Buscar

Etnofarmacologia e Plantas Medicinais

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 48 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 48 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 48 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

1 
 
 
 
 
 
 
 
2 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................. 3 
2 BODIVERSIDADES NATURAIS .................................................................. 4 
3 SABERES TRADICIONAIS E ETNOFARMACOLOGIA ............................... 6 
4 ETNOFARMACOLOGIA ............................................................................ 11 
4.1 Etnoconhecimento à ciência ................................................................ 12 
5 PLANTAS MEDICINAIS ............................................................................. 16 
5.1 Conceito e princípios ativos ................................................................. 17 
6 FISIOLOGIA DE PLANTAS MEDICINAIS COM VISTAS À 
ETNOFARMACOLOGIA ............................................................................................. 19 
6.1 Etnofarmacologia: da planta ao medicamento ..................................... 20 
6.2 Aplicações da etnofarmacologia e sistemas etnofarmacológicos ........ 21 
6.3 Estado da arte e desdobramentos da etnofarmacologia ..................... 23 
7 FITOTERÁPICOS ...................................................................................... 24 
7.1 Fitoterapia ............................................................................................ 28 
7.2 Estudo fitoquímico ............................................................................... 29 
7.3 Controle de qualidade .......................................................................... 30 
8 O ESTRESSE HÍDRICO NO CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO DE 
PLANTAS MEDICINAIS AROMÁTICAS ..................................................................... 31 
8.1 O estresse hídrico na produção de metabólitos secundários em plantas 
medicinais aromáticas ............................................................................................. 33 
9 ALGUMAS ESPECIES ENVOLVIDAS EM ESTUDOS 
ETNOFARMACOLÓGICOS ....................................................................................... 36 
10 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................ 43 
 
 
 
3 
 
 
 
 
1 INTRODUÇÃO 
Prezado aluno! 
O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante ao 
da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um 
aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma 
pergunta , para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é 
que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a 
resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas 
poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em 
tempo hábil. 
Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa 
disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das 
avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que 
lhe convier para isso. 
A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser seguida 
e prazos definidos para as atividades. 
 
Bons estudos! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
4 
 
 
 
 
2 BODIVERSIDADES NATURAIS 
 
Fonte: cardimpaisagismo.com 
Biodiversidade, plantas medicinais e desenvolvimento de novos medicamentos 
são temas amplamente discutidos devido à sua importância, especialmente em países 
considerados emergentes, como o Brasil. A potencialidade das plantas nativas no 
desenvolvimento de fármacos está fundamentada no tripé biodiversidade, 
aceitabilidade e mercado econômico (NUNES, 2016). 
Segundo o autor, o Brasil é o país com a maior diversidade genética vegetal da 
Terra, com aproximadamente 55.000 espécies catalogadas do total estimado de 
350.000 e 550.000. Porém, somente 8% das espécies vegetais da flora brasileira 
catalogadas foram estudadas em busca de compostos bioativos, e 1.100 espécies 
vegetais foram avaliadas em suas propriedades medicinais. 
As pesquisas com plantas visando à cura de distúrbios relacionados com a 
saúde são atividades milenares dos seres humanos, e o conhecimento sobre 
a utilização dessas plantas vem sendo transmitido, principalmente, de forma 
oral até meados do século XIX. A riqueza de saberes a respeito da 
biodiversidade vegetal serve como base não somente para a descoberta de 
outras espécies vegetais a serem pesquisadas com finalidades terapêuticas, 
mas também para o entendimento da própria humanidade. O percurso histórico 
empírico no tratamento de doenças com plantas e as diferenças na cultura e 
formas diversas de interpretar, explicar e tratar a doença relacionando com o 
ambiente natural contribuem para entender o próprio homem (SOUSA, 2010 
apud NUNES, 2016). 
 
5 
 
 
 
 
O conhecimento tradicional é universal, porém expresso localmente, sendo as 
formas de utilização diferentes quando confrontadas com as diversas organizações 
culturais, localizadas em vários países, até mesmo no Brasil. Nesse contexto, segundo 
Nunes (2016), escravos, indígenas e imigrantes contribuíram para o surgimento da 
medicina tradicional e originalmente brasileira, no entanto com variações regionais. Os 
conhecimentos dos povos das florestas tropicais são fundamentais no entender, utilizar 
e proteger a diversidade das plantas. E a documentação do conhecimento tradicional 
sobre o uso dos recursos naturais é promissora. 
A valorização do conhecimento tradicional tem produzido alternativas viáveis em 
questões emergentes, beneficiando o saber científico na conservação da 
biodiversidade. Nesse sentido, estudiosos também complementaram ao relatarem que 
os conhecimentos e práticas locais de povos tradicionais, ainda que de qualidade sub 
ou superestimada, são hoje considerados chaves na conservação da biodiversidade. 
Essa valorização do conhecimento tradicional está relacionada ao etnoconhecimento. 
As etnociências estão entre as formas de produção de conhecimento científico que 
mais aproximam a academia de sua justificativa social (NUNES, 2016). 
O conhecimento tradicional tem sido reconhecido como relevante, tanto aos 
estudos da biodiversidade quanto à conservação do patrimônio biológico e genético do 
país. A diversidade cultural brasileira, representada por considerável número de 
comunidades locais, detém o conhecimento sobre as espécies da flora e da fauna e de 
sistemas tradicionais de manejo dos recursos naturais renováveis. Assim, no estudo 
das alternativas com o objetivo de diminuir a devastação dos recursos naturais e o 
desenvolvimento de sistemas sustentáveis de utilização desses recursos, diversas 
formas têm sido propostas ao longo do tempo (NUNES, 2016). 
Contudo, segundo esse autor, muitas dessas propostas possuem estratégias 
que desvinculam ou não levam em consideração as populações humanas que habitam 
e vivem do seu modo tradicional, nos diversos locais. O resgate dos conhecimentos 
tradicionais na população, pela pesquisa etnobotânica e etnofarmacológica, tem 
merecido atenção especial. Essa atenção é devida à crescente aceleração no processo 
de aculturação e perdas valiosas de informações populares, como o desaparecimento 
de espécies ainda não estudadas e a ampliação do mercado de plantas medicinais, 
devido à preferência de muitos consumidores por produtos de origem natural, ao difícil 
 
6 
 
 
 
 
acesso da grande maioria da população brasileira, ao medicamento convencional e à 
assistência médica e ao crescente interesse das indústrias na busca por novos 
fármacos. Assim, a área de conhecimento conhecida como etnofarmacologia pode ser 
conceituada como a ciência que procura entender o universo dos recursos naturais 
(plantas, animais e minerais) utilizados como drogas sob a ótica de grupos humanos. 
Levantamentos etnofarmacológicos realizados nas florestasbrasileiras são 
instrumentos em potencial na descoberta de novas drogas, uma vez que esse país 
possui altos índices de biodiversidade e endemismo associados ao processo de 
miscigenação intenso, que resultou em considerável riqueza de conhecimentos sobre 
a sua flora. No Brasil, esses levantamentos têm enfatizado os grupos indígenas e as 
populações tradicionais – como os e os, sendo o negro raramente incluído. Apesar do 
elevado número de comunidades quilombolas no Brasil, poucos estudos 
etnofarmacológicos e etnobotânicos têm sido realizados, podendo ser citadas as 
pesquisas de Rodrigues e Carlini (2006), Monteles e Pinheiro (2007), Rodrigues (2007), 
Massaroto (2009), Crepaldi e Peixoto (2010), Negri e Rodrigues (2010), Barroso et al. 
(2010), Oliveira et al. (2012), Bertanha (2011), Fonseca (2011) e Viana (2013) (NUNES, 
2016). 
3 SABERES TRADICIONAIS E ETNOFARMACOLOGIA 
 
Fonte: altoastral.com 
 
7 
 
 
 
 
A utilização das plantas medicinais como fonte terapêutica é uma prática tão 
antiga quanto a humanidade. A busca pela cura de doenças através dos recursos 
naturais ainda é um dos meios no qual as pessoas têm para o tratamento de 
enfermidades, a menos que esta seja grave e exija um tratamento clínico com mais 
rigor. A utilização de plantas e substâncias com fins medicinais nasceu com a 
humanidade e foi se transformando com o passar dos anos. Segundo relatos, há mais 
de 3000 anos a.C. o cultivo e uso de plantas como medicinais já existia e, ainda hoje 
são utilizadas com eficácia na medicina popular e por laboratórios farmacêuticos como 
fonte de substâncias para síntese de medicamentos (CARVALHO, 2018). 
A prática de utilização das plantas medicinais é baseada no conhecimento da 
flora medicinal, pois, muitos são os povos que tem convívio direto com a natureza e 
isso desencadeia com o passar dos tempos uma série de conhecimentos que vão se 
acumulando e a partir disso descobrem a ação farmacológica das plantas e até mesmo 
sua toxicidade. Também está prática está relacionada com as experiências passadas 
entre as gerações, que são transmitidas por meios predominantemente orais. Neste 
sentido, a etnobotânica aplicada ao estudo de plantas medicinais trabalha em estreita 
cumplicidade com a etnofarmacologia que consiste na exploração científica e 
interdisciplinar de agentes biologicamente ativos, que sejam tradicionalmente 
empregados ou observados por determinado agrupamento humano (CARVALHO, 
2018). 
A etnofarmacologia é um ramo da etnobotânica à qual compreende o resgate, a 
identificação e o registro dos diferentes usos medicinais de plantas por diferentes 
grupos culturalmente definidos e busca correlacionar o conhecimento tradicional com 
conhecimento científico (NUNES, 2016). 
A Etnofarmacologia não trata de superstições, e sim do conhecimento popular 
relacionado a sistemas tradicionais de medicina. Para apreciar o conhecimento popular 
é preciso admiti-lo como tal – um corpo de conhecimento, um produto do intelecto 
humano – e não se pode ser preconceituoso. A Etnofarmacologia é uma divisão da 
Etnobiologia, uma disciplina devotada ao estudo do complexo conjunto de relações de 
plantas e animais com sociedades humanas, presentes ou passadas (ELISABETSKY, 
2005). 
 
