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1 SUMÁRIO 1 A EXISTÊNCIA DA ÉTICA E DA FILOSOFIA MORAL .................................. 3 1.1 Ética ..................................................................................................... 3 1.2 Moral e Ética ........................................................................................ 7 2 A QUESTÃO DA CIDADANIA E DOS COSTUMES: OS PRINCÍPIOS NORMATIVOS DAS RELAÇÕES SOCIAIS .............................................................. 12 3 A QUESTÃO DA DEMOCRACIA E A SUA IMPORTÂNCIA ..................... 16 3.1 A democracia ..................................................................................... 16 3.2 A importância da democracia participativa ......................................... 19 4 O DIREITO E A MORAL NO BRASIL CONTEMPORÂNEO ..................... 20 4.1 Causas da crise moral ........................................................................ 22 5 A EDUCAÇÃO E A CIDADANIA, O RESPEITO À DIFERENÇA, A QUESTÃO DE RAÇA E ETNIA ................................................................................. 24 5.1 Educação Cidadã, Etnia e Raça: O trato pedagógico da diversidade 24 5.2 O que é Raça e Etnia ......................................................................... 26 5.3 Raça e Etnia no Brasil ........................................................................ 27 6 A EDUCAÇÃO, A INTOLERÂNCIA, O RACISMO E A XENOFOBIA ....... 29 6.1 Educação de qualidade pode ajudar a prevenir racismo e xenofobia 29 6.2 Xenofobia na Europa .......................................................................... 31 6.3 Intolerância religiosa e racismo crescem no ‘pacífico’ Brasil .............. 33 6.4 Racismo e Xenofobia ......................................................................... 35 6.5 Povo brasileiro: Miscigenação e racismo... ........................................ 39 6.6 Raças e racismo ................................................................................. 40 6.7 A ideia de "clarear o Brasil" ................................................................ 40 6.8 A exclusão social dos negros ............................................................. 41 6.9 Um país com duas realidades ............................................................ 41 2 6.10 Intolerância religiosa e racismo crescem no ‘pacífico’ Brasil .......... 41 7 ÉTICA, DIREITOS HUMANOS E VIOLÊNCIA .......................................... 43 7.1 Ética e Direitos humanos .................................................................... 43 7.2 Ética, Cidadania e Justiça social: Educar para os Direitos Humanos 44 7.3 Tipos de Violência .............................................................................. 45 7.4 Violência Urbana ................................................................................ 46 8 BIBLIOGRAFIA ......................................................................................... 50 3 1 A EXISTÊNCIA DA ÉTICA E DA FILOSOFIA MORAL 1.1 Ética1 Toda discussão sobre “ética” sempre se inicia pela revisão de suas origens etimológicas e pela sua distinção ou sinonímia com o termo “moral”. Justifica-se a necessidade de explicitar a origem do termo ethos, uma vez que é de sua raiz primitiva que iremos encontrar as respostas para as ambiguidades terminológicas e imprecisões conceituais. Fonte:www.debatesculturais.com.br A palavra ethos expressa a existência do mundo grego que permanece presente na nossa cultura. Esse vocábulo deriva do grego ethos. Nessa língua, possui duas grafias: ηθοζ (êthos) e εθοζ (éthos). Essa dupla grafia não é gratuita, pois reúne uma diversidade de significados que, ao longo do tempo, distanciaram-se do seu sentido original. Considerando que, normalmente, os autores não costumam apresentar os significados desses termos em suas origens, antes de adentrarmos nos conceitos de “ética” e “moral”, passaremos uma breve vista em suas origens, uma vez que as 1 Texto extraído do link: www.revistas.usp.br 4 controvérsias sobre o que se entende por “ética” devem-se, em grande parte, aos diversos significados da palavra primitiva ethos e à sua tradução para o latim mos. Esses dois termos podem ser entendidos em três sentidos: “morada” ou “abrigo”, “caráter ou índole” e “hábitos” ou “costumes”. a. O termo grego ηθοζ (êthos), quando escrito com “eta” (η) inicial, possui dois sentidos: morada, caráter ou índole. O primeiro sentido é de proteção. É o sentido mais antigo da palavra. Significa “morada”, “abrigo” e “lugar onde se habita”. Usava-se, primeiramente, na poesia grega com referência aos pastos e abrigos onde os animais habitavam e se criavam. Mais tarde, aplicou-se aos povos e aos homens no sentido de seu país. Depois, por extensão, à morada do próprio homem, isto é, refere-se a uma habitação que é íntima e familiar, é o “lar”, um lugar onde o homem vive. É o lugar onde é mais provável de se encontrar o eu real. Ele representa aquilo que faz uma pessoa, um indivíduo: sua disposição, seus hábitos, seu comportamento e suas características. Nesse sentido, cada um tem sua própria ética. É isso, mais que os acidentes e incidentes da vida, que o diferencia de todos os demais. O segundo significado da palavra êthos assume uma concepção histórica a partir de Aristóteles. Representa o sentido mais comum na tradição filosófica do Ocidente. Este sentido interessa à ética, em particular, por estar mais próximo do que se pode começar a entender por ética. Êthos significa “modo de ser” ou “caráter”. Mas esse vocábulo apresenta um sentido bem mais amplo em relação ao que damos à palavra “ética”. O ético compreende, antes de tudo, as disposições do homem na vida, seu caráter, seus costumes e, naturalmente, também a sua moral. Na realidade, poderia se traduzir como uma forma de vida no sentido preciso da palavra, isto é, diferenciando-se da simples maneira de ser. Entretanto, é preciso ter certo cuidado com o uso da palavra “caráter”, pois ela pode ter uma conotação filosófica, um sentido psicológico e outro restritamente moral. É este último que interessa à ética. O caráter, segundo Heráclito de Éfeso (séc. VI-V a.C.) “é o conjunto definido de traços comportamentais e afetivos de um indivíduo, persistentes o bastante para determinar o seu destino”. Para Kant (1724-1804), o caráter é entendido de acordo com a sua definição de causa, quer dizer, uma lei da causalidade, sob a qual as ações estariam ligadas integralmente. Por outro lado, pode significar também o conjunto de 5 traços psicológicos e/ou morais (positivos ou negativos) que caracterizam um indivíduo ou um grupo. Em sentido psicológico, “caráter é o conjunto de qualidades psíquicas e afetivas que intervêm na conduta de uma pessoa e a distinguem das demais, o que também chamamos de personalidade”. Refere-se ao conjunto dos traços particulares, ao seu modo de ser, à sua índole e ao seu temperamento. Traços que estão mais ligados à estrutura biológica propriamente dita, ou seja, aquilo que é herdado mais pela natureza (páthos – do que é inato) do que os traços individuais adquiridos com a adaptação ao meio social. Mas não é essa acepção da palavra que interessa à ética. Interessa o caráter em seu sentido estritamente moral, isto é, a disposição fundamental de uma pessoa diante da vida, seu modo de ser estável do ponto de vista dos hábitos morais (disposição, atitudes, virtudes e vícios) que a marcam – que a caracterizam – e lhe conferem a índole peculiar que a distingue dos demais. Refere-se ao conjunto das qualidades, boas ou más, de um indivíduo, resultante do progressivo exercício na vida coletiva. É esse caráter, não no sentido biológico ou psicológico, “senão no modo de ser ou forma de vida que vai adquirindo, apropriando, incorporando ao longo de toda uma existência”,que está associado a ética. Esse modo de ser, “apresenta uma dupla dimensão de permanência e de dinamismo. O núcleo de nossa identidade pessoal é o produto das opções morais que vamos fazendo em nossa biografia. Essas opções vão conformando nossa fisionomia moral – a classe de pessoas que somos, nossa índole moral –, ou seja, a disposição para nos deixar mover por uns motivos e não por outros”. Diante das dificuldades de interpretação do conteúdo semântico da palavra ethos, não é sem motivo que os autores costumam simplificar. Definem a ética como sendo uma palavra derivada do grego ethos, que significa “modo de ser” ou “caráter” enquanto forma de vida adquirida ou conquistada pelo homem. Ou então, a “ética é derivada do grego ethikos – aquilo que se relaciona com o ethos ou caráter”. b. O segundo termo grego εθοζ (éthos), quando escrito com épsilon (ε) inicial, é traduzido por “hábitos” ou “costumes”. Este é o éthos social. Significa hábitos, costumes, tradições. Refere-se aos atos concretos e particulares, por meio dos quais as pessoas realizam seu projeto de vida. 6 Este sentido também interessa à ética, uma vez que o caráter moral vai se formando, precisamente, mediante as opções particulares que fazemos em nossa vida cotidiana. De maneira que é a força das tradições quem forma a identidade de uma sociedade. Reciprocamente, os hábitos constituem o princípio intrínseco dos atos. Conforme diz Aranguren, “parece haver um círculo êthos-hábitos-atos. Assim se compreende como é preciso resumir as duas variantes da acepção usual de êthos, estas sendo os princípios dos atos e aquele o seu resultado. Ethos é o caráter (χαραҳτρη) cunhado, impresso na alma por hábitos”. Esta tensão, segundo Aranguren, sem contradição entre êthos como caráter e éthos como hábitos, definiria o âmbito conceitual da ideia central da ética. Razão pela qual, tanto na concepção