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Apostila 2013 - EXU o GUARDIÃO da LUZ

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COLÉGIO DE UMBANDA SAGRADA PENA BRANCA – APOSTILA DO CURSO EXU, O GUARDIÃO DA LUZ
EXU - O GUARDIÃO DA LUZ
APOSTILA DO CURSO – ORGANIZADA POR PAI ALEXANDRE CUMINO
“EXU – O GUARDIÃO DA LUZ”
Curso ministrado por Alexandre Cumino
Leitor, se este material chegou a suas mãos, é porque você estudou comigo ou recebeu de algum de meus alunos, portanto antes de prosseguir, leia atentamente estas poucas linhas de apresentação e introdução.
“Exu – O Guardião da Luz” é o nome deste curso desenvolvido por mim com o objetivo de desmistificar Exu na Umbanda. Toda a base deste conteúdo se sustenta na Teologia de Umbanda Sagrada, idealizada por Rubens Saraceni. Uma parte deste material e uma parte deste conteúdo fazem parte do Curso de Doutrina e Teologia de Umbanda Sagrada.
Pelo fato de ser um curso focado em Exu, o conteúdo deste tema passa a ser mais abrangente neste curso que em qualquer outro ministrado por mim, e consta uma quantidade de material que aborda Exu em outras tradições, o que não quer dizer que eu siga ou pratique algo que não seja de Umbanda Sagrada e sim que nosso estudo não é limitado e que temos a liberdade de estudar todas as tradições.
Por exemplo: eu não faço sacrifício animal, mas existe um texto meu explicando o que é um sacrifício animal; eu não associo exus a demônios da goécia (magia negativa europeia), mas existe uma lista aqui que os relaciona; eu não pratico Candomblé nem Culto de Nação, mas existe texto aqui que comenta alguns aspectos de Exu nestas tradições. É importante ressaltar que este é um material de informações extras sobre Exu, o material usado como base para estudar Exu na Teologia de Umbanda Sagrada são os livros: “Guardião da Meia Noite”, “Livro de Exu”, “Orixá Exu” e mais a série de Guardiões, psicografados por Rubens Saraceni e publicadoS por Editora Madras (www.madras.com.br). Recomendo toda a obra do Rubens Saraceni no curso, já que todo seu conteúdo foi psicografado por ele, e aqui abordamos principalmente a série dos guardiões.
Este material faz parte de um contexto, Teologia de Umbanda Sagrada, e fora deste contexto pode ser que este material seja mal interpretado. Portanto, o curso não pode ser avaliado apenas por esta simples apostila de apoio.
O objetivo deste material também é ir um pouco além de nosso programa e satisfazer algumas das dúvidas e curiosidades dos alunos acerca de Exu. 
Não faz parte desta apostila e nem deste curso a abordagem sobre Pomba-gira e Exu-Mirim, que são tratados em um curso e material à parte.
Boa leitura e bons estudos.
Que Exu nos abençoe, ampare e guie!
Laroyê Exu!
Exu Mojubá!
Pai Alexandre Cumino.
Obs.: Caso este material chegue em suas mãos e queira repassá-lo por partes ou integralmente, peço que não omita a fonte origem do mesmo, bem como os autores de cada texto aqui citados.
ORIXÁ EXU
Para o estudo do Orixá Exu, em sua origem cultural, ou seja, em sua raiz africana, na cultura Nagô, de língua Yorubá, vamos recorrer a Pierre Verger, que foi o primeiro a publicar um estudo sério e coerente, com profundidade, sobre os Orixás Africanos – Divindades cultuadas em várias Nações da Cultura Nagô, que hoje correspondem à região da atual Nigéria e parte da República do Benin.
Os textos abaixo fazem parte dos livros Orixás – Pierre Fatumbi Verger (Ed. Corrupio, 2002 - Tradução de Maria Aparecida da Nóbrega) e Notas Sobre o Culto aos Orixás e Voduns, de Pierre Verger. Não se esqueça de que Verger está se referindo à forma como é entendido o Orixá Exu no Culto de Nação – na África. Ainda é importante lembrar que, com este texto, podemos ter uma ideia, mas que a compreensão mais abrangente implica em anos de estudo de assunto tão complexo que envolve uma cultura de valores muito diferentes dos nossos.
PARA ENTENDER O QUE É “MITO”
Também é importante ressaltar que os ensinamentos sobre os Orixás na Cultura Nagô-Yorubá são transmitidos por meio de mitos e lendas, criando toda uma mitologia, que assim como a grega ou outras mitologias apresentam suas divindades de forma muito humanas, retratadas em um contexto que nos leva às situações corriqueiras e até profanas com que nos deparamos.
Estas situações visam nos orientar na solução de problemas nossos e apresentar qual Orixá pode nos auxiliar em cada questão dependendo de seus êxitos e vitórias apresentados nas lendas. Quando se diz que um Orixá briga com outro, não é a um fato a que se está referindo, mas apenas uma forma de contar de maneira marcante quem é vencedor em tal questão, quem é o herói, arquétipos para nos auxiliar em algo.
Antes de entrar no assunto propriamente dito, vejamos o que pode-se entender por Mito, na palavra de José Severino Croatto:
O mito é o relato de um acontecimento originário, no qual os deuses agem e cuja finalidade é dar sentido a uma realidade significativa.[footnoteRef:1] [1: José Severino Croato, As Linguagens da Experiência Religiosa, Ed. Paulinas, 2004. p.209 ] 
Joseph Campbell, o maior mitólogo de todos os tempos, no titulo Tu és Isso, define Mito como uma Metáfora. Usa como exemplo “John corre como um veado”, onde a metáfora está em dizer que “John é um veado” e faz a seguinte reflexão:
Metade da população mundial acha que as metáforas de suas tradições religiosas, por exemplo, são fatos. E a outra metade afirma que não são fatos, de forma alguma. O resultado é que temos indivíduos que se consideram fieis porque aceitam as metáforas como fatos, e outros que se julgam ateus porque acham que as metáforas religiosas são mentiras. [footnoteRef:2] [2: Joseph Campbell. Tu és Isso Ed. Madras, 2003. pp.24-25] 
Continuando com Campbell, no titulo Mitos de Luz[footnoteRef:3] vamos encontrar mais uma reflexão importante sobre mito, para o entendimento do “Mito na Umbanda”: [3: Joseph Campbell. Mitos de Luz Ed. Madras, 2006 ] 
Mitos não pertencem, propriamente, à mente racional. Em vez disso, borbulham das profundezas do poço daquilo que Carl Jung chamava inconsciente coletivo.
Na minha opinião, o que ocorre com a nossa mitologia aqui no Ocidente é que os símbolos arquetípicos mitológicos vieram a ser interpretados como fatos. Jesus nasceu de uma virgem. Jesus ressuscitou dos mortos. Jesus subiu ao Céu. Infelizmente, em nossa era de ceticismo cientifico, sabemos que, na verdade, tais fatos não aconteceram e, por essa razão, formas míticas são consideradas mentiras. O termo mito significa atualmente mentira e, assim sendo, acabamos perdendo os símbolos e o mundo misterioso de que falam [...] (p.19)
A mitologia é composta pelos poetas a partir de seus insights e percepções. Mitologias não são inventadas, são descobertas. É mais fácil prever que sonho se vai ter hoje à noite do que inventar um mito. Os mitos provêm da região mística da experiência essencial [...] (p.21)
Vamos encontrar nas religiões e ordens místico-filosóficas os mais variados tipos de “Mitos Fundantes”, como o mito de Adão e Eva para as três grandes religiões monoteístas ocidentais (Judaísmo, Cristianismo e Islamismo); o mito de Olorun e Oxalá na cultura Yorubá; o mito de Urano, Cronos e Zeus na cultura grega; o mito de Aton, Ptah e Amon na Cultura Egípcia e outros mais – cada religião possui seus mitos para lhe dar sentido.
 
ORIXÁS
Os Orixás na África
Por Pierre Verger
Fonte: Orixás, Ed Corrupio
O termo “Orixá” nos parecera outrora relativamente simples, da maneira como era definido nas obras de alguns autores que se copiaram uns aos outros sem grande discernimento, na segunda metade do século passado e nas primeiras décadas deste. Porém, estudando o assunto com mais profundidade, constatamos que sua natureza é mais complexa. Léo Frobenius é o primeiro a declarar, em 1910, que “a religião dos iorubás tal como se apresenta atualmente só gradativamente tornou-se homogênea. Sua uniformidade é o resultado de adaptações e amálgamas progressivos de crenças vindas de várias Direções”. 
Atualmente, setenta anos depois, ainda não há, em todos os pontos do território chamado Iorubá, um panteão dos orixás bem hierarquizado, único e idêntico. As variações locais demonstram quecertos orixás, que ocupam uma posição dominante em alguns lugares, estão totalmente ausentes em outros. O culto de Xangô, que ocupa o primeiro lugar em Oyó, é oficialmente inexistente em Ifé, onde um deus local, Oramfé, está em seu lugar com o poder do trovão. Oxum, cujo culto é muito marcante na região de Ijexá, é totalmente ausente na região de Egbá. Iemanjá, que é soberana na região de Egbá, não é sequer conhecida da região de Ijexá. A posição de todos estes orixás é profundamente dependente da história da cidade onde figuram como protetores Xangô era, em vida, o terceiro rei de Oyó. Oxum, em Oxogbô, fez um pacto com Larô, o fundador da dinastia dos reis locais, e em consequência a água nessa região é sempre abundante. Odudua, fundador da cidade de
Ifé, cujos filhos tornaram-se reis das outras cidades iorubás, conservou um caráter mais histórico e até mesmo mais político que divino. Veremos mais adiante que as pessoas encarregadas de evocar Odudua não entram em transe, o que destaca seu caráter temporal...
[...]A religião dos orixás está ligada à noção de família. A família numerosa, originária de um mesmo antepassado, que engloba os vivos e os mortos. O orixá seria, em princípio, um ancestral divinizado, que, em vida, estabelecera vínculos que lhe garantiam um controle sobre certas forças da natureza, como o travão, o vento, as águas doces ou salgadas, ou, então, assegurando-lhe a possibilidade de exercer certas atividades como a caça, o trabalho com metais ou, ainda, adquirindo o conhecimento das propriedades das plantas e de sua utilização...
[...]O orixá é uma força pura, axé imaterial que só se torna perceptível aos seres humanos incorporando-se em um deles. Esse ser escolhido pelo orixá, um de seus descendentes, é chamado seu elégùn, aquele que tem o, privilégio de ser “montado” , gùn, por ele. Torna-se o veículo que permite ao orixá voltar a terra para saudar e receber as provas de respeito de seus descendentes que o evocaram.
