Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Objetivos 1. Diferenciar a síndrome nefrítica da síndrome nefrótica. 2. Identificar a etiologia e aos fatores de risco da SN. 3. Compreender a fisiopatologia, as complicações e as manifestações clinicas da SN 4. Discorrer sobre o diagnostico e a conduta terapêutica da SN Síndrome nefrítica A síndrome nefrítica é um complexo clínico, de início usualmente agudo, caracterizada por (1) hematúria com glóbulos vermelhos dismórficos e cilindros hemáticos lançados na urina; (2) algum grau de oligúria e azotemia; (3) hipertensão. Embora a proteinúria e mesmo o edema também possam estar presentes, eles usualmente não são severos como na síndrome nefrótica. As lesões que causam a síndrome nefrítica têm em comum a proliferação das células dentro do glomérulo, frequentemente acompanhada por infiltrado leucocitário inflamatório. Essa reação inflamatória lesa gravemente as paredes dos capilares, permitindo que o sangue passe para a urina e induzindo alterações hemodinâmicas que levam à redução da TFG. A TFG reduzida é manifestada clinicamente por oligúria, retenção de fluidos e azotemia. A hipertensão é provavelmente o resultado da retenção de fluidos e algum aumento na liberação de renina a partir do rim isquêmico. A síndrome nefrítica aguda pode ser produzida por desordens sistêmicas, como lúpus eritematoso sistêmico, ou ser secundária a doença glomerular primária. A última é exemplificada pela GN pós-infecciosa aguda. Síndrome nefrítica Ocorre perda abrupta da superfície de filtração → redução da excreção de líquidos, pequenos solutos, eletrólitos. Síndrome nefrótica Ocorre aumento da permeabilidade do capilar glomerular à passagem de proteínas → proteinúria maciça. Introdução A síndrome nefrótica é uma síndrome (um grupo de sintomas) causada por muitas doenças que afetam os rins, tendo como resultado uma perda importante e prolongada de proteínas pela urina, valores sanguíneos de proteínas diminuídos (especialmente a albumina > Hipoalbuminemia), retenção excessiva de sal e água (edema generalizado) e valores aumentados de gorduras (dislipidemia) no sangue. A proteinúria maciça é definida como uma excreção urinária > 3,5g por 1,73m2 superfície corporal/24h ou > 50 mg/kg em 24 h. Classificação Primária → alterações glomerulares mínima – lesões mínimas → glomérulo esclerose segmentar e focal (GESF) → glomerulonefrite membranosa idiopática Nefrótica síndrome → glomerulonefrite membranoproliferativa → glomerulonegrite por depósitos mesangiais de IgA (raro) Secundária → DM → vasculite →amiloidose →LES → infecções bacterianas e virais → neoplasias → medicamentos Etiologia Primária ou Idiopática – 90% • Nefropatia com alteração mínima → Forma mais comum • Proliferação mesangial • Glomeruloesclerose segmentar e focal • Glomerulonefrite membranoproliferativa • Glomerulonefrite membranosa • Nefrose Congênita SN Secundária • Infecciosas → Sífilis AIDS, malária, hepatite B, citomegalovírus e esquistossomose • Alergias → Picada de Abelha, doença do soro, inalação de pólen, alergia alimentar • Cardiovasculares → doença de células falciformes, trombose de veia renal, insuficiência cardíaca congestiva • Colagenoses → LES, AR, poliartrite nodosa • Toxinas → Mercuriais, bismuto, trimetadiona, Probenicida, meios renográficos, penicilinamina • Malignidade → Doença de Hodgkin, leucemia, carcinoma, feocromocitoma • Origem familiar → mutações na podocina ou na negrinha – autossômicas recessivas • Outras → amiloidose, mieloma múltiplo, púrpura anafilactoide, obesidade mórbida, cicatriz pielonefrítica do refluxo vesicoureteral . Epidemiologia • Presença de proteína leve em 3% das crianças; • Persistente em < 0,5% • Incidência de 2-7/100.000 crianças • Predomina 2-6 anos de idade, mas qualquer idade • Sexo masculino > sexo feminino (3:2) • A DLM é a causa mais comum de SN (80& dos casos) Fisiopatologia A barreira de filtração glomerular é composta pela célula endotelial do capilar glomerular (a célula que entra em contato direto com o sangue a ser filtrado), pela membrana basal do capilar, pelo podócito (célula epitelial visceral) e suas pedicelas e, mais externamente, pela célula mesangial. A passagem de moléculas pela barreira ocorre através das fenestras entre as células endoteliais do capilar, pela