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UNIDADE II - VIAGENS DO SÉCULO XIX - ROMANTISMO

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Prévia do material em texto

Literatura 
Portuguesa: Prosa
Viagens do século XIX - Romantismo
Material Teórico
Responsável pelo Conteúdo:
Profa. Dra. Vivian Steinberg
Revisão Textual:
Ms. Silvia Augusta Albert
5
•	Introdução
•	Viagens na minha terra (1846) de Almeida Garrett 
(1799 - 1854)
•	Amor de Perdição (1862) de Camilo Castelo Branco 
(1825-1890)
Nesta unidade, vamos ler trechos de dois livros fundamentais do Romantismo em Portugal: 
Viagens na minha terra de Almeida Garrett e Amor de Perdição de Camilo Castelo Branco. 
Vamos estudar também as características do Romantismo português. 
Para obter um bom desempenho, você deve começar pela leitura do Conteúdo Teórico. Nele, 
você encontrará o material principal de estudos na forma de texto escrito. Depois, assista 
à Apresentação Narrada e à Videoaula, que sintetizam questões importantes. Consulte as 
indicações sugeridas e leia os textos na íntegra. É importante ver as imagens sugeridas para 
poder visualizar esses tempos distantes de que estaremos tratando nesta unidade.
 · Nesta unidade, estudaremos dois romances importantes da 
literatura portuguesa em prosa, vinculados ao Romantismo, 
um da primeira fase, Viagens na minha terra de Almeida 
Garrett e o outro, Amor de Perdição de Camilo Castelo Branco, 
da segunda geração do Romantismo em Portugal.
Viagens do século XIX - Romantismo
6
Unidade: Viagens do século XIX - Romantismo
Contextualização
Os dois romances estudados nessa unidade e a lenda sugerida recuperada da Idade Média, “A 
dama pé-de-cabra” têm em comum a época em que foram escritas, assim, trazem características 
do Romantismo. Por exemplo, o resgate de lendas tradicionais, a valorização da imaginação em 
relação à razão e a crítica às atrocidades sociais. 
Pensando nessas três fortes características, o pintor que melhor as resume é o espanhol 
Francisco Goya (1746 - 1828). Vamos ficar com a imagem de “Saturno devorando seu filho” 
que é uma representação de um mito greco-latino, ou seja, um resgate de uma herança cultural. 
Goya usa um poder de imaginação com acento no horror e na dramaticidade. 
Sugerimos que você visualize um segundo quadro, símbolo do Romantismo, por excelência, 
de Eugène Delacroix (1798-1863), representando a Revolução Francesa - “A Liberdade guiando 
o povo”(1830), que mostra a luta pelos direitos civis igualitários e a liberdade como símbolo 
dessa revolução. Para isso acesse o link: http://pt.wikipedia.org/wiki/Pintura_do_romantismo 
E aproveite para ver outras pinturas desse período.
Para concluir, leia o texto a seguir de Baudelaire, sobre o Romantismo:
O romantismo não se encontra nem na escolha dos temas nem em sua verdade objetiva, mas 
na maneira de sentir.(...)
 Para mim, o romantismo é a expressão mais recente, mais atual do belo.(...)
Quem diz romantismo diz arte moderna - ou seja, intimidade, espiritualidade, cor, aspiração 
pelo infinito, expressos por todos os meios de que contenham as artes.(...) 
(BAUDELAIRE, Charles. Poesia e Prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1995. p. 675).
 Quadro 1: A liberdade guiando o povo, Eugène Delacroix, 1830. 
Quadro 2: Saturno devorando seu 
filho, Francisco Goya, 1819-23.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Pintura_do_romantismo
7
Introdução
Vamos começar nessa unidade uma outra viagem, sempre com a atenção às obras 
literárias. Estudaremos a seguir as obras Viagens na minha terra de Almeida Garret e 
Amor de Perdição (1862) de Camilo Castelo Branco (1825-1890), representativas do 
Romantismo português.
Lembramos que trataremos aqui de alguns trechos, mas é fundamental que você se 
aproprie da obra completa para sua formação de leitor e para que possa futuramente, 
trabalhá-la como professor.
Viagens na minha terra (1846) de Almeida Garrett (1799 - 1854)
Como o próprio título dessa obra denuncia, o foco é a terra do narrador, ou seja, Portugal. 
Em literatura, Almeida Garrett, junto com Alexandre Herculano, é considerado o “fundador” 
do Romantismo português. Em relação à História, o mundo está completamente diferente dos 
descritos nas narrativas de séculos anteriores. É um momento conturbado na Europa: podemos 
relacioná-lo à expansão da burguesia, a partir da Revolução Industrial (1780), que transformou 
a vida na Europa, a partir de 1850. 
Enquanto as narrativas dos séculos anteriores visam novas terras, novas civilizações, e a 
ampliação do Império português, o Romantismo tem como marco a Revolução Francesa, em 
1789, época em que o homem volta-se para si, para sua terra, os costumes de sua gente, o 
folclore, as histórias e os mitos locais. A França busca o ideal da liberdade e defende a igualdade 
entre os seres humanos, ou seja, as diferenças sociais são inconvenientes. Portugal vem na 
esteira, com outras questões históricas, mas tendo a França como norte. 
Voltando à obra de que tratamos aqui, ressaltam-se duas questões que surgem ainda no título 
e que estão vinculadas ao Romantismo: o pronome pessoal possessivo referente à primeira 
pessoa do singular - minha, ou seja, o assunto está relacionado ao mundo particular, íntimo, e a 
referência a uma viagem - que embora implique no o conhecimento do outro, aqui, este outro 
está relacionado à terra do narrador, não é o estrangeiro distante, mas o próximo, reforçando 
a ideia de valorização da própria cultura. Temos então que a individualidade, a subjetividade e 
os valores nacionalistas são pertinentes a esse período do Romantismo. O homem dessa época 
se pergunta: Quem somos? Como somos? Tanto em relação à pátria, quanto em relação aos 
indivíduos. Assim, os valores éticos e espirituais, que a tradição ensina, percorrem a história e a 
literatura desse período.
8
Unidade: Viagens do século XIX - Romantismo
Almeida Garrett (1799 – 1854) - Contexto histórico português
Nasceu no Porto em 4 de fevereiro de 1799 e morreu em 9 de dezembro de 1854, seu nome de 
batismo é João Baptista da Silva Leitão. A época de seu nascimento, de profunda instabilidade 
política e social, foi marcada por revoltas e lutas armadas. A família do poeta foi obrigada a se 
exilar em suas terras, em 1811, em consequência das invasões napoleônicas. (Entre 1807 e 1811, a 
França, sob o domínio de Napoleão, invadiu o país três vezes em retaliação à fidelidade de Portugal à 
aliança inglesa). Os franceses foram expulsos em 1812, mas o país estava dominado pelos ingleses, 
que se prevaleceram da ausência de D. João VI que havia fugido com a família real para a colônia 
do Brasil. Garrett participa de várias manifestações de protestos, na esteira de um movimento liberal, 
em 1820. Estoura no Porto a primeira Revolução Liberal e em 1821, D. João VI retorna a Portugal e 
é feito prisioneiro pelos liberais, enquanto D. Pedro, um liberal, proclama a independência do Brasil e 
se torna o nosso primeiro imperador. Em Portugal, os absolutistas desencadeiam a contrarrevolução 
absolutista em 1823, liderada por D. Miguel, irmão de D. Pedro e aspirante ao trono português. D. 
João VI é forçado a abolir a Constituição, assim persegue os liberais, entre eles Garrett que foge para 
a Inglaterra, e depois para a França.
