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LIVRO DOS TODOS OS TEMAS - COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO

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METODOLOGIA 
DO ENSINO DA 
LINGUAGEM 
Roberta Spessato
História da língua 
portuguesa: alguns 
apontamentos
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
  Reconhecer a origem da língua portuguesa e a importância do seu 
estudo.
  Identificar as diferenças entre a língua portuguesa e o português 
brasileiro.
  Relacionar as variações da língua portuguesa de forma didática.
Introdução
Um dos maiores desafios das aulas de português diz respeito, sem dú-
vida, ao tratamento que o professor deve dar à variação linguística e aos 
saberes gramaticais. Para que os desafios não sejam tão perturbadores, 
é preciso conhecer não somente a origem da língua portuguesa, mas 
também contrastá-la com a sua história no Brasil.
Neste capítulo, você vai estudar a origem da língua portuguesa. Você 
também vai ver quais são as principais diferenças entre a língua portu-
guesa europeia e a brasileira. Além disso, vai conhecer alguns contrastes 
entre ambas.
1 A origem da língua portuguesa
Os estudos linguísticos representam uma das mais antigas ciências exis-
tentes na humanidade. Neves (2004) pontua que os primeiros estudos sobre 
a natureza da linguagem foram desenvolvidos pelos gregos por volta do 
século V a.C.
Nas primeiras manifestações investigativas, a língua era estudada em uma 
perspectiva filosófica, em que representava a expressão do pensamento. Aos 
poucos, questionamentos sobre flexão verbal, estruturas e outros elementos 
foram surgindo, juntamente às transformações linguísticas. De acordo com 
Silva (1996), foi com o latim clássico, em Roma, no século I d.C., que ocorre-
ram os primeiros estudos gramaticais de uma língua diferente do grego. Com 
os estudos atuais, sabe-se que a língua é um reflexo social e uma forma de 
imperialismo e unificação cultural.
O Império Romano e a sua dominação foram decisórios para a formação das 
línguas neolatinas atuais. Os romanos, além de estudiosos, desenvolveram o con-
ceito de civilização e deixaram várias construções como legado. A sua dominação 
não foi repentina; pelo contrário. Estudos alegam que os romanos chegaram à 
península por volta de 206 a.C. e, desde então, iniciaram um processo de dominação 
territorial. Com essa dominação, a língua latina foi imposta em todo o território. 
Assim, após séculos de plurilinguismos, diversos idiomas foram deixando de ser 
usados pelos habitantes, e o latim passou a ser a língua predominante.
Embora tenha existido uma imposição linguística, a sociedade compro-
vadamente se modifica, e a língua é um dos espelhos sociais; ou seja, se a 
sociedade não é uniforme, a língua tampouco o será. Portanto, assim como há 
variantes linguísticas nas línguas contemporâneas (como mostram os estudos 
sincrônicos atuais), o latim também possuía “subdivisões”: o latim clássico e 
o latim vulgar. O primeiro era usado pelas classes dominantes do Império e 
também por poetas, senadores, filósofos, etc. Ele se caracterizava por ser o latim 
correto, culto. O segundo, além de ter características de outros idiomas falados 
pelos povos dominados, era utilizado pelas classes consideradas mais baixas.
Por muitos séculos, Portugal passou por diferentes guerras e invasões; 
concomitantemente, a língua portuguesa foi se transformando até configurar 
o idioma que você conhece atualmente. Segundo Cardeira (2006), há quatro 
fases primordiais para a língua portuguesa: o português antigo ou arcaico, o 
português médio, o português clássico e o português moderno.
No século XIII, no reinado de D. Dinis, o português arcaico foi adotado 
como língua escrita. Esse idioma, de acordo com a autora, foi utilizado no 
pacto de Gomes Pais e Ramiro Pais (1173–1175) e no testamento de Afonso 
II (1214), entre outros documentos escritos em português antigo. No entanto, 
em função da diversidade linguística, ao lado do português antigo, com os 
trovadores, se originava a produção poética galego-portuguesa.
O português médio, não sendo ainda a língua escrita por Camões, floresceu 
no início do século XV. Essa época é fundamental para a autonomia da língua 
portuguesa, pois o seu uso passou a fazer parte da cultura de Portugal. Cardeira 
História da língua portuguesa: alguns apontamentos2
(2006, p. 64) afirma que “[...] um processo de grande expressão do português a 
partir do século XV é a relatinização do português [...]”, pois mesmo que a língua 
portuguesa tenha atingido a sua autonomia em estudos escolares e na universidade 
apenas no século XVII, o primeiro passo foi dado, pelo menos, 200 anos antes. 
Além disso, essa fase se caracterizou por separar o galego do português.
A expansão da língua portuguesa foi resultado da necessidade de afir-
mação nacional e de consolidação de uma nova monarquia, o que ocorreu 
juntamente às grandes navegações. Como você viu, no Império Romano, o 
latim se tornou a língua oficial por uma questão de imposição linguística, 
o que também ocorreu com o português. Somente com a queda do Império 
Romano, com a crise feudal e com a proclamação de independência pelo rei 
D. Afonso Henriques, o país renasceu para uma nova época: a época das 
grandes navegações e dos descobrimentos. A história se repetiu, pois os que 
antes foram dominados passaram a ser os desbravadores e dominadores, e a 
sua dominação incluía a imposição linguística.
A época das grandes navegações foi essencial para a formação do por-
tuguês clássico. Com o avanço das conquistas, os portugueses descobriram 
novas terras, novas línguas e novas realidades. A relação com o catolicismo 
e a necessidade de dominação cultural oficializaram não apenas a língua 
portuguesa, mas também a espanhola. Portugal e Espanha foram duas nações 
muito fortes na época do descobrimento do Brasil. O reino de Castela, que 
deu origem à língua espanhola, se viu diante do mesmo problema de Portugal: 
precisava dominar as novas nações conquistadas. Além disso, segundo Azeredo 
(2001), essa fase foi marcada pelo Renascimento Cultural e Urbano (séculos 
XV a XVIII), e nele surgiram as primeiras gramáticas das línguas vernáculas.
Portanto, a primeira gramática das línguas neolatinas ou românicas foi a 
gramática espanhola, nomeada Gramática de la lengua castellana e escrita por 
Elio Antonio de Nebrija em 1492. Portugal, após chegar ao Brasil, em 1500, 
percebeu a mesma necessidade, então a normatização da língua foi iniciada. 
A primeira gramática da linguagem portuguesa, de Fernão de Oliveira, data de 
1536, enquanto a gramática de João de Barros foi publicada em 1540. Ambas 
foram fortemente inspiradas nas gramáticas clássicas.
Essa fase foi substancial para o português. Junto com a primeira gramática 
do português, o último auto de Gil Vicente é representado e, ainda, nessa 
mesma época, se fundou o Santo Ofício da Inquisição. Gil Vicente estabelece 
a ponte linguística e cultural entre o português médio e o clássico. Além disso, 
a língua não é mais vista pelos portugueses somente como forma de comu-
nicação, mas como objeto em si. Ou seja, a noção da importância linguística 
para a consolidação de um império é estabelecida.
3História da língua portuguesa: alguns apontamentos
O interesse pela língua como objeto a ser estudado, organizado e planifi-
cado é reflexo do Humanismo. As gramáticas e os dicionários surgem de um 
movimento europeu que tinha o objetivo de unificar e defender as línguas 
nacionais. A partir disso, Cardeira (2006, p. 69) afirma que “[...] nacionalismo, 
ideal unificador e expansionista traduzem-se em preocupação com o ensino 
da língua portuguesa. Multiplicam-se as gramáticas, os vocabulários e as 
cartilhas [...]”.
No fim do século XVII, o português era uma língua em expansão, sendo 
disseminado por escritores renomados até os dias atuais. O racionalismo dos 
séculos XVII e XVIII, na óptica de Azeredo (2001), reforçou a ligação entre 
a linguagem e o pensamento, considerando “abusos” ou “imperfeições” tudo 
o que estivesse fora dessa concepção de língua.
Embora os séculos XVII e XVIII sejammomentos importantes para a 
consolidação da língua portuguesa, eles fazem parte de um período transitório. 
O século XVIII simboliza a nova fase do português: o português moderno.
Em 1759, a Companhia de Jesus é expulsa de Portugal e o monopólio educa-
cional jesuítico se acaba. Com isso, constitui-se a Escola dos Nobres e a Academia 
Real da Ciência e reforma-se a universidade. O ensino de língua portuguesa 
e línguas modernas passa a integrar o currículo escolar e pesquisas de cunho 
linguístico começam a fazer parte da educação portuguesa. Uma consequência 
desse ensino foi a fixação da norma culta, o que se reflete até os dias atuais.
Todavia, embora o século XVIII tenha sido substancial para o português 
moderno, Portugal viveu uma história paradoxal em sua existência. Veja:
Quando se inicia o português moderno, no século XVIII, Portugal encontra-se 
dividido entre Europa e Brasil e entre um pensamento conservador e uma nova 
mentalidade. Na Europa, as inovações tecnológicas “iluminavam” o conhe-
cimento; no Brasil, as riquezas agrícolas e minerais atraíam a emigração e 
alimentavam, em Portugal, um trono absolutista e uma aristocracia nobiliária 
e clerical (CARDEIRA, 2006, p. 74).
Essa situação perdurou boa parte do século XVIII, mas a coroa não ima-
ginava que o Brasil, no século XIX, seria oficialmente a sua nova casa. Em 
1808, após a invasão francesa, enquanto a Inglaterra combatia os franceses 
em Portugal, a corte portuguesa se instalou no Brasil.
A história da língua portuguesa, a partir dessa data, é demarcada por uma 
nova fase, da qual fez parte a expansão oficial do português culto de Portugal, 
mas também a identidade nacional do português brasileiro como outra língua. 
Conhecer a história da língua portuguesa europeia e a imposição linguística no 
Brasil é fundamental para a compreensão do português brasileiro falado hoje.
