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Era Vargas (1930-1945)

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1.1 Getúlio Vargas antes da presidência 
Pai dos pobres; ditador; calculista; simples. São alguns dos termos que são 
utilizados para falar sobre Getúlio Vargas. Sua administração, em dois 
períodos da história brasileira (1930-1945 e 1951-1954), é considerada, para 
a maioria dos autores, o momento de ruptura com o passado arcaico e o 
início do Brasil moderno. As transformações foram tantas, seja no campo 
econômico, social ou cultural, que muitos perguntam se a Era Vargas 
realmente terminou. Sua influência e suas posições políticas atravessaram 
vários períodos da história da nação e ainda hoje pautam projetos 
políticos, favoráveis ou contrários a seu legado. Sem dúvida, um mito 
político. Mas quem era o homem Getúlio antes de chegar à presidência da 
República? 
Getúlio Dornelles Vargas nasceu na cidade de São Borja, Rio Grande do 
Sul, fronteira com a Argentina, em 1882. A família Vargas era formada de 
estancieiros, que tinham grande projeção na política municipal e regional. 
Seguindo o caminho comum dos políticos da Primeira República, vai 
estudar na Faculdade de Direito de Porto Alegre. Lá, formou parte da 
chamada “geração de 1907” (data de conclusão do curso) junto a 
personagens que você verá ao longo do curso: Osvaldo Aranha, Lindolfo 
Collor, Flores da Cunha, João Neves da Fontoura, Maurício Cardoso, 
Firmino Paim. Também nesse período terá contato com outros dois 
personagens importantes da Era Vargas que ali faziam seus estudos 
militares: Góis Monteiro e Eurico Gaspar Dutra. 
No ano de 1907, há uma crise no Partido Republicano Rio-Grandense (PRR), 
que governava o estado. Nesse momento há a aproximação entre estes 
estudantes, que faziam uma militância estudantil, e as velhas lideranças do 
partido, como o presidente do estado, Borges de Medeiros. É sob a sombra 
de Borges que esse grupo, incluindo Getúlio, cresce dentro do partido. 
Retorna à São Borja para exercer a advocacia, mas não por muito tempo. 
Em 1909, é eleito deputado estadual, sendo reeleito em 1913, 1917 e 1921. 
Em 1922, assume a liderança do partido na Assembleia Legislativa. Em 
1924, é eleito deputado federal, assumindo a liderança da bancada 
gaúcha. Em 1926, é convidado por Washington Luiz para ser ministro da 
Fazenda, cargo que ocupa até o final de 1927, quando é eleito presidente 
do Rio Grande do Sul. Assumindo em 1928, tem importantes realizações no 
Executivo estadual, como a criação do Banco do Estado do Rio Grande do 
Sul (Bergs, atual Banrisul) e a redução das tarifas da Viação Férrea Rio-
Grandense. Consegue conciliar os grupos políticos rivais, criando a Frente 
Única Gaúcha, que alavancaria sua candidatura presencial. Mas isso 
veremos mais adiante... 
1.2 Política dos Governadores 
A Primeira República, também conhecida como República Velha, durou 
de 1889 a 1930. A partir de 1898, com a presidência de Campos Sales, 
adotou os contornos políticos que a caracterizariam: uma república 
oligárquica, ou seja, com a participação de poucos. 
O presidente Campos Sales, em 1898, estava preocupado com seu projeto 
político de sanear as finanças do país. Para isso, precisava fazer passar no 
Congresso Nacional uma série de leis. Como fazer para obter o apoio dos 
deputados e senadores? É a partir da resolução dessa questão que surgirá 
a chamada Política dos Governadores, que vigorará até a Revolução de 
1930. 
Consistia no seguinte: em troca da não interferência do governo 
federal nos assuntos dos estados, estes elegeriam deputados que 
estivessem sempre alinhados ao que o governo federal desejasse. Com 
isso, os partidos republicanos dos estados (lembremos que não haviam 
partidos nacionais no período) tinham ampla margem de liberdade para 
estabelecer seus próprios mecanismos de permanecer no poder. Na 
maioria dos estados estabeleceu-se uma oligarquia, um pequeno grupo 
que controlava a política. Em alguns, porém, houve conflitos entre grupos 
políticos rivais, especialmente durante o governo de Hermes da Fonseca 
(1910-1914). 
Nos estados, o governo estadual repassava a tarefa das eleições para os 
chefes municipais, denominados de coronéis. Estes tinham o trabalho de 
garantir a eleição de deputados e senadores que estivessem aliados aos 
governos, tanto estadual quanto nacional. Para isso, utilizavam diversos 
mecanismos, tais como as fraudes via falsificação de assinaturas e de atas 
eleitorais (eleições a bico de pena), a garantia de benefícios e mesmo a 
intimidação armada (voto de cabresto). O voto não era secreto, e isso era 
um dos fatores que garantia o controle dos coronéis. 
Em troca dessa garantia de deputados leais, os coronéis mantinham seus 
privilégios locais e tinham direito a concessões do governo estadual, como 
obras em seus municípios e, especialmente, nomeações para cargos 
públicos (professores, delegados, inspetores, funcionários de repartições 
estaduais e federais), com os quais poderia premiar quem o seguisse. E 
com o apoio do governo estadual, permaneciam no poder por muitos 
anos em seus municípios, sendo eles próprios os administradores ou por 
meio de indicados seus ou do partido. 
O tempo da Política dos Governadores também será caracterizado pela 
alternância entre políticos de São Paulo e de Minas Gerais na presidência 
da república. São Paulo era o estado mais rico, graças ao café. Minas 
Gerais era o mais populoso e tinha a maior bancada na Câmara dos 
Deputados, com 37 parlamentares, além de ser importante produtor de 
café. Popularmente, esse revezamento ficou conhecido como “Política do 
Café com Leite”. Era uma aliança que deveria ser renegociada a cada 
eleição e concessões eram feitas aos outros estados para que a 
hegemonia paulista e mineira fosse aceita. Em várias eleições, contudo, 
houveram chapas dissidentes, como em 1910 e 1922. 
Com o domínio da presidência, os dois estados mantinham o controle 
sobre as políticas estatais, em especial a de valorização do café, principal 
produto da economia brasileira. Entre as políticas para a atividade 
cafeeira estava o “Convênio de Taubaté”, um acordo entre São Paulo, 
Minas Gerais e Rio de Janeiro, com o aval do Governo Federal. Ele se 
pautava pela tomada de empréstimos no exterior pela União para a 
compra da produção excedente do produto, mantendo os preços 
artificialmente altos e garantindo os lucros dos fazendeiros. Como disse 
Celso Furtado, privatizavam-se os lucros e socializavam-se as perdas, já que 
os empréstimos externos eram pagos por todos os cidadãos. 
1.3 1922: o ano das transformações 
1922 era o ano de centenário da independência brasileira. Para 
comemorar o fato, foi promovida a Exposição Universal do Rio de Janeiro. 
O objetivo era mostrar uma nação moderno. Inclusive durante os festejos 
do 7 de setembro foi realizada a primeira transmissão de rádio no país. No 
entanto, a realidade era bem diferente da que o governo tentava mostrar. 
E 1922 foi um ano de mudanças. 
Em termos culturais, a década de 1920 se caracterizou pela busca da 
nacionalidade. O escritor Lima Barreto, em 1920, escreveu a seguinte frase: 
“Não nos conhecemos uns aos outros dentro do nosso próprio país”. É nesse 
clima que, em fevereiro de 1922, ocorreu a Semana de Arte Moderna de 
São Paulo, com exposições artísticas, declamações de poesias, concertos 
e espetáculos de dança. O objetivo era buscar uma identidade própria 
para a arte brasileira, criticando os modelos europeus. O evento reuniu, 
entre outros, Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Menotti del Picchia, 
Manuel Bandeira, Anita Malfati, Di Cavalcanti, Heitor Villa-Lobos, Victor 
Brecheret, Plínio Salgado, Guilherme de Almeida. A sua repercussão à 
época não foi grande. Porém, a Semana acabou se tornando a precursora 
do movimento modernista brasileiro, que teve correntes como 
o Movimento Antropofágico, liderado por Oswald de Andrade, que 
defendia a mescla das influências de culturas do exterior com a brasileira, 
formando algo novo,tipicamente brasileiro; e o movimento Verde-
Amarelo, que pregava o rompimento com a cultura europeia. Eles 
estavam tentando responder à pergunta: afinal, o que era a cultura 
brasileira? Algo que a Era Vargas, em especial o Estado Novo, vai se 
empenhar. 
Em termos sociais, a situação não era das melhores. O avanço da 
industrialização, em especial durante a Primeira Guerra Mundial, e a 
exploração do proletariado levaram ao crescimento do movimento 
operário. Para o governo, a repressão era o que resolveria o problema. 
Após a explosão de greves entre 1917 e 1920, o movimento operário estava 
arrefecido, por conta das disputas políticas internas e da repressão policial. 
Por outro lado, na Rússia, ocorrera a tomada do poder pela aliança entre 
operários e camponeses liderados por uma vanguarda revolucionária. É 
nesse contexto que será fundado, em março de 1922, o Partido Comunista 
Brasileiro (PCB). Os comunistas viam o Estado como um espaço que 
deveria ser ocupado e transformado. Uma particularidade do PCB em 
relação a outros partidos comunistas pelo mundo é que ele foi fundado 
por militantes que deixaram o anarquismo. Já em junho, estaria na 
ilegalidade. Seu destaque na Primeira República virá em 1927, quando, em 
um breve lapso de legalidade, elege Azevedo Lima para a Câmara dos 
Deputados por meio do Bloco Operário. 
Já nos meios militares, a coisa estava fervendo. A Primeira Guerra Mundial 
deixou patente a precariedade material do Exército, mesmo que o Brasil 
não tivesse participado militarmente. Os soldos eram baixos para a época 
e as promoções, extremamente lentas. Para completar o quadro, vem a 
eleição presidencial de 1922. Há uma divisão entre as oligarquias estaduais, 
com o lançamento de duas candidaturas: Artur Bernardes, mineiro, 
representante do Café-Com-Leite; e Nilo Peçanha, fluminense, 
representante de Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Bahia e Pernambuco. 
Em outubro de 1921, a imprensa divulgou cartas supostamente escritas por 
Bernardes, nas quais ele fazia acusações aos militares, em especial ao ex-
presidente Hermes da Fonseca. Em 1º de março de 1922, o candidato 
mineiro vence as eleições. 
