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CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIGRAN CAPITAL ANA HELENA BERTOL CARLOTO VIEIRA – 091.1045 ANDRESSA MACHADO DA SILVA – 091.1106 NATHALIA FONSECA BARROS – 091.1102 PAMELA GABRIELA SANTOS CARDOSO – 091.1075 CONSIDERAÇÕES ACERCA DA POLÍTICA NACIONAL DA ASSISTÊNCIA SOCIAL E O PAPEL DOS PSICÓLOGOS. Campo Grande 2021 2 O profissional da Psicologia passa por uma formação que busca entender o indivíduo não só em si mesmo, mas também a partir do coletivo. Dessa forma, para pensarmos em um profissional que participa das políticas públicas, temos que sair do tradicional modelo clínica particular e pensar na atuação do profissional inserido dentro de sistemas para os quais a sua formação pode contribuir. Aqui cabe conceituar de forma introdutória e breve sobre o que se entende por “política pública”, que seria o conjunto de medidas estabelecidas pelo Governo (Federal, Estadual e Municipal), podendo contar direta ou indiretamente com a participação de entes privados ou do terceiro setor, visando a garantir um direito assegurado na Constituição Federal para a sociedade ou segmentos específicos. Dessa forma, podemos estabelecer que a participação [do profissional Psicólogo], seja ela preventiva ou como tratamento, pode se dar (i) de forma direta e específica – isso é, atuando na qualidade (ou função) de Psicólogos em conselhos de saúde públicos –, ou (ii) de forma transversal, ou seja, a partir de uma lógica multidisciplinar com profissionais de outros ramos, “sabido que a autonomia da ciência segmentada está irremediavelmente afastada” (PIRES, 2008, p.151). AS POLÍTICAS NACIONAIS DE ASSISTÊNCIA SOCIAL A assistência social tem passado por diversas mudanças durantes anos, visando o aprimoramento de suas políticas, como por exemplo a IV Conferência de Nacional de Assistência Social, que tinha como interesse a construção e implementação de um Sistema Único da Assistência Social (SUAS), que contribuísse para a descentralização de responsabilidades das políticas públicas, principalmente em um cenário como o nosso em que as demandas sociais são crescentes e urgentes. Dessa maneira, a Política Nacional de Assistência Social (“PNAS”) uniu as necessidades da sociedade brasileira (de responsabilidade política) com o objetivo de tornar clara a efetivação da assistência social como direito de cidadania e responsabilidade do Estado. A forma de gestão no sistema descentralizado e participativo proposto pela Lei 8.742/1993 (“LOAS”), que dispõe sobre a organização da Assistência Social, entre outras providências, em seu capítulo III, artigo 6º, implica na participação popular, na autonomia da gestão municipal, potencializando a divisão de responsabilidades e no cofinanciamento entre as esferas de governo e a sociedade civil. Juntamente com esse processo de descentralização, a PNAS traz que além das demandas setoriais e segmentadas, previstas para o auxílio com as comunidades ou indivíduos que se beneficiam da assistência, é necessário fazer uma análise sócio territorial. Isso significa que faz-se relevante uma observação do território e apontar todo o contexto, para que assim a construção de uma rede de serviços de responsabilidade da 3 assistência social possa prover, resultando alcançar o objetivo da comunidade ou indivíduo com maior eficiência. Nessa perspectiva, podemos ver como o Psicólogo colabora com a assistência social na construção dessa rede por meio, entre outros, da análise sócio territorial. E antes da aplicação das políticas de assistência social, é de suma importância uma análise situacional, tendo assim um modo definido de olhar e quantificar a realidade, que também contribui para a construção de novas políticas públicas, sendo baseado em: ▪ Uma visão social inovadora, dando continuidade ao inaugurado pela Constituição Federal de 1988 e pela Lei Orgânica da Assistência Social de 1993, pautada na dimensão ética de incluir “os invisíveis”, os transformados em casos individuais, enquanto de fato são parte de uma situação social coletiva; as diferenças e os diferentes, as disparidades e as desigualdades. ▪ Uma visão