clássica quanto na moderna, a ética ocupa-se constantemente dos atos morais e dos hábitos no sentido de virtudes e vícios. As virtudes podem ser classificadas pela forma de aquisição: intelectuais e morais. As virtudes intelectuais são resultados do ensino, são muito artificiais, por isso precisam de experiências e tempo para formar o caráter. As virtudes morais são adquiridas pelo hábito, costumes ou experiência. Não são inatas, são adquiridas pelo exercício da práxis, com o convívio social, ou seja, com a disposição de viver com ou conviver com os outros. Sobre a distinção entre virtudes e vícios, explica Korte que as virtudes são as ideias ou razões positivas que trazem melhores resultados, ao passo que os vícios são os portadores dos insucessos e dos resultados negativos. Enquanto atuo, seja de acordo com virtudes ou vícios, procedo eticamente. Mas, e aí vem o fundamento da explicação, se os costumes (mores) indicam a prática da virtude, e eu pratico o vício, eu estou agindo contra a moral, mas a rigor, não estou agindo contra a Ética mas contra as regras que me são recomendadas pelos conhecimentos trazidos pela Ética. Por isso a ética pode ser entendida como a ciência da reta ordenação dos atos humanos desde os últimos princípios da razão (kathein). Estamos, portanto, diante de uma ciência prática, que trata de atos práticos. É a razão da filosofia da prática. É a forma que configura a matéria (atos humanos). Por isso, é importante saber que a ética não se ocupa do irracional, como sugerem algumas interpretações, senão do racional prático, intentando saber o específico da moral em sua razão filosófica. Isto 7 é, a razão das escolhas de uma determinada conduta e os fundamentos da tomada de decisão. Dessa concepção e do entendimento de que ações humanas podem ser abordadas por uma perspectiva psicológica, biológica ou filosófica, deduz-se que a “ética” se ocupa da reflexão filosófica relativa à conduta humana sob o prisma dos atos morais. Ela vai examinar a natureza dos valores morais e a possibilidade de justificar seu uso na apreciação e na orientação de nossas ações, nas nossas vidas e nas nossas instituições. A ética estuda as relações entre o indivíduo e o contexto em que está situado. Ou seja, entre o que é individualizado e o mundo a sua volta [mundo moral]. Procura enunciar e explicar as regras [sobre as quais se fundamenta a ação humana ou razão pela qual se deve fazer algo], normas, leis e princípios que regem os fenômenos éticos. São fenômenos éticos todos os acontecimentos que ocorrem nas relações entre o indivíduo e o seu contexto. A ética filosófica, como compreende Cubelles, é uma metalinguagem que fala da práxis humana, tentando descobrir a razão pela qual se deve fazer algo, considerando os valores morais estabelecidos em cada sociedade. 1.2 Moral e Ética Outra discussão de relevo é sobre a distinção entre ética e moral. Instala-se aqui uma verdadeira confusão entre as similitudes e diferenças, a começar pelas definições dos dicionários de filosofia. Quanto à origem do termo, de acordo com o dicionário de filosofia de J. Ferrater Mora, “a moral deriva de ηθοζ ‘costumes’, do mesmo modo que a ‘ética’, de ηθοζ. Por vezes, a ética e a moral são usadas indistintamente, como disse Cícero (de fato, 1,1) ”. Por isso, esse vocábulo é algumas vezes utilizado como sinônimo de ética. Entretanto, usa-se a palavra moral mais frequentemente para designar códigos, condutas e costumes de indivíduos ou de grupos, como acontece quando se fala da moral de uma pessoa ou de um povo. Aí, é o equivalente da palavra grega ethos e da latina mores. Segundo o dicionário de filosofia de Nicola Abbagnano, o termo moral apresenta dois sentidos: o primeiro deriva do “lat. Moralia; in: Morals”, fr. Morale; it. Morale; significa “o mesmo que Ética”. Objeto da ética, conduta dirigida ou disciplinada 8 por normas, conjunto dos mores. Neste significado, a palavra é usada nas seguintes expressões: ‘M. dos primitivos’, ‘M. contemporânea’ etc.” No segundo sentido, deriva “lat. Moralis; in Moral”. Este adjetivo tem, em primeiro lugar, os dois significados correspondentes aos do substantivo moral: 1º atinente à doutrina ética, 2º atinente à conduta e, portanto, suscetível de avaliação M., especialmente de avaliação M. positiva. Assim, não só se fala de atitude M. para indicar uma atitude moralmente valorável, mas também coisas positivamente valoráveis, ou seja, boas. Não é sem motivo que Coimbra afirma que “ética e moral são sinônimos de origens distintas, que em si uma é a mesma coisa”, isto é, possuem os mesmos sentidos. Por isso Tugendhat argumenta que não se pode tirar nenhuma conclusão do que se pode entender por ética e moral a partir das origens das palavras. De fato, etimologicamente, esses termos possuem idênticos conteúdos semânticos. Razão pela qual muitas vezes são empregados no cotidiano indistintamente. As razões dessas divergências encontram-se, sem dúvida, nas origens das palavras, sobre as quais passaremos em revista, para depois apresentar alguns conceitos extraídos da literatura especializada. O que ocorreu? No latim não existia uma palavra para traduzir o êthos, nem tampouco outra para representar o sentido do termo éthos, dado na língua grega. Então, na essência, esta distinção foi perdida. Ambas foram traduzidas por “mos” ou “mores” (plural de mos, do qual vem o termo moralis), pois era a palavra que mais se aproximava do sentido de ethos, que nessa língua pode significar tanto “costumes” como “caráter” ou gênero de vida. Assim, “em latim, o “mos” passou a significar tanto o ηθοζ (êthos – morada, caráter, índole) como εθοζ (éthos – hábitos, costumes) costumes e hábitos”. Está aqui a origem de toda a confusão acerca do conteúdo semântico dos termos e, por conseguinte, a sinonímia ou distinção dos sentidos que se atribui ao uso das palavras ética e moral. Entretanto, este não é o único critério para se determinar o significadodas palavras, pois assim como as línguas evoluem segundo a sua cultura, as palavras podem adquirir significados distintos de acordo com o sentido em que são empregadas. Além da dimensão semântica dos vocábulos e das expressões, há uma 9 dimensão pragmática, visto que uma mesma palavra pode assumir significados diferentes num determinado contexto sociocultural. Sobre esse aspecto, é preciso ater-se ao processo de evolução do sentido do termo como forma de conhecer não apenas o seu significado isolado, mas, sobretudo, os vários sentidos em que pode ser utilizado numa dada cultura. Logo, questionar acerca do que se deve entender por ética ou moral, considerando apenas o conteúdo semântico dos termos, não é o único recurso de análise para se formularem significados, conceito ou definições. Deixando um pouco de lado o esforço de se tentar deduzir uma definição exclusivamente a partir dos signos, vejamos as diversas maneiras de utilizar o termo “moral” e, por sua vez, de se chegar a um conceito correspondente ao contexto cultural. A palavra moral, segundo Aranguren, possui diferentes sentidos com referência direta ao comportamento humano e à sua classificação como moral ou, ao seu contrário, imoral; como parte da filosofia – filosofia moral. Moral, também escrita com maiúscula, quando se ocupa do comportamento humano no que se refere a bem ou mal. Segundo Martinez, o termo “moral” é utilizado atualmente de maneira distinta. Assim como ocorreu com os significados de ethos, essa multiplicidade de usos também deu lugar a alguns mal-entendidos. Para essa autora, algumas vezes o termo moral é empregado como substantivo e outras vezes como adjetivo. Como substantivo pode ser empregado em quatro situações: 1. Quando o termo “moral” for grafado com minúscula e estiver precedido do artigo definido feminino, “a moral”, refere-se ao conjunto de princípios, preceitos, comandos, proibições, normas de conduta, valores e ideais de vida boa que, em seu conjunto, é constituído por um grupo humano concreto em uma determinada época histórica. Nesta acepção, a moral representa um modelo ideal de boa conduta socialmente estabelecida pela sociedade; 2. Quando a palavra “moral” é usada para fazer referência ao código pessoal de alguém. Por exemplo, quando se diz que “fulano possui uma moral muito rígida” ou quando se diz “beltrano carece de moral”, estamos falando de um código moral que guia os atos de uma pessoa concreta ao longo de sua vida. É o conjunto de 10 convicções e pautas de conduta que costuma constituir a base para os juízos morais que cada um faz das outras pessoas e de si mesmo; 3. Usa-se o termo “moral” com maiúscula (Moral) para referir-se a uma “ciência que trata do bem em geral, das ações humanas marcadas pela bondade ou pela malícia”. A rigor, esta ciência não existe. O que existe é uma variedade de doutrinas como, por exemplo, a Moral católica, protestante, islâmica, budista, marxista etc. Fazendo um parêntese, lembramos que somente a ética na qualidade de disciplina filosófica (ciência da moral) possui teorias éticas diferentes e até opostas, pois há uma distinção entre uma doutrina e uma teoria: enquanto a doutrina trata de sistematizar um conjunto concreto de princípios, normas, preceitos e valores, as teorias constituem uma tentativa de explicar um fato. As teorias representam um pensamento baseado num dado contexto histórico de uma época, sob o qual se fundamenta a vida moral concreta. 