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Brazilian Journal of Development ISSN: 2525-8761 51280 Brazilian Journal of Development, Curitiba, v.7, n.5, p. 51280-51291 may. 2021 Metodologias ativas para uma aprendizagem significativa Ative methodologies for meaningfur learning DOI:10.34117/bjdv7n5-496 Recebimento dos originais: 21/04/2021 Aceitação para publicação: 21/05/2021 Maria Lúcia Castro da Silva Mestranda em Educação e Ensino de Ciências na Amazônia pela Universidade do Estado do Amazonas-UEA; Rua Misushiro, 5 – Parque 10, Manaus, Amazonas, Brasil E-mail: lucciacastro@hotmail.com Josefina Diosdada Barrera Kalhil Doutora em Ciências Pedagógicas ( Educação) pela Universidade da Havana, Cuba (2003); Professora na Universidade do Estado do Amazonas (UEA), Manaus-Amazonas-Brasil; Av. Djalma Batista, 2470 - Chapada, Manaus - AM, Brasil E-mail josefinabk@gmail.com Maud Rejane de Castro e Souza Doutora em Educação pela Universidade Federal de Mato Grosso; Professora do Mestrado em Ensino de Ciências da Universidade do Estado do Amazonas-UEA, Manaus, Amazonas - Brasil; Av. Djalma Batista, 2470 - Chapada, Manaus - AM, Brasil; E-mail: maudsouza1@gmail.com RESUMO Este artigo tem por objetivo discorrer sobre as contribuições das metodologias ativas para uma aprendizagem significativa. Como metodologia, foi realizada uma revisão bibliográfica das principais abordagens teóricas sobre o tema, embasadas nos estudos de Valente, Lima, Ausubel e demais teóricos que tratam da temática. Apresentamos algumas reflexões acerca das metodologias ativas da aprendizagem e aprendizagem significativa, com o intuito de aprofundar os debates sobre o processo de ensino aprendizagem no contexto atual. Concluímos que são necessários mais estudos sobre a temática Metodologias Ativas e Aprendizagem significativa, para que se possa vislumbrar um ensino mais condizente com a atualidade, onde todos estejam preparados para essa nova realidade, aptos a desempenhar suas funções alinhados ao novo perfil de aluno e às novas exigências para uma educação integral. Palavras-chave: Metodologias, Ensino, Aprendizagem, Educação, Significativa ABSTRACT This article aims to discuss the contributions of active methodologies to meaningful learning. As a methodology, a bibliographic review of the main theoretical approaches on the subject was carried out, based on the studies of Valente, Lima, Ausubel and other theorists dealing with the theme. We present some reflections about the active methodologies of learning and meaningful learning, in order to deepen the debates about the learning teaching process in the current context. We conclude that further studies on the theme Active Methodologies and Brazilian Journal of Development ISSN: 2525-8761 51281 Brazilian Journal of Development, Curitiba, v.7, n.5, p. 51280-51291 may. 2021 Meaningful Learning are needed, so that we can envision a teaching more consistent with the current, where everyone is prepared for this new reality, schools, technical staff and teachers able to perform their functions aligned with the new profile of student and the new requirements for an integral education. Keyswords: Methodologies, Teaching, Learning, Education, Significant 1 INTRODUÇÃO Ao longo dos tempos a sociedade vem passando por grandes transformações tecnológicas e, nesta perspectiva, o processo de ensino aprendizagem também se modifica a partir das influências que sofre de acordo com o contexto histórico. Para Yu et al (2019), as transformações tendem a ser mais rápidas daqui para frente. (...) a educação é fundamentalmente sobre a preparação de jovens gerações que vão criar um futuro mais positivo para todos os seres humanos. Dada a rapidez das mudanças sociais, a educação deve mudar rapidamente, a fim de ajudar a humanidade a enfrentar os desafios destes Alterações. A urgência da mudança não pode esperar muito tempo para o futuro. (YU et al, 2019, pg. 16, tradução livre). Tendo em vista tais mudanças, as metodologias tradicionais de transmissão