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101 ESTRATÉGIA DE DISTRIBUIÇÃO Unidade III 5 CUSTOS E MODAIS De acordo com Bacic e Aguilera (2013), os problemas decorrentes do custo de transporte e a busca pela sua redução fazem com que ocorra uma melhoria no serviço prestado ao cliente, pois acontece a busca por melhores percursos que um veículo deve realizar por meio de malhas dos modais, reduzindo tempo e distância. As incertezas acerca dos futuros custos da participação nas CGVs têm levado empresas multinacionais a reavaliarem suas estratégias de sourcing. É nesse sentido que se destacam movimentos de incentivo à produção local e busca pela concentração regional da produção em sites próximos dos mercados consumidores. Um primeiro elemento que pode contribuir para estabelecimento de um “novo normal” nas CGVs é a mudança das condições nos países emergentes, principalmente no que diz respeito à redução do diferencial de custos deles em relação aos desenvolvidos. Tal fato é explicado pelo crescimento exponencial dos custos salariais por hora, principalmente na China – cerca de 15% a 20% ao ano na região leste chinesa. No entanto, vale destacar que em inúmeros setores ainda se observa um crescimento da produtividade por hora acima do crescimento dos salários e que estes ainda se situam em patamares bastante baixos quando comparados aos dos países desenvolvidos – representando cerca de 9% do custo salarial dos EUA. Adicionalmente, cumpre lembrar que uma eventual erosão da competividade dos atuais países integrantes das CGVs em setores intensivos em mão de obra não implicaria necessariamente uma estratégia de deslocamento das atividades produtivas para os países desenvolvidos. Isso porque, conforme já mencionado, atualmente está em curso um processo de reorganização dessas CGVs no continente asiático, com o deslocamento de atividades intensivas em mão de obra de baixo custo para novos integrantes das CGVs, como Vietnã e Camboja. Apesar desse movimento reforçar a competitividade das CGVs, é crescente o número de empresas que têm reavaliado os custos extras e dificilmente mensuráveis associados ao processo de fragmentação internacional da produção. Entre eles, destacam‑se custos associados à necessidade de manutenção de estoques (dada a complexidade e amplitude das CGVs e as flutuações de demanda), alguns problemas de qualidade, a baixa garantia de direitos de propriedade intelectual nos países emergentes, o risco de transferência de tecnologia para potenciais futuros concorrentes, além daqueles riscos relacionados a uma variedade de choques externos, como desastres naturais. É exatamente com o intuito de minimizar esses riscos que se situam estratégias inclusive de multiplicar o número de fornecedores nas CGVs para o mesmo conjunto de atividades. De maneira adicional, algumas empresas, principalmente em setores ligados à engenharia, têm mostrado preocupação crescente com o potencial impacto negativo que o distanciamento geográfico entre a realização de atividades manufatureiras e inovativas pode ter nas últimas. Uma vez que a maior parte das atividades de maior intensidade tecnológica é realizada nas matrizes, em alguns setores admite‑se que o descolamento entre estas, e a produção tende a reduzir a capacidade de inovação da empresa no longo prazo. 102 Unidade III No que diz respeito à dimensão tecnológica, o desenvolvimento de algumas áreas associadas à emergência da Indústria 4.0 parece ser um dos principais fatores a contribuir decisivamente para o estabelecimento de um “novo normal” nas CGVs. Assim, a novas tecnologias de informação, como Internet das Coisas, computação em nuvem e big data, também podem contribuir para a redução das CGVs. Isso porque a combinação dessas tecnologias permite a ampliação substancial da robotização do processo produtivo. Com a utilização de robôs cada vez mais complexos dotados de inteligência artificial, a gama de atividades passíveis de serem realizadas por eles amplia‑se para além daquelas tradicionalmente rotineiras e repetitivas. Desse modo, a adoção dessas tecnologias contribui para a redução do diferencial competitivo de países emergentes com oferta abundante de mão de obra barata. É exatamente nesse cenário que devem ser compreendidas as estratégias de países desenvolvidos no sentido de incrementar a competitividade manufatureira doméstica e, assim, incentivar indiretamente o fortalecimento das atividades produtivas locais. A despeito dessa reação dos países desenvolvidos, também cabe destacar a estratégia de política industrial chinesa de incentivar a ampla e massiva implementação da robotização em seu parque produtivo com o intuito de assegurar sua competitividade em escala internacional. Ainda na dimensão tecnológica, a emergência de técnicas produtivas que permitem a migração da produção em massa para a customização em massa pode contribuir decisivamente para a reorganização das CGVs em alguns segmentos – principalmente aqueles de alto valor agregado, baixo volume de produção, baixas economias de escala e baixa capacidade de automação utilizando tecnologias tradicionais. A partir da utilização de ferramentas como impressão 3D, tais transformações poderiam viabilizar, no longo prazo, a aproximação geográfica entre consumo e produção, reduzindo os custos inerentes à gestão de uma CGV e permitindo o aumento exponencial das possibilidades de agregação de valor aos produtos via customização. Por fim, potencializando esse cenário de tendências de diminuição da importância relativa das CGVs, ainda se pode destacar a tendência de aumento dos custos de transporte dadas as políticas de desestímulo de uso de combustíveis fósseis. Os impactos dessa reestruturação, por sua vez, seriam mais intensos nos países emergentes, com o incremento da competitividade relativa dos países desenvolvidos, particularmente dos EUA (que aumentariam sua participação na produção global). Os principais fatores responsáveis por essa restauração da competitividade dos países desenvolvidos decorreriam da adoção de tecnologias como robotização, digitalização, inteligência artificial, impressão 3D, entre outras. De maneira adicional, porém bem menos intensa, o aumento dos salários nos emergentes também contribuiria para esse processo. Já o crescimento exponencial da classe média em países emergentes favoreceria o fortalecimento do comércio regional (principalmente na Ásia). Mas, de maneira geral, pode‑se esperar que uma parcela importante do crescimento da demanda viabilizada pelo surgimento desta classe média seja atendida por produtores locais, com impacto relativamente menor nas CGVs. 5.1 Custo logístico de distribuição O transporte é um elemento importante a ser considerado em toda a cadeia produtiva. O transporte representa em média 64% dos custos logísticos, 4,3% do faturamento e em alguns casos mais que o dobro do lucro (FLEURY; FIGUEIREDO; WANKE, 2021). Por esse motivo, a empresa deve estar direcionada para 103 ESTRATÉGIA DE DISTRIBUIÇÃO a melhor escolha do modal, levando‑se em conta as particularidades do modal e da carga transportada para obter o máximo de eficiência e confiabilidade nessa etapa, para que não eleve seus custos e não prejudique o seu nível de serviço. É necessário que a empresa gerencie de forma eficiente e eficaz todo o sistema de transporte para que os produtos sejam disponibilizados ao consumidor final de forma mais rápida, segura e competitiva. As principais funções de transporte na cadeia de abastecimento estão ligadas basicamente às dimensões de tempo e utilidade de lugar, ou seja, buscam disponibilizar produtos onde exista demanda em potencial, dentro do prazo adequado às necessidades do cliente, para que seja atingido um dos objetivos da logística, que é o produto certo, no lugar certo, na hora certa e ao menor custo possível. À medida que o transporte se torna uma ferramenta eficiente e eficaz dentro das atividades logísticas, permite à empresa manter confiabilidade no serviço oferecido e um nível de serviçoadequado. Observação Para manter o nível dos serviços logísticos, também é importante a escolha do melhor modal que corresponda às expectativas da empresa e do cliente. Os critérios para a escolha de modais devem levar em consideração tanto os aspectos de custos como as características de serviços oferecidos pelo modal. Outro fator relevante é a qualidade de serviços oferecidos por cada modal, como consistência, capacitação, disponibilidade e frequência. Dessa maneira, sendo o transporte considerado um elemento dentre as atividades logísticas, as empresas não devem escolher somente a matriz de transporte que corresponda melhor a seus custos, mas também que resulte em desenvolvimento para a empresa e um melhor nível de serviço. Dessa forma, a escolha da matriz de transporte facilita a entrada dos produtos em novos mercados, fazendo com que as empresas aumentem seu poder de penetração. Conforme Castiglioni (2014), pode‑se considerar o custo com transporte o mais importante entre os que compõem os custos logísticos, pois a empresa pode tê‑los dentro de sua organização ou terceirizar a movimentação dos produtos ou mercadorias para o cliente. Porém, cabe salientar uma diferença entre produto e mercadoria. Produto é aquele que a indústria coloca finalmente para a venda e mercadoria é o mesmo produto que chega para ser comercializado ao cliente final. O transporte para algumas empresas é a atividade mais importante, pois representa, em média, entre um e dois terços do total de custos logísticos (CUNHA, 2000). Essa atividade é essencial na ampliação da participação das empresas nos segmentos de mercado que atuam, na diferenciação dos produtos/ serviços oferecidos e na obtenção de vantagens competitivas. Resolver o problema de entregas de mercadorias de forma mais otimizada contribui para a redução dos custos logísticos das empresas, possibilitando a redução dos prazos de entrega, podendo, dessa forma, oferecer um melhor nível de serviço aos clientes. 