História da língua portuguesa: alguns apontamentos4
As grandes navegações se caracterizam pela sua importância em relação à expansão 
territorial portuguesa. Nessa época (entre os séculos XV e XVI), o português atingiu 
todos os continentes; contudo, mesmo após essa visita, a língua portuguesa se “instalou” 
apenas em alguns locais. O português, em decorrência da colonização, é a língua 
oficial no Brasil, na Angola, na República Democrática de São Tomé e Príncipe, em 
Moçambique, na Guiné-Bissau e em Cabo Verde.
2 Português lusitano e português brasileiro
A língua é um refl exo da sua comunidade falante. Para Calvet (2002, p. 12), 
“[...] as línguas não existem sem as pessoas que as falam, e a história de uma 
língua é a história de seus falantes [...]”. Embora exista uma suposta unifi cação 
da língua portuguesa, é necessário explicitar que a língua portuguesa lusitana 
e a língua portuguesa brasileira são duas línguas com duas histórias diferentes.
Anteriormente, você conheceu a origem da língua portuguesa lusitana. 
Como você viu, ela se constituiu, oficialmente, há quase 900 anos, ou seja, 
tem praticamente o dobro da idade da língua portuguesa brasileira. Por isso, 
para que você compreenda as diferenças existentes entre as duas vertentes 
do português, é necessário que reflita sobre a história da língua portuguesa 
no Brasil.
A origem do português brasileiro
A história do Brasil, após as grandes navegações e a chegada do homem branco, 
é marcada pelo plurilinguismo, em função de todos os contatos linguísticos 
que aconteceram desde o século XVI. Mello (2011, p. 175) declara que “[...] 
o contato inicial entre os portugueses e os povos indígenas de línguas tupis-
-guaranis levou à formação da língua brasílica, que chegou a ser falada como 
língua materna por parte da população da área que hoje é a cidade de São Paulo 
[...]”. Na óptica de Battisti (2014), na época do Brasil colonial (1530–1815), 
o português teve contato com as línguas indígenas faladas pelos nativos 
brasileiros e as línguas africanas dos mais de quatro milhões de escravos.
Desde 1500, mesmo que a língua oficial do Brasil tenha sido o português, 
o País nunca foi monolíngue. Como você viu, desde a imposição inicial do 
português, a comunidade já falava línguas indígenas, e o contato não se deu 
5História da língua portuguesa: alguns apontamentos
“apenas” com línguas africanas, mas também com outras nações europeias, 
por exemplo, com os espanhóis, franceses, holandeses e ingleses. E isso se 
refere apenas aos primeiros 300 anos desde o descobrimento. Inclusive, Mello, 
Altenhofen e Raso (2011, p. 13) afirmam que, “[...] ao longo dos mais de 
cinco séculos depois do descobrimento, no território brasileiro, conviveram, 
comunicaram e se misturaram populações ameríndias, europeias, africanas e 
asiáticas. Se a língua-teto foi o português, essa língua conviveu e ainda convive 
em lugares e domínios do repertório com muitas outras [...]”.
Battisti (2014) afirma que foi no Brasil colonial que se consagrou a iden-
tidade nacional, sustentada pela tríade branco, índio e negro. Além disso, 
para a autora, foi também no plano linguístico que surgiram características 
definidoras do português brasileiro, como a colocação de pronomes antes do 
verbo em início de sentença (“Me viu” em lugar de “Viu-me”).
Na visão de Mello (2011), a língua portuguesa se consolidou no Brasil após 
a vinda da família Real, em 1808, e a ampliação da escolarização no século 
XIX. Além disso, para Andreazza e Nadalin (2011), a descoberta do ouro no
século XVIII atraiu a vinda espontânea de outros colonos portugueses sedu-
zidos pela possibilidade de enriquecer com a mineração, o que favoreceu a
ocupação em lugares até então não colonizados, como Goiás e Mato Grosso.
E, obviamente, se fez necessária uma nova leva de importação de africanos.
A situação inicial de plurilinguismo foi gradualmente desaparecendo, e 
o português, paulatinamente, passou de língua oficial a língua efetivamente
falada por uma população mestiça, na qual o branco sempre ocupou o topo
da hierarquia social. Calvet (2002) afirma que existe um conjunto de atitudes
e sentimentos dos falantes para com as suas línguas, para com as variedades
de línguas e para com aqueles que as utilizam. Ou seja, se o homem branco,
português, ocupa o topo da hierarquia social, a tendência é que a sua língua
seja instaurada paulatinamente na sociedade.
A perspectiva linguística desde 
a independência do Brasil
A família real, que vivia no Brasil desde 1808, após a Revolução Liberal do 
Porto, em 1820, teve de voltar à sua terra de origem. O rei, D. João I, havia 
deixado seu fi lho D. Pedro II como governante representante da corte por-
tuguesa; no entanto, em 1822, o príncipe declara a independência do Brasil, 
tornando-se imperador dessa nação.
O português brasileiro se formou a partir de uma língua base portuguesa, 
trazida pelos colonizadores, adquirida como segunda língua por milhões de 
História da língua portuguesa: alguns apontamentos6
africanos e por povos indígenas. Tal língua foi alterada pela influência de outras 
nações europeias desde o início da colonização e continuou em permanente 
evolução por meio de outros contatos linguísticos que ocorreram após 1822.
A partir da independência, segundo Andreazza e Nadalin (2011), construía-
-se uma nova sociedade, em que o objetivo era povoar e branquear a nação, 
ou seja, o imigrante passou a ser extremamente necessário para “trazer o pro-
gresso” e “domar o interior selvagem”. O desenrolar desse propósito permitiu 
que, desde o final do século XIX e em grande parte do século XX, entrassem 
mais de cinco milhões de estrangeiros no Brasil. Ou seja, entre meados de 
1820 e 1970, houve a entrada de imigrantes italianos, alemães, espanhóis, 
ucranianos, poloneses e japoneses para ocupar pequenas propriedades em 
colônias, principalmente no Sul do País.
No entanto, a entrada dos imigrantes, embora tivesse o objetivo de bran-
quear a nação, nem sempre foi vista com bons olhos. Segundo Croci (2011), a 
abolição da escravidão, em 1888, ocorreu devido a um significativo movimento 
de desobediênciados escravizados, resultando na fuga em massa dos afro-
descendentes. Os negros estavam montando suas comunidades quilombolas 
e a mão de obra ficava cada vez mais escassa. Por questões de necessidade e 
por pressão social de parte da sociedade intelectual abolicionista, a Lei Áurea 
foi assinada.
Em função disso, o País viveu numa contradição entre os que detinham 
o poder: enquanto os latifundiários apenas buscavam substituir o trabalho 
escravo, a burocracia imperial e a intelectualidade estavam preocupadas com 
o mapa social e cultural do País. Estas tinham como meta transformar a imi-
gração em um processo civilizatório, com o objetivo de construir a identidade 
nacional. Elas se inspiravam em teorias sobre o branqueamento populacional 
e almejavam a “melhora” da raça brasileira.
Croci (2011) afirma que a entrada de imigrantes europeus foi estratégica 
para a operação de branqueamento da sociedade que estava em formação. 
Mesmo que os imigrantes tivessem “ganhado terras”, as suas condições eram 
subalternas; além disso, quando a sua cultura passou a ser inserida de maneira 
efetiva na sociedade, mesmo brancos, antes desejados, passaram a ser indese-
jáveis. Em função das promessas não cumpridas e das péssimas condições de 
trabalho, o fluxo de saída dos imigrantes europeus foi superior ao de entrada. 
Dessa forma, em 1902, foi expedido, pelo governo italiano, o decreto Prinetti, 
no qual o governo italiano afirmou que o governo brasileiro tratava seus 
imigrantes como “escravos brancos”, proibindo a emigração subvencionada.
Por necessidade de mão de obra, o Brasil conseguiu firmar com o Japão 
uma solução imediata. Portanto, em 1907, Brasil e Japão firmaram um acordo 
7História da língua portuguesa: alguns apontamentos
migratório. No entanto, o governo japonês, além de possuir uma cultura com-
pletamente diferente da brasileira, era mais imperialista do que os governos 
europeus. Por isso, tal acordo não agradou aos governantes, tampouco à elite 
brasileira.
Com o aumento vegetativo e o aumento de imigrantes, em 1900, segundo 
Andreazza e Nadalin (2011), havia 17.318.556 habitantes no território brasileiro; 
em 1960, já eram 70.967.185 habitantes. As metrópoles brasileiras foram se 
formando e se consagrando multiétnicas, assim como configurando a sua 
cultura e a sua variedade linguística. Mello, Altenhofen e Raso (2011, p. 19) 
afirmam que, “[...] apesar de o Brasil parecer um país monolíngue, é um dos 
territórios com maior densidade linguística do mundo [...]”.
Além disso, com os processos de globalização, a internet e o turismo, por 
exemplo, o Brasil, por ser um país ainda muito jovem e pluricultural, absorve 
constantemente novas características na sua fala. Mello (2011) é contra a visão 
de que o português do Brasil é uma evolução linguística do português lusitano. 
Para a autora, não existiu um processo de crioulização e descrioulização, ou 
seja, o português falado no Brasil não se formou apenas a partir da imposição 
do português falado em Portugal, mas também foi composto por inúmeras 
línguas indígenas, africanas, europeias, etc.
A relação atual entre a língua portuguesa brasileira 
e a lusitana
A relação entre a língua do colonizador e a língua do colonizado é um tema 
bastante discutido. Questiona-se, por exemplo, qual é a relação existente entre 
o português brasileiro e o português europeu, ou entre o espanhol europeu 
e o espanhol americano. Trata-se de uma mesma língua, ou estão em jogo 
dois idiomas?
Essa pergunta está continuamente presente na relação entre o espanhol e 
o castelhano, mas não na relação entre o português do Brasil e o português 
de Portugal. Por incrível que pareça, o desconhecimento é algo extremamente 
relevante para tal questionamento. Isso porque existe uma unidade muito maior 
no espanhol, que tem oficialmente 22 países falantes, do que no português, 
que possui cinco.