Quando chega à Inglaterra, Garrett fica fascinado pelo mundo literário inglês. Walter Scott publicava 
poemas narrativos de assunto medieval, romances históricos. Torna-se também admirador de Byron, 
o poeta rebelde, contra as convenções sociais, em longos poemas narrativos, de confissões pessoais 
e de gosto pelo exotismo. Desta estadia na Inglaterra, Garrett ficou com a ideia de levar à prática 
uma literatura nacional, inspirada em tradições locais, folclóricas. Escreveu em sua obra Romanceiro 
: “O que é preciso é estudar as nossas primitivas fontes poéticas, os romances em verso e as legendas 
em prosa, as fábulas e crenças velhas, as costumeiras e as superstições antigas”.
Talvez a maior contribuição de Garrett para o Romantismo português, que herdou dos ingleses, é a 
questão do resgate das tradições populares e a consciência de que a literatura culta não pode perder 
o contato com a poesia populare com as formas populares de expressão. O poeta realiza uma parte 
desse programa com a publicação do Romanceiro Português, um resgate de histórias da tradição 
oral portuguesas à maneira dos irmãos Grimm. 
No poema “Camões”, Garrett viu a história de um desterrado, como ele próprio e outros companheiros, 
incompreendido e perseguido pela sociedade. A saudade é tratada como uma alegoria mitológica, há 
uma paráfrase de um salmo de Jó, que se canta nas liturgias dos mortos e um lamento fúnebre que 
Camões canta. Há um tom de elegia em todo o poema e podemos ler temas do Romantismo europeu, 
como a questão da bondade humana natural, de Rousseau, recalcada pela civilização; o individualismo 
insociável de Byron; o saudosismo. O poema termina em um tom de desesperança do emigrado: “E já 
no arranco extremo. `Pátria, ao menos,/ juntos morremos...` E expirou coa Pátria”.
STEINBERG, Vivian. Literatura estrangeira em língua portuguesa. (No prelo)
Vamos conhecer mais Sobre Viagens na minha terra2 de Almeida Garrett:
Em 1843, aos 44 anos, Almeida Garrett faz uma viagem curta a Santarém com amigos, 
e escreveu crônicas a respeito da viagem, as quais publica na Revista Universal Lisbonense. 
Viagens na minha terra é esse material, parcialmente divulgado, reunido em livro.
Num primeiro plano, Viagens na minha terra é um relato de viagens. São as observações e 
experiências das aventuras, algumas vivenciadas, outras imaginadas e que o escritor passou 
para o papel. A vontade de Garrett era produzir uma literatura que brotasse da experiência da 
sua vida. Acompanhamos as andanças do autor até Santarém, depois Vila Nova da Rainha, 
Azambuja, Cartaxo, Asseca. 
2 STEINBERG, Vivian. Literatura estrangeira em Literatura Portuguesa. (no prelo) 
9
No capítulo 10, o narrador e os personagens chegam ao Vale de Santarém, a viagem se 
interrompe e começa um outro relato, o da fantasia amorosa entre Carlos e Joaninha, “a menina 
dos rouxinóis”, a “menina dos olhos verdes”, pura e delicada; ele um rapaz sedutor e inquieto, 
envolvido em aventuras de amor e guerra; o cenário é o idílico Vale de Santarém. 
A comitiva segue viagem e, em meio a digressões e interrupções, as duas viagens se entrelaçam, 
o autor retorna, no capítulo 32, aos insucessos amorosos de Joaninha. 
No capítulo 43, a comitiva inicia o caminho de volta a Lisboa e o autor se depara com uma 
longa carta de Carlos a Joaninha, cuja transcrição ocupa cinco capítulos e termina a história da 
“menina dos rouxinóis”. Em seguida, o leitor é finalmente conduzido à “conclusão da viagem a 
Santarém: e assim termina este livro”.
O autor ergue um painel das transformações por que passa Portugal nas primeiras décadas do 
século XIX. Aí poderemos ler a viagem mais ambiciosa, a lenta expansão do espírito romântico, 
com sua valorização da liberdade individual, a vida afetiva sendo mais valorizada do que a razão 
dominadora, o culto à fantasia e aos excessos imaginativos, o sonho de uma sociedade mais 
igualitária, na qual convivem o nacionalismo exaltado e um gosto acentuadamente cosmopolita.
Vemos aí o ideal liberal e romântico, idealizado no jovem herói apaixonado, generoso e 
destemido, embora imprevisível, empenhado na aventura tríplice do Amor, da Guerra e da Fé, 
como determinações íntimas, forjadas no recesso da alma e do coração do indivíduo, valores 
esses, predominantes do Romantismo. O autor compartilha um fascínio pelo passado medieval, 
pois é na Idade Média que se localizam as raízes desse ideal humano enquanto união harmoniosa 
das virtudes do guerreiro, do amante e do devoto.
É importante ressaltar o estilo ousadamente inovador usado nas Viagens e na obra de Garrett.
Esse autor promoveu a renovação ou refundação da língua literária portuguesa em três 
aspectos: escreveu para novos interlocutores, fora dos conventos, das academias e dos salões; 
leitores afastados da oratória sagrada e do discurso jurídico; simplificou a construção da frase; 
alargou os recursos lexicais usando registros populares e familiares, incentivando várias matrizes 
de criação de palavras. 
Em outras palavras, “esse estilo informal e sinuoso, seu tom à vontade, algo indisciplinado e 
irônico, beirando muitas vezes o coloquial, decreta o fim de três séculos de prosa clássica, em 
Portugal, e abre caminho para a prosa moderna. Daí por diante, a linguagem literária portuguesa 
descerá do pedestal das musas universais, para chegar ao nível da rua, tornando-se mais afetiva 
e comunicativa, mais democrática e burguesa, sem perder a elegância”3. 
Outra questão de relevância nessa renovação configura-se em relação aos interlocutores: 
o uso do “eu” e do “tu”, como elementos predominantes do discurso, que se distancia da 
escrita anterior. Substituindo “senhor leitor” pelo “tu” leitor, ele aproxima a escrita dos modelos 
conversacionais e promove uma intimidade como ingrediente literário do discurso narrativo. Há 
uma democratização da língua literária. O uso do tu corresponde a uma grande mudança na 
estratificação e no relacionamento social em Portugal.
Em relação à sintaxe, também simplifica a construção da frase, aproxima-se da linguagem 
oral do diálogo e se afasta dos ritmos declamatórios da prosa barroca. 
3 Carlos Felipe Moisés, “Viagens na minha terra, viagens em terra estranha”, prefácio de Viagens na minha terra, São Paulo: Nova 
Alexandria, 1992. P.16. (p.7 a p.17). Estabelecemos um diálogo entre o texto acima e o prefácio de Carlos Felipe Moisés.
10
Unidade: Viagens do século XIX - Romantismo
Garrett assume-se simultaneamente como um inovador e como herdeiro comprometido 
com a tradição.
Voltando para as Viagens, há que ressaltar a brevidade dos capítulos, que prendem o leitor e 
o obrigam a seguir em frente, sempre adiante, já que a viagem além de rica é variada, está longe 
de ser cansativa. A “fala” do narrador é uma imagem da vida como aventura e descoberta, 
como o prazer de experimentar e hesitar, tentar e desistir e voltar a tentar, pelos mesmos ou 
outros caminhos.
A obra chama-nos a atenção pela mistura de gêneros e planos, sugere uma liberdade em ir 
e vir. O sujeito da enunciação também é inovador, pois em determinado momento, é o outro, e 
em seguida, volta a ser o herói; há também a imbricação de um enredo dentro do outro. Todas 
essas técnicas, que para leitores modernos parecem comuns, para a época, sugerem uma incrível 
modernidade e ousadia; depois,e só bem depois, elas foram assimiladas pelo Modernismo.