104 Unidade III 5.2 Custos de investimento para formação dos estoques A importância da cadeia de suprimentos na logística, segundo Bulgacov (2006), está ligada ao planejamento, e as tecnologias da informação são utilizadas para coordenar, planejar e controlar as atividades relacionadas a esse aspecto. Slack et al. (2006) ressaltam que a tecnologia da informação pode ajudar a reduzir os estoques ao longo da cadeia de suprimentos. Dentre as atividades concernentes a essa área, duas são de particular interesse: a previsão da demanda e o gerenciamento e processamento de pedidos. Ademais, os índices de capacidade, a estrutura geral e as necessidades financeiras são afetados conforme os momentos e níveis que ocorrem (BALLOU, 2006). Estoque é o conjunto de bens armazenados, com características próprias, e que atende às necessidades da empresa. Sua importância é vital para o bom desempenho das organizações, pois as operações são movimentadas por ele e contribuem para a satisfação do cliente. O padrão do Sistema de Gerenciamento de Segurança da Cadeia de Suprimentos da ISO 28000 oferece às empresas vantagens significativas na cadeia de suprimentos, o que é fundamental para a continuidade dos negócios de muitas empresas. É extremamente importante para a continuidade dos negócios que essas empresas identifiquem corretamente os riscos para a cadeia de suprimentos e os gerenciem de maneira eficaz, e o padrão ISO 28000 foi projetado para gerenciar os riscos de segurança dessa cadeia. A ISO 31000 pode ajudar as organizações a aumentarem a probabilidade de atingir seus objetivos, melhorar a identificação de oportunidades e ameaças e efetivamente alocar e usar os recursos para o tratamento de riscos. De acordo com Chaves (2010), a gestão objetiva acolher o processo instantaneamente, com atributo perfeito e sem desperdícios. Produz exclusivamente o imprescindível, quando imprescindível e na quantidade imprescindível. Para entender o gerenciamento de materiais e suprimentos é necessário entender estoque. Nessa esteira de pensamento, Ballou (2006) define estoque como acúmulos e materiais, suprimentos, artifícios, insumos em procedimento e obras acabadas que aparecem em inúmeros alvos do caminho de produção e logística das instituições. Os estoques geralmente se encontram em depósitos, armazéns e pátios da instituição. O gasto de sustentação do estoque pode conceber de 20 a 40% do seu valor por ano. Desse modo, conduzir com cuidado os planos de estoque é uma maneira econômica e certeira. Os estoques adaptam a muitas instituições a probabilidade de produção em grupo e consecutiva (em outras palavras, 24 horas por dia). Eles estão presentes em nosso dia a dia em numerosos espaços, como nos estabelecimentos, clínicas e hospitais. Para Dias (2006), o alvo de toda instituição é, sem dúvida, elevar ao máximo o ganho sobre o capital designado aos serviços, aparelhamentos e acervo. Para alcançar um ganho elevado, a instituição necessita impedir que esse capital designado permaneça ocioso. 105 ESTRATÉGIA DE DISTRIBUIÇÃO Ballou (2006) afirma que a gestão de suprimentos atua como fator silenciador entre os suprimentos e as precisões de trabalho de determinada instituição. Auxilia de forma positiva as organizações produtivas por múltiplos pretextos: aprimoram o coeficiente de exercícios; estimulam economias na produção; permitem economias de escala nas aquisições e no transporte; laboram como amparo na ampliação dos valores; e resguardam a instituição de improbabilidades no processo e no momento de ressuprimento. Portanto, é de grande relevância que haja discernimento, para que não se abranja demais o valor absoluto do estoque. Completando esse pensamento, Martins e Alt (2009) mencionam as basilares colocações de gestão de suprimentos, como abonar o fornecimento de materiais a instituições, neutralizando os efeitos de demora ou atraso no fornecimento de materiais, sazonalidades no suprimento e precipitações de problemas no provimento; e adaptar economias de escalas por meio da aquisição ou produção em grupos parcimoniosos, pela flexibilidade do procedimento produtivo ou pela aceleração e ação no acolhimento às necessidades. Os agentes em benefício dos gerenciamentos dos suprimentos relevam o pretexto de eles existirem e aludem a determinados benefícios competitivos que as instituições obtêm com eles, como aperfeiçoar o Serviço ao Cliente (MOURA, 2004). De acordo com Ballou (2006), o primeiro assunto a avaliar é o fato de os estoques serem decisivos ao admitirem intervenções de uma produção mais contemporizada e tranquila, provocando economias abundantes. Quanto ao segundo assunto, a experiência de estoque estimula a capitalização em aquisições e transporte, a divisão de aquisições de toda instituição obtém materiais para a instituição, alcançando redução de custos com maior volume e economias com o transporte. O preço de conservação dos estoques é consolidado pela diminuição de custos adquiridos. O terceiro assunto de diminuição de valores é pertinente a aquisições com antecedência, que permitem obter quantidades suplementares de artigos com custos menores. O quarto ponto fala das incoerências dos prazos de entregas dos produtos. O estoque trabalha como aparelho de segurança, permitindo que a instituição exceda essas incoerências, não contrafazendo suas intervenções. Completando com o quinto ponto, os estoques previnem contras dificuldades como paralisações trabalhistas, catástrofes naturais, ampliação imprevista do processo e retrocesso no fornecimento. Lembrete A constituição e a expansão das cadeias globais de valor (CGVs) foram elementos importantes do processo da globalização. Desde a crise internacional de 2008, entretanto, alguns fatores vêm contribuindo para sua reestruturação: o questionamento político nos países desenvolvidos sobre os benefícios da globalização, as transformações tecnológicas derivadas da gestação da Indústria 4.0 e a reorientação dos modelos de desenvolvimentode alguns países emergentes (sobretudo a China) em direção ao mercado interno. 106 Unidade III Ao decorrer dos anos, estudiosos contribuíram com a gerência de suprimentos. Portanto, sua abrangência é promovida à avaliação, entendida como um anexo de diversos componentes que estão integrados entre si e conectados, apresentando função basilar na performance da instituição e em seu esqueleto. Sobre isso, Pozo (2002) assegura que uma das mais relevantes funções da gerência de suprimentos é pertinente com o controle de coeficientes de estoque. Coerência e racionabilidade podem ser sobrepostas nas atuações de licença de dificuldades que contrafazem os estoques. As instituições de modificação necessitam absorver o controle de estoque, visto que preenchem e aparentam de modo bem definido o efeito da instituição. Os suprimentos são primordiais não só para o funcionamento da instituição, mas ainda estão espontaneamente relacionados à sua lucratividade. Aproximadamente em 1960, estudos demonstravam que um estabelecimento de modificação em média consumia metade da renda de lucro na aquisição de produtos e serviços (ENGLAND, 1970), concluindo‑se que qualquer um que constitua o índice na diminuição dos valores dos produtos obtidos logo concebe uma ampliação de lucratividade. Pozo (2002) completa que o papel básico do gerenciamento de suprimentos é elevar ao máximo o caráter dos suprimentos complexos no campo de logística da instituição e com admirável decorrência dentro dos estoques. O administrador irá se apresentar com um amplo dilema, que é o agente determinante da imprópria gestão de suprimentos, entendida em múltiplas instituições, causando numerosas dificuldades quanto à precisão de capital de movimento e valor. Por um caminho, busca‑se conservar um volume elevado de suprimentos e produtos em estoque para consentir as modificações do processo de trabalho. Em compensação, poucos estoques são capazes de causar, se não conduzidos com cuidado, preços complexos de mensurar, como retrocessos nas entregas, replanejamento de produção e até dano aos usuários (ENGLAND, 1970). A adequada gestão de suprimentos constitui ordenar toda a passagem de suprimentos com as requisições e precisões das instituições. Ela objetiva fornecer o produto adequado, no lugar adequado, na ocasião adequada, na qualidade apropriada e na despesa mínima admissível, igualmente suscitando contentamento da administração da instituição (POZO, 2002). Ao longo da história, as instituições não apresentavam a percepção de associar gerenciamento de suprimentos e distribuição. Entretanto, esse panorama está se alterando perante um aspecto integrado com as diferentes tarefas do procedimento logístico. Um apropriado significado de artifício de estoque se sustenta por quatro pilares: quando solicitar, quanto convocar, quando conservar estoques de segurança e onde encontrar. Na concepção de Ching (2009), essa opinião acarretou o papel de aquisições em instituições que abrangeram a relevância de associar o andamento de produtos aos seus papéis de apoio, tanto através do negócio como por meio do provimento aos usuários contíguos. Isso compreende o papel de aquisições de acompanhamento, gestão de armazenagem, idealização e influência de produção e gestão de classificação mecânica. 107 ESTRATÉGIA DE DISTRIBUIÇÃO A incompatibilidade entre o estoque registrado e a realidade muitas vezes não é considerada nos estudos. No entanto, é demonstrado que a inexatidão dos produtos existentes no estoque é um fenômeno recorrente nos centros de varejo e de distribuição. Devido à propagação da distorção de informações ao longo da cadeia de suprimentos, os impactos financeiros da acuracidade do estoque incluem não apenas o custo da perda direta de estoque, mas também o aumento do custo de retenção e escassez em cada etapa. O surgimento da tecnologia RFID oferece uma possível solução para aliviar o custo crescente dessa inexatidão (QIN et al., 2017). A RFID foi antecedida pelo código de barras e, no Brasil, esta última TI de identificação ainda é bastante utilizada sozinha e, algumas vezes, com a RFID. Analisando os respectivos resultados das tecnologias, percebeu‑se a RFID de forma mais favorável com relação à facilidade de uso e da adoção tecnológica comparada ao código de barras. 