Os elégùn muitas vezes são chamados iyawóòrìxà (iaô), mulher do orixá. Este termo tanto se aplica aos homens quanto às mulheres e não evoca uma ideia de união ou de posse carnal, mas a de sujeição e de dependência... (VERGER, Ed. Corrupio, 2002)
ORIXÁ EXU
Por Pierre Verger
Fonte: Orixás, Ed Corrupio
Ésú na África
Exu é um orixá ou um ebora de múltiplos e contraditórios aspectos, o que torna difícil defini-lo de maneira coerente. De caráter irascível, ele gosta de suscitar dissensões e disputas, de provocar acidentes e calamidades públicas e privadas. É astucioso, grosseiro, vaidoso, indecente, a tal ponto que os primeiros missionários, assustados com essas características, compararam-no com o Diabo, dele fazendo o símbolo de tudo o que é maldade, perversidade, abjeção, ódio, em oposição à bondade, à pureza, à elevação e ao amor de Deus.
Entretanto, Exu possui o seu lado bom e, se ele é tratado com consideração, reage favoravelmente, mostrando-se serviçal e prestativo. Se, pelo contrário, as pessoas se esquecerem de lhe oferecer sacrifícios e oferendas, podem esperar todas as catástrofes. Exu revela-se, talvez, desta maneira o mais humano dos orixás, nem completamente mau, nem completamente bom.
Ele tem a qualidade dos seus defeitos, pois é dinâmico e jovial, constituindo-se assim, um orixá protetor, havendo mesmo pessoas na África que usam orgulhosamente nomes como Ésúbíyìí (“concebido por Exu”), ou Èsùtósìn (“Exu merece ser adorado”).
Como personagem histórica, Exu teria sido um dos companheiros de Odùduà, quando da sua chegada a Ifé, e chamava-se Èsù Obasin. Tornou-se, mais tarde, um dos assistentes de Orunmilá, que preside a adivinhação pelo sistema de Ifá. Segundo Epega, Exu tornou-se rei de Kêto sob o nome de Èsù Alákétu.
É Exu que supervisiona as atividades do mercado do rei em cada cidade: o de Oyó é chamado Èsù Akesan.
Como orixá, diz-se que ele veio ao mundo com um porrete, chamado ogó, que teria a prioridade de transportá-lo, em algumas horas, a centenas de quilômetros e de atrair, por um poder magnético, objetos situados a distâncias igualmente grandes.
Exu é o guardião dos templos, das casas, das cidades e das pessoas. É também ele que serve de intermediário entre os homens e os deuses. Por essa razão é que nada se faz sem ele e sem que oferendas lhe sejam feitas, antes de qualquer outro orixá, para neutralizar suas tendências a provocar mal-entendidos entre os seres humanos e em suas relações com os deuses e, até mesmo, dos deuses entre si.
Exu teve numerosas brigas com os outros orixás, nem sempre saindo vencedor. Certas lendas nos contam seus sucessos e seus reveses nas suas relações com Oxalá, ao qual fez passar alguns maus momentos, em vingança por não haver recebido certas oferendas, quando Oxalá foi enviado por Olodumaré, o deus supremo, para criar o mundo. Exu provocou-lhe uma sede tão intensa que Oxalá bebeu vinho de palma em excesso, com consequências desastrosas...
[...] O lugar consagrado a Exu entre os iorubas é constituído de um pedaço de pedra porosa, chamada yangi[footnoteRef:4] , ou por um montículo de terra grosseiramente modelado na forma humana, com olhos, nariz e boca assinalados com búzios; ou então ele é representado por uma estátua, enfeitada com fieiras de búzios, tendo em suas mãos pequenas cabaças (àdò), contendo os pós por ele utilizados em seus trabalhos. Seus cabelos são presos numa longa trança, que cai por trás e forma, em cima, uma crista para esconder a lâmina da faca que ele tem no alto do crânio. Isso por sinal, é dito em uma de suas saudações: [4: Este “lugar consagrado” é onde se faz firmeza ou assentamento, Yangi é a pedra de Laterita Vermelha, original da África] 
 “Sonso abè kò lòri erù”.
[“A lâmina (sobre a cabeça) é afiada, ele não tem (pois) cabeça para carregar fardos.”]
[...] Exu pode fazer coisas extraordinárias que se exprimem no seus oríkì , os louvores tradicionais:
“Exu faz o erro virar acerto e o acerto virar erro”.
	“É numa peneira que ele transporta o azeite que compra no mercado; e o azeite não escorre dessa estranha vasilha.”
“Ele matou um pássaro ontem, com uma pedra que somente hoje atirou. Se ele zanga pisa nessa pedra e ela põe-se a sangrar.”
“Aborrecido, ele senta-se na pele de uma formiga”.
“ Sentado, sua cabeça bate no teto; de pé, não atinge nem mesmo a altura do fogareiro”.
Légba
 Entre os fon do ex-Daomé, Èsù-Elègbára tem o nome de Légba. Ele é representado por um montículo de terra em forma de homem acocorado, ornado com um falo de tamanho respeitável. Esse detalhe deu motivo a observações escandalizadas, ou divertidas, de numerosos viajantes antigos e fizeram-no passar, erradamente, pelo deus da fornificação. Esse falo ereto nada mais é do que a afirmação de seu caráter truculento, atrevido e sem vergonha e de seu desejo de chocar o decoro...
Exu no Novo Mundo
[...] O lugar consagrado a Exu é, geralmente, ao ar livre ou no interior de uma pequena choupana isolada ou, ainda, atrás da porta de casa. É simbolizado por um tridente de ferro, plantado sobre um montículo de terra e, algumas vezes, por uma imagem, igualmente de ferro, representando o Diabo brandindo o tridente.
 	A segunda-feira é o dia da semana consagrado a ele. As pessoas que procuram a sua proteção usam colares de contas pretas e vermelhas. As oferendas, de animais e comida, como na África, são –lhe apresentadas antes das dos outros orixás.
 	Diz-se na Bahia que existem vinte e um Exus, segundo uns, e apenas sete, segundo outros. Alguns dos seus nomes podem passar por apelidos, outros parecem ser letras dos cânticos ou fórmulas de louvores. Eis alguns: Exu-Elegbá ou Exu-Elegbará e seus possíveis derivados: Exu-Bará ou Exu- Ibará, Exu-Alaketo, Exu-Laalu, Exu-Jelu, Exu-Akessan, Exu-Loná, Exu-Agbô, Exu-Larôye, Exu-Inan, Exu-Odara, Exu-Tiriri.
 	Assinalamos anteriormente que, antes de realizar o “xirê” dos orixás, faz-se, na Bahia, O “padê”, palavra que, como vimos, significa em ioruba encontro ou reunião, durante a qual Exu é chamado, saudado,cumprimentado e enviado ao além com uma dupla intenção:convocar os outros deuses para a festa e, ao mesmo tempo, afastá-lo para que não perturbe a boa ordem da cerimônia com um dos seus golpes de mau gosto.
ESU ELEGBARA, LEGBA – NA ÁFRICA 
Por Pierre Verger
Fonte: Notas Sobre o Culto aos Orixás e Voduns – Ed. Edusp
Seu lugar de origem é impreciso.
No Daomé, segundo Bernard Maupoil, diz-se que “era um homem que se tornou Vodun em Ijelu, na região de Ayo, a alguns dias de distância de Ile Ife, isto é, na Nigéria”. Trata-se sem dúvida, de Ijebu.
Em Ijebu, segundo Onadele Epega, dizem que ele foi posto no mundo, em Ile Ife por Oloja, e se teria tornado o primeiro rei de Ketu (Ala Ketu) e ancestral do primeiro rei Egba.
Em Ile Ife, segundo Frobenius, acredita-se que ele tenha vindo do leste, localidade far-se-ia uma distinção entre Seu, cujo culto se praticaria sobretudo no Norte, e Elegba, divindade fálica no Sul, com o qual Seu teria tendência a identificar-se.
Segundo o padre Baudin, seu templo principal situa-se em Woro, perto de Badagris. Ellis, finalmente, indica que sua principal residência seria igbeti, em uma montanha perto do rio Níger, onde ele teria um palácio de cobre e numerosos servidores (seria o palácio de Sango, a que se refere a lenda e que se situaria na antiga Oyo Katunga, perto de Igbeti e nas proximidades do Niger?).
Devido as suas funções de mensageiro dos outros Orisa e à suscetibilidade de seu caráter, é preciso tomar cuidado, quando se realizam as cerimônias, para fazer-lhe oferendas antes dos demais Orisa, para que a celebração das festas transcorra com calma e dignidade. A origem dessa precedência baseia-se, em princípio, em diversas lendas...
[...] Lydia Cabrera escreve que:
Em Cuba, os santeros contam que este privilégio foi concedido a Esu por Olofin, o pai eterno. Este sofria de um mal misterioso que piorava dia-a-dia e o impedia de realizar seu trabalho. Todos os santos haviam tentado, em vão, curá-lo ou ao menos aliviá-lo, mas seus remédios não haviam dado resultado algum e o pai de todos os Orisa e criador já não conseguia mais andar e estava muito debilitado. Elegba ainda era um menino e apesar de sua pouca idade pediu a sua mãe para levá-lo á casa do velho Olofin , garantindo que o curaria. Escolheu determinada erva, com a qual fez uma infusão, e assim que o velho engoliu aquela bebida amarga, com a terrível careta que se faz nessas ocasiões, sentiu um bem-estar imediato, a regressão de seus incômodos fisiológicos e uma melhoria de seu estado que o conduziu rapidamente ao caminho da cura completa. Reconhecido. Olofin ordenou aos Orisa que concedessem a Elegba as primícias de suas oferendas.
Transcrições de alguns textos sobre Esu Elegbara Legba
 	Os antigos viajantes muito falaram dessa divindade que a todos impressionava por seu aspecto erótico.
 	Pruneau de Pommegorge foi o primeiro que, tanto quanto podemos saber, descreveu um Legba. Eis como apresenta o Legba de Ouidah, onde permaneceu de 1743 a 1765:
 
A um quarto de légua dos fortes os dahometanos ainda têm um deus Príapo, feito grosseiramente de terra, com seu principal atributo, que é enorme e exagerado em relação á proporção do restante do corpo. As mulheres, sobretudo, vão oferecer-lhe sacrifícios, de acordo com sua devoção e com o pedido que lhe farão.
 Essa má estátua encontra-se debaixo do forro de uma choupana que a abriga da chuva.
 
Duncan passou por Ouidah em 1845 e assim o descreveu:
 
A forma representa supostamente um homem, tão próximo quanto um artista desajeitado e estúpido possa fazer. Ela é de argila, do tamanho de um homem e é colocada em quase todos os lugares públicos da cidade. As partes baixas do corpo da estátua são grandes, desproporcionais e expostas da maneira mais nojenta. Em certas épocas põe-se uma mesa para ele, da qual, evidentemente, tudo é apropriado pelo sacerdote ou feiticeiro. Eles demonstram sentir-se felizes quando são convencidos de que o fetiche apreciou sua refeição. Alguma vezes ela permanece intacta, sinal certo de que o fetiche não se satisfez com a quantidade. Em consequência, é preciso aumentá-la para apaziguá-lo.
