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AMANDA GODINHO BALISA ALMEIDA- 5º PERÍODO 1/2022 PROBLEMA 1 ESQUISTOSSOMOSE EPIDEMIOLOGIA A região Nordeste é a mais endêmica. Também há alta prevalência no Norte de Minas Gerais. AGENTE ETIOLÓGICO E HOSPEDEIROS Agente etiológico: Schistosoma mansoni. Possui tropismo pelos vasos mesentéricos. HI: caramujos do gênero Biomphalaria (se desenvolvem as formas larvárias). HD: homem. (o parasita desenvolve a forma adulta). TRANSMISSÃO O ser humano adquire a esquistossomose por meio da penetração ativa da cercária na pele. O contato com água contaminada por cercárias durante atividades laborais ou de lazer, como banhos e pescas. No ambiente aquático, acontece a eclosão do miracídeo dos ovos, que é a forma ativa infectante do hospedeiro intermediário. PERÍODO DE INCUBAÇÃO 2 a 6 semanas após a infecção, desde a penetração das cercárias até o aparecimento dos primeiros sintomas. PERÍODO DE TRANSMISSIBILIDADE HD: a partir de 5 semanas após a infecção e por um período de 6 a 10 anos. HI: após 4 a 7 semanas da infecção, por toda a vida. CICLO BIOLÓGICO IMUNOPATOGENIA FASE AGUDA: após a penetração das cercárias ocorre a formação de um infiltrado inflamatório local, com a produção de citocinas pró-inflamatórias, desencadeando um padrão de resposta TH1. Após a o desenvolvimento, disseminação e inicio da ovoposição, se inicia uma reação imunológica local contra esses ovos, levando ao granuloma esquistossomótico, especialmente na mucosa colorretal e nos espaços-porta do fígado. Há inflamação no parênquima hepático e congestão esplênica. FASE CRÔNICA: decorre da presença de ovos nos tecidos, com as alterações inflamatórias e funcionais dela resultantes. Tem-se a presença de fibrose, sobretudo no fígado e nos pulmões, pois a resposta THl, passa a ser substituída, por resposta TH2. O grande problema decorrente dos granulomas e da fibrose dos espaços portais é a síndrome de hipertensão porta, que leva a dilatação dos vasos do sistema porta e das colaterais, gerando a formação de varizes esofagianas, que podem romper e se apresentar como hemorragia digestiva alta. Os ovos retidos nos espaços- porta hepáticos são responsáveis pela forma hepática e pela forma hepatoesplênica da esquistossomose crônica. Devido a presença dos ovos nos espaços-porta do fígado, ocorre uma progressiva fibrose periportal nodular, denominada fibrose de Symmers. A esplenomegalia decorre do aumento da pressão venosa (esplenomegalia congestiva) e por ativação de seu sistema reticuloendotelial (às vezes pela presença de alguns ovos em seu parênquima). Pela hipertensão porta, parte do sangue do sistema porta- mesentérico é desviada para o sistema cava, permitindo a disseminação dos ovos para outros tecidos, como o pulmão. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Esquistossomose Aguda Pode ser assintomática ou apresentar os seguintes sintomas: • Calafrios • Sudorese • Astenia • Mialgia • Hepatoesplenomegalia Doenças infecciosas e parasitárias AMANDA GODINHO BALISA ALMEIDA- 5º PERÍODO - 1/2022 Revisão MÓDULO I Doença de notificação compulsória! AMANDA GODINHO BALISA ALMEIDA- 5º PERÍODO 1/2022 Dermatite cercariana (24 a 72 horas após a penetração, caracterizada por micropápulas eritematosas) Febre de Katayama (4-8 semanas após a infecção): é um quadro autolimitado caracterizado por linfodenopatia, febre alta, cefaleia, tosse, anorexia, dor abdominal, náuseas e vômitos. Esquistossomose Crônica Forma Hepatointestinal É mais comum entre as crianças e os adultos jovens, decorre da presença dos ovos do esquistossoma nos espaços-porta do fígado e na mucosa intestinal e colorretal. Sinais e sintomas: • Sintomas dispépticos: eructações, sensação de plenitude gástrica, náuseas, vômitos, pirose, flatulência. • Emagrecimento • Dor abdominal do tipo cólica • Diarreia alternada com constipação intestinal • Hepatomegalia- fígado palpável de 2-6 cm abaixo do rebordo costal direito (hipertrofia predominante do lobo esquerdo) indolor, de consistência endurecida e de superfície irregular. • Pode ter presença de sangue ou muco nas fezes • Pode ocorrer tenesmo OBS: Sem hipertensão portal e sem esplenomegalia!! Forma Hepatoesplênica FORMA COMPENSADA: esquistossomose hepática avançada, tendo a fibrose de Symmers. Sinais e sintomas: • Presença de hipertensão portal (devido à obstrução dos capilares portais por ovos e formação de granulomas) • Esplenomegalia – baço endurecido e indolor à palpação. • Varizes esofágicas • Dores abdominais atípicas. • Pode ter hemorragia digestiva alta, causada pela rotura espontânea de varizes esofagianas. Predomina nos adolescentes e adultos jovens. Há, ainda, moderada atividade inflamatória, boa preservação das células hepáticas e conservação da estrutura lobular. Os testes de função hepática apresentam-se normais. FORMA DESCOMPENSADA: uma das formas mais graves da esquistossomose. Fatores associados: hepatite viral e alcoolismo • Ictéricia (↓excreção de bilirrubina) • Ascite (hipoalbuminemia) • Sintomas neuropsíquicos ((toxidade por aminas da ureia > confusão mental) • Insuficiência hepática e cirrose • Pode haver circulação colateral, chamada de “aranhas vasculares” à inspeção • Varizes esofágicas e HDA. Forma pulmonar Presença de hipertensão pulmonar por obstrução vascular, provocada por ovos, vermes mortos e/ ou vasculite pulmonar por imunocomplexos. Os sintomas e sinais clínicos caracterizam a síndrome cor pulmonale: dispneia, tosse seca, dor torácica, baqueteamento digital e insuficiência cardíaca. Forma renal A presença de imunocomplexos nos glomérulos renais, pode causar o desenvolvimento síndrome nefrótica. Neuroesquistossomose O quadro clínico dependerá da localização dos ovos ou vermes. Mais frequentemente encontramos sintomas neurológicos comprometendo a medula espinhal toracolombar, com quadro de mielite transversa. Enterobacteriose Septicêmica Prolongada Enterobactérias, como Salmonella sp e E. coli, podem aderir-se à superfície dos adultos do esquistossoma ou adentrarem o intestino do verme. Com isso, surge um estado de bacteremia persistente, determinando um quadro clínico que se caracteriza por febre de longa duração, perda ponderal, dor abdominal, edema de membros inferiores, hepatomegalia, esplenomegalia, hipoalbuminemia, hipergamaglobulinemia, leucocitose neutrofílica, eosinofilia etc. DIAGNÓSTICO EPF (exame parasitológico de fezes): realiza a pesquisa de ovos de S.mansoni nas fezes, o ideal são 3 amostras, podem ser utilizadas as seguintes técnicas: Técnica de KatoKatz: além da visualização dos ovos, permite que seja feita a contagem destes por grama de fezes, fornecendo um indicador quantitativo para se avaliar a intensidade da infecção. Técnica de sedimentação espontânea, ou de Lutz, também conhecida por Hoffman, Pons e Janer (HPJ): permite a identificação dos ovos e sua diferenciação em viáveis ou não, é somente um método qualitativo. AMANDA GODINHO BALISA ALMEIDA- 5º PERÍODO 1/2022 OBS: os ovos encontrados são espiculados. Na fase aguda, pode ser solicitado também um hemograma em que se identifica eosinofilia. Métodos imunológicos: são mais empregadas na fase crônica da doença (são positivas a partir do 25º dia). Útil em áreas não endêmicas e/ou de baixa prevalência em casos de EPF negativo. • Reação de imunofluorescência indireta (IFI): detecção de anticorpos IgM. • ELISA: detecção de anticorpos IgG. Quando positivos, não indicam obrigatoriamente infecção ativa, pois a positividade, devido à presença de anticorpos, pode permanecer por muitos anos, mesmo após a cura da infecção. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL Dermatite cercariana: dermatite por larvas de helmintos (Ancylostomaduodenale, Necator americanus, Strongyloides stercoralis, Ancilostoma brasiliensis). Esquistossomose aguda: febre tifoide, malária, hepatites virais, estrongiloidíase, amebíase, mononucleose, tuberculose miliar e Chagas aguda. Esquistossomose crônica: leishmaniose visceral, leucemia, linfomas, cirrose. TRATAMENTO Dermatite cercariana: anti-histamínicos locais, corticoides tópicos. Febre de Katayama: repouso, hidratação adequada, uso de antitérmicos e analgésicos. Forma hepatoesplênica: tratar as varizes esofágicas (escleroterapia) e betabloqueadores para reduzir o risco de HDA. Se necessário esplenectomia. Contraindicações do praziquantel • Gestantes • Lactantes • Crianças < 2 anos (a critério médico). • Insuficiência hepática grave (fase descompensada da forma hepatoesplênica). • Insuficiência renal (a critério médico. CRITÉRIOS DE CURA: 3 EPFS no 4º mês de tratamento em dias diferentes. PREVENÇÃO • Saneamento básico • Controle dos caramujos • Evitar contato com água de enchentes • Evitar nadar em rios e cachoeiras. PROBLEMA 2 LEISHMANIOSE VISCERAL CARACTERÍSTICAS GERAIS Doença infectoparasitária crônica e sistêmica, é uma zoonose. AGENTE ETIOLÓGICO: Leishmania chagasi VETOR/HI: flebotomíneo do gênero Lutzomyia. HD: homem. RESERVATÓRIOS: cães, marsupiais, roedores, preguiça, tamanduá. TRANSMISSÃO: através da picada das fêmeas dos flebotomíneos do gênero Lutzomya. PERÍODO DE INCUBAÇÃO: No homem, é de em média entre 2 e 6 meses; no cão em média de 3 a 7 meses. EPIDEMIOLOGIA Era limitada a áreas rurais, hoje, no entanto, já se percebe um caráter urbano. Associa-se a vulnerabilidade social. A maioria dos acometidos são crianças, isso corre devido à imaturidade imunológica, maior desnutrição e maior exposição ao vetor. AGENTE ETIOLÓGICO Parasito intracelular obrigatório que se reproduz dentro do sistema fagocitário