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ÉTICA-E-DIREITOS-HUMANOS

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1 
 
SUMÁRIO 
1 A EXISTÊNCIA DA ÉTICA E DA FILOSOFIA MORAL .................................. 3 
1.1 Ética ..................................................................................................... 3 
1.2 Moral e Ética ........................................................................................ 7 
2 A QUESTÃO DA CIDADANIA E DOS COSTUMES: OS PRINCÍPIOS 
NORMATIVOS DAS RELAÇÕES SOCIAIS .............................................................. 12 
3 A QUESTÃO DA DEMOCRACIA E A SUA IMPORTÂNCIA ..................... 16 
3.1 A democracia ..................................................................................... 16 
3.2 A importância da democracia participativa ......................................... 19 
4 O DIREITO E A MORAL NO BRASIL CONTEMPORÂNEO ..................... 20 
4.1 Causas da crise moral ........................................................................ 22 
5 A EDUCAÇÃO E A CIDADANIA, O RESPEITO À DIFERENÇA, A 
QUESTÃO DE RAÇA E ETNIA ................................................................................. 24 
5.1 Educação Cidadã, Etnia e Raça: O trato pedagógico da diversidade 24 
5.2 O que é Raça e Etnia ......................................................................... 26 
5.3 Raça e Etnia no Brasil ........................................................................ 27 
6 A EDUCAÇÃO, A INTOLERÂNCIA, O RACISMO E A XENOFOBIA ....... 29 
6.1 Educação de qualidade pode ajudar a prevenir racismo e xenofobia 29 
6.2 Xenofobia na Europa .......................................................................... 31 
6.3 Intolerância religiosa e racismo crescem no ‘pacífico’ Brasil .............. 33 
6.4 Racismo e Xenofobia ......................................................................... 35 
6.5 Povo brasileiro: Miscigenação e racismo... ........................................ 39 
6.6 Raças e racismo ................................................................................. 40 
6.7 A ideia de "clarear o Brasil" ................................................................ 40 
6.8 A exclusão social dos negros ............................................................. 41 
6.9 Um país com duas realidades ............................................................ 41 
 
2 
 
6.10 Intolerância religiosa e racismo crescem no ‘pacífico’ Brasil .......... 41 
7 ÉTICA, DIREITOS HUMANOS E VIOLÊNCIA .......................................... 43 
7.1 Ética e Direitos humanos .................................................................... 43 
7.2 Ética, Cidadania e Justiça social: Educar para os Direitos Humanos 44 
7.3 Tipos de Violência .............................................................................. 45 
7.4 Violência Urbana ................................................................................ 46 
8 BIBLIOGRAFIA ......................................................................................... 50 
 
 
 
3 
 
1 A EXISTÊNCIA DA ÉTICA E DA FILOSOFIA MORAL 
1.1 Ética1 
Toda discussão sobre “ética” sempre se inicia pela revisão de suas origens 
etimológicas e pela sua distinção ou sinonímia com o termo “moral”. Justifica-se a 
necessidade de explicitar a origem do termo ethos, uma vez que é de sua raiz primitiva 
que iremos encontrar as respostas para as ambiguidades terminológicas e 
imprecisões conceituais. 
 
Fonte:www.debatesculturais.com.br 
A palavra ethos expressa a existência do mundo grego que permanece 
presente na nossa cultura. Esse vocábulo deriva do grego ethos. Nessa língua, possui 
duas grafias: ηθοζ (êthos) e εθοζ (éthos). Essa dupla grafia não é gratuita, pois reúne 
uma diversidade de significados que, ao longo do tempo, distanciaram-se do seu 
sentido original. 
Considerando que, normalmente, os autores não costumam apresentar os 
significados desses termos em suas origens, antes de adentrarmos nos conceitos de 
“ética” e “moral”, passaremos uma breve vista em suas origens, uma vez que as 
 
1 Texto extraído do link: www.revistas.usp.br 
 
4 
 
controvérsias sobre o que se entende por “ética” devem-se, em grande parte, aos 
diversos significados da palavra primitiva ethos e à sua tradução para o latim mos. 
Esses dois termos podem ser entendidos em três sentidos: “morada” ou 
“abrigo”, “caráter ou índole” e “hábitos” ou “costumes”. 
a. O termo grego ηθοζ (êthos), quando escrito com “eta” (η) inicial, possui dois 
sentidos: morada, caráter ou índole. 
O primeiro sentido é de proteção. É o sentido mais antigo da palavra. Significa 
“morada”, “abrigo” e “lugar onde se habita”. Usava-se, primeiramente, na poesia grega 
com referência aos pastos e abrigos onde os animais habitavam e se criavam. Mais 
tarde, aplicou-se aos povos e aos homens no sentido de seu país. Depois, por 
extensão, à morada do próprio homem, isto é, refere-se a uma habitação que é íntima 
e familiar, é o “lar”, um lugar onde o homem vive. É o lugar onde é mais provável de 
se encontrar o eu real. Ele representa aquilo que faz uma pessoa, um indivíduo: sua 
disposição, seus hábitos, seu comportamento e suas características. Nesse sentido, 
cada um tem sua própria ética. É isso, mais que os acidentes e incidentes da vida, 
que o diferencia de todos os demais. 
O segundo significado da palavra êthos assume uma concepção histórica a 
partir de Aristóteles. Representa o sentido mais comum na tradição filosófica do 
Ocidente. Este sentido interessa à ética, em particular, por estar mais próximo do que 
se pode começar a entender por ética. Êthos significa “modo de ser” ou “caráter”. Mas 
esse vocábulo apresenta um sentido bem mais amplo em relação ao que damos à 
palavra “ética”. O ético compreende, antes de tudo, as disposições do homem na vida, 
seu caráter, seus costumes e, naturalmente, também a sua moral. Na realidade, 
poderia se traduzir como uma forma de vida no sentido preciso da palavra, isto é, 
diferenciando-se da simples maneira de ser. 
Entretanto, é preciso ter certo cuidado com o uso da palavra “caráter”, pois ela 
pode ter uma conotação filosófica, um sentido psicológico e outro restritamente moral. 
É este último que interessa à ética. 
O caráter, segundo Heráclito de Éfeso (séc. VI-V a.C.) “é o conjunto definido 
de traços comportamentais e afetivos de um indivíduo, persistentes o bastante para 
determinar o seu destino”. Para Kant (1724-1804), o caráter é entendido de acordo 
com a sua definição de causa, quer dizer, uma lei da causalidade, sob a qual as ações 
estariam ligadas integralmente. Por outro lado, pode significar também o conjunto de 
 
5 
 
traços psicológicos e/ou morais (positivos ou negativos) que caracterizam um 
indivíduo ou um grupo. 
Em sentido psicológico, “caráter é o conjunto de qualidades psíquicas e afetivas 
que intervêm na conduta de uma pessoa e a distinguem das demais, o que também 
chamamos de personalidade”. Refere-se ao conjunto dos traços particulares, ao seu 
modo de ser, à sua índole e ao seu temperamento. Traços que estão mais ligados à 
estrutura biológica propriamente dita, ou seja, aquilo que é herdado mais pela 
natureza (páthos – do que é inato) do que os traços individuais adquiridos com a 
adaptação ao meio social. 
Mas não é essa acepção da palavra que interessa à ética. Interessa o caráter 
em seu sentido estritamente moral, isto é, a disposição fundamental de uma pessoa 
diante da vida, seu modo de ser estável do ponto de vista dos hábitos morais 
(disposição, atitudes, virtudes e vícios) que a marcam – que a caracterizam – e lhe 
conferem a índole peculiar que a distingue dos demais. Refere-se ao conjunto das 
qualidades, boas ou más, de um indivíduo, resultante do progressivo exercício na vida 
coletiva. 
É esse caráter, não no sentido biológico ou psicológico, “senão no modo de ser 
ou forma de vida que vai adquirindo, apropriando, incorporando ao longo de toda uma 
existência”,que está associado a ética. Esse modo de ser, “apresenta uma dupla 
dimensão de permanência e de dinamismo. O núcleo de nossa identidade pessoal é 
o produto das opções morais que vamos fazendo em nossa biografia. Essas opções 
vão conformando nossa fisionomia moral – a classe de pessoas que somos, nossa 
índole moral –, ou seja, a disposição para nos deixar mover por uns motivos e não por 
outros”. 
Diante das dificuldades de interpretação do conteúdo semântico da palavra 
ethos, não é sem motivo que os autores costumam simplificar. Definem a ética como 
sendo uma palavra derivada do grego ethos, que significa “modo de ser” ou “caráter” 
enquanto forma de vida adquirida ou conquistada pelo homem. Ou então, a “ética é 
derivada do grego ethikos – aquilo que se relaciona com o ethos ou caráter”. 
b. O segundo termo grego εθοζ (éthos), quando escrito com épsilon (ε) inicial, é 
traduzido por “hábitos” ou “costumes”. 
Este é o éthos social. Significa hábitos, costumes, tradições. Refere-se aos atos 
concretos e particulares, por meio dos quais as pessoas realizam seu projeto de vida. 
 
