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O Brasil tem passado por diversos processos históricos, políticos e econômicos desde a época do descobrimento. Para que possamos compreender a atual organização da sociedade, vamos retroceder brevemente à época colonial para verificar de que modo nossas heranças portuguesas interferiram na formação social, cultural e econômica do nosso país. Este livro investiga os principais aspectos socioeconômicos, tendo como pano de fundo a história e a política brasileira, além de questões internacionais que interferiram no nosso processo de desenvolvimento. Temas como ciclos econômicos, evolução da mão de obra, guerras, crescimento industrial, capitalismo, crises econômicas, sistemas de governo, conflito de poderes e de interesses não podiam ficar de fora dessa discussão. Código Logístico 59077 Fundação Biblioteca Nacional ISBN 978-85-387-6569-1 9 7 8 8 5 3 8 7 6 5 6 9 1 Formação social e econômica do Brasil IESDE 2020 Nelita Buzzi © 2020 – IESDE BRASIL S/A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito da autora e do detentor dos direitos autorais. Projeto de capa: IESDE BRASIL S/A. Imagem da capa: Wagner Santos de Almeida CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ B996f Buzzi, Nelita Formação social e econômica do Brasil / Nelita Buzzi. - 1. ed. - Curitiba [PR] : Iesde, 2020. 106 p. : il. Inclui bibliografia ISBN 978-85-387-6569-1 1. Brasil - Civilização. 2. Brasil - Condições sociais. 3. Desenvolvimento econômico - Brasil. I. Título. 19-61865 CDD: 981 CDU: 94(81) Todos os direitos reservados. IESDE BRASIL S/A. Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 Batel – Curitiba – PR 0800 708 88 88 – www.iesde.com.br Nelita Buzzi Mestre em Gestão Empresarial pela Universidade Fernando Pessoa de Portugal (UFP), com reconhecimento pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Pós-graduada em Marketing pela UFP. Pós-graduada em Gestão Empresarial pela Fundação Getulio Vargas (FGV). Graduada em Ciências Econômicas pela Fundação Universidade Regional de Blumenau (FURB). Atuou como professora de graduação e pós-graduação e como coordenadora adjunta. Tem experiência em elaboração de projetos para EaD e em gerência administrativa, há 15 anos, na iniciativa privada. Sumário Apresentação 7 1 A herança colonial 9 1.1 A nossa herança colonial 9 1.2 Estrutura do governo brasileiro 16 1.3 A crise da República Velha 20 1.4 A Revolução de 1930: momento de transformações 22 2 O Estado Novo 27 2.1 Fases político-institucionais da Era Vargas (1930-1945) 27 2.2 Estado Novo x modelo nazifascista 32 2.3 A industrialização no Brasil durante a Grande Depressão 35 3 A Segunda Grande Guerra e o pós-guerra 41 3.1 A Segunda Guerra Mundial 41 3.2 O sistema de cooperação internacional 47 3.3 O pós-guerra e o crescimento industrial 48 3.4 O período de instabilidade de 1961-1963 52 4 Crescimento e desenvolvimento econômico 57 4.1 O período da ditadura militar (1964-1985) 57 4.2 A Nova República 63 4.3 Crescimento x desenvolvimento econômico 66 4.4 A industrialização do século XX 70 5 Sistema capitalista 79 5.1 Capitalismo 79 5.2 Subdesenvolvimento e crescimento populacional 83 5.3 Capitalismo contemporâneo 86 5.4 Grandes empresas e grandes sindicatos 87 6 Democracia e o Neoliberalismo 91 6.1 Democracia: definição e regime de governo 91 6.2 Ética e a democracia 94 6.3 Neoliberalismo e Liberalismo clássico 96 Gabarito 101 Apresentação Este livro investiga os principais aspectos socioeconômicos do Brasil, tendo como pano de fundo a história e a política, além de questões internacionais que interferiram no nosso processo de desenvolvimento. Temas como ciclos econômicos, evolução da mão de obra, guerras, crescimento industrial, capitalismo, crises econômicas, sistemas de governo, conflito de poderes e de interesses não podiam ficar de fora dessa discussão. O primeiro capítulo inicia tratando das heranças coloniais deixadas pelos portugueses, os principais ciclos econômicos e a estrutura do governo brasileiro. Identificamos a importância da chegada das empresas multinacionais no país e estudamos a República Velha, também conhecida como Primeira República (1889), o seu início, os presidentes que assumiram o país nesse período, sua crise e seu término em 1930. Entendemos, ainda, a Revolução de 1930, que foi um divisor de águas em nossa história, e o início do período chamado de Era Vargas. No segundo capítulo, detalhamos as fases da Era Vargas, suas principais características e seus feitos, além dos motivos que levaram Getúlio Vargas a renunciar em 1945. Estudamos também as definições de fascismo e nazismo, além do modo como essas ideologias autoritárias afetaram as decisões do governo brasileiro. Por fim, compreendemos a gravidade da Grande Depressão, que levou o mundo a sentir uma das maiores crises da história, e vemos as consequências dela para o Brasil. O terceiro capítulo trata da Segunda Guerra Mundial, dos países afetados e das consequências para os envolvidos. Aprendemos sobre a participação brasileira no conflito e os efeitos da guerra para o Brasil. Avaliamos os principais ataques e estudamos o período do pós- guerra, no qual surgiram organismos internacionais para auxiliar os países devastados. Ainda nesse capítulo, aprendemos sobre os governos pós-Vargas e suas principais contribuições para o Brasil. O quarto capítulo trata de um assunto que desperta atenção extra: o período da ditadura militar (1964-1985) no Brasil. Vemos como os militares chegaram ao poder, os presidentes nesse período, as consequências para o Estado brasileiro, o caminho para a abertura política e a chegada da Nova República. Avaliamos também os primeiros governos pós-ditadura e seus principais feitos. Finalizamos o capítulo identificando as diferenças entre crescimento e desenvolvimento econômico ao tratar da questão sobre a industrialização do século XX e as consequências para o Brasil. No quinto capítulo, vemos quais são os tipos de capitalismo e o novo capitalismo. Os estudos abrangem também questões sociais e o problema do crescimento populacional mundial. Finalizamos com a verificação de como surgiram os sindicatos brasileiros e a sua relação com empresas e o governo. Finalmente, no sexto capítulo, definimos democracia e suas formas. Aprendemos sobre o Liberalismo clássico e o Neoliberalismo e as principais diferenças entre essas duas doutrinas. Boa leitura! 1 A herança colonial Neste capítulo são abordadas, primeiramente, as principais heranças deixadas pelos portugueses desde a chegada a terras brasileiras, em 1500. Na sequência, são mostrados os principais ciclos econômicos do período, a estrutura do governo brasileiro, quais as esferas dos três poderes, a composição dos ministérios no atual sistema de governo e a importância do mercado internacional, principalmente no início da Revolução Industrial da Europa. Outro tema abordado é a chegada das empresas multinacionais ao Brasil e seus benefícios para o mercado interno, bem como os principais acontecimentos na República Velha, os presidentes do seu período e as causas que a levaram ao fim. Para finalizar, são apresentadas as transformações da década de 1930, o golpe de Estado, as principais realizações do Presidente Washington Luís, os acontecimentos que se seguiram após Getúlio Vargas tomar o poder e algumas ações importantes de seu governo. 1.1 A nossa herança colonial Desde o seu descobrimento, o Brasil passou por diversos processos históricos, culturais, de crescimento e de desenvolvimento econômico. Alguns foram consequências e adaptações de heranças deixadas pelos portugueses. Obviamente, a mais clara é a língua portuguesa, seguida da religião católica. Assim, herdamos não apenas a crença, mas também o calendário, rituais religiosos, festas e procissões relacionados ao catolicismo. O folclore popular e as festas juninas também foram introduzidospelos portugueses. Crenças, brincadeiras e danças como as cavalhadas, o bumba-meu-boi, o fandango e seres fantásticos – cuca, bicho-papão, lobisomem etc. – também fazem parte dessa herança. A viola caipira, conhecida no interior brasileiro, além de estilos artísticos como o barroco e o rococó, também são parte da herança deixada pelos portugueses. Na culinária, alguns pratos brasileiros nada mais são do que adaptações de pratos portugueses, por exemplo a feijoada, a bacalhoada e, inclusive, a cachaça. Todo esse legado descrito até aqui é positivo, mas parte da herança portuguesa também é negativa, conforme destaca Domingues (2006, p. 253). Apesar de várias coisas boas legadas dos portugueses, como a apaixonante língua e a boa culinária, também herdamos algo muito ruim e que vige até os dias atuais: o modo de administrar a “coisa pública”, os interesses coletivos e comuns, e a educação quanto ao respeito às regras de convivência social, leis e contratos. Quase nada mudou em nossa relação com o bem público, com as nossas autoridades, como se dá essa relação na administração do interesse coletivo. Formação social e econômica do Brasil10 Como vemos, o Brasil acabou herdando, ainda, algumas práticas reprováveis do ponto de vista ético. Entre elas, a questão de como lidar com o dinheiro público e, infelizmente, de lá para cá pouca coisa mudou, pois ainda persistem a ineficiência do Estado, a corrupção, os interesses de minorias, o pensamento jurídico atrasado e leis ultrapassadas. Além disso, os portugueses cometeram erros e, entre estes, um dos mais graves foi expulsar os judeus do Brasil e de Portugal por acumularem grande número de bens. Entre os judeus expulsos estavam estudiosos, comerciantes e financiadores das despesas do reino. Parte deles foi recrutada pela Espanha e, em seguida, pela Holanda; porém, não levou muito tempo para que fossem banidos desses lugares também, até que esses judeus expulsos saíram da Europa e fundaram nada mais nada menos que a cidade de Nova Iorque, hoje o maior centro financeiro do mundo (MIRANDA, 2010). A escravidão, por sua vez, também ajudou a transformar esse país continental, permitindo a miscigenação. Após 1850, quando o tráfico de pessoas escravizadas foi abolido no Brasil, o governo iniciou um processo de estímulo à imigração europeia. A Itália foi um dos países que teve maior interesse na imigração, com o objetivo de melhorar sua qualidade de vida. Em 1858, o Governo criou a Associação Central da Colonização, com o objetivo de engajar o imigrante. Essa colonização tornou-se cada vez mais seletiva para o colono, devido ao clima e aos locais de menor concentração escrava. Os europeus que chegaram, na sua grande maioria de origem latina, adaptaram-se facilmente ao meio, mas eram dotados de padrões de consumo mais elevados do que os nacionais, modificando o perfil socioeconômico da população e introduzindo novas técnicas de produção que resultaram em maior produtividade. No período mercantilista, o Brasil se tornou uma terra de oportunidades, passando a fornecer matérias-primas especialmente para países europeus. Entre esses insumos, havia vários tipos de riquezas, como produtos primários, inclusive metais preciosos como ouro e prata, que dependiam da mão de obra escrava. Porém, o fornecimento dessas riquezas estava muito aquém do que o Brasil poderia oferecer, e isso ocorria à mentalidade latifundiária e escravista dos fazendeiros, que impedia qualquer introdução de técnicas mais avançadas e eficientes de produção. 