Em junho, o governo federal intervém na eleição estadual de Pernambuco 
e é duramente criticado por Hermes, presidente do Clube Militar. Em 2 de 
julho, como reação, o Clube é fechado e Hermes preso. Era o estopim 
para o início do tenentismo. 
1.4 Tenentismo 
O tenentismo foi um movimento político-militar que teve a liderança dos 
chamados “tenentes”. A expressão vai entre aspas porque nem todos 
eram desse posto militar, mas quase todos eram oficiais de baixa patente. 
O tenentismo tem seu marco inicial no dia 5 de julho de 1922, com uma 
série de levantes militares, sendo o principal deles o do forte de 
Copacabana, no Rio de Janeiro. A alta oficialidade se recusou a participar 
da rebelião. Após um dia de combates, no início da tarde do dia 6 um 
grupo de revoltosos saiu do forte e marchou pela Avenida Atlântica. Ali, 
após alguns abandonarem a revolta, um grupo de dezoito pessoas 
(número contestado por muitos estudiosos) seguiu pela avenida, sendo 
fuzilados pelas tropas legalistas. Só dois sobreviveram: Eduardo Gomes e 
Siqueira Campos. O grupo ficou conhecido como “Os Dezoito do Forte” e 
viraram mártires do movimento tenentista. 
Naquele momento ainda não havia um projeto político bem definido pelos 
“tenentes”. Não houve nenhum pronunciamento no dia do levante. Não 
houve a tentativa de mobilizar apoio, nem popular nem das oligarquias 
que se opuseram à eleição de Artur Bernardes. Porém, deixava-se clara a 
insatisfação com o governo federal, tanto o atual como o que viria. 
Sentiam que o Exército não era atendido em suas aspirações, como vimos 
no item anterior, e isso foi extremado com a prisão de Hermes da Fonseca. 
A revolta era uma forma de salvar a honra da instituição, atacada pelo 
governo. Pode-se dizer que interpretavam o Exército como salvador da 
pátria e guardião das instituições republicanas, atacadas pelas oligarquias 
que estavam no poder. 
Artur Bernardes assumiu a presidência em novembro de 1922. 
Permaneceria os quatro anos de seu governo sob estado de sítio, 
censurando a imprensa, prendendo opositores e enviando-os a campos de 
internamento no Norte. Em 1924, também em um 5 de julho, um novo 
levante dos “tenentes”, agora em São Paulo. Dessa vez mais organizados, 
contavam com a liderança do general Isidoro Dias Lopes, e participação 
destacada de Miguel Costa, Juarez Távora, Eduardo Gomes, Filinto Muller e 
Newton Estillac Leal. No mesmo mês, ocorreriam levantes militares no 
Amazonas, Sergipe e Mato Grosso. O objetivo era mais claro que em 1922: 
derrubar Artur Bernardes. Além disso, apresentam um projeto político liberal, 
com a defesa do voto secreto, da independência dos três poderes e da 
obrigatoriedade do ensino primário e profissional. 
Rapidamente, as forças revoltosas ocupam prédios públicos e pontos 
estratégicos. Com a fuga do presidente do estado no dia 8, o governo fica 
a cargo do general Isidoro. Porém, os rebeldes não estavam prontos para 
governar a cidade. A ideia do movimento era ser o primeiro de outros que 
ocorreriam e que em conjunto levariam à queda do governo. A reação 
não se faz tardar, com o bombardeio da cidade, o que gerou pânico na 
população e saques a armazéns. Houve tentativas de armistício, 
inicialmente pedindo um governo federal provisório e a convocação de 
uma Constituinte; depois, somente a anistia. Ambas as propostas foram 
recusadas por Artur Bernardes. Enfraquecidos, os revoltosos deixam a 
cidade no dia 28, rumando ao interior do estado e depois ao Paraná. 
Em 29 de outubro, ocorrerá mais um levante militar, dessa vez no Rio 
Grande do Sul. Com base nas guarnições de São Luiz Gonzaga, Santo 
Ângelo, São Borja e Uruguaiana, foi liderada pelo capitão Luiz Carlos 
Prestes, contando com o apoio de alguns paulistas, como João Alberto e 
Juarez Távora. Alguns autores afirmam que esse levante guardava 
resquícios da Guerra Civil Gaúcha de 1923 ou que se associou à oposição 
estadual. Sendo duramente atacados, os rebeldes se encaminham para o 
Paraná. Lá, se encontram com as forças paulistas lideradas agora por 
Miguel Costa. Iniciava-se a Coluna Miguel Costa – Prestes ou Coluna 
Prestes. 
1.5 Coluna Prestes 
Em abril de 1925, as forças gaúchas se encontram com as paulistas no 
Paraná. Era o início da Coluna Miguel Costa – Prestes ou Coluna Prestes. 
Foram formados quatro destacamentos, comandados por Cordeiro de 
Farias, João Alberto, Siqueira Campos e Djalma Dutra. Miguel Costa seria o 
comandante e Luiz Carlos Prestes o chefe do estado-maior, com uma 
tropa de cerca de 1.500 homens. Decidiu-se que Isidoro Dias Lopes viajaria 
para a Argentina, em busca de ajuda militar e para coordenar os exilados 
ou inativos no sul. O objetivo era claro: derrubar Artur Bernardes. 
Do Paraná, partiram rumo ao Mato Grosso, Goiás, chegando 
ao Maranhão em novembro. Ali, tiveram a melhor receptividade dentre 
todos os lugares, conseguindo angariar recursos e novos combatentes, e 
chegando inclusive a pensar em se estabelecer no estado. Dali, 
atravessaram Piauí, Ceará, Paraíba, Pernambuco e Bahia. Em fevereiro de 
1926, Prestes e Miguel Costa escrevem uma espécie de programa político 
da Coluna, chamado de Motivos e Ideais da Revolução. Entre os princípios 
que defendiam nesse documento estavam: o voto secreto e obrigatório; 
assegurar a liberdade de pensamento (naquele momento seguia-se sob 
estado de sítio); mudanças nos impostos, considerados exorbitantes; crítica 
à falta de autonomia dos estados, prevista na Constituição; 
estabelecimento do ensino primário gratuito e do ensino profissionalizante e 
técnico; unificação e independência do Judiciário. Agora, o programa 
tenentista começava a se fazer mais visível. 
Chegando a Minas Gerais, necessitando armamento e encontrando 
pesada resistêncialegalista, retorna ao Nordeste via Bahia. Depois, ruma 
ao Piauí, Goiás e Mato Grosso. Entre fevereiro e março de 1927, já no 
governo de Washington Luiz, o que restara da Coluna parte para o exílio, 
no Paraguai e na Bolívia. 
Durante sua marcha de cerca de dois anos, foram cerca de 25 mil 
quilômetros percorridos, por 11 estados. A longa duração, pensada 
especialmente pelo grupo gaúcho, fazia parte da estratégia dos 
revoltosos. A ideia era não somente levar a mensagem revolucionária a 
todos os cantos do país, mas também causar convulsão nas forças 
governamentais. Sabendo que estavam em desvantagem em armamento 
e número de combatentes, utilizaram-se de uma tática de guerrilha: 
movimentos rápidos, fuga aos combates tradicionais, ampla utilização de 
retiradas estratégicas, renovação constantes de combatentes, obtenção 
de armamento e munição do inimigo. 
Embora tenha havido bons momentos, como no Maranhão, na maioria dos 
lugares percorridos a situação era de resistência, tanto das forças 
legalistas, melhor armadas e equipadas, e em vários lugares com apoio de 
tropas mobilizadas pelos coronéis locais (inclusive com os cangaceiros 
nordestinos), como por parte da população, insuflada por boatos de que 
os membros da Coluna eram ladrões, assassinos e estupradores. Tratada 
com violência, em algumas situações a Coluna revidava da mesma forma. 
No Ceará e na Paraíba houveram tentativas de apoio, que fracassaram. 
Mesmo com todas as desvantagens, a Coluna deixou o país sem sofrer 
nenhuma derrota, o que garantiu a construção de uma lenda. Prestes, seu 
líder, se tornaria “O Cavaleiro da Esperança”. 
1.6 O governo Washington Luiz e a crise de 1929 
Em novembro de 1926, o paulista Washington Luiz assume a presidência da 
república. Como parte de seus acordos com alguns estados, um dos 
nomeados para o ministério será um gaúcho: Getúlio Vargas assumiu a 
pasta da Fazenda. 
Sua administração se pautará pelas medidas em busca, novamente, 
do saneamento financeiro do país. Um dos objetivos era a conversibilidade 
da moeda, ou seja, todo bilhete emitido deveria ter correspondência com 
as reservas de ouro do país. Outra grande atuação de seu governo é no 
plano rodoviário, com o lema “Governar é abrir estradas”, tendo como 
destaque a construção da estrada entre São Paulo e Rio de Janeiro. No 
plano político, vê o nascimento de partidos de oposição aos partidos 
republicanos estaduais, sendo o principal deles o Partido Democrático de 
São Paulo. Embora provisórios e compostos por grupos dissidentes da 
oligarquia, serviram para expressar insatisfações das populações urbanas, 
que não se sentiam representados pelos políticos tradicionais. 
O principal acontecimento de seu governo será a crise do setor cafeeiro, 
causada pela superprodução e pela crise do capitalismo mundial. Entre 
1921 e 1928 a produção brasileira de café duplica. Muitos produtores 
tomam empréstimos bancários com juros de 2% ao mês – taxa alta para a 
época – para aumentar ou melhorar a produção, contando com a política 
governamental de defesa dos preços do produto. 
A crise nos Estados Unidos, que desde o final da Primeira Guerra Mundial 
era o centro do capitalismo mundial, gera um efeito cascata. Com a 
redução do consumo de café naquele país, principal comprador do 
produto, os produtores se veem com uma superprodução de 29 milhões de 
sacas de café em 1929. Somente metade acabou sendo vendida, e a um 
preço muito abaixo dos anos anteriores. Isso, somado à cobrança dos 
empréstimos, arruinou muitos cafeicultores. Como boa parte da indústria e 
do comércio, direta ou indiretamente, era ligada ao setor, a crise deixou 
muitos sem emprego: calcula-se o número de dois milhões de 
desempregados ao final de 1929. Os cafeicultores buscam o presidente 
para colocar em prática os termos do Convênio de Taubaté, e o governo 
federal comprar o produto. Porém, Washington Luiz recusa-se ao auxílio, 
por conta da política de saneamento financeiro, que previa a não tomada 
de novos empréstimos no exterior. O governo deixa de contar com o apoio 
de sua principal base social. 
