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A Fase Jesuítica da Escolarização Colonial

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18 
-L 
r 
1 r:: Período 
1549 a 1808 
Consolidação do modelo 
agrário-exportador dependente 
1. A fase jesuítica da escolarização colonial
Diante das dificuldades encontradas com o regime ·de capi­
tanias hereditárias 1, é criado o Governo Geral. Este é o primeiro 
representante do poder público na colônia, que tinha como obri­
gação não substituir, e sim apoiar as capitanias, a fim de qu� o 
processo de colonização conseguisse um desep_volvimento normal. -
Entre as diretrizes básicas constantes no Regimento, isto é, 
na nova política ditada então por D. João III (17-12-1548), é en­
contrada uma; referente à conversão dos indígenas à fé católica 
pela catequese e pela instrução. 
· Em cumprimento a isto, chegam, com Tomé de Souza, qua­
tro padres e dois irmãos jesuítas, chefiados por Manoel da Nó-
brega (1549). 
-
Luiz A. de Matto_s destaca a import�ncia deste item dos "Re­
gimentos", dizendo que 
1. Como se sabe, o rei de Portugal, no ano de 1532, decidiu adotar o regi­
me de capitanias hereditárias no Brasil. De 1534 a 1536 -são criadas catorze 
capitanias com o objetivo de tornar possível o povoamento, a defesa, bem ·como­
ª propagação da fé católica. O sistema de doação a partic�lares parecia o mais 
adequado _ diante da incapacidade de Erário Régio atender as vultosas despesas 
da -colonização. 
19 
"dele dependeria ( ... ) o êxito da arrojada empresa colonizadora; pois 
que, somente , pela aculturação sistemática e intensiva do elemento indí­
gena aos valores espirituais e morais. da civilização ocidental e cristã é 
que a colonização portuguesa poderia lançar raízes definitivas ( ... ) " 
(Mattos, 1958: 31). 
Percebe-se, por estes poucos fatos, que a organização esco­
lar rto Brasil-Colônia está, como não poderia deixar de ser, es­
treit�mente vinculada à política colonizadora dos portugueses. 
Antes disso, em decorrência do estágio priµlitivo em que se 
encontravam as populações indígenas, a educação não chegara 
a se· escolarizar. A participação direta da criança nas diferentes 
atividades tribais era quase que suficiente pra a formação neces­
sária quando atingisse a idade adulta. 
Diante desta vinculação constatada, uma questão precisa ser 
resolvida: qual o motivo que levou à Colonização? Ou em outras 
palavras: qual a função da colônia e, conseqüentemente, da po­
pulação colonial? Precisa ser resolvida, porque indicará não só 
a clientela como o objetivo da educação organizada a partir daí. 
Fernando A. Novais diz que a política colonial 
"se apresenta como um tipo particular de relações políticas, com dois 
elementos: um centro de decisão (metrópole) e outro (colônia) subordinado, 
relações através das quais se estabelece o quadro institucional para que 
'·a vida econômica da metrópole seja dinamizada pelas a.tividades coloniais" 
(Novais, 1975: 7, grifo nosso). 
Este tipo de dinamização era necessário para impulsionar a 
passagem do capitalismo mercantil ao capitalismo industrial. 
No caso brasileiro, a metrópole a ter sua vida dinamizada 
era Portugal ql;le, por problemas a um tempo internos e exter­
nos, antecipou-se em relação ao primeiro passo, mas não'chegou 
a dar o segundo. 
Os comerciantes portugueses (burguesia mercantil), enquan­
to participantes do poder político representado pela centraliza­
ção monárquica, conseguida já no século XII, desempenham pa­
pel pioneiro na empresa de expansão naval. É assim que, na· 
primeira metade do século XV,- procuraram lugares.; como a cos­
ta ocidental da Aftíca� cmde não tivessem conéo.rrerites, e em 
meados do mesmo século planejaram atingir- o Oriente contor­
nando o continente africano. A tomada de posse do território 
20 
1 
brasileiro e sua colonização são atitudes inseridas em tal con­
texto. 
Diante da questão formulada anteriormente, deve ser desta­
cado, como síntese das considerações feitas, que o objetivo dos 
colonizadores era o lucro, e a função da população colonial era 
propiciar tais lucros às camadas· dominantes metropolitanas. 
No entanto, para ·que a empresa funcionasse, €stes lucros 
não poderiam se concentrar exclusivamente nos grupos externos 
citados. Uma parte, pequena, é certo, deveria permanecer na Co­
lônia ·com a carp.ada que dirigia internamente a atividade pro­
dutiva. 
O mecanismo era o seguinte: 
"( ... ) detendo a exclusividade da compra dos produtos coloniais, os mer­
cadores da mãe-pátria podiam deprimir na colônia seus preços até ao nível 
abaixo do qual seria impossível a continuação do processo produtivo, isto 
é, tendéncialmente ao nível dos custos da produção; a revenda na metró­
pole, onde dispunham da exclusividade da oferta, garantia-lhes sobrelucros 
por dois lados - na compra e na venda" (Novais, 1975: 21). 