de informações vêm sendo frequentemente questionadas por não serem mais satisfatórias para a realidade tecnológica que se apresenta, e assim a sociedade passou a buscar novas metodologias de ensino e aprendizagem. Para Almeida (2010), o modelo tradicional atendia às demandas quando a comunicação e a informação ocorriam de forma precária, sendo a escola o único espaço de produção de conhecimento. Na visão de Demo (2003, p.7) “a aula que apenas repassa conhecimento, ou a escola que somente se define como socializadora de conhecimento, não sai do ponto de partida, e, na prática, atrapalha o aluno, porque o deixa como objeto de ensino e instrução”. Na busca por novos caminhos para a formação dos sujeitos desta nova era, surgem as metodologias ativas de aprendizagem, visando atender as demandas de ensino que possibilitem maior interação com a realidade dos alunos e a construção de uma aprendizagem significativa. No entanto, planejar uma aula a partir de novas perspectivas exige do professor uma prática diferenciada que alcance uma geração de estudantes conectados, proativos, distintos daquele aluno passivo que espera somente o repasse de informações de seu professor. Com base em tais considerações, este artigo tem por objetivo discorrer sobre as contribuições das metodologias ativas para uma aprendizagem significativa. Como metodologia, foi realizada uma revisão bibliográfica das principais abordagens teóricas sobre Brazilian Journal of Development ISSN: 2525-8761 51282 Brazilian Journal of Development, Curitiba, v.7, n.5, p. 51280-51291 may. 2021 o tema, embasadas nos estudos de Gadotti (1998), Valente (2018), Lima (2017), Flavin (2017, Ausubel (2003), Christensen (2013) e demais teóricos que abordam tal temática. 2 REFERÊNCIAL TEÓRICO 2.1 METODOLOGIAS ATIVAS DA APRENDIZAGEM O mundo ocidental viu a trajetória empírica que a prática pedagógica percorreu até o aparecimento da pedagogia enquanto área de conhecimento, a partir do século XVII. No entanto, o processo de ensino continuou o mesmo desde a antiguidade, num modelo baseado na repetição e transmissão de valores e informações do interesse das classes dominantes. Com a ascensão da burguesia às estruturas de poder, o feudalismo foi substituído pelo capitalismo, levando as escolas a transmitir os valores do Estado em formação. (GAUTHIER; TARDIF; 2010). A partir da Idade Moderna, a educação tradicional começou a ser questionada por diversos pensadores renascentistas e iluministas. Entretanto, apesar do conhecimento partir dos ideais humanistas, agora voltados para o homem ao invés do sagrado, a prática docente continuou do mesmo jeito até o século XIX (SALVADOR, 2000). No século XIX, Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) acenou com inovações na prática pedagógica tirando o professor e os conteúdos do centro do processo de ensino aprendizagem, conduzindo-os para o aluno, suas necessidades e interesses (GADOTTI, 1998). Para Claparède (1973), tais mudanças podem ser comparadas a uma revolução pedagógica, como a que Nicolau Copérnico (1473-1543) realizou no âmbito da astronomia. Contudo, apesar de toda essa importância, somente com o surgimento do movimento escolanovista no final do século XIX e início do século XX, a educação começou a ser renovada com a criação de novas escolas e métodos baseados na aprendizagem ativa. “Em vez de ser educada, a criança estará colocada em condições tais que se eduque, ela mesma, o mais possível” (CLAPARÈDE, 1973, p. 195). A partir daí, plantou-se as raízes das metodologias ativas na educação, que podem ser consideradas tecnologias que possibilitam maior engajamento dos alunos no processo ensino aprendizagem, propiciando o desenvolvimento de sua capacidade de reflexão e criticidade. (LIMA, 2017). As metodologias ativas, enquantopotencializadoras da aprendizagem significativa, estão embasadas no princípio da autonomia do estudante. Dessa forma, este precisa ser respeitado e valorizado em seus saberes, sua vida, devendo seu aprendizado voltar-se para