Vamos ler alguns trechos da obra, disponível on line em :
•	http://www.bibvirt.futuro.usp.br Biblioteca Virtual do Estudante Brasileiro/ A Escola do Futuro da Universidade 
de São Paulo Permitido o uso apenas para fins educacionais. 
•	Há várias edições desse clássico, inclusive edições de bolso. Recomendamos o da editora Nova Alexandria 
pelo prefácio de Carlos Felipe Moisés, citado na nota 3. GARRETT, Almeida. Viagens na minha terra. São 
Paulo: Nova Alexandria, 1992.
Ou o da editora Ateliê, com prefácio de Ivan Teixeira. GARRETT, Almeida. Viagens na minha terra. São 
Paulo: Ateliê, 2012.
Vamos à leitura parcial para compreender melhor a obra e os propósitos do autor?
Capítulo 1 
De como o autor deste erudito livro se resolveu a viajar na sua terra, depois de ter viajado no 
seu quarto; e como resolveu imortalizar-se escrevendo estas suas viagens. Parte para Santarém. 
Chega ao terreiro do Paço, embarca no vapor de Vila Nova; e o que aí lhe sucede. A Dedução 
Cronológica e a Baixa de Lisboa. Lorde Byron e um bom charuto. Travam-se de razões os 
ilhavos e os Bordas-d’Água: os da calça larga levam a melhor. 
Essa é a epígrafe do primeiro capítulo, um resumo. Podemos constatar que o autor traz 
referências de outras obras e autores, detectamos duas: Lorde Byron, citado literalmente e 
Xavier de Maistre, autor francês de Viagem ao redor de meu quarto. Em teoria literária é o que 
chamamos de intertextualidade: quando um autor escreve citando outros escritores ou fazendo 
referências a outras obras. 
Que viaje à roda do seuquarto quem está à beira dos Alpes, (1) de inverno, em Turim, que 
é quase tão frio como S. Petersburgo — entende-se. Mas com este clima, com esse ar que Deus 
nos deu, onde a laranjeira cresce na horta, e o mato é de murta, o próprio Xavier de Maistre, 
que aqui escrevesse, ao menos ia até o quintal. 
Eu muitas vezes, nestas sufocadas noites de estio, viajo até a minha janela para ver uma 
nesguita de Tejo que está no fim da rua, e me enganar com uns verdes de árvores que ali vegetam 
sua laboriosa infância nos entulhos do Cais do Sodré. E nunca escrevi estas minhas viagens 
http://futuro.usp.br/portal/website.ef
11
nem as suas impressões pois tinham muito que ver! Foi sempre ambiciosa a minha pena: pobre 
e soberba, quer assunto mais largo. Pois hei de dar- lho. Vou nada menos que a Santarém: e 
protesto que de quanto vir e ouvir, de quanto eu pensar e sentir se há de fazer crônica. 
Era uma idéia vaga; mais desejo que tenção, que eu tinha há muito de ir conhecer as ricas 
várzeas desse Ribatejo, e saudar em seu alto cume a mais histórica e monumental das nossas 
vilas. Abalam-me as instâncias de um amigo, decidem-me as tonteiras de um jornal, que por 
mexeriquice quis encabeçar em desígnio político determinado a minha visita. (2). 
Pois por isso mesmo vou: pronunciei-me. 
São 17 deste mês de julho, ano da graça de 1843, uma Segunda feira, dia sem nota e de boa 
estréia. Seis horas da manhã a dar em S. Paulo, e eu a caminhar para o Terreiro do Paço. Chego 
muito a horas, envergonhei os mais madrugadores dos meus companheiros de viagem, que 
todos se prezam de mais matutinos homens que eu. Já vou quase no fim da praça quando oiço 
o rodar grave mas pressuroso de uma carroça d’ancien régime: é o nosso chefe e comandante, 
o capitão da empresa, o Sr. C. da T. que chega em estado. 
Também são chegados os outros companheiros; o sino dá o último rebate. Partimos. 
Numa regata(3) de vapores o nosso barco não ganhava decerto o prêmio. E se, no andar 
do progresso, se chegarem a instituir alguns ístmicos ou olímpicos para esse gênero de carreiras 
— e se para elas houver algum Píndaro ansioso de correr, em estrofes e antiestrofes, atrás do 
vencedor que vai coroar de seus hinos imortais — não cabe nem um triste minguado epodo a 
este cansado corredor de Vila Nova. É um barco sério e sisudo que se não mete nessas andanças. 
Assim vamos de todo o nosso vagar contemplando este majestoso e pitoresco anfiteatro de 
Lisboa oriental, que é, vista de fora, a mais bela e grandiosa parte da cidade, a mais característica, 
e onde, aqui e ali, algumas raras feições se percebem, ou mais exatamente se adivinham, da 
nossa velha e boa Lisboa das crônicas. Da Fundição para baixo tudo é prosaico e burguês, 
chato, vulgar e sensabor com um período da Dedução Cronológica, aqui e ali assoprado numa 
tentativa ao grandioso do mau gosto, como alguma oitava menos rasteira do Oriente. 
Assim o povo, que tem sempre o melhor gosto e mais puro que essa escuma descorada que 
anda ao de cima das populações, e que se chama a si mesma por excelência a Sociedade, 
os seus passeios favoritos são a Madre de Deus e o Beato e Xabregas e Marvila e as hortas 
de Chelas. A um lado a imensa majestade do Tejo em sua maior extensão e poder, que ali 
mais parece um pequeno mar mediterrâneo; do outro a frescura das hortas e a sombra das 
árvores, palácios, mosteiros, sítios consagrados a recordações grandes ou queridas. Que 
outra saída tem Lisboa que se compare em beleza com esta? Tirado Belém, nenhuma. E 
ainda assim, Belém é mais árido. 
Já saudamos Alhandra, a toireira; Vila Franca, a que foi de Xira, e depois da restauração, e 
depois outra vez de Xira, quando a tal restauração caiu, como a todas as restaurações sempre 
sucede e há de suceder, em ódio e execração tal que nem uma pobre vila a quis para sobrenome. 
A questão não era de restaurar nem de não restaurar, mas de se livrar a gente de um governo 
de patuscos, que é o mais odioso e engulhoso dos governos possíveis. 
E a reflexão com que um dos nossos companheiros de viagem acudiu ao princípio de 
ponderação que ia involuntariamente fazendo a respeito de Vila Franca. 
12
Unidade: Viagens do século XIX - Romantismo
Mas eu não tenho ódio nenhum a Vila Franca, nem a esse famoso círio que lá foi fazer a 
monarquia. Era uma coisa que estava na ordem das coisas, e que por força havia de suceder. 
Este necessário e inevitável reviramento por que vai passando o mundo, há de levar muito 
tempo, há de ser contrastado por muita reação antes de completar-se... 
No entretanto, vamos acender os nossos charutos, e deixe-mos os precintos aristocráticos da 
ré; à proa, que é país de cigarro livre. 
Não me lembra que Lorde Byron celebrasse nunca o prazer de fumar a bordo. É notável o 
esquecimento no poeta mais embarcadiço, mais marujo que ainda houve, e que até cantou o 
enjôo, a mais prosaica e nauseante das misérias da vida! Pois num dia destes, sentir na face e 
nos cabelos a brisa refrigerante que passou por cima da água enquanto se aspiram molemente 
as narcóticas exalações de um bom cigarro de Havana, é uma das poucas coisas sinceramente 
boas que há no mundo. 
Fumemos!
Aqui está um campino fumando gravemente o seu cigarro de papel, que me vai emprestar lume.