social de proteção, o que supõe conhecer os riscos, as vulnerabilidades sociais a que estão sujeitos, bem como os recursos com que conta para enfrentar tais situações com menor dano pessoal e social possível. Isto supõe conhecer os riscos e as possibilidades de enfrentá-los. ▪ Uma visão social capaz de captar as diferenças sociais, entendendo que as circunstâncias e os requisitos sociais circundantes do indivíduo e dele em sua família são determinantes para sua proteção e autonomia. Isto exige confrontar a leitura macro social com a leitura micro social. ▪ Uma visão social capaz de entender que a população tem necessidades, mas também possibilidades ou capacidades que devem e podem ser desenvolvidas. Assim, uma análise de situação não pode ser só das ausências, mas também das presenças até mesmo como desejos em superar a situação atual. ▪ Uma visão social capaz de identificar forças e não fragilidades que as diversas situações de vida possuam. Percebe-se, portanto, primeiramente que tal visão necessita de uma observação continua que ajude na construção de um contexto, que muitas vezes considera inúmeros fatores como aspectos demográficos e sociais, tais como o trabalho infantil, gravidez na adolescência, escolaridade, deficiências tanto físicas como mentais, etc. 4 Política Pública de Assistência Social A Constituição Federal de 1988, adiciona para a assistência social o âmbito da Seguridade Social, regulamentada pelo LOAS, que pode ser entendida também como Proteção Social, que é uma forma “institucionalizada que a sociedade adota para proteger parte ou conjunto de seus membros”. A proteção social se resume em garantir as seguintes seguranças: (i) de sobrevivência (de rendimento e de autonomia), (ii) de acolhida, (iii) de convívio ou vivência familiar. A segurança de rendimento não é uma compensação de valor mínimo, mas uma garantia de que o indivíduo tenha uma forma monetária para se sustentar, independentes das limitações para o trabalho ou desemprego, como no caso dos idosos. A segurança de acolhida, entende-se como as necessidades básicas, dando direito à alimentação, vestimenta e abrigo. Visando principalmente a independência dessas necessidades, garantindo o sentimento de segurança. A segurança da vivência familiar ou a segurança do convívio [...] supõe a não aceitação de situações de reclusão, de situações de perda das relações. É próprio da natureza humana o comportamento gregário. É na relação que o ser cria sua identidade e reconhece a sua subjetividade. [...] As barreiras relacionais criadas por questões individuais, grupais, sociais por discriminação ou múltiplas inaceitações ou intolerâncias estão no campo do convívio humano. A dimensão multicultural, intergeracional, interterritoriais, intersubjetivas, entre outras, devem ser ressaltadas na perspectiva do direito ao convívio. Além disso, existem os níveis de proteção, que normalmente tem como objetivos prevenir situações de risco, trabalhando com o indivíduo ou comunidade, suas potencialidades, sendo eles (i) a proteção social básica, que tem por objetivo a prevenção de situações de risco social por meio do desenvolvimento de potencialidades e aquisições de fortalecimento de vínculos familiares e comunitários; e (ii) a proteção social especial, que se subdivide em proteção social especial de média complexidade, quando há violação dos direitos mas cujos os vínculos familiares e comunitários não foram rompidos, e em proteção social especial de alta complexidade, que é quando precisa retirar do núcleo familiar e comunitário por ameaças ou graves violações de direitos. 