os problemas e situações reais, pois serão estes que ocorrerão na carreira profissional e pessoal. Brazilian Journal of Development ISSN: 2525-8761 51283 Brazilian Journal of Development, Curitiba, v.7, n.5, p. 51280-51291 may. 2021 São muitas as formas de metodologias ativas desenvolvidas principalmente por meio da Aprendizagem Baseada em Problemas – ABPro ou problem-based learning, em inglês, que busca desenvolver a aprendizagem a partir das diversas causas possíveis para um problema, e Propõe uma matriz não disciplinar ou transdisciplinar, organizada por temas, competências e problemas diferentes, em níveis de complexidade crescentes, que os alunos deverão compreender e equacionar com atividades individuais e em grupo. Cada um dos temas de estudo é transformado em um problema a ser discutido em um grupo tutorial que funciona como apoio para os estudos (VIGNOCHI; et al, 2009). Outro formato, a Aprendizagem baseada em Projetos - ABP, ou project-based learning, exige que o estudante se esforce para usar sua criatividade, faça explorações, teste hipóteses, isso tudo por meio de recursos diversificados, não somente do livro didático. Tanto a ABProb e a ABP se trabalhadas em conjunto pelo princípio da aprendizagem colaborativa e da atividade coletiva, possibilitam a resolução de problemas da realidade em que estão inseridos. Para Bender (2014), essas tendências passarão a ser bastante corriqueiras neste século, pois o desenvolvimento de projetos possibilita ao aluno demonstrar seus conhecimentos e comunicar-se a partir da resolução de problemas. Na Aprendizagem Entre Pares, Peer Instruction, outro tipo de Metodologia Ativa, as atividades acontecem em duplas com as tecnologias mediando a aprendizagem colaborativa, possibilitando a formação do pensamento crítico e levando os alunos a respeitarem opiniões divergentes. Além disso, mantêm os alunos atentos para o que está sendo trabalhado durante a aula, pois exige de cada um a aplicação de conceitos fundamentais por meio da explicação desses conceitos aos seus colegas (PINTO, 2012). A Aprendizagem baseada em Games e Gamificação, Game Based Learning - GBL, outro exemplo de Metodologia Ativa, pode ser uma alternativa muito atual pelo fato de a maioria dos alunos ter acesso a jogos, ou games, e as aulas a partir desses recursos podem se tornar bastante atrativas, pois a gamificação “tem como base a ação de se pensar como em um jogo, utilizando as sistemáticas e mecânicas do ato de jogar em um contexto fora de jogo” (BUSARELLO, ULBRICHT e FADEL, 2014, p. 15). Temos ainda a Sala de Aula Invertida, ou flipped classroom, que veio do chamado ensino híbrido, caracterizado por mesclar ensino presencial e online, onde o aluno estuda sozinho em casa por meio das tecnologias digitais e na escola, em grupos, com o professor, e que tem por objetivo, inicialmente, adaptar o processo de ensino aprendizagem a esse novo aluno, que por ser mais autônomo, pode ser responsável em parte pelo seu processo de aprendizado. Para Valente (2018, p. 27,), “A sala de aula torna-se o lugar de trabalhar os Brazilian Journal of Development ISSN: 2525-8761 51284 Brazilian Journal of Development, Curitiba, v.7, n.5, p. 51280-51291 may. 2021 conteúdos já estudados, realizando atividades práticas como resolução de problemas e projetos, discussão em grupo e laboratórios. [...] Essa abordagem permite um passo além em termos de estratégias de ensino, possibilitando a implantação de uma proposta de aprendizagem mais personalizada”. Esse conceito começou a ser desenvolvido já na década de 90, com autores como Eric Mazur, em “Peer instruction: User’s manual” e Gregor Novak em “Just- in-time Teaching”. Eles pregam que o aluno já deva vir estudado para aula, tendo o primeiro contato com o tema em casa. Aproveitando o tempo de aula com o objetivo de potencializar seu aprendizado. (SÁ, 2019, s/p) As Metodologias Ativas também abrem possibilidades para variadas abordagens como os chatbots, que podem ser usados de forma que o professor e a escola