Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
➢ Leishmaniose ➔ Introdução - Membros do gênero Leishmania ocorrem principalmente em mamíferos, causando doenças em cães, roedores e no homem - E uma zoonose onde canídeos silvestres, outros mamíferos silvestres (gambas) e o cão podem atuar como reservatório - E uma doença de distribuição mundial - A maioria das espécies de Leishmania tem como vertebrados naturais diversos mamíferos silvestres ou domésticos, sendo o homem um hospedeiro acidental - Cães: forma cutânea e visceral - Em humanos a leishmaniose pode ser: visceral, cutâneo -mucosa, cutânea difusa, cutânea - Estima-se que cerca de 15 milhões de pessoas estejam infectadas, há o aparecimento de 500.000 casos novos e 59.000 mortes por ano - Classicamente, o homem adquire a doença ao adentrar áreas silvestres - A principal espécie causadora de leishmaniose tegumentar no Brasil é a Leishmania braziliensis ➔ Reservatório - É o ser humano ou animal, artrópode, planta, solo ou matéria inanimada (ou uma combinação desses), em que um agente infeccioso normalmente vive e se multiplica em condições de dependência primordial para a sobrevivência, e no qual se reproduz de modo a poder ser transmitido a um hospedeiro suscetível ➔ Forma cutânea localizada ou difusa - Lesões: ulcerativas ou nodulares com tendência à cura espontânea ou que podem se disseminar por todo o tegumento subcutâneo - Parasitas: metade anterior do intestino do flebotomíneo (os parasitas reproduzem-se rapidamente na lesão) - Espécies: Leishmania mexicana, L. amazonensis ➔ Forma muco- cutânea - Lesões: ulcerativas tegumentares com tendência à invasão naso- buco- faríngea, causando mutilações - Parasitas: metade posterior do intestino do flebotomíneo (parasitas reproduzem-se lentamente na lesão) - Espécies: Leishmania braziliensis, L. guyanensis, L. tropica ➔ Forma visceral ou calazar - Lesões: ulcerações superficiais tentem a desaparecer, acomete o fígado, baço e medula ossea (pode evoluir para óbito) - Espécies: Leishmania donovani, L. infantum, L. infantum chagasi ➔ Distribuição Geográfica - Brasil: mais importantes --> L. amazonenses, L. braziliensis, L. infantum chagasi - Sul da Europa, África, Ásia: L. tropica - África, Ásia: L. donovani - Países mediterrâneos: L. infantum ➔ Etiologia - Parasitas intracelulares obrigatórios de macrófagos - Quadros variam de acordo com a espécie de Leishmania, bem como a susceptibilidade genética do vetor e do hospedeiro - Há muitas espécies de Leishmania que são morfologicamente semelhantes - Apesar da semelhança morfológica, as diferentes espécies apresentam diferentes casos clínicos -- -> diferem quanto à bioquimica e componentes da membrana, mecanismos pelos quais os amastigotas sobrevivem e proliferam são distintos - Espécies do gênero leishmania: divididas em complexos de acordo com a sintomatologia que causam - Dois sub- gêneros: Leishmania e Viannia ➔ Estágios de desenvolvimento - Em Leishmania ssp. encontram-se dois estágios de desenvolvimento: ---> Promastigota: o flagelo emerge da parte anterior da célula ---> Amastigota: somente o cinetoplasto é visível, o flagelo é internalizado ➔ Formas Evolutivas • Amastigota: - Forma esférica ou oval, tem um flagelo rudimentar - Somente o núcleo e o cinetoplasto são visíveis à microscopia óptica - Dimensões: 2,5- 5,0 x 1,5- 2,0 mm - Multiplica-se por fissão binária - Geralmente encontrados em grupos no interior de macrófagos ou livres após o rompimento destas células - Também observados em células do sistema fagocítico mononuclear que estão presentes na pele, baço, fígado, medula ossea, linfonodos, mucosa... • Promastigota - Formas extracelulares encontradas no intestino dos insetos - Dimensões variadas: 14,0- 20,0 x 1,5- 3,5 mm - Apresenta flagelo longo sem membrana ondulante (porção anterior do parasita) - Núcleo arredondado ou oval, situando-se na região mediana ou anterior do parasita - Durante a passagem pelo inseto sofrem um processo de diferenciação celular, denominado metaciclogênese • Vetor - Lutzomyia: “mosquito palha” ou “birigui”, inseto pequeno com 2 a 3 mm de comprimento - Cerca de 30 espécies de flebotomíneos - Ovos, larvas e pupa: ambiente úmido e rico em matéria orgânica ( folhas, raízes, húmus e dendritos de animais) - Adultos: 2 a 4 mm, ambiente sombreado, alta umidade, temperatura entre 20 