1.1.1 Primeiras explorações Assim que a primeira expedição exploradora retornou a Portugal, levando espécies nativas brasileiras de vegetais e animais, imediatamente despertou o interesse da Coroa, que estabeleceu de imediato essa exploração como seu monopólio, especialmente devido a uma espécie de planta: o pau-brasil. Ao se tornar conhecido na Europa, o pau-brasil e outras plantas despertaram interesse especial na Itália, Espanha e Holanda. Em razão do longo período de exploração, ele foi se tornando escasso e, consequentemente, seu preço subiu, o que fez seus compradores perderem o interesse comercial. Além do pau-brasil, haviam várias riquezas a serem descobertas, as quais atraíram outros países da Europa, como a França. Desde os primeiros anos do século XVI, conforme se pode constatar em escritos da época, a costa brasileira era frequentada e explorada por grupos europeus, nem sempre portugueses; eram ingleses, holandeses, espanhóis e, principalmente, franceses (GUERRA, 1996). Estes atracavam constantemente no litoral brasileiro, onde criaram A herança colonial 11 um relacionamento com os nativos da região (que preferiam os franceses aos portugueses). Foi nesse momento que os lusitanos iniciaram construções rústicas no litoral, a fim de mostrar, assim, seu domínio sob o solo brasileiro, dando início às primeiras produções da agroindústria açucareira extremamente rudimentar. Em 1534, Portugal não apresentava condições de investir na colonização do Brasil e, por isso, decidiu atribuir essa tarefa aos chamados donatários. Esse sistema, já conhecido por alguns países europeus, se caracterizava em dividir as terras e doá-las a donatários ou capitães (muitos financiados por capital estrangeiro), para os quais a Coroa cedia poderes para governar (no total, foram doadas 15 faixas de terra). Cada um desses imensos lotes de terra integraria o sistema de Capitanias Hereditárias. O donatário que recebesse o lote de terras não poderia vendê-lo, mas, era permitido repassá-lo a seus descendentes. Esse sistema, de certa forma, ajudaria os portugueses a manter prováveis invasores distantes. Durante os anos de 1500 a 1534 aconteceram fatos, na história do Brasil, com muitas controvérsias; a existência de poucos documentos fidedignos da época acaba por limitar a pesquisa histórica. O que temos de informação atualmente pode auxiliar nos entendimentos, porém, de maneira muito genérica. 1.1.2 Ciclos econômicos no Brasil Com o passar dos anos, os portugueses no Brasil foram reinventando e tentando novas alternativas de produção, que mais tarde foram denominadas ciclos. A seguir, veremos os ciclos pelos quais passou a produção brasileira e que, ainda, representaram a base econômica do país em diversos momentos históricos. O ciclo do pau-brasil (1500- 1530): ao chegarem em terras brasileiras, os portugueses estavam em busca de metais preciosos. Porém, após o desapontamento inicial, veio a descoberta dessa planta nativa. Eles perceberam seu valor devido à utilidade no tingimento de tecidos, bem como para a construção de algumas partes de embarcações navais, além do uso na construção civil, obtendo, com isso, valor comercial na Europa. Em um primeiro momento, os portugueses se utilizavam da mão de obra dos índios para o corte e transporte da planta em troca de objetos e armas (escambo). Mais tarde, passaram a escravizar essa mão de obra. Figura 1 – Imagem do tronco da planta pau-brasil vi si co u/ Sh ut te rs to ck Formação social e econômica do Brasil12 “Somente em 1605 é que através do regimento do pau-brasil, Portugal tentou evitar o desaparecimento da madeira. A partir de 1649, sua exploração passou a ser realizada mediante contratos com a Companhia de Comércio do Brasil”, conforme afirma Fazoli Filho (2001, p. 45, grifos do original). Após um longo período de exploração e quase extinção dessa planta, o que aumentou seu valor no mercado europeu, iniciou-se um período de desinteresse por ela, fato gerador do início de um novo ciclo: o da cana-de-açúcar. • O ciclo da cana-de-açúcar: como os portugueses já plantavam a cana-de-açúcar em outros locais, eles tinham domínio das técnicas de plantio e conheciam o mercado europeu para exportação. Também foi nesse período que se iniciou o tráfico negreiro de escravizados africanos, visto que alguns indígenas não resistiam a esse tipo de exploração e fugiam, os quais, na maioria das vezes, não eram encontrados.Toda a produção açucareira estava atrelada ao mercado externo; com isso, a renda da produção era acumulada fora do país, especialmente em Portugal e Holanda, que, por sua vez, trouxeram ao Brasil novos tipos de cana e melhorias aos engenhos. A partir de 1654, os holandeses partiram do país, levando as técnicas de produção. Com capital disponível nas mãos e técnicas aperfeiçoadas, passaram a produzir, por conta própria, uma cana-de-açúcar de melhor qualidade e preços competitivos em toda a Europa. A partir do século XVII, a economia açucareira brasileira sofria um duro revés, do qual nunca mais conseguiu se recuperar no mercado internacional. Figura 2 – Colheita da cana-de-açúcar D ea w SS /S hu te rs to ck A herança colonial 13 • O ciclo do ouro: teve seu início no século XVII, quando as exportações do açúcar diminuíam vertiginosamente em virtude da concorrência externa. Nesse mesmo período, os portugueses encontraram algumas jazidas minerais nos estados de Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso. Segundo Lacerda et al. (2004, p. 18-19): A descoberta pelo ouro havia alimentado a fantasia lusa de que todo o território estaria repleto de jazidas auríferas, e essa esperança permaneceu viva durante os dois séculos de exploração. Comprovando às várias expedições que, desde o início, tinham se embrenhado mata adentro. Muitos membros dessas empreitadas pagaram com a própria vida a ousadia, pois quase todos se perderam, vítimas dos índios ou da própria natureza. O ciclo do ouro resultou em pobreza e desigualdade social. Ao final do período, a população estava vivendo da agricultura de subsistência. Figura 3 – Visão aérea de minas de ouro na região da Amazônia Ta rc is io S ch na id er /S hu tt er st oc k • O ciclo do algodão: também chamado de “ouro branco”, teve um papel extremamente importante na economia, em virtude da sua utilização na indústria têxtil, o que atraiu fortemente, mais uma vez, o mercado europeu. O principal fator de propulsão a este ciclo econômico foi a Revolução Industrial Inglesa, que demandava produtos têxteis. Além de atender ao mercado externo, o algodão também era utilizado para produção de redes feitas pelos indígenas, bem como nas vestimentas dos escravos. O algodão foi explorado principalmente na região Norte do país; em outras regiões também, porém, em Formação social e econômica do Brasil14 menor quantidade. Nesse período também foram produzidos: tabaco, cacau, arroz etc., todos para atender ao mercado externo. Com o avanço do cultivo de café, a produção de algodão deixou de ser o produto mais exportado do país; entretanto, sua importância para a economia brasileira prevalece até os dias atuais. Figura 4 – Colheita de algodão Al f R ib ei ro /S hu tt er st oc k • O ciclo do café: também chamado de “ouro negro”, o café foi introduzido no Brasil em 1727, com sementes e mudas de Caiena, capital da Guiana Francesa. Plantado inicialmente no Pará e depois na região Sul, onde se expandiu em grande escala, em 1767 já era exportado para os países da Europa (FURTADO, 1988). Esse ciclo teve início no século XVIII e seu auge foi durante o século XIX. O cultivo de café ainda utilizava a mão de obra escrava e, nesse período, chegaram imigrantes italianos ao Brasil para trabalhar nas lavouras no sistema de monocultura. Assim, a cafeicultura brasileira chegou a exportar 50% do consumo mundial. A abolição da escravatura em 1888 gerou forte crise na produção de café. Outro fator que afetou esse ciclo foi a demanda externa, a qual não acompanhava o crescimento da produção interna, fazendo cair o preço do grão. No ano de 1906, os “presidentes” dos estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais (que após Getúlio Vargas passaram a se chamar interventores) criaram o Convênio de Taubaté, com o objetivo de garantir a lucratividade do café – mantendo um preço mínimo afirmado por eles. Porém, esse ônus não pôde ser mantido pelos então presidentes. Com a eleição de Afonso Pena A herança colonial 15 (1906-1909), essa situação foi assumida pelo Governo Federal. O