8 
 
 
 
 
Define-se Etnofarmacologia como “a exploração científica interdisciplinar dos 
agentes biologicamente ativos, tradicionalmente empregados ou observados pelo 
homem”. Como estratégia na investigação de plantas medicinais, a abordagem 
etnofarmacológica consiste em combinar informações adquiridas junto a usuários da 
flora medicinal (comunidades e especialistas tradicionais), com estudos químicos e 
farmacológicos. 
O método etnofarmacológico permite a formulação de hipóteses quanto à(s) 
atividade(s) farmacológica(s) e à(s) substância(s)ativa(s) responsáveis pelas ações 
terapêuticas relatadas. Assim, se Tia Pixica, Dona Lulu ou Seu Lauca dizem que as 
folhas de fulaninha (preparadas assim e usadas assado) curam aquele dado tipo de 
diarréia, o método etnofarmacológico permite a formulação de hipóteses como estas: 
H0= fulaninha não é útil na cura ou manejo daquele tipo de diarréia; H1= fulaninha 
interfere positivamente no curso natural daquele tipo de diarréia. Há na espécie algum 
composto com atividade antimicrobiana ou antiviral? Interfere no fluxo de água? Essas 
hipóteses podem ser testadas com todos os controles e rigores que qualquer ciência 
séria exige, levando em consideração toda a informação (incluindo modo de preparo e 
posologia) que traz o conhecimento tradicional. Argumenta-se que a cultura popular 
identifica sintomas, mas não caracteriza ou entende as doenças como nós; conclui-se, 
por isso, que tais informações não servem de base útil ao desenvolvimento de novos 
medicamentos (ELISABETSKY, 2005). 
A seleção etnofarmacológica de plantas para pesquisa e desenvolvimento 
(P&D), baseada na alegação feita por seres humanos de um dado efeito terapêutico 
nos mesmos, pode ser um valioso atalho para a descoberta de fármacos. Neste 
contexto, o uso tradicional pode ser encarado como uma pré-triagem quanto à 
propriedade terapêutica (isso não implica em admitir que plantas medicinais ou 
remédios caseiros sejam destituídos de toxicidade) (ELISABETSKY, 2005). 
O valor deste atalho deve ser apreciado no seguinte contexto: a indústria 
farmacêutica considera razoável a relação de 1:10.000 entre compostos 
comercializados/estudados; aquelas que contam com procedimentos de triagem 
associados a química combinatória, clonagem de receptores e automação/robotização 
(high trhough put screening) têm como razoável 1:250.000. Mesmo em casos em que 
se conhece o mecanismo de ação desejado e se tem o ensaio in vitro apropriado para 
 
9 
 
 
 
 
detectá-lo, a maior parte dos compostos que eventualmente interagem com a enzima 
ou o receptor em questão não é, infelizmente, biodisponível; ou, quando o é, acaba por 
demonstrar toxidade inesperada em humanos. De cada dez compostos descobertos, 
quatro seguem para a fase de desenvolvimento, enquanto existe uma taxa de 50% de 
desistência devido a toxicidade/efeitos adversos, antes mesmo que uma fase clínica I 
completa seja deslanchada (ELISABETSKY, 2005). 
 De acordo com o autor, esses números indicam o valor de relatos de uso 
tradicional em relação a biodisponibilidade e segurança relativa. Cabe notar que a 
Etnofarmacologia, por se basear em alegações de utilidade terapêutica e não em 
determinado perfil químico das espécies (o que, em tese, indicaria a possibilidade de 
interação com um determinado alvo biológico), é particularmente útil no caso de 
categorias de doenças cuja patofisiologia não é bem conhecida. A mesma linha de 
raciocínio pode ser aplicada com relação à descoberta de produtos protótipo (com 
mecanismos de ação inovadores): a abordagem mecanicista baseia-se na interação 
dos compostos com alvos farmacodinâmicos predeterminados, enquanto que a 
etnofarmacologia por partir de relatos de efeitos, pode levar à identificação de produtos 
com mecanismos de ação sequer conhecidos. Por isso modelos in vivo tem papel 
importante em estudos etnofarmacológicos. O uso da expressão sistema tradicional 
não implica admitir que se trata de um sistema estático ou uma forma de retardo 
cultural, que não responde ou contrasta com a racionalidade e a modernidade. 
 A coexistência de vários sistemas de saúde usados no mundo todo e sua 
utilização por diversas classes sociais, são evidências consideráveis de que a interação 
é dinâmica, levando a alterações em todos os sistemas que coexistem. É 
absolutamente fundamental para a estratégia etnofarmacológica que se compreendam 
os conceitos do sistema do qual se obtêm as informações; observações não 
contextualizadas são cientificamente inúteis. Já que sistemas médicos são produtos de 
culturas específicas com enorme variação em termos de crenças e práticas médicas, 
uma detalhadabase etnofarmacológica é necessária para selecionar espécies como 
fontes de drogas transculturalmente efetivas (ELISABETSKY, 2005). 
 Segundo o autor, uma medida acurada do valor do conhecimento tradicional em 
P&D de novos fármacos só seria possível se pudéssemos comparar os resultados (em 
termos de custo/benefício) de uma amostra razoável de pesquisas feitas com base em 
 
10 
 
 
 
 
coletas de plantas ao acaso ou por etnofarmacologia. Infelizmente, a maioria das 
indústrias (e mesmo a academia) não publica resultados negativos (mesmo resultados 
positivos em termos estritamente farmacológicos que por quais quer outras razões não 
são aproveitados). A vantagem parece óbvia. Analisando compostos com potencial 
anti-cancerígeno, verificou-se que a porcentagem de gêneros/ espécies vegetais ativas 
citadas em compêndios de plantas medicinais, é consistentemente próxima ao dobro 
das de triagem ao acaso. Quanto a antivirais, a seleção de plantas com uso tradicional 
mostrou uma porcentagem 5 vezes maior de substâncias ativas. 
Os dados da Shaman Pharmaceuticals, que usa Etnofarmacologia como eixo 
central de seu programa de P&D, corroboram a tendência encontrada com dados 
acadêmicos no contexto industrial. Embora em P&D o interesse praticamente resuma-
se a plantas como fonte de compostos químicos, o fato de que sistemas médicos 
tradicionais são organizados como sistemas culturais permite profundas diferenças nos 
significados de saúde, doença e etiologias. Tais diferenças resultam em uma variedade 
de práticas terapêuticas que não são facilmente acomodadas ou compreendidas no 
paradigma biomecânico da medicina ocidental contemporânea (ELISABETSKY, 2005). 
Conceitos como dieta, medidas preventivas, manutenção ativa do bem estar, 
posologias de longo prazo/baixa dosagem, misturas complexas e/ou mecanismos de 
ação multifacetados, freqüentemente centrais em sistemas médicos tradicionais, 
apenas recentemente começam a ser devidamente apreciados no ocidente. A 
compreensão de tais peculiaridades em termos farmacodinâmicos podem ser útil no 
desenvolvimento de novos paradigmas de uso de drogas. De fato, constantemente se 
identificam novos alvos de ação de drogas e remédios tradicionais, que podem atuar 
como modificadores do curso natural de patologias por mecanismos fisiológicos que 
ainda sequer conhecemos (ELISABETSKY, 2005). 
A maior parte da flora ainda desconhecida químico/farmacologicamente, e o 
saber tradicional associado existem predominantemente em países em 
desenvolvimento. A perda da biodiversidade e o acelerado processo de mudança 
cultural acrescentam um senso de urgência no registro desse saber. A criação de 
instrumentos legais de direitos de propriedade intelectual para conhecimentos 
tradicionais é de fundamental importância. O Brasil não é apenas rico em diversidade 
de recursos genéticos; é um país rico em culturas, emergentes diferentes que tiveram 
 
11 
 
 
 
 
e têm que tirar a vida com a mão. Ao fazer isso, manejam seu meio ambiente, 
conhecendo-o em detalhe se no todo de suas conexões e inter-relações. O respeito ao 
meio ambiente e ao modus vivendi de comunidades tradicionais, é essencial ao 
desenvolvimento sustentável e à manutenção da sociobiodiversidade (ELISABETSKY, 
2005). 
4 ETNOFARMACOLOGIA 
 
Fonte: ciclovivo.com 
No enfoque etnofarmacológico são selecionadas plantas conforme o uso 
terapêutico citado por um determinado grupo étnico. Fornecendo assim dados para 
uma pré-triagem e orientação bioguiada para os estudos fitoquímicos e farmacológicos 
na descoberta de novas substâncias farmacologicamente ativas para produção de 
remédios economicamente acessíveis à população, primordialmente em países 
subdesenvolvidos e em desenvolvimento (NUNES, 2016). 
Adicionalmente, está ciência também tem sido encarada recentemente como 
alternativa para desenvolvimento e conservação da flora, principalmente em áreas 
transformadas, habitadas por comunidades tradicionais. Levantamentos etnobotânicos 
e etnofarmacológicos no Brasil têm focado mais os grupos indígenas, caiçaras e 
caboclos, sendo os quilombolas pouco abordados (NUNES, 2016). 
 