6 
 
Este sentido também interessa à ética, uma vez que o caráter moral vai se formando, 
precisamente, mediante as opções particulares que fazemos em nossa vida cotidiana. 
De maneira que é a força das tradições quem forma a identidade de uma 
sociedade. Reciprocamente, os hábitos constituem o princípio intrínseco dos atos. 
Conforme diz Aranguren, 
“parece haver um círculo êthos-hábitos-atos. Assim se compreende como é 
preciso resumir as duas variantes da acepção usual de êthos, estas sendo os 
princípios dos atos e aquele o seu resultado. Ethos é o caráter (χαραҳτρη) 
cunhado, impresso na alma por hábitos”. 
Esta tensão, segundo Aranguren, sem contradição entre êthos como caráter e 
éthos como hábitos, definiria o âmbito conceitual da ideia central da ética. Razão pela 
qual, tanto na concepção clássica quanto na moderna, a ética ocupa-se 
constantemente dos atos morais e dos hábitos no sentido de virtudes e vícios. 
As virtudes podem ser classificadas pela forma de aquisição: intelectuais e 
morais. As virtudes intelectuais são resultados do ensino, são muito artificiais, por isso 
precisam de experiências e tempo para formar o caráter. As virtudes morais são 
adquiridas pelo hábito, costumes ou experiência. Não são inatas, são adquiridas pelo 
exercício da práxis, com o convívio social, ou seja, com a disposição de viver com ou 
conviver com os outros. 
Sobre a distinção entre virtudes e vícios, explica Korte que as virtudes são as ideias 
ou razões positivas que trazem melhores resultados, ao passo que os vícios 
são os portadores dos insucessos e dos resultados negativos. Enquanto atuo, 
seja de acordo com virtudes ou vícios, procedo eticamente. Mas, e aí vem o 
fundamento da explicação, se os costumes (mores) indicam a prática da 
virtude, e eu pratico o vício, eu estou agindo contra a moral, mas a rigor, não 
estou agindo contra a Ética mas contra as regras que me são recomendadas 
pelos conhecimentos trazidos pela Ética. 
Por isso a ética pode ser entendida como a ciência da reta ordenação dos atos 
humanos desde os últimos princípios da razão (kathein). Estamos, portanto, diante de 
uma ciência prática, que trata de atos práticos. É a razão da filosofia da prática. É a 
forma que configura a matéria (atos humanos). Por isso, é importante saber que a 
ética não se ocupa do irracional, como sugerem algumas interpretações, senão do 
racional prático, intentando saber o específico da moral em sua razão filosófica. Isto 
 
7 
 
é, a razão das escolhas de uma determinada conduta e os fundamentos da tomada 
de decisão. 
Dessa concepção e do entendimento de que ações humanas podem ser 
abordadas por uma perspectiva psicológica, biológica ou filosófica, deduz-se que a 
“ética” se ocupa da reflexão filosófica relativa à conduta humana sob o prisma dos 
atos morais. Ela vai examinar a natureza dos valores morais e a possibilidade de 
justificar seu uso na apreciação e na orientação de nossas ações, nas nossas vidas e 
nas nossas instituições. 
A ética estuda as relações entre o indivíduo e o contexto em que está situado. 
Ou seja, entre o que é individualizado e o mundo a sua volta [mundo moral]. 
Procura enunciar e explicar as regras [sobre as quais se fundamenta a ação 
humana ou razão pela qual se deve fazer algo], normas, leis e princípios que 
regem os fenômenos éticos. São fenômenos éticos todos os acontecimentos 
que ocorrem nas relações entre o indivíduo e o seu contexto. 
A ética filosófica, como compreende Cubelles, é uma metalinguagem que fala 
da práxis humana, tentando descobrir a razão pela qual se deve fazer algo, 
considerando os valores morais estabelecidos em cada sociedade. 
1.2 Moral e Ética 
Outra discussão de relevo é sobre a distinção entre ética e moral. Instala-se 
aqui uma verdadeira confusão entre as similitudes e diferenças, a começar pelas 
definições dos dicionários de filosofia. Quanto à origem do termo, de acordo com o 
dicionário de filosofia de J. Ferrater Mora, “a moral deriva de ηθοζ ‘costumes’, do 
mesmo modo que a ‘ética’, de ηθοζ. Por vezes, a ética e a moral são usadas 
indistintamente, como disse Cícero (de fato, 1,1) ”. 
Por isso, esse vocábulo é algumas vezes utilizado como sinônimo de ética. 
Entretanto, usa-se a palavra moral mais frequentemente para designar códigos, 
condutas e costumes de indivíduos ou de grupos, como acontece quando se fala da 
moral de uma pessoa ou de um povo. Aí, é o equivalente da palavra grega ethos e da 
latina mores. 
Segundo o dicionário de filosofia de Nicola Abbagnano, o termo moral 
apresenta dois sentidos: o primeiro deriva do “lat. Moralia; in: Morals”, fr. Morale; it. 
Morale; significa “o mesmo que Ética”. Objeto da ética, conduta dirigida ou disciplinada 
 
8 
 
por normas, conjunto dos mores. Neste significado, a palavra é usada nas seguintes 
expressões: ‘M. dos primitivos’, ‘M. contemporânea’ etc.” No segundo sentido, deriva 
“lat. Moralis; in Moral”. 
Este adjetivo tem, em primeiro lugar, os dois significados correspondentes 
aos do substantivo moral: 1º atinente à doutrina ética, 2º atinente à conduta 
e, portanto, suscetível de avaliação M., especialmente de avaliação M. 
positiva. Assim, não só se fala de atitude M. para indicar uma atitude 
moralmente valorável, mas também coisas positivamente valoráveis, ou seja, 
boas. 
Não é sem motivo que Coimbra afirma que “ética e moral são sinônimos de 
origens distintas, que em si uma é a mesma coisa”, isto é, possuem os mesmos 
sentidos. Por isso Tugendhat argumenta que não se pode tirar nenhuma conclusão 
do que se pode entender por ética e moral a partir das origens das palavras. De fato, 
etimologicamente, esses termos possuem idênticos conteúdos semânticos. Razão 
pela qual muitas vezes são empregados no cotidiano indistintamente. 
As razões dessas divergências encontram-se, sem dúvida, nas origens das 
palavras, sobre as quais passaremos em revista, para depois apresentar alguns 
conceitos extraídos da literatura especializada. 
O que ocorreu? No latim não existia uma palavra para traduzir o êthos, nem 
tampouco outra para representar o sentido do termo éthos, dado na língua grega. 
Então, na essência, esta distinção foi perdida. Ambas foram traduzidas por “mos” ou 
“mores” (plural de mos, do qual vem o termo moralis), pois era a palavra que mais se 
aproximava do sentido de ethos, que nessa língua pode significar tanto “costumes” 
como “caráter” ou gênero de vida. 
Assim, “em latim, o “mos” passou a significar tanto o ηθοζ (êthos – morada, 
caráter, índole) como εθοζ (éthos – hábitos, costumes) costumes e hábitos”. Está aqui 
a origem de toda a confusão acerca do conteúdo semântico dos termos e, por 
conseguinte, a sinonímia ou distinção dos sentidos que se atribui ao uso das palavras 
ética e moral. 
Entretanto, este não é o único critério para se determinar o significadodas 
palavras, pois assim como as línguas evoluem segundo a sua cultura, as palavras 
podem adquirir significados distintos de acordo com o sentido em que são 
empregadas. Além da dimensão semântica dos vocábulos e das expressões, há uma 
 
9 
 
dimensão pragmática, visto que uma mesma palavra pode assumir significados 
diferentes num determinado contexto sociocultural. 
Sobre esse aspecto, é preciso ater-se ao processo de evolução do sentido do 
termo como forma de conhecer não apenas o seu significado isolado, mas, sobretudo, 
os vários sentidos em que pode ser utilizado numa dada cultura. Logo, questionar 
acerca do que se deve entender por ética ou moral, considerando apenas o conteúdo 
semântico dos termos, não é o único recurso de análise para se formularem 
significados, conceito ou definições. 
Deixando um pouco de lado o esforço de se tentar deduzir uma definição 
exclusivamente a partir dos signos, vejamos as diversas maneiras de utilizar o termo 
“moral” e, por sua vez, de se chegar a um conceito correspondente ao contexto 
cultural. 
A palavra moral, segundo Aranguren, possui diferentes sentidos com referência 
direta ao comportamento humano e à sua classificação como moral ou, ao seu 
contrário, imoral; como parte da filosofia – filosofia moral. Moral, também escrita com 
maiúscula, quando se ocupa do comportamento humano no que se refere a bem ou 
mal. 
Segundo Martinez, o termo “moral” é utilizado atualmente de maneira distinta. 
Assim como ocorreu com os significados de ethos, essa multiplicidade de usos 
também deu lugar a alguns mal-entendidos. Para essa autora, algumas vezes o termo 
moral é empregado como substantivo e outras vezes como adjetivo. Como substantivo 
pode ser empregado em quatro situações: 
1. Quando o termo “moral” for grafado com minúscula e estiver precedido do 
artigo definido feminino, “a moral”, refere-se ao conjunto de princípios, preceitos, 
comandos, proibições, normas de conduta, valores e ideais de vida boa que, em seu 
conjunto, é constituído por um grupo humano concreto em uma determinada época 
histórica. Nesta acepção, a moral representa um modelo ideal de boa conduta 
socialmente estabelecida pela sociedade; 
2. Quando a palavra “moral” é usada para fazer referência ao código pessoal 
de alguém. Por exemplo, quando se diz que “fulano possui uma moral muito rígida” 
ou quando se diz “beltrano carece de moral”, estamos falando de um código moral 
que guia os atos de uma pessoa concreta ao longo de sua vida. É o conjunto de 
 
10 
 
convicções e pautas de conduta que costuma constituir a base para os juízos morais 
que cada um faz das outras pessoas e de si mesmo; 
3. Usa-se o termo “moral” com maiúscula (Moral) para referir-se a uma “ciência 
que trata do bem em geral, das ações humanas marcadas pela bondade ou pela 
malícia”. A rigor, esta ciência não existe. O que existe é uma variedade de doutrinas 
como, por exemplo, a Moral católica, protestante, islâmica, budista, marxista etc. 
Fazendo um parêntese, lembramos que somente a ética na qualidade de 
disciplina filosófica (ciência da moral) possui teorias éticas diferentes e até opostas, 
pois há uma distinção entre uma doutrina e uma teoria: enquanto a doutrina trata de 
sistematizar um conjunto concreto de princípios, normas, preceitos e valores, as 
teorias constituem uma tentativa de explicar um fato. As teorias representam um 
pensamento baseado num dado contexto histórico de uma época, sob o qual se 
fundamenta a vida moral concreta. 
4. Quando a palavra moral se refere a expressões que a utilizam no masculino, 
tais como “ter o moral elevado” ou “estar com o moral alto” e outras semelhantes, 
moral torna-se sinônimo de “boa disposição do espírito”, “ter força, coragem suficiente 
para enfrentar – com dignidade – os desafios que a vida nos apresenta. Essa acepção 
tem um profundo significado filosófico, pois a moral não é apenas um saber, nem um 
dever, mas sobretudo uma atitude e um caráter”. 
Com referência ao uso da palavra moral como adjetivo, a maioria das 
expressões está relacionada com a Ética. Neste caso há duas situações em que 
aparece como adjetivo: 
1. Moral como oposto a “imoral” – Termo usado como termo valorativo de 
reprovação. Esse uso pressupõe a existência de algum código moral que serve de 
referência para emitir um juízo moral. Refere-se a uma conduta contrária às regras 
morais vigentes numa dada cultura; 
2. Moral como oposto a “amoral – Termo usado para se referir a uma ação que 
não tem relação com a moralidade. A conduta dos animais, por exemplo, não tem 
nenhuma relação com a moralidade, pois pressupõe que estes não são responsáveis 
por seus atos. Ao passo que os seres humanos atingiram um desenvolvimento 
completo e, na medida em que se tornam senhores de seus atos, têm uma conduta 
moral. A moral, portanto, refere-se à “ação, atitude, estado ou caráter que não é nem 
moral nem imoral, e, que é exterior à esfera da moral”. 
 