resultado dessa política foi desastroso e, em 1929, com a quebra da bolsa de Nova Iorque, os preços do café brasileiro despencaram. A partir de 1930, com a revolução comandada por Getúlio Vargas, a política de valorização do café não foi totalmente abandonada; com o objetivo de apoio político dos cafeicultores, Getúlio Vargas manteve a política de sustentação de preços, comprando e queimando, parcialmente, as safras. Figura 5 – Imagem de colheita de café Ch ris ce li/ Sh ut te rs to ck • O ciclo da borracha: o látex, substância retirada da seringueira e que servia de base para a produção de diversos produtos, era encontrado na região Norte do país, principalmente no Amazonas, Rondônia e Pará – com 40% da produção sendo proveniente da Amazônia, responsável por boa parte do desenvolvimento da região. Nesse período entre 1890 e 1920, as cidades de Manaus, Porto Velho e Belém foram consideradas as capitais brasileiras mais desenvolvidas, visto que possuíam eletricidade, água encanada, sistema de esgoto, museus e cinemas, em consequência das exportações no período da Revolução Industrial europeia (1879). Segundo Claudio (2011), foram contrabandeadas, em 1877, mais de 70 mil sementes de seringueira do Pará para a Inglaterra. Em 1910, a Ásia, utilizando as sementes contrabandeadas, passou a produzir borracha a custos muito menores do que os brasileiros, paralisando a economia nas regiões produtoras do Brasil. Isso gerou uma forte crise no setor e estimulou outros países, como a Holanda e a Inglaterra, a entrarem no mercado mundial da borracha. Formação social e econômica do Brasil16 Entre 1942 e 1945, houve um novo ciclo da borracha e, mais uma vez, a borracha amazônica não foi párea para o novo modo de produção de borracha sintética. Aos poucos, a exploração foi enfraquecendo e, com isso, chegou ao seu fim no início dos anos 1960. Figura 6 – Imagem de extração do látex de seringueira Ya tr a/ Sh ut te rs to ck Como vimos, o Brasil viveu diversos momentos em que sua base era uma forma de produção; esses momentos são chamados de ciclos produtivos, os quais constituíram nossa base econômica e deram sustentação aos diferentes projetos desenvolvimentistas nos diversos contextos históricos pelos quais passamos. Segundo Furtado (1988, p. 62), no final do século XVIII, a conjuntura internacional tornou-se favorável aos produtos agrícolas brasileiros de exportação que preencheram os vazios deixados pelo término dos ciclos. Enquanto a Revolução Industrial marchava a passos largos na Europa, o que levou a um aumento nas populações urbanas, demandou mais alimentos e matéria-prima, surgindo assim condições favoráveis às exportações brasileiras para atender a essa crescente demanda. Durante muitos anos tiramos proveito da demanda internacional por nossos produtos. Porém, essa forma de economia, ancorada em apenas uma forma de comércio, era arriscada, pois, se por algum motivo diminuísse a demanda externa, teríamos prejuízo com nosso excedente de produção; foi isso o que aconteceu no caso das crises cafeeiras. 1.2 Estrutura do governo brasileiro O Brasil é uma República Federativa Presidencialista formada pela União, estados e municípios, nos quais o exercício do poder é atribuído a órgãos independentes. Há, no país, A herança colonial 17 três poderes que atuam de modo independente, mas que podem se relacionar entre si: Poder Executivo, Legislativo e Judiciário. A divisão dos três poderes em Executivo, Legislativo e Judiciário foi determinada pela Constituição de 1988. Cada poder tem as seguintes atribuições: • Poder Executivo O Poder Executivo é exercido nas esferas federal, estadual e municipal representado pelo Presidente da República, pelo Governador do Estado e pelo Prefeito do Município, respectivamente. É o Poder Executivo que aprova as leis que lhe forem enviadas do Legislativo. O Executivo ainda acumula asfunções de representar o Brasil no exterior, sancionar as leis aprovadas pelo Legislativo e administrar o governo. • Poder Legislativo O Poder Legislativo é exercido por senadores e deputados federais (em nível federal), deputados estaduais (nível estadual) e vereadores (municipal). Suas principais funções são fiscalizar, criar e aprovar leis em benefício da sociedade. • Poder Judiciário Ao Poder Judiciário cabe interpretar as leis criadas pelo Poder Legislativo e aprovadas pelo Executivo. Assim: O Poder Judiciário [...] é um dos três poderes expressamente reconhecidos no art. 2º da Constituição Federal. Nosso País adota o sistema de unicidade de jurisdição, que significa que somente o Poder Judiciário tem jurisdição. Ou seja, somente esse Poder pode dizer, em caráter definitivo, o direito a ser aplicado aos casos trazidos a sua apreciação. (TJDFT, 2019, p. 5) Atualmente, o Governo Federal do Brasil é composto de 22 órgãos ministeriais, dos quais há 16 ministérios, quatro vinculados à Presidência da República (Casa Civil, Secretaria do Governo, Secretaria-Geral e Gabinete de Segurança Institucional), além da Advocacia-Geral da União (AGU) e do presidente do Banco Central. Dependendo da necessidade, o número de ministérios pode ser alterado (aumentado ou diminuído) sob determinação do Presidente da República. Quadro 1 – Atual configuração ministerial no Brasil 1. Agricultura, Pecuária e Abastecimento 2. Cidadania 3. Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações 4. Defesa 5. Desenvolvimento Regional 6. Economia 7. Educação 8. Infraestrutura 9. Justiça e Segurança Pública 10. Meio Ambiente 11. Minas e Energia 12. Mulher, Família e Direitos Humanos 13. Relações Exteriores 14. Saúde 15. Turismo 16. Controladoria-Geral da União 17. Secretaria de Governo 18. Secretaria-Geral 19. Advocacia-Geral da União 20. Banco Central do Brasil 21. Casa Civil 22. Gabinete de Segurança Institucional Formação social e econômica do Brasil18 As divisões internas do território ocorreram por motivos históricos e político- administrativos. No final do século XIX, praticamente todos os estados estavam com sua configuração atual (exceto por algumas modificações que ocorreram depois). Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2011), a evolução da divisão territorial do Brasil se deu a partir de 1872. De acordo com o Instituto, esses são alguns dos principais pontos dessa evolução: • 1903: foi anexado o Acre (território). • 1943: cinco territórios, Guaporé, Rio Branco, Amapá, Ponta Porã, Iguassú. • 1977: divisão do antigo Mato Grosso em Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. • 1988: divisão do antigo estado de Goiás, passando a existir Goiás e Tocantins. Figura 7 – Divisão dos estados brasileiros em 1889 Amazonas Mato Grosso Goiás Pará Maranhão Piauí Ceará Rio Grande do Norte Paraíba Pernambuco Alagoas Sergipe Bahia Minas Gerais Espírito Santo Rio de Janeiro São Paulo Paraná Santa Catarina Rio Grande do Sul Fi lip B jo rk m an /S hu tt er st oc k Áreas não pertencentes ao território brasileiro em 1889 Fonte: adaptada de Tubs/Wikimedia Commons, 2015. A herança colonial 19 Nesse mapa, percebemos que, em 1889, o Brasil possuía apenas 20 províncias, as quais sofreram alterações com o passar do tempo. Atualmente, o Brasil é composto por 27estados, sendo 26 unidades da federação e o Distrito Federal. O Brasil é um país culturalmente agrícola; possui uma vastidão de áreas com várias produções distintas. A chegada da industrialização no Brasil favoreceu a produtividade, o crescimento e o desenvolvimento econômico, porém, a agricultura passou a utilizar novas técnicas de cultivo e produção, sendo esta um segmento forte na exportação e, consequentemente, muito importante na economia brasileira. A transição do Estado brasileiro para o modo de produção capitalista foi um processo longo e doloroso. A participação ainda tímida de capital estrangeiro na indústria e agricultura atendia a apenas uma parte limitada da população (LACERDA et al, 2004). Segundo Furtado (1988), o censo realizado em 1920, mesmo considerando algumas oficinas como indústrias, revelou um total de 13.336 estabelecimentos de pequeno e médio portes. Embora o período registre a instalação de pequenas indústrias – distribuídas por diversas cidades – dirigidas para o consumo local, São Paulo tornou-se o maior centro industrial do país, concentrando 33% da produção nacional. A crise de 1929, conhecida como a Grande Depressão, desencadeada com a quebra da Bolsa de Valores de Nova Iorque, provocou queda na taxa cambial, aumentando o preço dos produtos importados e aquecendo o mercado interno, o que estimulou a indústria brasileira. Nesse período, as exportações de café caíram fortemente devido aos mercados acionários e ao decréscimo na renda, os quais levaram, consequentemente, a uma queda no consumo, desfavorecendo as exportações do café. Para não quebrar a produção cafeeira, o governo brasileiro interviu comprando milhares de sacas e as queimando para elevar o preço do produto. Com a diminuição nas vendas de café e o aumento no consumo de produtos industrializados e produzidos no país, alguns cafeicultores passaram, então, a investir em produções industriais. A partir de 1938, houve um crescimento intencional; o governo passou a subsidiar alguns segmentos estratégicos que poderiam fortalecer a economia. O grande marco inicial foi a construção da Usina de Volta Redonda, em 1946. O governo também tomou frente em alguns outros segmentos, áreas em que a iniciativa privada estava ainda impossibilitada de assumir, tais como a siderurgia, mineração e energia – incluindo a petrolífera. O Brasil é um país de proporções continentais e, assim como boa parte dos países no mundo que têm essa característica, não possui um desenvolvimento econômico harmonioso. Prova disso foi a indústria açucareira no Nordeste, no início do século XX, em seu estado letárgico, enquanto Sul e Sudeste atraíam nordestinos em busca da melhor qualidade de vida. Mesmo com altos investimentos governamentais, a renda per capita da região Nordeste não acompanhava a taxa de outras regiões do país. Alguns fatores foram responsáveis por esses resultados, como: situação físico-climática, fatores geográficos e as condições socioeconômicas, dificultando a instalação de indústrias que requeriam mão de obra qualificada. Formação social e econômica do Brasil20 Além das regiões Norte e Nordeste, outras áreas refletiam desníveis de desenvolvimento regional, como alguns bairros do Rio de Janeiro e São Paulo. Algumas regiões do país apresentavam uma perspectiva de maior crescimento econômico em razão de seus recursos naturais, como o caso de toda a região Sul (Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul). O Brasil sempre foi atrativo para investidores externos, seja pelas suas reservas naturais, disponibilidade de mão de obra barata, seja pela estabilidade política e pelo potencial mercado interno. No final do século XIX, o governo procurou atrair mais investimentos estrangeiros nos setores de produção de bens de capital (por exemplo, o aço) e de consumo durável (por exemplo,automóveis). Várias foram as contribuições das empresas multinacionais para o Estado brasileiro, dentre elas, podemos citar: • transferência de tecnologias; • oferta de mão de obra; • novos sistemas mercadológicos; • crédito internacional; • receita fiscal. 