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TRABALHO DIREITO DO TRABALHO

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UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MINAS GERAIS
AMANDA CRISTINA OLIVEIRA FEITOSA
BRUNA MARTINS FERREIRA
CRYFORT STONE RIBEIRO SILVA
ISABELLE LETÍCIA DOS SANTOS SILVA
LETICIA RODRIGUES PIMENTEL
THAYLLYNNY CECILIA NEVES VIANA
UBERIZAÇÃO
FRUTAL/MG 
2021
AMANDA CRISTINA OLIVEIRA FEITOSA
BRUNA MARTINS FERREIRA
CRYFORT STONE RIBEIRO SILVA
ISABELLE LETÍCIA DOS SANTOS SILVA
LETICIA RODRIGUES PIMENTEL
THAYLLYNNY CECILIA NEVES VIANA
UBERIZAÇÃO
Trabalho apresentado à Disciplina Direito do Trabalho, da Universidade do Estado de Minas Gerais, Campus de Frutal. No curso de Direito- 6º Período Noturno.
Docente: Me. Rodrigo Gama Croches
FRUTAL/MG
 2021
I. INTRODUÇÃO 
O conceito uberização do trabalho vem ocupando grande dimensão nos polos urbanos, tendo uma notável expansão. O discurso promovido pelas empresas que ofertam este serviço traz consigo a enumeração dos termos “autonomia” e “empreendedorismo” em seus discursos, excluindo a ideia de subordinação na relação trabalhista (empregado X empregador) e força de trabalho.
Com a consolidação deste modelo de trabalho veio a discussão sobre a condição de serviço que este modelo advindo da uberização proporciona, relatando exaustas jornadas de trabalho, dentre as perdas de garantias trabalhistas pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). Quanto à relação trabalhista, o conceito legal da classe trabalhadora está expressa no art. 3º da CLT e complementada pelo art. 2º (seja qual for à prestação de serviço) e em relação ao conceito empregador está nomeado no art. 2º da CLT, enumerando.
 Art. 2º - Considera-se empregador a empresa, individual ou coletiva, que, assumindo os riscos da atividade econômica, admite, assalaria e dirige a prestação pessoal de serviço.
 Art. 3º - Considera-se empregada toda pessoa física que prestar serviços de natureza não eventual a empregador, sob a dependência deste e mediante salário.
O sistema econômico capitalista constitui os pilares da atual sociedade neoliberal, marcado pelo surgimento da classe trabalhadora, esta vende a força de trabalho para alcançar posteriormente o salário, ofertado pelo empregador. O Estado ocupa o papel de intermediador, assegurando direitos aos trabalhadores e deveres a ser cumprido pelo empregador e empregado, o notável intervencionismo jurídico do Estado na relação trabalhista tem como objetivo consolidar o neoliberalismo.
O neoliberalismo traz consigo características norteadoras como a concorrência e a subjetivação. Introduzindo uma divisão do trabalho baseada na precarização, retirando direitos e garantias ao trabalhador. Desde a globalização, a tecnologia vem se tornando aliada aos meios de trabalho.
A tecnologia serve para instituir formas novas, mais eficazes e mais agradáveis de controle social e coesão social... A noção tradicional de "neutralidade" da tecnologia não mais pode ser sustentada. A tecnologia não pode, como tal, ser isolada do uso que lhe é dado; a sociedade tecnológica é um sistema de dominação que já opera no conceito e na elaboração das técnicas.
(MARCUSE, Herbert. A ideologia da Sociedade Industrial. Rio de Janeiro: Zahar Editores: 1973, p. 18-19).
O sociólogo Marcuse expõe o avanço tecnológico sobre o amparo industrial e nas relações trabalhistas, nomeando como “Indústria 4.0’’. Este termo é compreendido como a automação da comunicação e informação integrando a tecnologia para alcançar o melhoramento no processo através da robotização e automatização na logística empresarial.
A consequência ligada a “Indústria 4.0” é a escravidão digital ligada diretamente com a uberização, surgindo uma vasta proporção da hegemonia digital no âmbito financeiro, utilizando celulares, tablets, smartphones e semelhantes na supervisão e comando do trabalho.
