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Disciplina Língua Portuguesa: Fonologia Coordenador da Disciplina Professor Nelson Barros da Costa 11ª Edição Copyright © 2010. Todos os direitos reservados desta edição ao Instituto UFC Virtual. Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida, transmitida e gravada por qualquer meio eletrônico, por fotocópia e outros, sem a prévia autorização, por escrito, dos autores. Créditos desta disciplina Realização Autor Prof. José Alber Campos Uchoa Colaborador Profª. Ana Cristina Cunha da Silva Sumário Aula 01: Do mundo à língua e aos meios de expressão .......................................................................... 01 Tópico 01: Começo de conversa: o mundo, a língua ............................................................................. 01 Tópico 02: Questões modernas no estudo de fonologia e grafia ............................................................ 05 Tópico 03: O que há para ver na fala? ................................................................................................... 07 Aula 02: A articulação dos sons ............................................................................................................... 09 Tópico 01: O aparelho fonador visto de perto ........................................................................................ 09 Tópico 02: Você é quase uma orquestra ................................................................................................ 11 Tópico 03: Cesse a música e o ruído, repouse sua voz, por um instante ............................................... 14 Aula 03: Os Fonemas do Português e Suas Realizações ........................................................................ 18 Tópico 01: Ainda entre fones e fonemas ................................................................................................ 18 Tópico 02: Grafando sons ...................................................................................................................... 21 Tópico 03: Vamos colher feixes? ........................................................................................................... 23 Aula 04: Fonemas, sons e letras ............................................................................................................... 27 Tópico 01: Relações entre as unidades dos meios de expressão da fala e da escrita ............................. 27 Tópico 02: Bem dentro do sistema ......................................................................................................... 29 Tópico 03: Símbolos alternativos para fonemas .................................................................................... 33 Aula 05: Aplicações do conhecimento de fonologia ............................................................................... 36 Tópico 01: Variação, erro e preconceito ................................................................................................ 36 Tópico 02: Non Vitae sed scholae discimus .......................................................................................... 40 Tópico 03: De volta para a língua e o mundo ........................................................................................ 43 Aula 06: Questões segmentais e prosódicas na fala e na escrita ........................................................... 45 Tópico 01: Houve progresso em nossa fonologia tradicional? .............................................................. 45 Tópico 02: O que é prosódia? ................................................................................................................ 49 Tópico 03: A voz entre os mundos ......................................................................................................... 53 Língua Portuguesa: Fonologia Aula 01: Do mundo à língua e aos meios de Expressão Tópico 01: Começo de conversa: o mundo, a língua Iniciamos aqui o estudo da Fonologia e, com ela, o estudo da fonética e da (orto)grafia de nosso código verbal, o português. Esta disciplina é a primeira de Língua Portuguesa. Por isso, os três tópicos da Aula 1 servem também para a discussão de assuntos em torno da língua e da fonologia. No Tópico 1, discutimos as características da língua e suas relações com o resto do mundo. No 2, a fonologia, enquanto componente da estrutura (interna) do português e área de estudo. No último tópico, ficamos bem dentro da fonologia e chegamos à fonética, que estará conosco na próxima aula. Travemos neste tópico, portanto, uma longa conversa, não um monólogo, como você pode descobrir pesquisando sobre o dialogismo, termo de Mikhail Bakhtin. Pela disciplina que introduziu a linguística, deve ter percebido que a linguagem verbal, quando tomada como objeto de estudo, é complexa, falta muito para a compreendermos plenamente. Língua como bem cultural Fonte [3] Não vamos dizer que as visões que se tem dos idiomas dependem dos pontos de vista. Por um lado, a língua é um dos bens em nossa cultura (ou nos grupos culturais nos quais estamos). Aí, junta- se à maneira como nos vestimos, à religiosidade, às manifestações artísticas, à alimentação, aos hábitos e exigências interativos com as outras pessoas, os outros seres vivos e o mundo em geral, nossas atitudes com relação à diversão e ao prazer, à doença e à saúde, à vida e à morte, ao trabalho, ao estudo (não ligue para esta ordem). Por outro lado, a língua é a principal forma de representar em nosso interior todas essas coisas. É o código para registrar, transmitir nossas manifestações sobre os outros itens culturais da(s) comunidade(s), inclusive os mencionados acima. É o meio de representação, registro, análise de si própria. As coisas relevantes para você e para um ou mais de um dos grupos dos quais você faz parte associam-se a elementos da língua que as representam. Por isso, há comunidades nas quais há 1 dezenas de palavras para o conhecimento das uvas, e que você desconhece, assim como talvez não saiba mais o que é mangará, bredo, maturi, alguedar, trempe ou as diferenças entre terreiro, oitão, quintal, jardim e canteiro. PARADA OBRIGATÓRIA Você tem ideia da quantidade de linguagens e meios que combina, ao longo do dia? Conseguimos registrar e transmitir melhor pela língua que por outros meios – olhar, toque, expressão facial, gesto – o que percebemos, sentimos, pensamos. A maior parte desses sentimentos, pensamentos, sensações pode ser verbalizada, isto é, codificada em frases. As frases são construídas básica e primariamente no meio fônico-auditivo, secundariamente em meio gráfico-visual. No dia a dia, mais comumente, misturam-se códigos verbais e não verbal. Não há como traduzir tudo o que é linguístico para um código não verbal, mas tenta-se traduzir tudo que é não verbal para o código verbal, a língua. De que é feita a língua? A representação e a expressão (duas funções abrangentes da linguagem) do que dissemos acima é possível com a codificação em signos. Podemos chamar o conjunto dos signos, ampliando o sentido mais comum da palavra, léxico. Se nos preocupamos com a análise do “conteúdo” dos signos, vendo as relações entre os conceitos, os significados, estamos fazendo semântica. Os significados e suas formas servem a diversos tipos de informações. Podem mostrar a finalidade ao outro, a posição e a atitude dos interlocutores (pragmática). Como os itens (lexicais) se associam para formar palavras e como elas variam (morfologia), como as palavras se agrupam até chegarmos às frases (sintaxe), podendo-se chamar ao conjunto dos dois gramática (não discutimos agora os múltiplos sentidos da palavra). Tudo isso seria invisível e sem ação, se não houvesse na língua também um conjunto de “instruções” inconscientes que permite codificar tudo em formas perceptíveis. No tipo de código que chamamos linguagem verbal, há um componente chamado fonologia,que relaciona todo o sistema que descrevemos acima a sons. O material da fonologia é constituído por sons capazes de ser produzidos no aparelho fonador, de ser captados pelo ouvidos, interpretados por programas apropriados, perpassarem todos os outros componentes ou níveis, modificarem nossa atividade mental. Disso trata a disciplina Língua Portuguesa: Fonologia. Sons e riscos: como usar os meios de expressão, falando e escrevendo Entre as propriedades da linguagem verbal que têm a ver diretamente com a fonologia está a de transferência de meio. Imagine um processo que começa quando alguém pensa, sente, experiencia algo, codifica com a língua, produz sons e faz surgir no outro, que adquiriu o mesmo código, um pensamento, experiência, sensação semelhantes. Se o contato pelos sons diretamente não é possível, dá-se a transferência de meio: o material fônico é substituído por material gráfico. Algo transferido para a grafia pode ser retransferido, por exemplo, quando alguém faz sinais com a mão para representar letras do alfabeto, ou grava folha de papel com pequenos pontos em relevo para um cego ler em braile. Neste último caso, um conjunto de informações basicamente oral-auditivo foi transferido para um meio gráfico-visual e retransferido para um meio táctil. Retomando o que dizíamos, o sinal fonológico, que é oral (pela produção) e auditivo (pela recepção), pode ser recodificado, com perdas maiores ou menores, para o meio gráfico (produção) e visual (recepção). Em todas as línguas, os sons e a linguagem falada são básicos, necessários à existência das 2 grafias e da linguagem escrita. Nas línguas cuja grafia tem motivação principal fonológica, faz uso de silabários ou alfabetos. É indiscutível a ligação entre a fonologia e a (orto)grafia. Entretanto, há na linguagem falada características sem correspondência na escrita e, na linguagem escrita, há elementos próprios, sem correspondência na fonologia, inclusive ideográficos. Por