— Dou-lho eu, senhor... — acode cortesmente outra figura mui diversa, cujas feições, trajo e 
modos singularmente contrastam com os do moçarabe ribatejano.
Acenderam-se os charutos, e atentamos mais devagar na companhia que estávamos. 
Era um efeito notável e interessante o grupo a que nos tínhamos chegado, e destacava 
pitorescamente do resto dos passageiros, mistura híbrida de trajos e feições descaracterizadas e 
vulgares — que abunda nos arredores de uma grande cidade marítima e comercial. Não assim 
este grupo mais separado com que fomos topar. (...)
Notas do Autor 
1. É visível alusão ao popular e inimitável opúsculo de Xavier de Maistre, Viagem ao redor 
de meu quarto, que decerto foi principiado a escrever em Turim, e que muitos supõem 
que fosse concluído em São Petersburgo. 
2. É puramente histórico isto; e também é verdade que em grande parte daqui se originou 
a perseguição brutal que sofreu o autor dali a poucos meses. 
3. Regata chamavam, e não sei se chamam ainda, em Veneza, às carreiras de barcos apostados 
ao desafio. A palavra e a coisa introduziu-se em Inglaterra, onde é moda e popularíssima. 
Nesse trecho, destacaremos aspectos inovadores da obra: o autor exalta o clima 
português, contrapondo ao clima de Turim e de São Petersburgo, lugares em que o escritor 
Xavier de Maistre provavelmente escreveu sua obra. Devido ao frio desses lugares, o autor 
não saía do seu quarto, por isso o nome da obra. Enquanto Almeida Garrett habitante de 
Portugal, país mais quente que os citados, desfrutava do bom clima, e assim exaltou a 
geografia também, citando o rio Tejo, que passa por Lisboa, e que dá para ver de sua janela. 
13
Até o autor da obra francesa sairia de seu quarto, ao menos para desfrutar do quintal com 
laranjeiras. O cais do Sodré é de onde partem algumas embarcações, em Lisboa. 
O primeiro capítulo tem aspectos de uma crônica de viagem, como vimos na Carta de 
Caminha e em Peregrinação de Mendes Pinto. O autor cita que escreverá um relato sobre as 
suas impressões de viagem. Embora ela não seja longa, ele descreverá todas as suas sensações: 
“e protesto que de quanto vir e ouvir, de quanto eu pensar e sentir se há de fazer crônica”. 
Percebe-se que a ênfase está no narrador, nas suas impressões e sua imaginação. 
Capítulo 10 
Vale de Santarém. — Namora-se o A. de uma janela que vê por entre umas árvores. — 
Conjeturas várias a respeito da dita janela. — Semelhança do poeta com a mulher namorada, 
e inquestionável inferioridade do homem que não é poeta. — Os rouxinóis. Reminiscência de 
Bernadim Ribeiro e das suas Saudades. — De como o A. tinha quase completo os eu romance, 
menos um vestido branco e uns olhos pretos. — Saem verdes os olhos com grande admiração e 
pasmo seu. —Verificam-se as conjeturas sobre a misteriosa janela. — Da menina dos rouxinóis. 
— Censura das damas muito para temer, a crítica dos elegantes muito para rir. — Começa o 
primeiro episódio dessa odisséia. 
O vale de Santarém é um destes lugares privilegiados pela natureza, sítios amenos e deleitosos 
em que as plantas, o ar, a situação, tudo está numa harmonia suavíssima e perfeita: não há ali 
nada grandioso nem sublime, mas há uma como simetria de cores, de tons, de disposição em 
tudo quanto se vê e se sente, que não parece senão que a paz, a saúde, o sossego do espírito e 
o repouso do coração devem viver ali, reinar ali um reinado de amor e benevolência. As paixões 
más, os pensamentos mesquinhos, os pesares e as vilezas da vida não podem senão fugir para 
longe. Imagina-se por aqui o Éden que o primeiro homem habitou com a sua inocência e com 
a virgindade do seu coração. 
À esquerda do vale, e abrigado do norte pela montanha que ali 
se corta quase a pique, está um maciço de verdura do mais belo 
viço e variedade. A faia, o freixo, o álamo, entrelaçam os ramos 
amigos; a madressilva, a musqueta penduram de um a outro suas 
grinaldas e festões; a congossa, os fetos, a malva-rosa do valado 
vestem e alcatifam o chão. 
Para mais realçar a beleza do quadro, vê-se por entre um claro 
das árvores a janela meio aberta de uma habitação antiga mas 
não dilapidada — com certo ar de conforto grosseiro, e carregada 
na cor pelo tempo e pelos vendavais do sul a que está exposta. 
A janela é larga e baixa; parece-me mais ornada e também mais 
antiga que o resto do edifício que todavia mal se vê... 
Interessou-me aquela janela.
Quem terá o bom gosto e a fortuna de morar ali?
Nesse trecho, o narrador 
descreve Santarém como 
paradisíaco: um lugar 
privilegiado pela natureza
. A 
descrição é exuberante em
 
adjetivos sensoriais. Não é
 uma 
descrição objetiva, ao cont
rário, 
a natureza desperta sensa
ções 
e sentimentos humanos, e
la é 
humanizada, ou seja, dota
da de 
caráter humano, traço pr
óprio 
do Romantismo. 
14
Unidade: Viagens do século XIX - Romantismo
Parei e pus-me a namorar a janela.
Encantava-me, tinha-me ali como num feitiço.
Pareceu-me entrever uma cortina branca... e um vulto por detrás. Imaginação decerto! Se o vulto 
fosse feminino!... era completo o romance.
Como há de ser belo ver o pôr o sol daquela janela!...
E ouvir cantar os rouxinóis!...
E ver raiar uma alvorada de maio!...
Se haverá ali quem a aproveite, a deliciosa janela? ... quem aprecie e saiba gozar todo o prazer 
tranqüilo, todos os santos gozos de alma que parece que lhe andam esvoaçando em torno? 
Se for homem é poeta; se é mulher está namorada. 
São os dois entes mais parecidos da natureza, o poeta e a mulher namorada; vêem, sentem 
pensam, falam como a outra gente não vê, não sente não pensa nem fala. 
Na maior paixão, no mais acrisolado afeto do homem que não é poeta, entre sempre o seu 
tanto de vil prosa humana: é liga sem que não se lavra o mais fino do seu oiro. A mulher não; a 
mulher apaixonada deveras sublima-se. idealiza-se logo, toda ela é poesia, e não há dor física, 
interesse material, nem deleites sensuais que a façam descer ao positivo da existência prosaica. 
Estava eu nestas meditações, começou um rouxinol a mais linda e desgarrada cantiga que há 
muito tempo me lembra de ouvir. 
Era ao pé da dita janela!
E respondeu-lhe logo outro do lado oposto; e travou-se entre ambos um desafio tão regular 
em estrofes alternadas tão bem medidas, tão acentuadas e perfeitas, que eu fiquei todo dentro 
do meu romance, esqueci-me de tudo o mais. 
Lembrou-me o rouxinol de Bernardim Ribeiro, o que se deixou cair na água de cansado. 
O arvoredo, a janela, os rouxinóis... àquela hora, o fim de tarde... o que faltava para completar 
o romance? 
Almeida Garrett vincula essa imagem ao escritor português clássico Bernardim Ribeiro em 
Menina e moça (1554): rouxinol que morre a cantar e simboliza os tormentos de quem sofre 
de amores. O autor trazendo a literatura clássica portuguesa através da imagem do rouxinol e 
do texto de Bernardim Ribeiro, faz um intertexto, ou seja, através da ave e do autor clássico, 
elabora-se um enrodilhar de citações que nos leva a uma amplitude de imagens e de significados.
