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Maria Eduarda S. Santos APG SOI – Sistemas Orgânicos Integrados Trombose Venosa Profunda Fisiopatologia Os fatores tradicionalmente implicados na patogênese da trombose venosa são a ativação da coagulação, a lesão endotelial e a estase venosa (tríade de Virchow). Dessa forma, a trombose venosa profunda nos membros inferiores, na maioria das vezes, resulta de: . Retorno venoso prejudicado; . Lesão ou disfunção endotelial; . Hipercoagulabilidade. LESÃO ENDOTELIAL O trauma endotelial desencadeia as reações da cascata da coagulação por três vias: . Exposição do tecido subendotelial, ativando a tromboplastina tecidual; . Liberação do fator de necrose tumoral; . Liberação de IL-1 pelas células endoteliais e por toxinas liberadas em consequência da necrose ou lesão tecidual. FLUXO SANGUÍNEO ANORMAL Tanto a estase quanto a turbulência compõem um fluxo sanguíneo anormal. Um fluxo anormal pode levar: . Maior proximidade das plaquetas com o vaso; . A estase inibe o fluxo de sangue novo no leito vascular, de modo que os fatores de coagulação ativados na região não são removidos nem diluídos; . A ativação das células endoteliais, resultando em um estado pró- trombótico. HIPERCOAGULABILIDADE Refere-se a uma resposta anormal da coagulação devido a: . Distúrbios primários (genéticos)/ trombofilia hereditárias; . Distúrbios secundários/ trombofilias adquiridas (hiperviscosidade e neoplasias malignas). Hiperviscosidade: aumento da viscosidade sanguínea torna o seu fluxo mais lento. Neoplasias malignas: o tumor produz uma substância pró-coagulante com ação semelhante ao fator tecidual. Sinais e sintomas Eritema e aumento da temperatura local; Dor em MMII unilateral de instalação aguda: tende a se exacerbar com a atividade física e a melhorar com o repouso e elevação do membro no leito. Edema: O grau do edema é variável, dependendo da circulação colateral e extensão do processo trombótico. Cianose: Quando a trombose venosa é extensa e maciça, pode haver bloqueio da circulação colateral e o retorno venoso pode ser tão prejudicado que a estase compromete de forma grave o leito capilar com risco de necrose da extremidade. Dilatação do sistema venoso superficial: A circulação colateral se faz em parte pelas veias superficiais que se tornam dilatadas e visíveis, em especial na região inguinal nas tromboses iliacofemorais. Sinais Sugestivos Sinal de Homans: presença de dor ou desconforto na panturrilha após dorsiflexão passiva do pé. Sinal da Bandeira: redução da mobilidade da panturrilha quando comparada com o outro membro. Sinal de Bancroft: dor à palpação da panturrilha; Sinal de Lowenberg: dor provocada por insuflação de manguito na panturrilha. Manifestações mais graves Phlegmasia alba dolens(milk leg): TVP no sistema iliofemoral maciça, com edema intenso, dor e palidez em toda a extensão do membro acometido por conta do espasmo arterial. Phlegmasia cerulea dolens (gangrena azul de Gregoire): é a evolução do quadro anterior, com cianose intensa e dolorosa, devido à síndrome compartimental do membro, podendo causar compressão arterial e gangrena. Maria Eduarda S. Santos APG SOI – Sistemas Orgânicos Integrados Diagnóstico A suspeita diagnóstica pode ser corroborada através do Escore de Wells. Uma pontuação de 02 ou mais no algoritmo aumenta a probabilidade de TVP, enquanto 01 ou nenhum ponto somado, a diminui. ULTRASSONOGRAFIA Identifica trombos por visualização direta do contorno venoso e demonstração da compressibilidade anormal da veia ou, com estudos de fluxo com Doppler, por comprometimento do fluxo venoso. O teste tem sensibilidade > 90% e especificidade > 95% para a trombose das veias femoral e poplítea, porém é menos preciso para trombose das veias ilíacas ou da panturrilha. DÍMERO D O dímero D é um subproduto da fibrinólise e a elevação dos seus níveis sugere