O rápido esgotamento das matas costeiras de pau-brasil, a 
impossibilidade da população indígena produzir algo que inte­
ressasse ao mercado europeu, a possibilidade da existência de 
ouro, bem como o perigo de usurpação do território por outra 
potência, fizeram com que o governo português abandonasse a 
orient8:ção de colonizar através da ocupação 
"com agentes comerciais funcionários ·e militares para a defesa, organi­
zação em simples feitorias destinadas a mercadejar com os nativos e servir 
de articulação entre rotas marítimas e os territórios cobiçados" (Prado_ Jr., 
1969: 15-6). \; 
Obrigatório se tornou empreender a colonização em termos 
de povoamento e cultivo da terra. Os interesses das camadas 
dominantes portuguesas, e em especial do componente capita­
lista-mercantil, é que iriam determinar, como determinaram, o 
produto, a quantidade e a forma de ser produzido, bem como os 
elementos dispostos e em condições de produzir. 
Quanto a este último aspecto, constata-se a vinda de elemen­
tos de pequena nobreza para organizar a empresa coloniaZ: 
A natureza desta tarefa (produção de mercadorias), os ris­
cos a que estavam sujeitos e a necessidade de capital inicial ex-
21 
cluíram, a um tempo, os elementos da burguesia mercantil, os 
da alta nobreza e os servos. 
E se os que se dispuseram vieram para organizar, necessá­
rio se fez a escravização de quem trabalhasse a terra: os índios 
e os negros. Estes vieram satisfazer aos interesses da burguesia 
mercantil portuguesa, porque possibilitavam a produção a baixo 
custo e porque o escravo, enquanto mercadoria, era fonte de 
lucro, já que era ela (burguesia) que transportava. 
É assim que a grande produção açucareira foi a única base 
da economia colonial até meados do século XVII.
Num contexto social com tais características, a instrução, a 
educação escolarizada só podia ser conveniente e interessar a 
esta camada dirigente (pequena nobreza e seus descendentes) 
que, segundo o modelo de colonização adotado, deveria servir de 
articulação entre os interesses metropolitanos e as atividades co­
loniais. 
Mas se for retomado o item dos "Regimentos", ver-se-á que 
a clientela citada explicitamente foi a indígena, através da cate-
quese e instrução. 
Como compreender isto? Caberia aos jesuítas apenas a edu­
cação da população indígena? A quem caberia a educação dos 
outros setores da população? Outras ordens religiosas ou leigos 
deveriam disto se incumbir? 
Os subsídios recebidos e a obrigação daí decorrente também 
sugerem as idéias colocadas em forma de questão, já que os 
jesuítas deveriam fundar colégios que recebiam subsídios do Es­
tado português relativos a missões. Dessa forma, ficavam juri­
dicamente obrigados a formar gratuitamente sacerdotes .para a 
catequese. 
Mas esta determinação, que é mais específica porque trata 
já da forma de financiamento da obra, parece restringir os obje­
tivos ao âmbito da catequese: "formar gratuitamente sacerdotes
para a catequese". 
· 
Por outro lado, ao analisar-se o primeiro plano educacional, 
elaborado pelo padre Manoel de Nóbrega, percebe-se a intenção 
de c·atequisar e instruir os indígenas, como determinavam os 
"Regimentos"; percebe-se, também, a necessidade de incluir os 
22 
·1
filhos dos colonos, uma vez que, naquele instante,eram os jesuí­
tas os únicos educadores de profissão que contavam com signi­
ficativo apoio real na colônia. 
É assim que planejara "Recolhimentos, nos quais se educas" 
sem os mamelucos, os órfãos e os filhos dos principais ( caci­
ques) da terra ( ... ) " além "dos filhos dos colonos brancos dos 
povoados ( .. )" em regime de externato (Mattos, 1958_: 84-5).
O plano de estudos propriamente dito foi elaborado de for­
ma diversificada, com o objetivo de atender à diversidade de 
interesses e de capacidades. Começando pelo aprendizado do 
português, incluía o ensino da doutrina cristã, a escola de ler e 
escrever. Daí em diante, continua, em caráter opcional, o ensino 
de canto orfeônico e de música instrumental, e uma bifurcação 
tendo em um dos lados o aprendizado profissional e agrícola e, 
de outro, aula de gramática e viagem de estudos à Europa. 
Não tinha, inicialmente, de modo _explícito, a intenção de 
fazer com que o ensino prclissional atendesse à populaç,ão indí­
gena e o outro à população "branca" exclusivamente. 
"Dentre os de maiores habilidades", afirma Luiz A.. de 
Mattos (1958: 86), "contava também Nóbrega recrutar as voca­
ções sacerdotais indígenas ( ... ) ". 