4. Quando a palavra moral se refere a expressões que a utilizam no masculino, tais como “ter o moral elevado” ou “estar com o moral alto” e outras semelhantes, moral torna-se sinônimo de “boa disposição do espírito”, “ter força, coragem suficiente para enfrentar – com dignidade – os desafios que a vida nos apresenta. Essa acepção tem um profundo significado filosófico, pois a moral não é apenas um saber, nem um dever, mas sobretudo uma atitude e um caráter”. Com referência ao uso da palavra moral como adjetivo, a maioria das expressões está relacionada com a Ética. Neste caso há duas situações em que aparece como adjetivo: 1. Moral como oposto a “imoral” – Termo usado como termo valorativo de reprovação. Esse uso pressupõe a existência de algum código moral que serve de referência para emitir um juízo moral. Refere-se a uma conduta contrária às regras morais vigentes numa dada cultura; 2. Moral como oposto a “amoral – Termo usado para se referir a uma ação que não tem relação com a moralidade. A conduta dos animais, por exemplo, não tem nenhuma relação com a moralidade, pois pressupõe que estes não são responsáveis por seus atos. Ao passo que os seres humanos atingiram um desenvolvimento completo e, na medida em que se tornam senhores de seus atos, têm uma conduta moral. A moral, portanto, refere-se à “ação, atitude, estado ou caráter que não é nem moral nem imoral, e, que é exterior à esfera da moral”. 11 Desses exemplos, é possível deduzir que, para a compreensão do que se deve entender por moral, as respostas não serão encontradas na origem do termo exclusivamente, pois os costumes ou a cultura de um povo antecedem as suas origens terminológicas. Os costumes são partes indissociáveis da identidade de um povo num dado contexto histórico. Neste contexto, e da análise pragmática de como as palavras adquirem vários sentidos, é que se poderá extrair um conceito mais apropriado ao seu uso. Os termos “ética” e “moral” foram utilizados ao longo da história com diversos significados e com relações distintas entre si. Houve ocasiões em que os significados mudaram completamente. Jürgen Habermas, por exemplo, com base em conceitos da tradição hegeliano-marxista, utiliza os termos “eticidade” e “moralidade” com significados novos, reservando a “moralidade” ao abstrato e universal e a “eticidade” à concreção no mundo da moralidade da vida. Assim como o termo ethos possui significados ambíguos, a palavra “moral” também pode ser empregada com sentidos diversos. Se olharmos o conceito de moral nos dicionários da língua portuguesa, notaremos que existe alguma distinção conceitual significativa. Segundo o dicionário Houaiss: Moral – denota bons costumes, boa conduta, segundo os preceitos socialmente estabelecidos pela sociedade ou por determinado grupo social. Cada um dos sistemas de leis e valores estudados pela ética (disciplina autônoma da filosofia), caracterizados por organizarem a vida das múltiplas comunidades humanas, diferenciando e definindo comportamentos proscritos, desaconselhados, permitidos ou ideais. Observa-se que o segundo conceito menciona que o sistema de leis (referindo- se a regras ou normas sociais) e valores são estudados pela ética. Daí a diferença entre os dois termos. “A Ética significa Ciência da moral, quer dizer, ética seria a construção intelectual, organizada pela mente humana sobre a moral. Esta seria, pois, o seu objeto”. “O entendimento clássico de ética era o do estudo filosófico dos fundamentos, dos princípios, dos deveres e dos demais elementos da vida moral. Ou seja, trata-se da teoria filosófica sobre a moralidade”. O termo moral aplica-se, pelo contrário, à consideração prática dos casos concretos; isto é, para designar a arte de aplicar a teoria filosófica – a ética – aos problemas concretos da vida moral. 12 Desse modo, não é apenas do significado restrito de um termo dissociado da cultura que se extrai um conceito mais exato. Claro que a discussão deve sempre começar pela análise linguística, pois é a partir do significado primitivo que se extraem os primeiros significados. Mas, afinal, o que entendemos por moral? A moral refere-se quer aos costumes, quer às regras de conduta admitidas numa sociedade determinada. Portanto, um fato moral é aceito para um tipo de sociedade de acordo com a sua tradição ou realidade cultural. A realidade moral, nestesentido, vai se referir ao conjunto desses costumes e dos juízos sobre os costumes que são objeto de observação ou de constatação segundo as regras socioculturais. Daí a compreensão de que a moral é conteúdo da ética. “Poder-se-ia dizer que a moral é a matéria prima da ética”, pois constitui o conjunto de hábitos e prescrições de uma sociedade. A moral é o que se refere aos usos, costumes, hábitos e habitualidades. De uma certa forma, ambos os vocábulos [ética e moral] se referem a duas ideias diferentes, mas relacionadas entre si: os costumes dizem respeito aos fatos vividos, ao que é sensível e registrado no acervo do grupo social como prática habitual. A ideia contida na moral é a relação abstrata que comanda e dirige o fato, o ato, a ação ou o procedimento. A moral explica e é explicada pelos costumes. A moral pretende enunciar as regras, normas e leis que regem, causam e determinam os costumes, inclusive muitas vezes, anunciando-lhes as consequências. À guisa de conclusão, deve-se entender por moral um sistema de normas, princípios e valores, segundo o qual são regulamentadas as relações mútuas entre os indivíduos ou entre estes com a comunidade de forma não coercitiva. De maneira que estas normas são dotadas de um caráter histórico e social e são acatadas de forma livre e por convicção de foro íntimo. 2 A QUESTÃO DA CIDADANIA E DOS COSTUMES: OS PRINCÍPIOS NORMATIVOS DAS RELAÇÕES SOCIAIS As preocupações com a sobrevivência levaram o homem primitivo a agregar- se em comunidades. Estas pequenas comunidades, aos poucos foram se desenvolvendo, chegando a grandes aglomerações sociais. É nesse contexto que 13 surgem as regras morais, com a finalidade de facilitar o convívio social das pessoas na comunidade. Fonte:www.portalzinho.cgu.gov.br Na conceituação clássica encontrada nos dicionários da língua portuguesa, moral é definida por parte da filosofia que trata dos costumes ou dos deveres do homem para com seus semelhantes e para consigo; vem do latim “morale” e designa “regras de comportamento aceitas por determinada comunidade”. (Bittar, 2004) Conforme Vázquez (1999), “moral vem do latim mos ou mores, ‘costume’ ou ‘costumes’, no sentido de conjunto de normas ou regras adquiridas por hábito”, referindo-se, portanto, ao comportamento que a habitualidade de determinados atos infere ao homem. Portanto, moral trata-se de uma norma não escrita que objetiva traçar linhas de comportamento para o indivíduo em suas relações sociais, tendo por fundamento o histórico da comunidade. No princípio, por necessidade premente de segurança ao homem valente era atribuído maior valor dentro da comunidade. O valor e a solidariedade eram considerados como grandes virtudes, onde tudo visava o interesse da coletividade não considerando o homem no seu individualismo. Com desenvolvimento das sociedades as regras morais passam a fundamentar-se na responsabilidade pessoal, chegando, portanto, a um estágio mais desenvolvido da moral. 14 A evolução que despontou com o aumento das forças de trabalho e produtividade, favoreceu o aparecimento da propriedade privada e consequentemente uma desigualdade de bens dividindo a sociedade antiga em duas classes antagônicas, o homem livre, cidadão, e o escravo. Essa situação social proporcionou uma divisão da moral que deixou de ser única no sentido de um só conjunto de normas aceitas por toda a sociedade, favorecendo a aparição de duas morais, a moral do homem livre, com valores definidos, e a dos escravos. As mudanças que se verificaram com a nova sociedade, surgida com o desaparecimento do mundo antigo onde a escravidão era uma instituição de base para todo o trabalho pesado, e o escravo considerado coisa; vieram dar uma nova condição ao homem, embora não fossem muitas as mudanças, porém, foi-lhes dado o direito à vida e passaram a serem considerados seres humanos. A liberdade alcançada pelo trabalhador, muito embora devesse obediência ao senhor feudal, proporcionou uma evolução dos conceitos morais. Essa moral continha também preceitos religiosos, em vista da influência exercida pela igreja na idade média, que de certa forma dava uma unidade moral à sociedade da época, bastante estratificada. A invenção das máquinas, proporcionou o crescimento de uma nova sociedade, a burguesia, levando a um novo sistema econômico-social fundamentado no lucro, permitindo surgir uma moral própria, a moral individualista que dominou a sociedade burguesa do século XIX. Na medida em que as diferentes sociedades tomam lugar no tempo, também mudam os princípios e regras morais. Conhece-se um progresso moral. Esse se dá em um plano histórico-econômico-social primeiramente, ampliando a esfera moral na vida social. Em resumo, Vázquez (1999) destaca o aspecto da moral ser uma forma de comportamento humano compreendendo o normativo e o fatual; ser um fato social; a questão da aceitação individual, isto é, uma interiorização das normas morais; a manifestação concreta do comportamento moral dos indivíduos; o ato moral individual como parte de um contexto normativo, ou seja, de um código moral. Ainda, embora normativo o ato, a aceitação consciente e voluntária supõe a liberdade do sujeito na execução do ato moral. 