O resultado mais evidente da uberização, conforme o referido autor se identifica com uso de uma nova terminologia na sociologia do trabalho, a chamada escravidão digital, enquanto uma das vertentes da nova era informacional-digital, que por sua vez combina um processo intenso de precarização do trabalho com expansão crescente do novo proletariado de serviços e crescimento da força de trabalho supérflua e sobrante. (Clarissa Tenório Maranhão Raposo, A Escravidão Digital e a super exploração do trabalho: consequências para a classe trabalhadora, p.7). 
O resultado proporcionado pela dinâmica da “Indústria 4.0” está relacionado ao crescimento exponencial do trabalho autônomo e ao conceito introduzido no âmbito da relação trabalhista a figura do “empreendedor”. Esta imagem criada pelo trabalhador remete o ideal deste ser seu próprio patrão, não havendo assim a subordinação na relação entre empregado e empregador. O discurso de “empreendedor” remete a falácia proporcionando ao empregador a exploração sobre a mais-valia e acumulação de lucros.
Assim, o conceito de uberização do trabalho é caracterizado pela atuação dos trabalhadores com os gastos de instrumento de trabalho, como as despesas de segurança, alimentação, saúde, limpeza e como toda relação trabalhista tem-se o pólo empregador, este apropria da mais-valia gerada pela prestação de serviço do trabalhador, a empresa mantém despendida das garantias trabalhistas expostas na CLT como deveres a serem cumpridos pela parte contratante da mão de obra.
De acordo com a pesquisa realizada pela Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) no ano de 2020, aproximadamente 1,4 milhões de trabalhadores estão realizando atividade no setor de transporte de passageiros e de mercadoria através de aplicativo instalados em aparelhos tecnológicos. 
Devido à situação pessimista do trabalho formal, as pessoas estão em busca de alternativas de trabalho que garantem alguma forma de subsistência ou complementação de renda. Nesse contexto, os indivíduos precisam ganhar dinheiro para sobreviver, surgindo então os chamados desvios de trabalho. Este modelo oferece um estilo mais informal, flexível e sob demanda, afinal, são 13,5 milhões de pessoas desempregadas no Brasil, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE.
Pronuncia-se como uma generalização e disseminação das características estruturais da vida dos trabalhadores marginalizados, que vivenciaram um caminho de instabilidade e falta de identidade profissional, repleta de insegurança e carência de redes tradicionais de proteção.
O nome "uberização" deriva do conceito da plataforma de transporte Uber (a plataforma que expandiu um aplicativo móvel que possibilita que os consumidores peçam um carro. Em seguida, esse pedido é direcionado a um driver de aplicativo, e o mesmo irá buscar o indivíduo que solicitou, conectando então, o cliente com o prestador de serviço), sendo usado como um processo de personalização e invisibilidade crescente das relações de trabalho, o emprego remunerado tornando-se cada vez mais invisível. 
Com a expansão global da chamada Indústria 4.0, em curso ainda mais acentuado durante a pandemia, se não forem criadas barreiras e confrontações sociais fortes, teremos uma ampliação exponencial de trabalho morto, por meio do crescimento do maquinário informacional-digital. Tais alterações trarão, além da redução quantitativa do trabalho vivo, profundas transformações qualitativas, uma vez que o trabalho morto, ao ampliar seu domínio sobre o trabalho vivo, aprofundará ainda mais a subsunção real do trabalho ao capital, nessa nova fase digital, algorítmica e financeira que pauta o mundo corporativo de nosso tempo. (ANTUNES, 2020).
O autor Ricardo Antunes nos faz refletir principalmente com relação ao surgimento da pandemia do COVID-19, que devastou o mundo, e ainda continua atualmente, tornando-se uma tendência contínua executada por empresas globais e intensificada. Impulsionada pela tecnologia da informação e comunicação (TIC), o aumento dos aplicativos progride e expande exponencialmente o proletariado da informação (infoproletariado) ou proletariado em rede (ciberproletariado).