5.3 Custos de movimentação para formação dos estoques Com o advento da automação os avanços das tecnologias, engenharias e ciências têm desempenhado um papel fundamental na utilização da inovação na produção, impactando a produtividade e impulsionando a competitividade, o que contribui para o surgimento de novos métodos de automação nas indústrias. A digitalização da produção, a Internet das Coisas e as tecnologias de comunicação integrarão diferentes departamentos das empresas, plantas industriais de uma mesma empresa e a empresa com seus fornecedores, prestadores de serviços e clientes. Dessa forma, será possível diminuir custos administrativos, reduzir estoques de partes, peças e componentes e de produtos acabados, e aumentar a eficiência dos processos produtivos, diminuindo os custos de transação e otimizando a logística. Neste sentido, destaca‑se a aplicação do sistema do veículo guiado automaticamente (AGV) utilizado principalmente no transporte de materiais. Há uma tendência geral na indústria de armazenagem em usar apenas mão de obra para operações que agreguem valor ao produto, ou seja, a movimentação de materiais não agrega valor; portanto, a incorporação de AGVs para movimentação de materiais permite que as empresas reimplementem essa mão de obra para outras operações que agreguem valor ao produto. As empresas buscam otimizar seus processos através da automação, substituindo o homem na execução de atividade produtiva para meios eletrônicos ou mecânicos juntamente com a tecnologia. O surgimento do AGV se deu para a substituição de um piloto de transporte industrial por um software capaz de seguir rota e realizar a carga e descarga de materiais sem a necessidade de integração humana direta, oferecendo segurança e velocidade em operações contínuas programadas. Nesse contexto, a aplicação do Sistema AGV em ambiente fabril traz inúmeros benefícios e pode ser projetado para diversas áreas de aplicação de acordo com a necessidade de cada indústria ou processos produtivos, pois o sistema AGV é um avançado sistema de manuseio de materiais amplamente utilizado em vários sistemas automatizados. 108 Unidade III 5.4 Custos de manutenção dos estoques O desenvolvimento de uma economia cada vez mais intensiva em informações e conhecimentos se apoia no tripé digital formado pelo aumento da velocidade de processamento de dados, pela expansão da capacidade de armazenamento e pela crescente largura de banda. A combinação desses vetores vem possibilitando o desenvolvimento de inovações na qualidade, eficiência e escopo dos bens e serviços, reduzindo o custo na manutenção dos estoques. A evolução tecnológica proporcionou uma queda contínua nos preços de equipamentos e softwares, permitindo que profissionais independentes e micro e pequenas empresas ganhassem acesso a recursos que até pouco tempo atrás eram exclusivos de grandes organizações. A geração de conteúdo se tornou mais descentralizada, abrindo oportunidades para novos empreendedores. Também aumentou a facilidade com que qualquer produtor independente acessa e controla o mercado para seus estoques, produtos e serviços. No mundo físico, distribuir um produto pode exigir pesados investimentos em lojas e estoques, enquanto por meio digital isso pode ser feito mais facilmente. Ferramentas de busca e filtragem de informações permitem que o consumidor encontre aquilo que deseja de forma mais rápida e precisa. De acordo com Mirshawka (1993), entre todos os tipos de custos, os mais comuns são: eliminação de ajustes de estoque, produtos excedentes e inventário (em que o inventário representa o capital de giro); substituições de máquinas e equipamentos;supervisão de manutenção, planejamento e administração; e retrabalho, ou seja, refazer uma tarefa anteriormente realizada por outro profissional que não conseguiu sanar o problema, gerando gastos com mão de obra e desperdício de tempo quando o mesmo funcionário poderia estar fazendo manutenção em outros equipamentos ainda não inspecionados. Por gestão de estoque, Hong (2006, p. 36) entende que é “o planejamento do estoque, seu controle e sua retroalimentação sobre o planejamento”. Os custos de se manter o estoque são invariavelmente muito altos, de modo que, sempre que possível, deve‑se buscar maneiras de atenuar o efeito negativo no que diz respeito à falta de controle. Esse propósito está diretamente relacionado com o correto controle das compras, vendas, gestão da armazenagem, planejamento e controle de produção, dentre outros aspectos de alta complexidade de previsão. Nesse sentido, sabe‑se que faz parte do planejamento das empresas elaborar estratégias baseadas em demandas futuras. Assim, não se deve prescindir de um planejamento de estoques adequado para uma gestão logística eficiente. Isso fica ainda mais claro quando são considerados os custos associados na manutenção adequada do estoque. Para Dias (2009, p. 284), “um eficiente sistema de controle de estoque é elemento básico em todas as fases de desenvolvimento, planejamento e administração das empresas comerciais e industriais”. Dessa esteira de pensamento, infere‑se que o responsável em gerir o estoque deve dispor, a qualquer tempo, de informações precisas sobre o estoque de sua responsabilidade. Essa disponibilidade de dados e informação somente poderá ser alcançada quando a empresa dispuser de um sistema eficiente que possa fornecer os dados com a precisão almejada. 109 ESTRATÉGIA DE DISTRIBUIÇÃO 6 TRANSPORTES MODAIS: CONCEITO DE UNIMODAL, INTERMODAL E MULTIMODAL Nos dias atuais, com a modernização da cadeia logística, é essencial a velocidade com que deve ocorrer o escoamento e o abastecimento dos produtos nos diferentes territórios, por isso são utilizados, cada vez mais, diferentes tipos de modais de transporte para o deslocamento de mercadorias. Figura 24 Disponível em: https://bit.ly/3KeH8Zx. Acesso em: 9 dez. 2021. Segundo definições das Nações Unidas (UNCTAD, 1984), são modos de transporte: • transporte combinado: é a condução de um veículo com sua carga por outro, como o transporte de um semirreboque rodoviário por um navio ou barcaça; • transporte intermodal: é a transferência física da carga por diferentes modais, com o objetivo de minimizar o tempo de imobilização da mercadoria entre sua origem e destino; • transporte multimodal: transporte de mercadorias por dois ou mais modais. Apesar das diferenças entre esses conceitos, os três tipos de modais de transporte têm o mesmo objetivo: se valer de dois ou mais modais para reduzir custos e tempo de imobilização. Todos que olham para um mapa do Brasil percebem o tamanho do nosso país. Costuma‑se dizer que o Brasil possui dimensões continentais, por isso fazer logística em nosso território é uma tarefa um tanto complexa. A grande quantidade de bens primários e semimanufaturados que contribuem para a formação do PIB nacional fazem com que a movimentação de cargas seja muito significativa em termos de volume e se utilizem todos os modais, uns em maior e outros em menor escala. 110 Unidade III Segundo Gonçalves (2013), o transporte envolve diversos atores que estão encadeados no universo geográfico da cadeia de suprimentos: fornecedores, fabricantes, transportadores, distribuidores, armazéns ou centros de distribuição, varejistas e clientes. Cada um desses atores envolvidos na logística afeta direta ou indiretamente o transporte, no processo da cadeia de suprimento, desde o processo de entrega de matéria‑prima do fornecedor ao fabricante até a chegada do produto ao consumidor final, sendo necessário haver toda essa comunicação entre esses atores para que ocorra tudo nas conformidades. A intermodalidade é a utilização de dois ou mais modais de transporte, com o objetivo de aproveitar melhor as características de cada modal para reduzir os custos e as resistências do fluxo contínuo de cargas desde a origem até o destino final. Existe uma emissão individual de conhecimento de transporte por parte de cada operador e, além disso, a responsabilidade é dividida entre cada um dos operadores em cada trecho por eles operado. A intermodalidade pressupõe a existência de terminais, portos, aeroportos, aduanas e armazéns tão eficientes quanto os modais que atendem. Por sua vez, a multimodalidade é a integração dos serviços de mais de um modal de transporte, ocasionando a emissão de um único conhecimento de transporte por um único responsável, denominado operador de transporte multimodal (OTM). Desde a origem até o destino final, o OTM assume total responsabilidade pela operação como um transportador principal, e não apenas como um agente. No Brasil, existe uma grande dificuldade de se operar com esse sistema devido aos aspectos fiscais, pois na emissão de um único conhecimento de transporte a tributação ocorre no estado em que ele foi emitido. Com isso, os demais estados sentem‑se prejudicados e alegam perda de arrecadação. A integração de modais existe por uma razão simples: o modal rodoviário é o único que consegue apanhar um carregamento no armazém do embarcador e entregá‑lo diretamente no armazém do cliente, sem a necessidade de realizar o transbordo da carga, na maioria dos casos. Todos os demais modais precisam de integração ao transporte rodoviário para que exista a mesma condição, chamada porta a porta. Para que o modal aquaviário, por exemplo, pudesse ser utilizado na ligação porta a porta, seria necessário que tanto o fornecedor quanto os seus clientes estivessem localizados às margens de rios ou lagos ou ainda dentro de um porto marítimo. Como isso nem sempre é possível, existe a necessidade da integração. Um aspecto que pode