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377PROMILITARES.COM.BR RECURSOS DE REPETIÇÃO RECURSOS DE REPETIÇÃO Primeiramente, vamos partir do pressuposto de que a repetição lexical está longe de ser um defeito de expressão. Trata-se de recurso estilístico riquíssimo e muito útil para a expressão não só dos nossos pensamentos como também dos nossos sentimentos, principalmente em textos literários. A repetição estilística é a produção de segmentos discursivos idênticos ou semelhantes duas ou mais vezes num mesmo evento comunicativo, não importando o tamanho do segmento repetido ou se o que se repete é o mesmo conteúdo, a mesma forma ou ambos. Exclui-se desse tipo de repetição a reiteração de elementos funcionais isolados tais como pronomes, preposições, artigos, verbos de ligação, conjunções e marcadores conversacionais frequentes no ato de fala. Entretanto, devemos considerar - para o gênero narrativo literário – o polissíndeto como uma variante do caso de repetição, por resultar um efeito retórico incontestável. Exemplos: Vão chegando as burguesinhas pobres, e as crianças das burguesinhas ricas, e as mulheres do povo, e as lavadeiras. (Manuel Bandeira) A repetição de um item lexical é um procedimento linguístico que concorre para efetivar, no texto, algumas relações semânticas ou pragmáticas à medida que faz o discurso progredir. Esse tipo de recorrência pode ser: 1. de termos (reiteração de um mesmo item lexical); 2. de estruturas (paralelismo sintático); 3. de conteúdos semânticos (paráfrase); 4. de recursos fonológicos (metro, ritmo, rima, assonância, aliteração) e recorrência de tempos e aspecto verbal. 1. A reiteração do mesmo item lexical, embora possa parecer uma óbvia identidade de sentido, apresenta novas instruções de sentido que são acrescentadas cada vez que o item é repetido. Essa reiteração pode ter funções intensi� cadoras, persuasivas, poéticas, dependendo da intenção do enunciador e de seu propósito comunicativo. A exemplo disso, Padre Antônio Vieira, em seus sermões, teria descoberto na repetição uma estratégia linguística poderosíssima para a � xação da mensagem salví� ca do Evangelho no coração dos seus ouvintes, uma vez que o “martelar” constante de uma ideia, conceito ou noção, tem o efeito de penetrar fundo em nossas almas a ponto de, ainda que tenha terminado a mensagem sermonística, as palavras do pregador continuarem ecoando em nossas consciências. Observemos um trecho do Sermão da 1ª sexta-feira da Quaresma para constatar o sobredito: “Creio que o Padre é Deus, creio que o Filho é Deus, creio que o Espírito Santo é Deus, e crendo juntamente que estas três pessoas são realmente distintas, creio outra vez, e mil vezes, que a Pessoa do Padre Deus, e a Pessoa do Filho Deus, e a Pessoa do Espírito Santo Deus, não são três Deuses, senão um só Deus.” 2. A recorrência de estruturas sintáticas, ou paralelismo, faz uso da mesma estrutura sintática preenchida por itens lexicais iguais ou diferentes: No meio do caminho No meio do caminho tinha uma pedra tinha uma pedra no meio do caminho tinha uma pedra no meio do caminho tinha uma pedra. Nunca me esquecerei desse acontecimento na vida de minhas retinas tão fatigadas. Nunca me esquecerei que no meio do caminho tinha uma pedra tinha uma pedra no meio do caminho no meio do caminho tinha uma pedra (Carlos Drummond de Andrade) 3. A recorrência de recursos fonológicos oferece fonemas não variantes para manter igualdade de sílabas métricas, rimas, ritmo e outras ocorrências fonológicas. – Aliteração e assonância: Quando usadas sabiamente, esses dois recursos ajudam a criar uma musicalidade que valoriza o texto literário. Mas não se trata de simples sonoridades destituídas de conteúdo. Geralmente, a aliteração sublinha (ou introduz) determinados valores expressivos, nem sempre facilmente descritíveis. Em horas inda louras, lindas Clorindas e Belindas, brandas Brincam nos tempos das Berlindas As vindas vendo das varandas. (Fernando Pessoa) Observação Esta estrofe de Pessoa é um exemplo soberbo do uso expressivo da aliteração e da assonância. Neste caso, a acumulação sonora cria um efeito musical tão intenso que nos leva a colocar num plano secundário o conteúdo. No entanto, em condições normais, a aliteração põe em