 Tom Slee, em sua obra: Uberização - a nova onda do trabalho precarizado,faz um questionamento que é válido ser observado:
Se o pagamento é realmente tão baixo, por que tantas pessoas dirigem para a Uber? Para quem tem carro, dirigir para a Uber é uma maneira de converter esse capital em dinheiro; alguns subestimam os custos envolvidos em dirigir em tempo integral; para alguns, flexibilidade é uma vantagem, para outros, dirigir para a Uber oferece o que ser taxista ofereceu por muitos anos – um trabalho que requer pouca habilidade, e que tem um baixo custo de largada, é melhor do que ficar em casa sem fazer nada. Além disso, à medida que a Uber reduziu a demanda por táxis em muitas cidades, as rendas dos taxistas caíram, deixando a Uber como a melhor opção (SLEE, 2017, p. 119). 
Em comparação com os táxis tradicionais, o preço é mais acessível, tem maior capacidade de controle do fornecedor de serviço, e o pagamento por serviços de transporte são postados diretamente no cartão de crédito do passageiro. Suas vantagens são: livre escolha de horários e tarefas, sendo também uma alternativa para o desemprego; já a grande desvantagem é que ser Uber é um trabalho instável.
Tendo em vista que o trabalhador é obrigado a investir em ferramentas de trabalho, a própria plataforma digital é propriedade do trabalhador, e é preciso usá-la para conseguir trabalhar. Para a criação da plataforma e sua disponibilidade em um extenso ambiente geográfico, o Uber precisou pelo menos fazer investimento em desenvolver e melhorar sua tecnologia, atividades de marketing e gestão financeira, pesquisa de mercado, descontos em preços, publicidade, entre outros. Isso requereu a compra de força de trabalho relacionada aos setores de finanças, marketing e tecnologia. 
O motorista do aplicativo precisa ser responsável pelo custo de adição de categorias à Carteira Nacional de Habilitação (CNH) para atividades remuneradas (caso não possua), bem como pelo custo da prestação de atividades, como carros, combustível, seguros, manutenção de veículos, como também a água e os doces para seus clientes. Em alguns casos, a compensação que os motoristas recebem dificilmente pode cobrir todas as suas despesas, especialmente quando consideramos que muitas pessoas financiam o carro para essa atividade ser exercida. 
Inclusive, se o motorista recusar a várias corridas, há a possibilidade de ser desconectado ou suspenso da plataforma. Os motoristas precisam obedecer vários padrões definidos pela empresa, como não priorizar o atendimento a pessoas que conheçam, não repassar números pessoais a clientes em corridas particulares, etc. 
Com isso, proporciona então, um regime de trabalho "informal" aos colaboradores, não só isso, mas também requerem que os motoristas possuam circunstâncias objetivas para o desempenho das atividades. Sendo assim, os motoristas que empregam por meio de aplicativos de transporte urbano são responsáveis ​​por possuir os principais materiais de produção da atividade, como automóveis, smartphones operando junto à internet, seguros, combustível, e quaisquer despesas incorridas em acidentes ou clientes. 
II. DESENVOLVIMENTO
A uberização no contexto trabalhista é uma prestação de serviços contemporânea, que age independente e sem o intermédio de uma empresa ou um empregador. Este termo nasceu juntamente com a empresa Uber, que foi fundada em 2009 e instaurada no Brasil em 2014. A Uber ofereceu uma plataforma digital em que o motorista autônomo se conecta com o usuário do aplicativo para prestar serviço de locomoção.
A empresa mencionada sempre fez questão de deixar claro que não emprega nenhum motorista, não é dona de nenhum carro e resume-se apenas a uma plataforma tecnológica para que os profissionais autônomos possam ganhar dinheiro localizando-se pessoas que queiram fazerem uso de seus serviços. Entretanto, recentemente, conforme artigo publicado na revista eletrônica Consultor Jurídico por Nathalia Caroline Fritz Neves e Juliana Dias Carneiro:
“Nos últimos meses, importantes cortes judiciais de outros países proferiram decisões nas quais foram reconhecidos o vínculo empregatício ou alguns direitos trabalhistas entre prestadores de serviços de aplicativos e afins com as empresas que gerem as plataformas de fornecimento de serviços, reaquecendo os controversos debates sobre o tema.” (2021).