existência e lise recente de trombos. A sensibilidade e especificidade dos testes de dímero D são variáveis; no entanto, a maioria é sensível e não específica. Apenas os testes mais precisos devem ser utilizados. Por exemplo, um teste altamente sensível é o ELISA, que tem sensibilidade de cerca de 95%. Tratamento Deambulação precoce após o parto ou procedimento cirúrgicos diminui o risco de formação de trombos. Exercitar as pernas e usar meias elásticas melhoram o fluxo venoso. Evitar posições corporais que favoreçam o acúmulo venoso. A terapia com medicamentos anticoagulantes (heparina e varfarina) é utilizada para tratar e impedir a trombose venosa. Complicações As complicações mais comuns da trombose venosa profunda incluem . Insuficiência venosa crônica; . Síndrome pós-flebítica; . Embolia pulmonar: Embolia Pulmonar Etiologia Quase todas as EPs se originam de trombos das veias das pernas ou pelve (trombose venosa profunda). O risco de embolização é maior em caso de trombos proximais para as veias da panturrilha. O tromboembolismo também pode se originar de veias dos membros superiores e veias centrais do tórax (causado por cateteres venosos centrais ou resultante de síndromes de saída torácica). Fisiopatologia Depois que a trombose venosa profunda se desenvolve, o coágulo pode se deslocar e se mover pelo sistema venoso e coração direito para se alojar nas artérias pulmonares, ocluindo parcial ou totalmente um ou mais Maria Eduarda S. Santos APG SOI – Sistemas Orgânicos Integrados vasos. As consequências dependem do tamanho e do número de êmbolos, condição subjacente dos pulmões, grau de funcionamento do ventrículo direito (VR) e habilidade do sistema trombolítico intrínseco corporal de dissolver os coágulos. A morte ocorre em decorrência de uma falha no ventrículo direito. Pequenos êmbolos podem não ter nenhum efeito fisiológico agudo e muitos podem iniciar a lise imediatamente e desaparecer em horas ou dias. Êmbolos maiores podem causar aumento dos reflexos ventilatórios (taquipneia), hipoxemia por incompatibilidade da ventilação/perfusão (V/Q) e baixo teor de oxigênio no sangue venoso misto como resultado de baixo débito cardíaco, atelectasia decorrente da hipocapnia alveolar com alterações do surfactante e aumento da resistência vascular pulmonar causado por obstrução mecânica e vasoconstrição, resultando em taquicardia e hipotensão. A lise endógena reduz a maioria dos êmbolos, mesmo aqueles de tamanho moderado, e as alterações fisiológicas diminuem no decorrer de horas ou dias. Alguns êmbolos resistem à lise e podem se organizar e persistir. De acordo com os efeitos fisiológicos, a EP pode ser classificada como Catastrófico ou supermassivo (alto risco): comprometimento da função ventricular direita com hipotensão e/ou hipoxemia grave que requer tratamento vasopressor agressivo e alto fluxo de oxigênio Maciça (também de alto risco): comprometimento da função ventricular direita com hipotensão, definida como PA sistólica < 90 mmHg ou queda da PA sistólica ≥ 40 mmHg em relação aos valores iniciais durante 15 min Submaciça (risco intermediário): comprometimento da função ventricular direita e/ou alteração da troponina e/ou nível de BNP sem hipotensão. Observar que a European Society of Cardiology define embolia pulmonar de risco intermediário como pacientes com um índice de gravidade de embolia pulmonar simplificado (sPESI) > 0, incluindo assim pacientes com outras doenças ou achados. Baixo risco: ausência de comprometimento do ventrículo direito e ausência de hipotensão (e pela European Society of Cardiology, índice sPESI = 0) A EP em sela descreve uma embolia pulmonar que se aloja na bifurcação da artéria pulmonar principal e nas artérias pulmonares direita e esquerda; EPs em sela geralmente são, mas nem sempre, de risco alto ou intermediário. Em 1 a 3% dos casos, a obstrução residual crônica leva