evidência as palavras afetadas e, portanto, sublinha o seu valor expressivo. Por vezes, permite mesmo estabelecer associações de sentido pouco evidentes entre palavras. Metro, ritmo e rima - Como o verso é submetido a uma medida certa e rigorosa, resultam das pausas determinadas pelas sílabas fortes várias cadências, mais ou menos regulares, que nos transmitem uma impressão agradável e musical; é isso que se chama ritmo. Um exemplo dará a noção que procuramos indicar os versos de Casimiro de Abreu. Eles nos enlevam aos passos lentos e ritmados da valsa com seu ritmo binário e sempre igual: 378 RECURSOS DE REPETIÇÃO PROMILITARES.COM.BR A Valsa Tu, ontem, Na dança Que cansa, Voavas Co’as faces Em rosas Formosas De vivo, Lascivo Carmim; Na valsa Tão falsa, Corrias, Fugias, Ardente, Contente, Tranquila, Serena, Sem pena De mim! Quem dera Que sintas As dores De amores Que louco Senti! Quem dera Que sintas!... — Não negues, Não mintas... — Eu vi!... O ritmo de um poema tem muito a ver com a metri� cação e a correspondência sonora provocada pela rima. Todo esse conjunto de elementos determina o ritmo da obra. A rima é um dos elementos do verso, mas não é essencial ou obrigatório. É apenas uma opção do autor para criar um vínculo de “melodia” e acentuar o � nal de um verso. 4. A recorrência de conteúdos semânticos, a paráfrase, consubstancia-se em apresentar um mesmo conteúdo semântico sob formas estruturais e itens lexicais diferentes, mas com identidade de sentido. Há expressões linguísticas próprias para introduzir uma paráfrase, como: isto é, ou seja, ou melhor, quer dizer, em síntese etc. Exemplo: “A interdição de um site pode estimular especulações nesse sentido, diante do princípio da proporcionalidade, ou seja, a razoabilidade de interditar um site, com milhares de utilidades e de acesso de milhões de pessoas, em virtude de um vídeo de um casal.” (ÊNIO SANTARELLI ZULIANI – Relator da Revista Consultor Jurídico, 9 de janeiro de 2007) A seguir, encontramos um trecho do belo texto “A gente se acostuma” de Marina Colasanti. A autora nos passa a ideia de costume, rotina, mesmice através de alguns recursos linguísticos destinados a marcar essa situação de modo a tornar o texto cansativo e cheio de monotonia. “Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia. A gente se acostuma a morar em apartamento de fundos e a não ter outra vista que não as janelas ao redor. E porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora. E porque não olha para fora, logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas. E porque não abre as cortinas, logo se acostuma a acender mais cedo a luz. E porque à medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão. A gente se acostuma a acordar de manhã, sobressaltado porque está na hora. A tomar café correndo porque está atrasado. A ler jornal no ônibus porque não pode perder o tempo da viagem. A comer sanduíches porque já é noite. A cochilar no ônibus porque está cansado. A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia. A gente se acostuma a abrir o jornal e a ler sobre a guerra. E aceitando a guerra, aceita os mortos e que haja número para os mortos. E aceitando os números, aceita não acreditar nas negociações de paz. E aceitando as negociações de paz, aceita ler todo dia de guerra, dos números da longa duração [...]” (Marina Colasanti. Eu sei, mas não devia.) Comentário: A repetição do termo acostuma veicula a ideia de rotina enfadonha. A repetição de estruturas sintáticas como porque não seguidas de verbo no presente do indicativo com valor habitual demonstram que os motivos são sempre os mesmos. A repetição do mesmo tempo verbal – infinitivo – dá instrução de que as açõessão infinitas. A repetição do item esquece dá instruções de sentido sobre intensificação, i.e., esquece coisas importantes cada vez mais. A repetição progressiva de verbos que logo depois são contrapostos por outros que também serão contrapostos dando a ideia de que os costumes são feitos à base da negação de uma atividade por outra de sentido oposto: não ter vista ... não olhar; não olha ... não abrir; não abre ... acender; se acostuma ... esquece. A repetição da estrutura aceitando ... aceita demonstra a repetição do item lexical em torno do qual o texto se