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Afecções Ínguino-Escrotais Introdução • Refere-se à: - Hérnia inguinal e hérnia ínguino-escrotal; - Hidrocele comunicante e não comuni- cante; - Cisto de cordão; - Criptorquidia; - Varicocele; • São patologias da região inguinoescrotal, ocorrendo no menino e na menina; • Geralmente, as hérnias tendem a acometer mais meninos; • São descritas como antroponiais (criança chega com diagnóstico prévio feito por um pediatra), devendo ter a realização da cirur- gia eletiva (alguns casos são urgência); • Nos casos de patologias escrotais, tanto para hérnia, hidrocele, cisto de cordão ou criptorquidia, tem-se relação com a descida da gônada: - 5ª-6ª semanas: formação de gônada e crista urogenital, seguido da descida; - 10ª semana: testículo atinge o anel ingui- nal interno e, juntamente da invaginação do peritônio parietal, forma o conduto peritô- nio vaginal; - 7º-8º mês: testículo esquerdo atinge a bolsa escrotal (hérnia à direita); - 36ª-40ª semana: obliteração do conduto. Hérnia ínguino-escrotal • É uma preocupação por demandar cirurgia quase que imediata, após o diagnóstico; • A principal queixa materna é de protrusão na região inguinal durante o choro, no RN, ou criança em fase escolar com inchaço tes- ticular, podendo evoluir para uma urgência em caso de encarceramento, por exemplo; • Refere-se a entrada de alguma parte do conteúdo abdominal em um processo vagi- nal persistente; • Existem dois tipos principais de hérnias: - Indireta: congênita, ocorrendo 99% em crianças, por persistência do conduto peri- tôneo vaginal com passagem de estruturas intra-abdominais para a região inguinal e com persistência do conduto de Nuck nas meninas); - Direta: fraqueza da parede músculo- aponeurótica, em adultos (pode ter a indi- reta, em casos de não ter tido diagnóstico durante a infância e, consequentemente, não teve tratamento). → • É o principal tipo de hérnia inguinal en- contrada em crianças (cerca de 99%); • Definição: abaulamento inguinal ou ín- guino-escrotal principalmente aos esforços (choro); • Conteúdo da hérnia: alça intestinal (prin- cipalmente em meninos), apêndice cecal, ovário ou trompa uterina (persistência do conduto de Nuck em meninas); • Incidência: 0,8 a 4,4%; - Maior no prematuro: 16-25%, visto que, tende a fechar ao nascimento e, se a cri- ança nasceu antes, não deu tempo de fechar corretamente; - 3 a 10 menino x menina; Marianne Barone (15A) Cirurgia Pediátrica – Prof. Maria Cristina Gomes de Abreu - 60% à direita: testículo esquerdo desce antes = hérnia mais comum do lado direito; - 30% à esquerda; - 10% bilateral. Etiopatogenia: • A falha na obliteração do conduto peri- tônio vaginal, ou seja, a persistência com- pleta do conduto peritônio vaginal, é res- ponsável pela formação de hérnias na região; • Nota-se que, em todas as afecções ín- guino-escrotais tem-se uma maior incidên- cia de casos relacionados ao sexo mascu- lino, especialmente no lado direito, resul- tando do processo de descida gonadal, em que o lado esquerdo sempre desce pri- meiro, possibilitando que o direito sofra as alterações patológicas e forme as hérnias. Diagnóstico clínico: • História de abaulamento aos esforços e dor, como nos casos de choro; • Exame físico: - Abaulamento com tumoração redutível; - Espessamento de cordão (“sinal da seda”): resulta da persistência do conduto peritônio vaginal formando um saco herni- ário, percebido com a tração do testículo ou da região inguinal da menina, sentindo um espessamento ao pressionar-se contra o pú- bis; - Caso a tumoração seja irredutível, têm-se uma hérnia encarcerada; • Em geral, na menina, a hérnia inguinal é bilateral, assim como em prematuros. Diagnóstico por imagem: • Ultrassonografia: permite a visualização da persistência do conduto peritônio vaginal. Caso não seja possível observar tal persis- tência à ultrassonografia, mas haja os sinais clínicos característicos, não se deve descar- tar o diagnóstico de hérnia; • Radiografia simples. Complicações: • Geralmente, tende-se a ter uma redução espontânea. Porém, em alguns casos, pode- se manter exteriorizada por um determinado período, apresentando complicações; • Encarceramento: o conteúdo do saco herniário não é redutível e o anel inguinal é estreito, resultando em uma obstrução in- testinal. Se presente por um maior período de tempo, com sua circulação acometida, apresenta alguns sinais, muito comuns no lactente (1-2 