1.3 A crise da República Velha A República do Brasil passou por diferentes divisões ao longo de sua história e, assim, recebeu diversas denominações: República Velha (1889-1930); República Nova ou Era Vargas (1930-1945); e República contemporânea (1945 até os dias atuais). A República Velha, também conhecida como Primeira República, ficou conhecida pela força das oligarquias. Teve seu início em 15 de novembro de 1889, data da Proclamação da República, e se estendeu até a Revolução de 1930, tendo a crise da República Velha se iniciado em 1922.O Brasil, que até então era um império, passou, a partir dessa data, a ser República e, com isso, 13 presidentes assumiram o poder (além de outros dois eleitos que não assumiram a função: Rodrigues Alves e Júlio Prestes). Os presidentes eleitos que assumiram mandato no período são: Quadro 2 – Presidentes eleitos na República Velha 1. Deodoro da Fonseca (1889-1891); 2. Floriano Peixoto (1891-1894); 3. Prudente de Morais (1894-1898); 4. Campos Sales (1898-1902); 5. Rodrigues Alves (1902-1906); 6. Afonso Pena (1906-1909); 7. Nilo Peçanha (1909-1910) 8. Hermes da Fonseca (1910-1914); 9. Venceslau Brás (1914-1918); 10. Delfim Moreira (1918-1919); 11. Epitácio Pessoa (1919-1922); 12. Artur Bernardes (1922-1926); 13. Washington Luís (1926-1930). Fonte: Boris, 2004. A herança colonial 21 Vejamos, a seguir, alguns dos principais momentos históricos da República Velha: • derrubada da monarquia e Proclamação da República, em 1889; • Marechal Deodoro da Fonseca toma posse como primeiro Presidente da República; • após Marechal Deodoro renunciar em 1891, Floriano Peixoto assume o poder (também militar); • principal produto de exportação: o café; • grande aumento da imigração europeia, principalmente italiana, alemã e espanhola. 1.3.1 Práticas de mando utilizadas na República Velha A República Velha é facilmente lembrada pelo poder da oligarquia sobre o país, representada por práticas como o mandonismo, o coronelismo e o clientelismo. • Mandonismo: existe até hoje em regiões remotas do país. Grandes proprietários de terra exercem poder sobre a população local; um domínio pessoal que a impede de ter livre acesso ao mercado e à sociedade política. • Coronelismo: trata-se do poder que era exercido por grandes proprietários de terra sobre a população local, exigindo votos ao Governo Federal em troca de cargos públicos e, ainda, mediante ameaças. Durante as eleições, os favores e ameaças tornavam-se a “democracia” do país. • Clientelismo: uma entidade politicamente superior realizava um favor à outra inferior, em troca de algum benefício. O clientelismo é a porta da corrupção política, sendo o sistema com as maiores irregularidades políticas. O período da República Velha foi caracterizado pela alta desigualdade social, trabalho majoritariamente rural, instabilidade política, revoltas e insatisfação de várias camadas populares. A crise da República Velha iniciou em 1922 e finalizou com a Revolução de 1930, tendo como principais causas: • a queda do prestígio do café; • avanços de manifestações de operários; • crise na bolsa de valores de Nova Iorque, em 1929. 1.3.2 O final da República Velha A República Velha teve seu fim com a crise das oligarquias rurais, juntamente com a crise mundial. Foi caracterizada pelo autoritarismo, desigualdade social, tensões sociais e inúmeras revoltas. Segundo Napolitano (2014), a República Velha pode ser organizada da seguinte forma: • Consolidação (1889-1898): início e fixação das práticas do governo. • Institucionalização (1898-1921): auge da primeira República, práticas políticas estabelecidas. Formação social e econômica do Brasil22 • Crise (1921-1930): desequilíbrio na oligarquia e surgimento de novas figuras políticas. No ano de 1899, o estado de Minas Gerais e São Paulo firmaram um acordo que ficou conhecido como “Política do Café com Leite”1. Esse acordo determinava uma alternância e predominância no poder nacional dos políticos desses estados. Na disputa eleitoral de 1930, Minas Gerais e São Paulo quebraram esse acordo e lançaram diferentes candidatos à Presidência. Com isso, São Paulo lançou Júlio Prestes como seu candidato, enquanto Minas Gerais lançou Getúlio Vargas. Os apoiadores de Vargas rebelaram-se quando seu vice, João Pessoa, foi assassinado. Houve uma revolta que resultou na queda do Presidente Washington Luís. No entanto, o governo foi entregue pelos militares a Getúlio Vargas. Júlio Prestes, vice de Washington Luís, foi impedido de assumir a Presidência. 1.4 A Revolução de 1930: momento de transformações A Revolução de 1930 foi um dos principais acontecimentos do período republicano. Um divisor de águas entre a República Velha e a Era Vargas. Na época, como vimos anteriormente, as duas principais oligarquias, a de São Paulo e Minas Gerais, alternavam o poder. Porém, nas eleições de 1930, o então Presidente Washington Luís deu um fim a esse esquema, indicando outro paulista para sucedê-lo nas eleições: Júlio Prestes. Tendo essa atitude, os mineiros romperam relações com os paulistas. A revolução foi um movimento de revolta político-militar que tirou do poder – por meio de um Golpe de Estado – o Presidente Washington Luís, dando um fim ao sistema oligárquico por meio da utilização de armas. A crise de 1929, que chegou aos quatro cantos do mundo, atingiu também a economia brasileira, gerando desemprego e, consequentemente, dificuldades econômicas para a sociedade brasileira. Essa situação contribuiu para a reprovação do populismo do então Presidente Washington Luís. Como sua situação estava ficando cada vez mais crítica e ele não pretendia renunciar ao poder, em 1930, chefes militares da marinha e do exército depuseram o Presidente, instalaram uma junta militar e, em seguida, transferiram o poder para Getúlio Vargas. Em menos de um mês a revolução já era vitoriosa em quase todo o país, estando apenas São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia e Pará ainda sob o controle do Governo Federal. A Revolução de 1930 teve fundamental importância para a economia brasileira, marcando o final da República Velha e a abertura de um novo período histórico – que se iniciou com a industrialização, muito embora, por várias décadas seguintes, o Brasil tenha continuado a possuir uma produção agrícola maior que a industrial, o que se reverteu somente em 1956. Segundo Bertolli Filho (2009), se encontram, a seguir, algumas das principais realizações do Presidente Washington Luís: 1 Esse nome refere-se ao fato de que, na época, Minas Gerais era um grande produtor nacional de Leite e São Paulo de café. A herança colonial 23 • fechou prisões destinadas a presos políticos, e estes receberam anistia2 política; • investiu principalmente na construção de estradas e rodovias; • em 1928, criou a Polícia Rodoviária Federal; • com a quebra da bolsa de Nova Iorque, o preço do café caiu a ponto de criar uma crise política entre o Governo e os cafeicultores que demandavam uma valorização do produto – Washington Luís não atendeu a essa demanda. Foi no golpe que derrubou Washington Luís e impediu o candidato eleito de assumir a Presidência – nas eleições de 1930 – que Getúlio Vargas assumiu o poder provisoriamente. Em 1934, Vargas foi eleito pela assembleia constituinte e, com a ajuda de militares, conseguiu manter- se no poder até 1945. Durante esse período, foram intensos os investimentos na industrialização e no comércio, caracterizando essa fase como a de fortalecimento do governo. A indústria passa a ter papel relevante na economia brasileira, surgindo o capitalismo moderno que, por várias décadas, assegurou a indústria no cenário internacional. O indiscutível legado desse período foi liderado por Getúlio Vargas, chefe de governo responsável pela montagem de um cenário de desenvolvimento que começou na década de 1930 e se estendeu até o início dos anos 1980. Vargas buscava popularidade e, com isso, algumas transformações de seu governo, que se refletem até os dias atuais, o ajudaram a alcançar esse objetivo. Vejamos algumas delas: • em 1930, criou o Ministério da Educação e Saúde Pública; • em 1931, efetivou o ensino secundário e superior no Brasil; • instituição do voto secreto e do voto feminino; • intervenção do estado na economia; • criação da justiça eleitoral, leis trabalhistas como salário-mínimo, férias, aposentadoria etc. Várias outras ações também foram muito importantes neste período, dentre elas: • manifesto dos pioneiros da educação nova (melhoria da educação no país); • publicaçãoda nova Constituição Federal em 1934, a qual determinava a educação como direito para todos os brasileiros; • em 1937, outorgamento da próxima Constituição Federal, que visava orientar a educação para atender à demanda da economia; e a permissão para que o ensino fosse oferecido de forma pública e privada; • em 1942, criação do Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial). Nesse período, Vargas criou o DIP (departamento de imprensa e propaganda) para tratar de assuntos sobre sua pessoa/imagem – o que fortaleceu ainda mais seu populismo. As leis trabalhistas, criadas pelo então presidente, também aumentaram sua popularidade e deram a ele a fama de “pai dos pobres”, conquistando milhões de pessoas. 