isso, na vida real, na maior parte dos gêneros de discurso, não fica bem apenas a transcrição de um meio para outro, devendo haver, de fato, tradução. Comumente, não só há mistura entre as duas modalidades falada e escrita da linguagem verbal, mas também mistura entre diversos tipos de linguagem. No cinema, por exemplo, pode haver expressões de fala e escrita, em um ou mais idiomas, enquanto outros tipos de código são utilizados. Em sala de aula, alternam-se a fala e a leitura, principalmente. Quando você conversa, normalmente, usa a linguagem verbal, cantarola melodia, indica objetos do ambiente, gesticula, “fala” com expressões visuais ou contato manual. Tem mais em nossa expressão do que o que se diz por aí Quando se estuda fonologia de forma conservadora, e vem sendo assim, porque nessa área têm demorado a chegar o frescor trazido à linguística pelo funcionalismo e a pelas análises do discurso, trabalha-se com uma linguagem verbal mínima, circunscrita a gêneros discursivos como o noticiário padrão, as comunicações oficiais em linguagem culta. Nessa linguagem, há correspondência praticamente perfeita entre os códigos falado e escrito. Se você quiser pensar a respeito, compare os discursos do teatro, da literatura de vanguarda, das histórias em quadrinhos, com a maior parte dos ensaios, dos artigos técnicos, dos documentos civis, oficiais, do trabalho, do Direito. Mesmo assim, não pense que tudo se restringe, na fala, a fonemas segmentais e prosódicos, ou, na escrita, a letras e sinais de pontuação stricto sensu: vírgula, ponto e vírgula, dois pontos, pontos final, interrogativo, exclamativo, reticências. Parte da escrita que você aprendeu não é alfabética, mas ideográfica. Brasileiros e alemães compreendem a frase “2 x 32 = 64”, porque aí há 5 ideogramas, ou seja, signos nos quais o sinal gráfico, significante, liga-se diretamente ao significado (quantidades, operações), sem a intermediação de sons. Escrevendo, brasileiros teriam “Duas vezes trinta e dois é igual a sessenta e quatro”, alemães escrevem “Zweimal zweiundreissig, gleich vierundsechzig”, pronunciado mais ou menos 'tsváimal tsvái-unt-dráissiç glaiç fiia-unt-tsvántsiç' (em tradução literal, “doisvezes doisetrinta, igual quatroesessenta”). Na fala, as unidades dessa linguagem estudada mínima são os fonemas segmentais e suprassegmentais (ou prosódicos: acento lexical, entoação, pausa). Na escrita mínima, são, para o português, 26 letras maiúsculas e 26 (esquecendo o c-cedilha) e os sinais de pontuação. Isso é o que gostamos de repetir numa escola tradicional. Numa situação média real, devemos contar pelo menos com os caracteres do teclado do português brasileiro padrão, o ABNT-2. Esse texto está sendo digitado em um teclado que permite a impressão de 97 caracteres, com 48 teclas para caracteres normais imprimíveis, para espaço, inclusive, todos utilizados com frequência, mais as opções normal, itálico e negrito. Um escrevente de nível superior, e você é um deles, vale-se de mudança de espaços (no texto, nos parágrafos, nas linhas, entre linhas, entre palavras), tamanho e distanciamento de caracteres, troca de fontes, outros sinais, inclusive, nesta disciplina, dos caracteres do Alfabeto Fonético Internacional. OLHANDO DE PERTO Disso trata nossa disciplina. Veremos como funciona o que é fonológico, regularmente codificado no português para a modalidade falada. Como é a fonética, a percepção dos sons realizados, concretamente, na fala. 3 Discutiremos as questões que têm a ver com as relações entre o fônico e o gráfico, como esses meios são traduzidos um para o outro. Como fonemas e grafemas, sons e letras, palavras, grupos de palavras, orações, frases e discursos (não só fonemas e grafemas são sinalizados) são construídos e mostrados, com seus materiais apresentados aos ouvidos e aos olhos. Sua tarefa, neste momento, é apenas rever o conteúdo do tópico, pensar e discutir a respeito, organizar suas anotações. Guarde-as, por enquanto, com você. 4 Língua Portuguesa: Fonologia Aula 01: Do mundo à língua e aos meios de Expressão Tópico 02: Questões modernas no estudo de fonologia e grafia O estudo de fonologia não pode ser feito com perguntas simples que se respondem rapidamente, e que perdem a validade no fim de uma disciplina. Nosso objeto de estudo está bem no meio de mil (linguagem figurada: são muitos mais) fenômenos que nos atingem no dia a dia. MULTIMÍDIA Você vai ver que, nos exercícios propostos e nas atividades avaliadas, será exigida a observação da fala comum, a audição de gravações, a audiovisão de diversos tipos de mídia. Por isso, precisa verificar seus recursos no computador ou em outros aparelhos e descobrir como se consegue o acesso a arquivos de áudio e vídeo. Sugerimos que assista a tais mídias uma primeira vez, sem se preocupar com as instruções das aulas, e anote suas impressões. Nas outras vezes, leia as instruções da aula, anote seus comentários, inclusive dúvidas e pontos de vista. FÓRUM E CHAT PERMANENTES Durante todo o período das aulas e em todos os momentos estão abertos um ambiente de bate- papo e outro de fórum, para a discussão livre entre você seus colegas, entre você e o professor. Esses dois ambientes não serão avaliados nem contarão presença, mas são bem úteis para o aprendizado geral, para ajudar nas atividades avaliadas e para ter um bom desempenho no final do curso. Você pode utilizá-los, inclusive, para pedir esclarecimento. Note que, pelo menos no final de duas das aulas, concluído o fórum obrigatório, o tutor e o coordenador vão chamar você para aprofundar e revisar, no fórum livre e no chat, conteúdos das aulas anteriores. ATIVIDADE DE PORTFÓLIO Observe, no vídeo indicado abaixo, a expressão facial e o que é possível ver nos mímicos que apresentam a canção de Adriana calcanhoto [1]. Depois, peça ao amigo não participante do curso para ler pelo menos um verso da canção e lhe pergunte o que é possível perceber sobre comoos sons correspondentes às palavras do verso são pronunciados: em que partes do aparelho fonador são produzidos, como acontece a pronúncia, o que pode ser facilmente observado e o que não pode. Seu trabalho vai ser o relato disso tudo." Seu trabalho deve ter cabeçalho (indicando pelo menos a disciplina, a data e seu nome completo) e trazer no início a instrução acima ("Observando... da gravação"). O arquivo deve ter título, por exemplo: LPFonologia_port1_Maria_Ester. 5 SUGESTÕES PARA SEUS ESCRITOS Essas são as primeiras de uma série de instruções que têm a finalidade de facilitar sua tarefa e colaborar para seu aperfeiçoamento em comunicações por escrito. 1. Uma boa resposta é sempre bem compreendida por quem não leu o enunciado que a motivou. Ao responder, retome as ideias centrais da pergunta. Assim evitará, por exemplo, que a pergunta comece com “Por que...”, e você inicie a resposta com “Quando...” 2. Cumpra as exigências do enunciado da questão. Estão lhe pedindo opinião, comparação, que discorde, que explique? 3. Respostas têm partes, que correspondem a partes da pergunta. Uma questão pode prever, por exemplo, que você se manifeste sobre duas coisas, quanto a dois pontos de vista diferentes: neste caso, uma boa resposta deve apresentar pelo menos quatro informações. 4. Se tiver dificuldade em escrever, imagine que conta o que viu a um amigo. Pode ser melhor começar livremente, a esmo. Mas, no final, releia, faça a revisão, você mesmo, de tudo que escreveu. 5. Sabemos que está aprendendo, e o erro é parte importante do processo. Se considerarmos sua resposta inaceitável, entraremos em contato e você poderá melhorá-la. 6. Note a diferença entre os dois usos de com, nesta afirmação: Os falantes, ao dizerem a expressão do texto acima “com licença”, pronunciam a palavra com com o véu palatino aberto. A sublinha (ou o itálico) indica que a palavra é um objeto do que se está dizendo, não a preposição com em sua função normal na frase. 7. Observe que, no item acima, expressão citada ficou entre aspas. Mostre o que é discurso dos outros, dentro de seu discurso. E lembre que citar é dizer de novo, repetir, não sinônimo de dizer, afirmar... 8. Para qualquer tarefa, é melhor fazê-la defeituosa, que não responder à solicitação. E você pode até não conseguir concluí-la, mas tem que começar. Se nada funcionar, escreva explicando por que não foi possível, mas mantenha o contato! Exemplo Q. O que se quer dizer exatamente, quando se afirma ser um certo som “arredondado”? Exemplifique. R. Diz-se que um som é arredondado, porque, em sua pronúncia, os lábios assumem formato arredondado. Isto fica claro, por exemplo, quando comparamos a forma dos lábios nas pronúncias de [i] e [u], nas palavras vive e luxo. Observe: • A resposta poderia ser compreendida por quem não leu a pergunta, porque foram retomados elementos-chave. • A pergunta exigia duas unidades significativas (o que se quer dizer..., exemplifique...), que foram atendidas. 