É nesse clima que ocorrem as eleições presidenciais em 1930. 
1.7 A Aliança Liberal e as eleições de 1930. 
A lógica, pela política do café-com-leite, era de que Antônio Carlos Ribeiro 
de Andrada, presidente de Minas Gerais, sucedesse a Washington Luiz na 
presidência. No entanto, para surpresa geral, ele indicou o presidente de 
São Paulo, Júlio Prestes. É provável que o tenha escolhido por saber que 
ele continuaria a sua política de saneamento financeiro. Outra hipótese é 
a de que se desenvolveu a tese de que São Paulo era o estado mais rico e 
era seu destino natural governar a nação. Porém, mal sabiam eles que essa 
divergência de nomeação iniciaria a crise final da Primeira República. 
Para levar adiante uma campanha de oposição, Antônio Carlos 
compreendeu que não deveria ser ele o candidato. Assim, procurou uma 
articulação com o Rio Grande do Sul, o terceiro estado na política 
nacional. A eles, se somaria a Paraíba, que buscava maior projeção no 
Nordeste e tinha conflitos com Pernambuco por conta das exportações de 
produtos paraibanos pelo porto do Recife que não pagavam tributos ao 
estado. Formava-se a Aliança Liberal, tendo como candidato à 
presidência Getúlio Vargas, e a vice, João Pessoa. Somaram-se à 
coligação as forças opositoras estaduais, em especial o Partido 
Democrático paulista. 
Os três estados que compunham a Aliança (Rio Grande do Sul, Minas 
Gerais e Paraíba) tinham passado por processos de renovação de suas 
lideranças políticas, com elevação de seu nível educacional, 
rejuvenescimento de seus quadros e inclusive propostas reformistas para 
atravessar o período de agitação nacional iniciado ainda na década de 
1910, com os movimentos operários. 
No dia 20 de setembro de 1929, a chapa Vargas-Pessoa é aclamada pela 
Aliança e é lançado o seu programa. Pautava-se em dois temas básicos: 
a moralização política do país, com o voto secreto, a criação da Justiça 
Eleitoral, a independência do Judiciário e a anistia para os tenentes; 
e medidas de cunho econômico-social, como a proteção a outros setores 
da economia – e não somente para o café – e algumas medidas em favor 
dos trabalhadores. 
Getúlio, sabendo que poderia não ser eleito, fez um acordo com 
Washington Luiz. Aceitaria o resultado das eleições caso perdesse e 
colaboraria com o governo federal; em troca, o governo federal 
comprometia-se a reconhecer os deputados federais eleitos pela Aliança. 
Getúlio faria a campanha apenas no Rio Grande do Sul. No entanto, a 
situação se radicalizou, e o acordo foi parcialmente rompido. A maioria 
governista na Câmara dos Deputados boicotava as sessões parlamentares, 
para não dar quórum e permitir a fala dos deputados ligados à Aliança. No 
dia 2 de janeiro de 1930, Getúlio faz um comício no Rio de Janeiro, 
seguindo para São Paulo. Ainda foram organizadas caravanas liberais em 
Minas Gerais e nos estados do Nordeste. 
No dia 1º de março, ocorrem as eleições. Os mecanismos do coronelismo, 
que vimos no item 1.2, são utilizados dos dois lados. Júlio Prestes vence a 
eleição, com 57% dos votos. Tanto Getúlio Vargas como Borges de 
Medeiros, presidente do PRR gaúcho, reconhecem a vitória do candidato 
paulista. No entanto, começava a conspiração, a qual levaria à 
Revolução. Mas isso é assunto para o próximo módulo. 
2.1 A conspiração 
A ideia de uma revolução para derrubar o governo não nasceu após a 
derrota nas eleições. Já em 1929, um grupo dentro da Aliança Liberal, 
liderado por João Neves da Fontoura, Osvaldo Aranha e Virgílio de Melo 
Franco, já pregava a possibilidade de pegar em armas caso perdessem a 
eleição. Nesse momento, iniciou-se a articulação com os “tenentes”, que 
tinham grande prestígio após os movimentos militares da década de 1920. 
No entanto, estes mostraram-se receosos, pois nomes como Artur Bernardese Epitácio Pessoa, seus inimigos à época, estavam no movimento de 
oposição. 
Desde a proclamação do resultado da eleição preparativos vinham sendo 
feitos pelos três estados que compunham a Aliança Liberal, embora 
houvessem declarações formais de aceitação da derrota. Nesse 
momento, Osvaldo Aranha teve um papel fundamental como 
intermediador entre as partes envolvidas. Porém, foram muitas idas e 
vindas, alguns momentos de euforia e muitos de desânimo, em especial 
nos meses de junho e julho. 
Enquanto isso, o movimento tenentista se dividia. Luiz Carlos Prestes, que 
havia sido convidado para ser o líder militar do movimento, declara sua 
adesão ao comunismo. Ele considerava que o que era chamado de 
revolução nada mais era do que uma luta entre oligarquias, e que não 
apoiaria nenhum dos lados. Siqueira Campos, que o encontra em Buenos 
Aires para discutir essa posição, falece em um acidente de avião no Rio da 
Prata, em 10 de maio. As posições de Prestes são dadas a conhecimento 
no dia 30. A maioria dos “tenentes” rompe com seu antigo comandante, 
sendo simbolizados pela forte resposta de Juarez Távora. 
No Brasil, a situação piorava. Em maio, com a abertura da nova legislatura 
do Congresso Nacional, todos os deputados eleitos pela Paraíba e 14 dos 
37 de Minas Gerais não tiveram seus poderes reconhecidos. Era o que se 
chamava à época de “degola”, e servia para reduzir o poder das 
oposições. O Rio Grande do Sul, por conta do acordo de Getúlio com 
Washington Luiz, teve todos os seus deputados reconhecidos. Vargas, 
contudo, denunciou a 1º de junho as fraudes e violências cometidas pelo 
governo federal. 
Um acontecimento, porém, mudará o rumo dos acontecimentos. A 26 de 
julho, João Pessoa é assassinado no Recife por José Dantas. O crime foi 
cometido por razões passionais: a polícia paraibana invadiu o seu escritório 
e confiscou cartas dele com sua amante, Anayde Beiriz. Estas cartas, de 
conteúdo íntimo, foram enviadas à imprensa local, que as publicou. José 
Dantas era ligado a José Pereira, chefe de um levante contra o governo 
estadual no semiárido do estado. Na época, contudo, a culpa do 
assassinato foi atribuída ao governo federal. Seu enterro, no Rio de Janeiro, 
provocou grande comoção e reacendeu a chama da revolução. 
Getúlio, uma esfinge, tinha uma posição aparente de distanciamento do 
movimento e, às vezes, até de negação do mesmo. Talvez a estratégia 
fosse a de passar desapercebido. E foi isso o que aconteceu: os 
preparativos no Rio Grande do Sul foram feitos quase que totalmente sem 
conhecimento do governo federal. As armas e munições eram 
contrabandeadas vinham da Tchecoslováquia, via Argentina, em um 
esquema organizado por Osvaldo Aranha. Góis Monteiro, comandante do 
3º Regimento de Cavalaria Independente, em São Luiz Gonzaga, e velho 
conhecido de Getúlio, aceita ser o comandante militar da revolução. 
Porém, a data do movimento vinha sendo sucessivamente adiada: 25 de 
agosto, 7 de setembro, 20 de setembro. Em 25 de setembro, Getúlio fixou a 
data de início: dia 3 de outubro, às 17:30. 
2.2 A Revolução de 1930 
O início da revolução saíra como o combinado. No dia 3 de outubro, às 
17:30, iniciava-se o movimento. O horário foi escolhido pois era após o fim 
do expediente nos quarteis, sendo mais fácil de prender os oficiais do 
Exército contrários ao movimento em casa. O movimento se baseou em 
três frentes: Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Nordeste. 
No Rio Grande do Sul, o movimento ocorreu como o esperado. Após 
pronunciamento de Getúlio no dia 4, onde ele proclamou a famosa frase 
“Rio Grande, de pé, pelo Brasil! Não poderás falhar a teu destino heroico!”, 
50.000 voluntários se apresentaram. Já no dia 5 todo o estado já havia 
aderido à revolução. No dia 10, Getúlio embarca no trem rumo a Ponta 
Grossa, Paraná, entroncamento ferroviário que levava a São Paulo. Esse 
movimento foi precedido por uma coluna liderada por Miguel Costa que 
não encontrou resistência. Ali, passou a planejar o ataque às forças 
paulistas estacionadas em Itararé. Houve resistência no litoral catarinense. 
Já em Minas Gerais, houve resistência no 12º Regimento de Infantaria em 
Belo Horizonte, que aguentou por cinco dias até se entregar por falta de 
mantimentos. No interior também houve resistências em Ouro Preto, São 
João del Rei, Três Corações e Juiz de Fora, onde as forças revolucionarias 
chegaram no dia 23. De Minas Gerais partiu uma coluna que ocupou 
Vitória no dia 19. 
No Nordeste o movimento foi comandado por Juarez Távora. A revolução 
teve como foco inicial a Paraíba. Após o levante no estado, houve 
adesões no Piauí, Maranhão e Rio Grande do Norte. No Recife, já no dia 5 
o movimento tinha triunfado, com amplo apoio popular. Logo as forças se 
encaminharam para Alagoas e Sergipe, sem grandes problemas. A 
situação se complicou na Bahia, quartel-general das forças legalistas no 
Nordeste. O ex-presidente do estado, Vital Soares, foi o candidato a vice-
presidente vencedor na eleição presidencial. 
Enquanto isso, Washington Luiz não dava muita atenção às notícias de 
uma revolução. Apenas no dia 10 fez uma proclamação afirmando haver 
uma revolta, mas não se alarmara com a sua proporção. Tomou medidas 
que acabaram precipitando a sua queda: declarou estado de sítio, 
censurou a imprensa, decretou feriado bancário até o dia 21 e lançou uma 
campanha de repressão ao “boato”. Enquanto isso, os oficiais do Exército 
e da Marinha reconsideravam sua lealdade ao governo. 