15 Exposto o tema Moral, sua conceituação e evolução, passa-se a tratar da Ética que, como ciência da moral tem origem do grego éthique ou ethos e do latim ethica, ethicos, significando uso, costumes, caráter. É modificada cotidianamente com a sociedade interagindo entre grupos sociais e em determinados períodos históricos. Vázquez (1999) apresenta a ética como “a teoria ou ciência do comportamento moral dos homens em sociedade”. Conceito que mostra uma abordagem científica dos problemas morais. Já, Bittar (2004), apresenta ética dividindo-a em ética enquanto saber e enquanto prática, onde ao saber cabe o papel de estudar a ação humana em sua concepção mais ampla, e quanto a ética prática, como ele coloca, “consiste na atuação concreta e conjugada da vontade e da razão, de cuja interação se extraem resultados que se corporificam por diversas formas”. Segundo Valls (1998), a ética na visão tradicional, é interpretada como “um estudo ou reflexão, científica ou filosófica, e eventualmente até teológica, sobre os costumes ou sobre as ações humanas”, o que lhe dá, portanto, um caráter teórico. Portanto, como um resultado histórico-cultural que define o que é virtude, o que é bom ou mal, certo ou errado, para cada cultura ou sociedade, a ética, seja como investigação teórico-filosófica, ou como ação enquanto extensão racional das nossas intenções, vai sustentar e dirigir as ações do homem, norteando a conduta individual e social. Por ética contemporânea, entende-se as doutrinas surgidas após a Revolução Francesa e que prolongam suas influências até aos dias atuais, sendo caracterizadas por uma reação adversa ao formalismo e ao racionalismo abstrato. Assim, o posicionamento filosófico no que se refere às doutrinas éticas no período contemporâneo, assenta-se em torno do pensamento de autores que atentem para “[...] a interiorização dos valores, normas e leis de uma sociedade, resumidos na vontade objetiva cultural, por um sujeito moral que aceita espontaneamente através de sua vontade subjetiva individual”. As questões éticas chegam ao século XX diante a uma grande quantidade de tendências, que variam conforme a origem ou forma de interpretação e observação. Peter Singer (1998), desenvolve uma investigação ética contemporânea voltada para a prática. Focaliza a aplicação da ética nas mais variadas e 16 controvertidas questões sociais atuais como igualdade e discriminação de raças, sexo, capacidade, aborto, eutanásia. Resumidamente, as linhas de pensamento ético-filosófico até aqui expostas, buscaram mostrar a ética em seu caminho histórico a partirde alguns dos diversos autores que se ocuparam da problemática ética, a fim de mostrar, através dos diversos pontos de vista concebidos, as várias concepções. O conceito de cidadania, por sua vez, deriva do latim ‘civitas’. Ele se refere ao pertencimento, ou a inclusão de uma determinada pessoa na esfera dos direitos instituídos por uma dada sociedade ou cultura. Tornar-se cidadão significa entrar no universo de possibilidades aberto pelos direitos concedidos à comunidade aos indivíduos que estabelecem com ela laços de pertencimento. Porém, não devemos nos ater apenas aos aspectos formais do direito positivo quando falamos de cidadania. Não podemos deixar de notar que as restrições ou o uso pleno dos direitos referentes à cidadania são condicionados não apenas pelo regime legal, mas também pela situação social, isto é, pelo lugar que ela ocupa na estrutura da sociedade. O exercício do direito ao voto ou da liberdade de expressão tem prioridades diferentes, de acordo com a autonomia que cada indivíduo ou grupo possui. E essa autonomia, muitas vezes, está relacionada à condição econômica do cidadão. 3 A QUESTÃO DA DEMOCRACIA E A SUA IMPORTÂNCIA 3.1 A democracia2 Democracia é uma palavra de origem grega que pode ser definida como governo (kratos) do povo (demo). Dessa forma, a democracia pode ser entendida como um regime de governo onde o povo (cidadão) é quem deve tomar as decisões políticas e de poder. A democracia pode ser direta, indireta ou semidireta: diante da impossibilidade de todos os cidadãos tomarem as decisões de poder (democracia direta), estas passam a ser tomadas por representantes eleitos (democracia indireta 2 Texto extraído do link: www.portalconscienciapolitica.com.br 17 ou representativa) e, nesse caso, são os representantes que tomam as decisões em nome daqueles que os elegeram. De modo geral, um governo é dito democrático por oposição aos sistemas monárquicos, onde o poder está centralizado nas mãos de uma única pessoa, o monarca, e aos sistemas oligárquicos, onde o poder está concentrado nas mãos de um grupo de indivíduos. Esta é a classificação dada por Aristóteles, em sua obra Política. Fonte: www.smartkids.com.br Historicamente, a democracia surgiu na Grécia antiga (ver mais na seção Filosofia Antiga). Mas mesmo em Atenas, onde a democracia se consolidou como uma forma de organização política das cidades-Estados gregas (as polis), não havia uma democracia no sentido literal do termo, pois, de fato, a grande maioria da população ateniense não era formada de cidadãos (por definição, aqueles que poderiam participar da coisa pública) e sim, de escravos, mulheres, crianças, além de estrangeiros. Em Atenas, vale ressaltar a figura de Clístenes, um reformador ateniense que ampliou o poder da assembleia popular, permitindo a existência do que na época passou a se chamar de isonomia, ou seja, a igualdade sob a lei, além da isegoria, direitos iguais de falar e, por isso, é considerado o pai da democracia. 18 No caso do Brasil, só é possível falar no processo de redemocratização levando-se em consideração o período obscuro que teve início com o golpe militar em 1964. O período que antecedeu a promulgação da Constituição Federal de 1988 deixou marcas profundas no seio da sociedade brasileira, isto se deu em razão de prevalecer no regime ditatorial então vigente, um total cerceamento ao exercício dos direitos de cidadania política. Esse quadro começou a ser mudado a partir da Assemblei Nacional Constituinte, que reconhecendo a importância da participação popular na elaboração do texto Constitucional, proporcionou a oportunidade da concretização dos anseios da população brasileira (FONSECA, 2009, p. 14). A fórmula de Abraham Lincoln: a democracia é “o governo do povo, pelo povo e para o povo” é uma das definições que melhor expressam a ideia de uma democracia. Esta definição está bem próxima do sentido etimológico da palavra, do grego antigo. Contudo, é preciso considerar, como já dissemos, que mesmo na Grécia Antiga, a democracia era um regime de governo onde apenas os cidadãos poderiam participar diretamente da coisa pública, o que representava em torno de 10% da população ateniense. Carole Pateman afirma (1992) que desde o início do século XX muitos teóricos políticos levantaram sérias dúvidas sobre a possibilidade de se colocar em prática um regime democrático no sentido literal do termo (governo do povo por meio da máxima participação do povo). E Bobbio (2000) indica pelo menos três fatores a partir dos quais um projeto democrático tem-se tornado difícil de se concretizar nas sociedades contemporâneas: a especialidade, a burocracia e a lentidão do processo O primeiro obstáculo diz respeito ao aumento da necessidade de competências técnicas que exigem especialistas para a solução de problemas públicos, com o desenvolvimento de uma economia regulada e planificada. A necessidade do especialista impossibilita que a solução possa vir a ser encontrada pelo cidadão comum. Não se aplica mais a hipótese democrática de que todos podem decidir a respeito de tudo. O segundo obstáculo refere-se ao crescimento da burocracia, um aparato de poder ordenado hierarquicamente de cima para baixo, em direção, portanto, completamente oposta ao sistema de poder burocrático. Apesar de terem características contraditórias, o desenvolvimento da burocracia é, em parte, decorrente do desenvolvimento da democracia [...] O terceiro obstáculo traduz uma tensão intrínseca à própria democracia. À medida que o processo de democratização evoluiu promovendo a emancipação da sociedade civil, aumentou a quantidade de demandas dirigidas ao Estado gerando a necessidade de fazer opções que resultam em descontentamento pelo não- atendimento ou pelo atendimento não-satisfatório. Existe, como agravante, o fato de que os procedimentos de resposta do sistema político são lentos relativamente à rapidez com que novas demandas são dirigidas ao governo (BOBBIO, 2000 apud NASSUNO, 2006, p. 173-174). 19 Hoje em dia a democracia tornou-se um sistema político (e não mais apenas um simples regime) no qual a soberania é atribuída ao povo que o exerce de modo: Direto - quando o povo promulga ele mesmo as leis, toma as decisões importantes e escolhe os agentes de execução, geralmente revogáveis. Temos aqui a democracia direta; Indireto - quando o povo elege representantes, eleitos através do voto, por um mandato de duração limitada, e que devem representar os interesses da maioria. Temos a democracia indireta ou Democracia Representativa; Semidireta - no caso das democracias indiretas, o povo é chamado a estabelecer algumas leis, através de referendos (que pode ser um referendo de iniciativa popular), ou também para impor um veto a um projeto de lei, ou ainda propor, ele mesmo, projetos de lei; este modelo pode ser analisado a partir do que se convencionou chamar de Democracia Participativa que se caracteriza pela existência de mecanismos que garantem a participação popular na esfera pública. 