membrana basal e pelos espaços entre as pedicelas podocitárias (fenda podocitária). Além da óbvia restrição à filtração pelo tamanho molecular, a barreira glomerular também é capaz de limitar a filtração por seletividade de cargas elétricas (a membrana basal é carregada negativamente). Assim, proteínas grandes (> 150 kd) são dificilmente filtradas porque não passam pelos orifícios da barreira e proteínas negativamente carregadas (mesmo que pequenas), são filtradas em pouca quantidade porque são repelidas pela membrana basal. Graças à complexidade da barreira de filtração glomerular, o rim é capaz de filtrar mais de 170 litros de sangue por dia e perder < 300 mg de proteínas em 24 horas (esta é a quantidade máxima normal de proteinúria de um indivíduo saudável). Em grande parte das doenças que levam à síndrome nefrótica, primárias ou sistêmicas, a agressão à barreira glomerular é de natureza imunológica, por meio da ativação de cascata de complemento, deposição de imunocomplexos, infiltração do mesângio por células inflamatórias e liberação de citocinas e fatores de crescimento. Em algumas doenças, há formação de anticorpos circulantes contra estruturas proteicas glomerulares. Em todos esses casos, as alterações em membrana basal, podócito e mesângio são secundárias a uma desregulação do sistema imune, que pode ser de causa conhecida (hepatite C, HIV) ou não (lesões mínimas ou GESF primárias). A perda de proteínas pela urina leva a um aumento na síntese de proteínas pelo fígado na tentativa de compensar a perda. No entanto, a compensaçãonão acontece, restando, portanto, hipoalbuminemia em quase todos os casos. Dessa forma, há aumento importante na produção de proteínas ligadoras de colesterol e dislipidemia (aumento significativo de LDL, VLDL e lipoproteína a, com redução de HDL, que é filtrado e perdido pela urina). A hipoalbuminemia leva à redução da pressão oncótica dentro dos vasos, permitindo o extravasamento de fluido e retenção de líquido no espaço extravascular, com edema como sua manifestação clínica. Há ainda uma situação de maior retenção de sódio devido ao distúrbio primário renal, com consequente retenção de água e agravamento do edema. Estes mecanismos de formação do edema na síndrome nefrótica também são conhecidos como as teorias do underfill (a hipoalbuminemia como fator primário causador de edema) e de overflow (a retenção de sódio e água como mecanismos primários). Em geral, tais mecanismos coexistem, com a predominância de um ou outro a depender da doença em questão. Apesar de a albumina ser a principal proteína excretada em quadros nefróticos, também há perda variável de diversas outras proteínas, como imunoglobulinas, complemento, fatores inibidores da coagulação (proteína C, proteína S, antitrombina III), eritropoietina, PTH, proteína ligadora de vitamina D, proteínas carreadoras de metais como ferro, zinco e cobre etc. A perda dessas proteínas está envolvida na gênese de outras complicações do quadro nefrótico, como suscetibilidade a infecções, trombofilia, anemia, desnutrição e, possivelmente, doença óssea. Doença de Lesão Mínima A doença de lesão mínima é uma desordem relativamente benigna e a mais frequente causa de síndrome nefrótica em crianças. À microcopia óptica, o glomérulo tem aparência normal, mas evidencia obliteração difusa de pedicelos quando visto ao microscópio eletrônico. Embora possa ocorrer em qualquer idade, essa condição é mais comum em crianças de 1-7 anos de idade. A patogenia da proteinúria na doença delesão mínima continua a ser elucidada. Mas, com base em alguns estudos experimentais, a proteinúria tem sido atribuída a um fator circulante, possivelmente derivado de linfócitos T, que causa dano nos podócitos e obliteração de pedicelos. Entretanto, nem a natureza de tal fator putativo nem um papel causal dos linfócitos T são estabelecidos na doença humana. Sinais e sintomas A proteinúria leve pode ser assintomática, frequentemente encontrada em EAS de rotina • Urina espumosa – proteinúria significativa • Edema importante, mole, frio, depressível, ação da gravidade • Edema periorbitário, Ascite, Palidez, Anorexia, Oligúria, Hepatomegalia, Anasarca, Ganho ponderal, Mal-estar • Hipocalcemia, hipocalemia, hiponatremia → cãibras, parestesias e crise convulsiva • Derrames