 	Bowen, que estava na Nigéria desde 1852, foi o primeiro a fazer alusão a Esu em Abéokuta: 
 É costumeiro entre os europeus, chamar os ídolos dos nativos de diabos. Os próprios nativos referem-se a um único diabo, se bem que acreditem na existência de diversos outros espíritos maus.Na língua Ioruba o diabo é denominado Esu o que voltou a ser enviado, que vem de Su, jogar fora; e Elegbara, o poderoso, devido a seu grande poder sobre as pessoas. O diabo não é considerado um dos Orisa mediadores, mas os Ioruba prestam-lhe culto por meio de sacrifícios, a fim de obter seus favores e impedi-lo de os prejudicar.
 	[...] Richard Burton, referindo-se a Esu, diz quase as mesmas coisas que Bowen. Com destino a Abomé, passou por Ouidah em 1864e, por sua vez, descreve Legba.
 
 Legba é um espetáculo medonho. Um amontoado de argila vermelha grosseiramente moldada por um desajeitado artista bárbaro imitando um homem que, segundo tudo indica, é como Júpiter. “Um diabo de deus que corre atrás de moças”.
 A imagem está agachada, como que rastejando diante de seus próprios atributos, tem os braços mais compridos do que os de um gorila, pés enormes e pernas de que não se pode falar.
 A cabeça é de terra ou de madeira e tem forma de um cone pontiagudo. Um salpico de argila representa o nariz, a boca é uma cutilada que vai de uma orelha a outra, os olhos e os dentes são feitos com búzios ou pintados de um branco lúgubre.
 Essa divindade ocupa quase todo o espaço de um pequenino templo coberto de palha e aberto dos lados.
 Em nove entre dez casos ele se torna um amontoado de pó de forma indeterminada, mas seria um sacrilégio remover os entulhos sagrados.
[...] Quase na mesma época, o abade Laffitte escreve o seguinte, em relação ao mesmo Legba:
 A horrenda estátua de Belfegor, grosseiramente moldada com argila, guarda a entrada de todas as casas; ela está á vista nas encruzilhadas e praças; encontramo-la a cada passo no campo, ora colocada aos pés das mais belas árvores, ora escondida no interior de pequenas cabanas de forma circular. Os negros têm a maior confiança nesses blocos de terra; levam-lhes as mais variadas oferendas: carnes, frutos, legumes, etc.; e estes são apenas pequenos presentes. Nos dias solenes, quando então querem obter algum favor de grande monta, o sangue corre em sua honra. Mais freqüentemente é um frango que é sacrificado; nas grandes ocasiões, a piedade do negro leva-o a oferecer um sacrifício um carneiro e algumas vezes, até mesmo um bode. Nesse último caso, o feiticeiro garante a mais elevada proteção do deus. Encarregado da imolação, guarda para si as vítimas; se gosta de frango, se aprecia carneiro..., adora bode.
 
 
 	[...] O abade Bouche escreve:
 
 Elegbara é o espírito do mal, o Belfegor dos Moabitas, o Príapo dos latinos, Deus Turpitudinis, como disse Orígenes; a estátua que o representa nada tem que não seja grotesco; é um amontoado de terra amassada e grosseiramente moldada, representando mais ou menos a cabeça e o busto do homem. Dois grandes búzios fazem o papel dos olhos, duas fileiras de dentes de cachorro ou de pequenas conchas formam a queixada; penas são implantadas no queixo, à maneira de barba... e um porrete, semelhante àquele de que antigo Líber se serviu para suas infames manobras. É assim que os negros representam o espírito imundo. Não hesitam em dar-lhe as insígnias da mais nojenta impudicícia. Aliás, não lhe dão o nome de “Echou”, que quer dizer excremento, sujeira?
 
LENDAS E MITOS DE EXU
A ORIGEM NAGÔ - YORUBÁ: EXU E OXALÁ
Por Alexandre Cumino
Olodumare, Senhor Supremo dos Nossos Destinos, também conhecido como Olorum, Senhor do Orum, criou o primeiro dos Orixás, Oxalá, e deu-lhe a incumbência de criar o mundo, entregando-lhe o saco da criação.
No momento da criação, já havia outros Orixás habitando o Orum. Oxalá foi aconselhado por Orumilá a oferendar o Orixá Exu antes deempenhar sua tarefa. Oxalá olvidou o conselho e partiu sem fazer suas oferendas, no que Exu usou de seus poderes, criando em Oxalá muita sede.
Chegando ao local onde o mundo seria criado, encontrou uma palmeira, com seu cajado, opaxorô, fez um furo na palmeira e bebeu seu vinho. Bebeu, bebeu, bebeu e logo depois adormeceu ao lado da palmeira. Exu lhe tomou o saco da criação e entregou ao Orixá Odudua, que, com a concessão de Olorum e as devidas oferendas, fez a tarefa que antes seria de Oxalá.
Ao acordar, Oxalá vê que o mundo já está criado e se dirige a Olorum para expor o ocorrido ao que o Senhor do Orum lhe dá uma nova incumbência, criar os homens. Oxalá toma o barro e com ele modela o homem e a mulher, porém não têm vida, assim chama Olorum para expor a questão, ao que este se aproxima e sopra o sopro da vida animando assim os homens e mulheres modelados por Oxalá.
Um mito é uma alegoria, uma metáfora que traz um simbolismo da vida e da criação. O mito oculta valores e orientações para a vida em sociedade e o entendimento da relação com o sagrado. Aqui neste mito da criação, um dos mais conhecidos da cultura Nagô–Yorubá, reinterpretado, encontramos muitos elementos para o entendimento e relacionamento com este universo mitológico dos Orixás.
Olodumare, Senhor Supremo dos Nossos Destinos, também conhecido como Olorum, Senhor do Orum (Céu ou a realidade que transcende a matéria), é Deus para a cultura Nagô. Este mito nos lembra de que até Oxalá deve oferendar Exu, pois nada se faz sem antes oferendar o dono da encruzilhada. Exu reina na encruzilhada entre o mundo material (Ayê) e o mundo mítico-espiritual (Orum), e ao passar por Exu, ao fazer o trânsito entre realidades, é necessário oferendá-lo, o que é uma questão de respeito e devoção.
Esta questão também nos lembra de que não devemos empreender uma tarefa sozinhos, devemos contar com amparo e ajuda dos outros, devemos ser humildes e ouvir os conselhos. Claro que não cremos que Oxalá seja arrogante ou que se desentenda com outros Orixás, mas em mitologia as questões e situações tão humanas são colocadas apenas para ensinar e criar uma forma de transmissão oral de fácil assimilação.
Veja que Oxalá criou o homem, mas, apenas Deus, Olorum, pode lhe dar a vida ou o sopro da vida. Quando Oxalá procura Olorum, ele é perdoado e absorve este mistério de Olorum, logo passa a ser o Orixá do perdão. Há também uma observação no que diz respeito aos excessos que nos fazem deixar de lado as responsabilidades e compromissos. Oxalá passa a não receber nada que seja alcoólico, pelo contrário, Oxalá passa a representar a sobriedade, a calma e a Paz.
Orumilá representa o Oráculo, aquele que conhece presente, passado e futuro, logo representa a onisciência de Deus prevendo o acontecimento e aconselhando seu filho mais velho, pois muitas vezes o mais velho deve procurar o mais novo. As interpretações de um mito não têm fim, cada observador terá uma visão diferente do mito.
EXU E OS DOIS AMIGOS – O EGO
Interpretado por Alexandre Cumino 
Dois amigos se orgulhavam muito de sua amizade e lealdade, eram vizinhos. Viviam bem, mas não realizavam oferenda a Exu. Certa tarde, se encontravam os dois, como de costume, conversando nos limites de sua propriedade, quando Exu passou por entre eles, usando um chapéu, metade branco e metade vermelho. 
Estranhando aquela figura entre eles, um comentou com outro:
- Muito estranho aquele homem de chapéu vermelho. 
- Chapéu vermelho, não. O chapéu era branco.
E assim passaram a discutir a cor do chapéu, entrando em briga e inimizade.
Esta é uma das lendas mais populares e conhecidas de Exu. Muitas vezes, Exu parece ser "o espírito de porco" na mitologia nagô-yorubá, mas o que não nos damos conta é que ele vem, também, para mexer e cutucar o nosso ego. 
O fato dos homens não fazerem oferenda a Exu diz muito a seu respeito, pois quem não oferenda Exu, não oferenda a ninguém, que passa uma ideia de autossuficiência com relação ao sagrado. Neste universo, dos Orixás, dizer que não se oferenda Exu, culturalmente em sua origem Nagô (Yorubá), é o mesmo que afirmar não ter religião. Seria o mesmo que um católico dizer que não vai à missa, ou que um muçulmano afirmar que não segue os preceitos dos cinco pilares de sua fé. Deste contexto é que vem o fato de estar desprotegido e, mitologicamente, isto ser visto como uma afronta a Exu, que aqui representa as forças do destino em relação ao seu Ego. 
O “outro”, este “amigo”, também pode representar o alter ego daquele que tem apenas a si mesmo como amigo e não faz oferenda a Exu. Esta situação aparece bem figurada no filme “Besouro”, em que Exu aparece para o personagem principal, que lhe pergunta: “O que você quer?”. Exu lhe chama de orgulhoso, vaidoso e diz que quer reverência. Ou seja, para Exu bastava bater cabeça, curvar-se, e se colocar em gesto de humildade perante ele para receber sua proteção. Enquanto o outro personagem, Chico, revoltado com seu destino, chuta a oferenda de Exu. Ali Chico não está chutando apenas algo de Exu, está chutando todos os valores sagrados de sua cultura, está chutando todos os valores de seus ancestrais, está chutando a fé de um povo. Algo bem parecido com o pastor que anos atrás chutou Nossa Senhora Aparecida em rede nacional. Lembrando que no filme o que se relata é um tempo em que não havia televisão, talvez a feira fosse o maior encontro social no contexto e Chico estava indo para a feira. 
Exu nos lembra o tempo todo que vivemos em sociedade e precisamos uns dos outros para bem viver, já que o ser humano é um ser relacional, que não existe fora da malha dos relacionamentos.
Por isso, se diz que "na Umbanda, sem Exu não se faz nada", o que não se limita a ele apenas, pois é Exu que abre a porta de comunicação deste mundo para outro mundo, entre o ayê (a terra) e o orun (o céu). 
Quanto aos dois amigos, o orgulho de uma amizade também pode ser elemento da vaidade humana que é colocada em xeque quando é questionada a verdade de cada um. O que vale mais: estar certo, ter razão ou ser feliz? Ser feliz é sempre um desprendimento do ego, e sempre que falamos de Exu os egos alheios se exaltam, principalmente quando dizemos que Exu faz o BEM.