Trocando Ideias
Rouxinol é o pássaro que simboliza o amor e os sentimentos, embora apresente um traço 
entre amor e morte – temas presentes no Romantismo, e está vinculado à obra de Shakespeare 
- Romeu e Julieta. O rouxinol é o cantor da noite que termina. Anterior a Shakespeare, o 
rouxinol é encontrado em Ovídio, na obra Metamorfoses: história triste de duas irmãs - uma se 
transformou em andorinha e anda pelos beirais e outra, a Filomena, virou rouxinol e refugiou-se 
nos bosques sombrios.
 
15
 
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Há um conto maravilhoso e triste de Oscar Wilde, de 1888, chamado “O rouxinol e a 
rosa”. Está no livro Histórias de fadas.
Procure intertextualidade em e-dicionário de termos literários de Carlos Ceia em: 
 » http://www.edtl.com.pt/index.php?option=com_mtree&task=viewlink&link_
id=442&Itemid=2 
Um vulto feminino que viesse sentar-se àquele balcão — vestido de branco — oh! branco por 
força... a frente descaída sobre a mão esquerda, o braço direito pendente, os olhos alçados ao céu... 
De que cor os olhos? Não sei, que importa! É amiudar muito demais a pintura, que deve ser a 
grandes e largos traços para ser romântica, vaporosa, desenhar-se no vago da idealidade poética. 
— Os olhos, os olhos... — disse eu, pensando já alto, e todo no meu êxtase — os olhos... pretos. 
— Pois eram verdes!
— Verdes os olhos... dela, do vulto na janela?
— Verdes como duas esmeraldas orientais, transparentes, brilhantes, sem preço. 
— Quê! Pois realmente?... É gracejo isso, ou realmente há ali uma mulher, bonita, bonita, e?... 
Ali não há ninguém — ninguém que se nomeie hoje, mas houve... oh! houve um anjo, um 
anjo, que deve estar no céu. 
— Bem dizia eu que aquela janela...
— É a janela dos rouxinóis...
— Que lá estão a cantar.
— Estão, esses lá estão ainda como há dez anos — os mesmos ou outros, mas a menina dos 
rouxinóis foi-se e não voltou.
— A menina dos rouxinóis! Que história é essa? Pois deveras tem uma história aquela janela?
— É um romance todo inteiro, todo feito como dizem os franceses, e conta-se em duas palavras. 
— Vamos a ele. A menina dos rouxinóis, menina com os olhos verdes! Deve ser 
interessantíssimo. 
Vamos à história já.
— Pois vamos. Apeemo-nos e descansemos um bocado.
Já se vê que este diálogo passava entre mim e outro dos nossos companheiros de viagem. 
Apeamo-nos com efeito, sentamo-nos, e eis aqui a história da menina dos rouxinóis, como ela 
se contou.
É o primeiro episódio da minha odisséia: estou com medo de entrar nele, porque dizem as 
damas e os elegantes da nossa terra que o português não é bom para isto, que em francês que 
há outro não sei quê... 
http://www.edtl.com.pt/index.php?option=com_mtree&task=viewlink&link_id=442&Itemid=2 
http://www.edtl.com.pt/index.php?option=com_mtree&task=viewlink&link_id=442&Itemid=2 
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Unidade: Viagens do século XIX - Romantismo
Eu creio que as damas que estão mal informadas, e sei que os elegantes que são uns tolos; 
mas sempre tenho meu receio, porque enfim, enfim, deles me rio eu: mas poesia ou romance, 
música ou drama de que as mulheres não gostem, é porque não presta. 
Ainda assim, belas e amáveis leitoras, entendamo-nos; o que eu vou contar não é um 
romance, não tem aventuras enredadas, peripécias, situações e incidentes raros; é uma história 
simples e singela, sinceramente contada e sem pretensão. 
Acabemos aqui o capítulo em forma de prólogo; e a matéria do meu conto para o seguinte. 
Nesse capítulo, Almeida Garrett narra a chegada em Santarém. Como em todos os capítulos 
desse livro, há uma “introdução” resumindo os fatos relevantes, sem o sabor da narrativa 
propriamente dita.
Desde o princípio da narrativa, notamos características específicas do Romantismo. A leiturafoi popularizada, tanto que esse romance saiu primeiro em capítulos na Revista Universal 
Lisbonense, em 1843, o público esperava impacientemente a continuação da história. Essa 
obra foi escrita para a burguesia, que nessa época crescia e se fortalecia, ao mesmo tempo em que 
a imprensa conseguia publicar mais rapidamente e em maior quantidade obras e informações. 
A literatura se destaca e se propaga entre a população leitora, e as narrativas cumprem tanto a 
função de lazer, de diversão, quanto a de crítica da sociedade. 
 
Para Pensar
Podemos fazer uma ligação entre essas histórias publicadas por partes em jornais daquela 
época e as novelas ou as séries de TV, atuais. A cada final de capítulo, se deixa em suspense a 
continuidade, o que provoca o leitor/ espectador a continuar a assistir/ ler a obra. É a teoria da 
narrativa, presente em Sherazade, nas Mil e uma noites, uma lenda persa, em que Sherazade para 
não ser morta pelo sultão, deixa em suspense a continuação da história até a noite seguinte. 
O poeta participa com um papel especial, como Almeida Garrett menciona nesse capítulo, 
comparando o poeta ao amor: “Se for homem é poeta; se é mulher está namorada. // São os 
dois os entes mais parecidos da natureza, o poeta e a mulher namorada; vêem, sentem pensam, 
falam como a outra gente não vê, não sente não pensa nem fala”. 
Outra característica do Romantismo presente nesse trecho é a presença da natureza 
humanizada, que traz paz, tranquilidade, saúde, disposição, sossego ao espírito e repouso ao 
coração. O lugar em que chegam, Santarém, é um lugar privilegiado, o autor compara-o ao 
Paraíso, ao Éden, onde a natureza é idílica.
 Atenção, Produção dar destaque: 
Pense
Compare a descrição desse lugar idílico, Santarém, com a descrição que Pero Vaz Caminha 
faz das terras encontradas. Em comum, há a comparação com o Éden, a inocência dos nativos 
e Santarém, lugar onde não há paixões más ou pensamentos mesquinhos. Na Carta, o lugar é 
o estranho, longe e desconhecido, e a descrição é objetiva apesar de provocar espanto, mas é a 
surpresa da novidade, do estranhamento. Em Viagens na minha terra, o espaço é reconhecido 
(conhecido novamente), é descrito como um lugar que transmite paz, e afirma-se que a natureza tem 
a possibilidade de rejuvenescer quem a admira. 
17
O autor descreve Santarém como um lugar idílico e no momento seguinte se afasta e diz que 
é um quadro, foca o processo criativo. Se, por um lado, Almeida Garrett de fato fez a viagem 
descrita, por outro, não deixa escapar a relação com o leitor e comenta a descrição que acabara 
de fazer - “Para mais realçar a beleza do quadro“. Faz questão de mostrar que se trata de criação 
sua e continua nessa deambulação ao imaginar um diálogo entre o homem, que vê à janela, e o 
autor/ narrador que imagina o que há por trás da cortina branca. Quando o autor inaugura um 
diálogo e faz uma reflexão sobre a própria obra, ou descortina seu processo criativo, chamamos, 
em teoria literária, de metalinguagem; no caso, podemos dizer que Almeida Garrett estabelece 
uma cumplicidade com o leitor e uma intimidade ao usar a técnica da metalinguagem (ainda 
não denominada assim na época, pois é um termo que aparece no século XX, em 1974, com 
Roman Jakobson). Por se tratar de uma obra de ficção, chamamos de metaficção.