2 Anistia: Ato pelo qual o poder público declara impuníveis por motivo de utilidade social, todos quantos, até certo dia, perpetraram determinados delitos, em geral políticos. Perdão em sentido amplo. Formação social e econômica do Brasil24 O DIP investiu na imagem da República Velha como o passado que deve ser deixado para trás e, por outro lado, investiu na imagem do Estado Novo como símbolo do desenvolvimento e progresso do país. Considerações finais Neste capítulo, tivemos a oportunidade de estudar as principais heranças trazidas pelos portugueses ao Brasil, vendo como principais a língua portuguesa e a religião católica. Também analisamos os principais ciclos econômicos desde a época do Brasil colônia até meados do século XX. São eles: ciclo do pau-brasil, ciclo da cana-de-açúcar, ciclo do algodão, ciclo do café e ciclo da borracha. Em seguida, percebemos a estrutura do governo brasileiro, dividida em União, estados e municípios, bem como em Poderes: Executivo, Legislativo e Judiciário. Além disso, conhecemos os presidentes do Brasil desde 1889 até 1930, sabendo o que aconteceu na República Velha e as causas da queda do Presidente Washington Luís. Apresentamos, ainda, o momento de transformação do Brasil na década de 1930, a queda nos preços do café, a importância da industrialização no Brasil e os benefícios que as indústrias trouxeram no período do governo de Getúlio Vargas. Com o conhecimento deste capítulo, teremos subsídios suficientes para seguir adiante e, assim, vermos, no Capítulo 2, conteúdos sobre o Estado Novo. Nele serão tratadas questões políticas da Era Vargas, a fase de industrialização da produção brasileira e o período da Grande depressão. Ampliando seus conhecimentos • ANOS 20 > Revolução de 30. Disponível em: https://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/ AEraVargas1/anos20/Revolucao30. Acesso em: 1 set. 2019. Neste site, o aluno poderá identificar mais personagens políticos que fizeram parte desse período da história política do Brasil e, do mesmo modo, a elaboração do plano para a tomada do comando do Presidente Washington Luís. • MEIRELLES, Domingos. 1930: os órfãos da Revolução. 3. ed. São Paulo: Record, 2005. Neste livro, o jornalista Domingos Meirelles mostra um pouco da história dos conflitos que aconteceram desde 1924; trata, especialmente, sobre a questão do poderio militar e a Revolução de 30, também chamada de momento de transformação. A herança colonial 25 Atividades 1. Cite algumas das principais heranças deixadas pelos portugueses e qual a sua influência até os dias atuais. 2. O Brasil passou por vários ciclos produtivos. Cite os principais, as causas que os levaram ao declínio e a importância econômica de cada ciclo para o Brasil. 3. Como é a divisão de poderes no Brasil e qual é o seu papel dentro do nosso sistema político? Referências BERTOLLI FILHO, C. A República Velha e a Revolução de 30. São Paulo: Ática, 2009. CLAUDIO, I. O homem que roubou a borracha do Brasil. Isto É, 26 ago. 2011. Disponível em: https://istoe. com.br/154500_O+HOMEM+QUE+ROUBOU+A+BORRACHA+DO+BRASIL/. Acesso em: 11 out. 2019. FAZOLI FILHO, A. Formação econômica do Brasil. São Paulo: Letras & Letras, 2001. FURTADO, M. B. Síntese da economia brasileira. Rio de Janeiro: LTC, 1988. GUERRA, E. A presença francesa no Nordeste do Brasil no século XVI: uma contribuição da história à arqueologia. Coleção Arqueologia, Porto Alegre, EdiPUCRS, v. 1, n. 1, p. 79-95, 1995-1996. Disponível em: http://www.brasilarqueologico.com.br/download.php?file=publicacoes/1995/A%20presen%C3%A7a%20 Francesa%20no%20Nordeste%20do%20Brasil%20no%20S%C3%A9culo%20XVI%20(trabalho).pdf. Acesso em: 11 out. 2019. IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Publicação aborda evolução da divisão territorial brasileira de 1872 a 2010. Agência IBGE Notícias, Rio de Janeiro, 9 dez. 2011. Disponível em: https:// agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-sala-de-imprensa/2013-agencia-de-noticias/releases/14147-asi- publicacao-aborda-evolucao-da-divisao-territorial-brasileira-de-1872-a-2010. Acesso em: 11 out. 2019. LACERDA, A. C. de. et al. Economia brasileira. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2004. MIRANDA, J. D. Nossa herança colonial e consequências até os dias atuais. Revista Jus Navigandi, Teresina, v. 15, n. 2620, 3 set. 2010. Disponível em: https://jus.com.br/artigos/17319/nossa-heranca-colonial-e- consequencias-ate-os-dias-atuais. Acesso em: 14 ago. 2019. NAPOLITANO, M. História do regime militar brasileiro. São Paulo: Contexto, 2014. 2 O Estado Novo Este capítulo trata do Estado Novo, das três fases institucionais da Era Vargas e os principais acontecimentos de cada uma, bem como do período em que Getúlio Vargas governou o país, analisando suas principais características. Será estudada, também, a importância do Estado Novo e as principais ações do governo Vargas durante o período. Dando prosseguimento, serão indicadas as principais diferenças entre o nazismo e o fascismo e as comparações com o Estado Novo, observando a questão da preferência por apoio político de Getúlio Vargas na Segunda Guerra Mundial e o porquê de ele apoiar os Estados Unidos. Outra parte muito importante deste capítulo refere-se à importância da industrialização do Brasil no período da Grande Depressão de 1929, momento em que as exportações cafeeiras estavam caindo vertiginosamente. Serão analisadas, assim, as decisões tomadas pelo governo de Getúlio Vargas para conseguir compensar as importações com as exportações. Mostrará, ainda, que o período da recessão mundial foi importante para o Brasil, pois estimulou a indústria a produzir produtos que seriam exportados aos países em guerra – o que favoreceu o Brasil. Getúlio Vargas foi o Presidente que se manteve no poder por mais tempo e que mais investiu em infraestrutura, dando um grande impulso ao desenvolvimento de nossa indústria. Foi considerado o “Pai dos Pobres” por muitos, dando apoio à população mais carente; porém, para outros, não passou de um governo autoritário, centralizador e populista. 2.1 Fases político-institucionais da Era Vargas (1930-1945) O período político brasileiro conhecido como Era Vargas, compreendido entre os anos 1930 e 1945, atravessou basicamente três fases: a fase de Comando Provisório, de 1930 a 1934, seguida pela fase Constitucional, entre os anos 1934 e 1937, e, por fim, a fase ditatorial, chamada de Estado Novo, que durou de 1937 a 1945. 2.1.1 O Governo Provisório (1930-1934) O período inicial de governo do Presidente Getúlio Vargas foi chamado de Governo Provisório, durando de 1930 a 1934. Vargas, mesmo perdendo as eleições, tomou posse provisoriamente por meio do Golpe de Estado de 1930, destituindo do poder o então Presidente da República, Washington Luís, e impedindo a posse do Presidente eleito Júlio Prestes. Com o golpe, se encerrou o período denominado República Velha, dando início a chamada Revolução de 30. Esse momento foi muito importante para o governo brasileiro, que aproveitou os quatro anos para construir sua base e mostrar quem era Getúlio Vargas. O Brasil passou e continua passando por muitas transformações; no entanto, na década de 1930, elas ocorreram de maneira abrupta e foram fortemente sentidas pela população brasileira. Formação social e econômicado Brasil28 Logo no início de seu mandato, Getúlio Vargas sancionou os votos secreto e feminino (existia nesse período uma demanda muito forte para conquistar esse direito) e criou o Ministério da Educação e Saúde Pública, até então inexistentes. Em um primeiro momento, as ideias compartilhadas entre liberais constitucionalistas eram voltadas a organizar a nação, visando à formação de uma Assembleia Constituinte que elaborasse uma nova Constituição. Entretanto, Getúlio Vargas pensava de outra forma: queria a centralização do poder em torno de sua imagem – nisso era apoiado pelos tenentistas/militares, que defendiam um modelo republicano autoritário. Para evitar que as oligarquias retomassem o poder, Vargas reformou todo o modelo político brasileiro. Em 11 de novembro de 1930, ele tomou medidas centralizadoras que lhe garantiram mais poder; foi publicada, então, a Lei Orgânica, que declarava suspensa a Constituição de 1891, retardando a elaboração de uma nova Constituição. Com maior poder, Vargas dissolveu o Congresso Nacional e as Assembleias Legislativas. Com o objetivo de anular a ação dos antigos coronéis e centralizar o poder no governo, o até então presidente nomeou interventores ou representantes do governo para assumirem os principais cargos estaduais, hoje chamados de governadores. Essa medida trouxe tensão ao meio político, especialmente com os paulistas, culminando na Revolução Constitucionalista de 1932. Um dos maiores acontecimentos da história republicana brasileira, a chamada Revolução de 1932 foi um demonstrativo de insatisfação dos paulistas que, com a Revolução de 30 e a suspensão da Constituição de 1891, passaram a exigir uma nova Constituição Federal. Para acalmar os ânimos dos paulistas, que continuavam descontentes com o governo, Getúlio Vargas decretou, ainda em 1932, a formação da Assembleia Nacional Constituinte para 1933. Porém, isso não satisfez a população de São Paulo, a qual tentou um ataque bélico contra o Governo Federal, no entanto, sem obter êxito. Vargas, então, partiu para uma negociação com os paulistas, nomeando Armando Salles como interventor, o responsável por garantir a realização das eleições para que uma nova Constituição fosse formada, o que ocorreu, em 1934, com uma nova Constituição sendo promulgada após atravessar muitas tensões políticas. 