Sabemos que Exu é justo, que está acima do bem e do mal, mas ainda assim sabemos que na Lei de Umbanda, e é o que nos interessa, Exu só deve ser evocado, invocado, clamado e chamado de bom coração e com boas intenções. Durante uma gira de Umbanda, quando Exu está incorporado dando consulta o seu trabalho é sempre no sentido de ajudar, amparar e esclarecer. Alguém que chega mal intencionado e procura Exu para prejudicar o próximo é alguém que está preso, acorrentado e escravizado no próprio EGO. E na Umbanda Exu também informa, esclarece e conscientiza de que tudo o que desejamos e fazemos ao próximo volta para nós mesmos.
Exu é o meu melhor amigo!
É ele que me ampara na subida e na descida! Com Exu, não importa se vamos ao céu ou ao inferno, importa apenas que estamos caminhando com fé em nosso próprio destino! No céu ou no inferno com Exu, estamos servindo a Deus! Exu pode sim descer nas trevas, pode até se instalar nas trevas, mas Exu não é trevas em hipótese alguma. Quando Exu desce nas trevas é para levar a Lei e a Luz, falando a mesma língua e se manifestando no mesmo universo da realidade em que se encontrar.
Quanto às lendas, são metáforas da vida que apresentam arquétipos semelhantes aos nossos e repetem as situações pelas quais nos deparamos nas nossas vidas. Cabe a nós ler, interpretar e compreender o seu simbolismo. Para saber mais, vamos estudar, aprender, interpretar e não falar mais bobagem sobre a nossa religião e também sobre a religião alheia. Sabemos que língua não tem osso, cada um fala o que quer, no entanto, quem fala o que quer ouve o que não quer. A semeadura é livre e a colheita obrigatória. Que cada um se coloque de frente com seu exu, com sua verdade, antes de questionar a verdade alheia e o que Exu fala por meio de outros que não o seu próprio ego.
EXU GANHA O PODER SOBRE AS ENCRUZILHADASExu não tinha riqueza, não tinha fazenda, não tinha rio, não tinha profissão, nem artes, nem missão. Exu vagabundeava pelo mundo sem paradeiro. Então, um dia, Exu passou a ir à casa de Oxalá.
Ia à Casa de Oxalá todo os dias. Na casa de Oxalá, Exu se distraía, vendo o velho fabricando seres humanos. Muitos e muitos também vinham visitar Oxalá, mas ali ficavam pouco, quatro dias, oito dias, e nada aprendiam. Traziam oferendas, viam o velho orixá, apreciavam sua obra e partiam.
Exu ficou na casa de Oxalá dezesseis anos. Exu prestava muita atenção na modelagem e aprendeu como Oxalá fabricava as mãos, os pés, a boca, os olhos, o pênis dos homens, a vagina das mulheres. Durante dezesseis anos ali ficou ajudando o velho orixá.
Exu não perguntava. Exu observava. Exu prestava atenção. Exu aprendeu tudo.
Um dia Oxalá disse a Exu para ir postar-se na encruzilhada por onde passavam os que vinham à sua casa. Para ficar ali e não deixar passar quem não trouxesse uma oferenda a Oxalá. Cada vez mais havia humanos para Oxalá fazer.
Oxalá não queria perder tempo recolhendo os presentes que todos lhe ofereciam. Oxalá nem tinha tempo para as visitas. Exu tinha aprendido tudo e agora podia ajudar Oxalá. Exu coletava os ebós para Oxalá. Exu recebia as oferendas e as entregas a Oxalá. Exu fazia bem o seu trabalho e Oxalá decidiu recompensá-lo. 
Assim, quem viesse à casa de Oxalá teria que pagar também alguma coisa a Exu. Quem estivesse voltando da casa de Oxalá também pagaria alguma coisa a Exu. Exu mantinha-se sempre a postos guardando a casa de Oxalá.
Armado de um Ogó, poderoso porrete, afastava os indesejáveis e punia quem tentasse burlar sua vigilância. Exu trabalhava demais e fez ali a sua casa, ali na encruzilhada. Ganhou uma rendosa profissão, ganhou seu lugar, sua casa. Exu ficou rico e poderoso.
Ninguém pode mais passar pela encruzilhada sem pagar alguma coisa a Exu.
EXU, O FILHO FAMINTO DE ORUNMILÁ
 
 "Um dia Orunmilá foi procurar  Oxalá em seu palácio. Orunmilá e sua mulher queriam ter um filho. Chegando ao palácio de Oxalá, Orunmilá  encontrou Exu Yangui sentado à esquerda da entrada principal. Já dentro do palácio, e diante do velho rei, Orunmilá fez seu apelo, escutando de Oxalá uma resposta negativa. 
O velho rei afirmou-lhe que ainda não era tempo da chegada de um filho. Orunmilá, insatisfeito e ao mesmo tempo curioso, perguntou à Oxalá quem era aquele menino sentado à porta do palácio e pediu ao rei se poderia levá-lo como filho. Oxalá garantiu-lhe que não era o filho ideal de se ter, ao que Orunmilá insistiu tanto em seu pedido que obteve a graça de Oxalá. 
Tempos depois nasceu Exu, filho de Orunmilá. Para espanto dos pais, nasceu falando e comendo tudo que estava a sua volta, acabando por devorar a própria mãe. Exu aproximou-se de Orunmilá para também comê-lo, entretanto o adivinho tinha consigo uma espada e enfurecido partiu para matar o filho. Exu fugiu, sendo perseguido por Orunmilá, que a cada espaço do céu alcançava-o, cortando Exu em duzentos e um pedaços. A cada encontro, o ducentésimo primeiro pedaço transformava-se novamente em Exu. Assim terminaram por atingir o último espaço sagrado e, como não tinham mais saída, resolveram entrar num acordo. Exu devolveu tudo o que havia comido, inclusive sua mãe, e em troca seria sempre saudado primeiro em todos os rituais".
ALUMAN E A SECA
Conta-se que Aluman estava desesperado com uma grande seca. Seus campos estavam áridos, a chuva não caía. As rãs choravam de tanta sede e os rios estavam cobertos de folhas mortas, caídas das árvores. Nenhum orixá invocado escutou suas queixas e gemidos. Aluman decidiu, então, oferecer a Exu grandes pedaços de carne de bode. Exu comeu com apetite desta excelente oferenda.
Só que Aluman havia temperado a carne com molho muito apimentado. Exu teve sede. Uma sede tão grande que toda a água de todas as jarras que ele tinha em casa, e que tinham, em suas casas, os vizinhos, não foi suficiente para matar sua sede! Exu foi à torneira da chuva e abri-a sem pena. A chuva caiu. Ela caiu de dia, ela caiu de noite. Ela caiu no dia seguinte e no dia depois, sem parar. Os campos de Aluman tornaram-se verdes. Todos os vizinhos de Aluman cantaram sua glória.
Aluman, reconhecido, ofereceu a Exu carne de bode com o tempero no ponto certo da pimenta. Havia chovido bastante. Mais seria desastroso! Pois, em todas as coisas, o demais é inimigo do bom.
EXU E OGÃ
Exu sempre foi o mais alegre e comunicativo de todos os orixás. Olorun, quando o criou, deu-lhe, entre outras funções, a de comunicador e elemento de ligação entre tudo o que existe. Por isso, nas festas que se realizavam no orun (céu), ele tocava tambores e cantava, para trazer alegria e animação a todos. Sempre foi assim, até que um dia os orixás acharam que o som dos tambores e dos cânticos estavam muito altos, e que não ficava bem tanta agitação. 
Então, eles pediram a Exu, que parasse com aquela atividade barulhenta, para que a paz voltasse a reinar. Assim foi feito, e Exu nunca mais tocou seus tambores, respeitando a vontade de todos. Um belo dia, numa dessas festas, os orixás começaram a sentir falta da alegria que a música trazia. As cerimônias ficavam muito mais bonitas ao som dos tambores. Novamente, eles se reuniram e resolveram pedir a Exu que voltasse a animar as festas, pois elas estavam muito sem vida. Exú negou-se a fazê-lo, pois havia ficado muito ofendido quando sua animação fora censurada, mas prometeu que daria essa função para a primeira pessoa que encontrasse.
Logo apareceu um homem, de nome Ogan. Exu confiou-lhe a missão de tocar tambores e entoar cânticos para animar todas as festividades dos orixás. E, daquele dia em diante, os homens que exercessem esse cargo seriam respeitados como verdadeiros pais e denominados Ogans. Laroyê ! 
ODU OGBE-OGUNDA
1° LENDA DE IFA
Do Livro: Poemas de Ifa e Valores de Conduta Social Entre os Yorubás da Nigéria 
Autor Prof. King (África do Oeste) Pág. 219.
Orientador: Prof. Dr. Fábio de Rubens da Rocha Leite.
 Gbengbeleku adivinhou onde quis. Foi feito um jogo divinatório para Igun, primogênito de Eledunmare, no dia em que adoeceu e a preocupação de seu pai era curá-lo. Igun, primogênito de Eledunmare, que é Agotun, aquele que faz da chuva uma fonte de riqueza.
 Eledunmare fez tudo o que pôde, sem sucesso. Cansado, abriu-lhe a porta do aye para que ele fosse morar lá. Toto Ibara foi quem adivinhou para Orunmilá quando este lamentava sua falta de sorte na vida. Ele foi consultar seu adivinho para saber se teria dinheiro para poder criar os filhos, para poder ter um lar.
 Por essa razão foi consultar Ifá. Seus adivinhos o aconselharam a fazer um ebó com cinco galinhas. Fazendo esse ebó, no quinto dia toda a riqueza desejada chegaria ás suas mãos.
 As galinhas deveriam ser sacrificadas a seu Eleda, uma a uma, diariamente, até completar cinco dias. Cada galinha sacrificada teria as vísceras retiradas e colocadas numa cabaça, cobertas com azeite de dendê e levadas a uma encruzilhada. O resto da galinha poderia ser consumido por ele e sua família. A caminho da encruzilhada onde seria entregue a oferenda, deveria ir cantando alto: que a sorte venha a mim, que a sorte venha a mim! Até chegar à encruzilhada onde seria entregue a oferenda. Esse ritual deveria prosseguir por cinco dias.
 Orunmilá fez conforme o orientado. Assim, ele começou a fazer o ebó. Sacrificava as galinhas e levava suas vísceras para a encruzilhada. Lá chegando, depositava a oferenda e despejava azeite de dendê por cima. Depois de colocar azeite de dendê começava a rezar pedindo que a sorte chegasse pra ele.
 Havia um mato em frente à encruzilhada onde Orunmilá entregava as oferendas e ali vivia Igun, o filho de Eledunmare. Assim que Orunmilá deixava os ebós e saía dali, Igun ia lá e comia a oferenda.