A situação no final do dia 23 era a seguinte: a coluna nordestina sitiava 
Salvador; as tropas mineiras, em Juiz de Fora, próximo à divisa com o Rio de 
Janeiro; as tropas gaúchas em Ponta Grossa, se preparando para a 
batalha de Itararé, na divisa com São Paulo, no dia 25. Porém, a batalha 
não ocorreu. No dia 24, uma junta militar cercou o Palácio Guanabara, 
residência do presidente, e prendeu Washington Luiz, já que ele não quis 
renunciar. No dia 28, há o acordo entre a junta e Getúlio para que este 
assumisse o governo. A marcha de trem poderia seguir. 
Passando por São Paulo, onde recebeu grandes demonstrações de apoio 
popular, no dia 31 Vargas chega ao Rio de Janeiro, com uniforme militar e 
chapéu de gaúcho. No dia 3 de novembro, assume a presidência. Antes, 
contudo, no dia 1º, ocorreu o fato simbólico do movimento: os gaúchos 
amarraram seus cavalos no Obelisco da Avenida Rio Branco, no centro da 
capital. Eles não estavam a passeio: vieram para ficar. Iniciava-se a II 
República e a Era Vargas. 
2.3 Primeiras medidas 
A revolução chegara ao poder. Porém, como em quase todas as 
revoluções, nem todos tinham os mesmos interesses. Era uma coalizão que 
tinha como interesse comum derrubar Washington Luiz e impedir a posse 
de Júlio Prestes. Porém, cada grupo tinha o seu próprio projeto: 
• os “tenentes” desejavam centralização do poder e reformas sociais. 
Alguns inclusive defendiam um caráter ditatorial para o regime. 
Destacam-se nesse grupo Juarez Távora, Miguel Costa e João 
Alberto. 
• os jovens políticos que cresceram à sombra das oligarquias 
desejavam a reforma política. Destacam-se nesse grupo Osvaldo 
Aranha, Lindolfo Collor, Virgílio de Melo Franco, Francisco Campos, 
entre outros. 
• as velhas oligarquias dos estados que apoiaram o movimento 
desejavam aumentar o seu poder no quadro nacional e o 
atendimento das suas reivindicações estaduais. Destacam-se nesse 
grupo Antônio Carlos, Artur Bernardes, Afrânio de Melo Franco. 
• a oposição paulista, congregada no Partido Democrático, desejava 
o governo de São Paulo e as liberdades democráticas. 
Como não houve um grupo que predominou no primeiro momento após a 
tomada do poder, implantou-se um Estado de compromisso, que buscasse 
atender às demandas dos diversos grupos. Essa será a tônica do período 
de Governo Provisório, que durará até 1934. O primeiro ministério nomeado 
por Getúlio tinha membros de todos osgrupos. As disputas internas 
permitiram o fortalecimento do poder pessoal de Getúlio, que era o árbitro 
das forças em disputa, ou, ainda, o único indivíduo capaz de manter coesa 
a aliança. 
Entre as primeiras medidas tomadas por Getúlio Vargas, estão a suspensão 
da Constituição de 1891, o fechamento do Congresso Nacional e das 
Assembleias Legislativas estaduais. Para os estados, nomeará interventores, 
a maioria deles ligados aos tenentes. No Nordeste, as indicações passarão 
pelo crivo de Juarez Távora, que será denominado de “Vice-Rei do Norte”. 
Porém, nem sempre as coisas correrão como o presidente deseja: os 
interventores tinham considerável soma de poder e entravam em choque 
com as velhas oligarquias locais, como foi o caso de São Paulo, o qual 
veremos adiante. Num intuito de diminuir o poder dos estados, em agosto 
de 1931, Vargas decreta o Código dos Interventores, que entre outros 
previa: 
• proibição de contratar empréstimos sem autorização do governo 
federal; 
• os estados não poderiam gastar mais de 10% de seu orçamento com 
a polícia militar (que, em vários estados, era superior ao Exército 
nacional); 
• as forças públicas estaduais não poderiam contar com artilharia e 
aviação militar. 
Medidas serão tomadas no campo da economia. Em 1931, é criado 
o Conselho Nacional do Café. O governo entra em acordo com os 
cafeicultores para tentar reverter a crise do setor, comprando o café 
excedente para alavancar os preços. Segundo Boris Fausto, essa política 
durou até 1944, e foi responsável pela queima de cerca de 78 milhões de 
sacas de café, quantidade equivalente ao consumo mundial por três anos. 
Assim, mantinha-se não somente a atividade cafeeira, mas também os 
outros setores da economia que dependiam de seus recursos. 
A busca de uma diversificação da produção agrícola, sem deixar o café 
de lado (foi o principal produto de exportação durante os 15 anos de 
governo de Getúlio), foi um dos objetivos da Era Vargas. Nesse sentido, será 
criada a Comissão de Defesa da Produção do Açúcar, que se 
transformará, dois anos depois, no Instituto do Açúcar e do Álcool. No 
Estado Novo seriam criados novos institutos, como o do Mate, o do Sal e o 
do Pinho. 
Na educação, há o início da reforma do ensino: institui-se o sistema 
seriado, em dois níveis, o primário (cinco anos) e o secundário (dois anos), 
a frequência obrigatória e a necessidade do diploma do secundário para 
ingressar no ensino superior. A reforma seria complementada na gestão de 
Gustavo Capanema, já no Estado Novo, com a reorganização do 
secundário em dois níveis, o ginásio (quatro anos) e o colegial - clássico ou 
científico (três anos). Tomam-se as primeiras medidas para a instrução 
profissional. 
Mas as principais medidas tomadas no campo social se vinculariam às 
primeiras medidas de legislação trabalhista. 
2.4 Legislação trabalhista 
Já antes de 1930 houve movimentos para criar uma legislação de 
proteção aos trabalhadores. Alguns grupos de empresários, inclusive, 
defendiam algum tipo de regulamentação nesse sentido. O Centro 
Industrial do Brasil (CIB), por exemplo, argumentava que essas medidas 
garantiriam algum controle sobre o proletariado, que se manifestara muito 
fortemente entre 1917 e 1920. 
No ano de 1919, aprovou-se uma lei relativa a acidentes de trabalho. O 
patronato criou companhias de seguros, que eram as encarregadas de 
pagar os benefícios. Em 1923, foram criadas as Caixas de Aposentadorias e 
Pensões, embrião do sistema de previdência social. Garantiam 
aposentadoria, pensões para dependentes, ajuda médica e auxílio 
funerário. Inicialmente restrita apenas aos ferroviários, até o final da 
Primeira República a iniciativa já tinha atingido os portuários e os marítimos. 
Com a forte repressão ao movimento operário na década de 1920 e a 
crescente intervenção do Estado nas relações entre patrões e operários, 
muitos grupos patronais deixaram de apoiar novas medidas. Ainda assim, 
duas leis foram aprovadas: em 1925, a Lei de Férias, que garantia 15 dias 
anuais de descanso remunerado; e em 1926, a Lei de Regulamentação do 
Trabalho do Menor, que propunha uma jornada de trabalho máxima de 
seis horas aos menores de 18 anos. 
Porém, essas medidas tiveram uma eficácia parcial. Muitos patrões 
resistiam ao seu cumprimento. Por outro lado, a fiscalização era precária, e 
somente grupos com grande poder de pressão, como os ferroviários, 
conseguiam fazer cumprir essas medidas. Fora de São Paulo e do Rio de 
Janeiro, pouco se avançou. É nesse clima que a “questão social” estava 
em 1930. 
Uma das primeiras medidas de Getúlio Vargas foi a criação do Ministério 
do Trabalho, Indústria e Comércio, o “Ministério da Revolução”, que foi 
ocupado por Lindolfo Collor. Só a criação do ministério já dava um 
tratamento distinto ao da frase “a questão social é questão de polícia” do 
ex-presidente Washington Luiz. O pensamento era que somente a 
intervenção estatal impediria os conflitos entre capital e o trabalho. 
Na gestão de Lindolfo Collor, entre novembro de 1930 e março de 1932, 
foram estabelecidas as bases da política trabalhista: organização 
do Departamento Nacional do Trabalho; regulamentação do trabalho 
feminino e de menores; regulamentação da jornada de trabalho em 8 
horas diárias e 48 semanais; a criação de Juntas de Conciliação e 
Julgamento, órgãos para julgar conflitos trabalhistas, que seriam o embrião 
da Justiça do Trabalho; permissão de convenções coletivas de 
trabalho entre sindicatos e patrões. 
Mas a principal medida na gestão de Collor, pensando no futuro do 
regime, foi a regulamentação da atuação dos sindicatos. A proposta 
varguista era implantar uma estrutura sindical corporativista na qual 
patrões e empregados, reunidos nas suas associações, se transformassem 
em elementos de sustentação do governo. Os sindicatos constituíam-se em 
amortecedores dos conflitos entre patrões e operários. Pelo decreto 19.770, 
de 19 de abril de 1931, o Ministério reconhecia um sindicato por categoria 
profissional em uma região, o que limitava a liberdade de organização 
operária. Esse sindicato deveria ser inscrito no Ministério e ter seus estatutos 
aprovados. Assim, seus filiados poderiam gozar da nova legislação. Com o 
tempo, caso as coisas saíssem do previsto, o governo poderia intervir no 
sindicato. Ao mesmo tempo, o Estado criava um discurso de que as leis 
trabalhistas eram uma concessão de Getúlio Vargas. 
O sucessor de Collor, Joaquim Pedro Salgado Filho, que ocupou o Ministério 
entre 1932 e 1934, regulamentou algumas das medidas de Collor, em 
especial as relativas ao trabalho feminino e às Juntas de Conciliação, criou 
a carteira de trabalho e os Institutos de Aposentadorias e Pensões, 
sucessores das Caixas criadas em 1923. Diversas categorias profissionais 
seriam beneficiadas, como os marítimos (IAPM), comerciários (IAPC) e 
bancários (IAPB). Com outros ministros, seriam criados os dos industriários 
(IAPI) e dos servidores públicos (IPASE). 
Inicialmente, houve resistência a esse plano. Os sindicatos acreditavam 
que essa forma de atrelamento limitava a liberdade de organização 
operária. Somente se inscreveram no Ministério sindicatos de categorias 
profissionais com menor tradição associativa. Os empresários, por seu lado, 
pensavam que a existência de um único sindicato por categoria poderia 
fortalecer os trabalhadores, e alguns questionavam a crescente 
interferência do governo nas relações de trabalho. Contudo, a partir de 
1933, a estratégia governamental passou a funcionar, com a 
“oficialização” de centenas de sindicatos interessados nas novas leis que 
vinham sendo promulgadas. 