A unidade presente na língua espanhola e a identidade contrastante entre a 
língua portuguesa brasileira e a lusitana se relacionam diretamente a aspectos 
históricos. Na época do Renascimento e do descobrimento, publicaram-se 
muitas gramáticas latinas inspiradas na literatura greco-romana. Foi nesse 
História da língua portuguesa: alguns apontamentos8
momento, mais especificamente em 1492 (ano de descobrimento da América), 
que o latinista Elio Antonio de Nebrija foi convidado pela coroa de Castela 
(que deu origem à Espanha) para escrever a primeira gramática da língua 
castelhana. Essa publicação é um marco na história das gramáticas das lín-
guas românicas, pois na Europa não havia nenhuma gramática de qualquer 
língua vulgar. O italiano teve sua primeira gramática em 1529, o português, 
em 1536, e o francês, em 1550. A Espanha foi a precursora na normatização 
das línguas latinas vernáculas.
Com a normatização linguística, seria possível não somente criar uma 
unidade linguística para propagar o idioma perpetuamente, mas, principal-
mente, usar a língua como ferramenta na manutenção da unidade dos países 
conquistados. A partir disso, era possível criar material pedagógico para 
ensinar uma língua nacional aos povos colonizados.
O uso de material pedagógico como objeto unificador de um povo foi 
fundamental para todos os países que fizeram parte das grandes navegações, 
inclusive para o Brasil. No entanto, a Espanha, além de vanguardista em relação 
à primeira gramática, em 1713, pela necessidade de manter o controle nas suas 
colônias, inaugurou a Real Academia Española, uma academia linguística 
existente até hoje e que normatiza, aceita as variantes da língua espanhola 
de diferentes países e unifica o idioma. Ela é a referência mundial do que se 
pode ou não aceitar no espanhol.
Não há diferença — nem na prática, nem na teoria — entre o espanhol 
e o castelhano, já que se trata de um mesmo idioma. Assim, a comunicação 
entre um argentino, um espanhol e um chileno, mesmo com sotaques dis-
tintos, é fluida, como no caso de um amazonense e um gaúcho dialogando. 
No entanto, a comunicação entre um português e um brasileiro não obtém 
o mesmo sucesso, pois, mesmo que Portugal tenha se inspirado na Espanha 
para a confecção de sua primeira gramática, a unificação oficial da língua 
portuguesa aconteceu apenas em 2009, com a última reforma ortográfica. 
Essa unidade linguística do português é ilusória, pois não se unifica algo 
artificialmente. Além disso, se não existisse a fala, a gramática nunca nas-
ceria. Em contraste, há uma unidade na língua espanhola que foi imposta e 
construída ao longo de séculos.
Sabendo que a língua é o reflexo da sociedade, ao comparar a história 
do português lusitano à história do português brasileiro, é possível perceber 
que se tratam de duas línguas. E, por mais que exista uma forma padrão no 
português brasileiro, há diferentes variantes que constituem essa unidade 
linguística repleta de identidade.
9História da língua portuguesa: alguns apontamentos
O português do Brasil é uma língua que tem uma unidade dentro da sua 
variedade territorial, mas não tem tal unidade em relação ao seu antigo colo-
nizador. O contato do português no Brasil com diferentes línguas e culturas 
resultou na identidade cultural e linguística desse idioma. Portanto, mesmo que 
existam diferentes sotaques e variações no português brasileiro, a comunicação 
é fluida entre um baiano, um carioca e um mineiro; entretanto, é possível e 
provável que todos tenham dificuldade de se comunicar com os portugueses. 
Ou seja, estão em jogo duas línguas diferentes que carregam a sua história, a 
sua unidade e a sua identidade.
A seguir, veja a linha do tempo da história da língua portuguesa desde o descobrimento 
do Brasil.
  1500 — Ocorre a chegada dos portugueses no Brasil. É o primeiro momento de 
contato linguístico entre as nações.
  1536 — É publicada a primeira gramática da língua portuguesa, escrita por D. Fernão.
  1580 — Começa a ser registrada a língua brasílica ou língua geral paulista. “Tucuriuri” 
significava “gafanhotos verdes”.
  1580a 1640 — Período de dominação espanhola.
  1759 — Marquês de Pombal promulga lei impondo o uso da língua portuguesa; no 
entanto, no território brasileiro, coexistem diversos idiomas indígenas e africanos.
  1808 — A chegada da família real é decisiva para a difusão da língua: são criadas 
bibliotecas, escolas e gráficas (e, com elas, jornais e revistas).
  1819 — A chegada de imigrantes europeus incentiva o branqueamento e as trans-
formações do idioma, com a introdução de diversos estrangeirismos.
  1907 — Inicia-se a imigração japonesa.
  1922 — A Semana de Arte Moderna carrega o português informal para as artes. 
A crescente urbanização e o surgimento do rádio ajudam a misturar variedades 
linguísticas.
  1988 — A Constituição garante a preservação dos dialetos de grupos indígenas e 
remanescentes de quilombos.
  1990 — Com a televisão presente em mais de 90% dos lares, não se constata 
isolamento linguístico.
  2000 — Com a evolução tecnológica, a internet começa a fazer parte da cultura 
brasileira. Devido à globalização, há uma aproximação bastante significativa da 
sociedade brasileira com outras culturas.
História da língua portuguesa: alguns apontamentos10
3 O contraste estrutural entre o português 
do Brasil e o português europeu
Como você pôde perceber, existem dois idiomas, e um deles pode ser con-
siderado a língua materna de outro; ou seja, há o português de Portugal e 
o português brasileiro. Para Câmara Jr. (1976), as diferenças entre a língua 
portuguesa brasileira padrão e a língua portuguesa padrão resultam em dois 
sistemas linguísticos distintos, ou seja, dois diferentes idiomas, como você 
pode ver a seguir:
[...] as discrepâncias de língua padrão entre Brasil e Portugal não devem 
ser explicadas por um suposto substrato tupi ou por uma suposta influência 
africana, como se tem feito às vezes. Resultam essencialmente de se achar 
a língua em dois territórios nacionais distintos e separados (CÂMARA JR., 
1976, p. 30–31).
As evidências linguísticas que organizam as oposições entre o português 
brasileiro e o europeu representam a identidade linguística nacional de cada 
comunidade. Na óptica de Souza (2011), com o avanço da linguística, o centro 
das discussões sobre o português do Brasil ganha outros delineamentos. 
Afinal, busca-se explicar como as línguas, embora aparentadas, funcionam 
em sua estrutura de forma diferente, dando lugar a sistemas ou até mesmo 
idiomas distintos.
Na visão de Perini (2011), hoje, no Brasil, a população urbana e escola-
rizada fala uma variedade do português que pode ser considerada padrão, 
pois se trata da língua falada pela população culta brasileira. O autor afirma 
que concomitantemente há também certo número de variedades não padrão 
(normalmente estigmatizadas), utilizadas nas zonas rurais e por pessoas com 
pouca escolaridade em centros urbanos. E, por fim, há uma língua padrão 
escrita que se diferencia de todas as variedades faladas e que ainda se espelha 
no modelo do português escrito baseado nas gramáticas da língua portuguesa 
europeia.
Assim como há a forma padrão falada pelos brasileiros, há também a forma 
padrão falada pelos portugueses. Contudo, segundo Perini (2011, p. 140), 
“[...] o padrão falado brasileiro difere em muitos pontos importantes do padrão 
falado europeu, de modo que não é ficção falar num português americano, 
em bloco, em face do bloco do português europeu [...]”.
A seguir, veja algumas diferenças sintáticas existentes entre o português 
lusitano e o brasileiro.
11História da língua portuguesa: alguns apontamentos
A morfologia verbal
Em Portugal, segundo Holm (2011), o pronome de tratamento “tu” é informal, 
enquanto “você” é formal. No Brasil, os lugares que usam “tu” o conjugam 
na terceira pessoa do singular, e os lugares que usam “você” o utilizam em 
situações formais e informais. Além disso, os falantes brasileiros não utilizam 
o pronome de sujeito “vós”. De acordo com Perini (2011), o pronome “vos” 
está completamente extinto no Brasil. De maneira geral, há uma redução na 
conjugação verbal no português brasileiro. Por exemplo:
Eu parto
Tu/você/ele parte
Nós partimos
Mello (1997) afirma que os falantes brasileiros utilizam mais os pronomes 
de sujeito do que os falantes portugueses, pois os pronomes são necessários 
para todas as pessoas, menos para as primeiras, uma vez que elas mantêm a 
sua marca flexional distinta.
Na óptica de Perini (2011), a simplificação também é retratada pela subs-
tituição do pronome de primeira pessoa do plural (“nós”) por “a gente”, que 
se conjuga na terceira pessoa do singular. Portanto, o quadro do português 
falado no Brasil, segundo o autor, é o seguinte:
Eu faço
Tu/você/ele/a gente faz
Vocês/eles fazem
O uso dos pronomes em relação à substituição de 
oblíquo por reto
Uma das características mais marcantes do português brasileiro é o uso de 
formas pronominais plenas como objeto direto, em substituição aos clíticos 
esperados pela norma padrão. Por exemplo:
Vi uma calça linda e quero muito comprar ela.
No lugar de:
Vi uma calça linda e quero muito comprá-la.
História da língua portuguesa: alguns apontamentos12
O uso dos pronomes em relação à ordem
O brasileiro tem o hábito de usar o pronome oblíquo para iniciar a oração. 
Por exemplo:
Maria, te comprei um presente.
No lugar de:
Maria, comprei-te um presente.
Tempos verbais
O futuro do presente (“chegarei”), o mais-que-perfeito (“chegara”) e o futuro 
do pretérito (“chegaria”), para Perini (2011), são praticamente inexistentes. 
O autor afi rma que a noção de futuro se expressa pelo presente do indicativo. 
Por exemplo:
Amanhã João vai a Porto Alegre. 
No lugar de:
Amanhã João irá a Porto Alegre.
Também se utiliza a construção “ir” + infinitivo:
Eu vou vender meu carro.
No lugar de:
Eu venderei meu carro.
Os estudos que investigam se o português brasileiro é ou não uma nova 
língua ultrapassam a questão linguística e cultural, pois está em jogo, principal-
mente, uma discussão política. Perini (2011) afirma que há uma nova língua em 
formação no Brasil e em Portugal, já que o processo de afastamento é mútuo.