Mas como cedo perceberam a não-adequação do índio para 
a formação sacerdotal católica, esta percepção não deve. ter dei­
xado de exercer influência na proposição de um ensino profissio­
nal e agrícola, ensino este que parecia a Nóbrega imprescindível 
para formar pessoal capacitado em outras funções essenciais à
vida da colônia. 
O fato de este plano ter encontrado sérias resistências a par­
ti:r de 1556, ano em que começam a vigorar as "Constituições da · 
Companhia de �esus", exigindo qe Nóbrega muito empenho até 
sua morte, em 1570, indica que ele devia entrar, de alguma forma, 
em choque com a orientação da próprià ordem religiosa. 
Isto é constatado pelo fato de o plano que vigora durante 
o período de 1570 a 1759 excluir as. etapas iniciais de estudo, o
aprendizado do canto, da música instrumental, profissional e
agrícola.
Graficamente isto seria representado da maneira como re­
presentamos no verso: 
23 
1 
1 
24 
Plano de Estudo 
de Nóbrega 
aprendizado do português 
doutrina cristã 
escola. de ler e escrever 
''�------------· 
! canto orfeônico i
�---------------· 
aprendizado profis­
sional e agrícola 
,----------------�
l ml'!sica instrumental 1
' 1 
�---· ------------� 
gramática 
latina 
.-------------------
: viagem à Europa : 
1 ' 
·--------------------'
do Ratio 
curso de Humanidades 
curso de Filosofia 
curso · de Teologia 
,------- . --------·
! viagem à Europa :
' 
' 
�-----------------J 
Nota-se que a orientação contida no Ratio, que era a orgc1-
nização e plano de estudos da Companhia de Jesus publicado em 
1599, concentra sua programação nos elementos da cultura euro­
péia. I;:videncia desta forma urri desinteresse ou a constatação da 
impossibilidade de "instruir" também o índio. 
Era necessário concentrar pessoal e recursos em "pontos es­
tratégicos", já que aqueles eram reduzidos. E tais "pontos" eram 
os filhos dos colonos em detrimento do índio, os futu"ros sacer­
dotes em detrimento do leigo, justificam os religiosos. 
Verifica-se, desta maneira, que os colégios jesuíticos foram _ 
o instrumento de formação da elite colonial.
O ·plano legal ( catequisar e instruir os índios) e o plano real 
se distanciam. Os instruídos· serão descendentes dos colonizados 
res. Os indígenas serão apenas catequisados. 
A catequese, do ponto de vista religioso, interessava à Com­
panhia como fonte de novos adeptos do catolicismo, bastap.te 
abalado com o movimento de Reforma. Do ponto de vista econô­
mico, interessava tanto a ela como ao colonizador, à medida que 
tornava o índio mais dócil e, portanto, mais fácil de ser apro­
veitado como mão-de-obra. 
A educação profissional ( trabalho manual), sempre muito 
elementar diante das técnicas rudimentares de trabalho, era con­
seguida através do convívio, no ambiente de trabalho, quer de 
índios, negros ou mestiços que formavam a maioria de popula­
ção colonial. 
A educação feminina restringia-se a boas maneiras e prendas 
domésticas. 
A elite era_ preparada para o trabalho intelectual segundo 
um modelo religioso (católico), mesmo que muitos de seus mem­
bros não chegassem a ser sacerdotes. Isto porque,· diante do 
apoio real oferecido,. a Companhia de Jesus se tornou a ordem 
dominante no campo educacional. Isto, por sua vez, fez com que 
os· seus colégios fossem procurados por muitos que não tinham 
realmente vocação religiosa mas que reconheciam que esta era 
a única via de preparo intelectual. Haja �ista que, em determi­
nadas épocas, a procura era tão maior que a capacidade, limita-
25 
da, é certo, dos colégios que chegou a causar problemas, corno 
a "Questão dos Moços Pardos", resolvida em 1689 �. No séculâ 
XVII, os graus_ acadêmicos obtidos nessas escolas eram_, juntél­
mente com a propriedade de terra e escravos, critérios importan­
tes de classificação social. 
Este componente religioso da elite colonial brasileira deve 
ser destacado juntamente com seu desejo de lucro fácil; ou me­
lhor, rápido e abundante. E esta vinculação tem suas origens .na 
própria história da constituição da nação portuguesa, onde o 
guerreiro estava, conquistando o seu próprio território, e depois 
outros, contra infiéis árabes, africanos e indígenas. 
Darcy Ribeiro denomina Portugal e suas possessões de "Im­
pério Mercantil Salvacionista" e assim se refere aos processos 
civilizatórios desse tipo: 
-, 
"Os impérios Mercantis Salvacionistas surgem na passagem do século XV 
e XVI em duas áreas marginais - tanto geográfica como culturalmente 
- da Europa: a Ibéria e a Rússia. Ambos tiraram, das energias mobili­
zadas para a reconquista de seus territórios ocupados por árabes e por
tártaro-mongóis, a força necessária para às façanhas da sua própria expansão
salvacionista" (Ribeiro, 1975q: 133).