Um grande golpe na política trabalhista foi a liberdade sindical garantida 
pela Constituição de 1934. Neste ano e no seguinte, houve uma série de 
greves e movimentos operários. Contudo, com a polarização política do 
país e a aprovação da Lei de Segurança Nacional,em 1935 (veremos no 
módulo 3), os sindicatos que não se enquadravam com a política varguista 
sofreram intervenção ou foram fechados, retornando aos trilhos desejados 
pelo governo. A Constituição de 1937 restabeleceria a unicidade sindical. 
Um decreto de 1939 acabaria com as centrais sindicais que reuniam 
trabalhadores de diversas categorias e implantaria uma organização 
vertical, em que cada categoria profissional tinha seus sindicatos locais, as 
federações regionais e a confederação nacional. 
Nas gestões seguintes a de Salgado Filho (Agamenon Magalhães, 
Valdemar Falcão e Alexandre Marcondes Filho) seriam criados os seguros 
de acidentes de trabalho, as indenizações por demissão sem justa causa, 
o salário mínimo, a Justiça do Trabalho e o imposto sindical. Este último, 
que consistia no pagamento anual ao sindicato no valor equivalente a um 
dia de trabalho, ajudou as organizações a não depender mais das 
contribuições voluntárias. Muitos sindicatos e seus dirigentes, não 
precisando mais fazer força para obter recursos, foram cooptados pelo 
governo. Não à toa, ficaram conhecidos como pelegos. 
Toda a legislação promulgada na Era Vargas seria compilada em 1943, 
com a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), a qual, mutilada em muitos 
pontos, sobrevive até a atualidade. 
2.5 Os tenentes e o Governo Provisório 
Os “tenentes” foram uma das principais bases da Revolução de 1930. Após 
quase uma década de combates contra o Estado, os tenentes 
desenvolveram um projeto político para o país baseado em três 
pilares: estatismo (o Estado acima de todas as classes e único capaz de 
promover a unificação da nação e o progresso, mediante a estatização 
dos núcleos fundamentais da infraestrutura econômica), 
o autoritarismo (defesa da volta à democracia somente quando as 
reformas sociais tivessem sido concluídas e quando os alicerces do poder 
oligárquico tivessem sido desmantelados) e o elitismo (eram uma força de 
vanguarda que era capaz de liderar as transformações que desejavam, 
por isso não precisava mobilizar o povo). Consideravam-se os verdadeiros 
revolucionários. O grupo ocupa posições de destaque, como cargos em 
importantes órgãos governamentais e vários intendentes, especialmente 
no Nordeste e em São Paulo. 
Porém, como vimos no item 2.3, eles não foram os únicos a participar da 
revolução. Para unificar o grupo e definir um programa político mais claro 
que se contrapusesse a seus rivais, além de servir como núcleo de pressão 
junto ao governo, os “tenentes” fundaram o Clube 3 de Outubro, em 
fevereiro de 1931. Inicialmente, defendiam o prolongamento do governo 
provisório e o adiamento da reconstitucionalização do país até que as 
reformas sociais estivessem concluídas. Em um curto prazo, qualquer 
eleição teria os mesmos resultados que na Primeira República, pois as 
oligarquias ainda estavam solidamente consolidadas nos estados. 
No mesmo mês, mas no ano seguinte, dão a conhecer o seu programa 
político. O documento, tendo como base a crítica ao federalismo da 
Primeira República, defendia um governo central forte, a intervenção 
estatal na economia, com a nacionalização de algumas atividades 
econômicas essenciais (transportes, portos, recursos hídricos e minerais), e a 
eliminação do latifúndio; além de reformas sociais como a previdência 
social e as leis trabalhistas. Defendia também a representação política 
classista (ou seja, das categorias profissionais), juntamente com a 
representação dos estados. 
Quase concomitantemente à divulgação de seu programa, Getúlio 
decreta o Código Eleitoral, em 24 de fevereiro de 1932, o primeiro passo 
para a reconstituicionalização do país (trataremos disso no item 2.7). Esse 
acontecimento desagradou os tenentes, que precisariam defender seu 
projeto no voto popular. Um grupo de membros do Clube reagiu e, no dia 
seguinte, atacou a sede do jornal Diário Carioca, que lhes fazia oposição. 
A falta de punição pelo governo levou a uma crise ministerial, com a 
demissão de ministros gaúchos, e a ofensiva dos grupos que lhe faziam 
oposição, que desembocaria no levante paulista de 1932. Já antes da 
guerra civil, mas especialmente depois, predominou no Clube uma posição 
mais autoritária e um nacionalismo exacerbado, o que levou o governo 
provisório a se afastar do grupo. As divisões entre os tenentes se 
acentuaram, com grupos se encaminhando para a oposição a Vargas, 
outros buscando composições com as oligarquias estaduais, como foram 
os casos de Juarez Távora e Juraci Magalhães. As eleições de 1933 
marcaram o esgotamento do projeto político tenentista. Seu elitismo levou 
a não buscar formas de aproximação com as massas, que eram simpáticas 
à grande maioria de suas propostas, o que isolou o grupo e contribuiu para 
a dissolução do Clube 3 de Outubro em 1935. 
2.6 O levante paulista de 1932 
O levante paulista de 1932 pode ser considerada como a máxima 
expressão dos grupos oligárquicos que se opunham ao projeto político 
defendido pelos tenentes e que defendiam a reconstitucionalização do 
país. 
São Paulo foi a base do sistema político nacional durante a Primeira 
República, e o mais rico, a ponto de alguns o denominarem de 
“locomotiva da federação”. Era natural que Getúlio Vargas o visse como 
um potencial foco oposicionista. E isso acabou tornando-se patente logo 
nos primeiros dias após a tomada do poder. As oposições paulistas, 
congregadas no Partido Democrático (PD), liderado por Francisco Morato, 
esperavam receber a interventoria federal. No entanto, os “tenentes” 
conseguiram colocar um dos seus: o pernambucano João Alberto. Este 
deveria governar com um secretariado do PD. O novo interventor 
trouxe Miguel Costa, outro tenente, para ser secretário de segurança 
pública. O rompimento logo veio e em abril de 1931, o PD passou para a 
oposição. 
Sem o PD no governo, houve uma série de conflitos internos. João Alberto 
deixa a interventoria em julho, após disputas com Miguel Costa. Foram 
nomeados vários interventores, que pouco duravam no cargo. A oligarquia 
paulista, então, decidiu se reorganizar. O Partido Republicano Paulista 
(PRP) e o PD formaram a Frente Única Paulista, em fevereiro de 1932, com 
duas pautas: nomeação de um interventor paulista e imediata 
reconstitucionalização do país. 
Esse movimento era seguido nos dois principais estados que haviam servido 
de base à Revolução de 1930. No Rio Grande do Sul, mantinha-se a Frente 
Única Gaúcha, com o Partido Republicano Rio-Grandense (PRR) e o 
Partido Libertador (PL). Já em Minas Gerais, o Partido Republicano Mineiro 
(PRM) se reconciliara com a sua dissidência, a Concentração 
Conservadora. A pauta dos três estados era a mesma: a 
de reconstitucionalização do país. Vargas, sentindo a pressão, editou o 
Código Eleitoral em fevereiro, mas não definira a data das eleições. 
Enquanto isso, os preparativos militares ocorriam. Os paulistas estavam mais 
coesos em torno da opção militar. Já gaúchos e mineiros tentavam ainda 
articulações políticas que acelerassem as eleições. Em maio, Getúlio 
declara a data da eleição para a Constituinte para daqui a um ano. Mas 
já era tarde: a opção pelo levante estava tomada. A morte de quatro 
jovens na tentativa de invasão a uma organização ligada aos tenentistas 
em 23 de maio acirrou ainda mais os ânimos. As iniciais de seus nomes, 
Miragaia, Martins, Dráusio e Camargo, batizaram uma sociedade secreta, 
a MMDC, que tramava a revolta. 
No dia 9 de julho, o levante, também chamado de Revolução 
Constitucionalista de 1932, é iniciado. As pautas eram as da Frente Única 
Paulista. A antecipação do início do movimento, previsto para o dia 14, 
privou os rebeldes de uma série de apoios fundamentais. No Rio, Agildo 
Barata e quase todos os oficiais que participariam da revolta foram presos. 
No Rio Grande do Sul, o interventor Flores da Cunha já tinha armado 3.000 
homens em apoio aos paulistas. A antecipação, porém,o pega de 
surpresa, e ele decide trocar de lado, mantendo-se fiel a Vargas. Minas 
assumiu uma hostilidade armada. 
Tendo como líderes militares Isidoro Dias Lopes e Bertoldo Klinger, teve 
apoio de quase toda a sociedade paulista, com exceção dos operários, 
que tiveram as fábricas estritamente vigiadas durante o movimento. São 
realizadas campanhas de voluntários e de arrecadação de recursos, como 
a de doação de joias em ouro. A indústria paulista se colocou a serviço do 
movimento, produzindo material bélico. Restritos a seu território, os paulistas 
resistem por cerca de três meses. No Rio Grande do Sul, ainda houve uma 
tentativa de organização de forças lideradas por Assis Brasil, Borges de 
Medeiros e Raul Pilla. Porém, estas são derrotadas na Batalha do Cerro 
Alegre, em Piratini, a 20 de setembro. Borges, que foi presidente do estado 
por 25 anos, é preso e há cerca de 200 baixas. 
No início de outubro é assinado um armistício. Inicialmente, Getúlio acerta 
as contas: prende ou manda para o exílio as lideranças do movimento, 
expulsa militares do Exército, cassa direitos políticos de opositores, reduz a 
Força Pública paulista ao status de polícia. Depois, negocia: em 1933, 
nomeia um interventor paulista, Armando de Sales Oliveira, e permitiu a 
renegociação das dívidas do café. O principal resultado político do 
levante paulista de 1932 foi a reaglutinação das oligarquias estaduais, que 
se fortaleceram para as eleições de 1933, enquanto, como vimos no item 
anterior, os tenentes cada vez mais se afastavam do governo, por conta 
de suas posições extremas. 