estejam em contato com o aluno, tirando suas dúvidas, realizando avaliações online, interagindo junto à família e à turma como um todo; a Realidade Virtual, com a utilização de óculos 3D, a lousa interativa, os tabletes, o Google Expeditions e outros objetos virtuais, com a vantagem de que os alunos poderiam visualizar os conteúdos, principalmente de História, Geografia, alcançando lugares ou épocas somente possíveis com a ajuda da tecnologia. A disciplina de Ciências seria uma das que mais ganhariam com a realidade virtual, pois as aulas poderiam ser enriquecidas com a ajuda de imagens e vídeos dos mais completos laboratórios, dos experimentos científicos e de estudos explicados pelos próprios cientistas. É interessante mencionar também a utilização de recursos tecnológicos disponíveis nos dias de hoje, que se configuram como peças importantes no processo ensino aprendizagem, principalmente por meio das tecnologias disruptivas. O termo "tecnologia disruptiva" foi criado por Clayton Christensen (1997), que fala sobre sua Teoria no livro The Innovator’s Dilema. Segundo o autor, as inovações disruptivas são identificadas por quatro critérios-chave que as denominam como as mais baratas, mais simples, menores e mais convenientes do que as tecnologias concorrentes que frequentemente torna obsoleto quem antes era líder de mercado. (FLAVIN, 2017, p. 5). A inovação disruptiva possui a lógica startup, onde se estabelece uma equipe de inovadores, com um quadro branco ao ar livre, sem dizer a eles o que fazer, deixando-os livres para criar as melhores, mais inteligentes, criativas e importantes ideias. Como exemplo, o autor refere-se a Amazon, uma empresa inovadora em modelos de negócios, que redefiniu o serviço da venda de livros, mesmo não tendo inventado a venda de livros. Sem contar o caso dos celulares no lugar dos telefones fixos, da Wikipedia, que deixou na mão centenas de vendedores de enciclopédia, o Google que enterrou as listas telefônicas, a Netflix Brazilian Journal of Development ISSN: 2525-8761 51285 Brazilian Journal of Development, Curitiba, v.7, n.5, p. 51280-51291 may. 2021 que acabou com as locadoras de vídeos; além de muitos outros serviços dos quais nos apropriamos sem nos dar conta de que estão no lugar dos que se tornaram ultrapassados. (FLAVIN, 2017). Christensen (apud Flavin, 2017), coloca que as tecnologias disruptivas são populares, gratuitas, convenientes e fáceis de usar, tipo as mídias sociais do tipo Facebook e Twitter; o BYOD (Bring Your Own Device - traga seu próprio dispositivo), em que os alunos usam seus próprios dispositivos (normalmente smartphones ou tablets) para apoiar o aprendizado; o YouTube, o Google e a Wikipédia que também se configuram como tecnologias disruptivas, pois a partir delas pode-se acessar uma variedade de recursos. Evidentemente, existe um leque de metodologias atuais e interessantes a serem utilizadas pelo docente nos dias atuais. Contudo, é preciso que se busque, pesquise, atualize, haja interesse em atender realmente os alunos, trazendo para a realidade da sala de aula o que se apresenta atualmente. No entanto, qualquer que seja a estratégia utilizada, todas devem ser bem analisadas, estudadas, testadas e acompanhadas de perto pelo professor para que não ocorra o resultado inverso daquele almejado, uma vez que os recursos tecnológicos são de fácil acesso e permeiam um universo bem amplo, que é a internet. Acima de tudo, cremos que é importante ter uma visão crítica acerca dos recursos tecnológicos para que se faça uso destes de forma pedagógicae intencional, visando melhorias no processo ensino aprendizagem, pois o fato de docentes e alunos serem de gerações diferentes não invalida o diálogo entre as partes, mesmo porque a educação se configura como uma prática que exige reflexão e compartilhamento, e assim sendo, essa distância entre as gerações será tomado pelo novo, favorecendo aos sujeitos envolvidos a compreensão de que sempre há espaço para o novo, o atual, onde alunos e professores escolham aprender uns com os outros, abrindo suas existências para a oportunidade de saberes e práticas inovadoras. 