· Ê interessante notar que �s movime�tos de Reforma e Con­
tra-Reforma ocorridos no início do século XVI criam o mesmo 
problema no seio do cristianismo. Ê assim que Portugal, entre 
outras nações, se considera defensor do catolicismo e estimula 
a atuação educacional, tanto no território metropolitano como 
no colonial, de uma ordem religiosa que se constitui para servir 
de instrumento de defesa do catolicismo e, conseqüentemente, de 
ataque a toda heresia. Nesta tarefa seus membros se dedicam 
por inteiro, como guerreiros de Cristo. Inácio de Loyola; o fun.�" 
dador, como antigo militar espanhol, chega a imprimir direta- -
mente· um regime de trabalho modelado na sua anterior forma 
de vida. 
O importante a ressaltar é que a formação intelectual ofe­
recida pelos jesuítas, e, portanto, a formação da elite colonial, 
2. Esta "questão" surge da proibição, por parte dos jesuítas, da matrícula
e freqüência de mestiços "por serem muitos e provocarem arruaças". Como 
er�?1 escolas públicas, pelos subsídios que recebiam foram obrigados a read­
m1t1-los. 
26 
será marcada por uma intensa "rigidez" na maneira de pensar 
e; conseqüentemente, de interpretar a realidade. 
Planejaram, e foram bastante eficientes em sua execução, con­
verter, por assim dizer, seus alunos ao catolicismo, afastando-os 
das influências consideradas nocivas. Ê por isso que dedicavam 
especial atenção ao preparo dos professores - que somente se 
tornam aptos após os trinta anos -, selecionavam cuidadosa­
mente os livros e exerciam rigoroso controle sobre as questões 
a serem suscitadas pelos professores, especialmente em filosofia 
e teologia. Um trecho de uma das regras do Ratio diz o seguinte: 
"Se alguns forem amigos de novidades ou de espírito demasiado 
livre devem ser afastados sem hesitação do serviço docente" (in
Paim, 1967: 28). 
O seu objetivo acima de tudo religioso, o seu conteúdo lite­
rário, a metodologia dos cursos inferiores (humanidades), que 
culminava com o movimento denominado "imitação, ou seja, a 
prática destinada a adquirir o estilo literáriode autores clássi­
cos ( ... )" (Larroyo, 1970: 390), e a dos cursos superiores (filoso­
fia e teolbgia), subordinada ao "escolasticismo", faziam com que 
não só os religiosos de profissão como os intelectuais de forma 
geral se afastassem não apenas de outras orientações religiosas 
como também do espírito científico nascente e qúe atinge, du­
rante o século XVII, uma etapa bastante significativa. Isto por­
que a busca de um novo método. de conhecimento, método este 
que caracteriza a ciência moderna, tem origem no reconhecimen­
to das insuficiências do método escolástico medieval, adotado 
pelos jesuítas. 
Este isolacionismo, fruto não apenas desta. orientação edu­
cacional como também do simples fato de ser'Colônia, e, enquan­
to tal, subordinada a um monopólio que é também intelectual, 
no caso do Brasil teve conseqüências bastante graves para a vida 
intelectual, porque a própria metrópole portuguesa encontrava­
se afastada das influências modernas. 
A formação da elite colonial em tais moldes adequa-se qua-. 
se que completamente à política colonial, uma vez que: 
27 
a) a orientação universalista jesuítica 3 baseada na literatura
antiga e na língua latina 4; 
b) a necessidade de complementação dos estudos na metró­
pole (Universidade de Coimbra) 5 e 
e) o privilegiamento do trabalho intelectual em detrimento
do manual afastavam os alunos dos assuntos e problemas rela­
tivos à realidade imediata, distinguia-os da maioria da popula­
ção que era escrava e iletrada e alimentava a idéia de que o 
mundo civi].izado estava "lá fora" e servia de modelo. Os "letra­
dos" acabavam por rejeitar não apenas esta maioria, e exercer 
sobre ela uma eficiente dominação, como também a própria rea­
lidade· colonial, contribuindo para a manutenção deste traço de 
dominação externa e não para sua superação. 
Foi dito que a adequação era quase completa porque este 
mesmo princípio universalista visava formar o cristão ( católi­
co) sem vinculações especificamente declaradas com nenhum go­
verno civil. Isto, acrescido do fato de que os melhores alunos 
eram os escolhidos para cursarem Teologia e tornarem-se futu­
ros membros da• Companhia de Jesus, fazia com que a maior 
beneficiada fosse, em realidade, a própria ordem reHgiosa. 