2.7 A Constituição de 1934 
Depois da vitória nas armas, era o momento da composição política. Já 
antes do levante paulista, Getúlio Vargas, em fevereiro de 1932, 
promulgara o Código Eleitoral. Este trazia importantes inovações em 
relação ao processo eleitoral vigente na Primeira República. Implantava-se 
o voto obrigatório e secreto, para maiores de 21 anos e alfabetizados. 
Instituía o voto feminino, depois de muitas pressões dos movimentos de 
mulheres na década de 1920, com destaque para Berta Lutz. Criava 
a Justiça Eleitoral e o Tribunal Superior Eleitoral, que comandariam o 
processo eleitoral. Isso faz com que o Legislativo deixe de ter o controle 
sobre sua própria renovação, que se pautava pela negação dos 
mandatos eleitos pelas oposições por meio das “degolas”. O Código 
também trazia como novidade a representação classista, com 
representantes de funcionários públicos, profissionais liberais, empregadores 
e empregados, eleitos por meio de delegados sindicais. 
As eleições para a Assembleia Constituinte realizaram-se em maio de 1933 
e deram ampla vitória às oligarquias estaduais reunidas. Os “tenentes” não 
tiveram sucesso. A Igreja Católica teve destaque, organizando a Liga 
Eleitoral Católica para indicar a seus fiéis a eleição de deputados que 
defendessem os princípios da religião. Era o coroamento de um processo 
iniciado na década anterior, através do Centro Dom Vital. Ainda como 
destaque, houve a eleição da primeira mulher deputada: a paulista 
Carlota Pereira de Queirós. 
Os trabalhos da Assembleia Constituinte se iniciaram em novembro de 
1933. As discussões mais acaloradas se deram em torno da forma de 
organização do Estado. Os estados do centro-sul defendiam maior 
autonomia em relação ao governo federal, enquanto os do Norte e 
Nordeste defendiam uma maior força ao poder central. Após oito meses 
de discussões, a Constituição foi aprovada em 16 de julho de 1934. 
Inspirada na constituição alemã de 1919, tentou conciliar pontos de 
vista. Garantia-se a autonomia dos estados, porém com a ratificação do 
que foi decretado no Código dos Interventores de 1931. Ao mesmo tempo 
se fortalecia o poder do governo federal no plano econômico-social. 
Permitia-se a nacionalização de minas e quedas d´água e empresas de 
seguro. No plano social, foram oficializadas algumas das medidas já 
decretadas pelo Ministério do Trabalho: criação da Justiça do Trabalho, a 
jornada de 8 horas diárias, férias anuais remuneradas e descanso semanal. 
A Carta criava o salário-mínimo, que seria regulamentado só em 1938. 
Incorporaram-se as disposições do Código Eleitoral de 1932, com a 
alteração da idade mínima para o voto em 18 anos. Houve também a 
inclusão de dois novos temas: a família, que atendia aos interesses dos 
parlamentares católicos, em especial pelo reconhecimento do casamento 
religioso, a obrigatoriedade do ensino religioso nas escolas e o apoio às 
famílias numerosas. E a educação, reconhecida como direito social a ser 
garantido pela família e pelos poderes públicos, cabendo à União a 
elaboração do Plano Nacional de Educação e com a previsão de ensino 
primário gratuito e obrigatório. 
No dia seguinte ao da promulgação da Constituição, ocorreram as 
eleições indiretas para a presidência da república, com vitória de Getúlio 
Vargas, que teria mandato até 1938 (4 anos sem possibilidade de 
reeleição). Porém, a Constituição teve vida curta. Getúlio pensava que ela 
limitava demais seus poderes. Por outro lado, a radicalização política do 
período contribuiu, e muito, para o fechamento do regime. Mas esse 
período da Era Vargas é assunto para o próximo módulo. 
3.1 Ação Integralista Brasileira 
O clima internacional da década de 1930 era antiliberal. As democracias 
liberais não conseguiam fazer frente à crise do capitalismo mundial. As 
soluções vinham de regimes de força: nazismo, fascismo, stalinismo. Por 
outro lado, dentro do país havia o confronto de vários projetos políticos. Era 
tempo de se perguntar: que Brasil que se queria. É nesse contexto que 
surgem organizações de massas de direita e de esquerda com projetos 
políticos antiliberais, que contestavam tanto os preceitos da Primeira 
República como os “descaminhos” da Revolução de 1930. 
A Ação Integralista Brasileira (AIB) foi uma organização política inspirada 
no fascismo italiano. Foi fundada por Plínio Salgado em outubro de 1932. 
Lembrem que falamos de Salgado no item 1.3, quando tratamos da 
Semana de Arte Moderna de 1922. As ideias fascistas, contudo, não eram 
novas no Brasil. Já desde 1922 existem notícias de movimentos com ideias 
semelhantes, como a Legião Cruzeiro do Sul. No começo da década de 
1930 surgiram diversas organizações e movimentos regionais, como o 
Partido Nacional Sindicalista, a Ação Social Brasileira e a Legião Cearense 
do Trabalho. A AIB congregará esses órgãos que estavam dispersos por 
todo o território nacional. 
O próprio nome do movimento dizia muito sobre os seus 
propósitos: Ação indica mobilização; Integralista deriva de Integral, 
conotando totalidade, contra a democracia dos 
partidos; Brasileira enfoca na defesa dos interesses nacionais contra os 
partidos estaduais (velhas oligarquias) e movimentos internacionais 
(comunismo). Tal como os movimentos similares europeus, apresentava 
uma série de símbolos e rituais que promoviam a identificação com a 
causa, como o uso da letra grega sigma como emblema – que simbolizava 
a soma, a síntese de todas as ideologias, acima das diferenças – e da 
saudação Anauê, que significava na língua tupi algo como “Você é meu 
parente”, com o braço direito levantado. 
O Manifesto Integralista, de outubro de 1932, é considerado o ponto de 
partida da AIB, dando a conhecer o seu programa básico: a defesa do 
nacionalismo, muito mais em termos culturais (“criar uma cultura, uma 
civilização, um modo de vida genuinamente brasileiro”) que econômicos 
(mas criticando o capitalismo internacional, dominado pelos judeus); e a 
organização do Estado e da sociedade por meio de um governo 
autoritário dirigido por um chefe e um partido único, que garantiria ordem 
e disciplina para o país, tendo como modelo o corporativismo italiano. 
Também pregava o combate ao liberalismo e ao comunismo. Baseava seu 
movimento em temas conservadores, como a família, a tradição do paíse 
a Igreja Católica, que se expressava no lema “Deus, Pátria e Família”. 
A AIB apresentava uma estrutura rigidamente hierarquizada, com a 
existência de um chefe nacional – o próprio Plínio Salgado. Destacam-se 
entre os principais integralistas, além de Salgado, Miguel Reale e Gustavo 
Barroso. Este último defendia claramente o antissemitismo; contudo, o 
movimento não defendia a pureza racial em um país mestiço como era o 
Brasil. Em 1934, realizou seu primeiro congresso nacional, em Vitória. 
Salgado era auxiliado por um Conselho Nacional, com funções consultivas, 
e por departamentos nacionais, que seriam algo como ministérios. Em 1936 
foram criados dois novos órgãos de representação: a Câmara dos 
Quarenta (que depois viraram Quatrocentos) e o Conselho Supremo. 
Também foi criada a Corte do Sigma, que se reuniu pela primeira vez em 
outubro de 1936, que era o órgão máximo de representação, com os 
principais chefes do movimento. Alguns autores afirmam que essa forma de 
organização já era pensada para quando os integralistas chegassem ao 
governo. Era um Estado em potencial, só esperando para tomar o poder. 
Além disso, possuía uma milícia e diversos órgãos de divulgação do 
movimento. 
Os membros da AIB eram funcionários públicos, profissionais liberais, 
jornalistas, médicos, advogados, professores, padres, militares, entre outros, 
a maioria menores de 30 anos e com importante mobilização de mulheres, 
que deveriam dedicar-se às suas famílias e lares, defendendo-os do 
comunismo, educando crianças cristãs e patrióticas. Porém, entre os 
dirigentes nacionais, predominavam membros da alta classe média, em 
especial de seu grupo intelectualizado. 
O integralismo teve um rápido crescimento. Estimativas apontam para um 
número de membros entre 300 mil e 400 mil. Outras apontam números de 
até 1 milhão. Com o crescimento do movimento, aumentou o número de 
desfiles e concentrações, mostrar a força da organização, sendo um dos 
mais impressionantes o do Congresso de Blumenau, em 1935, com cerca 
de 40 mil integrantes. Embora o integralismo seja comumente associado às 
colônias italiana e alemã, especialmente no Sul, a maioria dos filiados 
estava em São Paulo, seguido de Bahia e Santa Catarina. Nesse último 
estado, sim, concentrado nas zonas de colonização alemã e italiana. 
A AIB se caracterizou por ser a primeira organização política de massas da 
história brasileira. Com o crescimento do antifascismo, o qual veremos no 
próximo item, os conflitos de rua passaram a ocorrer e serem violentos. Em 
1936, por conta da tentativa de fazer Plínio Salgado presidente nas 
eleições previstas para 1938, transforma-se em partido político. No módulo 
4 contaremos como terminou a história do integralismo. 
3.2 Aliança Nacional Libertadora 
Como vimos no item 1.3, em 1922 foi fundado o Partido Comunista 
Brasileiro. Este, desde então, passou quase todo o tempo na ilegalidade. O 
movimento integralista crescia e o partido continuava pequeno. Como 
vimos anteriormente, Luiz Carlos Prestes, em 1930, declara-se comunista; no 
entanto, o PCB não o aceita, por discordar de sua estratégia de revolução 
operária e camponesa. A tese do partido era de que era necessário 
primeiro uma revolução burguesa no país, que destruísse as estruturas 
“feudais” e desenvolvesse o capitalismo nacional, para depois se fazer a 
revolução proletária. Em 1934, Prestes é convidado pela Internacional 
Comunista para passar uma temporada em Moscou. 
Era nesse clima que as forças de esquerda se encontravam no país até 
1935. O avanço do fascismo mundo afora (e particularmente do nazismo 
na Alemanha) levou a um reposicionamento da Internacional Comunista, 
organização que englobava os partidos comunistas do mundo. Esta passou 
a defender a criação de frentes populares reunindo todos os que se 
opunham ao fascismo. Já havia algumas pequenas frentes que reuniam 
comunistas, socialistas e tenentes insatisfeitos com os rumos do país. Em 
março de 1935, congregando essas iniciativas, é fundada a Aliança 
Nacional Libertadora (ANL), no Rio de Janeiro. No lançamento do 
programa da organização, Luiz Carlos Prestes, ainda na União Soviética, é 
aclamado presidente de honra. O Partido Comunista Brasileiro era mais um 
dentre vários que aderiram ao movimento, mas não tinha a sua 
hegemonia. 
