)
reforça que “os adeptos da escola nova costumam dizer que o professor não ensina;
antes, ajuda o aluno a aprender”.
059
Fonte: Disponível aqui
Assista ao documentário sobre um dos defensores da Escola Nova,
Anísio Teixeira, que pode ampliar sua visão sobre a tendência renovada
progressivista.
A tendência renovada não diretiva é “orientada para os objetivos de autorrealização
(desenvolvimento pessoal) e para as relações interpessoais, na formulação do
psicólogo norte-americano Carl Rogers” (LIBÂNEO, 1998, p. 22). Desse modo, valoriza
as relações e a comunicação, em detrimento da transmissão de conteúdos. Nessa
tendência, o aluno é o centro, que formará a sua personalidade e aperfeiçoará as
características que fazem parte da sua natureza, ao passo que o professor colabora
para as relações humanas e busca não interferir, como forma de aceitar o aluno na
sua plenitude.
Vamos agora conhecer a última tendência liberal? A tendência tecnicista visa à
preparação de mão de obra para a indústria. No Brasil, na década de 1950, ganhando
mais autonomia nos anos de 1960, foi imposta pelos órgãos o�ciais pelos interesses
econômicos, políticos e ideológicos do regime militar (LIBÂNEO, 2013).
Para melhor compreendê-la, partimos da ideia de que a indústria estabelece
(cienti�camente) metas econômicas, sociais e políticas; por isso, cabe à educação
treinar (cienti�camente também) nos alunos os comportamentos para atender a essas
metas. Assim, acredita-se que a realidade oferece as próprias leis, e cabe aos
indivíduos descobri-las e aplicá-las.
Neste contexto, a realidade não faz mais diferença, o que mais importa é a forma (as
técnicas) para a descoberta e aplicação. Portanto, a educação deve favorecer a
promoção do desenvolvimento econômico, e isso pode acontecer tanto pela
quali�cação da mão de obra e pelas questões de renda quanto pelo aumento de
produção. O importante é “planejar a educação e o ensino de maneira a evitar as
060
https://www.youtube.com/watch?v=ls-FoXhfM_Y
Tendência Renovada
 TRADICIONAL PROGRESSIVISTA NÃO DIRETIVA TECNICISTA
Aluno educado
para atingir plena
realização pelo
esforço próprio
Os conteúdos,
práticas
educativas e
relação
professor/aluno
não se aproximam
da realidade dos
alunos
Valorização da
palavra do
professor e das
regras impostas
Há o cultivo do
aspecto
intelectual,
pautado na
repetição e
memorização
Difundida pelos
pioneiros da Escola
Nova
Usa situações da
necessidade e do
interesse do aluno
para que assim ele
possa por si mesmo
buscar
conhecimentos
Prepara o aluno para
exercer o seu papel
na sociedade
Segue a ideia de
“aprender fazendo”,
e o aluno passa a ser
o centro do processo
ensino e
aprendizagem
Valoriza o
desenvolvimento
pessoal e as
relações
interpessoais
A escola deve
formar atitudes; a
preocupação é com
as questões
psicológicas
Menor importância
com os aspectos
pedagógicos e
sociais
O professor deve
ajudar o aluno a se
organizar,
sensibilizando-o
para que os
sentimentos
possam a�orar
Importância
voltada à
preparação de
mão de obra para
a indústria
As técnicas de
descoberta e
aplicação são mais
importantes que o
conteúdo da
realidade
A educação deve
contribuir para o
desenvolvimento
econômico
Os conteúdos são
sistematizados nos
manuais, livros
didáticos e outros
dispositivos
 
interferências subjetivas que possam pôr em risco sua e�ciência. Deve-se
operacionalizar os objetivos e, em certos aspectos, mecanizar o processo” (PILETTI,
2010, p. 28).
No tecnicismo o papel da Didática está relacionado à tecnologia educacional, com a
preocupação na e�cácia e na e�ciência do processo de ensino; ou seja, o foco é a
racionalização do ensino, por isso a separação entre teoria e prática �ca mais evidente.
O professor é concebido como um executor do planejamento.
Para que você compreenda melhor as principais características de cada tendência da
Pedagogia liberal, apontadas por Libâneo (1998), veri�que o quadro a seguir:
Tendências da Pedagogia Liberal. Fonte: Libâneo (1998).
061
Em nossa próxima aula,

Continue navegando