levar à integração de diferentes modais é o custo. As empresas, em geral, estão permanentemente preocupadas em reduzir os custos com transporte para que os objetivos do sistema logístico sejam atingidos. Mesmo que seja possível realizar o transporte por apenas um modal e que o custo operacional baixo seja possível, ainda é necessário buscar a integração. Um motivo importante para a integração é a necessidade de assegurar que algumas exigências (confiabilidade, velocidade e flexibilidade) sejam atendidas. Sem isso, nenhum sistema de transporte é eficiente e muito menos eficaz. O Brasil ainda não possui uma infraestrutura adequada para suportar sistemas integrados de transporte, principalmente nas novas fronteiras agrícolas e nas regiões em que há crescimento de demanda. Faz‑se necessário que ocorram investimentos significativos em infraestrutura para que se 111 ESTRATÉGIA DE DISTRIBUIÇÃO alcancem resultados positivos. Além disso, é de grande importância uma nova postura por parte dos clientes, que hoje avaliam os serviços de transporte basicamente pelo fator preço, e não efetivamente pela qualidade dos serviços oferecidos. Outro aspecto relevante é a existência dos operadores logísticos que oferecem não apenas serviços de transporte, mas soluções integradas, como transporte inter ou multimodal, movimentação, armazenagem, gerenciamento de estoques e acompanhamento de cargas. A utilização de tecnologia também é fundamental para que se desenvolvam meios para a integração dos serviços de transporte e se disponibilizem informações sobre o status da carga para os clientes. A introdução de tecnologias como os rastreadores GPS tornam os sistemas logísticos mais eficientes. Além disso, é necessário que ocorram melhorias operacionais nos diferentes modais, sobretudo o aquaviário e o ferroviário. 6.1 Modal ferroviário: vantagens e desvantagens O modal ferroviário é o mais indicado para longas distâncias e também para transportar grandes volumes, principalmente aquelesde baixo valor agregado, porém possui uma malha de trilhos insuficiente. Contudo, essa situação está mudando. A participação das ferrovias na matriz de transporte de cargas está crescendo significativamente. A carga transportada na malha ferroviária nos últimos anos superou as expectativas. Tudo isso demonstra como o modal ferroviário está mudando e como tem potencial para crescer muito mais e ocupar um espaço importante no transporte de cargas internas. Assim, será possível reduzir os custos operacionais e transformá‑lo em um modal mais competitivo. Como característica, podemos afirmar que é um transporte lento – portanto, limitado a alguns tipos de carga. Uma das razões para isso é que a maior parte do tempo no transporte de um vagão é gasta em operações de carga e descarga e movimentações dentro dos terminais, para classificar e agregar em composições, ou mesmo pelo fato de o vagão ficar ocioso durante quedas de demanda. Existe transporte ferroviário tanto para cargas cheias como para cargas parciais ou fracionadas. Na carga cheia, ocupa‑se totalmente o vagão – consequentemente, o preço do frete torna‑se mais barato. A maior parte do transporte ferroviário é de carga cheia, confirmando a tendência de servir para transportar maiores volumes. Para muitos estudiosos, o transporte ferroviário é considerado o mais adequado para movimentação de cargas a granel em grandes distâncias. No Brasil, essa afirmação é válida considerando‑se as dimensões territoriais e proporções continentais. A ferrovia surgiu em plena Revolução Industrial, no século XIX, com a criação da máquina a vapor que daria base para a criação das locomotivas, em 1814. Não demorou muito para que em 1828 o governo imperial desse início a um projeto de integração das diversas regiões do Brasil por meio de estradas em geral, entre elas, a ferrovia. 112 Unidade III Entre as vantagens do modal ferroviário estão os custos menores do frete e o transporte em quantidades maiores, principalmente em rotas longas, além de ser um transporte que não enfrenta risco de congestionamentos, acidentes ou roubo de cargas. Todavia, o modal ferroviário enfrenta uma série de dificuldades para retomar seu pleno desenvolvimento no Brasil. Entre elas, podemos destacar os traçados deficientes e os sistemas de controle de tráfegos obsoletos, além da idade média elevada de locomotivas e vagões, a falta de integração entre as concessionárias, o estado precário de conservação das malhas e a utilização compartilhada das linhas para o transporte de passageiros e cargas. 6.2 Modal rodoviário: vantagens e desvantagens É o modal de transporte mais utilizado no Brasil e tornou‑se a principal opção para o transporte de cargas em função da sua cobertura. Um dos maiores problemas encontrados na malha rodoviária é o baixo número de estradas pavimentadas. Em algumas regiões, o transporte rodoviário é o único modal disponível. Fazendo uma comparação com o transporte ferroviário, ele se caracteriza por transportar uma capacidade menor de carga por viagem, sendo assim, recomendado apenas para trajetos de curtas distâncias. Podemos citar também que é um transporte extremamente competitivo em termos financeiros, além de atender bem a todos os critérios de avaliação. Como características adicionais, podemos incluir o serviço porta a porta, uma excelente frequência, e o fato de possuir mais disponibilidade e ser o que apresenta maior velocidade considerando‑se as curtas distâncias. No mercado de transportes fracionados e de pequenas cargas, o modal rodoviário é imbatível. Como exemplo, o volume necessário para encher um caminhão é muito menor que o volume para encher uma composição ferroviária. Porém, o modal rodoviário tem limitação de variedades de cargas em virtude das restrições de segurança e dos limites de tamanho e peso dos carregamentos nas rodovias. Cargas que não se enquadram nas normas das rodovias necessitam de autorizações especiais de tráfego, o que pode elevar o custo. A rodovia é um caminho público construído seguindo normas técnicas e destinada à circulação de veículos fora das vias urbanas. A palavra rodovia é associada a autoestrada e autopista, sempre pavimentadas, de pista dupla, onde circulam veículos de alta velocidade. Já o termo estrada tem uso mais abrangente e designa tanto a rodovia como os caminhos vicinais, veredas e trilhas sem calçamento das regiões rurais, de pouco trânsito de veículos e frequentemente usados por pessoas que viajam a pé, em carroças ou montadas em animais. A crise internacional teve um grande impacto em todos os setores da economia e o que se apresentava como uma curva positiva e tendência de revitalização do setor foi bruscamente interrompido por fatores externos ao transporte rodoviário. De outro lado, o transportador está se profissionalizando cada vez mais e também já começa a selecionar seus clientes. A eficiência operacional é a agenda do setor, e os 113 ESTRATÉGIA DE DISTRIBUIÇÃO dois lados da balança – demanda e oferta – encontram‑se juntos e desafiados a buscar os melhores resultados, sempre com os menores custos, resultando numa revitalização do setor. Lembrete À medida que a tecnologia proporciona uma integração vertical mais forte entre o chão de fábrica e as estratégias globais de negócios (bem como uma maior integração horizontal em todo o projeto, planejamento de produção de produtos e prestação de serviços), os produtores são cada vez mais receptivos e eficientes do que antes. Eles também se beneficiam de redes empresariais ágeis e auto‑organizadas que permitem a execução local de planos de negócios globais. 6.3 Modal hidroviário: vantagens e desvantagens A navegação de longo curso ou marinha mercante no país obteve impulso nos anos de 1970 apoiada em fortes incentivos governamentais com a implantação de diversos planos de construção naval. Muitas empresas eram estatais, como a Fronape e a Lloyd Brasileiro. A inserção de empresas privadas se deu após a introdução de forte controle do governo sobre todas as etapas relativas à operação: rotas, fretes, parcerias etc. Tal desenvolvimento manteve‑se de forma rápida e contínua até meados da década de 1980. Após esse período, com a introdução de medidas de forte proteção à indústria nacional, o resultado foi uma imediata retração dos investimentos. Já na década de 1990, verificou‑se uma queda acentuada no número de navios da frota brasileira e no seu nível de participação no comércio internacional, gerando uma crise que atingiu os estaleiros de grande porte do país (BNDES, 2017). Atualmente, a via marítima é o principal meio utilizado para o transporte de mercadorias do comércio exterior brasileiro. Segundo dados da Antaq (2011), a tonelagem exportada por via marítima representou 96% do total, enquanto a importada alcançou 89%. Foram embarcadas no Brasil 514.740 toneladas de mercadorias com destino ao exterior, enquanto o desembarque de mercadorias de longo curso foi de 143.347 toneladas. Em relação aos destinos e origens do comércio exterior brasileiro, os países do Índico e do Extremo Oriente, com destaque para a China, representam o principal destino das exportações (56,9%), seguido por Europa Ocidental e Setentrional (16,8%), Mediterrâneo/Mar Negro, Oriente Médio, Costa Leste dos EUA e Canadá. Já as cargas desembarcadas no Brasil possuem origem mais dispersa e distribuídas de maneira mais uniforme entre as rotas oceânicas: Índico/Extremo Oriente (20,3%), Costa Leste dos EUA e do Canadá (17,7%), seguida por Europa Setentrional e Ocidental, Mediterrâneo/Mar Negro, Atlântico Sul/Rio da Prata, África Ocidental/Golfo da Guiné e Caribe/Golfo do México. Os produtos transportados, conhecidos por granéis, têm como características o grande volume movimentado e a sua baixa densidade de valor. O transporte desses produtos é realizado por linhas irregulares, característico de um itinerário não fixo e determinado pelas oportunidades geradas em todos os portos, em condições de competiçãoe, em grande parte, livres de regulação econômica. 