6 Língua Portuguesa: Fonologia Aula 01: Do mundo à língua e aos meios de Expressão Tópico 03: O que há para ver na fala? Neste tópico, sugerimos que comece a observar a linguagem nas ruas, em casa, no material que trouxemos para você e em outros que você vai procurar, sem tarefa obrigatória. Reassista ao vídeo que propusemos no tópico anterior. Ele será retomado no início da próxima aula, já para o estudo de fonética. No período do tópico atual, muito interessante, parece-nos, é despertar para a multiplicidade de informações agregadas dentro e em anexo às unidades de linguagem verbal. MULTIMÍDIA Agora, clique aqui [2] para assistir novamente o vídeo. Escolha uma expressão com poucas palavras pareça formar uma unidade na pronúncia, por exemplo: "fogueira sem brasa" "que ser assim" "mil alto-falantes" Depois discuta com seus colegas, sem reutilizar expressão ou parte que um deles já tenha escolhido, sobre o que é possível descobrir a respeito da produção dos sons, a partir: a. dos movimentos no rosto dos artistas; b. da pronúncia de Adriana Calcanhoto; c. do exame que você faz em seu aparelho fonador, quando tenta repetir os sons. Use espelhinho de mão para ver seu aparelho fonador, dos lábios à úvula. Aí começa a faringe, onde é possível a passagem do ar para as fossas nasais, para a laringe (na direção dos pulmões) e dos alimentos para o esôfago (indo até o estômago). Sinta toques e movimentos dos órgãos do aparelho fonador. O professor interagirá com você e seus colegas, inclusive esclarecendo pontos difíceis. FÓRUM 1 O que lhe ocorre ao assistir ao vídeo, espontaneamente no início (anote suas impressões) e depois, quando tenta dividir o que observa? FÓRUM 2 7 Quando nos concentramos exclusivamente no que diz a canção ouvida e em sua letra escrita, que itens diferentes da língua podem ser considerados? Como isso é representado nos livros sobre a língua, em uma gramática escolar, por exemplo? Quando você leu livremente um conto, em casa, por sua iniciativa, chegou a certas descobertas, conclusões, suas. Quando lhe entregaram um conto, na escola, com a instrução "Mostre as três causas da reação do funcionário à ordem que recebeu", o instrutor fechou, recortou sua experiência, levando você a parar de pensar em quaisquer outras coisas, a adotar um ponto de vista como o único permitido. Quando você observa este vídeo livremente pela primeira vez, também tem expectativas e descobertas abertas. Dependendo de suas experiências, interesses, atitudes, vê coisas mais ou menos diferentes das que são vistas por outras pessoas, inclusive por seus colegas. Vamos fazer um recorte em suas impressões. Talvez estejamos excluindo coisas nas quais você pensou, impingindo o que você não pensou, não considera relevante. Considere o que dizemos no quadro abaixo, observe o vídeo, pense no que sugerimos, guarde suas anotações para trabalhar na próxima aula. O que é visto depende de quem vê. No vídeo, além de títulos, inscrições na tela, cor de fundo, idade dos mímicos, é possível perceber o seguinte: 1. Movimentos corporais, de um ou dos dois mímicos, integradamente. 2. Expressões faciais, especialmente nos olhos, boca ou em todo o rosto. 3. Gestos e outros movimentos das mãos ou dos braços, em parte "desenhando" coisas ou sentimentos, às vezes apontando. 4. Uma canção completa, com acompanhamento de instrumentos. Mas você pode ouvir separadamente, abstraindo, certa percussão, certo instrumento ou apenas a canção na voz de Adriana Calcanhoto. 5. Pode até deixar de notar a voz, abstraindo as notas e o que é cantado, para ver apenas a "letra", o texto, com seus significados. 6. Agora, e estamos terminando essa enumeração, imagine ver como as frases são construídas, que classes de palavras vêm em que lugares das frases, como as palavras se flexionam. 7. E pode “ver” apenas as partes na quais vamos nos concentrar, no tópico: (a) a pronúncia da cantora; (b) a parte da performance dos dois artistas, que nada cantam, mas movem seus aparelhos fonadores de forma ostensiva. Isto, agora, é fonologia. O que você consegue descobrir sobre a produção dos sons, a partir da pronúncia de Adriana Calcanhoto, dos movimentos no rosto dos artistas, das tentativas de repetir tudo em seu aparelho fonador? REFERÊNCIAS MAIA, Eleonora M. No reino da fala: a linguagem e seus sons. São Paulo: Ática, 1985. 8 Língua Portuguesa: Fonologia Aula 02: A articulação dos sons Tópico 01: O aparelho fonador visto de perto Alexander Graham Bell [1] Nesta aula, temos atividades sobre a articulação dos sons baseadas principalmente em vídeo, começando pelo que você viu no fechamento da aula 1. O que há de mais teórico, você lê no texto sobre fonética articulatória. É possível descobrir muito sobre o aparelho fonador, pelos toques sentidos quando se repete sons, ora da forma mais natural, ora cuidadosa e lentamente. Pelo exame do rosto externamente enquanto alguémfala, pouco se pode perceber. A esposa de Alexander Graham Bell, escocês que ensinou nos Estados Unidos fisiologia da fala e registrou em 1876 a invenção do telefone, dominava tão bem a técnica da leitura labial, que sua surdez só foi descoberta pela filha por acaso. Embora estivesse bem próxima da filha, a mãe não atendeu ao seu chamado, por estar de costas. Esse tipo de leitura da fala tem sido utilizado por técnicos que procuram interpretar frases inaudíveis, espiões russos que, durante a Guerra Fria, adivinhavam conversas com binóculos e só falavam uns com os outros em restaurantes mantendo uma taça na boca, repórteres de esporte que tentam “ler” frases de jogadores de futebol. A compreensão só é possível, sem a audição, porque observamos gestos e expressões visuais, conhecemos um contexto, já esperamos certas palavras e prevemos certos sons, utilizamos estratégias de leitura, principalmente pela expectativa de significados. Entretanto, ao ouvirmos, somos levados a reproduzir em nosso aparelho fonador os sons que nosso interlocutor vai produzindo. Para os destaques feitos a seguir, além da observação do vídeo, é bom ter espelho pequeno e o texto (“Os sons da fala” ) (Visite a aula online para realizar download deste arquivo.), onde está o desenho do aparelho fonador. Chamamos sua atenção inicialmente para o estudo das cavidades (de ressonância) e das posições da língua. Posições dos lábios e cavidade bucal Observe os movimentos labiais, que, em certos casos, são traço distintivo, ou seja, característica simples suficiente para distinguir um fonema de outro(s), capazes, por sua vez, de distinguir palavras. Esteja atento, principalmente, à vogal da sílaba tônica da última palavra de cada frase. Essa posição é privilegiada, pois a sílaba acentuada, além de mais forte, é mais longa. A última sílaba tônica de uma frase é mais longa ainda, e nela há também a entoação decisiva para indicações frasais como os tipos interrogativo e declarativo. Observe, em: 9 Avião sem asa, Fogueira sem brasa, como vai mudando, em cada verso, a abertura dos lábios na pronúncia das vogais. Atente principalmente para as vogais das últimas sílabas tônicas no final dos versos: asa, brasa. Note a abertura máxima dos lábios e a grande visibilidade do interior da boca. Isso acontece porque o som de /a/ em posição tônica tem como traços: - a abertura máxima da boca, sem arredondamento dos lábios; - a posição central da língua; - a posição maximamente baixa da língua, contra o chão da boca. Compare as aberturas mencionadas com as que ocorrem no som [e] (como em “você”, “mesa”), também não arredondadas, e com a transição de [e] para [u], em “eu”, esta última com arredondamento dos lábios, quase “biquinho”. Conclua a observação das aberturas, por enquanto, com a observação dos rostos no verso: “Piupiu sem frajola”. Posição da língua Observe a imagem na pronúncia de “assim sem você”. A boca, aberta, permite a visão de seu interior: tanto em [s] quanto em [e] a língua está avançada, frontal, anterior, por isso fica visível. Compare essas pronúncias com a de “asa“ e “brasa”. Compare, em sua pronúncia também, as alturas da língua nas três ocorrências de [s] em “assim sem você”. Experimente prolongar o som musical de [ê] com o ruído que nos dá a impressão de fricção do ar porque a língua toca levemente os alvéolos ou os dentes. Observe o que acontece nas vogais tônicas de "futebol sem bola". Também aí se vê o interior da boca. Compare o vídeo com o que sente em seu aparelho fonador. Repita os sons de [ê], [á], [ó]. Por que não se vê a língua, na pronúncia do som grafado com “o” em “futebol sem bola”, foneticamente [ó], ao contrário do que aconteceu em [ê]? Experimente pronunciar os sons da canção, enquanto observa o diagrama abaixo. Sinta inicialmente as vogais cardeais: • [i] - o som vocálico pronunciado na posição mais alta e mais frontal possível; • [u] - o som mais alto (falamos da altura na língua na boca) e mais posterior possível, quer dizer, com a língua recuada ao máximo; • [a] a vogal mais baixa, a língua apertada contra o chão da boca e com a maior proximidade possível dos dentes inferiores. 10 Língua Portuguesa: Fonologia Aula 02: A articulação dos sons Tópico 02: Você é quase uma orquestra Carmen Miranda [2] No texto “Os sons da fala”, ao falarmos das vogais, demonstramos que lá havia só música. A voz, produzida na vibração das cordas vocais, ressoa de modo diferente conforme nosso instrumento modifica o espaço da boca, mas os sons vocálicos mais fechados (ou altos) não são tão fechados ou altos que cheguem a provocar ruído. Violão [3] Bandolim [4] Balalaica [5] Banjo [6] Se estivéssemos diante de um violão, um bandolim, uma balalaica triangular, um banjo, a forma da caixa de ressonância não mudaria, a abertura (um deles nem tem) seria sempre a mesma. Seu instrumento vale muito mais, pois muda a ressonância do vozeamento vindo das cordas vocais (que, de fato, são pregas). As vogais distinguem-se pelas mudanças sem ruído, conforme alguns parâmetros: posição assumida pelos deslocamentos vertical e horizontal da língua, pelo formato da abertura dos lábios, por estar o véu palatino levantado (nos sons vocálicos orais) ou abaixado (nos nasalizados). Pois o aparelho fonador humano não só pode mais, de certa maneira, que os instrumentos musicais ao ter caixas de ressonância que se modificam, como também é capaz de fazer não só as vezes de instrumento de corda e de sopro, mas também de instrumento que produza ruído, de percussão. 