 Igun, filho de Eledunmare, tinha cinco doenças: uma na cabeça, outra nos braços, outra no peito. Nas costas tinha uma corcunda e era aleijado dos pés.
 No primeiro dia em que comeua oferenda de Orunmilá, viu-se curado do problema que tinha na cabeça e surpreendeu-se. No dia seguinte, Orunmilá levou novamente seu ebó à encruzilhada repetindo os mesmos rituais, sem saber que alguém comia sua oferenda. Assim que Orunmilá saiu da encruzilhada Igun foi lá e comeu de novo a oferenda. Os dois braços de Igun que não se esticavam, depois de ter ele comido a oferenda, se esticaram. No terceiro dia Orunmilá continuou o seu processo, levando sua oferenda à encruzilhada. Mal terminaria de colocar o ebó na encruzilhada Igun foi lá e comeu dessa oferenda. O peito de Igun, que era inchado, desinchou assim que acabou de comer: No quarto dia, Orunmilá levou seu ebó à encruzilhada, cantando: que a sorte venha a mim, que a sorte venha a mim! Mal terminara de colocar o ebó na terra Igun foi lá novamente e o comeu. Assim que acabou de comer, a corcunda que havia em suas costas desapareceu. No quinto dia Orunmilá levou sua oferenda à encruzilhada para completar os rituais.
 No caminho ia cantando o mesmo refrão dos dias anteriores. Mal terminara de colocar o ebó na terra Igun foi lá novamente e o comeu. Na manhã do sexto dia seus dois pés aleijados haviam adquirido vitalidade e ele passou a andar sem dificuldade. Começou a caminhar por todos os cantos.
 E foi assim que ele se curou de todas as suas doenças.
 Impressionado com esses fatos Igun levantou-se e foi ao orun para encontrar-se com Eledunmare. Este, logo percebeu que o filho estava curado e lhe perguntou quem o curara.
 Igun relatou todo o ocorrido a Eledunmare, Disse-lhe que quem entregava as oferendas era Orunmilá e acrescentou que sempre que Orunmilá levava ebó a encruzilhada ele entoava o refrão – Que a sorte venha a mim! Que a sorte venha a mim! 
 Eledunmare disse a Igun que presentearia essa pessoa com riquezas. Pegou então os quatro ado ( dons, graças) e os deu a Igun para que os levasse a Orunmilá, no aye. Igun disse a Eledunmare que não sabia chegar à casa de Orunmilá e o pai o orientou dizendo que, assim que chegasse ao aye, perguntasse às pessoas e elas lhe indicaram o caminho. Antes de Igun sair do orun Eledunmare recomendou que Orunmilá poderia escolher apenas um dos quatro ado e Igun deveria trazer de volta os três restantes – o ado da riqueza, dinheiro e prosperidade, o ado da fertilidade, o ado da longevidade e o ado da paciência.
 Igun voltou para o aye trazendo os quatro ado. Ao chegar, foi à casa de Orunmilá e lá, mostrou a ele os quatro ado. Orunmilá se surpreendeu muito. Perplexo, em dúvida quanto ao que fazer, mandou chamar os filhos a fim de lhes pedir conselho sobre qual dos quatro escolher.
 Os filhos o aconselharam a escolher o ado da longevidade para que vivesse muito. Orunmilá chamou então suas esposas a fim de lhes pedir conselho sobre qual dos quatro deveria escolher. As esposas o aconselharam a escolher o ado da fertilidade para que pudessem ter muitos filhos. Orunmilá chamou seus irmãos a fim de lhes pedir conselho sobre qual dos quatro deveria escolher. Os irmãos aconselharam a escolher o ado da prosperidade para que pudessem ter muita riqueza e dinheiro. Orunmilá mandou chamar seu melhor amigo. Esse melhor amigo era Exu. Quando Exu chegou à sua casa, Orunmilá relatou-lhe o ocorrido e lhe pediu conselho quanto á escolha que deveria fazer. Exu, homem hábil, fez as seguintes perguntas a Orunmilá:
- Teus filhos te aconselharam a escolher qual ado?
Orunmilá respondeu:
- O da longevidade.
Exu lhe disse para não escolher esse ado porque não há uma única pessoa que tenha vencido a morte e lembrou que, por mais tempo que se viva, se morre um dia.
Exu perguntou então:
- E tuas esposas te aconselharam a escolher qual ado?
Orunmilá respondeu:
- O da fertilidade.
Exu lhe disse para não escolher esse ado porque Orunmilá já tivera filhos, perguntou-lhe de novo:
- E teus irmãos? Te aconselharam a escolher qual ado?
Orunmilá respondeu:
- O da prosperidade.
Exu lhe disse pra não escolher esse ado porque se ficasse rico eliminaria a pobreza da família. E acrescentou que se seus irmãos quisessem prosperar deveriam trabalhar.
 	Orunmilá perguntou então a Exu qual dos ado deveria escolher. E Exu lhe disse para escolher o ado da paciência porque sua paciência era insuficiente para permitir que chegasse onde desejava. Caso Orunmilá seguisse de fato o conselho e escolhesse o ado da paciência, todos os ado restantes seriam seus. Orunmilá aceitou a orientação de Exu. Escolheu o ado da paciência e devolveu a Igun os três restantes.
 	Nem os filhos nem as esposas, nem os irmãos ficaram felizes com sua escolha.
 	Igun partiu então, de volta, levando consigo os três ado restantes para devolvê-lo a Eledunmare. Mal andara um pouco com eles o ado da riqueza lhe perguntou:
 	 - Onde está Paciência?
 	 Igun respondeu que ela ficara na casa de Orunmilá
 	Riqueza disse a Igun que voltaria para ficar com Paciência porque só fica onde ela está. Igun lhe disse que isso era inaceitável e que Riqueza deveria retornar com ele ao orun. Riqueza insistiu que só fica onde há paciência e que, por isso, não tinha porque retornar ao orun. Em pouco tempo, desapareceu da mão de Igun e nesse tempo foi juntar-se á Paciência na casa de Orunmilá.
 	Fertilidade também perguntou a Igun por Paciência. Igun lhe respondeu que ela estava na casa de Orunmilá. Fertilidade lhe disse que só fica onde há Paciência. Assim, Fertilidade levantou-se e procurou estar, em pouco tempo, junto com Paciência na casa de Orunmilá.
 	Longevidade também perguntou a Igun onde estava Paciência. Igun lhe respondeu que ela estava na casa de Orunmilá. Longevidade também foi se juntar a Paciência.
 	Quando Igun chegou ao orun Eledunmare lhe perguntou onde estavam os três ado restantes. Igun lhe respondeu que retornara para contar a Eledunmare que todos os ado haviam querido ficar junto com Paciência na casa de Orunmilá. E que pretendia retornar ao aye para buscá-los e trazê-los de volta ao orun. Eledunmare lhe disse que ele não precisava ir buscar os três ado pois, de fato, todos pertencem a quem escolher Paciência. Quem tiver paciência terá Longevidade, Fertilidade, Procriará e viverá bem com o que procriar. E terá também riqueza.
 	Assim tudo transcorreu bem com Orunmilá e, com essas graças, veio a ser rei de ketu. Procriou e viveu bastante com esses ado. Teve tanta riqueza que construiu casas pelo mundo.
 	Feliz por essas conquistas montou em seu cavalo e cantou: Recebi o ado da riqueza, recebi o ado da fertilidade, recebi o ado da longevidade, oh, recebi o ado da paciência. Dançou e alegrou-se. Louvou seus adivinhos e louvou também a Exu, o seu amigo.
TRONO DA VITALIDADE
Por Alexandre Cumino
Sabemos que Deus é um só manifesto por meio de muitos nomes diferentes, que implicam culturas e formas diversas de entendimento e concepção do que Ele vem a ser. Também podemos caracterizar este fato como unidade e diversidade, a unidade da essência que encontra na diversidade formas variadas de entendimento, segundo a cultura e o perfil coletivo e individual. Por esta razão é tão importante que haja muitas religiões, pois cada uma atende uma maneira diversa de entender e expressar a realidade em que vivemos e o sagrado que permeia esta realidade. Pensando desta forma, é mais fácil de entender que, assim como Deus se amolda a certas concepções da divindade, assim também é com seus mistérios maiores e menores, assim também é com suas divindades maiores e menores.
Com as divindades se dá processo análogo, Deus não cria novas divindades para novas religiões, as mesmas divindades assumem nomes e formas variadas, adaptam-se e amoldam-se nos cultos e culturas diversas para alcançar o coração, mente e espírito de uma comunidade. Assim é com a Divindade ou Trono Feminino do Amor, que nós identificamos na Umbanda como Oxum, que é a mesma Oxum do Candomblé, no entanto, como a Umbanda é outra religião há um processo de releitura e adaptação entre a divindade e aqueles que recorrem a ela dentro desta realidade(Umbanda). Se não, vejamos... se nós identificamos uma divindade feminina do amor como Oxum, seguindo este raciocínio, é possível identificá-la em outras culturas com outros nomes, o que serão apenas os diversos pontos de vista a cerca de um mesmo mistério. Na cultura grega, Afrodite, na romana, Vênus, na hindu, Lakshmi, na egípcia, Isis, na Nórdica, Freyja, na Celta, Blodeuwed, na Chinesa, Kwanin, na Asteca, Xochiquetzal, e outras. No Judaísmo, nega-se a presença das divindades, no entanto há centenas de anjos e variados nomes para Deus, em que cada nome revela uma de suas qualidades. 
No cristianismo, também nega-se as divindades, no entanto os vários santos católicos formam, praticamente, um panteão de “semideuses”, cada santo ocupa o lugar de uma divindade. O que foi uma necessidade durante o período de expansão do Catolicismo, pois os vários cultos à “Deusa do Amor”, ou simplesmente ao Trono Feminino do Amor, tinham uma função e razão de ser junto à humanidade. Desta forma, os santos passaram a ocupar e também a manifestar as qualidades, virtudes e mistérios que pertencem às divindades. Nossa Senhora praticamente assumiu a posição de Feminino de Deus, é ela a idealização da Grande Deusa, e vai apresentando os mistérios diversos de muitas divindades femininas por meio de seus nomes e arquétipos variados. Assim, encontramos Nossa Senhora das Graças, Nossa Senhora da Conceição, Nossa Senhora Aparecida, Nossa Senhora das Virtudes, Nossa Senhora dos Navegantes, Nossa Senhora das Dores, Nossa Senhora da Saúde, Nossa Senhora Desatadora dos Nós e outras, em que cada uma manifesta um mistério diferente na criação. 
Os mistérios da criação estão relacionados às divindades que lhes dão sustentação. Desta forma uma divindade é o manifestador natural de um ou mais mistérios de Deus, e por meio dos cultos às divindades entramos em contato com estes mistérios.