3,.. Os jesuítas seguíim a orientação contida no Ratio qualquer que fosse 
a região onde atuassem: A regra 34 do Provincial determinava: "como, porém, 
na variedade de lugares;. tempos e pessoas pode ser necessária alguma diversidade 
na ordem, e no tempo consagrado aos estudos, nas repetições, disputas e outros 
exercícios ·e ainda nas férias, se julgar conveniente, na sua Província, alguma 
modificação .para maior progresso nas letras, informe o Geral para que se 
tomem as deter�inações acomodadas a todas as necessidades, de modo, porém, 
que se proximem o mais possível da organização geral dos nossos estudos" 
(Franca, 1960: 132, grifo nosso). 
4. O que realmente foi organizado no Brasil foi o curso de humànidades,
isto é, os estudos menores, que se compunham de quatro séries de gramática 
(assegurar expressão clara e exata), uma de humanidades (assegurar expres­
são rica e elegante) e uma de retórica (assegurar expressão poderosa e con­
vincente). 
A escola ge ler e escrever existia excepcionalmente nos colégios como ocasião 
de que alguns alunos fossem introduzidos nessas técnicas . indispensáveis ao 
acompanhamento do curso de humanidades. O característico da época era que 
elas fossem adquiridas dentro das próprias famílias dos senhores de engenho, 
geralmente com os tios letrados.· 
5. No que diz respeito aos cursos posteriores ao de humanidades, no Brasil
foram organizados alguns visando a formação dos padres catequistas. 
28 
A adoção da orientação de administração dos bens materiais 
contida nas "Constituições" é mais uma indicação de como esta 
união entre o governo português e os jesuítas foi conduzida em 
benefício maior destes últimos. Isto levou posteriormente a um 
choque, culminando com a expulsão da Companhia de Jesus -de 
Portugal e do Brasil, em 1759. 
No plano de Nóbrega, havia a proposição de criação de con­
frarias para sust�nto da clientela dos Recolhimentos, que teriam 
nos missionários os diretores espirituais e docentes e nos leigos
os administradores dos bens materiais. N_o das "Constituições", 
não só se proibia a criação destes Recolhimentos e o atendimen­
to de sua clientela, como já foi discutido, como também ficava 
determinado que os bens materiais deveriam permanecer vin­
culados à Companhia de Jesus. E estes bens eram basicamente 
conseguidos com a aplicação dos recursos resultantes do "Pa­
drão de Redízima", colocado em execução a partir de 1564. Isto 
equivale a dizer que, a partir daí, 10% de toda arrecádação dos 
dízimos reais (imposto�), em todas as capitanias da colônia e 
seus povoados, ficavam para sempre vinculados à manutenção e 
sustento dos colégios jesuíticos. 
Além disso, seria interessante destacar que as missões jesuí­
ticas · foram a base da economia florestal amazomca durante a 
primeira metade do século XVII, advindo daí grande lucro. 
A importância social destes religiosos chegou a tal ponto, 
que se transformaram na única força capaz de influir no domí­
nio do senhor do engenho. Isto foi conseguido não só através 
dos colégios, como do confessionário, do teatro e, particularmen­
te, pelo terceiro filho, que deveria seguir a vida religiosa ( o 
primeiro seriã o herdeiro, o segundo, o h:trado). 
O número de estabelecimentos que a ordem possuía quando 
de sua expulsão (1759) varia segundo os autores. Para Tito· Lívio 
Ferreira eram "vinte Colégios, doze Seminários, um Colégio e 
um Recolhimento Feminino ( ... )" (Ferreira, 1966: 218). Para 
Fernando de Azevedo eram "36 residências, 36 missões e 17 ·co­
légios e seminários, sem contar os seminários ménores e as esco­
las de ler e escrever ( ... )" (Azevedo, 1944: 312). 
29 
2. A fase pombalina da escolarização colonial
Como já foi lembrado no item anterior, a política colonial
objetivava a conquista de um capital necessário à passagem da 
etapa mercantil para a industrial do regime capitalista. Foi dito 
também que, por razões internas e externas, Portugal, mesmo 
tendo se antecipado em relação à primeira etapa, não chegou à 
segunda. 
A nação que li_gera este processo no transcorrer dos séculos 
XVI ao XIX é a Inglaterra. Esta passa a ser beneficiada pelos 
próprios lucros coloniais portugueses, especificamente a partir 
do início do século XVII. Com o Tratado de Methuen (1703), o 
processo de industrialização em Portugal é sufocado. Seu mer­
cado interno foi inundado pelas manufaturas inglesas, enquanto 
a Inglaterra se comprometia a comprar: os vinhos fabricados em 
Portugal. Canaliza-se, assim, para a Inglaterra, o capital portu­
guês, diante da desvantagem dos préços dos produtos agrícolas 
em relação ao� manufaturados. 
Desta maneira, enquanto uma metrópole entrava em deca­
dência (Portugal) outra estava em ascensão (Inglaterra). 
Leôncio Basbaum, ao abordar a "situação econômica e po-
lítica dos países colonizadores", conclui que: " ( ... ) a partir do 
século XVI e, principalmente, do século. XVII ( ... ) , a Inglaterra 
era já uma nação burguesa e industrial" (Basbaum, 1957: 41). 