Ou seja, as diferenças linguísticas abarcam todas as áreas da gramática — 
não só a sintaxe, mas também a fonologia, a morfologia e a semântica. Com 
a evolução da linguística e com o avanço dos estudos linguísticos, há uma 
13História da língua portuguesa: alguns apontamentos
tendência paulatina de separação. No entanto, a ciência, embora com estudos 
e provas cabíveis para a separação dos idiomas, depende do Estado para que 
os estudos saiam das academias e cheguem à comunidade.
Espera-se, portanto, que a história se repita. Isto é, que a autonomia do Brasil 
(não apenas econômica, mas também cultural e linguística) tenha como reflexo 
uma língua chamada não “português brasileiro”, mas apenas “brasileiro”, a 
qual não negará a relação com a sua língua materna, o português.
ANDREAZZA, M. L.; NADALIN, S. O. História da ocupação do Brasil. In: MELLO, H. R.; 
ALTENHOFEN, C. V.; RASO, T. (org.). Os contatos linguísticos no Brasil. Belo Horizonte: 
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In: BISOL, L.; BATTISTI, E. (org.). O português falado no Rio Grande do Sul. Porto Alegre: 
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CÂMARA JR., J. M. História e estrutura da língua portuguesa. 2. ed. Rio de Janeiro: Padrão, 
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NEVES, M. H. M. Que gramática estudar na escola? Norma e uso na língua portuguesa. 
São Paulo: Contexto, 2004.
História da língua portuguesa: alguns apontamentos14
Os links para sites da Web fornecidos neste capítulo foram todos testados, e seu fun-
cionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a 
rede é extremamente dinâmica; suas páginas estão constantemente mudando de 
local e conteúdo. Assim, os editores declaram não ter qualquer responsabilidade 
sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links.
PERINI, M.A. Quadro geral do português do Brasil hoje. In: MELLO, H. R.; ALTENHOFEN, C. 
V.; RASO, T. (org.). Os contatos linguísticos no Brasil. Belo Horizonte: UFMG, 2011. p. 139–155.
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V.; RASO, T. (org.). Os contatos linguísticos no Brasil. Belo Horizonte: UFMG, 2011. p. 241–253.
15História da língua portuguesa: alguns apontamentos
LINGUÍSTICA GERAL 
Marlise Buchweitz
Níveis de linguagem
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
  Definir as características das modalidades escrita e falada da língua 
culta e da língua popular.
  Identificar os contextos de uso da língua culta e da língua popular.
  Reconhecer a necessidade do uso de cada uma das modalidades das 
línguas culta e popular de acordo com os seus contextos.
Introdução
Neste capítulo, discutiremos as características das modalidades escrita e falada 
da língua culta e da língua popular, com maior ênfase na fala devido ao fato 
de, muitas vezes, ser motivo de preconceito e consequente discriminação 
nas mais variadas comunidades linguísticas. Nesse sentido, constataremos 
que não há modos “corretos” ou “errados” de expressar-se, tendo em vista 
que sempre é preciso considerar o contexto em que cada modalidade ocorre.
Também estudaremos os usos das modalidades da língua e as relações 
entre os grupos sociais e as formas como cada um realiza a comunicação. 
Afinal, algumas características devem ser consideradas dentro de uma 
comunidade de fala, pois implicam nos modos como as construções 
linguísticas são organizadas em tal ambiente.
Características das modalidades escrita e falada 
da língua culta e da língua popular
Tanto a língua culta quanto a língua popular, também identifi cada como 
coloquial, possuem variantes que diferenciam as suas modalidades escrita e 
falada. Assim, sempre que ouvimos uma conversa, ainda que não prestemos 
muita ou quase nenhuma atenção ao assunto, somos capazes de formar distintas 
opiniões para qualifi car socialmente os sujeitos envolvidos de acordo com as 
escolhas linguísticas que fazem. Por outro lado, ainda que não dominemos 
as diferenças entre as modalidades da língua, já trazemos conosco certo co-
nhecimento de mundo que nos permite identifi car tais nuances da linguagem.
Camacho (2004, documento on-line) destaca que: 
[...] é possível identificar as características sociais de um falante desconhecido 
com base em seu modo de falar. Podemos facilmente concluir que toda língua 
comporta variedades: (a) em função da identidade social do emissor; (b) em 
função da identidade social do receptor; (c) em função das condições sociais 
de produção discursiva.
Isso quer dizer que as características principais das modalidades escrita e 
falada, sejam da língua portuguesa ou de outros idiomas, são intrínsecas ao 
contexto social dos sujeitos participantes do discurso — oral ou escrito. Por-
tanto, o emissor está sujeito também a variedades geográficas, ou diatópicas, e 
socioculturais, ou diastráticas. Somado a isso, quanto ao receptor e às condições 
sociais, têm-se as variedades estilísticas, ou diafásicas, que se referem ao grau 
de formalidade da situação e ao ajustamento do emissor à identidade social do 
receptor. Nesse sentido, quanto mais o emissor e o receptor mantêm contato 
entre si, mais provável é a semelhança entre os seus modos de comunicar-se.
Por outro lado, outras características interferem a comunicação no que diz 
respeito aos sujeitos que a realizam. Para Camacho (2004, documento on-line):
Fatores como idade, gênero e ocupação motivam o aparecimento de lingua-
gens especiais que contrastam com a linguagem comum por consistirem em 
variedades dialetais próprias das diversas subcomunidades linguísticas, cujos 
membros compartilham uma forma especial de atividade, sobretudo na esfera 
profissional, mas também científica e lúdica.
Podemos perceber o apontado pelo autor ao observarmos diferentes gera-
ções de indivíduos, com especial interesse nas gírias por eles adotadas e nos 
seus jeitos de falar. Quanto às gírias, Camacho (2004, documento on-line) 
destaca que podem estar relacionadas à criação “[...] de neologismos por força 
de necessidades expressivas”, mas também a uma “[...] demanda especial, em 
certos grupos, por forte coesão social, cuja consequência é a exclusão, via 
linguagem, dos que não fazem parte do grupo”. A adoção de gírias com vistas 
à exclusão de sujeitos que não pertencem a certos grupos é constatada com 
maior frequência em comunidades linguísticas integradas por adolescentes 
Níveis de linguagem2
e jovens, o que podemos interpretar como uma maneira de proteger-se de 
críticas ou intromissões provindas de adultos ou idosos, dado o habitual 
conflito entre gerações.
Vale ressaltarmos que a diversidade linguística não pode ser usada para 
separar os indivíduos em função do seu modo de falar ou de escrever. Um 
mesmo falante pode adotar diferentes variantes para expressar-se de acordo com 
o contexto no qual se encontra. Logo, você, como estudante de Letras e futuro 
professor, precisa ter consciência dessa diversidade e deve saber transitar entre 
os distintos modos de expressão para adequar-se da melhor maneira possível 
às situações interlocucionais que se apresentarem na sua trajetória profissional. 
Frente a isso, você jamais deve usar a língua para inferiorizar alguém por, 
supostamente, “falar errado”. A consciência linguística deve fundamentar a 
sua vida docente, já que, em cada contexto, você deve saber como interagir da 
melhor forma com os envolvidos. Por exemplo, na sala de aula da universidade, 
você deve utilizar a norma culta padrão, visto que, no meio acadêmico, ela se 
constrói e serve como mediadora da comunicação; porém, se você estiver no 
bar com os seus amigos, pode usar variações como “cê” em vez de “você”, “tá” 
em vez de “está”, “massa” em vez de “legal” ou “ótimo”, dentre tantas outras, 
possíveis e socialmente aceitáveis em uma conversa informal.
Em suma, uma situação de comunicação e interação qualquer caracteriza:
  o contexto social; 
  o assunto; 
  a identidade do interlocutor/receptor.
O contexto social depende de variedades geográficas, socioculturais e estilísticas
Até este ponto dos nossos estudos, você leu, principalmente, sobre as 
características da linguagem falada. No que concerne à escrita, você deve 
conscientizar-se de que “[...] a pedagogia da língua materna deve valorizar o 
princípio de que todos os falantes são capazes de adaptar seu estilo de fala à 
diversidade das circunstâncias sociais da interação verbal e de discernir que 
formas alternativas são as mais apropriadas” (CAMACHO, 2004, documento 
on-line). Nesse sentido, a escrita deve ser sempre a mais próxima possível da 
3Níveis de linguagemnorma culta da língua. Como professor, você deverá intermediar a construção 
do processo escrito do aluno, gradualmente, isto é, de forma evolutiva. 
Camacho (2004, documento on-line) também destaca que:
Em geral, indivíduos de baixa escolarização e que exercem atividades produti-
vas que não exigem senão habilidades manuais tendem a ser menos estimulados 
quanto à capacidade de operar com regras variáveis (ao menos no âmbito 
de seu trabalho). Nesse caso, como lhe foram vedadas as possibilidades de 
adaptar seu estilo às circunstâncias de interação, a variedade que usam acaba 
representando uma poderosa barreira para toda possibilidade de ascensão 
social que depender de capacidade verbal. Cabe ao sistema escolar cuidar para 
que as formas da variedade-padrão sejam desde cedo ensinadas à criança, 
para que, quando adulto, ela incorpore em seu acervo o máximo possível de 
formas padrão, tornando-se, assim, capaz de adequar a expressão verbal às 
circunstâncias de interação. A pedagogia da língua materna deve valorizar 
o princípio de que todos os falantes são capazes de adaptar seu estilo de fala 
à diversidade das circunstâncias sociais da interação verbal e de discernir 
quais formas alternativas são as mais apropriadas.
Portanto, ainda que, inicialmente, o sujeito em processo de construção 
do seu conhecimento não escreva de acordo com a norma padrão da língua 
e a sua escrita esteja mais próxima da fala, a mediação deverá ser realizada 
pelo professor, com os devidos cuidados em relação a equívocos do aluno. 
Os desvios da norma culta serão normais até que as regras gramaticais sejam 
dominadas, de modo que, conforme ele adquirir o conhecimento necessário, 
a sua escrita se modificará, em um processo natural e gradual. 
A seguir, discutiremos um pouco mais as variações linguísticas.