11 
 
Desses exemplos, é possível deduzir que, para a compreensão do que se deve 
entender por moral, as respostas não serão encontradas na origem do termo 
exclusivamente, pois os costumes ou a cultura de um povo antecedem as suas origens 
terminológicas. Os costumes são partes indissociáveis da identidade de um povo num 
dado contexto histórico. Neste contexto, e da análise pragmática de como as palavras 
adquirem vários sentidos, é que se poderá extrair um conceito mais apropriado ao seu 
uso. 
Os termos “ética” e “moral” foram utilizados ao longo da história com diversos 
significados e com relações distintas entre si. Houve ocasiões em que os significados 
mudaram completamente. Jürgen Habermas, por exemplo, com base em conceitos 
da tradição hegeliano-marxista, utiliza os termos “eticidade” e “moralidade” com 
significados novos, reservando a “moralidade” ao abstrato e universal e a “eticidade” 
à concreção no mundo da moralidade da vida. 
Assim como o termo ethos possui significados ambíguos, a palavra “moral” 
também pode ser empregada com sentidos diversos. Se olharmos o conceito de moral 
nos dicionários da língua portuguesa, notaremos que existe alguma distinção 
conceitual significativa. Segundo o dicionário Houaiss: 
Moral – denota bons costumes, boa conduta, segundo os preceitos 
socialmente estabelecidos pela sociedade ou por determinado grupo social. 
Cada um dos sistemas de leis e valores estudados pela ética (disciplina 
autônoma da filosofia), caracterizados por organizarem a vida das múltiplas 
comunidades humanas, diferenciando e definindo comportamentos 
proscritos, desaconselhados, permitidos ou ideais. 
Observa-se que o segundo conceito menciona que o sistema de leis (referindo-
se a regras ou normas sociais) e valores são estudados pela ética. Daí a diferença 
entre os dois termos. “A Ética significa Ciência da moral, quer dizer, ética seria a 
construção intelectual, organizada pela mente humana sobre a moral. Esta seria, pois, 
o seu objeto”. 
“O entendimento clássico de ética era o do estudo filosófico dos fundamentos, 
dos princípios, dos deveres e dos demais elementos da vida moral. Ou seja, trata-se 
da teoria filosófica sobre a moralidade”. O termo moral aplica-se, pelo contrário, à 
consideração prática dos casos concretos; isto é, para designar a arte de aplicar a 
teoria filosófica – a ética – aos problemas concretos da vida moral. 
 
12 
 
Desse modo, não é apenas do significado restrito de um termo dissociado da 
cultura que se extrai um conceito mais exato. Claro que a discussão deve sempre 
começar pela análise linguística, pois é a partir do significado primitivo que se extraem 
os primeiros significados. 
Mas, afinal, o que entendemos por moral? A moral refere-se quer aos 
costumes, quer às regras de conduta admitidas numa sociedade determinada. 
Portanto, um fato moral é aceito para um tipo de sociedade de acordo com a sua 
tradição ou realidade cultural. A realidade moral, nestesentido, vai se referir ao 
conjunto desses costumes e dos juízos sobre os costumes que são objeto de 
observação ou de constatação segundo as regras socioculturais. 
Daí a compreensão de que a moral é conteúdo da ética. “Poder-se-ia dizer que 
a moral é a matéria prima da ética”, pois constitui o conjunto de hábitos e prescrições 
de uma sociedade. 
A moral é o que se refere aos usos, costumes, hábitos e habitualidades. De 
uma certa forma, ambos os vocábulos [ética e moral] se referem a duas ideias 
diferentes, mas relacionadas entre si: os costumes dizem respeito aos fatos 
vividos, ao que é sensível e registrado no acervo do grupo social como prática 
habitual. A ideia contida na moral é a relação abstrata que comanda e dirige 
o fato, o ato, a ação ou o procedimento. A moral explica e é explicada pelos 
costumes. A moral pretende enunciar as regras, normas e leis que regem, 
causam e determinam os costumes, inclusive muitas vezes, anunciando-lhes 
as consequências. 
À guisa de conclusão, deve-se entender por moral um sistema de normas, 
princípios e valores, segundo o qual são regulamentadas as relações mútuas entre os 
indivíduos ou entre estes com a comunidade de forma não coercitiva. De maneira que 
estas normas são dotadas de um caráter histórico e social e são acatadas de forma 
livre e por convicção de foro íntimo. 
2 A QUESTÃO DA CIDADANIA E DOS COSTUMES: OS PRINCÍPIOS 
NORMATIVOS DAS RELAÇÕES SOCIAIS 
As preocupações com a sobrevivência levaram o homem primitivo a agregar-
se em comunidades. Estas pequenas comunidades, aos poucos foram se 
desenvolvendo, chegando a grandes aglomerações sociais. É nesse contexto que 
 
13 
 
surgem as regras morais, com a finalidade de facilitar o convívio social das pessoas 
na comunidade. 
 
Fonte:www.portalzinho.cgu.gov.br 
Na conceituação clássica encontrada nos dicionários da língua portuguesa, 
moral é definida por parte da filosofia que trata dos costumes ou dos deveres do 
homem para com seus semelhantes e para consigo; vem do latim “morale” e designa 
“regras de comportamento aceitas por determinada comunidade”. (Bittar, 2004) 
 Conforme Vázquez (1999), “moral vem do latim mos ou mores, ‘costume’ ou 
‘costumes’, no sentido de conjunto de normas ou regras adquiridas por hábito”, 
referindo-se, portanto, ao comportamento que a habitualidade de determinados atos 
infere ao homem. 
Portanto, moral trata-se de uma norma não escrita que objetiva traçar linhas de 
comportamento para o indivíduo em suas relações sociais, tendo por fundamento o 
histórico da comunidade. No princípio, por necessidade premente de segurança ao 
homem valente era atribuído maior valor dentro da comunidade. O valor e a 
solidariedade eram considerados como grandes virtudes, onde tudo visava o interesse 
da coletividade não considerando o homem no seu individualismo. Com 
desenvolvimento das sociedades as regras morais passam a fundamentar-se na 
responsabilidade pessoal, chegando, portanto, a um estágio mais desenvolvido da 
moral. 
 
14 
 
A evolução que despontou com o aumento das forças de trabalho e 
produtividade, favoreceu o aparecimento da propriedade privada e consequentemente 
uma desigualdade de bens dividindo a sociedade antiga em duas classes 
antagônicas, o homem livre, cidadão, e o escravo. Essa situação social proporcionou 
uma divisão da moral que deixou de ser única no sentido de um só conjunto de normas 
aceitas por toda a sociedade, favorecendo a aparição de duas morais, a moral do 
homem livre, com valores definidos, e a dos escravos. 
As mudanças que se verificaram com a nova sociedade, surgida com o 
desaparecimento do mundo antigo onde a escravidão era uma instituição de base 
para todo o trabalho pesado, e o escravo considerado coisa; vieram dar uma nova 
condição ao homem, embora não fossem muitas as mudanças, porém, foi-lhes dado 
o direito à vida e passaram a serem considerados seres humanos. 
A liberdade alcançada pelo trabalhador, muito embora devesse obediência ao 
senhor feudal, proporcionou uma evolução dos conceitos morais. Essa moral continha 
também preceitos religiosos, em vista da influência exercida pela igreja na idade 
média, que de certa forma dava uma unidade moral à sociedade da época, bastante 
estratificada. 
A invenção das máquinas, proporcionou o crescimento de uma nova sociedade, 
a burguesia, levando a um novo sistema econômico-social fundamentado no lucro, 
permitindo surgir uma moral própria, a moral individualista que dominou a sociedade 
burguesa do século XIX. 
Na medida em que as diferentes sociedades tomam lugar no tempo, também 
mudam os princípios e regras morais. Conhece-se um progresso moral. Esse se dá 
em um plano histórico-econômico-social primeiramente, ampliando a esfera moral na 
vida social. 
Em resumo, Vázquez (1999) destaca o aspecto da moral ser uma forma de 
comportamento humano compreendendo o normativo e o fatual; ser um fato social; a 
questão da aceitação individual, isto é, uma interiorização das normas morais; a 
manifestação concreta do comportamento moral dos indivíduos; o ato moral individual 
como parte de um contexto normativo, ou seja, de um código moral. Ainda, embora 
normativo o ato, a aceitação consciente e voluntária supõe a liberdade do sujeito na 
execução do ato moral. 
 