estrutura (aceitar) trazendo consigo a instrução de que as coisas são como são e não há porque mudá-las. E também não há explicação plausível para o fato de aceitar: aceita porque aceita, não se explica, conforma-se. FUNÇÕES DA REPETIÇÃO Por meio da repetição, os vocábulos adquirem um forte efeito sugestivo e são carregados de uma força semântica bem acentuada, porque ela resulta na multiplicação, ou melhor, na ampli� cação do signo linguístico. Na criação da linguagem poética, a repetição tem uma importância que não passou despercebida a renomados escritores, dentre os quais destacamos João Guimarães Rosa, Carlos Drummond de Andrade, João Cabral de Melo Neto, Cecília Meireles, Rui Barbosa, Fernando Pessoa, Casimiro de Abreu e o Padre Antônio Vieira. Na literatura portuguesa, é no Trovadorismo que encontramos a repetição como uma característica peculiar à poesia trovadoresca medieval, mediante o recurso do paralelismo, artifício expressivo caracterizado por um re� nado sistema de repetições. A poesia moderna, por sua vez, encontrou na repetição uma força dinamizadora do discurso. Nos cânticos cívicos e sacros, a repetição de versos e estrofes é algo muito comum e tem um efeito expressivo muito grande, por imprimir na mente do indivíduo o conteúdo da mensagem que expressa. Estudando a repetição, pode-se observar facilmente que o seu objetivo é o de ativar a imaginação, sustentar uma ideia ou pensamento por um determinado tempo, imprimir uma imagem na mente mediante o “martelar” constante de determinadas palavras ou frases e até, conforme o caso, persuadir o receptor da mensagem, envolvendo-o emocionalmente. É importante observar ainda que a repetição não é inócua, isto é, a palavra que se repete não é exatamente igual à primeira palavra da série reiterativa. Não fosse assim, a repetição num discurso político, por exemplo, não seria uma fórmula de retórica, não comoveria ninguém. O certo é que a segunda palavra repetida tem uma carga afetiva que contribui inclusive para modi� car a prosódia do vocábulo, sendo pronunciada com mais altura e ênfase. Seguindo essa linha de pensamento, toma-se como exemplo a cantiga de roda: “Eu sou pobre, pobre, pobre...”. O último enunciado do vocábulo pobre não tem o mesmo signi� cado do primeiro, pois, ao repetir-se, a signi� cação do primeiro ascende a um grau superlativo, cuja intensidade é o desdobramento do próprio adjetivo pobríssimo. O que acabamos de mostrar para o adjetivo, vale para toda palavra. Ao dizer, por exemplo, que do alto do edifício, veem-se � ores, � ores, � ores, � ores, o sintagma já não se refere vagamente a � ores, mas a uma grande quantidade delas, a um jardim. Podemos inferir que toda reiteração possui virtudes 379 RECURSOS DE REPETIÇÃO PROMILITARES.COM.BR intensi� cadoras de signi� cado. Essa intensi� cação obtida ao se repetir a palavra é individualizadora, isto é, tem a particularidade de dar à língua � ns poéticos. Não há dúvida de que não são exatamente idênticos os signi� cantes e os signi� cados de uma cadeia repetitiva. Do contrário, a reiteração perderia sua função poética e deixaria de ser expressiva para se tornar um mero vício tautológico. Podemos avaliar a importância da reiteração no discurso poético pela poesia de Cecília Meireles Jogo de Bola. A bela bola rola: A bela bola do Raul Bola amarela A da Arabela A do Raul Azul Rola a amarela E pula a azul A bola é mole É mole e rola A bola é bela, É bela e pula É bela rola e pula, É mole , amarela, azul. A de Raul é de Arabela, E a de Arabela é de Raul. A série reiterativa desta poesia comunica o ato de rolar, isto é, dar voltas em torno de si; os fonemas de bola, rola, Arabela, bela, amarela, azul e Raul dão entoação e sugerem o movimento repetitivo da bola rolando, ou seja, em constante movimento como num fogo de bola. Por último, a poesia permite-nos tanto uma informação linguística, quanto um traço afetivo levados ao máximo na cadeia, traduzindo intensamente a ação de quem está girando em torno de si num movimento ininterrupto e lento, marcado pela a posição � nal do fonema [l] e pela reiteração dos elementos da série reiterativa. Como a repetição se destaca por sua natureza retórica, tendo em vista a sua função proeminentemente persuasiva, pode ser usada, ainda