a 30 graus Celsius - Fêmeas hematófagas ➔ Ciclo de vida - Ciclo de vida heteróxeno, envolvendo um hospedeiro mamífero e um inseto - Os insetos vetores são pequenos dípteros que pertencem aos gêneros Phlebotomus, na Europa, no Oriente Médio, na Ásia e na África (Velho Mundo), e Lutzomyia e, em menor escala, Psychodopygus, nas Américas (Novo Mundo). - No Brasil, os flebotomíneos são conhecidos como mosquito-palha, birigui, cangalha ou tatuíra, dependendo da região - Transmitido por flebotomíneos hematófagos (Lutzomyia longipalpis e Phlebotomus spp.) - Saliva do inseto: componentes que tem atividade anti-inflamatória, anti-coagulante, vasodilatadora e imunossupressora (interfere com a atividade microbiana dos macrófagos --> auxilia na disseminação do parasita) - Gênero Lutzomyia: América central e do Sul - Gênero Phlebotomus: Europa, Ásia e norte da África - Enquanto parasitam o inseto vetor, a espécie de leishmania sobrevive sob a forma de promastigota (alongada e com um único flagelo- o flagelo se origina a partir do cinetoplasto, região que contêm grande quantidade de DNA extracelular) - A infecção do flebotomíneo fêmea (inseto vetor) ocorre mediante a ingestão de sangue contaminado de um hospedeiro mamífero --> os parasitos ingeridos junto com o sangue diferenciam-se rapidamente em formas promastigotas chamadas prociclicas (sobrevivem no meio extracelular e multiplicam-se por divisão binaria) - Os promastigotas nutrem-se do conteúdo intestinal do inseto; à medida que os nutrientes escasseiam, ocorrem uma diferenciação dos promastigotas prociclicos em promastigotos metaciclicos (mudanças morfológicas: aumento da extensão do flagelo, encurtamento do corpo do parasito e alterações fisiológicas) - O promastigota metaciclico é incapaz de se multiplicar, devendo ser inoculado no mamífero para dar continuidade no ciclo ➔ Ciclo Biológico 1. Mamíferos são infectados com promastigotas metacísticos quando são picados pelo vetor (flebotomíneos) 2. Promastigotas fagocitados por macrófagos---> amastigotas 3. Amastigotas--> repetidos ciclos de fissão binaria dentro do macrófago 4. Amastigotas liberados --> novo ciclo replicativo em outros macrófagos 5. Quando transferidos para o inseto --> promastigotas ---> promastigotas procíclicos -->fissão binaria--> metaciclogênese --> promastigotas metacíclicos 6. Promastigotas metacíclicos aderem ao epitélio intestinal do inseto, para não serem excretados --> fissão binaria. Migram então para o esôfago e faringe do inseto e se aderem aos hemidesmossomos ➔ Patogenia - Evasão do parasitas: amastigotas sobrevivem e se multiplicam dentro de macrófagos, células que deveriam eliminar agentes invasores Um grande número de neutrófilos é atraído precocemente para o sítio de inoculação dos parasitos (a picada causa uma lesão na pele e os componentes da saliva do inseto causam uma atividade inflamatória) Os neutrófilos são capazes de fagocitar os promastigotas inoculados e desempenham importante papel na defesa inata Promastigotos fagocitados por neutrófilos são em grande parte destruídos no interior do fagossomo --> os neutrófilos apoptóticos são então fagocitados por macrófagos Parte dos neutrófilos que fagocitam promastigotas não conseguem destruir os parasitos (alteração fisiológica) --> os promastigotas de leishmania queconseguem se instalar em compartimentos não líticos do neutrófilo retardam a apoptose e prolongam a vida do hospedeiro, tornando possível que os parasitas permaneçam vivos enquanto os macrófagos e as células dendríticas são atraídos para o local Os neutrófilos transferem os parasitos para o interior de macrófagos (por serem fagocitados por eles ou por liberarem os parasitas em suas vizinhanças) Os macrófagos são a célula hospedeira para as leishamanias Os promastigotas sobrevivem no interior do vacúolo fagolisossômico, neutralizando seu conteúdo proteolítico graças à liberação, a partir da membrana plasmática, de proteases de superfície que serão responsáveis pela inativação das enzimas lisossômicas Obs.: Os amastigotas, diferentemente dos promastigotas, são formas de vida intracelulares. Perfeitamente adaptados ao ambiente do vacúolo fagolisossômico, multiplicam-se por divisão binária, até que a quantidade de amastigotas intracelulares seja suficiente para romper a célula hospedeira - Resistência à digestão: os parasitas se