Sei que, para alguns, ainda é difícil entender a diferença entre Orixá Exu e Entidade Exu. O Orixá Exu é a nossa forma de entender uma divindade de Deus, a Divindade ou Trono da Vitalidade, aquele que dá vitalidade a toda a criação. A entidade Exu é um espírito humano que trabalha com este mistério, todos os exus de Umbanda, todas as entidades exu, trabalham sob o amparo e sustentação do Orixá Exu.
Podemos dizer que o Orixá Exu está para as entidades Exu, assim como Oxóssi está para os Caboclos, Obaluayê está para os Pretos-velhos ou Ibeji está para as Crianças. Por esta razão, é fundamental começar este estudo partindo do Orixá Exu, em que iremos encontrar muitos conceitos, qualidades, atributos e atribuições que passaram dele para as entidades. Ou não é verdade que nossos guias exus, são chamados de mensageiros, senhores da magia, senhores do axé, da força, do poder, da proteção, guardiões e etc., que são adjetivos do Orixá Exu agora absorvidos e manifestos por nossas entidades. 
A Força, o Poder e o Mistério do Orixá Exu na Umbanda está sob a guarda das entidades exu que trabalham dentro do que chamamos de lei ou, se preferir, da Lei Maior. Como muitas coisas erradas já foram feitas em nome do Orixá Exu, como muita deturpação e muito trabalho negativo já se realizou em seu nome, coube aos Guardiões de Lei que conhecemos como entidades exu trabalhar com seu mistério.
Também vemos afirmações como “Exu não é bom e nem ruim, depende o que você pede para ele”, “Exu não tem culpa e nem responsabilidade do que faz, o ônus cabe a quem o evocou e oferendou”. Estas afirmações podem ser verdadeiras quando se trata de Exu como elemento mágico, apenas, no entanto, Exu não se limita a elemento mágico, pois é parte integrante de uma religião. O quero dizer é que religião implica ética e bom senso, toda religião tem objetivo de praticar o bem e ir ao encontro do sagrado.
Umbanda é religião, portanto, só pode praticar, única e exclusivamente, o bem.
Desta forma, entendemos que, em magia, é possível afirmar que a magia é uma só e que cada um dá a ela sua prática positiva ou negativa (“magia branca” ou “magia negra”, o correto seria dizer Magia da Luz ou Magia das Trevas). No entanto, em religião e na Umbanda, ao contrário do que muitos ainda hoje afirmam, exu só pode praticar única e exclusivamente o bem. Embora o bem seja relativo em sua prática não é em seu ideal. 
Para concluir, coloco aqui que não podemos aceitar que exu possa fazer o bem ou o mal dentro dos terreiros de Umbanda. Em nossa religião, exu faz exclusivamente o bem, pois trabalha nas linhas de lei, exu na Umbanda é Guardião de Lei trabalhando pela Luz, pela evolução e o bem da humanidade. Exu na Umbanda é uma entidade que, independente de ter ou não luz, possui o esclarecimento da lei de retorno e a certeza de que qualquer ação negativa realizada volta a quem pediu. Exu também é orientador, doutrinador e guia, se alguém pede algo de ruim a um exu dentro de um terreiro de Umbanda, ele mesmo deve esclarecer, da sua forma, que isto não é bom nem para quem pede e nem para quem aceite realizar este pedido.
Sobre esta questão é fundamental a leitura do livro O Guardião da Meia Noite (Rubens Saraceni – Ed. Madras). 
Voltando ao assunto de entidades, espíritos e guias que assumem, guardam ou manifestam mistérios de Deus e suas divindades, podemos dizer que é algo muito similar ao que aconteceu na Igreja Católica. Os Santos assumiram os mistérios das divindades que são a sustentação de tudo que se realiza em nome deles. Muitos santos nunca nem existiram, foram fabricados, por este fato, a igreja não reconhece mais alguns santos como São Jorge, São Cosme e Damião, São Sebastião e outros como Santo Expedito, que embora seja muito popular também é polêmico, afinal “expedito” não é nome e sim uma função de um oficial da guarda romana que ia à frente, corria, para levar e trazer, notícias de um local ao outro. 
Também já foram pensados sincretismos de santos com Orixá Exu, como o próprio Expedito, Santo Antônio, São Pedro e até Menino Jesus em alguns lugares do caribe, no qual exu não foi demonizado e guarda em um de seus aspectos a forma jovial e inocente, que justifica sua irreverência e traquinagens mitológicas. Algo semelhante se dá com Khrisna criança, que se diverte com as próprias estripulias, ou com Hermes grego que ainda criança faz mil e uma artes e até rouba os rebanhos de seu irmão Apolo. 
No caso do Orixá Exu ou Trono da Vitalidade, trata-se de uma divindade que atua em todas as vibrações, em todas as linhas a partir de si mesmo ou por meio dos outros Orixás. Mas este já é assunto para outro texto, ou ainda para a leitura do Livro de Exu – O Mistério Revelado (Rubens Saraceni – Ed. Madras).
Quanto à Divindade ou Trono da Vitalidade também assume nomes diferentes e formas variadas nas diversas culturas, é para nós o Orixá Exu. Encontrar suas manifestações diversas é trabalho de pesquisa muito enriquecedor, pois estudar outras manifestações do mesmo mistério nos traz maior compreensão sobre o mesmo.
 
TRONO MASCULINO DA VITALIDADE
Por Alexandre Cumino
Do livro DEUS, DEUSES, DIVINDADES E ANJOS - Ed. Madras
Exu, Shiva, Hermes, Pã, Príapo, Dionísio, Min, Bes, Seth, Savitri, Lóki, Baal, Shulpae, Shullat, Kanamara Matsuri, Baco, Anzu, Comentários.
Exu — Divindade africana, da cultura Nagô que predomina na região da atual Nigéria e parte da Republica Popular do Benim. É o Trono da Vitalidade e também um Trono Tripolar (vitaliza, desvitaliza ou neutraliza toda e qualquer ação).
Orixá Exu tem origem Nagô, onde é Divindade fálica, age também no sentido do vigor físico e espiritual. Seu nome, na língua Yorubá, quer dizer Esfera, mostrando ser uma Divindade que atua em Tudo e em todos os campos. 
Considerado o mensageiro dos outros Orixás, Exu vitaliza ou desvitaliza qualquer um dos sete sentidos, sendo muito evocado e muito atuante pela abrangência de seu mistério. 
O tridente, ferramenta de Exu na Umbanda, nunca teve conotação negativa, pelo contrário. O Tridente sempre foi algo divino nas culturas pagãs anteriores ao Cristianismo, por isso a cultura católica fez questão de pregar o inverso, para facilitara conversão de seus fiéis e fazer com que esquecessem os mistérios a que tinham acesso direto. Agora o único acesso a qualquer mistério estaria na mão de um Sacerdote Católico.
Podemos citar o uso de Tridente por Zeus, Netuno, Tritão, Posseidon e Shiva, entre outros. Esses tridentes mostram o valor divino concedido a eles; a trindade; o alto, o meio e o embaixo; Céu, Mar e Terra; Luz, sombra e trevas; Pai, Mãe e Filho; etc. Na cultura católica, essa trindade perde toda sua relação com o tridente e aparece apenas como Pai, Filho e Espírito Santo, deixando de lado o elemento feminino, tão importante, que se concentrará na figura de Maria, Mãe de Jesus.
Assim, Exu evoca seu mistério do vigor e o mistério tridente já tão deturpado em nossa cultura, mas de grande valor como mistério divino, pois trás em si poder de realização, desde que manifesto da forma correta.
Elegbara – Também conhecido como Elegba, Legba, Elebá, Lebá, Elegua, Légua e outros é divindade da cultura Gêge, Vodun, na língua Fon. Seu nome significa Poderoso , tem em si todas as qualidades do Orixá Exu, e de cultura tão próxima na África houve também sincretismos. Elebara é sinônimo de Exu e tornou-se na cultura Yorubá, também, uma das qualidades do Orixá Exu.
Aluvaiá – Este é o nome da Divindade da Vitalidade na cultura bantu, na língua quimbundo, portanto é um “inquice”, é o Exu dos Cultos Angola/Congo. 
Shiva – Divindade hindu, é a terceira pessoa da trindade formada por Brama, Vishnu e Shiva, na qual um constrói, ou outro mantém e o terceiro destrói a criação para que torne a construir outra vez. Tem como consorte (esposa) Parvati, que também se manifesta como Durga ou Kali. Pai de Ganesha a quem deu o titulo de Senhor dos Exércitos de Shiva. Shiva reina sobre todos os seres “infernais” e “trevosos” ele tem o poder destruidor e transformador. Shiva é o grande Yogue o Maha Deva (Grande Deus), todos vão a sua cidade natal Varanasi para passar os últimos dias de vida ao lado do Rio Ganges assim depurando o carma, para ao desencarnar na Cidade de Shiva ficar livre da roda dos renascimentos, Sansara. Shiva é Fálico, nos seus rituais chamados Puja o sacerdote Pujari, faz oferendas em torno de um lingan que representa o falo de Shiva. O lingan é todo besuntado com (iogurt) e mel que também consiste da oferenda. Shiva usa um Tridente que representa seu poder trino, enquanto terceira pessoa, e também para lembrar que onde está uma pessoa está as três pessoas. O Tridente também representa o poder no Alto, no meio e no Embaixo.
Shiva enquanto terceira pessoa da trindade também manifesta qualidade de outras divindades ou Orixás, pois uma de suas manifestações é chamada de Nataraja quando Shiva aparece dançando dentro de um circulo de fogo. Sua dança é quem mantém o universo em constante movimento, é a Dança Cósmica do Universo. No fogo, na dança e na destruição podemos associar Shiva a outros Orixás, o que é normal pois mesmo Ogum se manifesta de formas diversas, quando manifesta a lei no campo dos outros Orixás. 
Hermes — Divindade grega, filho de Zeus com a ninfa Maia, é o mensageiro dos Deuses. Responsável por tudo que se relacionasse com movimento, viagem, estradas, moeda e transações comerciais. Por isso aparecia sempre usando um chapéu de viajante e sandálias aladas. Na mão, levava uma varinha mágica feita de duas cobras enroscadas em uma haste. 
Pã — Divindade grega, filho de Hermes, torso humano, pernas e chifres de bode, deus dos campos, dos pastores e dos bosques. Adorava a companhia de Sátiros, excelente músico e dançarino, adorava perseguir as ninfas. De voz aterradora é a partir de seu nome que surgiu a palavra “pânico” que diz respeito a assustar-se com a presença de Pã. 
Príapo — Divindade grega, filho de Afrodite e Hermes, Divindade fálica da fertilidade. 