12 
 
 
 
 
4.1 Etnoconhecimento à ciência 
A etnociência, em seus vários ramos, pode ser entendida quando o 
conhecimento das populações tradicionais é considerado importante na conservação. 
A etnobiologia é o estudo do saber e dos conceitos estabelecidos por qualquer 
sociedade a respeito do mundo natural e de suas espécies. É também o estudo da 
função da natureza no sistema de crenças e de adaptação do homem a determinados 
ambientes, destacando categorias e conceitos cognitivos usados pelos povos em 
estudo (NUNES, 2016). 
Seus métodos e teorias a respeito da maneira pela qual os povos distinguem 
os seres vivos, seus ambientes físicos e culturais estão em construção, 
levando em consideração que cada povo deve possuir algum sistema único de 
perceber e organizar ev entos e comportamentos (DIEGUES, 2000 apud 
NUNES, 2016). 
Desvendar o universo do etnoconhecimento de alguma população humana é 
sem sombra de dúvidas tarefa gratificante; o olhar diferenciado desse saber repassado 
ao longo de gerações desperta a pluralidade cultural, biológica e social que, no caso 
específico dos estudos com as plantas, é voltado a suas potencialidades de uso, em 
especial das plantas com diferentes formas de utilização. A cultura envolve a 
determinação das relações entre o ser humano e a natureza, segundo o qual são 
construídas representações cognitivas, verdadeiros mapas mentais que orientam 
ações, advindas do conhecimento local instalado, decodificadas por meio da 
cientificidade (NUNES, 2016). 
Todo conhecimento sobre plantas medicinais acompanha a trajetória histórica 
e cultural da humanidade, sendo transmitido oralmente de geração a geração, 
por meio dos rituais e mitos. Esses conhecimentos e as práticas africanas, 
indígenas e europeias formaram a base do conhecimento terapêutico 
tradicional. No entanto, com a industrialização e urbanização do país, o 
conhecimento considerado tradicional sobre plantas medicinais passou a ser 
sinônimo de atraso e charlatanismo. A desvalorização desses conhecimentos 
contribui também para a não valorização cultural das comunidades tradicionais 
que os utilizam (SANTOS, 2014 apud NUNES, 2016). 
O ser humano, no decorrer de sua existência, acumulou informações sobre o 
ambiente, por meio de constantes observações, seja nos acontecimentos da natureza, 
seja na experimentação empírica no uso dos recursos naturais disponíveis. O 
etnoconhecimento tem estreita relação com a interdisciplinaridade com outras áreas da 
 
13 
 
 
 
 
ciência, a exemplo da antropologia, química, biologia, física e farmacologia. O ser 
humano é considerado agente extremamente importante no ambiente, fazendo parte 
como componente ativo, definido pelo mesmo autor como biodiversidade, 
ecodiversidade ou sociodiversidade (NUNES, 2016). 
O conhecimento local representa o saber adquirido das populações, entre 
outros, sobre os ciclos da natureza, a reprodução e migração da fauna, a influência do 
ciclo solar e da lua em suas atividades, sobre os sistemas de manejo dos recursos 
naturais, os efeitos negativos do exercício de atividades em certas áreas ou período do 
ano, tendo como principal objetivo a conservação das espécies. 
Segundo o autor é através do conhecimento que o saber local e as técnicas 
patrimoniais são expressas e sobretudo, a demonstração de uma relação simbiótica 
entre o ser humano e a natureza. As observações populares sobre a utilização e 
eficiência de plantas medicinais contribuem, de forma relevante, para a divulgação de 
suas potencialidades terapêuticas. Despertam também o interesse de pesquisadores 
de áreas como botânica, farmacologia, fitoquímica, entre outras, enriquecendo o 
conhecimento e intensificação da utilização de plantas. Vários grupos sociais têm 
agentes responsáveispelo estudo e aplicação medicinal das plantas, a exemplo 
dexamãs, curandeiros, pajés, benzedeiras, enfim, a diversidade sociocultural parece 
refleti-los nas formas de representação e emprego de plantas medicinais. Nessa 
riqueza cultural, geralmente representada pelo conceito de “diversidade cultural” ou 
“sociodiversidade”, há, no entanto, séria distinção entre a legitimidade universal dos 
distintos sistemas de conhecimento de cada grupo social. Assim, surge a ideia de 
autoexclusão entre os sistemas de conhecimento. 
Cada civilização tende a superestimar a orientação objetiva de seu 
conhecimento; é, por isso, então, que ela nunca está ausente. Quando 
cometemos o erro de crer que o selvagem é exclusivamente governado por 
suas necessidades orgânicas ou econômicas, não reparamos que ele nos 
dirige a mesma censura, e que, a seus olhos, seu próprio desejo de saber 
parece melhor equilibrado que o nosso (LÉVI-STRAUSS, 2002 apud NUNES, 
2016). 
Assim, Almeida (2008) relatou que essa tensão social discutida por Lévi-Strauss 
é potencializada pela atual atividade de produção científica, que parte do conhecimento 
das comunidades tradicionais para a produção de uma ciência nos moldes modernos. 
Esses autores ainda destacaram que, apesar das diferenças e controvérsias, os 
 
14 
 
 
 
 
conhecimentos de comunidades locais e indígenas, denominados “populares”, 
“vulgares”, “empíricos”, “não científicos”, são de suma relevância para a pesquisa 
etnofarmacológica. O estudo desse conhecimento está ligado intimamente ao 
fortalecimento cultural e da identidade das comunidades. A prática de uso das plantas 
medicinais tanto na cura física quanto espiritual faz parte das relações que a 
comunidade desenvolveu ao longo de séculos com a natureza, consigo mesma e com 
tudo que a rodeia. Os conhecimentos e práticas de cuidado com a saúde, juntamente 
com o uso das plantas medicinais, destacam a estreita relação entre aspectos 
socioculturais e ambientais (NUNES, 2016). 
O autor afirma que esses conhecimentos e práticas estão relacionados com o 
saber tradicional, que é aquele transmitido ao longo de gerações de determinado povo, 
podendo fornecer dados importantes a novas pesquisas científicas sobre as 
propriedades terapêuticas das plantas. Toda sociedade humana armazena o acervo de 
informações que a possibilita interagir e prover suas necessidades de sobrevivência, 
sendo o ser humano, ainda, importante agente de mudanças vegetacionais, porque 
sempre foi dependente do meio botânico. Consultar a população e observar o cotidiano 
são fundamentais n a compreensão de certas doenças, em determinados locais. Essa 
preocupação é indissociável do arcabouço do conhecimento popular, desenvolvido nas 
comunidades tradicionais urbanas ou rurais. 
O conhecimento tradicional é a forma mais antiga da produção de teorias, 
experiências, regras, conceitos, isto é, de fazer ciência. Conforme o conhecimento 
popular ou tradicional foi construído ao longo dos anos, fruto de peculiares maneiras 
de ser e de viver das comunidades que são detentoras desse conhecimento. 
Complementa citando que é o conhecimento formado a partir da relação distinta entre 
essas comunidades e o meio em que vivem, intimamente ligado aos seus processos 
identitários e históricos. Em relação ao conhecimento tradicional, destaca que o cenário 
é de antagonismos, marcados pelo conflito entre os conhecimentos práticos das 
comunidades tradicionais e o conhecimento científico: Controlado pelos grandes 
laboratórios de biotecnologia, pelas empresas farmacêuticas e demais grupos 
econômicos que detêm o monopólio das patentes, das marcas e dos direitos 
intelectuais sobre os processos de transformação e processamento dos recursos 
naturais (NUNES, 2016). 
 
15 
 
 
 
 
Outros conhecimentos que explicam a realidade e hierarquia entre o científico e 
o não científico, evidenciando a relação de dominação. Destacou a necessidade de 
igualdade entre as formas diferentes de conhecimentos ao mesmo tempo que sugeriu 
o diálogo numa relação horizontal, na qual não há conhecimento superior ou inferior, 
mas diferentes entendimentos da realidade que devem ser comunicados e 
interdependentes. 
Há que ser alteridade para aceitar que são sociedades diferentes, constituídas 
por sujeitos que pousam outro olhar, sobre o significado e relacionamento com 
o mundo, dispare dos nossos por conta de uma lógica e interação diferenciada 
com o meio que o circunscreve, assim devem ser aceitos e respeitados, sem 
que se use este diferencial como diminuidor de sua qualidade ou argumento 
para expropriação dos seus direitos (SANTOS, 2014 apud NUNES, 2016). 
Assim, segundo Nunes (2016), é importante considerar que as comunidades 
tradicionais que, durante séculos, desenvolveram essas práticas e conhecimentos, hoje 
apropriados pela medicina convencional, não são consideradas titulares desse 
conhecimento. Nunes (2016) também discutiu que, enquanto for necessário, usar o 
método científico visando validar essas outras formas de conhecimento; e, enquanto o 
critério for ditado pela ciência hegemônica, não se tem possibilidade de diálogo na 
ecologia de saberes. Complementou afirmando não serem possíveis relatos de troca 
entre saber científico e não científico; não é possível discutir autonomia e direitos dos 
povos e comunidades tradicionais sobre o conhecimento que produzem ao longo de 
séculos. 
Conclui-se que romper com a estreiteza, porém, não é romper com o 
conhecimento científico, mas com a maneira com que é visto na atualidade, colocado 
a serviço de minorias imponderadas que exploram e dominam o conjunto da sociedade. 
Contrariamente, Silva et al. (2014) relataram que há aproximações entre o 
conhecimento científico e o empírico, transmitido oralmente entre gerações. Nesse 
sentido, muitas pesquisas levam em consideração os saberes tradicionais como base 
para a produção de novos fármacos. Dessa forma, segundo esses autores, ao 
estabelecer listas de plantas a serem estudadas, entidades governamentais e 
laboratórios de produção de novos fármacos têm ouvido comunidades indígenas e 
grupamentos rurais ou, mesmo, comunidades urbanas populares que obtiveram 
resultados satisfatórios no tratamento de suas doenças. 
 