à hipertensãopulmonar (hipertensão pulmonar tromboembólica crônica) que pode evoluir ao longo de anos e pode resultar em insuficiência cardíaca direita crônica. Quando grandes êmbolos ocluem as principais artérias pulmonares ou quando vários êmbolos pequenos ocluem > 50% dos vasos mais distais, a pressão no ventrículo direito aumenta, o que pode ocasionar insuficiência ventricular direita aguda, choque ou morte súbita. O risco de morte depende do grau e da taxa de aumento nas pressões cardíacas do lado direito e do estado cardiopulmonar subjacente do paciente. Pacientes com doença cardiopulmonar preexistente têm maior risco de morte, mas jovens e/ou pacientes saudáveis podem sobreviver à embolia pulmonar que oclui > 50% do leito pulmonar. O infarto pulmonar (interrupção do fluxo sanguíneo arterial pulmonar levando à isquemia do tecido pulmonar, às vezes representado por um padrão de acometimento pleural [localizado perifericamente], frequentemente em forma de cunha, na radiografia de tórax [corcova de Hampton] ou outras modalidades de imagem) ocorre em < 10% dos pacientes diagnosticados com embolia pulmonar. Esse índice baixo é atribuído ao suprimento sanguíneo duplo do pulmão (brônquico e pulmonar). Em geral, o infarto pulmonar é decorrente de êmbolos menores que se alojam nas artérias pulmonares mais distais e é quase sempre completamente reversível; o infarto pulmonar é reconhecido precocemente, usando critérios radiográficos sensíveis, com frequência antes de a necrose ocorrer. A EP também pode surgir de fontes não trombóticas. Diagnóstico Alto índice de suspeita Avaliação da probabilidade pré-teste (com base nos achados clínicos, incluindo oximetria de pulso e na radiografia de tórax) Testes subsquentes com base na probabilidade pré-teste Maria Eduarda S. Santos APG SOI – Sistemas Orgânicos Integrados O diagnóstico é desafiador, uma vez que os sinais e sintomas são inespecíficos e os testes diagnósticos não são 100% sensíveis ou específicos. É importante incluir a embolia pulmonar no diagnóstico diferencial quando são encontrados sintomas inespecíficos como dispneia, dor torácica pleurítica, hemoptise, tontura leve ou síncope. Assim, deve-se considerar a embolia pulmonar no diagnóstico diferencial de pacientes com suspeita de ter Isquemia cardíaca Insuficiência cardíaca Exacerbações de DPOC Pneumotórax Pneumonia Sepse Síndrome torácica aguda (em pacientes com doença falciforme) Ansiedade aguda com hiperventilação Taquicardia significativa e inexplicável pode ser uma pista. A EP também deve ser considerada em todo paciente idoso com taquipneia e estado mental alterado. A avaliação inicial deve incluir oximetria de pulso, eletrocardiograma (ECG) e radiografia de tórax. ECG, gasometria arterial, ou ambos, podem ajudar a descartar outros diagnósticos (p. ex., infarto agudo do miocárdio). Habitualmente, a radiografia do tórax é inespecífica, mas pode revelar atelectasia, infiltrados focais, elevação de hemidiafragma e/ou derrame pleural. Os achados clássicos de perda focal dos contornos vasculares (sinal de Westermark), densidade periférica em forma de cunha (corcova de Hampton) ou dilatação da artéria pulmonar descendente direita são sugestivos, mas incomuns (insensíveis) e têm baixa especificidade. A radiografia de tórax também pode ajudar a excluir a pneumonia. O infarto pulmonar decorrente de embolia pulmonar pode ser confundido com pneumonia. A oximetria de pulso fornece uma forma rápida de avaliar a oxigenação; a hipoxemia é um sinal de embolia pulmonar e requer avaliação adicional. A medição da gasometria pode mostrar uma diferença maior de oxigênio alveolar-arterial (às vezes chamado gradiente A-a) ou hipocapnia; um ou ambos os testes são moderadamente sensíveis para embolia pulmonar, mas não são específicos. A medição da gasometria deve ser considerada especialmente para pacientes com dispneia