11 Talvez você tenha ouvido Tic tac do meu coração, samba escrito por Alcyr Pires Vermelho e Walfrido Silva. Não, não é exatamente um lançamento recente. Carmen Miranda o gravou em 1942. Ninguém que esteja lendo este texto era nascido, mas vai continuar sendo um clássico no mundo. A letra da primeira estrofe é assim: O tic tic tic tac do meu coração Marca o compasso do meu grande amor Na alegria bate muito forte E na tristeza bate fraco por que sente dor Experimente ouvir ou dizer em voz alta, sentindo o que acontece em seu aparelho fonador. Pronúncia dos sons consonantais Na pronúncia dos sons consonantais (deram-lhe esse nome, porque julgava-se que eles só soavam com uma vogal, nunca sozinhos), há ruído apenas (quando são não vozeados) ou ruído e som musical (nos sons vozeados). Os ruídos acontecem por causa de três graus de altura-fechamento, que, modificados, fazem o parâmetro I das consoantes, o modo de articulação, quer dizer, como a articulação acontece. Obviamente, para que surja um som, é preciso que haja também um parâmetro II, referente ao ponto ou zona de articulação, onde e com que acontece a articulação. O maior grau de altura do articulador ativo, de fechamento do canal articulatório, dá-se quando o falante mantém toque entre os dois articuladores: ativo (lábio inferior e ponta, lâmina e dorso da língua) e passivo (lábio superior, dentes superiores, alvéolos, palato (duro), véu palatino, úvula). Assim, produzem os tipos de sons consonantais plosivos (oclusivos), com fechamento completo (oclusão), como em [t], para “tac” “tristeza”.), nasais, como em “m”, “n” acima iniciando sílaba, e “nh” em “tenha”. Há ainda o som classificado como tepe, tradicionalmente “vibrante simples”, como no som representado por “r” em “coração” e “alegria”, em que o toque é uma leve batida, geralmente, aqui, da ponta da língua contra os alvéolos. No grau médio de altura-fechamento, o ar é forçado entre os articuladores, lembrando uma de fricção. Acontece nos sons fricativos, como no “r” em início de palavra. Se você não produz vibração, não diga que seu som é vibrante só porque as gramáticas dizem. Esse som ocorre antes de consoante e pausa (em linguagem muito cuidadosa) ou grafado “rr”. Note acima “fo[h]rte”, “po[h] que sente do[h]”, aqui notados como glotal não vozeado (explicamos mais no texto anexo). Acima há ainda sons fricativos alveolar, labiodentale pós-alveolar (em “tri[s]teza”, com “s” chiando semelhantemente a “ch”, de “cheiro”). O grau mínimo de altura do articulador ativo nas consoantes se dá nas chamadas semiconsoantes ou, semivogais, pois são intermediários. Não há, é claro, um ruído, mas um movimento causado pela aproximação entre os articuladores. Esses sons são oficialmente chamados de aproximantes. São os sons do “r” em inglês e, em português, os sons em “me[w]”, “d[j] um atro[j]z viver”, “Nã[w] quer qu[j]_e_[w] tenha nessa vida ma[j]s desilusã[w]”. Há muito mais a respeito, que você verá nos textos já indicados. PARADA OBRIGATÓRIA Ah, você pode pegar a letra toda em: 12 O Tic-tac do Meu Coração - Letra. [7] ou ver e ouvir (a imagem não poderia estar melhor) em: Carmen Miranda - Tic-Tac Do Meu Coração [8] 13 Língua Portuguesa: Fonologia Aula 02: A articulação dos sons Tópico 03: Cesse a música e o ruído, repouse sua voz, por um instante VERSÃO TEXTUAL Na aula anterior, fizemos um exame rápido do aparelho fonador. Nesta aula, discutiremos bastante a transcrição fonética, a classificação dos sons do português e a variação fonética, chegando à fonologia. Neste tópico, tecemos algumas considerações, à guisa de revisão, revendo fenômenos vistos. Voltando à canção de abertura, tomemos dois versos. Vamos dividi-los em sílabas, conforme o que se ouve, foneticamente, não conforme alguma gramática que pensa em palavras isoladas. Poremos numa primeira linha os sons que iniciam sílabas (aqui, todos consonantais) e, na segunda, os núcleos das sílabas, sempre uma vogal, seguida ou não de uma semivogal: Futebol sem bola, Piupiu sem Frajola, Seu aparelho fonador vai se mexendo de forma tão rápida, que teríamos dificuldade em compreender sentidos de cada signo se nos concentrássemos conscientemente nas mudanças. Inconscientemente, entretanto, você ouve e re-produz sons, combinando muitos traços, e considerando um fonema completamente diferente de outro, embora só um traço varie. Nos sons do primeiro grupo (tente pronunciar isoladamente f – t – b – s - b – l -), acontecem ruídos causados por obstáculos à passagem do ar. Verifique onde os ruídos acontecem, o que causa obstáculo ao ar. Como, com que, onde os ruídos acontecem? Em [f] e [s], o ar é forçado a sair com aperto sem fechamento total (modo de articulação), entre o lábio inferior (que se eleva) e os dentes superiores para [f], entre a coroa ou lâmina da língua e os alvéolos, para [s]. Para [l], a ponta da língua fecha o centro do canal nos alvéolos, enquanto o ar passa livremente pelos lados. Nos sons correspondentes a u – i – ó – e – ó - a não há obstáculos, apenas a voz, o tom, a nota que vem das cordas vocais ressoa diferentemente, conforme mude o formato da boca e dos lábios, conforme 14 haja ressonância apenas na boca ou se abra a passagem para as fossas nasais. Conclusão: O que fizemos durante essa aula foi pensar sobre quatro parâmetros, quatro itens que podem variar para diferençar sons. No texto "Os sons da fala” (clique aqui para abrir) (Visite a aula online para realizar download deste arquivo.), você pode verificar os traços, as classificações para esses itens. Vai ver o que se verifica, como e onde os sons são pronunciados; se há nessa pronúncia ressonância nasal, se há ou não vozeamento, isto é, vibração das cordas vocais. Se você conseguir tempo, faça essa atividade opcional... EXERCITANDO Converse com músico(s) sobre o que ele(s) sabe(m) das semelhanças entre como uma pessoa fala e como vem a existir música em seu(s) instrumento(s): violão, acordeom, gaita, flauta, violino, tambor, pandeiro e outros. Algumas sugestões do que deve discutir com ele(s): • Como é produzido o som em seu instrumento musical (o que vibra e produz som)? Você sabe como é produzido em outros instrumentos? E na gente, quando se está cantando, você sabe como o som é produzido? • Para que serve a caixa do violão (do cavaquinho, do violino, da viola, etc.)? • O que acontece quando se segura uma corda mais perto das cravelhas (no violão) ou mais perto do centro e da caixa do instrumento? DICA No texto desta aula, falamos mais ou menos que um ponto privilegiado na fonologia da língua é a vogal da sílaba tônica. Uma vogal assim, além de mais forte, é mais longa, quer dizer, tem maior duração. Se essa vogal é a última tônica antes de pausa, por exemplo, no fim de uma frase, é ainda mais longa e também recebe o tom, que caracteriza uma entoação frasal. Finalmente, nesses pontos privilegiados, é maior a distinção entre os timbres das vogais. Os termos destacados com negrito acima são utilizados por profissionais da linguagem como professores de língua(s), gramáticos, filólogos, linguistas. FÓRUM Com base no que você experiencia ao ouvir e ao sentir o que acontece quando pronuncia sons de expressões (grupos de palavras) ouvidos na canção informada a cima, classifique-os conforme modo e zona de articulação, e o que acontece nas cordas vocais. Conte neste fórum as experiências anotadas e colabore com seus colegas, ajudando-os a compreender. Por exemplo, como é o som consonantal na sílaba inicial de "relógio” pronunciado por um(a) cearense? Como podemos classificar esse som?). Ele tem a mesma classificação de outros sons correspondentes à letra 'r' na pronúncia cearense?". 15 GUARDE ESTE QUADRO PARA TÊ-LO TAMBÉM AQUI COM A AULA ALFABETO FONÉTICO INTERNACIONAL (Revisão de 2005) Reduzimos os símbolos aos comumente usados para o português e alteramos levemente colunas, linhas e termos, como descrevemos abaixo do quadro. • Foi excluída, depois da coluna das uvulares, uma das faringais. Depois das fricativas, a linha das laterais fricativas. A linha das aproximantes (semivogais) desceu, ficando mais próxima das vogais altas. A mudança se justifica também para conferir maior coerência à iconicidade quanto à abertura, pois nas laterais ainda há contato entre os articuladores. • Quanto aos termos, no IPA original, ao lado do termo “tap” (“batidinha”, “vibrante simples”) há o termo “flap”. Preservamos o termo “plosivo”, que é substituído em português por oclusivo, porque também as nasais são oclusivas (na boca, embora o ar fique livre em sua passagem para as fossas nasais). 16 MULTIMÍDIA Transcreva foneticamente a palavra “Cachorro”: Video transcrição fonética 1 prof Nelson Costa. [9] Video transcrição fonética 2 prof Nelson Costa. [10] Video transcrição fonética 3 prof Nelson Costa. [11] Fontes das Imagens 1 - https://s-media-cache-ak0.pinimg.com/736x/9b/96/84/9b968434bea288ac4ffe5bdc252b26a5.jpg 2 - http://4.bp.blogspot.com/-HSW3AE3ZYUY/UjmtYzNwP0I/AAAAAAABdAU/AphyYlYuEb4/s640/carmen-miranda-ca-early- 1940s-everett.jpg 3 - http://3.bp.blogspot.com/-VqWGaVJSlVA/UXcmPEOpO1I/AAAAAAAAAKQ/CS4uDO1Xfrk/s1600/godin_violao_motif_q1.jpg 4 - http://www.semibreves.pt/Imagens%201/BANDOLIM.jpg 5 - http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/7/70/TenorBalalaika1.jpg 6 - http://musicalmart.net/shop/images/Banjo_Large(1).jpg 7 - http://letras.mus.br/carmen-miranda/o-tic-tac-do-meu-coracao/ 8 - https://www.youtube.com/watch?v=pHmF65luS10 9 - http://www.youtube.com/watch?v=HQmCb2GLSZ8&feature=youtu.be 10 - http://www.youtube.com/watch?v=iI3x01yauvc&feature=youtu.be 11 - http://www.youtube.com/watch?v=aeJJCKfjQhA&feature=youtu.be 17 Língua Portuguesa: Fonologia Aula 03: Os Fonemas do Português e Suas Realizações Tópico 01: Ainda entre fones e fonemas Fonte [1] Wir bezeichnen die Sprechaktlautlehre mit dem Namen Phonetik, die Sprachgebildelautlehre mit dem Namen Phonologie. (Trubetzkoy, 1939, p. 7) Designamos o estudo dos sons no ato de fala como fonética, o estudo dos sons na estrutura da língua como fonologia. Николай Сергеевич Трубецкой Nikolai Sergeievich Trubetzkoy (Moscou, 1890 – Viena, 1938) Você pode ver mais nesse site [2]. Até a aula passada, do conjunto de todos os sons, tomamos para estudo exclusivamente os sons da fala, isto é, os que podemser produzidos por