Quanto a Portugal, afirma: 
"Como nação, continuava Portugal um país pobre, sem capitais, quase 
despovoado, com uma lavoura decadente pela falta de braços que a tra­
balhassem, pelas relações de caráter feudal ainda existentes, dirigido por 
um Rei absoluto, uma nobreza arruinada, quase sem terras e se� fontes 
de renda, onde se salientava uma burguesia mercantil rica mas politicamente 
débil, preocupada apenas em importar e vender para o estrangeiro espe­
ciarias e escravos e viver no luxo e na ostentação. 
Era o país uma nação em que o feudalismo se desagregava por si' 
mesmo, sem que se consolidasse um capitalismo sobre os seus escombros" 
(Basbaum, 1957: 48-9). 
- O conhecimento destas distintas situações tem importância
quando se está interessado na compreensãodo processo de sub­
missão/emancipação, à medida que os objetivos coloniais tam­
bém serão diferentes e acabarão por tornar tal processo . mais 
30 
ou menos acelerado. É importante, também, quando se está ana­
lisando as tentativas de transformação da situação portuguesa 
· em meados do século XVIII, consubstanciadas nas ''Reformas
Pombalinas", que incluem o âmbito escolar métropolitano e
colonial.
O marquês de Pombal (Sebastião José de Carvc1.lho e Melo),
enquanto ministro d.e um monarca ilustrado (D. José I), orien­
ta-se no sentido de recuperar a economia através de uma con­
centração do poder real e de modernizar a cultura portuguesa.
Quanto ao aspecto econômico, a decadência já pode ser cla­
ramente constatada após o período de dominação espanhola de
Portugal (1580-1640) r._
"Portugal sairia arruinado da dominação espanhola, a sua marinha · 
destruída, o seu império colonial esfacelado. ( ... ) Estava definitivamente 
perdido para Portu'gal o comércio asiático ( ... ) . Efetivamente, só lhe 
sobraria o antigo império ultramarino, o Brasil e algumas posses na África. 
Estas aliás só valerão como fornecedoras de escravos para o Brasil" 
(Prado,Jr., 1969: 49). 
Diante desta realidade, era necessário tirar o maior provei­
to possível da colônia. Era necessária uma mais intensa fiscali­
zação das atividades· aqui desenvolvidas. Para tanto, o apa:i;ato 
màterial e humano deveria ser· aumentado e, . ainda mais, deve­
ria ser discriminado o nascido na colônia do nascido na metró­
pole, quand�o da distribuição dos cargos: as posições superiores 
deveriam ser ocupadas apenas pelos metropolitanos. 
Esta ampliação do aparelho administrativo e o conseqüente 
aumento de funções de categoria inferior passou a exigir um 
pessoal com um preparo elementar. As técnicas de leitura escrita 
se fazem necessárias, surgindo, com isto; a instrução primária 
dada na escola, que antes cabia à família.·· 
6. Seria interessante relembrar que em 1580 morre o cardeal D. Henrique,
décimo sétimo rei da dinastia de Avis, sem deixar herdeiros. Trava-se então 
uma luta entre pretendentes ao trono, luta esta vencida por Felipe II da );:spanha, 
I em Portugal. É em função disto que. o período de 1580 a 1640 é denominado 
de período da dominação espanhola em Portugal. Uma das conseqüências desta 
união das coroas foi a de terem os inimigos da Espanha (ingleses e holandeses) 
passado a sê-lo de Portugal também. Rompia-se com isso. uma tendência de 
preservação do país em relação às Guerras Religiosas e de negociações quando 
da invasão .do território brasileiro por outras potências; · 
31 
A mineração, com os primeiros achados no final do século 
XVII, neste contexto, parecia ser um acontecimento providen­
cial: era á solução esperada. 
Na verdade, foi apenas esperança, já que o ouro brâsileiro 
será, na sua parte mais significativa, canalizado para a Ingla­
terra, em decorrência do Tratado de Methuen e, desta forma, im­
pulsionará, sim, o processo de industrialização, só que o inglês. 
Por outro lado, este ciclo econômico da mineração provocou 
mudanças no Brasil que começam a abalar· a manutenção do 
pacto · colonial nos moldes tradicionais. Entre elas, devem ser 
destacadas as que levam ao: 
- estabelecimento de vínculos entre as áreas baiana, flumi­
nense, pernambucana e paulista; 
- aumento do preço da mão-de-obra escrava, provocando 
novo surto no tráfico; 
- aumento das possibilidades de alforria e de impulso à
rebeldia; 
- aparecimento de uma camada média e de um mercado
interno; 
"· - deslocamento da população colonial e da capital para o 
sul (Rio de Janeiro, 1763);
....,... descontentamento das camadas dominante e média colo­
niais pelas discriminações. 