2.1.2 O Governo Constitucional (1934-1937) O Governo Constitucionalista teve início com as eleições indiretas de Getúlio Vargas pela Assembleia Nacional Constituinte e o fim do Governo Provisório. Desse modo, Vargas foi eleito Presidente pela primeira vez (considerando que seu primeiro mandato havia sido tomado por meio de Golpe Militar). O começo do mandato foi caracterizado por grandes expectativas a respeito da democratização do país, devido à publicação da Constituição de 1934. Essa expectativa se devia às prerrogativas dessa Constituição, que limitariam o poder do Executivo – isso deixou Getúlio Vargas insatisfeito, pois determinava o mandato presidencial por apenas quatro anos, sem reeleição. O Estado Novo 29 Esse período foi repleto por várias tentativas de golpe contra Getúlio Vargas. Porém, com a falta de articulação política, a adesão dos estados foi facilmente controlada pelo governo, desarticulando o movimento comunista brasileiro. Sob grande influência no que vinha acontecendo na Europa na época, surgiram alguns grupos de destaque no cenário político: 1. AIB – Ação Integralista Brasileira (1932): grupo liderado por Plínio Salgado; foi um movimento de influência nazifascista, de extrema direita, nacionalista e antiliberal, que apoiava a ideia de Vargas como ditador. 2. ANL – Aliança Nacional Libertadora (1935): inspirada nos movimentos operários da Europa, foi um movimento liderado por Luís Carlos Prestes; criticava o nazifascismo e era contrário a Vargas. Entre 1935 e 1936, o governo sufocou as manifestações comunistas, prendendo civis e militares que faziam oposição à política de Getúlio Vargas. Em janeiro de 1938, estavam previstas eleições para presidente e, conforme a Constituição de 1934, ficou proibida a reeleição. Porém, ainda em 1937, Getúlio Vargas deu um novo golpe de Estado e criou o plano Cohen, um documento falsificado pelo general do exército Olympio Mourão Filho, para simular uma tentativa de os comunistas tomarem o poder. O objetivo era causar medo na população e, com isso, Vargas cancelou as eleições de 1938 em favor da “segurança da nação”. O presidente centralizava o poder e, por isso, declarou Estado de sítio, no qual ficavam anulados os poderes do Legislativo e Judiciário temporariamente, ampliando seus poderes e instaurando o chamado Estado Novo. 2.1.3 O Estado Novo (1937-1945) Este período também ficou conhecido como início da fase ditatorial do governo Getúlio Vargas no país. Com o pretexto de um novo golpe para tomada do poder, Vargas decretou Estado de sítio e, em 10 de novembro de 1937, fechou o Congresso Nacional, impondo uma nova Constituição de cunho autoritário. Esse período ficou conhecido por várias ações do governo, como: • censura aos meios de comunicação; • Perseguição a inimigos políticos; • criação da CLT (salário-mínimo, descanso semanal, férias remuneradas e licença-maternidade); • publicação do Código Penal e o Processo Penal, em vigor até hoje etc. Nesse seu primeiro governo, Getúlio Vargas criou instituições que contribuem até os dias de hoje para o desenvolvimento econômico e social do Brasil, por exemplo a companhia Vale do Rio Doce (fundada em 1942 e privatizada em 1997) e a Siderúrgica Nacional (fundada em 1942 e privatizada em 1992). Formação social e econômica do Brasil30 A Era Vargas foi um período de intensas transformações nos âmbitos político, econômico, social e cultural. Algumas das principais características desse período são: • Centralização: nos 15 anos de poder, Vargas enfraqueceu o Legislativo e reforçou os poderes do Executivo. • Autoritário e moderno: ao mesmo tempo em que comandava com grande poder, desejava um Brasil moderno, evoluído, crescendo e se desenvolvendo econômica e socialmente. • Direitos trabalhistas: ampliou os benefícios trabalhistas criando o Ministério do Trabalho e concedendo direitos aos trabalhadores; intencionalmente, sem dúvida, uma forma de se aproximar das massas. • Período de industrialização por substituição das importações: Vargas queria instalar indústrias no país para produzir bens de consumo; porém, para isso havia a necessidade de importação de máquinas e equipamentos. • Diversificação da produção: instalou várias indústrias de bens duráveis e não duráveis no país; acreditava que a diversificação na produção deixaria o país em uma situação mais confortável e com menor risco de comprometer a economia do país. • Populismo: Getúlio Vargas criou o DIP, Departamento de Imprensa e Propaganda, que censurava os meios de comunicação, especialmente os contrários às políticas do governo. O objetivo do DIP era propagar a imagem do presidente, ressaltando as qualidades de seu mandato. • Capacidade de negociação política: Vargas tinha grande capacidade de negociação política, a qual foi sendo aperfeiçoada ao longo de toda sua vida pública; ainda, tinha grande poder de conciliar grupos opostos em seus governos. A postura de Vargas no poder do Brasil, durante esse período, pode ser relacionada com o populismo, principalmente pela relação direta e defesa das massas, bem como seu carisma para liderar. Segundo Pandolfi (1999, p. 327): A memória de Getúlio Vargas, político reverenciado pelas massas, continua sendo lembrada por muitos brasileiros que, apesar de o saberem ditador, não se esqueceu dos benefícios que o cordial estadista trouxe ao país. Aliás, a persistência dessa retórica é, ainda nos dias de hoje, sinal de que a doutrinação sustentada pela propaganda Estado-Novista surtiu efeitos e alcançou um dos objetivos almejados: o do culto à personalidade de Vargas, cuja imagem se confunde com a ideia de nação e deEstado moderno. Para muitos saudosistas, o Estado Novo deve ser visto como um Estado-Nação, idealizado e realizado pela força de um só homem: Getúlio Vargas. Mesmo com a popularidade em alta, havia muitos opositores ao governo de Vargas – especialmente em Minas Gerais –, os quais criaram, em 1943, o “Manifesto dos Mineiros”, cujo objetivo era defender o fim do Estado Novo. O Estado Novo 31 Foram organizadas manifestações populares em defesa do governo de Getúlio Vargas e suas medidas eram pautadas em melhorias sociais. Surge o chamado “Queremismo”, que provinha do slogan utilizado pelos manifestantes: “Queremos Getúlio”. Figura 1 – Manifestação a favor de Getúlio Vargas ao final do Estado Novo W ik im ed ia C om m on s Com o manifesto dos mineiros em 1943, tendo como lema “eleições livres e honestas na data marcada”, o Estado Novo começou a ruir. No intuito de acalmar os ânimos, Vargas concedeu em 18 de abril de 1945 anistia a todos os presos políticos. Um dos beneficiados foi Luís Carlos Prestes, após nove anos de reclusão. Para deixar o seu eleitorado mais tranquilo, Getúlio Vargas fez, em 1945, a seguinte declaração: Apesar das minhas atitudes públicas sempre claras, insistem em criar um ambiente de suspeitas e desconfianças, propalando que pretendo dar um golpe para continuar no poder. Perante Deus, que é o supremo juiz de minha consciência, perante o povo brasileiro com o qual tenho deveres indeclináveis reafirmo que não sou candidato e só desejo presidir eleições dignas da nossa educação política, entregando o governo ao meu substituto legalmente escolhido pela Nação. (RIBEIRO, 2005) Preocupados com possíveis mudanças drásticas de opinião no governo – ainda para se manter no poder –, os comandantes das forças armadas brasileiras iniciaram uma conspiração e resolveram agir. No dia 29 de outubro de 1945, Oswaldo Cordeiro de Farias, em nome das forças armadas (Marinha, Exército e Aeronáutica) impôs a renúncia a Vargas, o que na verdade seria uma deposição armada. Seu sucessor foi o general Eurico Gaspar Dutra (1946-1951), que economicamente reduziu os investimentos e promoveu o arrocho salarial, vindo a desequilibrar as contas públicas e a causar aumento da inflação. Formação social e econômica do Brasil32 Segundo Fausto (1995), Dutra lançou em 1950 o Plano SALTE, com o objetivo de estimular o desenvolvimento nas áreas de Saúde, Alimentação, Energia e Transporte; porém, esse plano foi abandonado em 1951 por falta de recursos. Entretanto, no período de 1946 a 1950, durante o governo Dutra, o Brasil teve um crescimento da indústria em torno de 10%. Após o mandato de Gaspar Dutra, Getúlio Vargas retorna à presidência em 1951, dessa vez por meio do voto popular. Para Bresser-Pereira (2009, p. 98), “Vargas foi um estadista porque teve a visão da oportunidade que a Grande Depressão dos anos 1930 abria para o Brasil iniciar sua industrialização e completar sua revolução nacional e capitalista”. Ou seja, na visão do autor, Vargas pode ser definido como um estadista, pois teve a capacidade de se antecipar aos fatos e liderar as forças políticas em direção a novos rumos. Pandolfi (1999, p. 327) expõe seu ponto de vista sobre o perfil político de Getúlio Vargas, afirmando que “Uma das primeiras lembranças de Getúlio Vargas a ser recuperada é a de que seu governo empenhou-se na luta contra o comunismo e, também, como não poderia deixar de ser, pelo apoio dado aos pobres, humildes e trabalhadores do Brasil”. As lembranças que ficaram de Getúlio Vargas podem ser interpretadas de várias formas. Para muitos brasileiros, ele foi o símbolo de um período negro da história do país, com marcas profundas de repressão, censura, abuso de autoridade e acordos de bastidores; para outros, no entanto, Vargas continua sendo visto como o “Pai dos pobres”, isto é, o Presidente que se preocupou com os desfavorecidos, necessitados e assalariados; aquele que também se movimentou para industrializar mais o país, a fim de não depender economicamente apenas da produção agrícola. 