pleurais • Pode ocorrer hipertensão (25%) • Cabelos finos e secos, unhas quebradiças • Pele brilhante, friável e sensível a traumatismo • Suscetibilidade a infecções • Fenômenos tromboembólicos • Osteopenia Algumas definições • Remissão → proteinúria ≤ 4mg/m2 /hora ou proteinúria negativa em fita, ou proteína/creatinina < 0,02 mg/dl por 3 dias seguidos • Remissão parcial à proteinúria de 10-50 mg/kg/dia e albumina sérica >2,5g/dl • Recidiva → proteinúria positiva 3+ ou 4+ em fita ou 40mg/m2 /hora por 3 dias consecutivos, antes em remissão • Recidivas frequentes à 2 ou + em 6 meses da resposta inicial ou mais de 3 recidivas em 12 meses • Corticosteroide dependente à 2 ou mais recidivas com corticosteroides em dias alternados ou 14 dias de sua suspensão • Corticosteroide resistente → ausência de remissão com prednisolona diária na dose de 2mg/kg/dia por 4 semanas Complicações • Principais complicações da síndrome nefrótica primária: → Infecções bacterianas: Peritonites (+ comum), infecções cutâneas e pneumonia. → Trombose venosa e arterial (alimento da síntese hepática de vários fatores de coagulação, associado a perda urinária de antitrombina III, proteínas C e S) -> TVP (40%); Trombose de veia renal (29%); TEP (17-28%); Trombose arterial (associada ao AVCi). → Doença renal aguda ou crônica: - Aguda: Hipovolemia ou uso de drogas nefrotóxicas. - Crônica: Depende do tipo histológico da doença primaria e da resposta ao tratamento. OBS: Independente do tipo histológico, pacientes com proteinúria nefrótica tem risco 35% maior de evoluir para IRC em 2 anos comparados com aqueles pacientes com proteinúria não-nefrótica. Sempre usa estatinas para controle do colesterol na síndrome nefrótica. Diagnóstico • Proteinúria maciça = 50 mg/kg/dia • 40 mg/m2 /h • 3,5 g/ 1,73m2 / dia • Relação: proteína/creatinia urinária > 2mg/dl • Hipoalbuminemia <2,5 g/dl • Hiperlipidemia, colesterol sérico > 200mg/dl • Hipoproteinemia <5g/dl • Sumário de Urina - Albumina (+++/4+) - Hematúria transitória - Cilindros hialinos • Proteinúria 24h: > 50 mg/kg/dia ou 40 mg/m2/h, adolescentes e adultos > 3,5g • Relação proteína/creatinina urinária: >2 = proteinúria maciça • Eletroforese de proteínas plasmáticas - Albumina < ou = 2,5g% - Alfa 2 globulina elevada - IgG, especialmente IgG1 e IgG2 muito baixa - IgA e IgM elevadas • Colesterol e Triglicérides - Elevados - Aumento de lipoproteínas de baixa densidade (LDL) - Aumento de lipoproteínas de muito baixa densidade (VLDL) - Aumento de lipoproteínas alta densidade (HDL) • Complemento → normal (lesão mínima); excepcionalmente diminuído = biópsia renal • Ureia e Creatinina → instalação do edema ou hipovolemia → elevados = redução da filtração glomerular • Ionograma → discreta hiponatremia dilucional, monitorar no uso de diuréticos, outros • Cálcio → diminuído Biopsia renal, indicações • Casos de recidiva frequente; • Não remissão clínica e laboratorial entre 4 – 8 semanas de corticoterapia • Casos de recidivas persistentes, acima de 12 a 18 meses após o diagnóstico; • Resistentes a esteroides; • SN no primeiro ano de vida; • SN em adolescentes; • Hipocomplementemia; Diagnóstico diferencial → causas de SN e determinantes secundários • Doença por lesão mínima (DLM) • Glomeruloesclerose segmentar e focal primária • Glomerulonefrite membranoproliferativa • Nefropatia membranas • Síndrome nefrótica congênita • Proteinúria ortostática • Lesão tubular isquêmica • Rejeição de transplante renal • LES • CMV, HIV, Hep B • Inf. Cong TORCHS • Nefropatia por Refluxo • Síndrome de Fanconi • Nefropatia falciforme • Intoxicação por drogas ou metais pesados • Nefropatia diabética • Tumor de Wilms Tratamento • Hospitalização, descompensadas ou quadro respiratório • Repouso, orientação, restrição dietética (de sal e água) edema ou hipertensão, terapia diurética e administração de esteroides • Balanço hídrico: anão hipovolemia 1000ml/m2/dia. Peso diário • Diuréticos e não hipovolemia, eletrólitos. • Albumina 20% - edema grave; • Pressão arterial • Infecções: perda de Ig e complemento. Peritonite, sepse, pneumonia. Bactérias e vírus recidivos • Vacinas: pneumococo e hemófilo. Varicela. Predinisolona 2mg/kg/dia ou mais, por + de 14 dias = imunocomprometidos. Não competentes vivos ou atenuados • Mobilização trombose • Corticosteroides terapia de primeira linha - predinisona ou predinisolona durante 4-8 semanas, com redução gradual – Documentar PPD negativo e ausência de verminoses, antes do início - A proteinúria deverá desaparecer dentro de 1-2 meses • Teste diário com a primeira amostra de urina da manhã para proteinúria, a fim de monitorar progresso • Dieta hipossódica, edema e hipertensão • Informação aos pais: história natural doença, uso medicação, efeitos colaterais, recidivas, controle domiciliar • Diuréticos: utiliza-se associação de albumina/furosemida para aumentar o aporte de furosemida aos rins. MAS preferir diuréticos tiazídicos como hidroclorotiazida. • Agente imunossupressores (ex: agentes alquilantes ou ciclosporina) como terapia de segunda linha, dependendo dos resultados da biopsia. • Lembrar de tratar estrongiloidíase antes do tratamento com corticoides: tiobendazol, albendazol ou invermectina • Sintomáticos: dipirona, ondasentron • Balanço hídrico rigoroso • Sinais vitais de 6/6h Predinisona • 60 mg/m2 (máx. 60 mg/dia) de 8/8h ou de 24/24h durante 28 dias • Se remissão: diminuir para 35 mg/m2 em dias alternados, dose única, manha (máx. 60mg/dia) por 6 meses • Se resistência: pulsoterapia com metil predinisolona 30mg/kg/dose (máx. 1g) em dias alternados de 3 a 6 doses no total. • Caso remissão completa, prosseguir com corticoterapia oral em dias alternados, diminuindo progressivamente a dose • predinisona 2mg/kg/dia (mx 80mg) VO 4 semanas. 1.5mg/kg/dia (max 60 mg/dia) VO dias alternados, + 4 semanas. ou predinisona 80% negativa proteinúria primeiros 14 dias. OU 6 semanas. • Calculo: m2 superfície corporal = 4x peso corporal/peso corporal + 90 Indicações para biopsia renal • Idade < 1 ano ou >12 anos •Hematúria microscópica persistente ou macroscópica • C3 sérico baixo • Hipertensão mantida • Insuficiência renal • Causas secundarias para SN •Proteinúria persistente: + de 4 semanas com corticoides • Antes de ciclosporina • Corticorresistentes • Recidivas frequentes ou corticodependentes a critério Prognóstico e evolução clínica • Recidiva em 80%, habitualmente durante a redução gradual da dose de corticosteroides • Prognóstico favorável para DLM • + de 90% respondem à terapia com prednisona • Cerca de 40% sofrem recidiva Prognóstico • Muito bom • 20% recidivas na adolescência e além • Após 5 anos de remissão 20% ainda recidivas • Remissão após 10 anos recidiva muito pouco provável Resumo A síndrome nefrótica é caracterizada por proteinúria, que resulta em hipoalbuminemia e edema. • Lesão de podócitos é um mecanismo subjacente de proteinúria, e pode ser o resultado de causas não imunes(como na doença de lesão mínima e GFS) ou de mecanismos imunológicos (como na nefropatia membranosa). • Doença de lesão mínima é a mais frequente causa de síndrome nefrótica em crianças, manifestando-se por proteinúria e obliteração de pedicelos glomerulares sem depósitos de anticorpos; a patogenia é desconhecida; a doença responde bem à terapia com corticoesteroides. • A GFS pode ser primária (lesão de podócito por mecanismo desconhecido) ou secundária (p. ex., como consequência de glomerulonefrite prévia, hipertensão ou infecções, como pelo vírus da imunodeficiência humana, HIV); o glomérulo mostra obliteração focal e segmentar da luz do capilar e perda de pedicelos; a doença frequentemente é resistente à terapia e pode progredir para doença renal de estágio final. • Nefropatia membranosa é causada por uma resposta autoimune, a maioria frequentemente direcionada contra os receptores de fosfolipase A2 dos podócitos; é caracterizada por depósitos subepiteliais granulares de anticorpos causando espessamento da MBG, perda de pedicelos e infiltrado inflamatório ausente ou discreto; a doença frequentemente é resistente à terapia de corticosteroide. • A GNMP e a doença de depósito denso são agora reconhecidas como entidades distintas. A GNMP é causada pela deposição de imunocomplexos; a doença de depósito denso é uma consequência de falhas no sistema complemento. Ambas podem se apresentar com aspectos nefrótico e/ou nefrítico. Referencias ROBBINS E COTRAN. PATOLOGIA: Bases Patológicas das Doenças; 8°ed. 2010. MELLO, Clara LB et al. UM ASPECTO FISIOPATOLÓGICO DA SÍNDROME NEFRÓTICA. Cadernos da Medicina- UNIFESO, v. 1, n. 1, 2018.
Compartilhar