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6.1Prazo de apresentação O cheque pode ser apresentado diretamente ao caixa da instituição financeira sacada ou pode ser depositado, para compensação, o que equivale à apresentação a pagamento. O prazo de apresentação é de 30 dias, a contar do dia da emissão, se o título foi emitido no mesmo lugar onde houver de ser pago. Se o cheque foi emitido em outro lugar do país ou no exterior, o prazo para que seja apresentado ao banco, no caixa ou pela câmara de compensação, é de 60 dias, contado, igualmente, da data de emissão. Quando o cheque é emitido entre lugares com calendários diferentes, considera-se como de emissão o dia correspondente do calendário do lugar de pagamento (artigo 34 da Lei no 7.357/85). A apresentação do cheque, o protesto ou a declaração equivalente só podem ser feitos ou exigidos em dia útil, durante o expediente dos estabelecimentos de crédito, câmaras de compensação e cartórios de protestos (o artigo 64 da Lei no 7.357/85). Apresentado o cheque, ao caixa ou à câmara de compensação, o banco sacado o pagará ou o devolverá, indicando qual o motivo de sua recusa em acatar a ordem de pagamento, entre aquelas indicadas pelo Banco Central do Brasil, essa lista é exaustiva. Nem mesmo a morte do emitente ou sua incapacidade civil, superveniente à emissão, invalidam o cheque (artigo 37 da Lei no 7.357/85). Com a emissão, a declaração de vontade se completa e o patrimônio do emitente está, em regra, definitivamente afetado pelo dever de cumprir a obrigação autodeterminada. 6.2Cheque pós-datado O cheque é uma ordem incondicional para pagamento a vista, não permitindo estipulação eficaz, para o Direito Cambiário, de prazo ou termo. Qualquer estipulação neste sentido será considerada cambiariamente não escrita (artigo 32 da Lei no 7.357/85); assim, se o cheque é apresentado, ao caixa ou a câmara de compensação, em data anterior ao dia indicado como data de emissão, o pagamento deverá ser imediato, se há fundos para tanto; se não houver, será devolvido por falta de fundos. Ainda assim, criou-se entre os brasileiros a prática de contratar a apresentação futura do cheque, em prazo ou termo definido entre sacador e tomador. Embora tais previsões não tenham eficácia cambiária, não impedindo a pronta apresentação, têm validade e eficácia obrigacional, ou seja, obrigam as partes que a ajustaram. Essa contratação de apresentação futura faz-se pelo uso da cláusula bom para... ou depositar em..., entre outras, assim como pela emissão do cheque com data futura. Fala-se em cheque pré-datado, o que é um erro: pré-datar é datar com data pretérita, anterior àquela da emissão. O cheque estará pós-datado: pós-datar é emitir com data posterior. Não é nulo o cheque emitido com data futura, não havendo falar na aplicação do artigo 167, § 1o, III, do Código Civil, certo não haver simulação, mas mera contratação de maior prazo para apresentação, o que caracteriza dissimulação válida (artigo 167, caput, parte final). Afinal, é válido for na substância e na forma: trata-se de emissão de título de crédito típico que se dá na forma da lei. Lei, aliás, que não veda a emissão com data futura. Não é, portanto, ato ilícito. Apenas afirma considerar-se não escrita qualquer menção que contrarie a previsão de ser o título pagável a vista. Não é, portanto, uma proibição legal da pós-datação, mas a afirmação de sua ineficácia cambial. A pós-datação é, igualmente, válida na substância. Trata-se de ajuste lícito de concessão de prazo para pagamento que é devido, produzindo, no plano do Direito Cambial, o efeito específico de dilargar o prazo de apresentação: um ato jurídico válido no plano das relações obrigacionais, mas sem eficácia no plano das relações cambiárias. Não impede o pagamento do cheque, se há apresentação em data anterior àquela constante no título: considera-se cambiariamente não escrita. Mas produz efeitos obrigacionais. Tais anotações (ou outras que sejam feitas em documentos à parte ou mesmo oralmente, desde que cabalmente comprovadas), têm validade civil e penal. É convenção e, assim, deve ser cumprida. Pode ser civilmente responsabilizado aquele que apresenta antecipadamente a cártula ao caixa ou à câmara de compensação, antes do prazo acordado, se comprovado que daí resultaram danos econômicos e/ou morais. 6.3Acatamento da ordem Se não há empecilho, entre os motivos listados, o sacado acatará a ordem de saque e fará o pagamento. Feito o pagamento, seja na boca do caixa ao apresentante, seja por intermédio da câmara de compensação, o banco sacado deve, imediatamente, debitar o valor correspondente na conta bancária do sacado. Ao pagar o cheque, o banco pode exigir do legítimo portador que o título lhe seja entregue quitado, bem como que o assine no verso, caracterizando assim o endosso-recolhimento, há pouco referido. O banco pode até efetuar pagamento parcial, que não poderá ser recusado pelo portador; nessa hipótese, o pagamento constará do cheque, devendo o portador dar ao sacado a respectiva quitação, tanto no cheque, quanto em documento à parte (artigo 38 da Lei no 7.357/85). O cheque ficará com o beneficiário, para que