2.2 Estado Novo x modelo nazifascista O regime implantado no Brasil em 1937 foi chamado de Estado Novo, ao mesmo tempo em que uma onda de mudanças e transformações tomava conta da Europa. Mesmo sendo inspirado no nazismo e no fascismo, esse regime divergia dos modelos europeus. Vargas demonstrava afinidades com os regimes nazista e fascista, mas, por outro lado, também mantinha boas relações com os opositores americanos. Ainda assim, apesar de “certa preferência” pelo nazismo e fascismo, nunca chegou a se instalar em nosso país um Estado corporativo abrangente como o Europeu. O que ocorreu no Brasil foi, na verdade, um processo brutal de intervenção na economia. Nazistas e fascistas andavam próximos, porém, com algumas diferenças, devendo ficar salientado que o poderio e a força do nazismo foram superiores aos do fascismo. O Estado Novo 33 2.2.1 Fascismo O líder do regime fascista italiano foi Benito Mussolini, que chegou ao poder em 1922 e assim permaneceu até 1943; ele defendia o respeito total à ordem e, ainda, o uso da força na defesa do poder. Desse modo, o fascismo teve grande relevância no século XX e é um regime de extrema direita, conhecido por um governo ditatorial e militarizado. Suas principais características foram: • valor ao nacionalismo; • totalitarismo e corporativismo; • especial atenção militar; • obsessão com a segurança nacional; • total desprezo pelos direitos humanos, por intelectuais e artistas; • controle da mídia: censura e uso da religião para manipulação. 2.2.2 Nazismo O Nazismo, ideologia surgida no início do século XX na Alemanha, era comandado por Adolf Hitler, que assumiu o poder de 1933 a 1945. Algumas condições históricas favoreceram a chegada dele ao poder. Com a destruição da Alemanha após a Primeira Guerra Mundial, houve revolta por parte dos alemães, os quais culpavam o governo pela situação do país. Então, em 1919 foi criado o Partido Nazista (Partido Nacional Socialista) que, entre outras coisas, defendia: • a propaganda ideológica; • o antissemitismo (perseguição aos judeus) considerado um povo sem pátria; • o antieslavismo e perseguição aos ciganos. Porém, a crise de 1929 deixou a Alemanha em desespero com as condições de vida da população, ainda insatisfeita com o governo. Todos esses sentimentos ajudaram a fortalecer o partido Nazista que, em 1939, encorajou a ideia do início da Segunda Guerra Mundial. Algumas das características ideológicas do nazifascismo são: • Totalitarismo: o Estado está acima de tudo e de todos, os interesses do Estado deveriam prevalecer aos dos indivíduos, o governo controlava todos os setores da sociedade. • Nacionalismo: a principal instituição era o Estado. • Partido único: permitia a existência de apenas um partido político. • Anticomunismo: camponeses e proprietários rurais unidos, operários e burgueses unidos, todos em prol do desenvolvimento do Estado. • Expansionismo/militarismo: conquistar novos territórios e fortalecer as forças armadas. • Culto à personalidade do líder: louvor ao governante do Estado. Formação social e econômica do Brasil34 Figura 2 – Imagens de Hitler e Mussolini em selo alemão M as si m o Ve rn ic es ol e/ Sh ut te rs to ck Bo ris 15 /S hu tt er st oc k Entre os anos de 1933 e 1938, houve um movimento nazista na região Sul do Brasil (Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná), devido à existência de muitos descendentes de alemães. Como eles buscavam preservar a raça, a língua e a cultura, atraí-los para a causa nazista não foi uma tarefa difícil. Com a eclosão da Segunda Grande Guerra, Getúlio Vargas teve que, obrigatoriamente, se posicionar, ainda mais após receber um empréstimo de 20 milhões de dólares dos EUA e ter vários navios brasileiros afundados pelos alemães. Eis que em 1944 o Brasil entra na Guerra (praticamente no final do confronto) enviando pouco mais de 25 mil soldados brasileiros para o conflito, apoiando ospaíses aliados. Em contrapartida, os americanos ensinaram aos brasileiros técnicas de produção de aço e auxiliaram, também, com empréstimos financeiros. Vargas nunca firmou um posicionamento ideológico claro, preferindo se adaptar às situações. Além disso, por certo que, naquele contexto, um apoio brasileiro a Hitler ou Mussolini faria com que, provavelmente, os EUA atacassem o Estado brasileiro. Para evitar uma ameaça de golpe, Francisco Campos, jurista aliado de Getúlio Vargas, redigiu em 1937 uma nova Constituição, dando maiores poderes ao Presidente. Essa carta constitucional, inclusive, recebeu o apelido de “Polaca” por causa de sua similaridade com o modelo semifascista polonês. Assim, o governo do Estado Novo caracterizou-se por ser centralizador, entregando ao poder Executivo atribuições antes divididas com o Legislativo. Desse modo, o regime estadonovista concentrava o poder no Estado, com algumas semelhanças aos modelos europeus. Vargas passou, então, a controlar os meios de comunicação, favorecer os trabalhadores com as leis trabalhistas, o que desmobilizou os movimentos sociais e o tornou um presidente populista, e a apoiar o crescimento das indústrias. Após vários episódios e descontentamentos instaurados após a Segunda Guerra Mundial, iniciaram-se mobilizações para que o Estado Novo chegasse ao fim. Um grupo de advogados mineiros publicou, em 24 de outubro de 1943, o chamado “Manifesto dos Mineiros”, defendendo a redemocratização do país. Surgiu também um movimento de apoio a Getúlio Vargas, porém, sua imagem já estava extremamente desgastada. Foi então que, em 1945, após muita pressão, Vargas renunciou ao O Estado Novo 35 governo, dando fim à Era Vargas que perdurava desde 1930. Em seguida, ele veio a se candidatar ao Senado, elegendo-se pelo Estado do Rio Grande do Sul em outubro de 1946, sem, no entanto, assumir o cargo de Senador. Com isso, em 1950 se candidatou à Presidência da República, para a qual foi eleito com a grande maioria dos votos. Vargas retornou à presidência com forte apoio popular e, assim que assumiu o governo, encontrou uma séria crise no setor cafeeiro, semelhante à da superprodução ocorrida no início do século XX. O preço da tonelada de café vinha despencando vertiginosamente e, como consequência, o valor das exportações desabou. Para proteger esse setor e conquistar os produtores, o governo passou a adquirir o excedente da produção, transformando-o em adubo para usar na fabricação de gás, queima em fornalhas ou, simplesmente, jogando-o ao mar. Após esse período de superprodução, houve uma ordem federal para a redução, em alguns estados, do plantio do café por três anos, visando manter o equilíbrio estatístico. O excesso de produção aconteceu ainda com outros produtos, porém em menor quantidade, o que acarretou milhares de desempregados migrando para as grandes cidades. Após esse período de superprodução de café, o governo Getúlio Vargas passou a controlar o processo de exportação e, com isso, criou um organismo para controlar os preços e a produção. Esse organismo durou até a década de 1990 e era chamado de IBC – Instituto Brasileiro do Café. Mesmo com esforço governamental, houve queda nas exportações do café. Desse modo, o Brasil passou a investir na produção da cana-de-açúcar que, com aparelhamento tecnológico superior, logo se tornaria o maior produto de exportação brasileiro, seguido do algodão, da borracha e do cacau. 2.3 A industrialização no Brasil durante a Grande Depressão O tema industrialização esteve presente em todo período da Era Vargas. Nas fases dos Governos Provisório e Constitucional não houve um planejamento econômico; porém, após o período de 1937, o Estado passou a intervir e a participar de projetos, nos quais a iniciativa privada não obtinha recursos ou havia falta de interesse, como no caso das siderurgias, hidrelétricas, transportes, indústrias químicas e petrolíferas. Em apenas seis anos (1933 a 1939), a produção industrial cresceu em 12%. Segundo Fazoli Filho (2001, p. 262), “ao longo da década de 1930, a agricultura brasileira crescia em média 2% ao ano, enquanto a indústria crescia mais de 8% ao ano”. A indústria progredia a olhos vistos, enquanto a agricultura vinha obtendo um crescimento pífio; no entanto, mesmo com pequena produção, era indispensável continuar exportando. Getúlio Vargas queria, então, fomentar a industrialização do país, pois, com a queda das exportações da produção agrícola, o Brasil precisava urgentemente encontrar uma alternativa para equilibrar as importações em relação às exportações. Os estados de São Paulo e Rio de Janeiro destacaram-se na concentração de indústrias devido a vários fatores importantes, como maior centralização de mão de obra e infraestrutura, aumento do número de consumidores e rede bancária desenvolvida. Formação social e econômica do Brasil36 Em 1951, Getúlio Vargas enviou uma proposta ao Congresso Nacional para que o petróleo brasileiro fosse explorado por alguma empresa estatal – obviamente, essa sugestão gerou muitos desentendimentos e divergentes opiniões. Após anos discutindo o assunto, e mesmo sem chegar a um consenso, Vargas cria a Petrobras em 1953. Além disso, outros setores das indústrias de bens de consumo duráveis1 e não duráveis2 também se desenvolveram entre os anos 1930 a 1955. Após o período da Segunda Guerra Mundial, as indústrias europeias estavam arrasadas, necessitando da importação de produtos de outros países. Segundo Loureiro (2008), “Com a criação da Petrobras em 1953, o Brasil passou a exportar para a Europa derivados do petróleo como a borracha sintética, tintas, plástico, fertilizantes, etc.”. 