Variação linguística
As variações linguísticas ocorrem de acordo com o meio no qual os su-
jeitos encontram-se. Cada classe social ou região geográfi ca conta com 
peculiaridades nos modos de falar dos seus membros. Segundo Camacho 
(2004, documento on-line):
[...] toda língua varia, isto é, não existe comunidade linguística alguma em que 
todos falem do mesmo modo e [...], por outro lado, a variação é o reflexo de 
diferenças sociais, como origem geográfica e classe social, e de circunstâncias 
da comunicação. Com efeito, um dos princípios mais evidentes desenvolvi-
dos pela linguística é que a organização estrutural de uma língua (os sons, a 
gramática, o léxico) não está rigorosamente associada com homogeneidade; 
pelo contrário, a variação é uma característica inerente das línguas naturais.
Níveis de linguagem4
Dessa forma, você pode perceber o quanto é importante para a sua trajetória 
profissional entender as peculiaridades das falas dos seus futuros educandos. 
Muitas vezes, os próprios indivíduos, inseridos nos seus contextos, creem falar 
erroneamente, tendo em vista que há uma cultura de “falar certo” ou “falar 
errado” sendo reforçada pelos que desfrutam da norma culta, mas possuem 
sensibilidade bastante para compreender as diferenças sociolinguísticas. Em 
sala de aula, você perceberá que cada educando traz singularidades sociais 
para o contexto escolar, cabendo aos professores o cuidado para evitar dis-
criminações linguísticas na turma.
Vejamos algumas situações de uso da linguagem coloquial nos casos a seguir.
Caso 1
O sujeito reclama à sua mãe: “Farta muito pra essa veia se mexê?”
O que se tem:
  na palavra falta, cuja letra “l” geralmente é representada na fala pelo 
fonema /u/, nesse caso assume o som de /ɾ/;
  na palavra velha, cuja partícula “lh” costuma ser representada na fala 
pelo fonema /ʎ̝ /, nesse caso assume o som de /i/;
  na palavra mexer, ocorre o apagamento do último fonema, /ɾ/, repre-
sentado na escrita pela letra “r”.
Interpretação: provavelmente, o falante é de baixa escolaridade ou provém 
de área rural.
Caso 2
Um vizinho diz ao outro: “Os vizinho não chega nunca pra proseá”.
O que se observa:
  diferença entre as concordâncias nominal e verbal, evidenciada pelo 
artigo definido no plural “os”, anunciando que se seguirá um sujeito 
pertencente também ao plural, sendo que o que se segue é um sujeito 
da 3ª p. sing. (“vizinho” = ele) e um verbo que concorda com essa 
pessoa (“chega”);
5Níveis de linguagem
  a variação lexical “proseá” como sinônimo de “conversar”.
Interpretação: provavelmente, o falante é de baixa escolaridade ou provém 
de área rural de uma região específica do País.
Ademais, cabe destacarmos algumas particularidades da linguagem coloquial:
  a palavra falta possui ‘l’ ao final da primeira sílaba;
  se comparada a uma palavra com ‘l’ no início da sílaba, como lápis 
ou ladeira, as mesmas substituições do fonema /l/ por /u/ ou /ɾ/ não 
sucederão, uma vez que nenhum falante nativo da Língua Portuguesa 
pronunciará “rápis”, embora fale “farta”, conforme o caso 1;
  é comum ouvirmos “Os vizinho não chega”, mas jamais “O vizinhos 
não chegam” de um falante nativo, motivo pelo qual podemos afirmar 
que o primeiro enunciado é gramatical e o segundo, agramatical.
Tais observações indicam que há uma regra para a variedade popular, 
“[...] motivada pela organização sintática do Português, que permite a 
ausência de pluralidade nos últimos constituintes de uma locução, mas 
não no primeiro da série, que, via de regra, deve vir marcado com o plu-
ral” (CAMACHO, 2004, documento on-line). Posto isso, Camacho (2004, 
documento on-line) afirma que: 
[...] esses fatos linguísticos nos levam a concluir também que a variação não é 
um processo sujeito ao livre arbítrio de cada falante, que se expressaria, assim, 
do jeito que bem entender; muito pelo contrário, a variação é um fenômeno 
regular, sistemático, motivado pelas próprias regras do sistema linguístico.
Portanto, enquanto professor de linguagens, você deve estar ciente de que 
mesmo os falantes da variante popular seguem alguma regra para a formulação 
das suas orações. Em contraposição, eles não seguem as regras da língua culta. 
Nesse sentido, pensar que a língua, seja ela qual for, é única, invariável e que 
há um único modo “correto” de usá-la configura um mito.
Níveis de linguagem6
Camacho (2004, documento on-line) alerta para o fato de que “[...] todas as línguas 
e dialetos (variedades de uma língua) são igualmente complexas e eficientes para 
o exercício de todas as funções a que se destinam e nenhuma língua ou variedade 
dialetal é inerentemente inferior à outra similar [a] sua”.
Além disso, devemos atentar que:
[...] nenhuma forma de expressão é em si mesma deficiente, mas tão 
somente diferente, e todas as línguas e variedades dialetais forne-
cem a seus usuários meios adequados para a expressão de conceitos 
e proposições lógicas; assim, nenhuma língua ou variedade dialetal 
impõe limitações cognitivas tanto na percepção quanto na produção 
de enunciados (CAMACHO, 2004, documento on-line).
Portanto, não esqueça:
  todas as formas de expressão são válidas;
  a língua serve à comunicação;
  tanto a língua culta quanto a língua coloquial seguem uma sequência lógica e 
todos os falantes dessa são capazes de seguir tal sequência.
Contextos de uso da língua culta 
e da língua popular
Ainda que a escrita tenha sido criada tardiamente em relação à oralidade, 
Marcuschi (1997) destaca que, hoje, a escrita permeia quase todas as práticas 
sociais das mais variadas sociedades. Desse modo, ela é usada nos contextos 
sociais básicos, paralelamente à oralidade, os quais são:
  escola;
  família;
  trabalho;
  atividade intelectual;
  cotidiano;
  vida burocrática.
7Níveis de linguagem
Assim, podemos destacar que, no Brasil, a língua culta possui um padrão 
nacional, mas também padrões regionais, além de uma série de padrões ideais 
locais, conforme apontam os pesquisadores no livro organizado por Bagno 
(2004). Isso implica destacar que os contextos de uso das línguas culta popu-
lar estão relacionados às variedades geográficas e socioculturais, conformeestudamos anteriormente neste capítulo.
Os principais ambientes de uso da norma culta são a escola e a academia, 
ou seja, as instituições de ensino. Nesses contextos, os sujeitos podem 
aprimorar os seus conhecimentos da língua, com o intuito de expressarem-
-se com base nas regras que o código escrito exige. Conforme destacado 
previamente, você precisa ter o devido cuidado ao corrigir os desvios da 
norma, o que sempre deve ser feito de forma didática e conscientizando os 
educandos dos motivos pelos quais tal variedade não é adequada à ocasião 
ao invés de, simplesmente, acusá-la de inaceitável, “errada”. Ademais, 
você deve respeitar o tempo de cada educando, posto que o processo de 
aquisição da língua é distinto para cada um. Em uma mesma sala de aula, 
você poderá se deparar com diferentes níveis de aprendizagem da norma 
culta da língua, a depender dos sujeitos que se apresentarem.
Todavia, atentemos ao fato de que a língua culta não se limita aos es-
paços escolar ou universitário. O que podemos analisar é que, nos meios 
escolar e acadêmico, existe a possibilidade de reflexão e de aprendizado 
sobre a língua no âmbito das suas mais diversas variantes. Frente a isso, 
é importante perceber que a norma culta é uma forma universal, ou seja, 
uma modalidade da linguagem à qual todos os sujeitos do País devem têm 
acesso — ou deveriam ter — por meio do ensino. Desse modo, quando o 
objetivo de um texto — escrito ou falado — é ser lido por todos os sujeitos 
de um país, é necessário adotar a norma culta. Por outro lado, quando se 
está em um contexto local ou regional qualquer, é possível usar variantes 
específicas daquele lugar para ser compreendido.
Níveis de linguagem8
O uso de cada uma das modalidades das línguas 
culta e popular de acordo com os seus contextos
Guy (2000) defi ne o que é uma comunidade de fala, atribuindo-lhe algumas 
características.
  Características linguísticas compartilhadas: palavras, sons e cons-
truções gramaticais utilizadas dentro da comunidade, mas que não 
são usadas fora dela.
  Densidade de comunicação interna relativamente alta: diz respeito 
à frequência com que as pessoas se comunicam dentro do grupo, sendo 
maior do que em relação a pessoas de fora dele.
  Normas compartilhadas: ações em comum frente ao uso da língua, 
normas em comum frente à direção da variação estilística, avaliações 
sociais em comum frente às variáveis linguísticas.
São essas especialidades do modo de comunicação dentro de um grupo de 
indivíduos que permitem os usos de cada uma das modalidades da língua culta 
e da língua popular. Os sujeitos utilizam as diferentes modalidades da língua 
sem precisarem ser advertidos a respeito. A construção da comunicação se 
estabelece segundo essas características de modo natural. Quando um sujeito 
inicia sua jornada escolar, pressupõe-se que ele aprenderá a ler e a escrever 
conforme as normas da língua culta. Por outro lado, quando um candidato à 
eleição de algum cargo público faz campanha em um bairro periférico de classe 
social mais baixa, ele busca adequar o modo de expressar-se àquele grupo, 
pois, em geral, pressupõe que o grau de escolaridade da comunidade não é 
muito elevado devido às condições de acesso à educação daqueles sujeitos.
O uso das modalidades da língua culta e da língua popular, portanto, são sempre 
adequados ao contexto em que o falante se encontra. A partir do momento em que 
um sujeito deixa a sua comunidade de fala e insere-se em outra, ou ele adéqua o seu 
modo de falar, ou causa um estranhamento quanto à compreensão da mensagem 
que deseja transmitir. Tal adequação é possível, em nível mais elevado, aos sujeitos 
que compreendem o funcionamento da língua. Por isso, cabe a esses indivíduos o 
papel de mediadores de uma comunicação próxima dos seus receptores.