3.2 A importância da democracia participativa3 Rui Barbosa, um dos grandes brasileiros, afirmou certa vez: “O Brasil (...) é o povo, em um desses movimentos seus, em que se descobre toda a sua majestade”. Defensor incansável da democracia, sempre lutou por um país justo e humano. Assim, foi também um entusiasta da prática efetiva da cidadania – direito que, irrevogável, contribui imensamente para a construção de uma realidade em que a população tenha, de fato, voz e vez. Despertar para a importância da participação popular, em diferentes situações, é fundamental. O poder público, quando ciente disso, trabalha mais e melhor; a sociedade, por sua vez, torna-se mais forte e crítica, o que leva esperança a mulheres, a homens e a crianças de todas as biografias sociais. A indignação éo primeiro passo para a busca de soluções referentes aos problemas de uma comunidade, de uma cidade, de um país. Juntos, os cidadãos favorecem o bem comum e contribuem para o seu próprio amadurecimento, político, social, cultural. E essa verdade, além de atingir resultados imediatos, pode levar a 3 Texto extraído do link: chalita.com.br 20 conquistas de médio e de longo prazos. A conscientização coletiva e o acompanhamento popular das medidas dos gestores públicos são essenciais. No entanto, é indiscutível que liberdade pressupõe responsabilidade. Cumprir nossos deveres é tão importante quanto exigir nossos direitos. No dia a dia, pequenas atitudes promovem grandes mudanças. Respeitar os idosos (e todos os benefícios que lhes são garantidos), não furar fila, contribuir para a limpeza e para a conservação do patrimônio público, devolver o troco que veio a mais e cumprir as leis de trânsito, entre tantos outros fatores, também faz parte da atuação democrática. Há um sentimento crescente de que o país pode mais, e não devemos nunca duvidar disso. Que a indignação, a visão crítica e o espírito participativo permaneçam constantemente vivos entre os brasileiros. 4 O DIREITO E A MORAL NO BRASIL CONTEMPORÂNEO A ciência e a tecnologia se desenvolvem muito mais do que a existência humana interior. Porém, essas importantes e inegáveis conquistas do homem não proporcionam igual evolução no campo da ética e da moral. A grande disputa de espaços e a perene luta pelo poder brutalizam o homem, que passa a ver o seu semelhante como um oponente um competidor. A sociedade é dividida entre os que “pisam” e os que são “pisados” — colocando pessoas iguais em planos diferentes — os melhores providos de meios inexoravelmente irão conduzir o destino de seus semelhantes que possuem menos recursos. Os detentores de forte influência, considerando o poder econômico, social e demagógico conduzem as preferências de toda a sociedade. Mas, isso não significa que os menos favorecidos pela sorte usem como pretexto para justificar seus vícios e sua infelicidade. Vivemos uma crise de legitimidade do modelo político, por não corresponder às necessidades de participação e de mudança da sociedade civil; vivemos uma crise de representatividade dos partidos políticos tradicionais, vinculados às oligarquias regionais e às grandes burguesias nacionais, assim como dos partidos de esquerda que se adaptaram velozmente ao status quo e às práticas políticas tradicionais. Antes da crise econômica ou política, vivemos no Brasil uma profunda crise moral e, entre outras razões, decorrente da fragilidade na nossa formação. A esperança de 21 enriquecer fácil e a certeza da impunidade é maior do que o medo de ser pego, razão pela qual vale a pena arriscar. Fonte: www.coladaweb.com A Ética se restringe ao campo particular do caráter e da conduta humana, à medida em que se relacionada a certos princípios morais, em termos gerais, a Ética e a Moral são valores do homem livre. A Moral, por seu turno, é o conjunto de normas que regulam o comportamento dos homens em Sociedade. No primeiro, Moral é um conjunto de valores. Na ética, um conjunto de normas. A Ética é a forma pela qual o homem deve se comportar no meio social. É a ciência da conduta humana. Está ela intimamente relacionada ao caráter das pessoas. A Ética seria a ciência que estuda a conduta humana e a moral seria a qualidade desta conduta. Os recentes episódios ocorridos no parlamento brasileiro e fartamente expostos pela mídia demonstram a total falta de compromisso com interesses coletivos e cristaliza a crise moral. Nossos representantes no parlamento parecem preocupar-se tão somente com a própria manutenção no poder e obtenção de vantagens pessoais, conduzindo-se por uma inclinação devassa que chega a enojar. Enfim, toda essa sorte de mazelas que parece demonstrar que o povo brasileiro vive num enorme carnaval de bandalheiras, numa incessante orgia de falcatruas que se repetem com frequência tal que, cerca de dois ou três meses do último escândalo, já não se tem mais lembrança dos detalhes dos primeiros. 22 Essa realidade assaz desesperadora, ao mesmo tempo em que desencanta e desestimula, permite que possamos refletir sobre as fontes dos infortúnios brasileiros, entre as quais a crescente crise moral. Não bastasse a inflação e a vergonhosa posição do Brasil em todos os indicadores de desenvolvimento e civilidade, as notícias veiculadas pela mídia nos últimos tempos nos levam a concluir que vivemos em estado de barbárie. À roubalheira desenfreada e pluripartidária na Petrobras e outras que por certo virão. É meu amigo Valdenir, tudo isso força-nos à uma profunda reflexão. A mudança está em cada um de nós!4 4.1 Causas da crise moral Basta olhar em volta e perceberemos que estamos imersos em uma crise moral de graves proporções. Como não é possível combater os efeitos sem eliminar as causas, somos forçados a questionar: – Quais são as causas da crise em que vivemos? Considerando que somos espíritos encarnados em um grande Lar Escola chamado Terra, podemos apontar para os instrumentos e as instruções que compõem a chamada educação, como causas em potencial. Isto inclui tanto a educação oferecida no lar e nas escolas, como nas organizações públicas e privadas, sem eximir os meios de comunicação escrita, falada e televisionada. Afinal a crise é comportamental, e comportamento é sempre efeito dos princípios, valores e crenças que promovemos e que as pessoas adotam em suas vidas. Se estivermos de acordo com o diagnóstico, novas perguntas se apresentam; entre elas: – O que devemos fazer? Considerando que a fonte só põe para fora o que tiver por dentro, não há como mudar o que vemos sem fazer mudanças; mas o que mudar? Note-se que o conhecimento humano se fundamenta em nossa capacidade de filosofar, portando de questionar; na nossa capacidade de fazer ciência, portanto, de fazer verificação das verdades; e na nossa capacidade de fazer escolhas, portanto na nossa habilidade de exercitar a nossa ética. 4 Extraído do link: www.progresso.com.br 23 Considerando que Ética é a religião das religiões e que ético é sempre fazer ao outro o que eu gostaria que a mim fosse feito, uma medida inicial seria promover a religiosidade natural que há em todos os seres e que se manifesta desde a mais tenra idade. Assim, promotores da filosofia, da ciência e da religião, ou seja, professores, pais e letrados em geral: em vez de se criticarem mutuamente, poderiam unir-se e promover o conhecimento em torno destes três eixos do conhecimento, relembrando em todas as oportunidades e espaços públicos e privados, que somos seres imortais, portanto, sujeitos à posse e retenção de memórias que ficarão conosco para sempre; e que não há dor pior do que a dor do arrependimento sobre o mal que conscientemente cometemos. Imaginemos escolas nas quais nossos filhos teriam contato com a história de todas as expressões religiosas e que no exercício do seu livre-arbítrio escolhessem estudar e praticar os princípios religiosos da religião que mais lhes tocasse o íntimo! Tal medida evitaria a imposição de valores religiosos de fora para dentro, reduziria o número de desiludidos e revoltados e ampliaria os sentimentos de ética para com seus semelhantes. Se a crise é comportamental, sua origem é inegavelmente educacional; portanto, somente uma revolução nos conteúdos que ensinamos aos nossos jovens poderá mudar os graves efeitos da escolarização formal e informal que nossa sociedade atual oferece. Como somos espíritos sujeitos à reencarnação, é inevitável que encontremos no futuro os efeitos da nossa semeadura atual. Isto inclui os efeitos de nossas ações e omissões.55 Extraído do link: serespirita.com.br 24 5 A EDUCAÇÃO E A CIDADANIA, O RESPEITO À DIFERENÇA, A QUESTÃO DE RAÇA E ETNIA 5.1 Educação Cidadã, Etnia e Raça: O trato pedagógico da diversidade Observa que ao abordar a situação do negro na sociedade brasileira, a utilização do termo raça é o termo mais adotado pelos sujeitos sociais. É também o que consegue se aproximar da real dimensão do racismo no Brasil. O próprio Movimento Negro quando fala de raça utiliza baseado em uma nova interpretação de reapropriação social e política, construída pelo próprio negro, pois o racismo e a discriminação contra os negros não são só em decorrência dos aspectos culturais presentes em suas vidas, mas por vários aspectos vistos de maneira negativa e pela existência de sinais diacríticos que remetem esse grupo a uma ancestralidade negra e africana. Fonte: mirnacavalcanti.wordpress.com Quando se discute a relação negro e branco no Brasil, deve-se considerar o peso dos aspectos raciais. Raça é entendida como um conceito relacional que se constitui histórica, política e culturalmente. Quando a autora discute sobre Educação, 25 cidadania e raça referem-se a todas as implicações que essa discussão acarreta ao seguimento da população negra. Quanto à implementação de políticas educacionais, esta deve observar a realidade sociocultural brasileira. É necessário ao propor uma educação cidadã que se articule a questão racial, observando e estando ciente dessa complexidade que envolve o segmento negro em sua trajetória escolar, pois conforme pesquisas recentes mostram que alunos negros, tem mais dificuldades que alunos brancos, demonstrando que há uma estreita relação entre educação escolar e as desigualdades raciais na sociedade brasileira. Deve-se repensar a estrutura, os currículos, os tempos e os espaços