que com cautela, numa redação argumentativa. Em síntese, reconhecemos que a repetição nada mais é do que a recorrência intencional, com ou sem variações, de unidades linguísticas formais, ou semânticas, num determinado enunciado. Por conseguinte, podemos dizer, então, que a identidade da repetição está na natureza do elemento repetido e na intencionalidade de quem repete. EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO I 01. Leia o poema a seguir, de José Paulo Paes, e faça o que se pede. A CASA Vendam logo esta casa, ela está cheia de fantasmas. Na livraria, há um avô que faz cartões de boas-festas com corações de purpurina. Na tipogra� a, um tio que imprime avisos fúnebres e programas de circo. Na sala de visitas, um pai que lê romances policiais até o � m dos tempos. No quarto, uma mãe que está sempre parindo a última � lha. Na sala de jantar, uma tia que lustra cuidadosamente o seu próprio caixão. Na copa, uma prima que passa a ferro todas as mortalhas da família. Na cozinha, uma avó que conta noite e dia histórias do outro mundo. No quintal, um preto velho que morreu na Guerra do Paraguai rachando lenha. E no telhado um menino medroso que espia todos eles; só que está vivo: trouxe-o até ali o pássaro dos sonhos. Deixem o menino dormir, mas vendam a casa, vendam-na depressa. Antes que ele acorde e se descubra também morto. (José Paulo Paes. Prosas seguidas de odes mínimas) Assinale a alternativa INCORRETA. a) A atitude fundamental da lírica é a recordação, o que pode resultar numa sobreposição temporal. Desta forma, o tempo se embaralha e presente e passado se fundem. No poema, são os fatos e não os verbos que determinam essa fusão temporal. b) O texto é uma fusão de características da épica e da lírica. No que diz respeito à lírica, sobressaem a repetição, a concisão, a fusão entre sujeito e mundo evocado. E, sobre a épica, destacam-se a presença de personagens, uma história que se conta. c) A atmosfera onírica que percorre o texto confere um caráter sobrenatural aos acontecimentos, permitindo que coisas impossíveis se realizem, tais como “lustra cuidadosamente seu próprio caixão” e “No quintal, um preto velho que morreu na Guerra do Paraguai rachando lenha”. d) Este poema em prosa narra em primeira pessoa a história de um menino assombrado pela presença dos mortos de sua família. Tendo em vista o clima onírico em que os acontecimentos se desenrolam, não é possível saber quem é esse “menino medroso que espia todos eles”. 02. Atenção aos seguintes textos: CARTAS DE LEITORES Já conhecemos nossos governantes e políticos, suas índoles, seus defeitos, suas capacidades limitadas para soluções e amplas para confusões. Só não conhecíamos ainda nossos manifestantes, se é que assim se pode dizer. Nada justi� ca a agressão física, seja qual for a manifestação, seja quem for o agredido ou o agressor. Nada justi� cará, jamais, a agressão sofrida pelo governador Mário Covas, por mais digna que fosse a manifestação. O que causa espanto é que se tratava de uma manifestação de professores. É esse o papel de um educador? (ÁVILA, Marcelo Maciel. O Globo, 03/06/2000.) O paísestá chocado com as agressões que os representantes do povo estão sofrendo. As autoridades e a imprensa nacional têm-se manifestado severamente contra esses atos. Primeiro foi uma paulada no governador de São Paulo, depois um ovo no ministro da Saúde e, em 1º de junho, outro ataque ao governador Mário Covas. O vice-presidente da República disse que o governador merece respeito. Concordo. Mas os demais cidadãos brasileiros não merecem? O ministro da Justiça cobrou punição judicial para os agressores, a� rmando que a última manifestação transpusera os limites do tolerável. E a situação de extrema violência que nós, cariocas, estamos vivendo? Quando o ministro vai achar que foram transpostos os limites do tolerável? (SILVA, Arthur Costa da. O Globo, 03/06/2000.) Em geral, esse tipo de carta no jornal busca convencer os leitores de um dado ponto de vista. Por causa dessa intenção, é possível veri� car que ambas as cartas transcritas se caracterizam por: a) � nalizar com perguntas retóricas para expressar sua argumentação. b) iniciar com considerações gerais para contestar opiniões muito difundidas. c) utilizar orações de estruturação negativa para defender a posição de outros. d) empregar estruturas de repetição para reforçar ideias centrais da argumentação. 