9Níveis de linguagem
Para compreender a diferença entre as linguagens escrita e falada, o poema de Oswald 
de Andrade (1890–1954), publicado na coletânea Pau Brasil em 1925, é um bom exemplo 
ANDRADE, 2003):
Pronominais
Dê-me um cigarro
Diz a gramática
Do professor e do aluno
E do mulato sabido
Mas o bom negro e o bom branco
Da Nação Brasileira
Dizem todos os dias
Deixa disso, camarada
Me dá um cigarro
Com base no conteúdo deste capítulo, percebemos que é necessário adequar 
o modo de expressar-se ao contexto no qual se está inserido. Poderá ocorrer, 
assim, um estranhamento pela inadequação da norma em alguns contextos, 
o que demonstra a importância de conhecimento da transição que o sujeito 
letrado deve realizar para comunicar-se com os diferentes grupos sociais.
No link a seguir, você pode acessar um vídeo que trata das variantes linguísticas dos 
vestibulares, em especial, discutindo as normas culta e coloquial.
https://goo.gl/898egS
Níveis de linguagem10
ANDRADE, O. Pau Brasil. 2. ed. Porto Alegre: Globo, 2003.
BAGNO, M. (Org.). Linguística da norma. São Paulo: Loyola, 2004.
CAMACHO, R. G. Norma culta e variedades linguísticas. Cadernos de Formação, São 
Paulo, p. 34-49, 2004. Disponível em: <https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/174227/
mod_resource/content/1/01d17t03.pdf>. Acesso em: 14 jan. 2019.
GUY, G. R. A identidade lingüística da comunidade de fala: paralelismo interdialetal 
nos padrões de variação lingüística. Organon, v. 14, n. 28-29, p. 17-32, 2000. Disponível 
em: <https://seer.ufrgs.br/organon/article/view/30194/18703>. Acesso em: 14 jan. 2019.
MARCUSHI, L. A. Oralidade e escrita. Signótica, v. 9, n. 1, p. 119-146, 1997. Disponível em: 
<https://dialnet.unirioja.es/servlet/articulo?codigo=6323097>. Acesso em: 14 jan. 2019.
Leitura recomendada
OFICINA DO ESTUDANTE. Variedade linguística: culta e coloquial. Produção da Oficina 
do Estudante, Campinas, 26 jun. 2017. Vídeo (3 m 51 s). Disponível em: <https://www.
youtube.com/watch?v=eR01yuducm4>. Acesso em: 14 jan. 2019.
11Níveis de linguagem
Conteúdo:
ACENTUAÇÃO
GRÁFICA
Conteúdo:
Michela Carvalho 
da Silva
2
INTRODUÇÃO
Você sabe qual é a função da acentuação gráfica? Já percebeu que ela 
está relacionada a regras, e não à intensidade com que as palavras são 
pronunciadas? Conhece as suas regras conforme o Novo Acordo Ortográfico? 
O Novo Acordo Ortográfico é um apanhado de normas que visam a unificar as 
regras ortográficas em todos os países lusófonos, passando a vigorar a partir 
de 2009 e sendo obrigatório a partir de 2016. 
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM 
Ao final da unidade você deverá ser capaz de:
• Identificar as regras de acentuação gráfica conforme o Novo Acordo 
Ortográfico;
• Demonstrar a utilização dos acentos agudo e circunflexo;
• Selecionar a regra de acentuação adequada a cada palavra.
REGRAS DE ACENTUAÇÃO 
A acentuação gráfica serve para marcar a posição da sílaba tônica de algumas 
palavras que fogem à regra da maioria dos vocábulos da língua portuguesa. 
Acentuamos as palavras para que sejam corretamente lidas e pronunciadas.
Antes de iniciar o estudo das regras de acentuação, é importante definir a 
classificação das palavras conforme a posição da sílaba tônica. Vamos a ela:
Oxítona A sílaba tônica é a última Ex: até, sofá
Paroxítona A sílaba tônica é a penúltima Ex: cadáver, álbuns
Proparoxítona A sílaba tônica é a antepenúltima Ex: trágico, patético
3
Isto posto, passamos às regras de acentuação conforme o Novo Acordo 
Ortográfico, que entrou em vigor com obrigatoriedade a partir de 1º de janeiro 
de 2016 e alterou a acentuação de algumas palavras:
1) São acentuados os monossílabos (palavras compostas por uma única 
sílaba) terminados em: 
a) – a (s): já, lá, vás
b) – e (s): fé, lê, pés 
c) – o (s): pó, dó, pós, sós. 
2) São acentuadas as palavras oxítonas terminadas em: 
a) – a (s): cajás, vatapá, ananás, carajás
b) – e (s): você, café, pontapés 
c) – o (s): cipó, jiló, avô, carijós
d) – em (ens): também, ninguém, vinténs, armazéns. 
3) São acentuadas as palavras paroxítonas terminadas em: 
a) – i (s): júri, cáqui, lápis, tênis 
b) – us: vênus, vírus, bônus
c) – r: caráter, revólver, éter
d) – l: útil,amável, nível, têxtil
e) – x: tórax, fênix, ônix 
f) – n: éden, hífen 
g) – um, – uns: álbum, álbuns, médium 
h) – ão (s): órgão, órfão, órgãos, órfãos 
i) – ã (s): órfã, ímã, órfãs, ímãs
j) – ps: bíceps, fórceps. 
4
IMPORTANTE
1) As paroxítonas terminadas em n são acentuadas, mas as que 
terminam em ens não são. 
Ex: edens, hifens.
2) Os prefixos terminados em i e r não são acentuados. 
Ex: semi, super.
4) Todas as proparoxítonas são acentuadas: cálido, tépido, cátedra, sólido, 
límpido, cômodo. 
5) Casos especiais: 
a) São sempre acentuadas as palavras oxítonas com ditongos abertos -éis, - 
éu(s) ou -ói(s).
Ex: anéis, fiéis, papéis; céu(s), chapéu(s), ilhéu(s), véu(s), herói(s), sóis. 
b) São acentuados o i e u, quando representam a segunda vogal tônica de um 
hiato e desde que não formem sílaba com r, l, m, n, z ou não venham seguidos 
de nh.
Ex: saúde, viúva, saída, caído, faísca, aí. 
c) São acentuadas as vogais tônicas i e u das palavras oxítonas quando, 
mesmo precedidas de ditongo decrescente, estão em posição final, sozinhas 
na sílaba, ou seguidas de s. 
Ex: Piauí, teiú, teiús, tuiuiú, tuiuiús. 
5
IMPORTANTE
Se, neste caso, a consoante final for diferente de s, tais vogais não 
serão acentuadas.
Ex: cauim, cauins.
d) São acentuadas as palavras terminadas por ditongo oral átono.
Ex: ágeis, jóquei, túneis, área, espontâneo, ignorância, imundície, lírio, mágoa, 
régua, tênue. 
e) É acentuada a vogal tônica i das formas verbais oxítonas terminadas em 
- air e -uir, quando seguidas de -lo(s) e -la(s), caso em que perdem o r final. 
Ex: atraí- lo(s), atraí-lo(s)-ia, possuí-la(s), possuí-la(s)-ia. 
f) Leva acento diferencial a sílaba tônica da 3ª pessoa do singular do pretérito 
perfeito pôde, para distinguir-se de pode, forma da mesma pessoa do 
presente do indicativo. 
Observação: A forma verbal pôr continuará a ser grafada com acento 
circunflexo para se distinguir da preposição átona por.
g) A 3ª pessoa de alguns verbos é grafada da seguinte maneira: 
1) quando termina em – em (monossílabos): 
3ª pessoa do singular: ele tem, ele vem
3ª pessoa do plural: eles têm, eles vêm 
2) quando termina em – ém: 
3ª pessoa do singular: ele contém, ele convém
3ª pessoa do plural: eles contêm, eles convêm 
3) quando termina em – ê (crê, dê, lê, vê e derivados): 
3ª pessoa do singular: ele crê, ele revê
3ª pessoa do plural: eles creem, eles reveem 
6
h) As palavras paroxítonas com os ditongos abertos -ei e –oi não são mais 
acentuadas.
Ex: assembleia, boleia, ideia, proteico; alcaloide, boia, heroico, jiboia, paranoico.
SAIBA MAIS
Receberá acento gráfico a palavra que, mesmo incluída neste caso, 
se enquadrar em regra geral de acentuação, como ocorre com 
blêizer, contêiner, destróier, gêiser e outras, porque são paroxítonas 
terminadas em -r.
i) Não se acentuam os encontros vocálicos fechados.
Ex: pessoa, patroa, coroa, boa, canoa; teu, judeu, camafeu; voo, enjoo, perdoo, 
coroo. 
j) Perde o acento gráfico a forma para (do verbo parar) quando faz parte de 
um composto separado por hífen: para-balas, para-brisa(s), para-choque(s), 
para-lama(s). 
j) O trema não é mais utilizado nos grupos gue, gui, que, qui, mesmo quando 
for pronunciado e átono.
Ex: aguentar, arguição, eloquência, frequência, tranquilo. 
Sintetizamos na tabela a seguir as principais regras de acentuação das 
oxítonas e paroxítonas:
TERMINAÇÕES OUTRAS TERMINAÇÕES
a(s), e(s), o(s), em 
e ens
l, n, r, x, os, t, ã(s), ão(s), ei(s), 
i(s), u(s), on(s), um, uns
OXÍTONAS sim não
PAROXÍTONAS não sim
7
REFERÊNCIAS
BECHARA, Evanildo. Moderna gramática portuguesa. 37. ed. Rio de Janeiro: 
Nova Fronteira, 2009.
DESLIGAMENTO
Conteúdo:
João Guterres 
de Mattos
MORFOSSINTAXE I
Patrícia Hoff
Conceitos e interfaces: 
sintaxe e morfologia
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
 � Reconhecer os conceitos de sintaxe e morfologia.
 � Identificar os procedimentos metodológicos na interface.
 � Avaliar a importância da conexão entre sintaxe e morfologia.
Introdução
Livro é um substantivo, certo? Sim, é. E livro também pode ser sujeito 
ou objeto direto, por exemplo. No primeiro caso, a classificação é mor-
fológica; no segundo, é sintática. Esse tipo de análise é possível porque a 
língua é um sistema complexo e pode ser estudada a partir de diferentes 
abordagens e variados enfoques de investigação. O objetivo, no entanto, 
é sempre o mesmo: estudar as funcionalidades da língua. 