A decadência intelectual e institucional, tanto na metrópole 
como na colônia, decorre e simultaneamente reforça este estado 
econômico. 
Portugal chega em meados do século XVIII com sua Uni­
versidade - a de Coimbra - tão medieval como sempre fora. 
A filosofia moderna (Descartes), a ciência físico-matemática, os 
novos métodos de estudo da língua latina eram desconhecidos 
em Portugal. O ensino jesuítico, solidamente instalado, continua­
va formando elementos da corte dentro dos moldes do Ratio
Studiorum. 
Isto tudo faz com que pelo menos boa parte da intelectuali­
dade portuguesa tome consciência da necessidade de recupera-
3.2 
ção, produza uma literatura expressando isto e apresentando um 
progr_ama de modernização. Esta manifestação tem início aindano re�na,d� de D. João V, com o aparecimento da Academia Realde_ H!stona (1720),. e se prolonga até o de D. Maria I, com acnaçao da_ Academia Real de Ciências ( 1779), como assinala
Laerte Ramos de Carvalho. 
. A fonte das idéias aí defendidas está no movimento ilumi­
nista que toma corpo no final do século XVII e c-a�acteriza 0 
XVIII. A Inglaterra é o centro principal de 1680 a 1720 · d 
t · . 
, Vlll O,
po� enormente, a compartilhar sua posição com a França e de-
pois .c01� a Alemanha. Daí os intelectuais portugueses com talmflu
t 
encia serem rotulados de "estrangeirados" pelos seus opo-
nen es. 
O que Pombal tenta, enquanto ministro de Estado, é tornar 
este programa concreto 7• 
"As reformas, entre as quais as da instrução pública traduzem dentro
do pl��o de re�uperação nacional, a política que as co�dições ec�nômicas
e sociais do pais pareciam reclamar" (Carvalho, 1952: 15).
É .ª:sim que não chega a representar uma ruptura total corri� tr�diçao. Isto pode ser constatado pelas obras dos filósofos 
mspir�dores, �orno Luís Antônio Verney e Antônio Genovesi, onde e pe:cebida uma mudança mais de conteúdo que de méto­
do. Este amda se mantém bastante preso à exposição escolástica. 
P�de ser constatado, também, pelo fato de a Real Mesa Censória 
cnada em 1768, ter proibido, durante seu período de exercício ' 
obras de �ocke, Hobbes, Rousseau, Spinosa, Voltaire, etc. por� 
qu7 �odenam levar o país na direção do deísmo, ateísmo e ma­tenahsmo. 
Entretanto, a Companhia de Jesus é atingida diretamente e 
chega a ser expuls�, em 1759. O motivo apontado era o fato de ela . ser um. e_mpecilho na conservação da unidade cristã e da sociedade CIVil - razão de Estado invocada na época porque: 
a) era detentora de um poder econômico aue deveria ser
devolvido ao governo; · 
, 7_. C�mo _ se sabe, o _absolutismo ilustrado era uma forma de governo mo­narqu1co 1deal_1zada e praticada como conseqüência do movimento iluminista. Osmonarcas senam absolutos enquanto propiciassem a difusa�o d i t 
. .'f . . . 
as conqu s as
c1ent1 1cas e garantissem os d1re1tos reconhecidos pelas investigações desta na:
tureza.
33 
b) educava o cristão a serviço da ordem religiosa e não dos
interesses do país. 
Do ponto de vista educacional, a orientação adotada foi a 
de formar o perfeito nobre, agora negociante; simplificar e abre­
viar os estudos fazendo com que um maior número se interes­
sasse pelos cursos superiores; propiciar o aprimoramento da lín­
gua portuguesa; diversificar o conteúdo, incluindo o de natureza 
científica; torná-los os mais práticos possíveis 8• 
Surge, com isso, um ensino público propriamente dito. Não 
mais aquele financiado pelo Estado, mas que formava o indiví­
duo para a Igreja, e sim o financiado pelo e para o Estado. 
O Alvará de 28-6-1759 criava o cargo de diretor geral dos 
estudos, determinava a prestação de exames para todos os pro­
fessores, que passaram a gozar do direito de nobres, proibia o 
ensino público ou particular sem licençà do diretor geral dos 
estudos e designava comissários para o levantamento sobre o 
estado das escolas e professores. 
Em cumprimento a ele, ainda neste mesmo ano foi aberto, 
no Brasil, um inquérito com o fim de verificar quais os profes­
sores que lecionavam sem licença e quais usavam os livros proi­
bid,os. Foram realizados concursos para provimento das cátedras 
de latim e retórica na Bahia, o que parece ter havido também no 
Rio. Foram enviados . dois professores régios portugueses para 
Pernambuco. 
Daí por diante, o ensino secundário, queao tempo dos jesuí­
tas era organizado em forma de curso - Humanidádes -, passa 
a sê-lo em aulas avulsas (aulas régias) de latim, grego, filosofia, 
retórica. Pedagogicamente esta nova organização é uin retro­
cesso. Representou um avanço ao exigir novos métodos e novos 
livros. 