mononuclear (SFM).Possui duas formas: Amastigota: é intracelular, com alto poder de divisão celular, causando lise da célula. Encontrada no HD, dentro dos macrófagos. Promastigota: é extracelular, encontrada no tubo digestivo do HI. CICLO BIOLÓGICO Reservatório Doença de notificação compulsória! AMANDA GODINHO BALISA ALMEIDA- 5º PERÍODO 1/2022 IMUNOPATOGENIA E ACHADOS CLÍNICOS O vetor possui uma probócite que causa uma lesão tecidual. Além disso, apresenta em sua saliva o maxidilan, atua como anticoagulante, inibidor da agregação plaquetária e imunossupressor (IL-10, inibe o poder microbicida dos fagócitos). O parasito possui a GP63, que degrada enzimas lisossomais, cliva as proteinas do sistema complemento, atua promovendo a opsonização do parasito, facilitando a fagocitose. Tem também a LPG, que inibe o fagolisossomo e a formação do MAC (complexo de ataque a membrana). Após a penetração do L. chagasi no subcutâneo, ocorre uma resposta imune inespecifica, com a ativação de celulas de defesa locais e o recrutamento de células fagocitárias, principalmente macrófagos. O tipo de resposta imune moldada contra o parasita irá determinar as consequências da infecção. O macrófago parasitado apresenta o antígeno aos linfócitos TCD4+ e, assim os linfócitos são ativados e se diferenciam em Th1 ou Th2. O padrão de resposta Th1 (imunidade celular) é capaz de conter o processo infeccioso, determinando formas assintomáticas ou oligossintomáticas. Os linfócitos diferenciados ativam os macrófagos e levam à destruição dos parasitos e resolução do processo. Por outro lado, se a resposta for do tipo Th2, o parasito escapa e se dissemina carregado por macrófagos para todos os órgãos do sistema fagocítico mononuclear. Os linfócitos do sangue periférico de pacientes com LV são incapazes de produzir interleucinas de padrão Th1 (INF- gama e IL-2) e produzem elevadas quantidades de interleucinas do padrão Th2(IL- 4 e IL-10). Os parasitos da LV apresentam tropismo por órgãos como fígado, baço, linfonodos e medula óssea. Por isso, a LV cursa com grandes alterações celulares e intensa imunosupressão na fase ativa da doença. Fígado: degeneração das células do parênquima e hiperplasia das células de Kupffer (o parasito se multiplica ativamente, essas células encontram-se abarrotadas de formas amastigotas). Medula óssea: ↑hematopoiese (ineficiente), pois, ocorre diminuição na produção dos progenitores dos linfócitos T (hipocelularidade devido à grande quantidade de macrófagos com amastigotas na medula, assim acaba por ocupar espaço e diminuir a presença das demais células) que provoca alterações laboratoriais, como anemianormocítica e normocrômica, plaquetopenia, neutropenia e leucopenia. Baço: ocorre a destruição intensa de macrófagos, causando uma congestão do órgão, levando a hipertrofia e hiperplasia, acarretando na esplenomegalia, não há hipertensão portal. Ademais, resulta na tríade clássica: febre, emagrecimento e hepatoesplenomegalia. FORMAS CLÍNICAS Forma assintomática Infecção inaparente e sem manifestação clínica em investigações epidemiológicas, não há indicação de tratamento nem notificação. Forma oligossintomática Nas áreas endêmicas, é a forma mais comum da doença. Poe passar despercebida ou ser confundida com outras doenças infecciosas. O paciente, em geral criança, apresenta discreto comprometimento do estado geral. Sinais e sintomas: • Febre baixa ou ausente • Tosse seca • Adinamia • Diarreia • Sudorese • Discreta hepatomegalia, mas com o fígado com bordas lisas e regulares (há edema, ao contrário dos casos de esquistossomose, em que há fibrose). • Palpação do baço é indolor e abdômen encontra- se distendido. • Hemograma normal ou com anemia, VHS elevada. Forma clássica Inicio insidioso, geralmente acomete crianças, idosos ou imunossuprimidos. Períodos: Inicial: febre persistente (< 4 semanas), associada à palidez cutâneo-mucosa (devido à anemia advinda da diminuição de hemácias), esplenomegalia (< 5 cm), pode haver hepatomegalia, tosse e diarreia. Estado: febre irregular associada à perda de peso progressiva, queda do estado geral, anorexia, palidez cutâneo-mucosa mais intensa, aumento do volume abdominal, hepatoesplenomegalia evidente, irritabilidade, vômitos, diarréias, calafrios e linfonomegalias. Pode evoluir com sinais e sintomas de gravidade da doença que elevam a letalidade. Hemograma: pancitopenia (anemia + trombocitopenia + leucopenia), VHS elevado; hipoalbuminemia + hipergamaglobulinemia policlonal – inversão da relação Alb/Glb; discreta elevação das aminotransferases e raramente das bilirrubinas. Final: febre contínua e comprometimento mais intenso do estado geral, desnutrição (cabelos quebradiços, cílios alongados e pele seca) e edema dos membros inferiores, Padrão Th1 Padrão Th1 Padrão Th2 AMANDA GODINHO BALISA ALMEIDA- 5º PERÍODO 1/2022 que pode evoluir para anasarca. Outras manifestações importantes incluem hemorragias (epistaxe, gengivorragia e petéquias), icterícia e ascite. Nesses pacientes, o óbito geralmente é determinado por infecções bacterianas e/ou sangramentos. Hemograma: pancitopenia torna-se grave – intensa astenia, dispneia e insuficiência cardíaca (anemia), infecções bacterianas e sepse (neutropenia) e epistaxe/gengivorragia (plaquetopenia). LEISHMANIOSE VISCERAL E HIV A leishmaniose visceral tem como principal mecanismo de defesa a resposta imune celular, dependente de linfócitos Th1 (TCD4+), justamente aqueles comprometidos na infecção pelo HIV. Muitas vezes, o paciente já era infectado pelo Leishmania sp., mas manteve-se assintomático a vida toda até que desenvolveu a imunossupressão (queda dos LTCD4+) ou o paciente foi recém-infectado e, em vez de evoluir assintomático, desenvolve: hepatoesplenomegalia, linfadenomegalia, alterações de pele. DIAGNÓSTICODIFERENCIAL Leucemias (devido comprometimento medular faz com que se assemelhem clinicamente, assim a punção medular estabelece o diagnóstico), malária, esquistossomose e doença de Chagas na fase aguda. DIAGNÓSTICO Métodos diretos: parasitológico, cultura e PCR. Diagnóstico parasitológico: ASPIRADO DE MEDULA ÓSSEA/MIELOGRAMA (PADRÃO-OURO): permite a visualização de amastigotas, deve ser feito preferencialmente nas cristas ilíacas. O aspirado poderia ser feito em outros órgãos como baço (alto risco de hemorragias), fígado e linfonodos. Diagnóstico imunológico: Métodos indiretos: teste imunocromatográfico (teste rápido), imunofluorescência indireta (RIFI) e ELISA. TESTE RÁPIDO (CALAZAR DETECT): é um teste imunocromatográfico que permite a análise qualitativa dos anticorpos no soro. Está indicado para pacientes com suspeita clínica de LV, de qualquer idade, proveniente de área endêmica com febre, hepatoesplenomegalia e/ou citopenia (anemia, leucopenia, plaquetopenia ou pancitopenia). OBS: o teste rápido sozinho já confirma o diagnóstico, podendo já iniciar o tratamento. Isso facilita devido à rapidez do resultado. TRATAMENTO Engloba terapêutica específica + tratamento sintomático. Exames laboratoriais e ECG devem ser realizados durante o tratamento, a fim de acompanhar a evolução e identificar possivel toxicidade medicamentosa. ANTIMONIAIS PENTAVALENTES (GLUCANTIME): primeira escolha, no geral. 20 mg/kg/dia por via endovenosa ou intramuscular, uma vez ao dia, por no mínimo 20 e no máximo 40 dias. Reações adversas: artralgias, mialgias, inapetência, náuseas, vômitos, plenitude gástrica, epigastralgia, pirose, dor abdominal, dor no local da aplicação, febre, cardiotoxicidade, hepatotoxicidade, nefrotoxicidade e pancreatite. ALTERNATIVAS: Anfotericina B e Pentamidina. ATENÇÃO!!!!! ANFOTERICINA B LIPOSSOMAL: primeira escolha para gestantes, crianças < 1 ano, adultos > 50 anos, pacientes com insuficiência renal, cardíacos, e hepatopatas. 3 mg/kg/dia, por 7 dias ou 4 mg/kg/dia por 5 dias em infusão endovenosa, uma dose ao dia. OBS: há preferência da indicação do uso da anfotericina b lipossomal para pacientes com quadro de coinfecção Leishmania-HIV. Reações adversas: Febre, cefaleia, náusea, vômitos, tremores, calafrios e dor lombar. Condutas de abandono ao tratamento Deve ser considerado o número de doses, o estado clínico atual e o tempo decorrido desde a última dose. Caso o paciente retorne antes de 7 dias de interrupção da droga, completar o tratamento; após 7 dias, considerar: Critérios de cura São basicamentes critérios de melhora do quadro clínico, acompanhar com 3, 6 e 12 meses. PROFILAXIA • Vigilância epidemiológica • Detecção e eliminação de reservatórios infectados. • Controle dos vetores flebotomíneos: utilizar inseticidas. • Uso de coleiras repelentes nos cães • Vacinação contra a leishmaniose visceral – o cão não deixa de ser um reservátorio, por isso, ainda que seja vacinado caso apresente LV, o Ministério da Saúde indica a eutanásia. • Uso de telas. AMANDA GODINHO BALISA ALMEIDA- 5º PERÍODO 1/2022 PROBLEMA 3 LEISHMANIOSE TEGUMENTAR CARACTERÍSTICAS GERAIS Doença infecciosa, não contagiosa, que acomete a pele e as mucosas. AGENTE ETIOLÓGICO: Protozoário do gênero Leishmania. As 3 principais espécies são: Leishmania (L) amazonensis: Amazônia, Bahia, Minas Gerais, São Paulo, Goiás e Paraná. Causa lesões cutâneas (padrão Th1) ou difusas (imunossuprimidos – padrão Th2). Leishmania (V) guyanensis: Região Norte. Causa lesões cutâneas (padrão Th1). Leishmania (V) braziliensis: é a mais importante, ampla distribuição. É a principal causadora de lesões cutâneas (padrão Th1) no país e pode causar também lesões mucosas (padrão Th1 exarcebado). RESERVATÓRIOS: cães, marsupiais, roedores, preguiça, tamanduá. OBS: os animais domésticos são considerados hospedeiros acidentais da doença. VETOR/HI: flebotomíneo do gênero Lutzomyia. HD: homem. TRANSMISSÃO: picada de fêmeas de flebotomíneos infectadas. PERÍODO DE INCUBAÇÃO: em média de 2 a 3 meses. MORFOLOGIA DO AGENTE ETIOLÓGICO Amastigotas: parasitam células do SFM, principalmente macrófagos da pele. Promastigotas: presente no tubo digestivo do HI. Paramastigotas: é uma forma latente, que pode ser formada entre o término reprodutivo e a metaciclogênese, dependendo das condições nutricionais do vetor. CICLO BIOLÓGICO IMUNOPATOGENIA As promastigotas são fagocitadas pelas células de defesa da pele e através delas são levadas aos linfonodos de drenagem, que ao se infectarem sofrem modificações que possibilitam sua migração. No interior das células de drenagem, as partículas do parasito serão apresentadas às células do sistema imune. Essas células, uma vez estimuladas, dirigem-se ao sítio da infecção, auxiliando na formação do processo inflamatório. A resistência do hospedeiro está associada a ativação seletiva e diferenciação de células efetores TCD4+ (Th1), as quais secretam citocinas pró inflamatórias. Por outro lado, a susceptibilidade à infecção está relacionada com a resposta de células CD4+ (Th2), que secretam citocinas como a IL-10. Na forma cutânea localizada, há a resposta do tipo Th1, que tem como resultado a ativação de macrófagos, tornando-os capazes de eliminar o parasito, controlando a infecção. Com isso, a cicatrização inicia-se por meio do controle do processo inflamatório, aumento da função de fibroblastos, com produção de fibrose. Ao contrário do que ocorre nas formas autorresolutivas, a doença pode progridir, evoluindo para forma cutâneo- mucosa, que apresenta simultaneamente citocinas Th1 e Th2, ou seja, um padrão Th0. Em pacientes com imunodeficiência, a LC pode evoluir para uma ausência de resposta celular, apresentando a forma leishmaniose cutâneo-difusa, resposta do tipo Th2. FORMAS CLÍNICAS Inicialmente, a infecção é inaparente, assim o paciente é assintomático. Posteriormente pode apresentar: Leishmaniose cutânea Forma cutânea localizada Geralmente, forma-se uma mácula que evolui para pápula que aumenta progressivamente produzindo, geralmente, uma úlcera. Reservatório Padrão Th1 Doença de notificação compulsória! AMANDA GODINHO BALISA ALMEIDA- 5º PERÍODO 1/2022 A infecção bacteriana, quando associada, pode causar dor local e produzir exsudato purulento que pode recobrir a úlcera. A lesão geralmente tem tendência à cura espontânea e apresenta boa resposta ao tratamento, podendo ser única ou múltipla em um mesmo segmento corporal. Pode acompanhar-se de linfadenopatia regional. CARACTERÍSTICAS DA ÚLCERA CLÁSSICA: costuma se localizar em áreas expostas da pele, é indolor, arredondada, com base eritematosa, infiltrada e de consistência firme, com bordas bem delimitadas e elevadas. Forma cutânea disseminada Múltiplas lesões que acometem vários segmentos corporais, envolvendo com frequência a face e o tronco. Inicia-se com uma ou várias lesões localizadas com as características clássicas de úlceras de fundo granuloso e bordas elevadas. A disseminação ocorre posteriormente ao desenvolvimento das lesões primárias, por via hemática ou via linfática, que se estabelece em poucos dias, causando lesões distantes do local da picada. Cutâneo-difusa No Brasil, a doença é causada pela L. amazonensis. Constitui uma forma clínica rara e grave, que ocorre em pacientes com deficiência específica na resposta imune celular. Inicia de maneira insidiosa, com lesão única e má resposta ao tratamento; evolui de forma lenta com formação de placas e múltiplas nodulações não ulceradas recobrindo grandes extensões cutâneas. Diagnóstico diferencial da leishmaniose cutânea: • Forma cutânea localizada: tuberculose,picadas de insetos, carcinoma basocelular, carcinoma espinocelular. • Forma cutânea difusa: hanseníase virchowiana Leishmaniose mucosa O agente etiológico é a L. braziliensis. Meses ou anos após a lesão inicial primária, surgem lesões destrutivas secundárias envolvendo mucosas e cartilagens. As mais afetadas são o nariz, a faringe, a boca e a laringe. Pode levar a destruição do septo nasal e ao acometimento das fossas nasais, orofaringe, laringe e traqueia. As graves mutilações podem causar no paciente dificuldades de respirar, falar e se alimentar. As complicações respiratórias por infecções secundárias, podem levar o paciente ao óbito. DIAGNÓSTICO O diagnóstico é clínico-epidemiológico, mas necessita de comprovação laboratorial. Pesquisa direta: é a primeira escolha, busca a presença do parasito (forma amastigota). Faz o raspado da borda da lesão (não pode sangrar) e busca a presença do parasito com a técnica do esfregaço. Recomendações: • Lavar abundantemente a lesão com solução fisiológica estéril. Essa limpeza deve ser feita para que não haja contaminação do esfregaço por cocos que, normalmente, recobrem a úlcera. • Secar a lesão com gaze esterilizada e raspar a borda interna da úlcera. A chance de encontrar o parasita é maior nos 2 a 3 primeiros meses da lesão, depois fica mais difícil, pois ele se dissemina para os linfonodos. Assim, o tempo de duração da lesão é inversamente proporcional a sensibilidade do método. Teste intradérmico de Montenegro: • É uma reação de hipersensibilidade tardia • É feito pela inoculação de 0,1-0,3 ml de uma solução de promastigotas mortas no antebraço. • Pode ser negativa nas primeiras quatro a seis semanas após o surgimento da lesão cutânea. Padrão Th0 Padrão Th2 Padrão Th1 exacerbado AMANDA GODINHO BALISA ALMEIDA- 5º PERÍODO 1/2022 Após esse período, a IDRM costuma ser positiva em mais de 90% dos pacientes. • Uma IDRM negativa em pacientes com lesões com mais de seis semanas de evolução indica a necessidade de outras provas diagnósticas para LT e diagnóstico diferencial. Biópsia (histológico): realizada também a partir da borda da lesão, sendo bem empregada após os 3 meses da lesão. É visualizado um filtrado de macrófagos parasitados, células espumosas, linfócitos, células gigantes e plasmócitos. Fundamental no diagnóstico diferencial de neoplasias. TRATAMENTO GLUCANTIME: primeira escolha feito em doses diárias, intramusculares ou venosas, por 20 a 30 dias. Contraindicações: gestantes, pacientes > 50 anos, cardiopatas, nefropatas, hepatopatas, hipersensibilidade aos componentes da medicação. Efeitos adversos: artralgia, mialgia, anorexia, náuseas, vômitos, fraqueza, cefaleia, tontura, palpitação. Drogas de 2ª escolha: ANFOTERICINA B ou PENTAMIDINAS. ANFOTERICINA B LIPOSSOMAL: Único que pode ser utilizado por gestantes!!! MILTEFOSINA: em 2020, foi incorporado ao SUS, é administrado por via oral para as formas cutâneas. 5 mg/kg/dia, dose máxima de 150 mg/dia por via oral, durante 28 dias OBS: contraindicado em gestantes. Em todos os pacientes, deverá ser feita avaliação clínica antes e durante o tratamento, com acompanhamento com ECG, hemograma e exames da função hepática. OBS: as lesões ulceradas podem sofrer contaminação secundária, razão pela qual devem ser prescritos cuidados locais como limpeza com água e sabão. CRITÉRIOS DE CURA: é clínico, sendo indicado o acompanhamento regular por 12 meses para verificação da resposta terapêutica e também para a detecção de possível recidiva após terapia inicial bem-sucedida. Forma cutânea: epitelização das lesões ulceradas, regressão total da infiltração e eritema, até 3 meses após a conclusão do esquema terapêutico. Forma mucosa: pela regressão de todos os sinais e comprovado pelo exame otorrinolaringológico, até seis meses após a conclusão do esquema terapêutico. PREVENÇÃO • Uso de repelentes de insetos • Telas na portas e janelas; PROBLEMA 4 DOENÇA DE CHAGAS CARACTERÍSTICAS GERAIS Curso clínico bifásico: fase aguda (clinicamente aparente ou não) + fase crônica (pode se manifestar de diferentes formas). AGENTE ETIOLÓGICO: Trypanosoma cruzi VETORES/HI: triatomíneos. HD: homem e outros mamíferos. RESERVATÓRIOS: quatis, gambás e tatus, que se aproximam de casas no meio rural (galinheiros, currais, depósitos), e na periferia das cidades; algumas espécies de morcegos. OBS: animais infectados, mas com parasitemia insuficiente para atuarem como reservatórios, podem ser considerados sentinelas, por indicarem a presença de um ciclo de transmissão do T. cruzi acontecendo na proximidade. (cães são sentinelas no Brasil). FORMAS DO AGENTE ETIOLÓGICO Amastigota: presente nos tecidos infectados musculares, plexos nervosos e SMF do HD. Epimastigota: forma reprodutiva no HI em tubo digestivo anterior. Esferomastigota (forma latente). Tripomastigota: forma infectante, é extracelular, está presente em ambos os hospedeiros. Tripomastigota metacíclica: no tubo digestivo posterior do triatomíneo e é excretada nas fezes do vetor. Caracteriza-se como forma infectante para os HD. Tripomastigota sanguínea: no homem, também é forma infectante. Tripomastigotas forma delgada: mais infectante, presentes na fase inicial, tropismo por células do SFM. Tripomastigotas forma larga: menos infectante, presentes na fase tardia, tropismo por células musculares. VETOR Tanto os machos quanto as fêmeas são hematófagos. VETORES DOMICILIARES: T. infestans; Rhodnius prolixus VETORES PERIDOMICILIAR: T. brasiliensis; T. dimidiata, T. pseudomaculata e Panstrongylus megistus. Na região do Norte de Minas Gerais o Triatoma sordida é o principal vetor peridomicilar. Doença de notificação compulsória! AMANDA GODINHO BALISA ALMEIDA- 5º PERÍODO 1/2022 O inseto apresenta