 
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Para aprofundar este ponto, recomendamos a leitura de 2 conceitos no dicionário on 
line: E-dicionário de termos literários: metalinguagem e metaficção. 
 » http://www.edtl.com.pt/index.php?option=com_mtree&task=viewlink&link_
id=1568&Itemid=2
 » http://www.edtl.com.pt/index.php?option=com_mtree&task=viewlink&link_
id=1573&Itemid=2
No trecho que lemos, há dois diálogos relevantes. O primeiro é interno, o autor não usa 
travessão, nem outro recurso visual para diferenciá-lo da sequência narrativa. Usa a primeira 
pessoa: “Interessou-me aquela janela” e continua a divagar, a imaginar quem poderia morar 
ali e a cena vai se revelando para ele e para nós leitores. Através de suas palavras, visualizamos 
a cena como uma pintura. O narrador colore dois elementos de branco: a cortina e o vestido, 
pois o branco é a cor que simboliza a pureza. Através da imagem do rouxinol e sabendo da 
representação trágica dele, o leitor ficará em suspense: será que virá uma história de amor 
trágica? Embora o leitor esteja consciente de que se trata de uma história imaginada, o narrador 
o avisa, usando a técnica da antecipação.
O segundo diálogo tem a marcação dos travessões. Quem está conversando com quem? O 
narrador diz que é um diálogo entre ele e “outro dos nossos companheiros de viagem”. Não será 
uma conversa entre o criador e a criatura? Afinal o narrador disse: “que eu fiquei todo dentro 
do meu romance, esqueci-me de tudo o mais”. De qualquer maneira, é um diálogo criado pelo 
autor esboçando dúvidas sobre a criação: “a menina dos rouxinóis”, exemplo de metaficção. 
Assim, no capítulo 11, começa a narrativa dentro da narrativa, ou seja, a história da “menina 
dos rouxinóis”, com os leitores alertados de que se trata de uma ficção. Antes da história 
começar, há divagações do autor/ narrador e diálogos com suas leitoras, que já nomeara no 
capítulo anterior. Começa o entrelaçar das histórias e das viagens.
http://www.edtl.com.pt/index.php?option=com_mtree&task=viewlink&link_id=1568&Itemid=2
http://www.edtl.com.pt/index.php?option=com_mtree&task=viewlink&link_id=1568&Itemid=2
http://www.edtl.com.pt/index.php?option=com_mtree&task=viewlink&link_id=1573&Itemid=2
http://www.edtl.com.pt/index.php?option=com_mtree&task=viewlink&link_id=1573&Itemid=2
18
Unidade: Viagens do século XIX - Romantismo
Trocando Ideias
A mulher burguesa do século XIX é a leitora em potencial desse tipo de história. O autor, 
nomeando-a, considera a importância da mulher na sociedade, valorizando-a. Ele também 
a compara ao poeta, afirmando que os dois têm em comum o fato de privilegiarem os sentimentos 
em detrimento da razão, ambos são sensíveis. Em relação aos dias de hoje, idealiza-se tanto o poeta 
como a mulher. Outra característica do Romantismo - idealizar a natureza, a mulher, o amor.
Na continuação do texto de Garret, vem a história de Carlos e de sua prima Joaninha, a qual 
tem como pano de fundo a Guerra Civil Portuguesa, ou Guerras Liberais, conhecida também 
por Guerra Miguelista. Esse confronto se deu entre liberais constitucionalistas e absolutistas por 
causa da sucessão real, entre 1828 e 1834. Há pitadas de todas as espécies de temperos de 
suspense, bem conhecidos nossos nas novelas de televisão: intrigas, frades suspeitos, segredos 
de família. 
 
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Não deixem de ler o romance na íntegra. É uma aula de roteiro. Disponível em: 
 » http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000012.pdf
 
No capítulo 25, o narrador volta a narrar sua viagem, resgata lendas e trovas populares, 
descreve igrejas, monumentos históricos, conta a história de personagens, enfim, vai elaborando 
um guia turístico requintado. 
Lembre-se: esses são valores que predominam no Romantismo - o resgate de mitos e lendas, 
a valorização dos elementos da terra e da nação e a volta ao passado.
Almeida Garret retoma realmente a narrativa sobre “a menina dos rouxinóis” no capítulo 43, 
quando o narrador volta ao vale, revê aquela janela, entra na casa e encontra o frade e a avó 
de Joaninha. Os leitores ficam sabendo o destino dos outros personagens através da conversa 
entre o frade e o narrador. Ou seja, como técnica narrativa, o autor recorreu a uma diversidade 
de possibilidades. Começou a história de Joaninha imaginando quem morava naquela casa, 
atrás daquela janela com cortina branca. O leitor já está prevenido de que a história faz parte 
da imaginação do autor. A partir do momento em que capturou a atenção de seus leitores e 
eles estão convictos e curiosos para saber como termina a história, ele a retoma através de um 
diálogo com um personagem, o qual lhe entrega uma carta de Carlos endereçada a Joaninhae datada de Évora Monte, em maio de 1834. Por sua vez, a carta revela histórias de amores 
e experiências de Carlos no exílio. O estilo muda, agora é uma carta e quem escreve é outro 
narrador e não aquele já conhecido do leitor até esse momento da narrativa. 
Almeida Garrett usa nesse trecho o que chamamos de polifonia (várias vozes). Termo 
empregado pelo teórico russo, Mikhail Bakhtin. A carta continua até o capítulo 48, e no último 
capítulo, o 49, o narrador devolve a carta ao frei e retoma a viagem e a narrativa, que é seu 
retorno a Lisboa. Assim se encerra o romance - não sem comentários, opiniões políticas e 
diálogos com o leitor.
http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000012.pdf
19
Polifonia:
(...) O crítico russo, Mikhail Bakhtin, empregou esse conceito na sua análise da ficção 
dostoievskiana, sugerindo que esta punha em jogo uma multiplicidade de vozes, 
ideologicamente distintas, que resistiam ao discurso autoral. Este juízo formulado sobre 
a obra de Dostoievsky, Bakhtin acabaria por estender a todo o gênero romanesco. (...) 
Daí que o autor de Estética e Teoria do Romance conteste abertamente a noção de que 
uma qualquer obra desse gênero seja gerida por uma só linguagem, unívoca, monolítica, 
cristalizada em convenções literárias e enclausurada num só mundo vivencial. Porque mesmo 
que assim fosse, mesmo que a linguagem do romance emergisse da peremptoriedade de 
uma voz solitária, esta jamais poderia excluir, ainda que voluntariamente, todas as outras 
vozes, todas as outras linguagens sociais que a percorrem, a sustentam e a informam. É 
na sequência desta linha argumentativa que se coloca a questão locutória, a qual deverá 
constituir, segundo Bakhtin, o objeto principal de estudo do gênero em causa.
Fonte: E-dicionário de termos literários de Carlos Ceia. http://www.edtl.com.pt/index.
php?option=com_mtree&task=viewlink&link_id=383&Itemid=2.
Capítulo 49
(...)
Parti para Lisboa cheio de agoiros, de enguiços e de tristes pressentimentos. 
O vapor vinha quase vazio, mas nem por isso andou mais depressa.
Eram boas cinco horas da tarde quando desembarcamos no Terreiro do Paço.
Assim terminou a minha viagem a Santarém; e assim termina este livro.
Tenho visto alguma coisa do mundo, e apontado alguma coisa do que vi. De todas quantas 
viagens porém fiz, as que mais me interessaram sempre foram as viagens na minha terra.
Se assim pensares, leitor benévolo, quem sabe? pode ser que eu tome outra vez o bordão de 
romeiro, e vá peregrinando por esse Portugal fora, em busca de histórias para te contar. 