escolares, quanto às particularidades da cultura de tradição africana. A escola muitas vezes desconhece e desconhece essa realidade. A construção de práticas democráticas e não preconceituosas implica o reconhecimento do direito a diferença e isso inclui as diferenças raciais, assim estaremos articulando Educação, cidadania e raça. Para se atingir esses objetivos é necessário a revisão dos valores e padrões considerados aceitáveis por todos. A realidade escolar no Brasil ainda prima por um modelo branco, masculino, heterossexual e jovem. Outro fator a ser observado refere-se à superação do medo quanto a diversidade, pois ser diverso não é um problema, e identidade racial também não, pois isso são aspectos constituintes da formação humana e também uma construção social histórica. A formação histórica no Brasil não foi positiva para os negros, pois a mesma foi marcada pela colonização, pela escravidão e pelo autoritarismo, o que levou a teorias cientificistas quanto à inferioridade das pessoas negras, dos mestiços, o ideal de branqueamento. Isto acarreta numa dificuldade de identificação da maioria da população brasileira quanto a sua identidade. Por tudo isso, ser negro no Brasil possui uma complexidade maior e não se restringe a um dado biológico. “No Brasil ser negro é tornar-se negro” (pág. 89). Entender isso é tarefa dos profissionais da educação, da escola, que não pode deixar de incluir a questão racial no seu currículo e na sua prática. Começando por uma revisão das práticas racistas veladas no cotidiano escolar, em seus mais variados aspectos, principalmente desvelar o silêncio sobre a questão racial na escola. Pensar a articulação entre Educação, cidadania e raça é mais do que uma mudança conceitual ou tratamento teórico é possuir uma postura político- pedagógicas, pois Educação lida com sujeitos concretos, estabelecendo vínculos 26 entre vivência cultural, desenvolvimento e o conhecimento escolar, pois o meio sociocultural que dá a base da inserção. Para atingirmos uma escola democrática devemos analisar e superar a ambiguidade do racismo no Brasil, pois o mesmo é um caso complexo e singular, pois ele se afirmar por meio da sua própria negação, onde é negado com veemência, mas mantêm-se presente no sistema de valores de nossa sociedade. Neste contexto a escola está baseada em um ideal branco. Então para atingirmos outro patamar escolar, a mesma não deve mais discutir a questão racial como problema do negro, e sim, repensar novo currículos, novas práticas, entender a beleza, a sensibilidade e a radicalidade da cultura de tradição africana e não somente no segmento negro da população, um aprendizado a ser incorporado pelos que cuidam das políticas educacionais.6 5.2 O que é Raça e Etnia Raça e etnia não são sinônimos. Etnia é um grupo definido pela mesma origem, afinidades linguísticas e culturais, enquanto que raça como distinção entre os homens é um conceito socialmente construído de que existiriam diferenças biológicas entre as etnias. A palavra etnia é derivada do grego ethnos, que significa "povo que tem os mesmos costumes". Raça é um conceito biológico aplicado aos subgrupos de uma espécie. A espécie humana não possui subespécies ou subcategorias, e, portanto, não é correto dizer que existem diferentes raças humanas. Mas há ainda um entendimento do senso comum, construído socialmente de que as diferentes raças correspondem às características biológicas dos grupos étnicos. Como por exemplo, a raça negra que seria composta daqueles que têm a pele negra, cabelos crespos, entre outras características fenotípicas. A diferença entre raça e etnia é, portanto que raça determinava um grupo por características biológicas, enquanto a etnia fala sobre aspectos culturais. Contudo, estudos da sociologia, antropologia e da biologia no último século contribuíram para desconstruir a ideia discriminatória do conceito de raça e aposentar o termo quanto classificação humana. 6 Extraído do link: www.portaleducacao.com.br 27 A língua é utilizada como fator primário de classificação dos grupos étnicos. Existe um grande número de línguas multiétnicas e determinadas etnias são multilíngues. Os grupos étnicos compartilham uma origem comum, e exibem uma continuidade no tempo, apresentam uma noção de história em comum e projetam um futuro como povo. Isto se alcança através da transmissão de geração em geração de uma linguagem comum, de valores, tradições e, em vários casos, instituições. 5.3 Raça e Etnia no Brasil O Brasil é considerado um país com uma enorme miscigenação étnica, como os indígenas, portugueses, holandeses, italianos, negros, japoneses, árabes, e etc., Mas, não se pode dizer que há diferença racial entre os brasileiros, já que a raça humana é uma só. Cada região brasileira, devido ao seu contexto histórico particular, possui uma predominância de determinada etnia. Os processos migratórios no Brasil foram fundamentais para a variedade de etnias brasileiras. Além dos grupos culturais de imigrantes, a miscigenação permitiu a criação de grupos étnicos próprios do Brasil, como os caboclos e mulatos.7 Dificilmente existe uma nação com tão complexa e variada composição étnica de sua população. No caso do Brasil, a formação populacional advém de basicamente cinco distintas fontes migratórias, são elas: - os nativos, que se encontravam no território antes da chegada dos portugueses. Esses povos eram descendentes de homens que chegaram às Américas através do Estreito de Bering; - os portugueses, que vieram para o Brasil a fim de explorar as riquezas da colônia; - os negros africanos, que foram trazidos pelos europeus para trabalhar nos engenhos na produção do açúcar a partir do século XVI; - a intensa imigração europeia no Brasil, sobretudo no sul do país; 7 Extraído do link: www.significados.com.br/raca-e-etnia 28 - a entrada de imigrantes oriundos de várias origens, especialmentevindos da Ásia e Oriente Médio. Com base nessas considerações, a população brasileira ficou com a seguinte composição étnica: Brancos: a grande maioria da população branca tem origem europeia (ou são descendentes desses). No período colonial vieram para o Brasil: espanhóis, holandeses, franceses, além de italianos e eslavos. A região sul abriga grande parte dos brancos da população brasileira, pois esses imigrantes ocuparam tal área. Negros: essa etnia foi forçada a migrar para o Brasil, uma vez que vieram como escravos para atuar primeiramente na produção do açúcar e mais tarde na cultura do café. O Brasil é um dos países que mais utilizou a mão de obra escrava no mundo. Hoje, os negros se concentram principalmente em áreas nas quais a exploração foi mais intensa, como é o caso das regiões nordeste e sudeste. Indígenas: grupo étnico que habitava o território brasileiro antes da chegada dos portugueses. Nesse período, os índios somavam cinco milhões de pessoas. Os índios foram quase disseminados, restaram somente 350 mil índios, atualmente existem 170 mil na região Norte e no Centro-Oeste 100 mil. Pardos: etnia formada a partir da junção de três origens: brancos, negros e indígenas, formando três grupos de miscigenação. Mulatos: correspondem à união entre brancos e negros, esse grupo representa 24% da população e ocorre com maior predominância no Nordeste e Sudeste. Caboclos: representa a descendência entre brancos e indígenas. No país respondem por 16% da população nacional. Esse grupo se encontra nas áreas mais longínquas do país. 29 Cafuzos: esse grupo é oriundo da união entre negros e índios, essa etnia é restrita e corresponde a 3% da população. É encontrado com maior frequência na Amazônia, Centro-Oeste e Nordeste.8 6 A EDUCAÇÃO, A INTOLERÂNCIA, O RACISMO E A XENOFOBIA 6.1 Educação de qualidade pode ajudar a prevenir racismo e xenofobia A educação tem um papel fundamental na criação de novos valores e atitudes e fornece-nos ferramentas importantes para abordar a discriminação profunda e o legado de injustiças históricas”, disse Mutuama Ruteere num briefing no Conselho dos Direitos Humanos, em Genebra. Fonte:vhecologia.blogspot.com.br Ruteere disse que os estados devem assegurar que os currículos escolares contêm informação equilibrada sobre a contribuição das minorias, dos migrantes e de outros grupos não dominantes, e que enfatizem que tal é particularmente relevante contra um contexto de agitação social e económica. 