Já no Brasil, o Tribunal Superior do Trabalho (TST) reconheceu, em dezembro de 2021, o vínculo empregatício entre motoristas da Uber, 99 e Cabify, abrindo assim um precedente.
“Com dois votos favoráveis, a 3ª Turma do Tribunal Superior do Trabalho (TST) já formou maioria pelo reconhecimento do vínculo empregatício de motoristas com os aplicativos da Uber, 99 e Cabify, na última quarta-feira (15).”
Um ano antes, em dezembro de 2020, o relator do processo, ministro Maurício Godinho Delgado, manifestou-se favoravelmente ao reconhecimento do vínculo empregatício, afirmando em seu voto ser “clara a subordinação desses trabalhadores das empresas”, além de também afirmar que o serviço realizado só é possível pois existe uma entidade “empresarial gestora extremamente sofisticada, avançada, de caráter mundial, a qual consegue realizar um controle minucioso da prestação de serviço”, anulando os argumentos fundamentais das empresas de aplicativo, a independência e liberdade dos motoristas para trabalharem, ou não, nos horários que desejam.
Faz-se importante mencionar que um profissional nesta área não possui características de contribuinte previdenciário, exceto se optar por ser contribuinte previdenciário individual, e ao final de anos de parceria com a plataforma não terá nenhum direito trabalhista, além de gerar um risco material de perder a renda em caso de incapacidade laboral. 
A uberização permitiu que qualquer indivíduo que possuísse um veículo pudesse trabalhar, apresentando uma alternativa para os muitos desempregados, contudo essa flexibilização também apresenta as controvérsias supracitadas, que são expostas por Ludmilla Costhek Abílio:
“A flexibilização também pode ser compreendida mais simplesmente como as formas contemporâneas de eliminação de direitos associados ao trabalho e, ainda mais do que isso, da transferência de riscos, custos e trabalho não pago para os trabalhadores. Essa transferência envolve a extensão do tempo de trabalho, assim como sua intensificação, em formas mais ou menos reconhecíveis.”
Outra virada expressiva relacionada à chamada precarização ou uberização do trabalho é acerca dos acidentes de trabalho. Sabe-se que quando o indivíduo sofre acidente relacionado ao exercício do trabalho, a depender da duração do afastamento, a empresa, ou o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) prestarão os benefícios cabíveis. Por estes indivíduos trabalharem na informalidade, sem carteira assinada, não recorrem à Previdência e consequentemente não são contemplados com o auxílio a que tem direito, além de gerar subnotificação dos casos de acidente de trabalho. 
A exemplo, a própria Uber possui um teto para o valor do seguro de R$ 100.000,00 (cem mil reais), mesmo para os casos de morte, além de uma cobertura máxima de R$ 15.000,00 (quinze mil reais) para despesas médicas, de modo que quaisquer despesas excedentes demandam acionamento da Justiça ou tão.
Outrossim, no cenário da pandemia de COVID-19 essa problemática em relação aos benefícios previdenciários assegurados ao trabalhador se intensificou ainda mais. Conforme parecer de 2020 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), os trabalhadores autônomos ou da chamada gig economy são atingidos mais desproporcionalmente pela doença, justamente pela falta de acesso aos referidos amparos sociais. 
Uma medida essencial para a proteção das pessoas e prevenção de mortes nesse contexto foi o isolamento social, daí o crescimento exponencial da modalidade home office. Ora, aos trabalhadores informais afetados pela uberização não é facultado “ficar em casa”, pois a natureza do trabalho do qual necessitam para subsistir demanda circulação nas ruas. 