O programa da ANL trazia quatro pontos: a constituição de um governo 
popular, embora não se soubesse exatamente de que tipo ou das formas 
de se alcançar esse objetivo; defesa das liberdades públicas; medidas 
econômicas nacionalistas, como a suspensão do pagamento da dívida 
externa e a nacionalização das empresas estrangeiras; a reforma agrária e 
a proteção aos médios e pequenos produtores. Não havia na aliança 
unanimidade nem clareza de como alcançar esse programa. 
Curiosamente, nenhuma das medidas propostas dizia respeito 
especificamente à classe operária. 
Nos meses seguintes, milhares de pessoas aderem à organização, inclusive 
importantes tenentes, como Miguel Costa e Hercolino Cascardo. As 
estimativas variam entre 100 e 400 mil integrantes. Do ponto de vista 
organizacional, a ANL era formada por grupos de no mínimo dez pessoas 
reunidas com base em lugares de residência, grupos profissionais ou 
instituições de ensino. Calcula-se um número de 1.600 grupos. Havia grupos 
de diversas correntes: comunistas, socialistas, católicos, positivistas, 
democratas de vários partidos, tenentes que haviam se desiludido com o 
governo. 
Prestes retorna ao Brasil em abril, mantendo-se na clandestinidade. Em 
agosto de 1934 havia ingressado no PCB por ordens de Moscou. Isso 
permitiu que o partido tivesse uma maior aceitação em setores sociais que 
lhe eram em geral refratários, como as classes médias e os tenentes. Junto 
com ele viera um pequeno grupo de militantes estrangeiros, entre os quais 
se destacaria a alemã e judia Olga Benário. 
À medida que a ANL crescia, o clima político do país ficava mais tenso. Os 
enfrentamentos de rua com os integralistas eram cada vez mais frequentes. 
A aliança investiu em manifestações públicas e caravanas rumo ao Norte e 
Nordeste. Em 5 de julho, data do aniversário dos 18 do Forte, é lido um 
manifesto de Prestes pregando a derrubada do governo e todo o poder à 
ANL. Esse posicionamento não era bem visto por grande parte da diretoria 
da organização. Muitos viam, e com razão, que o movimento ainda era 
incipiente e superestimava suas forças, precisando se organizar melhor 
para enfrentar as forças da direita. 
O governo Vargas, aproveitando-se desse discurso, fecha a entidade com 
base na Lei de Segurança Nacional aprovada em abril e passa a perseguir 
seus membros. Uma das possibilidades para que Getúlio tenha ordenado a 
dissolução do movimento é a de que este simbolizasse a continuidade da 
luta tenentista, simbolizada em Prestes e no 5 de julho. A Aliança, embora 
tenha mantido a publicação de boletins e organizado comícios rápidos, 
perde o contato com as massas populares. A partir desse momento, o PCB, 
embora pequeno, mas com quadros com experiência na ilegalidade, 
toma a frente da ANL e passa a planejar a insurreição armada. 
O levante comunista de 1935, também chamada de Intentona Comunista, 
ocorre no fim de novembro. Estudos mais recentes apontam que a sua 
organização foi precária (tanto é que os focos ocorreram em dias 
diferentes) e que não havia nenhuma orientação de Moscou. Foram três 
focos de insurreição. Em Natal, no dia 23, os revoltosos tomam conta da 
cidade e conseguem permanecer no controle por quatro dias. A grande 
maioria dos participantes nem comunista era, muitos estavam 
simplesmente insatisfeitos com a crise política e econômica do estado, em 
especial após a derrota do interventor Mário Câmara na eleição para 
governador. Houve levantes também no Recife, no dia 24, e no Rio de 
Janeiro, que deveria ser o foco principal, no dia 27. No entanto, o 
movimento, precipitadoe não contando com o apoio popular que era 
esperado (e que nem fora organizado), é rapidamente derrotado. 
A repressão, que já era forte, é intensificada, como veremos no item 3.5. 
São quase 10 mil prisões, entre elas a do prefeito do Rio de Janeiro e um 
dos principais “tenentes civis”, Pedro Ernesto, e do escritor Graciliano 
Ramos. Prestes, por um tempo, consegue escapar. 
3.3 Nazismo no Brasil 
Conforme as pesquisas mais recentes, as ideias nazistas chegaram ao Brasil 
por volta de 1928, quando foram fundados os primeiros núcleos nazistas em 
Santa Catarina. Em 1931, é organizado o Partido, com sede no Rio de 
Janeiro, o qual está ligado à Organização do Partido Nazista no Exterior 
(AO). Em 1934, a sede nacional é transferida para São Paulo, que tinha o 
maior número de alemães natos do país, a maioria deles emigrados após a 
Primeira Guerra Mundial. 
Em seu auge, em 1937, contou com 2.900 membros, quase todos alemães 
natos (considerados “puros” pela ideologia racial nazista), o que o 
convertia na maior organização nazista fora da Alemanha. Contudo, era 
uma pequena parcela de germânicos (que eram em cerca de 90 mil nesse 
período) e de seus descendentes que participavam. Entre os nazistas “de 
carteirinha” havia comerciantes, industriais, mas também operários e 
agricultores. É importante lembrar que nem todo simpatizante filiava-se ao 
partido. As ideias nazistas foram publicadas em vários jornais, dentre os 
quais se destacou o Deutscher Morgen (Aurora Alemã), criado em São 
Paulo em 1932, e oficializado como órgão do partido dois anos mais tarde. 
A maior concentração de partidários do nazismo deu-se no estado de São 
Paulo, com 785 filiados, seguido por Santa Catarina, Rio de Janeiro e Rio 
Grande do Sul. Presente em 17 estados, o partido brasileiro tinha uma 
hierarquia interna rígida, cujo topo era ocupado por Hans Henning Von 
Cossel, nomeado pela AO e considerado o Führer tupiniquim. Existiam 
organizações paralelas ao Partido, como a Juventude Hitlerista, a 
Associação Nazista das Mulheres e a Frente Alemã de Trabalho. 
As autoridades, até 1937, não faziam nada para impedir as manifestações, 
especialmente as realizadas em 1º de maio. O nacionalismo alemão, da 
mesma forma que o italiano, era visto como uma fonte de inspiração para 
a nação que se queria construir: forte e homogênea. A Alemanha era um 
importante parceiro comercial e militar brasileiro. Haviam vários círculos 
dentro do governo que comungavam com as ideias nazistas, o que pode 
ser visto, por exemplo, nas medidas tomadas para impedir a imigração de 
judeus pelo Ministério das Relações Exteriores. 
Após o golpe do Estado Novo, o partido nazista é fechado. Isso causa um 
certo abalo nas relações entre Brasil e Alemanha. Porém, a organização 
continua atuando na clandestinidade, sendo que von Cossel sequer foi 
preso pela polícia. Com a entrada do Brasil na II Guerra e o rompimento de 
relações com a Alemanha, a busca de redes de espionagem que ligassem 
alemães no Brasil e descendentes de germânicos aos nazistas europeus 
torna insustentável as suas atividades no país, embora a paranoia 
continuasse até o final da guerra. 
3.4 É tempo de descobrir a nação... 
Talvez nenhum período na história brasileira tenha tido tantos estudos sobre 
a identidade e os rumos da nação quanto a Era Vargas. Parafraseando o 
título do livro de Roberto Damatta, queriam saber o que fazia do Brasil, 
Brasil. Essa inquietação já havia se iniciado na década de 1920, com os 
desdobramentos da Semana de Arte Moderna de 1922 e seus movimentos, 
como o Antropofágico e o Verde-Amarelo. Com a Revolução de 1930 e as 
discussões sobre que rumos a nação deveria tomar, esse processo se 
acelerará. 
Entre as obras que contribuíram para esse movimento estão, por 
exemplo, Casa-Grande e Senzala, publicada por Gilberto Freire em 1933. 
Nela, o autor defendia a contribuição das três raças (branco, negro e 
índio) para a formação do brasileiro e defendia a ideia de democracia 
racial, que será apropriada pelo regime varguista. No mesmo ano, o 
marxista Caio Prado Junior lança Evolução Política do Brasil, onde pela 
primeira vez as classes emergem nas explicações sobre a realidade 
nacional. Já em 1936, Sérgio Buarque de Holanda lançará Raízes do Brasil, 
em que traçava as diferenças da colonização portuguesa para a 
espanhola e afirmava que era preciso deixar o passado colonial para trás 
para poder ingressar na modernidade. Completando a tríade clássica de 
estudos sobre o Brasil da Era Vargas, em 1942 Caio Prado Junior irá 
publicar Formação do Brasil Contemporâneo – colônia, no qual defende 
que o Brasil nascera para ser fornecedor de gêneros tropicais no mercado 
mundial, e que a história do país até então era pautada por essa 
condição. Ou seja, para mudar de verdade, era necessário romper com 
esse sistema. Outros autores também contribuíram nesse debate, como 
Oliveira Viana, Azevedo Amaral, Cassiano Ricardo e Alceu Amoroso Lima. 
Várias tendências teóricas na busca da descoberta da nação. 
Muitos intelectuais voltam os seus olhos ao interior do país, onde estaria a 
verdadeira alma brasileira. Em especial é resgatada a figura do sertanejo, 
com um retorno para Os Sertões, de Euclides da Cunha. Esse processo 
também ajuda a desenvolver a literatura regionalista, que contribuía para 
mostrar o Brasil longe da capital e o contraste entre o que se pretendia 
moderno e os resquícios do passado. Podemos destacar nesse movimento 
as figuras de Erico Veríssimo, Jorge Amado, Graciliano Ramos, José Lins do 
Rego, Rachel de Queirós, José Américo de Almeida, Jorge de Lima. 
Por outro lado, temos a colaboração de intelectuais com o Estado. Esses 
intelectuais consideravam-se uma elite capaz de “salvar” o país, pois 
estavam conectados com as novas tendências mundiais ao mesmo tempo 
em que tinham os olhos voltados para a cultura popular. Alguns ocupam 
cargos públicos, outros terão atuações diversas, mas todos contribuíam 
para a discussão sobre a nação que se existia e qual se deveria construir. 