16 
 
 
 
 
Nunes (2016) citou que o etnoconhecimento é usado como referência por 
melhorar a eficiência da pesquisa de moléculas bioativas, no entanto é desvalorizado 
por determinados campos do conhecimento e, também, em outros momentos, na 
exploração sem haver retorno social direto às comunidades que detêm esses 
conhecimentos. Os pesquisadores discutem que o acesso aos saberes tradicionais 
associados significa possibilidade de preservar a natureza. Além do avanço da ciência 
e geração de atividades que sejam economicamente rentáveis, detentores desses 
conhecimentos acreditam que são partes constitutivas da sua identidade, da razão de 
ser povo e a garantia da sobrevivência. 
5 PLANTAS MEDICINAIS 
 
Fonte: agrospectrumindia.com 
Possuindo mais de 20% de todas as espécies do planeta, o Brasil é o país com 
a maior biodiversidade dentre os 17 (dezessete) países que recebem a denominação 
de mega diversos.Com a implantação da Política e Plano Nacional de Plantas 
Medicinais e Fitoterápicos, por meio do Decreto Nº 5.813, de 22 de junho de 2006, veio 
junto a necessidade de se conhecer melhor as plantas usadas pela população para a 
fabricação de remédios caseiros (COSTA, 2019). 
O uso de plantas medicinais é bastante difundido nas comunidades tradicionais. 
É provável que todos, ao menos uma vez na vida, tenha experimentado um remédio 
 
17 
 
 
 
 
feito pela mãe, ou avó, ou receita por uma pessoa amiga da família, para curar uma 
febre, um resfriado, ou algo do tipo. Para investigar os efeitos benéficos e/ou deletérios 
causados pelo uso de plantas medicinais, a etnofarmacologia assume papel crucial na 
busca dos detentores do conhecimentoempírico das porções caseiras, preparadas 
com plantas. De acordo com Almeida (2011) a etnofarmacologia é definida como “O 
conhecimento multidisciplinar de agentes biologicamente ativos, tradicionalmente 
estudados ou observados pelo homem”. 
Para Santos e Silva (2015), as plantas medicinais, além de servirem para tratar 
enfermidades, têm impacto direto na renda das famílias, tanto para quem produz/coleta 
que vende a matéria prima, quanto para o comerciante que revende o produto in natura 
ou processado em garrafadas, pós ou triturado, e para o consumidor que economiza 
ao substituir o medicamento industrializado pelo artesanal, que custa mais barato. A 
OMS define planta medicinal como sendo “todo e qualquer vegetal que possui, em um 
ou mais órgãos, substâncias que podem ser utilizadas com fins terapêuticos ou que 
sejam precursores de fármacos semissintéticos. Diante dessa problemática, faz-se 
necessário o desenvolvimento de políticas mais eficazes direcionadas à conservação 
do bioma caatinga, que é exclusivamente brasileiro, detentor de um patrimônio natural 
de valor imensurável e ainda desconhecido em sua totalidade (COSTA, 2019). 
5.1 Conceito e princípios ativos 
Provavelmente, boa parte das espécies empregadas com fins medicinais pode 
ainda não estar catalogada pela farmacologia, as quais estão vivas nas florestas, nos 
campos e jardins, conhecidas e experimentadas pela população em suas farmácias 
caseiras. Estudiosos destacaram que planta medicinal é qualquer vegetal produtor de 
substâncias biologicamente ativas utilizadas direta ou indiretamente como 
medicamento. Segundo esses autores, as plantas sintetizam e acumulam compostos 
e substâncias químicas que podem provocar reações nos organismos, sendo 
denominados “princípios ativos”. Amorozo (2002) considerou medicinal a planta 
administrada exercendo algum tipo de ação farmacológica. Rodrigues (2007) 
classificou como medicinal a planta que contém substâncias bioativas, com 
propriedades terapêuticas, profiláticas ou paliativas utilizadas na medicina, ou seja, são 
 
18 
 
 
 
 
plantas que melhoram a qualidade de vida e interferem e, ou, reforçam o sistema 
imunogênico (BARATA, 2007). 
O valor dos produtos bioativos das plantas medicinais à sociedade e à economia 
é incalculável, afinal, um em cada quatro produtos comercializados nas farmácias é 
preparado com matéria-prima extraída de plantas ou de estruturas químicas derivadas 
desses vegetais. Aproximadamente, 80% da população mundial depende de remédios 
tradicionais e caseiros, por meio do uso direto de plantas. A continuidade desse uso 
pode ser ameaçada pela interferência dos atores externos à dinâmica social do grupo, 
com a exposição das comunidades às pressões econômicas e culturais externas. Ao 
procurar substâncias ativas das plantas, devem ser consideradas as informações da 
medicina tradicional, pois dados da bibliografia estabelecem que é muito mais provável 
encontrar atividade biológica em plantas, por meio do uso na medicina tradicional do 
que em plantas escolhidas ao acaso (NUNES, 2016). 
Princípios ativos em plantas medicinais são substâncias que a planta produz e 
armazena durante o seu desenvolvimento. Normalmente, namesma planta medicinal 
há vários componentes ativos, dos quais algum, ou determinado grupo, revela a 
atividade principal. Esses princípios ativos não estão distribuídos uniformemente nas 
plantas; estão concentrados em flores, folhas, raízes, sementes, frutos ou casca. Outra 
característica importante é que a concentração não é uniforme durante o ciclo de vida 
da planta, podendo variar com o ambiente, colheita e forma de preparo (NUNES, 2016). 
 
 
19 
 
 
 
 
6 FISIOLOGIA DE PLANTAS MEDICINAIS COM VISTAS À 
ETNOFARMACOLOGIA 
 
Fonte: altoastral.com 
De maneira indireta, o conhecimento tradicional sobre o uso de plantas 
medicinais desperta o interesse da ciência em estudos multidisciplinares, como por 
exemplo, etnofarmacologia, botânica, fisiologia vegetal, fitoquímica e farmacologia que 
juntas enobrecem os conhecimentos sobre a medicina natural (SCHULTZ, 2015). 
A etnofarmacologia pode auxiliar na ampliação do conhecimento acerca das 
etnoespécies de qualidades terapêuticas para populações tradicionais da Amazônia 
como já verificada por diversos autores (Schultes e Raffaulf, 1990; Amorozo, 1996; 
Silva, 2002; Shanley e Luz, 2003; Coelho-Ferreira, 2009; Etkin e Elisabetsky, 2005; 
Costa e Mitja, 2010; Oliveira et al., 2011a; Shanley et al., 2012, Vásquez et al., 2014). 
 Já o estudo da fisiologia vegetal permite conhecer os processos e respostas 
vitais das plantas à medida que iteragemcom seus ambientes bióticos e 
abióticos, além de permitir a análise das causas de seus diferentes 
mecanismos fisiológicos, tais como trocas gasosas, crescimento e 
desenvolvimento e produção de metabólitos secundários(TAIZ, 2013 apud 
SCHULTZ, 2015). 
Enquanto que a pesquisa fitoquímica permite conhecer os compostos químicos 
das plantas cultivadas, atuando como relevante ferramenta na elucidação do 
comportamento fisiológico, uma vez que a produção dos metabólitos secundários nas 
plantas é susceptível aos fatores genéticos, morfológicos, variação geográfica, estágio 
 
20 
 
 
 
 
do ciclo vegetativo da planta, técnicas de cultivo, método de extração, umidade relativa, 
duração de exposição ao sol, regime de ventos, grau de hidratação do terreno e 
variações sazonais (SCHULTZ, 2015). 
Além de contribuir para o conhecimento dos compostos das plantas medicinais 
utilizadas localmente e assegurar à população o uso adequado e seguro destas 
plantas, propiciam o desenvolvimento de novos fármacos. Cada espécie medicinal tem 
comportamentos fisiológicos diferenciados quanto ao tipo de solo, adubação, irrigação 
e radiação solar necessitando assim de condições adequadas para o seu ciclo de vida. 
Portanto, é fundamental que técnicas de manejo sejam desenvolvidas respeitando-se 
as condições edafoclimáticas regionais, uma vez que a produção de biomassa e 
princípios ativos pelas plantas pode ser intensamente afetada pelo ambiente de cultivo 
(NUNES, 2016). 
As plantas estão constantemente expostas a estresses abióticos ou bióticos, 
interações que causam modificações no crescimento, metabolismo e rendimento 
agrícola. Os principais fatores abióticos limitantes da produtividade das culturas são: 
luminosidade, temperatura, pluviosidade, nutrição, salinidade, época e horário de 
coleta, bem como técnicas de colheita e pós-colheita. Além destes, o estresse hídrico 
é o principal entrave da produtividade agrícola mundial (SCHULTZ, 2015). 
6.1 Etnofarmacologia: da planta ao medicamento 
Conceitos e utilização da etnofarmacologia 
 
O conhecimento construído por comunidades tradicionais sobre as plantas 
medicinais não é restrito a “mero repertório” ou “listagem de espécies vegetais”. Moreira 
(2007) relatou que as comunidades compreendem as fórmulas sofisticadas, o 
receituário e os respectivos procedimentos para realizar a transformação. Também, 
destacaram que esses conhecimentos são fruto de longo processo de contato com a 
natureza, no qual os povos, ancestralmente, inventaram práticas e tecnologias de 
cuidado com o solo e, consequentemente, com o cultivo de plantas medicinais. 
Elisabetsky (1999) definiu a etnofarmacologia como o ramo da 
etnobiologia/etnobotânica que abrange as práticas médicas, especialmente de 
 
21 
 
 
 
 
remédios usados em sistemas tradicionais de medicina. A etnofarmacologia estuda as 
relações humanas passadas e presentes, inter-relações ecológicas, evolucionárias e 
simbólicas (NUNES, 2016). 
Nesse contexto, Nunes (2016) discutiu que possui a missão de resgatar esse 
conhecimento, a fim de melhor entender e aprimorar as relações do homem com os 
recursos naturais. A pesquisa etnofarmacológica é o misto de algumas disciplinas das 
áreas de química, biologia e medicina. Metodologicamente, parte daatividade inicial da 
pesquisa etnofarmacológica é confundida com a bioprospecção, ou seja, com a busca 
e levantamento de novas espécies com algum potencial terapêutico ou comercial. 
Sant’Ana (2002) definiu bioprospecção como o procedimento que busca o 
levantamento de espécies vegetais com possível valor econômico. O conhecimento 
etnofarmacológico está alicerçado na vivência dos indivíduos, nas suas relações 
pessoais, sociais e também com o ambiente. Esse conhecimento tradicional é resultado 
da integração da comunidade com o ambiente e suas descobertas, o que justifica sua 
riqueza e diversidade (NUNES, 2016). 
A abordagem etnofarmacológica é caracterizada pelo levantamento 
farmacológico das formas de classificar, reconhecer e estudar as plantas medicinais 
com base na observação e em diferentes tipos de conhecimento. A etnofarmacologia 
pode ser definida como procedimento de pesquisa que abrange, na sua etapa inicial 
de levantamento, mais de um sistema epistêmico. A etnofarmacologia é fundamental, 
a qual busca, no conhecimento empírico das comunidades, alguma solução de custo 
relativamente baixo, possível de ser usada de forma científica e racional no combate 
aos males que acometem as pessoas, sobretudo em países em desenvolvimento 
(NUNES, 2016). 
6.2 Aplicações da etnofarmacologia e sistemas etnofarmacológicos 
Nunes (2016) resumiu as principais aplicações da etnofarmacologia na atualidade, 
sendo elas: 
• Possibilitar a descoberta de substâncias de origem vegetal com aplicações 
médicas e industriais, devido ao crescente interesse pelos compostos químicos 
naturais. 
• Acessar o conhecimento de novas aplicações das substâncias já identificadas. 
 