2.2 APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA A Aprendizagem Significativa é a parte mais importante no processo ensino aprendizagem, e para que ela ocorra torna-se necessário cumprir requisitos básicos, sendo que um desses diz respeito ao conteúdo a ser ensinado que deve estar relacionado à estrutura cognitiva do aluno. Então, o material instrucional precisa ser extremamente significativo, organizado de forma lógica de modo a possibilitar ao aluno a interação com conceitos relevantes na estrutura cognitiva do aluno (Ausubel,2003 ). Brazilian Journal of Development ISSN: 2525-8761 51286 Brazilian Journal of Development, Curitiba, v.7, n.5, p. 51280-51291 may. 2021 A Aprendizagem Significativa é um processo através do qual uma nova informação interage com as informações já existentes na estrutura de conhecimento do aluno, ou seja, com a sua estrutura cognitiva específica e individual, previamente adquirida, conhecida como “subsunçor”, facilitando a aprendizagem subsequente (ANDRADE, 2009, p. 5). Segundo Souza (2011), a teoria da aprendizagem significativa está diretamente relacionada com a estrutura de conhecimento que o indivíduo já possuía antes de receber o novo conceito, isso explica a possibilidade dessa nova ideia ser aprendida pela mente do estudante. Mas, para que torne significativa a aprendizagem, é preciso transpor alguns estágios do conhecimento, que pressupõe a combinação do aprendizado por instrução com a vontade estimulada de aprender do indivíduo. Assim, quando a nova ideia interagir e assimilar os conceitos importantes já disponíveis na estrutura cognitiva do sujeito, ocorrerá de fato a aprendizagem. E para que isso ocorra efetivamente, os conteúdos apresentados devem fazer sentido para o aluno, que fará a ancoragem aos seus conceitos preexistentes. Dessa forma, a assimilação ou ancoragem facilitam a aquisição e retenção do conhecimento. Nessa perspectiva, a atitude do aluno é de extrema importância para o sucesso do processo de aprendizagem significativa, pois este precisa manifestar esforço e disposição para relacionar o novo conteúdo à sua estrutura cognitiva. Sem isso, o estudante apenas fará a chamada “decoreba” da nova informação, não havendo, portanto, aprendizagem significativa. Ausubel (2003), coloca que quando não existirem subsunçores adequados para apreensão de conhecimentos, deve-se utilizar a aprendizagem mecânica, a partir do conteúdo, para que seja possível “ancorar” as novas informações estruturadas no conhecimento aprendido anteriormente. Tais conhecimentos prévios devem “(…) salvar o abismo que há entre o que o aluno já sabe e o que necessita saber antes que aprenda com bons resultados a tarefa imediata” (AUSUBEL apud SALVADOR, 2000, p.236). Levar em consideração o conhecimento prévio do aluno é peça–chave para o sucesso de sua aprendizagem, pois este conseguirá relacionar, de forma não-arbitrária, o assunto a ser aprendido com aquilo que ele já sabe, generalizando e expressando tal conteúdo a partir de sua própria linguagem (MOREIRA, 2011). Dessa forma, o professor deve ter a consciência de que o processo ensino aprendizagem não pode ocorrer de forma mecanizada, mas sim que ele precisa ser significativo para o aluno e ter relação com seus conhecimentos vivenciados no cotidiano. Sendo assim, professor e escola devem buscar alternativas visando ressignificar a prática pedagógica, possibilitando ao aluno também modificar sua postura, tornando-o mais Brazilian Journal of Development ISSN: 2525-8761 51287 Brazilian Journal of Development, Curitiba, v.7, n.5, p. 51280-51291 may. 2021 ativo e responsável pelo seu aprendizado. Nesse contexto, as metodologias ativas podem se tornar ferramentas pedagógicas importantes para esta ressignificação, pois nestas o docente é um mediador/facilitador da aprendizagem, visto que o ensino não é a finalidade do processo educativo, mas sim, o meio que favorece a aprendizagem do aluno (FREIRE, 2009). E, visando atender à demanda do contexto atual, o processo de ensino aprendizagem deve voltar-se para a organização pautada na possibilidade de formação de um cidadão crítico, capaz de lidar conscientemente com o contexto cientifico e tecnológico no qual está inserido (POZO e POSTIGO, 2000), pois as tecnologias digitais, atualmente, não se configuram apenas como apoio educacional, mas principalmente, se tornaram eixos estruturantes para uma aprendizagem significativa (MOREIRA, 2011). 