03. Leia o texto: UM BOI VÊ OS HOMENS Tão delicados (mais que um arbusto) e correm e correm de um para outro lado, sempre esquecidos de alguma coisa. Certamente, falta-lhes não sei que atributo essencial, posto se apresentem nobres e graves, por vezes. Ah, espantosamente graves, até sinistros. Coitados, dir-se-ia que não escutam nem o canto do ar nem os segredos do feno, como também parecem não enxergar o que é visível e comum a cada um de nós, no espaço. E � cam tristes... (Carlos Drummond de Andrade) 380 RECURSOS DE REPETIÇÃO PROMILITARES.COM.BR Pela leitura dos versos “Tão delicados (mais que um arbusto) e correm / e correm de um para outro lado [...]” (v. 01 - 02), pode-se a� rmar que a repetição estilística do conectivo e assume o seguinte sentido na caracterização dos homens: a) Revela uma gravidade pessoal. b) Enfatiza uma atitude obsessiva. c) Aponta uma inquietude interior. d) Insinua uma crueldade escondida. 04. Observe o poema: Quando eu nasci, um anjo torto desses que vivem na sombra disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida. As casas espiam os homens que correm atrás de mulheres. A tarde talvez fosse azul, não houvesse tantos desejos. [...] Meu Deus, por que me abandonaste se sabias que eu não era Deus se sabias que eu era fraco. Mundo mundo vasto mundo, se eu me chamasse Raimundo seria uma rima, não seria uma solução. Mundo mundo vasto mundo mais vasto é o meu coração. (Carlos Drummond de Andrade. Obra completa. Rio de Janeiro: Aguilar, 1964. p. 53.) No verso “Meu Deus, por que me abandonaste”, Drummond retoma as palavras de Cristo, na cruz, pouco antes de morrer. Esse recurso de repetir palavras de outrem equivale a: a) Emprego de termos moralizantes. b) Uso de vício de linguagem pouco tolerado. c) Repetição desnecessária de ideias. d) Emprego estilístico da fala de outra pessoa. e) Uso de uma pergunta sem resposta. EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO II 01. Observe o poema abaixo: CONFIDÊNCIA DO ITABIRANO Alguns anos vivi em Itabira. Principalmente nasci em Itabira. Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro. Noventa por cento de ferro nas calçadas. Oitenta por cento de ferro nas almas. E esse alheamento do que na vida é porosidade e comunicação. A vontade de amar, que me paralisa o trabalho, vem de Itabira, de suas noites brancas, sem mulheres e sem horizontes. E o hábito de sofrer, que tanto me diverte, é doce herança itabirana. De Itabira trouxe prendas diversas que ora ofereço: este São Benedito do velho santeiro Alfredo Duval; este couro de anta, estendido no sofá da sala de visitas; este orgulho, esta cabeça baixa... Tive ouro, tive gado, tive fazendas. Hoje sou funcionário público. Itabira é apenas uma fotogra� a na parede. Mas como dói! (Carlos Drummond de Andrade In: Antologia poética. Rio de Janeiro: Record, 2006, p. 66) Sobre o texto, pode-se a� rmar que a) o segundo verso fornece uma informação mais geral do que a mensagem transmitida no primeiro verso, reiterando-a e ampliando-a. b) a dor sofrida pelo poeta advém da saudade da infância, porque este tempo antigo é marcado por um poder aquisitivo de que não desfruta no presente. c) no verso 17, a repetição do verbo “ter” contrasta com a única ocorrência do verbo “ser” do verso seguinte, sugerindo a busca do poeta pela sua essência. d) a trajetória traçada pelo poeta em “Con� dência do itabirano”, embora repleta de lacunas e cheia de idas e vindas a Itabira, apresenta-se de forma linear. e) o poema apresenta como temática central a dor antecipada do poeta por entender que esquecimento se sobrepõe à memória. TEXTO PARA AS QUESTÕES 02 E 03 FORA DE SI Eu � co louco Eu � co fora de si Eu � ca assim Eu � ca fora de mim Eu � co um pouco Depois eu saio daqui Eu vai embora Eu � co fora de si Eu � co oco Eu � ca bem assim Eu � co sem ninguém em mim (Arnaldo Antunes) 02. Quanto aos procedimentos estilísticos empregados por Arnaldo Antunes em seu poema, pode-se destacar a a) repetição de palavras (anáfora), metáforas e personi� cação. b) rimas, exploração expressiva do desvio sintático e redondilhas. c) exploração rítmica e redondilhas. d) repetição de palavras (anáfora) e rimas. e) exploração de imagens em uma estrutura mínima e ausência de ritmo. 