Dionísio — Divindade grega, filho de Zeus e de Sêmele, Deus dos vinhos e folguedos, vagava por todo o país bebendo vinho e dançando sem parar. Teve seu culto inicial mais ligado aos aspectos de divindade da floresta, possuindo qualidades fálicas foi deixando para trás sua natureza vegetal, lembrada apenas pelo vinho e videiras. Como divindade fálica, aparece com sobrenomes como Ortos, “O Ereto”, e Enorques, “O Bitesticulado”. 
Min — Divindade egípcia, Divindade fálica, também da abundância, da fertilidade, da força, do poder e do vigor. 
Bes — Divindade egípcia, “Deus da Concupiscência e do Prazer”, de origem estrangeira, aparece de pé sobre um lótus; também é fálico. 
Seth — Divindade egípcia, Senhor do Caos ou da desordem, também transmite força, poder e vigor. Atua de forma tripolar e muitas vezes atuará no campo do Trono Oposto ao Trono da Lei, pois sua presença gera a desordem, bem como sua ausência beneficia a Ordem Divina. 
Savitri — Divindade hindu, “su” raiz do nome (“estimular”) é o “estimulador de tudo”.
Lóki — Divindade nórdica, irmão de Odim, é Divindade de força e poder que muitas vezes direciona todo esse potencial de forma não compreensível. Incansável em suas ações, é em si o próprio mistério do Vigor agindo de forma dual, ora positivo e ora negativo. 
Baal — Divindade caldéia, cananéia e fenícia, “Senhor” ou “Esposo”. Também é um deus fálico.
Shulpae — Divindade sumeriana com uma série de atribuições, incluindo fertilidade e poderes demoníacos. 
Shullat — Divindade sumeriana, consorte de Hanish. Servo do deus sol. Equivalente a Hermes, o mensageiro divino.
Kanamara Matsuri — Divindade japonesa, “falo de ferro”, senhor da fertilidade, reprodução e sexualidade, trazia fartura e a cura para a impotência e a esterilidade.
Baco — Divindade grega do vinho e da vindina, da devassidão e do alvoroço. 
Anzu — Divindade babilônica, Águia de cabeça de leão, porteiro de Enlil, nascido na montanha Hehe. Apresentado como o ladrão mal-intencionado no mito de Anzu, mas benevolente no épico sumério de Lugalbanda. 
Comentários: O Trono Masculino da Vitalidade, Exu, tem sido muito mal compreendido desde que fomos dominados por uma cultura que vê a união carnal como pecado original. A região sacra do corpo humano tornou-se algo a ser escondido como vergonhoso. A fertilidade divina perde sua relação com o vigor físico, logo as Divindades fálicas são mal compreendidas e facilmente associadas a algo negativo. Espiritualmente o órgão sexual, responsável pela concepção, geração, multiplicação e perpetuação da espécie é divino, sem dúvida, sendo algo negativo a “bestialização” do que nos foi reservado para o Amor. Logo, a vitalidade, o vigor e o estímulo são algo essencial para a vida, pois é aplicado não apenas com conotação sexual e sim em todos os campos da vida, pois uma pessoa desvitalizada ou desestimulada, rapidamente, vai perdendo a vontade de viver.
Entendemos assim que, como esse, muitos outros mistérios e tronos de Deus são incompreendidos; nossos tabus e conceitos muitas vezes encobrem a visão do que é sagrado e divino em nossas vidas. 
O QUE É ORIXÁ?
Por Rubens Saraceni
Orixá é um poder divino em si mesmo e realiza-se na vida dos seus cultuadores como uma energia viva e divina capaz de realizar ações abrangentes, modificadoras da vida do ser. 
Orixá é o poder de Deus manifestado de forma “personificada” em que um ente de natureza divina irradia continuamente esse poder que concentra em si e doa graciosamente a todos que, movidos pela fé, a ele recorrer religiosamente por meio de cantos e orações. 
Já quem recorrer magisticamente a eles, aí é preciso outros procedimentos para ativação do seu poder realizador. Muitos são os poderes de Deus e muitos são os Orixás cultuados na Umbanda. Diferente do Candomblé Nagô, onde o sobrenome é designador da qualidade do Orixá, na Umbanda cada sobrenome simbólico indica uma entidade em si com sua hierarquia espiritual a manifestá-lo e trabalhar incorporado durante as giras ou sessões de incorporação. 
Ogum é o Orixá maior. Já Ogum Megê é o “Ogum dos Cemitérios”.
Ogum para todos, Ogum Megê para os trabalhos espirituais no terreiro ou no cemitério. 
Para um sacerdote dos Orixás na Nigéria, provavelmente é uma heresia oferendarOgum em um cemitério. Mas nós só oferendamos Ogum Megê no cemitério, pois, para nós, ele é o ordenador ético e moral dos procedimentos nos domínios de Obaluaiê e Omulu, os donos do “Campo Santo”.
Logo, se é nesse campo que essa entidade atua, é nele que deve ser firmado, oferendado e invocado magisticamente. Esses procedimentos não fomos nós, os encarnados, que determinamos. Quem os ensinou e ordenou que assim procedêssemos foi a espiritualidade que, aos se manifestar em seus médiuns, indicava como deviam proceder. 
Pouco a pouco, todo um novo conhecimento e uma nova forma de cultuar e ativar os poderes dos Orixás nos foram sendo transmitidos até que chegamos a um ponto em que precisamos limitar um pouco as muitas possibilidades colocadas à nossa disposição pelos guias espirituais. 
Isto é Orixá na Umbanda: uma força e um poder colocados à nossa disposição de uma forma diferente da já tradicional na Nigéria.
Como a Umbanda nasceu no Brasil e foi pensada no plano espiritual por mentes evoluidíssimas, um novo modo e uma nova forma foram tomando corpo e resultaram em uma nova religião. 
Tal como o Cristianismo fez com o Velho Testamento: reescreveu-o no Novo Testamento e está aí, há dois mil anos acolhendo e sustentando religiosamente os seus seguidores. Orixá é poder divino e pode ser adaptado a vários modos e formas de culto e de magia. Orixá gera religiões e magias porque é poder fundamentado em Olorum, o nosso Divino Criador. 
Não tenham dúvidas, se for preciso, eles criam novas formas de culto e novos modos de ativá-los religiosa e magisticamente. Quando e onde for necessário, lá surgirão uma forma e um modo específicos onde seus fundamentos divinos, os naturais, os espirituais e os magísticos estarão preservados e intactos porque são divinos, são sagrados e são parte deles. Na verdade, os seus fundamentos são imutáveis porque são suas essências e suas qualidades religiosas e magísticas.
Concluindo, Orixá é poder divino colocado à nossa disposição e alcance para recorrermos quando criam-nos ou criamo-nos dificuldades que paralisam nossa evolução espiritual ou material. Ou ambas!
Texto extraído do livro “Os Arquétipos da Umbanda - As hierarquias espirituais dos Orixás” de 
Rubens Saraceni - Editora Madras.
A CRIAÇÃO E GERAÇÃO DOS ORIXÁS – 
O NASCIMENTO DE EXU
Por Rubens Saraceni
Do livros LENDAS DA CRIAÇÃO - Ed. madras
Olorun, que cria e gera o tempo todo, havia individualizado as faculdades geradoras de suas criações. E, após feito isso, continuou a gerar nelas, só que, daí em diante, o que cada matriz gerava ficava dentro da realidade que ela era em si mesma.
E, ainda que todas estivessem em Olorun, as suas gerações já não se integravam ao todo indiferenciado que ele é em si, mas sim, passaram a ser as partes do todo, que é ele em si mesmo.
O que cada uma de suas matrizes gerava permanecia nelas, sendo que o que estava sendo gerado em uma, não sabia do que estava ou havia sido gerado em outra.
Cada uma expandia-se cada vez mais no interior de Olorun, mas sem se tocarem, porque cada uma das matrizes geradoras era uma realidade dentro dele, o senhor de todas as realidades.
Olorun, que tanto vê por fora quanto por dentro quando contempla algo, contemplou-se e viu-se pleno internamente, mas não se viu por fora.
Então ele pensou, e no seu pensar gerou uma matriz que imediatamente começou a gerar o seu exterior.
Mas, como tudo estava no seu interior, no exterior de Olorun formou-se o vazio, gerado pela matriz pensada por ele. E ela recebeu o nome de Matriz Geradora do Vazio.
Mas, mais tarde passou a ser chamada de Mãe Geradora do Vazio e de senhora do vazio existente no exterior de Olorun.
Só que, como ela só gerava o vazio, ainda que fosse a matriz que o gerava, ela começou a sentir-se vazia. E não adiantou Olorun comunicar-lhe que havia pensado em ocupar o vazio gerado por ele com o que estava gerando nas outras matrizes, pois ela insistia que o vazio era seu e que ele deveria criar algo que o preenchesse.
Olorun pensou, pensou e pensou!
E no seu pensar, pensou uma solução, não só para a sua matriz geradora do vazio à sua volta, como para todas as outras, sobrecarregadas em suas realidades, que não paravam de se expandir no interior dele.
Então, Olorun pensou para a sua matriz geradora do vazio uma geração única, mas que a preencheria totalmente.
E Olorun depositou em sua matriz modeladora o seu pensamento, que logo gerou um ser único na criação, ser esse que a preencheu parcialmente e que, aqui na Terra é chamado de Orixá Exu!
O Orixá Exu é fruto do desejo de sua matriz, geradora do vazio, tornar-se plena em si mesma e da vontade de Olorun de torná-la geradora de algo mais que o vazio.
Exu tem em sua ascendência divina Olorun, que é a plenitude em si, e a matriz geradora do vazio, que é a ausência dele no seu lado de fora.
E assim, daí em diante, sempre que Olorun contemplava a si mesmo, via no seu interior tudo o que todas as suas matrizes haviam gerado e via no seu exterior o vazio infinito, ocupado por Exu que, por ter sido gerado na matriz modeladora da matriz geradora do vazio, ora se sentia pleno e ora se sentia vazio.
Quando Exu se sentia pleno, gargalhava alegre e alegrava Olorun. Mas quando se sentia vazio, recolhia-se ao âmago de sua matriz geradora e lamentava a solidão em que vivia, incomodando Olorun com seus lamentos, pois era unigênito e não tinha ninguém com quem compartilhar suas alegrias e suas tristezas.
Olorun pensou uma solução para o problema de Exu e, no âmago da sua matriz geradora do vazio, gerou uma forma oposta em tudo a ele mas que o completaria em tudo e o tornaria pleno em si mesmo quando se recolhesse ao âmago da matriz que o havia gerado.
E assim foi gerada uma companheira para alegrar Exu quando ele se recolhesse ao âmago da matriz que o gerara. Essa sua companheira tornou-se a moradora do interior da matriz geradora do vazio.
Mas, quando Exu se deslocava feliz no vazio infinito, ela ficava triste com a ausência dele e chorava de tristeza lamentando ter como companheiro alguém que ficava alegre e feliz quando saía e que se sentia solitário quando retornava.