um aparelho fonador, reconhecidos pela audição humana e utilizados em discurso (“paroles”). Das abordagens possíveis, preferimos a articulatória. Sinais desse ponto de vista são a escolha de termos como “oclusivo”, baseado na oclusão que ocorre no aparelho fonador; e “vozeado”, que quer dizer, com vibração das cordas vocais. Nosso intuito nesta aula é, depois de deixar mais firmes seus conhecimentos sobre a transição entre o aspecto fonético e o aspecto fonêmico dos meios de expressão, discutir o sistema fonológico do português. É que falta ainda fortalecer seu conhecimento de fonética, de classificação de sons, da transcrição e leitura do Alfabeto Fonético Internacional. E aproveitamos para compreender melhor as correspondências entre o que é fonético (relativo à pronúncia, aos fones, sons da fala) e o que é fonêmico, do sistema, da língua. Esta aula é mais teórica que as anteriores e que as próximas. Mas não pode ser só de tentativa de compreensão de afirmações nossas, deve ser bem acolhida para seu raciocínio, tem que fundamentar-se 18 também no que você vai observar em tarefas. Deve ser complementada pela leitura do texto recomendado, mas avaliaremos a partir dessa aula, não do texto. CHAT O “chat”, sobre as convenções do Alfabeto Fonético Internacional, deve ser combinado entre grupos de alunos e o professor. Importam na discussão as dúvidas sobre as convenções na tabela do Alfabeto Fonético Internacional, a compreensão dos termos que estão lá, para fins práticos. Em uma direção, você deve ser capaz de, ouvindo um som, escolher um símbolo. Na outra direção, precisa ser capaz de, vendo um símbolo, pronunciar o som correspondente. Note que este bate-papo não é obrigatório, não vale nota diretamente nem conta para as presenças. Sugerimos, entretanto, que você aproveite o ambiente para discutir com seus colegas e com o professor o que propusemos acima e, ainda, noções como “feixe de traços”, traço fonético. Tenha em mão tabela do Alfabeto Internacional. Para usá-la bem, experimente dois procedimentos. Em um, você deve ser capaz de, ouvindo um som, escolher um símbolo. No outro, precisa ser capaz de, vendo um símbolo, pronunciar o som correspondente. FÓRUM Traços fonéticos e classificação dos sons da fala - Discussão sobre o estudo dos sons da fala, com base na terminologia usual da linguística e das gramáticas e na observação da pronúncia em frases do português. ATIVIDADE DE PORTFÓLIO A correspondência entre a fonologia (fonêmica), a fonética e a grafia do português. A atividade deve começar com o exame da canção ‘Dança da solidão’, cantada por Maria Monte e Paulinho da Viola, e o exame da fala no vídeo. Vídeo na Internet: Clique aqui [3] Uma pequena introdução em seu texto, pode conter, por exemplo, informação do assunto de que trata, sobre porque o está escrevendo (foi solicitado por esta disciplina) e sobre compositora, compositor, e os dois artistas que se apresentam, inclusive onde nasceram. Também pode expressar o que observou sobre, por exemplo, como cantam ou falam. 1. Leia as sugestões que deixamos na aula, inclusive sobre como citar, fazer referência a autores e obras. 2. Busque as letras das canções (você as porá no apêndice de seu trabalho), para poder indicar trechos quando disser alguma coisa a respeito delas. 3. O chamado “desenvolvimento” do relato, sua parte central, deve falar sobre como são escritas, muitas vezes sem relação exata com as pronúncias e a constituição fonológica, quer dizer, pode não haver correspondência completa entre sons, fonemas e letras. 4. Explique pelo menos o correspondente a trecho de frase ou frase pequena da canção que contenha em torno de seis vocábulos. Nesse ponto, veja o que você sente em seu interior e o que sente uma amiga ou um amigo. Tente descrever (dizer o que acontece) com uns dez itens que você ouve (uma 19 unidade, um som, ou um grupo de unidades, um grupo de sons): pronunciado pelos cantores / falantes, por você, por sua amiga / seu amigo conforme o que ele acha. Note que algumas coisas podem ser percebidas fora, na expressão facial, outras só se examinando e sentindo o que acontece dentro, para falar de outras faltam palavras e falta certeza. 5. Não esperamos que você já seja experiente em escrever trabalhos assim. Não tente copiar coisas perfeitas vindas de algum autor: em vez disso, afirme você mesmo, mostre onde tem dúvida. 6. Na conclusão de seu trabalho, tente fazer em poucas linhas resumo e expresse sus impressões bem sinceras sobre o que lhe acontece na realização do trabalho. 7. Releia as instruções para escritos. Neste trabalho, não afirme só por afirmar, vagamente, mas o tempo todo faça referência ao que de fato está no texto da canção ou em palavras, grupos de palavras, frases ditas por Marisa Monte e Paulinho da Viola, o que acontece com você ou com sua amiga ou seu amigo. 8. Também, se, além do texto do impresso, consultar outras pessoas ou textos, informe de quem são e em que ou onde estão as afirmações: autor, obra (ano de publicação), número da página. Pode usar também o rodapé da página e indicar itens bibliográficos completos no fim do trabalho. 20 Língua Portuguesa: Fonologia Aula 03: Os Fonemas do Português e Suas Realizações Tópico 02: Grafando sons VERSÃO TEXTUAL Voltamos ao tema principal de nosso tópico, a transição entre fonética e fonêmica, propondo a você um exercício. A finalidade da tarefa é aumentar sua habilidade na percepção dos sons da fala e em sua transcrição, levando-o a comparar os aspetos fonéticos e fonêmicos da linguagem. Ouça uma frase, dita num contexto em que três amigos estão famintos em uma praia, sem dinheiro suficiente para pagar almoço em restaurante ou barraca. Numa audição normal, você, provavelmente, nem se daria conta de que aí há algo com características gramaticais, lexicais, fonológicas, porque a língua é antes de tudo instrumento para a vida. Pensaria apenas na sugestão alimentar. Num segundo momento, se lhe dizem “pense nesta frase”, poderia até anotar, sem perceber algo notável. Finalmente, se lhe pedem que atente para as características da pronúncia, talvez, conforme seu grau de “consciência linguística”, perceberia que algo não corresponde à pronúncia, digamos, canônica (tem a ver com cânon). Alguém treinado faria dessa massa fônica a seguinte transcrição: Bom, estão aí as questões que vão guiá-lo mais especificamente no exercício. EXERCITANDO 1. Copie, melhor dizendo, desenhe os símbolos da transcrição, traçando-os com base em duas linhas, como nos cadernos de ortografia. Observe como os símbolos podem ter (1) corpo central apenas, contido entre as duas linhas; (2) também corpo superior, acima da linha I, (3) corpo central e inferior, abaixo da linha II; (4) corpo superior começando acima da linha I, corpo central, e corpo inferior para baixo da linha II: 2. Anote o que chama sua atenção na frase transcrita. Verifique que dúvidas tem quanto a que sons correspondem a cada símbolo, onde um símbolo deve ser utilizado. Consulte as tabelas do AFI e os textos disponíveis. 3. Observe, a representação fonêmica correspondente à transcrição fonética já vista. Compare-as. Registre o que lhe parece notável ou estranho. 21 4. Seu esforço neste exercício ajuda nos fóruns e atividades indiretamente, prepara você para compreender melhor os próximos tópicos, será decisivo na avaliação presencial. Por isso, guarde tudo bem com você. Lembre: pode usar o fórum livre para comentários, dúvidas, colaboração com seus colegas. Chamamos sua atenção para a necessidade de representar graficamente a pronúncia dos sons, quando, no trabalho de ocupados com atividades sobre a linguagem, é necessária esta escrita técnica. Talvez você esteja entre as pessoas que, cada vez mais, procuram evitar “caprichar” no manuscrito. O problema já existia e deve ter-se intensificado com o domínio, para muitos, completo, da escritade teclado. Se é comum a recusa ao aprendizado dos símbolos da escrita caligráfica, típicos da escrita à mão, imagine dizer a você que terá que traçar símbolos pormenorizadamente, de forma que não se confundam os símbolos do Alfabeto Fonético Internacional. A finalidade deste exercício é aumentar sua habilidade na percepção dos sons da fala, na habilidade de traçar e “ler” esses símbolos em representações fonéticas. 22 Língua Portuguesa: Fonologia Aula 03: Os Fonemas do Português e Suas Realizações Tópico 03: Vamos colher feixes? Talvez a proposta desse tópico nem lhe tenha trazido ideias verdes, campestres, muito menos bucólicas (dicionário!). Estamos tão longe dos campos, no tempo, no espaço e no gosto! Depois, como colher feixes, se nossos antepassados enfeixavam o que já havia sido colhido? Um feixe é feito de coisas amarradas juntas, como pequenos ramos com folhas ou talos de capim, de forma que, levando-se um dos componentes, vão todos. Um feixe é feito de coisas amarradas juntas, como pequenos ramos com folhas ou talos de capim, de forma que, levando-se um dos componentes, vão todos. O termo metafórico foi utilizado, entre outros, pelos funcionalistas do Círculo Linguístico de Praga, para quem o fonema não se define bem nem por suas características psicológicas, nem por suas características físicas, mas por sua função, e funciona para distinguir significados na língua (Trubetzkoy, 1939; 41, apud Hyman, 1975: 67). Quando você atribui certa característica a alguém de quem ouve dizer que é “pabo”, em representação fonêmica /’pabu/, no dialeto culto, pábulo, é porque seu cérebro interpretou traços, características de uma cadeia de fala. Sabe o que faz “pabo” diferente de “papo”? Falante do português, você consegue perceber a distinção entre dois ruídos que podem ocorrer entre as vogais /a/ e /u/. Num deles, /p/, as cordas vocais param um instante de vibrar; no outro, /b/, elas continuam vibrando durante o fechamento e a explosão nos lábios. De resto, tanto em /p/, quanto em /b/, há fechamento completo que impede a passagem do ar. O ponto onde isso ocorre são os lábios - o véu palatino não permitem que o ar ressoe na cavidade nasal. Dizendo de outra maneira, /p/ e /b/ têm em comum os traços [Oclusivo], [Bilabial], [Oral], mas são diferentes no traço referente ao vozeamento: [Não Vozeado] / [Vozeado]. Não há muita certeza quanto a como os falantes da língua sabem que as cadeias de fala se distinguem. Não se tem normalmente ideia clara de que uma imagem acústica é constituída de alguns segmentos. E, se temos consciência dos segmentos, é porque os vemos como feixes, sem visibilidade dos traços que os compõem. PARADA OBRIGATÓRIA 23 De fato, traços, essas menores entidades, fones, fonemas e arquifonemas (descubra o que é isso) são abstrações, conceitos estabelecidos pelos linguistas, que os postularam na tentativa de decifrar esse mistério que é a linguagem verbal. E não se insurja contra os estudiosos da linguagem por isso. No outro lado dessa história, estão conceitos considerados “pré-teóricos”, como os de palavra: pessoas comuns falam dessas coisas e acham que sabem, mas quem tenta estudar isso criteriosamente não consegue explicar com clareza e facilidade. E não fique triste. Nem os professores, o orientador, os construtores deste texto compreendem, nem Saussure compreendia bem os fenômenos naturais correspondentes ao que ensinamos. Não estivemos presentes na hora em que as línguas começaram a existir. Nem o esperanto [4], a língua internacional completamente planejada, explica isso, porque foi construída com as características naturais de línguas menos planejadas como o latim e o grego, o francês, o inglês, o alemão, o polonês. Veja os traços da sequência de segmentos /'pabu/. Note que, por serem, cada um dos segmentos, um feixe de traços, sua cognição os toma como unidade na maior parte do tempo, e você não tem consciência dos traços atados juntos. As abreviaturas à esquerda são para Modo de Articulação, Ponto ou zona de Articulação, cavidades de Ressonância e Vozeamento: [p] [a] [b] [u] MODO [Oclusivo] [Livre] [Oclusivo] [livre] PONTO [Bilabial] [Central, Baixo] [Bilabial] [Posterior, alta] RESSONÂNCIA [Oral] [Oral, - Arredondado + Nasalizado] [Oral] [Oral, + Arredondado - Nasal] VOZ [-Vozeado] (Vozeado) [Vozeado] (Vozeado) Descrição da tabela: Modo p: oclusivo, modo a: livre, modo b: oclusivo, modo u: livre. Ponto p: bilabial, ponto a: central, baixo, ponto b: bilabial, ponto u: posterior, alta. Ressonância p: oral, ressonância a: Oral, menos arredondado, mais nasalizado, ressonância b: oral, ressonância u: oral, mais arredondado, menos nasal. Voz p: menos vozeado, voz a: vozeado, voz b: vozeado, voz u: vozeado. SE VOCÊ QUER EXPLICAÇÃO SOBRE OS TERMOS 24 Diferenças entre esses termos e outros que você conhece devem-se a tentativa nossa de reduzir as incoerências nas descrições tradicionais, que repetem informações e obrigam à memorização, sem pensamento. Uma dessas incoerências vem do tratamento de consoantes e vogais com critérios diferentes e incomparados. Quanto ao modo de articulação, que é inerente ao ser “vogal”, as vogais se opõem às consoantes por serem articuladas de forma livre, sem impedimento que produza ruído. Quanto ao vozeamento, espera-se que as vogais (de vocale, de vox, voz) sejam vozeadas, embora com frequência esse traço mude, não sendo distintivo, como na maior parte das consoantes, em português. Em muitos textos tradicionais e modernos, os termos usados para “não vozeado” e “vozeado” são surdo e sonoro, mas tais termos podem não ser adequados, pois tudo que tem som é sonoro. Por exemplo, em dois sons não vozeados fricativos pronunciados demoradamente, um pós-alveolar e outro labiodental, o primeiro tem mais sonoridade, chama mais a atenção: experimente pronunciar cuidadosamente “enxada” e “enfado”. Dois dos traços atribuídos às vogais, as posições da língua na boca, horizontalmente (anterior ou frontal, central, posterior) e verticalmente (alto / fechado, médio-fechado, médio-aberto, baixo ou aberto) correspondem, nas consoantes, ao ponto ou zona de articulação. Os outros dois traços têm a ver com a ressonância, ou seja, com as cavidades (faringe, fossas nasais, formas internas da boca, lábios). A ressonância é comumente oral, pois já determinada pelas formas tomadas no espaço bucal em virtude das posições da língua. Além disso, pode ter ressonância acrescida (a) nasal (Nasal, Não Nasal), combinadas com a (b) labialidade (Arredondado, Não Arredondado). Isto acontece porque os lábios, ao modificarem a forma da saída da cavidade bucal, acrescentam ou não espaço, que cria caixa de ressonância. A palavra pabo, acima, nos faz pensar em “pata”, “bata”, “tapa”, “taba”, “Fado”, “pato”. Também em inglês, a oposição simbolizável por /p/ e /b/ existe. Entretanto, em português é importante na distinção o traço de vozeamento (nas outras coisas, nos outros traços /p/ e /b/ são iguais), em inglês é importante a aspiração. Daí o repetido exemplo do brasileiro que, ouvindo “Go to the gate B” (pronunciado [geit pij], foi para o portão P... que seria pronunciado [phij], ou seja com um sopro mais forte na explosão bilabial. Há falantes do inglês que distinguem os fonemas /æ/ e /ɛ/ em “mat”, 'esteira', e “met”, passado de 'encontrar', respectivamente, por pronunciarem a vogal da primeira palavra de forma tensa, mas, a da segunda, de forma lassa, relaxada. Línguas cariris distinguiam séries de vogais orais simples, nasalizadas e faringalizadas; línguas semitas como o hebraico, o árabe e o aramaico usam a faringalização para distinguir os ambientes “enfáticos” (o aumento relativo da parte posterior da boca em comunicação com laringe produz certo efeito de ressonância, uma consoante articulada assim influencia o timbre da vogal). A maior parte dos traços é comum a muitas línguas, mas elas os enfeixam de formadiferente. A língua é vista como sistema com subsistemas, um dos quais é o fonológico. E em cada sistema (isto é, língua, idioma... ou dialeto) há uma fonologia específica desse sistema. Se você compara os sons de “pata”, “bata”, “tapa”, “taba”, “fado”, “pato”, nota que a oposição entre [p] e [b] é funcional, tem utilidade, e que a um dos fonemas é correlacionado o outro. Se não fosse assim, teríamos licença para, em uma mesma palavra, realizar /b/ ora com vozeamento, ora sem. 25 Da mesma forma, em italiano: Stasera [tši] vediano. / Stasera [ti] vediano. as frases significariam respectivamente 'Esta noite te vemos' e 'Esta noite nos vemos'. Em português, entretanto, em 'Bom, nós te vemos lá' será compreendido quer pronunciemos [ti], quer [tši]. Os sons são semelhantes nas expressões dos falantes das duas línguas, mas cada sistema se organiza diferentemente: ser um som alveolar ou dental simples ou africado, começando com oclusivo e sendo liberado como fricativo, acontece nas duas línguas. Em português, entretanto, é apenas fenômeno fonético, sem distinguir significados. Empregamos acima o símbolo [š], para o som correspondente a “chá”, e que surge também depois de “t”, em “tipo”. Veja a que corresponde na tabela do AFI. Classicamente, falantes de espanhol não distinguem dois timbres, “ó”, médio-aberto, e “ô”, médio-fechado, mas os falantes de português, sim. Falantes do japonês não distinguem [r] de [l], no sistema, embora os dois sons existam em sua fala. Para o português, a existência ou a possibilidade de virem a existir com significados diferentes os pares mínimos cujas formas ortográficas são “avó” e “avô”, “bolo” (substantivo, com “o” fechado) e “bolo” (verbo, com “o” aberto) são provas de serem esses sons pertencentes a dois fonemas diferentes em nosso sistema. Mas [tš] antes de [i] no Ceará, ou depois de [i] em falares da Bahia, por exemplo, em “muito” e “Eita!” [ejtša:] são alofones de um mesmo fonema, coisa de fonética, não de fonêmica. REFERÊNCIAS SILVA, Thaïs Cristófaro. Fonética e fonologia do português. 5. ed. São Paulo: Contexto, 2001. TRUBETZKOY, Nikolaus S. Grundzüge der Phonologie. [Princípios da fonologia] 7. ed., Göttingen (Alemanha): Vandenhoeck & Ruprecht, 1989 [1. ed: 1939]. O nome pode ser pronunciado “trubetscói”. Há grande variação nos nomes transliterados do russo para as línguas de alfabeto latino, ora seguindo-se modelos franceses, ora ingleses, ora alemães. No blogue abaixo há vínculos interessantes para a fonologia: http://inter-lingua-gem.blogspot.com [5]. Fontes das Imagens 1 - https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/4/47/Nikolai_Trubetzkoy.jpg/220px-Nikolai_Trubetzkoy.jpg 2 - http://pt.wikipedia.org/wiki/Nikolai_Trubetzkoy 3 - https://www.youtube.com/watch?v=w1vWIzW7nXY 4 - http://pt.wikipedia.org/wiki/Esperanto#Hist.C3.B3ria 5 - http://inter-lingua-gem.blogspot.com 26 Língua Portuguesa: Fonologia Aula 04: Fonemas, sons e letras Tópico 01: Relações entre as unidades dos meios de expressão da fala e da Escrita Esta aula trata de algo essencial a um profissional de linguagem, um graduado em Letras: distinguir claramente os aspectos fonético, fonêmico e gráfico da língua, conhecendo como se relacionam. É uma aula de tópicos curtos, mas que necessita de tempo seu para o desenvolvimento do que está proposto, inclusive no fórum e no portfólio. Você pode contar com os textos do nosso material de apoio e com a consulta intensa aos tutores. Ouça a música cantada nos anos de 1960 pelo então imaturo Chico Buarque. Compare-a, se quiser, com a mesma canção na voz (esta, madura) de Nara Leão, no mesmo vídeo. Você pode pegar cópia com seu tutor ou entrar em: A banda - Chico Ao vivo – 1966 [1]. FÓRUM Pesquisa e discussão sobre a relação entre fonética, fonologia e ortografia. - Apresentação, com discussão, de pesquisa sobre as ligações entre a pronúncia, a fonologia e as falhas ortográficas. MULTIMÍDIA Algumas sugestões para completar sua formação nessa área: Examine novas gramáticas, das que são normalmente indicadas para as escolas ou estão nas livrarias, na parte de ensino médio. Anote o que encontrar. Veja mais sobre as dificuldades da língua, assistindo a vídeo com o professor Cláudio Moreno. Pegue cópia ou entre em: Prof. Moreno no Sem Censura [2] "Sobre o novo acordo ortográfico, veja os vínculos (links”!) abaixo. Acordo ortográfico de 1990. [3] (Visite a aula online para realizar download deste arquivo.) Para ter ideia geral dos acordos entre Brasil e Portugal: Acordo ortográfico [4] Sítio brasileiro onde muitos tentam tirar dúvidas: Sua língua [5]. REFERÊNCIAS Citamos no tópico as gramáticas: 27 BECHARA, Evanildo. Moderna gramática portuguesa. 