3 METODOLOGIA Para a construção deste artigo utilizamos como metodologia o estudo bibliográfico, referenciando-o a partir dos autores Gadotti (1998), Valente (2018), Lima (2017), Flavin (2017, Ausubel (2003), Christensen (2013) dentre outros. A base utilizada para a coleta de dados foi a realização de análise de conteúdo dos estudos já realizados, composto principalmente de livros e artigos científicos, possibilitando uma reflexão sobre as metodologias ativas enquanto potencializadoras da aprendizagem significativa num contexto totalmente tecnológico que ora vivenciamos. A análise de conteúdo, conforme Bardin (2009), se configura em “Um conjunto de técnicas de análise das comunicações visando obter, por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção /recepção (variáveis inferidas) destas mensagens (BARDIN, 2009, p.44). Dessa forma, buscamos possíveis respostas a algumas indagações, como: se os tempos mudaram, e com isso as pessoas, as coisas e o mundo mudaram, consequentemente, os estudantes já não possuem o mesmo perfil dos de antes, então por que a escola permanece utilizando métodos tradicionais de ensino, as mesmas abordagens, os mesmos recursos didáticos? Por que a prática ainda está voltada para os tempos remotos sendo que a realidade atual é totalmente tecnológica? Por que a resistência em se utilizar metodologias ativas para formar o cidadão desta nova era? Nesse sentido, elaboramos nossa análise a partir do embasamento teórico de produções científicas referentes às metodologias ativas para uma aprendizagem significativa. Brazilian Journal of Development ISSN: 2525-8761 51288 Brazilian Journal of Development, Curitiba, v.7, n.5, p. 51280-51291 may. 2021 4 ANÁLISE E RESULTADOS Este estudo demonstrou que existe um leque de opções em relação às metodologias ativas. Os autores discorrem acerca da importância da adoção de estratégias mais atualizadas para a educação das novas gerações que lidam com os mais diversos tipos de tecnologia digital e se relacionam por meio destas, demonstrando que o processo educativo passa a configurar- se como algo extremamente desafiador. É notável que a aprendizagem a partir de uma abordagem ativa vem recebendo relevante atenção, visto que tal fato poderá resultar em uma mudança do modelo tradicional para as metodologias ativas, motivo de muita preocupação para muitos professores céticos em relação às inovações educacionais, embora já tenha atraído aqueles profissionais preocupados em buscar alternativas aos métodos de ensino tradicionais. Por isso, entendemos que, se a escola assim como o professor, não reconhecerem que as mudanças no mundo são um processo irreversível e que,dessa forma, necessitam buscar novas abordagens metodológicas, ressignificar a prática pedagógica, tornar o processo educativo motivador, atrativo e prazeroso, permitindo ao aluno participar ativamente de seu aprendizado, não ocorrerá a superação do modelo de ensino tradicional e a possibilidade de abertura para novas práticas que propiciem a aprendizagem verdadeiramente significativa. Isso tudo, no entanto, exige a necessidade de mudança de postura, formação docente em relação aos recursos tecnológicos e metodologias ativas, e políticas públicas educacionais voltadas para a efetiva inserção das tecnologias na educação. “(...) muitos docentes não se sentem à vontade com a tecnologia, pois não tiveram acesso a ela em sua geração, e as inúmeras inovações e ferramentas educacionais soam, portanto, como obstáculos” (CAVALCANTE et al, 2021). Além disso, a infraestrutura das escolas deve comportar rede de internet, computadores e demais recursos tecnológicos funcionando para que as atividades escolares dentro desse novo parâmetro possam ser colocadas em prática. Enfim, deve haver mudança na escola, vontade política e interesse de todas as partes para que o novo, o atual e o futuro possam adentrar os muros das instituições escolares. 