hábitos noturnos, escondendo-se durante o dia em fendas das paredes e telhados, surgindo à noite quando as pessoas estão dormindo. TRANSMISSÃO Vetorial: penetração de tripomastigotas metacíclicas, pois os triatomíneos costumam defecar após o repasto, eliminando-as. Vertical: pode ocorrer durante a gestação ou no momento do parto. Há possibilidade de transmissão pelo aleitamento, durante a fase aguda da doença. Já na fase crônica, a transmissão durante a amamentação pode ocorrer em casos de sangramento por fissura mamária, e não propriamente pelo leite. Oral: ingestão de alimentos contaminados, seja com triatomíneo ou por fezes infectadas. Também pode ocorrer por meio da ingestão de carne crua ou malcozida proveniente de animais de caça infectados. Outras: transplantes, transfusão sanguínea, acidentes laboratoriais, sexual. PERÍODO DE INCUBAÇÃO: transmissão vetorial – 4 a 15 dias; transmissão oral – de 3 a 22 dias; transmissão transfusional – 30 a 40 dias ou mais. CICLO BIOLÓGICO FISIOPATOLOGIA Fase aguda Após a inoculação, o parasito penetra nos macrófagos e se multiplica. A célula se rompe e as tripomastigotas encontram-se viáveis, caindo na corrente sanguínea e invadindo células vizinhas. Ao se romper, a célula libera também parasitos mortos (que não conseguiram se diferenciar), os quais desencadeiam uma resposta inflamatória inicial. Com a repetição sucessiva dos ciclos, geralmente em grande intensidade na fase aguda (devido ao intenso parasitismo), aumentam progressivamente os focos inflamatórios. O parasitismo do sangue e dos tecidos irá se intensificando na medida em que a infecção não for reprimida pelas defesas do organismo ou pelo tratamento específico. Fase crônica indeterminada Depois da fase aguda, a maioria dos pacientes evolui durante 10 ou 20 anos na forma crônica indeterminada, podendo nela permanecer ou evoluir para uma forma clinicamente definida. Aparecimentode focos inflamatórios espaçados, pequenos e escassos, aleatoriamente dispersos no organismo, onde o parasito é dificilmente encontrado. As células inflamatórias encontram-se aparentemente inibidas do seu potencial agressivo, embora capazes de se acumular no interstício e gerar discreta fibrose, sendo removidas por apoptose após certo tempo. Rompido o equilíbrio (por imunossupressão ou causas desconhecidas), aumentarão os focos inflamatórios em extensão e intensidade, evoluindo para uma forma crônica clinicamente definida. Fase crônica O parasitismo diminui significativamente e surge uma desproporção entre o número de parasitos nos tecidos e a resposta inflamatória. Forma cardíaca: ocorre formação do ninho de amastigotas, com uma reação inflamatória intensa e fibrose. Dessa forma, o tecido cardíaco tenta compensar contraindo mais, o que gera hipertrofia de sua musculatura (coração chagásico). Há também comprometimento do SNA, causando arritmias e bloqueio atrioventricular, os quais podem levar ao quadro de ICC. Forma digestiva: ocorre penetração em células fagocitárias, principalmente da musculatura lisa e cardíaca. Assim, ocorre destruição das fibras simpáticas e parassimpáticas da musculatura lisa do esôfago e cólon, promovendo diminuição do impulso nervoso para esses órgãos. Além disso, o depósito dos protozoários nesses órgãos leva ao aumento, desordenado, causando obstrução intestinal e déficit ponderal. QUADRO CLÍNICO Fase aguda • Pode ser sintomática ou assintomática. • Pode ocorrer devido a uma primo-infecção ou reativação da fase crônica. • Síndrome autolimitada, com duração média de 4 a 8 semanas. Sintomas mais comuns: • Febre (38, 5°C a 39°C) • Mal estar • Cefaleia • Mialgia • Vômitos • Artralgia Padrão Th1 Padrão Th1 exacerbado Padrão Th2 AMANDA GODINHO BALISA ALMEIDA- 5º PERÍODO 1/2022 • Anorexia • Edema • Adenopatia • Hepatomegalia • Esplenomegalia • Miocardite • Pericardite • Meningoencefalite (lactentes ou reativação por imunossupressão). Sinais de porta de entrada (transmissão vetorial) Sinal de Romanã: edema bipalpebral unilateral, congestão conjuntival, linfadenite satélite, celulite de tecido gorduroso periorbitário e palpebral. Ocorre por reação inflamatória à penetração do parasito. Chagoma de inoculação: inflamação aguda local, na derme e hipoderme, no ponto de inoculação do parasito. Fase crônica Forma indeterminada: • Assintomática (50 % dos casos acometidos) • Ausência de sinais e sintomas • ECG, RX de tórax normais • Entre 5 a 10 anos • Sorologia + e/ou parasitológico +. • 10 a 50% evoluem para a forma cardíaca, digestiva ou mista. Forma cardíaca: principal causa de morte. • Edema • Sopro sistólico • Palpitação • Disfunção do nódulo sinusal • Fenômenos tromboembólicos • ICC progressiva • Morte súbita • Denervação do SNA Cardiomegalia: • Leve: não há alterações no ecocardiograma • Moderada: significativas alterações no ecg, como distúrbios de condução e arritmia ventricular. • Grave: alterações de ECG, raio-X e/ou ecocardiograma com ou sem sinais de dilatação das câmaras cardíacas. Forma digestiva: • Apresentada pelos megas, megacólon e megaesôfago. • aperistalse e discinesia. • sintomas do megaesôfago: disfagia, odinofagia, dor retroesternal, regurgitação, pirose, tosse, soluço e sialose. • as maiores complicações do megacólon são a obstrução intestinal e a perfuração, levando a peritonite. Forma mista: paciente apresenta a forma cardíaca e a forma digestiva. Forma congênita: danos neurológicos graves e cardíacos. • Hepatomegalia • Esplenomegalia • Icterícia • Convulsões Imunocomprometidos: meningoencefalites, IC grave. OBS: Pacientes que apresentam a forma congênita e imunocomprometidos sempre devem ser tratados. DIAGNÓSTICO Clínico Origem do paciente, presença dos sinais de porta de entrada + febre irregular ou ausente, adenopatia satélite ou generalizada, hepatoesplenomegalia, taquicardia, edema generalizado ou dos pés fase aguda. Alterações cardíaca + sinais de IC confirmados por ECG + alterações digestivas e do esôfago fase crônica. Laboratorial FASE AGUDA: baseia-se na detecção de formas tripomastigotas de Trypanosoma cruzi, por meio da observação microscópica de amostras de sangue. O exame parasitológico é o mais indicado nessa fase. O mais utilizado é o esfregaço corado. A pesquisa por anticorpos pode ser quando os exames parasitológicos forem negativos e a suspeita clinica persistir, são necessários pelo menos 15 dias após o suposto contato. FASE CRÔNICA: o diagnóstico é basicamente pelos métodos sorológicos. O padrão-ouro para o diagnóstico da doença de Chagas é representado pela presença de anticorpos IgG anti- -T. cruzi, detectados por 2 testes sorológicos de princípios distintos ou com diferentes preparações antigênicas (ex ELISA e imunoflorescência indireta). O intervalo de uma coleta para a outra deve ser de 15 dias. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL Fase aguda: leishmaniose visceral, malária, dengue, febre tifoide, toxoplasmose, mononucleose infecciosa, esquistossomose aguda, sepse, doenças autoimunes, leptospirose, hepatites virais. AMANDA GODINHO BALISA ALMEIDA- 5º PERÍODO 1/2022 Forma crônica gastrointestinal: acalasia primária idiopática, amiloidose, sarcoidose, tumores. TRATAMENTO Benzonidazol: primeira escolha, via oral 2x/dia por 60 dias, a posologia varia com a idade. Nifurtimox: utilizado quando a 1º escolha não é tolerada, via oral 4x/dia por 90 dias, a posologia varia com a idade. Ambos são contraindicados para gestantes. Tratamento sintomático (tanto na fase aguda como na crônica). Fase crônica Forma cardíaca: cardiotônicos, diuréticos, IECA, cirurgia, antiarrítmicos, vasodilatadores, etc. Forma digestiva: o tratamento é conservador (dietas) e cirurgia se houver uma exacerbação muito grande do esôfago e do cólon. CRITÉRIOS DE CURA: a cura não é baseada em critérios clínicos e sim na negativação da sorologia. Na fase aguda realiza IgG anualmente por 5 anos encerrando a pesquisa quando 2 consecutivos derem negativos. Na fase crônica não sugere esse rastreamento sorológico. PROFILAXIA • Transmissão vetorial: melhoria ou substituição das habitações que propiciam a domiciliação dos triatomíneos e ou controle através do uso regular de inseticida. • Transmissão transfusional: fiscalização, triagem sorológica. • Transmissão laboratorial: normas de biossegurança. PROBLEMA 5 TUBERCULOSE CARACTERÍSTICAS GERAIS Doença infectocontagiosa, crônica, granulomatosa e necrosante, causada por bacilos, que afeta principalmente os pulmões, mas pode atingir outros órgãos. AGENTE ETIOLÓGICO: Mycobacterium tuberculosis: M. tuberculosis (+ importante), M. bovis, M. africanum, M. canetti, M. microti, M. pinnipedi e M. caprae. EPIDEMIOLOGIA HIV+, moradores de rua, presidiários, indígenas, pessoas vivendo em aglomerados ou em situação de pobreza são as mais acometidas pela doença no país. TRANSMISSÃO É transmitido por via aérea, por meio da inalação de aerossóis expelidos pela tosse, espirro ou fala de doentes com tuberculose pulmonar ou laríngea. PERÍODO DE TRANSMISSIBILIDADE: ocorre enquanto os indivíduos doentes estiverem eliminando os bacilos. Pode ser identificado pelo exame de baciloscopia positiva/ teste rápido molecular para tuberculose (casos novos) e pela baciloscopia de escarro de controle positiva (acompanhamento do tratamento e em retratamento). • Multibacilíferos: forma cavitária da doença, baciloscopia positiva no escarro – maior chance de transmissão. • Paubacilíferos: forma não cavitária da doença, baciloscopia negativa no escarro, mas cultura positiva – pequena chance de transmissão. • Crianças < 10anos com TB