8 Extraído do link: mundoeducacao.bol.uol.com.br 30 “O crescimento de partidos políticos, movimentos e de grupos extremistas coloca grandes desafios particularmente no contexto da atual crise financeira e econômica”, alertou. “Racismo, xenofobia, homofobia e outras atitudes de intolerância continuam a ser levadas a cabo por indivíduos e por grupos com ligações a partidos políticos ou movimentos extremistas, contra pessoas de descendência africana, membros de minorias como os Roma, estudantes estrangeiros, judeus, muçulmanos e migrantes, disse Ruteere, acrescentando que os Estados devem tomar ações decisivas contra as tentativas de alguns grupos extremistas de falsificar a história. Estados devem ainda avaliar o impacto dos cortes orçamentais na educação numa altura de crise econômica, particularmente para minorias e grupos desfavorecidos, disse Ruteere. “Reparo que, pesem embora algumas iniciativas positivas, há estudos e conclusões de órgãos nacionais e internacionais que mostram que pessoas de descendência africana, Roma, pessoas indígenas, migrante, para referir alguns, continuam a ter acesso restrito a uma educação superior e de qualidade. ” Ruteere entregou ainda um relatório ao Conselho em que aborda os últimos desenvolvimentos por si identificados relativamente aos desafios contínuos de direitos democráticos e humanos colocados por partidos políticos, movimentos e grupos extremistas, como sejam os grupos de neonazis e os skinheads. Este relatório examina as principais áreas de preocupação nas quais são exigidos novos esforços e uma vigilância consistente contra crimes de racismos e de xenofobia e identifica também boas práticas desenvolvidas por estados e por diferentes parceiros. Especialistas independentes, ou relatores especiais, são designados pelo Conselho para examinar e reportar sobre a situação de um país ou de um tema específico de direitos humanos. Fazem o seu trabalho voluntariamente, não sendo pagos pela ONU.9 9 Extraído do link: www.unric.org 31 6.2 Xenofobia na Europa O crescimento da xenofobia na Europa é revelador das relações entre a intolerância cultural e o crescimento migratório no continente. Entende-se por Xenofobia, em termos sociopolíticos, a repulsa ou aversão a povos estrangeiros em um dado local ou território. Essa denominação, primeiramente utilizada no contexto da psicologia e da biologia, é também encarada como uma questão política, cuja lógica se manifesta de forma mais acentuada em alguns países do continente europeu, em função da grande quantidade de imigrantes residentes nesse continente. Para entender essa questão, é preciso, primeiramente, compreender a lógica da dinâmica migratória em direção à Europa. Os principais fatores que propiciam a presença de estrangeiros no território europeu são: a) Dificuldades econômicas enfrentadas pelos países subdesenvolvidos e emergentes. Esses países sofrem com problemas graves de distribuição de renda, o que faz com que a população menos favorecida busque por novas oportunidades em países centrais. Dessa forma, a Europa torna-se um atrativo por oferecer uma maior mobilidade entre as diferentes nações, local onde esses imigrantes realizam os serviços mais básicos e destinam suas economias para seus locais de origem. b) Necessidade de imigrantes por parte da Europa, uma vez que há carência de trabalhadores para as funções mais básicas da sociedade, vagas que costumam ser preenchidas por estrangeiros. c) Investimentos econômicos em alguns setores na economia são também requisitados pelos europeus aos estrangeiros, uma vez que boa parte dos empresários do velho continente opta por investir em outras economias. Assim, na Europa, registra-se a presença de uma elite, principalmente, islâmica, que passa a ganhar cada vez mais representatividade no âmbito do poder. d) Os avanços do meio técnico-científico-informacional no cerne da Globalização propiciaram também novas configurações territoriais, possibilitando e facilitando o rápido transporte de pessoas em todo o mundo, 32 tornando-se o fator derradeiro para consolidar e intensificar os fluxos migratórios então existentes. Graças a esses fatores, a presença de povos estrangeiros e de culturas e práticas sociais não europeias é cada vez maior, muito embora os fluxos migratórios venham diminuindo nos últimos anos. Com isso, o sentimento de alteridade para com outros povos por parte da população de alguns países na Europa é cada vez menor, aumentando casos de racismos, intolerância religiosa (principalmente com os muçulmanos) e rejeição aos estrangeiros. Os principais fatores que motivam a ocorrência e os aumentos periódicos de ondas xenofóbicas são: a) Crise de identidade que aumenta à medida em que a Europa vai gradativamente se transformando em um local multimiscigenado, haja vista que a maioria dos imigrantes não costuma retornar para os seus locais de origem, estabelecendo-se em espaço europeu e transmitindo suas heranças genéticas aos seus descendentes, provocando uma transformação étnica. Para agravar essa questão, observa-se que o crescimento migratório em vários países europeus é muito superior ao crescimento vegetativo, graças às quedas acentuadas das taxas de natalidade.b) A ideia de que os imigrantes “roubam” os empregos dos europeus, pois muitos consideram que aqueles realizam os mesmos serviços da população local, porém com salários mais baixos e condições de trabalho mais degradantes. Apesar de isso ser verdade, a presença de imigrantes não diminui o índice de emprego para a população local, haja vista que os estrangeiros costumam atuar em áreas carentes de emprego, geralmente destinadas à população de renda mais baixa, além de atuarem também na informalidade. c) A crise econômica que atinge a Europa, de forma mais intensa desde 2011, vem contribuindo para o crescimento de casos de xenofobia. Isso ocorre porque, com a crise econômica, parte da população passou a responsabilizar os povos estrangeiros por meio de ideias preconceituosas pela retração econômica. Além disso, 33 com o aumento de problemas sociais ocasionados pela crise, como o desemprego, partidos de extrema direita angariaram mais espaço nos parlamentos, ganhando força para difundir seus ideais fascistas, racistas e anti-imigrantistas. e) Os migrantes vêm procurando manter as suas tradições, ao contrário do que acontece, por exemplo, nos EUA, onde a população estrangeira modifica os seus hábitos e padrões de comportamento e comunicação para adequar-se aos valores nacionais. Na Europa, os grupos estrangeiros, cada vez maiores, mais influentes e mais organizados, articulam-se no sentido de conservar suas tradições, incluindo os seus idiomas. Isso gera uma crise social muito grande, pois os nativos europeus simplesmente não concebem essa ideia, gerando conflitos cotidianos e sociais, o que pode, em um futuro próximo, reverberar em uma crise sem precedentes no continente europeu. Considerando essas razões, é possível perceber um crescimento de atos e posições xenofóbicas no contexto das sociedades europeias. Essas práticas, apesar de muitas vezes serem combatidas por leis e ações públicas, são referendadas pelos Estados nacionais, que lançam ações e posturas de diminuição dos direitos dos povos estrangeiros. Um exemplo disso é a Suíça, que aprovou leis de expulsão a imigrantes condenados por crimes graves após o cumprimento de suas penas, crimes esses que envolvem estupros, homicídios e tráfico de drogas, além de alguns outros considerados menores.10 6.3 Intolerância religiosa e racismo crescem no ‘pacífico’ Brasil Vivemos um dos momentos mais conturbados da história da humanidade. Um período parecido com o que antecedeu a Segunda Guerra Mundial, em que nacionalismos e separatismos, bem como conflitos que opunham etnias e religiões, mascaravam as verdadeiras razões políticas e econômicas subjacentes àquela época como a crise da Bolsa de Valores, de 1929, e a Grande Depressão. Cenários como 10 Extraído do link: brasilescola.uol.com.br 34 esses propiciam e potencializam sentimentos de xenofobia, ódio, intolerância e racismo. No âmbito internacional, as diferenças religiosas têm exacerbado o preconceito em relação aos muçulmanos, induzindo-se a crer que todo o adepto da religião islâmica tem a responsabilidade por ataques terroristas causados por uma minoria radical sem nenhum princípio ético e humanitário, base fundamental de qualquer doutrina religiosa. Exemplo recente é a intensificação do conflito das duas potências petrolíferas no Oriente Médio -Irã e Arábia Saudita- tencionando ainda mais uma região marcada por confrontos de origem religiosa. A intolerância religiosa e o racismo motivaram e foram pano de fundo para quase todos os conflitos armados que ocorreram no século 20. A morte de mais de seis milhões de judeus, no período sinistro e obscuro da ascensão do nazismo, que perdurou por mais de uma década na Alemanha, é um exemplo claro desse fenômeno. Historicamente, o Brasil não ficou ao largo desse processo de radicalização e intolerância religiosa. No momento em que o fascismo aterrorizava a Europa, movimentos como o integralismo, que pregava o racismo, ganhava força entre nós. É só lembrar que o candomblé e até mesmo a capoeira, com seus batuques e cantigas, eram proibidos no Brasil até meados do século 20. Nosso país é dos locais que apresentam a maior diversidade de credos do mundo. Abriga diferentes comunidades religiosas e culturais e é considerado a maior nação espírita e católica do planeta, com a presença de diversas instituições ecumênicas. Aparentemente “pacífico”, o Brasil é constitucionalmente laico, sem religião oficial, o que garante a seus cidadãos a liberdade de crença e de expressão. Ao mesmo tempo, é possível afirmar, contraditoriamente, que, com o aumento da diversidade religiosa, aqui verifica-se o agravamento da intolerância e do racismo. O problema se revela frequente, com relatos de destruição de imagens de orixás, símbolos do candomblé ou de imagens de santos católicos. Trajar roupas brancas como nos rituais ancestrais às sextas-feiras, como símbolo de quem cultua religião de matriz africana, é visto hoje em certos ambientes em nosso território como uma ofensa. Alguns programas de televisão tratam abertamente as religiões de matriz africana como seitas satânicas do mal. Também têm sido cada vez mais frequentes os casos de queima de terreiros de candomblé e os relatos de mães de santo que sofrem pequenos atentados a seus 35 seguidores, como o esvaziamento dos pneus de carros estacionados nas proximidades de seus terreiros. É comum, igualmente, a depredação de capelas católicas, sobretudo as localizadas em áreas isoladas, à beira das estradas. No entanto, há pouca reação contra esse tipo de atentado e discriminação. Nos últimos meses, a Secretaria Municipal de Promoção da Igualdade Racial de São Paulo (SMPIR) registrou aumento significativo do volume de denúncias de atos de intolerância contra crenças de matriz africana, sendo superado apenas pelos registros de práticas de discriminação em escolas. Pior