03. A respeito do comportamento sintático-semântico dos diversos usos do verbo � car no poema “Fora de si”, pode-se a� rmar que a) na maioria dos empregos, o verbo � car funciona como verbo intransitivo com o valor de permanecer, enquanto, no verso 5, atua como verbo de ligação com o valor de tornar-se. b) na maioria dos empregos, o verbo � car funciona como verbo de ligação com o valor de permanecer, enquanto, no verso 5, atua como verbo intransitivo com o valor de tornar-se. c) na maioria dos empregos, o verbo � car funciona como verbo transitivo direto, enquanto, no verso 5, funciona como verbo intransitivo, tendo nos dois casos o valor de permanecer. d) na maioria dos empregos, o verbo � car funciona como verbo transitivo direto, enquanto, no verso 5, atua como verbo intransitivo, tendo nos dois casos o valor de ser. e) na maioria dos empregos, o verbo � car funciona como verbo de ligação com o valor de tornar-se, enquanto, no verso 5, atua como verbo intransitivo com o valor de permanecer. 381 RECURSOS DE REPETIÇÃO PROMILITARES.COM.BR 04. Leia o poema a seguir: POÉTICA 1 Que é a Poesia? uma ilha cercada de palavras por todos os lados. 2 Que é o Poeta? um homem que trabalha o poema com o suor do seu rosto Um homem que tem fome como qualquer outro homem. (RICARDO, Cassiano. Jeremias Sem-Chorar. Rio de Janeiro: José Olympio, 1964) A repetição da palavra “homem” na segunda estrofe exempli� ca a seguinte característica: a) variação semântica b) vício de linguagem c) reiteração expressiva d) onomatopeia modernista 05. Leia o poema abaixo: BEM NO FUNDO no fundo, no fundo, bem lá no fundo, a gente gostaria de ver nossos problemas resolvidos por decreto a partir desta data, aquela mágoa sem remédio é considerada nula e sobre ela – silêncio perpétuo extinto por lei todo o remorso, maldito seja quem olhar pra trás, lá pra trás não há nada, e nada mais mas problemas não se resolvem, problemas têm família grande, e aos domingos saem todos a passear o problema, sua senhora e outros pequenos probleminhas (LEMINSKI, Paulo. Distraídos venceremos. 3a ed. São Paulo: Brasiliense, 1990.) A repetição é empregada no poema de Leminski como recurso expressivo. Considerando os elementos que foram enfatizados por meio da repetição no primeiro e no segundo momento do texto, explicite os espaços subjetivos construídos por esse recurso. TEXTO PARA AS QUESTÕES 06 E 07 NENHUM CARTÃO DE NATAL É MAIS BONITO QUE O SOM DA SUA VOZ “Eu te amo, te adoro, morrode saudade.” “Este ano a gente não vai poder ir, mas no ano que vem é certeza.” “A coisa que eu mais queria era estar perto de você.” “Seria tão bom que você estivesse aqui.” Frases como estas, é sempre melhor ouvir do que ler. Nenhum cartão de Natal, por mais bonito que seja, vai conseguir comunicar o carinho, o amor, a saudade que a voz da gente transmite. Este ano, passe a mão no telefone e use o DDD como extensão do seu afeto, do seu abraço, do seu calor humano, do seu beijo. Telefone existe pra isso mesmo. 06. Identi� que a passagem em que a progressão textual se dá pela repetição e pela retomada de signi� cados que resumem, enfaticamente, a mensagem expressa pela patrocinadora “TELAMAZON”. 07. Transcreva a frase completa que exempli� ca o uso de um pronome que apresenta, sob o aspecto sintático-semântico, um reforço e uma retomada de frases anteriormente citadas. GABARITO EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO I 01. D 02. B 03. C 04. C EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO II 01. C 02. D 03. E 04. C 05. No primeiro momento, os termos repetidos – “no fundo, no fundo” – remetem para a interioridade, para a alma humana. No segundo momento, os termos repetidos remetem para o passado – “pra trás, pra trás” – e para seu esvaziamento – “nada, nada mais”. 06. Este ano, passe a mão no telefone e use o DDD como extensão do seu afeto, do seu abraço, do seu calor humano, do seu beijo. Telefone existe pra isso mesmo. 07. “Frases como estas, é sempre melhor ouvir do que ler”. “Telefone existe pra isso mesmo”. ANOTAÇÕES 382 RECURSOS DE REPETIÇÃO PROMILITARES.COM.BR
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