anos de vida): - Hiperemia da bolsa escrotal; - Distensão abdominal; - Vômitos frequentes e até fecalóides; - Sinais de peritonite: dor abdominal e si- nais de irritação peritoneal; - Mal estado geral da criança: toxemia, desidratação, febre; • Estrangulamento: na hérnia estrangulada, o conteúdo do saco herniário não é redutível e há sofrimento vascular do seu conteúdo, resultando em: - Necrose intestinal; - Necrose de testículo e do epidídimo; - Necrose de ovário e de trompa. Indicações gerais de tratamento: • Hérnia redutível: cirurgia eletiva; • Hérnia encarcerada: redução com cirur- gia posterior ou cirurgia de urgência; • Hérnia estrangulada: cirurgia de urgên- cia. Tratamento cirúrgico eletivo da hérnia inguinal: • Se houve diagnóstico de hérnia inguinal, o tratamento é sempre cirúrgico, variando apenas com o estado de complicação e sua urgência; • A escolha da cirurgia é feita baseada no maior risco de encarceramento da hérnia no 1º-2º ano de (principalmente nos primeiros 6 meses), e por ser a principal causa de ab- dome agudo obstrutivo no lactente; • Nos lactentes, deve ser considerado o tra- tamento bilateral a fim de evitar complica- ções graves; • Herniorrafia inguinal: - Realiza-se uma inguinotomia, na região da prega abdominal; - Redução do conteúdo (intestino, ovário); - Correção do “saco herniário”; - Herniorrafia inguinal: fechamento por planos Conduta na hérnia encarcerada: • Tenta-se a redução incruenta do conte- údo herniado com movimentos suaves e contínuos; • Redução: somente se história de até 6 ho- ras (tempo de isquemia e necrose) de encar- ceramento e sem sinais de complicações; • Objetivo: tirar da urgência e marcar cirur- gia o mais breve em melhores condições (até 1-2 dias depois, com diminuição de edema, evitando lesões de estruturas); • Movimento de redução: realizam-se mo- vimentos semelhantes aos de peristalse (movimentos suaves e contínuos), com se- dação da criança e em decúbito com os membros inferiores elevados para melhorar a circulação (posição de Trendelemburg), colocando uma bolsa de gelo sobre a hérnia; • Se não conseguir: indicar cirurgia de ur- gência; • Tratamento cirúrgico na hérnia encar- cerada/estrangulada: - Conteúdo sem sofrimento: realiza-se redução e herniorrafia; - Necrose do segmento intestinal: neces- sária a ressecção do segmento; - Ileostomia ou colostomia: se condições abdominais desfavoráveis (peritonite puru- lenta); - Necrose do ovário: ooforectomia; - Pode ter quadro séptico grave, devendo- se ter a retirada dos segmentos necrosados o mais rápido possível. Hidrocele e cisto de cordão → • Tem-se a formação de uma bolsa de água na bolsa escrotal, com uma persistên- cia mínima do conduto peritoneal, que é tão estreita que permite a passagem apenas de líquido, e não de estruturas maiores. Hidrocele comunicante: • Trata-se da persistência do conduto pe- ritônio-vaginal com passagem de líquido peritoneal e preenchimento do espaço va- ginal por uma obliteração incompleta; • Diagnóstico clínico: ocorre com história de abaulamento ínguino-escrotal variável conforme o decúbito, dando a impressão de que “enche e esvazia”. Além disso, noexame físico, a transiluminação é positiva; • Diagnóstico por imagem: ocorre com ul- trassonografia; • Tratamento: cirúrgico, feito por inguino- tomia, com correção da hidrocele (persis- tência completa do conduto peritônio vagi- nal), inguinorrafia em fechamento por pla- nos. Hidrocele não-comunicante: • Refere-se à obliteração parcial do con- duto peritônio vaginal; • Tratamento clínico: em 90% dos casos, havendo regressão lenta e espontânea até os 2 anos; • Tratamento cirúrgico: é indicado em até 10% dos casos, nas hidroceles com gran- des volumes e quando não há regressão da hidrocele através do tratamento clínico em maiores de 2 anos. → • Trata-se da persistência incompleta, no terço médio, do conduto peritônio vaginal; • Nas meninas, é chamado de cisto de Nuck; • Tratamento cirúrgico: para ambas as for- mas de apresentação do cisto, ocorre através de inguinotomia e ressecção do cisto. Distopias testiculares → • Trata-se da ausência do testículo na bolsa escrotal, podendo estar localizado no trajeto de descida normal do testículo; • Descida do testículo: - 3º mês-1º ano de vida: 70% a 77%; - Raramente após o 1º ano; • Epidemiologia: - Incidência: 46,7% no testículo direito (esquerdo desde antes = direito fica mais preso) 20% no testículo esquerdo e bilateral em 33% dos