15 
 
Exposto o tema Moral, sua conceituação e evolução, passa-se a tratar da Ética 
que, como ciência da moral tem origem do grego éthique ou ethos e do latim ethica, 
ethicos, significando uso, costumes, caráter. É modificada cotidianamente com a 
sociedade interagindo entre grupos sociais e em determinados períodos históricos. 
Vázquez (1999) apresenta a ética como “a teoria ou ciência do comportamento 
moral dos homens em sociedade”. Conceito que mostra uma abordagem científica 
dos problemas morais. 
Já, Bittar (2004), apresenta ética dividindo-a em ética enquanto saber e 
enquanto prática, onde ao saber cabe o papel de estudar a ação humana em sua 
concepção mais ampla, e quanto a ética prática, como ele coloca, “consiste na 
atuação concreta e conjugada da vontade e da razão, de cuja interação se extraem 
resultados que se corporificam por diversas formas”. 
Segundo Valls (1998), a ética na visão tradicional, é interpretada como “um 
estudo ou reflexão, científica ou filosófica, e eventualmente até teológica, sobre os 
costumes ou sobre as ações humanas”, o que lhe dá, portanto, um caráter teórico. 
Portanto, como um resultado histórico-cultural que define o que é virtude, o que 
é bom ou mal, certo ou errado, para cada cultura ou sociedade, a ética, seja como 
investigação teórico-filosófica, ou como ação enquanto extensão racional das nossas 
intenções, vai sustentar e dirigir as ações do homem, norteando a conduta individual 
e social. 
Por ética contemporânea, entende-se as doutrinas surgidas após a Revolução 
Francesa e que prolongam suas influências até aos dias atuais, sendo caracterizadas 
por uma reação adversa ao formalismo e ao racionalismo abstrato. 
Assim, o posicionamento filosófico no que se refere às doutrinas éticas no 
período contemporâneo, assenta-se em torno do pensamento de autores que atentem 
para “[...] a interiorização dos valores, normas e leis de uma sociedade, resumidos na 
vontade objetiva cultural, por um sujeito moral que aceita espontaneamente através 
de sua vontade subjetiva individual”. 
As questões éticas chegam ao século XX diante a uma grande quantidade de 
tendências, que variam conforme a origem ou forma de interpretação e observação. 
Peter Singer (1998), desenvolve uma investigação ética contemporânea 
voltada para a prática. Focaliza a aplicação da ética nas mais variadas e 
 
16 
 
controvertidas questões sociais atuais como igualdade e discriminação de raças, 
sexo, capacidade, aborto, eutanásia. 
Resumidamente, as linhas de pensamento ético-filosófico até aqui expostas, 
buscaram mostrar a ética em seu caminho histórico a partirde alguns dos diversos 
autores que se ocuparam da problemática ética, a fim de mostrar, através dos diversos 
pontos de vista concebidos, as várias concepções. 
O conceito de cidadania, por sua vez, deriva do latim ‘civitas’. Ele se refere ao 
pertencimento, ou a inclusão de uma determinada pessoa na esfera dos direitos 
instituídos por uma dada sociedade ou cultura. Tornar-se cidadão significa entrar no 
universo de possibilidades aberto pelos direitos concedidos à comunidade aos 
indivíduos que estabelecem com ela laços de pertencimento. 
Porém, não devemos nos ater apenas aos aspectos formais do direito positivo 
quando falamos de cidadania. Não podemos deixar de notar que as restrições ou o 
uso pleno dos direitos referentes à cidadania são condicionados não apenas pelo 
regime legal, mas também pela situação social, isto é, pelo lugar que ela ocupa na 
estrutura da sociedade. O exercício do direito ao voto ou da liberdade de expressão 
tem prioridades diferentes, de acordo com a autonomia que cada indivíduo ou grupo 
possui. E essa autonomia, muitas vezes, está relacionada à condição econômica do 
cidadão. 
3 A QUESTÃO DA DEMOCRACIA E A SUA IMPORTÂNCIA 
3.1 A democracia2 
Democracia é uma palavra de origem grega que pode ser definida como 
governo (kratos) do povo (demo). Dessa forma, a democracia pode ser entendida 
como um regime de governo onde o povo (cidadão) é quem deve tomar as decisões 
políticas e de poder. A democracia pode ser direta, indireta ou semidireta: diante da 
impossibilidade de todos os cidadãos tomarem as decisões de poder (democracia 
direta), estas passam a ser tomadas por representantes eleitos (democracia indireta 
 
2 Texto extraído do link: www.portalconscienciapolitica.com.br 
 
17 
 
ou representativa) e, nesse caso, são os representantes que tomam as decisões em 
nome daqueles que os elegeram. 
De modo geral, um governo é dito democrático por oposição aos sistemas 
monárquicos, onde o poder está centralizado nas mãos de uma única pessoa, o 
monarca, e aos sistemas oligárquicos, onde o poder está concentrado nas mãos de 
um grupo de indivíduos. Esta é a classificação dada por Aristóteles, em sua obra 
Política. 
 
Fonte: www.smartkids.com.br 
Historicamente, a democracia surgiu na Grécia antiga (ver mais na seção 
Filosofia Antiga). Mas mesmo em Atenas, onde a democracia se consolidou como 
uma forma de organização política das cidades-Estados gregas (as polis), não havia 
uma democracia no sentido literal do termo, pois, de fato, a grande maioria da 
população ateniense não era formada de cidadãos (por definição, aqueles que 
poderiam participar da coisa pública) e sim, de escravos, mulheres, crianças, além de 
estrangeiros. 
Em Atenas, vale ressaltar a figura de Clístenes, um reformador ateniense que 
ampliou o poder da assembleia popular, permitindo a existência do que na época 
passou a se chamar de isonomia, ou seja, a igualdade sob a lei, além da isegoria, 
direitos iguais de falar e, por isso, é considerado o pai da democracia. 
 
18 
 
No caso do Brasil, só é possível falar no processo de redemocratização 
levando-se em consideração o período obscuro que teve início com o golpe militar em 
1964. 
O período que antecedeu a promulgação da Constituição Federal de 1988 
deixou marcas profundas no seio da sociedade brasileira, isto se deu em 
razão de prevalecer no regime ditatorial então vigente, um total cerceamento 
ao exercício dos direitos de cidadania política. Esse quadro começou a ser 
mudado a partir da Assemblei Nacional Constituinte, que reconhecendo a 
importância da participação popular na elaboração do texto Constitucional, 
proporcionou a oportunidade da concretização dos anseios da população 
brasileira (FONSECA, 2009, p. 14). 
A fórmula de Abraham Lincoln: a democracia é “o governo do povo, pelo povo 
e para o povo” é uma das definições que melhor expressam a ideia de uma 
democracia. Esta definição está bem próxima do sentido etimológico da palavra, do 
grego antigo. Contudo, é preciso considerar, como já dissemos, que mesmo na Grécia 
Antiga, a democracia era um regime de governo onde apenas os cidadãos poderiam 
participar diretamente da coisa pública, o que representava em torno de 10% da 
população ateniense. 
Carole Pateman afirma (1992) que desde o início do século XX muitos teóricos 
políticos levantaram sérias dúvidas sobre a possibilidade de se colocar em prática um 
regime democrático no sentido literal do termo (governo do povo por meio da máxima 
participação do povo). E Bobbio (2000) indica pelo menos três fatores a partir dos 
quais um projeto democrático tem-se tornado difícil de se concretizar nas sociedades 
contemporâneas: a especialidade, a burocracia e a lentidão do processo 
O primeiro obstáculo diz respeito ao aumento da necessidade de 
competências técnicas que exigem especialistas para a solução de 
problemas públicos, com o desenvolvimento de uma economia regulada e 
planificada. A necessidade do especialista impossibilita que a solução possa 
vir a ser encontrada pelo cidadão comum. Não se aplica mais a hipótese 
democrática de que todos podem decidir a respeito de tudo. O segundo 
obstáculo refere-se ao crescimento da burocracia, um aparato de poder 
ordenado hierarquicamente de cima para baixo, em direção, portanto, 
completamente oposta ao sistema de poder burocrático. Apesar de terem 
características contraditórias, o desenvolvimento da burocracia é, em parte, 
decorrente do desenvolvimento da democracia [...] O terceiro obstáculo 
traduz uma tensão intrínseca à própria democracia. À medida que o processo 
de democratização evoluiu promovendo a emancipação da sociedade civil, 
aumentou a quantidade de demandas dirigidas ao Estado gerando a 
necessidade de fazer opções que resultam em descontentamento pelo não-
atendimento ou pelo atendimento não-satisfatório. Existe, como agravante, o 
fato de que os procedimentos de resposta do sistema político são lentos 
relativamente à rapidez com que novas demandas são dirigidas ao governo 
(BOBBIO, 2000 apud NASSUNO, 2006, p. 173-174). 
 
19 
 
Hoje em dia a democracia tornou-se um sistema político (e não mais apenas 
um simples regime) no qual a soberania é atribuída ao povo que o exerce de modo: 
Direto - quando o povo promulga ele mesmo as leis, toma as decisões 
importantes e escolhe os agentes de execução, geralmente revogáveis. Temos aqui 
a democracia direta; 
Indireto - quando o povo elege representantes, eleitos através do voto, por um 
mandato de duração limitada, e que devem representar os interesses da maioria. 
Temos a democracia indireta ou Democracia Representativa; 
Semidireta - no caso das democracias indiretas, o povo é chamado a 
estabelecer algumas leis, através de referendos (que pode ser um referendo de 
iniciativa popular), ou também para impor um veto a um projeto de lei, ou ainda propor, 
ele mesmo, projetos de lei; este modelo pode ser analisado a partir do que se 
convencionou chamar de Democracia Participativa que se caracteriza pela existência 
de mecanismos que garantem a participação popular na esfera pública. 
3.2 A importância da democracia participativa3 
Rui Barbosa, um dos grandes brasileiros, afirmou certa vez: “O Brasil (...) é o 
povo, em um desses movimentos seus, em que se descobre toda a sua majestade”. 
Defensor incansável da democracia, sempre lutou por um país justo e humano. Assim, 
foi também um entusiasta da prática efetiva da cidadania – direito que, irrevogável, 
contribui imensamente para a construção de uma realidade em que a população 
tenha, de fato, voz e vez. 
Despertar para a importância da participação popular, em diferentes situações, 
é fundamental. O poder público, quando ciente disso, trabalha mais e melhor; a 
sociedade, por sua vez, torna-se mais forte e crítica, o que leva esperança a mulheres, 
a homens e a crianças de todas as biografias sociais. 
A indignação éo primeiro passo para a busca de soluções referentes aos 
problemas de uma comunidade, de uma cidade, de um país. Juntos, os cidadãos 
favorecem o bem comum e contribuem para o seu próprio amadurecimento, político, 
social, cultural. E essa verdade, além de atingir resultados imediatos, pode levar a 
 