22 
 
 
 
 
• Estudar as drogas vegetais e seu efeito no comportamento individual e coletivo 
dos usuários, associado a determinados estímulos culturais ou ambientais. 
• Permitir o reconhecimento e preservação de plantas potencialmente importantes 
em seus ecossistemas. 
• Documentar o conhecimento tradicional e os complexos sistemas de manejo e 
conservação dos recursos naturais dos povos tradicionais. 
• Servir como base de informação que oriente a elaboração de programas de 
desenvolvimento e preservação dos recursos naturais dos ecossistemas 
tropicais. A fitoterapia praticada atualmente no Brasil é resultado da influência 
de tradições culturais, criando, assim, sistemas etnofarmacológicos bastante 
heterogêneos em relação às plantas utilizadas. De acordo com Ambiente Brasil, 
a etnofarmacologia brasileira pode ser dividida em seis sistemas, que são: 
Sistema etnofarmacológico europeu: trazido por colonizadores europeus, é mais 
forte no Sul do país, onde o clima mais semelhante ao da Europa propiciou a 
boa adaptação das plantas introduzidas. Esse sistema tem influência das 
plantas de uso mundial, principalmente das europeias, como no caso da erva-
cidreira (Melissa officinalis) e da erva-doce (Pimpinella anisum), entre outras: 
• Sistema etnofarmacológico africano: trazido por escravos africanos, associa 
rituais religiosos ao uso de plantas medicinais. É mais encontrado no estado da 
Bahia. Como exemplos de plantas introduzidas por esse sistema, têm-se a 
arruda (Ruta graveolens) e o jambolão (Syzigium jambolanum). 
• Sistema etnofarmacológico indígena: constituído por plantas nativas utilizadas 
pelas várias comunidades indígenas do país, pode ser encontrado em quase 
todo o território nacional. Entre as plantas, é destaque a caapeba (Piper 
umbellatum), o abajeru (Chrisobalanus icaco) e o urucum (Bixa orellana). 
• Sistema etnofarmacológico oriental: trazido pelos imigrantes chineses e 
japoneses, entre o final do século XIX e o início do século XX, como pelos 
portugueses colonizadores, por ocasião de suas navegações até a Ásia, é 
encontrado, principalmente, no estado de São Paulo. Como exemplo de plantas 
trazidas por esses imigrantes, são destaque o gengibre (Zingiber officinale), a 
lichia (Litchi chinensis), a raiz forte (Wassabia japonica), a canela (Cinnamomum 
cassia) e o cravo (Syzygium aramaticum). 
 
23 
 
 
 
 
• Sistema etnofarmacológico amazônico: derivado das características peculiares 
da flora nativa da região Amazônica, associada à absorção de conhecimentos 
indígenas pelos caboclos. Decorre do isolamento cultural dessa região e possui 
linguagem própria. Usa ervas específicas da região, como o guaraná (Paulinia 
cupana), a copaíba (Copaifera officinalis) e a fava-de -tonca (Dipteryx odorata). 
• Sistema etnofarmacológico nordestino: decorre da influência indígena e 
africada associada a aspectos de más condições socioeconômicas, clima e 
vegetação peculiar da região. Como contribuições do sistema nordestino, 
destacam-se plantas como a aroeira (Schinus molle), a catinga-de -mulata 
(Tanacetum vulgare) e o bamburral (Hyptis suaveolens) (NUNES, 2016). 
6.3 Estado da arte e desdobramentos da etnofarmacologia 
O estado da arte demonstra que as investigações etnofarmacológicas e 
etnobotânicas merecem destaque como a principal abordagem reconhecida por 
estudiosos da área em todo o mundo, como ferramenta de seleção de plantas 
medicinais. As qualidades e fortalezas dessas abordagens já tiveram discussões 
suficientes, restando poucos questionamentos do potencial e impactos biológicos, 
econômicos e sociais (NUNES, 2016). 
A pesquisa etnofarmacologia englobaria o estudo das formas de utilização das 
plantas, fungos, animais, micro-organismos e minerais, bem como os efeitos biológicos 
e farmacológicos, relacionados nos princípios estabelecidos em convenções 
internacionais; e na observação e investigação experimental da atividade biológica de 
substâncias vegetais e animais, a partir de abordagens derivadas da etnofarmacologia, 
da etnobotânica, da etnoquímica, da farmacologia e da toxicologia. No Brasil, as 
pesquisas envolvendo a temática etnofarmacológica são largamente realizadas. 
Segundo o estudo bibliográfico realizado por Diegues (1999), que compreendia os 
trabalhos desenvolvidos no período de 1959 a 1999, foram identificados 
aproximadamente 868 trabalhos acadêmicos, realizados com base no conhecimento 
de populações locais, tradicionais ou indígenas. Dos 868 trabalhos pesquisados por 
Diegues, 483 foram levantamentos do conhecimento tradicional de grupos locais não 
indígenas e 385, de levantamentos a partir do conhecimento tradicional de grupos 
 
24 
 
 
 
 
indígenas. A maior quantidade de trabalhos foi publicada na forma de artigos 
acadêmicos, seguidos de produção de teses de doutorado e de coletâneas. 
Na investigação etológica, a abordagem tem como orientação avaliar a utilização 
de metabólitos secundários por animais, ou outras substâncias não nutricionais dos 
vegetais, com a finalidade de combater doenças. Na abordagem quimiotaxonômica ou 
filogenética, é feita a seleção de espécies de alguma família ou gênero, diante de algum 
conhecimento fitoquímico de, ao menos, uma espécie do grupo, a exemplo de espécies 
de determinado gênero que possuam substâncias químicas em comum, visando, 
assim, facilitar seus estudos. A abordagem etnodirigida consiste na seleção de 
espécies de acordo com o conhecimento e indicação de grupos populacionais 
específicos em determinados contextos de uso, enfatizando, sobretudo, o 
conhecimento construído localmente a respeito dos recursos naturais e a aplicação que 
fazem em seus sistemas de cura, sendo esse um dos caminhos mais utilizados 
atualmente, por ser de baixo custo, e a obtenção de dados pode ser feita por período 
de tempo muito menor (NUNES, 2016). 
7 FITOTERÁPICOS 
 
Fonte: pinterest.com 
As plantas fitoterápicas são ervas que possuem atividades capazes de auxiliar 
no tratamento e cura das doenças. Segundo Fonte (2004), “substâncias 
 
25 
 
 
 
 
farmacologicamente ativas fazem com que uma determinada planta seja considerada 
medicinal, sendo que tais substâncias passam a ser chamadas de princípios ativos(ARAÚJO, 2019). 
A prática terapêutica por meio de plantas medicinais sempre foi realizada pela 
humanidade, por meio de distintas formas de uso e medicação. Entretanto, durante o 
processo de evolução da indústria farmacêutica e o aumento da fabricação dos 
medicamentos sintéticos a eficácia da flora medicinal passou a ser colocada em 
segundo plano. 
Fernandes (2004) destaca a influência negativa após introdução da terapêutica 
sintética sobre a terapêutica natural e uso das plantas medicinais como forma de 
tratamento de enfermidades. as indústrias farmacêuticas brasileiras foram, em sua 
maioria, desativadas ou substituídas por empresas multinacionais, modificando então 
a prática médico-terapêutica que se afastou e, mesmo negligenciou a utilização de 
plantas medicinais (ARAÚJO, 2019). 
Nesse sentindo, o pensamento de Lorenzi corrobora com essa reflexão ao 
afirmar que, O acesso a medicamentos sintéticos e o pouco cuidado com a 
comprovação das propriedades farmacológicas das plantas tornou o conhecimento da 
flora medicinal sinônimo de atraso tecnológico, muitas vezes, charlatanismo. Após 
algumas adversidades na área, o conhecimento referente às plantas com propriedades 
medicinais passa a ser sistematizado. 
As novas tendências globais de uma preocupação com biodiversidade e as 
ideias de desenvolvimento sustentável trouxeram novas áreas ao estudo das plantas 
medicinais brasileiras, que acabaram despertando novamente um interesse geral na 
fitoterapia (ARAÚJO, 2019). 
Assim, a fitoterapia abrange a terapêutica que visa à cura de enfermidades por 
meio das plantas medicinais e trata-se de uma forma de tratamento utilizada há muito 
tempo. “Ao longo dos séculos, produtos de origem vegetal constituíram as bases para 
tratamento de diferentes doenças. Entretanto, sua importância passou a ser pleiteada 
recentemente. Em 2006 foi criada a Política Nacional de Práticas Integrativas e 
Complementares (PNPIC), essa que dentre os seus tratamentos alternativos visa à 
inclusão da terapêutica por meio de fitoterápicos. No mesmo ano, foi criado o 
“Programa Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos” (PNPMF) por meio do 
 