Neste capítulo, você vai estudar os conceitos de sintaxe e morfolo-
gia, duas ciências que propõem, respectivamente, a análise da função 
sintática e da classe gramatical dos termos de uma oração como forma 
de estabelecer conexões e significados no texto. Você também vai en-
tender como se dá o funcionamento da formação de palavras, base da 
morfologia, que serve de ferramenta para adaptar palavras em relação 
ao significado que queremos comunicar.
Morfologia vs. sintaxe
Morfologia é a parte da gramática que estuda as palavras de acordo com a 
classe gramatical a que elas pertencem. As classes gramaticais são: substan-
tivos, artigos, pronomes, verbos, adjetivos, conjunções, interjeições, prepo-
sições, advérbios e numerais. Já a sintaxe estuda a função que as palavras 
desempenham dentro da oração, isto é: sujeito, adjunto adverbial, objeto direto 
e indireto, complemento nominal, aposto, vocativo, predicado, entre outros. 
O filho obedece aos pais.
Análise morfológica
 � O: artigo definido masculino singular.
 � Filho: substantivo comum, simples, concreto, masculino singular.
 � Obedece: verbo obedecer, segunda conjugação.
 � Aos: combinação (a – preposição + os – artigo definido masculino plural).
 � Pais: substantivo simples, comum, plural.
Análise sintática
 � O: adjunto adnominal. 
 � O filho: sujeito simples.
 � Filho: núcleo do sujeito simples.
 � Obedece aos pais: predicado verbal.
 � Aos pais: objeto indireto.
O filho tem obediência aos pais.
Análise morfológica
 � O: artigo definido masculino singular.
 � Filho: substantivo comum, simples, concreto, masculino singular.
 � Tem: verbo ter, segunda conjugação.
 � Obediência: substantivo abstrato.
 � Aos: combinação (a – preposição + os – artigo definido masculino plural).
 � Pais: substantivo simples, comum, plural.
Análise sintática
 � O: adjunto adnominal. 
 � O filho: sujeito simples.
 � Filho: núcleo do sujeito simples.
 � Tem obediência aos pais: predicado verbal.
 � Obediência: objeto direto.
 � Aos pais: complemento nominal.
Quando se trata de análise morfológica, os termos da oração são analisados 
isoladamente. Já na análise sintática, eles são analisados de acordo com a sua 
posição, ou seja, de acordo com a função desempenhada.
Conceitos e interfaces: sintaxe e morfologia2
Tradicionalmente, a morfologia estuda os domínios da palavra, enquanto a sintaxe 
estuda os domínios da frase, da oração e do período.
De acordo com o apresentado pelas gramáticas modernas, você deve consi-
derar que a definição de palavra é uma unidade de som composta por vogais, 
consoantes, semivogais, sílabas e acentos que compõem enunciados, além de 
possuírem classificação morfológica. Já a frase trata-se do enunciado em si, 
com capacidade de comunicar, e é analisada sintaticamente.
Estrutura morfológica
Quanto à estrutura, você precisa conhecer alguns elementos importantes na 
formação das palavras:
Morfema: unidade mínima de caráter significativo na palavra. 
Considere a palavra “mesinhas”:
mes — elementos básicos da palavra, radical que a identifica.
inh — indica que a palavra está no diminutivo.
a — indica que a palavra é feminina.
s — indica que a palavra é plural.
Raiz ou radical: é a unidade irredutível da palavra, que concentra o seu 
significado.
Considere a palavra “casa”, cujo radical é cas:
casinha
casebre
casarão
A partir do radical, você pode constituir várias palavras, acrescentado 
outros elementos. 
3Conceitos e interfaces: sintaxe e morfologia
Desinência: é a unidade responsávelpor caracterizar as flexões. Pode ser 
nominal (indicando gênero e número) ou verbal (indicando modo e tempo).
Desinência nominal — menina, menino, criança, crianças.
Desinência verbal — corri, correu, corremos, 
correram, correrias, correrá.
Prefixos: são morfemas inseridos antes da palavra, modificando seu sentido.
Atemporal
Contraindicação
Desconfigurado
Refeito
Sufixos: são elementos acrescentados ao final da palavra, também dando um 
novo significado.
Panfletagem
Casamento
Rinite
Perfeccionismo
A frase no discurso 
Forma e função
O debate da prioridade da forma sobre a função ou da função sobre a forma 
é antigo, e não se limita somente à área da linguística. Porém, a disposição 
em contrariar as abordagens que privilegiam uma ou outra tem sido forte na 
linguística moderna. 
Na abordagem funcionalista, a sintaxe é vista como o reflexo das funções 
comunicativas veiculadas pela frase. A partir desse ponto de vista, forma e 
uso não podem ser divididos em partes na explicação dos fenômenos na área 
da sintaxe. Na abordagem da Teoria da Gramática Gerativa desenvolvida 
por Chomsky, ao contrário, a sintaxe é um componente independente, com 
princípios próprios que independem do uso. Todavia, mesmo nessa aborda-
gem, a questão da relação entre forma e função, entre gramática e uso, entre 
Conceitos e interfaces: sintaxe e morfologia4
estrutura e interpretação semântica, constitui-se uma questão central nas 
diversas formulações do modelo ao longo dos anos.
Não faz sentido estudar a morfologia se ela não for aplicada ao enunciado. Por exemplo, 
palavras que isoladamente têm determinado sentido, no texto, podem apresentar outro 
sentido — uma vez que não trabalhamos sem levar em consideração o contexto em 
que as formas e funções estão inseridas. Veja um exemplo muito difundido:
Ele não sabia que a aula terminaria mais cedo naquele dia.
O sabiá nem sempre se aproxima das pessoas.
Ele agora está são.
São duas horas agora.
Hoje é dia de São Jorge.
ABAURRE, M. L.; PONTARA, M. N.; FADEL, T. Português: língua, literatura, produção de 
texto. 2. ed. São Paulo: Moderna, 2004. 
BECHARA, E. Moderna gramática portuguesa. 37. ed. Rio de Janeiro: Lucerna, 2006. 
CUNHA, C.; CINTRA, L. Nova gramática do português contemporâneo. 6. ed. Rio de Ja-
neiro: Lexikon Editorial, 2013.
FIORIN, J. L. Sintaxe. São Paulo: Contexto, 2009.
ORLANDI, E. A linguagem e seu funcionamento: as formas do discurso. 4. ed. Campinas: 
Pontes Editores, 2006.
5Conceitos e interfaces: sintaxe e morfologia
Conteúdo:
COMUNICAÇÃO 
E EXPRESSÃO 
Letícia Sangaletti
Os modos de organização 
do discurso: tipo e 
gênero textual
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
 � Reconhecer uma sequência discursiva de acordo com sua tipologia
e função dentro de um texto.
 � Usar as tipologias textuais de maneira adequada e consciente em
seus textos.
 � Diferenciar tipo de gênero textual.
Introdução
Os textos são constituídos por sequências discursivas que podem assumir 
as funções de descrever, de narrar, de expor, de persuadir ou de fazer 
com que o leitor aja.
Dependendo do gênero textual, você pode verificar todas essas se-
quências para que o objetivo do texto seja atingido. Em uma petição, por 
exemplo, há momentos de descrever os sujeitos envolvidos, momentos 
de narrar os fatos e momentos de justificar os pedidos. Enfim, para que 
a atividade jurídica se realize em forma de petição, o discurso precisa se 
organizar coerentemente por meio das sequências tipológicas. Esse é o 
tema que você vai explorar neste texto.
Modos de organização do discurso
O indivíduo organiza sua fala considerando a situação comunicativa e os 
objetivos que possui a partir do seu discurso, como os efeitos que quer cau-
sar. Assim, por meio de estratégias discursivas adequadas para cada caso, o 
locutor age sobre seu interlocutor. Conforme Charaudeau (2010), os modos 
de organização são os procedimentos que consistem em utilizar e organizar 
determinadas categorias da língua em função das finalidades discursivas do 
ato de comunicação. Esses modos de organização podem se dividir em quatro 
categorias: enunciativo, descritivo, narrativo e argumentativo. 
Os modos se diferenciam entre si conforme a função de base, que se trata da 
finalidade discursiva de cada projeto de fala. Eles também diferem de acordo 
com seu princípio de organização, que está relacionado a uma organização do 
mundo referencial e de sua encenação (CHARAUDEAU, 2010). 
O modo de organização enunciativo possui como função de base a relação 
de influência (eu > tu), o ponto de vista do sujeito (eu > ele) e a retomada do 
que já foi dito (ele). Seu princípio de organização é a posição em relação ao 
interlocutor, ao mundo e a outros discursos.
O modo de organização descritivo possui como função de base identi-
ficar e qualificar seres de maneira objetiva/subjetiva. Seus princípios são a 
organização da construção descritiva (nomear – localizar – qualificar) e a 
encenação descritiva.
O modo de organização narrativo tem como função de base construir a su-
cessão das ações de uma história no tempo, com a finalidade de fazer um relato. 
Seus princípios são a organização da lógica narrativa e a encenação narrativa. 
O modo de organização argumentativo possui como função de base expor 
e provar causalidades para influenciar o interlocutor. Seus princípios são a 
organização da lógica argumentativa e a encenação argumentativa.
Os modos de organização servem para organizar o conteúdo e a matéria linguística. 
Como você deve imaginar, eles não são completamente separados, e mais de um 
podem aparecer no mesmo texto. Ou seja, os gêneros textuais podem se combinar 
com um modo de discurso, ou também resultar da combinação de vários modos. 
Nesse sentido, os textos se constituem por sequências discursivas, que assumem 
funções como as de narrar, descrever, persuadir e expor. 
Tipos textuais e gêneros textuais
Os tipos textuais, de acordo com Marcuschi (2003), muitas vezes são empre-
gados erroneamente, com sentido de gênero de texto. Conforme o teórico, 
Os modos de organização do discurso: tipo e gênero textual112
os tipos textuais possuem traços linguísticos predominantes, que é o que os 
define. Nas palavras do teórico (MARCUSCHI, 2003, p. 22):
Tipologia Textual é um termo que deve ser usado para designar uma espécie de 
sequência teoricamente definida pela natureza linguística de sua composição. 