3 Texto extraído do link: chalita.com.br 
 
20 
 
conquistas de médio e de longo prazos. A conscientização coletiva e o 
acompanhamento popular das medidas dos gestores públicos são essenciais. 
No entanto, é indiscutível que liberdade pressupõe responsabilidade. Cumprir 
nossos deveres é tão importante quanto exigir nossos direitos. No dia a dia, pequenas 
atitudes promovem grandes mudanças. Respeitar os idosos (e todos os benefícios 
que lhes são garantidos), não furar fila, contribuir para a limpeza e para a conservação 
do patrimônio público, devolver o troco que veio a mais e cumprir as leis de trânsito, 
entre tantos outros fatores, também faz parte da atuação democrática. 
Há um sentimento crescente de que o país pode mais, e não devemos nunca 
duvidar disso. Que a indignação, a visão crítica e o espírito participativo permaneçam 
constantemente vivos entre os brasileiros. 
4 O DIREITO E A MORAL NO BRASIL CONTEMPORÂNEO 
A ciência e a tecnologia se desenvolvem muito mais do que a existência 
humana interior. Porém, essas importantes e inegáveis conquistas do homem não 
proporcionam igual evolução no campo da ética e da moral. A grande disputa de 
espaços e a perene luta pelo poder brutalizam o homem, que passa a ver o seu 
semelhante como um oponente um competidor. 
 A sociedade é dividida entre os que “pisam” e os que são “pisados” — 
colocando pessoas iguais em planos diferentes — os melhores providos de meios 
inexoravelmente irão conduzir o destino de seus semelhantes que possuem menos 
recursos. Os detentores de forte influência, considerando o poder econômico, social 
e demagógico conduzem as preferências de toda a sociedade. Mas, isso não significa 
que os menos favorecidos pela sorte usem como pretexto para justificar seus vícios e 
sua infelicidade. 
Vivemos uma crise de legitimidade do modelo político, por não corresponder às 
necessidades de participação e de mudança da sociedade civil; vivemos uma crise de 
representatividade dos partidos políticos tradicionais, vinculados às oligarquias 
regionais e às grandes burguesias nacionais, assim como dos partidos de esquerda 
que se adaptaram velozmente ao status quo e às práticas políticas tradicionais. Antes 
da crise econômica ou política, vivemos no Brasil uma profunda crise moral e, entre 
outras razões, decorrente da fragilidade na nossa formação. A esperança de 
 
21 
 
enriquecer fácil e a certeza da impunidade é maior do que o medo de ser pego, razão 
pela qual vale a pena arriscar. 
 
Fonte: www.coladaweb.com 
A Ética se restringe ao campo particular do caráter e da conduta humana, à 
medida em que se relacionada a certos princípios morais, em termos gerais, a Ética e 
a Moral são valores do homem livre. A Moral, por seu turno, é o conjunto de normas 
que regulam o comportamento dos homens em Sociedade. No primeiro, Moral é um 
conjunto de valores. Na ética, um conjunto de normas. A Ética é a forma pela qual o 
homem deve se comportar no meio social. É a ciência da conduta humana. Está ela 
intimamente relacionada ao caráter das pessoas. A Ética seria a ciência que estuda a 
conduta humana e a moral seria a qualidade desta conduta. 
Os recentes episódios ocorridos no parlamento brasileiro e fartamente expostos 
pela mídia demonstram a total falta de compromisso com interesses coletivos e 
cristaliza a crise moral. Nossos representantes no parlamento parecem preocupar-se 
tão somente com a própria manutenção no poder e obtenção de vantagens pessoais, 
conduzindo-se por uma inclinação devassa que chega a enojar. Enfim, toda essa sorte 
de mazelas que parece demonstrar que o povo brasileiro vive num enorme carnaval 
de bandalheiras, numa incessante orgia de falcatruas que se repetem com frequência 
tal que, cerca de dois ou três meses do último escândalo, já não se tem mais 
lembrança dos detalhes dos primeiros. 
 
22 
 
Essa realidade assaz desesperadora, ao mesmo tempo em que desencanta e 
desestimula, permite que possamos refletir sobre as fontes dos infortúnios brasileiros, 
entre as quais a crescente crise moral. Não bastasse a inflação e a vergonhosa 
posição do Brasil em todos os indicadores de desenvolvimento e civilidade, as notícias 
veiculadas pela mídia nos últimos tempos nos levam a concluir que vivemos em 
estado de barbárie. À roubalheira desenfreada e pluripartidária na Petrobras e outras 
que por certo virão. É meu amigo Valdenir, tudo isso força-nos à uma profunda 
reflexão. A mudança está em cada um de nós!4 
4.1 Causas da crise moral 
Basta olhar em volta e perceberemos que estamos imersos em uma crise moral 
de graves proporções. Como não é possível combater os efeitos sem eliminar as 
causas, somos forçados a questionar: – Quais são as causas da crise em que 
vivemos? 
Considerando que somos espíritos encarnados em um grande Lar Escola 
chamado Terra, podemos apontar para os instrumentos e as instruções que compõem 
a chamada educação, como causas em potencial. Isto inclui tanto a educação 
oferecida no lar e nas escolas, como nas organizações públicas e privadas, sem eximir 
os meios de comunicação escrita, falada e televisionada. Afinal a crise é 
comportamental, e comportamento é sempre efeito dos princípios, valores e crenças 
que promovemos e que as pessoas adotam em suas vidas. Se estivermos de acordo 
com o diagnóstico, novas perguntas se apresentam; entre elas: – O que devemos 
fazer? 
Considerando que a fonte só põe para fora o que tiver por dentro, não há como 
mudar o que vemos sem fazer mudanças; mas o que mudar? 
Note-se que o conhecimento humano se fundamenta em nossa capacidade de 
filosofar, portando de questionar; na nossa capacidade de fazer ciência, portanto, de 
fazer verificação das verdades; e na nossa capacidade de fazer escolhas, portanto na 
nossa habilidade de exercitar a nossa ética. 
 
4 Extraído do link: www.progresso.com.br 
 
23 
 
Considerando que Ética é a religião das religiões e que ético é sempre fazer ao 
outro o que eu gostaria que a mim fosse feito, uma medida inicial seria promover a 
religiosidade natural que há em todos os seres e que se manifesta desde a mais tenra 
idade. 
Assim, promotores da filosofia, da ciência e da religião, ou seja, professores, 
pais e letrados em geral: em vez de se criticarem mutuamente, poderiam unir-se e 
promover o conhecimento em torno destes três eixos do conhecimento, relembrando 
em todas as oportunidades e espaços públicos e privados, que somos seres imortais, 
portanto, sujeitos à posse e retenção de memórias que ficarão conosco para sempre; 
e que não há dor pior do que a dor do arrependimento sobre o mal que 
conscientemente cometemos. 
Imaginemos escolas nas quais nossos filhos teriam contato com a história de 
todas as expressões religiosas e que no exercício do seu livre-arbítrio escolhessem 
estudar e praticar os princípios religiosos da religião que mais lhes tocasse o íntimo! 
Tal medida evitaria a imposição de valores religiosos de fora para dentro, 
reduziria o número de desiludidos e revoltados e ampliaria os sentimentos de ética 
para com seus semelhantes. 
Se a crise é comportamental, sua origem é inegavelmente educacional; 
portanto, somente uma revolução nos conteúdos que ensinamos aos nossos jovens 
poderá mudar os graves efeitos da escolarização formal e informal que nossa 
sociedade atual oferece. 
Como somos espíritos sujeitos à reencarnação, é inevitável que encontremos 
no futuro os efeitos da nossa semeadura atual. Isto inclui os efeitos de nossas ações 
e omissões.55 Extraído do link: serespirita.com.br 
 
24 
 
5 A EDUCAÇÃO E A CIDADANIA, O RESPEITO À DIFERENÇA, A QUESTÃO DE 
RAÇA E ETNIA 
5.1 Educação Cidadã, Etnia e Raça: O trato pedagógico da diversidade 
Observa que ao abordar a situação do negro na sociedade brasileira, a 
utilização do termo raça é o termo mais adotado pelos sujeitos sociais. É também o 
que consegue se aproximar da real dimensão do racismo no Brasil. O próprio 
Movimento Negro quando fala de raça utiliza baseado em uma nova interpretação de 
reapropriação social e política, construída pelo próprio negro, pois o racismo e a 
discriminação contra os negros não são só em decorrência dos aspectos culturais 
presentes em suas vidas, mas por vários aspectos vistos de maneira negativa e pela 
existência de sinais diacríticos que remetem esse grupo a uma ancestralidade negra 
e africana. 
 