26 
 
 
 
 
decreto Nº 5.813, que estabelece em seus princípios a importância da valorização do 
conhecimento tradicional, do uso sustentável da biodiversidade brasileira e da 
ampliação das opções terapêuticas para a melhoria da atenção à saúde da população. 
Ademais, o programa estabelece a relevância do acesso da população aos fitoterápicos 
por meio do Sistema Único de Saúde (SUS) e da realização de novas pesquisas 
científicas de desenvolvimento tecnológico no quesito de plantas medicinais. 
Consequentemente houve o aumento de estudos referente às potencialidades dos 
recursos naturais, do uso farmacológico das plantas, juntamente com a busca por 
novos fitoterápicos. A fitoterapia utiliza-se das diversas partes das plantas, como 
raízes, cascas, folhas, frutos e sementes, de acordo com a erva em questão. Há 
também diferentes formas de preparação destas plantas, sendo o chá a mais utilizada, 
preparado por meio da decocção ou infusão. No primeiro processo a planta a ser 
utilizada é fervida junto à água, já no segundo a água é fervida sozinha e depois 
colocada sobre a planta, quando são liberados os seus princípios terapêuticos 
(BRASIL, 2009). 
Reforça-se que os fitoterápicos são medicamentos produzidos por substâncias 
naturais, que quando não utilizados da forma correta, podem ser prejudiciais à saúde. 
Plantas medicinais somente por ser utilizadas como medicamento se de maneira 
adequada. Ademais afirma que, a recomendação do seu uso como verdadeiramente 
medicinal ou, em outras palavras, como planta medicinal validada e incluída na 
Farmacopeia requer, numa condição ideal, ter identificado seu princípio ativo ou tê-lo 
evidenciado farmacologicamente. Ou seja, para a utilização racional das espécies 
medicinais também se faz necessário o conhecimento da real ação farmacológica da 
espécie utilizada. Não se pode esquecer que as plantas medicinais têm uma 
importância econômica que atinge dois extremos: de um lado a rentabilidade 
representada pela indústria farmacêutica e que concentra os lucros em poucos 
indivíduos e poucos países. De outro, a economia representada pela utilização das 
plantas medicinais visando atender à grande população mundial que não tem acesso 
ao medicamento, ou mesmo que tem acesso, mas que prefere uma opção farmacêutica 
natural (ARAÚJO, 2019). 
Considerando que há esses dois extremos, surge ainda a preocupação com a 
biodiversidade e os recursos naturais. Em meio a tantos avanços e também muitas 
 
27 
 
 
 
 
preocupações e acompanhando as tendências globais de atenção e cuidado com a 
biodiversidade e o desenvolvimento sustentável – observa-se um gradativo retorno às 
fontes naturais de recursos e outras práticas, erroneamente chamadas de alternativas. 
Nesse aspecto, os estudos fitoquímicos têm avançado significativamente nas últimas 
décadas, esses que consistem em realizar um levantamento dos componentes 
químicos existentes nas plantas. Nesse sentido, as novas descobertas de 
potencialidades têm despertado interesse na indústria farmacêutica para fabricação de 
novos medicamentos de origem natural. A indústria farmacêutica, por ocupar o terceiro 
lugar no comércio internacional entre os diversos setores industriais, em termos de 
volume de recursos, é considerada um setor atraente para investimentos, constituindo-
se como mercado em potencial (ARAÚJO, 2019). 
Nesse sentido, muitas instituições se apropriam dos recursos vegetais para a 
criação de novos medicamentos de base natural, esses que são “fortes aliados para 
tratamentos de pessoas que preferem não ingerir medicamentos sintéticos e/ou não 
tem acesso aos mesmos. 
Reforça-se que a Mata Atlântica é uma das formações florestais mais 
ameaçadas no Brasil. Em contraste com sua enorme Biodiversidade e exuberância 
Natural, mais de 70% da população brasileira vive no território deste bioma, o que 
reforça a pressão antrópica sofrida. Dessa forma, parece oportuno pensar não somente 
na cadeia produtiva de fitoterápicos, mas também no uso sustentável da biodiversidade 
dos ecossistemas. Segundo Heinzmann & Barros (2007) é importante adotar medidas 
de conservação da biodiversidade “uma vez que a exploração de plantas nativas de 
uso medicinal, através da extração direta nos ecossistemas (extrativismo), tem levado 
a reduções drásticas das populações naturais dessas espécies. 
Sheffer & Junior reforçam essa ideia ao afirmarem que, a resistência ao cultivo 
das espécies nativas é grande, por sua aparente abundância e pela inexpressiva 
fiscalização no cumprimento de legislação, fazendo com que a matéria-prima oriunda 
de cultivos, embora de melhor qualidade, concorra com a obtida por extrativismo, de 
preço menor. Entretanto, a contínua exploração predatória destes recursos naturais 
torna escassa essa matéria-prima, o que refletirá num futuro aumento de seus preços. 
As espécies nativas são extraídas sem muita precaução, devido a sua ampla 
disponibilidade no interior da Mata Atlântica. Porém, os sistemas de reprodução das 
 
28 
 
 
 
 
espécies são influenciados por diversos fatores ambientais e de consumo. É importante 
manter a integridade dos recursos naturais no Litoral do Paraná por meio de ações que 
visem o desenvolvimento sustentável da região e a preservação das espécies locais, 
uma vez que as plantas medicinais são utilizadas como matéria-prima para a fabricação 
de medicamentos, para o uso tradicional, ademais, são exportadas para outros países 
desprovidos da biodiversidade existente nesse território (ARAÚJO, 2019). 
7.1 Fitoterapia 
A palavra Fitoterapia tem etimologia grega a partir da coesão dos termos, Phyton 
que quer dizer vegetal e Therapeia que se traduz em terapia, que em tradução livre 
significa “terapia utilizando plantas”. Aindasegundo os mesmos para OMS os 
Fitoterápicos são preparações feitas com plantas, cujas partes utilizadas podem ser: a 
planta toda, no caso de erva, onde todo o material da planta é bruto, raízes, caule, 
folhas, flores, frutos, sementes, lenho, casca, dentre outras partes, quer sejam inteiras, 
em pedaços ou pulverizadas e processadas de acordo com a maneira peculiar de cada 
povo ou comunidade. Assim, a fitoterapia racional é um método alopático de tratamento 
médico baseado em evidências científicas e fundamentalmente diferentes dos 
conhecimentos tradicionais, isto é, aqueles que passam de geração em geração sem 
que tenha havido um acompanhamento clínico da droga em questão (COSTA, 2019). 
Dentre as preparações dos fitoterápicos estão as decocções, extratos, infusões, 
e tinturas dentre outras. Conforme o Formulário de Fitoterápicos da Farmacopéia 
Brasileira a tintura, objeto de estudo deste trabalho, é uma preparação que resulta da 
extração de substâncias ou grupo de substâncias feita com álcool, ou álcool e água, de 
vegetais ou animais ou da diluição dos extratos correspondentes. Podem ser simples, 
quando consiste em uma só matéria-prima, ou composta, com mais de uma matéria-
prima. 
De acordo com a RDC 13/2013 da ANVISA, a tintura é classificada como 
derivado vegetal. Jatobá (Hymenaea spp). A tintura aqui analisada é a do Jatobá, planta 
do gênero Hymenaea que possui 16 espécies, onde 13 delas são encontradas no 
Brasil. Pertencente a subfamília Caesalpinioideae constitui-se de 64 gêneros e 790 
espécies, entre os mais diversos tipos de vegetação (arbóreo, arbustivo e lianas). Ela 
 
29 
 
 
 
 
constitui a grande família Leguminosa e Adans. com 730 gêneros e 19.325 espécies e 
mais duas subfamílias (Faboideae e Mimosoideae). As plantas do gênero Hymenaea 
são comumente utilizadas na medicina tradicional brasileira para o tratamento de 
processo inflamatório, infecções bacterianas, reumatismo e anemia. Seus extratos 
vegetais possuem substâncias produzidas pelo metabolismo secundário, com 
capacidade de inibir bactérias e outros micro-organismos. As moléculas presentes nos 
extratos vegetais, como os compostos fenólicos, alcaloides, flavonoides e terpenos são 
ativos contra vírus, bactérias e fungos. 
O jatobá, assim como são conhecidas as espécies do gênero Hymenaea, possui 
larga distribuição geográfica e pode ser encontrada em diversos ambientes. Sua 
madeira, por ser considerada resistente é bastante usada na construção civil, de 
cercas, fabrico de móveis, canoas, dentre outras utilidades. A resina de algumas 
espécies desse gênero é usada como verniz, polidores e impermeabilizantes para 
barcos. Extratos hidroalcólicos extraídos do suber apresentam atividade antibiótica 
contra o isolado clínico meticiclina-resistente de Staphylococcus aureus. A resina 
extraída do caule, bem como, a casca do fruto da Hymeneae spp, são utilizadas no 
tratamento de problemas respiratório. Os frutos variam quanto a sua forma, tamanho e 
coloração, e sua farinha também apresenta propriedades organolépticas diferentes, 
conforme a local onde o espécime é encontrado (COSTA, 2019). 
7.2 Estudo fitoquímico 
Compostos fenólicos são um grupo de substâncias de definição complexa. É 
caracterizado por pelo menos um anel aromático com no mínimo uma hidroxila livre ou 
ligando-se aparte de outras funções, como os éteres e ésteres. A complexidade da 
definição de compostos fenólicos vegetais, dá-se por causa da participação dos 
metabólitos secundários que possuem os mesmos elementos estruturais, porém 
pertencentes a outras classes de fitoquímicos totalmente diferentes, como por exemplo, 
os alcaloides e terpenos. Os compostos fenólicos vegetais são formados de duas 
grandes vias aromáticas, a via shikimato e a via acetato, e com a possibilidade, porém 
menos frequente, da participação de uma terceira via, a mavelonato, que é pouco 
 