114 Unidade III As linhas regulares, aquelas que apresentam sempre os mesmos itinerários, com portos e escalas fixas e predeterminadas, transportam produtos com maior densidade de valor, tais como os industrializados. O transporte marítimo internacional é também sujeito a esquemas de reserva de cargas, requerendo que parte do comércio exterior entre dois países seja realizada por navios com as bandeiras desses países. Fatores de natureza estrutural e conjuntural têm provocado o desestímulo à renovação e expansão da frota mercante nacional, com reflexos diretos sobre a eficiência e a produtividade da navegação marítima no país: diminuição e envelhecimento da frota, com aumento de afretamentos de embarcações estrangeiras; saída da bandeira brasileira da navegação de longo curso; e baixa participação do transporte aquaviário na matriz de transportes brasileira. Sendo o Brasil um país com mais de 7.000 km de costa navegável, é relevante e crucial um sistema de transporte marítimo eficaz, para atender a movimentação de cargas no seu comércio interno, assim como permitir a melhor competitividade possível no comércio externo. Desse modo deve‑se atentar para a importância da manutenção e recuperação da frota de bandeira brasileira, com vistas a reduzir os gastos com afretamentos de embarcações estrangeiras e aumentar a participação da bandeira brasileira nos fretes marítimos gerados pelo comércio exterior, possibilitando o controle do Estado sobre a frota mercante, em caso de mobilização, para atender as necessidades da sociedade brasileira. Além disso, são relevantes os aspectos que afetam a competitividade do navio de bandeira brasileira, como os altos custos operacionais, pequena escala de operação, concorrência com as bandeiras estrangeiras e envelhecimento da frota. O Brasil possui potencial para aumentar significativamente a produção e, consequentemente, as exportações nos próximos anos. Contudo, o aproveitamento desse potencial depende de investimentos nas áreas de infraestrutura, incluindo os portos brasileiros, que, em razão do forte crescimento do fluxo de comércio exterior nos últimos anos, encontram‑se saturados. Citam‑se também a profundidade inadequada dos portos nacionais em conjunto da falta de dragagem como fatores limitadores do desenvolvimento do transporte marítimo, visto que o acesso aquaviário a alguns portos só é possível para embarcações de pouco calado. O transporte aquático, também chamado de aquaviário ou hidroviário, é o transporte de cargas ou pessoas através de barcos, navios ou balsas em um espelho d’água como oceanos, mares, lagos, rios ou canais. O transporte aquático envolve tanto o marítimo como aquele realizado nos lagos e rios. O transporte marítimo representa a maior fatia do transporte aquático, por isso, muitas vezes, é denominado como sinônimo. Esse modal tem cobertura primordial das matérias‑primas (petróleo, derivados etc.) juntamente a transportes a granel. O transporte aquático também possui cobertura de produtos ensacados, encaixotados ou em qualquer outro tipo de embalagem, classificados como carga geral. A partir da década de 1960, o transporte aquático passou a utilizar o contêiner, o que revolucionou toda a cadeia logística no quesito embalagens, desde o produtor até o consumidor. Os modais rodoviário, ferroviário e aéreo tiveram que se adaptar aos contêineres, fazendo deles uma unidade de transporte 115 ESTRATÉGIA DE DISTRIBUIÇÃO intermodal. Uma vez lacrada no contêiner, a mercadoria em seu interior não sofre mais nenhum manuseio até o destino final, e nos casos de fiscalização aduaneira somente o contêiner é manuseado, e não a mercadoria. Para que esse modal seja usado com êxito, faz‑se necessária uma geografia favorável para que o deslocamento seja realizado com sucesso. Podemos separá‑los em algumas categorias, como: fluvial, lacustre, cabotagem e marítimo. O modo aquaviário não apresenta flexibilidade de rotas e terminais e depende de soluções com intermodalidade. Normalmente, é utilizado para grandes distâncias, mas apresenta baixas velocidades. O transporte marítimo é o modal mais utilizado no comércio internacional e de longo curso. O sistema aquaviário brasileiro é composto de vias marítimas e interiores e de portos e terminais portuários. Dessa forma, há basicamente dois subsistemas: o fluvial ou de navegação de interior, que utiliza as hidrovias e rios navegáveis, e o marítimo, que abrange a circulação na costa atlântica. O primeiro conta com aproximadamente 44.000 km de rios, dos quais 29.000 km são naturalmente navegáveis, mas apenas 13.000 km são efetivamente usados economicamente, e é usado sobretudo no transporte de soja, óleo vegetal, madeira e outros. Devido ao baixo custo do frete, desenvolve papel importante na logística de transporte. Já a parte marítima tem cerca de 7.500 km de vias e é o modal mais usado no comércio internacional ou longo (ANTAQ, 2011). Saiba mais Para aprofundar seu conhecimento sobre o assunto, acesse o link: NEVES, E. A. et al. Modais de transporte: análise do panorama atual brasileiro e um estudo bibliométrico. In: ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO, 38., 2018, Maceió. Anais... Maceió: Enegep, 2018. Disponível em: https://cutt.ly/BUH1bMX. Acesso em: 13 dez. 2021. 6.3.1 Fluvial Denomina‑se transporte fluvial o modal que utiliza rios e canais para o deslocamento das cargas. No Brasil, podemos destacar o rio Amazonas e o rio Paraguai como grandes rios, pois existe uma predominância de planície e são muito utilizados para navegação. Em 1869, o engenheiro militar Eduardo José de Moraes desenvolveu um plano focado na navegação fluvial, buscando a exploração desse recurso junto às poucas ferrovias já implantadas. A preocupação era estabelecer vias de comunicação associadas às vias de transporte, assim como garantir uma redução de custos para o escoamento de produções localizadas no interior. 116 Unidade III 6.3.2 Lacustre Deslocamento realizado basicamente em lagos, tem como característica realizar pequenos trajetos, porém pode ser considerado um transporte internacional. Como exemplo, temos os grandes lagos que unem Estados Unidos e Canadá. Embora as cargas gerais experimentem um custo do tempo mais elevado, o que inicialmente leva seu transporte para o modo rodoviário, a redução dos custos portuários em vários cenários mostra um potencial de atração para algumas cargas desse grupo de produtos que, em se confirmando no Plano Setorial, podem ser explorados como potencial latente. As vias navegáveis do Rio Grande do Sul, em conjunto com sua navegação lacustre, apresentam um potencial específico a ser estudado a partir da melhoria da eficiência desse modo, especialmente em virtude de os pontos de produção próximos a essas infraestruturas possuírem mercados consumidores identificados na matriz origem e destino, em regiões próximas ao litoral brasileiro. Assim, a dinamização e melhoria desse modo, sendo objeto de estudo que rejeite ou ratifique tal achado, pode levar a um aumento da competitividade da produção gaúcha. 6.3.3 Cabotagem É considerado transporte de cabotagem o deslocamento realizado entre dois portos dentro do mesmo país ou entre um porto costeiro e um posto fluvial. Quando envolve a costa de dois países, é considerado cabotagem internacional. O transporte por cabotagem foi o principal modal utilizado para o transporte de carga granel até a década de 1930, quando as malhas rodoviárias e ferroviárias estavam ainda em formação. Nota‑se que nas décadas seguintes os investimentos foram direcionados às rodovias, fazendo com que o modal aquaviário perdesse gradativamente espaço na matriz de transportes do país. De modo a reverter tal cenário, houve a criação de órgãos e comissões com o objetivo de estimular a construção naval a partir do estabelecimento de linhas de navegação regulares, alavancagem de recursos para investimentos em infraestrutura portuáriae adequação da frota de embarcações para atendimento da demanda. Porém, tais medidas não tiveram sucesso, impactadas pelo crescente custo da construção naval e a perda de eficiência dos portos devido aos altos custos de movimentação de carga e da falta de equipamentos necessários para uma produtividade adequada. Contribuiu para tal cenário o processo inflacionário que afetou o país, restando para a cabotagem as atividades de transporte de cargas de granéis líquidos e sólidos, de grandes volumes e baixo valor agregado. Nota‑se que nas décadas de 1970 e 1990, o cenário econômico do país sofreu alterações importantes. A construção naval apresentou números elevados de produção, e a alternativa pela cabotagem passou a se mostrar oportuna para as empresas de navegação que investiram novamente no setor na tentativa de aumentar a participação do modal aquaviário, em consonância com a estabilização tanto da economia quanto dos índices inflacionários. Cabe ressaltar que no período houve implantação da Lei de Modernização dos Portos (1993), cuja consequência imediata foi percebida na melhoria das condições de operação, níveis de serviço e custos compatíveis e negociáveis. 