ainda quando as duas coisas vêm juntas: crianças são discriminadas no ambiente escolar pelas suas vestimentas ou religiões (candomblé, islamismo ou judaísmo). Muitos casos nem sequer chegam ao conhecimento do poder público. Visando coibir outras atitudes discriminatórias foi sancionada uma lei municipal na cidade de São Paulo, criando o Dia de Combate à Intolerância Religiosa, celebrado no dia 21 de janeiro. Por conta dessa data, foi lançado, com a presença do prefeito Fernando Haddad, o fórum inter-religioso, uma iniciativa da SMPIR, que conta com o apoio da secretaria de direitos humanos. Trata-se do reconhecimento, pelo próprio Estado, da existência do problema. A intolerância religiosa é um crime de ódio que fere a liberdade e a dignidade humana. E o país, que abriga uma das maiores diversidades religiosa do mundo, tem a obrigação de ser verdadeiramente um exemplo de paz nessa questão.11 6.4 Racismo e Xenofobia O racismo é a tendência do pensamento, ou do modo de pensar em que se dá grande importância à noção da existência de raças humanas distintas e superiores umas às outras. Onde existe a convicção de que alguns indivíduos e sua relação entre características físicas hereditárias, e determinados traços de carácter e inteligência ou manifestações culturais, são superiores a outros. O racismo não é uma teoria científica, mas um conjunto de opiniões pré- concebidas, onde a principal função é valorizar as diferenças biológicas entre os seres 11 Extraído do link: racismoambiental.net.br 36 humanos, em que alguns acreditam ser superiores aos outros de acordo com sua matriz racial. A crença da existência de raças superiores e inferiores foi utilizada muitas vezes para justificar a escravidão, o domínio de determinados povos por outros, e os genocídios que ocorreram durante toda a história da humanidade. Os racistas definem uma raçacomo sendo um grupo de pessoas que têm a mesma ascendência. Diferenciam as raças com base em características físicas como a cor de pele e o aspecto do cabelo. Investigações recentes provam que a “raça” é um conceito inventado. A noção de “raça” não possui qualquer fundamento biológico. A palavra “racismo” é igualmente usada para descrever um comportamento abusivo ou agressivo para com os membros de uma “raça inferior”. O racismo reveste-se de várias formas nos diversos países, consoante a sua história, cultura e outros fatores sociais. Uma forma relativamente recente de racismo, por vezes denominada “diferenciação étnica ou cultural”, defende que todas as raças e culturas são iguais, mas não se deviam misturar, de maneira a conservar a sua originalidade. Não há nenhuma prova científica da existência de raças diferentes. A biologia só identificou uma raça: a raça humana. A importância que o homem dá à cor da pele do seu semelhante, é deveras preocupante. Na realidade, em muitos casos a diferença da cor da pele é uma barreira muito mais determinante para a comunicação entre as pessoas do que a própria diferença linguística, isto pode ser considerado um fenómeno anti-natura, uma vez que não vemos na natureza os animais minimamente preocupados com as diferenças de pelagem ou penas. A diferença de cor entre as pessoas tem uma explicação científica para a qual o homem não contribui minimamente: a maior ou menor concentração de melanina da pele, que torna a pele da pessoa mais o menos escura. A xenofobia quer dizer aversão a outras raças e culturas. Muitas vezes é característica de um nacionalismo excessivo. A xenofobia é um medo intensivo, descontrolado e desmedido em relação a pessoas ou grupos diferentes, com as quais nós habitualmente não contatamos. Por discriminação racial entende-se qualquer distinção, exclusão, restrição ou preferência em função da raça, origem, cor ou etnia, que tenha por objetivo ou produza 37 como resultado a anulação ou restrição do reconhecimento, fruição ou exercício, em condições de igualdade, de direitos, liberdades e garantias ou de direitos econômicos, sociais e culturais. Uma das formas de descriminação racial é a intolerância, ou seja, a falta de respeito pelas práticas e convicções do outro. Aparece quando alguém se recusa a deixar outras pessoas agirem de maneira diferente e terem opiniões diferentes. A intolerância pode conduzir ao tratamento injusto de certas pessoas em relação ás suas convicções religiosas, sexualidade ou mesmo à sua maneira de vestir. Está na base do racismo, do antissemitismo, da xenofobia e da discriminação em geral. Frequentemente, pode conduzir à violência. Contudo, existem formas de combate à discriminação racial. MEIOS JURIDICOS DE COMBATE AO RACISMO E A XENOFOBIA Legislação que proíbe as descriminações no exercício de direitos, por motivos baseados na raça, cor nacionalidade ou origem étnica: Lei nº 134/99, de 28 de Agosto; Decreto-Lei nº 111/2000, de 4 de Julho. ❥ A igualdade é a característica do que é igual. O que significa que nenhuma pessoa é mais importante que outra, quaisquer que sejam os seus pais e a sua condição social. Naturalmente, as pessoas não têm os mesmos interesses e as mesmas capacidades, nem estilos de vida idênticos. Consequentemente, a igualdade entre as pessoas significa que todos têm os mesmos direitos e as mesmas oportunidades. No domínio da educação e do trabalho, devem dispor de oportunidades iguais, apenas dependentes dos seus esforços. A igualdade só se tornará uma realidade quando todos tiverem, em termos idênticos, acesso ao alojamento, à segurança social, aos direitos cívicos e à cidadania. ❥ O interculturalismo consiste em pensar que nós enriquecemos através do conhecimento de outras culturas e dos contatos que temos com elas e que desenvolvemos a nossa personalidade ao encontrá-las. As pessoas diferentes deveriam poder viver juntas apesar da sua diferença cultural. O interculturalismo é a aceitação e o respeito pelas diferenças. A atitude perante o "outro" depende em larga medida de uma sobreposição, por vezes contraditória, de identidades, influências e lealdades, cuja interação resulta numa disposição particular para a cooperação transnacional. 38 De forma a podermos combater os impulsos conflituosos que derivam de todo este contexto, é preciso encontrar o que Talcot Parsons chama de "core system of shared meaning". É preciso, nacional e internacionalmente, promover um relacionamento institucional, econômico, político, social e interpessoal coerente. Esta coerência passa pelo reforço da interculturalidade. E esta assenta no conhecimento do "outro", daí a sua importância fundamental no combate ao racismo e à xenofobia, que assentam em preconceitos resultantes do desconhecimento ou conhecimento deturpado. A interculturalidade é uma batalha a ganhar gradualmente e vários são os campos onde podem ser levadas a cabo ações decisivas. A Educação é, sem dúvida, uma das áreas onde numerosas vitórias podem ser conseguidas. Não é, na verdade, uma tarefa fácil, mas é certamente uma das vias a seguir, dada a sua influência estrutural na preparação dos cidadãos de amanhã. SEJA-MOS TODOS 100% A FAVOR DA IGUALDADE, NÃO À DISCRIMINAÇÃO! Usando a expressão da jornalista Isabel Stillwell sobre o racismo: "Há racistas empedernidos, há racistas assumidos, há racistas politicamente corretos, há racistas que quase o não são, mas provavelmente todos somos racistas”. A cor é apenas o sinal mais evidente da diferença, porque o nosso racismo na verdade é contra aquele que não é como nós – preto, branco, mais alto, mais baixo. Na verdade, o racismo não tem fronteiras e existe até dentro da mesma raça (e, aqui, é bom distinguir "raça" de etnia ou nacionalidade). Por isso, pensem na forma como por vezes distinguem as pessoas, só pelo seu aspecto! Até que ponto pode ser a nossa sociedade feita de olhares?! Porque é que as pessoas obedecem a um segmento mal constituído de preconceitos que resultam em injustiças, e que são baseados unicamente nas aparências? Para quê viver a discriminar as pessoas só pela cor da pele? 39 Os seres humanos no passado reuniam-se em grupos que eram pessoas que tinham as mesmas afinidades de sangue. Eram os clãs. Já que o alimento era raro, existiam rivalidades entre esses grupos. Uns rejeitavam os outros e viviam em guerra quase permanente. Aos poucos esses grupos foram formando associações para juntarem forças para combater outros inimigos externos, mais poderosos. Assim formaram-se as primeiras nações. Da mesma forma eles continuaram a rejeitar os que eram diferentes, que tinham outra cor, outros costumes e línguas. Apesar de vivermos hoje numa aldeia global, onde as pessoas migram e visitam lugares distantes, onde os costumes se misturam, muitas pessoas ainda conservam esse velho rancor e desconfiança com relação às pessoas que são diferentes. Aos poucos isso vai desaparecendo, na medida em que nós vamos percebendo que todo ser humano é igual, não havendo justificação para o racismo!12 6.5 Povo brasileiro: Miscigenação e racismo... Desde o início da colonização do Brasil a miscigenação foi intensa. A maioria dos colonizadores portugueses que vieram ao Brasil eram homens, que mantinham relações com índias ou escravas negras. As mulheres brancas só vieram mais tarde, principalmente a partir da segunda metade do século 19, com a imigração europeia e japonesa. Os negros foram trazidos da África a partir de 1538, para trabalhar como escravos inicialmente na cultura da cana-de-açúcar e, mais tarde, nas minas e nos cafezais. Não existem dados oficiais do número de escravos entrados no Brasil, mas as estimativas apontam para 4 milhões de indivíduos. A miscigenação deu origem a outros numerosos grupos, como: mulato (branco com negra,
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