Estando esses indivíduos sujeitos à perda da renda caso acometidos por qualquer incapacidadelaboral, desprovidos de amparo estatal por conta da informalidade, e reféns das políticas assecuratórias rígidas da empresa de que são pseudoempregados, tornou-se questão de sobrevivência a exposição ao vírus, mesmo que, paradoxalmente, estivessem assim arriscando as próprias vidas e de outras pessoas também. Ou, na melhor das hipóteses, essas pessoas vulneráveis tiveram de acumular vários trabalhos informais que possibilitassem a permanência em casa, ainda assim pondo em xeque sua qualidade de vida.
A flexibilização da caracterização do empregado promovida por empresas como a Uber através das nomenclaturas de “empreendedor” e “autônomo”, em realidade têm servido apenas para vender uma falsa ideia de autogerenciamento e despir o trabalhador de seus direitos. Trata-se da epítome da lógica trabalhista neoliberal, na qual o indivíduo é obrigado a trocar o amparo social que lhe é constitucionalmente estabelecido, pela precariedade planejada e arbitrada por gigantes empresariais, afim de não ser sufocado ou excluído do próprio mercado de trabalho, como foi o caso de muitos taxistas convencionais em relação à Uber.
Importante mencionar que uma das bases para a defesa dessa flexibilidade aparente conquistada pelo trabalhador no serviço informal está na projeção de que a expansão tecnológica inevitavelmente tenderá à superação da mão de obra humana, ou seja, a velha máxima de que as máquinas substituirão as pessoas em breve. Assim, a insegurança sobre um futuro próximo prometido há tempos mas que nunca chega é também fator para a adesão de novas configurações de trabalho que buscam “enxugar” o Direito do Trabalho, supostamente desatualizado em relação a essa transformação do mercado. 
Em primeiro lugar, cumpre pontuar que essa superação é um mito. Conforme destacado por Ricardo Antunes (pp. 26-27, 2018), a retração da classe trabalhadora frente ao avanço tecnológico não se comprovou nem mesmo nos chamados países de primeiro mundo, de modo que seria ainda mais improvável sua ocorrência em países como o Brasil, de notável industrialização tardia. 
Posteriormente, não se pode esquecer da própria função e posição do trabalho dentro do capitalismo, pois, diferentemente daquele que detém os meios de produção, ao empregado só é conferida a opção de vender sua força de trabalho para prover a própria subsistência. Significa dizer que, enquanto uma sociedade for capitalista o trabalho se adaptará a essa lógica, mais jamais deixará de existir. 
Precisamente pela inevitabilidade da exploração do trabalho no âmbito do capital, faz-se indispensável um sistema de proteção à parte mais fraca dessa relação desproporcional, o empregado, sobre o qual o empregador exerce poder. Essa é a razão principal pela qual a ascensão da precarização do trabalho é um problema a ser combatido, e por que não se pode suplantar o referido sistema com uma liberdade econômica e empregatícia absoluta. 
III CONCLUSÃO 
O baixo custo oferecido para os clientes, a facilidade na exposição do negócio para a população e a redução considerável dos custos do serviço foram alguns dos fatores cruciais para que o mercado passasse a substituir velhas prestações de serviços pelos serviços tipificados por esses aplicativos intermediadores. Dessa forma, motoristas e entregadores foram perdendo seus empregos celetistas, pois os empresários consideravam mais lucrativas as relações de trabalho sem vínculos empregatícios.
Um dos principais problemas que permeia essa nova estrutura de trabalho é a absoluta ausência de obrigações e direitos trabalhistas entre as partes, ou a presunção dessa ausência. Nesse contexto, o prestador de serviços passa a ser uma mera força de trabalho, sem qualquer garantia ou direito dentro, porém, de uma clara relação de emprego.
Não há valores mínimos salariais, folgas, horas extras e todo e qualquer prejuízo é absorvido pelo trabalhador gerando um modelo injusto de transferência de riscos, custos e responsabilidades sem qualquer regulamentação legal.
Dessa forma, mesmo com a inequívoca relação de trabalho, leis como a CLT e a Lei 12.009/09 que regulam, por exemplo, relações de trabalho relativas a essas classes de profissionais são totalmente ignoradas apenas pelo fato do serviço ser operado por meio de aplicativos tecnológicos, o que resulta em uma contradição uma vez que, atualmente, qualquer empresa possa vir a ser tecnológica ou virtual sem que haja a perda das relações de empregos entre ela e os seus funcionários.