37. ed., revista e ampliada. Rio de Janeiro: Lucerna, 1999. (1a. edição: 1961) BECHARA, Evanildo. Gramática escolar da língua portuguesa. Para o Ensino Médio e cursos preparatórios. 37. ed., revista e ampliada. Rio de Janeiro: Lucerna, 2004. CIPRO NETO, PASQUALE, INFANTE, Ulysses. Gramática da língua portuguesa. São Paulo: Scipione, 1998. CUNHA, Celso e CINTRA, Lindley. Nova gramática do português contemporâneo. 2. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985. Todas as gramáticas de Celso Cunha, em qualquer edição, interessam. Só não as recomendamos para a área de fonologia. NAVARRO, Tomás. Estudios de fonología española. New York: [Sem informação de editora, v. Rocha Lima, acima, p. 10], 1946. PASSOS, José Alexandre. Diccionário grammatical portuguez. Rio de Janeiro: Antonio Gonçalves Guimarães, 1865. (p. 107) ROCHA LIMA, Carlos Henrique da. Gramática normativa da língua portuguesa. 29. ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1972, 1988. Recomendamos: • CAMARA JR., Joaquim Mattoso. Estrutura da língua Portuguesa. Petrópolis, RJ: Vozes, 1970. • CAMARA JR., Joaquim Mattoso. Para o estudo da fonêmica portuguesa. Rio de Janeiro: Simões, 1953. • Outras gramáticas, principalmente as que estão em uso nas escolas ou à venda nas livrarias e distribuidoras, dependendo de seu exame. • O blogue abaixo, no qual quase não há textos, mas têm vínculos interessantes para fonologia, inclusive para a comparação entre o português e o inglês. Neste blogue há vínculos (“links”) interessantes para a fonologia: http://inter-lingua- gem.blogspot.com [6] 28 Língua Portuguesa: Fonologia Aula 04: Fonemas, sons e letras Tópico 02: Bem dentro do Sistema Seu trabalho neste tópico é pensar, olhando três tabelas. Primeiro, reveja o AFI adaptado por nós, tentando compreender o que temos dito sobre traços fonéticos conforme os parâmetros Modo e Ponto de Articulação, Ressonância e Vozeamento. SONS MAIS HABITUALMENTE NOTADOS NO PORTUGUÊS BRASILEIRO Compare os símbolos dessa com os da próxima tabela. DICA Nela, ficaram em uma só célula os fones que se agrupam e são sentidos como um só fonema. Cada fonema deve ser representado por um símbolo, mas a escolha é de ordem prática: prefere-se tomar o mais comum ou mais fácil de traçar, digitar. OLHANDO DE PERTO Observe que não há uma ligação obrigatória entre a realidade fonética e a percepção dos fonemas pelo falante-ouvinte, que é programado para perceber os traços relevantes em sua língua. O fato de a aspiração de sons oclusivos ou o alongamento de vogais não serem percebidos por um 29 brasileiro para distinguir significados não significa que os dois fenômenos não aconteçam em português, que sejam difíceis de produzir. Podem existir, e serem completamente irrelevantes, ou terem outras funções que não a fonêmica, para mostrar atitudes e sentimentos, por exemplo. Você pode ver mais sobre isto no texto distribuído. FONEMAS DO PORTUGUÊS BRASILEIRO ENQUANTO GRUPOS DE SONS Dois exemplos, para você conferir na tabela são os fonemas /a/ e /r/ /A/ Os três símbolos fonéticos [a, ə, ɐ] correspondem a variantes do fonema /a/, conforme a vogal ocorra em sílaba acentuada, em sílaba átona final ou em outras posições átonas. Entretanto, nada disso muda significado,portanto as diferenças são irrelevantes fonemicamente. EXERCITANDO Transcreva fonética e fonemicamente o texto falado no vídeo que se segue, utilizando os símbolos do AFI, lembrando que /r/ passa por forte assimilação: pode ser tepe (vibrante simples) ou retroflexo, ou fricativo. Se for fricativo, tem forma vozeada antes de segmentos vozeados, não vozeada antes de som produzido sem vibração das cordas vocais. Talvez precise ler o texto. Acesse a aula online para visualizar este conteúdo 30 Com base na tabela acima, perguntamos algumas coisas, para motivar seu raciocínio. Se não conseguir respondê-las apenas olhando a tabela, consulte o texto anexo distribuído, outros textos, colegas, seus tutores. Finalmente, oferecemos, abaixo, diagrama com símbolos para os fonemas. Uma representação fonêmica do português brasileiro não poderia deixar de exibir menos que essas unidades. Por outro lado, uma transcrição fonética muito ampla, dizendo de forma mais clara, vaga, sem pormenores, teria que informar pelo menos essas mesmas unidades. Você, sozinho, poderia chegar a esse inventário, usando a técnica de pesquisa de pares mínimos. Egípcios, semitas, hindus não tinham curso de Letras à distância e inventaram muito do que usamos hoje... Repetimos, a pesquisa de pares mínimos é uma técnica para verificar se em uma língua dois sons, fones, pertencem a um mesmo fonema ou se sua diferença é distintiva, se estão em oposição, por servirem para distinguir significados. É mais ou menos assim: DESCUBRA A FONOLOGIA EM VOCÊ Experimente tomar a palavra “mala” e substituir o segundo [l] por [ʎ], o som correspondente ao dígrafo “lh”. Você obtém a palavra que se escreve “malha” e descobre que o novo segmento, sozinho, (permanecendo “ma _ a”) é responsável por um novo sentido. Tente com “malha” e “mata”. De novo há distinção. E com “mata” e “maca” (estamos simplificando, usando a escrita, mas estamos prestando atenção aos sons, não às letras!)? E entre “maca” e “maba”? Você não conhece nada que se diga “maba”, mas se ouvisse algo assim acharia que não é o mesmo que “mapa”, nem “maga”, certo? Ou seja, intuitivamente você sabe que: a. A nova palavra poderia existir e ser sentida como da língua portuguesa. b. Essa nova palavra teria novo sentido, dificilmente seria o mesmo que “mapa” ou “mama”. c. Isto aconteceria apesar de, entre [p] e [b] haver um único traço diferente, a vibração das cordas vocais; entre [b] e [m] também haver um único traço diferente, a abertura do véu palatino que permite a nasalidade. Neste momento, concluímos que o português possui pelo menos os fonemas que podemos simbolizar com /l/, /ʎ/, /p/, /b/. Vamos pensar nas vogais. Já deve ter notado que em “ele” (pronome) e “ele”, nome da letra, há mudança na pronúncia que corresponde a mudança no significado. Então, estão aí mais dois fonemas, que vamos simbolizar com /e/ e /ε/. Continuando, concluirá o inventário dos fonemas de sua língua. E seu trabalho pode estar bem melhor que o exposto em muitas gramáticas. No quadro a seguir, trazemos uma síntese dos fonemas consonantais e vocálicos do português atendendo ao uso mais geral (seja por parte dos manuais tradicionais, seja pelas obras mais reconhecidas pelos linguistas). Observe que indicamos a existência de 7 vogais orais e 5 nasais e não consideramos 31 ser /i/ um fonema em oposição a /y/, ser /u/ oposto a /w/. Você pode encontrar posições diferentes em outros livros sobre o tema. 32 Língua Portuguesa: Fonologia Aula 04: Fonemas, sons e letras Tópico 03: Símbolos alternativos para Fonemas Para ver informação importante sobre símbolos alternativos Simbolos Alternativos para Fonemas Vem-se procurando utilizar em transcrições fonéticas exclusivamente os símbolos da versão mais recente do AFI, mas em certas obras e em certos países faz-se muito uso de símbolos alternativos. Quando se trata de representação fonêmica, o uso de símbolos de fontes comuns, principalmente no ensino em cursos que não são de Linguística, pode ser recomendável. Podem ser usados, em vez de seis símbolos difíceis do AFI, os que sugerimos nessas palavras: /ve'šami/, /de'zežu/, /'seña/, /or'vaʎu/, /mar'sɛla/, /'glэria/. Não é fácil encontrar símbolos para o “o aberto”: aqui, tomamos um do cirílico, encontradiço nos computadores, que parece com o do AFI, mas nas línguas eslavas indica “e”. Compare-os cuidadosamente com os da tabela fornecida anteriormente. Aqui, deu-se preferência à fonte Arial, para destacar da Times New Roman, e foi o usado o recurso Inserir... Símbolo. Tomaram-se, então, um letra espanhola (ñ, basta digitar “til”, “n”), letras gregas (ɛ, ʎ) e eslavas (š, ž, э) . Temos tentado até aqui, como é costume em cursos de linguística, utilizar o Alfabeto Fonético Internacional. É possível adquirir fontes para esses símbolos e inseri-los em meio aos das fontes mais comuns, por exemplo, de preferência Arial e Times New Roman. Observe, na tabela que pusemos a sua disposição, que é possível reduzir-se a quantidade de símbolos em uso pondo nas transcrições sinais diacríticos. Tais sinais são úteis para mostrar, por exemplo, que, em português brasileiros, sons como [t], [d] e [n] ora são realizados pelo contato da língua com os dentes, ora esse contato acontece nos alvéolos. Além disso, sons como [t] e [d] podem ser palatalizados (compreenda bem, depois de consulta ou pesquisa, o que significa esse termo). Esses sinais são bons também para indicar nasalização, duração maior ou menor, falta de realização da liberação do ar, etc. Quando isso não é prático ou possível, podem-se tomar sistemas mais fáceis. Uma possibilidade é tomar outros símbolos previstos comumente, como uma letra espanhola (para 'ñ', basta digitar 'til', 'n'), letras gregas ('ε', épsilon, para 'é aberto'; 'λ', lambda, para o som de 'lh') e eslavas ('š' para ao o som inicial em 'chá', 'ž' para o som inicial em 'jogo'). Camara Jr. empregou para os sinais acima 'l,', 'n,', 's' e 'z'. Quanto