Fonte: mirnacavalcanti.wordpress.com 
 Quando se discute a relação negro e branco no Brasil, deve-se considerar o 
peso dos aspectos raciais. Raça é entendida como um conceito relacional que se 
constitui histórica, política e culturalmente. Quando a autora discute sobre Educação, 
 
25 
 
cidadania e raça referem-se a todas as implicações que essa discussão acarreta ao 
seguimento da população negra. 
Quanto à implementação de políticas educacionais, esta deve observar a 
realidade sociocultural brasileira. É necessário ao propor uma educação cidadã que 
se articule a questão racial, observando e estando ciente dessa complexidade que 
envolve o segmento negro em sua trajetória escolar, pois conforme pesquisas 
recentes mostram que alunos negros, tem mais dificuldades que alunos brancos, 
demonstrando que há uma estreita relação entre educação escolar e as 
desigualdades raciais na sociedade brasileira. Deve-se repensar a estrutura, os 
currículos, os tempos e os espaços escolares, quanto às particularidades da cultura 
de tradição africana. A escola muitas vezes desconhece e desconhece essa realidade. 
A construção de práticas democráticas e não preconceituosas implica o 
reconhecimento do direito a diferença e isso inclui as diferenças raciais, assim 
estaremos articulando Educação, cidadania e raça. Para se atingir esses objetivos é 
necessário a revisão dos valores e padrões considerados aceitáveis por todos. A 
realidade escolar no Brasil ainda prima por um modelo branco, masculino, 
heterossexual e jovem. Outro fator a ser observado refere-se à superação do medo 
quanto a diversidade, pois ser diverso não é um problema, e identidade racial também 
não, pois isso são aspectos constituintes da formação humana e também uma 
construção social histórica. A formação histórica no Brasil não foi positiva para os 
negros, pois a mesma foi marcada pela colonização, pela escravidão e pelo 
autoritarismo, o que levou a teorias cientificistas quanto à inferioridade das pessoas 
negras, dos mestiços, o ideal de branqueamento. Isto acarreta numa dificuldade de 
identificação da maioria da população brasileira quanto a sua identidade. Por tudo 
isso, ser negro no Brasil possui uma complexidade maior e não se restringe a um dado 
biológico. “No Brasil ser negro é tornar-se negro” (pág. 89). Entender isso é tarefa dos 
profissionais da educação, da escola, que não pode deixar de incluir a questão racial 
no seu currículo e na sua prática. Começando por uma revisão das práticas racistas 
veladas no cotidiano escolar, em seus mais variados aspectos, principalmente 
desvelar o silêncio sobre a questão racial na escola. 
Pensar a articulação entre Educação, cidadania e raça é mais do que uma 
mudança conceitual ou tratamento teórico é possuir uma postura político-
pedagógicas, pois Educação lida com sujeitos concretos, estabelecendo vínculos 
 
26 
 
entre vivência cultural, desenvolvimento e o conhecimento escolar, pois o meio 
sociocultural que dá a base da inserção. Para atingirmos uma escola democrática 
devemos analisar e superar a ambiguidade do racismo no Brasil, pois o mesmo é um 
caso complexo e singular, pois ele se afirmar por meio da sua própria negação, onde 
é negado com veemência, mas mantêm-se presente no sistema de valores de nossa 
sociedade. Neste contexto a escola está baseada em um ideal branco. Então para 
atingirmos outro patamar escolar, a mesma não deve mais discutir a questão racial 
como problema do negro, e sim, repensar novo currículos, novas práticas, entender a 
beleza, a sensibilidade e a radicalidade da cultura de tradição africana e não somente 
no segmento negro da população, um aprendizado a ser incorporado pelos que 
cuidam das políticas educacionais.6 
5.2 O que é Raça e Etnia 
Raça e etnia não são sinônimos. Etnia é um grupo definido pela mesma origem, 
afinidades linguísticas e culturais, enquanto que raça como distinção entre os homens 
é um conceito socialmente construído de que existiriam diferenças biológicas entre as 
etnias. 
A palavra etnia é derivada do grego ethnos, que significa "povo que tem os 
mesmos costumes". Raça é um conceito biológico aplicado aos subgrupos de uma 
espécie. A espécie humana não possui subespécies ou subcategorias, e, portanto, 
não é correto dizer que existem diferentes raças humanas. 
Mas há ainda um entendimento do senso comum, construído socialmente de 
que as diferentes raças correspondem às características biológicas dos grupos 
étnicos. Como por exemplo, a raça negra que seria composta daqueles que têm a 
pele negra, cabelos crespos, entre outras características fenotípicas. 
A diferença entre raça e etnia é, portanto que raça determinava um grupo por 
características biológicas, enquanto a etnia fala sobre aspectos culturais. Contudo, 
estudos da sociologia, antropologia e da biologia no último século contribuíram para 
desconstruir a ideia discriminatória do conceito de raça e aposentar o termo quanto 
classificação humana. 
 
6 Extraído do link: www.portaleducacao.com.br 
 
27 
 
A língua é utilizada como fator primário de classificação dos grupos étnicos. 
Existe um grande número de línguas multiétnicas e determinadas etnias são 
multilíngues. 
Os grupos étnicos compartilham uma origem comum, e exibem uma 
continuidade no tempo, apresentam uma noção de história em comum e projetam um 
futuro como povo. 
Isto se alcança através da transmissão de geração em geração de uma 
linguagem comum, de valores, tradições e, em vários casos, instituições. 
5.3 Raça e Etnia no Brasil 
O Brasil é considerado um país com uma enorme miscigenação étnica, como 
os indígenas, portugueses, holandeses, italianos, negros, japoneses, árabes, e etc., 
Mas, não se pode dizer que há diferença racial entre os brasileiros, já que a raça 
humana é uma só. 
Cada região brasileira, devido ao seu contexto histórico particular, possui uma 
predominância de determinada etnia. 
Os processos migratórios no Brasil foram fundamentais para a variedade de 
etnias brasileiras. Além dos grupos culturais de imigrantes, a miscigenação permitiu a 
criação de grupos étnicos próprios do Brasil, como os caboclos e mulatos.7 
Dificilmente existe uma nação com tão complexa e variada composição étnica 
de sua população. No caso do Brasil, a formação populacional advém de basicamente 
cinco distintas fontes migratórias, são elas: 
- os nativos, que se encontravam no território antes da chegada dos 
portugueses. Esses povos eram descendentes de homens que chegaram às Américas 
através do Estreito de Bering; 
- os portugueses, que vieram para o Brasil a fim de explorar as riquezas da 
colônia; 
- os negros africanos, que foram trazidos pelos europeus para trabalhar nos 
engenhos na produção do açúcar a partir do século XVI; 
- a intensa imigração europeia no Brasil, sobretudo no sul do país; 
 
7 Extraído do link: www.significados.com.br/raca-e-etnia 
 
28 
 
- a entrada de imigrantes oriundos de várias origens, especialmentevindos da 
Ásia e Oriente Médio. 
Com base nessas considerações, a população brasileira ficou com a seguinte 
composição étnica: 
 
Brancos: a grande maioria da população branca tem origem europeia (ou são 
descendentes desses). No período colonial vieram para o Brasil: espanhóis, 
holandeses, franceses, além de italianos e eslavos. A região sul abriga grande parte 
dos brancos da população brasileira, pois esses imigrantes ocuparam tal área. 
 
Negros: essa etnia foi forçada a migrar para o Brasil, uma vez que vieram como 
escravos para atuar primeiramente na produção do açúcar e mais tarde na cultura do 
café. O Brasil é um dos países que mais utilizou a mão de obra escrava no mundo. 
Hoje, os negros se concentram principalmente em áreas nas quais a exploração foi 
mais intensa, como é o caso das regiões nordeste e sudeste. 
 
Indígenas: grupo étnico que habitava o território brasileiro antes da chegada 
dos portugueses. Nesse período, os índios somavam cinco milhões de pessoas. Os 
índios foram quase disseminados, restaram somente 350 mil índios, atualmente 
existem 170 mil na região Norte e no Centro-Oeste 100 mil. 
 
Pardos: etnia formada a partir da junção de três origens: brancos, negros e 
indígenas, formando três grupos de miscigenação. 
 
Mulatos: correspondem à união entre brancos e negros, esse grupo representa 
24% da população e ocorre com maior predominância no Nordeste e Sudeste. 
 
Caboclos: representa a descendência entre brancos e indígenas. No país 
respondem por 16% da população nacional. Esse grupo se encontra nas áreas mais 
longínquas do país. 
 
29 
 
Cafuzos: esse grupo é oriundo da união entre negros e índios, essa etnia é 
restrita e corresponde a 3% da população. É encontrado com maior frequência na 
Amazônia, Centro-Oeste e Nordeste.8 
6 A EDUCAÇÃO, A INTOLERÂNCIA, O RACISMO E A XENOFOBIA 
6.1 Educação de qualidade pode ajudar a prevenir racismo e xenofobia 
A educação tem um papel fundamental na criação de novos valores e atitudes 
e fornece-nos ferramentas importantes para abordar a discriminação profunda e o 
legado de injustiças históricas”, disse Mutuama Ruteere num briefing no Conselho dos 
Direitos Humanos, em Genebra. 
 
Fonte:vhecologia.blogspot.com.br 
Ruteere disse que os estados devem assegurar que os currículos escolares 
contêm informação equilibrada sobre a contribuição das minorias, dos migrantes e de 
outros grupos não dominantes, e que enfatizem que tal é particularmente relevante 
contra um contexto de agitação social e económica. 
 
8 Extraído do link: mundoeducacao.bol.uol.com.br 
 
30 
 
“O crescimento de partidos políticos, movimentos e de grupos extremistas 
coloca grandes desafios particularmente no contexto da atual crise financeira e 
econômica”, alertou. “Racismo, xenofobia, homofobia e outras atitudes de intolerância 
continuam a ser levadas a cabo por indivíduos e por grupos com ligações a partidos 
políticos ou movimentos extremistas, contra pessoas de descendência africana, 
membros de minorias como os Roma, estudantes estrangeiros, judeus, muçulmanos 
e migrantes, disse Ruteere, acrescentando que os Estados devem tomar ações 
decisivas contra as tentativas de alguns grupos extremistas de falsificar a história. 
Estados devem ainda avaliar o impacto dos cortes orçamentais na educação 
numa altura de crise econômica, particularmente para minorias e grupos 
desfavorecidos, disse Ruteere. 
“Reparo que, pesem embora algumas iniciativas positivas, há estudos e 
conclusões de órgãos nacionais e internacionais que mostram que pessoas de 
descendência africana, Roma, pessoas indígenas, migrante, para referir alguns, 
continuam a ter acesso restrito a uma educação superior e de qualidade. ” 
Ruteere entregou ainda um relatório ao Conselho em que aborda os últimos 
desenvolvimentos por si identificados relativamente aos desafios contínuos de direitos 
democráticos e humanos colocados por partidos políticos, movimentos e grupos 
extremistas, como sejam os grupos de neonazis e os skinheads. 
Este relatório examina as principais áreas de preocupação nas quais são 
exigidos novos esforços e uma vigilância consistente contra crimes de racismos e de 
xenofobia e identifica também boas práticas desenvolvidas por estados e por 
diferentes parceiros. 
Especialistas independentes, ou relatores especiais, são designados pelo 
Conselho para examinar e reportar sobre a situação de um país ou de um tema 
específico de direitos humanos. Fazem o seu trabalho voluntariamente, não sendo 
pagos pela ONU.9 
 
9 Extraído do link: www.unric.org 
 
31 
 
6.2 Xenofobia na Europa 
O crescimento da xenofobia na Europa é revelador das relações entre a 
intolerância cultural e o crescimento migratório no continente. 
 