30 
 
 
 
 
comum, mas as vezes as três vias participam de uma mesma formação, tal como 
exemplo os retinoides (COSTA, 2019). 
Os vegetais, em sua grande maioria, apresentam em sua composição química 
polifenois, aos quais são atribuídos importantes papéis funcionais, como resistência 
das plantas a patógenos e insetos. Os polifenois desempenham papel importante como 
antioxidantes, inibindo a formação de radicais livres (COSTA, 2019). 
7.3 Controle de qualidade 
O controle de qualidade químico dos produtos fitoterápicos é o conjunto de 
operações que permitem qualificar e quantificar os constituintes químicos ativos ou não 
(marcadores) e quantificar contaminantes da matéria-prima, derivado e produto 
acabado (BRASIL, 2013).Os critérios de eficácia e segurança de plantas medicinais 
estão relacionados a qualidade, isto é, as plantas necessitam ser corretamente 
identificadas, cultivadas e coletadas, devem estar livres de material estranho, partes de 
outras plantas e contaminações inorgânicas e/ ou microbianas (COSTA, 2019). 
As especificações para matérias-primas vegetais e medicamentos fitoterápicos 
têm o objetivo de definir a qualidade, e garantir a segurança e eficácia. As 
especificações devem incluir, quantificação dos marcadores, e métodos analíticos 
disponíveis; e análises qualitativas e quantitativas sobre os princípios ativos e/ou 
marcadores quando conhecidos, ou classes de compostos químicos característicos da 
espécie. Essas informações servem como base da avaliação da qualidade. Para o 
controle de qualidade de tinturas, devem ser aplicadas metodologias químicas e físico-
químicas, com o objetivo de estabelecer as condições adequadas de estabilidade, bem 
como metodologias de controle de qualidade microbiológico, analisando a 
contaminação por microrganismos que podem ser patogênicos para o usuário ou que 
podem propiciar a degradação do produto diminuindo, assim, a sua eficácia e 
segurança. 
Após o processo de produção, as tinturas devem passar por vários ensaios 
dentre eles, determinação de compostos marcadores, como taninos, flavonoides, entre 
outros. Todos estes ensaios são importantes para assegurar o padrão de qualidade, 
atendendo a uma especificação pré-estabelecida. A determinação do teor de 
 
31 
 
 
 
 
marcadores fitoquímicos é uma das estratégias mais importantes para o controle da 
qualidade das matérias-primas e produtos derivados de insumos farmacêuticos ativos 
de origem natural, útil na padronização das condições de processamento das plantas 
medicinais (COSTA, 2019). 
A variação no teor de princípios ativos pode acarretar grande diferença nos 
efeitos terapêuticos esperados, quando do uso dos materiais para fins medicinais, 
podendo gerar variadas ações farmacológicas relacionadas a esse grupo de 
compostos ativos. 
De acordo com RDC 17/2010, marcador é um composto ou classe de compostos 
químicos (ex: alcaloides, flavonoides, ácidos graxos etc.) presentes na matéria-prima 
vegetal, preferencialmente tendo correlação com o efeito terapêutico, que é utilizado 
como referência no controle de qualidade da matéria-prima vegetal e dos 
medicamentos fitoterápicos (BRASIL, 2010). 
Neste contexto, faz-se necessária a determinação dos parâmetros de qualidade 
do produto para que seja assegurada a confiabilidade e a fim de promover a 
manutenção da qualidade do produto ao consumidor garantindo, assim, seu uso 
racional, uma vez que a má qualidade de um produto fitoterápico pode comprometer a 
eficácia podendo oferecer riscos à saúde do consumidor (COSTA, 2019). 
8 O ESTRESSE HÍDRICO NO CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO DE 
PLANTAS MEDICINAIS AROMÁTICAS 
De todos os recursos de que as plantas necessitam para crescer e desenvolver-
se, a água embora seja o mais abundante na natureza, frequentemente torna-se o mais 
limitante, visto que é essencial aos diversos processos metabólicos das plantas. O 
déficit hídrico é um dos fatores abióticos que mais afeta a produtividade da agricultura 
ocasionando consideráveis reduções nocrescimento, na biomassa e na área foliar de 
plantas medicinais e aromáticas. Um dos primeiros mecanismos de defesa das plantas 
à restrição hídrica é a regulação estomática, pois é através da redução da condutância 
estomática (gs) que as perdas d’água por transpiração (via estômatos) é reduzida 
evitando assim a desidratação dos tecidos e mantendo a turgescência foliar por um 
período mais longo quanto possível. Portanto, este mecanismo pode ser um indicador 
 
32 
 
 
 
 
de déficit hídrico em plantas. Através da condutância dos gases via estômatos, também 
é possível detectar mudanças ambientais, e deduzir se uma espécie é mais tolerante 
ou mais sensível ao estresse hídrico, uma vez que à medida que o potencial hídrico 
diminui aumenta a resistência estomática às trocas gasosas resultando no fechamento 
dos estômatos. No entanto, com o fechamento estomático restringe-se a entrada de 
CO2 para o mesófilo foliar, o que provoca a redução da fotossíntese e da respiração, 
afetando o acúmulo de foto assimilados, no que pode reduzir a produção da biomassa 
da parte aérea, afetando deste modo, a produtividade dessas culturas. De acordo com 
estudiosos em condições de déficit hídrico as plantas tendem a investir menos no 
crescimento da parte aérea e mais no crescimento das raízes, objetivando aumentar a 
capacidade de absorção de água e nutrientes (CARVALHO, 2015). 
Segundo Carvalho (2015) um dos fatores que promovem a expansão radicular 
em plantas sob restrição hídrica é o fito hormônio ácido abscísico (ABA), que é 
produzido nas raízes, o qual impede a síntese de etileno permitindo o crescimento das 
raízes no solo. Contudo, acréscimos de ABA nas folhas induz o fechamento estomático 
ocasionando assim diminuição do crescimento da parte aérea das plantas. As 
respostas fisiológicas das plantas aos diferentes estressores variam de espécie para 
espécie, assim como da duração do estressor, do genótipo da planta, da fase de 
desenvolvimento e dos fatores ambientais. Diante disto, as plantas podem apresentar 
tolerância, resistência ou suscetibilidade diante do fator estresse. 
Segundo autor estudos que enfatizem as diferenças fisiológicas entre as 
espécies presentes em um meio ambiente são de vital importância para o correto 
entendimento dos fatores ambientais e atributos da vegetação que determinam 
prognósticos sobre a distribuição da vegetação em resposta às mudanças climáticas e 
regimes de distúrbio. Nascimento (2003) investigou a influência do estresse hídrico 
sobre as trocas gasosas e características anatômicas de plantas jovens de guaco 
(Mikania glomerata Sprengel) e pode concluir que em plantas submetidas ao estresse 
severo houve uma queda significativa da condutância estomática, transpiração e 
fotossíntese e, consequentemente, uma redução da concentração de carbono 
intracelular. Santos et al. (2004) verificaram que o déficit hídrico além de induzir o 
abortamento das folhas, reduziu significativamente a AFE de Hyptispectinataem 
apenas quatro dias de estresse (CARVALHO, 2015). 
 
33 
 
 
 
 
Estudiosos também observaram uma diminuição significativa da AFE nas 
espécies estudadas que foram submetidas à deficiência hídrica. Verificou em plantas 
de capim-limão (Cymbopogon citratus) que a razão entre a parte aérea/raiz foi menor 
e a razãoraiz/parte aérea foi maior nas plantas sob déficit hídrico, mostrando um maior 
investimento da planta no desenvolvimento das raízes em detrimento da parte aérea. 
Impondo diferentes regimes hídricos em mudas de Dalbergia sissoo, também 
verificaram que houve um acréscimo na alocação de biomassa para a raiz com o 
aumento gradual do déficit hídrico, com conseqüente diminuição da matéria seca das 
folhas (CARVALHO, 2015). 
A deficiência hídrica diminuiu o crescimento, a produção de biomassa fresca e 
seca das plantas e o teor de óleo essencial de Melaleuca alternifolia Cheel. Entretanto, 
autores observaram que o déficit hídrico provocou em Calendula officinalis L. um 
aumento significativo na biomassa seca de suas flores, bem como maior rendimento 
de flavonóides. Outro mecanismo que as plantas utilizam em resposta ao déficit hídrico 
para manutenção da turgescência das células e da abertura estomática é o 
ajustamento osmótico, via produção e/ou acumulação de solutos orgânicos, tais como: 
prolina, glutamina, betaína, alcoóis de açúcares, como sorbitol e mantiol. Este 
mecanismo contribui para a diminuição do potencial hídrico celular beneficiando o 
influxo hídrico para as células-guarda mantendo assim sua turgescência. A 
manutenção da turgescência das células-guarda permite que os estômatos 
permaneçam abertos e outras atividades fisiológicas tal como a fotossíntese seja 
mantida, mesmo sob condições de baixo potencial hídrico no solo (CARVALHO, 2015). 
8.1 O estresse hídrico na produção de metabólitos secundários em plantas 
medicinais aromáticas 
Todas as plantas, incluindo as medicinais, quando submetidas a estresses de 
qualquer natureza tendem a criar estratégias para poderem sobreviver através de um 
conjunto de rotas metabólicas alternativas (atividade enzimática, coenzimas e 
organelas) capaz de produzir e acumular inúmeras substâncias denominados 
metabólitos secundários (CARVALHO, 2015). 
Nas plantas medicinais, os metabólitos secundários são chamados de princípios 
ativos. Segundo autor os princípios ativos são substâncias capazes de produzir ação 
 