Nos caminhos de ferro dos barões é que eu juro não andar.
Escusada é a jura, porém.
Se as estradas fossem de papel, fá-la-iam, não digo que não. 
Mas de metal! 
Que tenha o governo juízo, que as faça de pedra, que pode, e viajaremos com muito prazer 
e com muita utilidade e proveito na nossa boa terra. 
Para finalizar, Almeida Garrett se posiciona contra o estrangeirismo, no caso inglês, que eram 
“os caminhos de ferro”. Ele se refere ao trem, à tecnologia que era importada do Reino Unido. O 
autor defende ser preferível que as estradas fossem de pedras, material encontrado largamente 
em Portugal. Assim se encerra o romance com as narrativas devidamente desenvolvidas e 
amarradas, com a promessa de que o narrador contará novas histórias e fará outras viagens.
 http://www.edtl.com.pt/index.php?option=com_mtree&task=viewlink&link_id=383&Itemid=2
 http://www.edtl.com.pt/index.php?option=com_mtree&task=viewlink&link_id=383&Itemid=2
20
Unidade: Viagens do século XIX - Romantismo
Outro autor fundamental do primeiro Romantismo português é Alexandre Herculano 
(1810-1877), principalmente nas narrativas históricas, como em sua obra História 
de Portugal e no resgate de narrativas e lendas portuguesas, em sua obra Lendas 
e Narrativas (1851). Comparam-no aos irmãos Grimm, mas de Portugal. Essas 
narrativas repercutiram nas músicas e narrativas folclóricas, inclusive no Brasil. 
 
 
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É importante terem contato com essas narrativas. Escolhemos “A Dama Pé de Cabra: 
romance de um jogral (século XI)”, origem de uma literatura de terror. É um conto de fadas, 
com uma carga de horror.
Disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/ws000002.pdf
ou em audiolivro (dicção europeia - português de Portugal):
https://www.youtube.com/watch?v=b_YldQjXKdw
 
Amor de Perdição (1862) de Camilo Castelo Branco (1825-1890) 
Ao falar sobre o Romantismo em Portugal, não poderíamos omitir o escritor Camilo Castelo 
Branco, considerado pela crítica como pertencente à segunda geração do Romantismo5 , 
também apelidada de ultrarromântica. 
Essa é uma geração que se sente mais livre de questões levantadas pela geração de Almeida 
Garrett, como por exemplo, a busca de valores tradicionais portugueses, o compromisso em 
abordar a História, e a busca de um estilo próprio, misturando vários gêneros como vimos 
em Viagens na minha terra. Essa segunda geração supervaloriza os sentimentos, constrói uma 
narrativa que contribui para mostrar como o Amor tende a superar quaisquer fronteiras; o Amor 
está distante dos interesses monetários e familiares. 
Embora nas novelas passionais de Camilo Castelo Branco haja uma supervalorização dos 
sentimentos e, portanto, uma veia romântica, em textos como Eusébio Macário e A corja, há 
um tom de paródia do estilo naturalista.
Camilo Castelo Branco oscila entre idealismo e materialismo. O sarcasmo dava-lhe, a ele e 
a seu público, a ilusão de vencer os conflitos sociais e intimamente os seus, do real e do ideal. 
Ele escrevia sem parar e afoitamente, com a pena pesada, com traços grossos, aproximando 
seus personagens de caricaturas. Tinha uma capacidade de selecionar apropriadamente 
os eventos principais a fim de chegar rapidamente ao desenlace, com muita habilidade na 
criação de personagens diferentes, com maestria na criação dos diálogos, além de lançar 
mão da sátira e do sarcasmo. Tinha profundo domínio da técnica narrativa que combinava 
com seu senso de observação.
4 Trechos retirados e modificados do livro: STEINBERG, Vivian. Literatura estrangeira em Literatura Portuguesa. (no prelo) 
5 Desenvolve-se mais ou menos entre 1838 e 1860.
http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/ws000002.pdf
https://www.youtube.com/watch?v=b_YldQjXKdw
21
Camilo Castelo Branco (1825 – 1890)
Nasceu em Lisboa em 16 de março de1825 e morreu em 1 de junho de 1890. Sua biografia 
é uma novela camiliana. Órfão de pai e mãe desde os 10 anos, ele foi criado por parentes 
em Trás-os-Montes. Participou do final das guerrilhas miguelistas. Tentou em vão o curso 
de Medicina em Coimbra. Em 1848, vai para o Porto, frequenta a juventude boêmia do 
Café Guichard. Era impulsivo, facilmente se metia em duelos ou em brigas em jornais por 
amores ou rixas literárias. Nos anos 1850-1852, mergulha numa crise religiosa. Apaixona-se 
por Ana Plácido. Ela, mesmo depois de conhecer Camilo, se casa com um brasileiro rico, 
mas foge do marido para morar com o escritor: processados por crime de adultério, os dois 
são presos, julgados e absolvidos. Nesse período escreve Amor de Perdição, considerada 
sua obra mais acabada. Escreve sem descanso para conseguir o sustento da família. Contrai 
sífilis, vai perdendo a visão progressivamente até a cegueira que o levou a se matar em 1º 
de junho de 1890.
Na literatura portuguesa, foi considerado um mestre da narrativa densa, rápida e persuasiva. 
Ficou mais conhecido como novelista.
Amor de Perdição6
Em Amor de Perdição(1862), a obra-prima da novela passional camiliana, conta-se a história 
do amor trágico de Simão de Botelho e Teresa de Albuquerque, cujas famílias se odiavam. A 
ação se passa em Portugal, Viseu, Porto e Coimbra são os cenários, no século XIX e o narrador 
diz que contará fatos ocorridos a seu tio Simão.
Em sua época, essa novela teve uma excelente aceitação pelo público. “Trata-se de uma obra 
inspirada em outros textos, cujo tema é o amor impossível, um amor que somente poderiase 
realizar-se num outro plano, no plano espiritual”7.
Simão era filho do corregedor de Viseu, Domingos Botelho, que dera sentença desfavorável 
ao pai de Teresa, Tadeu de Albuquerque. Os dois jovens apaixonados contam com a ajuda de 
uma mendiga e de Mariana, filha do ferreiro João da Cruz, para trocarem correspondência. 
Mariana nutre um amor abnegado pelo rapaz, sabendo que será impossível ser correspondido, 
primeiro porque o coração de Simão já está ocupado por Teresa e segundo pela diferença social. 
Depois de muitas brigas, Teresa é mandada para um convento, seu amado decide raptá-la, mas 
acaba matando seu rival, assim se entrega à polícia. É condenado à forca, mas consegue uma 
absolvição e é mandado para a Índia. Teresa está doente no convento, mas sabe da partida de 
seu amado e pede para ver passar o navio que levava o desterrado. Após dizer adeus, morre. 
Mariana, que acompanhava Simão, mostra-lhe a última carta de Teresa, esse sabendo de sua 
morte, tem uma febre inexplicável e morre. O corpo é jogado ao mar e Mariana não suporta 
esse sofrimento: se joga, morrendo ao lado de seu amado. Só podemos concluir que o amor 
leva à perdição. 
É a história de Romeu e Julieta à portuguesa, do amor de perdição, do amor que não pode 
se concretizar por causa do passado das famílias, o que acarreta uma tragédia envolvendo 
primeiro os protagonistas e Mariana, e depois as famílias. 
6 Trechos retirados do livro: STEINBERG, Vivian. Literatura estrangeira em Literatura Portuguesa. (no prelo)
7 SANTOS, Rubens Pereira dos. “O ensino de literatura portuguesa: uma releitura de Camilo”. In: Literatura Portuguesa - História, 
memória e perspectivas. São Paulo: Alameda Casa Editorial, 2007. p. 349 a p.355.