5 CONSIDERAÇÕES Diante de todo o exposto, vislumbramos a necessidade de mais estudos sobre a temática Metodologias Ativas e Aprendizagem significativa, pois este momento de Pandemia de covid-19 nos mostrou que devemos estar sempre preparados para trabalhar com as tecnologias digitais, com o novo, enfim, com todos os aparatos que a ciência e a tecnologia Brazilian Journal of Development ISSN: 2525-8761 51289 Brazilian Journal of Development, Curitiba, v.7, n.5, p. 51280-51291 may. 2021 proporcionam, buscando construir conhecimento baseado na necessidade da pesquisa, do contexto, do espírito científico, utilizando-se de tais recursos como aliados, demonstrando ao aluno que a escola também faz parte de seu mundo. Necessário se faz, no entanto, que os professores busquem ressignificar sua prática, tendo em vista que o uso das metodologias ativas propicia o protagonismo do aluno tomando- o também responsável pela sua aprendizagem. E hoje em dia isso se torna muito mais próximo da realidade devido ao fácil acesso aos recursos tecnológicos como celular, internet, computador, trazendo para a sala de aula metodologias atuais e alternativas pedagógicas motivadoras e inovadoras. Apesar de todos os problemas que as tecnologias digitais possam trazer, principalmente em relação à falta de estrutura e de conhecimento e habilidade do professor para fazer uso das mesmas, a escola não pode mais ficar alheia a todas as transformações que estão ocorrendo, ignorando esse mundo digital e altamente tecnológico, e continuar com os pés fincados no passado. Entretanto, apesar de todos os meios disponíveis hoje em dia para inovarmos a sala de aula e no processo ensino aprendizagem, a aprendizagem só se tornará realmente significativa se nós, enquanto professores, motivarmos nossos alunos valorizando seus conhecimentos prévios, colocarmos sentido nas atividades escolares, nos preocuparmos com o emocional e o psicológico de cada um, olharmos para seus rostinhos e nos perguntarmos se tiveram alimentação em casa, atenção, carinho, se não são vítimas de abuso. A aprendizagem também só se tornará significativa para os alunos se houver diálogo com eles, se ouvirmos suas vozes, mesmo em silêncio, e perceberem que estamos ali para ensinar e aprender com eles. Então, mais do que aprender a usar meios tecnológicos, precisamos conhecer os estudantes sob nossa responsabilidade, instigá-los, motivá-los, buscar seu crescimento intelectual, social e moral, interagir com eles, fazer parte de seu mundo e enxergá-los enquanto indivíduos de direito. Brazilian Journal of Development ISSN: 2525-8761 51290 Brazilian Journal of Development, Curitiba, v.7, n.5, p. 51280-51291 may. 2021 REFERÊNCIAS ANDRADE, Joelza A. Vernick. Aprendizagem Significativa. Universidade Tecnológica Federal do Paraná, 2009. Trabalho de Conclusão de Curso. Disponível em: http://repositorio.utfpr.edu.br/jspui/handle/1/8980 AUSUBEL, David P.Aquisição e retenção de conteúdos: conteúdos: uma perspectiva cognitiva. Lisboa: Plátano Edições Técnicas, 2003. Disponível em: http://www.uel.br BENDER, W. N. Aprendizagem baseada em projetos: educação diferenciada para o século XXI. Porto Alegre: Penso, 2015. BARDIN, L. Análise de Conteúdo. 4 ed. Lisboa: Edições 70, 2009. Adquirido via https://www.estantevirtual.com.br/ BUSARELLO, Raul Inácio; ULBRICHT, Vania Ribas; FADEL, Luciane Maria. A gamificação e a sistemática de jogo: conceitos sobre a gamificação como recurso motivacional. In: FADEL, Luciane Maria et al (org). Gamificação na educação. 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