albergam nos fagolisossomos, compartimentos para a digestão de partículas estranhas - Diferentes manifestações clinicas da doença - Estado imune, genético e nutricional do hospedeiro pode alterar o curso da infecção - Tratamento pode desencadear uma manifestação clínica muito diferente da original - Metaciclogênese: há alterações ultraestruturais e bioquímicas no parasita, particularmente na superfície celular --> alteração na estrutura do LPG (lipofosfoglicanas). Promastigotas metacíclicos são mais resistentes à lise do que promastigota procíclico - Dentro do fagolissomo o promastigota rapidamente se transforma em amastigota - Amastigota é mais resistente à proteólise, adaptado ao pH ácido, capaz de interferir na atividade microbicida dos macrófagos - Para escapar das enzimas digestivas, os promastigotas escapam de seu interior e, mediante interações entre moléculas presentes no lado externo de sua membrana plasmática (lipofosfoglicano- LPG) e lectinas presentes no epitélio digestivo do inseto vetor, instalam-se na região do intestino anterior (subgênero Leishmania) ou no intestino posterior (subgênero Viannia) --> aderidos ao epitélio digestivo, multiplicam-se extensamente --> Alguns dias depois, com a redução do conteúdo de nutrientes no intestino, ocorre a diferenciação para promastigotas metacíclicos --> As moléculas presentes na superfície do parasito são alteradas, desaparecendo a capacidade de adesão específica a lectinas do epitélio --> os promastigotas metaciclicos, tornam-se livres no interior do tubo digestivo e fazem uma migração retrógrada até o esôfago, onde secretam fosfolipideos --> formam uma substancia de consistência gelatinosa (os promastigotas metaciclicos são injetados no mamífero pela picada do inseto, misturados à saliva e ao gel secretado- estabelecimento da infecção) *** LPG: aumenta a sobrevivência no hospedeiro vertebrado e vetor - Auxilia na ligação do promastigota ao macrófago --> fagocitose --> aumenta a colonização - Funções imunomodulatórias diminuindo a atividade microbiana do macrófago - Facilita a ligação do promastigota procíclico ao intestino do vetor (o parasita não é eliminado) - Proteção do parasita no intestino do vetor --> inibição da atividade proteolítica das enzimas *** Outras fatores de resistência, sobrevivência da Leishmania - Interfere com a produção de citocinas pelas células do sistema imune (a resposta células é a mais importante) - Inibe a apresentação de antígenos - Modula negativamente a ativação e o reconhecimento do parasita por linfócitos T - Em ambos os casos de Leishmaniose (forma cutânea e visceral) há destruição dos macrófagos - Após a infecção --> quadro progressivo --> geralmente após 2 a 4 meses aparecem os sintomas da leishmaniose --> lesões cutâneas, esplenomegalia, hepatomegalia, linfoadenopatia e lesões cutâneas persistentes, além da anemia - Animais assintomáticos podem ser fonte de infecção ➔ Aspectos Clínicos - A participação da resposta imune na leishmaniose visceral é fundamental para a determinação da gravidade clínica da doença - A resposta imune na leishmaniose é mediada basicamente por células T helper - Resposta imune contra a leishmaniose: 1. Inoculação do agente: saliva do inseto e maxadila (potente vasodilatador) 2. Indução de resposta inflamatória local 3. Fagocitose do agente por células do sistema mononuclear fagocitário (macrófagos) 4. Macrófagos infectados atuam como APCs aos linfócitos T helper 5. Linfócitos T helper produzem citocinas - Linfócitos T helper 1: geram resposta T helper 1 que produzem citocinas que ativam linfócitos T citotóxicos --> morte da célula infectada - Linfócitos T helper 2: geram resposta T helper 2 que produzem citocinas que ativam linfócitos B - -> produção de imunoglobulina (lesão de órgãos) - Resposta da Th1: associada a capacidade do hospedeiro em controlar a infecção - Resposta Th2: relacionada a progressão da doença ** A indução da resposta da Th1 ou Th2 depende de alguns fatores: - Dose infectante - Mecanismo de apresentação do antígeno - Via de inoculação - Existência de substancias quimiotáxicas para macrófagos na saliva do vetor--> diminuem a apresentação de antígenos e diminuem a resposta Th1 ---> macrófagos se encontram fígado, rins e medula óssea ----> parasita circulante nos monócitos (macrófagos no sangue) Forma Cutânea (tegumentar): há