É importante salientar que não basta apenas que os tribunais passem a rever seu panorama em relação a esses vínculos de emprego de maneira legal. Deve-se também buscar a intelecção de tais fatos por meio dos princípios do Direito do Trabalho para os casos atuais e a elaboração ou regulamentação de tais fatos jurídicos para os casos futuros, visando sempre a proteção do trabalho e do trabalhador.
De qualquer forma, a uberização no Brasil não deve ser tida como mais uma relação de trabalho entre partes sem qualquer relação patronal, tentado adequá-la a clássica legislação celetista.
Ela deve marcar o pioneirismo de uma nova legislação trabalhista, mais moderna e de igual proteção ao trabalhador brasileiro. O Direito do Trabalho deve, então, evoluir com a tecnologia e não somente aceitar ser subjugado por tais inovações de relações que sempre existiram no Brasil.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ABILIO, L. (2017) Uberização do trabalho: A subsunção real da viração, Site Passapalavra/ Blog da Boitempo. Disponível em: https://blogdaboitempo.com.br/2017/02/22/uberizacao-do-trabalho-subsuncao-real-da-viracao/. Acesso em: 17 jan. 2022.
ANTUNES, Ricardo; BRAGA, Ruy. Infoproletários: degradação real do trabalho virtual. São Paulo: Boitempo, 2009.
ANTUNES, Ricardo. O privilégio da servidão: o novo proletariado de serviços na era digital. São Paulo: Boitempo, 2018, pp. 26-27.
ANTUNES, Ricardo. Uberização, trabalho digital e indústria 4.0. 1. ed. São Paulo: Boitempo, 2020. 
CARVALHO, Igor. TST reconhece vínculo empregatício entre motoristas e Uber, 99 e Cabify: “Abriu o precedente”. 20 de dezembro de 2021. Diispoivel em: < https://www.direitonews.com.br/2021/12/tst-vinculo-empregaticio-motoristas-uber-99.html?fbclid=IwAR09LD3NAX2zE4drdvd23pm0-nhgK9T2bHrNwUrtB_LXpAlSuny-Quk6yoM&m=1> Acesso em: 17 jan. 2022
DUTRA, Renata Queiroz; COUTINHO, Raianne. Aceleração social, uberização e pandemia: quem precisa do direito do trabalho?. Revista Direito.UnB, Brasília, V. 04, N. 02. Mai./Ago.2020. Disponível em: https://repositorio.unb.br/handle/10482/39545. Acesso em 23
FERRAZ, D. L; FRANCO, D. S. Uberização do trabalho e acumulação capitalista. Cad. EBAPE.BR, v. 17, Edição Especial, Rio de Janeiro, Nov. 2019. Disponível em: https://www.scielo.br/j/cebape/a/9NJd8xMhZD3qJVwqsG4WV3c/?format=pdf&lang=pt. Acesso em 02 dez. 2021.
IBGE – INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Desemprego. 2012. Disponível em: https://www.ibge.gov.br/explica/desemprego.php. Acesso em 01 dez. 2021.
RAPOSO, Clarissa Tenório Maranhão. A Escravidão Digital e a super exploração do trabalho: consequências para a classe trabalhadora. Revista Katálysis, Florianópolis, V.23, N. 3, p.510-518, Set./Dez.2020.
MARCUSE, Herbert. A ideologia da Sociedade Industrial. Ed 4. Rio de Janeiro: Zahar Editores: 1973.
NEVES, Nathalia; CARNEIRO, Juliana. O fenômeno da 'uberização' das relações de emprego: análise de Direito Comparado. Revista Consultor Jurídico, 29 de outubro de 2021, 15h07. Disponível em: <https://www.conjur.com.br/2021-out-29/opiniao-fenomeno-uberizacao-relacoes-emprego> Acesso em: 17 jan. 2022
SLEE, Tom. Uberização: a nova onda do trabalho precarizado. São Paulo: Elefante, 2017.

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