pulmonar não são bacilíferas – importante procurar adulto que lhe transmitiu a infecção. • As formas exclusivamente extrapulmonares não transmitem a doença. • Com o início do tratamento adequado, a transmissão tende a diminuir gradativamente. DETERMINANTES DO RISCO PARA A TUBERCULOSE: • Maior inóculo inalado pelo contactante • Quantidade de bacilos expelidos pela fonte; • Tempo e proximidade do contato; • Condições ambientais – confinamento, pouca luz solar • Maior risco de adoecimento em pessoas imunossuprimidas, < 2 anos ou > 60 anos e desnutridos. FISIOPATOLOGIA Tuberculose primária: parte dos bacilos inalados fica retida pelos mecanismos físicos de defesa do aparelho respiratório, outra parte pode transpassar esses Doença de notificação compulsória! AMANDA GODINHO BALISA ALMEIDA- 5º PERÍODO 1/2022 mecanismos e atingir o pulmão. Ao alcançar o espaço alveolar, os bacilos são fagocitados por macrófagos locais, que são incapazes de destruí-los ou inativa-los, então eles se proliferam em seu interior. Após acumular um alto número de bacilos, a célula se rompe e morre, liberando-os para infectar outros macrófagos. Como consequência, em cerca de 3 a 4 semanas, pode surgir um foco pulmonar, em geral único, pequeno e arredondado, periférico e de consistência amolecida, chamado de foco de Ghon. Como a imunidade específica ainda não se instalou, a proliferação bacilar é alta. A partir do foco de Gohn, há uma disseminação linfática até o gânglio satélite, os bacilos são drenados para linfonodos hilares e mediastinais, onde continuam se proliferando no interior de macrófagos. Os bacilos podem também invadir a corrente sanguínea, após perfuração da parede de um vaso, e disseminar-se pelo organismo, podendo vir a causar formas extrapulmonares da doença. Há um complexo composto de um foco pulmonar, linfangite e um foco ganglionar, que é chamado de complexo primário ou complexo de Ranke. Após 2 a 10 semanas, a imunidade celular específica se desenvolve e os LTCD4+ ativam os macrófagos (IL-2). Os macrófagos aumentam sua capacidade bactericida e se acumulam em volta do foco de infecção primária e nos focos de disseminação e na maioria das vezes, a infecção é controlada. A união de macrófagos + um infiltrado de linfócitos formam um granuloma caseoso. Um pequeno número de bacilos permanece latente (inativos, porém viáveis) no interior desses granulomas, podendo ser reativado determinando uma nova proliferação de bacilos – tuberculose pós-primária. FORMAS CLÍNICAS Forma pulmonar TUBERCULOSE PRIMÁRIA Ocorre em curto período após a formação do complexo primário (até 2 anos), geralmente em crianças, adolescentes ou adultos jovens. É autolimitada. Sinais e sintomas: • Tosse (três semanas ou mais) • Febre prolongada e vespertina (14-21 dias) • Sudorese noturna • Perda ponderal • Cansaço e irritabilidade Em muitos casos, o quadro é confundido com o de uma “gripe” prolongada. Exame radiológico: adenopatia hilar e/ou mediastinal ipsilateral ao foco primário. Esse foco se localiza mais comumente no lobo médio (pulmão direito). Tuberculose primária progressiva Ocorre em pacientes que se infectam com um grande inóculo de bacilos ou em crianças desnutridas e nos indivíduos HIV positivos. O foco primário evolui para uma grande área de inflamação granulomatosa e exsudativa, evoluindo para pneumonia tuberculosa (local mais comum: terço médio do pulmão). Podem surgir grandes focos caseosos que, ao se liquefazerem, transformam-se em cavernas e disseminam a doença para outros lobos pulmonares. Tuberculose miliar Forma mais comum em crianças < 2 anos e não vacinadas com BCG ou pacientes com imunodepressão (desnutrição, AIDS). Fisiopatologia: os focos não são contidos (disseminação hematogênica) e evoluem com progressão da lesão e grande proliferação bacilar. O foco primário pode progredir e continuar lançando bacilos no sangue. O interstício pulmonar e as meninges (meningite tuberculosa) são os tecidos mais afetados. TUBERCULOSE PÓS-PRIMÁRIA É a mais comum, geralmente em adultos, ocorre por reativação de foco latente ou por reinfecção. • Tosse crônica com expectoração mucopurulenta por mais de 3 semanas. • Fenômenos hemoptoicos, desde laivos sanguinolentos presentes no escarro até hemoptises maciças. • Febre predominantemente vespertina diária acompanhada de sudorese noturna. • Dor pleurítica • Dispneia • Perda ponderal. AMANDA GODINHO BALISA ALMEIDA- 5º PERÍODO 1/2022 Um infiltrado multinodular acima ou atrás da clavícula é mais característico de TB ativa; ele sugere reativação da doença. Forma extrapulmonar Algumas localizações extrapulmonares da tuberculose são mais frequentes na infância, como gânglios periféricos, pleura, ossos e meninges. DIAGNÓSTICO DIAGNÓSTICO DA TUBERCULOSE ATIVA Diagnóstico laboratorial: baciloscopia, o TRM-TB e a cultura. BACILOSCOPIA: • Indicada para todos os sintomáticos respiratórios (tosse e expectoração > 3 semanas)ou em pacientes que apresentem alterações pulmonares no RX de tórax. • Consiste na pesquisa direta do BK através do exame microscópico (coloração de Ziehl- Neelsen) • Quando o material analisado for o escarro, devem ser coletadas 2 amostras em momentos distintos (uma na consulta e outra na manhã seguinte) • Em caso de pacientes com fortes indícios de TP com 2 amostras negativas, pode-se repetir a baciloscopia • Uma baciloscopia positiva em qualquer amostra indica tuberculose ativa. A baciloscopia de diagnóstico positiva e o quadro clínico compativel com TB autorizam o início do tratamento da doença, que deve ser confirmado por meio da realização de cultura para identificação da espécie e do teste de sensibilidade. TESTE RÁPIDO MOLECULAR PARA TUBERCULOSE (TRM-TB): é um teste que detecta especificamente a presença de DNA do M. tuberculosis a partir de amostra de escarro, por meio da técnica de PCR. Identifica a resistência à rifampicina (RIF). O TRM-TB detecta o DNA de micobactérias vivas e mortas e assim não serve para acompanhar a resposta ao tratamento. CULTURA: indicada para suspeitos negativos ao exame direto do escarro, e para o diagnóstico de formas extrapulmonares. Em situações em que grupos de maior vulnerabilidade estão envolvidos (índios, presidiários, HIV/aids, população de rua, profissionais da saúde, contatos de TB multirresistentes), a cultura deve ser solicitada após o TRM-TB ou baciloscopia, independente do resultado dos testes. Toda cultura + deve ser submetid ao TSA (Teste de Sensibilidade Antimicrobiana). DIAGNÓSTICO DA INFECÇÃO LATENTE PROVA TUBERCULÍNICA: injeta-se um derivado proteico purificado (PPD) do M. tuberculosis, afim de medir a resposta imune celular a esses antigenos. A leitura do resultado é feita 48-72 horas depois. Positivo (+): halo eritematoso > 5 mm. Se < 5 mm repetir em 8 semanas a PPD. Pode também auxiliar o diagnostico da TB ativa em crianças. OUTROS EXAMES Exame radiológico: deve ser solicitado para toda pessoa com suspeita clinica de TB pulmonar. DIAGNÓSTICO EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES Recomenda-se que o diagnóstico de TB pulmonar, em crianças e em adolescentes com baciloscopia negativa ou TRM-TB não detectado, seja realizado com base em um sistema de escores: TRATAMENTO É indicado para casos novos de TB pulmonar e/ou extrapulmonar (exceto as formas meningoencefálica e osteoarticular), infectados ou não pelo HIV. Retratamentos (exceto as formas meningoencefálica e osteoarticular). ADULTOS E CRIANÇAS >10 ANOS: isoniazida (H) + rifampicina (R) + pirazinamida (Z) + etambutol (E). FASE DURAÇÃO MEDICAMENTOS Intensiva 2 meses RHZE Manutenção 4 meses RH AMANDA GODINHOBALISA ALMEIDA- 5º PERÍODO 1/2022 OBS: gestantes esquema básico + Vitamina B6 (50mg/dia) – devido ao risco de toxidade neurológica da isoniazida. CRIANÇAS < 10 ANOS: rifampicina (R) + isoniazida (H) + pirazinamida (Z). FASE DURAÇÃO MEDICAMENTOS Intensiva 2 meses RHZ Manutenção 4 meses RH CONTROLE DE CURA: baciloscopia do escarro mensalmente, considerar curado o caso com 2 baciloscopias negativas. PROFILAXIA Imunização com BCG Indicada ao nascer até 4 anos, 11 meses e 29 dias. Em pessoas expostas ao HIV: administrar desde que a criança dentro da faixa etária, esteja assintomática e sem sinais de imunodepressão. Não se recomenda a revacinação com a BCG, mesmo na ausencia de cicatriz, exceto para pessoas contatos de hanseníase. Profilaxia medicamentosa CONTATO: toda pessoa que convive com o caso no momento do diagnóstico de TB (domicílio, trabalho, instituição de longa permanência ou escola). EXAMES DE CONTATOS: • Assintomáticos: prova tuberculínica • Sintomáticos: basciloscopia do escarro Quando uma criança for o caso índice, será MANDATÓRIO avaliar todos os contatos, pois com certeza ela adquiriu a doença de algum adulto. QUIMIOPROFILAXIA PRIMÁRIA: previne a primo-infecção, é indicada para indivíduos em situação de risco para infecção, sem contato prévio com a microbactéria. RN: não deve ser vacinado de imediato, utiliza-se a isoniazida (10 mg/kg/dia). No 3° mês, deve-se realizar o PPD; caso +, prolonga-se a terapia até o 6° mês. Caso -, interrompe-se a profilaxia e indica-se a vacina com BCG. QUIMIOPROFILAXIA SECUNDÁRIA: é o tratamento da infecção latente por M. tuberculosis, só pode ser indicada após ser afastada a possibilidade de doença ativa. Geralmente, o diagnóstico é feito por PPD ou lesão radiológica cicatricial sugestiva de contato prévio. • Isoniazida por 6 ou 9 meses. Observações importantes: Gestantes: postergar o tratamento da ILTB para após o parto. Em gestante com infecção pelo HIV, tratar a ILTB após o 