uma inflamação ativa ---> células dendríticas apresentam antígenos em MHC2 e expressam ICAM-1. Ativação de Th1 por IFTNy e TNFb resulta no recrutamento de células T para a região infectada --> Cura Forma mucocutânea (tegumentar): pouco envolvimento ou destruição de células Langherans, mas há apresentação em MHC2 e células com ICAM-1, Th1 e Th2 estão ativados. IL-10 promove o decréscimo da apresentação de antígenos e de produção de IFNg. Pode ter hiperprodução de IL1, TNFa e ICAM-1, resultado é um estado pró-inflamatório e destruição sucessiva de tecido Forma visceral: não há resposta Th1 e nem aumento de atividade Th2. Fatores parecem ser do próprio macrófago infectado. Possivelmente, lipofosfoglicanos da Leishmania estão envolvidos. ➔ Sintomas Forma Visceral: L. infantum chagasi - Sintomatologia variável - Altos níveis de anticorpos - Ocorrem lesões cutâneas e viscerais - Geralmente é crônica, com baixa mortalidade - Pode ocorrer longos períodos sem sintomatologia e depois haver ressurgimento do quadro - Há febre irregular de longo curso, palidez de mucosas (o parasita ataca os percursores de células fagocíticas e instala um processo inflamatório na produção de novos eritrócitos, além disso o baço vai estar hipertrófico de macrófagos infectados- retiram eritrócitos a mais) e emagrecimento progressivo e na fase terminal, caquexia intensa - Hipertrofia do sistema fagocítico mononuclear --> esplenomegalia, hepatomegalia e linfoadenopatia generalizada - Podem levar meses para surgirem, inclusive podem aparecer quando o cão não está mais na região endêmica ---> Enfermidade crônica: - Febre irregular e de longa duração - Hepatoesplenomegalia - Linfoadenopatia (hipertrofia dos linfonodos- órgão linfático secundário) - Anemia com leucopenia (diminuição dos leucócitos) - Hipergamaglobulinemia (aumento de anticorpos) - Emagrecimento (anemia, baixa oxigenação dos tecidos) – compressão do estomago por aumento do fígado - Edema (os hepatócitos menos produzir muita albumina e o sangue fica mais “líquido”, extravasando para o meio extracelular) - Caquexia e morte se não for tratado --> óbito por insuficiência renal Forma Tegumentar: a) Cutânea: infecção confinada na derme e epiderme ulcerada - L. tropica, L. major e L. aethiopica (Velho mundo) - Espécies do complexo mexicana ebraziliensis (Novo mundo) - L. braziliensis, L. guyanensis, L. lainsoni (Brasil) b) Muco- Cutânea: infecção na derme (úlceras), invasão de mucosa e destruição da cartilagem - L. braziliensis, L. guyanensis, L. mexicana (“espundia”) --> Novo mundo - L. major, L. tropica --> Sudão/Etiópia c) Cutânea difusa: infecção confinada na derme, formando nódulos não ulcerados. Disseminação por todo o corpo --> associado a deficiência imunológica - Novo mundo: L. pifanoi, L. amazonensis - Velho mundo: L. aethiopica ➔ Diagnóstico: - Pesquisa do agente - Esfregaços (“imprints”) ou raspados de pele corados por Leishman, Wright ou Giemsa - Exames histológicos: biópsia de lesões, linfonodos ou medula -amastigotas - PCR -Inoculação - Exames sorológicos para a pesquisa de anticorpos - Imunofluorescência indireta (RIFI) - ELISA - Hematoglutinação - Teste rápido de DDP ** Diagnostico clinico: análise das manifestações e sintomas clínicos apresentados. Análises são complementares ao diagnostico ** Diagnostico parasitológico: detecção direta do parasita ** Diagnóstico Sorológico: detecção direta ou indireta do parasita. Baseados na resposta imune do hospedeiro aos antígenos do parasita ** Diagnostico molecular: detecção direta do parasita. Baseados em alvos moleculares (genes) pertencentes somente ao parasita ➔ Tratamento da Leishmaniose Visceral Humana - Drogas preconizadas pelo Ministério da Saúde 1. Antimoniato de N-metil glucamina: interação com grupos sulfídricos, inibindo a glicogenólise e oxidação de ácidos graxos e redução na produção de ATP 2. Anfotericina B lipossomal: permeabilidade de membrana (facilitada pela fração lipídica) 3. Desoxicolato de anfotericina B: permeabilidade de membrana - Outras drogas: 1. Pentamidina: alta toxicidade 2. Alopurinol: baixa eficácia e resistência 3. Cetoconazol: baixa eficácia e resistência 4. Citoquinas e fator estimulantes de granulócitos: aumento da imunidade do hospedeiro ➔ Controle do vetor: - Colar impregnado com inseticida te boa atuação em cães de regiões endêmicas
Compartilhar