117 ESTRATÉGIA DE DISTRIBUIÇÃO Segundo a Pesquisa Aquaviária (CNT/COPPEAD, 2006), o modal de cabotagem é considerado mais vantajoso do que outros meios de transporte, de acordo com as características de contratação, em relação ao custo do frete (41,3%), segurança da carga (25,9%), confiabilidade dos prazos (12,2%) e nível de avarias (11,1%). Constata‑se ainda uma concentração das empresas que utilizam cabotagem na região Sudeste, devido à grande utilização da cabotagem em conjunto com outros modais, pois essa região, em termos de infraestrutura multimodal, apresenta um mercado diversificado e competitivo. Pelos dados da Antaq (2011), a frota brasileira de cabotagem tem 152 embarcações disponíveis para o transporte, operadas por 33 empresas, com portes variados. Sua tonelagem de porte bruto (TPB) total é de 2.987.154 TPB. O TPB pode ser considerado como a diferença entre o deslocamento bruto e o líquido da embarcação, ou seja, o que pode ser transportado em carga, combustível e equipagem (tripulação). Diversos estudos demonstram que a cabotagem é viável, no atual cenário econômico, para cargas distantes 250‑300 km dos portos. A coleta de cargas em distâncias superiores a essa limita a competitividade do modal, já que o custo do acesso rodoviário acaba inviabilizando o custo total. O transporte por cabotagem para longas distâncias tende a ser mais competitivo em termos de tarifa que outros modais principalmente para cargas de baixo valor agregado quando comparado ao transporte rodoviário e aéreo. Entretanto, alguns fatores desfavorecem a cabotagem frente à concorrência com o modo rodoviário, como a regularidade e a frequência dos navios. Corrobora ainda um cenário em que as empresas operadoras no mercado atuam de modo a realizar rotas diferenciadas, escalando portos distintos. As frequências fixas quinzenais não atendem às necessidades de cargas perecíveis, que necessitam de prazo máximo de quatro dias. Além disso, problemas gerais enfrentados no setor portuário, como burocracia, infraestrutura precária e alto custo com pessoal, também afetam o transporte por cabotagem, retardando ainda mais o crescimento do setor. Assim, tornam‑se necessários investimentos em infraestrutura logística, ampliação da estrutura e facilidades portuárias, simplificação dos procedimentos de transbordo, harmonização dos procedimentos das administrações responsáveis e maior articulação com outros modais. Atualmente, o equilíbrio das condições político‑econômicas do país favorece o desenvolvimento da cabotagem, com o modal passando a ocupar novos nichos de mercado. Além disso, fatores desfavoráveis ao modal rodoviário, como precariedade das vias, elevadas tarifas em pedágios, envelhecimento da frota e falta de segurança, em consonância com a melhoria da eficiência portuária, favorecem o crescimento do segmento aquaviário para o transporte de mercadorias. Ressalta‑se, ainda, que iniciativas de âmbito normativo para a reestruturação dos setores de transportes são fundamentais para a efetividade do alcance dos objetivos e melhoria geral dos serviços. Neste sentido, podem‑se citar: o Programa de Incentivo à Cabotagem (Projeto de Lei n. 4.199/2020), conhecido como BR do Mar; o Programa Voo Simples para modernização das regras da aviação geral; e a proposta do novo Marco Legal Ferroviário. A união de diferentes iniciativas e ações mais abrangentes pode ainda ser formatada em políticas públicas atreladas a instrumentos de incentivo financeiro ou fiscal. São exemplos desse tipo de iniciativa, embora com destinações diferentes, o Fundo da 118 Unidade III Marinha Mercante (FMM) (Decreto‑Lei n. 1.801, de 18 de agosto de 1980; Decreto‑Lei n. 2.404, de 23 de dezembro de 1987; Lei n. 10.893, de 13 de julho de 2004) e o Fundo Nacional de Aviação Civil (FNAC) (Lei n. 12.462/2011), que resultam em ações efetivas de desenvolvimento de setores do transporte por meio de fomento. 6.3.4 Marítimo É o transporte que se utiliza dos mares abertos para o transporte das cargas. O maior problema verificado por este modal são as limitações portuárias. Citamos como exemplo o Porto de Santos, o maior do Brasil em movimentação de cargas, no qual os navios levam dias para atracar e deixar o cais. Alguns navios só conseguem quando a maré está elevada, pois o calado é considerado muito raso (apenas 13 metros). Observação O calado é um indicador de vital importância para um porto. Quando o calado é raso, como é o caso no Brasil, os portos necessitam limitar a quantidade de contêineres. Uma tática utilizada pelos exportadores é distribuir a carga em navios menores, porém isso eleva as despesas com frete. As vantagens do transporte aquaviário são o deslocamento de cargas volumosas e em grandes quantidades com custos reduzidos em comparação com o transporte aéreo ou terrestre nos deslocamentos entre continentes e o fato de possuir um índice de poluição reduzido. Tem a segunda maior acessibilidade, ficando atrás apenas do modal dutoviário. Possui boa confiabilidade e possibilita transportar uma grande variedade de cargas. Algumas desvantagens são o fato de ser caracterizado como um transporte que atinge baixa velocidade, aumentando o tempo de deslocamento; possuir pouca flexibilidade de cargas; necessitar de um tempo maior de descarga devido à necessidade de transitar na alfândega; e os portos se localizarem muito distantes dos centros produtivos. O transporte marítimo caracteriza‑se pela utilização dos mares abertos como via de deslocamento de mercadorias e passageiros. Ele se divide em dois segmentos principais: a navegação de longo curso e a navegação de cabotagem. O segmento de navegação de longo curso corresponde a rotas internacionais normalmente de longa distância. Já a navegação de cabotagem é destinada à realização de viagens dentro da costa brasileira ou entre países vizinhos. Assim, os portos marítimos correspondem aos terminais, onde ocorre a maioria dos processos administrativos e operacionais e a fiscalização dessas atividades. Do ponto de vista tecnológico, o transporte marítimo agrega características condicionantes a unitização da carga, ao nível de especialização da embarcação e o porte, idade média da frota, modernização dos portos e os serviços logísticos de apoio (MOURA; BOTTER, 2011). Em relação ao primeiro item, a carga utilizada no transporte marítimo pode ser dividida de maneira mais genérica em três grandes tipos: granel líquido (petróleo, derivados de petróleo etc.), granéis sólidos 119 ESTRATÉGIA DE DISTRIBUIÇÃO (minérios, grãos etc.) e carga geral (sacaria, contêineres, carga solta etc.). Contudo, com o surgimento de novas formas de acondicionamento, por exemplo, o contêiner, as cargas passaram a ser classificadas em seis categorias: granéis líquidos, granéis sólidos, cargasfrigorificadas, sacaria, contêineres e carga geral. Para o nível de especialização da embarcação, as embarcações aumentaram o seu porte através da especialização no transporte de um tipo de carga específico. Cabe destacar o desenvolvimento de embarcações especializadas denominadas roll on/roll off, especializadas no transporte de cargas que possuem rodas, como automóveis, além de contarem com uma rampa de acesso para esses veículos, tornando‑se menos dependentes de equipamentos para movimentação de carga no porto, resultando em menor tempo de operação portuária. 6.3.5 Dos navios São diversos os tipos de navios visando atender necessidades específicas. Alguns exemplos são o cargueiro convencional, o graneleiro, o tanque, o porta‑contêiner, o porta‑barcaças, o sea‑bea e o frigorífico. A questão portuária torna‑se relevante quando é considerado o surgimento de novos projetos e investimentos em infraestrutura para a melhoria do desempenho operacional dos portos, resultando na redução dos custos portuários. A atividade dos terminais atende a diversos mercados em função das características técnicas e especificidades de cada instalação portuária. Em torno da estrutura portuária, são verificados quatro componentes: anteporto, porto, retroporto e obras complementares (CNT/ COPPEAD, 2016). Em torno dos serviços logísticos de apoio, o processo de unitização de carga gerou facilidades no transporte, como o oferecimento do serviço porta a porta, surgindo então os operadores logísticos. Atualmente existem, além dos operadores logísticos, os centros de consolidação de carga, onde a carga de diversas empresas é acomodada em contêineres que são transportados por via marítima ao porto de destino. Na origem, a carga é reunitizada de modo que cada cliente receba o seu produto corretamente. A China continua dependente de projetos estrangeiros e tem desvantagens competitivas em gerenciamento e capacidades técnicas. Esse país está agora se concentrando em avançar a cadeia de valor, aprimorando sua capacidade de construir navios portadores de GLP e GNL de alta qualidade e também cruzeiros de luxo, embarcações de rotas do Ártico e novos navios inteligentes e poupadores de energia. Na exploração de petróleo e gás, está priorizando a exploração em alto‑mar, bem como equipamentos de apoio a operações offshore e equipamentos de teste e inspeção. A China pretende tomar medidas para se tornar uma potência mundial de construção naval, com uma cadeia de fornecimento integrada que incorpora design, construção, fornecimento de equipamentos e serviços técnicos. 6.4 Modal dutoviário: vantagens e desvantagens Dutos são tubulações especialmente produzidas para o transporte de petróleo e seus derivados por longas distâncias, inclusive entre países, como é o caso de Brasil e Bolívia. 