à nasalização, é possível em vez de 12, considerar-se símbolos para apenas 7 vogais (orais), com um traço suprassegmental também fonêmico acrescentado a cinco (correspondentes a [a], [ê], [i], [ô], [u]). Esse traço pode ser grafado [~] ou [N]. `Para: 33 “São sons também” ficaria: ['sa~u~ 'so~s ta~'be~i~] ['saNuN 'soNs taN'beNiN] Um sistema chamado SAMPA usa exclusivamente símbolos do teclado, inclusive algarismos e letras maiúsculas, facilitando também o uso dos símbolos fonéticos na computação. Alguns símbolos ficam parecidos com os do IPA: o som "reduzido", médio, xuá fica sendo "[6]" (parecido com o do IPA, que parece letra "e" invertida); vogais abertas: [E] e [O]; fricativas pós-alveolares: [S] e [Z]. A frase: 'Ele quer que Pelé finja que gosta de você' ficaria: ['eli kEX ki pE'lE 'fi~Za ki 'gOSt6 dZi vo'se] Quando você estiver ensinando ou exercendo outra atividade associável à formação em Letras, é importante compreender que suas decisões ao valer-se de mais ou menos símbolos, mais ou menos complexos, dependem das características, interesses e aptidões das pessoas a quem se destina a atividade. SAMPA é o SAM Phonetic Alphabet, do projecto SAM (Speech Assessment Methods). É comum chamar-se o Alfabeto Fonético Internacional de IPA, mesma sigla da International Phonetic Association. REFERÊNCIAS GLEASON JR, H.A. An Introduction to descriptive linguistics. Revised edition. New York: Holt, Rinehart and Winston, Inc., 1955, 1961. Em português: Introdução à Linguística descritiva. 2. ed. Lisboa: Fund. Calouste Gulbenkian, 1985. Vem saindo por outra editora. Pronuncie, em português brasileiro, “glíssan”. Fontes das Imagens 1 - https://www.youtube.com/watch?v=wFPPawLq_5Q 2 - http://www.youtube.com/watch?v=4Ppus1hfmoY 3 - http://www.priberam.pt/docs/AcOrtog90.pdf 4 - http://www.portaldalinguaportuguesa.org/index.php?action=acordo 5 - http://www.sualingua.com.br/ 34 6 - http://inter-lingua-gem.blogspot.com35 Língua Portuguesa: Fonologia Aula 05: Aplicações do conhecimento de fonologia Tópico 01: Variação, erro e preconceito Nesta aula vemos aplicações do conhecimento de fonologia do português, ampliando e revisando conceitos já abordados. Trata-se, neste primeiro tópico, do erro e do preconceito linguístico. No segundo tópico, discutimos a variação em fonética e na fonologia do português, e aludimos a falhas gráficas que podem ser motivadas pela variação fonológica. No tópico 3, unindo fonética, fonologia e grafia, temos pequena ideia do que se chama por vezes fonoestilística. FÓRUM Discussão sobre como varia a pronúncia quando pessoas se encontram, em sua presença ou nos meios virtuais, em entrevistas, por exemplo. Prepare-se, anotando, e se fundamente no ma-terial de fonologia. Uma das coisas mais perturbadoras para os formados em letras é o que os leigos e os profissionais de Letras com formação deficiente chamam genericamente “erro”. Mostramos alguns fenômenos a você, mais perguntando que afirmando. Considere dois fatos, trazidos aqui sem prova. 1. Conforme uma velha falácia sobre o a pronúncia nordestina, nós nasalizamos mais que os falantes de outras regiões, e é erro a nasalização das vogais antes de consoantes nasal, como em sena, rama, clone. 2. Há quem acredite, também, que a pronúncia boa para Roraima, faina, Jaime é a que nasaliza a vogal, [Rorãima], por exemplo. Você pode se perguntar mais. Por que a nasalização em (1) é “erro”, que critério deve ser usado para o julgamento? Por que a nasalização em (2) é “boa”? Se é mau nasalizar uma vogal que vem imediatamente antes de uma consoante nasal, porque é bom nasalizar a vogal que vem duas casas antes da consoante nasal, separadas a vogal e a consoante por uma semivogal? Por que não é o contrário, a pronúncia (1) do Nordeste “boa”, a pronúncia (2) de parte do Sudeste “errada”? EXERCITANDO Interaja com seus coletas no fórum livre, no chat, ao telefone, em encontros reais. Se, depois de tentar resolver o que propomos abaixo interagindo com seus colegas, ainda for necessário algum esclarecimento, consulte o tutor à distância, ou discuta com ele no último encontro presencial. 36 Dissemos acima que, em português, distinguem-se os fonemas /ε/ e /e/, /ɾ/ e /r/, /ʃ/ e /ʒ/, /s/ e /z/, /f/ e /v/, /v/ e /b/. Devido a essas oposições, temos fonologia mais rica que o espanhol, o italiano, o francês, o alemão e o inglês, o que explica as dificuldades que eles sentem para aprender o nosso idioma. Pense, anote, discuta o seguinte. • Essas oposições podem ser demonstradas com pares mínimos. • Nesses pares mínimos, o que distingue dois “feixes” (porque se chama assim?), dois sons, pode ser um único traço. • Apresente a transcrição fonética e a representação fonêmica das palavras que você sugere para formar os pares mínimos. • Com relação à nasalidade, também se pode falar de pares mínimos? Em que circunstâncias a nasalidade das vogais e ditongos é fonêmica, distintiva, funcional, necessária? Quando é meramente fonética? Há no mercado gramáticas, manuais de redação, apostilas de cursinhos, revistas dedicadas à linguagem, “plantões gramaticais” que atendem por telefone e, na Internet, páginas que cuidam também de dúvidas de linguagem. Vejamos inicialmente um trecho de um livro muitas vezes modificado (citamos a 28ª edição) banana Sempre que houver uma consoante nasal após uma vogal, esta é fechada. Note que estamos falando em preferência de pronúncia, e não em erro. Fazemos questão de fazer a ressalva, porque sempre há uns e outros que, ansiosos pela crítica, desejosos do nosso sangue, querem logo ir à veia, à jugular. Recentemente, uma mulher foi a um programa de televisão de entrevistas e cantou uma música da bossa nova, em cuja letra aparece várias vezes a palavra banana. Foi “bánâna” para cá, “bánâna” para lá, para dar e vender. Afeou a música. Não erre mais (Sacconi, 2005: 107) Saiamos um pouco de fonologia, entremos em semântica, pragmática, análise do discurso. Veja uma lista das palavras de julgamento e atitude. Umas são de ressalva, abrandamento, outras de imposição disfarçada: “não é obrigatório”, “mas é melhor”; está falando de “preferência”, não de “erro”. Quando alguém pronunciou da maneira criticada, “afeou a música”. Para o autor, “sempre que houver uma consoante nasal, esta [a vogal antecedente] é fechada”, ou seja, não pode acontecer a variação que é apenas fonética, não prejudica a língua. Não há, nesta posição, no Brasil, oposição, mudança de sentido, se alguém pronuncia . ['sɛnə], ['senə] ou ['se~nə] Com certeza, estamos entrando para o rol dos “uns e outros” que estão “ansiosos pela crítica”. Talvez, em nova edição, Sacconi pelo menos explique por que, havendo duas vezes “an”, na palavra, na primeira sílaba deve haver nasalização, mas, na segunda, apenas fechamento. Bom, se você está curioso por essas questões, divirta-se procurando, principalmente nos livros que corrigem a expressão das pessoas comuns em situações comuns, negando-se a admitir formas de dizer 37 diferentes em situações e pessoas diferentes, e em fartos exemplos da Internet, inclusive em comunidades nas redes sociais do tipo “errando” e “corrigindo”. Nossa opinião sobre o erro não é muito diferente da dos linguistas, bem vista por John Lyons (1987). Façamos uma brincadeira, aliás, repetida por aí. Leia o que se segue, descontraidamente (foram retirados os acentos gráficos): Vjea que mtouis dos nssoos aolnus qsuae cmoem os lorvis egodixis plea eclosa, mas nao tem pezarr na luierta. Itso rudez a cecadidapae de ednteer as cisaos. Não sabemos se foi fácil, mas acreditamos que tenha sido possível. Depois você, se ainda não conhecia o jogo, descobre o que é mantido nas palavras, como se pode aumentar ou diminuir a dificuldade da decodificação. O que queremos é perguntar se ocorre erro na grafia das palavras, no jogo acima. Sim ou não? VERSÃO TEXTUAL Sim: Vamos pensar mais um pouquinho! Não: Porque a variação e a desobediência aos cânones, ao hábito, por si, não são erro. É errado o que destoa do regular, do sistemático em uma comunidade, do esperado, sem uma razão, sem ser funcional, por conta de ignorância e, muitas vezes, reduzindo a clareza do que se diz, sem que haja aceitação prévia na sociedade. É errado também a falta de adequação ás circunstâncias. Se você quer um emprego em empresa cujo chefe detesta linguagem formal e o perde por sofisticação, errou. Se fala conforme o registro mais popular possível ao pedir emprego a quem exige correção beirando o esnobismo, também erra. Se você diz tudo que é estigmatizado por aí para alguém que exige correção exatamente porque queria chocar, fazer que alguém se afaste, está certo. PARADA OBRIGATÓRIA Atenção, não estamos endossando (nem adoçando!) a afirmação de que “o que importa é comunicar”. Não é preciso apenas “passar a mensagem”. O aluno comum precisa esmerar-se no uso da língua, conhecendo-o sempre mais. O profissional de Letras precisa saber mais que de linguagem. Quando você disser ou escrever algo considerado por alguém “erro”, deve saber que está usando algo contra o qual há restrições por parte de algum grupo, estar consciente dos riscos e da adequação à finalidade de seu enunciado. SUGESTÕES PARA SEUS ESCRITOS Para seu crescimento como perito (palavra de fora: "expert") em língua portuguesa, inclusive quando tiver suas próprias turmas de Língua Portuguesa, note o uso de letras maiúsculas? e minúsculas. Falando da língua, usa-se minúscula, a não ser para enaltecimento, dignificação do 38 conceito, como gostavam de fazer os simbolistas. Quando se trata de nome de disciplina, é obrigatório começar com letra maiúscula. Por falar nisso, note que a maior parte das letras manuscritas é uma mistura dos tipos propriamente manuscrito (como as caligrafias de escola), tipográfico (como letra de imprensa) e pessoal (com formas próprias do escrevente).
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