Entende-se por Xenofobia, em termos sociopolíticos, a repulsa ou aversão a 
povos estrangeiros em um dado local ou território. Essa denominação, primeiramente 
utilizada no contexto da psicologia e da biologia, é também encarada como uma 
questão política, cuja lógica se manifesta de forma mais acentuada em alguns países 
do continente europeu, em função da grande quantidade de imigrantes residentes 
nesse continente. 
Para entender essa questão, é preciso, primeiramente, compreender a lógica 
da dinâmica migratória em direção à Europa. Os principais fatores que propiciam a 
presença de estrangeiros no território europeu são: 
a) Dificuldades econômicas enfrentadas pelos países subdesenvolvidos e 
emergentes. Esses países sofrem com problemas graves de distribuição de 
renda, o que faz com que a população menos favorecida busque por novas 
oportunidades em países centrais. Dessa forma, a Europa torna-se um 
atrativo por oferecer uma maior mobilidade entre as diferentes nações, local 
onde esses imigrantes realizam os serviços mais básicos e destinam suas 
economias para seus locais de origem. 
b) Necessidade de imigrantes por parte da Europa, uma vez que há carência 
de trabalhadores para as funções mais básicas da sociedade, vagas que 
costumam ser preenchidas por estrangeiros. 
c) Investimentos econômicos em alguns setores na economia são também 
requisitados pelos europeus aos estrangeiros, uma vez que boa parte dos 
empresários do velho continente opta por investir em outras economias. 
Assim, na Europa, registra-se a presença de uma elite, principalmente, 
islâmica, que passa a ganhar cada vez mais representatividade no âmbito 
do poder. 
d) Os avanços do meio técnico-científico-informacional no cerne da 
Globalização propiciaram também novas configurações territoriais, 
possibilitando e facilitando o rápido transporte de pessoas em todo o mundo, 
 
32 
 
tornando-se o fator derradeiro para consolidar e intensificar os fluxos 
migratórios então existentes. 
 
Graças a esses fatores, a presença de povos estrangeiros e de culturas e 
práticas sociais não europeias é cada vez maior, muito embora os fluxos migratórios 
venham diminuindo nos últimos anos. Com isso, o sentimento de alteridade para com 
outros povos por parte da população de alguns países na Europa é cada vez menor, 
aumentando casos de racismos, intolerância religiosa (principalmente com os 
muçulmanos) e rejeição aos estrangeiros. 
Os principais fatores que motivam a ocorrência e os aumentos periódicos de 
ondas xenofóbicas são: 
 
a) Crise de identidade que aumenta à medida em que a Europa vai 
gradativamente se transformando em um local multimiscigenado, haja vista que a 
maioria dos imigrantes não costuma retornar para os seus locais de origem, 
estabelecendo-se em espaço europeu e transmitindo suas heranças genéticas aos 
seus descendentes, provocando uma transformação étnica. Para agravar essa 
questão, observa-se que o crescimento migratório em vários países europeus é muito 
superior ao crescimento vegetativo, graças às quedas acentuadas das taxas de 
natalidade.b) A ideia de que os imigrantes “roubam” os empregos dos europeus, pois 
muitos consideram que aqueles realizam os mesmos serviços da população local, 
porém com salários mais baixos e condições de trabalho mais degradantes. Apesar 
de isso ser verdade, a presença de imigrantes não diminui o índice de emprego para 
a população local, haja vista que os estrangeiros costumam atuar em áreas carentes 
de emprego, geralmente destinadas à população de renda mais baixa, além de 
atuarem também na informalidade. 
 
c) A crise econômica que atinge a Europa, de forma mais intensa desde 2011, 
vem contribuindo para o crescimento de casos de xenofobia. Isso ocorre porque, com 
a crise econômica, parte da população passou a responsabilizar os povos 
estrangeiros por meio de ideias preconceituosas pela retração econômica. Além disso, 
 
33 
 
com o aumento de problemas sociais ocasionados pela crise, como o desemprego, 
partidos de extrema direita angariaram mais espaço nos parlamentos, ganhando força 
para difundir seus ideais fascistas, racistas e anti-imigrantistas. 
 
e) Os migrantes vêm procurando manter as suas tradições, ao contrário do 
que acontece, por exemplo, nos EUA, onde a população estrangeira 
modifica os seus hábitos e padrões de comportamento e comunicação para 
adequar-se aos valores nacionais. Na Europa, os grupos estrangeiros, cada 
vez maiores, mais influentes e mais organizados, articulam-se no sentido 
de conservar suas tradições, incluindo os seus idiomas. Isso gera uma crise 
social muito grande, pois os nativos europeus simplesmente não concebem 
essa ideia, gerando conflitos cotidianos e sociais, o que pode, em um futuro 
próximo, reverberar em uma crise sem precedentes no continente europeu. 
 
Considerando essas razões, é possível perceber um crescimento de atos e 
posições xenofóbicas no contexto das sociedades europeias. Essas práticas, apesar 
de muitas vezes serem combatidas por leis e ações públicas, são referendadas pelos 
Estados nacionais, que lançam ações e posturas de diminuição dos direitos dos povos 
estrangeiros. Um exemplo disso é a Suíça, que aprovou leis de expulsão a imigrantes 
condenados por crimes graves após o cumprimento de suas penas, crimes esses que 
envolvem estupros, homicídios e tráfico de drogas, além de alguns outros 
considerados menores.10 
6.3 Intolerância religiosa e racismo crescem no ‘pacífico’ Brasil 
Vivemos um dos momentos mais conturbados da história da humanidade. Um 
período parecido com o que antecedeu a Segunda Guerra Mundial, em que 
nacionalismos e separatismos, bem como conflitos que opunham etnias e religiões, 
mascaravam as verdadeiras razões políticas e econômicas subjacentes àquela época 
como a crise da Bolsa de Valores, de 1929, e a Grande Depressão. Cenários como 
 
10 Extraído do link: brasilescola.uol.com.br 
 
34 
 
esses propiciam e potencializam sentimentos de xenofobia, ódio, intolerância e 
racismo. 
No âmbito internacional, as diferenças religiosas têm exacerbado o preconceito 
em relação aos muçulmanos, induzindo-se a crer que todo o adepto da religião 
islâmica tem a responsabilidade por ataques terroristas causados por uma minoria 
radical sem nenhum princípio ético e humanitário, base fundamental de qualquer 
doutrina religiosa. Exemplo recente é a intensificação do conflito das duas potências 
petrolíferas no Oriente Médio -Irã e Arábia Saudita- tencionando ainda mais uma 
região marcada por confrontos de origem religiosa. 
A intolerância religiosa e o racismo motivaram e foram pano de fundo para 
quase todos os conflitos armados que ocorreram no século 20. A morte de mais de 
seis milhões de judeus, no período sinistro e obscuro da ascensão do nazismo, que 
perdurou por mais de uma década na Alemanha, é um exemplo claro desse fenômeno. 
Historicamente, o Brasil não ficou ao largo desse processo de radicalização e 
intolerância religiosa. No momento em que o fascismo aterrorizava a Europa, 
movimentos como o integralismo, que pregava o racismo, ganhava força entre nós. É 
só lembrar que o candomblé e até mesmo a capoeira, com seus batuques e cantigas, 
eram proibidos no Brasil até meados do século 20. 
Nosso país é dos locais que apresentam a maior diversidade de credos do 
mundo. Abriga diferentes comunidades religiosas e culturais e é considerado a maior 
nação espírita e católica do planeta, com a presença de diversas instituições 
ecumênicas. Aparentemente “pacífico”, o Brasil é constitucionalmente laico, sem 
religião oficial, o que garante a seus cidadãos a liberdade de crença e de expressão. 
Ao mesmo tempo, é possível afirmar, contraditoriamente, que, com o aumento 
da diversidade religiosa, aqui verifica-se o agravamento da intolerância e do racismo. 
O problema se revela frequente, com relatos de destruição de imagens de orixás, 
símbolos do candomblé ou de imagens de santos católicos. 
Trajar roupas brancas como nos rituais ancestrais às sextas-feiras, como 
símbolo de quem cultua religião de matriz africana, é visto hoje em certos ambientes 
em nosso território como uma ofensa. Alguns programas de televisão tratam 
abertamente as religiões de matriz africana como seitas satânicas do mal. 
Também têm sido cada vez mais frequentes os casos de queima de terreiros 
de candomblé e os relatos de mães de santo que sofrem pequenos atentados a seus 
 