Ela só se entristecia e chorava quando ele saía, pois alegrava-se e transbordava de felicidade quando ele retornava para o interior da matriz que o havia gerado.
E ela, nesse seu transbordar de alegria e felicidade, não deixava Exu sentir-se solitário pois não o largava um só instante, falando e sorrindo feliz o tempo todo.
Só que Exu só se alegrava e gargalhava quando saía do interior da matriz que o gerava, criando o primeiro paradoxo na criação do Divino Criador Olorun.
Não que Exu não gostasse da companhia dela que, com sua alegria e felicidade, anulava a sua solidão.
Olorun a havia pensado para que ela preenchesse a solidão dele. Mas quando ele começava a dar sinais de que estava com saudade da imensidão infinita do vazio, ela começava a entristecer-se e a soluçar.
E não adiantava Exu dizer que só ia dar uma voltinha pelo vazio e que logo estaria de volta, pois nada a alegrava novamente.
Ele virava-lhe as costas e mergulhava no vazio, esquecendo-a e voltando a gargalhar feliz.
Olorun, se de um lado ficava feliz ao ouvir as gargalhadas alegres de seu filho Exu, por outro ficava triste por causa da tristeza da sua filha que habitava no âmago da sua matriz geradora do vazio. Que problema!
Olorun pensou, pensou e pensou. E no seu pensar criou uma solução que iria influenciar tudo dali em diante. Era algo drástico e que colocaria um fim à tristeza daquela sua filha unigênita, pois ela era a única que ele gerara no âmago da sua matriz geradora do vazio no seu lado de fora.
O fato é que, quando Exu retornou e a viu alegre e feliz, desejou multiplicar-se nela e ela desejou multiplicá-lo em sua matriz modeladora e geradora.
E o que Olorun havia pensado realizou-se! E antes dele voltar a sentir saudades da liberdade do vazio, ela gerara, ainda pequenino, uma réplica dele, que o chamou de papai assim que balbuciou as primeira sílabas. E também a chamou de mamãe.
Estava formada a primeira família no imenso vaziodo lado de fora de Olorun.
Então ela dividia sua alegria e felicidade com Exu e com seu filhinho que, ao contrário dele, vivia grudado nela não lhe deixando muito tempo para vivenciar sua alegria e felicidade com seu companheiro. Quando ela deixou de lado o filhinho para repetir o que havia sido tão agradável, aí foi a vez do pequenino chorar e berrar que queria o colo da sua mamãe. E só se aquietou quando ela voltou até onde o havia deixado e alegrou-o e tornou-o feliz com seus carinhos maternos.
Exu, vendo aquela criança chamar para si toda a atenção da sua companheira, começou a sentir saudades da imensidão do vazio.
Então, viu que ela já não se entristecera tanto com sua partida, que, em vez de chorar, só soluçou de tristeza.
Mas o pequenino, vendo o seu pai partir e sumir no vazio, começou a chorar e a chamá-lo de volta, fazendo sua mamãe desdobrar-se para alegrá-lo, enquanto dizia-lhe que Exu logo voltaria para o âmago da matriz geradora do vazio, que é onde vive a família dele.
Exu voltou para o vazio infinito e, longe da sua família, sentiu-se livre e gargalhou feliz.
Mas, chegou um momento em que começou a sentir saudades da sua companheira e do pequenino que deixara nos braços dela. Então voltou para o âmago da matriz do vazio, feliz e alegre porque sentia saudades dela e do filhinho.
Só que, ao chegar, em vez de encontrar sua companheira sorridente, alegre e rindo de felicidade com a sua volta, a encontrou com um novo filhinho nos braços enquanto o outro, já mais crescido, procurava chamar sua atenção pois estava enciumado porque a sua mãe voltara parte da atenção ao seu irmãozinho mais novo.
Ela, em vez de abraçá-lo toda feliz e contente, começou a reclamar de sua ausência, e de que tinha de cuidar sozinha de dois filhos, que não a largavam um só instante, não dando-lhe descanso.
Foram tantas as reclamações, que Exu nem teve como sentir-se triste e solitário pois, só para deixar de ouvir as reclamações dela, pegou o filhinho mais novo em um braço e o mais velho em outro e foi dar uma volta com eles, só voltando depois de um bom tempo e com os dois já adormecidos.
Ela, ao ficar sozinha voltou a ficar triste e a chorar, tanto porque sentia saudade de Exu quanto dos dois filhinhos. Mas, ao vê-lo e aos filhinhos, alegrou-se por completo e sorriu alegre e feliz.
Como os pequeninos se cansaram de tanto que brincaram com Exu no vazio infinito, continuaram a dormir, e ela pode tê-lo só para si por algum tempo.
E dali em diante, ainda que vivesse feliz no vazio infinito, no âmago da sua matriz geradora ele nunca mais sentiu-se solitário e triste, pois sua família, cada vez mais numerosa, não o deixou um só instante solitário... ou em paz!
Então Olorun sorriu feliz e pensou: “Eis aí o modelo de família que ocupará o meu lado de fora, que alegrará meus olhos sempre que eu me contemplar!”
A SAÍDA DOS ORIXÁS
Por Rubens Saraceni
Do livros LENDAS DA CRIAÇÃO - Ed. madras
 Então chegou o momento que Olorun determinou que os seus filhos e filhas Orixás iniciassem a saída de sua morada interior e começassem a ocupar sua morada exterior.
A Oxalá coube a primazia, porque ao sair, ele que é o espaço em si mesmo, criaria o meio ou o espaço indispensável para que os outros Orixás pudessem se deslocar e dar início à concretização de sua morada exterior com a criação dos mundos que seriam ocupados pelos seres espirituais. 
Não foi fácil para nenhum dos Orixás deixar de viver na morada interior, no íntimo do Divino Criador Olorun.
Para Oxalá foi mais difícil ainda, porque ele, o primogênito, iniciaria a saída. Quando se viu diante do portal de saída, virou-se e contemplou mais uma vez o rosto de Olorun que o contemplava com os olhos fixos e sérios, como a dizer-lhe: “Vá em frente, meu filho! Eu sou você por inteiro e você é parte de mim.”
Oxalá olhou cada um dos seus irmãos e irmãs divinos, e dos olhos deles corriam lágrimas.
Ele curvou-se, cruzou o solo divino que ainda pisava, tocou-o com a testa, beijou-o, e dos seus olhos caíram lágrimas que cintilaram ao tocá-lo.
E ali suas lágrimas ficaram incrustadas no solo, como uma marca de sua partida. E, em cima dele muitas outras lágrimas haveriam de ser derramadas pelos outros Orixás, a medida que fossem partindo.
Oxalá levantou e virou-se novamente para o portal. E, já resoluto, avançou por ele com passos firmes mas, a medida que foi saindo, seu corpo explodiu e um clarão ofuscante que se projetou no infinito, clareando em volta da morada exterior do nosso Divino Criador Olorun.
E Oxalá curvou-se após ter dado o primeiro passo e cruzou o espaço à sua frente. Então levantou, já não tão ereto como quando saíra, deu um segundo passo e aí se curvou e cruzou o espaço à sua frente pela segunda vez... e quando Oxalá se curvou pela sétima vez e cruzou o espaço a sua frente, já não conseguiu se levantar senão só um pouco, e ainda assim porque apoiava-se em seu cajado, que é o eixo sustentador do mundo manifestado, denominado paxorô. 
Ele voltou-se na direção em que ficava a sua morada interior e já não a viu, pois o que viu foi o espaço vazio infinito em sua volta. E ele olhou para toda a sua volta e não viu nada além do espaço vazio. 
Então, o peso da sua responsabilidade foi tanto, que ele caiu de joelhos e com a voz embargada emitiu essas frases: 
- Pai, por que fez isso comigo se o amo tanto? 
- Pai, por que separou-me de você, se me sinto parte do senhor? 
- Pai, sem o senhor eu sou o que vejo em minha volta, nada, meu pai amado!
- Por que, meu pai amado?
E Oxalá, de joelhos e apoiado em seu cajado, chorou o mais dolorido pranto já ouvido desde então na morada exterior. E todos os outros Orixás, que estavam do lado de dentro da morada interior e o viam a apenas sete passos do portal de saída, emocionaram-se tanto com o pranto dele, que também se ajoelharam e choraram o mais sentido dos choros, pois tanto choraram a angústia dele quanto a que sentiam, porque também teriam que deixar a morada interior. 
Olorun, vendo todos os Orixás ajoelhados e chorando, ordenou:
- Meu filho Ogun, o espaço já existe na minha morada exterior. Agora é sua vez de levar para ela o seu mistério e abrir os caminhos para que seus irmãos e irmãs possam segui-los em segurança o vivenciarem os destinos que reservei para cada um. Siga sempre em frente, pois já existe um caminho feito por mim e trilhado por Oxalá. E, ainda após você dar o sétimo passo só veja o espaço infinito em sua volta e nada mais, no entanto, onde seu pé direito pousar no seu sétimo passo, ali se iniciará o caminho que o conduzirá até onde ele se encontra agora. 
- Meu amado pai Olorun, eu vejo meu amado irmão bem ali, ajoelhado diante do portal de saída dessa sua morada, meu pai!
- Ogun, assim que você der o primeiro passo depois da soleira desse portal você só verá o vasto e infinito espaço vazio, à sua volta. Não titubeie pois só encontrará o caminho que o levará até Oxalá, caso de sete passos resolutos, meu filho.
- Assim diz o meu pai e meu Divino Criador Olorun, assim farei, meu pai amado!
E Ogun despediu-se e cruzou o portal de saída. E quando deu o primeiro passo e olhos à sua direita e à sua esquerda e nada viu além do espaço ainda vazio, mas infinito em todas as direções, um tremor percorreu-lhe o corpo de cima para baixo. Mas ele continuou a caminhar.
E ao dar o sétimo passo com o seu pé direito, Ogun ajoelhou-se e cruzou o espaço vazio diante dos seus pés. E cruzou o espaço acima da sua cabeça; e cruzou o espaço a sua frente; e cruzou o espaço a suas costas; e cruzou o espaço a sua direita; e cruzou o espaço a sua esquerda... e viu seu irmão Exu, que deu uma gargalhada e, à guisa de saudação, falou-lhe:
- Ogun, meu irmão! Que bom vê-lo aqui do lado de fora da morada do nosso pai e nosso Divino Criador Olorun! Por que você demorou tanto para sair?
- Exu,é bom revê-lo, meu irmão! O que você faz por aqui?
- O que eu faço por aqui?
- Foi o que lhe perguntei, Exu.
- Eu já ando por aqui há tanto tempo, que eu nem sei a quanto tempo eu ando por aqui, sabe?
- Não sei não. Explique-se, Exu!
- Ogun, lá vem você com

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