2.3.1 A importância da crise de 1929 para o Brasil A Grande Depressão, também chamada de Crise de 29, atingiu, no primeiro momento, apenas a economia norte-americana, seguindo mais tarde para a Europa, África, Ásia e América Latina. A quebra da Bolsa de Valores de Nova Iorque teve repercussão e consequências em todo planeta. No Brasil, o principal efeito foi a queda da exportação do café, que representava 70% de nossas vendas, fazendo com que Getúlio Vargas tomasse a decisão de queimar o excedente que se acumulava no porto de Santos. A produção de café estava agonizando, mas não estava morta. Se a agricultura quebrasse, causaria um imenso número de desempregados, queda de renda e, consequentemente, um desaquecimento econômico. Figura 3 – 20 mil desempregados em manifestação no Grant Park em Chicago, em 31 de outubro de 1932 Ev er et t H is to ric al /S hu tt er st oc k 1 Aqueles que podem ser utilizados várias vezes durante longos períodos, como um automóvel, máquinas e equipamentos industriais, entre outros. 2 Bens que podem ser utilizados por um curto prazo de tempo, como roupas, sapatos, chapéus, alimentos e outros. O Estado Novo 37 A quebra da Bolsa de Nova Iorque foi determinante para o desenvolvimento industrial do Brasil, pois, com a crise do setor cafeeiro, ocorreu o aumento dos investimentos na indústria, contando, inclusive, com o capital de ex-produtores de café, o que favoreceu o consumo dos produtos internos. Outro aspecto em relação à industrialização no Brasil foi a volta de Getúlio Vargas à Presidência, em 1951. Dessa vez ocorrida, como já vimos, por meio de voto popular, a gestão dele teve importantes investimentos na área social e econômica, principalmente com maior incentivo à indústria pesada. No segundo mandato de Vargas, um dos principais objetivos foi a criação de um futuro parque automotivo, bem como a realização de melhorias nas áreas de energia elétrica, transportes – prioritariamente o ferroviário –, e o tratamento de assuntos polêmicos, como salários, previdência, assistência médica e controle de preços. Entre as principais realizações no segundo mandato de Vargas, podemos citar: • BNDE3: Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (1952); • Petrobras (1953); • Eletrobrás (1954). Vargas ainda ensaiava uma profunda reforma administrativa,que foi rejeitada pelo Congresso Nacional. Com a chegada da industrialização nos grandes centros, ocorreu uma forte migração do interior para as cidades. Com isso, houve um crescimento das demandas salariais. Vargas, então, se deparou com um problema: grupos que rapidamente se organizavam incitando greves, exigindo aumentos salariais e a diminuição do custo de vida. A tensão aumentava com muitos opositores e rejeição pela classe empresarial, principalmente com relação às medidas sociais e estatais tomadas por Vargas. Getúlio Vargas também foi acusado de comandar o atentado contra o jornalista Carlos Lacerda, seu adversário político, o que levou a oposição a solicitar sua renúncia. O então presidente se viu sob forte pressão política, tanto por parte da imprensa quanto pelos militares, agravada pela precária situação da economia, o que deixava a população descontente, levando à redução de sua popularidade. Os movimentos radicais por parte dos assalariados, somados à rejeição dos empresários, são indicados como principais fatores desencadeadores da crise política que resultou no fim do governo Vargas. Em 24 de agosto de 1954, Getúlio Vargas põe fim à própria vida, deixando uma carta testamento, onde escreveu: “Deixo a vida para entrar para a história”. Com sua morte, o Vice- Presidente Café Filho assume a Presidência. 3 Passou a ser chamado de BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) a partir de 1982, por meio do Decreto-Lei n. 1.940. Formação social e econômica do Brasil38 Figura 4 – Traslado do corpo de Getúlio Vargas do Rio de Janeiro para o enterro em São Borja, Rio Grande do Sul W ik im ed ia C om m on s Getúlio Vargas foi o presidente que se manteve mais tempo no poder, e que mais investiu em infraestrutura, desenvolvendo o parque industrial do país. Para o trabalhador brasileiro, ficou eternizado como o criador das leis trabalhistas. Considerações finais Neste capítulo, percorremos os aspectos históricos, políticos e sociais sobre as principais fases institucionais da Era Vargas, entendendo como foram os mandatos em que governou, ou seja, as principais características de Getúlio Vargas e de seus governos. Apresentamos, também, a grande importância que esse presidente teve para o Brasil, tanto que se trata, ainda, do governante mais amado e ao mesmo tempo odiado de nossa história. Além disso, vimos quais foram os principais objetivos de Vargas em relação ao Brasil e a como ficaria sua própria imagem na posteridade. Dando continuidade aos estudos sobre nossa primeira fase republicana, observamos o período do Estado Novo, identificando as semelhanças entre aspectos desse governo com o nazifascismo, como a centralização de poder, o regime ditatorial no Estado Novo, o anticomunismo, o totalitarismo, entre outras características próprias do nazifascismo. Por fim, analisamos o processo de industrialização brasileiro e os fatores positivos e negativos que a Segunda Grande Guerra gerou como consequência ao país, principalmente a vultosa importância para as importações e exportações. O Estado Novo 39 Ampliando seus conhecimentos • A ERA Vargas: dos anos 20 a 1945. FGV CPDOC. Disponível em: https://cpdoc.fgv.br/ producao/dossies/AEraVargas1/apresentacao. Acesso em: 10 set. 2019. Esse texto, publicado no site da Fundação Getúlio Vargas, esclarece ainda mais o período em que Getúlio Vargas governou e o seu legado. O intuito dessa página é disponibilizar informações sobre a história desse período para as novas gerações. • TANNUS, L. Getúlio Vargas comete suicídio. 24 ago. 2018. FFLCH: Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. Disponível em: https://www.fflch.usp.br/861. Acesso em: 10 set. 2019. Esse artigo visa apresentar ao leitor o que haveria de intenção no ato de Getúlio Vargas em cometer suicídio. Com esse ato extremo, de acordo com a carta que deixou, ele evitava que adversários chegassem ao poder, o que provavelmente aconteceria caso ele não tomasse essa decisão. Atividades 1. Quais são as três fases político-institucionais da Era Vargas? 2. Cite três características da Era Vargas. 3. Por que a crise de 1929 foi de grande importância para o Brasil? Referências BRESSER-PEREIRA, L. C. Getúlio Vargas: o estadista, a nação e a democracia. Disponível em: http:// bresserpereira.sitepessoal.com/Papers/2012/433.Vargas-estadista.pdf. Acesso em: 8 set. 2019. FAUSTO, B. (org.). O Brasil Republicano: economia e cultura (1930-1964). Rio de Janeiro: Ed. Bertrand Brasil, 1995. v. 4. FAZOLI FILHO, A. Formação econômica do Brasil. São Paulo: Letras & Letras, 2001. LOUREIRO, F. P. As origens da indústria no Brasil. São Paulo: LCTE, 2008. PANDOLFI, D. (org.). Repensando o Estado Novo. Rio de Janeiro: Ed. Fundação Getúlio Vargas, 1999. Disponível em: https://cpdoc.fgv.br/producao_intelectual/arq/142.pdf. Acesso em: 2 set. 2019. RIBEIRO, A. S. 29 de outubro de 1945: o fim do Estado Novo. Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, 2005. Disponível em: https://www.al.sp.gov.br/noticia/?id=279581. Acesso em: 8 set. 2019. https://www.fflch.usp.br/861 3 A Segunda Grande Guerra e o pós-guerra Iniciamos este capítulo apresentando o contexto histórico que culminou no maior conflito entre nações de que se tem notícia: a Segunda Guerra Mundial. Aqui, são identificadas as principais causas que levaram a esse conflito, as consequências e vantagens ou prejuízos ao Brasil. Na sequência, são abordados os organismos internacionais, que surgiram no pós-guerra, especialmente para atender aos países devastados, e que ainda têm extrema relevância nos dias de hoje. Tratamos também da questão industrial brasileira durante o período de guerra e pós-guerra, quando ocorre a grande expansão, de 1956 a 1961, e as consequências após esse crescimento. Finalizamos nossos estudos falando sobre os presidentes que governaram o país entre o período de 1961 até 1963 e a tomada do governo por meio de um golpe militar em 1964. 3.1 A Segunda Guerra Mundial Após o dia 11 de novembro de 1918, com a assinatura do Armistício de Compiègne, quando se encerrou o maior e mais cruel embate entre países visto até então, as potências vitoriosas tinham esperança de que os conflitos entre nações chegariam ao fim; isso, porém, foi apenas uma calmaria temporária. Ao final da Primeira Guerra Mundial, as principais nações da Europa assinaram o Tratado de Versalhes – um acordo de paz entre os países que participaram do conflito, um acordo de paz entre os países que participaram do conflito, assinado no Palácio de Versalhes, França, no dia 28 de junho de 1919. Segundo Jordan (2011), o tratado colocava diversas imposições à Alemanha, como a responsabilidade por ter causado a guerra, a perda de parte de seu território, pois várias cidades conquistadas pela Alemanha seriam restituídas a seus países de origem, a redução do tamanho do seu exército para apenas 100 mil homens, a proibição de possuir uma força aérea e o impedimento de que a marinha possuísse submarinos. Além disso, uma indenização pelos prejuízos causados na guerra era exigida. Essas imposições levaram a Alemanha a uma amarga crise econômica durante a década de 1920, representando um golpe de humilhação que, em 1933, levou à ascensão do nazismo. Após seis meses da assinatura do Tratado de Versalhes, a Alemanha quebra o acordo e começa a semear ideias que culminam na Segunda Guerra Mundial. Pouco mais de 20 anos depois da Grande Guerra, o mundo se viu envolvido na maior e mais sangrenta guerra de que se tem conhecimento. A Segunda Guerra Mundial, iniciada em setembro de 1939, foi a maior catástrofe provocada pelo homem em toda a sua longa história. Envolveu setenta e duas nações e foi travada em todos os continentes, de forma direta ou indiretamente. O número de mortos superou os cinquenta milhões, havendo ainda uns vinte e oito milhões de mutilados. É difícil de calcular quantos outros milhões saíram do conflito vivos, mas completamente inutilizados devido aos traumatismos
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