34 
 
 
 
 
farmacológica. Para Brasil (2011) são substâncias cuja ação farmacológica é 
conhecida e responsável, total ou parcialmente, por seus efeitos terapêuticos ou 
tóxicos. Santos (2000) afirma que em uma planta medicinal pode conter vários 
princípios ativos. No entanto, alguns deles apresentam-se em maior quantidade, sendo 
denominados de compostos majoritários. Dentre estes compostos, o de maior teor 
denomina-se marcador químico, composto que geralmente têm correlação positiva com 
os efeitos terapêuticos da planta, o qual é utilizado como referência no controle de 
qualidade da matéria-prima vegetal e dos fitoterápicos. Em plantas medicinais 
aromáticas os compostos de maior interesse para a farmacologia são os óleos 
essenciais, que são misturas complexas de substâncias voláteis, 30lipofílicas e 
geralmente odoríficas, derivados do metabolismo secundário das plantas e constituídos 
de compostos que podem pertencer às mais variadas classes. Entretanto, a grande 
maioria, constitui-se predominantemente de derivados terpenóides, os quais são 
biossintetizados a partir do ácido mevalônico ou do piruvato e 3-fosfoglicerato 
(CARVALHO, 2015). 
Os terpenos encontrados habitualmente nos óleos essenciais são os monos e 
sesquiterpenos, os quais conferem aroma peculiar às folhas e outras partes da planta. 
Os terpenóides ou isoprenóides são assim denominados devido à unidade precursora 
derivada de uma molécula de cinco carbonos o isopentenil-pirofosfato (IPP). Os óleos 
essenciais vêm sendo empregados devido à suas propriedades farmacológicas 
antisépticas, bactericidas, carminativas, antiespasmódicas, digestivas, 
cardiovasculares, antiviróticas, cicatrizantes, analgésicas, estimulantes, relaxantes, 
expectorantes e antiinflamatórias (CARVALHO, 2015). 
Segundo o autor, a produção de metabólitos secundários é uma vantagem 
adaptativa e não tem um custo metabólico excessivo para as plantas. Deste modo, o 
metabolismo secundário é responsável pelas relações entre planta e o ambiente onde 
a mesma se encontra e, por esse caráter adaptativo, pode ser manipulado. Os fatores 
abióticos relevantes na produção de metabólitos secundários sinalizam a grande 
importância na adoção de técnicas de cultivo e manejo de plantas medicinais, 
principalmente de plantas aromáticas, as quais podem ser impostas propositadamente 
para potencializar a produção dos princípios ativos de interesse farmacológico. 
Segundo autor a disponibilidade hídrica é um dos fatores ambientais e agronômicos35 
 
 
 
 
que podem comprometer o crescimento e desenvolvimento, bem como a elevação da 
produção de metabólitos secundários pelas plantas. 
Em espécies medicinais aromáticas o déficit hídrico pode comprometer além do 
desenvolvimento da planta, o teor de óleo essencial e os compostos resultantes do 
metabolismo secundário. No entanto, estes modificam de acordo com a espécie, o tipo, 
a intensidade e a duração do estresse, induzindo no aumento ou na redução do teor 
de algumas substâncias derivadas desse metabolismo. Contudo, para espécies 
medicinais, aromáticas e condimentares o estresse hídrico em curto prazo pode ser 
benéfico no que diz respeito ao aumento da concentração do metabólito de interesse. 
Marchese et al., (2010) também afirma ue em plantas aromáticas herbáceas e 
arbustivas, os terpenos tendem a aumentar sob condições de estresse. Entretanto, na 
avaliação do efeito do estresse hídrico em Melaleuca alternifolia Cheel sobre o 
crescimento, o teor e a constituição química do óleo essencial, observaram que o déficit 
hídrico provocou diminuição no crescimento, na produção de biomassa fresca e seca 
das plantas e no teor de óleo essencial. Já em Ocimum basilicumo estresse hídrico 
propiciou um rendimento duas vezes maior de óleo essencial (CARVALHO, 2015). 
Os componentes do óleo essencial apresentaram alterações significativas, 
havendo redução no percentual de sesquiterpenos e aumento no percentual de linalol 
e metil chavico. Outras espécies vegetais medicinais aromáticas também apresentaram 
aumento significativo na produção de óleo essencial em condições de déficit hídrico. 
Este efeito pode ser observado na produção de óleo essencial de Polygonum 
punctatum; Ocimum basilicum. Ocimum americanum; Melissa officinalis e Cymbopogon 
citratus. Em um estudo realizado sobre a influência do estresse hídrico no teor dos 
compostos majoritários carvacrol e γ-terpinenode Satureja hortensis cultivadas no Irã, 
observaram que o estresse hídrico em curto prazo aumentou o teor de carvacrol, 
entretanto diminuiu o teor de γ-terpineno na espécie pesquisada. Jápara Ocimum 
americanum o efeito do déficit hídrico no teor de α-terpinenofoi negativo, pois ocasionou 
diminuição do mesmo (CARVALHO, 2015). 
Uma planta medicinal que é cultivada sob diferentes aplicações de estresse 
hídrico poderá apresentar modificações qualitativas e quantitativas no seu metabolismo 
secundário. E para que seja aferido se essa alteração foi vantajosa ou prejudicial, 
devem ser realizadas análises fitoquímicas baseada na relação quantidade de massa 
 
36 
 
 
 
 
e teor de princípios ativos, o que estabelecerá se a alteração no manejo de cultivo foi 
vantajosa ou não. Estudos que abordem a influência do estresse hídrico na produção 
de metabólitos secundários em plantas medicinais ainda são incipientes. Muitos 
aspectos em relação à fisiologia destas plantas precisam ser esclarecidos, visando uma 
relação custo-benefício (CARVALHO, 2015). 
9 ALGUMAS ESPECIES ENVOLVIDAS EM ESTUDOS ETNOFARMACOLÓGICOS 
Plectranthus amboinicus (Lour.) 
 
 
Fonte: researchgate.net/figure 
Planta pertencente à família Lamiaceae, considerada espécie sinônima de 
Coleus amboinicus Lour., e de Coleus aromaticus Benth, conhecida popularmente 
como malvarisco, alfavaca-grossa, orégano e hortelã da folha grossa. Caracterizada 
como erva perene, ereta, muito aromática, tomentosa, semi carnosa, de 40 cm a 1 m 
de altura, com folhas deltoide-ovais, de base truncada, margem denteada e 
quebradiças. Suas flores são azulada-claras ou róseas, que só aparecem quando 
cultivada em locais de clima ameno. É originária da África e cultivada em todos os 
países tropicais e subtropicais, inclusive o Brasil. É multiplicada por estaquia. 
Entretanto, apesar de ser perene, exige replantio a cada 2 anos em novo local. Esta 
 
37 
 
 
 
 
espécie é uma das mais utilizadas pelos africanos e descendentes africanos devido às 
suas propriedades medicinais (CARVALHO, 2015). 
Segundo o autor estudos etnofarmacológicos revelaram que esta espécie é 
amplamente utilizada no preparo de chás e xaropes na medicina popular para o 
tratamento de doenças da pele, constipação, cefaléia, tosse, rouquidão, dor, na 
garganta, bronquite, febre, doenças do aparelho digestivo e leishmanioses. O sumo 
das folhas é usado no tratamento de problemas ovarianos e uterinos, inclusive nos 
casos de cervicite. Para esta espécie são relatados dois quimiotipos: quimiotipo A-óleo 
rico em carvacrol e quimiotipo B-óleo rico em timol, representando os marcadores 
químico da espécie. Os compostos químicos mais comumente encontrados em seu 
óleo essencial são: carvacrol, timol, p-cimeno, α-terpineno, γ-terpineno, terpineno-4-ol, 
eugenol, chavicol, salicilato de etil, terpinoleno, α-pineno, β-cariofileno, β-bergamoteno; 
1,8-cineole, α-felandreno, limoneno, mirceno, α-seleneno, verbeneno, cânfora, 
farneseno, α-humuleno; α-bulneseno, óxido de cariofileno, muuroleno, patchouleno. 
O óleo essencial desta espécie apresentou as mais variadas atividades 
farmacológicas em diversos estudos: digestivas, hipossecretoras gástricas, 
antiulcerosa gástrica e antiinflamatórias, antiinflamatórias, antifúngicas, antissépticas e 
antibacterianas, antiviral, entre outras. Devido a essas atividades farmacológicas, 
justifica-se o uso tradicional desta espécie no tratamento das diversas patologias 
citadas (CARVALHO, 2015). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
38 
 
 
 
 
Chenopodium ambrosioides L. 
 
 
Fonte: https://www.prota4u.org 
Chenopodium ambrosioides L. é uma planta pertencente à família 
Chenopodiaceae, considerada espécie sinônima de Chenopodium anthelminticum L., 
Chenopodium fruticosum Willd. Conhecida popularmente como erva-de-santa-maria, 
quenopódio, lombrigueira, mastruz e mastruço. Caracterizada como erva perene ou 
anual muito ramificada e aromática, de aroma muito forte e característico, chegando 
até 1 m de altura, com folhas deltóide-ovais, de base truncada e margem denteada e 
quebradiças. Suas flores são pequenas de coloração verde-clara, dispostas em 
espigas densas. Os frutos são verde-acastanhados originando uma única semente 
preta, a qual é utilizada para a reprodução da planta. É originária da América Central e 
do Sul e espontânea no Sul e no Sudeste (CARVALHO, 2015). 
No Brasil segundo o autor, é cultivada para fins medicinais e restrito às hortas 
caseiras. É multiplicada por sementes, com alta produção, podendo chegar a dezenas 
de plantas. A planta tem preferência por solos de textura média, com boa fertilidade e 
disponibilidade hídrica moderada, tolerando solos salinos. Essa erva é considerada 
pela OMS uma das plantas medicinais mais utilizadas entre os remédios tradicionais 
em todo o mundo. Na terapêutica tradicional brasileira é comumente utilizada como 
estomáquica, antirreumática, para bronquites, tuberculose, contusões e fraturas, e 
principalmente nas parasitoses (ascaridíase, amebíase, helmintíase e tricomoníase). 
 
39 
 
 
 
 
Em seu óleo essencial são encontrados comumente os seguintes compostos químicos: 
isômeros E e Z do ascaridol, carvacrol, p-cimeno, α-terpineno, α-terpinil acetato, 
acetato de piperitol, p-cimen-8-ol, α-terpineol, p-menta-1,8-dieno, p-menta-1,3,8-trieno, 
E-farnesno, piperitona, álcool benzílico, p-cresol, acetato de cravil, Z-pinocarveol, 
limoneno, mirceno e β-pineno. 
O óleo essencial de C. ambrosioidesem vários estudos demonstrou ter 
propriedades e atividades como antiparasitário, analgésico e antiinflamatório e 
antifúngico. Portanto estes estudos justificam os usos populares desta planta para as 
parasitoses e outros problemas de saúde (CARVALHO, 2015). 
 
Ruta graveolens L. 
 
 
Fonte: stockphoto.com 
A espécie Ruta graveolens L. é uma planta pertencente à família Rutaceae, 
considerada espécie sinônima de Ruta hortensis Mill. É conhecida popularmente como 
arruda-fedorenta, arruda doméstica,

Continue navegando