22
Unidade: Viagens do século XIX - Romantismo
A viagem nessa obra não é a protagonista, mas torna-se fundamental para a novela quando 
Simão é condenado, será desterrado, deslocado e mandado para fora do país, pena comum à 
época. De certa forma, é como o escritor romântico se sente, um exilado.
Há também nessa obra um entrelaçar de vozes. O narrador começa lendo documentos 
oficias e se compadece dos infortúnios de um rapaz de 18 anos, assim começa a narrativa. 
No final, o narrador se nomeia como filho de Manoel Botelho, o que dá um tom documental, 
comum ao Romantismo. Há as cartas de Teresa, contando sua desgraça no convento, lidas 
por Simão Botelho antes de morrer, o que torna mais trágico o enredo. A personagem Mariana 
merece respeito, ela é completamente devota a Simão, sujeitava-se a sofrer solitariamente, se 
seu sofrimento fosse trazer felicidade ao amado. O narrador procura a simpatia dos leitores, 
conta com nossa indignação perante tamanha injustiça cometida pelos homens, começando 
pelo abuso da autoridade paterna. E também denuncia o ambiente corrupto dos conventos, 
onde as freiras apresentavam vícios dos mais variados: alcoolismo, taras sexuais, falsidades. 
Padres com olhares lascivos para freiras e noviças. 
Camilo Castelo Branco tinha um tio, Simão Botelho, que esteve preso realmente. O escritor 
procurou documentos a esse respeito e em posse de dados mais concretos sobre seu parente, 
usou a fantasia para criar a sua história de amor comovente e trágica. 
 
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Vamos ler o começo da introdução de Amor de Perdição, que mostra o enredar na narrativa. 
Camilo costura fatos reais e documentados com fatos criados por ele.
Recomendamos a leitura completa do livro, que pode ser acessado no link: 
 » http://www.culturabrasil.org/zip/amordeperdicao.pdf
Vale lembrar que só com a leitura completa da obra poderemos perceber - por experiência - 
as questões que foram contempladas neste texto.
Amor de Perdição - Camilo Castelo Branco 
Introdução 
Folheando os livros de antigos assentamentos, no cartório das cadeias da Relação do Porto, 
li, no das entradas dos presos desde 1803 a 1805, a folhas 232, o seguinte: 
Simão Antônio Botelho, que assim disse chamar-se, ser solteiro, e estudante na Universidade 
de Coimbra, natural da cidade de Lisboa, e assistente na ocasião de sua prisão na cidade de 
Viseu, idade de dezoito anos, filho de Domingos José Correia Botelho e de D. Rita Preciosa 
Caldeirão Castelo Branco; estatura ordinária, cara redonda, olhos castanhos, cabelo e barba 
preta, vestido com jaqueta de baetão azul, colete de fustão pintado e calça de pano pedrês. E fiz 
este assento, que assinei — Filipe Moreira Dias. 
A margem esquerda deste assento está escrito:
Foi para a Índia em 17 de março de 1807.
(...)
http://www.culturabrasil.org/zip/amordeperdicao.pdf
23
Nas tramas que Camilo Castelo Branco constrói sempre há um equivalente de sofrimento 
e infelicidade, diria Paulo Franchetti , ou porque a paixão se choca frontalmente com as 
necessidades do mundo social, ou porque significa, em última análise, um desejo luciferiano 
de recuperar o paraíso na terra. É uma literatura apegada a ideais de liberdade e felicidade 
individual e de luta contra preconceitos; ao mesmo tempo, o autor aprimora a observação de 
tipos humanos e situações sociais.
 
Para terminar
A partir das leituras dessas duas grandes obras do Romantismo português, poderemos 
resumir algumas características do Romantismo como: nacionalismo; historicismo (origem das 
famílias) e medievalismo; valorização das fontes populares e do folclore; sentimentalismo; culto 
ao fantástico, crítica social; pessimismo; idealização, escapismo; luta entre o liberalismo e o 
absolutismo; certa atração pela morte; revolta contra regras e modelos; liberdade de criação 
artística; no estilo, defesa da mistura de gêneros literários; linguagem próxima aos leitores; 
sentimento mais valorizado em relação à razão.
Vale a pena retomar os trechos das obras aqui analisadas e reconhecer os traços descritos 
acima, pois é assim que vamos identificando as obras que pertencem a um mesmo período.
Se, Almeida Garrett narrou as viagens por sua terra, recuperando lendas e heróis nacionais; 
tendo como cerne da narrativa a história de amor infeliz da “menina dos rouxinóis”, Camilo 
Castelo Branco foi direto para a narrativa principal: a história de amor infeliz de Simão, de 
Teresa, e talvez da heroína da novela, Mariana. Esse autor descreveu a vida de personagens que 
por seus sentimentos – e não de acordo com a vontade “da lei” - se tornaram exilados sociais. 
Essa foi a condenação de Simão, que não a cumpriu, pois a morte lhe chamou, sendo esta a 
sua última peregrinação. 
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Unidade: Viagens do século XIX - Romantismo
Material Complementar
Para complementar seu conhecimento sobre os estudos que fizemos nessa unidade, além da 
insistência para que leia as obras na íntegra, ressaltamos a importância na leitura e/ ou audição 
da Dama Pé-de-Cabra de Alexandre Herculano, baseado no romance de jogral do século XI. 
Esta é uma obra que influenciou a literatura, principalmente a popular. Ariano Suassuna, por 
exemplo, foi influenciado por essa lenda e outras de Lendas e Narrativas de Alexandre Herculano 
e Romanceiro e Cancioneiro Geral de Almeida Garrett.
Sugerimos que acesse o audiolivro “A dama de pé-de-cabra”, com sotaque português em:
•	 https://www.youtube.com/watch?v=b_YldQjXKdw
•	 Disponível também em: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/ws000002.pdf
https://www.youtube.com/watch?v=b_YldQjXKdw
http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/ws000002.pdf
25
Referências
BRANCO, Camilo Castelo. Amor de Perdição. 
Disponível em: http://www.culturabrasil.org/zip/amordeperdicao.pdf
CEIA, Carlos. E-Dicionário de Termos Literários. In: http://www.edtl.com.pt/.
FRANCHETTI, Paulo. “Camilo Castelo Branco: A queda dum anjo”. 
In: http://paulofranchetti.blogspot.com.br/2013/06/camilo-castelo-branco-queda-dum-anjo.html
GARRETT, Almeida. Viagens na minha terra. Disponível em: http://www.bibvirt.futuro.usp.br
MOISÉS, Carlo Felipe. “Viagens na minha terra, viagens em terra estranha”. Prefácio In: 
GARRETT, Almeida. Viagens na minha terra. São Paulo: Nova Alexandria, 1992.
MOISÉS, Massaud. Aliteratura portuguesa. São Paulo: Cultrix, 2004.
SANTOS, Rubens Pereira dos. “O ensino de Literatura Portuguesa: uma releitura de 
Camilo”. In: Literatura Portuguesa - História, memória e perspectivas. São Paulo: Alameda Casa 
Editorial, 2007. p. 349 a p.355.
SARAIVA, António José. Iniciação à literatura portuguesa. São Paulo: Companhia das 
Letras, 2010.
STEINBERG, Vivian. Literatura estrangeira em língua portuguesa. (No prelo).
http://www.culturabrasil.org/zip/amordeperdicao.pdf
http://paulofranchetti.blogspot.com.br/2013/06/camilo-castelo-branco-queda-dum-anjo.html
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Unidade: Viagens do século XIX - Romantismo
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