5 Conceito e Base de Organização do Sistema Único deAssistência Social (“SUAS”) O SUAS se constitui na regulação e organização em todo o território nacional das ações socioassistenciais. Ele também define e organiza os elementos essenciais e imprescindíveis à execução da política de assistência social, possibilitando a normatização dos padrões nos serviços, qualidade no atendimento, indicadores de avaliação e resultado, nomenclatura dos serviços e da rede socioassistencial. Ele é composto por diretrizes: descentralização político-administrativa e Territorialização; Novas bases para a relação entre Estado e Sociedade Civil; Financiamento; Controle Social; Desafio da participação popular/cidadão usuário; Política de Recursos Humanos e Informação, Monitoramento e Avaliação; além de três grandes eixos estruturantes de acesso aos direitos: 1. Vigilância social: Refere-se à produção, sistematização de informações, indicadores e índices territorializados das situações de vulnerabilidade e risco pessoal e social, que incidem sobre famílias e indivíduos. Se relaciona diretamente com o conceito de proteção social. 2. Proteção Social: a segurança de sobrevivência; de rendimento; de autonomia; a segurança de convívio ou vivência familiar; e a segurança de acolhida. 3. A defesa social e institucional: conceito de que os serviços socioassistenciais devem garantir aos seus usuários o acesso ao conhecimento dos direitos socioassistenciais e sua defesa. A ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO NO CRAS-SUAS Em linhas gerais, o Psicólogo que atua na Assistência Social busca fortalecer os usuários como sujeitos de direitos, promovendo a emancipação social das famílias e fomentando a cidadania, assim como o fortalecimento das políticas públicas. É preciso, portanto, que haja uma evolução do atendimento, que deve despir-se de pré-conceitos, e sair da concepção exclusiva dos impactos individuais para uma concepção que aborda todos os sujeitos possivelmente atingidos, sem prejuízo à uma avaliação do contexto histórico-sócio-cultural no qual está inserido o sujeito. O atendimento deixa de ser assistencialista e momentâneo para tornar-se uma construção de caráter contínuo de fortalecimento do sujeito, dos grupos e das comunidades. O sujeito empoderado tem conhecimento do seu papel como cidadão, assume a sua voz na sociedade e cria autonomia para a tomada de decisão e resolução dos problemas. O papel do Psicólogo é fazer o sujeito (re)conhecer a sua identidade e se emancipar, sem, contudo, se colocar em um papel de “salvador da pátria”; a escuta ativa 6 e o conhecimento do contexto no qual o sujeito está inserido é fundamental para uma intervenção psicológica mais efetiva e resolutiva. Uma relação de respeito entre o profissional e a população atendida deve ser estabelecida para que se construam relações de confiança. Assim, é possível se conectar com a comunidade e criar diálogos sobre os diferentes pontos de vista, compreensões e atuações consideradas adequadas para os indivíduos em seu território, percebendo cada sujeito de forma integral. Nesse sentido, os psicólogos no CRAS devem promover e fortalecer vínculos sócio- afetivos, de forma que as atividades de atendimento gerem progressivamente independência dos benefícios oferecidos e promovam a autonomia na perspectiva da cidadania. (...) Para isso, é importante compreender a demanda e suas condições históricas, culturais, sociais e políticas de produção, a partir do conhecimento das peculiaridades das comunidades e do território (inserção comunitária) e do seu impacto na vida dos sujeitos1. As atividades desses profissionais devem, portanto, estar voltadas para a atenção e prevenção de situações de risco, atuando em conjunto com o assistente social; e intervir em situações de vulnerabilidade implica em promover e favorecer o desenvolvimento da autonomia dos indivíduos, além de incentivar o empoderamento da pessoa e esclarecer onde está a pobreza e a maneira de atuar sobre ela. Ademais, é necessário no atendimento, desenvolver as ações de acolhida, entrevistas, orientações, referenciamento e contra-referenciamento, visitas e entrevistas domiciliares, articulações institucionais dentro e fora do território de abrangência do CRAS, proteção pró-ativa, atividades socioeducativas e de convívio, facilitação de grupos, estimulando processos contextualizados, auto-gestionados, práxicos e valorizadores das alteridades², sempre norteado por valores éticos-profissionais-morais, como podemos destacar das Referências Técnicas do CREPOP: Princípios que devem orientar a prática do psicólogo no CRAS2: 1. Atuar em consonância com as diretrizes e objetivos da PNAS e da Proteção Social Básica (PSB), cooperando para a efetivação das 1 CREPOP. Referência técnica para atuação do(a) psicólogo(a) no CRAS/SUAS / Conselho Federal de Psicologia | P.23 ² CREPOP. Referência técnica para atuação do(a) psicólogo(a) no CRAS/SUAS/Conselho Federal de Psicologia | P.33 2 CREPOP. Referência técnica para atuação do(a) psicólogo(a) no CRAS/SUAS / Conselho Federal de Psicologia | P.24 7 políticas públicas de desenvolvimento social e para a construção de sujeitos cidadãos; 2. Atuar de modo integrado à perspectiva interdisciplinar, em especial nas interfaces entre a Psicologia e o Serviço Social buscando a interação de saberes e a complementação de ações, com vistas à maior resolutividade dos serviços oferecidos; 3. Atuar de forma integrada com o contexto local, com a realidade municipal e territorial, fundamentada em seus aspectos sociais, políticos, econômicos e culturais; 4. Atuar baseado na leitura e inserção no tecido comunitário, para melhor compreendê-lo, e intervir junto aos seus moradores; 5. Atuar para identificar e potencializar os recursos psicossociais, tanto individuais como coletivos, realizando intervenções nos âmbitos individual, familiar, grupal e comunitário; 6. Atuar a partir do diálogo entre o saber popular e o saber científico da Psicologia, valorizando as expectativas, experiências e conhecimentos na proposição de ações; 7. Atuar para favorecer processos e espaços de participação social, mobilização social e organização comunitária, contribuindo para o exercício da cidadania ativa, autonomia e controle social, evitando a cronificação da situação de vulnerabilidade; 8. Manter-se em permanente processo de formação profissional, buscando a construção de práticas contextualizadas e coletivas; 9. Atuar com prioridade de atendimento aos casos e situações de maior vulnerabilidade e risco psicossocial; 10. Atuar para além dos settings convencionais, em espaços adequados e viáveis ao desenvolvimento das ações, nas instalações do CRAS, da rede socioassistencial e da comunidade em geral. Vimos, portanto, que o papel do Psicólogo no CRAS não é apenas resolver problemas individuais das pessoas que ali procuram por ajuda, mas ir além. O Psicólogo se insere dentro da comunidade, atuando quase que como um sujeito dela, despertando nos indivíduos e grupos familiares uma consciência coletiva de sujeitos de direitos, cientes da sua cidadania e empoderados para questionar de forma crítica e construir uma sociedade mais igualitária. 8 CONCLUSÃO Percebe-se, portanto, que um dos maiores problemas que a Assistência Social encontra é a centralização. Muito é mencionado nos textos acerca da descentralização e como ela seria benéfica para uma melhor elaboração e execução das políticas públicas de assistência – por exemplo, como a possível diminuição da burocracia –, uma vez que ao ser criado uma rede de assistência, a divisão daquilo que é responsabilidade direta da assistência social e o que é de sua corresponsabilidade colaboraria na independência no momento de se tomar decisões. Por fim, o Psicólogo por estar inserido dentro da comunidade tem um papel relevante na construção de novas políticas públicas(ou reformulação das existentes), podendo contribuir de forma ativa na proposição e/ou avaliação das propostas, com um olhar destacado pautado no conhecimento das suas práticas cotidianas, propondo soluções e protocolos. 9 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS PIRES, Maria Coeli Simões. POLÍTICAS PÚBLICAS E PSICOLOGIA _ UMA NOVA RELAÇÃO SOB O PARADIGMA DEMOCRÁTICO. Perspectivas em Políticas Públicas | Belo Horizonte | Vol. 1 | Nº. 1 | P. 133-156 | Jan/Jun 2008 Centro de Referência Técnica em Psicologia e Políticas Públicas (CREPOP). Referência técnica para atuação do(a) psicólogo(a) no CRAS/SUAS / Conselho Federal de Psicologia (CFP). -- Brasília, CFP, 2007. (re-impressão 2008). Política Nacional de Assistência Social – PNAS/2004; Norma Operacional Básica – NOB/Suas. Brasília: Ministério do desenvolvimento Social e Combate à Fome – Secretaria Nacional de Assistência Social, 2005. BraVermaN, H. Trabalho e capital monopolista.
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