Para o ensino do latim, a orientação era a de ser entendido 
apenas como um instrumento de domínio da cultura latina e 
admitir o auxílio da língua portuguesa. 
8. As obras básicas de onde estas diretrizes foram tiradas são: Verdadeiro
método de estudar, de Luís A. Verney; Educação da mocidade, de Antônio N. 
Ribeiro, e Gramática latina, da ordem dos Oratorianos. 
34 
Quanto ao grego (indispensável a teólogos, advogados, artis­
tas e médicos), as dificuldades deveriam ser gradualmente ven­
cidas: primeiro a leitura (reconhecer as letras, sílabas, palavras), 
depois os preceitos gramaticais e, por último, a construção. 
A retórica não deveria ter seu uso restrito ao público e à 
cátedra. Deveria tornar-se útil ao contato cotidiano. 
As diretrizes para as aulas de filosofia ficaram p.ara mais 
tarde e, na verdade
! 
pouca coisa aconteceu. Diante da ruptura 
parcial com a tradição, este campo causou muito receio ou mui­
ta incerteza em relação ao novo. 
As dificuldades que existiram, também na metrópole, quan­
to à falta de gente preparada e de dinheiro, se fizeram sentir no 
Brasil de forma mais aguda. -
A primeira dificuldade teve como conseqüência a continui­
dade do exercício profissional de boa parte de professores com 
formação jesuítica. A segunda só foi minorada no reinado seguin­
te, de D. Maria I, quando se aplicaram os recursos vindos da 
cobrança do "subsídio literário" decretado no governo anterior. 
As transformações ocorridas no nível secundário não afetam, 
como não poderia deixar de ser, o fundamerital. Ele permaneceu 
desvinculado dos assuntos e problemas da realidade imediata. 
O modelo continuou sendo o exterior "civilizado" a ser imitado. 
Para maior garantia, aqueles que tinham interesse e condições 
de cursar o ensino superior deveriam continuar enfrentando os 
riscos das viagens e freqüentár a Universidade de Coimbra re­
formada e/ou outros centros europeus. 
Assim, fica evidenciado que as "Reformas Pombalinas" visa­
vam transformar Portugal numa ·metrópole capitalista, a exem­
plo do que a Inglaterra já era há mais de um século. Visavam, 
também, provocar algumas mudanças no Brasil, com o objetivo 
de adaptá-lo, enquanto colônia, à nova ordem pretendida em 
Portugal. 
A formação "modernizada" da elite colonial (masculina) era 
uma das exigências para que ela se tornasse mais eficiente em 
sua função de articuladora das atividades internas e dos inte­
resses da camada dominante portuguesa. 
35 
São exemplos de "ilustrados" que, ao retornarem, tiveram 
grande atuação: Francisco José Lacerda e Almeida (geólogo), 
Alexandre Rodrigues Ferreira (médico e naturalista), José Boni­
fácio de Andrada e Silva (mineralogista), Silva Alvarenga_ (poe­
ta), José Joaquim de Azeredo Coutinho (fundador do Seminário 
de Olinda) 9 
É certo que esta "nova" formação obtida por uns poucos 
levou alguns a participarem de movimentos que chegavam a 
propor a emancipação política. Mas a base do. descontentamento 
não era fruto do contato com estas teorias iluministas e sim 
das mudanças que estavam ocorrendo na estrutura social brasi­
leira, citadas anteriormente, quando da discussão do ciclo eco­
nômico da mineração. Estas. teorias, com o passar do tempo, 
vão se caracterizar como inadequadas na interpretação e soiu­
ção dos problemas internos, por serem_ resultado de circunstân­
cias especiais de determinados países europeus, e, enquanto tal, 
bastante artificiais também para os problemas portugueses. 
No governo seguinte de D. Maria I, ocorre o movimento 
conhecido sob o nome de "Viradeira", isto é, o combate siste­
mático ao pombalismo, a tentativa de retornar à tradição, vista, 
mais uma vez, como a maneira adequada de se resolverem os 
pro,blemas, problemas estes que, em· realidade, se vão agravando. 
9. O Seminário de Olinda foi fundado em 1800. Pretendia seguir o modelo
do Colégio de Nobres, criado em Lisboa em 1761. Mesmo não chegando a con­
cretizar esta intenção, transformou-se no melhor colégio de instrução secundária 
· do Brasil durante um certo período. Empregava métodos mais suaves, dava
maior atenção às matemáticas e às ciências físicas e naturais. Foi responsável
pela forma:ção de uma geração de párocos mais voltados para o ambiente urbano
. e para os métodos exploratórios de investigação da natureza, párocos estes
que tiveram acentuada influência na revolução pernambucana de 1817. Com o
mesmo espírito é organizada a Instituição do Recolhimento de Nossa Senhora,
para moças.
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