3º mês de gestação. Não repetir o tratamento da ILTB em pessoas que já se trataram para TB ou que já fizeram o tratamento completo da ILTB, a não ser quando for identificada nova exposição de risco de pessoas imunossuprimidas como HIV +. No seguimento do tratamento da ILTB, a pessoa deve passar por consulta médica em intervalos regulares de 30 dias, em que será avaliada e estimulada a adesão. Também deverá ser feito o monitoramento clínico de efeitos adversos e a identificação de sinais e de sintomas sugestivos de TB. PROBLEMA 6 DOENÇAS EXANTEMÁTICAS Grupo de doenças infecto contagiosas que apresentam como característica predominante o exantema. EXANTEMA (RASH CUTÂNEO) Erupções cutâneas avermelhadas que podem ser de vários tipos, dependendo do tamanho e formato das lesões. É um eritema generalizado. Pode ocorrer em decorrência de uma causa infecciosa, alérgica, tóxica ou física. Podem ainda surgir sintomas como prurido, edema, dor no local e febre. OBS: enantema é o exantema de mucosa. Pode se manifestar como: Mácula(plana/mancha) Pápula (elevação sólida de até 1 cm , > 1 cm - nódulo) Vesícula (elevada com líquido < 1cm, > 1 cm- bolha). Pústula (lesão elevada que contém pus) Crosta (resultante do ressecamento de lesões exsudativas, hemorrágicas ou purulentas). Sufusão hemorrágica. TIPOS DE EXANTEMA Exantema maculopapular As lesões evoluem até a fase de pápula. MORBILIFORME: pequenas maculo- pápulas eritematosas , com contorno pouco regular, envoltas por pele sadia, podendo confluir. É o exantema típico do sarampo, pode estar presente na dengue, leptospirose, toxoplasmose, hepatite viral, mononucleose, etc. ESCARLATINIFORME: eritema difuso, puntiforme, vermelho vivo, sem solução de continuidade, poupando a região perioral e áspero (sensação de lixa devido a hipertrofia dos folículos pilosos). É típico da escarlatina; pode ser observada na síndrome de Kawazaki. AMANDA GODINHO BALISA ALMEIDA- 5º PERÍODO 1/2022 RUBEOLIFORME: semelhante ao morbiliforme, porém de coloração rósea, com pápulas um pouco menores. É o exantema presente na rubéola. Exantema papulovesicular É comum a transformação sucessiva de maculo-pápulas em vesículas, vesico- pústulas, pústulas e crostras. Pode ser localizado (herpes zoster) ou generalizado (varicela). SARAMPO AGENTE ETIOLÓGICO: vírus RNA da família Paramyxoviridae, gênero Morbillivirus. GRUPO ETÁRIO: crianças < 5 anos, imunocomprometidos, gestantes e adultos não vacinados > 20 anos. TRANSMISSÃO: por meio de gotículas eliminadas através da fala, espirros ou tosse. TRANSMISSIBILIDADE: 2 dias antes do início do pródromo até 4 dias após o aparecimento do exantema. PERÍODO DE INCUBAÇÃO: 8 e 12 dias. QUADRO CLÍNICO Período de infecção: Fase prodrômica: de 4 a 7 dias, se manifesta com: • Febre alta • Sintomas catarrais (tosse, coriza, conjuntivite não purulenta com fotofobia) • Cefaleia, prostração, mialgias, dores abdominais, vômitos e diarreia. Sinal de Koplik: enantema esbranaquiçado na mucosa bucal, que ocorre no fim desse período, antecedendo o exantema em até 48 horas. Fase exantemática: aparecimento do exantema, sendo primeiramente observado em região retroauricular e se estendendo para face e pescoço. O exantema é maculopapular, morbiliforme, podendo confluir em face e tronco (evolução crânio-caudal). Em torno do 3° dia, o exantema se manifesta em todo o corpo. FÁCIES SARAMPENTA: vermelhidão associada a conjuntivite, edema palpebral, fotofobia e coriza. Período de remissão: febre cai a partir do 2° dia de erupção, melhora os sintomas gerais, e o sinal de Koplik desaparece. Por volta do 5º dia, o exantema tende a escurecer e descamar, com aspecto furfuráceo, regredindo em cerca de 7 dias. A tosse seca pode persistir semanas, se a febre persistir além de 3 dias do surgimento do exantema é indicio de complicações. Período toxêmico:queda da resistência imunológica do hospedeiro surgimento de complicações – superinfecções bacterianas e virais. Complicações: otite média aguda e pneumonia bacteriana. DIAGNÓSTICO: sorologia (IgG, IgM) para anticorpos específicos (Elisa) em amostra coletada a partir do 6º dia até 28 dias após o início do exantema, que é o tempo que o IgM permanece positivo. TRATAMENTO: não existe tratamento etiológico para o sarampo. O objetivo é tratar os sintomas: para febre (antitérmicos), dor (analgésicos). A limpeza ocular deve ser feita com soro fisiológico. Vitamina A: está indicada para TODAS as crianças: • < 6 meses: 50.000 UI em aerossol no dia do diagnóstico e outra dose no dia seguinte; • 6 meses a 12 meses: 100.000 UI em aerossol no dia do diagnóstico e outra no dia seguinte; • > 12 meses: 200.000 UI em aerossol ou cápsula no dia do diagnóstico e outra no dia seguinte. PROFILAXIA: Esquema vacinal: • 12 meses – tríplice viral (sarampo, rubéola e caxumba). • 15 meses – tetra viral (sarampo, caxumba, rubéola e varicela). CUIDADOS COM OS CONTACTANTES: > 6 meses, não vacinados ou que tenham recebido apenas uma dose da vacina, exceto gestantes: vacina triplíce viral em até 72 horas após a exposição. Imunocomprometidos, grávidas susceptíveis e lactentes < 6 meses: imunoglobulina (IMou EV) nos primeiros 6 dias após o contato. Isolamento: respiratório (uso de máscara) até 4 dias após o início do exantema. Doença de notificação compulsória! AMANDA GODINHO BALISA ALMEIDA- 5º PERÍODO 1/2022 RUBÉOLA AGENTE ETIOLÓGICO: Rubivirus (família togaviridae). TRANSMISSÃO: através de gotículas de secreção nasofaríngea, há também transmissão vertical. TRANSMISSIBILIDADE: poucos dias antes até 5 a 7 dias depois do exantema. PERÍODO DE INCUBAÇÃO: 14 a 21 dias. QUADRO CLÍNICO Fase prodrômica: • Febre baixa • Malestar • Linfadenopatia linfadenopatia retroauricular, occiptal e cervical posterior Sinal de Forcheimer: Petéquias em palato mole e amígdalas. Adolescentes e adultos podem apresentar também cefaleia, artralgias e mialgias. Fase exantemática: exantema maculopapular puntiforme difuso com tendência a coalescência que começa na cabeça e pescoço e dissemina-se pelo corpo – dura cerca de 3 dias e desaparece sem descamar, é mais rápido que no sarampo. Complicações: trombocitopenia pós-infecciosa, artrite e encefalite pós-infecciosa. SÍNDROME DA RUBÉOLA CONGENITA: infecção durante a gestação, pode evoluir com aborto, natimorto, malformações congênitas oftalmológicas, cardíacas, auditivas e neurologicas. DIAGNÓSTICO: sorologia para anticorpos específicos (Elisa) em amostra, coletada até 28 dias após o inicio do exantema. TRATAMENTO: Não existe tratamento etiológico para o sarampo. O objetivo é tratar os sintomas. PROFILAXIA: Esquema vacinal (2 doses): • 12 meses – tríplice viral • 15 meses – tetra viral VARICELA AGENTE ETIOLÓGICO: vírus Varicela-Zoster (VVZ). TRANSMISSÃO: através de aerossóis respiratórios, gotículas, saliva ou pelo contato com o liquido das lesões cutâneas. OBS: enquanto tem vesícula transmite, quando está na fase de crosta já não transmite mais. Também há transmissão vertical. TRANSMISSIBILIDADE: 2 dias antes do exantema até a formação de crostas. PERÍODO DE INCUBAÇÃO: 2 semanas (10 -21 dias). QUADRO CLÍNICO: O exantema se inicia no couro cabeludo, face e pescoço, disseminando-se para o corpo – distribuição centrípeta (predomina em face e tronco). Aparece em surtos: inicialmente surgem máculas eritematosas pruriginosas que evoluem para pápulas > vesículas > crostas (24-48h) As lesões se apresentam em vários estágios de evolução (polimorfismo) são características – concomitantemente tem mácula, pápula, crosta e vesícula. Prurido é comum e as escoriações provocadas pelo ato de coçar podem ser a porta de entrada para infecções secundárias. As crostas permanecem por 5 a 7 dias e depois caem, deixando uma mácula branca, que não é permanente.A doença pode ser mais grave em adultos, imunodeprimidos, gestantes ou RN. Complicações:pneumonia viral ou bacteriana secundária, encefalite, herpes zoster, síndrome da varicela congênita, síndrome de raye. DIAGNÓSTICO: clínico. • Teste de Tzanck: citologia realizada a partir do raspado das lesões (células gigantes multinucleadas). • Sorologia: aumento de 4x do IgG • PCR: detecta VVZ no liquido das vesículas. TRATAMENTO: • Prurido: anti-histamínicos. • Cuidados de higiene com água e sabão (evitar infecção secundária das lesões) • Antivirais (casos de maior risco de complicação ou na presença de doença mais grave) – Aciclovir: via EV, 10 mg/kg a cada 8 horas por 5 dias. • Antibiótico se infecção secundária. PROFILAXIA: • Vacinação: tetra viral (SCRV) aos 15 meses e reforço aos 4 anos só de varicela. • Febre alta • Cefaleia • Astenia • Dor abdominal – aparece 24-48h antes do exantema • Exantema papulovesicular • Prurido Doença de notificação compulsória! Doença de notificação compulsória SOMENTE EM CASOS GRAVES INTERNADOS OU ÓBITO! AMANDA GODINHO BALISA ALMEIDA- 5º PERÍODO 1/2022 Cuidados com contactantes: uso de imunoglobulina (VZIG) dentro de 48 a 96h após a exposição: • Crianças imunocomprometidas que não tiveram catapora e que tiveram contato com doente. • RN cuja mãe teve varicela 5 dias antes ou 48 horas após o parto, pois ocorre risco da síndrome da varicela congênita. • Prematuros cuja mãe não teve varicela e teve contato com doente. • Prematuros < 28 semanas; • Gestantes susceptíveis OBS: é necessário isolamento respiratório e de contato, o cuidador deve lavar as mãos após tocar as lesões; desinfectar objetos com secreções nasofaríngeas; o paciente só deve retornar à escola apenas após todas as lesões estarem em fase de crostas. ESCARLATINA AGENTE ETIOLÓGICO: Streptococcus