120 Unidade III Eles são classificados de acordo com a carga e podem ser divididos como oleodutos, gasodutos, minerodutos ou polidutos. Os dutos possuem uma particularidade que os difere dos demais modais, pois o duto é fixo e é a carga que se desloca. O transporte por dutos em alguns casos utiliza a força da gravidade para o deslocamento da carga, como nos casos de terrenos íngremes. A carga também pode utilizar auxílio de bombas para recuperar a força perdida ao longo do trajeto. Dentre as principais vantagens do transporte dutoviário, podemos descrever o transporte de quantidades volumosas, uma drástica redução no tráfego de produtos inflamáveis nas rodovias, a dispensa de armazéns, simplificando o processo de carga e descarga, um nível de perdas e roubos muito baixo, consumo de energia irrelevante comparado aos demais modais e redução dos custos de operação. Como principais desvantagens, podemos citar um custo bem elevado para a instalação dos dutos e constante exposição ao tempo e às variações climáticas. Quando há acidentes, os impactos ambientais são de proporções elevadas, às vezes levando décadas para serem reparadas. Nem todo tipo de produtos pode ser transportado por esse modal. Os tipos de dutos e suas cargas a serem transportadas são: • Oleodutos: os produtos transportados são petróleo, óleo combustível, gasolina, diesel, álcool, GLP, querosene, nafta e outros. • Gasodutos: o produto transportado é o gás natural. O Gasoduto Brasil‑Bolívia, com 3.150 km de extensão, é um dos maiores do mundo. • Minerodutos: os produtos transportados são sal‑gema, minério de ferro, concentrado fosfático e cereais. • Polidutos: o produto a ser transportado é variável, como vinhos e laranjas. • Dutos subterrâneos: são aqueles enterrados para serem mais protegidos contra intempéries, contra acidentes provocados por outros veículos e máquinas agrícolas e, também, contra a curiosidade e vandalismo por parte de moradores vizinhos à linha dutoviária. Esses dutos enterrados estão mais seguros em caso de rupturas ou vazamentos do material transportado, pois a porção de terra que envolve e cobre a tubulação funciona como um invólucro que amortecerá o impacto da pressão criada pelo acidente. • Dutos aparentes: são visíveis no solo, o que normalmente acontece nas chegadas e saídas das estações de bombeio, nas estações de carregamento e descarregamento e nas estações de lançamento/recebimento de PIGs – aparelhos/sensores utilizados na limpeza e detecção de imperfeições ou amassamentos na tubulação. Dependendo do terreno, se muito acidentado ou rochoso, a instalação de dutos subterrâneos torna‑se difícil e até mesmo inviável economicamente. Sendo assim, a linha é fixada em estruturas que servirão de sustentação e amarração para a tubulação. 121 ESTRATÉGIA DE DISTRIBUIÇÃO • Dutos aéreos: são aqueles necessários para vencer grandes vales, cursos d’água, pântanos ou terrenos muito acidentados. Tornam‑se viáveis com a construção de torres metálicas nas extremidades do obstáculo e, quando necessárias, torres intermediárias que servirão de suporte para a tubulação que ficará presa a elas por meio de cabos. • Dutos submarinos: os dutos submarinos são assim denominados porque a maior parte da sua tubulação está submersa no fundo do mar. Esse método é geralmente utilizado para o transporte da produção de petróleo de plataformas marítimas (offshore) para refinarias ou tanques de armazenagem situados em terra (onshore). Também são utilizadas para atravessar baías ou canais de acesso a portos. Os emissários são considerados dutos submarinos. Apesar da grande importância para o transporte de petróleo e derivados, esse modal ainda tem muito potencial a ser explorado, ampliando sua utilização não só no transporte de petróleo e seus derivados, mas também no transporte de minérios e produtos agrícolas. Os dutos são o melhor meio para o transporte desse tipo de carga. Um dos problemas para a construção de sistema de dutos é a necessidade de um alto investimento. Grandes áreas precisam ser desapropriadas para dar espaço às instalações, por exemplo. Estima‑se que a construção de um quilometro de dutos é oito vezes mais cara que a mesma distância em rodovias. Porém, analistas garantem que o modal ainda é o mais adequado em longas distâncias, pois seus gastos são diluídos conforme aumenta a distância. Outra desvantagem desse modal é o risco de acidentes ambientais. Para incentivar a construção de dutos, podemos olhar para as vantagens desse tipo de transporte: apresenta alta confiabilidade (não depende de alternâncias diurnas e noturnas nem contingências climáticas e atmosféricas); tem o elemento de transporte fixo, enquanto é a carga que se desloca, o que reduz o risco de acidentes; o acionamento para impulsão do produto é realizado por motobombas elétricas, o que elimina problemas decorrentes da emissão de gases e combustão de motores; o fato de a tubulação ser, na maioria das vezes, subterrânea permite a utilização da camada de solo acima dela para outros fins, como plantações e pastagens (porém estando sujeito a acidentes); facilidade de implantação (condicionada apenas às possibilidades deutilização dos equipamentos para lançamento, inspeção e manutenção); apresenta baixo consumo de energia; não utiliza embalagens; possui necessidade de mão de obra reduzida para sua operação (porém especializada); apresenta baixa flexibilidade e origem/ destino fixos, já que funciona por tempo ininterrupto; apresenta baixo custo de transporte; é adequado para transferência direta entre indústrias, refinarias e locais de extração; oferece elevados investimentos em dutos e sistemas de bombeamento; apresenta bom nível de segurança. 6.5 Modal aeroviário: vantagens e desvantagens É o transporte realizado por empresas de navegação aérea, através de aeronaves de vários tipos e tamanhos, nacional e internacionalmente, e pode ser utilizado praticamente para todas as cargas, embora com limitações em relação a quantidade e especificação. 122 Unidade III Através da navegação aérea, pode‑se atingir qualquer ponto do planeta, sendo essa opção interessante para cargas de alto valor ou de alta perfectibilidade, ou amostras que necessitem chegar rapidamente ao seu destino. Segundo Ballou (2013), no modo aéreo existem os serviços regulares, contratuais e próprios. O serviço aéreo é oferecido em algum dos sete tipos: linhas‑tronco domésticas regulares, cargueiras (somente cargas), locais (principais rotas e centros menos populosos, passageiros e cargas), suplementares (charters, não têm programação regular), regionais (preenchem rotas abandonadas pelas domésticas, aviões menores), táxi aéreo (cargas e passageiros entre centros da cidade e grandes aeroportos) e internacionais (cargas e passageiros). É o modal que mais se difere dos demais, devido às suas características quanto às vias de tráfego, pois são consideradas aéreas no deslocamento, porém terrestres nas operações de carga e descarga. Esse transporte é realizado por grandes companhias especializadas no transporte aéreo com aeronaves variadas. Pode ser nacional ou internacional. Desse modo, o transporte nacional pode ser classificado como doméstico ou cabotagem. O modal aéreo pode atingir qualquer ponto do planeta em poucas horas e é muito utilizado para o transporte de cargas de valores elevados ou alta perfectibilidade, podendo ser tecnológica ou médica, como no caso de transplantes de órgãos. Para alguns especialistas, a logística do futuro depende da integração dos aeroportos com os demais meios de transporte. As principais vantagens do modal aéreo são: eficácia no transporte de amostras; eficiência no transporte de mercadorias com urgência na entrega; maior rapidez na obtenção do documento de transporte, pois sua emissão é antecipada; os aeroportos normalmente estarem próximos aos centros produtivos; possibilidade de aplicar com mais agressividade a política Just in Time; e redução nos custos de embalagem, pois as mercadorias são menos manipuladas. As principais desvantagens são: o frete é relativamente alto em comparação com os demais modais; a capacidade de carga é bem menor em relação aos modais marítimo e ferroviário, ganhando apenas do rodoviário; impossibilidade de transporte de cargas a granel e produtos químicos; e ainda o custo elevado de infraestrutura. O transporte aeroviário tem tido uma demanda crescente de usuários, embora o seu frete seja significativamente mais elevado que o correspondente rodoviário. Em compensação, seu deslocamento porta a porta pode ser bastante reduzido, abrindo um caminho para essa modalidade, principalmente no transporte de grandes distâncias. Esse modal se diferencia dos demais por possuir maior rapidez no transporte; ideal para o transporte de mercadorias com prioridade de entrega (urgência). Ele é utilizado principalmente nos transportes de cargas de alto valor unitário (artigos eletrônicos, relógios, alta moda etc.) e perecíveis (flores, frutas nobres, medicamentos etc.). Todo tipo de carga pode ser transportado por esse modal, desde que não ofereça risco à aeronave, aos passageiros e aos operadores. Como exemplos desse meio de transporte estão os aviões dedicados, as aeronaves para transporte exclusivo de cargas e os aviões de linha, aeronaves utilizadas tanto para cargas como para passageiros. Normalmente as empresas aéreas são proprietárias das aeronaves com que atuam e que podem ser 123 ESTRATÉGIA DE DISTRIBUIÇÃO adquiridas pelo sistema de leasing ou através de financiamento direto dos fabricantes. Porém é comum as empresas se valerem de aeronaves de terceiros, no sistema de chartering, ou seja, afretamento de equipamentos de outras empresas. O modal aéreo apresenta as seguintes vantagens em relação aos outros modais: velocidade no transporte; dispensar o uso de embalagens reforçadas e manuseio cuidadoso; rapidez na liberação de documentação; cobertura ampla do mercado; e aeroportos próximos aos centros de produção. Já as desvantagens são: capacidade de carga menor, sendo restrita por pesos e volumes; inviabilidade de transporte de cargas a granel; altas restrições para cargas perigosas; infraestrutura com custo elevado. No Brasil, a infraestrutura dos aeroportos destinados ao transporte de cargas tem se modernizado e se expandido, estimulada pelo crescente volume de transporte de cargas por esse modal e pela competitividade entre empresas de transporte aéreo. Na decisão da escolha da rota ideal, as empresas aéreas priorizam o atendimento à demanda de passageiros. Essa prioridade gera, por parte das empresas aéreas e nos casos de voos mistos (passageiros e cargas), mudanças nas rotas existentes, assim como a criação de novas rotas ou desativação de outras, ficando a carga a ser transportada sujeita à oportunidade de espaço nas aeronaves. Isso só vem a demonstrar que o Brasil, assim como outros países, ainda tem seu transporte de carga aérea fortemente dependente dos voos de passageiros. No entanto, a participação da quantidade de cargas transportadas por via aérea no total de cargas movimentadas no país tem demonstrado um crescimento significativo, embora pequeno. Por outro lado, sua participação no valor