Em geral, os tipos textuais abrangem as categorias: narração, argumentação, 
exposição, descrição e injunção (SWALES, 1990; ADAM, 1990; BRON-
CKART, 1999). Esse termo é usado para designar uma espécie de sequência 
teoricamente definida pela natureza linguística de sua composição (aspectos 
lexicais, sintáticos, tempos verbais, relações lógicas).
Nesse sentido, o tipo textual se dá por um conjunto de traços que vão formar 
uma sequência, e não um texto. Além disso, ao ser nomeado como “descritivo” 
ou “narrativo”, o texto não está sendo chamado pelo gênero em si, mas pelo 
predomínio de uma sequência de base. Quer dizer, o tipo textual é uma noção 
relacionada à forma com que o texto se constitui estruturalmente, quando, por 
exemplo, um texto configurado em um gênero pode ser organizado com vários 
tipos textuais. Conforme Marcuschi (2003), as tipologias textuais são descritiva, 
narrativa, expositiva, argumentativa e injuntiva. Já para Travaglia (2007), o 
tipo textual pode ser identificado e caracterizado por instaurar um modo de 
interação, uma forma de interlocução. Isso de acordo com perspectivas que 
variam, constituindo critérios para tipologias diferentes serem estabelecidas.
Travaglia (2007) propõe diferentes formas de classificar os tipos textuais. 
Contudo, as ideias de Adam, Dolz e Schneuwly citadas por ele são as que mais 
se aproximam do que é apresentado por Marcuschi (2003). Adam (1993 apud 
TRAVAGLIA, 2007) elenca as sequências narrativa, descritiva, argumentativa 
explicativa e dialógica(conversacional). E Dolz e Schneuwly (2004 apud 
TRAVAGLIA, 2007) propõem cinco tipos de textos, referidos pelo autor como 
ordens: narrar, relatar, argumentar, expor e descrever ações. 
No que tange à definição dos tipos textuais, Travaglia (2007) afirma que é 
necessário observar os parâmetros e critérios usados para propor a tipologia 
e os objetivos com que foi construída a definição. Também é fundamental 
considerar o material textual que serviu como corpus, ou ainda o material 
empírico utilizado para sua proposição, assim como os elementos/categorias 
que compõem a tipologia e o fato de serem ou não da mesma natureza.
Desse modo, observe a seguir as tipologias e seus objetivos:
 � Descritiva: o objetivo do texto de tipologia descritiva é descrever coisas, 
pessoas ou situações. Quando se trata de personagens, por exemplo, a 
descrição pode ser física ou psicológica. A física descreve características 
113Os modos de organização do discurso: tipo e gênero textual
externas, como altura, cabelo, cor da pele, olhos, idade, entre outros. A 
descrição física pode ser objetiva, quando o que é descrito se apresenta 
de forma direta, simples, concreta, como realmente é; ou subjetiva, 
que envolve os sentimentos do descritor. A descrição psicológica trata 
de comportamento, caráter, personalidade. Ela é sempre marcada por 
subjetividade. Os gêneros que possuem estrutura descritiva são: laudo, 
relatório, ata, guia de viagem, textos literários. 
 � Narrativa: contar uma história, ficcional ou não, ocorrida em tempo 
e lugar determinados, envolvendo personagens, é a principal carac-
terística da narração. Esse tipo possui o passado como tempo verbal 
predominante e geralmente é escrito em prosa. A narração pode ser feita 
em primeira pessoa, quando o narrador participa, sendo o narrador-
-personagem; ou em terceira pessoa, quando há um narrador-observador, 
que mostra o que ele viu ou ouviu. Ainda pode haver um narrador 
onisciente, que sabe tudo o que se passa na cabeça das personagens. 
Os gêneros da estrutura narrativa são: conto, crônica, fábula, romance, 
biografia, lenda, narrativa de aventura, narrativa de ficção científica, 
narrativa de enigma, narrativa mítica, sketch ou história engraçada, 
biografia romanceada, romance, romance histórico, novela fantástica, 
advinha, piada, entre outros.
 � Argumentativa: o texto argumentativo é opinativo e geralmente disser-
tativo. Nele, são desenvolvidas ideias por meio de estratégias argumen-
tativas, de modo a convencer o interlocutor. A estrutura dos textos de 
tipo argumentativo é dividida em três partes: (1) ideia principal, que é a 
introdução; (2) desenvolvimento, no qual se encontram os argumentos 
e aspectos que o tema envolve; e (3) conclusão, uma síntese da posição 
assumida. Nos textos desse tipo, você irá encontrar posicionamentos 
pessoais, exposição de ideias e defesa de um ponto de vista. Os gêneros 
da estrutura argumentativa são: ensaio, carta argumentativa, dissertação 
argumentativa, editorial, textos de opinião, diálogo argumentativo, 
carta de leitor, carta de reclamação, carta de solicitação, debate regrado, 
assembleia, discurso de defesa (advocacia), resenha crítica, artigos de 
opinião ou assinados, editorial, ensaio.
 � Expositiva: o texto expositivo possui apresentação, explicação ou 
constatação, de maneira impessoal, sem julgamento de valor e sem o 
propósito de convencer o leitor. É também de natureza dissertativa. Seu 
objetivo é fornecer informações acerca de um objeto ou fato específico, 
enumerando suas características com linguagem clara e concisa. Os 
gêneros da estrutura expositiva são: reportagem, resumo, fichamento, 
Os modos de organização do discurso: tipo e gênero textual114
artigo científico, seminário, texto expositivo em livro didático, confe-
rência, palestra, entrevista com especialista, texto explicativo, tomada 
de notas, resumo de textos, resenha, relatório científico, relatório oral 
de experiências. As exposições orais ou escritas entre professores e 
alunos numa sala de aula, os livros e as fontes de consulta também são 
exemplos dessa modalidade.
 � Injuntiva: a instrução do interlocutor é um dos objetivos dos textos 
injuntivos. Esse tipo de texto orienta como se realiza determinada 
ação, pede, manda ou aconselha, utilizando verbos no imperativo para 
chegar à sua finalidade. Os gêneros da estrutura injuntiva são: manual 
de instruções, receitas culinárias, bulas, regulamentos, editais, instru-
ções de montagem, receita médica, regras de jogo, instruções de uso, 
comandos diverso, textos prescritivos.
A sequência temporal é, de acordo com Marcuschi (2003), um elemento central na 
organização de textos narrativos. Conforme o autor, em textos descritivos predominam 
as sequências de localização. Já nos textos expositivos, há o predomínio de sequências 
analíticas ou então explicitamente explicativas. No caso dos textos argumentativos, 
predominam sequências contrastivas explícitas. Os textos injuntivos, por sua vez, 
apresentam o predomínio de sequências imperativas.
Exemplos de tipos textuais em diferentes gêneros
Veja exemplos de tipos textuais e gêneros:
 � Descritiva: trecho de O primo Basílio, de Eça de Queirós (1878, p. 4). 
A obra se trata de um romance ficcional.
Tinha dado onze horas no cuco da sala de jantar, Jorge fechou o volume 
de Luís Figuier que estivera folheando devagar, espreguiçou-se, bocejou 
e disse:
— Tu não te vai vestir, Luísa?
— Logo.
Ficara sentada a mesa a ler o Diário de Notícias, no seu roupão da 
manhã de fazenda preta, bordado a sutache, com largos botões de ma-
115Os modos de organização do discurso: tipo e gênero textual
drepérola; o cabelo louro um pouco desmanchado, com um tom seco 
do calor do travesseiro, enrolava-se, torcido no alto da cabeça pequenina, 
de um perfil bonito; a sua pele tinha a brancura tenra e láctea das louras; 
com o cotovelo encostado à mesa acariciava a orelha, e, no movimento 
lento e suave dos seus dedos, dois anéis de rubis miudinhos davam 
cintilações escarlates.
Observe que, nesse exemplo, há a descrição de uma pessoa. Tal descrição é 
física, pois trata de características externas: ela está sentada, tem cabelo loiro 
e ele está desmanchado, a cabeça é pequeninha, o cotovelo está encostado à 
mesa, por exemplo.
 � Narrativa: o exemplo narrativo também se trata de um romance ficcio-
nal – Harry Potter e a Pedra Filosofal, de J. K. Rowling (2000, p. 77).
Harry apanhou a varinha. Sentiu um repentino calor nos dedos. Ergueu 
a varinha acima da cabeça, baixou-a cortando o ar empoeirado com um 
zunido, e uma torrente de faíscas douradas e vermelhas saíram da ponta 
como um fogo de artifício, atirando fagulhas luminosas que dançavam 
nas paredes. Hagrid gritou entusiasmado [...].
No exemplo de texto narrativo, há uma personagem em terceira pessoa 
contando a história de um menino, Harry. O tempo verbal predominante, o 
passado, aparece em termos como “apanhou”. 
 � Argumentativa: “‘Escola Sem Partido’: engodo e ensino acrítico”, de
André Luiz Rodrigues de Rossi Mattos (2016). Aqui, há uma crônica
opinativa como gênero textual.
Em primeiro lugar, o movimento ‘Escola Sem Partido’ não é exatamente 
isento de partidarismo, uma vez que reúne um grupo de pessoas que 
partilham de uma mesma ideia, lutam por um mesmo ideal, possuem 
uma mesma interpretação do mundo educacional e colaboram com 
alguma organicidade entre si. Isso, por si, apenas indica um tipo de mo-
vimento social, que como todo movimento, independente de ser ou não 
diretamente filiado a alguma agremiação eleitoral institucionalizada, toma 
partido da realidade e, assim, absolutamente não possui neutralidade.
Além disso, todo movimento sempre está inserido em um leque de 
relações que demarcam os limites das suas ideias. No caso do movimento 
‘Escola Sem Partido’, seus relacionamentos passam por concepções radi-
calmente contrárias às posições consideradas de esquerda, o que indica 
Os modos de organização do discurso: tipo e gênero textual116
seu

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