ou taquipneia que não têm hipoxemia detectada pela oximetria de pulso. A saturação de oxigênio pode ser normal em razão do pequeno comprometimento causado pelo coágulo, ou de uma hiperventilação compensatória; uma pCO2 muito baixa detectada na gasometria arterial pode confirmar que há hiperventilação. Mais frequentemente, o ECG revela taquicardia e várias alterações na onda ST-T, que não são específicas para embolia pulmonar (ver figura ECG na embolia pulmonar). O padrão S1Q3T3 ou um novo bloqueio do ramo direito pode indicar o efeito da elevação abrupta no tamanho do ventrículo direito na vias de condução no ventrículo direito; esses achados são moderadamente específicos, mas insensíveis, ocorrendo apenas em cerca de 5% dos pacientes, embora os achados ocorram em um percentual maior dos pacientes com embolia pulmonar maciça. Pode haver desvio do eixo para a direita (R > S em V1) e P-pulmonale. Também ocorre inversão da onda T, de V1 para V4. Fazer o monitoramento dos pacientes ambulatoriais testando o dímero-D se a probabilidade pré-teste for baixa ou intermediária Se probabilidade pré-teste for efetiva ou se o resultado do dímero D for alto, fazer angioTC, ou cintigrafia de V/Q em caso de insuficiência renal ou quando a TC com contraste for contraindicada. Algumas vezes, ultrassonografia de membros inferiores e superiores (para confirmar trombose venosa profunda quando o exame de imagem do pulmão for postergado ou proibitivo) Não existe nenhum algoritmo aceito de maneira universal para a abordagem de embolismo pulmonar grave suspeito. Os testes mais úteis para diagnosticar ou excluir uma embolia pulmonar são Testes de dímero D Angiografia por TC Cintigrafia V/Q Ultrassonografia dúplex Prevenção A prevenção da embolia pulmonar significa prevenção da trombose venosa profunda; a necessidade depende dos riscos do paciente, incluindo Maria Eduarda S. Santos APG SOI – Sistemas Orgânicos Integrados Tipo e duração da cirurgia Condições comórbidas, incluindo câncer e transtornos de hipercoagulabilidade Presença de um acesso venoso central História prévia de trombose venosa profunda ou embolia pulmonar Os pacientes confinados ao leito e os pacientes que fizeram procedimentos cirúrgicos, especialmente ortopédicos, obtêm maior benefício e a maioria desses pacientes pode ser identificada antes da formação de trombos. Os fármacos preventivos incluem heparina não fracionada em dose baixa, heparina de baixo peso molecular, varfarina, fondaparinux, anticoagulantes orais (p. ex., rivaroxaban, apixaban), dispositivos e meias elásticas de compressão. A escolha do fármaco ou dispositivo depende de vários fatores, incluindo a população do paciente, o risco percebido, contraindicações (p. ex., risco de sangramento), custos relativos e facilidade de uso. O American College of Chest Physicians public ou recomendações abrangentes baseadas em evidências para a profilaxia da trombose venosa profunda aguda, incluindo a duração da profilaxia, em pacientes cirúrgicos e não cirúrgicos e durante a gestação (The American College of Chest Physicians Guidelines on Prevention of Thrombosis) . Estudou-se a necessidade de profilaxia em inúmeras populações de pacientes. O tipo de cirurgia, bem como fatores específicos do paciente, determinam o risco de trombose venosa profunda. Fatores de risco independentes incluem Idade ≥ 60 anos Trombose venosa profunda ou embolia pulmonar prévia Câncer Anestesia ≥ 2 h Repouso no leito ≥ 4 dias Sexo masculino Internação hospitalar ≥ 2 dias Sepse Gestação ou estado pós-parto Acesso venoso central IMC > 40 A classificação de Caprini é comumente usada para a estratificação do risco de trombose venosa profunda e a determinação da necessidade de profilaxia da trombose venosa profunda nos pacientes cirúrgicos (ver tabela Avaliação do risco de trombose).
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