total transportado vem crescendo desde 1980, em decorrência de um aumento do emprego do avião para o transporte de cargas de alto valor agregado e produtos perecíveis. Saiba mais Para aprofundar seu conhecimento sobre o assunto, acesse o link: MOTTA, M. J.; LUSVARGHI, G. C. Logística 4.0 desafios e oportunidades na gestão da cadeia de suprimentos moderno. In: CONGRESSO NACIONAL DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA, 18., 2018, São Paulo. Anais... São Paulo: UNIP, 2018. Disponível em: https://cutt.ly/cUH0oBU. Acesso em: 13 dez. 2021. Segundo Pedrinha (2020), os incentivos fiscais concedidos principalmente pelos governos estaduais, para atrair novos investimentos para seus estados, estimulam a descentralização das indústrias, alterando e ampliando a tipologia da carga transportada via aérea, seja pela urgência de entrega, pela dificuldade de acesso a certas regiões ou mesmo por questões de segurança. Com isso, as empresas de transporte aéreo de carga estão apostando no aumento da demanda e no futuro do modal aéreo baseado no conceito de logística que engloba, necessariamente, uma forma de cumprir prazos com precisão e segurança. No Brasil, apesar de contar com uma rede de 164 aeroportos operando no tráfego regular (Anac), observa‑se que o segmento de carga aérea apresenta 124 Unidade III uma acentuada concentração, em dez principais aeroportos, no que diz respeito ao movimento de carga, sendo eles responsáveis por 87% do fluxo de carga do país. A Infraero é a responsável pela administração dos 66 principais aeroportos do país, incluindo os dez principais, onde são processados mais de 95% do total de passageiros e carga transportados no Brasil. Os principais aeroportos internacionais que possuem um fluxo regular de importações e exportações são: Guarulhos (SP), Viracopos (SP) e Galeão (RJ). No entanto, ainda há muito a fazer no que diz respeito ao planejamento aeroportuário e sua potencialidade, visto que o empreendimentoexige espaço, setores de apoio e possibilidade de expansão. A acessibilidade e a ligação com as outras modalidades de transporte ainda são assuntos que exigem estudos, principalmente a respeito da intermodalidade. A Infraero tem investido recursos, principalmente na modernização de terminais de carga e sistemas de informações sobre cargas, além de equipamentos operacionais e ampliação de áreas de recebimentos e armazenagem de carga. Outro fator que deverá aumentar a carga aérea é a implantação dos terminais industriais aeroportuários, ou aeroporto‑indústria, um projeto dirigido para promover as exportações nacionais e, consequentemente, melhorar a balança comercial. Esses terminais serão zonas alfandegadas para uso das indústrias que, além das facilidades operacionais e logísticas, contarão com incentivos fiscais e redução dos custos logísticos. As plantas industriais finalizariam os produtos com o material recebido do exterior em conjunto com a produção local. Logo em seguida, esses produtos seriam exportados. Por exemplo, um computador seria montado com componentes elétricos importados de Taiwan, disk drives de Cingapura, circuitos integrados do Japão, microprocessadores da Coreia do Sul, teclado da Tailândia e tela do México, com redução ou até suspensão dos tributos. Depois de submetidos à operação de industrialização, seriam destinados ao mercado externo. Hoje, quando os insumos são trazidos para o Brasil, as companhias são obrigadas a pagar o Imposto de Importação e o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI). Além disso, há o custo do transporte desses produtos até a sede da empresa e de lá para o porto ou o aeroporto. A Infraero funcionaria como uma espécie de “síndico” do aeroporto‑indústria, responsável pelo recebimento, controle físico e eletrônico e armazenamento da mercadoria importada, através de instalações e procedimentos alfandegários para acelerar os processos de compras e exportação, tecnologia de informação intermodal e intercâmbio eletrônico de dados, que acelerará o manuseio e transferência dos materiais entre fábricas, aviões, trens e navios, fornecendo, assim, acesso global rápido e outras vantagens competitivas às indústrias. As empresas que adotarem o regime de aeroporto‑indústria estarão minimizando os custos de manutenção de estoques, pela agilização da cadeia de abastecimento em razão da redução do tempo de permanência das cargas no pipeline e do uso de estoques sob consignação. 125 ESTRATÉGIA DE DISTRIBUIÇÃO Resumo Nesta unidade, vimos que transporte é um elemento importante a ser considerado em toda a cadeia produtiva. O transporte representa em média 64% dos custos logísticos, 4,3% do faturamento e em alguns casos mais que o dobro do lucro. Por esse motivo, a empresa deve estar direcionada para a melhor escolha do modal, levando‑se em conta as particularidades do modal e da carga transportada para obter o máximo de eficiência e confiabilidade nessa etapa e para que não eleve seus custos e não prejudique o seu nível de serviço. É necessário que a empresa gerencie de forma eficiente e eficaz todo o sistema de transporte para que os produtos sejam disponibilizados ao consumidor final de forma mais rápida, segura e competitiva. Os produtos transportados, conhecidos por granéis, têm como características o grande volume movimentado e a sua baixa densidade de valor. O transporte desses produtos é realizado por linhas irregulares, característico de um itinerário não fixo e determinado pelas oportunidades geradas em todos os portos, em condições de competição e, em grande parte, livres de regulação econômica. As linhas regulares, aquelas que apresentam sempre os mesmos itinerários, com portos e escalas fixas e predeterminadas, transportam produtos com maior densidade de valor, tais como os industrializados. Assim, o transporte marítimo internacional é também sujeito a esquemas de reserva de cargas, requerendo que parte do comércio exterior entre dois países seja realizada por navios com as bandeiras desses países. Fatores de natureza estrutural e conjuntural têm provocado o desestímulo à renovação e expansão da frota mercante nacional, com reflexos diretos sobre a eficiência e a produtividade da navegação marítima no país: diminuição e envelhecimento da frota, com aumento de afretamentos de embarcações estrangeiras; saída da bandeira brasileira da navegação de longo curso; e baixa participação do transporte aquaviário na matriz de transportes brasileira. Sendo o Brasil um país com mais de 7.000 km de costa navegável, é relevante e crucial um sistema de transporte marítimo eficaz, para atender a movimentação de cargas no seu comércio interno, assim como permitir a melhor competitividade possível no comércio externo. A intermodalidade pressupõe a existência de terminais, portos, aeroportos, aduanas e armazéns tão eficientes quanto os modais que 126 Unidade III atendem. Por sua vez, a multimodalidade é a integração dos serviços de mais de um modal de transporte, ocasionando a emissão de um único conhecimento de transporte por um único responsável, denominado operador de transporte multimodal (OTM). Desde a origem até o destino final, o OTM assume total responsabilidade pela operação como um transportador principal, e não apenas como um agente. No Brasil, existe uma grande dificuldade de se operar com este sistema devido aos aspectos fiscais, isso porque na emissão de um único conhecimento de transporte a tributação ocorre no estado em que este foi emitido. Com isso, os demais estados sentem‑se prejudicados e alegam perda de arrecadação. A integração de modais existe por uma razão simples: o modal rodoviário é o único que consegue apanhar um carregamento no armazém do embarcador e entregá‑lo diretamente no armazém do cliente, sem a necessidade de realizar o transbordo da carga, na maioria dos casos. Todos os demais modais precisam de integração ao transporte rodoviário para que exista a mesma condição, chamada porta a porta. Para que o modal aquaviário, por exemplo, pudesse ser utilizado na ligação porta a porta, seria necessário que tanto o fornecedor quanto os seus clientes estivessem localizados às margens de rios ou lagos ou ainda dentro de um porto marítimo. Como isso nem sempre é possível, existe a necessidade da integração. Um aspecto que pode levar à integração de diferentes modais é o custo. As empresas, em geral, estão permanentemente preocupadas em reduzir os custos com transporte para que os objetivos do sistema logístico sejam atingidos. Mesmo que seja possível realizar o transporte por apenas um modal e que o custo operacional baixo seja possível, ainda é necessário buscar a integração. Um motivo importante para a integração é a necessidade de assegurar que algumas exigências (confiabilidade, velocidade e flexibilidade) sejam atendidas. 127 ESTRATÉGIA DE DISTRIBUIÇÃO Exercícios Questão 1. (Enade 2015) Na visão da logística, o serviço ao cliente resulta de todas as atividades logísticas da cadeia de suprimentos, portanto, o projeto do sistema logístico define o nível dos serviços que serão oferecidos ao cliente. Essa definição impacta significativamente na rentabilidade projetada pela empresa. O gráfico a seguir ilustra esse cenário Nível de serviço logístico 100%0% Receita Custos logísticos LucroCu st os o u ve nd as Figura 25 Adaptada de: BALLOU, R. H. Gerenciamento da cadeia de suprimentos/logística empresarial. 5. ed. Porto Alegre: Bookman, 2010. Em face do contexto apresentado, é correto concluir com base no gráfico que as organizações devem: A) Atuar com nível de serviço 100%, pois é nesse nível que o lucro é maximizado. B) Analisar sua cadeia de fornecimentos, a fim de definir o trade off do nível de serviço logístico. C) Focar a maximização do nível de serviço oferecido, pois não há como gerenciar o aumento dos custos. D) Atuar próximo ao nível de serviço logístico de 100%, pois são os pontos de maior incremento marginal
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