casos, com história familiar em 1% a 6% dos casos; - Idade: 30% dos prematuros, 4% dos re- cém-nascidos a termo, 2% das crianças de 1 ano e 1% dos adolescentes e adultos; • Importância do diagnóstico e trata- mento: - Alteração na espermatogênese: lesões histológicas progressivas desde 18 meses de vida (deve estar sempre <1ºC do resto do corpo); - Degeneração maligna: 40x maior na po- pulação; ▷ Seminoma: 90% (testículo criptor- quídico); ▷ Carcinoma (1,7%): pacientes adultos; ▷ Risco de neoplasia não diminui após cirurgia; • Diagnóstico clínico: é feito com exame fí- sico, história clínica, ultrassonografia, to- mografia computadorizada e ressonância magnética; • Exames de imagem: a falta de visualiza- ção não exclui a existência da gônada e nenhum exame de imagem é bom para a vi- sualização de testículo não palpável, po- dendo gerar falsos negativos; - Ultrassom: bom para identificar testícu- los no canal inguinal; - Tomografia: os testículos podem ser confundidos com alças intestinais ou gân- glios; - Ressonância: 30% de falso negativo • Tratamento cirúrgico: deve-se ter a co- locação do testículo na bolsa escrotal. O momento ideal para a cirurgia é entre o 6º mês até no máximo os 2 anos de vida, com uma taxa de sucesso de 75 a 92%; • Tratamento hormonal: é ultrapassado, sendo que, costumava ser feito com o uso de gonadotrofina coriônica, que aumentava a produção de testosterona (temporaria- mente). Tratamento cirúrgico: • Cirurgia inguinal aberta: orquidopexia ou orquipexia com a disseção do cordão e descida do testículo para a bolsa testicular; • Cirurgia laparoscópica: é indicada sem- pre que os testículos não são palpáveis, sendo realizada a dissecção dos vasos do cordão e identificação do ducto deferente, seguida pela introdução da gônada no ca- nal inguinal por dentro dos vasos epigástri- cos, terminando com a fixação do testículo por inguinotomia aberta; - Além disso, dependendo da viabilidade do testículo encontrado no meio intra-abdo- minal, realiza-se orquiectomia ou orquipe- xia; - Nos casos em que o cordão espermático é curto, utiliza-se a técnica de Fowler- Stephens, que consiste na ligadura dos va- sos espermáticos por via laparoscópica, de forma que a irrigação do testículo passa a ser feita pelos vasos do ducto deferente e do gubernáculo; ▷ Desta forma, a cirurgia pode ser reali- zada em um único tempo com a realização da ligadura e orquipexia ao mesmo tempo, estagiada com a realização da ligadura dos vasos no 1º tempo e orquipexia após 6 me- ses, num 2º tempo; ▷ Após a ligadura, deve-se realizar a in- trodução da gônada no canal inguinal por dentro dos vasos epigástricos e completar a fixação do testículo por inguinotomia. → • Refere-se ao testículo fora do trajeto normal da descida; • Pode ser encontrado: - Face interna da coxa; - Períneo; - Pré-púbica; - Raiz peniana; - Hemi-escroto contralateral. → • Trata-se da dilatação das veias (plexo pampiriforme) do cordão espermático com calibre maior que 2,5 mm, geralmente à esquerda; • Epidemiologia: 10 a 20% da população; • Tipos: - Varicocele primária: é mais frequente do lado esquerdo (veia testicular → veia re- nal), com etiologia multifatorial, principal- mente por incompetência valvar (ausência de válvulas venosas), inserção em ângulo reto da veia testicular esquerda na veia renal ou compressão da veia renal esquerda entre a artéria mesentérica superior e aorta; - Varicocele secundária: causada por trombose (veia renal, veia cava, veia esper- mática) ou por tumor (renal ou retroperito- neal); • Pode causar infertilidade (40% dos ho- mens inférteis), com uma incidência de 21- 41% dos casos e hipoespermatogênese em 50% dos casos (deterioração do espermo- grama, que, se corrigido quando criança ou adolescente, apresenta grandes chances de reversão do espermograma; • Fisiopatologia da infertilidade: pode ser causada por: - Hipertermia escrotal: tempera- tura >2,5°C, chamadas de “heat stress”; - Hipertensão venosa: causada por hipo- perfusão testicular e hipóxia; - Refluxo de toxinas: epinefrinas, ureia, prostaglandinas e aumento dos radicais li- vres; • Exame de imagem: o ultrassom com Do- ppler apresenta uma diferença do volume testicular igual ou maior que 20% quando comparado com o testículo contralateral, presença de fluxo retrógado e/ou hipotrofia testicular, indicando tratamento cirúrgico; • Tratamento cirúrgico: feito com liga- dura das veias dilatadas do plexo do cordão espermático.