O Ministério da Educação e Saúde será o local de concentração de muitos 
deles, que contribuirão para a construção de uma imagem oficial da 
nação, propagada pelo governo. A gestão de Gustavo Capanema, entre 
1934 e 1945, contará com a colaboração de diversos pensadores: Carlos 
Drummond de Andrade (secretário do ministro), Manuel Bandeira, Heitor 
Villa-Lobos, Anísio Teixeira, Mário de Andrade. Em 1937, é criado o Serviço 
do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (SPHAN), sob o comando de 
Rodrigo Melo Franco de Andrade, com o objetivo de proteger o patrimônio 
histórico do país. 
Houve também a preocupação com a instrução superior. Não bastava 
apenas pensar o país. Era necessário formar seus quadros dirigentes. A 
iniciativa partirá dos estados: em 1934, São Paulo cria a primeira 
universidade brasileira, a Universidade de São Paulo e o Rio Grande do Sul 
cria a Universidade de Porto Alegre, atual Universidade Federal do Rio 
Grande do Sul. Em 1935, o Distrito Federal cria a Universidade do Distrito 
Federal, fechada em 1939. Em 1937, o governo federal cria a Universidade 
do Brasil, atual Universidade Federal do Rio de Janeiro. Para as classes 
populares, a orientação seria outra: com o Estado Novo, se enfocaria na 
instrução profissional, cujo auge foi a criação do Serviço Nacional de 
Aprendizagem Industrial (SENAI) em 1942 e dos preparativos para a criação 
do Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (SENAC) em 1946. 
3.5 ...Mas também são tempos de repressão 
O período do governo constitucional de Getúlio Vargas, entre julho de 1934 
e novembro de 1937, será caracterizado pela radicalização política, como 
vimos anteriormente. Isso contribuirá para a concentração de poderes nas 
mãos do presidente e a preparação do golpe do Estado Novo. 
As bases da repressão da ditadura do Estado Novo começam muito antes. 
Principiemos pela criaçãode uma polícia política. Esta era a Delegacia 
Especial de Segurança Política e Social (DESPS), criada em janeiro de 1933, 
com o objetivo de coibir comportamentos políticos divergentes. Era 
subordinada à Chefia de Polícia do Distrito Federal, comandada pelo 
temido capitão Filinto Müller entre 1933 e 1942. Cada estado tinha a sua 
delegacia própria, mas as ordens do que deveria ser combatido vinham 
do Rio de Janeiro. 
A radicalização política fez aumentar o trabalho da DESPS. Antes mesmo 
da fundação da ANL em fevereiro de 1935, o governo já enviara ao 
Congresso Nacional um projeto de Lei de Segurança Nacional. Esta é 
aprovado em abril de 1935, definindo os crimes contra a ordem política e 
social e restringindo as liberdades individuais. Abria-se o caminho para a 
censura à imprensa e à proibição de manifestações contrárias ao governo. 
A principal finalidade da lei era transferir para uma legislação especial, sem 
as mesmas garantias processuais, os crimes contra a segurança do Estado. 
Será usada para fechar a ANL e na repressão ao levante comunista. 
Durante esse movimento, pela primeira vez o governo solicita estado de 
sítio, que duraria até junho de 1937, sendo tratado como estado de guerra 
desde março de 1936. Nesse mesmo mês, Luiz Carlos Prestes seria preso, 
junto com sua esposa, Olga Benário. Esta, grávida de sete meses, é 
deportada para a Alemanha nazista. 
O precipitado levante comunista deu armas a Getúlio para concentrar os 
poderes na figura do presidente, unindo forças que até então lhe eram 
contrárias, desde que se combatesse o comunismo. A imagem do governo 
acabou fortalecida. Todas as medidas propostas pelo governo serão 
aprovadas no Congresso. Será criada a Comissão Nacional de Repressão 
ao Comunismo, para investigar crimes contra as instituições promovidos por 
funcionários públicos. Estes serão obrigados a apresentar atestado de 
ideologia. Em setembro de 1936, a legislação ganhará um novo ator: 
o Tribunal de Segurança Nacional. Este, subordinado à Justiça Militar, tinha 
como missão processar e julgar delitos contra a segurança nacional e 
contra as instituições militares, políticas e sociais. Entre setembro de 1936 e 
dezembro de 1937, 1.420 pessoas foram sentenciadas. Após o golpe do 
Estado Novo, torna-se um órgão permanente e autônomo. 
 
3.6 O golpe do Estado Novo 
A Constituição de 1934 fora aprovada e a normalidade democrática 
reinstaurada no país. Getúlio compôs o seu ministério sem os “tenentes”, 
distribuindo as pastas aos estados que o haviam apoiado: Rio Grande do 
Sul, Minas Gerais, Bahia, Pernambuco e São Paulo. Porém, as coisas não 
sairiam como o presidente desejava. 
A anistia aos revoltosos de 1932 fez com que estes retornassem ao país. 
Muitos deles, inclusive, foram recebidos com grandes manifestações 
populares. Em 1935, houve as eleições indiretas para os governos dos 
estados. Dos 20 interventores, apenas 9 foram eleitos. Em vários deles, as 
forças que haviam sido derrotadas em 1930 retornaram ao poder. 
E estavam previstas eleições presidenciais para 1938. Pensando que tudo 
ocorreria dentro do previsto, a partir de 1936, três candidatos lançaram-se 
à corrida: José Américo de Almeida, ex-ministro de Obras e Viação, 
representando a situação; Armando de Salles Oliveira, presidente de São 
Paulo, representando a oposição; e Plínio Salgado, representando os 
integralistas. 
Porém, ao que tudo indica, Getúlio tinha outros planos. Tanto é que o 
apoio ao longo do tempo a candidatura situacionista foi sendo esvaziada. 
Com as medidas excepcionais aprovadas em 1935 e 1936, o governo 
poderia se utilizar delas não somente para perseguir os comunistas, mas 
qualquer um que fizesse oposição ao regime. Dessa forma, as resistências 
políticas civis à continuidade de Vargas no poder foram sendo lentamente 
minadas. Nos meios militares, a situação era a mesma. 
É importante abrir um parêntese sobre o Exército nesse período, pois o seu 
apoio é que garantirá a possibilidade do golpe do Estado Novo. Entre 1930 
e 1934 será um período conturbado na instituição, ocorrendo cerca de 50 
movimentos militares, desde simples conspirações até revoltas. O Exército 
estava dividido em várias facções, em especial entre grupos que 
pertenciam à velha ordem da Primeira República e uma jovem 
oficialidade, a maioria deles do grupo dos “tenentes”. O levante paulista 
de 1932 permitiu a depuração da maioria da "velha guarda" e a 
construção de um grupo leal a Getúlio. No final de 1933, 90% dos generais 
na ativa tinham sido promovidos ao posto pelo novo governo, entre os 
quais se destacavam as figuras de Góis Monteiro e Eurico Gaspar Dutra, 
que seriam Ministros da Guerra. A guerra em 1932 fez com que Getúlio 
percebesse a necessidade de se alinhar com os militares em seu projeto de 
fortalecimento de poder e de combate às velhas oligarquias, além de 
reequipar o Exército e construir uma indústria bélica nacional. 
Com o passar do tempo, em especial após a promulgação da 
Constituição de 1934, irá se fortalecer dentro da instituição o grupo 
liderado por Góis Monteiro, que defendia que se deveria fazer 
a política do Exército, e não a política no Exército. Assim, dever-se-ia ter 
uma corporação unida em defesa de seus interesses; os militares eram uma 
classe especial de servidores da pátria e tinham o direito de intervir na vida 
política do país por meio de seu Estado-maior para fazer valer seus projetos. 
Nacionalista, anticomunista e preocupada com questões relativas à 
segurança nacional, a alta cúpula militar foi sendo lentamente atraída 
para um projeto autoritário. A ideia de uma ditadura fundada na atuação 
e influência do Exército poderia garantir a manutenção do combate às 
esquerdas. Além disso, um governo forte poderia implantar a indústria 
pesada, fundamental para garantir a segurança nacional em um 
momento de tensão global. 
Voltando às articulações de Getúlio, mesmo com poderes reforçados e 
argumentando que o país estava à beira do abismo, Getúlio não 
conseguia os dois terços do Congresso para reformar a Constituição e 
ampliar seu mandato presidencial. Sondados, os presidentes de 
Pernambuco, Bahia, São Paulo e Rio Grande do Sul se opõem à 
prorrogação. Somente o governador de Minas Gerais, Benedito Valadares, 
apoiará Getúlio. Em junho de 1937 a situação piora, com a não renovação 
do estado de guerra. 
Então, a 30 de setembro, é divulgado pela imprensa o chamado Plano 
Cohen. Este teria sido escrito pela Internacional Comunista e pregava a 
instauração de uma greve geral com subsequente tomada do poder pelos 
comunistas. O plano foi escrito pelo então capitão Olímpio Mourão Filho, 
que também pertencia ao serviço secreto integralista. Segundo ele, era um 
documento interno que acabou parando na mão da cúpula do Ministério 
da Guerra. À época, ninguém questionou a sua autenticidade. 
Desencadeou-se nova onda de perseguição aos comunistas, e Getúlio 
consegue novamente a decretação do estado de guerra. Pernambuco e 
Bahia estavam sob ameaça de intervenção federal. São Paulo aceitara o 
golpe. Flores da Cunha, a última resistência civil, exila-se no Uruguai após a 
Brigada Militar do Rio Grande do Sul ser federalizada e o comandante 
militar do Sul ser trocado. Em 10 de novembro, vem a pá de cal do governo 
constitucional: o golpe do Estado Novo. Começava a III República. 
4.1 A Constituição de 1937 e a reação 
integralista 
Getúlio Vargas, na tarde de 10 de novembro de 1937, fez um 
pronunciamento à nação. Nele, procurava justificar o golpe do Estado 
Novo, afirmando que era a única forma de combater a anarquia pela qual 
o país estava passando. A Constituição de 1934, profundamente liberal, 
segundo o agora ditador, enfraquecera o Estado e o fizera vulnerável aos 
interesses privados. Assim, outorgava uma nova Constituição à nação. Esta, 
elaborada por Francisco Campos e denominada de Polaca por ter 
influência na constituição

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