pyogenes, uma bactéria beta hemolítica do Grupo A. GRUPO ETÁRIO: principalmente crianças de 2-10 anos. TRANSMISSÃO: contato com secreções respiratórias. TRANSMISSIBILIDADE: Desde o pródromo até 24 -48 horas do antibiótico; 10 a 21 dias em pacientes não tratados e sem complicações. PERÍODO DE INCUBAÇÃO: 2-5 dias. QUADRO CLÍNICO: O exantema deixa a pele áspera como uma lixa, começa a desaparecer após a 1ª semana, iniciando-se pela face e pescoço, deixando uma descamação fina. Os pés e as mãos são os últimos a descamar e o fazem de modo mais intenso. Sinal de Filatov: as bochechas ficam hiperemiadas enquanto a região perioral torna-se pálida. Sinal de Pastia: nas regiões flexurais, o exantema é mais intenso, levando a formação de linhas transversais. As amígdalas frequentemente estão edemaciadas, hiperemiadas e recobertas por um exsudato. A língua, no 1º dia da infecção, apresenta-se com aspecto de “morango branco” em função das papilas hipertrofiadas e saburra branca recobrindo sua superfície. No 3º dia, a língua adquire um aspecto de “morango vermelho” ou “framboesa”, pois a saburra desaparece e as papilas avermelhadas tornam-se evidentes. Complicações: glomerulonefrite aguda e febre reumática aguda. Complicações tardias incluem coreia de Sydenham e cardiopatia reumática. DIAGNÓSTICO: geralmente é clínico, mas pode fazer o teste rápido de Streptococcus (aglutinação de látex), colhido da secreção de orofaringe. TRATAMENTO: Penicilina G Benzatina, dose única, IM (Benzetacil); se tiver alergia usa Amoxicilina ou eritromicina por 10 dias. EXANTEMA SÚBITO AGENTE ETIOLÓGICO: herpesvírus humano tipo 6 e 7, família Herpesviridae. GRUPO ETÁRIO: na infância, em especial nos < 4 anos. TRANSMISSÃO: saliva de adultos saudáveis portadores e são transmitidos às crianças através de pequenas salivas de secreção. TRANSMISSIBILIDADE: durante a fase de viremia, sobretudo no período febril. PERÍODO DE INCUBAÇÃO: 5-15 dias. QUADRO CLÍNICO O início da doença é súbito, com febre alta e contínua e é considerada uma das causas mais comuns de convulsão febril. A febre pode vir acompanhada de outros sinais e sintomas, tais como dor de ouvido, aumento dos linfonodos do pescoço, irritação, perda do apetite, nariz entupido, dor de garganta ou diarreia. O sinal mais característico é o surgimento súbito de uma exantema imediatamente após a resolução da febre. O rash não coça nem provoca dor. O exantema é do tipo maculopapular, morbiliforme, com lesões • Febre alta • Faringoamigdalite (concomitante ou antes) • Mal estar • Exantema puntiforme • Lingua em framboesa • Sinal de Filatov • Sinal de Pastia • Descamação de pés e mãos AMANDA GODINHO BALISA ALMEIDA- 5º PERÍODO 1/2022 discretas de 2 a 3 cm de diâmetro, não coalescentes. Em geral, acomete inicialmente o tronco e em seguida a face, a região cervical e a raíz dos membros, sendo de curta duração (24 a 72 horas sem descamação). Em alguns casos são verificadas úlceras no palato mole e úvula, chamadas manchas de Nagayama. Complicações: meningoencefalite ou meningite asséptica. DIAGNÓSTICO: clínico, devido à sua típica apresentação de febre por 3 a 5 dias seguida de rash cutâneo em uma criança com menos de 3 anos. TRATAMENTO: Repouso, boa hidratação e controle da febre (dipirona e ibuprofeno). ERITEMA INFECIOSO AGENTE ETIOLÓGICO: parvovírus humano B19. GRUPO ETÁRIO: 2 a 14 anos. TRANSMISSÃO: ocorre através de gotículas de secreção respiratória, via transplacentária ou sanguínea. PERÍODO DE INCUBAÇÃO: 4-14 dias. QUADRO CLÍNICO: As manifestações iniciais não são específicas com sintomas semelhantes à gripe (febre baixa, cefaleia, rinorreia e obstrução nasal). Alguns dias depois, surgem eritema confluente endurecido sobre a face (aspecto“de face esbofeteada”) e exantema simétrico mais proeminente nos braços, pernas (geralmente as superfícies extensoras) e tronco, geralmente poupando a palma das mãos e a planta dos pés. O exantema é maculopapular confluente, adquire um aspecto rendilhado com área central clara, geralmente mais evidente nas áreas expostas. O exantema evolui em 3 estágios: • 1º estágio: O exantema aparece primeiro na face (aspecto de bofetada) + a palidez perioral (sinal de Filatov) determina as maiores características do eritema infeccioso. • 2º estágio: 24 a 48 horas depois, o exantema se dissemina como manchas vermelhas simetricamente distribuídas no tronco e parte proximal das extremidades superiores e inferiores. Com a evolução, as lesões cutâneas começam a clarear centralmente, dando aparência rendilhada. Este estágio pode durar dias ou semanas. • 3º estágio: É o ressurgimento do exantema depois da melhora clínica, após 1 a 3 semanas. O exantema pode reaparecer mediante alterações ambientais como, por exemplo, mudanças de temperatura e exposição à luz solar. Exercício, estresse e sol são alguns exemplos de fatores desencadeantes. Complicações: o parvovírus B19 provoca supressão transitória da eritropoese, que é leve e assintomática, exceto naqueles pacientes portadores de hemoglobinopatias subjacentes (anemia falciforme) ou outras doenças hematológicas, podendo evoluir para crise aplásica transitória. DIAGNÓSTICO: clínico e, se necessário, sorologia (identificação de IgM). TRATAMENTO: sintomático. Em pacientes imunocomprometidos com aplasia eritrocitária pura, usa- se imunoglobulina IV para eliminar a viremia e aumentar a eritropoese. PROBLEMA 7 MONONUCLEOSE INFECIOSA CARACTERÍSTICAS GERAIS AGENTE ETIOLÓGICO: Vírus Epstein-Barr (VEB). MODO DE TRANSMISSÃO: contato oral com saliva de pessoas infetadas, mais frequentemente de portadores assintomáticos. Os beijos, a partilha de objetos contaminados com saliva. O VEB tambem pode ser encontrado em secreções genitais de ambos os sexos, mostrando que a transmissão também e possível pelo contato sexual. É rara a transmissão através de transfusão sanguínea. PERÍODO DE INCUBAÇÃO: 30 a 45 dias. PERÍODO DE TRANSMISSIBILIDADE: o vírus é liberado nas secreções orais em elevadas concentrações por cerca de 6 meses a 1 ano apos a infecção primária. Após esse período, a excreção viral ocorre de forma intermitente, mas em baixas concentrações. A qualquer momento podem ocorrer reativações e o indivíduo se tornar infectante novamente, sobretudo em imunossuprimidos.. EPIDEMIOLOGIA Países desenvolvidos em individuos entre 15 e 25 anos. INFECÇÃO E RESPOSTA IMUNE A infeção inicia-se na cavidade oral, infectando as células epiteliais da orofaringe, onde ocorre replicação viral ativa. Após a replicação, ocorre a lise das células da mucosa oral, que se relaciona clinicamente com a faringite, assim o víruz ganha acesso aos linfocitos B no tecido linfoide da faringe, de onde se disseminam pelo sistema linfoide do individuo. AMANDA GODINHO BALISA ALMEIDA- 5º PERÍODO 1/2022 A interação linfócito/vírus se dá através da ligação da glicoproteína gp350 de seu envelope ao receptor CD2l, presente na superficie dos linfócitos. Esses linfócitos não são permitem reprodução e o vírus entra em fase latente. Contudo, essa latência não é estática, e os genes virais podem ativar os linfócitos B, o que provoca uma resposta específica de células T CD8+. A viremia e a proliferação dos linfócitos B no sistema linfoide, junto ao processo inflamatório, levam à destruição desses linfócitos B e explicam as diferentes manifestações clínicas da doença, como febre, linfonodomegalia generalizada e hepatoesplenomegalia. A destruição dos linfócitos B infectados leva ao controle do processo infeccioso após 2 a 6 semanas, com o desaparecimento dos sintomas mais agudos da mononucleose infecciosa. Contudo, alguns dos linfócitos B de memória infectados escapam da ação dos linfócitos T citotóxicos por não expressarem os antígenos EBV-específicos. Esses linfócitos vão constituir um reservatório estável de células B de memória que contém o EBV latente. Ocasionalmente, esses linfócitos podem modificar seu estado de latência, resultando em ativação do ciclo produtivo do vírus. QUADRO CLÍNICO Em crianças pequenas, a infecção primária normalmente é assintomática, enquanto adolescentes e adultos geralmente apresentam o quadro clínico clássico. A doença apresenta início insidioso (1-2 semanas) caracterizado por sinais inespecíficos como mal-estar, cefaleia, mialgia (3 a 5 dias) e náuseas. É caracterizada clinicamente por: Febre alta: se resolve em cerca de 2 semanas. Faringite: hiperemia intensa de orofaringe, podendo apresentar lesões exsudativas e petéquias no véu palatino, é dolorosa e exsudativa e semelhante à faringite por estreptococos. O exsudato é branco-acinzentado e nunca invade os tecidos adjacentes, sendo restrito as amígdalas. Ele difere da amigdalite estreptocócica, que se caracteriza pela presença de pontos purulentos, não confluentes, sendo o pus facilmente retirado com uma espátula. Linfadenopatia: costuma ser generalizada com predomínio na cadeia cervical posterior, afetada geralmente bilateralmente. Também pode acometer as cadeias cervical anterior, submandibular e até axilar. Os ganglios aumentados tem características benignas: móveis e de consistência fibroelástica. Esplenomegalia: ocorre em cerca de 50% dos pacientes. O aumento do baço pode ser rápido, causando desconforto no quadrante superior esquerdo. O aumento verificado é de 2 a 3 cm abaixo do rebordo costal (BOYD II). Hepatomegalia: é menos comum que a esplenomegalia. Inicialmente pode desconfiar de uma faringoamigdalite estreptocócica. Dessa forma, o médico pode prescrever amoxicilina. Entretanto, os pacientes com mononucleose apresentam uma hipersensibilidade