possa fazer valer seu direito sobre a parte inadimplida, e o banco conservará o recibo para fazer prova do adimplemento parcial. Independentemente da ordem e das datas em que forem emitidos os cheques, o seu pagamento se fará à medida que forem apresentados ao banco, que não poderá recusar o pagamento de um título sob o argumento de sua numeração ser avançada, tornando provável a existência de outros títulos sacados anteriormente. Assim, o pagamento faz-se na ordem da apresentação e na medida em que haja saldo. A recusa de um cheque de valor maior, para o qual não há fundo, não impede, contudo, o imediato pagamento de cheque de valor menor, para o qual sejam suficientes os fundos, mesmo tendo sido apresentado posteriormente. Somente se dois ou mais cheques forem apresentados simultaneamente, sem que os fundos disponíveis bastem para o pagamento de todos, terão preferência os de emissão mais antiga e, se da mesma data, os de número inferior. Recebendo o cheque para pagamento, a instituição financeira sacada está obrigada a conferir não apenas a regularidade da emissão (a atenção a todos os requisitos listados em lei ou nos regulamentos do Banco Central do Brasil), mas igualmente a autenticidade da assinatura do emitente. Há situações em que são necessárias mais de uma assinatura (por exemplo: contas conjuntas em que não se permita a cada cotitular a movimentação individual), sendo necessário verificar se todas foram lançadas na cártula e são verdadeiras. Trata-se de uma obrigação que lhe é própria, fruto da própria condição negocial que ocupa no contrato bancário e, mesmo para além deste, da condição jurídica que ocupa no âmbito do Sistema Financeiro Nacional; mesmo que o contrato de depósito bancário já esteja findo, é seu dever aferir se a ordem de pagamento que lhe é apresentada em formulário que imprimiu foi efetivamente criada pelo correntista nela identificado ou mandatário com poderes especiais para tanto, evitando impor àquele a peja de emissor de cheques contra conta encerrada, quando não o fez. Aliás, um cheque só pode ser devolvido por falta de fundos, por conta encerrada ou por outro motivo que desabone o emitente, quando porte assinatura regular. Se há assinatura falsa, a emissão do título é nula, constituindo ato ilícito a devolução que não assinale haver divergência ou insuficiência de assinaturas (motivo 22), mas outro motivo. Não calha o argumento de que a devolução por divergência ou insuficiência de assinaturas só poderia ser lançada na cártula quando haja disponibilidade de fundos; apesar de ser essa a posição do Banco Central do Brasil. Afinal, o correntista ou ex-correntista experimenta uma lesão de direito, fruto de negligência bancária com seu patrimôniomoral (o seu bom nome, a sua boa imagem pública, o seu crédito na praça), causada pela negligência da instituição financeira no cumprimento de suas rotinas profissionais (artigo 927, caput, do Código Civil). Também não calha o argumento de que era obrigação do correntista cancelar o talão subtraído ou perdido, bem como a alegação de que seu apossamento por outrem – o falsário ou terceiro que àquele transferiu o formulário (folha) de cheque em branco – caracteriza culpa in vigilando ou, em se tratando de preposto, culpa in eligendo. Como a assinatura é requisito legal que deve ser conferido pelo sacado, o pretenso dever de guarda dos talonários e folhas de cheque torna-se uma obrigação secundária. Se o cheque é apresentado ao banco sacado com rasgaduras, partido, com borrões, emendas e dizeres que não pareçam formalmente normais, ou qualquer outra forma de mutilação, é-lhe lícito pedir explicações ao apresentante (artigo 41 da Lei no 7.357/85). A mutilação deve ser encarada com razoabilidade, devendo implicar dúvida razoável sobre os efeitos da anomalia na certeza do título, bem como em sua exigibilidade. Um desenho, por mais que impertinente, colocado no verso da cártula deve ser simplesmente desconsiderado; sujeiras de óleo próprias do manuseio por mãos trabalhadoras, mormente se o cheque tem por beneficiário um mecânico ou empresa mecânica, dispensam, igualmente, o cuidado. De qualquer sorte, o sacado só deve acatar a ordem quando inequívoca (artigo 39); se identifica no título qualquer sinal que traduz – ou pode traduzir – incerteza na ordem de pagar, deve suspender o pagamento e verificar se não houve adulteração da livre expressão da vontade do emitente. É o caso do cheque que traz traços inexplicáveis, que poderiam ser interpretados como um cancelamento da ordem. Se o cheque foi emitido em moeda estrangeira, estando o emitente autorizado a tanto, na forma da legislação pertinente, deverá ser pago, no prazo de apresentação, em moeda nacional ao câmbio do dia do pagamento, obedecida a legislação especial. Se o cheque não for pago no ato da apresentação, pode o portador optar entre o câmbio do dia da apresentação e o do dia do pagamento para efeito de conversão em moeda nacional. Mamede, Gladston. Direito Empresarial Brasileiro - Teoria Geral da Empresa e Títulos de Crédito. Disponível em: Minha Biblioteca, (13th edição). Grupo GEN, 2021.
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