35 
 
seguidores, como o esvaziamento dos pneus de carros estacionados nas 
proximidades de seus terreiros. É comum, igualmente, a depredação de capelas 
católicas, sobretudo as localizadas em áreas isoladas, à beira das estradas. No 
entanto, há pouca reação contra esse tipo de atentado e discriminação. 
Nos últimos meses, a Secretaria Municipal de Promoção da Igualdade Racial 
de São Paulo (SMPIR) registrou aumento significativo do volume de denúncias de 
atos de intolerância contra crenças de matriz africana, sendo superado apenas pelos 
registros de práticas de discriminação em escolas. Pior ainda quando as duas coisas 
vêm juntas: crianças são discriminadas no ambiente escolar pelas suas vestimentas 
ou religiões (candomblé, islamismo ou judaísmo). Muitos casos nem sequer chegam 
ao conhecimento do poder público. 
Visando coibir outras atitudes discriminatórias foi sancionada uma lei municipal 
na cidade de São Paulo, criando o Dia de Combate à Intolerância Religiosa, celebrado 
no dia 21 de janeiro. Por conta dessa data, foi lançado, com a presença do prefeito 
Fernando Haddad, o fórum inter-religioso, uma iniciativa da SMPIR, que conta com o 
apoio da secretaria de direitos humanos. 
Trata-se do reconhecimento, pelo próprio Estado, da existência do problema. 
A intolerância religiosa é um crime de ódio que fere a liberdade e a dignidade humana. 
E o país, que abriga uma das maiores diversidades religiosa do mundo, tem a 
obrigação de ser verdadeiramente um exemplo de paz nessa questão.11 
6.4 Racismo e Xenofobia 
O racismo é a tendência do pensamento, ou do modo de pensar em que se dá 
grande importância à noção da existência de raças humanas distintas e superiores 
umas às outras. Onde existe a convicção de que alguns indivíduos e sua relação entre 
características físicas hereditárias, e determinados traços de carácter e inteligência 
ou manifestações culturais, são superiores a outros. 
O racismo não é uma teoria científica, mas um conjunto de opiniões pré-
concebidas, onde a principal função é valorizar as diferenças biológicas entre os seres 
 
11 Extraído do link: racismoambiental.net.br 
 
36 
 
humanos, em que alguns acreditam ser superiores aos outros de acordo com sua 
matriz racial. 
A crença da existência de raças superiores e inferiores foi utilizada muitas 
vezes para justificar a escravidão, o domínio de determinados povos por outros, e os 
genocídios que ocorreram durante toda a história da humanidade. 
Os racistas definem uma raçacomo sendo um grupo de pessoas que têm a 
mesma ascendência. Diferenciam as raças com base em características físicas como 
a cor de pele e o aspecto do cabelo. Investigações recentes provam que a “raça” é 
um conceito inventado. 
A noção de “raça” não possui qualquer fundamento biológico. A palavra 
“racismo” é igualmente usada para descrever um comportamento abusivo ou 
agressivo para com os membros de uma “raça inferior”. 
O racismo reveste-se de várias formas nos diversos países, consoante a sua 
história, cultura e outros fatores sociais. Uma forma relativamente recente de racismo, 
por vezes denominada “diferenciação étnica ou cultural”, defende que todas as raças 
e culturas são iguais, mas não se deviam misturar, de maneira a conservar a sua 
originalidade. Não há nenhuma prova científica da existência de raças diferentes. A 
biologia só identificou uma raça: a raça humana. 
A importância que o homem dá à cor da pele do seu semelhante, é deveras 
preocupante. Na realidade, em muitos casos a diferença da cor da pele é uma barreira 
muito mais determinante para a comunicação entre as pessoas do que a própria 
diferença linguística, isto pode ser considerado um fenómeno anti-natura, uma vez 
que não vemos na natureza os animais minimamente preocupados com as diferenças 
de pelagem ou penas. 
A diferença de cor entre as pessoas tem uma explicação científica para a qual 
o homem não contribui minimamente: a maior ou menor concentração de melanina da 
pele, que torna a pele da pessoa mais o menos escura. 
 A xenofobia quer dizer aversão a outras raças e culturas. Muitas vezes 
é característica de um nacionalismo excessivo. 
A xenofobia é um medo intensivo, descontrolado e desmedido em relação a 
pessoas ou grupos diferentes, com as quais nós habitualmente não contatamos. 
Por discriminação racial entende-se qualquer distinção, exclusão, restrição ou 
preferência em função da raça, origem, cor ou etnia, que tenha por objetivo ou produza 
 
37 
 
como resultado a anulação ou restrição do reconhecimento, fruição ou exercício, em 
condições de igualdade, de direitos, liberdades e garantias ou de direitos econômicos, 
sociais e culturais. 
Uma das formas de descriminação racial é a intolerância, ou seja, a falta de 
respeito pelas práticas e convicções do outro. Aparece quando alguém se recusa a 
deixar outras pessoas agirem de maneira diferente e terem opiniões diferentes. 
A intolerância pode conduzir ao tratamento injusto de certas pessoas em 
relação ás suas convicções religiosas, sexualidade ou mesmo à sua maneira de vestir. 
Está na base do racismo, do antissemitismo, da xenofobia e da discriminação em 
geral. Frequentemente, pode conduzir à violência. 
Contudo, existem formas de combate à discriminação racial. 
 
MEIOS JURIDICOS DE COMBATE AO RACISMO E A XENOFOBIA 
Legislação que proíbe as descriminações no exercício de direitos, por motivos 
baseados na raça, cor nacionalidade ou origem étnica: Lei nº 134/99, de 28 de Agosto; 
Decreto-Lei nº 111/2000, de 4 de Julho. 
❥ A igualdade é a característica do que é igual. O que significa que nenhuma 
pessoa é mais importante que outra, quaisquer que sejam os seus pais e a sua 
condição social. Naturalmente, as pessoas não têm os mesmos interesses e as 
mesmas capacidades, nem estilos de vida idênticos. Consequentemente, a igualdade 
entre as pessoas significa que todos têm os mesmos direitos e as mesmas 
oportunidades. No domínio da educação e do trabalho, devem dispor de 
oportunidades iguais, apenas dependentes dos seus esforços. A igualdade só se 
tornará uma realidade quando todos tiverem, em termos idênticos, acesso ao 
alojamento, à segurança social, aos direitos cívicos e à cidadania. 
❥ O interculturalismo consiste em pensar que nós enriquecemos através do 
conhecimento de outras culturas e dos contatos que temos com elas e que 
desenvolvemos a nossa personalidade ao encontrá-las. As pessoas diferentes 
deveriam poder viver juntas apesar da sua diferença cultural. O interculturalismo é a 
aceitação e o respeito pelas diferenças. 
A atitude perante o "outro" depende em larga medida de uma sobreposição, 
por vezes contraditória, de identidades, influências e lealdades, cuja interação resulta 
numa disposição particular para a cooperação transnacional. 
 
38 
 
De forma a podermos combater os impulsos conflituosos que derivam de todo 
este contexto, é preciso encontrar o que Talcot Parsons chama de "core system of 
shared meaning". 
 É preciso, nacional e internacionalmente, promover um relacionamento 
institucional, econômico, político, social e interpessoal coerente. 
 Esta coerência passa pelo reforço da interculturalidade. E esta assenta no 
conhecimento do "outro", daí a sua importância fundamental no combate ao racismo 
e à xenofobia, que assentam em preconceitos resultantes do desconhecimento ou 
conhecimento deturpado. 
A interculturalidade é uma batalha a ganhar gradualmente e vários são os 
campos onde podem ser levadas a cabo ações decisivas. 
A Educação é, sem dúvida, uma das áreas onde numerosas vitórias podem ser 
conseguidas. Não é, na verdade, uma tarefa fácil, mas é certamente uma das vias a 
seguir, dada a sua influência estrutural na preparação dos cidadãos de amanhã. 
 
SEJA-MOS TODOS 100% A FAVOR DA IGUALDADE, NÃO À 
DISCRIMINAÇÃO! 
 
Usando a expressão da jornalista Isabel Stillwell sobre o racismo: "Há racistas 
empedernidos, há racistas assumidos, há racistas politicamente corretos, há racistas 
que quase o não são, mas provavelmente todos somos racistas”. 
A cor é apenas o sinal mais evidente da diferença, porque o nosso racismo na 
verdade é contra aquele que não é como nós – preto, branco, mais alto, mais baixo. 
Na verdade, o racismo não tem fronteiras e existe até dentro da mesma raça 
(e, aqui, é bom distinguir "raça" de etnia ou nacionalidade). 
Por isso, pensem na forma como por vezes distinguem as pessoas, só pelo seu 
aspecto! 
Até que ponto pode ser a nossa sociedade feita de olhares?! 
Porque é que as pessoas obedecem a um segmento mal constituído de 
preconceitos que resultam em injustiças, e que são baseados unicamente nas 
aparências? 
Para quê viver a discriminar as pessoas só pela cor da pele? 
 
39 
 
Os seres humanos no passado reuniam-se em grupos que eram pessoas que 
tinham as mesmas afinidades de sangue. Eram os clãs. Já que o alimento era raro, 
existiam rivalidades entre esses grupos. Uns rejeitavam os outros e viviam em guerra 
quase permanente. Aos poucos esses grupos foram formando associações para 
juntarem forças para combater outros inimigos externos, mais poderosos. Assim 
formaram-se as primeiras nações. Da mesma forma eles continuaram a rejeitar os que 
eram diferentes, que tinham outra cor, outros costumes e línguas. Apesar de vivermos 
hoje numa aldeia global, onde as pessoas migram e visitam lugares distantes, onde 
os costumes se misturam, muitas pessoas ainda conservam esse velho rancor e 
desconfiança com relação às pessoas que são diferentes. Aos poucos isso vai 
desaparecendo, na medida em que nós vamos percebendo que todo ser humano é 
igual, não havendo justificação para o racismo!12 
6.5 Povo brasileiro: Miscigenação e racismo... 
Desde o início da colonização do Brasil a miscigenação foi intensa. A maioria 
dos colonizadores portugueses que vieram ao Brasil eram homens, que mantinham 
relações com índias ou escravas negras. As mulheres brancas só vieram mais tarde, 
principalmente a partir da segunda metade do século 19, com a imigração europeia e 
japonesa. 
Os negros foram trazidos da África a partir de 1538, para trabalhar como 
escravos inicialmente na cultura da cana-de-açúcar e, mais tarde, nas minas e nos 
cafezais. Não existem dados oficiais do número de escravos entrados no Brasil, mas 
as estimativas apontam para 4 milhões de indivíduos. 
A miscigenação deu origem a outros numerosos grupos, como: 
 mulato (branco com negra,

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