transitória e assim ao tratar erroneamente favorecem o aparecimento de exantema pruriginoso maculopapular que se inicia em tronco. Sinal de Hoagland: edema periorbitário, as pálpebras superiores ficam inchadas, a fenda palpebral diminui. COMPLICAÇÕES Rotura do baço: situação grave e rara. Neurológicas: meningoencefalite, depressão, psicose aguda, paralisia facial e Guillain-Barré Respiratórias: obstrução das vias aéreas superiores por tumefação amigdaliana e de edema faríngeo Cardíacas: miocardite e pericardite Renais: nefrite, necrose hepática, hematúria Hematológicas: anemia hemolítica, trombocitopenia. Carcinogênicas: linfoma de Burkitt, carcinoma de nasofaringe e doença de Hodgkin DIAGNÓSTICO Clínico + leucograma. Seu diagnóstico é confirmado por métodos sorológicos. Para confirmação laboratorial, pode-se usar: testes rápidos para a detecção de anticorpos heterofílos e/ou de anticorpos especificos para o vírus Epstein-Barr. Exames Laboratoriais: • Leucocitose (>10.000-20.000 céls/mm) com linfocitose com a presença de linfócitos atípicos (linfócitos T CD8+ ativados). • Trombocitopenia leve (50.000 a 100.000 células/mm³) é encontrada em 50% dos casos. • Aumento leve a moderado da TGO e TGP. AMANDA GODINHO BALISA ALMEIDA- 5º PERÍODO 1/2022 ANTICORPOS HETERÓFILOS: são imunoglobulinas da classe IgM detectadas pela reação de Paul-Bunnell, em que eritrócitos de carneiros são aglutinados pelo soro que contém esse marcador. ANTICORPOS ESPECÍFICOS ANTI-EBV: esse exame costuma ser solicitado para aqueles pacientes com suspeita clínica de MI, que apresentam a pesquisa de anticorpos heterófilos negativa. Os principais anticorpos específicos anti-EBV originados na infecção são os IgM e IgG anticapsideo viral (anti-VCA), o IgG anti-antígenos precoces (anti- EA) e o IgG anti-antígeno nuclear (anti-EBNa). TRATAMENTO • Repouso erestrição da atividade física • Antipiréticos e analgésicos: paracetamol ou dipirona. Evitar o uso de AAS, pois há relação da mononucleose infecciosa com síndrome de Reye. • Antibióticos: aconselhados no caso de infecção bacteriana associada (ampicilina ou seus derivados são contraindicados) • Corticoterapia: pode ser utilizada nas formas graves. PROBLEMA 8 LEPTOSPIROSE EPIDEMIOLOGIA Doença endêmica com focos epidêmicos, principalmente em períodos chuvosos, associa-se às condições inadequadas de saneamento. Homens de 20 a 49 anos são mais acometidos. FATORES DE RISCO Trabalhadores em limpeza e desentupimento de esgotos, garis, catadores de lixo, agricultores, veterinários, pescadores, militares e bombeiros. AGENTE ETIOLÓGICO Bactéria (espiroqueta) do gênero Leptospira. A espécie patogênica para o homem é a L. interrogans. RESERVATÓRIOS • Rattus norvegicus (ratazana ou rato de esgoto) • Rattus rattus (rato de telhado ou rato-preto) • Mus musculus (camundongo ou catita). Esses animais não desenvolvem a doença quando infectados, mas são capazes de eliminar as leptospiras pela urina por toda a vida, sendo considerados portadores universais. Outros reservatórios são caninos, suínos, bovinos, equinos, ovinos, caprinos, tatus, tamanduás. TRANSMISSÃO CONTATO DIRETO: sangue, tecidos, órgãos, secreções ou urina. CONTATO INDIRETO: contato com água ou solo contaminados, ingestão de água ou alimentos contaminados. A penetração do microrganismo ocorre principalmente, através da pele com presença de lesões, pele integra imersa por longos períodos em água contaminada. Pode ocorrer também pelas mucosas (nasal, oral, conjuntival e genital). A transmissão acidental em laboratório também pode ocorrer, além da via transplacentária (no homem e nos animais). PERÍODO DE INCUBAÇÃO: 1 a 30 dias (média de 5 e 14 dias). FISIOPATOLOGIA FASE DE LEPTOSPIREMIA (1 SEMANA): após penetrarem através das mucosas ou da pele, as leptospiras atingem a corrente sanguínea e, rapidamente, se mutiplicam e se disseminam para diversos órgãos, devido a sua movimentação helicoidal e produção de hialuronidase. Patogênese: • lesão direta do endotélio vascular • adesão das leptospiras à membrana das células. A disfunção endotelial induzida pela leptospira determina extravasamento de líquido para o terceiro espaço e fenômenos hemorrágicos. Fígado: ocorre lesão de membrana celular, há sinais de colestase, hiperplasia das células de Kuppfer, disfunção na excreção biliar (grandes elevações da bilirrubina direta e leve aumento das aminotransferases) pois a congestão dos sinusoides comprime os hepatócitos. Doença de notificação compulsória! AMANDA GODINHO BALISA ALMEIDA- 5º PERÍODO 1/2022 Rim: nefrite intersticial, disfunção tubular (túbulo proximal, aumentando a excreção de sódio e potássio), necrose tubular, isquemia renal (decorrente da hipovolemia), edema intersticial, insuficiência renal aguda. Pulmão: infiltração dos espaços alveolares, levando ao extravasamento de líquido e sangue para os alvéolos, constituindo uma pneumonite hemorrágica, principal causa de óbito na doença. Coração: Miocardite. Músculos esqueléticos: miosite. Vasos sanguíneos: hemorragias e vasculite. FASE IMUNE: começa na 2ª semana quando surgem os anticorpos IgM antileptospira. A resposta imune humoral é capaz de eliminar por opsonização as leptospiras de quase todos os órgãos, menos as meninges, os olhos e os rins (particularmente os túbulos proximais). O fenômeno de hipersensibilidade decorrente da resposta imunológica pode levar a novas manifestações clínicas, como meningite asséptica, uveíte e manutenção da febre por um período prolongado. QUADRO CLÍNICO Forma Anictérica/Fase Precoce É a forma mais comum, se apresenta como uma síndrome febril aguda, de início súbito, como se fosse uma “gripe forte”. Tem um curso bifásico. A primeira fase é autolimitada, dura aproximadamente 3- 7 dias (fase da leptospiremia), seguida por um período de defervecência de 1-2 dias, evoluindo para a segunda (fase imune), com duração entre 4-30 dias. PRIMEIRA FASE – LEPTOSPIREMIA: febre alta remitente (38- 40°C), calafrios, cefaleia (frontal e retro-orbitária), náuseas, vômitos e intensa mialgia (predominando nas panturrilhas e lombar). Sufusões conjuntivais aparecem geralmente dessa fase e caracteriza-se por hiperemia e edema da conjuntiva ao longo das fissuras palpebrais. Pode ocorrer diarreia, tosse seca, dor de garganta e exantema. SEGUNDA FASE – IMUNE: redução gradual da febre. Pode ocorrer meningite asséptica e uveíte. SINAIS CLÍNICOS DE ALERTA Indicam agravamento do quadro clínico e necessidade de internação hospitalar!! Forma Íctérica/Fase tardia Não apresenta o curso bifásico. Normalmente o paciente inicia a doença com um quadro idêntico ao da fase leptospirêmica da leptospirose anictérica, evoluindo para manifestações clínicas graves, mas podem ocorrer apresentações fulminantes. A manifestação clássica da leptospirose grave é a síndrome de Weil, caracterizada pela tríade de icterícia, insuficiência renal e hemorragia, mais comumente pulmonar. A icterícia é um sinal característico e apresenta uma tonalidade alaranjada muito intensa em decorrência da vasculite conjuntival associada (icterícia rubínica). Geralmente, aparece entre o 3º e 7º dia da doença. A leptospirose causa uma forma peculiar de insuficiência renal aguda, caracterizada por ser não oligúrica e com hipercalemia, devido à inibição de reabsorção de sódio nos túbulos renais proximais, aumento no aporte distal de sódio e consequente perda de potássio. A hemorragia mais temível é a pulmonar. O paciente pode evoluir (mesmo na ausência de icterícia e IRA) com uma capilarite pulmonar hemorrágica grave, manifestando-se com tosse seca, hemoptise, cianose, dor torácica e dispneia. A radiografia demonstra infiltrado nodular ou alveolar heterogêneo predominando nas bases. Fase da convalescença Astenia e anemia podem ser observadas. A leptospirúria pode continuar por uma semana ou, mais raramente, por vários meses após o desaparecimento dos sintomas. A icterícia desaparece lentamente, podendo durar dias ou semanas. Uveíte unilateral ou bilateral, pode ocorrer até 18 meses após a infecção, podendo persistir por anos. DIAGNÓSTICO Clínico epidemiológico Sintomas + antecendentes epidemiológicos sugestivos nos últimos 30 dias (enchentes ou exposição a esgoto, risco ocupacional, vínculo epidemiológico com um caso confirmado por critério laboratorial, residir em áreas de riscos). Exames laboratoriais e complementares Ajudandam no diagnóstico diferencial e avaliação da gravidade do caso: EXAMES LABORATORIAIS INESPECÍFICOS: hemograma + bioquímica (ureia, creatinina, bilirrubina total e frações, TGO, TGP, gama-GT, fosfatase alcalina e CPK, Na+ e K+): • Plaquetopenia • Leucocitose, neutrofilia e desvio à esquerda. • Aumento de ureia e creatinina • Elevação das bilirrubinas totais com predomínio da fração direta. AMANDA GODINHO BALISA ALMEIDA- 5º PERÍODO 1/2022 • Potássio sérico normal ou diminuído, mesmo na vigência de insuficiência renal aguda • CPK elevada • TGO E TGP normais ou pouco aumentadas • Fosfatase alcalina (FA) e Gama GT normais ou elevadas • Anemia normocrômica (a queda nos níveis de Hb e Ht sem sangramentos pode ser indício precoce de sangramento pulmonar) A confirmação diagnóstica da leptospirose pode ser feita por métodos diretos têm maior sensibilidade na fase aguda da doença (fase leptospirêmica), ou métodos indiretos que são mais sensíveis na fase tardia (fase imune). METODOS DIRETOS Visualização direta da L. interrogans pelo isolamento em meio de cultura ou pela detecção de seu material genético através do PCR. Cultura: o
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